Vermelho - design contra a violência

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Centro Universitário Senac Nicole de Abreu Costa

VERMELHO o design contra a violência

São Paulo 2019


Elaborada pelo sistema de geração automática de ficha catalográfica do Centro Universitário Senac São Paulo com dados fornecidos pelo autor(a). Costa, Nicole de Abreu Vermelho - o design contra a violência / Nicole de Abreu Costa - São Paulo (SP), 2019. 96 f.: il. color. Orientador(a): Nelson Urssi, Juana Diniz, Jair Alves Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Design com linha de formação específica em Design Gráfico) - Centro Universitário Senac, São Paulo, 2019. 1. Relações Abusivas, 2. Violência de Gênero, 3. Feminismo, 4. Design Social I. Urssi, Nelson (Orient.) II. Diniz, Juana (Orient.) III. Alves, Jair (Orient.) IV. Título


VERMELHO o design contra a violência

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac – Santo Amaro, como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Design com linha de formação específica em Design Gráfico. Orientador: Prof. Nelson Urssi

Nicole de Abreu Costa São Paulo, 2019


agradecimentos


Agradeço primeiramente à Deus por minha vida e todas as oportunidades que me permitiram crescer até este momento. Que eu possa usar meus conhecimentos para Sua honra e glória. Professor Nelson Urssi, muito obrigada por todo o acompanhamento, por sempre me fazer pensar um pouco mais nos detalhes do projeto e por ser tão receptivo e dedicado. Muito obrigada aos professores convidados Juana e Jair pela disponibilidade. Agradeço muito à minha família: minha mãe Vilma, meu pai Tupã e a minha irmã amada Fernanda. Sinto que às vezes vocês não entendem o que estou falando, mas continuam me apoiando em tudo e me dando forças, acreditando em mim. Eu os amo muito. Agradeço muito aos meus amigos que me suportaram nesse período, em especial: Gustavo, pela empatia e sensibilidade e por me fazer lembrar da minha motivação inicial, destacando a relevância do meu projeto. À Nayara, por entender o meu tempo, desabafar comigo e aliviar meus dias com o seu projeto. Obrigada à Kelly por me mandar mensagens de vez em quando pra checar minha sanidade e escutar todas as minhas reclamações. Obrigado! Obrigada aos entrevistados, incluindo a delegada Renata Cruppi com todo o seu conteúdo, vocês são excepcionais. Obrigada aos professores que me ensinaram muito, especialmente à professora Fabia e ao projeto BRINCAR. Obrigada a todos os envolvidos, mesmo que um pouco, que se faziam disponíveis, me escutavam e ajudaram a dar vida à Liz, Otávio e Verônica.



resumo Esse projeto foi impulsionado pelos dados sobre violências contra mulheres no Brasil, especialmente o número exorbitante de violências cometidas por companheiros e ex-companheiros e a busca por respostas e soluções através da história e do processo de luta contra a objetificação da mulher, sua busca por seus direitos e a evolução do feminismo até atingir a pauta de violência contra as mulheres, que surge aproximadamente na década de 60 em nosso país. Esse processo histórico sugere que a dinâmica de relações abusivas heterossexuais tenham raízes no machismo e que as agressões começam muito antes do primeiro tapa, antes o relacionamento passa por um ciclo de violência que se inicia com pequenos desconfortos na relação que dificilmente serão identificados como abusos. A partir dessas informações, foram desenvolvidas e produzidas peças gráficas e digitais para uma campanha de conscientização sobre relações abusivas contra mulheres na cidade de São Paulo, inspirada pelo evento de mobilização global dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, utilizando-se de técnicas e elementos do design social e design centrado no ser humano para seu desenvolvimento.

palavras-chave: 1. relações abusivas 2. violência de gênero 3. feminismo 4. design social 7


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introdução fundamentação teórica realidade feminina contemporânea.........................17 o papel feminino na Europa e na América do Norte......19 o papel feminino no Brasil...........................................................23 impacto na sociedade contemporânea.................................29

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a campanha o conceito........................................................................................... 62 painéis semânticos......................................................................... 63 primeiros estudos........................................................................... 64

o manual de identidade.................................................62

design social.......................................................................43

logotipo................................................................................................ 69 área de não-interferência...........................................................72 aplicação em fundo........................................................................ 74 padrões................................................................................................ 76 respeito à marca.............................................................................. 78 voz da marca...................................................................................... 79 grafismos............................................................................................. 80 referência fotográfica................................................................... 83 ícones.................................................................................................... 84

componentes do design social..................................................45 estudo de caso.................................................................................. 49

planejamento de campanha........................................85

relações abusivas.............................................................31 violência de gênero........................................................................ 33 Lei Maria da Penha......................................................................... 37 a natureza das relações abusivas............................................39 feminicídio.......................................................................................... 41

requisitos para o projeto..............................................59


sumário

narrativa..............................................................................88 personagens...................................................................................... 90 storyboards....................................................................................... 94

aplicações........................................................................ 109 folders............................................................................................... 110 cartazes de divulgação.............................................................. 128 envelope........................................................................................... 131 fita adesiva...................................................................................... 132 pin........................................................................................................ 133 camiseta........................................................................................... 134 site....................................................................................................... 135 redes sociais................................................................................... 159

169 considerações finais 173 referências 179 lista de imagens 183 apêndice



introdução



introdução

O objetivo do projeto é conscientizar a sociedade sobre relacionamentos amorosos abusivos focados na figura feminina como vítima, como identificá-los e expor os meios mais eficazes para lidar com os mesmos através de produtos editoriais e digitais. Também explorar interações entre a mídia impressa e digital e tornar a informação mais acessível sobre características de abusos num relacionamento afetivo, sobre a Lei Maria da Penha e redes de apoio, utilizando componentes do design social para a estruturação do projeto. O projeto é relevante porque, segundo o Mapa de Violência 2015, o Brasil tem cerca de 7 feminicídios diários, sendo 4 deles causados por parceiros e ex-parceiros (33,2%). Saffioti (1999) diz que frequentemente a violência contra a mulher não se inicia pela agressão física, mas antes está estritamente ligada à violência psicológica e moral, que configura uma relação abusiva tanto quanto a violência física, mas tendo danos não palpáveis são abusos mais difíceis de serem identificados, principalmente em relações amorosas onde há interferência de dependência emocional. No Brasil, temos acesso a lei considerada uma das mais avançadas do mundo no quesito de combate à violência contra a mulher, segundo a ONU em 2011: a Lei Maria da Penha, que não apenas defende mulheres em situação de violência física, mas psicológica, sexual, moral e patrimonial, independentemente da relação social entre agressor e vítima. Uma pesquisa do DataSenado afirma que apesar da lei conhecida por 100% das mulheres que responderam, somente 18% dessas mulheres conhecem a lei a fundo, enquanto 37% dos homens acreditam que, graças a Lei Maria da Penha, as mulheres os desrespeitam mais (CIPRIANI, 2013), o que é uma ideia deturpada da lei por falta de conhecimento.

A Lei Maria da Penha combate a violência e a desigualdade de gênero, reconhecendo as mulheres como seres humanos com direitos à vida, saúde, integridade e segurança, condenando os que ferem esses direitos. O projeto é importante pelo déficit de conhecimento da população geral, tanto homens quanto mulheres, sobre o que é a violência de gênero e como ela torna uma relação amorosa em relação abusiva, também para explicitar quais são esses abusos e identificá-los, aprender como evitá-los e recorrer à justiça, se necessário. Uma relação abusiva traz consequências à saúde física, psicológica, sexual e reprodutiva de uma mulher que, segundo a Organização Mundial de Saúde (2017), pode ir desde dores físicas, lesões e traumas à distúrbios gastrointestinais, depressão, ansiedade, transtornos alimentares e de sono, propensão a doenças sexualmente transmissíveis, vícios, e tentativas de suicídio. Saffioti (1999) afirma que uma mulher em situação de violência, ou seja, dentro de um relacionamento abusivo, raramente vai se desvincular do agressor sem ajuda externa, pessoas informadas sobre relações abusivas criam novos apoios. Os procedimentos metodológicos foram Pesquisa Bibliográfica: livros sobre o papel feminino através da história, tanto no contexto euro-americano, através do livro Uma Breve História do Feminismo no Contexto Euro-americano (PATU; SCHRUPP, 2019). quanto no contexto brasileiro, através do livro Nova História das Mulheres no Brasil (PINSKY, 2012). Estudos sobre violência de gênero e suas origens, através do livro Gênero, Patriarcado e Violência (SAFFIOTI, 2015), para entender a violência a fundo, O Poder do Macho (SAFFIOTI, 1987), para compreender o machismo histórico, ambos de

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Heleieth Saffioti, uma feminista brasileira reconhecida, e O Segundo Sexo: fatos e mitos (BEAUVOIR, 1970), para compreender a estrutura do feminismo contemporâneo. Também utilizei, em pesquisas digitais, artigos, como o Já se Mete a Colher em Briga de Marido e Mulher (SAFFIOTI, 1999), dissertações sobre a permanência em relações abusivas e a história da Lei Maria da Penha, pesquisas quantitativas sobre dados todos os tipos de violência contra a mulher no Brasil, do Instituto Avon, DataSenado, Instituto NOOS, entre outros, assim como informações do governo e de órgãos como OMS e ONU Mulheres, disponíveis online. Tais pesquisas também se encaixam como Pesquisa-Ação sobre problema social: violência contra as mulheres. Também em pesquisa bibliográfica, estão os livros de Design Social, como o Design Kit: Human-centered Design (IDEO, 2015), e Design e Inovação Social (ARRUDA, 2017). Para a construção da campanha usei livros como o Persuasão na Publicidade (ANDREWS; VAN LEEUWEN; VAN BAREEN, 2016), Novos Fundamentos do Design (LUPTON, 2008) e O Homem e seus Símbolos (JUNG, 1992). Há dois Estudos de Caso ao longo dessa pesquisa. Um é baseado em casos de feminicídio e sua historicidade como violência de gênero extrema no Brasil e o outro é de diversos projetos de governos e ONGs, tanto no contexto nacional quanto internacional, que contenham design e tenham como temática a violência contra mulheres e/ou relacionamentos abusivos. Foram feitas entrevistas qualitativas sobre as experiências dos entrevistados com relacionamentos abusivos da esfera amorosa, para entender o público-alvo, as dificuldades do mesmo e a hierarquia dos assuntos a serem tratados.

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fundamentação teórica

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realidade feminina contemporânea Nesse capítulo seguiremos a linha da evolução do papel feminino até a atualidade, juntamente com o surgimento do feminismo euro-americano e brasileiro separademente, apresentando as evidências de resquícios machistas em nossa sociedade.



realidade feminina contemporânea o papel feminino na Europa e na América do Norte [...] em muitas culturas os homens são confundidos com o ser humano em si. Algumas línguas têm até mesmo apenas uma palavra para ambos (homme em francês, por exemplo). Os homens representam, portanto, os “seres humanos em si”, enquanto as mulheres são consideradas de alguma forma derivados. (PATU; SCHRUPP, 2019, P.3) Na formação das sociedades pré-históricas, a figura da mulher é vista como um ser inferior por várias questões, como a força física que, comparada a do homem, era menor e era uma característica importante para a caça de animais e criação de novas ferramentas. A dependência dos filhos do leite materno também era um impedimento para que as mulheres fizessem atividades exteriores sem os filhos. O patriarcado, que segundo o dicionário, significa “tipo de organização social que se caracteriza pela sucessão patrilinear, pela autoridade paterna e pela subordinação das mulheres e dos filhos” (GREGORIM; MARTINELLI; TERCIOTTI, 2002), ou seja, literalmente “a soberania do pai” e é o sistema predominante nas culturas da maioria dos países do mundo contemporâneo. A soberania do homem sobre a mulher é uma ideia presente tanto na religião, quanto na política da antiguidade, já que Estado era unido a figura divina. A bíblia, por exemplo, cita a subordinação da mulher ao homem como consequência da queda da humanidade no pecado, no momento em que Adão e Eva são expulsos do paraíso o desejo da mulher passa a ser para seu marido e ele a dominará (SAYÃO, 2013). Nos registros da sociedade hebraica, algumas poucas mulheres

ocuparam cargos de liderança política e religiosa, como a juíza Débora, equivalente a líder política e participante nas guerras por território, ou a rainha Ester, que evitou o massacre do povo judeu sob o mandato do rei Assuero, antes do cativeiro no Império Babilônico. Após a libertação do povo judeu, os fariseus, líderes das leis do povo e representação da vontade divina, rebaixaram o papel de mulher em favor do cumprimento das antigas leis, que só voltou a ser discutido novamente durante o ministério de Jesus Cristo. Em suas orações matinais, os fariseus agradeciam por não terem nascido como gentios, escravos ou mulheres (SAYÃO, 2013). No período greco-romano muito conteúdo artístico, científico e filosófico foi produzido, porém pouquíssimos são atribuídos a mulheres que nem mesmo tiveram suas existências confirmadas, como a poetisa Safo, de Lesbos (PATU; SCHRUPP, 2019). Nesse momento histórico, a posição político-social das mulheres era semelhante à de escravos, sem direito algum, o patriarca da família tinha poder de decisão sobre a vida (e a morte) das mulheres da família e de seus filhos (SAFFIOTI, 2015). Até a Idade Média, o cristianismo cresceu na Europa graças a Constantino, que a declarou a religião oficial do Império Romano. As mulheres daí em diante não tinham muitas opções além de se casarem e dedicarem a vida ao lar ou se dedicarem a fé e, com o surgimento de conventos, viver nos mesmos, onde a hierarquia também privilegiava os homens. Essas mulheres não tinham acesso direto à bíblia sagrada, sua grande maioria nem mesmo sabia ler, ficavam encarregadas de serviços de caridade e orfanatos, por exemplo (PATU; SCHRUPP, 2019). Algumas mulheres em conventos foram perseguidas por

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escrever seus próprios ensinos e ter visões espirituais (PATU;

mulheres, em 1622, onde afirmava que a essência humana é assexuada, SCHRUPP, 2019), enquanto do lado de fora, mulheres que viviam portanto, homens e mulheres têm direitos iguais. A ideia de igualdade isoladas, que não tiveram filhos, eram perseguidas como bruxas ganhou força durante o Iluminismo do século XVIII, juntamente com hereges. A educação da mulher e o livre acesso às escrituras, não só a Revolução Francesa de 1789. A Marcha das Mulheres de Versalhes, às mulheres, mas ao povo, passa a ser defendida somente durante a de 5 de outubro, é um exemplo da força da atuação política feminina, Reforma Protestante. onde juntaram-se mais de 8.000 trabalhadoras nas ruas protestando Próximo ao fim da Idade das Trevas, estudos científicos começam a por pão e a abdicação do rei, impulsionando a revolução. Apesar da surgir assim com a visão antropocêntrica, o homem como o centro de participação das mulheres, o lema “liberdade, igualdade e fraternidade” todas as coisas. Literalmente o homem. Através de sua ciência, afirmavam limitou-se somente aos homens. As mulheres continuaram a sofrer a inferioridade e incompetência do ser feminino. Entre os séculos XIV e discriminação, mesmo engajadas nas lutas em favor do povo, a política XVIII, por toda a Europa, houve uma grande discussão sobre a humaninão era considerada algo das mulheres, pois não podiam abandonar o dade das mulheres, muitos afirmavam que mulheres eram equivalentes a posto de cuidados da casa e educação dos filhos. animais, inumanas, enquanto outros defendiam seus direitos ao reconheO filósofo Saint-Simon abriu espaço para a discussão sobre a questão cimento, à liberdade e dignidade (PATU; SCHRUPP, 2019). de gênero e declarava a diferença entre os mesmo algo não-natural, Cristina de Pisano, uma poetisa e filósofa italiana do século XV, mulheres sansimonistas da época, como Claire Démar e Jeanne Deroin, considerada a primeira feminista do mundo, escreveu em 1405 um afirmavam que exatamente por homens e mulheres serem semelhantes, livro chamado O Livro da Cidade das Mulheres, que questionava as mas não-idênticos, as mulheres deveriam ser incluídas na política para opiniões misóginas da literatura e ciência da época, homenageando que sua mentalidade aprimorasse as leis com justiça e representassem mulheres da história, defendendo o papel fundamental da mulher na as próprias mulheres mais fielmente (PATU; SCHRUPP, 2019). sociedade e desenvolvendo uma história sobre uma sociedade utópica A professora de inglês e escritora Mary Wollstonecraft escreveu, de valorização da mulher (PATU; SCHRUPP, 2019). em 1790, um livro sobre direitos humanos e acompanhou de perto o Patu e Schrupp (2019, P.14) citam uma parte do livro escrito por desenvolvimento da Revolução Francesa. Na mesma época escreveu um Cristina de Pisano: livro chamado Reivindicação dos direitos da mulher, onde fortaleceu um argumento essencial da luta feminista até os dias atuais, influenciada por Aqueles que difamam as mulheres são pobres de espírito. Saint-Simon: as diferenças entre homens e mulheres não são naturais, mas geradas pela sociedade. Em 1791, Mary Gouze, conhecida como Eles já conheceram tantas que eram superiores a eles em Olympe de Gouges, escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da inteligência e refinamento que reagem ofendidos e reluCidadã. Dois anos depois Olympe foi executada na guilhotina por suas tantes. E, por causa desse ressentimento, falam mal de ideias políticas (PATU; SCHRUPP, 2019). todas as mulheres. (apud PISANO, 1405) Mais associações que lutavam pelos direitos das mulheres começaram Defendendo os direitos das mulheres, a filósofa francesa Marie a aparecer na Europa, onde sofreram grande opressão pelo movimento de Gournay publicou seu livro chamado A igualdade entre homens e antifeminista, criado por homens que reprovavam seu direito à educação 20


