Destaque rural 17ª edição

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INFORMAÇÃO COM PROPRIEDADE

ANO III NÚMERO 17 RIO GRANDE DO SUL AGOSTO | SETEMBRO | 2017 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

VAQUERO Instinto funcional

MANEJO Lavoura-pecuária: integração que deu certo

TERRACEAMENTO Manejo do solo dá mais estabilidade à lavoura

ENTREVISTA Maurício Lopes fala sobre desafios da Embrapa


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EDITORIAL

Festa do campo e da cidade

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essoas que, muitas vezes, vivem no anonimato, nos rincões mais distantes, na lida dura do campo, equinos, ovinos, aves e bovinos, animais exóticos e cheios de beleza são as estrelas da 40ª EXPOINTER, no Parque Assis Brasil, em Esteio. Agricultura familiar e extencionista, artesanato, máquinas e implementos agrícolas movimentam os negócios na feira, assim como as centenas de montadores, garçons, garis, seguranças e outros profissionais que atuam na organização do evento. Como espectadores, pessoas que vivem nos centros urbanos, que consomem produtos agrícolas pelo menos três vezes ao dia, com cada vez menos contato com o campo. Crianças que tem em eventos como esse, uma das poucas oportunidades de conhecer de onde sai o leite, o iogurte, a bolacha e o chocolate. É aí que está o maior legado da EXPOINTER, uma festa que une o campo e a cidade, dos que produzem e consomem alimentos porque, afinal, um depende do outro. Nesta edição abordamos como matéria de capa, um dos símbolos da EXPOINTER, o Cavalo Crioulo. Apresentamos a prova Vaquero, um evento que surge em paralelo ao Freio de Ouro, principal prova, e que expande os horizontes da raça. Não deixamos, nessa edição especial, de abordar assuntos voltados à produção de grãos, com matérias sobre conservação do solo, integração lavoura-pecuária e, fortalecendo ainda mais a presença da Destaque Rural na metade Sul, uma matéria sobre os desafios da Cultura do Arroz.

#edição 17 #Ano III #Agosto e Setembro

Editora Riograndense CNPJ 17.965.942/0001-07 Inscrição Municipal 66829 Endereço Rua Cacilda Becker, 30 Boqueirão Cep 99010-010 Diretor Leonardo Wink Jornalista Responsável Ângela Prestes (MTB/RS 17.776) Jornalistas: Juliana Turra Zanatta Ângela Prestes Foto de capa Felipe Consalter Projeto Gráfico Cássia Paula Colla Diagramação Ângela Prestes Revisão Débora Chaves Lopes Colunistas Gilberto Cunha Elmar Luis Floss Gerente Comercial Harry Nicolau Johann Impressão Gráfica Tapejarense Contatos leonardowink@destaquerural.com.br redacao@destaquerural.com.br (54) 9947- 9287 Tiragem 8 mil exemplares

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ESPECIAL

PROVA VAQUERO

INSTINTO FUNCIONAL

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arroz: diminuir área é a solução?

entrevista: dá para lucrar com o leite?

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lavoura-pecuária: integração que deu certo

IRRIGAÇÃO: MAIS PRODUTIVIDADE

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ENTREVISTA: MAURÍCIO LOPES FALA SOBRE OS DESAFIOS DA EMBRAPA


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OPINIÃO

Elmar Luiz Floss

elmar@incia.com.br

Engenheiro-agrônomo e diretor do Instituto de Ciências Agronômicas - Incia

Qual o potencial de rendimento da soja?

