Destaque Rural - Ed. 2

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Ano I

Ed. no2

Rio Grande do Sul

Setembro/Outubro 2013

Distribuição Gratuita

Da união, a força para crescer ADMINISTRAÇÃO RURAL Como fazer uma gestão de qualidade?

- 2013 IMPOSTOS Setembro e Outubro CULTURAS DE INVERNO Rio Grande do Sul - Ano I - nº 2

O que mudou no ITR?

O plantio da cevada e seus propósitos.

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Setembro e Outubro - 2013 Rio Grande do Sul - Ano I - nยบ 2


VAMOS IMPEDIR QUE AS LAGARTAS DEVOREM A PRODUÇÃO BRASILEIRA DE SOJA. O Bayer Contra Lagartas é uma iniciativa que irá suportar o manejo sustentável de pragas da sua lavoura. O programa contempla uma série de medidas que vão desde o monitoramento adequado até a recomendação das melhores soluções ao produtor, para que a agricultura brasileira seja cada vez mais competitiva.

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Editorial

Editora Riograndense

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ivisão do patrimônio, perda de competitividade e desgaste afetivo são desafios enfrentados pelas famílias de agricultores no processo da partilha dos bens. Quando chega o momento de fazer o testamento, o produtor encontra-se em meio às dificuldades de dividir a herança de uma forma justa e sem interferir nas relações familiares. Visando minimizar esses fatores é que consultorias especializadas em Sucessão Rural entram no mercado, ajudando muitas famílias e tornando o processo mais simples e menos traumático. Nas páginas desta edição a Revista Destaque Rural traça a trajetória de sucesso da família Van Ass, que encontrou na união a força para crescer, através uma gestão competente e organizada, mantendo o legado dos antepassados e o relacionamento familiar saudável com crescimento sustentável. Boa leitura. LEONARDO WINK

CNPJ 17.965.942/0001-07 Inscrição Municipal 66829 Endereço Rua Cacilda Becker, 30 - Boqueirão - CEP 99025 490 Diretor Leonardo Wink Jornalista responsável Luciana M. Quetheman (MTB/RS 11.850) Jornalistas Luciana M. Quetheman, Rosângela Borges. Colunistas Gilberto Cunha Elmar Luis Floss Projeto Gráfico e diagramação Cássia Paula Colla Revisão Débora Chaves Lopes Impressão Gráfica Tapejarense Site www.destaquerural.com.br Contatos Leonardowink@destaquerural.com.br (54) 9947.9287

Circulação Tapejara

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Setembro e Outubro - 2013 Rio Grande do Sul - Ano I - nº 2

Carazinho Cruz Alta Erechim Espumoso Frederico Westfalen Getúlio Vargas Ibirubá Ijuí Julio de Castilhos Lagoa Vermelha Marau Palmeira das Missões Panambi Condor

Colorado Passo fundo Pejuçara Salto do Jacuí Sananduva Santa Bárbara do Sul Santa Rosa Sarandi Sertão Soledade Tapera Tapejara Selbach Três de Maio Vacaria


Índice CAPA

SucessãoRural: Da união, a força para

crescer Págs 22 a 32.

Coluna

Elmar Luiz Floss

Logística,uma ameaça ao Agronegócio! pág. 6

Plantio Direto A garantia de uma agricultura de qualidade

Adubação Nitrogênio para obtenção de altos rendimentos

Agrotecnoleite “Ainda temos muito para produzir”

pág. 12

pág. 34

Manejo de Coberturas Garantia dos benefícios do solo

Milho bt O produtor precisa fazer sua parte

pág. 16

pág. 36

pág 8

O que mudou no ITR?

Culturas de inverno O plantio da cevada e seus propósitos

pág. 10

pág. 18

Impostos

CT&Bio

O admirável (ou nem tanto) mundo novo da biologia sintética

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Gilberto Cunha

pág. 42

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Elmar Luiz Floss Engenheiro agrônomo e licenciado em Ciências, Dr. em Agronomia, Diretor do Instituto Incia

Logística, uma ameaça ao Agronegócio!

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odos saúdam o recorde brasileiro de produção de grãos na safra 2012/2013, de 185 milhões de toneladas (t). Os carros chefe são a soja (82 milhões t) e o milho (76 milhões de t), perfazendo aproximadamente 85% do total da produção brasileira de grãos. O maior desafio é levar essa produção recorde da região produtora aos armazéns, portos e indústrias, num curto período de tempo. Nos países desenvolvidos, com políticas de segurança alimentar, a capacidade de armazenamento de grãos alimentícios chega ser duas vezes a capacidade produtiva anual. Além da segurança alimentar, a maior capacidade armazenadora representa um poder de barganha para o produtor comercializar sua safra com preços melhores que, normalmente, ocorrem na entressafra. Enquanto a produção brasileira de grãos foi de 185 milhões de t, temos uma capacidade de armazenamento, em condições técnicas adequadas, de apenas 143 milhões de t. Por isso, deve-se saudar a inclusão no Plano Safra 2013, ainda que tarde, de uma linha de financiamento para construção de armazéns no Brasil. Quanto ao transporte, estima-se que faltam 200 mil caminhões no setor do agronegócio brasileiro. O problema se agrava na época de colheita. E, por falta de capacidade, os próprios caminhões transformam-se, em muitas regiões, em armazéns. No entanto, diante do caos das estradas já observado, imaginem com mais 200 mil caminhões? Então, novos investimentos em rodovias e ferrovias são urgentes. Infelizmente, a construção da ferrovia Norte-Sul, tão almejada, ocorre em “velocidade de tartaruga”. Há também, a necessidade da ampliação dos portos. E diante da ineficiência do governo, a solução é a privatização paulatina dos portos. (No grande Seminário sobre cenários e tendências do Agronegócio), realizado no dia 25 de abril de 2013, na Casa da Cultura de Marau, o ex-ministro da Agricultura Francisco Sérgio Turra, mostrou que o Brasil ocupa o lugar 135 no mundo, quanto à infraestrutura em portos. Mesmo considerando os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), estamos em último lugar. A melhor estrutura de portos é da África do Sul (52º no mundo), seguido de China (59º), Índia (80º) e Rússia (93º). O descarregamento de cargas especiais em portos bra-

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sileiros demora aproximadamente 10 dias, sendo 5,5 dias de trâmites burocráticos e 4,5 na operação de descarregamento propriamente dita. São vários órgãos públicos que necessitam aprovar, distantes um do outro. E o pior: as aduanas não funcionam 24h por dia, como determina um decreto de 1966, não colocado em prática por pressões corporativistas, que representaria ganhar um porto, como o de Santos, somente devido a maior agilidade dos serviços aduaneiros. Estima-se que o licenciamento ambiental e legal de áreas costeiras para construção de portos demora aproximadamente 3,5 anos. A construção propriamente dita outros 3,5 anos, para um porto da capacidade de Santos, Paranaguá ou Rio Grande. Se a produção brasileira de grãos e quantidades exportadas continuar crescendo na ordem de 7% ao ano, em 2020, a necessidade terá aumentado em 60%. Portanto, o caos portuário é inevitável.

Safra 2012/2013

185

milhões

86 milhões

TOTAL

SOJA

76 milhões

MILHO

*Milhões de toneladas


Sementes

Semeando o futuro

“Só quem tem mais de 50 anos de experiência, pode oferecer a melhor qualidade na produção de sementes.”

Cultivares de Trigo:

Cultivares de Soja: BMX VELOZ RR 5953 RSF BMX ALVO RR DON MARIO 5.9i BMX TORNADO RR 6863 RSF BMX ATIVA RR BMX TURBO RR BMX POTÊNCIA RR BMX APOLO RR DON MARIO 5.8i BMX MAGNA RR DON MARIO 7.0i FPS URANO RR AMS TIBAGI RR

TBIO IGUAÇÚ TBIO PIONEIRO 2010 TBIO ITAIPU QUARTZO TOPAZIO AMETISTA TBIO ALVORADA TBIO MESTRE

www.sementesbee.com.br Linha Quatro s/n Tapejara, RS Cx Postal 42 CEP: 99.950-000 email: sementesbee@sementesbee.com Setembro e Outubro - 2013 TEL: (54)-3344-4500 - (54)9611-4330 Rio Grande do Sul - Ano I - nº 2

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PLANTIO DIRETO

agricultura A garantia de uma de

qualidade

Destacado como forma de melhorar a sustentabilidade no campo e diminuição de perdas, este sistema de plantação é cada vez mais usado nos campos gaúchos. Contudo, mesmo com bons resultados, é preciso estar atento para o bom manejo como forma de prevenção

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niciado no Brasil há mais de quatro décadas, o sistema de Plantio Direto foi ganhando uma série de adeptos pelos benefícios que se refletiram nos avanços da produção. Esta nova maneira de manejo chegou ao país, inicialmente, para controlar a erosão hídrica que afetava vários produtores na época, mas a fórmula de sucesso espalhou-se, resultando em uma plantação de qualidade. Hoje o Plantio Direto é muito bem visto na agricultura brasileira e já abrange quase 36 milhões de hectares em todo o país. Telmo Amado, professor titular da Universidade Federal de Santa Maria, com pós-doutorado na área de manejo do solo, define as principais diferenças entre sistemas convencionais e de Plantio Direto. Segundo ele, o fator está na mobilização do solo, que é intensa no preparo convencional e mínima no Plantio Direto. O pesquisador, que atua há 26 anos com este tipo de sistema, explica que a cobertura do solo é reduzida no preparo convencional, enquanto que de outra maneira deve ser quase que total. O Plantio Direto se baseia em processos biológicos que são responsáveis pelo acúmulo de matéria orgânica, ciclagem de nutrientes e qualidade do solo.