e atuação pública, como, por exemplo, Auguste Comte. Na América do

das classes mais baixas não se casassem, mas apenas morassem

Norte, não tiveram movimentos feministas organizados até 1848, quando feministas de Nova York organizaram uma convenção de dois dias para discutir o direito da mulher, com iniciativa de Lucretia e Elizabeth Cady Stanton, também conhecida como Convenção de Seneca Falls. Ao fim, foi aprovada a Declaração de Direitos e Sentimentos onde dizia que todos os homens e mulheres são iguais, referenciando diretamente a Declaração de Independência escrita por Thomas Jefferson, que citava somente homens. Muita literatura feminista surgiu nesse período como contra-ataque, as principais reivindicações das mulheres nos livros e nas convenções eram: melhor acesso a trabalho remunerado, crítica ao casamento tradicional e leis matrimoniais injustas e direito geral ao voto. Essa foi a primeira onda feminista (PATU; SCHRUPP, 2019). Sobre o trabalho remunerado, com a Revolução Industrial, as mulheres começaram a ser maioria em indústrias têxteis, o que causou uma revolta em homens que a viram como concorrentes, mesmo que seus salários fossem muito baixos. Como forma de resistência, algumas mulheres tentaram criar espaços de trabalho em melhores condições para outras mulheres, como Emily Faithfull, criadora da Victoria Press em Londres, em 1860, uma gráfica com mão-de-obra feminina que oferecia cursos profissionalizantes na área. Louise Otto-Peters, também lançou O Jornal das Mulheres e coordenou a Associação Geral das Mulheres por três décadas, começando em 1865 na Alemanha, que oferecia cursos de formação para mulheres (PATU; SCHRUPP, 2019). Quando casadas, os esposos controlavam onde iriam morar, como seus filhos seriam educados e tinham que dar permissão para a mulher trabalhar e nesse caso também controlavam seu salário, assim como também tinham que dar permissão para a mulher assinar contratos, viajar para o exterior, e, em caso de separação, o homem ficava com todos os bens herdados pela mulher, causando total dependência, em especial das mulheres burguesas. Não era incomum que mulheres

com seus parceiros, evitando esses problemas causados pelas leis matrimoniais (PATU; SCHRUPP, 2019). As feministas desse período eram diferenciadas entre radicais, que pregavam a -independência e o amor livre, como Minna Kauer (1841-1922) e Lida Gustava Heymann (1868-1943); as moderadas, que reconheciam o papel de mãe e esposa como importantes, mas eram contra as leis injustas do matrimônio, como Helene Lange (1848-1930) e Gertrud Bäumer (1873-1954); e as conservadoras, que não tinham críticas ao sistema matrimonial, mas queriam valorizar a dona de casa (PATU; SCHRUPP, 2019). Na questão do voto feminino, não era apenas uma questão de sexo, mas racial também. Em lugares como os Estados Unidos, os homens negros tiveram direito ao voto antes das mulheres, o que causou uma revolta preconceituosa nas mesmas. No final do século XIX, as sufragistas inglesas (de “sufrágio”, direito ao voto) faziam sucesso com suas ações criativas e militância formal, muitas foram presas, perderam seus empregos, maridos e filhos, até mesmo a vida para alcançar esse direito. No século XX, a maioria dos países cedeu o direito ao voto às mulheres (PATU; SCHRUPP, 2019). A discussão sobre papéis de gênero e como a cultura afetava o papel social da mulher começou a aparecer em livros de filósofas, como o livro O segundo sexo, de Simone de Beauvoir, de 1949, e Espelho da Outra Mulher, de Luce Irigaray, que discutiam a mesma questão de formas diferentes e influenciaram a pauta feminista da atualidade (PATU; SCHRUPP, 2019). Em 1960, surge o movimento feminista autônomo, também conhecido como feminismo de segunda onda, que reivindicava a autonomia sobre o próprio corpo, a exposição da violência contra a mulher como problema social e a reorganização dos trabalhos considerados femininos, como cuidar da casa e criar filhos (PATU; SCHRUPP, 2019).

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realidade feminina contemporânea o papel feminino no Brasil

Em 1808, a vinda da família real portuguesa para o Brasil melhorou a vida dos burgueses da época, promovendo mais eventos, onde mulheres de alta classe podiam demonstrar suas habilidades recitando poemas, cantando, tocando instrumentos e conversando polidamente. Assim os bailes e óperas permitiram a aproximação dos homens e mulheres com o flerte, dando espaço ao amor romântico. Antes disso, era comum que os pais escolhessem os maridos de suas filhas por vantagens políticas e econômicas, sem que a noiva fosse ao menos avisada e as mulheres solteiras raramente saiam de casa. No final do século, já era inaceitável que os pais arranjassem casamentos sem consultar a noiva e as mulheres se tornaram mais ativas socialmente (PINSKY, 2012). O marido cuidava do sustento e da política, enquanto as mulheres administravam a casa, não somente na limpeza e criação de filhos, mas com pequenos comércios que aconteciam de porta em porta, trocas de produtos feitos em casa, como tecidos, roupas e doces (PINSKY, 2012). “O Código Filipino – legislação do período colonial que permaneceu vigente no Brasil até o século XIX – permitia que o marido assassinasse a esposa adúltera.” (PINSKY, 2012, P.286). Assim como em países europeus, as leis matrimoniais não eram nada justas no Brasil. Na mesma época, mulher casada era considerada “civilmente incapaz” pelo Código Civil e assim foi considerada até 1962, com o Estatuto da Mulher Casada, onde a mulher foi considerada “companheira, consorte, colaboradora dos encargos da família”. Apenas em 1988 as mulheres foram consideradas igualmente responsáveis aos homens no casamento (PINSKY, 2012).

A educação feminina era rara, cerca de 11% das mulheres da época sabia ler, mas seu conteúdo de aprendizado era limitado ao que poderia ser utilizado no serviço do lar ou na valorização do casamento. A maior parte da educação da alta classe era feita em casa, os menos ricos eram mandados a colégios particulares e apenas os pobres iam para a escola pública. A universidade era limitada apenas para homens, especialmente o curso de Medicina e Direito, até o ano de 1879 pela Lei Leôncio de Carvalho, e mesmo após esse período poucas mulheres foram encorajadas a se dedicarem a vida acadêmica. Rita Lobato foi a primeira mulher a receber o diploma de Medicina no Brasil em 1887 e Mirtes de Campos formou-se em advocacia em 1899, mas só conseguiu o registro na OAB em 1905 (PINSKY, 2012). Mesmo em um período com muita discriminação às mulheres, houveram algumas burguesas que fugiam à regra e se dedicaram a educação feminina, aos direitos das mulheres e sua valorização. Veridiana Prado, Nísia Floresta, Francisca Senhorina da Motta, Josefina Álvares de Azevedo foram mulheres mais próximas da liberdade feminina da época. Antes mesmo da instituição do divórcio no país, Veridiana Prado se separou do marido aos 50 anos e contribuiu para o crescimento de São Paulo, com influência na arquitetura, seguindo os moldes franceses, e promovendo eventos. Nísia Floresta também se separou cedo de seu marido e se dedicou a educação, traduziu uma obra feminista de Mary Wollstonecraft, A Vindication of the Rights of Women, abriu uma escola no Rio de Janeiro e publicou seus próprios livros na Europa, mas sem nunca deixar de citar o Brasil em suas obras. Franscisca Senhorina era menos privilegiada, professora e editora do jornal O Sexo

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alforria dos escravos e a escrita dos mais variados gêneros, passando pela poesia e pelo romance. (PINSKY, 2012, P.202)

Feminino, incentivou a emancipação da mulher e seu direito à educação. Josefina Álvares foi a defensora pioneira do voto feminino, editora do jornal A Família, também escreveu artigos, biografias e uma peça teatral pró-sufrágio chamada O voto feminino. As consumidoras dos jornais pertenciam a alta classe e poucas da classe média, a maioria não militava ativamente, porém compartilhavam as ideias (PINSKY, 2012). Antes mesmo das sufragistas no final do século, mulheres já se envolviam na política. Não somente se posicionando em panfletos, cartas, poesias, mas também se transvestindo de homem para lutar em batalhas, como Maria Quitéria, presente e condecorada na Guerra da Independência, e Jovita Feitosa, que se alistou na Guerra do Paraguai. Apesar dos estereótipos de mulheres frágeis, menos inteligentes e passivas, muitas tiveram papéis importantes para o desenvolvimento político do país, como consta em livros da época, como Mulheres Ilustres do Brasil, de Inês Sabino e Mulheres Célebres, de Joaquim Manoel. Apesar dessas mulheres corajosas que colocaram seu patriotismo antes de qualquer estereótipo, mulheres só começaram a integrar as Forças Armadas oficialmente em 1980, começando pela Marinha, depois as Forças Aéreas, em 1982, e por fim no Exército em 1992 (PINSKY, 2012). Além da luta por independência, as mulheres também estavam presentes na luta pela abolição da escravatura:

Por influência da doutrina positivista, era incentivado a formação de mestres para que houvesse mudança no país através da educação. O magistério era uma profissão incentivada às mulheres, até pela ideia de a educação dos filhos ser responsabilidade da mulher. Muitas seguiram essa carreira e, assim como toda profissão que era amplamente exercida por mulheres, a valorização da profissão decaiu e tinha salários mais baixos. Vemos a consequência dessa desvalorização dos profissionais do ensino até hoje.

Dentre mulheres que engrossaram significativamente as fileiras do movimento abolicionista no país estão as cariocas Narcisa Amália e Chiquinha Gonzaga; as baianas Inês Sabino e Ana Autran; as gaúchas Revocata de Melo, Ana Aurora do Amaral Lisboa e Luciana de Abreu, a cearense Emília de Freitas e as pernambucanas Maria Amélia de Queiróz e Leonor Porto. Diversos foram os meios usados por elas para atacar o sistema escravista: criação de associações em prol da abolição, promoção de eventos beneficentes para arrecadar fundos a serem revertidos na

Na última década do século XIX, intensificou-se o processo de ‘modernização’ do Brasil, com o final da escravização e do regime monárquico, atrelado à crescente urbanização, imigração, migrações internas e industrialização, particularmente no sudeste do país. Essas mudanças provocaram, num curto espaço de tempo e em ritmo acelerado, transformações econômicas e sociais, gerando um novo perfil populacional, com considerável aumento demográfico, e mudanças com relação à presença feminina no universo do trabalho nas cidades e no campo. (PINSKY, 2012, P.127) O Brasil começou a viver a Belle Époque, com o fim da escravatura e a industrialização das cidades. A imagem matrimonial começou a se moldar ao sonho americano, onde o amor romântico começa a se sobrepor aos interesses familiares do patriarca. As mulheres burguesas têm seu papel de cuidadora dos filhos reforçado por não terem mais escravas que serviam como amas de leite. As mulheres de baixa renda buscam trabalho fora de casa, em fábricas, tentando conciliar o trabalho com a figura de dona do lar. Mulheres tecelãs compunham 70% da força de trabalho nas fábricas

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de tecido e na confecção, mais de 50%, eram a maioria assim como na Europa. As atividades que as mulheres exerciam começaram a ser desvalorizadas monetariamente e socialmente. Apesar das cargas horárias exaustivas de 12 a 14 horas, sem almoço e descanso semanal, as mulheres ainda eram consideradas frágeis e passivas, mas muitas lutaram por condições melhores. Entre 1917 e 1919 surgiu como resultado dessas lutas uma legislação trabalhista que proibiu a jornada noturna feminina e a atividade no último mês de gravidez e no primeiro mês pós-parto, com essas novas leis os patrões deram preferência a mão-de-obra masculina, não apenas isso, mas o reforço da figura feminina como mãe e dona de casa contribuíram para que, enquanto em 1872 cerca de 76% do trabalho fabril era exercido por mulheres, em 1950 esse número chegasse a somente 20% (PINSKY, 2012). “De acordo com o censo de 1920, 31% da população feminina acima de 21 anos e 14% com menos de 21 anos tinham empregos remunerados. Na indústria, anotava-se 30.070 mulheres, totalizando 33,7% de participação feminina.” (PINSKY, 2012, P.134). Com a queda da demanda de mulheres em fábricas e a dificuldade de ingressar no mercado de trabalho até 1940, muitas mulheres trabalhavam por conta em feiras, bares, pensões e mercados, vendendo a produção caseira de alimentos e outros produtos. Também teve um crescimento de empregos com visibilidade, porém com menor status, como vendedoras, secretárias e bibliotecárias, o que também contribuiu para qualificação profissional dessas áreas e cursos nas escolas. Muitas também optaram pelo serviço doméstico, principalmente mulheres de baixa renda e negras, por conta do preconceito e por serviços considerados amorais, como artistas, atrizes, dançarinas e prostitutas.

Em geral, as trabalhadoras domiciliares foram identificadas como passivas e desarticuladas dos movimentos reivindicativos. Porém, há vários registros que demonstram sua

capacidade de articulação e combatividade em associações como a União das Operárias Costureiras (1905), o Sindicato das Costureiras (1908) e a Liga de Resistência das Costureiras (1906). Em maio de 1919, por exemplo, a União das Costureiras liderou uma greve, manifestando-se a favor da definição de um salário mínimo, mas também pela redução dos aluguéis e contra a carestia. (PINSKY, 2012, P.130)

Apesar dos avanços trabalhistas e da presença da mulher no mercado de trabalho há tempos, apenas em 1943, com “Da proteção ao trabalho da mulher” da CLT, a legislação concedeu permissão a mulher de trabalhar sem a autorização expressa do marido, presente desde 1916 no Código Civil e também estabeleceu a equiparação salarial entre homens e mulheres, proibiu-se o trabalho que compromete a integridade física da mulher, trabalhos noturnos, com exceção de empregos específicos, regulamentou a licença-maternidade e exigiu creches para empresas com mais de 30 funcionárias. O Primeiro Encontro Nacional das Mulheres Trabalhadoras aconteceu em São Paulo, em 1963 (PINSKY, 2012). No começo do século XX alguns dos costumes começaram a mudar graças aos estudos médicos, psicológicos e pedagogos, que definiram o período de desenvolvimento de meninos e meninas até os 18 anos, evitando matrimônios e mortes prematuras durante o parto das jovens mãe, muito comum no século passado, e incentivaram a educação. A infância começa a ser valorizada e, por conta disso, os papéis femininos e masculinos começam a se dividir desde cedo, meninas brincando de bonecas e atividades domésticas e meninos brincando de bola e lutas, para prepará-los ao futuro que devem seguir. Em 1940 nos EUA, surge a primeira associação de rosa para meninas e azul para meninos em campanhas publicitárias de vestuário infantil, esse conceito se fixa no Brasil em 1970. 25


Em 1927, surgiu o Código de Menores e a legislação trabalhistas,

objetivos diferentes do movimento anterior, defendendo a sexualidade

que condenavam o trabalho infantil, mas pequenos trabalhos ainda eram dados a meninos, porém os patrões eram desencorajados a contratar meninas pela imagem caseira, assim muitas meninas mais pobres começaram a trabalhar como babás e domésticas (PINSKY, 2012). Após a proclamação da República, os desejos femininos pelo direito ao voto e elegibilidade, educação e independência econômica foram ressaltados. O Partido Republicano Feminino surge em 1910. Em 1917, o partido organizou uma passeata com 84 mulheres, que pode ter contribuído para que, no mesmo ano, o deputado Maurício de Lacerda apresentasse na Câmara um projeto de lei estabelecendo o sufrágio feminino, que mesmo não aprovado acelerou o processo para que o voto feminino fosse instituído.

feminina no sentido amplo do termo e discutindo sobre a violência contra a mulher, assim como liberdade de expressão, seguindo o movimento feminista da Europa e dos Estados Unidos (PINSKY, 2012). Apesar de movimentos feministas iniciarem em 1960, seus resultados ficaram claros a partir de 1980, até pelo período de ditadura que começou em 1964. Durante esses anos muitos grupos de discussão femininos começaram a surgir em casas, cafés e bibliotecas, com o intuito de abrir espaços para que mulheres se informassem melhor sobre sua sexualidade, sobre violência contra a mulher e principalmente sobre a luta feminista. Na década de 1960 também surgiram as escolas mistas, que possibilitavam condições mais igualitárias de carreira para meninos e meninas. A criação da pílula anticoncepcional também foi um marco da década, agora o sistema de castidade exigido às mulheres não é tão forte e as mulheres conseguem ter um controle maior sobre Podemos verificar o surgimento das primeiras políticas a natalidade, se utilizando do planejamento familiar. Nos anos 1990 públicas de massa voltadas para as populações urbanas na o termo adolescência ganha espaço, a partir do Estatuto da Criança década de 1930, quando o Estado redirecionou a política e do Adolescente, aparecem políticas sociais para melhorar a vida de econômica para o desenvolvimento do mercado interno e para o setor urbano-industrial. São dessa época, por exemplo, adolescentes mais pobres, especialmente sobre exploração sexual, gravidez precoce e trabalho infantil (PINSKY, 2012). a Consolidação das Leis Trabalhistas, a criação da carteira Entre 1970 e 1975 o número de mulheres em universidades de trabalho e da Justiça do Trabalho, a instituição do salário aumentou 5 vezes, enquanto o de homens dobrou. O divórcio também mínimo, a permissão do voto feminino. Houve também uma preocupação explícita por parte do governo com a “organiza- surge legalmente na década de 1970. Todas essas conquistas do último século se devem ao esforço e luta de várias feministas através dos anos. ção e proteção da família”. (PINSKY, 2012, P.20) Uma das feministas mais influentes do século XX foi Bertha Lutz, que Em 1932 instituiu-se o Código Eleitoral, no Decreto 21.076 o voto lutava pela ascensão feminina e o progresso do país (PINSKY, 2012). feminino e secreto foi garantido. O sufrágio feminino foi garantido no Apesar de todos os avanços das mulheres contemporâneas, o artigo 108 na Constituição de 1934, também nessa Constituição as trabalho ainda é uma questão de drástica desigualdade. Mulheres com mulheres foram beneficiadas com outras leis, por exemplo, as mulheres maior escolaridade recebem apenas 58% do salário de homens com casadas com estrangeiros puderam manter sua nacionalidade, a a mesma escolaridade, além de receber menos, trabalham mais se diferença salarial por discriminação foi proibida (PINSKY, 2012). considerarmos o serviço doméstico, as mulheres trabalham por 58 horas Em 1960 começa a surgir o feminismo de “Segunda Onda”, com semanais, enquanto homens trabalham 52 horas. O trabalho unido a 26


questão raça/cor também traz desigualdades, das mulheres negras e pardas que trabalham, mais da metade (60% e 54%) não são registradas.

