Fevereiro e Marรงo - 2014 Fevereiro e Marรงo - 2014 Rio Grande do Sul - Ano I - nยบ 4
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Editorial
Editora Riograndense CNPJ 17.965.942/0001-07
Prato cheio
Se depender dos Campos de Cima da Serra, as panelas de feijão Brasil afora não ficarão vazias. A região se consolida como uma das principais produtoras do grão no estado e, de quebra, sinaliza uma nova tendência – o cultivo em grandes áreas. Mais de mil hectares de feijão carioca cobrem parte da propriedade da família Barison. Há sete anos, o presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas, Narciso Barison, e seus filhos, Tarso e Rodrigo, apostaram no preferido dos brasileiros. O país é o maior consumidor do mundo. A média por pessoa chega a quase 19 kg por ano. Na região Sul, a preferência é pelo feijão preto, mas a grande demanda é por feijão carioca. E é pensando nesse nicho que os produtores do Rio Grande do Sul estão apostando na variedade. Além do mercado favorável, a forma de comercialização também atrai os agricultores. Pagase à vista o produto e os grãos ficam estocados pouco tempo. Com tamanha representatividade, nada mais coerente do que dedicar as páginas principais desta edição ao queridinho das cozinhas de Norte a Sul do país. Afinal, o prato cheio é reflexo de campos cobertos, de tecnologia de ponta, de apostas certeiras. Boa leitura e um
Inscrição Municipal 66829 Endereço Rua Bento Gonçalves, 50 - Centro Cep 99010-010 Diretor Leonardo Wink Jornalista Responsável Tainara Scalco (MTB 17.118) Jornalistas Fabiana Duarte Rezende Tainara Scalco Colunistas Gilberto Cunha Elmar Luis Floss Projeto Gráfico e Diagramação Cássia Paula Colla Foto de capa André Lui Bernardo Revisão Débora Chaves Lopes Impressão Gráfica Tapejarense Site www.destaquerural.com.br Contatos Facebook/Destaque Rural leonardowink@destaquerural.com.br (54) 9947- 9287 (54) 3601- 0100
ótimo apetite!
Circulação Tapejara
 Santa Bárbara do Sul
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Carazinho Colorado Condor Cruz Alta Erechim Espumoso Frederico Westfalen Getúlio Vargas Ibirubá Ijuí Júlio de Castilhos Lagoa Vermelha Marau Não-Me-Toque Palmeira das Missões Panambi
Passo Fundo Pejuçara Salto do Jacuí Sananduva Santo Ângelo Santa Bárbara do Sul Santa Rosa Sarandi Sertão Selbach Soledade Tapera Tapejara Três de Maio Tupanciretã Vacaria
Índice CAPA
Carioca em solo Gaúcho Págs 24 a 32.
Coluna
Elmar Luiz Floss
Construção de raízes visando altos rendimentos Pppppnvcmvk f pág. 6
Evento 1º Encerramento da Colheita do Trigo
Pulverização Aviação Agrícola
pág. 12
Manejo Estratégia de Combate
Lavoura Lei de Cultivares pág. 16
Mercado O Gargalo Governamental pág. 8
Sustentabilidade Irrigação pág. 18
Conhecimento Dia de Campo Roos: tecnologia de ponta
Tecnologia Pneus Radiais: garantia de resultados
pág. 10
pág. 22
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pág. 22
pág. 39
Inovação Sem furos no bolso pág. 43
CT&Bio
Gilberto Cunha
O testamento de Sir Albert Howard pág. 46
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Construção de raízes Elmar Luiz Floss Engenheiro Agrônomo e licenciado em Ciências, Dr. em Agronomia, Diretor do Instituto Incia
visando altos rendimentos
Para obtenção de altos rendimentos de nossas principais culturas há necessidade de um maior volume de raízes (número e comprimento), em contato com o volume de solo, para aumentar a eficiência de absorção de água e nutrientes. Na medida em que o rendimento obtido, pela melhoria do potencial genético dos cultivares e o uso mais adequado das tecnologias disponíveis, a necessidade de nutrientes extraídos e exportados pelas culturas é proporcionalmente crescente. E esse maior rendimento das culturas está sendo obtido em menos tempo, pois o ciclo de desenvolvimento é cada vez mais curto. Portanto, a eficiência de absorção precisa ser maior. A redução da estatura dos cultivares modernos é vantajosa sob vários aspectos, como a redução do acamamento, mais responsivos à aplicação de fertilizantes e maior eficiência na produção. A planta, ao invés de produzir mais palha, produz maior quantidade de produto econômico, os grãos. Mas, essa redução na biomassa da parte aérea das plantas também ocorre com o sistema radicular, que é mais superficial. O sistema radicular mais superficial reduz o contato das raízes com os nutrientes dissolvidos no solo. Por vezes, mesmo com alta disponibilidade de nutrientes no solo, observado na análise, a nutrição da planta não é adequada, pois faltou raiz para a absorção dos mesmos. Esse problema agrava-se em anos de estiagens ou mesmo pequenos veranicos. Além disso, há uma ineficiente absorção de nutrientes e diminui o acesso das raízes à água. O solo vai secando uniformemente de cima para baixo e, com um sistema radicular superficial, em poucos dias as raízes não alcançam mais a água. Assim, ajudar as culturas a formar mais raízes é uma espécie de seguro contra estiagens. No caso da soja, a formação de raízes ocorre preferencialmente até a quinta folha. Depois, a prioridade da planta passa ser o crescimento da parte aérea (ramificações) até a floração e, a partir desse estádio, a formação de flores, vagens e grãos. Existem vários fatores que devem ser considerados para o aumento do crescimento das raízes, como melhor estrutura física e química do solo, maior vigor das se-
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mentes, a alta disponibilidade de nutrientes (especialmente nitrogênio, cálcio, fósforo, enxofre e boro), ausência de alumínio tóxico, os biorreguladores vegetais, o tratamento de sementes com inseticidas e fungicidas. Solos com boa estrutura física têm maior permeabilidade, o que facilita o desenvolvimento de raízes, especialmente, em profundidade. A compactação superficial do solo é, principalmente, observada em áreas de pastejo no período de inverno, ou compactada por ação da chuva, por ficarem descobertas no período de inverno. Nesse caso, a semeadura, utilizando botinha, já melhora significativamente o crescimento de raízes. Esses solos melhor estruturados também retêm mais água quando chove e fica disponível para períodos de falta de chuva. Quando cobertos por palha, também haverá menor perda da água do solo por evaporação. Também a acidez, a presença de alumínio tóxico e a falta de cálcio em profundidade limitam o crescimento de raízes. Geralmente, observa-se, um pH alto nos primeiros 5cm de profundidade e ainda acidez em profundidade. Isso leva, naturalmente, a formação de um sistema radicular mais superficial. O calcário aplicado na superfície desce lentamente no solo. Esse processo pode ser acelerado pelo cultivo de aveia-preta no inverno e a aplicação superficial de gesso. Quanto maior o vigor da semente mais rápida e uniformemente ocorre a emergência, formando um plântula mais vigorosa e que tem maior capacidade de enraizamento. Entretanto, até a quinta folha da soja, não pode haver deficiência de nitrogênio, fósforo, enxofre, cálcio e boro no solo para que o crescimento radicular ocorra. A formação de raízes também requer os biorreguladores como a citocinina (aumenta o número de raízes), auxinas (aumenta o comprimento de raízes), os aminoácidos: metionina, glutâmico e triptofânio, e a vitamina Bi (tiamina). Esses produtos enraizadores devem ser aplicados, preferencialmente, via tratamento de sementes. Finalmente, há necessidade de realizar o tratamento das sementes com inseticidas e fungicidas para evitar a destruição de raízes pelas pragas e patógenos presentes no solo. Além da escolha daquele inseticida ou fungicida mais eficiente para o problema existente, deve-se dar preferência aqueles que também promovem o crescimento de raízes.
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Tiago Dalla Corte, Chefe de Mesa de Operações de Bolsa de Valores e Futuros.
NEGÓCIOS
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MERCADO
O Gargalo Governamental
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e acordo com o IBGE e com o MAPA, nas últimas 20 safras a produção de soja aumentou mais de 350%, consolidando-se acima dos 80 milhões de toneladas. A produção de milho consolidou valores superiores a 55 milhões de toneladas, aumentando mais de 120% nas últimas 20 safras. A área de grãos elevou-se em 30% acima dos 50 milhões de hectares e a produção total de grãos está acima de 150 milhões de toneladas. E existe espaço para números maiores. Nos últimos anos, várias discussões surgiram com o intuito de fortalecer a presença do agronegócio brasileiro no mercado mundial. Não é surpresa que dentre os principais entraves ao crescimento e ao acesso do agronegócio brasileiro ao mercado mundial estão, de forma consensual, os gargalos em intraestrutura, os atrasos com o uso de biotecnologia, a concentração de mercados e o protecionismo dos países ricos. Porém, existe um grande gargalo que poucas vezes tem sua condição debatida e suas debilidades expostas: o gargalo governamental na diplomacia. Para a completa compreensão sobre seu efeito negativo, na inserção internacional do agronegócio brasileiro, é necessário retratar os fatores determinantes para sua consolidação. No pós-guerra, o Brasil apresentava uma geração rural. Somente 36% da população residiam na área urbana enquanto 64% da população residiam no meio rural. A agricultura era voltada para a subsistência. Não havia indústria de base e mercado de capitais desenvolvidos. As soluções surgiam do Governo. A criação de várias empresas estatais, com destaque para as empresas “Brás” e o processo de substituição de importações, ganharam força. O esforço dirigido de modernização da agricultura brasileira começou em 1965 com a criação do Sistema Nacional
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de Crédito Rural (SNCR) e a reformulação da PGPM (Política de Garantia de Preços Mínimos). Ambas as políticas subsidiaram a expansão da fronteira agrícola e o crescimento da produção de grãos no país. Essas prioridades do governo no setor agrícola, em conjunto com o uso extensivo de terras e de uma produtividade crescente, garantiu um crescimento rápido para a agricultura. Os programas do governo e, em alguns casos, investimento estrangeiro, estimularam a rápida ocupação do Centro-Oeste brasileiro. Assim, fica claro que a partir desse período, o desempenho do setor agrícola brasileiro foi fortemente influenciado por decisões de governo para estimular a produção através dos instrumentos de política agrícola. Esses instrumentos foram baseados, principalmente, em crédito barato e abundante e em programas de suporte de preços e estocagem. O início dos anos 90, entretanto, foi marcado pelo início de um novo governo e por turbulências macroeconômicas que afetaram os investimentos no setor. Nesse período, o volume de crédito concedido pelo Sistema Nacional de Crédito Rural, em termos reais, foi inferior aos períodos anteriores. O desequilíbrio fiscal do setor público havia chegado a um ponto crítico. O crédito rural, nesse período, teria atuado como um fator de compensação das distorções macroeconômicas impostas à agricultura, porém, de forma ineficiente, dada
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a sua distribuição concentrada. Com a internacionalização do agronegócio brasileiro nos anos 2000, mudanças ocorreram no destino e na pauta de exportações do agronegócio brasileiro. Nos gráficos podem-se visualizar as principais mudanças entre 1997 e 2010. Devido ao dinamismo do mercado mundial e às políticas de estímulo à exportação que privilegiava produtos industrializados, houve perda de importância dos produtos tradicionais e aumento da importância de produtos, até então, não tradicionais entre as exportações de produtos de base agropecuária. Nesse sentido, produtos como o café, cacau e algodão foram perdendo sua importância nas exportações para produtos como complexo soja, açúcar e carnes. Com relação ao destino das exportações, embora tenha perdido participação, a União Europeia continua sendo o maior destino das exportações do agronegócio brasileiro. Em 1997, a União Europeia recebia 42,90% da exportação do agronegócio brasileiro. Já, em 2010, esse valor caiu para 35,8%. Cabe destacar que a Europa comprou (e ainda compra) muito mais em valores absolutos, o que reduziu foi a sua proporção em relação a outros blocos econômicos. No segundo lugar, houve uma alteração. Em 1997, o Nafta, em segundo lugar, correspondia por 16,8% dos destinos da exportação do agronegócio brasileiro. Em 2010, caiu para o
Com a internacionalização do agronegócio brasileiro nos anos 2000, mudanças ocorreram no destino e na pauta de exportações do agronegócio brasileiro.
