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Editorial O
mundo se desenvolve. O Brasil cresce. A população se multiplica. A produção de alimentos tem que acompanhar um ritmo acelerado e desafiador e se reinventar para criar as possibilidades de sustentação deste crescimento.É neste cenário, que a Revista Destaque Rural surge para desenhar os contornos que envolvem o agronegócio, seus desafios, suas potencialidades e especialmente, para evidenciar homens e mulheres que conseguem romper barreiras, superar limites e propor alternativas para o desenvolvimento da produção agrícola em nosso país. Com foco na gestão e nos gestores as páginas deste projeto, construído a muitas mãos, entrelaça histórias de vida, análises técnicas, conceitos administrativos, lançamento de tecnologias e opiniões de profissionais do agronegócio. Visando atingir um público que cada vez mais necessita de informações, a ciência administrativa desenvolve e possui uma gama de pesquisas voltadas à gestão empresarial que precisa chegar ao campo, fazendo com que a atividade rural cresça como organização, hoje restrita a alguns produtores e a grandes empresas do setor industrial e comercial. Aliando a linguagem técnica às experiências e exemplos de produtores, que se destacam por administrar suas propriedades como empresa, a revista Destaque Rural vem preencher uma lacuna, oferecendo um espaço para a divulgação de resultados, que demonstram o potencial dos agricultores e do Brasil, capazes de atingir as demandas crescentes de alimentos e minimizar a questão da fome no mundo.
Editora Riograndense CNPJ 17.965.942/0001-07 Inscrição Municipal 66829 Endereço Rua Cacilda Becker, 30 - Boqueirão - CEP 99025 490 Colunistas Gilberto Cunha Elmar Luis Floss Projeto Gráfico e diagramação Cássia Paula Colla Foto de capa Diogo Zanatta Jornalista responsável Luciana M. Quetheman (MTB/RS 11.850) Revisão Débora Chaves Lopes Diretor Leonardo Wink Impressão Gráfica Tapejarense Site www.destaquerural.com.br Contatos Leonardowink@destaquerural.com.br (54) 9947.9287
Circulação Tapejara
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Carazinho Cruz Alta Erechim Espumoso Frederico Westfalen Getúlio Vargas Ibirubá Ijuí Julio de Castilhos Lagoa Vermelha Marau Palmeira das Missões Panambi
Passo fundo Pejuçara Salto do Jacuí Sananduva Santa Bárbara do Sul Santa Rosa Sarandi Sertão Soledade Tapera Tapejara Selbach Três de Maio Vacaria
Índice CAPA
Família Webber:
uma história de sucesso
Págs 14 a 23.
Manejo de forrageiras de invero pág 6
Culuna CT&Bio
Psicologia do Trabalho Recursos humanos e gestão da propriedade
Destaque Máquinas Pulverjet:A mais robusta máquina de pulverização pág. 36
pág. 30
Coluna
Elmar Luiz Floss
Gilberto Cunha
Brasil, um celeiro de alimentos
Culturas de inverno Trigo: Manejar para ganhar
A Fazenda Global
pág. 33
pág. 40
pág. 12
Logística x Armazenagem As vantagens de estocar a produção pág. 24
Solos e Meio Ambiente Preservação e fertilidade andam juntas pág. 34
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Clima Prognóstico para o Rio Grande Do Sul pág. 44
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MANEJO DE FORRAGEIRAS DE INVERNO Boa cobertura x lucratividade A aveia preta e o azevém são as duas espécies de forrageiras de inverno mais utilizadas na região. Elas são de cultivo isolado (singulares) ou consorciadas para pastejo e tem potencial de produzirem bons ganhos de peso diário, da ordem de 1,0 kg por novilho. “Geralmente essas forrageiras são pastejadas de maio/junho a setembro/outubro, permitindo uma carga animal média de cerca de 1.000 kg/ha, totalizando ganhos de peso de 150 a 350 kg/ha, em períodos de pastejo de 100 a 120 dias” observa o pesquisador de Pastagens e Integração Lavoura-Pecuária da Embrapa Trigo, Renato Serena Fontaneli . Para isso, deve-se manter sempre resíduo alto, com planta de 20 a 40 cm durante o ciclo de pastejo. Conforme o pesquisador, neste sentido, há outras espécies sendo utilizadas como o centeio, a aveia branca e as cultivares de trigo de duplo-propósito, como o BRS Tarumã, que inicialmente serve como pasto, em junho e julho que são os meses de menor taxa de crescimento de forragem, e consequentemente de maior necessidade de área de pasto para atender a demanda dos animais. “Entretanto, mediante diferimento, ou seja, a retirada dos animais em momento adequado, permite ainda a colheita de grãos, normalmente 30 a 40 sacos de trigo/há”, analisa.
Cobertura de solo A quantidade e qualidade das culturas de cobertura de solo, a rotação de culturas e o revolvimento do solo apenas na linha de semeadura, constituem a base do sistema plantio direto (SPD). Nesse sentido, Fontaneli explica que a aveia preta é a espécie mais usada para cobertura de solo durante o inverno, precedendo as culturas de verão pela facilidade de manejo e potencial de produção de palha. Além disso, pode ser utilizada como pastagem
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para engorda de animais ou para produção de leite, possibilitando geração de renda no inverno. “Antecedendo a semeadura de milho é interessante usar outras espécies, como as leguminosas e crucíferas”, observa o pesquisador. Dentre as leguminosas a mais utilizada é a ervilhaca e entre as crucíferas o nabo forrageiro. Segundo ele, há possibilidade de usar as espécies de inverno consorciadas, por exemplo, aveia e nabo, aveia e ervilhaca ou as três conjuntamente. Fontaneli lembra ainda que é possível fazer feno ou silagem dessas forrageiras utilizadas para cultura de inverno, especialmente silagem pré-secada ou mesmo e planta inteira, porém, compromete-se a função de cobertura de solo. “Nesse caso, deve-se fazer essa prática em áreas distintas a cada ano e, muito importante, fazer as reposições de nutrientes para não comprometer a fertilidade do solo”, orienta. A dessecação é uma prática de manejo corriqueira no final do ciclo das forrageiras de inverno ou no resíduo das pastagens, que precede a semeadura das culturas de verão. “Em solos pobres ou degradados deve-se optar por não utilizar pastejo ou colheita de forragem para feno ou silagem, para permitir o acúmulo de palhada visando a recuperação no menor prazo possível, entretanto, não propiciará renda no inverno via produção animal (carne e/ ou leite)”, pontua o pesquisador.
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Produção de grãos Atualmente são ocupados durante o inverno, para produção de grãos de trigo, cevada, aveia branca, triticale, canola e centeio, apenas 20% da área cultivada no verão com soja e milho. “O restante da área deveria permanecer com cobertura de solo, cuja espécie preferencial é a aveia preta, que é forrageira por excelência, a exemplo do azevém anual, porém este tem se tornado de difícil manejo pela seleção de genótipos resistentes, tornando-se planta daninha de difícil controle nos sistemas de produção”, esclarece o pesquisador. Ou seja, o azevém cultivado no inverno se transforma numa planta daninha de difícil controle nas lavouras subsequentes. “A rotação de culturas preconiza planejamento a longo prazo, ampliando o sistema gramínea (trigo, aveia, milho), leguminosa (soja, feijão), orientando os cultivos para a opção mais rentável no momento, cultivando, por exemplo, trigo no inverno para aumentar o rendimento da soja no verão. As forrageiras tanto podem gerar renda na alimentação animal como atuando como plantas de cobertura, preservando a fertilidade do solo que vai favorecer as culturas de verão”, considera Fontaneli.
Fertilização A adubação das culturas componentes dos sistemas
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de produção deve seguir rigorosamente as indicações de pesquisa, em função da fertilidade do solo, baseada na famosa análise do solo e metas de produtividade factíveis. Nos últimos anos, com ferramentas de agricultura de precisão é possível ter maior eficiência na distribuição dos fertilizantes, tendendo a uniformização das áreas. “Além disso, pode-se adubar o sistema, ou seja, usar pelo menos parte da adubação nas culturas de cobertura de inverno visando facilitar a logística de semeadura das culturas de verão, normalmente mais rentáveis”, observa Fontaneli.
Rentabilidade x qualidade As culturas de cobertura, especialmente as gramíneas, permitem pastejo e conseqüentemente produção animal (carne ou leite). Quando ocorre integração com leite, normalmente rende de 2 a 3 vezes mais que a produção de carne, sempre mantendo pelo menos metade do acumulado de matéria seca como palhada para o sistema plantio direto. “Assim, entre manter as forrageiras de inverno apenas como cobertura de solo, sem renda, em comparação com produção de 150 a 350 kg/ha de bovinos ou de 2 a 4 mil litros de leite/ ha, renderá muito mais e, principalmente sem afetar a soja, cultura principal de verão”, orienta o pesquisador.
Alternativa à geada A geada realmente pode ser a vilã em semeaduras antecipadas das culturas produtoras de grãos, especialmente, trigo e cevada. A aveia preta, mesmo como cobertura de solo pode ter sua produção de massa seca (palhada) comprometida nas regiões mais altas como nos municípios dos Campos de Cima da Serra (Vacaria, Esmeralda, Bom Jesus). Nessa região mais fria, há uma tendência de utilização de aveia branca para a finalidade de cobertura de solo, podendo ter inclusive maior produção de palhada. A semeadura de trigo para grãos inicia em maio na região Noroeste (Santa Rosa, Três de Maio), junho (Passo Fundo) e estende-se até julho nas regiões mais frias (Vacaria e Esmeralda). “Exceção é o trigo de duplo-propósito BRS Tarumã que pode ser semeado até 40 dias mais cedo do que os trigos apenas para produção de grãos. BRS Tarumã, por exemplo, pode ser semeado em abril em Passo Fundo, pois tem ciclo vegetativo mais longo, reforça a oferta de pasto tradicional por meio de dois ciclos de pastejo (junho e julho), associado a um maior aporte de nitrogênio, rebrota vigorosamente e, manejado como as variedades de trigo semeadas exclusivamente para produção de grão, permite colheita média de 30 a 40 sacos de trigo/há”, explica Fontaneli.