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Manejo correto “O produtor deve estar sempre atento para certos critérios que o ajudam a realizar o manejo correto da lavoura. O cuidado vem desde o princípio, com o preencher das lacunas entre o cultivo de grãos com culturas de cobertura, diversificando ao máximo, e se possível, consorciando espécies. Assim, o solo deve estar sempre protegido dos efeitos nocivos das chuvas torrenciais. Ao longo do tempo, há necessidade de alternar plantas com características diferentes, especialmente quanto à suscetibilidade a pragas e também quanto ao sistema radicular diferenciado”, pontua Amado. Os três princípios do Plantio Direto adequados são: manter o solo permanentemente coberto, promover mínima mobilização do solo e fazer rotação de culturas. “Essas ações implicam em uma melhoria na fertilidade e qualidade do solo, pois são processos graduais e evolutivos. É indispensável realizar amostragem de solo, na primeira amostra devem ser requeridas ao laboratório as análises químicas e físicas. Para melhor acompanhar a evolução da fertilidade é importante solicitar a determinação do teor de matéria orgânica nas análises químicas”. Segundo o especialista, na me-


dida em que aumenta o aporte de resíduos vegetais e diminui a mobilização, aumenta também o teor de matéria orgânica, atividade biológica e ciclagem de nutrientes. Com isto, o solo vai alcançando níveis hierárquicos mais elevados. “A agregação da terra é incrementada, que passa a infiltrar e armazenar a água das chuvas. O solo readquire uma condição semelhante a das originais. Sustentando a produtividade elevada e contribuindo para manter a qualidade da água e do ar”. A correção da camada superficial deverá ser realizada quando o pH do solo estiver ácido (em níveis abaixo de 5,5), utilizando fontes como calcário, silicato de cálcio e magnésio, cal agrícola e outras. Deve dar preferência aos materiais com granulometria mais fina, pois são capazes de infiltrar melhor no solo. Telmo Amado (esq.), acredita que o país possui condições de se tornar uma das agriculturas mais fortes do mundo.

O papel do Nitrogênio Nos primeiros anos de implantação deste sistema há maior necessidade de Nitrogênio, justamente porque este nutriente é de fundamental importância durante a mineralização de resíduos vegetais. Sendo assim, nos primeiros cinco anos o produtor deve buscar o aumento da adubação de manutenção em 30 a 50 kg/há quando plantar sob a palha de espécies com alta relação como o milho, por exemplo. Em casos de leguminosas ou plantas recicladoras, o conselho é reduzir as doses. Nos sistemas de Plantio Direto já consolidado, o Nitrogênio deve ser aplicado em doses reduzidas. Mecanismos Com relação aos mecanismos adotados pelo agricultor do Sul do Brasil, Amado enfatiza que são os mesmos para o resto do país. Porém, a necessidade de adaptação às condições regionais, especialmente quanto ao sistema de cultura, deve ser avaliada economicamente pelo produtor, buscando que o solo alcance elevados níveis de qualidade. “Existem atualmente muitas trocas de experiência entre produtores do Sul e do Centro-Oeste”. Sobre o manejo mais adequado, o professor se diz convencido que o sistema de Plantio Direto é a melhor opção para produção de grãos em solos brasileiros. “Temos que evoluir no manejo de solos com problemas de drenagem como os cultivados com arroz. Mas, recentes avanços com rotação de soja/azevém/arroz nestas áreas, tem sido promissores. A combinação de diversificação de cultivos ao longo do tempo, a não mobilização do solo e perma-

nente cobertura são os princípios a ser observados em clima subtropical e tropical”. Mesmo com o avanço das pesquisas sobre manejo de solo nas últimas décadas, há ainda muito que fazer, mas o pesquisador acredita que o produtor já tenha ótimos exemplos de casos de sucesso no manejo sustentável de solos tropicais. “Sou otimista com os recentes avanços da biotecnologia, engenharia agrícola, agricultura de precisão e profissionalização dos nossos produtores. Temos todas as condições para uma das agriculturas mais produtivas e sustentáveis do mundo”, garantiu ele.

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Princípios do Plantio Direto:

Manter o solo permanentemente coberto

Promover mínima mobilização do solo Fazer rotação de culturas

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IMPOSTOS

O que mudou no ITR? A Receita Federal define que 100% do imposto será depositado nas contas das prefeituras e modifica os critérios que ele passa a ser cobrado

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Imposto Territorial Rural (ITR), cobrado de acordo com o tamanho e a produção de cada propriedade rural no Rio Grande do Sul, chega em 2013 com novidades. A de maior impacto para várias regiões é que o imposto pode ser taxado conforme o valor de mercado dos municípios, o que assustou os produtores que moram em cidades como Passo Fundo, com padrão de vida elevado e áreas valorizadas com o crescimento da construção civil. A determinação foi emitida pela Receita Federal no final de julho deste ano, disponibilizando 100% do valor do ITR às prefeituras e não mais 50%. Segundo o presidente do Sindicato Rural de Passo Fundo, Paulo de Tarso Silva, a luta dos produtores e o objetivo principal, discutido em diversos encontros nas semanas que antecederam a decisão, é que seja praticado um valor único entre as cidades, não baseado em cotação de mercado, que é volátil, muda a cada ano, mas em índices oficiais. Mesmo assim, ele acredita que em Passo Fundo, por exemplo, a base de cálculo alcance R$ 12 mil por hectare da propriedade. “Pagávamos até 2012, em torno de R$ 7 mil a R$ 9 mil, conforme a tipagem da área, se tinha APP – Área de Preservação Permanente ou Reserva Legal os valores seriam diferenciados. Esta diferença continua, porém o imposto será muito maior, sem falar na CNA – Confederação Nacional de Agricultura, que nos cobra o mesmo valor do ITR, mas em um período diferente do ano. Pagamos dois impostos por ano de mesmo valor. É como adquirir um veículo e pagar duas vezes o IPVA. Ainda que a CNA nos repassa parte do valor arrecadado e podemos administrar nossos custos sindicais. Mas no caso do ITR a questão é: para onde vai o dinheiro?”

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PAULO DE TARSO SILVA

PRESIDENTE DO SINDICATO RURAL DE PASSO FUNDO

A LEGISLAÇÃO As mudanças A assessora jurídica da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag) do Estado, advogada Jane Berwanger, alertou os agricultores para as mudanças ocorridas na declaração do Imposto Territorial Rural (ITR) neste ano, cujo prazo expira no próximo dia 30 de setembro. “Foram feitas modificações na legislação regida pela Receita Federal, cujo principal item é a obrigatoriedade de fazer o ato declaratório ambiental”. Agora, segundo Jane, o produtor rural que possui parte de sua propriedade ocupada com mato é obrigado a pagar por ela. A declaração deste mato no imposto não é obrigatória quando o documento é prestado, mas sim junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama). Quem não adotar esse procedimento, incorre em multa e cálculo do ITR é feito portanto sobre esta área de mato. No Rio Grande do Sul, proprietários rurais com área de até 30 hectares estão isentos do pagamento do tributo, mas não da declaração. Para ela, o imposto não influencia no rendimento da agricultura familiar, porque a grande maioria dos minifundiários gaúchos não possui área acima de 30 hectares.


Paulo de Tarso pontua a necessidade de ter uma base fixa de cálculo como em qualquer outra organização, instituição ou sindicato. “Se hoje temos a saca de soja a R$ 70,00, no próximo ano ela pode estar valendo R$ 40,00 ou menos e teremos que pagar o mesmo valor de imposto, sendo que a produção reduziu. É preciso analisar e temos expectativa que os prefeitos irão ser cautelosos, especialmente para não correrem o risco de ter em suas mãos vários mandados de segurança ao invés de mais recursos. Nós, os produtores, estamos na esperança de que haja acordos em todas as cidades gaúchas e que possa ser efetivada uma base justa para calcular um imposto que pagamos dobrado”.

Mais recursos aos municípios As mudanças no Imposto Territorial Rural anunciadas pelo governo federal deverão garantir mais recursos aos municípios e descentralização dos serviços, avalia o deputado Heitor Schuch (PSB). Quando o Executi-

vo protocolou Projeto de Lei (PL 4896) na Câmara dos Deputados, regulamentando alterações na alíquota, abriu possibilidade de os municípios recolherem 100% a receita do ITR, desde que assumam também o processo de cobrança e fiscalização de seu pagamento. O objetivo seria aplicação desses recursos em projetos rurais pelas prefeituras e também apoio aos municípios atingidos pela estiagem. Para Schuch, a medida possibilitará ainda a revisão de questões importantes como enquadramento, valores pagos pelos produtores, faixas de isenção por área e por cumprimento da função social da terra. “Essa é a hora de discutir mudanças mais profundas no ITR”, comenta o deputado, destacando a necessidade de as Câmaras de Vereadores, sindicatos e produtores serem ouvidos. Ele faz ainda um alerta aos municípios, para que se antecipem e busquem informações sobre os convênios com a União. A expectativa é que, até setembro, quando começa o período de declaração do imposto, o projeto já tenha sido aprovado em Brasília e regulamentado em todo o país.

CNA o que é?

ITR - Imposto Sobre a Propriedade Territorial Rural

Declaração Anual - DITR

O ITR é previsto constitucionalmente, através do inciso VI do artigo 153 da Constituição Federal. O Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural, de apuração anual, tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do município, em 1º de janeiro de cada ano. Considera-se imóvel rural a área contínua, formada de uma ou mais parcelas de terras, localizada na zona rural do município. A legislação que rege o ITR é a Lei 9.393/1996 e alterações subsequentes.

O contribuinte do ITR entregará, obrigatoriamente, a cada ano, o Documento de Informação e Apuração do ITR - DIAT, correspondente a cada imóvel, observadas data e condições fixadas pela Secretaria da Receita Federal.

Entrega do DIAC Contribuinte

Contribuinte do ITR é o proprietário de imóvel rural, o titular de seu domínio útil ou o seu possuidor a qualquer título. O domicílio tributário do contribuinte é o município de localização do imóvel, vedada a eleição de qualquer outro.

O contribuinte ou o seu sucessor comunicará ao órgão local da Secretaria da Receita Federal (SRF), por meio do Documento de Informação e Atualização Cadastral do ITR - DIAC, as informações cadastrais correspondentes a cada imóvel, bem como qualquer alteração ocorrida, na forma estabelecida pela SRF.

Apuração A apuração e o pagamento do ITR serão efetuados pelo contribuinte, independente de prévio procedimento da administração tributária, nos prazos e condições estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, sujeitando-se a homologação posterior.

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A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) atua na defesa dos interesses dos produtores rurais brasileiros na esfera federal, enquanto as Federações da Agricultura trabalham nos Estados e os Sindicatos Rurais no âmbito dos municípios. É assim que trabalha o Sistema CNA, cada um na sua área de atuação, definidas em lei. Os recursos arrecadados pela contribuição sindical são distribuídos conforme estabelece o artigo 589 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho): 60% para o sindicato rural; 20% para o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE); 15% para a Federação da Agricultura e 5% para a CNA. Sua obrigatoriedade está prevista no artigo 149 da Constituição federal, que determina o caráter tributário da contribuição. Significa que o pagamento é compulsório, independente de o contribuinte ser ou não filiado a sindicato. Esta contribuição existe desde 1943 e é cobrada de todos os produtores rurais - pessoa física ou jurídica - conforme estabelece o Decreto Lei nº 1.166, de 15 de abril de 1971, com a redação dada pelo artigo 5º da Lei 9701, de 18 de novembro de 1998.