A abertura de novos mercados é fundamental para o agronegócio brasileiro. Os números conquistados sustentam esse fundamento. Faltou habilidade para negociar em várias frentes e aproveitar o momento de fragilidade econômica das grandes potências. terceiro lugar, representando 12,6% do total. A segunda posição foi tomada pela Ásia, cuja participação total aumentou de 15,6% em 1997 para 19,3% em 2010. A Ásia ocupava a terceira posição em 1997. Assim, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA/ USP), o PIB do agronegócio em 2010 alcançou US$373 bilhões. Esse valor representou 18% do PIB brasileiro de 2010 que, segundo o IBGE, alcançou um valor de US$2,087 trilhões. Do PIB do agronegócio, o subsetor denominado agronegócio agricultura foi responsável por US$260 bilhões, o que correspondeu a 71% do valor do PIB do agronegócio em 2010. O subsetor denominado agronegócio pecuária foi responsável por US$113 bilhões, correspondendo a 29% do valor do PIB do agronegócio em 2010.Com relação ao emprego, o agronegócio é o setor responsável por 37% do total de empregos no Brasil. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), no que correspondeu às exportações brasileiras de 2010, que totalizaram US$ 202 bilhões, as exportações do agronegócio representaram 37,8% desse valor, totalizando US$ 76,4 bilhões. Assim, o agronegócio está colaborando, de forma destacada, para sustentar a balança comercial brasileira. Importante ressaltar que esses números foram alcançados sem que o Brasil conseguisse um acordo de livre comércio com um
grande parceiro do mundo avançado. Assim, mesmo com os números conquistados, cabe destacar que a participação agrícola brasileira no comércio agrícola mundial foi de, apenas, 6,8% em 2008. Os números ficam ainda mais preocupantes quando se retrata a participação do comércio total brasileiro contra o comércio total mundial: uma participação de, apenas, 1,6%. É um número que merece muita atenção para uma economia do tamanho do Brasil. Logo, evidencia-se a falta de habilidade da diplomacia brasileira nas negociações multilaterais e bilaterais. O Brasil não conseguiu acessar novos mercados através da diplomacia. O governo vem tentando, arduamente, ressuscitar a negociação para um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia – que se encontra congelada desde 2004. Pelo movimento, parece que o governo despertou do “profundo transe” provocado pelo forte crescimento do consumo no Brasil nos últimos anos. E “acordou” assustado, porque o mundo não parou. Há alguns anos, os europeus estavam interessados num acordo com o Mercosul, pois amargavam sua pior crise em décadas, e os EUA, seu maior parceiro comercial, eram a origem do problema. Naquela época, o poder de barganha brasileiro para conseguir concessões europeias, principalmente na sensível área agrícola, era grande, mas o país não soube aproveitar o
momento. O entendimento com a União Europeia iria proporcionar o primeiro acordo de livre comércio com um grande parceiro do mundo avançado. Com o cenário de crise internacional e a rodada de Doha travada, abriu-se um espaço oportuno para negociações bilaterais. Os produtos brasileiros, que são considerados sensíveis para mercados como o europeu, tinham um cenário favorável que, provavelmente, nossa geração não vai mais encontrar. O Mercosul tem se enfraquecido com as disputas internas. As ofertas feitas pelo mínimo denominador comum do bloco são fracas para abrir novos mercados. Assim, ao ficar “em transe”, o Brasil tornou-se um espectador. Assistiu, de camarote, aos demais países membros da OMC que se mostraram preocupados em abrir novos mercados através de acordos bilaterais. E na questão multilateral, os Estados Unidos negociam dois mega acordos regionais com a Europa e com a Ásia, num arranjo com potencial para provocar um forte desvio de comércio, prejudicando os produtos brasileiros em seus principais mercados. A abertura de novos mercados é fundamental para o agronegócio brasileiro. Os números conquistados sustentam esse fundamento. Faltou habilidade para negociar em várias frentes e aproveitar o momento de fragilidade econômica das grandes potências. Novamente, o Brasil e o MERCOSUL ficam para trás. O governo poderia ter dado mais atenção a essas negociações. Os fracos resultados apresentados pela diplomacia dão suporte à ideia de que é interessante descentralizar a responsabilidade do comércio internacional do Itamaraty. Assim, não teremos a preferência por questões políticas em detrimento do tema comercial. As negociações ganhariam um caráter mais técnico e, quem sabe um dia, menos ideológico. O fato é que o Brasil perdeu oportunidades de acessar novos mercados, oportunidade de criação de empregos e de investimentos visando ao crescimento. Esse movimento será sentido no bolso dos nossos produtores, empresários e famílias ao longo dos próximos anos.
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CONHECIMENTO
Dia de Campo Roos: tecnologia de ponta É o momento de atualizar o conhecimento e ter contato com as novidades do mercado
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transmissão do conhecimento a seus clientes faz parte da filosofia de trabalho da Sementes Roos. Essa postura favorece a transparência, o bom relacionamento e a busca por resultados cada vez melhores. Isso se expressa através dos diversos canais de diálogo abertos com os agricultores, incluindo os serviços de assistência técnica, as publicações impressas e o portal na internet. Mas é nos Dias de Campo que essa característica da empresa se expressa ainda mais. O evento ocorre em dois períodos no ano: inverno (trigo) e verão (soja). As variedades são demonstradas na área experimental da empresa, localizada em Não-Me-Toque, e em áreas demonstrativas escolhidas pelas revendas parceiras na divulgação dos materiais. Nessas ocasiões, os produtores têm acesso à tecnologia de ponta, novidades em genética e últimos lançamentos dos obtentores. São informações em primeira mão sobre as novas variedades de sementes, que podem ser levadas para as propriedades na safra seguinte. Esta é uma oportunidade única
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para os agricultores se atualizarem, trocarem experiências e tirarem suas dúvidas direto com a fonte: os pesquisadores e técnicos que levam inovação para o campo. A teoria é deixada de lado para
dar lugar à prática. Cerca de três dezenas de cultivares, produzidas nas mesmas condições do agricultor, ficam expostas aos visitantes. Ali, eles podem ver um retrato fiel da lavoura, avaliando sua produtividade, qualidade e sanidade. As palestras e os estandes, por sua vez, oferecem orientações quanto ao plantio, épocas de semeadura, técnicas de manejo, insumos e resistência a pragas e doenças. Anualmente, os Dias de Campo da Roos atingem mais de 1.500 participantes. São recebidos visitantes de todas as regiões do Brasil e do exterior. O resultado dessa iniciativa da Roos é claro: mais produtividade e rentabilidade para o produtor, que sai do evento atualizado quanto às novidades do mercado e com maior conhecimento técnico.
2014 Evento Soja: Dias 06 e 07/03/2014 público estimado de participação mais de 1.300 participantes nos dois dias. O evento ocorre pela parte da manhã e finaliza com almoço. A participação é gratuita. O dia de campo Roos é uma exclusividade da Sementes Roos aos seus clientes e parceiros e recebe público de várias regiões do Brasil. Neste ano contará com uma palestra técnica do Ms. Alexandre Garcia - Supervisor de Pesquisa da TMG - Tropical Melhoramento e Genética Ltda, com o tema “Biotecnologia no campo até 2020: O que podemos esperar?”.