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oncluída a safra 2016/2017, observamos que o Brasil colheu uma safra recorde de soja de 114 milhões de toneladas (Mt), numa área de aproximadamente 114 milhões de hectares (Mha), o que representa um rendimento/produtividade de 3.362 kg/ha (56 sacas/ha). O Brasil já tem a maior área cultivada de soja no mundo, seguido pelos Estados Unidos, mas, é o segundo em produção, pois os americanos colheram na safra passada 117 milhões de t. Portanto, o rendimento médio dos EUA foi de 3.500 kg/há, enquanto o médio mundial foi de 2.090 kg/ha. Também o Rio Grande do Sul, colheu uma safra recorde de soja, de 18,7 Mt, em 5,5 Mha, com um rendimento de 3.360 kg/ha, praticamente igual a média brasileira. No entanto, o rendimento médio da soja ficou em sétimo lugar entre os estados produtores. Nas duas safras anteriores, a média do Rio Grande do Sul, ficou em décimo primeiro lugar. Portanto, mesmo com o crescimento observado, há muito que melhorar, considerando o potencial dos cultivares disponíveis e os resultados econômicos que podem ser obtidos com o uso das modernas tecnologias de manejo hoje disponíveis. O alto rendimento foi só por causa do clima bom? A safra 2016/2017 não foi apenas recorde em produtividade da soja, como também de outras culturas. No Sul do Brasil, a safra de inverno também foi recorde em 2016. De fato, tivemos condições de clima muito boas (La Niña no período de inverno/primavera

e neutro no verão/outono seguinte). A alta luminosidade, temperaturas mais amenas e chuvas bem distribuídas foram favoráveis ao desenvolvimento das culturas e inibidoras da incidência/severidade das principias moléstias. Mas, os altos rendimentos não podem ser atribuídos apenas a essas condições climáticas favoráveis. Se analisarmos ou últimos 50 anos, observa-se que tivemos em vários anos condições climáticas semelhantes, mas os rendimentos foram muito inferiores aos obtidos na última safra. Portanto, a diferença está na melhor tecnologia hoje disponível, começando pelo potencial dos novos cultivares, pela melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos, a qualidade das sementes e da semeadura, a adubação racional, o maior rigor no controle de pragas, moléstias e plantas daninhas e outras tecnologias que minimizam os estresses abióticos. Pela mesma razão, mesmo em anos de estiagem, os rendimentos médios da soja foram o dobro do que a estiagem ocorrida nos anos 1970 e 1980. Qual o potencial de rendimento da soja? Saber exatamente quanto é o potencial máximo de rendimento da cultura da soja é muito difícil. Em 1982, o professor/pesquisado Ritchie, nos EUA, escreveu um artigo, concluindo baseado nos seus longos anos de pesquisa, que “utilizando os melhores cultivares, nos melhores solos, usando as modernas tecnologias d manejo disponíveis e clima favorável, a soja poderia produzir mais 100 sacas/ha”. O seu artigo foi ridicularizado por muitos. Para exem-

plificar, a média brasileira nesse tinha sido de 26 sacas/ha e a média do Rio Grande do Sul, de 24 sacas/ha. É raro um agricultor, que colhia mais de 100 sacas/ha de milho nessa época. Na safra 2009/10, o agricultor Leandro Ricci, de Mamborê-PR, colheu 108,4 sacas/há de soja, vencendo o Desafio de Produtividade de soja promovido pelo CESB. Em 2011, o produtor americano Keep Culler, colheu 180, sacas/ha, em Missoouri. Na safra 2014/15, o produtor Allisson Hilgemberg, de Ponta Grossa, venceu o concurso do CESB, com 141,4 sacas/ha. Na safra 2016/17, o ganhador do concurso do CESB foi Helmuth Seitz e seus filhos Alexandre e Marcos, com o recorde brasileiro de 149,1 sacas/ha, em Entre Rios-Guarapuva-PR. Aliás, a família Seitz é bi-campeã do concurso de produtividade do CESB, pois também foram vencedores na safra 2013/14, com 117,3 sacas/ha. No entanto, em 29 de agosto de 2016, o produtor americano Randy Dowdy, bateu o recorde mundial em concurso de produtividade nos EUA, na Georgia, com o impressionante rendimento de 192,4 sacas/ha. Esse produtor também é o recordista mundial de rendimento de milho, obtido em 2015, com 527 sacas/ha. Mesmo sendo recordes obtidos em pequenas áreas, observa-se que esses produtores, em áreas expressivas obtém rendimentos muito superiores as médias nacionais. Portanto, o rendimento médio brasileiro é de aproximadamente 33% da média do campeão brasileiro. O desafio está posto. Onde chegaremos em 2150?


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MERCADO MANEJO

Arroz: diminuir área é a solução?