Benefícios Conforme o pesquisador, a cobertura de solo, sendo um dos pilares do sistema plantio direto é uma das tecnologias com capacidade de mitigar emissões de gases de efeito estufa, seqüestrando carbono da atmosfera. Dentre inúmeros benefícios tecnológicos, sempre que possível integrando a lavoura (grãos), pecuária (animais) e floresta (fibra, energia), pode-se referendar as seguintes contribuições:
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melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo devido ao aumento da matéria orgânica e do carbono do solo;
2 redução dos riscos de erosão do solo; 3 melhoria da recarga e qualidade da água; 4 intensificação da ciclagem de nutrientes; aumento da capacidade de biorremediação 5 solo;
do
redução de perdas de produtividade decorrentes
6 de veranicos; 7
minimiza a ocorrência de doenças e plantas daninhas; diminuição no uso de agroquímicos para o contro-
8 le de insetos-pragas, doenças e plantas daninhas; 9
maior eficiência na utilização de insumos e melhoria do balanço positivo de energia; melhora a paisagem, possibilitando atividades de
10 agroturismo; 11
melhoria da imagem pública dos agricultores perante a sociedade, associada à conscientização ambiental;
12 reduz a pressão por abertura de novas áreas; em sistemas integrados com lavoura-pecuária mi-
13 nimiza a emissão de metano por unidade de produto animal; sistemas silvipastoris ou agrossilvipastoris me14 em lhora o conforto térmico dos animais;
aumenta a sustentabilidade e contribui para me-
15 lhoria do nível de vida da família rural.
Renato Serena Fontaneli,
é engenheiro agrônomo, Ph.D., pesquisador Embrapa, docente da UPF, e Especialista em Manejo de Pastagens e Integração Lavoura-Pecuária.
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MERCADO
Autofinanciamento no
agronegócio
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os próximos cinco anos, a forma de financiar o agronegócio vai sofrer algumas alterações. O modelo tradicional, padronizado e distribuído por algumas instituições financeiras vai dar lugar ao autofinanciamento. A afirmação é do Chefe de Mesa de Operações de Bolsa de Valores e Futuros, Tiago Dalla Corte. Ele explica que a atenção do governo irá se concentrar no pronafiano e, um pouco, no médio produtor. “Assim, a partir desse ponto, o financiamento ocorrerá através do mercado”. Segundo Dalla Corte, todos conhecem o crédito rural e como ele é porque houve um aculturamento desde a sua origem em 1970. “Foi uma força conjunta oriunda de várias instituições. Um choque na época. Um emaranhado de leis. E essa massa de informações foi sendo absorvida aos poucos. O crédito rural tradicional financia o custeio da produção até a comercialização de produtos agropecuários. Estimula os investimentos rurais, incluindo armazenamento, beneficiamento e industrialização dos produtos agrícolas. Além de fortalecer o setor rural, incentiva a introdução de métodos racionais no sistema de produção”, explica. O volume de recursos do crédito rural é formado basicamente através da: - Exigibilidade dos bancos; - Poupança rural; - BNDES; O especialista destaca que do total de recursos, alguns são controlados e devem ser destinados para programas específicos como o Pronamp (10%), Pronaf (10%) e Cooperativas (20%). “Esses recursos são para custeio, investimento e comercialização. A expectativa para o próximo plano safra é que
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alcance aproximadamente R$ 60 bilhões. A poupança rural se torna crédito rural e crédito facultativo. O volume disponibilizado através do BNDES para investimento deve se aproximar de R$ 20 bilhões (Procap-Agro, Moderinfra, Moderagro, Modrefrota, entre outros)”.
Financiamento mais simples Ele afirma que as novas ferramentas de financiamento via mercado, vão deixar o processo mais simples, compensando a burocracia do crédito rural (travado e oneroso). “Os novos títulos foram criados em 2004 e operacionalizados em 2005. Passaram por um período de testes. Já, a sua alternativa até então, a política de troca-troca, tem um juro embutido entre 18% e 26%. Isso abre espaço para os financiamentos privados. O atual crédito rural vai continuar para o pequeno, pois faz parte da política social. A indústria, o médio e o grande produtor vão mudar de forma controlada, ao longo do tempo. Com a redução da Selic, projetada para os próximos cinco anos, o crédito rural ficará no patamar das taxas de mercado. Em alguns casos específicos, podem ser até menores. Vamos entrar em um rol de novas taxas de financiamento”, disse.
Seis ministérios envolvidos O especialista diz que é importante compreender que o comando do crédito rural não é do MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) . “Seis ministérios estão envolvidos. Efetivamente, o crédito rural está a cargo do Conselho Monetário Nacional. E, na visão dele, o financiamento está diretamente ligado à comercialização. Todos estão envolvidos em elevar a renda do produtor e tirar o sistema da roda atual, no qual o produtor recebe crédito para produzir barato, e comercializa sua produção por preços baixos. A trading
se apropria da margem restante e o produto chega a preços mais elevados ao consumidor”. Conforme ele, os novos títulos são o CDCA (Certificado de Direitos Creditódios Agronegócio), LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), CRA (Certificado de recebíveis do agronegócio), CDA (Certificado de Depósito Agropecuário) e WA (Warrant Agropecuário). “Basicamente, os bancos compram CDCA (deixam na tesouraria) e emitem LCA (visando produtos para clientes qualificados). Os bancos têm hoje uma demanda de 600 milhões em LCA. Estão em busca de oferta. O governo para incentivar a prática tirou os impostos da operação (como IR), tanto para os tomadores, como para os financiadores. Esse ponto de ruptura ocorrerá, aproximadamente, em cinco anos. Não justifica mais operacionalizar um mecanismo diferenciado e cheio de controles. Essa mudança já está acontecendo. Vale lembrar, que o mercado imobiliário está andando rápido porque criou mecanismos de autofinanciamento. Isso permitiu um boom imobiliário. Por que não um boom semelhante no agronegócio? Quanto mais tecnificada a produção, mais recursos são necessários. Os instrumentos estão postos e a legislação está formada. Cabe aos participantes do mercado construir suas estratégias”, conclui.
“O mercado imobiliário está andando rápido porque criou mecanismos de autofinanciamento. Isso permitiu um boom imobiliário. Por que não um boom semelhante no agronegócio? Quanto mais tecnificada a produção, mais recursos são necessários. Os instrumentos estão postos e a legislação está formada. Cabe aos participantes do mercado construir suas estratégias”. Tiago Dalla Corte, Chefe de Mesa de Operações de Bolsa de Valores e Futuros.
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Tiago Dalla Corte
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CT& Bio
A FAZENDA GLOBAL TRANSFORMAÇÃO DOS BIOMAS EM FAZENDAS
GILBERTO R. CUNHA Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura Embrapa Trigo Quando as cercas que delimitam as propriedades rurais e os marcos de fronteira que separam países são ignorados, podemos ver que, nos últimos 10 mil anos, o planeta Terra virou uma grande fazenda. Pelas estatísticas da FAO (dados de 2010), somam 4,92 bilhões de hectares (ha) a área economicamente explorada com agricultura, sendo, dessas, 1,54 bilhões de ha com cultivos tipo cereais, oleaginosas, fruteiras e espécies olerícolas, e 3,38 bilhões de ha exploradas com pastagens (nativas e cultivadas). São 38% da superfície terrestre livre de gelo ocupada em agricultura. Indiscutivelmente, o maior uso da terra no planeta é em agricultura. E, ainda, estamos ocupando o que há de melhor, pois o restante abrange desertos, montanhas, tundras, cidades, reservas ecológicas e áreas inadequadas. Alguém duvida que o planeta venha sendo cultivado mais do que nunca e, sob esse prisma, virou uma fazenda global? Em termos de biomas, já foram convertidos para a agricultura (cultivo vegetal e produção animal): 70% dos campos, 50% das savanas (cerrado brasileiro, por exemplo), 45% das florestas temperadas e 27% das florestas tropicais. De tudo que é produzido em agricultura no mundo, estima-se que 62% sejam usados diretamente para consumo humano, 35% em alimentação de animais (indiretamente consumidos pelos humanos) e o restante 3% distribuídos entre a produção de biocombustíveis, reserva de sementes e outros usos industriais.
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50%
70%
CAMPOS
SAVANAS
27% FLORESTAS TROPICAIS
45%
FLORESTAS TEMPERADAS
Nesse momento, quando já somos sete bilhões de criaturas sobre a face da Terra, com o diagnóstico de que uma a cada sete pessoas no mundo sofre algum tipo de fome ou desnutrição e há perspectiva de chegarmos a uma população de nove bilhões de seres humanos ainda antes do ano 2050, pode-se mensurar o tamanho do desafio (e oportunidade de negócio) que está posto para agricultura. Paralelamente ao compromisso moral de acabar com a fome no mundo (ou reduzir à metade, conforme a medíocre meta do milênio, até o ano 2015), diante do crescimento populacional, da mudança de hábitos alimentares (aumento no consumo de carnes e lácteos) e do avanço dos agrocombustíveis, estima-se, para garantia de segurança alimentar no planeta, que a produção agrícola seja, no mínimo, duplicada até meados do século 21. O desafio é buscar soluções para, simultaneamente, aumentar a produção de alimentos e reduzir os danos ambientais. Em extensiva análise publicada na revista Nature, edição de 20 de outubro de 2011, sob o título “Solutions for a cultivated planet”, Jonathan A. Foley e colaboradores, embasados no diagnóstico e cenário futuro supra apresentados, discutem as estratégias que ora se mostram as mais viáveis para o equacionamento da delicada questão do aumento da produção de alimentos versus preservação ambiental. Inquestionavelmente, não podemos mais ignorar a necessidade de busca de soluções para problemas afetos à atividade agrícola, que dizem respeito à emissão de gases causadores de efeito estufa, à perda da biodiversidade e à valoração dos serviços ambientais. Foram quatro as estratégias analisadas. Nenhuma delas, isoladamente, é solução para o problema. A primeira, por razões óbvias, envolveu a proposta de paralisação da expansão da agricultura, especialmente na região tropical, em que se estima uma derrubada anual de 5 a 10 milhões de hectares de floresta. Essa estratégia, se adotada, exige, como corolário, o caminho da intensificação sustentável da agricultura, que se insere na estratégia de diminuição da defasagem entre os rendimentos reais, atualmente obtidos, e os rendimentos atingíveis ou potencias. Há oportunidade para se aumentar rendimento dos cultivos onde esses são limitados pelo manejo inadequado, a exemplo de vastas regiões na África, América Latina e leste europeu. A terceira estratégia foi a de aumentar a eficiência de uso de recursos do ambiente (água e nutrientes, por exemplo). E, por fim, melhorar a logística de distribuição de alimentos, reduzindo o desperdício (que pode chegar a 1/3 de tudo que é produzido) e, por que não, também envolver mudanças de hábitos alimentares e de dietas. Pelo exposto, não há soluções simples e nem genéricas para reconciliar produção agrícola e conservação ambiental. Não vamos poder escapar de ter de fazer escolhas de como e onde produzir
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Família Webber : uma história de
SUCESSO
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Foto: Arquivo Pessoal
Foto destaca a época da criação de suínos.