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EVENTO
1º Encerramento
da
Colheita do Trigo
Evento reuniu mais de 300 agricultores e profissionais do agronegócio
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om quase três milhões de toneladas de produção total no Rio Grande do Sul, a safra de trigo de 2013 foi a maior já alcançada no Estado. As produtividades médias obtidas passaram de 2.623kg/ha para 2.822 kg/ ha, conforme dados da Emater/RS-Ascar e Embrapa Trigo. Dentre as regiões, as que se destacaram em termos de produtividade média alcançada foram Passo Fundo, com 3,2 mil kg/ha, seguida por Erechim e Caxias do Sul, com 3 mil kg/ha. Especialistas na área afirmam que os números se devem a grandes investimentos feitos por órgãos de pesquisa em melhoramento genético e importantes avanços conquistados, principalmente, no grão para panificação. Para celebrar os ótimos resultados obtidos, buscar novos conhecimentos e debater assuntos
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políticos que influenciam a cadeia do cereal, mais de 300 agricultores, estudantes e profissionais do agronegócio estiveram reunidos em Palmeira das Missões, no mês de dezembro de 2013, para o 1º Encerramento da Colheita do Trigo. O evento, promovido pela Revista Destaque Rural e Estratégia Marketing e Propaganda, aconteceu na Granja Limburgia e promo-
Colheita do Trigo - Os preços estão, em média, 25% mais altos que na safra passada, especialmente pelo fato de que a Argentina teve quebra de safra, além de influência o fator cambial;
veu debates técnicos, políticos, de infraestrutura e de mercado que influenciam a cadeia do trigo. A programação, que teve início às 8 horas da manhã, incluiu palestra com o professor associado de fitopatologia na Universidade de Santa Maria, Ph.D. em fitopatologia e melhoramento de plantas, pela Michigan StateUniversity, de Michigan, Estados Unidos, Ricardo
Silveiro Balardin, que falou sobre a importância dos nutrientes nas defesas vegetais contra fitopatógenos. Segundo Balardin, a nutrição insuficiente pode ser um dos entraves no aumento da produtividade do trigo no Brasil. Em seguida, a OR Sementes, com seus representantes, Amarilis Labes Barcellos, Aroldo Linhares e Sandra Zoldan, apresentou o desempenho de cultivares de trigo OR na safra 2013 e o tratamento de sementes e controle a manchas foliares em cultivares OR. A escolha do tipo de trigo a ser cultivado foi apontado como uma das decisões estratégicas mais importantes por parte do produtor. Durante o encontro de informação, debate e acesso às novas tecnologias a respeito desta que é uma das culturas mais importantes do país, também foi realizado o Fórum do Trigo – Iniciativas pelo Brasil, mediado pelo apresentador do programa A Voz do Campo, Marcelo Brum, com a participação do coordenador da Câmara Setorial do Trigo, Aurio Mesquita, do analista de mercado, Elcio Bento, do produtor rural, Alexandre Van Ass, da obtentora de cultivares, Amarilis Labes Barcellos e do diretor da Fockink, Siegfried Kwast. Na ocasião, foram debatidas as perspectivas
- A previsão é de aumento da área plantada com o trigo na próxima safra, especialmente no Paraná;
- Especialistas apontam: dependendo das condições climáticas, poderá haver uma nova produção recorde de trigo;
- Um dos grandes desafios do setor é manter os níveis de produção e de qualidade do grão. Esta é a principal tendência para a cadeia produtiva.
do mercado do trigo para o ano de 2014, as tecnologias disponíveis para o sucesso das lavouras e, ainda, as melhorias em cultivares. Os assuntos foram tratados diretamente com o público presente, que teve a oportunidade de questionar os especialistas da área. Um almoço de celebração da Boa Colheita encerrou a manhã de atividades.
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“Receber o evento Encerramento da Colheita do Trigo em nossa propriedade, ambiente de trabalho e produção, foi realmente algo novo e dá importância ao setor primário. A ideia remonta uma antiga tradição das propriedades agrícolas que, ao final da colheita, reúnem colaboradores e fornecedores para comemorar e agradecer o resultado da colheita. O evento buscou trazer o produtor a debater os assuntos relativos à cultura, logo após o seu término. Neste momento, temos vivo na memória os problemas enfrentados durante o seu ciclo e já enfrentamos os desafios da sua comercialização. Reunir todas as partes integrantes da cadeia é de fundamental importância para entendermos os processos de todos os participantes. O produtor é peça chave, pois é ele que tem nas mãos o principal fator de produção. Seu aprimoramento técnico traz eficiência e qualidade aos processos seguintes. E é isso que tem acontecido no campo, uma revolução silenciosa, que muitas vezes não é percebida pelo governo e indústrias. Hoje temos trigos com qualidade, criados por empresas brasileiras de melhoramento, que já estão exportando seus produtos. Cerealistas e Cooperativas que, devido ao mercado interno não dar valor, estão exportando trigo para outras partes do mundo. Com competência e inovação, estamos chegando a outros mercados consumidores. Enfrentamos muitas barreiras, todos sabem, logística, infraestrutura, barreiras comerciais, segurança jurídica, endividamento e muitas outras”.
Alexandre Van Ass,
Produtor rural, diretor comercial Van Ass Sementes.
“Para o produtor, esta foi uma oportunidade ímpar, em que a troca de experiências e conhecimentos teve como benefícios a divulgação dos produtos e tecnologias utilizados e os resultados obtidos durante o ano pelos produtores, bem como uma discussão com alguns dos melhores especialistas de trigo. Também vejo que pudemos contribuir com a triticultura nacional, levando novas tecnologias aos produtores, permitindo que os mesmos pudessem, então, obter resultados antes não atingidos. Isso nos proporciona imensa satisfação como profissional do agronegócio. Além disso, através do evento, pudemos melhor divulgar nosso pacote tecnológico, e consequentemente, fazer chegar aos produtores maior conhecimento sobre nossos produtos e inovações que constantemente buscando. Contribuir na produtividade e no ganho do produtor é nossa maior missão, pois temos que participar do sucesso do produtor”. -
João Carlos Vieira, Presidente da Plant Defender Tecnologia Agrícola.
“Esta foi uma ótima oportunidade para trocar experiências e conhecer a realidade do setor produtivo do cereal no Rio Grande do Sul. As discussões possibilitaram aos participantes atualizar os conhecimentos relacionados a todos os elos da cadeia, desde a área de pesquisas agronômicas até a comercialização do cereal. A Safras & Mercado tem como objetivo central informar aos clientes, de forma isenta, as perspectivas de mercado, visando uma melhor gestão na comercialização. Sendo assim, estar presente num evento deste porte abre uma janela de oportunidades para negócios”.
Elcio Bento,
Analista de mercado, Diretoria de Produção e Consultoria - Safras & Mercado.
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“Foi um momento de comemoração, reflexão e planejamento futuro, pois foi um evento inédito onde assuntos pertinentes à cultura foram abordados, sejam eles técnicos, políticos e comerciais. Atravessamos um ano excelente para a cultura no Rio Grande do Sul, com recordes de produtividades, bons preços do grão e com perspectivas futuras promissoras. O Rio Grande do Sul tem grande aptidão para a cultura do trigo e cada vez mais precisamos estar ao lado dos produtores rurais, entendendo suas necessidades e trazendo soluções. A Bayer tem um grande propósito, que é buscar o sucesso dos nossos clientes, onde trabalhamos fortemente com pesquisa e desenvolvimento de soluções. Sempre presente, trabalhando, vivendo e aprendendo em eventos como este construiremos boas relações e atrairemos bons resultados para toda a cadeia do trigo”. –
Mario Rissi,
Gerente de Cultura Cereais de Inverno, Arroz e Tabaco Bayer S.A.
“O Encerramento da Colheita do Trigo representou a comprovação de que o trigo não é mais um cultivo secundário e isento do uso de tecnologia e, sim, faz parte do calendário agrícola junto com a soja e o milho, dentro do processo de profissionalização do Agronegócio, processo irreversível e essencial para garantir a sustentabilidade do empresário rural. Esta realidade reforça os esforços da Fockink em ofertar produtos e serviços de vanguarda tecnológica, sejam em equipamentos de irrigação, como também em sistemas de termometria para preservação da qualidade dos grãos colhidos e, com isso, assegurar a rentabilidade planejada pelo empresário rural. O evento facilitou o alinhamento entre os produtores, a indústria e o mercado na consolidação desta profissionalização. Parabenizamos a Sementes Van Ass por sediar o evento. Ela própria é modelo de como se deve conduzir a propriedade rural como agronegócio sustentável econômico-financeira, ambientalmente e socialmente”. –
“O evento representou o início da evolução tecnológica que o setor do agronegócio está vivendo, em especial a cultura do trigo. Trata-se de um ajuste fino para atingirmos alta produtividade com qualidade, a troca de informações entre empresas e o produtor é o elo perfeito para validações de novas tecnologias, uma vez que a pesquisa, sem a utilização no campo é nula. Por isso, os agricultores devem conhecer as novas tecnologias e, aí sim, ter uma opinião sobre o tema. Isso foi alcançando durante o Encerramento da Colheita do Trigo, pois a informação foi disponibilizada: agora é vez dos agricultores! Para nossa empresa, foi uma oportunidade de demonstrarmos a nossa rede mundial de parceiros, já que o Brasil é um país de utilização de altas tecnologias, tanto quanto na Europa e nos Estados Unidos, e que estamos aptos a disponibilizar, hoje, o que há de melhor a nível global de produtos para nutrição vegetal e indução à resistência, com tecnologias não produzidas aqui no Brasil. Isso nos transforma em uma empresa brasileira de produtos globais, onde o produtor deve se dar a oportunidade de conhecer no campo a sua utilização”. –
Magno Rodrigo Moreira,
Representante da Plant Defender Tecnologia Agrícola.
Siegfried Kwast,
Diretor-Superintendente da Fockink.
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LAVOURA
Lei de Cultivares Possibilidade de mudanças preocupa produtor rural
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ramita no Congresso Nacional o Projeto que altera a Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997 e institui a Lei de Proteção de Cultivares. De autoria da Deputada Federal Rose de Freitas (PMDB-ES), o projeto tem sido alvo de preocupação para alguns produtores rurais, já que proíbe a reserva de sementes para plantios futuros, tornando a prática um crime. Conforme o diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Soja - Aprosoja Brasil, Pedro Ribeiro Nardes, as mudanças propostas serão negativas para os produtores. “Esta é uma lei que surgiu para defender o produtor e, agora, a maior preocupação que temos é que ele não poderá mais produzir a própria semente. Conforme a possível alteração da lei, o produtor que a multiplicar estará cometendo um crime. Ele poderá obtê-la somente através da compra.” Desta forma, a cada safra será necessário a aquisição de um novo produto, gerando crescimento na demanda e aumento no preço da semente. Com o custo maior, quem vai sentir o resultado será o consumidor, com os valores mais altos no produto fi-
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nal. “A Lei das Cultivares, que tem pouco mais de 15 anos, veio para aumentar a produção e beneficiar os produtores. Uma alteração é um absurdo. Com a aprovação destas mudanças poderemos ser escravizados por uma ou duas empresas, que serão as únicas responsáveis pela produção de sementes.” Atualmente, o Projeto de Lei aguarda parecer na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR).