O Censo de 2010 mostrou que, enquanto o rendimento médio dos brasileiros homens fica em quase R$1.400,00, o das mulheres ultrapassa, por pouco, os R$980,00. As brasileiras têm um rendimento médio cerca de 30% menor que o dos seus conterrâneos. (PINSKY, 2012, P.24)

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realidade feminina contemporânea impacto na sociedade contemporânea

Em 1946 foi comemorado o 8 de março pela primeira vez no Brasil, o Dia da Mulher. Em três séculos houve uma grande mudança no que significa ser mulher. A evolução do papel feminino na sociedade foi não-linear e lenta, inicialmente nem mesmo eram consideradas humanas, muitas se esforçaram e se posicionaram, como Cristina de Pisano, em uma época em que suas palavras não valiam nada, para que fossem consideradas dignas de serem chamadas seres humanos perante a sociedade. Aproveitando as mudanças políticas e sociais do próprio tempo, mulheres por todo o mundo, primeiro no contexto euro-americano e depois no brasileiro, começam a exigir o que atualmente é o básico para uma cidadã comum: o direito de atuar politicamente, colaborando nas decisões de seus respectivos países; o direito a educação e formação, o direito a um trabalho digno, igualitário e com direitos correspondentes a suas necessidades naturais, como a licença a maternidade e a férias remuneradas; e principalmente o direito de ser vista como uma pessoa independente de um marido, mas que dentro do matrimônio possa exercer funções e tarefas igualmente importantes aos de seus parceiros, sem total dependência do mesmo. Ainda há muito o que trabalhar nessas questões, mas os avanços são visíveis e comemorados. A valorização da mulher corrobora para o avanço e melhoras em toda a sociedade e suas instituições, com a visão ampliada e empática ao reconhecer os outros como humanos iguais, no século XIX tudo se resumia a vontade soberana do patriarca, com o passar do tempo a mulher também ganha espaço de fala e discussão, assim como seus descendentes (PINSKY, 2012). A Segunda Onda questiona os modelos de feminilidade que foram

construídos até os anos de 1960, busca a origem e quebra estereótipos comumente associados às mulheres, como o papel de esposa submissa, o de prostituta ou o de mãe, quando falam sobre sua sexualidade no sentido amplo, assim como quando questionam os papéis de serviço doméstico e criação dos filhos ligado às mulheres, assim como seu direito ao lazer. Quando falamos sobre liberdade ou lazer feminino também existem preconceitos enraizados pela cultura antiga e o machismo, mesmo que discreto em nossos pensamentos:

Basta pensarmos em quanto incômodo, espanto ou admiração ainda pode causar em alguns lugares do Brasil a cena de uma mulher desacompanhada no balcão de um bar ou em uma viagem de turismo, provocando talvez pena (“coitada, está sozinha, não conseguiu um marido...”) ou reprovação (“está mal-intencionada ou disponível para qualquer assédio...”). Não é rara a sensação de que ainda lhe é cobrado uma espécie de visto, ou prestação de contas, para transitar por certos lugares. Também não é raro, ainda que menor, o sentimento de culpa por ocupar-se consigo mesma (ou qualquer outra atividade “inútil”) quando se tem marido, filhos e uma casa à espera de sua atenção. (PINSKY, 2012, P.150) Atualmente vivemos a Terceira Onda do feminismo e muitos estudiosos até mesmo falam sobre uma Quarta Onda. O período de transição entre o século XX para o século XXI é caracterizado pelo crescimento absurdo de novas tecnologias e do consumo, que 29


corroboraram para com o grande fenômeno da globalização. Com a expansão e surgimentos de mais adeptos das ideias feministas, a publicidade dos anos 80 se viu confrontada por ainda apresentar a imagem antiquada de mulheres objetificadas e caseiras, então nesse período a publicidade teve que se reinventar, usando conceitos do feminismo em suas ações, como exemplo o empoderamento das mulheres que aparece em todas as campanhas publicitárias pró-mulher (HAMLIN; PETERS, 2018). Essa reinvenção da publicidade para se adaptar ao ideal feminista é vista como uma característica do capitalismo, também chamada de capacidade canibalizadora, que usa elementos da subcultura para vender produtos para as massas com uma imagem mais palatável. Apesar da publicidade apresentar o estereótipo de “super-mulher” inatingível, unindo novos signos como sucesso e independência aos velhos signos de sensualidade e feminilidade, o femvertising (ou publicidade “fem”) é muito eficiente. Uma pesquisa da revista SheKnows mostrou que 92% das mulheres se lembravam de uma marca pró-mulher e 52% já compraram algum produto por gostar da forma como a mulher foi representada no anúncio (HAMLIN; PETERS, 2018).

aplica o que apresenta em suas campanhas e até mesmo um aprofundamento sobre as pautas feministas é importante para manter a coerência entre ideais e consumo (HAMLIN; PETERS, 2018). A postura da sociedade quando o assunto é o papel da mulher se transformou através do tempo, graças a um processo lento e doloroso. Hoje mulheres consomem produtos e informações tanto quanto homens. Antigamente o homem era visto como o único provedor da família, a mulher não tinha necessidade de sair de sua casa e por isso as associações ao trabalho doméstico, mas por que essas associações permanecem na atualidade, mesmo com a influência da publicidade, sendo que as mulheres estão tão presentes no mercado de trabalho quanto os homens? Por que homens ainda agem como se pudessem controlar detalhes como a natalidade e o trabalho, da vida de suas parceiras, como se as mesmas os pertencessem? A violência de gênero é uma das consequências do machismo que ainda está presente, mesmo que inconscientemente, na mentalidade de brasileiros, que diz que a mulher ainda é um objeto, um pertence de seu parceiro e o mesmo tem total poder sobre suas ações e sobre sua vida, como no período greco-romano, mesmo após anos de lutas para que fossem reconhecidas como seres independentes.

E nada teria sido tão benéfico ao capitalismo tardio quanto a celebração das diferenças que a virada cultural trouxe consigo: as identidades passaram a ser vendidas e compradas em um mercado que promovia uma infinidade de estilos de vida, dentre os quais se inclui o empoderamento feminino. (HAMLIN; PETERS, 2018, P.175) A dificuldade advinda do fácil acesso à informações e o excesso das mesmas é manter o senso crítico sobre essas campanhas publicitárias pró-mulher. Sim, a publicidade foi e é uma ferramenta importante para o processo de difusão da ideia de emancipação das mulheres, mas buscar mais informações sobre a empresa, se ela 30


relações abusivas Nesse capítulo tentaremos definir as relações abusivas a partir da definição de violência de gênero, das descrições das violências física, psicológica, sexual, moral e patrimonial contidas na Lei Maria da Penha e das consequências desses relacionamentos à saúde das mulheres.



relações abusivas violência de gênero

A violência “[...] é a ruptura de qualquer forma de integridade da vítima: integridade física, integridade psíquica, integridade sexual, integridade moral” (SAFFIOTI, 2015, P.17). A violência, independentemente de a quem ocorre, é uma violação aos direitos humanos: à vida, à integridade física, à saúde, à segurança e à dignidade. É um fato que a violência entre os gêneros é assimétrica, não em relação à quantidade, mas à forma que acontece. Segundo a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra Mulheres, homens e mulheres tendem a sofrer agressões de forma diferenciada, enquanto homens são mais atingidos em ambientes externos, mulheres são mais atingidas em ambientes internos, em seus próprios lares. Dados do Mapa de Violência 2015 constam que 71,9% das agressões contra mulheres ocorrem na residência da vítima e entre os agressores preponderam parceiros e ex-parceiros, especialmente na faixa jovem (43,1%), enquanto as mesmas condições só se repetem em 15% das ocorrências registradas por homens. Os dados gerais sobre esse tipo de violência no país são ainda mais alarmantes: mulheres entre 15 e 44 anos tem mais chances de sofrer violência doméstica do que sofrer um acidente ou ter câncer (CIPRIANI, 2013). Cerca de 41% da população brasileira, ou seja, 52 milhões de brasileiros admitem conhecer alguém que foi violento com sua parceira, porém apenas 16% dos homens admitem ter sido violento ao menos uma vez (CIPRIANI, 2013). Apenas no primeiro semestre de 2016 o serviço do 180, que dá assistência à casos de violência contra a mulher, registrou 555.634 atendimentos, sendo 51,06% sobre violência física, 31,10% sobre violência psicológica, 6,51% sobre violência moral e 4,30%

sobre violência sexual (BRASIL, 2016). O Brasil está em 7º lugar no ranking de assassinato de mulheres entre 84 países e a cada 4 minutos uma mulher é agredida (CIPRIANI, 2013). Por esses dados e muitos outros obtidos em pesquisas por todo o mundo, a violência contra a mulher tem ganhado notoriedade e é considerada um fator de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde (2017). Violência contra a mulher, violência doméstica, violência conjugal e violência no namoro. Essas modalidades podem ser interseccionais e todas se configuram como violência de gênero, um termo amplo, abrangente e não limitado apenas às violências citadas. A violência de gênero é um sistema hierárquico de um gênero sobre outro, neste caso o masculino sobre o feminino, pautado na desigualdade, dominação e estereótipos. Não é possível discutir a violência contra a mulher sem discutir suas raízes no machismo e no patriarcalismo (SAFFIOTI, 2015). Esses dois conceitos firmam uma ideia de dominação do masculino sobre o feminino, enquanto o machismo prega a superioridade e privilégios do sexo masculino sobre o feminino e o patriarcalismo é um modelo de hierarquia onde o líder é uma figura masculina na política, nas relações sociais e outras esferas. Acredita-se que esses conceitos estão presentes desde a divisão dos trabalhos na pré-história e foram sendo reforçados culturalmente através dos tempos, através de filosofias, religiões e estereótipos sobre o que é a feminilidade. Um exemplo de estereotipo é a fragilidade feminina comparada à força física masculina, que foi uma grande vantagem para os homens na obtenção de sustento até o período da revolução industrial, onde máquinas passaram a fazer o trabalho pesado e a força física não era mais uma condição tão

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importante para realizar o trabalho nas fábricas, a partir desse momento

Portanto, Saffioti (1999) conclui:

mulheres começaram a entrar no mercado de trabalho para aumentar a renda familiar, assim como os homens, os papeis de masculino e feminino passam a ser questionados e logo mulheres começam a buscar seus direitos por igualdade (SAFFIOTI, 1987). O fato de a estrutura masculina ser diferente da feminina em vários aspectos não confirma superioridade nem inferioridade de nenhum dos sexos. Não há base científica que indique que o homem seja superior a mulher, seja fisicamente ou intelectualmente, portanto o conceito de supremacia masculina é uma construção meramente social (SAFFIOTI, 1987). Apesar dos fatos científicos e da luta feminista de anos, o machismo continua muito presente há gerações em muitas culturas, inclusive na brasileira. Homens são estimulados desde a infância a desenvolver a ferocidade e reprimir emoções enquanto mulheres são estimuladas à docilidade e submissão. Na pesquisa “Homens, violência de gênero e saúde sexual e reprodutiva: um estudo sobre homens no Rio de Janeiro/Brasil”, o autor afirma:

O consentimento social para que os homens convertam sua agressividade em agressão não prejudica, por conseguinte, apenas as mulheres, mas também a eles próprios. A organização social de gênero baseada na virilidade como força-poder-dominação permite prever que há um desencontro amoroso marcado entre homens e mulheres.

Os homens são ensinados desde criança sobre o modelo ideal de virilidade, que exclui as diversas masculinidades que existem, que são consideradas “mais frágeis” ou “mais afeminadas” e esse modelo cultural de força, virilidade, acaba sendo uma armadilha tanto para mulheres quanto para os próprios homens, que não podem desviar dessas características sem serem julgados (GAZALÉ, 2019). Graças a discriminação instituída através da história, que definiu as mulheres como objetos sexualizados para serviço doméstico e reprodução, as mesmas ainda são vistas como “o outro”, o diferente, o estranho, o A violência de homens contra mulheres está profundamente inferior (BEAUVOIR, 1970). Em uma pesquisa com 30 casais que tinham pelo menos 2 boletins associada ao modo como os homens são socializados. Uma de ocorrência de violência contra a mulher registrados, os principais vez que os meninos são geralmente ensinados a reprimir motivos para a violência foram o ciúme, o homem ser contrariado, a emoções, a raiva torna-se um dos poucos sentimentos que os ingestão de álcool e a suspeita de traição (DEEKE et al., 2009). Dos homens podem expressar com aprovação da sociedade. Além quatro motivos, três tem ligação direta com um machismo enraizado que disso, durante o processo de socialização, muitos homens cria a ideia de mulher como propriedade masculina. Quando a mulher é não desenvolvem habilidades de comunicação interpessoal desumanizada, a violência física e sexual é justificada como um meio de adequadas às relações pautadas pelo diálogo. Podemos acrescentar a isso o fato de os meninos serem frequentemente correção, como um momento de descontrole, como algo merecido pela vítima, que trata a violência entre um casal é tratada como um assunto educados de forma a acreditar que têm o direito de esperar privado (afinal, em briga de marido e mulher não se mete a colher, determinados comportamentos das mulheres, bem como de certo?) e traz a culpabilização da vítima, a violência é minimizada quando poder utilizar abuso físico, verbal ou qualquer outra forma a violência psicológica e moral são desconsideradas, apesar de serem a de violência, caso elas não cumpram com suas “obrigações”, como cuidar da casa ou prover sexo. (ACOSTA, BARKER, 2003) gênese de qualquer agressão física (SAFFIOTI, 1999). Toda essa situação 34


também colabora para que a mulher se sinta constrangida em denunciar ou talvez nem mesmo reconheça que está em condição de violência. Não há como definir um grupo de classe social, renda, grau de escolaridade, nacionalidade ou qualquer outra característica que seja o maior causador da violência de gênero. Essa violência ocorre em diversos lugares a qualquer momento com várias mulheres, independente disso tudo. O que leva um homem, salvo de casos psiquiátricos, a agredir uma mulher é somente o machismo, a inferiorização da mulher e a falta de respeito pelos direitos da mesma. “O respeito ao outro constitui o ponto nuclear desta nova concepção da vida em sociedade” (SAFFIOTI, 1999).