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ADUBAÇÃO

Nitrogênio para obtenção de altos rendimentos

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adubação nitrogenada é um dos fatores mais importantes para o potencial de rendimento em diferentes culturas. Também é o nutriente com a dinâmica mais complicada no solo, em função das transformações e perdas, pois os teores de nitrogênio (N) nas plantas podem variar de 3 a 5%. A afirmação é de Elmar Floss, engenheiro Agrônomo, doutor em Agronomia e consultor em Agronegócios. Para ele, uma adubação racional depende das necessidades das culturas, que variam de espécie para espécie, entre cultivares e, especialmente, em função do potencial de rendimento de cada uma. “Para isso é preciso determinar a exportação de N pelos grãos e também a quantidade necessária para a formação de raízes, caules/colmos, folhas, flores, etc., que constitui a extração. A disponibilidade de N no solo é estimada a partir do teor de matéria orgânica no solo (MO). A MO tem em média 5% de N e a taxa de mineralização (disponibilização) é em média de 2% ao ano. No inverno e nas regiões frias, essa taxa de mineralização é menor que 2%. Para exemplificar, um solo com 3,7% de MO, numa profundidade de 0 a 20 cm e uma densidade igual a 1, com 5% de N e uma taxa de mineralização de 2%, libera 75kg/ha de N durante o ano. Culturas como soja e milho tem um ciclo médio de 4 meses e a disponibili-

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zação de N não é maior que 25 kg de N/ha”, explica. De acordo com o agrônomo, a adubação racional é determinar a diferença entre a necessidade da cultura menos a disponibilização de N a partir da MO, vezes um fator de eficiência. As perdas de N no solo são, em média, de 20 a 30%, sob adequadas condições de manejo. “No caso da soja, a maior parte da necessidade de N é suprida através da fixação biológica, realizada nos nódulos das raízes, pelas bactérias. O nitrogênio, quando aplicado corretamente, além de promover o aumento do rendimento, também promove um aumento do teor de proteínas nos grãos, o que melhora a qualidade nutritiva tanto para uso na alimentação humana quanto animal”.


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Cereais de inverno Floss recomenda que para todos os cereais a adubação nitrogenada deve ser parcelada, com aproximadamente um terço da necessidade aplicada na semeadura e dois terços em cobertura. “Assim deve ser feito, porque o nitrogênio é um nutriente facilmente perdido pela volatilização na forma de amônia, óxido nitroso ou nitrogênio molecular, especialmente quando o solo é compactado ou excessivamente encharcado. Entretanto, a maior perda ocorre por meio da lixiviação no solo pelo excesso de chuva, na forma de nitrato. Como o nosso clima é instável, com alta probabilidade de chuvas muito intensas, o parcelamento da adubação é a principal estratégia para prevenir as perdas do fertilizante aplicado”. O consultor em agronegócios pontua que para obter resultados econômicos favoráveis é preciso que o produtor leve em consideração alguns fatores, quando realizar adubação de cobertura, como o potencial de rendimento da cultura, a sensibilidade ao acamamento do cultivar, a fase de desenvolvimento, a cultura anterior (soja ou milho), a quantidade de palha ainda acessível no solo, a disponibilidade de água, além do teor de matéria orgânica determinada por meio de análise de solo. Nos cereais de inverno, o momento de maior necessidade de suprimento do nitrogênio é quando inicia a formação da espiga (trigo, cevada-cervejeira, centeio e triticale) ou da panícula (aveia) entre a formação da terceira e quarta folha. Nessa fase, também acontece o afilhamento dos cereais, que depende do suprimento do nitrogênio. “Portanto, observar as fases do desenvolvimento das plantas é mais importante do que seguir um determinado número de dias ou estatura das plantas, pois a velocidade de crescimento é diferente entre cultivares e espécies”, destaca Floss. Para o especialista, no estádio de elongação dos cereais de inverno, define-se o número de flores por espigueta, diretamente relacionado ao componente de rendimento do número de grãos por espiga ou panícula, fase altamente dependente de nitrogênio. “É a terceira fase fenológica, em que o suprimento desse elemento é fundamental na obtenção de altos rendimentos e melhoria da qualidade do grão de trigo para panificação. Na fase de enchimento de grãos,

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há a síntese de proteínas, que influi no rendimento e na qualidade de panificação do trigo. Outro aspecto importante a observar é a cultura anterior e a quantidade de resteva ainda disponível. O ideal é que os cereais de inverno sejam cultivados em sucessão à soja. Essa cultura tem a capacidade de fixar o nitrogênio do ar por meio da associação com bactérias. A decomposição desta palhada pelos microrganismos libera nitrogênio, que pode ser aproveitado pela cultura seguinte. Sempre que os cereais são cultivados sobre resteva de milho, há necessidade de aumentar a adubação nitrogenada, na dose de 5kg de N por tonelada de palha seca, pois, nesse caso, os microrganismos decompositores da palha retiram nitrogênio da cultura”.

O que levar em conta? Finalmente, a eficiência da adubação nitrogenada é obtida levando em consideração as características de cada cultura e cultivar. O centeio, por apresentar uma grande estatura de plantas e baixo potencial de rendimento, deve receber menos nitrogênio. Já a cevada é exigente em nitrogênio, no entanto, se a aplicação for excessiva e muito tardia, pode promover um aumento muito grande do teor de proteína nos grãos, fator limitante ao seu uso na cervejaria. Para o trigo, triticale aveia-branca, deve ser observada a estatura de plantas e a sensibilidade ao acamamento, podendo ser aumentada a dose de nitrogênio para cultivares precoces e de baixa estatura de plantas.

Soja Um produtor de soja da região que colheu, na última safra, uma média de 60 sacas/ha (3.600 kg/ha), colheu em média 1.440 kg de proteína bruta. A proteína é constituída de 16,5% de nitrogênio. Portanto, para que um hectare de soja sintetize 1.440 kg de proteína bruta são necessários, em média, 350 kg de nitrogênio, como constituinte dos grãos e para crescimento adequado das plantas. Esse nitrogênio é exportado pelo grão, mas a cultura também precisa desse elemento para formar os demais tecidos vegetais, como raízes, caule, folhas, flores e vagens. Se o produtor de soja tivesse que fornecer esse nitrogênio por intermédio dos fertilizantes, teria que


aplicar aproximadamente 800 kg/ha de uréia. Nesse caso, o custo de produção desse grão seria elevado e a rentabilidade muito menor. Assim, até 85% desse nitrogênio a planta de soja obtém pela fixação biológica de nitrogênio (FBN) realizada em simbiose com bactérias (gênero Bradyrhizobium japonicum ou Bradyrhizobium elkanii) que formam nódulos nas raízes. Trata-se de uma das mais evoluídas associações biológicas conhecidas na natureza. A planta de soja realiza a fotossíntese com a utilização da luz solar, como fonte de energia, transformando a água (absorvida do solo) e o gás carbônico (retirado do ar) em açúcares, aminoácidos e outros compostos. Parte desse açúcar circula até a raiz na forma de sacarose, servindo de substrato alimentar das bactérias dos nódulos da raiz. Com a energia da decomposição desses açúcares, fixa-se o gás nitrogênio do ar (N2), o mais abundante dos gases atmosféricos, cuja concentração é de 78%. Primeiramente, as bactérias utilizam todo o nitrogênio fixado para elaborar seus constituintes biológicos e garantir o crescimento exponencial característico de colônias bacterianas. Quando a soja atinge o estádio de desenvolvimento de cinco folhas (V5), os compostos nitrogenados formados nos nódulos das raízes, na forma de ureídios (ácido alantóico e alantoínas), são transportados pela água até as folhas da soja. Na folha, esses ureídios são degradados por enzimas, que exigem o Manganês (Mn) e o Níquel (Ni) como cofatores, e o nitrogênio é utilizado na elaboração dos mais diferentes compostos nitrogenados, como clorofila, DNA, RNA, vitaminas, hormônios, aminoácidos e proteínas. Elmar salienta que para que a fixação de nitrogênio seja eficiente e atenda às exigências de rendimentos de grãos de soja cada vez mais elevados, há a necessidade de se inocularem as sementes antes da semeadura. “O custo do inoculante é, em média, de apenas R$ 3,00 por dose para inocular as sementes utilizadas na semeadura de um hectare. Considerando o grande benefício dessa prática e o baixo custo do inoculante, recomenda-se o uso de pelo menos duas doses para cada 50 kg de sementes. Em lavouras de soja do Brasil Central, são utilizados até cinco doses por hectare para se ter a garantia efetiva de que todas as sementes estejam inoculadas”. Além do uso de bom inoculante, especialmente bem conservado, e realizar adequadamente a inoculação, é importante tratar as sementes ou aplicar junto com o herbicida (estádios V3–V4) , o micronutrientes molibdênio (Mo) e cobalto (Co). O custo do inoculante mais Mo e Co é equivalente 22 kg de grãos de soja. Mas, o retorno dessa prática pode ser 2 a 6 sacas de soja /ha.

“O nitrogênio, quando aplicado corretamente, além de promover o aumento do rendimento também promove um aumento do teor de proteínas nos grãos, o que melhora a qualidade nutritiva tanto para uso na alimentação humana quanto animal”. Elmar Floss

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MANEJO DE COBERTURAS

Garantia dos benefícios do solo Pesquisador da BSBIOS, Tiago Daniel Lamb, explica que para se fazer uma boa cobertura de solo durante o período mais frio do ano, o agricultor deve planejar

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importância de fazer a rotação de culturas é algo que já vem sendo estudado há mais de dois mil anos, principalmente pelo povo chinês, que percebeu o empobrecimento do solo gerado com o cultivo constante e uma maior suscetibilidade às pragas. Conforme o engenheiro agrônomo e coordenador técnico da BSBIOS, Tiago Daniel Lamb, a pouca cobertura do solo durante o inverno contribui para degradação da terra fértil, por isso o agricultor deve saber escolher uma cobertura adequada e que contribua para o desenvolvimento da plantação. “Para que se faça uma boa adubação de coberturas de inverno é importante que o agricultor conheça e leve em consideração, as características específicas e necessidade de cada lavoura, elaborando um planejamento de rotação e sucessão de culturas, para tomar uma decisão certa na escolha da cobertura a ser utilizada”. Ao definir a espécie, ou mesmo consórcio de espécies, que estejam adequadas e adaptadas a essas condições pode-se manejar essa cobertura corretamente, respeitando suas exigências nutricionais, fisiológicas e contribuindo para as condições do seu desenvolvimento. “Não existe uma regra ou receita, cada caso deve ser estudado e analisado para definir a opção mais adequada”, destaca o pesquisador.