A
história de Setembrino Webber nas propriedades de Coxilha começou em 1956, ano em que rapazes eram contratados para trabalhar nas lavouras. “Eu e meus irmãos saímos da nossa cidade Getúlio Vargas, antigamente município de Floriano Peixoto, para trabalhar como funcionários de um dentista, que havia comprado terras em Coxilha. Fui operador de trator, mas sempre com a inquietude em minha caminhada”. Ele, que já era casado com Dirce, a quem atribui o crescimento pessoal, profissional e chama carinhosamente de “meu esteio”, afirma que sem ela não teria o progresso que estará registrado nas páginas da Revista Destaque Rural. Por dez anos a vida de Setembrino foi de operador,
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mesmo contra sua vontade, pois aceitou o emprego pela dificuldade financeira da época e por conhecer a lida no campo. Entre tantos acontecimentos que lembra, destaca uma geada que castigou o trigo destruindo lavouras inteiras. “Aquela vida engatinhava, as coisas demoravam para acontecer”. Com o pensamento focado na melhoria e ampliação dos negócios, Setembrino, mesmo sem a tecnologia atual, anotava num caderninho junto à esposa, todas as contas pagas e a pagar. “Levávamos tudo controlado e então não tinha erro, dava o passo conforme a perna. Lembro de passar as noites em claro, com caneta e lápis na mão pensando nos meses seguintes, mas depois de ter tudo na ponta do lápis conseguia enfim dormir descansado”, confessa.
Fotos: Diogo Zanatta
“Vai sair um tal de soja que vai abafar a banca” Nos anos 70 quando começou a soja, Setembrino aceitou a novidade e direcionou o plantio, buscando melhorar a situação. Foi o salto mais certeiro de sua vida. “Todos começaram a dizer que vai sair um tal de soja que vai abafar a banca. Nos agarramos com as duas mãos, abraçamos a idéia”, conta o patriarca, confessando que naquele período havia somente uma variedade do produto, que vinha de Santa Rosa. Em uma de suas lembranças da época de seus pais, Setembrino viu soja armazenada em uma caixa por dois anos seguidos porque ninguém conhecia o produto. Entre as décadas de 60 e 70 além da dedicação à cultura do trigo começamos com a criação de suínos. O chiqueiro de porcos nos manteve por 10 anos. Eles serviam para matrizes, vendendo para Santa Catarina e Paraná. Ainda havia o morisco, uma espécie de trigo mais simples para ração.
A virada O grande diferencial foi aceitar esta novidade que era a soja. Por meio da antiga Coopasso, Cooperativa de Produtores Rurais de Passo Fundo, surgiu a oportunidade de uma viagem aos EUA para conhecer a soja e a agricultura de lá em 1974. Setembrino, com toda sua perspicácia e curiosidade não pensou duas vezes e foi. “Vi coisas maravilhosas, desde o plantio até a colheita, além do maquinário, que só enxerguei no Brasil 15 anos depois. Os telefones que eles usavam eram enormes e sem fio, algo inédito para nós brasileiros e do interior do Rio Grande do Sul. Eram semelhantes aos nossos pequenos celulares de hoje. Copiei na cabeça muitas ideias, mas não tinha como colocar em prática naquele momento”. Inquieto e vendo a perspectiva de crescimento, em 1977 ele começou a área de sementes de soja construindo a primeira unidade da família Webber. Foi a visão de futuro que hoje carregam os três filhos do casal: Celi, Eni e Lizandro Webber, que trabalham juntos, com o mesmo afinco do pai.
Eni, dona Dirce e Celi: as mulheres da família
A necessidade de ampliar o conhecimento Neste período a veia empreendedora de Setembrino começava a sentir a necessidade de trazer mais conhecimento sem depender de terceiros. “Vieram técnicos de fora auxiliaram a montar a primeira unidade, prestando assistência técnica. Montamos escritório na cidade (Passo Fundo). E fomos nos envolvendo no negócio, porque o pai queria que aprendêssemos o que ele não conseguiu. Queria que fossêmos diferentes, que não dependêssemos tanto de terceiros. A ideia da produção da semente de soja com incentivo do governo federal para produção e armazenagem foi o destaque, especialmente com o pessoal que prestava assistência. Eles incentivavam os produtores a fazer financiamento e adquirir as propriedades”, conta Celi Webber, a filha mais velha. Ela e Eni, a outra filha do casal, ingressaram para o curso de Agronomia do mesmo ano, em épocas diferentes, uma na terceira turma da Universidade de Passo Fundo e outra na quarta. “Entramos na parte de sementes em 1977, mais ou menos na época que ingressamos na faculdade de Agronomia para entender do negócio. Nos formamos em 1982”. Setembrino sempre incentivou a necessidade de mais conhecimento através do estudo dos filhos. “Era o que eu queria ter e não tive. Eu sabia o problema que enfrentava sem o estudo”, diz o patriarca, que aprendeu a ler e escrever lendo jornal, tanto que os filhos brincaram que ninguém lia tanto jornal quanto ele.
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Família reunida: Eni, dona Dirce, seu Setembrino, Lizandro e Celi Webber
Celi: a primogênita entusiasta Celi Webber conta que para ir a Passo Fundo havia apenas uma estrada de chão. “No início dos anos 70 o avô morava junto e ia nos levar pela estrada de chão. Víamos o prédio da Agronomia. A maior parte dos prédios da UPF estava no centro da cidade, Educação e Direito. Para nós era uma descoberta, movimento, gente. E nós duas (referindo-se à irmã Eni) estudando a área que iríamos poder ajudar nosso pai. Foi um período de grande descoberta. A mãe nunca sabia o que fazia, se ajudava o pai na lavoura ou ficava cuidando os filhos na cidade. Foi uma maratona. Estávamos em três cidades fazendo rodízio: Getúlio, Coxilha e Passo Fundo. Só depois que me formei, me dei conta de tudo que passávamos. Hoje vimos toda a facilidade que o povo tem para estudar, dentro das próprias propriedades e mesmo assim nem todos tem consciência desta facilidade, não valorizam”.
Avanços A partir daquele período, os avanços e os novos conhecimentos de mais membros da família foram concomitantes. Segundo Celi, a parte técnica estava sendo aprimo-
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rada e realizada da forma mais correta possível. “Herdamos o carinho pelo trabalho e por nossa terra, os cuidados com a cultura, a presença e a frase célebre que diz “o olho do dono engorda o boi”, aqui funciona assim. mesmo”.
Eni: a desbravadora “Fui da primeira turma do vestibular em julho, a disputa era grande. Éramos 9 mulheres numa turma de 50 alunos. Naquele período havia muito incentivo ao estudo da área, especialmente para pesquisa, com apoio da Embrapa”. Quando Eni, dois anos mais nova que Celi, disputou com mais 28 candidatos a vaga para Agronomia, percebeu o mundo novo que estava se abrindo, mas jamais imaginaria que alguns anos depois iria, sozinha, para o Mato Grosso, administrar uma fazenda com mão de ferro.
Longe da família Foi em Campo Novo do Parecis, Mato Grosso, que Eni colocou seu conhecimento de engenheira agrônoma em prática, dedicando 14 anos de sua vida a gestão da propriedade que a família acabara de adquirir. “Tínhamos vontade de ampliar, crescer e aqui não tinha área para comprar”, conta Eni.
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“E aqui, como agora, a terra era escassa e cara. No Mato Grosso, com o mesmo valor, comprava-se uma enormidade de áreas, mesmo a produção não tendo estabilidade devido principalmente ao clima. Quando cheguei lá, a mão de obra foi comigo e a propriedade ficava 250 km de distância da cidade. Na época de colheita tinha chuva e o frete ficava caro, começou a diminuir a margem de lucro e preferimos vender lá e alugar aqui. Concentramos tudo na região norte do Rio Grande do Sul”, conta. Eni já foi vice-prefeita do município e é atualmente vereadora. A necessidade de entrar na política se deu a partir do momento em que compreendeu que era preciso estar no meio.
O caçula que empreendeu Com duas filhas engenheiras agrônomas chegou o momento de decidir o que o caçula faria. Foi então que Lizandro Webber, o contato da família nos negócios, foi buscar seu estudo. A partir de 1984, retornamos para Passo Fundo, moramos numa casinha simples na rua Jacinto Vila Nova, período em que o pai construiu a casa em Coxilha. Em 1987 comecei a faculdade e nestes últimos anos viajava à Passo Fundo para estudar. Terminei o curso em 1991”, conta Lizandro, que formou-se em Ciências Contábeis pela UPF. O aprendizado auxiliou muito na gestão da propriedade, mas o caçula enfatiza o legado de Setembrino. “O pai sempre teve uma veia empreendedora, nunca se acomodou. Sempre foi justo e certo nos negócios, mantendo compromissos com credores mesmo nas situações mais difíceis, e nós seguimos isso”.