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relações abusivas Lei Maria da Penha

O feminismo latino-americano teve um desenvolvimento muito importante na segunda metade do século XX, quando as feministas começam a argumentar a favor de direitos e políticas públicas com o Estado (BARSTED, 2011). Duas convenções foram significativas para o avanço dos direitos das mulheres, que foi a Conferência para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, conhecida como CEDAW de 1979, e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, também conhecida como Convenção de Belém do Pará ou OEA de 1994, além de várias outras convenções que aconteceram pelo mundo na década de 1990, todas exigindo direitos para as mulheres, seu reconhecimento como direitos humanos e estratégias para reduzir a discriminação de gênero (PASINATO, 2013). Desde 1970, a agenda feminista brasileira se mostrou muito ampla, tratando sobre trabalho, política, papel social, saúde, sexualidade, preconceito racial e, claro, violência contra a mulher. Nesse mesmo período houve um grande movimento contra a impunidade de homens que matavam suas companheiras por legítima defesa da honra, com uma campanha de slogan “Quem Ama Não Mata” (BARSTED, 2011), a legítima defesa da honra foi considerada ilegal nos anos 1990, após cerca de 10 anos de luta. Segundo a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, as primeiras conquistas do movimento feminista com o Estado na questão de prevenção da violência contra a mulher datam de 1980: em 1985 foi inaugurada a primeira Delegacia de Defesa da Mulher e o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher pela Lei nº 7.353/85, e no ano seguinte, em 1986, foi inaugurada a

primeira Casa-Abrigo para mulheres em risco de morte pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Em 1990, o foco das lutas feministas foi a ampliação de Delegacias Especializadas e novos serviços de apoio, também em 1997, foi revogada a lei que impedia que mulheres casadas dessem queixa sem o consentimento do marido e pela Lei 9.455, a violência psicológica, muito presente em relações de violência contra a mulher, foi tipificada como crime de tortura (BARSTED, 2011). Uma grande conquista de 2003 foi a criação da Secretaria de Políticas para Mulheres, que investiu muito no enfrentamento à violência contra as mulheres, com novos serviços e propondo uma rede de atendimento às mulheres em situação de risco (BRASIL, 2011). Em 2004, a Lei 10.886/04 reconheceu a “violência doméstica” como tipo penal (BARSTED, 2011). Até que no dia 7 de agosto de 2006 foi criada a Lei nº11.340, também conhecida como Lei Maria da Penha, e entrou em vigor no mês de setembro do mesmo ano. A Lei foi nomeada em homenagem à Maria da Penha Maia Fernandes, que sofreu violência doméstica por 23 anos. Essa lei é um marco dos direitos das mulheres como direitos humanos no Brasil, considerada uma das leis mais avançadas sobre violência contra a mulher pela ONU em 2011, com punição para os agressores, proteção aos direitos das mulheres, acesso à assistência, prevenção por meio de campanhas e processos de mudança cultural pela igualdade de gênero (PASINATO, 2013). A lei define como violência doméstica contra a mulher “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial” seja por

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um familiar, um parceiro afetivo ou um agregado que compartilhe um

instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos

espaço de convívio. A lei se aplica independentemente de orientação sexual (BRASIL, 2006). A violência física é a primeira modalidade de violência citada no capítulo das formas de violência da Lei, é também uma agressão facilmente reconhecida e a mais registrada pelo serviço do 180 (51,06%) segundo o Balanço de 2016. A violência física é “entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal” (BRASIL, 2006). A violência psicológica é a segunda modalidade e registra 31,10% das denúncias segundo o Balanço de 2016 do 180. “A violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe causa dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação” (BRASIL, 2006). A violência sexual é a terceira modalidade de violência citada, cerca de 4,10% dos casos registrados no serviço 180 (BRASIL, 2016). A violência sexual é definida como “qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso de força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos” (BRASIL, 2006). A violência patrimonial, 1,93% dos casos registrados no Balanço de 2016 do 180, é compreendida como “qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos,

ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades” (BRASIL, 2006). A violência moral, também presente na lei, cerca de 6,51% dos registros do Balanço de 2016, considera “qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria” (BRASIL, 2006) como tal. A lei também condena o feminicídio, o ato de assassinar uma mulher pelas condições do sexo feminino. Os avanços foram lentos, iniciando-se nos anos de 1980 tanto pelo déficit de cidadania pré-Constituição de 1988 quanto pela resistência cultural que tratava a violência doméstica como assunto privado ou um ato de correção e educação (PASINATO, 2013). Além disso, em um levantamento do DataSenado de 2017, a pesquisa indicou que 100% das mulheres já ouviram falar da Lei Maria da Penha, mas 77% dizem conhecer pouco e apenas 18% afirmam conhecer bem a lei. Um dos problemas para que as mulheres não busquem seus direitos é o difícil acesso à informação que seja eficiente. Isso não se limita a mulheres, mas homens também tem um baixo nível de conhecimento sobre a lei, sendo que 35% dizem desconhecer a lei totalmente ou quase totalmente e 37% afirmam que, por causa da Lei Maria da Penha, as mulheres os desrespeitam mais (CIPRIANI, 2013). É um claro sinal de desconhecimento, já que a lei defende direitos básicos para que as mulheres sejam humanizadas.

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relações abusivas a natureza das relações abusivas

Baseando-se no conceito de violência de gênero e na Lei Maria da Penha, o que configuraria uma relação abusiva? Segundo o dicionário, a relação é “ligação entre pessoas” (GREGORIM; MARTINELLI; TERCIOTTI, 2002), enquanto abuso se define como “uso ilegítimo, incorreto e/ou prejudicial de um objeto” (GREGORIM; MARTINELLI; TERCIOTTI, 2002). No caso da temática desse projeto, a relação é de natureza amorosa, independentemente de ser um casamento, noivado, namoro ou qualquer outra modalidade, apesar de existir outros âmbitos, como o profissional, o familiar, o estudantil, em que haja relações abusivas. Então a relação abusiva se configura em um formato de relação que está sendo prejudicial para uma das partes psicologicamente ou fisicamente, isso acontece quando um dos parceiros acredita que exerce domínio sobre o outro, como nas origens da violência de gênero, e por isso é mais comum que mulheres sejam vítimas desses relacionamentos, pelo machismo ainda muito presente na mente da sociedade que diz que a mulher é um pertence do homem. Há casos contrários, onde a mulher é abusiva por acreditar que precisa ter controle sobre o homem, e casos de abuso em relacionamentos homossexuais. Como cita Saffioti (1999) “as violências física, sexual, emocional e moral não ocorrem isoladamente. Qualquer que seja a forma assumida pela agressão, a violência emocional está sempre presente. Certamente, pode-se afirmar o mesmo para a moral”. Uma relação abusiva pode ser difícil de ser identificada por começar na agressão psicológica e moral, que não deixa marcas visíveis como a agressão física. Como foi definida no capítulo sobre a Lei Maria da Penha, a

violência psicológica é muito comum nas denúncias e é tudo o que pode causar danos psicológicos, como o gaslighting, uma técnica discreta de manipulação para desgastar a confiança, a autoestima e a sanidade da vítima, causando confusão ao alterar sua percepção de realidade, que teve seu nome baseado em um filme de 1944, chamado Gaslight, onde o marido manipula sua esposa para que todos, inclusive a esposa, acredite que ela está louca (CARRETERO, 2017). A violência psicológica tem como objetivo a permanência na relação e inferiorização da vítima por meio de danos na autoestima e fragilização do emocional, a violência moral também tem relevância nesse processo. A violência física não é somente surras, socos e pontapés, mas “qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal”, que também inclui empurrões, segurar de forma que machuque a vítima e a ameaça de qualquer agressão física é tão séria quanto a própria agressão, pois se configura como violência psicológica. A agressão física é uma forma de controle por meio da força e não é justificada por raiva, ciúme ou qualquer outro sentimento. Em pesquisa do Instituo Avon/Data Popular, 56% dos homens admitiram ter cometido pelo menos uma das diversas formas de agressão citadas, entre elas xingamento, empurrões, ameaças, tapas, impedir de sair de casa e humilhação em público, mas apenas 16% reconhecem ter sido violento com suas parceiras. Homens também devem ser ensinados sobre o que é a violência e o que torna um relacionamento abusivo, até porque eles também podem ser vítimas. Esse tipo de relação tem consequências diretas na saúde física, psicológica e sexual da mulher, que variam dependendo dos tipos de

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violência sofridas e período de permanência na relação (Organização Mundial de Saúde, 2017). Vítimas de agressões podem passar por lesões físicas, dores de cabeça e físicas, mobilidade reduzida, distúrbios gastrointestinais, de sono e alimentares, ansiedade, transtorno pós-traumático, depressão e tentativas de suicídio. A agressão sexual pode levar a gravidez indesejada, aborto induzido, problemas ginecológicos e propensão a doenças sexualmente transmissíveis. Violências de longa data, que começaram na infância ou adolescência, podem influenciar a tendência a vícios, como tabagismo, drogas, álcool e comportamentos sexuais de risco, assim como pode estar ligada à perpetração e sofrimento da violência (Organização Mundial de Saúde, 2017). Mesmo que a solução mais óbvia seja o rompimento desse relacionamento, existem muitos empecilhos, como a esperança de mudança, o medo, a dependência emocional e financeira. Em pesquisa, utilizando-se de um recurso de psicologia chamado Teoria da Ação Planejada, a religião e familiares são fatores que podem atuar tanto como proteção contra os agressores como fatores de risco de permanência, enquanto a dependência financeira, dependência emocional e a proteção dos filhos são considerados influências para a permanência de mulheres em relações abusivas (GOMES, 2018). A relação abusiva se torna um ciclo vicioso em que muitas mulheres não veem saída.

Raramente uma mulher consegue desvincular-se de um homem violento sem auxílio externo. Até que isto ocorra, descreve uma trajetória oscilante, com movimentos de saída da relação e de retorno a ela. (SAFFIOTI, 1999)

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relações abusivas feminicídio

A permanência na relação abusiva pode contribuir para o avanço das violências ao ponto de chegar ao feminicídio. O feminicídio é o assassinato de uma mulher por condições do sexo feminino, o crime pode envolver violência doméstica e discriminação ou menosprezo, e, pela Lei 13.104/2015, alterou o código penal e foi qualificado como crime hediondo no Brasil (WAISELFISZ, 2015). Ainda conforme o Mapa de Violência 2015, o Brasil tem cerca de 7 feminicídios diários, sendo 4 deles causados por parceiros e ex-parceiros (cerca de 33,2% de todos os casos). Mulheres precisam encontrar informações claras e acessíveis sobre violências e seus direitos, e redes de apoio para que o feminicídio seja evitado e esse número decaia. Mesmo que o feminicídio tenha sido nomeado e qualificado recentemente, o ato não é recente e houveram muitos casos na história do Brasil, muitos que receberam grande destaque nas mídias e geraram muita comoção. Muitos deles vieram de relações conturbadas que podem ser chamadas de relações abusivas, com ciúme excessivo e a necessidade por dominação, onde o agressor tenta justificar suas ações baseado na conduta da vítima. A Tragédia de Icaraí, 1912 – Anna Levy Barreto, grávida, foi assassinada pelo marido, João Pereira Barreto, poeta e boêmio. No primeiro julgamento haviam muitas mulheres no júri que ressaltavam as tendências ao álcool e ao ciúme do autor do crime, foi então considerado culpado e teve pena de 21 anos de prisão (PINSKY, 2012). Entretanto, no segundo julgamento a defesa reforçou o padrão social de homem de bem cumprindo seu papel, a maior parte do júri era do sexo masculino e, por fim, absolveram o réu.

Violento até a medula: Ceci Sodré, 1954 – Ceci Sodré, de 24 anos e grávida de 7 meses, foi espancada e apunhalada 9 vezes por seu companheiro, Domingos Santos. A briga começou por uma discussão sobre o tipo de carne que o homem tinha comprado. Em entrevista, Domingos afirmava que Ceci o traia, era casada com outro homem e que causava abortos para justificar seu crime pelo comportamento da parceira. Ceci faleceu no hospital três dias depois do ocorrido (PINSKY, 2012). O crime da Praia dos Ossos, 1976 – Ângela Diniz foi assassinada a tiros por Doca Street. A defesa usou os fatos de Ângela ser separada, bissexual e amante de Doca para considerar o crime “legítima defesa da honra”. Doca foi condenado a dois anos de reclusão por homicídio culposo. As feministas da época insistiram em um segundo julgamento, onde Doca foi condenado a 15 anos de prisão, porém só cumpriu 3. Da frase dita por Doca Street durante o julgamento “Matei por amor”, surgiu o slogan de uma campanha contra a violência contra a mulher: “Quem ama não mata” (PINSKY, 2012). Sandra Gomide, 2000 – Sandra Gomide foi assassinada por seu ex-namorado, Antônio Marcos Pimenta Neves, jornalista e diretor de redação do Estado de S. Paulo, com dois tiros no Haras Setti. Após o término, Pimenta perseguiu a ex-namorada, com difamações e ameaças e chegou a invadir seu apartamento e agredi-la. Apenas em 2006 Pimenta foi sentenciado a prisão por 18 anos e pagamento de multa à família da vítima, porém não chegou a ser preso. Em 2008, com uma nova apelação, foi condenado a 15 anos de prisão e detido em 2011 (PINSKY, 2012). O Caso Eloá, 2008 – O ex-namorado Lindemberg, de 22 anos, invadiu armado a casa de Eloá Cristina, de 15 anos e manteve ela e uma

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amiga como refém por mais de 100 horas. Quando o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) e a Tropa de Choque invadiu o ambiente, o agressor disparou dois tiros na menina, que faleceu por morte cerebral 5 dias após a invasão. Três anos depois, Lindemberg foi condenado a 98 anos e 10 meses de reclusão (PINSKY, 2012). O Caso Eliza Samudio, 2010 – O goleiro do Flamengo Bruno Fernandes foi acusado de sequestrar, manter em cárcere privado e assassinar Eliza Samudio, juntamente com cúmplices, por não querer assumir a paternidade de seu filho. Eliza já tinha feito uma denúncia contra Bruno por agressões, cárcere privado e indução ao aborto. Houve uma grande comoção que alegava que o goleiro tinha sido vítima de um golpe de Eliza, julgando sua conduta por ter sido garota de programa e feito um filme pornográfico (PINSKY, PEDRO, 2012). Bruno foi julgado por sequestro, cárcere privado, assassinato, ocultação de cadáver e em 2013 foi condenado a 22 anos e três meses de prisão (D’AGOSTINO; ARAÚJO, 2013). Nathalie Rios Motta Salles, 2017 – Nathalie, grávida de 3 meses, foi assassinada pelo pai e ex-namorado, Thiago Medeiros, e seu corpo foi encontrado carbonizado em Vassouras, onde a família de Thiago morava e onde o mesmo tinha casa e consultório. O assassinato aconteceu após Thiago pedir para que Nathalie abortasse, já que estava noivo de outra, porém a vítima decidiu continuar a gravidez (TEIXEIRA, 2018).

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design social Nesse capítulo discutiremos a técnica de design voltada para o social e o design centrado no ser humano e como tais técnicas foram aplicados ao longo do projeto.


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design social componentes do design social

Em seu livro Design for a Real World: Human Ecology and Social Change, Papanek (1985) nos traz o conceito que designers responsáveis não vão projetar produtos voltados para os desejos das pessoas, mas para o que elas realmente precisam. O design social pode ser visto de duas formas: na primeira, o social significa as estruturas da sociedade em si, como funcionam e a sua formação; na segunda, o social são grupos específicos de pessoas que precisam ter sua realidade modificada porque sofrem como algum problema ou limitação, como a pobreza, a violência ou relações abusivas, por exemplo (CIPOLLA, p.150, 2017, apud MANZINI). No design social, os designers podem exercer diversas funções em um projeto que não estão diretamente ligadas a criação a princípio, como a pesquisa e a análise das mesmas, na comunicação entre equipe e público, no desenvolvimento da estratégia do projeto, e na criação de ferramentas de auxílio e simulação, como protótipos, importantes para o resultado do projeto. É uma vertente em que o designer se distancia um pouco das suas atividades comuns para pensar mais no funcionamento da sociedade e usar essas ferramentas de design como facilitadoras para solucionar problemas sociais. Antes de tudo, designers são cidadãos que podem usar suas habilidades para contribuir para a sociedade com responsabilidade moral e social (ARRUDA, 2017).

sistema de dominação vigente. (ARRUDA, 2017, P.46)