Juliana Zanatta

2017: muita oferta, pouca demanda. Produtores não estão conseguindo vender arroz devido à baixa no preço da saca e grandes exportações

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oi no sudeste da Ásia que o arroz teve origem, mais tarde se espalhando para regiões de todo o mundo. Planta da família das gramíneas, o arroz é a terceira maior cultura cerealífera do mundo, atrás apenas do milho e do trigo. No Brasil, o cultivo iniciou em meados de 1826, com a vinda da colonização alemã, habituada a alimentar-se de arroz diariamente. O território brasileiro, então, passou a ser responsável por cultivar perto de seis milhões de hectares de arroz, sendo que um milhão e cem mil eram plantados no Rio Grande do Sul. No Estado, as seis zonas produ-

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toras de arroz do são: Fronteira Oeste, Zona Sul, Região da Campanha, Planície Costeira Interna, Planície Costeira externa e Depressão Central. Em função do hábito alimentar da população, houve uma diminuição na produção do grão. Atualmente o Brasil está cultivando apenas dois milhões de hectares de arroz. Foram quatro milhões de hectares extintos desde o início do cultivo. Mas o Rio Grande do Sul continua sendo o carro chefe na produção, abastecendo o país com mais de 70% do arroz consumido.

Muita oferta, pouca demanda 2017 está sendo um ano de dificuldade para os arrozeiros, referente à comercialização do produto. “Estamos importando mais do que exportando”, afirma o consultor de mercado da Safras Consultoria, Elcio Bento. O ritmo de exportação está mais fraco do que o ano passado. Para se ter uma ideia, de março a julho deste ano foram embarcados 317 mil toneladas de arroz. No mesmo período do ano passado, foram 523 mil t embarcadas. A exportação de arroz dos países vizinhos para o Brasil tem trazido problemas comerciais para os produtores brasileiros que estão postergando as vendas devido ao preço não ser tão atrativo. O valor pago pela saca está cerca de 20% abaixo do que foi pago em 2016. Em média a saca de 50 quilos de arroz em casca está na faixa de R$ 40 reais. Conforme Bento, nesse curto prazo também não há grande necessidade em vender arroz, isso porque o governo postergou os vencimentos de custeio que seriam nos meses de julho e agosto, para setembro e outubro. “Então como não tem necessidade de pagar contas nesse momento, o produtor está esperando

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um pouco para ver se consegue preços melhores adiante”, explica o consultor. Nos cinco primeiros meses da temporada, iniciada em março, somente o Paraguai destinou 310 mil toneladas (base casca) do cereal para o Brasil, o que corresponde a um aumento de 29% sobre o montante do ano passado. Do Uruguai ingressaram 150 mil toneladas, com aumento de 59% em relação ao acumulado no mesmo período do ciclo comercial passado. A Argentina elevou em 8% as vendas para o Brasil, acumulando 75 mil toneladas. Devido ao preço expressivo do arroz importado os compradores nacionais têm pressionado as cotações dos grãos em casca para seguir competitivo. “O Uruguai não consome quase nada de arroz, a Argentina muito pouco, assim como o Paraguai. Por isso acabam exportando muito para o nosso país”, explica Maurício Miguel Fischer, diretor de pesquisas do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Na safra passada a média de preço iniciou acima dos 40 reais a saca, chegando na entressafra a 50.