De sete para três colheitadeiras Lizandro, que hoje representa a família em viagens ao exterior e nos negócios diretos relata que a intenção é sempre buscar a otimização do negócio, algo que veio do passado, mas que mudou muito nos últimos anos. “Queremos sempre buscar máquinas maiores, mais eficientes, que compensam as dificuldades de mão de obra. O maior exemplo que podemos dar é que há 15 anos tínhamos 7 colheitadeiras, hoje com o dobro da área daquela época temos 3 e nosso objetivo é ter apenas 2”, conta. Sobre a mão de obra, Lizandro é pontual: “Sempre há
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funcionários esforçados em aprender, buscar. São eles que lêem os manuais e aprendem a usar os equipamentos. Mas temos a compreensão de que hoje para se ter funcionário na agricultura você precisa remunerar melhor, devido ao desenvolvimento industrial em cidades maiores, como Passo Fundo. Se ele ganha R$ 1.200 na indústria, só sai de lá para o interior se for ganhar mais. Para isto, nós produtores, precisamos de uma máquina com rendimento maior para ganhar mais e pagar mais. Temos funções na propriedade que exigem funcionários com segundo grau no mínimo, isto é uma mudança drástica nos antigos padrões”. As primeiras colheitadeiras vieram dos EUA e Europa, elas colhiam e ensacavam e não tinham local para armazenar. “Você colhia, separava, mas tinha que largar na lavoura”, diz Lizandro
O compromisso com as pessoas Para selar o compromisso com funcionários e manter o foco no trabalho com as pessoas, que hoje somam mais de 43 famílias na propriedade, durante seis anos os Webber, numa parceria com o SESI, ofereceram atendimento odontológico para seus funcionários. Um trailer odontológico foi alugado pela família e um dentista contratado para trabalhar com tratamentos. “Duas vezes por ano, o trailer estacionava aqui durante três semanas, prestando atendimento odontológico aos funcionários e depois estendemos às famílias, esposas e filhos. Infelizmente não tivemos mais continuidade por não haver a possibilidade de escolhermos um único profissional que se tornasse próximo das pessoas, numa questão de confiança, por serem trabalhadores rurais. Então, temos a intenção de retomar isto futuramente”, afirma Lizandro, com orgulho por ter oferecido um serviço raro para muitos daqueles homens que puderam colocar próteses, melhorando sua saúde bucal e também sua auto-estima.
Gestão de RH Percebendo algumas dificuldades com funcionários, em 2000, a família contratou uma psicóloga responsável pela gestão dos recursos humanos da propriedade, que estava crescendo a passos largos. “Sabíamos que muitas pessoas dependiam da gente e a responsabilidade era grande. Após a Eni ter retornado, começamos outras coi-
sas, naquela época contratamos uma psicóloga, desde 2000, para estudar o RH com funcionários e conosco, pois percebemos a necessidade de trabalhar as pessoas”, conta Celi.
O sonho de uma OSCIP Valorizando as relações e reconhecendo a importância de quem contribui para o sucesso do negócio, a família teve a iniciativa de criar uma OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, especialmente depois de ter perdido, em um grave acidente em 1992, um dos irmãos, Ilso José Webber, o filho homem mais velho de seu Setembrino e dona Dirce. “A ideia era oferecer cursos de aprimoramento para os funcionários. A OSCIP veio em função do falecimento do nosso irmão. Percebemos que dependia de nós esta iniciativa e buscamos fontes de conhecimento e assim surgiu o Centro Cultural e de Assistência Social Ilso José Webber. Temos uma sede, somente com doações, aberta a todo o público. No começo era dirigida a funcionários, com oficinas de jardinagem, psicologia, culinária com às esposas dos funcionários, depois passamos a atender toda a comunidade que tivesse interesse”, relata Celi, que lamenta a falta de apoio de pessoas, dos políticos e outros produtores que realmente poderiam ajudar. “Entendemos que não podemos parar, sabemos que muitas pessoas gostam e passam a depender deste serviço, que é social”. Eni salienta que a intenção da OSCIP sempre foi agre-
A família sempre investiu em maquinário.
“Na agricultura tem a frustração e a bonança e a gente tem que administrar. Mas confesso que tudo o que tenho devo a minha companheira. Se a mulher não me desse força eu não conseguia, ela foi responsável por tudo isso. A gente não tinha dinheiro nem pra comer, até lambari a gente pescava para ter com o que se alimentar”. Setembrino Webber, que passou de 40 para 500 e hoje mantém 1800 hectares de soja. Junho e Julho - 2013 Passo Fundo - Ano I - nº 1
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gar várias pessoas. “Nem sempre é o trabalhador muito pobre que precisa de ajuda. Muitos que tem condições financeiras também precisam. Se uma pessoa da família precisa de ajuda, toda a família precisa. Nunca priorizamos só um membro, mas o trabalho para todos”. Para Celi, as transformações do projeto foram muitas e ratificaram a importância de sua existência e, principalmente, sua continuidade. “Tem pessoas que atuam como voluntários na OSCIP, depois se fortificam no projeto e conseguem emprego. Isto muda a vida das pessoas e é a verdadeira responsabilidade social”, conta orgulhosa. A própria Celi, ao ver uma revista em 2007 soube de um concurso da Bunge Alimentos, que premiava produtores rurais, em áreas como produtividade e responsabilidade social. “Nos inscrevemos, mas não ganhamos. No segundo concurso, os organizadores ligaram e nos convidaram a participar porque conheceram a grandeza do projeto. Mandamos um vídeo produzido por uma empresa especializada, com toda a história da nossa família e o pai foi escolhido. Ele ganhou o Prêmio Produto Rural Responsabilidade Social. Foi um orgulho indescritível”. De lá para cá a família angariou outros reconhecimentos. De 2007 até 2012 receberam diversas premiações da Assembleia Legislativa e tiveram neles o reconhecimento de uma vida dedicada à produção de alimentos. Celi conta que desde a instalação do projeto, mais de 50 pessoas puderam adquirir novos conhecimentos. “E é isto que a gente quer. Há distribuição de alimentos pela Conab. Quase 30 crianças receberam reforço escolar, outros já integraram oficinas de capoeira, música e percussão com Marcelo Pimentel. As crianças se encantam pela música e isto é fundamental para uma OSCIP”.
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Sucessão rural A sucessão familiar em propriedades rurais é algo novo e extremamente delicado, porque depende da vontade e do emprenho de cada membro da família. “Aprendemos esta questão com duas consultorias, estamos num processo de sucessão rural, com mudanças administrativas e fiscais prevendo as sucessões futuras. Todas as nossas propriedades passam a ser pessoas jurídicas, não mais pessoas físicas, num verdadeiro controle fiscal. Temos agora a formação de um Conselho Administrativo, explica Lizandro Webber. Ele conta que uma única empresa será a dona das terras e outra parceria vai trabalhar com as pessoas físicas. Teremos a elaboração de um Código de Conduta que vai balizar os futuros administradores. “Para que nossos filhos saibam como construir, tenham como continuar de forma organizada, com a tendência de crescer”, explica. Ele salienta que num processo normal e usual quando chegava a sucessão a área era dividida conforme o número de herdeiros e cada um ia embora com uma pequena fatia que não proporcionava rendimento, estabilidade e muito menos garantias. “Vimos que o futuro da agricultura é concentrar, diluir custo, empregado e maquinário. Sucessão rural não é herança é organização. As propriedades agrícolas estão passando por mudanças administrativas, é um negócio, empresa, unida, coesa e deve seguir dando frutos para muita gente ainda”. Lizandro afirma que a reestruturação mudará as funções de cada integrante da família. Hoje o administrador é Lizandro, Celi a responsável técnica e quem cuida do sistema de custos é Eni.
Um pequeno histórico Lizandro conta que houve uma grande mudança, entre 1977 e 1989 quando a semente transgênica começou a ser piratiada da Argentina. “Muitos plantavam a soja convencional e não vendiam. Era nosso caso. Por três anos fizemos isto e depois paramos. Teve época que 90% era semente contrabandeada e nós fomos um dos últimos que paramos de plantar a soja convencional. Quando começamos a comparar o custo vimos que não dava para competir, não tinha a mesma rentabilidade da soja transgênica, mas tínhamos medo de plantar a outra. Tanto que em uma inspeção o Ministério da Agricultura veio e colocou defensivos que mataram tudo o que era soja convencional. Posteriormente retomamos a produção de sementes, vimos que era nossa função, onde somos bons. Tínhamos na idéia comprar essa semente. Há dois anos mudamos o ciclo e passamos apenas a produzir. Agora, em 2013, estamos colhendo a primeira safra para a Pioneer Sementes, produzimos e beneficiamos a semente. Fizemos a semente certifiada, a comercial, a básica e a genética, são quatro tipos”, conta o empreendedor. Para a família, a decisão de ter uma margem menor apenas produzindo, compensa, pois dá maior garantia. “Não
teremos o problema de sobra de semente, o volume que produzirmos está vendido. Temos que atingir o padrão de qualidade que é mais alto que qualquer outro e passar pela fiscalização deles, desde o dia em que a máquina sai para o plantio até o final do processo”, comenta o caçula. Desde 2000, a Pioneer Sementes está no Centro Oeste brasileiro e já detém 29% do mercado de soja nesta região. “Acredito que é uma empresa que vem para o Sul do Brasil para aumentar ainda mais o padrão de qualidade da semente”.
Diversificação Para complementar a unidade, a família faz no período do inverno, o beneficiamento de sementes de cevada para Ambev. “Vimos que ficaríamos ociosos no inverno, e agora fizemos a semente de 30% a 40% do que a Ambev produz. É uma prestação de serviços para a Ambev, é um outro tipo de negociação salutar aos produtores. Vendemos nossa produção de cevada num primeiro momento e a produção vem para a unidade como produto da Ambev, para fazer semente, são duas fases diferentes”.