O design social trabalha em conjunto com o codesign, com inovações sociais e a tecnologia em seu sentido amplo. O codesign é quando designers criam diálogos com diferentes grupos, levam em conta a participação de equipes com profissionais de diversas áreas que podem ter mais conhecimento sobre determinado assunto em estudo e stakeholders, ou seja, investidores, instituições, comunidades, prestadores de serviços e produtores, que podem tornar o projeto funcional e aplicável, incluindo os receptores que também podem interagir com o resultado do projeto, transformando-o constantemente através da colaboração. Por meio da interação entre essa equipe e o público-alvo, o design contribui para metodologias participativas que incentivam a autonomia, liberdade e igualdade (ARRUDA, 2017). Algo próximo ao codesign foi desenvolvido durante o projeto, com uma entrevista com uma delegada da delegacia da mulher, Renata Cruppi, para entender melhor como é o serviço para uma mulher em situação de violência. As inovações sociais são novas práticas benéficas a sociedade, que podem ser processos, políticas, produtos ou serviços que sugiram uma eficácia maior do que as técnicas que já foram utilizadas no mesmo problema e que surgem de ações que já miram uma mudança A partir do entendimento de que a vida em si é uma sucessão social, seja de ONGs, designers, empresas ou do governo (CIPOLLA, 2017). Muitas vezes, as inovações sociais amplificam os recursos de redes (CAPRA, 1996), emergiu uma oportunidade para que já existem, não necessariamente criando algo totalmente novo ação: se a vida opera de acordo com a lógica das redes, então é possível usar seus fluxos para promover rupturas no (ARRUDA, 2017), como é o caso da nossa campanha. O foco da 45


inovação social é o que a pessoa receptora poderá fazer com essa

consistência, firmeza e convergência de propósitos éticos” (ARRUDA, inovação, não apenas solucionar seu problema enquanto o receptor 2017, P.76). Quando unimos as questões sociais com a tecnologia, continua como ser passivo. Os receptores da mensagem das inovações devemos atualizar constantemente o conhecimento sobre os assuntos são capazes e podem interagir com os resultados e tomem suas próprias para que não fique defasado e o projeto continue funcional e atual. atitudes benéficas, seja individualmente ou em grupo, fazendo com que Human-centered design (design centrado no ser humano) é o muitos trabalhem para o benefício comum por meio do diálogo criado conjunto de métodos e técnicas em função do design social desenvolvido pelo codesign (CIPOLLA, 2017). Aplicamos essa técnica com a abertura pelo IDEO, que contribuem para a solução de problemas sociais em para discussões com o fórum e a tag #mevermelho, com peças feitas países menos desenvolvidos ou em desenvolvimento. Baseando-se em especificamente para o compartilhamento disponíveis nas redes sociais “três lentes”, começando pela “lente do desejo” onde as necessidades do e o próprio compartilhamento do site, além de disponibilizar todo o público-alvo são analisadas e, através do desejo identificado, que foi soluconhecimento para tomar as ações necessárias caso reconheça qualquer cionada através de entrevistas com pessoas que passaram por relações nível de relação abusiva. As inovações sociais devem ser tecnicamente e abusivas e uma delegada da delegacia da mulher; verifica-se a praticafinanceiramente viáveis para seu perfeito funcionamento, atendendo as bilidade, ou seja, as técnicas a se utilizar, onde identificamos a carência necessidades do grupo a ser ajudado. de conscientização a partir do desconforto da primeira fase do ciclo de violência de relações abusivas e do diálogo entre relação saudável e “Portanto, na inovação social, o papel do designer é de relação abusiva; e viabilidade, sendo financeiramente viável a partir de produtos de baixo custo como folders, site, redes sociais e cartazes que catalisar os processos, habilitar conversas e estimular a juntos criam uma rede completa de informação (IDEO, 2015). participação dos atores, ativando a inteligência coletiva e O processo estratégico de um projeto passa por três fase: H (hear, empoderando as pessoas para que colaborem criativamente ou seja, ouvir), C (create, ou seja, criar) e D (deliver, ou seja, implena construção de soluções inovadoras para a comunidade.” mentar), pensando em elementos concretos e abstratos durante os (ARRUDA, 2017, P.118) estudos até que chegue em protótipos e soluções concretas. Ouvir Para atingir seus objetivos, o design social utiliza-se de diversas é basicamente o estudo para se aprofundar sobre o ambiente, o tecnologias e as mesmas também podem ser consideradas tecnologias público, o local, os costumes, histórias e todas as implicações dos sociais caso essa tecnologia tenha sido criada especificamente para mesmos. Criar é a busca pelas oportunidades que podem conduzir a solução de um problema social, que seja funcional com simplicidade, soluções, organizando e analisando o que foi coletado na fase Ouvir. baixo custo e fácil aplicabilidade e reprodução em outras localidades E, por fim, Implementar é a conclusão, depois de protótipos e pilotos, e até mesmo para problemas semelhantes (ARRUDA, 2017). Assim mas ainda assim é uma fase de testes e aprendizagem. Em todas como no codesign e nas inovações sociais, a tecnologia social foca na as fases de um projeto é importante ter mais pontos de vista, criar educação, na capacidade dos envolvidos de aprenderem e promoverem espaços específicos para o projeto para ter uma visão geral do mesmo uma mudança utilizando-se do resultado do projeto, “essa interação é e um cronograma (IDEO, 2015). construída ao longo de um processo em que as partes envolvidas tenham A fase Ouvir se resume em coletar histórias, compreender a 46


realidade do público e entender necessidades e restrições que

muito útil de criação, que se resume a reunir as informações coletadas

implicariam no projeto. É um método qualitativo de pesquisa, onde o pesquisador abre mão de suas suposições e desenvolve maior empatia pelos indivíduos participantes, “podem ajudar a revelar oportunidades sociais, políticas, econômicas e culturais das pessoas e descrevam os obstáculos com suas próprias palavras” (IDEO, 2015, P.22). Também servem como mapeamento de interações, relacionamentos entre as pessoas, lugares e instituições. “O forte da pesquisa qualitativa é o entendimento profundo, e não a cobertura ampla” (IDEO, 2015, P.22). O desafio estratégico deve ter objetivo claro quanto ao resultado para a construção instrumentos de pesquisa, como questionários, moldado em termos humanos, equilibradamente abrangente. É importante ter uma análise do conhecimento geral que os pesquisadores já têm sobre o assunto, sobre as tecnologias que podem ser utilizadas e exemplos de outras soluções para um problema semelhante. Assim como é importante ter uma variedade de sexo, idade, etnia, classe social no momento dos questionários, para que seja mais abrangente e tenha mais perspectivas da mesma situação (IDEO, 2015). Na fase Ouvir do projeto Vermelho, entrei em contato com seis pessoas que passaram por relacionamentos abusivos e estavam dispostas a conversar sobre o assunto. As entrevistas foram feitas pessoalmente e por Skype durante o mês de julho, com entrevistados que passaram por diferentes experiências nas violências citadas no capítulo anterior e consequências. A partir dessas entrevistas busquei entender o que os entrevistados identificaram como abuso, quais sinais eles reconheceram no início da relação que poderia ser um alerta, os danos que ficaram e como buscaram por mais informações para montar o briefing do projeto. Todos os termos de permissão de uso dos entrevistados e as entrevistas redigidas estão em minha posse. A partir da fase Criar, deve-se ter uma síntese de tudo o que foi pesquisado anteriormente na fase Ouvir, abrindo caminhos para uma nova perspectiva. O brainstorming (chuva de ideias) é uma ferramenta

e, sem muitos critérios, sugerir soluções se baseando no que já sabe. O brainstorming serve para desenvolver muitas ideias, que em sua grande parte são inutilizáveis, mas que conduzam a soluções criativas e funcionais. Após o brainstorming, algumas ideias são escolhidas pela praticabilidade e então protótipos dessa ideia começam a ser desenvolvidos para encontrar falhas, seja técnica ou financeira, e ter algo mais palpável para visualizar, apresentar e obter opiniões. No momento de criação é necessário usar histórias como dados, encontrar padrões, também chamados de insights, ou seja, prestar atenção ao inesperado, ao que extrapola a história. Focar nas informações e não nos detalhes, organizar agrupamentos e classificações de informações com a técnica P.O.I.N.T. (problemas, obstáculos, insights, necessidades e tema), para facilitar a identificação de oportunidades no material adquirido (IDEO, 2015). Após as entrevistas, fizemos um agrupamento de públicos por diferentes necessidades quanto ao tema de relações abusivas: pessoas que desconhecem o assunto e querem saber mais, jovens casais que precisam criar o hábito de policiar a saúde do relacionamento e mulheres em risco. A partir destes agrupamentos nós desenvolvemos algumas peças gráficas e digitais que se adaptam melhor a cada um, mas convergem no site oficial com informações detalhadas e nas redes sociais de forma mais compacta. Se possível, as soluções adquiridas serão experimentadas futuramente considerando a viabilidade financeira e aperfeiçoada com protótipos contínuos. A partir dos pilotos será possível absorver os resultados dos testes e corrigir o que ainda não tinha sido identificado, sempre melhorando o projeto. É importante considerar todos os impactados do projeto para melhorar a experiência de todos (IDEO, 2015).

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Figura 1 - post do Mete a Colher instabilidade Figura 2 - post do Mete a Colher esperança

design social estudo de caso

Ao trabalhar não só com mulheres, mas diversos público em situação de violência e relações abusivas, há várias campanhas de organizações, ONGs, sites informacionais e aplicativos, tanto no meio nacional quanto internacional, como exemplo do design social atuando para tal grupo. Muitos dos grupos apresentados criaram ou se utilizaram de soluções funcionais já existentes que inspiraram o projeto Vermelho durante seu desenvolvimento.

Mete a Colher Mete a Colher é uma startup criada em 2016 em Recife, no Pernambuco, com o nome baseado na desmitificação do ditado “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”, dedicada a luta contra a violência contra a mulher. Reconhecida nacionalmente, a Rede Mete a Colher une tecnologia ao combate à violência e ganhou prêmios, como o de inovação tecnológica nacional da ImagineCup e melhor startup de impacto social do Brasil pela Associação Brasileira de Startups (ABS) (ALBERTIM et al., 2016). A rede tem um site próprio, página no Facebook, no Instagram e no LinkedIn, tendo a página do Facebook mais de 100 mil seguidores e no Instagram pouco mais de 13 mil, onde divulgam imagens informativas, notícias, eventos e campanhas, não apenas de violência doméstica e relacionamentos abusivos, mas sobre assédio, questões de gênero, saúde da mulher, empoderamento e outras pautas do feminismo (ALBERTIM et al., 2016). 49


Em 2017 lançaram seu próprio aplicativo exclusivo para mulheres, onde o objetivo é conectar mulheres em situação de violência com outras mulheres voluntárias através de um chat. As voluntárias podem prestar ajuda através de apoio emocional, orientação jurídica e na inserção de vítimas no mercado de trabalho. O aplicativo garante sigilo absoluto através de perfis anônimos, senha pessoal, criptografia, as mensagens são apagadas em 24h e os detalhes do perfil não são divulgados às outras usuárias. O aplicativo é simples, rápido, intuitivo e eficaz, com uma interface clara. O aplicativo se inicia com explicações básicas sobre o que é o aplicativo e como funciona em quatro partes e, ao fim, redireciona para o cadastro. Após criado o perfil, que só precisa de e-mail, nome e senha, o aplicativo é separado entre abas de chat, já deixando o “pedido de ajuda” como função mais acessível, com fácil acesso a suas últimas conversas, seus pedidos de ajuda e o feed onde ficam mulheres a serem ajudadas. Cada tópico de pedido de ajuda tem tags separando o tipo de ajuda necessária, podendo haver mais de um tipo em um único pedido. As mulheres que ainda não foram respondidas ficam em destaque, facilitando que todas recebam a devida atenção (ALBERTIM et al., 2016). Um ótimo serviço, muito bem elaborado no quesito de user experience e design, colocando a função acima do visual.

Figura 3 - post do Mete a Colher ciclo de violência Figura 4 - post do Mete a Colher medo

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Figura 5 - post do Mete a Colher baixe o app

Figura 6 - post do Mete a Colher rede de apoio

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16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres Os 16 dias de ativismo acontecem globalmente entre os dias 25 de novembro, Dia Internacional para Eliminação da Violência contra Mulheres, e 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, sendo que no Brasil começa mais cedo, no dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra. Esta mobilização é apoiada por diversas instituições, como universidades, ONGs, empresas e associações, mas principalmente pela ONU Mulheres (ONU Mulheres, 2018). Em 2018, em várias capitais de Estados brasileiros houveram eventos com diversas pautas, como a violência digital, palestras sobre feminicídio, debates sobre direitos humanos, oficina de empoderamento, entre outros. Há o UNA-SE, projeto de conscientização pública e implementação de políticas para a prevenção da violência contra meninas e mulheres, o #DiaLaranja, relembrado a cada dia 25 do mês, onde a cor laranja representa o otimismo de um futuro sem violência e é uma chamada para a mobilização de pessoas contra a violência (ONU Mulheres, 2018). Além de #DiaLaranja, no mesmo período surgem diversas hashtags nas redes sociais por todo o mundo, como o #OrangeTheWorld, das Nações Unidas, que divulgou um vídeo informacional no YouTube sobre violência física e sexual pelo mundo, e usou técnicas de iluminação para deixar diversos monumentos históricos da cor laranja, como o El Ángel de la Independencia, no México e as pirâmides do Egito, no dia 25 de novembro de 2018 (UN Women, 2018). O #HearMeToo, que ganhou uma versão brasileira #MeEscuteTambém, que serviu para dar visibilidade a vítimas das mais variadas violências pelo mundo através de redes sociais, como o Twitter.

Figura 7 - ação do #HearMeToo em Uganda

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No Brasil, o Governo Federal lançou a hashtag #VcTemVoz em

Figura 8 - ação luminosa El Ángel de la Independencia

2018 através de um clipe musical no YouTube, chamado Coração Pede Socorro da cantora Naiara Azevedo, que, pela letra, parece falar de amor, mas o vídeo ilustra uma relação abusiva e divulga o serviço do 180 (BRASIL, 2018). Entre outras hashtags, como a #EndVAW, #MeToo, #TimesUp, #Niunamenos e #BalanceTonPorc (UN Women, 2018), o envolvimento e divulgação nas redes sociais é imprescindível nas campanhas mais recentes. O uso de elementos multimídia, como o vídeo musical, é algo mais recente que teve uma boa divulgação na mídia por ser surpreendente, assim como as intervenções nos monumentos históricos. Apesar da quantidade de eventos, a ONU Mulheres do Brasil não publica toda a agenda utilizando-se de elementos visuais e de interação digital, mas apenas em seu site, sendo assim, o #DiaLaranja não tem tanto destaque em nosso país como tem em alguns outros.

Figura 10 - Coração Pede Socorro

Figura 9 - ação luminosa Pirâmides do Egito

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Disrespect Nobody

Figura 11 - site Disrespect Nobody

Disrespect Nobody (Ninguém Desrespeitado em português) é um site britânico informacional sobre “sexting”, mensagens de texto com conteúdo sexual ou de nudez explícita, relação abusiva, consentimento, estupro, pornografia e assédio. É um site muito educativo, que se utiliza de conteúdo audiovisual, relatos, quiz e textos claros sobre cada assunto, sem deixar a qualidade visual. Ao entrar no site, três funções chamam muita atenção no site e são extremamente úteis para pessoas em situação de violência (UNITED KINGDOM, 2019). A primeira é “Need Help?” (precisa de ajuda?), que é a primeira função a chamar atenção no site, com ícone grande, e aparece mais de uma vez em todo o site. Ao clicar, você é direcionado à uma página com um texto rápido e o número da emergência do Reino Unido em destaque, abaixo dessa informação inicial há outros números de redes de apoio a diversas violências que podem ser filtrados por uma violência específica (UNITED KINGDOM, 2019). A segunda é “Exit Site” (sair do site), ao clicar nessa função o usuário

é imediatamente redirecionado a outro site, como Youtube e Twitter, e é impossibilitado de voltar ao Disrespect Nobody pela opção de “voltar” do navegador, o que pode ser útil e decisivo se a vítima estiver sendo vigiada pelo agressor (UNITED KINGDOM, 2019). A terceira função é a “Hide Your Tracks” (esconda seus rastros), uma página que ensina detalhadamente como acessar o site anonimamente e apagar seu histórico nos navegadores Safari, Chrome e Internet Explorer em celulares e outros navegadores em computadores, incluindo histórico de e-mail. O site é intuitivo e dá destaque às funções emergenciais e frases mais relevantes, utilizando-se de hierarquia, cores e ícones que facilitam a leitura. Os vídeos são rápidos, bem animados e claros quanto ao assunto, eles aparecem todos juntos na homepage e separados em seus respectivos tópicos. Ao fim da página, tem a função de compartilhamento do site, que oferece o compartilhamento através de diversas redes sociais (UNITED KINGDOM, 2019).

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That’s Not Cool That’s Not Cool (Isso Não é Legal em português) é um projeto educacional dedicado a adolescentes em fase escolar sobre relações abusivas digitais e seu principal meio de comunicação é seu site. Ao entrar, o usuário se depara com um vídeo explicativo com relato de dois adolescentes, uma apresentação do projeto e seu impacto no país (FUTURES WITHOUT VIOLENCE, 2016). O site oferece a possibilidade do usuário se tornar um embaixador do projeto em sua cidade, se for dos Estados Unidos, e divulga artigos

criados pelos outros embaixadores sobre vários assuntos, mas todos condizentes com a temática do site. Há um jogo que simula as funções do aplicativo de relacionamento Tinder, onde o jogador decide se as atitudes de um personagem são “legais” ou “não tão legais”, criando um paralelo interessante, com uma referência que cria uma mecânica simples, enquanto os jovens aprendem sobre tipos de abuso com textos rápidos de uma narrativa fictícia (FUTURES WITHOUT VIOLENCE, 2016).

Figura 12 - jogo That’s Not Cool

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O site também conta com pesquisas sobre abusos digitais e físicos, empatia que podem ser compartilhados para um grupo de amigos, “memes” que podem ser baixados e mandados como uma chamada de com recompensas se cumprido. O site é muito mais para educar do atenção ao abusador de forma humorada, ferramentas para adultos que para ajudar adolescentes em situação de violência de imediato. A combaterem esse tipo de abuso, um chat com diversos tópicos e inte- comunicação se utiliza de cores vibrantes, atraentes, um bom uso de ração através de vídeos, imagens e gifs, e uma aba de ajuda discreta, fontes divertidas para destaque e legíveis para texto e abas de rápido que poderia ser mais acessível e ficar em destaque na homepage. O acesso na homepage (FUTURES WITHOUT VIOLENCE, 2016). projeto também conta com um aplicativo de desafios de respeito e

Figura 13 - CallOut Card: 2 Minutes

Figura 14 - CallOut Card: Lies

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Figura 15 - CallOut Card: Violating


Day One A organização recebeu destaque com um vídeo no YouTube sobre relações abusivas que se tornou viral, com quase 1 milhão de visualizações. O vídeo é uma animação feita em 3D, bem colorida, com um casal heterossexual como personagens principais e elementos joviais para a comunicação, como emojis, ao som da música “Walking on Sunshine”, de Katrina and The Waves, o vídeo se chama Sunshine – Don’t Confuse Love & Abuse (Raio de Sol – Não Confunda Amor e Abuso). O vídeo narra o encontro de uma menina com um menino nos corredores de uma instituição de ensino, onde a menina quase deixa cair o celular ao trombar no menino, que segura o aparelho e logo começam a se comunicar. O jovem demonstra um egocentrismo desde o início e, assim que iniciam um relacionamento, o menino se mostra controlador e até mesmo agressivo, inicialmente de forma discreta, mas crescente ao longo da animação. O vídeo expõe a sensação de estar num relacionamento abusivo de forma lúdica, porém compreensível, sem usar diálogos, apenas gestos e símbolos, com uma mudança gradual de atmosfera, através das cores e das formas. Ao fim tem a mensagem “não confunda amor com abuso”, um dado: 1 a cada 3 jovens que relatam abuso em seu relacionamento, e o logo do Day One. O vídeo é curto, com 2 minutos e 46 segundos de duração, transmite a mensagem, os sentimentos e informa sinais de abuso com clareza, além de ser um vídeo atraente, com cores vibrantes, um bom design de personagem pensados para transmitir a mensagem intuitivamente sobre quem seria o “vilão” da história através das proporções, sem deixar de ser simples. O resultado foi um grande compartilhamento nas redes sociais (NEW YORK, 2003). A organização também conta com um site próprio que explica quem é a organização, o que é abuso no namoro, seus serviços, seus

Figura 16 - frame de Sunshine 1

Figura 17 - frame de Sunshine 2

Figura 18 - frame de Sunshine 3

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impactos e um blog. Também deixa as opções de marcar um workshop, pedir ajuda, envolver-se e doações em destaque. Assim como o Disrespect Nobody, o site do Day One conta com uma opção sempre acessível de sair do site rapidamente, direcionando para o Google, mas esse permite usar o botão de retorno ao site anterior do navegador. É um site mais informacional e bem direto. (NEW YORK, 2003).