A legislação A Lei de proteção de cultivares foi sancionada em abril de 1997, com o objetivo de fortalecer e padronizar os direitos de propriedade intelectual. De acordo com a legislação, cultivar é a variedade de qualquer gênero ou espécie vegetal, que seja claramente distinguível de outras conhecidas por uma margem mínima de
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PEDRO RIBEIRO NARDES O DIRETOR EXECUTIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE SOJA APROSOJA BRASIL.
características descritas, pela denominação própria, homogeneidade, capacidade de se manter estável em gerações sucessivas, além de ser passível de utilização. A nova cultivar é aquela que não foi oferecida à venda no Brasil há mais de 12 meses, em relação à data do pedido de proteção e, em outros países, com o consentimen-
Reação ao Projeto “Pró - Terminator”
to do dono, há mais de seis anos para espécies de árvores e videiras e há mais de quatro anos para as demais espécies. As cultivares passíveis de proteção são as novas e as essencialmente derivadas de qualquer gênero ou espécie. A duração da proteção de uma cultivar vigora a partir da data de concessão do Certificado Provi-
sório de Proteção, pelo prazo de 15 anos, com exceção das videiras, árvores frutíferas, árvores florestais e árvores ornamentais, inclusive, em cada caso, o seu porta-enxerto, para as quais a duração será de 18 anos. Decorrido o prazo de vigência do direito de proteção, a cultivar cai em domínio público e nenhum outro direito poderá obstar sua livre utilização.
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Outro Projeto de Lei, polêmico, que tramita na Câmara dos Deputados diz respeito à produção e comercialização de sementes transgênicas conhecidas como “terminator”, que, após a colheita, não voltam a germinar, obrigando os agricultores a comprarem sementes a cada safra. Conforme informações do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, uma petição eletrônica, com mais de 30 mil assinaturas de representantes da sociedade civil e de movimentos sociais, foi entregue à Câmara dos Deputados contra o Projeto de Lei (PL) 268/2007, que é de autoria do Deputado Federal Eduardo Sciarra (PFL/PR), para que não seja votado. O último parecer, da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), de dezembro de 2013, diz respeito à apresentação do requerimento de audiência pública, pelo Deputado Alessandro Molon (PT-RJ), que quer discutir os impactos deste Projeto de Lei. “A proposta visa proibir a comercialização de sementes que contenham tecnologias genéticas de restrição de uso de variedade, salvo quando se tratar de sementes de plantas biorreatores, principalmente, ao uso terapêutico ou industrial. Uma vez que a questão é controvertida, sugere-se a realização de audiência pública para qualificação do debate nesta Comissão, também competente para votar o mérito”, diz a justificativa do Deputado Molon. Ao mesmo tempo, organizações da sociedade continuam com a mobilização na internet.
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SUSTENTABILIDADE
IRRIGAÇÃO Menos de 10% das propriedades gaúchas utilizam a irrigação como tecnologia de produção
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escassez hidráulica, constante em diversas regiões do país e do Rio Grande do Sul, aponta a necessidade de sistemas de irrigação mais eficientes, fundamentais para a sustentabilidade das atividades agrícolas. Porém, dos 429,9 mil estabelecimentos agrícolas registrados no Estado,
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apenas 26,8 mil propriedades, o mesmo que 6,2%, utilizam algum tipo de irrigação como tecnologia de produção. De acordo com a Emater/Ascar, as deficiências hídricas no RS acontecem principalmente nos meses de dezembro até meados de março, enquanto os excedentes hídricos aparecem nos meses
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de maio a outubro. As estiagens constantes, que acontecem em sete a cada dez anos, apontam fragilidade no sistema de abastecimento, além de prejuízos significativos para a sociedade. Especialistas na área alertam: somente através do planejamento, execução de obras de captação e armazenamento de água será
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de 23 de outubro de 2013. Tais arranjos de intenções envolvendo o Governo e os setores produtivos, juntamente com instituições financeiras, visam assegurar não só assistência técnica, bem como promover alguns subsídios e agilização nos processos ambientais.
possível minimizar os efeitos destas estiagens e seus impactos ambientais. No Rio Grande do Sul Segundo informações da Secretaria de Obras Públicas, Irrigação e Desenvolvimento Urbano do Estado, no dia 08 de outubro de 2013, foi aprovado Projeto de Lei 227/13 de autoria do Poder Executivo, que instituiu a Política Estadual de Irrigação do Rio Grande do Sul, que tem como instrumento central, o Plano Diretor de Irrigação no Contexto dos Usos Múltiplos das Águas (PIUMA). Esse Plano Diretor foi executado a partir de uma parceria entre a Secretaria de Irrigação – SENIR, do Ministério de Integração Nacional e a Secretaria de Obras Públicas, Irrigação e Desenvolvimento Urbano do Estado – SOP. Ao longo de quatro meses,
entre dezembro de 2012 e abril de 2013, mais de 44 entidades públicas e privadas do Estado, incluindo os Comitês de Bacia, acompanharam o desenvolvimento do PIUMA, um Plano Diretor, que teve como resultados a proposição de quatro programas estaduais e a decisão de criação, no âmbito das bacias hidrográficas do RS, os Territórios de Irrigação e Usos Múltiplos – TIUMAS. O processo em implantação no RS tem servido de modelo geral para outros estados brasileiros. A nova Política de Irrigação do Rio Grande do Sul, a solidificação do Plano Diretor de Irrigação no Contexto dos Usos Múltiplos da Água, o Conselho Gestor da Política Estadual de Irrigação e o Fundo Estadual de Irrigação foram instituídos a partir da Lei Nº 14.328,
Escola de Irrigação O Rio Grande do Sul, recentemente, vem promovendo ações de criação de uma escola de irrigação de âmbito estadual, envolvendo todas as secretarias, instituições e universidades que lidam com a irrigação no Estado, em conformidade ao Decreto nº 50.603 de 27 de agosto de 2013. A intenção é suprir as demandas sobre informações, com capacitações tanto do quadro técnico quanto dos produtores, no esforço conjunto das entidades em prol do desenvolvimento da irrigação.
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Maiores demandas Ainda de acordo com dados da SOP, atualmente, as demandas para irrigação estão focadas na cultura do milho, com área de 1,1 milhões de hectares semeados ao ano, em média. Há, também, preocupação com a irrigação de pastagem para a produção do leite, com mais de 7 mil hectares. Na cultura do feijão, apesar de ter apresentado um encolhimento, ainda são 100 mil hectares. A cultura da soja cobre uma área de mais de 4,5 milhões de hectares. Além disso, há a fruticultura e áreas de horticultura que, cada vez mais, buscam a técnica da irrigação. O sistema que se sobressai, até o momento, é o de inundação, direcionado para a cultura do arroz, que abrange 16 mil propriedades, com área em torno de 1,2 milhões de ha. As áreas de sequeiro correspondem a 5,6 milhões de ha. Deste montante, no início do ano de 2011, apenas 105 mil ha foram irrigados. Entre as principais culturas básicas que foram irrigadas estão o milho, a soja e o feijão. A modalidade mais utilizada foi irrigação por pivô central, com 70.000 ha, para outros 30.000 ha foi utilizada a aspersão convencional e 5.000 ha, a opção foi pela irrigação localizada. Os números, considerados sumários, demonstram claramente a necessidade de que a cultura e a prática da irrigação sejam incorporadas às práticas da agricultura no Rio Grande do Sul.
Programas de Incentivo Preocupado com tais números, o Estado vem desenvolvendo estruturas básicas de programas e projeto para que a cultura da irrigação se estabeleça definitivamente no meio rural como mais um vetor de aumento de produtividade e segurança da produção primária. 1 - Irrigando a Agricultura Familiar, ligado à Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo. Já possui 1.660 projetos elaborados, com área passível de irrigação de 2.000 ha;
2- Mais Água Mais Renda, ligado à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Agronegócio. Dispõe de 688 projetos elaborados, para um total de 20.215 ha irrigados e 1.428 ha de área de açude;
3- Pró-Irrigação, ligado à Secretaria de Obras Públicas, Irrigação e Desenvolvimento Urbano (SOP). Este programa gerou a construção de mais de 3.000 pequenos e médios açudes destinados à irrigação. Atualmente, estão sendo construídas duas barragens de grande porte: Taquarembó, localizada entre os municípios de Dom Pedrito e Lavras do Sul, com volume útil previsto de 151.225.000 m³ e área irrigável de 16.700 ha; e Jaguari, entre os municípios de São Gabriel e Lavras do Sul, como volume útil estimado de 122.000.000 m³ e área irrigável de 17.000 ha. Outras barragens como a de São Sepé e Passo da Ferraria, abrangendo os municípios de São Sepé, Formigueiro, Vila Nova do sul, Bagé e Dom Pedrito, estão em análise para o processo licitatório, que no conjunto representam um volume de água armazenado de 271.940.000 m³, com potencial para irrigar 25.176 ha. Mais duas barragens, a de Estancado e Soturno, encontram-se em fase de anteprojeto e vão beneficiar os municípios de Sarandi, Júlio de Castilho, Nova Palma, Faxinal do Soturno e São José do Polêsine. Essas duas barragens conterão 103.840.000 m³ de água disponível para irrigar 13.483 ha. Outra ação dessa Secretaria é o Projeto de Incentivo à Implantação de Sistemas Irrigados, composto por onze unidades de capacitação de produtores rurais na técnica da irrigação, em parceria com o setor privado.
Métodos de Irrigação Segundo aponta a Embrapa Milho e Sorgo, não existe um sistema considerado ideal de irrigação e sim o mais adequado para as condições de clima e solo e que atenda aos objetivos desejados. A escolha deve ser feita através de uma análise das condições de solo, cultura e topografia, para que a melhor alternativa seja identificada. Segundo o engenheiro agrícola da Embrapa Milho e Sorgo, Camilo de Lelis Teixeira de Andrade, a decisão de irrigar ou não deve levar em consideração diversos fatores, entre os quais a quantidade e distribuição da chuva, o efeito da irrigação na produção das culturas, a necessidade de água das culturas e a qualidade e disponibilidade de água da fonte. O fator mais importante que determina a necessidade de irrigação de uma determinada cultura em uma região é a quantidade e distribuição das chuvas. Outras razões para se utilizar irrigação são o aumento da produtividade,a melhoria da qualidade do produto, a produção na entressafra, o uso mais intensivo da terra e a redução do risco do investimento feito na atividade agrícola.