1989 2008 2009 A família fazia plantio direto com rotação de culturas em 1989. “Fazíamos a semeadura direta em cima da cultura de inverno, mas antes de plantar o trigo mexia a terra. Depois 1/3 da área com milho e em quatro anos fizemos plantio direto em toda nossa área.
“Em 2008 começamos com a agricultura de precisão equipamentos, aplicação à taxa variável, análise de solo. Fazíamos a analise de 100% da área e a correção de Fósforo, Potássio, onde tem a maior concentração de área orgânica”, pontua Lizandro.
“Em 2009 repetimos e em 2010 o segundo giro de análise de solo, fizemos uma análise a cada dois hectares e não mais a cada três, com correção do solo. Sabemos onde há maior resultado, assim perde-se menos e onde não tem necessidade não se aplica. Nas gramínias o resultado é maior, na soja acontece diferente”, contam Lizandro e Celi.
Segundo os irmãos, hoje as áreas são mapeadas, é feito análise do solo e um mapa de aplicação de cada componente. “A máquina passa em uma área, aplicando apenas onde precisa a quantidade exata. É tecnologia certeira para produzir mais e melhor”, diz Lizandro.
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LOGÍSTICA X ARMAZENAGEM
As vantagens de estocar a
produção
O
País obteve ótimo crescimento na produçãoagricola, calcado na evolução tecnológica e na eficiência dos produtores, mas o crescimento das safras não tem sido acompanhado pelo da infraestrutura modal, portuária e pela rede de armazenagem. Mesmo assim, o agrônomo do Escritório Regional da Emater-RS, de Passo Fundo, Cláudio Dóro, observa que a região desfruta de boa capacidade para armazenar as safras, uma das melhores do Estado. O escoamento destinase ao abastecimento do parque industrial metropolitano e ao Porto de Rio Grande, predominantemente por meio de transporte rodoviário. “A demanda aumenta no período de
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colheita e pós colheita, com escassez e deficiência de caminhões, onerando o frete”, explica. Segundo ele, as cooperativas e cerealistas têm investido em construções de armazéns, principalmente em silos graneleiros. “Nos últimos dez anos houve substancial crescimento na capacidade armazenadora, com ampliação em torno de 50% incluindo armazéns em nível de propriedades rurais”. Conforme Dóro, se o agricultor tiver estrutura de beneficiamento e armazenagem, o ideal é colher e estocar a produção na propriedade para buscar melhor preço, ou seja, ter poder de barganha.
O agrônomo aponta as principais vantagens de armazenar na propriedade: “a) Agregar valor ao produto. b) Aumentar o poder de negociação dos preços. c) Melhorar a qualidade e segregar o produto. d) Diminuir os custos com fretes. e) reduzir taxas de descontos ( umidade e impurezas)”.
“Falta muito para o Brasil atingir o nível de países desenvolvidos, que chegam a armazenar mais de 50% da safra em fazendas. Atualmente, em torno de 7% da safra brasileira é armazenada nas propriedades rurais, principalmente na região sojícola”. Cláudio Dóro.
Investimento Devido ao aumento dos custos, de acordo com Dóro, existe um ponto de equilíbrio para justificar técnica e economicamente a construção de armazéns. Nos silos convencionais, para comportar o investimento é necessário explorar uma área de aproximadamente mil hectares a com culturas anuais intensivas. Para os pequenos estabelecimentos rurais, uma produção de 2.000 sacos justifica o investimento, que se paga em quatro anos. “O retorno do capital investido é para médio e longo prazo. Por exemplo: uma propriedade com 1.000 ha , construindo um armazém para 50.000 sacos, levará aproximadamente 10 anos para pagar o investimento, com a agregação de valor ao produto”, exemplifica. É preciso levar em consideração os custos com energia elétrica, funcionários, segurança, conservação e manutenção das máquinas e equipamentos, além da estrutura de armazenagem.
Tendência Conforme o engenheiro agrônomo, atualmente o número de produtores que tem silos na propriedade está crescendo na região, mas falta muito para atingir o nível de países desenvolvidos que chegam a armazenar mais de 50% da safra em nível de fazendas. Hoje, em torno de 7% da safra é armazenada nas propriedades rurais, principalmente na região de soja no Brasil. Porém, aumentar esse número parece ser uma tendência. “Os produtores estão se alertando que podem se inserir em outros elos da cadeia produtiva e se apropriar de maior lucro, além de escoar a produção em periodos de entressafra, quando o frete não está aviltado”, explica. Os benefícios da armazenagem na propriedade são diversos. “Com a ampliação da rede de armazenagem, desafoga o setor de logística e a pressão de oferta junto aos portos, trazendo como consequência a racionalização do valor dos fretes com impacto positivo sobre os preços pagos aos produtores rurais”, resume o Dóro.
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O conceito de empresa chega Ă
propriedade
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tualmente, é importante que as propriedades rurais sejam administradas seguindo o conceito de empresa, conforme explica o engenheiro agrônomo, Luiz Gustavo Floss, do Grupo Floss – Consultoria e Pesquisa Agrícola. Segundo ele, são necessárias quatro áreas: recursos humanos, finanças, comercialização e produção. “As propriedades rurais possuem essas quatro áreas independente do tamanho em hectares ou atividade que exerçam. Portanto, deve-se pensar em administrar seguindo os princípios de gestão, os quais conferem as funções administrativas de forma prática”. Para que essa mudança ocorra, o produtor deve seguir processos de planejamento, organização e controle. Neste sentido, é necessária uma mudança de perfil do agricultor. “O administrador rural possui ferramentas e processos definidos para sua tomada de decisão. Constantemente, o produtor rural possui diversos problemas a tratar, que devem ser processados de forma a obter as melhores alternativas para sua acertividade, e consequentemente, as suas decisões influenciarão o rumo do seu negócio”, argumenta o agrônomo.
Gestão de custos Conforme Floss existe dois fatores básicos para a área de finanças: os custos e as receitas. Enquanto as receitas são as entradas de recursos financeiros no caixa, os custos representam retirada de valores, deixando ao final, margem líquida pela qual o negócio sobreviverá, crescerá e propiciará novos investimentos. Os custos podem ser divididos em variáveis, que dependem de haver produção, e fixos que independem de ter produção, e tendem a subir no médio e longo prazo, devido a inflação e mudança de tecnologia. “Portanto, o custo é de difícil diminuição, mas de fundamental importância a sua minimização, ou seja, se pudermos orçar a compra de produtos e fazer tomada de preços, com certeza poderemos encontrar menores preços e assim, minimizar os custos de produção”, orienta Floss. Contudo, é nos custos fixos que se encontra o verdadeiro gargalo do produtor rural brasileiro, pois estão inclusos a manutenção da propriedade, maquinário e custos da terra. “Quanto maior for a intensificação da propriedade, menor será o custo fixo por unidade produzida’, explica.
Orientações Obviamente, os produtores já têm certo conhecimento e controle dos gastos e investimentos, mesmo empíricamente. Mas quem quer introduzir esses conceitos de forma mais organizada em sua propriedade, precisa seguir alguns passos que irão facilitar e tornar esse processo mais eficiente. “Com certeza, o produtor tem certa noção. O que falta são processos e ferramentas que auxiliem a busca por essas informações mais precisas para que tome decisões concretamente”, considera Floss. O especialista recomenda dois passos básicos: o primeiro é anotar toda e qualquer despesa que se tenha na rotina da propriedade, para que essa informação possa ser processada e gerado o custo de produção das atividades, o que permite saber mais precisamente ao final da safra, se houve lucro ou prejuízo. “O segundo passo é a realização de um trabalho de fluxo de caixa, seja diário, semanal ou mensal, que possa visualizar as despesas futuras e as realizadas, servindo como uma ferramenta de planejamento de desencaixe financeiro, conforme com as possibilidades da propriedade”. No caso de grandes propriedades essa gestão torna-se ainda mais complexa, devido a necessidade de custos com empregados, grande quantidade de insumos e maquinários. Assim as grandes propriedades necessitam um controle cada vez mais preciso e minucioso, como o de almoxarifado, horas-máquinas e assim por diante. “Isso não é fácil de introduzir e demanda análises de cada propriedade para desenvolver a melhor forma de gestão dos processos”, explica o consultor. Outro fator importante para o controle financeiro refere-se à separação de gastos pessoais e da propriedade. “Uma parte é a vida pessoal, deverá ter um valor a ser retirado que corresponda ao um percentual da produção, que não comprometa a empresa a qual é a galinha dos ovos de ouro. O valor atual que tenho trabalhado é de R$ 200,00 por hectare cultivado, com culturas de grãos, como valor a ser retirado anualmente para o pessoal, o restante deve ser reinvestido para crescimento e desenvolvimento do negócio”, conclui Floss.
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MANEJO DE PLANTAS DANINHAS
Dessecar com antecedência é fundamental
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as médias e grandes propriedades as enxadas ficaram para trás, e hoje até mesmo os pequenos produtores fazem uso de herbicidas para controlar as temidas plantas daninhas nas lavouras. Mas para garantir a eficiência dos produtos químicos é preciso fazer o manejo adequado, observando o momento certo para as aplicações, otimizando os resultados e evitando os prejuízos gerados pela concorrência de plantas indesejadas nas cultivares. Conforme o pesquisador da CCGL Tecnologia - Cooperativa Central Gaúcha LTDA, e professor do curso de Agronomia da Universidade de Cruz Alta, Mário Antônio Bianchi, a planta daninha é aquela que cresce em local onde não é desejada. “Por exemplo, o azevém, é uma pastagem que
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cresce dentro da cultura de trigo, atrapalhando o seu desenvolvimento”, explica. Nas culturas de inverno, como trigo, uma das plantas daninhas que mais preocupa é o azevém. Além dela, ele aponta o nabo e a aveia, que é daninha na cultura de trigo e cevada. “Mas o azevém é o que tem ocorrência em maior número de áreas”, observa. Para Bianchi, os prejuízos provocados pelas plantas daninhas são variados. “Isso vai depender da quantidade de plantas daninhas que se tem na lavoura e quanto tempo essa planta fica convivendo com a cultura, aí se define o prejuízo. Em linhas gerais, quando o controle não tem o sucesso desejado, por exemplo, aplica-se um herbicida e ele não tem o efeito esperado, deixando sobrar algumas plantas, pode-se chegar ao nível de perda entre 15 e 20%”.
condição em que a cultura pretendida seja semeada no limpo, ou seja, que a planta daninha que ocorra na área esteja completamente dessecada, completamente eliminada para que o trigo inicie seu crescimento na lavoura limpa”. Esse é um ponto muito importante para a lavoura de trigo e é uma forma de diminuir bastante os prejuízos que se tem com a competição inicial entre o azevém e o trigo.