Figura 19 - frame de Sunshine 4

Figura 20 - frame de Sunshine 5

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requisitos para o projeto Neste capítulo contém o briefing com todas as exigências do projeto, identificadas a partir das pesquisas da fundamentação teórica e das entrevistas realizadas.


Através da entrevista com a delegada da Delegacia da Mulher,

fases do ciclo de violência, apresentar o tema com uma representação

compreendemos que um relacionamento abusivo está sempre dentro de um ciclo de violência que pode ser dividido em duas fases. A primeira fase do ciclo da violência é quando um relacionamento é abusivo, mas ainda não é caracterizado por crimes, podendo ser identificado quando uma das partes da relação se sente desconfortável, constrangido ou inseguro. Essa primeira fase não tem um prazo de duração, mas a tendência é evoluir para a segunda fase, onde acontecem os crimes punidos por lei. Nisso identificamos a necessidade de falar sobre abusos no relacionamento desde os seus primeiros sinais, para que seja reconhecida o quanto antes, dialogada e evitada. A delegada também ressaltou que a melhor forma de sair de relações abusivas é reconhecer que está num ciclo de violência e buscar uma pessoa de confiança, seja amigo, parente ou agente público, para conversar sobre. Porém, ao conversar com entrevistados que tiveram experiências com relações abusivas, em todos os casos houve uma dificuldade na identificação dos abusos. Há vários motivos citados para tal: a dependência emocional, a frustração de reconhecer que a relação que não deu certo, a falta de experiência, além de não querer ser revitimizado quando identifica o abuso. A solução encontrada foi aproximar a forma de conscientização da realidade dos indivíduos em situação de violência com alguma representação onde eles se identifiquem, o assunto seja abordado com suavidade e nunca tratar a pessoa atingida como vítima passiva. Outra problemática é que, ao reconhecer que está na segunda fase do ciclo, as mulheres precisam de ambientes que sejam planejados considerando a sua segurança como prioridade, pois os mesmos podem ser um gatilho para o agressor. Vimos algumas funções interessantes durante os estudos de caso e devemos pensar em aplicações semelhantes para os produtos gráficos e digitais da campanha. Reunindo essas percepções sobre o tema, foi desenvolvido o briefing em que as prioridades do projeto são: explicar com clareza as duas

empática e lúdica e produtos gráficos e digitais com funções de segurança para mulheres em situação de risco que buscam informações. Consequentemente, o briefing do desenvolvimento da campanha deve conter: Planejamento da campanha Marca Cores Padrão tipográfico Grafismos Aplicações gráficas e digitais Ao fim do projeto, foi apresentado o planejamento de campanha, juntamente com o manual de identidade e as aplicações propostas condizentes com os requisitos expostos nesse capítulo. Sendo uma campanha hipotética, não será apresentada a fase de implementação do Human-centered Design.

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a campanha

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o conceito

“Você acaba se enrolando naquilo. É sufocante,” A frase acima foi dita por um dos entrevistados. Esse tipo de expressão foi dita durante as outras entrevistas também. “Enrolar-se”, “dar um nó”, “suforcar”, “perder-se”. Essas expressões definiam o que era estar em uma relação abusiva, sem saber como sair e nos levou ao conceito da campanha. Akai ito é uma lenda asiática que significa “fio vermelho”. Surgiu na China e com o tempo se expandiu para o Japão. A lenda diz que o deus lunar, Yuelao, também deus casamenteiro, é responsável por colocar os fios do destino nos humanos que estão destinados a serem almas gêmeas. O fio do destino, que é um fio vermelho, é amarrado ao

tornozelo (China) ou ao dedo mindinho (Japão)e pode ser esticado e emaranhado, mas nunca partido (KAWANAMI, 2017). Nós, brasileiros, estamos acostumados com a ideia de ter uma alma gêmea e de que criamos conexões, ligações, fios, com as pessoas amadas. A campanha se chama Vermelho e o conceito estético da campanha é usar o akai ito como uma dualidade: o ideal de ter uma alma gêmea do outro lado do fio também pode machucar e te prender a outra pessoa, dificultando sair do ciclo de violência. A permanência nessa relação abusiva cria um emaranhado difícil de desenrolar.

Figura 21 - Akai Ito

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painéis semânticos amor-akai ito-relacionamento-abusivo

Figura 22 - compilado fotográfico

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primeiros estudos

Após definir o conceito da marca, o nome e a montagem dos painéis conceituais, iniciou-se os primeiros rascunhos e estudos do logo, primeiro em papel e os potenciais logos oficiais foram transferidos e refinados digitalmente. Os estudos remetem ao fio vermelho do destino e a ícones que remetem ao romance, como flores e corações, mas também aos nós e emaranhados do “enrolar-se”. A paleta de cor primária também está presente: os tons de vermelho referenciando a lenda chinesa que deu origem ao conceito e o laranja, que é a cor oficial do evento de 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, que inspirou o planejamento da nossa campanha. A paleta de cores oficial foi melhor trabalhada através dos painéis conceituais com o tempo.

Figura 23 - compilado primeiros estudos

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VERMELHO o design contra a violência

Por fim, esse foi o logo escolhido e refinado para a marca oficial da campanha. Juntamente com um estudo de tipografia e ajustes no mesmo, a fonte Playfair Bold foi escolhida para o logotipo, em caixa alta. Suas variações de espessura bem marcadas se encaixam no que desejávamos passar com o nome da campanha: a fragilidade e, ao mesmo tempo, robustez e complexidade de uma relação abusiva. A tagline “o design contra a violência” utiliza a Lato Light para contrastar com a Playfair do logotipo. 65



o manual de identidade O manual é um guia de uso e manutenção da marca da campanha Vermelho para manter sua integridade e solidez. Este manual apresenta elementos de campanha, como logotipo, padrão tipográfico e cromático, ícones e aplicações gráficas e digitais.


Manual de Identidade Especificação técnica Capa: 265mm x 210mm (fechado) 547mm x 210mm (aberto) Papel Couche 150g Capa dura Impressão CMYK 4x4 Laminação fosca

Miolo: 250mm x 192mm (fechado) 500mm x 192mm (aberto) Papel Couche Fosco 90g Impressão CMYK 4x4 98 páginas

68


logotipo

VERMELHO o design contra a violência

VER

A versão preferencial é o ícone vermelho, com o título e a tagline em azul escuro em fundo claro. Há uma ligadura na palavra “vermelho” do logotipo.

69


VERMELHO o design contra a violência

versão negativa

VERMELHO o design contra a violência

versão em preto e branco 70


logotipo construção e redução y

y

y

z

z

y

ícone

x x 1/2x

VERMELHO o design contra a violência

O espaçamento entre o ícone e título é a metade do tamanho do título (x), enquanto o espaçamento entre título e tagline é apenas a metade de x. O tamanho das pontas do nó do ícone (y) estipulam a largura do título e da tagline. O título aparece a partir do momento em que o ícone tem mais de 20mm e a tagline a partir de 50mm.

tipo/título tagline

A redução máxima do ícone é de 10mm.

71


área de não-interferência

x

x x x x

VERMELHO o design contra a violência

x

x

x

x

A área de não-interferência serve como espaço de respiro para que o conjunto que compõe a marca não seja poluído. Esse espaço é determinado por quadrado feito a partir da largura da ponta do nó do ícone e preenche o entorno da área total da marca, seja ela apenas o ícone ou o título com tagline.

72

x


proteja nossas mulheres.

proteja nossas mulheres.

proteja nossas mulheres.

proteja nossas mulheres.

73


aplicação em fundo

VERMELHO o design contra a violência

VERMELHO o design contra a violência


VERMELHO

VERMELHO

VERMELHO

VERMELHO

VERMELHO

VERMELHO

design contra a violência

design contra a violência

design contra a violência

design contra a violência

design contra a violência

design contra a violência

A cor do ícone não muda, por isso deve evitar usar matiz e luminosidade semelhante ao vermelho do ícone. A cor do tipo/título e tagline depende da matiz e luminosidade da cor de fundo utilizada. 75


HEX #CE1A1B RGB 205 25 25 CMYK 12 99 97 3 PANTONE 485C

HEX #E94F36 RGB 235 80 55 CMYK 0 80 79 0 PANTONE 7417C

HEX #272857 RGB 40 40 87 CMYK 100 93 33 30 PANTONE 2119C

HEX #FFFFFF RGB 255 255 255 CMYK 0 0 0 0


padrões cromático e tipográfico

Playfair Bold

Para o título da marca e títulos em geral.

ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 0123456789 $@#?!:

Lato Regular

Para textos corridos regulares.

ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 0123456789 $@#?!:

Lato Light

Para a tagline e legendas.

ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 0123456789 $@#?!: 77


respeito à marca

VERMELHO design contra a violência

Não mude a ordem de ícone, tipo/ título e tagline.

VERMELHO design contra a violência

Não mude as fontes do logotipo.

O H L VERMELHO VERMELHO VERME design contra a violência

design contra a violência

Não mude a cor dos elementos.

Não distorça os elementos.

gn

desi

ra a cont

ncia

violê

Não rotacione os elementos.

VERMELHO VERMELHO VERMELHO design contra a violência

design contra a violência

design contra a violência

Não retire ou adicione outros elementos ao logotipo.

Não desrespeite as proporções estipuladas.

Não use o tipo e/ou a tagline sem o ícone.

78


voz da marca

amigável gentil acolhedora clara confiável informal direta respeitosa simples conselheira empática

A voz da marca determina como suas peças de comunicação devem se comportar, como veremos nos exemplos de aplicação nas postagens em redes sociais (pág. 164). É importante que as peças tenham uma linguagem atual e intelígivel para todas as faixas etárias, mantendo o tom acolhedor, sem tratar os leitores como vítimas.

79




grafismos

Os grafismos são derivados da forma do ícone, sendo o primeiro e o segundo variações de uma mesma estampa e o terceiro para detalhes. Porém esses grafismos não devem ser usados como substitutos da marca. Os grafismos são meramente para decoração de produtos da campanha.

82


Figura 24 - referência fotográfica 1

referência fotográfica As fotografias devem ser usadas apenas em casos específicos, como divulgação de eventos ou registros. A marca prioriza fotos com pouca saturação, claras e/ou monocromáticas.Nessas composições, o logo deve ser aplicado em regiões com menos informações, priorizando extremidades, respeitando uma margem, ou no centro.

Figura 25 - referência fotográfica 2

83


ícones

Os ícones são criados para simbolização em peças gráficas, mas especialmente digitais, como site e posts para redes sociais. Prioriza-se o uso do laranja oficial da paleta cromática da campanha para os ícones, mas podem ser usadas as outras cores da paleta. Os ícones são, em sua totalidade, preenchidos ou desenhados com linhas espessas, com cantos arredondados, seguindo o desenho do logotipo.

84


planejamento de campanha O planejamento de campanha é um guia fictício para o decorrer da campanha Vermelho para 2020, que indica todos os processos durante os 21 dias de ação.


planejamento e cronograma

Juntamente com a concepção da marca, foi necessário estipular as característica, as técnicas que seriam aplicadas à campanha, assim como um cronograma. A campanha será realizada apenas na cidade de São Paulo-SP e inicia-se com um período de pré-campanha do dia 20 de novembro de 2020 ao dia 25 de novembro. A pré-campanha servirá como uma breve abertura e introdução ao tema de relações abusivas, usando a técnica de Fluência e Mera Exposição (ANDREWS; VAN LEEUWEN; VAN BAREEN, 2016), que são técnicas de persuasão. A fluência é um “descomplicar” a informação, ao simplificar a informação de uma peça gráfica, ela é melhor recebida pelo público, enquanto a Mera Exposição é a técnica de desenvolver a afeição por um ícone que é visto muitas vezes. Nesse período de pré-campanha cartazes com QR Code que levam ao trailer da narrativa para despertar o interesse do público. A campanha dura um total de 21 dias, seguindo o costume dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher no Brasil, que começa no dia 25 de novembro, também Dia Nacional da Consciência Negra, e é finalizada no dia 10 de dezembro de 2020, Dia Internacional dos Direitos Humanos. Dentro desse período e da temática de relacionamentos abusivos, o conteúdo divulgado pelas redes sociais e tratado durante a narrativa animada será dividido entre:

Ato V - violência física, do dia 07.12 ao dia 09.12 Finalização da campanha no dia 10.12 O site da campanha, as redes sociais e a agenda de eventos estará disponível a partir da pré-campanha, enquanto as postagens temáticas e as animações serão disponibilizadas seguindo o fluxo dos atos. Os folders serão distribuídos em espaços públicos como escolas, postos de saúde e delegacias a partir do dia 25 de novembro de 2020.

Ato I - violência moral, do dia 25.11 a 27.11 Ato II - violência patrimonial, do dia 28.11 a 30.11 Ato III - violência sexual, do dia 01.12 a 03.12 Ato IV - violência psicológica, do dia 04 .12 ao dia 06.12 86


87


narrativa A narrativa foi desenvolvida como solução para abordar um tema denso e sério com suavidade e progressivamente, desde o começo do primeiro ciclo de violência até reações mais drásticas do segundo ciclo de violência. A representação de uma história narrativa através da animação traz diversas reações benéficas dos receptores à campanha. É um elemento que desperta curiosidade e, junto à tecnologia do QR Code nos posteres impressos, cria uma interação para que os receptores não sejam passivos no recebimento das informações. A história se torna uma meio de desenvolver empatia, seja por entender os sentimentos dos personagens e suas ações de forma ilustrativa ou seja por ligar os acontecimentos da narrativa à sua realidade, acelerando a assimilação no caso do receptor estar em uma relação abusiva. A animação também tem grande potencial para o valor emocional, mesmo em fase adulta somos atraídos por elementos infantilizados pois são nossos primeiros símbolos (JUNG, 1992). Com o character design, ou design de personagem, os personagens da narrativa são criados para evocar sentimentos e sensações pela sua forma e construção, por exemplo a personagem principal da nossa narrativa, Liz, foi construída a partir de formas arredondadas, curvas e é a personagem mais larga porque nos remete a segurança, estabilidade e calma, enquanto Otávio, seu par romântico abusivo, tem pontas agudas em sua forma, que nos causa desconforto visual e nos remete ao perigo (LUPTON, 2008). A história será contada através dos atos determinados no projeto de campanha. A narrativa foca na visão de Liz, misturando cenas realistas e cenas mais lúdicas, que representam seus sentimentos. Liz e Otávio, seu par romântico, se conhecem em uma estação de metrô e após um match em um aplicativo de relacionamento, eles iniciam

um namoro. Alguns sinais de que Otávio é abusivo acontecem logo no começo da trama, no trailer, quando Liz o apresenta à sua melhor amiga, Verônica, e durante essa conversa Otávio faz uma piadinha sobre a aparência de Liz que a deixa desconfortável. Ao longo da narrativa Liz passa por vários tipos de abusos, pelo menos um em cada categoria punida pela Lei Maria da Penha para abranger todos os graus do ciclo de violência e também explica o ciclo da lua-de-mel, um elemento muito presente nesses tipos de relacionamento, assim como outros abusos considerados menores, mas que influenciam o curso da história, se agravando na história .

Figura 26 - estudo de forma

88


Figura 27 - representação de sentimento

Figura 28 - primeiro esboço

Figura 31 - sketch Verônica e personagem sem nome

Figura 29 - primeiro desenho Liz e Otávio

Figura 32 - sketch para vetorização

89

Figura 30 - teste facial

Figura 33 - primeiro storyboard


personagens

Liz Liz é a protagonista da nossa história. Ela é uma garota calma e doce, que sempre coloca quem ela ama em primeiro lugar. Liz se esforça pra entender os outros e ser empática.

90


Otávio Otávio é o par romântico de Liz na história. Otávio é um cara conquistador e cheio de charme, mas é muito temperamental. Com o tempo se demonstra machista e agressivo.

91


Verônica Verônica é a melhor amiga de Liz desde criança. Sempre leve e conselheira, gosta de liberdade, mas também está sempre disposta a se oferecer para ajudar sua amiga.

92


personagens estudo de medidas

93


storyboards teaser

Liz e Otávio aparecem em cena, lado a lado, acenando para o telespectador.