2 milhões de t e aí fica mais difícil ainda nós conseguirmos regular esta oferta e procura”, completa. O propósito é que a área de plantio seja diminuída não só no Rio Grande do Sul, mas em nível de Brasil e Mercosul. Defesa do produtor Velho explica que o sistema de financiamento, no qual boa O arroz, rico em carboidratos, aminoácidos, vitaminas e parte dos produtores recorrem no momento de iniciar a safra, minerais essenciais ao organismo, exerce extrema importância tem sido muito seletivo e isso faz com que o produtor dependa quanto à segurança alimentar da população mundial. Além da muito de financiamentos da indústria e também de forneceimportância nutricional, o arroz desempenha papel estratégico dores de insumos. Por isso a entidade tem buscado um diferino que diz respeito à economia regional, estadual e mundial. mento de ICMS temporário. “Este financiamento vence todo Por isso, devido à situação vivenciada no período da colheita, ou seja, março e abril. pelos produtores, em que a oferta está Como a indústria acaba recebendo este arroz maior que a procura, a Federação das como pagamento no período de março e Arroz é a terceira Associações de Arrozeiros do Estado do abril, ela fica praticamente fora das compras Rio Grande do Sul (Federarroz), passou dentro do Rio Grande do Sul, em quase todo maior cultura a orientar os produtores a apostarem na o primeiro semestre. Nós ficamos na depencerealífera do diminuição da área plantada, assim como dência praticamente da indústria de fora. Em mundo, atrás na rotação de culturas ou a introdução da função disto estamos pleiteando uma redupecuária. “Estamos deixando bem claapenas do milho ção de ICM para que as indústrias venham ro que isto não é uma medida contra o buscar o arroz até aqui, no período de 90 e do trigo governo ou contra o Ministério da Agridias, que é para tirar um pouco desta oferta cultura, e sim, na defesa do produtor. [...] no Rio Grande do Sul com falta de compranós estamos alertando que se mantiverdores”, completa. mos a área, vamos ter um estoque de passagem para a próxiPara a próxima safra a Federarroz estima uma redução de ma safra ainda maior do que este ano. Em 2017, em função do pelo menos 10% na área plantada, o equivalente a cerca de câmbio que deu uma baixada, o arroz vai ter um excedente, ou 250 mil ha de arroz. A entidade acredita que com isso haverá seja, vai se importar mais do que exportar”, explica Alexandre uma melhor regulagem da oferta e procura e um mercado que Velho, vice-presidente da Federarroz. não fique tão prejudicial ao produtor, que atualmente está venA expectativa, segundo Velho, era de que a importação fosse dendo sua safra abaixo do custo de produção. “É uma medida muito parecida com a exportação, todavia haverá um exceden- em defesa do produtor, temporariamente ou definitivamente. te de importação de 200 mil t, em função da queda do dólar. Muitos ainda não se deram conta da gravidade da situação, en“Então o estoque de passagem este ano foi reajustado pela Co- tão nós estamos divulgando a nível de Mercosul”, explica. “Nós nab para 1,4 bilhão de t. Se mantivermos a área para o próximo queremos que o produtor tenha a mínima remuneração sobre período, nós podemos ter um estoque de passagem de mais de a sua atividade”, finaliza Velho.

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ENTREVISTA MANEJO

Dá para lucrar com o leite? Ângela Prestes

Produtores sofrem com os baixos preços e a falta de medidas protecionistas. A Destaque Rural conversou com o analista de Agronegócios do Sebrae Nacional e gestor nacional de Leite e Derivados, Ludovico Wellmann da Riva, sobre o assunto. Confira a entrevista:

Destaque Rural u Costumamos ver muitos produtores de leite reclamando sobre as dificuldades de lucrar com a atividade. Existem mesmo fatores dentro do setor que impedem o pequeno produtor de lucrar? Ludovico Wellmann da Riva u Sim, vários. Como todo negócio, a atividade pecuária leiteira possui inúmeros fatores que podem levar ao lucro ou ao prejuízo, internos e/ou externos; e considerando que o preço do produto de venda (leite) sofre forte impacto com alterações na economia nacional – oscilação do PIB, (praticamente toda produção brasileira é consumida internamente), a atual crise econômica que o Brasil está vivendo, aliada a valorização internacional das commodities agrícolas (grãos), utilizados para complemento alimentar dos animais, traz uma relação muito complicada para a manutenção de margens de lucro da produção. Se o empresário não observar o mercado e realizar ações no sentido de controlar custos e se adaptar as tendências de preço e mercado ele pode sofrer as consequências. Portanto, faz sentido muitos produtores acusarem prejuízos ou dificuldades com a atividade. Destaque Rural u Uma das principais dificuldades relatadas é o custo de produção e a baixa remuneração por parte das empresas. Como driblar esse problema? Ludovico Wellmann da Riva u Uma maior escala de produção possibilitando a divisão dos custos operacionais em uma produção maior de leite, favorece a taxa de retorno da atividade. No Brasil, o número de produtores rurais que informam operar na atividade de pecuária leiteira é enorme (cerca de 1,1 milhão), mas o volume de produto (leite) comercializado no mercado (laticínios) é gerado a partir de