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Adubação verde Considerando a adubação verde, é importante que essa seja implantada logo após a colheita da cultura antecessora, a fim de deixar o mínimo possível o solo descoberto (sem a presença de culturas vivas). Porém, devem-se respeitar as características da espécie quanto à época ideal para sua implantação. A adubação pode ser orgânica ou mineral e feita através da aplicação de fertilizantes químicos, orgânicos ou da adoção de culturas de coberturas (adubos verdes). “Não existe certa ou errada, dependendo da necessidade adota-se uma ou mais formas de adubação, como, por exemplo, a adoção de cultura de cobertura de inverno para incremento de nitrogênio (leguminosa), e adição


FOTO DIVULGAÇÃO BSBIOS

de fertilizante mineral para corrigir as necessidades do solo” garante. Contudo, a adubação verde mantém a qualidade do solo no inverno, pois o emprego de plantas de cobertura e adubação deste tipo resulta em uma série de benefícios à terra, mantendo e melhorando sua qualidade, através da ciclagem de nutrientes, incremento de nitrogênio por fixação biológica (leguminosas), maior retenção de água, proteção do solo contra erosão, aumento dos teores de matéria orgânica e diminuição da infestação de plantas

invasoras. “Uma vez adotado o sistema de adubação de coberturas, é importante que este seja feito de forma correta para que se tenha o real benefício que lhe é propiciado, caso contrário o produtor pode estar apenas aumentando os custos da lavoura dentro do sistema. Ainda assim, pode haver resultados negativos decorrentes do manejo inadequado, causando desequilíbrio no solo, cobertura ineficiente, dificuldade de controle da própria espécie adotada e efeitos negativos para cultura sucessora”. De acordo com o coordenador, lavouras com cobertura ficam protegidas de uma série de fatores que trazem prejuízos ao sistema e agrega uma série de benefícios físicos, químicos e biológicos ao solo, enquanto que uma lavoura descoberta fica exposta a condições adversas e sujeita a erosão, desestruturação do solo, compactação, perda de nutrientes e aumento de plantas infestantes. “É preciso buscar cada vez mais o desenvolvimento sustentável da agricultura e, o bom manejo do solo, aproveitando também o inverno para cobri-lo com espécies e prepará-lo para cultura sucessora que é de fundamental importância”. O uso de adubos verdes é destacado como uma prática importantíssima e viável, que muitas vezes não é realizada em função do seu retorno não ser imediato e exigir um desembolso inicial, que será recuperado apenas nas culturas subsequentes. “A escolha de espécies usadas para cobertura, sua adubação e manejo exige planejamento, conhecimento do assunto e, por isso, é importante que seja realizado com o acompanhamento de um profissional da área agronômica”, finaliza Lamb.

Considerando a adubação verde, é importante que essa seja implantada logo após a colheita da cultura antecessora, a fim de deixar o mínimo possível o solo descoberto (sem a presença de culturas vivas). Porém, devem-se respeitar as características da espécie quanto à época ideal para sua implantação.

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CULTURAS DE INVERNO

O plantio da cevada e seus propósitos

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ereal de inverno, da família das gramíneas conhecida cientificamente como Hordeum vulgare sp.vulgare, a cevada é a anciã dos cereais, uma das primeiras plantas domesticadas pelo homem como fonte de alimento. Parente do trigo e centeio, atualmente ela ocupa a quarta posição na produção mundial de cereais, sendo cultivada principalmente como fonte de energia na alimentação humana e animal. Segundo Eucydes Minella, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Trigo de Passo Fundo, a espécie cultivada destaca-se entre os cereais pela ampla adaptação a condições extremas de latitude, altitude e de baixa precipitação pluviométrica. A cevada é o substituto do milho nas regiões em que este não poder ser produzido por limite climático. Da produção mundial, que gira em torno de 140 milhões de toneladas/ano, cerca de 70% é utilizada na alimentação animal e humana e apenas 15% é industrializada, principalmente na fabricação de malte para fins cervejeiros. No Brasil, atualmente, a espécie é cultivada comercialmente somente para fins cervejeiros, porém, em razão da demanda crescente por grãos forrageiros, acredita-se que a produção de cevada para outras finalidades adquira importância econômica num futuro próximo. “No Brasil, a cevada é cultivada principalmente na região Sul e destinada basicamente para produção de malte cervejeiro”, complementa o engenheiro agrônomo, especialista da Ambev de Passo Fundo, Dércio Oppelt.

Solo

Assim como qualquer outra espécie cultivada, o solo necessita de cuidados específicos para que a planta cresça de forma sadia. Para a ceva-

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da, a rotação de cultura é uma prática que deve ser utilizada, principalmente com o advento do sistema de plantio direto, quando a palhada de resteva da cultura anterior fica exposta na lavoura. Segundo Minella, isso ocorre, preferencialmente, em culturas não gramíneas. Mesmo a rotação com trigo e aveia sendo gramíneas, é possível ver resultados agronômicos se comparada à monocultura de cevada. Para Oppelt a prática de plantio direto se torna quase indispensável para reduzir a pressão de inóculo de doenças, bem como pragas que sobrevivem na palhada e podem vir atacar a cultura subsequente.

Clima

Para algumas culturas o clima é de grande influência. Para a cevada, o frio se faz necessário durante a fase de plantio e início de desenvolvimento. “O que a gente orienta é que o plantio não seja feito fora da época recomendada pela pesquisa de cevada cervejeira e segundo o zoneamento climático de cada região”, explica Oppelt.

MELHORAMENTO No Brasil, o melhoramento genético da espécie baseia-se no cruzamento entre linhagens e cultivares e na seleção de genótipos recombinantes, desejados nas gerações segregantes até a fixação de características agronômicas e qualitativas que se complementam. Segundo Minella, o melhoramento genético de cevada realizado principalmente através da Embrapa em parceria com as indústrias de malte, tem sido o grande responsável tanto pela consolidação da produção como a manutenção da competitividade regional e internacional. Oppelt diz que a Ambev, preocupada em levar o melhor


SISTEMA O sistema é organizado na forma de parcerias. Segundo Oppelt, a Ambev fornece semente e suporte técnico para os parceiros que são cooperativas, cerealistas e produtores. É feito um contrato garantindo a compra de 100% do volume de produção proveniente da área contratada e que atender o padrão cervejeiro definido pela portaria 691 do MAPA. E todo produtor, no momento que opta pelo plantio de cevada, sabe qual é a política comercial a ser praticada na safra e têm a opção de firmar contrato garantindo as condições comerciais propostas. Isto traz segurança ao produtor frente às oscilações que podem ocorrer no mercado durante o ciclo da cultura. “A pesquisa já vem trabalhando também há alguns anos no desenvolvimento de materiais adaptados às condições do cerrado brasileiro. Já temos algumas cultivares desenvolvidas pela Embrapa e recomendadas para esta região. Os resultados no campo e na indústria são satisfatórios, no entanto a questão logística ainda tem um peso grande na viabilidade da cevada nesta região” pontua Oppelt. Para o pesquisador da Embrapa Trigo, o cerrado em áreas irrigadas de altitudes acima de 600 m apresenta excelentes condições de clima (seco) para a produção de cevada de qualidade física e sanitária. O potencial de rendimento das cultivares da Embrapa desenvolvidas para a região superaram 7.000 kg/ha. “A região apresenta grande potencial para a cevada como cultura de inverno no sistema de rotação de leguminosas-gramíneas recomendada e certamente, poderá vir a ser importante polo produtor de cevada, ampliando a produção nacional, atualmente deficitária quanto a demanda da indústria de malte”, explica Minella.

Tipos

A espécie apresenta grupos de evolução genética diversa, entre os quais pode se destacar as cevadas de inverno, semeadas no outono no Hemisfério Norte, e as de primavera plantadas nesta estação em todo o mundo. “Basicamente são dois tipos de cevada: a de duas fileiras de grãos na espiga e a de seis fileiras”, comenta Oppelt. Dentro desses grupos a cevada que se cultiva no Brasil, é a cevada de primavera, plantada em nosso outono-inverno, de duas fileiras de grãos. O ponto forte desse tipo de cultivar é a produção de grãos mais graúdos e uniformes, preferidos para a produção de malte cervejeiro. “Existe também pequenos cultivos informais de cevadas de duas e seis fileiras nas bacias leiteiras para fins de alimentação das vacas”, acrescenta Minella.

Classificação

A cevada cultivada no Brasil só é competitiva eco-

produto para seus clientes, possui pesquisa globalizada e investimento pesado em pesquisa de desenvolvimento de materiais com qualidade malteira de alto potencial produtivo e bom comportamento fitossanitário. “A AmBev também firmou uma parceria com a Embrapa para melhoramento de novos materiais. Atualmente estão sendo cultivadas as variedades CAUE, ELIS, BRAU, MN743 MN 610 e MN6021”. O produtor dispõe atualmente de cultivares de alto rendimento e qualidade, adaptadas ao sistema plantio direto, tanto para o cultivo de sequeiro na região Sul, como para os cerrados com irrigação, salienta Minella.

nomicamente quando produzida para indústria de malte cervejeiro. “Para ser considerada cervejeira a cevada tem que apresentar primeiramente poder de germinação mínima de 95%. Uma vez apta pela germinação os grãos são classificados por tamanho, em peneiras, para a definição do valor comercial (preço)”, salienta Minella. No Brasil a comercialização de cevada cervejeira é regulamentada pela portaria 691 do MAPA, que define quais parâmetros a cevada deve apresentar para ser classificada como cervejeira ou não. “Para cevada seca (umidade igual ou menor a 13%) e limpa (livre de impurezas), os principais parâmetros são a germinação, que deve ser igual ou maior que 95%; a proteína que deve ser entre 9,5% e 12,5%; e pelas normativas da ANVISA, o nível de micotoxina (DON) de máximo 2.000 ppb”, salienta o especialista da Ambev. De acordo com Minella, os grãos de primeira (> 2,5 mm, Classe 1) são os de maior valor comercial e que realmente interessam à indústria de malte. Os de segunda (Classe 2) valem cerca de 90% dos de primeira. Os grãos de terceira (Classe 3, refugo) valem apenas 10% do valor do de primeira. A cevada fora desses padrões (germinação) normalmente é comercializada como forrageira a valores de cerca de 80% do valor do milho no mercado desses grãos.