Ambos viram-se para ficar frente a frente e sorriem um para o outro.

O fio vermelho brota do dedinho de Liz, Otávio olha curioso.

O fio forma um coração entre os dois.

Otávio segura a outra ponta do fio e eles voltam a sorrir um para o outro.

Eles se aproximam mais, olham sorrindo para o telespectador e dão as mãos.

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storyboards trailer

Liz está em uma estação de trem. Otávio se aproxima e para próximo a ela.

Otávio olha ao redor e detém seu olhar no livro de Liz.

Otávio se inclina para tentar ler o título do livro de Liz.

Liz percebe o olhar em sua direção e cora de vergonha ao olhar para Otávio.

Ambos ficam constrangidos, mas logo Otávio sorri e Liz retribui.

O trem chega e Otávio entra nele.

95


Otávio se apoia e acena com o celular na mão para Liz antes das portas se fecharem.

Liz abaixa o livro e seu celular vibra com uma nova notificação.

Liz alcança o celular no bolso com um sorriso.

Um dos corações faz a transição para a próxima cena.

Liz e Verônica caminham juntas enquanto Liz responde mensagens de coração do Otávio.

match!

De seu celular aparece a notificação de match com Otávio e vários corações.

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Onde vc está?

Com uma amiga

Após uma troca de mensagens, Liz pergunta à Verônica se pode buscar Otávio.

Liz o apresenta para Verônica e eles conversam por um tempo.

Durante a conversa, Otávio faz uma piadinha de mau gosto sobre o peso de Liz. vc tá bem?

Tô sim, amiga...

se algo te incomodou vc tem que falar e se pode me contar,tá?

Liz tenta não parecer afetada, mas está envergonhada com o que Otávio disse.

Verônica percebe o incômodo de Liz e o clima fica tenso. 97

Em casa, Liz recebe mensagens preocupadas de Verônica. Liz ainda está chateada.


storyboards ciclo da lua-de-mel

Liz está andando com Otávio e comenta que não gostou da piadinha do dia anterior.

Otávio se mostra compreensivo e diz querer compensar a levando em um restaurante.

No restaurante, Liz pede um hambúrguer. Ao olhar para Otávio novamente ele está sério.

Otávio reclama de seu pedido e diz que Liz não se esforça por ele.

Liz se envergonha com a bronca de Otávio e se sente culpada.

Este círculo une os momentos do ciclo da lua-de-mel e a narradora o explica.

98


storyboards baixa autoestima

Liz se aproxima de Otávio, que a espera, pronta para um encontro.

Otávio se inclina e diz que seu batom não combinou muito com ela.

Ele diz que mulheres não ficam elegantes com saia curta. A autoestima de Liz diminui.

Otávio também diz estar preocupado com a saúde de Liz, por ela estar “gordinha”

Liz continua a diminuir a cada crítica.

Otávio aparece como se visto de baixo, simbolizando o quanto ele é “bom demais para Liz”.

99


storyboards abuso patrimonial # $X?!

Otávio reprova as roupas de Liz em frente ao espelho.

Aos poucos a aparência de Liz também muda: cabelos presos, mangas e calças.

Otávio xinga Liz quando ela usa as roupas que ele proibiu.

E se Liz insiste em usar certas peças, elas somem ou são rasgadas na sua frente.

Durante discussões, coisas de Liz são quebradas porque Otávio “estava de cabeça quente.”

Ao perder suas coisas, partes de Liz eram perdidas também.

100


storyboards abuso sexual

Liz e Otávio estão em um momento íntimo e romântico.

Otávio a beija e ele tenta deitar Liz na cama.

Liz resiste e fala sobre suas inseguranças quanto ao seu corpo e sexo.

Otávio não dá ouvidos e a deita mesmo assim. Liz, chocada, não o impede.

Liz afunda, perdendo o ar e marcas vermelhas de mãos aparecem em seu corpo.

Por fim, Liz está se vestindo, abatida e Otávio está do outro lado da cama, distante.

101


storyboards gaslighting

Te vejo mais tarde!

Liz e Otávio andam juntos. Liz conta sobre seu dia e Otávio está distraído com seu celular.

Liz percebe e se inclina para ver do que se trata.

No celular de Otávio há um chat aberto, uma troca de corações com outra garota.

Liz, incomodada, o questiona sobre esse contato, sem aumentar o tom de voz.

Logo Otávio começa a gritar, tratando Liz como a louca ciumenta da situação.

Liz fica constrangida com a gritaria e continua seu caminho questionando sua sanidade.

102


storyboards isolamento

Sua mãe me odeia. Melhor não falar dos nossos assuntos com ela.

Liz está dentro de uma esfera que representa seu círculo social.

Liz traz o coração que representa Otávio para mais perto de si.

Diferentes mensagens manipuladoras de Otávio aparecem, afastando Liz de todos. noite das garotas no sábado??

com certeza!

Desculpa gente, dessa vez não dá...

Os corações ao redor do círculo se afastam e o círculo se expande.

Seu círculo social vira uma barreira e Liz se agarra ao coração que representa Otávio. 103

Liz recebe mensagens de suas amigas que a convidam pra sair, mas ela recusa, deprimida


storyboards perseguição Otávio

Cadê você ???

Onde vc tá?

48 novas mensagens

desculpa não avisar, trabalhei até tarde hoje...

Liz está voltando tarde do trabalho e percebe que tem várias notificações em seu celular.

Diversas mensagens de Otávio aparecem, perguntando onde ela está.

Ao olhar para frente novamente, Otávio a espera, claramente irritado.

Otávio vai até Liz e tenta arrastá-la. Liz, indignada com essa atitude, se solta.

Eles discutem. Liz está mantendo a postura, mas Otávio se descontrola, xingando-a.

Liz se cansa da humilhação e deixa Otávio para trás, gritando sozinho.

104


Em casa, o celular de Liz vibra com mensagens e ligações perdidas de Otávio.

Liz encara o celular, abatida e assustada com a situação.

Liz aparece sob um holofote, sozinha.

Na escuridão aparecem vários olhos arregalados, observando Liz, que está com medo.

Liz desliga seu celular.

Ela está desamparada e com medo de enfrentar Otávio.

105


storyboards agressão física Acho que a gente devia terminar...

Liz e Otávio se encontram. Ele chega irritado, questionando-a por não tê-lo respondido.

Liz, ainda de cabeça baixa, sugere que terminem a relação em voz baixa.

Otávio não entende e Liz repete mais alto e confiante. Ele fica em silêncio, incrédulo.

Então Otávio perde o controle novamente e vai para cima de Liz, furioso.

Liz se encolhe contra a parede enquanto a sombra de Otávio cresce sobre ela.

Otávio ergue uma mão para dar um tapa em Liz e, ao descer a mão, tudo fica vermelho.

106


storyboards enrolar-se

Esses painéis relembram os abusos que Liz passou desde o início da relação.

O fio vermelho que aparece no teaser se enrola cada vez mais em Liz a cada momento.

Otávio não é afetado da mesma forma. Esse é o ataque à autoestima.

No abuso patrimonial, Liz segura um vestido rasgado, incrédula.

Após o abuso sexual, Otávio deixa Liz enquanto ela se veste.

Durante o gaslighting, Liz é xingada e culpada pelo que viu no celular de Otávio.

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Durante a perseguição, Otávio não está presente, mas o fio ainda a liga a ele.

Depois do tapa, Otávio larga sua ponta do fio e Liz está completamente enrolada.

Verônica se aproxima, se ajoelha e ajuda a desenrolar Liz, que está envergonhada.

Elas se abraçam, se levantam se apoiando uma na outra e deixam os fios para trás. 108

Liz cai de joelhos e chora muito.


aplicações Aqui veremos a aplicação da marca desenvolvida para a campanha Vermelho em produtos gráficos e digitais, juntamente com o detalhamento técnico de cada peça, ou memorial descritivo.


130mm x 130mm (fechado). 260mm x 130mm (aberto). Papel Couche 170g (capa e miolo). Encadernação Grampo Canoa. 8 páginas. Exportado em PDF/X-1a:2001. Composto no Adobe InDesign e Adobe Illustrator. Aplicação de microsserrilha na página 7/8.

o que você sabe sobre

RELAÇÕES ABUSIVAS?

Este primeiro folder foi criado focando em mulheres que tem interesse em saber mais sobre o tema ou passam por uma relação abusiva, mas não sabem o que fazer ou como defini-la. 110


folders folder 1 41% dos brasileiros

conhecem algum homem que foi violento com sua parceira. Ou seja:

52 milhões de brasileiros No primeiro semestre de 2016, 0 180 registrou 555.634 atendimentos, sendo:

você sabia?

71% das agressões contra mulheres acontecem na sua própria casa, sendo 43% dos agressores parceiros e ex-parceiros.

4 minutos

A cada 4 minutos uma mulher é agredida no Brasil.

111


a violência no Brasil NÃO é só tapa.

É fato que, antes da agressão física, a violência começa com agressão psicológica e moral. Ciúme, ser contrariado, álcool e suspeita de traição. Essas são as principais justificativas de um agressor.

Se ele te deixa desconfortável, constrangida e insegura, fique atenta! Pode ser o começo de uma relação abusiva.

a média da primeira denúncia É 5 anos após a primeira agressão física. Dependência emocional, financeira e filhos influenciam na permanência na relação.

quem elas procuram? 40% procuram familiares. 33% não procuram ninguém. 16% procuram amigos. 10% procuram a polícia civil

18% das brasileiras Essa é a porcentagem de brasileiras que conhecem a Lei Maria da Penha a fundo.

112


folders ciclo da violência O ciclo da violência tem a primeira fase, onde se concetra a violência psicológica e moral, é uma relação desconfortável e desgastante. Fique atenta ao sinais, comunique seu parceiro do que te incomoda e não aceite que essas situaçõe se repitam.

113


Na segunda fase se concetram agressões físicas, patrimoniais e sexuais. Se você se identificou com qualquer das situações abaixos, busque ajuda, procure apoio de um amigo ou familiar, veja também nossa última página. A primeira fase tende a evoluir para a segunda.

114


folders

VERMELHO Nós do Movimento Vermelho estamos por toda a cidade de São Paulo e vamos continuar com os eventos oficiais até o dia 11/12, focando numa temática atual muito relevante: as relações abusivas. Assista nosso trailer e acompanhe nossa história nas redes sociais.

Mais informações no nosso site e redes sociais www.movimentovermelho.com.br @movimentovermelho

Este QR Code é funcional.

115


Se identificou com alguma situação do ciclo de violência? Isso é algo sério e precisa ser tratado. Você sempre pode conversar com um amigo de confiança ou um familiar e explicar sua situação e procurem por uma Delegacia da Mulher para acionar a Lei Maria da Penha. Não deixe de denunciar o agressor, independente de quem seja, proteja sua saúde física, mental e moral. Ao lado você encontra números, sites e aplicativos de emergência, respectivamente. Não se arrisque ao levar este folder para casa, pode ser um gatilho para o agressor. Nossas instruções são: a) destaque os dados; b) utilize o que melhor se encaixa em seu caso e; c) não deixe de esconder o histórico (veja nosso site).

116

180 www.movimentovermelho.com.br www.mapadoacolhimento.org Juntas Mete a Colher Proteja Brasil

eu preciso de ajuda!

Nesta página há um elemento destacável: o acesso à emergência. Foi pensado para mulheres que não podem levar o folder para casa por ser arriscado.


folders

117


Figura 34 - folder 1

Figura 35 - folder 1 aberto

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folders folder 2

como vai o seu

relacionamento?

130mm x 130mm (fechado). 260mm x 130mm (aberto). Papel Couche 170g (capa e miolo). Encadernação Grampo Canoa. 8 páginas. Exportado em PDF/X-1a:2001. Composto no Adobe InDesign e Adobe Illustrator.

O segundo folder foi desenvolvido para a conscientização de casais jovens, independente do gênero ou sexualidade. Ele simula um quiz para verificar se o relacionamento está saudável.

119


você sabia que relacionamentos também tem que manter a saúde? Nós somos uma equipe de designers do Movimento Vermelho (@movimentovermelho em todas as redes sociais) e estamos conscientizando São Paulo sobre relacionamentos saudáveis e abusivos nos próximos dias.

mas por que é tão importante falar sobre isso? Se você se importa ou considera a pessoa, você deve querer o seu bem, certo? Além disso, o clima vai ficar bem mais leve e vão ter menos brigas quando você cuida da saúde do relacionamento, ou seja, menos estresse e tempo perdido. É importante saber que muitas atitudes que não são saudáveis começam pequenas, mas podem virar crimes como a violência psicológica, moral, patrimonial, sexual e até física...

120


folders

1 2 3 4

vamos às regras!

Vai ser melhor se vocês checarem a saúde do relacionamento juntos, assim os dois se policiam.

Cada um responde por si, sem influência do outro.

Seja sincero e esteja aberto, se analise de verdade pra saber onde pode melhorar.

Não critique o outro pelo o que ele disser, seja empático e sugira formas de resolver o problema.

isso pode ser abusivo.

fique atento.

a relação está saudável.

tudo certo? pode seguir.

121


Quando você muda algo na aparência, o que você acha que seu companheiro vai dizer? Achei péssimo/ está vulgar/ está ridículo/ *dar risada*. Não gostei/ já que você gosta.../ sei lá. Estou feliz que você esteja contente com o resultado :) É normal ter ideias incompatíveis, mas dependendo de como você se expressa a autoestima do parceiro pode cair.

Quando você quer muito convencer seu parceiro de algo, mas ele(a) recusa, o que você faz? Apelo pra chantagenzinha emocional/ você não me ama? Insiste mais/ deixa bem claro que ficou chateado. Tenta entender o porquê do não e oferece outra sugestão. Mesmo que você queira muito, se seu parceiro não aceita você deve repensar. Seu parceiro tem os motivos dele(a).

122


folders

Quando você se sente inseguro, é ok acessar redes sociais e mensagens do parceiro sem ele(a) saber? Sim, claro, vai que a pessoa está fazendo algo que eu não sei. Se o parceiro concordou em trocar senhas, sim. Confiança é tudo, se confio eu não preciso me sentir inseguro. É necessário respeitar a privacidade. Se estiver inseguro, o melhor é ter uma conversa sincera para entender o motivo.

Quando você não quer que a pessoa use uma roupa ou um objeto, o que deve fazer? Dou um jeitinho pra sumir com a peça. Peço diversas vezes pra pessoa não sair comigo usando aquilo. A peça não é minha, então eu não posso fazer nada. Há um limite entre os seus pertences e o de seu parceiro, você não deve decidir o que fazer com algo que não é seu.

123


Quando vocês entre amigos e alguém comenta sobre vocês, o que é mais provável do seu parceiro falar? Ele(a) não fala nada de bom sobre mim, mas acho que é ciúme. Ele(a) me zoa um pouco, não levo à sério porque não é por mal. Somos sinceros um sobre o outro porque estamos satisfeitos. Brincar é normal, mas depreciar a imagem do parceiro em público pode ser considerado difamação e é muito sério.

Quando vocês brigam, como o seu parceiro reage durante a discussão? Ele(a) perde a cabeça e me xinga, mas depois pede desculpa. Ele(a) fica irritado e ficamos um tempo sem se falar. Tentamos conversar com calma e entramos num acordo. É normal se irritar, mas xingar não, em hipótese alguma. O melhor é conversar com calma e entender o outro.

124


folders qual é o segredo? Manter o respeito antes de tudo, a empatia de se colocar no lugar do outro e conversar mantendo a mente aberto nos conflitos são a base de um relacionamento saudável. Se vocês não marcaram todas as respostas azuis, não tem problema. Ninguém nasce sabendo tudo e lidar com um relacionamento é um crescimento constante, então esteja sempre aberto para melhorar.

Para saber mais sobre relacionamentos saudáveis, acesse: www.movimentovermelho.com.br

e nos visite nas nossas redes sociais @movimentovermelho

125


folders

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Figura 36 - folder 2 fechado

Figura 37 - folder 2 aberto

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Cartaz A

Cartaz B

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cartazes de divulgação

260mm x 400mm Papel Couche Fosco 170g. Exportado em PDF/X-1a:2001. Composto no Adobe Illustrator.

Os cartazes seriam expostos em espaços públicos, como metrôs, ônibus e em paredes como cartazes impressos e em relógios digitais da cidade de São Paulo. Cartaz C

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cartazes de divulgação

130


envelope

Envelope saco padronizado 310mm x 410mm (fechado) 368mm x 860mm (aberto) Papel Couche Fosco 170g. 4 pontos de cola. Exportado em PDF/X-1a:2001. Composto no Adobe Illustrator.

Envelope externo

Envelope interno

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fita adesiva

50000mm x 30mm Fita adesiva transparente. Estampa exportado em PDFX1a:2001. Impresso em flexografia. Composto no Adobe Illustrator.

A fita foi desenvolvida para lacrar embalagens de produtos da campanha, como a camiseta e o pin. 132


pin 200mm x 350mm Pin esmaltado (esmalte duro) Exportado em PDF X-1a:2001. 01 cor de esmalte Metal (pin e fecho) Composto no Adobe Illustrator.

O pin, assim como a camiseta, será vendido pelo site para arrecadação de fundos à órgãos que auxiliam mulheres em situação de violência. 133


camiseta

Tamanhos padrões: PP, P, M, G, GG. Camiseta de algodão. Exportado em PDF X-1a:2001. Impressão em serigrafia. Composto no Adobe Illustrator.