Basicamente, são quatro os métodos de irrigação: superfície, aspersão, localizada e subirrigação. Para cada um deles, existem dois ou mais sistemas que podem ser empregados.
Irrigação por Superfície: a distribuição da água se dá por gravidade, através da superfície do solo. É o método com a maior área irrigada no mundo e no Brasil.
Sistemas em Nível: neste sistema, a área é plana ou quase plana (menos de 0,1% de declive) em todas as direções.
Sistemas em Declive: são sistemas com declividade em uma das direções, variando de 0,1% até no máximo, 15%.
Irrigação por Aspersão: jatos de água aplicados no ar caem sobre a cultura na forma de chuva.
Autopropelido: um único canhão ou minicanhão é montado num carrinho,que se desloca longitudinalmente ao longo da área a ser irrigada
mas desloca-se continuamente na direção longitudinal da área.
Irrigação Localizada: a água é, em geral, aplicada em apenas uma fração do sistema radicular das plantas, empregando-se emissores pontuais (gotejadores), lineares ou superficiais.
Gotejamento: a água é aplicada de forma pontual na superfície do solo.
Microaspersão: a água é aplicada por emissores rotativos ou fixos. Permite o umedecimento de uma área maior, o que é uma vantagem para culturas de espaçamentos mais largos,plantadas em solos arenosos.
Subsuperficiais:
as linhas laterais são montadas sobre rodas de metal. Os tubos funcionam como eixos. Não se movem durante a irrigação.
as linhas laterais de gotejadores ou tubos porosos estão sendo enterradas deforma a permitir a aplicação subsuperficial da água. A vantagem desse sistema é a remoção das linhas lterais da superfície do solo, o que facilita o tráfego e os tratos culturais, além de vida útil maior.
Pivô Central:
Subirrigação:
Rolante (Rolão):
consiste de uma única lateral, que gira em torno do centro de um círculo (pivô).
Deslocamento Linear: a lateral tem estrutura e mecanismo de deslocamento similar à do pivô central,
Com a subirrigação, o lençol freático é mantido a uma profundidade capaz de permitir um fluxo de água adequado à zona radicular da cultura. Havendo condições satisfatórias, pode-se constituir no método de menor custo.
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TECNOLOGIA Performance dos Pneus Radiais Economia de tempo Graças à excelente capacidade de tração, o pneu radial permite a realização de todos os trabalhos, inclusive aqueles executados em terrenos difíceis com velocidades superiores, melhor dirigibilidade e precisão na condução. Isso significa redução no tempo de trabalho e, consequentemente, maiores ganhos financeiros.
Economia de combustível
Pneus radiais: garantia de resultados
Pesquisa aponta uma série de benefícios dessa tecnologia no campo
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os últimos anos aconteceram grandes evoluções na agricultura. Surgiram novas cultivares de sementes, melhores técnicas de manejo do solo, equipamentos de GPS interligaram-se a pilotos automáticos na busca pela precisão no plantio e nos tratamentos das lavouras. Os pneus agrícolas também pre-
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cisaram se adaptar para potencializar os resultados no campo. Um exemplo são os pneus radiais agrícolas. Essa tecnologia já é utilizada em vários países há mais de 30 anos, conquistando bom desempenho para a agricultura. A menor compactação e a redução do índice de patinagem aliadas à excelente capacidade
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Por ser mais flexível, o pneu proporciona maior conforto e segurança. Durante a rodagem, o pneu radial tem maior superfície de contato com o solo, o que aumenta sua capacidade de tração. O número maior de tacos em contato com o chão reduz a taxa de patinagem. Todos estes fatores aliados contribuem para a redução do consumo de combustível a uma taxa de 8,6% quando comparado ao desempenho da tecnologia convencional.
Aumento da vida útil O solo é seu capital mais precioso. Ciente disto, a tecnologia radial foi desenvolvida para reduzir a compactação provocada com a passagem das rodas. O pneu garante enorme respeito ao solo graças à maior superfície de contato, característica importante para melhor distribuição da carga.
de tração e a diminuição do desgaste do pneu na estrada fazem dessa tecnologia uma opção para o produtor que busca diminuir custos e aumentar os resultados no campo. Além disso, a carcaça flexível melhora a absorção das vibrações no solo, garantindo conforto de direção e preservação da mecânica.
Essa tecnologia já é utilizada em vários países há mais de 30 anos, conquistando bom desempenho para agricultura.
Paulo Baggio, consultor da Meta Agrícola
Pneu diagonal
Pneu radial Pneu radial
O pneu é chamado diagonal ou convencional quando a carcaça é composta de lonas sobrepostas e cruzadas umas em relação às outras. Os cordonéis que compõem essas lonas são fibras têxteis. Neste tipo de construção, os flancos são solidários à banda de rodagem. Quando o pneu roda, cada flexão dos flancos é transmitida à banda de rodagem, conformando-a ao solo.
No pneu radial, os cabos da carcaça estão dispostos em arcos perpendiculares ao plano de rodagem e orientados em direção ao centro do pneu. A estabilização do piso é obtida através de 3 ou 4 lonas de aço sobrepostas. Por ser uma carcaça única, não existe fricção entre lonas - apenas flexão - o que evita a elevação da temperatura interna do pneu.
Características
Características
Desgaste mais lento - Aumento das horas trabalhadas;
Desgaste mais rápido - Menor quilometragem;
Diminuição no consumo de combustível;
Consumo da combustível mais elevado; Aquecimento muito grande - Lixamento com o solo, fricção entre lonas e a má condução de calor do material têxtil;
Redução do aquecimento - Não existe fricção entre lonas da carcaça, diminui o lixamento com o solo e o aço é um excelente condutor de calor;
Aderência não muito boa - Menor área de contato pneu/solo, deformações da Banda de Rodagem;
Maior aderência - A área de contato pneu/solo é maior e constante; Estabilidade favorecida - Com a redução das deformações da Banda de Rodagem, o pneu segue uma trajetória definida;
Estabilidade prejudicada - Perda da trajetória causada pelas deformações da Banda de Rodagem;
Menor possibilidade de cortes/furos Carcaça mais flexível e com uma “alma do aço”.
Maior possibilidade de cortes/furos Carcaça rígida e material têxtil.
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ESPECIAL
CARIOCA em solo
GAÚCHO
Variedade de feijão é aposta em propriedades do Rio Grande do Sul. Nos campos da família Barison, em Vacaria, quase mil hectares são destinados ao cultivo
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Tainara Scalco
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a mesa do brasileiro ele é unanimidade. O país é o maior consumidor de feijão do mundo. A média por pessoa chega a quase 19 kg por ano. São poucas as panelas Brasil afora que nunca tiveram o pretinho como protagonista. É um símbolo da culinária nacional, o maestro do espetáculo dos fogões. Essa grande demanda no prato reflete a necessidade de investimentos no campo. O Brasil ainda precisa exportar feijão. Os vizinhos hermanos não são grandes consumidores do grão, mas viram na cultura uma oportunidade para abastecer os lados de cá da fronteira.
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Dentro de casa, quem comanda a produção é Minas Gerais. O estado responde por 15% do cultivo. O Rio Grande do Sul é o oitavo no ranking. Na safra 2013/2014 foram destinados 54 mil hectares para o grão, um aumento de quase 4% em relação à anterior. As regiões que mais produzem são o Alto Uruguai e Central. A concentração está na agricultura familiar, mas é nos Campos de Cima da Serra que uma propriedade chama atenção. São 1.041 hectares de feijão. Segundo a Emater, é uma das maiores áreas de cultivo no estado. A aposta no preferido dos brasileiros começou há sete anos na lavoura da família Barison. “É uma cultura que você pode ar-
riscar para ter um retorno maior,” salienta o engenheiro agrônomo e advogado Tarso Barison. O cultivo começou com o feijão preto. Essa variedade é mais consumida no Sul do país, mas a demanda maior é pelo tipo carioca. E foi pensando nesse mercado que eles decidiram migrar. Bahia e São Paulo são os principais compradores da produção de feijão carioca da fazenda. Hoje, apenas 80 hectares é de feijão preto, produção voltada para o beneficiamento de sementes. A família é proprietária da nBn Sementes. Além da crescente demanda do mercado interno, outros fatores influenciaram na aposta pelo feijão. Segundo Tarso, trata-se de uma cultura que ajuda a otimizar
a produção na fazenda. No total, a família Barison produz em mais de 6 mil hectares distribuídos nos Campos de Cima da Serra e na região da Campanha. Pouco mais de 80% é de milho e soja e o restante é de feijão. “A gente começa a plantar o milho em outubro, terminamos a soja em novembro e ainda temos um tempo até o plantio do feijão em dezembro,”. A crescente necessidade de mecanização, principalmente, na colheita do feijão é outro aspecto que tem colaborado para esta migração da cultura de pequenas para grandes propriedades. De acordo o engenheiro agrônomo, da Emater Regional de Passo Fundo, Claudio Dóro há uma escassez de mão de obra para
esta cultura e o pequeno produtor tem dificuldades em mecanizar a lavoura. As vantagens na comercialização encabeçam a lista. Hoje, a saca com 60 kg é vendida por uma média de R$ 140,00. Na última safra, a família Barison colheu 22 sacas por hectares e comercializou a R$ 200,00 a saca. A venda acontece, geralmente, na época em que se colhe. Compradores de outros estados vêm até a fazenda para avaliar os grãos. Aprovada a safra, o negócio é fechado e o pagamento acontece à vista, diferente de outras culturas. A soma de vantagens da cultura faz com que a família Barison persista nessa promissora aposta, afinal, feijão na mesa do brasileiro não pode faltar.
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Rico em nutrientes O feijão é uma semente com alto valor nutritivo, principalmente, ferro. É um alimento rico em proteínas vegetais. Possui, também, um alto valor calórico - 100 gramas de feijão representa 330 calorias. Possui uma boa quantidade de fibras (cada 100 gramas de feijão apresenta, em média, 19 gramas de fibras).