Mercado de trigo e cevada

Para Oppelt a cevada e o trigo são culturas exploradas nas mesmas regiões e na mesma época de cultivo. Por outro lado, o produtor brasileiro é carente de opções de cultivo de inverno, o que faz da cevada uma alternativa excelente, que se encaixa

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perfeitamente no sistema de rotação de culturas sem atrapalhar em nada a safra de verão. Aliás, soma com esta, aumentando a receita e a renda líquida da propriedade. “No entanto, não vejo como uma disputa de espaço entre as duas culturas, mas sim um complemento, já que a maior parte da área cultivada nestas regiões não são aproveitadas para produção de grãos durante o inverno. No país a cevada disputa área com trigo e outros cultivos de inverno. As cultivares semeadas hoje apresentam alto potencial de rendimento com qualidade cervejeira, sendo competitivas e ligeiramente superiores em relação ao trigo. Pelo ciclo mais curto a cevada entra e sai da lavoura antes que o trigo, favorecendo o plantio da soja na janela de semeadura mais indicada, o que vem proporcionando rendimentos maiores que os plantios na resteva de trigo”, pontua o pesquisador da Embrapa.

Malte

O malte forma-se a partir da semente de cevada que colocadas de molho em água fria, a uma temperatura de aproximadamente 10 0C, em uma tina, o grão absorve o máximo possível de água e germina. O resultado desse processo se chama malte verde, que no processo de produção da cerveja é necessário secar. O grão, portanto, deixa de germinar e é usado para a fabricação da bebida. “Para produzir cerveja os ingredientes básico são água, lúpulo e malte”, destaca Oppelt. Segundo ele, em Passo Fundo, temos uma maltaria onde se produz o malte, que posteriormente é enviado às cervejarias da Ambev para fabricação da cerveja. “Para aquele volume que eventualmente não atenda à especificação para uso na indústria maltei-

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ra, o destino mais comum é a indústria de ração, mas há outros usos que se possa fazer, como por exemplo, na indústria alimentícia, moveleira, civil entre outros”. O engenheiro agrônomo acrescenta ainda, que a Ambev trabalha com uma política comercial definida para cada safra, divulga a mesma junto aos parceiros, fornece a semente tratada com prazo safra (para pagar com a própria entrega da cevada colhida) e garante a compra da produção contratada, desde que atinja especificação de cevada cervejeira definida na portaria 691 do MAPA.

Benefícios

A cevada basicamente é composta por amido, proteínas, aminoácidos e fibras. Conforme Oppelt, por ser rica em vitaminas B1 e B3 ajuda na hidratação e regeneração da pele e quando ingerida na forma integral, ajuda a reduzir o colesterol, produz baixos níveis de glicose, aumenta a saciedade, tem efeito protetor pela fibra no intestino, que ajuda o bom funcionamento intestinal. Para Minella, a alimentação, seu principal papel da cevada é a energia derivada dos hidratos de carbono, complementada por teores significativos de proteínas de composição aminoácida diferenciada da do milho. É também reconhecida pelo órgão de controle da Administração de Comidas e Remédios dos Estados Unidos (FDA) como alimento funcional associado ao teor de beta glucanas e outras fibras solúveis. “A cerveja derivada de cevada tem efeito na diurese, reação importante na fisiologia humana”, conclui.


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SUCESSÃO R

DA UNIÃO, A FORÇA PA 22

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RURAL:

ARA CRESCER

Atuante há mais de 40 anos, o Grupo Van Ass conseguiu, através dos descendentes, a competência e a força para continuar como uma empresa de credibilidade no mercado

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gestão familiar agregada a empresas rurais ganha destaque. Filhos e netos de agricultores que com o passar do tempo tomaram a frente dos negócios, buscaram qualificação e diversificaram a produção, aumentando a renda e trazendo novas perspectivas para o meio rural. Vista como uma questão delicada e de difícil abordagem por famílias que enfrentam este processo, a sucessão rural toma forma de acordo com o interesse de continuar seguindo os passos de seus antecessores, na construção do patrimônio e na sua qualificação. Atualmente diversas empresas trabalham no sistema de Holding, criado justamente para ajudar na complexidade da situação sem interferir nos relacionamentos. Dentre as diversas companhias rurais que deram certo, aplicando este sistema, está a Van Ass Sementes. Sediada em Panambi, hoje ela é reconhecida como um dos melhores modelos de parceria entre gestão de negócios e relação familiar, comprovando que esta união pode dar muito certo.

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Unindo esforços, trabalhando pesado e contribuindo para produção de sementes de qualidade, cultivadas de forma sustentável, os Van Ass, de descendência holandesa, se engajaram para continuar o sonho vislumbrado pelo avô, que chegou às terras brasileiras para dela tirar um futuro melhor aos seus descendentes. A família, que é referência no cultivo de sementes, trabalha de forma conjunta e cada membro é responsável por um segmento da empresa, administrada por sete pessoas entre irmãos e primos, que sempre se preocuparam em programar nos campos os melhores cultivares e monitorar todo o processo, até o carregamento das sementes. A Van Ass fornece seus produtos para maioria dos estados brasileiros, entre Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso. Trabalhando juntos desde o começo, souberam fazer da união a fórmula que serve de alicerce para uma empresa sólida e competitiva no mercado. “O diferencial está justamente na gestão familiar, ou seja, duas famílias que trabalham separadamente em setores específicos, mas agregam união junto à marca”, conta Alexandre Van Ass, um dos administradores.

Um pedaço da Holanda No ano de 1949, o holandês Theoodor Hermanus Hubert Van Ass desembarcou no Brasil com familiares e oito filhos. Nascidos em Venray, na província de Limburg, Holanda, o porto de Santos foi o ponto de chegada e dali instalaram-se em Holambra, no Estado de São Paulo. Em 1951 mudaram-se para a cidade de Não-Me-Toque, onde cultivavam batatas e criavam suínos. Somente quatro anos depois a família iniciou o cultivo do trigo, já no município de Ernestina. Logo nos primeiros anos de vida, o primo-

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gênito de Theoodor, Hermanus (que no Brasil passou a se chamar Germano) e seus irmãos começaram a trabalhar com a terra, dedicando-se ao plantio de diversas culturas. Mesmo não tendo oportunidade de estudar engenharia agrícola, ele e seu irmão, Leonardus, tiveram coragem para encarar os campos e usar da experiência adquirida com o pai. Os imigrantes holandeses quando chegaram ao Brasil, no início do século passado, inclusive Theodoor Van Ass, pai de Germano, já possuíam conhecimento específico em lavouras, principalmente no ramo de adubação, o que contribuiu nos primeiros anos. Além disso, antes de saírem do país de origem, o governo holandês criou o financiamento de máquinas agrícolas, que oportunizou uma semi-mecanização do trabalho. Tal fato é visto pelos membros da família como propulsor do crescimento da empresa, que procura a inovação constante como diferenciação no cultivo de grãos. A família Van Ass mudou-se para Panambi, em 1965, após adquirir uma fazenda na região de Palmeira das Missões, e não demorou muito para começar o trabalho com sementes. Após a morte do pai, Germano e os irmãos ficaram com um pedaço de terra e os demais descendentes foram deixando a cidade, com exceção de dele e do irmão Leonardus. Leonardus veio a falecer em 2001, deixando os filhos Eduardo, Leandro e Caroline. Germano teve quatro filhos: Alexandre, Fabio, Cristiano e Leslie. Desde cedo, os dois irmãos, mostraram aos filhos o valor do campo e a importância de cultivar sementes de qualidade.

O princípio da sucessão O processo de sucessão de Germano e Leonardus aconteceu ao longo dos anos e partiu dos próprios filhos. “Os pais tem muita dificuldade em fazer isso e com meu pai não foi diferente, ele tinha muito medo de ser visto como tendencioso, dando maior parte ou maior poder para um dos filhos”, relata Alexandre. Foi pensando nisso que a família contratou uma consultoria especializada em sucessão agrícola, o que, segundo os filhos, deu transparência aos negócios. Atualmente, Alexandre trabalha na parte gerencial e administrativa, sediado em Panambi. O irmão Fábio toca uma fazenda na cidade de Santo Augusto. Cris-

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tiano gerencia outra fazenda em Palmeira das Missões e a caçula Leslie, acompanha de perto o setor financeiro. Já o primo Leandro, trabalha na parte gerencial com uma unidade de sementes da mesma marca e seu irmão, Eduardo, é responsável pelo marketing e supervisão de produção da empresa. Todos os envolvidos repartem os custos do processo de comercialização das sementes. A ideia hoje é continuar trabalhando juntos. “Tradicionalmente na agricultura, todos trabalham até a partilha. Tem certas vantagens no processo, pois cada um segue seu caminho e às vezes consegue

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se fortificar, mas trabalhando junto, automaticamente, você adquire mais força”, confirma um dos filhos de Germano.

Recursos Humanos Como naturalmente a empresa familiar tem proximidade com os funcionários, a Van Ass sempre buscou treinar os trabalhadores para qualificá-los, trazendo um diferencial na produção. “Buscamos ter sempre o máximo possível de tecnologia e inovação. Obter o que é mais moderno em todas as áreas, desde máquinas, adubação e

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culturas”, afirma Eduardo Van Ass. As condições de trabalho oferecidas para os funcionários é outra preocupação fundamental da companhia rural. Conforme os gestores, o conforto no momento do trabalho sempre esteve entre as prioridades na busca de profissionais satisfeitos e competentes para realizar suas funções. No setor de sementes, a empresa conta com um consultor técnico de vasta experiência, que trabalha no grupo há 28 anos, além do Engenheiro Agrônomo Mário Luiz Gallas. Aos poucos novas pessoas foram se agregando ao grupo tornado-o ainda mais qualificado.