134


site homepage

Esta é a parte superior permanente do site, juntamente com o menu que é separado em três categorias: “relação abusiva?”, “a nossa campanha” e “o fórum”. Dentro dessas categoria existem subcategorias que ficam na mesma página, mas são temas diferentes. O acesso a subcategorias facilita o acesso a um tema específico sem usar a barra de rolagem.

135


site homepage

Abaixo do menu, na homepage, está o trailer da narrativa da campanha para introduzir o internauta na narrativa. Você pode ver a animatic (animação teste) do trailer utilizando o QR Code ao lado.

136


site homepage

Na página inicial também estáo dois textos: um que introduz o vistante ao movimento, o que está acontecendo na cidade com um link de acesso à agenda e outro resumindo as relações abusivas com um link para a página onde obterá mais informações.

137


site homepage

Ao fim da rolagem da homepage há um resumo “quem somos?” e uma aba com as interações mais recentes da hashtag #meuvermelho, a hashtag oficial da campanha, no Twitter, com passagem automática.

138


site homepage

Em todo o site existem elementos fixos, que não somem independentemente da página em que o visitante estiver. “Sair do site”, localizado à extrema direita centralizada do site, e sua função é trocar rapidamente do site do Vermelho para outro, como Google, Youtube e Twitter. No canto inferior direito há o “eu preciso de ajuda” que transfere o visitante para um página com acesso a sites e números de emergência, mapa de delegacias próximas, mapa de abrigos próximos, informações como esconder seu histórico digital e um quiz que auxilia a buscar a melhor ajuda. Por fim, a barra inferior tem as redes sociais do Vermelho e um ícone de compartilhamento do site.

eu preciso de ajuda!

139

sair do site


site relação abusiva?

Na página “relacionamentos abusivos?” há um curto texto introdutório e logo abaixo um infográfico, que também está presente no folder 1 porém adaptado para a leitura vertical, que trata sobre relações abusivas traz dados sobre denúncias e a Lei Maria da Penha.

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site relação abusiva?

constrangimento sentir-se humilhada ou inferiorizada

agressividade

autoestima baixa dano emocional forçar relações sexuais

controlar suas ações isolar-se de amigos e familiares

1ª fase do ciclo

sentir-se intimidada

2ª fase do ciclo

sentir medo

duvidar de si mesma xingamentos e ofensas sentir-se irritada chantagem emocional

ameaças agressões menores, como empurrões e apertos agressões graves, como surras, tapas e chutes

perda de controle das próprias ações 141

Abaixo do infográfico, há um texto introdutório ao ciclo da violência e uma imagem ilustrativa das características da primeira e segunda fase do ciclo de violência.


site relação abusiva?

O tema seguinte é o ciclo da lua-de-mel, um processo muito comum em relações abusivas, seguindo o mesmo padrão do tema anterior.

142


site relação abusiva?

Por fim, há um texto de introdução à Lei Maria da Penha, assim como trechos originais da lei, explicações detalhadas das categorias de violência listadas e como recorrer em uma delegacia da mulher.

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site a nossa campanha

A página “a nossa campanha” começa com uma introdução ao movimento Vermelho, quem somos e o que está acontecendo na cidade de São Paulo no período definido da campanha, seguido por um convite a conhecer as redes sociais e acesso à tag #meuvermelho do Twitter, onde terão registros dos eventos e declarações de pessoas participantes da campanha.

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site a nossa campanha

A agenda da campanha Vermelho foi baseada na agenda oficial da ONU Mulheres. Apesar dos espaços fictícios, essa é a configuração da agenda com horários e endereços no site. 145


site a nossa campanha

narrativa

eventos

Figura 38 - Fotografia Wonderlane

Abaixo da agenda há os registros da campanha, com links direcionando para a página da “narrativa” (pág. 148), onde estará toda a história em ordem cronológica, conforme o lançamento e a página de eventos (pág. 149) onde os visitantes poderão acessar albúns de fotos de eventos já realizados.

146


site a nossa campanha

Por fim, a rede de apoio que indica quatro formas de participar da campanha e demonstrar apoio ao movimento, sendo uma delas a compra dos produtos: camiseta e pin com o logo da campanha. Ao clicar no carrinho de compra, o visitante será direcionado à um site de compra. 147


site a nossa campanha - narrativa

A página “narrativa” contém as animações em ordem cronológica. Ao clicar em um dos vídeos, ele será expandido para tela cheia. 148


site a nossa campanha - eventos

A página “eventos” tem allbúns separados por evento e data, com rolagem horizontal automática ao encostar nas setas e expansão em tela cheia ao clicar na foto. 149


site o fórum

O fórum começa com uma introdução sobre o mesmo e uma opção de cadastro, porém deixamos explicíto que o cadastro só é necessário para interações, ou seja, fazer postagens ou comentários. As regras e termos estão em um link no texto e, ao ser acionado com o clique, um pop-up com as informações se abre.

150


site o fórum

O fórum é programado para apresentar as postagens mais relevante, com mais curtidas e comentários, mas ele tem opção de filtro por tipo, data, relevância e quantidade de respostas, assim como a busca por palavras-chave. Caso o visitante não esteja registrado e clique em “criar tópico” aparecerá a opção de login. 151


site o fórum

Na página de fórum também há um espaço de perguntas frequentes, onde são acrescentadas dúvidas comuns registradas pelos visitantes no fórum e nas redes sociais, como no exemplo acima.

152


site o fórum

Por fim, no fórum há um espaço onde são agrupados depoimentos voluntários de pessoas que passaram por relacionamentos abusivos previamente selecionados, retirados da tag #meuvermelho lançada no Twitter.

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site eu preciso de ajuda

Ao clicar na opção “eu preciso de ajuda”, o visitante será direcionado para um questionário que terá perguntas variáveis conforme as respostas assinaladas, para indicar o melhor direcionamento do caso. Juntamente com links para números e sites emergenciais, mapas de delegacia e abrigos próximos e um pop-up de como esconder históricos digitais. 154


site eu preciso de ajuda

Este é um exemplo de resultado após o preenchimento de um questionário (neste caso, violência física pelo marido contra uma mulher que tem filhos). Caso não queira preencher o questionário, mas clicar diretamente no link de números e sites emergencias, esse mesmo bloco aparecerá, mas com as informações condizentes, como o número do 180 e o site do Mapa do Acolhimento.

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site eu preciso de ajuda

Os mapas são apresentados abaixo do quiz e aparecem automaticamente se o visitante permitir o acesso à localização e caso preencha o quiz, aparecerá abaixo do resultado apresentado na página anteiror. Caso queira expandir o site e mover-se por ele, o visitante só precisa clicar nas imagens.

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site eu preciso de ajuda

Esse é o pop-up que é ativado pelo link no texto introdutório, “como esconder seu histórico virtual”, onde é ensinado como esconder restros virtuais de aparelhos celular , computadores e notebooks.

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site exemplos de manchas visuais

sair do site

sair do site

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redes sociais Facebook

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redes sociais Twitter

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redes sociais Instagram

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redes sociais Youtube

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redes sociais padrão de identidade

A padronização entre as redes sociais serve para manter a integridade da marca. Em todas as redes sociais existe um ícone de perfil e em algumas existem uma header, também chamada de capa. Em todas as redes sociais esses são o ícone e a capa oficial da campanha.

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redes sociais padronização de postagem

Modelo de postagem para trechos de depoimentos e entrevistas.

Modelo de capa para postagem com compilado de fotos de eventos.

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redes sociais padronização de postagem

Modelo de postagem para sequência informacional sobre determinado tema dentro de relações abusivas e Lei Maria da Penha. Acima e na página seguinte está o modelo informacional sobre calúnia, difamação e injúria. 165


redes sociais padronização de postagem

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redes sociais padronização de postagem

Modelo de postagem para stories. São postagens feitas para serem compartilhadas pelos usuários com a função de captura de tela do celular,

Modelo de postagem para stories com a agenda diária e detalhes dos eventos da campanha.

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considerações finais

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Eu particularmente acredito que situações dolorosas unidas à arte

do projeto. Não é fácil tratar um tema tão pesado, mas é necessário.

podem desenvolver beleza. Como uma música sobre corações partidos, um poema sobre alguém que não está mais ali, uma pintura que transfira o sentimentos do artista para você só com um olhar. Acredito que cada uma dessas peças que nasceram de alguma situação traumática colaborem para um amadurecimento necessário, mesmo que a obra não seja sobre superação, apenas um desabafo. Colaboram para um amadurecimento físico, emocional e espiritual. Este trabalho de conclusão de curso é a obra que nasceu da situação dolorosa e neste momento sinto o crescimento que esse ano me proporcionou na produção da campanha Vermelho. A ideia foi desenterrada de desenhos do meu sketchbook do segundo semestre do curso, quando planejei fazer um fanzine sobre os sentimentos que sobraram depois de um relacionamento ruim e não seria uma campanha, talvez nem mesmo meu tema de TCC, se tivéssemos o feito pensando somente em mim. A completude desse projeto se deu após muita conversa com amigos, quando percebi o que passei e o que eles passaram, depois que tive minha primeira orientação com o professor Nelson e ele expandiu minha visão sobre o que poderia fazer como designer. Sou infinitamente grata a todos por cada conversa, eu não seria quem sou hoje, tanto como designer quanto como pessoa sem esses momentos. O processo de formação no Centro Universitário Senac Santo Amaro proporcionou todas as ferramentas para o desenvolvimento de Vermelho da concepção à finalização. Desde seus professores, a infraestrutura às aulas e experimentações com que tive contato nesses últimos anos, acredito que nada me faltou para que me sinta uma profissional competente e confiante. Houveram dificuldades e dúvidas como em todo prendizado, mas foram superadas e deram espaço a novas soluções que antes estavam distantes da minha visão. A melhor experiência durante o desenvolvimento deste trabalho foi criar um a possibilidade de ajudar outras pessoas com o resultado

Precisamos falar sobre relações abusivas: do começo da primeira fase do ciclo de violência ao final da segunda fase, desde o menor dos incômodos ao ato de feminicídio. Precisamos conversar com amigos e familiares de confiança sobre o que acontece em nossas relações, mas especialmente com os respectivos parceiros, para que situações desconfortáveis não se repitam e não evoluam, para que ninguém mais seja machucado dessa forma ou que, pelo menos, amenizemos as dores do próximo. Este é o fim do trabalho de conclusão de curso de uma estudande de design gráfico do Senac, mas não é o fim do movimento Vermelho. Não sei o quão breve darei continuidade ao projeto ou no que ele se transformará daqui pra frente, mas é um projeto que vejo relevância e pretendo seguir em frente com ele, ajudar pessoas e criar um espaço de conversa e amadurecimento, como foi criado comigo.

171



referências



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lista de imagens

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Figura 1 - post do Mete a Colher instabilidade.......................................49

Figura 12 - jogo That’s Not Cool.................................................................... 55

disponível em: http://bit.ly/2w4KfOR

disponível em: http://bit.ly/2VubZGM

Figura 2 - post do Mete a Colher esperança............................................ 49 disponível em: http://bit.ly/2JnUMx9

Figura 13 - CallOut Card: 2 Minutes........................................................... 56 disponível em: http://bit.ly/2YDTtOp

Figura 3 - post do Mete a Colher ciclo de violência..............................50 disponível em: http://bit.ly/2Wa5Ow6

Figura 14 - CallOut Card: Lies........................................................................ 56 disponível em: http://bit.ly/2EhD1eW

Figura 4 - post do Mete a Colher medo ..................................................... 50 disponível em: http://bit.ly/2QaR4Yf

Figura 15 - CallOut Card: Violating ............................................................. 56 disponível em: http://bit.ly/30scZ1K

Figura 5 - post do Mete a Colher baixe o app ......................................... 51 disponível em: http://bit.ly/2w2IbGS

Figura 16 - frame de Sunshine 1 .................................................................... 57 disponível em: http://bit.ly/2Q7WhjH

Figura 6 - post do Mete a Colher rede de apoio ....................................51 disponível em: http://bit.ly/2LMEGPJ

Figura 17 - frame de Sunshine 2 .................................................................... 57 disponível em: http://bit.ly/2Q7WhjH

Figura 7 - ação do #HearMeToo em Uganda .......................................... 52 disponível em: http://bit.ly/2WO6Lr1

Figura 18 - frame de Sunshine 3 .................................................................... 57 disponível em: http://bit.ly/2Q7WhjH

Figura 8 - ação luminosa El Ángel de la Independencia ......................53 disponível em: http://bit.ly/2LNViXp

Figura 19 - frame de Sunshine 4 .................................................................... 58 disponível em: http://bit.ly/2Q7WhjH

Figura 9 - ação luminosa Pirâmides do Egito............................................ 53 disponível em: http://bit.ly/2JoDGz

Figura 20 - frame de Sunshine 5 .................................................................... 58 disponível em: http://bit.ly/2Q7WhjH

Figura 10 - Coração Pede Socorro ............................................................... 53 disponível em: http://bit.ly/2w4JN2W

Figura 21 - Akai Ito ............................................................................................... 62 Autoria própria.

Figura 11 - site Disrespect Nobody ............................................................. 54 disponível em: http://bit.ly/2VFLGT4

Figura 22 - compilado fotográfico ................................................................ 63 Autoria própria. Fotos retiradas do banco de imagens Unsplash 181


Figura 23 - compilado primeiros estudos.................................................. 64

Figura 34 - folder 1............................................................................................ 118

Autoria própria.

Autoria própria.

Figura 24 - referência fotográfica 1 ............................................................. 83 disponível em: http://bit.ly/2OhLYsU. Créditos à: Yoann Boyer.

Figura 35 - folder 1 aberto ............................................................................ 118 Autoria própria.

Figura 25 - referência fotográfica 2.............................................................. 83 disponível em: http://bit.ly/2CRATta. Créditos à: Jack Antal.

Figura 36 - folder 2 fechado ......................................................................... 127 Autoria própria.

Figura 26 - estudo de forma ............................................................................ 88 Autoria própria.

Figura 37 - folder 2 aberto............................................................................. 127 Autoria própria.

Figura 27 - representação de sentimento ................................................ 89 Autoria própria.

Figura 38 - fotografia Wonderlane............................................................ 146 disponível em: http://bit.ly/2Kw1qQR. Crédito à: Wonderlane.

Figura 28 - primeiro esboço ............................................................................ 89 Autoria própria. Figura 29 - primeiro desenho Liz e Otávio ............................................... 89 Autoria própria. Figura 30 - teste facial ........................................................................................ 89 Autoria própria. Figura 31 - sketch Verônica e personagem sem nome .......................89 Autoria própria. Figura 32 - sketch para vetorização ............................................................. 89 Autoria própria. Figura 33 - primeiro storyboard .................................................................... 89 Autoria própria. 182


apêndice

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entrevistas As entrevistas feitas com pessoas que experienciaram relações abusivas foram realizadas presencialmente ou por transmissão de vídeo do Skype, todas tiveram seus áudios gravados e estão em minha posse. A seguir estão as questões que foram feitas aos participantes: Quais abusos você reconheceu no seu relacionamento, entre físico, psicológico, moral e/ou patrimonial? Quanto tempo durou a relação? Como foi o pré-relacionamento? Como se conheceram? Você reconheceu alguma característica que indicavam algum sinal de atitudes abusivas? Pode me contar mais sobre como foi o período do relacionamento? Em algum momento você reconheceu as raízes desses comportamentos abusivos? O término aconteceu por reconhecer as atitudes abusivas ou por outro fator? Se por outro fator, quando percebeu que a relação foi abusiva? Alguém alertou você sobre os abusos? Pode me contar um momento muito marcante dos abusos desse relacionamento? Você reconheceu algum trauma ou dano depois dessa relação? Teve outros relacionamentos depois? Como foram? Você reconheceu alguma atitude sua que foi defensiva ou mesmo abusiva? Você já viu exemplos de outras relações abusivas que eram consideradas normais no entretenimento que você consumia? Você encontrou material que tratasse dos problemas desse tipo de relação durante ou depois do relacionamente que te auxiliou?

Você conhece o ciclo da lua- de-mel? Perguntar se passou por ele depois de explcá-lo. Explicação sobre a abrangência da Lei Maria da Penha. Você teria acionado se conhecesse a Lei Maria da Penha em sua completude? (apenas para mulheres) A entrevista com a delegada da delegacia da mulher, Renata Cruppi, foi realizada por chat virtual por áudio, que estão salvos em minha posse. A delegada Renata também disponibilizou dois vídeos seus com conteúdo complementar a entrevista, disponíveis no Youtube com Ciclo de Violência ( https://www.youtube.com/watch?v=x0Bk6w-dodA) e Ciclo de Violência contra a Mulher (https://www. youtube.com/watch?v=ZGw5X61_gw0). A seguir estão as questões que foram feitas à delegada: Como delegada numa delegacia da mulher, quais são as suas funções? Com base na lei, a partir de onde uma relação pode ser considerada abusiva e como reconhecê-la? Quais são as formas mais eficientes de evitar essas relações e/ou sair das mesmas? Como pode se resolver não apenas o lado da vítima, mas do agressor também? Existem projetos e campanhas para homens agressores?

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termos

Documentos Camila

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Documentos Carmen

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Documentos Gustavo

188


Documentos João

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Documentos Luiza

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Documentos Nayara

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Documentos Renata

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194


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