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um pequeno número de produtores. Segundo analistas do setor, 80% do leite industrializado é gerado por 20% dos produtores. O que reforça a necessidade do produtor, para se manter no mercado, operar em uma maior escala de produção, e focar na gestão do negócio. Destaque Rural u Qual é o principal ponto de atenção nas propriedades leiteiras? Ludovico Wellmann da Riva u Planejamento e gestão da propriedade, como negócio rural, profissionalizando a atividade. Destaque Rural u Na gestão de propriedades rurais, quais são as peculiaridades da propriedade leiteira? Ludovico Wellmann da Riva u Por ter produção diária, 365 dias do ano, apresenta necessidade de gestão de custos diários, e até individuais (por animal). Ao mesmo tempo, oferece fluxo de caixa constante, com oscilações pré-determinadas principalmente por condições climáticas, o que favorece o planejamento de ações preventivas e que possam antecipar ou diminuir o impacto das oscilações de mercado. É uma atividade que está em franco desenvolvimento (parte produtiva), com acelerada concentração da produção, novos atores na cadeia produtiva, alta tecnologia sendo aplicada, em franca expansão e transformação de atividade secular e familiar (com raras exceções) para uma atividade dinâmica, lucrativa e comercial. Destaque Rural u Que outras atividades o produtor pode desenvolver para diversificar a receita? Por exemplo, investir no planejamento forrageiro é uma boa opção? Ludovico Wellmann da Riva u Além de identificar a melhor forma de alimentar o seu plantel (vacas em lactação bem nutridas produzem mais leite), através do planejamento forrageiro, a atividade deve estar atenta aos gargalos ambientais dos resíduos, que se transformam em oportunidades se bem aproveitados, como por exemplo, o Biogás/Energia e a Adubação

dos pastos, através da utilização do resíduo (esterco) dos animais ordenhados. Uma forma de diversificação em destaque é o ILPF (Integração Lavoura, Pecuária, Floresta), no sentido de melhor utilizar o solo, proporcionando o Leite Carbono Zero (equilibrando o CO2 pela floresta plantada), ou simplesmente uma diminuição de custos através da otimização da propriedade rural. Outro caminho é verticalizar parte da produção para industrialização do leite na própria propriedade, realizando agregação de valor, e menor dependência do valor de mercado do leite, e avançando no mercado de produtos artesanais e de procedência (origem), atentando-se a legislação municipal e estadual sobre o tema para evitar riscos no negócio ao comercializar o produto final, como queijos, por exemplo.

OPINIÃO Perguntamos aos produtores de leite do grupo Pecuaristas-Leite, no Facebook, por que é tão difícil lucrar com a produção de leite e quais as principais dificuldades quando o assunto é gestão da propriedade. Recebemos centenas de respostas. Abaixo, confira algumas delas:

O recurso é sair da atividade “Estamos tentando há anos melhorar índices zootécnicos da propriedade. Porém, nos últimos cinco anos, com margens apertadas, não conseguimos melhorar. Estamos a cada pouco regredindo. As empresas nos dominam. E sempre nós, da ponta mais fraca, é que pagamos. Não podemos ter crias de bezerras bem feitas e com margens apertadas, não conseguimos aumentar eficiência. plantel e estruturas. Por isso quem trabalha e depende só do leite, como no meu caso, pequeno produtor, o recurso é sair da atividade”! Giovani Ogliari, zootecnista e produtor, de Ouro Verde - Santa Catarina

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Ao invés de problemas, procurar soluções! “Não é difícil lucrar na atividade! Se tiver o sistema de produção correto, assistência técnica independente (que não seja vendedor) estar sempre em constante busca e aplicar novos conhecimentos a atividade leiteira é rentável. Quanto a gestão da propriedade vejo que é interpretação dos resultados! Quando se tem todas as receitas e despesas da propriedade e o controle total do rebanho e a atividade não é rentável, deve-se avaliar com técnicos. Ao invés de procurar problemas, procurar solução para os problemas”.