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No caminho do patriarca Os investimentos no agronegócio começaram com Narciso Barison Neto. Natural de Antônio Prado, ainda jovem foi morar em Vacaria. Formou-se engenheiro agrônomo e trabalhou como avaliador do Banco do Brasil. Casou-se com Tânia Maria Campetti Barison, com quem teve três filhos: Tarso Barison formou-se em Agronomia e depois em Direito; Rodrigo Barison também optou pela Agronomia e depois pela Administração e Carina Barison Madruga preferiu a Medicina Veterinária, foi morar em Bagé, onde tem uma clínica veterinária. O pai se divide entre as duas cidades.
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A nBn Sementes, abrevia o nome de Narciso. Os investimentos e trabalho forte em sementes renderam ao produtor a presidência da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem).
“Um olhar fora da porteira” Narciso Barison Neto sempre esteve envolvido em assuntos do setor. “Procuro ter um olhar para fora da porteira”. O agricultor já está no segundo mandato como presidente da Abrasem. Presidiu também a Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Appasul) e o Sindicato Rural de Muitos Capões. É integrante da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul).
“É uma cultura que você pode arriscar para ter um retorno maior.” Engenheiro agrônomo e advogado Tarso Barison. Fevereiro e Março - 2014
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Fazenda modelo A organização impera nas propriedades da família. Da sede aos galpões de sementes, tudo é devidamente estruturado para facilitar o desenvolvimento das atividades. No total, são
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mais de seis mil hectares de campo produtivo. A maioria (mais de 5 mil) se concentra em Vacaria. Cerca de 800 hectares são em Aceguá, outra aposta dos Barison. Os negócios da família empre-
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gam 50 colaboradores. Tarso e Rodrigo se especializaram em gestão, o que facilitou ainda mais na administração dos negócios. “Nós decidimos tudo em consonância,” conta Tarso.
“Há uma escassez de mão de obra para esta cultura e o pequeno produtor tem dificuldades em mecanizar a lavoura.” Engenheiro agrônomo da Emater Regional de Passo Fundo Claudio Dóro.
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Tecnologia O investimento em tecnologia é um dos segredos do sucesso dos negócios na propriedade. Todos os tratores têm tecnologia RTK, sistema por satélite que não permite o sobrepasse de linha na produção. O operador só precisa colocar as mãos no volante para fazer a volta no trator. Todo o maquinário é de tecnologia Case. A propriedade é toda mapeada, de três em três
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Fevereiro Fevereiroe eMarço Março- 2014 - 2014
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hectares. A amostragem de solo é feita toda em taxa variável. Um dos últimos investimentos da fazenda foi uma nova unidade de sementes – TSI (Tratamento de Sementes Industrial) com a Bayer. O sistema de irrigação também é novidade em 2014, cerca de 100 hectares de feijão passaram a ser irrigadas com a tecnologia da Fockink.
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nBn Sementes Desde 1978, a família comercializa sementes para todo o país. Os grãos disponíveis para a venda são feijão, aveia branca, trigo e soja. A empresa possibilita ganhos tecnológicos através de genética contida nas suas sementes.
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PULVERIZAÇÃO
AVIAÇÃO AGRÍCOLA RS reúne 2ª maior frota do país
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o Rio Grande do Sul, assim como em outros estados brasileiros, a aviação agrícola pode ser uma excelente ferramenta na busca de maior produtividade. O Estado possui a segunda maior frota de aeronaves agrícolas do país, com 397 aviões registrados. Fica atrás do Mato Grosso, que possui 413 aeronaves e logo à frente do Paraná, que registra um total de 252 aviões agrícolas. Ao mesmo tempo, o RS é o estado que possui o maior número de empresas do ramo: 78. Seguido de São Paulo (35), Mato Grosso (28) e Paraná (17). “Isso denota que no RS a aplicação aérea é um serviço terceirizado (prestado por empresas especializadas), diferente do MT que, embora possua a maior frota, tais aeronaves são particulares e operam nas lavouras de seus proprietários (empresários rurais)”, diz o engenheiro agrônomo, instrutor na formação de pilotos agrícolas, Marcelo Drescher. Segundo ele, o fato de no RS poucos empresários rurais possuírem aeronaves é explicado pelo tamanho médio das áreas, que não justificam a posse de uma aeronave. Historicamente, sempre foi melhor econômica e tecnicamente contratar uma
empresa de aviação, a um custo relativamente baixo, do que manter uma estrutura capaz de realizar aplicações aeroagrícolas. Drescher informa que, hoje, a realidade altera-se um pouco pois, com a redução de custos e o valor baixo de uma aeronave usada (em torno de R$ 350.000,00), em relação a um equipamento terrestre autopropelido (R$ 450.000,00 ou mais) muitos produtores estão adquirindo aviões agrícolas. “Uma avião agrícola novo, totalmente equipado e pronto para o trabalho, custa em torno de R$ 850.000,00, financiável. O que, de imediato, nos remete ao raciocínio de que, comparado a um equipamento terrestre autopropelido, que pode chegar a R$ 700.000,00, o avião apresenta vantagens e se tornou atrativo a inúmeros produtores”, exemplifica.
Proprietário de uma empresa de aviação agrícola e também piloto, Eduardo Rocha Pereira, destaca que, ao mesmo tempo, a característica do RS é de uso de aviões por intermédio de contratação das empresas de aviação. Ele destaca que, além do cumprimento das normas reguladoras, há a vantagem de evitar que o produtor tenha que se envolver com aspectos
Eduardo Rocha Pereira: piloto agrícola
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Benefícios Alto rendimento Um avião agrícola, nas condições médias do RS, pode aplicar 70 ha por hora (o que é bem mais do que 25 ha por hora, rendimento de um autopropelido bem operado). Esse ganho de 70% na velocidade de aplicação permite que o combate seja feito rapidamente, no momento certo, e que os danos causados pelas pragas cessem com brevidade, reduzindo as perdas. Capacidade de penetração e deposição Uma aplicação aérea, por se valer das forças do ar, e de uma tecnologia capaz de produzir gotas pequenas e com tamanho controlado, permite que tais gotas se depositem por toda a estrutura do vegetal (desde as folhas inferiores às superiores) de modo homogêneo, permitindo assim o combate rápido e eficaz à moléstias que necessitam que as folhas inferiores sejam atingidas (ferrugem da soja, por exemplo).
Aplicação com solo encharcado Na hipótese da ocorrência de fortes chuvas, que encharcam o solo, impedindo que equipamentos terrestres efetuem seu deslocamento, o avião é a solução, por realizar a deposição sem tocar o solo ou a cultura.
O avião não amassa a cultura O avião não se desloca sobre a área e não entra em contato com a cultura, em sendo assim não a amassa, evitando prejuízos ao produtor. Os prejuízos resultantes do amassamento, em aplicações terrestres muito bem realizadas, são da ordem de 1,5 sacos por hectare, em média. Todavia, necessita-se agregar a este custo de não colheita (devido ao amassamento) o custo dos insumos ali aplicados e que foram igualmente perdidos.
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ligados à pulverização, tais como o treinamento de pessoal, a manipulação de defensivos agrícolas, cuidados ambientais, manutenção de equipamentos, etc. Em termos de área aplicada, estima-se que 25% das lavouras comerciais utilizem a aviação agrícola como ferramenta ao combate às pragas. Em todas as regiões do estado existem empresas de aviação agrícola prestando serviços. “À medida em que os custos da lavoura estão sendo melhor analisados pelos produtores, a aviação agrícola tende a aumentar ainda mais”, ressaltou Rocha. Quem utiliza? Os produtores que utilizam a aviação agrícola são os que se valem de alta tecnologia em suas áreas de cultivo e que possuem informação de qualidade à sua disposição. “Seja através da assistência técnica ou da busca individual, o
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produtor que almeja auferir lucros cada vez maiores sabe que a aviação agrícola é uma poderosa ferramenta”, salienta o instrutor. O tipo de cultura também determina o uso mais ou menos intenso da aviação. Na cultura do arroz, por exemplo, só não se pode colher com avião, pois o restante das operações necessárias podem ser realizadas com tal tecnologia: semeadura, adubação em cobertura, combate a invasoras, fungos e insetos. Desta forma, nas regiões arrozeiras do Estado, o uso dos aviões é, certamente, maior do que em apenas 25% das áreas. Já nas regiões de cultivo de soja, a possibilidade de uso de equipamentos terrestres reduz a utilização do avião agrícola, em face do desconhecimento do produtor em relação a aviação, da posse de equipamentos terrestres ou por pura e simples opção.
EXEMPLO DE PERDA POR AMASSAMENTO - Um cálculo simples demonstra que, somados todos os valores, esse custo é da ordem de 10% do custo de produção da lavoura, o que pode perfazer uns R$ 100,00 por hectare. Este valor, por si, já pagaria, pelo menos TRÊS aplicações aéreas. O avião não transporta vetores Sabe-se que determinadas moléstias são transferidas de área para área graças ao contato dos equipamentos, que se deslocam por áreas contaminadas. O avião não entra em contato com a cultura, em sendo assim não é vetor de contaminação.
Menor risco de contaminação ambiental Por ser uma atividade realizada por profissionais treinados (conforme exige a legislação vigente), por ser uma pulverização com menores volumes, por ter constante acompanhamento técnico e por estar submetido a exigências legais que nenhuma outra forma de pulverização possui (tal como a necessidade de descontaminação em pátio apropriado) a aviação agrícola é uma atividade que impacta menos o ambiente do que a aplicação terrestre.
Profissionais treinados Todo o pessoal envolvido com a aviação agrícolas é altamente treinado. Ao contratar uma empresa de aviação para a pulverização de sua área o produtor leva “no pacote” uma equipe treinada para melhor aproveitamento dos produtos, melhor controle de dosagens, cuidados com o ambiente, desenvolver o trabalho no mínimo espaço de tempo, realizar uma aplicação com monitoramento contínuo das condições ambientais.
Aplicação de precisão A tecnologia de DGPS já é obrigatória na aviação agrícolas há duas décadas. Desta forma, a aplicação realizada por aeronaves tem alta precisão e possibilita o monitoramento posterior, por parte do contratante, da área realizada, dosagens aplicadas e uniformidade da aplicação.
Exemplo Para a aplicação de produtos numa área de 1000 hectares:
Avião
15
litros de água por ha
X 1.000
Avião x 1000 hectares =
15 mil litros de água
Terrestre
120X litros de água por ha
=
1.000
120 mil litros de água
“No equipamento terrestre contamina-se 105.000 litros de água a mais. Isso é impacto ambiental imediato”, destaca Drescher.