Manejo da pós emergência
Dessecação Para evitar esses prejuízos, o controle das plantas indesejadas deve começar bem antes do plantio da cultivar desejada. Usando como exemplo o azevém, que é a planta daninha mais preocupante no inverno, Bianchi explica que é preciso uma atenção especial à dessecação em período hábil, antes da semeadura no plantio direto. “Normalmente o produtor gosta de fazer a dessecação e semear logo em seguida, dois, três, quatro dias. Mas essas plantas de azevém não morrem imediatamente e isso pode causar prejuízo na produção”, alerta o professor. Segundo ele, o ideal é que o primeiro passo no controle de plantas daninhas seja uma dessecação bem feita. “Ou seja, é preciso criar uma
Outro passo importante, depois do plantio, é fazer o controle das plantas daninhas quando elas ainda são pequenas dentro da cultura do trigo. “No caso do azevém , por exemplo, proceder o controle antes de ele colocar os afilhos, quando tem ainda de quatro a cinco folhas. É importante evitar que o controle seja efetuado quando a planta daninha passa desse estágio”, orienta. Conforme o professor, erroneamente, muitos produtores pensam em esperar germinar o máximo possível as plantas daninhas para depois se efetuar o controle, enquanto o procedimento ideal, para minimizar a perda pela competição, é utilizar o estágio da planta daninha como sendo aquele que regula o momento em que é preciso entrar na lavoura para aplicar o herbicida. “Combinando a questão da dessecação com o controle de pós-emergência, é possível conseguir praticamente eliminar essa competição”, argumenta. Outra vantagem de semear no limpo, segundo ele, é que o trigo emerge antes ou ao mesmo tempo da planta daninha. Quando se faz uma dessecação e ela não funciona bem, a tendência é que a planta daninha comece a competição mais cedo e aí tem-se que entrar com herbicida quando o trigo ainda é muito pequeno, o que resulta em fitotoxidade do herbicida na cultura, o controle nem sempre é bom e tem-se perda de produção. “Dessecar com eficiência, semear no limpo e aplicar o herbicida em pós emergência quando a planta daninha ainda é pequena, 4 ou 5 folhas, no caso do azevém, e nas folhas de plantas largas, como é o caso do nabo, do cipó de veado, que é de inverno também, assim como a ervilhaca, com 4 a 5 folhas, garante que o herbicida vai funcionar bem e que tem-se o mínimo de competição com a cultura”, resume o professor.
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PSICOLOGIA DO TRABALHO
Recursos humanos e
gestão da propriedade Adotada por produtores, com maior ênfase nos últimos anos, a assessoria em recursos humanos ajuda na administração da propriedade, conhecendo a realidade e analisado o perfil dos trabalhadores, como uma ferramenta extra ao produtor rural no momento da gestão
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trabalho é uma prática que viabiliza a realização e a sobrevivência do ser humano, consistindo na aplicação de conhecimento e habilidades no desempenho de funções diferenciadas. “O descontentamento constante no trabalho, por diversos motivos, pode desencadear sérios problemas tanto para o trabalhador, quanto para o serviço. E esse acontecimento nem sempre é detectado no momento adequado, pois muitas vezes só é percebido quando o prejuízo financeiro aparece. A Psicologia Organizacional e do Trabalho aparece no final do século XIX, como uma resposta a essa demanda. Sua institucionalização, como uma especialidade das ciências comportamentais, cresceu e tornou-se uma das contribuições mais significativas para o desenvolvimento dos negócios e da administração”, explica a psicóloga Vanessa Bertuzzi Antunes dos Santos. De acordo com a psicóloga, que já realizou trabalhos de campo em propriedades de várias cidades da região Norte, hoje as grandes empresas rurais vivem num contexto que demanda mais qualidade de desempenho, e a psicologia já conquistou espaços em locais que antes não eram identificados como necessários. “Um exemplo disto é o serviço dos trabalhadores rurais. Essa classe profissional que trabalha com produtos tão importantes para a sobrevivência do ser humano por muitas vezes fora esquecida. A Psicologia Organizacional e do Trabalho pode contribuir nos recursos de gestão, ajudar a organizar e legitimar a compreensão que as pessoas e as empresas requerem para funcionar. Os produtores rurais muitas vezes entregam suas grandes propriedades, ou fazendas que herdaram de gerações passadas, para funcionários que também estão vulneráveis a desencadear um sofrimento psíquico, seja por conta do trabalho ou não. A psicologia pode estar auxiliando esses empresários
“A psicologia do trabalho e das organizações pode estar auxiliando esses empresários sobre a saúde do trabalhador, qualidade de vida, o impacto do emprego e das condições de trabalho sobre a vida humana, desempenho, lucratividade, bem estar no trabalho que resultará em melhor satisfação pessoal e rendimento financeiro”. Vanessa Bertuzzi Antunes dos Santos
sobre a saúde do trabalhador, qualidade de vida, o impacto do emprego e das condições de trabalho sobre a vida humana, desempenho, lucratividade, bem estar no trabalho, que resultará em melhor satisfação pessoal e rendimento financeiro”. Para a especialista, o produtor rural também precisa estar organizando seu serviço, assim como investindo no melhoramento das relações interpessoais dentro da empresa, onde, na maioria das vezes, os funcionários residem, causando assim problemas de relacionamento que podem interferir no serviço realizado. “Mais do que trabalhar em um pedaço de terra, é preciso pensar sobre a qualidade de vida e saúde mental dos trabalhadores, assim como, mais do que plantar e colher produtos sobre a terra é necessário pensar que tipo de seres humanos gerará sobre ela”, completa Vanessa.
Vanessa Bertuzzi Antunes dos Santos Vanessa é especialista em Introdução à Terapia Familiar pela Universidade Integrada do Alto Uruguai e das Missões, possui Curso de Capacitação para Psicólogo Responsável pela Avaliação Psicológica e como Psicólogo Perito Examinador do Trânsito pela FIDENE (Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação do Noroeste do Estado).
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BRASIL, UM CELEIRO DE ALIMENTOS A problemática relativa à produção de alimentos e a nutrição adequada da população é um desafio permanente a todos aqueles envolvidos direta ou indiretamente com a mesma. Segundo a FAO, em 2050, teremos mais de 9 bilhões de pessoas no mundo para serem alimentadas. Além de mais pessoas, o consumo per-capita de alimentos está crescendo. Por isso, terá que haver até lá um crescimento de aproximadamente 40%. E, o Brasil terá o desafio de produzir 20% desse aumento de demanda. No Brasil, de 1976 a 2011, a população cresceu de 110.123.503 habitantes para 194.932.685 habitantes, um crescimento de 77% em apenas 36 anos. Quando examinamos os números estatísticos do IBGE (2012), a evolução da população por decênios, observa-se um decréscimo no crescimento demográfico, que foi de 20,8% de 1976 a 1985; de 19,4% no decênio 1986/1995, de 15,4% no decênio 1996/2005. No entanto, foi de 10,6% no período 2006 a 2011 (últimos seis anos). A produção brasileira de grãos alimentícios aumento de 48 milhões de toneladas em 1976/1977 para mais de 182 milhões de t na safra 2011/2012, um crescimento de aproximadamente 380% (Figura 1). Esse significativo crescimento da produção atendeu a demanda interna e forneceu excedentes cada vez maiores para exportação, gerando divisas ao país e melhorando nossa balança comercial.
Figura 1 – Evolução da produção brasileira dos principais grãos alimentícios (milhões de t), de 1976/77 a 2011/12 (Fonte: FAO, 2012).
Elmar Luiz Floss Instituto Incia www.incia.com.br
Essa grande mudança na produção de grãos inicia a partir de meados dos anos 1990, especialmente devido ao controle da inflação (aumento do poder aquisitivo da população e consequente aumento de consumo), a implantação de melhores políticas governamentais para o agronegócio e os grandes investimentos internacionais em genética e insumos agrícolas no país. Considerando uma taxa de natalidade decrescente a o aumento vertiginoso da produção de grãos alimentícios, a produção per capita aumentou de aproximadamente 380kg/ano no final dos anos 1970, para 953 kg/ano em 2012/2013 (Figura 2).
Figura 2 - Evolução da produção per capita (kg/ha/ano) de grãos alimentícios no Brasil, 1976/2011 (FAO, 2012).
Os grãos produzidos são utilizados na alimentação do povo brasileiro de forma direta, exportados ou transformados em carnes, leite e ovos para o mercado interno e exportação. Por isso, nos últimos 15 anos, o agronegócio garantiu uma balança comercial positiva (em 2012 mais de 77 bilhões de dólares), dando estabilidade econômica e política no Brasil, pois a balança comercial da indústria é cada vez mais negativa. Também, 32% dos empregos gerados, além de tributos e renda, que financiam o desenvolvimento regional. Mas, as potencialidades são ainda maiores.