Mais de quatro décadas de história Em meio a fotos, vídeos e registros estão diversas fases que a empresa passou nos 44 anos de existência. “Tivemos alguns momentos ruins, muitas empresas de sementes abriam e fechavam no Estado e poucas permaneceram nessa atividade. Teve épocas que a produção de sementes era exportada para outros estados, já que aqui não havia demanda, principalmente na época de importação de sementes transgênicas da Argentina”, pontua Alexandre. Dentre as crises enfrentadas na agricultura, destacam uma ocorrida em 1995, na qual a família buscou pensar em técnicas novas para o cultivo das sementes. Hoje, os proprietários vêem a agricultura em constante crescimento e sabem que o sucesso conseguido é fruto até das dificuldades e também das decisões acertadas que precisaram ser tomadas no passado. “Há 40 anos ninguém conhecia a soja. Nossa região era de campo. Aqui em Panambi, as famílias vinham, derrubavam mato e aproveitavam aquela fertilidade natural”, acrescentou Fábio

A transição Os irmãos e primos sempre trabalhavam junto com os pais na lavoura, fator que oportunizou a união familiar. Há dois anos, com a intenção de Germano em se aposentar, os filhos buscaram ajuda de consultores para ajudar na partilha dos negócios e evitar qualquer fator que pudesse propiciar alguma desavença dentro do grupo familiar. A Holding foi de extrema importância em um momento delicado e deixou os herdeiros mais tranquilos sobre a função exercida por cada um. Depois da aplicação deste sistema, o relacionamento da família

melhorou e filhos e netos puderam ter ainda mais segurança e confiança na companhia.

Sistema Holding A Sociedade Gestora de Participações Sociais, ou Holding, é uma forma de sociedade criada com o intuito de administrar um grupo de empresas do tipo conglomerados. A Holding administra e possui a maioria das ações ou cotas das empresas componentes de um determinado grupo. Essa forma de sociedade é muito utilizada por médias e grandes empresas e visa

melhorar a estrutura de capital, é usada como parte de uma parceria com outras empresas ou dentro de famílias. Dentre as principais metas da Holding na sucessão rural, está justamente a diminuição de possíveis atritos familiares, que possam surgir durante a distribuição de tarefas e bens. Esta proteção patrimonial de pais e filhos acaba solucionando problemas de herança, que é um dos principais fatores da sucessão administrativa. A visão de empresa, criada para as futuras gerações e o despertar do interesse dos negócios para sucessões posteriores, é

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a garantia de que a Holding pode dar certo, pois permite observar que os valores pessoais do fundador e os valores culturais do grupo familiar empresarial têm sido fortalecidos, já que esclarece questões discutidas entre família, patrimônio e negócios.

A experiência O mais velho dos filhos de Germano Van Ass, Alexandre, vê os irmãos e primos como parceiros e destaca a importância da função de cada um dentro da empresa. “Isso ajuda muito, há mais liberdade. Não é muito fácil trabalhar em família, pois cada indivíduo tem suas ideias, mas a conversa e a troca de experiências são a melhor solução”. O primogênito garante ser de extrema importância reportar as ações de cada parceiro, para que haja sintonia e transparência na administração da companhia. A presença de um líder experiente (Germano), ajuda nos momentos em que se deve tomar decisões difíceis, de maior impacto. Responsável pela parte administrativa da Van Ass, Alexandre

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enfatiza que a empresa possui um comprometimento muito grande com seus clientes e, para isso, é imprescindível seriedade, ética e transparência, já que a qualidade de seus produtos sempre foi reverenciada. Segundo ele, o melhor marketing que a empresa possui é a satisfação do consumidor, que espalha para amigos e colegas agregando mais clientes. “A inovação sempre nos proporcionou estar à frente e a experiência nos trouxe segurança. A paixão que temos pela agricultura e o trabalho com a família são fatores que nos movem e nos identificam com nosso cliente”. Alexandre começou sua carreira na empresa ajudando o pai, já no final da Faculdade de Agronomia, em 1994, mas desde pequeno teve

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a oportunidade de acompanhar de perto Seu Germano na lida com a lavoura e lembra, que desde o início quis seguir este caminho. Formado em Técnico Agrícola no Colégio Presidente Getúlio Vargas, em Três de Maio, Alexandre saiu de casa com apenas 14 anos e voltou aos 25, depois de se formar em Agronomia na Universidade de Passo Fundo – UPF. Ele garante que todo o caminho percorrido foi uma experiência ímpar, na qual conquistou muitos amigos, aprendeu a teoria e acompanhou a prática de perto.

Gestão de respeito Fabio, irmão de Alexandre, vê a sucessão rural na Van Ass de forma positiva, já que por ser uma gestão familiar é muito respeitosa e de confiabilidade mútua, o que torna a empresa muito sólida e com força para permanecer crescendo. O engenheiro agrônomo, supervisor de produção, é o responsável técnico dos campos de produção de sementes. Sua função é planejar e conduzir os campos da semeadura até a colheita e beneficiamento, coordenando os tratos culturais e manejos necessários durante o ciclo das culturas. Ele acredita que a Van Ass se


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destaca no ramo de sementes pela seriedade e competência do trabalho dos seus sócios gestores, da capacitação técnica da equipe de trabalho, e, principalmente, pela qualidade da semente produzida. “Participei efetivamente dentro da empresa desde 1996, com minha formação, desde então minhas atividades prezam sempre pela qualidade do produto e por uma gestão de respeito compartilhada entre irmãos e primos”. No futuro, Fábio vê a gestão dos negócios compartilhada com seus filhos, desde que tenham interesse e formação para trabalhar na empresa. “A ideia é crescer, aumentando o volume de produção, sem nunca diminuir a qualidade e atendendo a demanda crescente por sementes”.

Amor na produção Cristiano é Engenheiro Agrô-

nomo e responsável técnico da Fazenda Limburgia, pertencente ao Grupo Van Ass. Auxilia na manutenção de equipamentos e atividades diárias, além de dar suporte na parte de sementes, com vistoria de campos e pós-venda a clientes. O filho de Germano acredita que a Van Ass consagrou- se no mercado de sementes por sua qualidade, tradição e confiança, ao longo das mais de quatro décadas de produção. “A Van Ass também possui um grande portfólio de cul-

tivares de soja, trigo, aveias preta e branca, triticale e feijão. Mas, além de tudo, há outro fator muito importante, que é o amor de cada um de nós pela produção de sementes”. Foi em 2003, logo após se formar em Agronomia pela UPF, que Cristiano começou a trabalhar na fazenda. Primeiramente sem uma função definida e dando suporte ao seu irmão, mas ele foi recebendo abertura da família e oportunidade de mostrar seu trabalho, tornando-se então, o responsável técnico pela Limburgia. “Isso levou em torno de um ano, mas foi uma experiência válida, pois tive de provar que era capaz e tinha responsabilidade para assumir a função”.

O progresso A caçula dos filhos de Germano, integrante do setor financeiro da companhia, se vê como parte de uma família empresária. Conforme Leslie há regras e hierarquia que são respeitadas por todos, porém esclarece, que por não existir formalidades entre os irmãos e primos, é mais fácil tomar decisões conjuntas. Ela acredita que os caminhos de

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sucesso tomados pela empresa devem-se principalmente pela tradição conquistada pelas gerações e, sobretudo, pela qualidade de seus produtos. Sua participação na empresa iniciou em 2005, quando ainda residia em Passo Fundo e cursava Arquitetura e Urbanismo. Como sempre esteve inserida no contexto da empresa familiar e do agronegócio, decidiu fazer parte integralmente da Van Ass Sementes, e assim foi intensificando sua atuação. “Todo esse processo serviu para crescermos como empresa e família, o que é muito gratificante”,

Valores Um planejamento estratégico, com normas, regras e procedimentos, que ajude na organização e no cotidiano da empresa é de fundamental importância para a construção de uma gestão de sucesso. É isso que pensa Leandro Van Ass, filho de Leonardus, uma das peças chaves no setor gerencial da companhia. Ele percebe que o segredo para o funcionamento de uma empresa de gestão familiar é o comprometimento, que serve como base para relação. “Dentro da

empresa atuo no gerenciamento, participo de reuniões com fornecedores, parceiros comerciais e clientes de grande porte, além dos sindicatos rurais”. Além disso, ele acompanha a movimentação de vendas e estoques. Com o departamento comercial define a política de vendas das sementes, que viabiliza a demanda e escolha de cultivares, análise da carteira de clientes e a visita aos fornecedores. Junto com o departamento financeiro analisa as contas a pagar e receber, o fluxo de caixa e balanço patrimonial.

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for à vontade dos filhos, dar continuidade ao negócio e para isso, eles terão total apoio e motivação”.

Sobre a administração da empresa, em termos de futuro, conta com o apoio de parceiras especializadas em gestão e sucessão rural, sabe que o aprendizado do pai e avô serviu de alicerce e que os ensinamentos ainda serão repassados aos filhos e futuros netos. “Justamente pela gestão da Van Ass ser entre os primos e irmãos, é que é necessária uma relação de extrema confiança. São esses valores que pretendo passar para próxima geração, que um dia irá herdar tudo isso”, conclui Leandro.

Nova sucessão Eduardo Van Ass, irmão de Leandro, trabalha diretamente com o marketing e supervisão de produção da empresa. Ele acredita que a companhia terá ainda mais qualidade em organização, sistemas de informações, gestão de custos e riscos e no controle da qualidade dos produtos. “Estamos no caminho certo. A empresa está crescendo e junto precisamos inovar e buscar uma equipe de alto desempenho, que seja capacitada, bem treinada, motivada e criativa”. Sabe que em uma gestão de sucesso é necessário buscar novos conhecimentos para melhoria da

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empresa, além de tornar os controles (financeiro e de qualidade) mais eficientes. “Os membros da família que participam do negócio devem ser profissionais lá dentro, cumprir com eficiência a sua função determinada. Devemos ter metas e sabermos todos onde a empresa quer chegar”. Com muita tecnologia, a próxima geração de descendentes deverá estar muito bem capacitada, com conhecimento e muita vontade, acredita Eduardo, que vê o futuro voltado para biotecnologia, nutrição de plantas, grandes máquinas, muito modernas e mais eficientes. “Estamos agora preparando a nova sucessão, queremos deixar a empresa bem organizada e, com certeza, se

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A força da união fez a diferença na vida dessa família, que retirou dos ensinamentos dos mais experientes, a semente de um ciclo de trabalho que germinou e deu certo. A família Van Ass é a prova de que a sucessão rural de qualidade não está apenas no repasse dos ensinamentos técnicos através das gerações, mas sim no amor pela produção, ensinado durante toda uma vida.