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Pulverização O engenheiro agrônomo e professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo, Walter Boller, conversou com a Revista Destaque Rural a respeito da pulverização aérea e alguns de seus detalhes técnicos.
Restrições Tamanho e conformação da área:
áreas pequenas, com muitos obstáculos e limites irregulares obrigam o piloto à realização de muitas manobras fora da área para a execução de sobrevoos muito curtos durante a aplicação. Deste modo, o custo operacional eleva-se, encarecendo sobremaneira a aplicação.
Condições atmosféricas adversas:
tais como vento excessivo ou temperatura elevada, associada à baixa umidade relativa. Embora tais condições atmosféricas adversas impedem, de igual modo, uma aplicação com equipamento terrestre.
Tipos de aeronaves
As aeronaves utilizadas têm capacidade variada, em função do uso ao qual se destinam. Entre os aviões médios (com reservatório para até 900 litros) estão o Piper Pawnee, Cessna AG-Wagon, Ag-truck e o Ipanema (uma aeronave nacional, fabricada pela Embraer, desde 1971). Dentre as aeronaves de maior capacidade, de 1000 a 4000 litros, existem o Air Tractor e o Trush, aviões importados de ampla utilização em áreas extensas tais como as encontradas no Mato Grosso, Goiás, Oeste Baiano ou Norte de Minas Gerais. Nesta categoria de aeronaves temos ainda o Grumann, um biplano agrícola ou o Dromader, aeronave de grande porte mas de pouca utilização. Os pilotos agrícolas são profissionais que recebem treinamento específico para a realização da pulverização aérea. Treinados em escolas homologadas para esse fim, estes profissionais detém habilidades superiores ao voo sob condições de alto risco e formação especializada para a realização de aplicações de sólidos e líquidos em áreas agrícolas. Além disso, é preciso o mínimo de 370 horas de voo.
Destaque Rural - Quando a pulverização aérea é indicada? Walter Boller - É indicada para áreas de lavouras maiores, com poucos ou nenhum obstáculos físicos (como árvores, linhas de transmissão de energia elétrica) onde estes possam ser contornados e/ou resguardados com certa facilidade. Também não deve ser utilizada próximo a áreas residenciais e manter certa distância até os corpos d’água. Seu uso pode ser tanto em aplicações antes da instalação da lavoura (herbicidas), como na semeadura, distribuindo sementes a lanço e durante o ciclo das culturas distribuindo fertilizantes como uréia. No tocante à distribuição das sementes, a aviação agrícola pode ser utilizada em um processo conhecido por sobresemeadura, quando sementes de uma nova cultura são distribuídas sobre a cultura anterior ainda em fase de pré-colheita e com a queda das folhas desta, as sementes são cobertas e germinam assim que encontram condições de umidade adequadas. Isso permite, por exemplo, obter uma pastagem em desenvolvimento inicial no momento da colheita da cultura anterior, antecipando a disponibilidade de
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forragem para animais. Esta alternativa também pode ser utilizada no sistema plantio direto para proporcionar cobertura vegetal sem revolvimento do solo. Durante o ciclo das culturas, a aviação agrícola proporciona serviços de tratamentos fitossanitários, principalmente em aplicações de inseticidas e de fungicidas. DR - Qual abrangência deste tipo de pulverização em nosso estado e na região de Passo Fundo? WB - Embora a aviação agrícola também possa ser utilizada para aplicar herbicidas, na região de Passo Fundo um uso interessante desta ferramenta é nas aplicações de fungicidas e de inseticidas, especialmente quando as culturas já se apresentam em avançado estádio de desenvolvimento (por exemplo, soja após a floração ou milho, após 6 a 8 folhas), quando a entrada de equipamentos terrestres causa danos por amassamento, que podem variar de 0,5% até 5% da produção dependendo da cultura e de algumas condições do campo. Esta diferença no amassamento das culturas pode justificar economicamente o uso da aviação agrícola e ainda contribuir para o pagamento dos produtos que serão utilizados. Se corretamente utilizada a ferramenta de aviação agrícola proporciona resultados iguais ou melhores que a pulverização por via terrestre. A abrangência de áreas pulverizadas com aeronaves na região norte do RS, via-de-regra se limita ás grandes culturas, como aveia, cevada e trigo no inverno e milho e soja no verão. Isso sempre em pro-
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Marcelo Drescher engenheiro agrônomo e instrutor na formação de pilotos agrícolas
priedades maiores e que ofereçam também uma adequada infraestrutura como uma pista de pouso, suprimento de água, acesso para veículos. O avião distribui os produtos no campo em faixas contíguas, indo e voltando, deslocando-se a velocidade em torno de 180 km/h (3000 m/min). A cada final de percurso faz uma manobra denominada balão, que demora em torno de 30s (tempo em que o avião se deslocaria por 1500 m e pulverizaria em torno de 2,5 hectares). Então, fica claro que quanto mais longos os “tiros” menor será o número de balões e menor o tempo perdido. Por isso o seu uso em pequenas propriedades somente se viabilizaria com o trabalho em lavouras de vários proprietários ao mesmo tempo. DR - Quais equipamentos são utilizados? WB - São utilizados dois equipamentos: as barras com bicos e pontas de energia hidráulica e as barras com bicos rotativos. As pontas de energia hidráulica operam com volumes de calda em torno de 20 até
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40 L/ha e os bicos rotativos, que produzem gotas mais finas e uniformes pulverizando entre 5 e 15 L/ha de uma calda normalmente adicionada de óleo vegetal (baixo volume com adição de óleo). Via-de-regra, as primeiras são mais utilizadas para herbicidas e as segundas mais para inseticidas e fungicidas, embora haja possibilidade de ajustes para ambas aplicarem os três grupos de produtos. No caso da distribuição de sólidos (sementes e fertilizantes) usam-se o difusor conhecido como pé-de-pato, e mais recentemente um equipamento conhecido como “Swathmaster”, que propicia maior largura de faixa e uniformidade. DR - Quem se interessar por este tipo de pulverização, quem deve procurar? WB - Deve procurar as empresas prestadoras de serviços de aviação agrícola e caso não encontrem na sua localidade, entrar em contato com o SINDAG (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola).
MANEJO
Estratégia
de
combate
O controle biológico é eficiente para mais de 90% do número de espécies que se desenvolvem em soja, trigo e milho
A
agricultura exige, cada vez mais, conhecimento e sabedoria para manejo de pragas, plantas daninhas e patógenos. O agricultor, e todos os segmentos envolvidos com a produção de alimentos, tem a responsabilidade de produzir quantidade e qualidade que atendam às necessidades do ser humano, adotando práticas sustentáveis de manejo de recursos naturais, que envolve cada vez mais os compromissos com a água. Conforme especialistas no assunto, a rastreabilidade com todas práticas de manejos certificáveis já é uma
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demanda dos mercados mais exigentes da Europa e da Ásia e será rapidamente assumida, também, pelo mercado consumidor local. “Portanto, a responsabilidade do manejo de pragas, a identificação, o monitoramento de pragas, patógenos, plantas daninhas e os seus agentes de controle biológico natural são exigências do mercado e determinadas por legislação cada vez mais rigorosa”, destaca o engenheiro agrônomo e gerente técnico da Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto – Cooplantio, Dirceu Gassen. EFICIÊNCIA Conforme ressalta o engenheiro agrônomo, o controle biológico existe e é eficiente para mais de 90% do número de espécies que desenvolvem em soja, trigo e milho. Poucas espécies de lagartas, percevejos e pulgões conseguem multiplicar e desenvolver populações que atingem o nível de praga. “É muito im-
portante entender a dinâmica populacional das espécies que atingem o nível de dano e que necessitam ser controladas. Essa dinâmica das populações envolve o conhecimento sobre ciclo biológico, os pontos fracos de cada fase, os locais de sobrevivência, a migração, os inimigos naturais mais importantes em cada fase, para adotar estratégias de manejo”, explica.
Evolução Na década de 1970 o Ministério da Agricultura criou novo sistema de pesquisa (Embrapa) e de extensão rural (Embrater), houve significativa evolução em novas tecnologias de produção de grãos. Nessa época foram desenvolvidos programas de controle biológico e estabelecidas estratégias de manejo integrado de pragas. O controle biológico de pulgões em trigo tornou-se referência mundial de êxito, o Baculovirus anticarsia para controle da lagarta-dasoja foi inovador, os níveis de dano e de início de controle para pragas forma desenvolvidos nessa época, rica de informação, de conhecimento e de aplicação prática. Nas décadas de 1990 e 2000, acentuaram-se os problemas de resistência de plantas daninhas a herbicidas, com a constatação de novas doenças em soja como o oídio, o cancro da haste e a ferrugem, as preocupações dos agricultores passaram para a proteção de plantas com agroquímicos. As pragas estavam sendo um problema menor do que plantas daninhas e doenças. “O preço baixo, na realidade muito baixo, de inseticidas piretróides e outros, determinaram a adição em misturas, sem critério de seletividade ou de manejo de praga. A prática de usar um “cheirinho“ de inseticida adicionado ao herbicida na dessecação e nas aplicações de fungicidas se generalizou. E as consequências não tardaram. A ocorrência de ácaros, novas lagartas como a Spodoptera cosmióides, a falsa-medideira, Chrysodeixis includens, resistente a inseticidas, a helicoverpa armigera e outras pragas”, relata Gassen. Diante dessas dificuldades voltaram as necessidades de manejo racional, uso de produtos seletivos, níveis de dano e controle biológico natural.