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SOLOS E MEIO AMBIENTE
Preservação e fert
E
andam junta
vitar a degradação do solo deve ser prioridade para todo agricultor e técnico, porque mantém a produção ao longo do tempo e assegura as novas gerações um solo capaz de mantê-las. O engenheiro agrônomo da Emater Regional de Passo Fundo, Ivan Guarienti, explica que “o solo é um dos pilares da vida no planeta, pois recicla todos os nutrientes através dos processos biológicos e químicos ocorridos no seu interior”. Ele esclarece que os cuidados com o solo são imprescindíveis para a agricultura, já que nele há a reciclagem de materiais biológicos de origem vegetal e animal, há reações químicas que degradam a matéria orgânica simplificando-a em elementos químicos disponíveis para as plantas. As plantas por sua vez alimentam todos os outros seres vivos, ocorrendo desta maneira o ciclo biológico que mantém a vida no planeta. Mas além disso, no solo, ocorre a intemperização das rochas, transformando-as em solos e disponibilizando os elementos químicos que as plantas necessitam. O solo também é o armazém de água, de matéria orgânica e de nutrientes para as plantas e outras formas de vida. “É no solo que tudo ocorre e se não o conservarmos, estamos matando a vida no planeta”, resume o agrônomo.
Degradação O principal avanço ocorrido na diminuição da degradação do solo é o plantio direto, com todas as técnicas adicionais a ele que dão produtividade e mantém ou aumentam sua qualidade intrínseca. Nesse sentido, Guarienti explica que a análise do solo é o ponto de partida para a manutenção da fertilidade e conservação, porque a partir dela sabe-se o teor da argila, areia, porosidade, nutrientes, matéria orgânica, elementos tóxicos e, pode-se interferir positivamente no sentido de aumentar a produtividade das culturas e adotar as técnicas corretas de conservação. “A escolha da rotação e sucessão de culturas, fertilizantes corretos e bem balanceados, o uso correto das máquinas ou lotação adequada de animais, irrigação, são técnicas fundamentais na manutenção da qualidade e fertilidade do solo”, acrescenta.
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tilidade
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Sustentabilidade O agrônomo acredita que para que o conceito de sustentabilidade seja economicamente viável e atrativo para o produtor, o que precisa avançar neste momento é a pesquisa. “Necessitamos saber sobre técnicas de descompactação do solo, mais sobre os fenômenos que ocorrem no interior do nosso solo quando ocorrem sucessivos plantios através dos anos. Observamos que há um aumento significativo da fertilidade e consequentemente da produtividade, mas temos revezes como aumento da compactação do solo, apesar de todas as técnicas para minimizá-las. Portanto, mais pesquisas nos darão solução para estes problemas”, resume.
Fertilizantes e agrotóxicos De acordo com Guarienti, os fertilizantes e agrotóxicos, quando utilizados corretamente, trazem mais benefícios do que prejuízos, tanto a curto como a longo prazo. “Basta vermos a produção ocorrida nos últimos 20 anos, e a evolução das cidades e da nossa sociedade no Norte do RS”, exemplifica. Porém, segundo ele, há alternativas viáveis para a evolução na conservação e melhoramento dos solos, e a maioria delas passa pela pesquisa. “O melhoramento genético de plantas tem feito uma diminuição muito grande do uso de agrotóxicos em geral e, deve ser um dos principais pontos de pesquisa daqui para diante. O desenvolvimento de produtos químicos menos tóxicos ao ambiente, já tem mostrado a diminuição da agressão ao solo, água e os seres vivos em geral. Mas, a pesquisa deve continuar para conseguirmos cada vez mais sustentabilidade na produção de alimentos e manutenção da qualidade dos nossos solos”, argumenta.
Conscientização “Temos que conseguir um equilíbrio entre produção e manutenção do solo e meio ambiente. A legislação ambiental tem contribuído para um melhor uso do solo e da água, as novas técnicas de cultivo, agricultores mais capacitados, assistência técnica mais efetiva, produtos químicos mais efetivos e com menos efeitos colaterais e muita pesquisa, nos darão o tão sonhado equilíbrio ambiental”, resume o engenheiro agrônomo.
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Pulverjet:
A mais robusta máquina de pulverização
Pulverizador criado em Tapejara pela Pulverjet, Indústria de Equipamentos Agrícolas LTDA, ganha o mercado do Sul do país e comprova diferenciais como robustez, economia de combustível, além de ótimo deslocamento em terrenos acidentados
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ensar em pulverização há alguns anos era ver tratores adaptados e muitos transtornos como gastos de combustível e principalmente dias e dias de trabalho forçado. A Pulverjet, máquina criada pelo sócio Jones Zambonin, tem três anos, mas entrou no mercado brasileiro há dois com muitos diferenciais competitivos que deverão aumentar a demanda da empresa, que hoje distribui o equipamento para os três estados do Sul. Já tem pedidos para estados como Piauí, Acre, Ceará. E não é à toa que a demanda pela Pulverjet vem crescendo. Ela conta com muitos diferenciais, que cada vez mais conquistam produtores como José Carlos Beé, que ficou surpreso com a qualidade e eficiência do equipamento. ‘Não esperávamos tanto. De todos os equipamentos que usamos até hoje ele é um dos melhores. Em ladeiras a estabilidade do pulverizador é excelente, subidas, descidas, buracos, nada é
um entrave e a velocidade é constante mesmo nos maiores obstáculos. O que mais impressiona é que tudo isso mantendo a estabilidade das barras, o que traz qualidade na aplicação. Ele não patinha nas subidas e mesmo com carga total, se mantém estável. É um equipamento de grande potência e excelente rendimento. É tudo o que o produtor precisa na hora de pulverizar sua lavoura”, diz José, que ainda acrescenta que o piloto automático evita a repetição das pulverizações, e vai desligando automaticamente cada uma das sete sessões se necessário. “Ele vai desligando as sessões automaticamente voltando a se ligar no retorno da aplicação onde precisa. É economia de água, produto e diesel”, conclui.
O criador Há 12 anos Jones, sócio da empresa, , desenvolve equipa-
mentos de pulverização, tendo criado e aperfeiçoado pulverizadores autopropelidos deste o início, alem de transformações em tratores, barramentos e cabinas agrícolas. Mas as deficiências do mercado em equipamentos com diferenciais como robustez e menor manutenção, além de economia, abriram espaço para criação de chassi próprio e suprir necessidades do mercado. Foi há três anos que o Pulverjet surgiu, chegando um ano depois no mercado, em 2011. Pouco tempo para tamanho sucesso. Jones conta que atuava no mercado há mais de uma década e a experiência lhe serviu como base para criação de um equipamento de ponta. “Até então, os tratores adaptados para pulverização desempenhavam relativamente bem seu papel, mas com inúmeras deficiências. Precisávamos buscar algo para ter mais produção, agilidade
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e qualidade na aplicação. A partir disto desenvolvi um equipamento com chassi próprio, suspensão pneumática, mecânica robusta, motor potente de 180 CV, máquina de alta produção, com sistema de precisão, GPS, piloto controlador eletrônico e economia de até 20% durante a aplicação, pulveriza onde é necessário, não há sobreposição”, conta o idealizador do produto. Acessórios como piloto automático “que anda sempre no mesmo rastro”, com bastante desempenho na produção. “Tendo água fácil e terreno acessível ultrapassa 200 hectares por dia e em terrenos espaçosos tem ainda mais desempenho. É autopropelido, se triplica a produção no mesmo dia. Tem muito mais economia em combustível. Um trator de pulverização leva de três a quatro dias para realizar o trabalho que o Pulverjet faz em um único dia, o desempenho é incomparável. Tem conforto para o operador durante a aplicação, suspensão a ar, banco anatômico, direção hidráulica, mecânico ou hidro. O operador não sente tanto um dia inteiro de trabalho. O tanque de pulverização de calda tem capacidade para 2.850 litros, o que dá uma autonomia de 28 hectares, dependendo da vazão programada. Propicia uma produção bem acessível, pois tem bastante água no reservatório”, afirma Jones.
Adaptado para terrenos acidentados Ele conta que o projeto vem sendo desempenhado há 12 anos e nos últimos três teve qualificações, especificações únicas como adaptação a terrenos com topografia forçada, acidentados. É ajustada para este tipo de terreno. “É, sem dúvida, a máquina que melhor trabalha com a topografia forçada. Uma colheitadeira patinha e o nosso pulverizador segue firme porque se auto-nivela. Tem freios a ar nas quatro rodas. Tem a mais alta tecnologia em se tratando de pulverização. Entre as grandes vantagens, a robustez que dispensa manutenção. Com uma autonomia de até 15 anos. “Uma máquina assim dá para trabalhar praticamente a vida inteira sem manutenção. Suporta até 30 toneladas e com carga dá 9.300 quilos. O produtor pode ficar até 10, 15 anos sem mexer em suspensão e chassis o que a torna também um grande diferencial”, completa.
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Crescimento sustentável Luiz Fernando Marcon, um dos proprietários, comenta que a máquina tem três anos mas entrou em operação há dois. Já está presente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná e tem pedidos para outros estados. “ Temos como premissa o crescimento sustentável e a meta de crescer 50% ao ano e estamos neste caminho. Temos um produto relativamente novo num mercado altamente competitivo, mas já há diferenciais suficientes para garantir que a Pulverjet é algo inovador”, conta Marcon. Ele cita que a Internet abriu caminhos para que outros estados conhecessem o produto, e a intenção é a ampliar a produção de forma gradativa para atender o público de mais estados do país. “Neste momento estamos concluindo a ISO 9001 que nos garante a qualidade do produto”. Eniomar Artuzzo, supervisor comercial da empresa, destacou os benefícios dos novos maquinários que ganharam mais qualidade, estabilidade e robustez nos últimos anos.