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AGROTECNO LEITE

“Ainda temos m para PRODUZ Ari Rosso, presidente da feira, fala sobre as expectativas da 7ª edição do evento

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o dia 25 de setembro inicia a 7ª edição da Agrotecno Leite. “Planejando o futuro sustentável” é o tema da feira deste ano, que mobiliza o setor leiteiro de Passo Fundo e região. O centro de eventos e campos de pesquisa da Universidade de Passo Fundo será palco para exposições, palestras, mostras, comercialização de animais, máquinas e implementos. A participação da agroindústria, através de uma parceria com a Secretaria Estadual da Agricultura Familiar, Pesca e Cooperativismo e com a EMATER/ ASCAR, traz novidades e aumenta a expectativa de público, que no ano passado ultrapassou 10 mil pessoas. A Revista Destaque Rural conversou com o presidente da feira, Ari Rosso, que falou sobre a importância de um evento que evidencia os benefícios de consumo do leite.

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ARI ROSSO, Setembro e Outubro - 2013

Rio Grande do Sul - Ano I - nº 2 PRESIDENTE DA AGROTECNO LEITE

Destaque Rural– Como surgiu a ideia de criar um evento específico para o leite? Ari Rosso - Agrotecno Leite é uma feira, coordenada pelo Sicredi, que surgiu da necessidade da região em falar sobre o assunto. O evento, que acontece há sete anos, veio justamente em um momento que a região passava por grandes dificuldades, entre 2005 e 2006. Foi nessa época que se debateu muito sobre a busca de alternativas e diversificação das culturas. Deste debate, surgiu a ideia de promover um evento que discutisse a cadeia do leite e o que se desenhava neste panorama,principalmente na região Norte. A primeira edição surgiu no ano de 2007 e teve um público de aproximadamente 3 mil participantes. Ano a ano ela veio crescendo, com o objetivo de levar conheci-


muito ZIR” mento ao produtor e técnicos. Hoje, a feira é focada em conhecimento, novas tecnologias e qualidade do produto. Isso se alinha à cadeia do leite, ao produtor, profissionais liberais da área, comércio, indústria de máquinas, implementos e insumos. Pensamos sempre em proporcionar momentos de debates, aprendizado, acesso a novas tecnologias, grandes negócios, inclusive a todo o segmento acadêmico. Nós enxergamos os estudantes como futuros profissionais de sucesso e proporcionamos a eles uma forma de encontrar informações através das palestras, estações de campo e mostras. Destaque Rural – O escândalo da adulteração do leite, gerou um decréscimo no consumo? Rosso - A feira tem o propósito de levar o domínio de todo o processo de produção do leite. Para o produtor, buscamos proporcionar conhecimento para que ele procure a tecnologia que traga mais qualidade ao produto. A produção do leite no Brasil ainda tem muito a crescer, pois estudos mostram que o consumo médio é muito

baixo e diminuiu em virtude desse escândalo. Para se ter uma idéia, no nosso país, se toda a população tomasse a quantidade de leite necessária, segundo recomendações do Ministério da Saúde, iria faltar muito leite além do que se produz e do que se vende. Essa área ainda tem muito espaço a ser explorado, mas o que precisa é a formação de um grande debate e ampliação do conhecimento sobre a importância do leite para a saúde das pessoas. Pensando, justamente nessa deficiência de consumo, foi criado dentro da Agrotecno Leite um projeto chamado “Beba Leite”, que leva crianças das escolas até a feira para conhecer a produção do leite, por onde ele passa e a importância que isso faz na saúde delas. No Brasil o consumo por habitante é de 187 litros por ano, enquanto países mais desenvolvidos esse número sobe para 200 litros, que é justamente a recomendação do Ministério da Saúde. Até alcançarmos o consumo recomendado, teremos muito para produzir na nossa região, no estado e no Brasil.

Destaque Rural - Este ano haverá participação da agroindústria familiar, como irá funcionar? Rosso - Uma das coisas que o produtor precisa ter em mente é a forma como ele pode ter renda dentro da sua propriedade. A agroindústria é importantíssima para isso, temos vários exemplos que tratam dessa importância. Através da parceria com o Governo do Estado, pela Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo da Emater, aqui coordenado pela regional de Passo Fundo, a agroindústria mostrará na feira como ela é desenvolvida e quais as vantagens que traz ao produtor de leite. Destaque Rural – Qual a expectativa de público? Rosso -A Agrotecno Leite trabalha, desde suas últimas edições com cerca de 10 mil participantes, dos 71 municípios que a Emater atende na região, isso representa aproximadamente 20 mil propriedades. Temos trabalhado com o público que quer novas informações e busca isso conosco. Além disso, nosso amplo espaço tem condições de atender até 12 mil pessoas, que é o esperado este ano.

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MILHO BT

O produtor precisa fazer sua parte A A tecnologia espalhou-se há pouco no Brasil, mas já representa cerca de 80% das sementes comercializadas.

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orientação aos produtores, sobre as boas práticas de manejo da resistência de insetos nas lavouras de Milho Bt e o milho geneticamente modificado resistente a pragas, possibilita a racionalização do uso de defensivos e é uma preocupação cada vez mais difundida nos campos. Além disso, a proteção do potencial de rendimento da lavoura é algo cada vez mais necessário. Buscando solucionar a falta de informação recorrente no campo, a Associação Brasileira de Sementes e Mudas – Abresem, promove uma série de encontros em todo o país, que faz parte da campanha nacional de conscientização iniciada pela entidade. Cerca de 70 produtores rurais de Passo Fundo e região participaram da palestra “Manejo Integrado da Tecnologia Bt”, ministrada pelo consultor José Magid Waquil, PhD em Entomologia. Ele falou aos produtores sobre a importância do manejo de resistência de insetos para evitar o processo de seleção de insetos-praga, resistentes às toxinas produzidas pelas plantas geneticamente modificadas. Além disso, trouxe a importância de preservar a eficiência e o potencial da tecnologia Bt, evitando prejuízos à lavoura. Conforme Waquil, a campanha de conscientização dos produtores é de extrema importância. “O otimismo é uma característica inerente ao produtor rural e faz parte de sua natureza. Com isso, existe um sentimento de que a indústria sempre conseguirá se superar e criar novas tecnologias que solucionem os problemas. Mas o agricultor precisa


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entender que a capacidade da ciência não é infinita e que ele precisa fazer a parte dele”. Boas práticas de manejo O Milho Bt é obtido por meio da transformação genética de plantas de milho com genes da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), fazendo com que a planta produza proteínas tóxicas para algumas espécies de insetos. A tecnologia, criada em 1997, nos Estados Unidos, espalhou-se rapidamente devido a sua eficiência e há pouco mais de cinco anos é utilizada no Brasil, representando atualmente cerca de 80% das sementes de milho comercializadas no país. Mesmo com a produção contínua das toxinas ao longo do ciclo, as plantas Bt podem não controlar todas as pragas existentes, pois na população destas podem existir indivíduos naturalmente resistentes. Daí a importância do manejo integrado. Investindo simultaneamente no plantio de refúgio (plantio de áreas de milho não Bt adjacentes à

plantação de Milho Bt) e em outras práticas como a dessecação antecipada seguida de inseticida, controle de plantas daninhas, tratamento de sementes, monitoramento seguido de inseticida e rotação de culturas, o produtor conseguirá garantir a longevidade da tecnologia. Os pesquisadores consideram que a melhor maneira de evitar o desenvolvimento de populações de insetos resistentes ao Milho Bt é combinar lavouras dele e áreas plantadas com híbridos sem esta tecnologia. Dessa forma, os poucos possíveis insetos resistentes que sobreviverem na lavoura Bt irão cruzar com insetos suscetíveis presentes na lavoura de milho não Bt. Algumas possibilidades de “desenho” da lavoura, utilizando refúgio, estão disponíveis no site da campanha. “A indústria fez a parte dela ao disponibilizar essa tecnologia que foi um grande achado para a agricultura mundial. Mas é necessário que o produtor adote as práticas corretas de manejo de resistência de insetos para evitar a evolução dessa resistência”.

MANEJO DE RESISTÊ

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Adoção de áreas de refúgio

O plantio e manutenção das áreas de refúgio representam os principais componentes do plano de Manejo Integrado da Resistência (MIR) das culturas Bt. O objetivo é manter uma população de insetos-praga-alvo da tecnologia Bt sem exposição à proteína Bt.

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Dessecação antecipada seguida de inseticida

As culturas antecessoras, assim como as plantas daninhas e voluntárias presentes no ambiente, podem hospedar as principais pragas que atacam a cultura do milho na fase inicial, influenciando a espécie predominante e a pressão inicial das pragas. Assim, no sistema de plantio direto, a pressão de pragas na fase inicial da cultura pode ser maior quando comparada ao sistema de plantio convencional.

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Controle de plantas daninhas

Algumas plantas daninhas podem hospedar insetos-praga das culturas subsequentes, permitindo que uma quantidade significativa sobreviva nas áreas de cultivo no período da entressafra. Além disso, podem ser fontes de lagartas e apresentam maior dificuldade de controle pela tecnologia Bt.


ÊNCIA DE INSETOS:

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Tratamento de sementes

O Tratamento de Sementes (TS) é uma prática que visa o controle de pragas subterrâneas e iniciais da cultura, período de grande suscetibilidade às pragas. Os danos causados por essas pragas resultam em falhas na lavoura devido ao ataque às sementes após a semeadura, danos às raízes após a germinação e à parte aérea das plantas recém-emergidas.

5

Monitoramento seguido de inseticida

O monitoramento das lavouras é de fundamental importância. É a partir dele que toma-se a decisão de realizar ou não uma aplicação complementar de inseticida na lavoura.

6

Rotação de culturas

A rotação de culturas consiste em alternar o plantio de diferentes espécies de culturas na mesma área agrícola. Com ela, o produtor melhora as propriedades físico-químicas do solo e reduz a população inicial de alguns insetos-praga da cultura.