ESTRATÉGIA DE COMBATE O manejo integrado de pragas, plantas daninhas e patógenos de plantas tem a base no “conhecimento aplicado por hectare”. A solução não está em aumentar a dose ou usar misturas de agroquímicos mais potentes. Está em conhecer e agir como se fossem batalhas de uma estratégia de combate. A rotação de culturas, a produção de palha na superfície do solo, o uso de produtos mais seletivos, que matam as pragas e mantém os inimigos naturais, tecnologias de aplicação mais efetivas com menor distúrbio no ambiente e estimular a atividade biológica benéfica são práticas que permitem maior eficiência no controle de pragas e ao mesmo tempo beneficiam os agentes de controle biológico natural. A produção de alimentos e a adoção de boas práticas agrícolas é uma atividade de pessoas, com conhecimento e com ética de manejo de recursos naturais. O controle biológico de pragas é um processo natural intenso e presente em todas as lavouras, depende de
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conhecimento e de treinamento para adoção prática. VIDA A atividade biológica (vida) pode ser agrupada em organismos vegetais e em animais. Estima-se que mais de 99% do volume de biomassa é composta por plantas e apenas 1% por animais e microrganismos. As cadeias alimentares (tróficas) iniciam com os vegetais. Cada um com espécies herbívoras associadas, como consumidoras, seguida de predadores, parasitoides e microorganismos decompositores de material orgânico. A diversidade de espécies vegetais é o princípio básico que define o equilíbrio entre populações animais nos ambientes naturais. A substituições de campos e florestas nativos por plantas cultivadas, seleciona espécies de animais e microrganismos que se alimentam do vegetal disponível. PERCEVEJOS E BESOUROS O exemplo de maior impacto é o cultivo de soja na América do Sul, com 50 milhões de hectares semeadas na mesma época, desde a Argentina até a Amazônia. São quatro mil quilômetros contínuos, com biomassa de soja disponível para insetos, ácaros, nematoides, fungos e outros organismos que encontram nessa planta o alimento para nutrir-se e proliferar. Junto com as populações de pragas, desenvolvem os predadores, os parasitoides e os microrganismos, considerados inimigos naturais. Os predadores caracteriza-se por atacar e matar várias presas
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durante o ciclo biológico. Os percevejos e os besouros predadores, por exemplo, consomem dezenas de lagartas, pulgões, ácaros e outros insetos. MOSCAS E VESPAS Os parasitoides desenvolvem sobre um hospedeiro, onde podem produzir vários indivíduos no ciclo biológico. As moscas da família Tachinidade, os himenópteros, “vespas”, das famílias Ichneumonidae, Braconidae e outros parasitoides realizam a postura sobre ou dentro do corpo do hospedeiro (lagarta,
percevejo...). Uma ou mais larvas desenvolvem dentro ou sobre o corpo, matando o hospedeiro. Alguns parasitoides de tamanho pequeno, como os do pulgão-dotrigo, realizam a postura dentro do corpo e desenvolvem um indivíduo, matando o hospedeiro. A lagarta falsa-medideira, Crysodeixis includens, tem um parasito, Copidosoma sp., muito frequente em soja, que pode produzir mais de mil microhimenópteros por lagarta atacada. Ovos de percevejos são parasitados por Telenomus sp. e outros microhimenóteros.
Fungos, bactérias e vírus Os microrganismos podem ser agrupados em fungos, bactérias, vírus e outros, causando doença nos insetos atacados. Eles podem causar epizootias (morte generalizada de pragas) em lagartas, percevejos, pulgões, ácaros e pragas-de-solo. O uso frequente de fungicidas para controle de enfermidades em plantas, pode ter efeito supressivo sobre fungos benéficos, que matam pragas. Com isso, permitir a sobrevivência e a multiplicação de pragas nas lavouras. O uso de agroquímicos age sobre pragas, doenças e plantas daninhas consideradas alvo de controle, porém age, também, direta ou indiretamente sobre as populações benéficas.
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INOVAÇÃO
Sem furos no bolso O monitoramento das lavouras reduz despesas e evita quedas na produção
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agartas, plantas daninhas, ferrugem asiática. Os inimigos da produtividade no campo são muitos. Uma fórmula para erradicar essas pragas ainda não foi descoberta, mas o monitoramento da lavoura pode ajudar a reduzir as despesas e, consequentemente, aumentar os lucros. A Helicoverpa armigera é a mais temida no momento. E esse é o período em que o agricultor deve ficar mais atento com a turma das lagartas. O mês de fevereiro é o grande momento da formação de vagens e grãos e essas pragas também atacam nessas fases. “Se o produtor não cuidar das áreas, buscando o controle efetivo, são grandes as chances de perdas,” avalia o mestre em produção vegetal e diretor do Grupo Floss, Luiz Gustavo Floss. A ferrugem asiática é outra guerreira forte no time das pragas. Pode gerar 50% de perdas nas lavouras. Conforme explica Luiz Gustavo, a aplicação de fungicidas mais eficientes de forma preventiva é uma das alternativas para
combater a ferrugem. É importante compreender o calendário de produção dos outros estados, pois as pragas aparecem antes em outras regiões. Isso porque o período de
plantio é mais cedo e conhecendo o contexto fora das cercas fica mais fácil planejar dentro de casa. A grande quantidade de sementes que uma planta de buva produz também a coloca no topo da lista das temidas pelos agricultores. O número pode chegar a 3 mil, por se tratar de sementes leves, torna-se fácil a proliferação. Com tantas pragas, o monitoramento se torna indispensável para coibir possíveis gastos extras com a cultura. Alguns mecanismos têm tornado mais eficiente os métodos de monitoramento.
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AgroMonitor Disponibilizado pelo Grupo Floss, o monitoramento técnico de pragas, doenças e plantas daninhas busca minimizar as perdas nas culturas e melhorar o aproveitamento dos defensivos agrícolas. Um profissional técnico coleta os dados no campo e repassa as informações para o software. Mais de 12 mil hectares são monitorados através do AgroMonitor na região.
duos permanecem na lavoura e servem como alimento para estes inimigos naturais, que acabam fazendo o controle biológico natural. Assim, viabiliza-se uma técnica
de controle alternativo e gratuito. Além disso, quando necessário o controle químico, ele é feito com produtos específicos para a praga que se deseja combater.
Impactos ambientais A diminuição da quantidade de aplicações de inseticidas também contribui para a redução dos impactos ambientais. Um dos efeitos imediatos é o aumento das populações dos inimigos naturais das principais pragas que atacam a lavoura. Como o controle químico das pragas é feito somente quando a incidência atinge níveis altos, com potenciais de danos econômicos, alguns indiví-
Luiz Gustavo Floss, engenheiro agrônomo e diretor do Grupo Floss.
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CT& Bio GILBERTO R. CUNHA
O testamento de Sir Albert Howard
Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura - Embrapa Trigo
Mais que um mero título de livro, um autêntico testamento, se entendido como o ato pelo qual alguém dispõe de seu patrimônio, para depois da sua morte, estabelecendo aos beneficiários não só direitos, mas também deveres e obrigações, é o que se pode depreender da leitura da obra de Sir Albert Howard, “Um Testamento Agrícola”, cuja edição original, sob o título “An Agricultural Testament”, pela Oxford University Press, data de 1943. Albert Howard (1873-1947) nasceu na Inglaterra, mas foi na Índia, onde atuou como conselheiro agrícola, que, em função do seu trabalho, alcançaria reconhecimento internacional como um dos precursores da agricultura orgânica. O legado de maior repercussão, deixado por ele na obra que chamou de “testamento”, é o Processo Indore, que no Brasil ficou conhecido pelo nome de compostagem. O Processo Indore, pelos resultados demonstrados, na Índia e na África, foi amplamente difundido, via boletins, em línguas inglesa e espanhola, que alcançaram várias tiragens. Também não faltou a decantada publicação científica, cuja versão integral no Journal of the Royal Society of Arts (Nov. 22, 1935), foi referendada em nota na revista Nature de 29 de fevereiro de 1936 (Howard, A. Manufacture of Humus by the Indore Process, Nature 137 (3461): 363–363, 1936). Porém, as contribuições de Howard, especialmente pelas atitudes durante estada na Índia, opiniões e visões sobre agricultura e ciência, publicamente expressas, transcenderam os limites da técnica de compostagem. O legado de Sir Albert Howard, em agroecologia, encontra similaridade, pela relevância, com a teoria da trofobiose de Francis Chaboussou, por exemplo. A obra principal de Sir Albert Howard - “An Agricultural Testament” – pode ser acessada gratuitamente (arquivo em pdf), na edição inglesa (em geral a 5ª, de 1949), a partir de sites na Internet. Não obstante a clareza do texto de Sir Albert Howard, que não apresenta maiores dificuldades para leitura e compreensão, tomo a liberdade de sugerir, aos interessados,
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a edição em português – “Um Testamento Agrícola” -, publicada em 2007, pela Editora Expressão Popular. A tradução primorosa do professor Eli Lino de Jesus conta com o diferencial da apresentação e das notas de rodapé de autoria do professor Luiz Carlos Pinheiros Machado, que valorizam sobremaneira a edição brasileira. Luiz Carlos Pinheiro Machado, ex-professor da UFRGS e da UFSC, além de ter ocupado a presidência da Embrapa (1985), junto com o bajeense Nilo Romero e Humberto Sorio Junior, ex-professor da UPF, integra a tríade de autoridades (e propagandistas) do Pastoreio Racional Voisin na América Latina. O núcleo da tese defendida por Haward é a fertilidade do solo. Destaca que plantas daninhas, doenças e pragas nos sistemas cultivados nada mais são que indicadores de desequilíbrio na fertilidade do solo, provocado por ações humanas equivocadas. Para ele, o húmus é a base da fertilidade dos solos. Isso explica porque o seu testamento é essencialmente uma receita de como produzir e usar húmus nos sistemas agrícolas. Ataca os discípulos de Liebig, que rotula de mentalidade NPK, por pregarem o uso de fertilizantes químicos para a cura de todos os males dos solos. Mostra-se partidário da integração de sistemas agrícolas, a exemplo da integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), considerando indispensável a presença de animais para a prática de uma agricultura sustentável. Além de enaltecer o papel das leguminosas e a importância das micorrizas para a sustentação da fertilidade dos solos. Por fim, Sir Albert Howard tece uma crítica ácida ao sistema de pesquisa agrícola oficial, que já na sua época era dominado pelas especializações. Segundo ele, um indicador valioso é o efeito do tempo sobre as cultivares das espécies economicamente exploradas. Caso demonstrem tendência à degeneração é porque algo vai mal. A eficiência da agricultura no futuro, segundo ele, poderia, dessa forma, ser medida pela diminuição no número de melhoristas vegetais. Quando os solos tornarem-se verdadeiramente férteis, poucos melhoristas vegetais bastarão. Destaco, por precaução, que essa opinião é de Sir Albert Howard e que não necessariamente coincide com a minha.
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