Vantagens gerais dos equipamentos Pulverjet Alta robustez
trabalho com excelência mesmo em terrenos acidentados
economia
Suporta até 30 toneladas e a carga completa não ultrapassa 9.300 quilos
capacidade de auto-nivelamento de até 40 cm em suas barras em qualquer tipo de área com o mesmo desempenho
PULVERJET HD
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PULVERJET PCT
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Hidro 4X4 Motor MWM de 200 CV
Tanque de aplicação de 2100 ou 2800 litros
Sistema hidráulico
Tanque de água potável de 30 litros
Freios a ar
Tanque de combustível de 150 litros
Pneus aros 36, 38 ou 46
Motor MWM de 180 cv
Barramento de 24 ou 27 metros
Caixa de transmissão Eaton
Cabina Pulverjet com ar condicionado
Eixos dianteiro e traseiro de caminhão
Chassi Pulverjet
Tração 4X2
GPS
Suspensão pneumática com válvula niveladora nas quatro rodas
Piloto automático
Pneus aros 38 ou 46 Cabina com ampla capacidade de visão Ar condicionado Controle ajustável da posição de volante CD Player AM/FM
Corte de seção automática Controlador de vazão Suspensão pneumática com válvula nivelante Vão livre que varia de 1,45 a 1,70 metros Largura total de 3,20 metros Junho e Julho - 2013
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Bomba de pulverização de 170 litros/minuto
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Trigo:
Manejar para ganhar
A importância do manejo de trigo para o rendimento, qualidade e valorização do produto Por Luciana M. Quetheman (MTB/RS 11.850). Que o trigo hoje está conquistando o seu devido valor, todos já sabem. Mas essa valorização tem a sua história. Pelas novas normas colocadas pelo governo, o próprio produtor e o comércio de trigo tiveram que se adaptar. E podem verificar as consequências positivas desta nova forma de ação. O pão de cada dia e sua qualidade alimentar tornou o con-
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sumidor ferramenta essencial para que tudo melhore. Desta forma, o trigo toma sua devida importância e passa ser uma cultura de lucro para quem souber manejar bem. Quando se fala de manejo de trigo evidenciam-se várias ações. O manejo de solo, o melhoramento da semente, a prevenção e controle de doenças são algumas ações que fazem diferença para o rendimento e qualidade do trigo.
Sistema Plantio Direto é o mais adequado O solo e o manejo são essenciais para que seja produzida a cultura de trigo. Segundo o Engenheiro Agrônomo, Rodrigo Oliboni, o manejo de solo consiste num conjunto de operações realizadas com objetivos de propiciar condições favoráveis à semeadura, ao desenvolvimento e à produção das plantas cultivadas, por tempo ilimitado. E para que esses objetivos sejam atingidos, é imprescindível a adoção de diversas práticas, dando prioridade ao uso do Sistema Plantio Direto que envolve, simultaneamente, todas as boas práticas conservacionistas. Em caso de impossibilidade de adotá-lo, deve-se considerar que o preparo do solo compreende um conjunto de práticas que, quando usadas racionalmente, podem permitir preservação do solo e boa produti-
vidade. Porém, se usadas de maneira incorreta, tais práticas podem levar, rapidamente, o solo à degradação física, química e biológica e, paulatinamente, diminuir o seu potencial produtivo. “Como a cultura em destaque é o Trigo, devemos considerar que o Sistema Plantio Direto é o sistema mais adequado”, explica Oliboni. Para o desenvolvimento deste manejo existem algumas peculiaridades, o solo deve ser preparado com o mínimo de movimentação, não implicando isso na diminuição da profundidade de trabalho, mas sim na redução do número de operações, deixando rugosa a superfície e mantendo o máximo de resíduos culturais (solo coberto). “É necessário que cada operação seja realizada com implementos adequados”, comenta o agrônomo.
var, ou seja, são comuns resultados contraditórios devido à variação climática. Além disso, é necessário distinguir cultivares, pois, a qualidade industrial dos grãos guarda forte relação com o genótipo, e sendo imprescindível que a adubação nitrogenada, com vista à qualidade de farinha, seja calibrada especificamente, em interação com o ambiente, pois, nem todas as cultivares respondem à adubação nitrogenada tardia visando o aumento da força de glúten. As recomendações para que haja um bom rendimento e qualidade do trigo se definem como resultado da interação do efeito das condições do solo e clima, manejo da cultura, das características genéticas da cultivar, das operações de colheita, e também da importância do correto armazenamento e moagem.
Adubação Nitrogenada: um diferencial tecnológico?
Doenças: o que fazer?
O Nitrogênio (N) é um dos nutrientes mais requeridos pelo trigo e, muitas vezes, não é suprido nem na quantidade nem na época ideal. Então, o que é adubação nitrogenada? Segundo Oliboni, de modo geral, o Nitrogênio é o principal nutriente requerido pelas gramíneas, proporcionando imediatamente um aumento de rendimento, em que solos com deficiência acarretam plantas de pequeno porte, desenvolvimento lento e com poucos perfilhos, sendo a matéria orgânica a principal fonte de Nitrogênio no solo, entretanto esta não será diretamente absorvida pelas plantas, é necessária sua decomposição pela ação de microrganismos quando o Nitrogênio dos componentes orgânicos é liberado na forma amoniacal que é oxidada no solo para a forma nítrica, mas pela grande exigência da cultura do trigo, deve-se complementar essa adubação nitrogenada. Ao recomendar adubação nitrogenada vem a se considerar, como fator primordial, o teor de matéria orgânica presente no solo por meio de análise de solo, as culturas antecedentes, se leguminosas ou gramíneas e a expectativa de rendimento da cultura de trigo. “Deve-se aplicar entre 15 a 20 kg de N/ha na semeadura e o restante em cobertura, entre os estágios de “alongamento e afilhamento”. O aumento da dose de Nitrogênio em relação à recomendação deverá implicar em melhoria na produtividade do trigo”, salienta Oliboni. O engenheiro agrônomo ressalta ainda que as repostas variam intensamente em razão do ambiente e da culti-
Estudos são realizados para que se possa evitar e controlar doenças no trigo. Segundo o professor Erlei Reis, os tipos de doenças são causados principalmente por fungos, mas existe também a contaminação da planta por bactérias. A disseminação por fungos são ferrugem da folha e oídio que ocorre pelo vento à longa distância (km – esporos pequenos e secos) e por meio do vento a curta distância (metros – esporos grandes). Já na mancha de septoria, a contaminação ocorre por meio de esporos pequenos molhados ou também por respingos de chuva, pois os esporos encontram-se dentro das gotinhas. “Já quando causada por bactéria, como a estria bacteriana da folha, ocorre por respingos de chuva, a virose do nanismo amarelo da cevada por pulgões e o mosaico por um protozoário de solo”, explica Reis. O professor salienta que o estudo prévio e a prática ajudam a diferenciar uma doença da outra. Porque o reconhecimento da doença se dá por manifestações de sintomas, cada qual com sua especificidade. Se for um pó branco sobre as folhas é oídio; se for pequenos pontos alaranjados é a ferrugem da folha; se for áreas mortas de forma elíptica é mancha foliar; se for branqueamento de espiguetas ou da espiga pode ser a giberela e a brusone branqueamento da metade da espiga para a ponta. Enquanto a podridão radicular surge na lavoura em forma de manchas em pequenas áreas, sendo essas já plantas mortas. Na virose do nanismo amarelo, a folha bandeira fica de cor amarelo brilhante, rígida e ereta.
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Rotação de culturas auxilia na prevenção Depois de conhecido como a contaminação ocorre e os tipos de sintomas, temos uma excelente informação quanto à prevenção. Segundo o professor, a rotação de culturas além de ser essencial para o solo, como vimos anteriormente, é também uma solução para o controle de algumas doenças como a podridão radicular chamada mal-do-pé e manchas foliares. A rotação permite a decomposição natural pelos microrganismos do solo. O controle das chamadas plantas daninhas, dando como exemplo o azevém e a buva, também ocorre pela rotação de culturas e podem ser manejadas racionalmente com o uso de herbicidas.
O que é e como é feito o manejo integrado? Uma outra forma para se ter controle das doenças no trigo é praticando o manejo integrado. Erlei explica que é feito o uso de todos os métodos de controle em processo unificado, tendo em mente a preocupação econômica e ambiental. É importante, então, escolher cultivares resistentes, obter sementes produzidas em lavouras com rotação de culturas, sementes tratadas e monitoradas para que se aplique fungicida se for necessário, ou seja, somente se a quantidade de doença atingir o limiar de dano econômico (LDE). “Se não atingir, não se deve aplicar”.
A origem do trigo e sua expansão As sementes mais antigas de trigo foram originadas há
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6.700 a.C. plantadas pelos povos que habitavam a antiga Mesopotâmia. Depois, foi a vez dos egípcios, padarias na Europa houve à expansão do cultivo. Com o tempo, e desenvolvimento de novas tecnologias, como a rotação de culturas e a criação dos moinhos trouxe o aumento de produtividade.
No século XV, a planta foi levada na bagagem dos grandes navegadores que chegaram à América. No Brasil ele se tornou conhecido com a chegada dos colonizadores portugueses, que procuraram introduzir o cultivo nas terras recém-descobertas. Levado para o Sul do país no século XVIII, se aclimatou o trigo ainda possuía difi-
culdades de adaptação. Ao se passar a fase ruim, depois de quase sumir do mapa, ele voltou a fazer parte da vida dos primeiros imigrantes alemães. E com a chegada dos italianos, no início do século XX, a plantação de trigo expandiu -se pela importância da panificação no momento, passando a ser essencial no campo e na mesa do brasileiro. A cultura começou sua expansão comercial no RS e no PR a partir de 1940 e não se estagnou. Tornando o produtor desta cultura e todos que trabalham com a mesma apaixonados por trigo. Hoje por meio de pesquisas, o melhoramento das sementes, cuidados com o solo e sanidade se conseguiu aumentar a área plantada, o rendimento e a qualidade da planta. Manejar de forma correta é o segredo para conquistar o “ouro” em forma de cultura.
Entrevistados: Engenheiro Agrônomo pela UFRGS Erlei de Mello Reis Mestrado em Fitopatologia - USP Doutorado Washington State University - EUA Pesquisador da OR Sementes Engenheiro Agrônomo Rodrigo Oliboni Rodrigo Oliboni, Engenheiro Agrônomo, pela Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná, Mestre em Produção Vegetal, Genética e Melhoramento, pela Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná. Melhorista da OR Sementes
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