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ADMINISTRAÇÃO RURAL

Como fazer uma

gestão de qualidade? A Revista Destaque Rural traz dicas para o produtor conduzir seu negócio

O

bom desempenho das propriedades rurais hoje, e no futuro, depende como elas serão conduzidas. Dentre vários fatores, como políticos, sociais, naturais e competitivos, está a vontade do dono de ver seu negócio crescer e prosperar. Mas como começar? Quais desafios virão pela frente? Qual a principal dificuldade enfrentada pelos produtores de pequeno e médio porte? A Revista Destaque Rural conversou com o Bacharel em Gestão de Empresas Rurais, Marcio André Ücker, que fez pontuações importantes para quem quer se tornar um gestor de futuro. Os desafios da gestão Conforme Ücker, bacharel pela Universidade de Cruz Alta (Unicruz), o principal desafio enfrentado pelo produtor rural, em termos de gestão, é ter o real controle de seu negócio, receitas, despesas e contas a pagar. Ele acredita que o produtor tem, na verdade, medo de saber se sua empresa rural possui resultado positivo ou negativo, receoso de que seu negócio seja deficitário. “Analisando esta última safra, temos a certeza de que o resultado é positivo, mas se considerar o fardo que o produtor carrega das últimas safras frustradas, em que não possuía nenhum mitigador de risco (Proagro ou Seguro Agrícola), a conta com certeza não fecha”.

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Conceitos de uma boa gestão Para Ücker, o produtor tem sempre que pensar sua propriedade como uma empresa que precisa dar lucro, portanto, é aconselhável a criação de estratégias para elevar sua produtividade e seus resultados, analisando sempre os mercados, clima, planejamento de culturas, áreas, mitigadores de risco e tudo que envolve seu negócio. O correto, segundo ele, é que o produtor rural, quando finaliza uma safra, logo inicie o planejamento de suas próximas atividades analisando vários fatores, o que é muito importante nos dias atuais para evitar endividamento. “Colocar no papel suas receitas e despesas é obrigação, além de saber quanto estou ganhando ou perdendo em cada atividade desenvolvida, se este passo puder ser feito com o auxílio tecnológico (sistema de computador), melhor. Porém, independente da forma que o produtor utilizar para fazer esta etapa, a organização é sempre válida”, aconselha. Os preceitos são os mesmos para o pequeno ou grande produtor, mas com algumas diferenças que precisam ser levadas em consideração. O pequeno agricultor, por trabalhar em regime familiar, controla e organiza de


forma mais simplificada, inclusive suprindo alguns grupos de despesas. O médio e grande produtor, por envolver números maiores e riscos mais elevados, deve ser mais eficiente nos procedimentos, ou seja, levantar todos os grupos de despesas que englobam o seu negócio e em cada atividade que é essencial, sob pena de inviabilizar economicamente sua propriedade.

seu controle de forma própria”. Aos que estão começando no gerenciamento de uma propriedade, Ücker adverte que primeiramente deixe alguém do seu grupo familiar como responsável por esta tarefa.“Um filho, a esposa ou outra pessoa de confiança. Se as condições financeiras da família permitirem pode ser contratado um profissional especializado para este fim”.

Problemas recorrentes Em problemas enfrentados pelo produtor em anos difíceis, como por exemplo, a safra 2011/2012, que no verão inviabilizou muitas atividades pela estiagem e, na safra de inverno sofreu perdas significativas devido ao granizo e a geada, os produtores acabam buscando ferramentas para maximizar seus resultados. “Muitos iniciam o processo, chegam a adquirir um software, fazer treinamentos, mas acabam desistindo, antes de finalizar uma safra”. Marcio explica que isso ocorre porque alguns produtores não vendo o resultado imediato, já que se trata de um processo longo e, acabam desistindo. Outros ainda não concluem o processo justamente porque a safra seguinte está revertendo em bons frutos e deixam os planos de lado. “Deve-se persistir. Sabemos que a correria do dia a dia é grande, que muitas vezes não sobra tempo para organizar notas fiscais, recibos e planejar a agenda financeira, mas tudo é uma questão de cultura, organização. Se o produtor elencar um ou dois na semana dedicados à gestão de documentos, consegue chegar num resultado bem eficiente, talvez não o ideal, mas muito próximo disto”. Tecnologia aliada à produção A tecnologia na propriedade é imprescindível, e de acordo com bacharel em Gestão de Empresas Rurais, um dos grandes problemas do setor é a mão de obra. Assim, há necessidade cada vez maior de aquisição de máquinas, implementos e equipamentos maiores, que supram a demanda de contratação de pessoal. Atualmente, vários são os softwares de gerenciamento que permitem excelente resultado, mas são complexos e exigem bastante do produtor. Em contrapartida, levam o controle adiministrativo da propriedade de forma eficaz. “Ao longo do tempo, vi muitos se adaptarem e criarem planilhas em Excel, fazendo

O papel da esposa Ele percebe que nos tempos atuais, a esposa tem desempenhado um papel muito importante, principalmente nos produtores tidos como médio e grande, ajudando no gerenciamento da propriedade, já que desejam que esta continue prosperando como segurança para as gerações futuras. “A necessidade de implantação de ferramentas tecnológicas para fazer este processo é bem importante, pois facilita e agiliza em muito o procedimento de controle. Outro instrumento importante é o mapeamento da propriedade, no qual se verifica, precisamente, as áreas de lavoura, matas, banhados, campos, etc. A nomenclatura das lavouras e campos é necessária para que o produtor tenha conhecimento absoluto de sua propriedade, sabendo exatamente onde e como agir, podendo programar a compra de insumos para determinada área e evitando gastos indevidos. Assim como saber exatamente o andamento da produção de cada talhão trabalho que se torna bastante importante em função das novas exigências no Novo Código Ambiental Brasileiro. Ücker alerta ainda sobre a importância da gestão. “Tão importante quanto à gestão da propriedade é também planejar o financiamento de suas atividades, esse sem sombra de dúvidas é o caminho do sucesso”, garante.

Princípios para uma gestão eficaz - Criar estratégias - Mapear a propriedade - Planejar as próximas atividades, ao final de cada safra - Colocar no papel suas receitas e despesas - Nomear alguém do seu grupo familiar como responsável pelo controle - Buscar tecnologias que auxiliem no gerenciamento da propriedade

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CT& Bio GILBERTO R. CUNHA

O admirável (ou nem tanto) mundo novo da biologia sintética

Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura - Embrapa Trigo

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a fusão entre a biologia e a engenharia surgiu o que se convencionou chamar de biologia sintética. Uma área do conhecimento, vista por alguns como algo totalmente novo, e, por outros, como um mero eufemismo que se presta unicamente à sofisticação da surrada expressão “engenharia genética”. Discussões acadêmicas à parte, a que se considerar que, se no começo da engenharia genética, a biologia foi preponderante, mais especificamente a genética, mesmo que a área biológica não tenha perdido terreno, em biologia sintética, os preocedimentos e as visões da engenharia ganharam maior expressão. Como é comum acontecer em toda área do conhecimento relativamente nova, em biologia sintética também abundam especulações sobre aplicações potenciais, algumas, inclusive, nunca antes imaginadas. Por meio da criação dos chamados circuitos biológicos e da escrita de novos programas genéticos, muitos vislumbram que serão encontradas as soluções para os grandes problemas que hoje afligem a humanidade, como são os casos da fome, das doenças e do abastecimento energético. A visão de engenharia, no uso de genes e proteínas como blocos de construção para criar novos tipos de células e outras funções para as células, é o que deu sentido de aplicação à biologia sintética, via criação de organismos com novas características. Evidentemente, que para combinação de genes de um jeito novo e interessante, tem que se entender muito de biologia e, simultaneamente, não se pode prescindir da ciência e da criatividade dos processos de engenharia e nem de habilidades e domínios nas áreas de tecnologia da informação e computacional. A biologia sintética, assim se pode dizer, começou com a manipulação genética. Um dos marcos nessa trajetória foi a descoberta, por Hamilton Smith, em 1968, das enzimas de restrição, que têm a capacidade de cortar o DNA em sequências específicas. Essa descoberta foi revolucionária por ter permitido que pedaços de DNA fossem cortados e posteriormente colados. Marcou o início da engenharia genética, especialmente com a complementação de Herbert Boyer e Stanley Cohen, de 1972, envolvendo a transferência de plasmídeos (pequenos fragmentos circulares de DNA) de uma célula para outra. Sendo estabelecido que dois pedaços de

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DNA, quando cortados com a mesma enzima de restrição, podem ser também colados foi encontrado um jeito de corta e colar DNA envolvendo organismos diferentes. Estava dominada a transferência de genes de animais e plantas, por exemplo, para dentro de uma bactéria usando plasmídeos e enzimas de restrição. Foi uma revolução na indústria farmacêutica. A empresa Eli Lilly, em 1982, depositou a patente do processo de produção de insulina humana pela inserção do gene responsável em uma célula bacteriana. Era, em outras palavras, a transformação de uma bactéria em uma fábrica de insulina humana. Até aqui, apesar do significado simbólico e os resultados práticos vultosos, como a mudança radical do processo de produção de insulina humana, ainda lidamos com muita biologia e pouca engenharia, tais como, classicamente, entendemos essas ciências. Á guisa de exemplo, podemos dizer que um engenheiro eletricista costuma pensar em termos de circuitos elétricos, por meio dos quais um comando externo se traduz em uma ação ou uma cadeia de ações. Em biologia também se pode imaginar circuitos relacionados com a síntese ou não de determinadas proteínas, seguindo o comando de genes ao estilo liga/desliga. Um sinal externo, térmico ou hídrico, pode ligar ou desligar genes diferentes em uma célula. Tão logo se conseguiu, pelos caminhos da biologia, operacionalizar a movimentação de genes entre células de organismos diferentes, os engenheiros começaram buscar meios para que múltiplos genes pudessem ser combinados de outras formas, criando espécies de circuitos genéticos não encontrados na natureza. Isso envolveu a programação de circuitos biológicos capazes de criar funções celulares até então desconhecidas. Um exemplo de aplicação relevante foi conseguido, em 2005, por Jay Keasling, relacionado com a incorporação de um grupo de genes em uma levedura, viabilizando, com isso, a produção sintética da droga mais usada no tratamento da malária (artemisinina). Em agricultura, há muito ainda a ser explorado, diante dessa nova visão de síntese que se afigura em biologia. É o passo além da transgenia em biologia avançada.


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