Matheus Woloszyn, técnico agrícola e produtor, de Concórdia/SC

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Os dois lados da moeda “Interessante que atuo nas duas pontas, com o produtor e indústria. É um jogo de empurra-empurra muito grande. O Brasil ainda engatinha como produtor de leite, tem volume, mas baixa produtividade e qualidade. Não podemos produzir derivados de qualidade pois falta matéria-prima. Com isso somos importadores de lácteos. Aqueles com valor agregado. Como pagar bem se os produtos precisam ter valor baixo pela qualidade? Nisto vira este jogo. O produtor reclama do preço, a indústria da matéria-prima! Enquanto não houver uma disseminação de boas práticas agropecuárias, com o produtor efetivamente cumprindo o que deve ser realizado, este será o cenário. Para algumas indústrias é o melhor, paga pouco pela matéria-prima ruim. Não precisa se incomodar com programas de pagamento por qualidade. Continuaremos estagnados se este for o pensamento reinante. Há indústrias que conseguem um bom leite. Monitoram e pagam por isto. Mas, de longe, esta não é a regra. Roberta Zuge, médica veterinária, mestre e doutora. Membro do conselho científico agro sustentável e sócia da Ceres Qualidade.

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Garantir a qualidade do leite “Na complexa atividade leiteira temos muitos aspectos que podem interferir na lucratividade dos produtores. Para começar podemos citar a falta de assistência técnica, não por falta de técnicos, mas pelo desinteresse dos produtores e por muitos acharem que já sabem de tudo por estarem há tempo na atividade e não precisam de técnico ou nutricionista. Acham um custo alto pagar 2% ou 3% para o nutricionista, ou até pela escolha do profissional errado em que preferem um que possa fazer ultrassom nas vacas ao invés de um profissional para trabalhar com o manejo de pastagem e nutrição. A falta de união entre os produtores, seria mais barato comprarem insumos ou até contratar um profissional para dar assistência se fizessem uma associação. Outro ponto importante é que existem muitos produtores de pequeno e médio porte colocando os pés pelas mãos, ao invés de investirem em uma boa pastagem estão investindo em um barracão, querem uma vaca PO priorizando a produtividade por animal e esquecendo a importância da produtividade por área. Sem contar que um animal PO é muito mais suscetível a doenças do que um animal cruzado. Para finalizar podemos falar de políticas públicas para incentivo a melhoria em infraestrutura, em irrigação por exemplo e também em medidas protecionistas, importar menos leite e procurar mercado externo para o nosso leite. Para que isso seja possível nós produtores devemos garantir a qualidade do leite que produzimos. Em resumo na minha opinião como produtor e técnico seria isso que interfere na lucratividade do setor”. Clovisnei Basi, zootecnista e produtor de leite em Ponte Serrada/SC


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CAVALO CRIOULO

Vaquero: Instinto Funcional Leonardo Andreoli

Prova consiste em cinco movimentos de rédeas e cinco movimentos com gado, em que cavalo e cavaleiro devem demonstrar harmonia, velocidade, agilidade e controle do trabalho campeiro

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Prova Vaquero chega em 2017 à sua quarta edição e busca se consolidar como uma das principais provas equestres da raça crioula no Brasil, além de se tornar referência internacional. A alta premiação e o caráter permitem que grandes, médios e pequenos criadores possam inscrever animais na competição. A expectativa é de que 150 conjuntos participem da prova, que distribuirá R$ 150 mil em prêmios aos dez melhores colocados neste ano. Organizada pela Associação Vaquero, a programação da Semana Vaquero - de 21 a 26 de novembro - compreende ainda leilões de animais da raça crioula e atividades culturais. Desde 2014, ano de criação, a Prova Vaquero tem apresentado um crescimento tanto em número de participantes, quanto na qualidade dos animais que a disputam e na execução das provas. De acordo com Marcelo Bertagnoli, da Cabanha Butiá - uma das que compõem o Conselho da Associação Vaquero, realizadora da competição - a prova foi criada a partir da iniciativa de duas cabanhas, a Butiá e a Infinito. Posteriormente, a ideia foi encampada por várias outras cabanas e hoje já são 42. “Estamos empenhados em conseguir habilitar mais cabanhas, queremos cada vez mais participantes

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para, inclusive, aumentar o prêmio da prova”, enfatiza. A Prova Vaquero também já é realizada por cabanhas no Uruguai e Argentina. O criador Roberto Davis, da Cabanha Infinito, salienta que o Vaquero é um projeto que envolve todas as cabanhas participantes e representa a força da coletividade crioulista ao fazer uma prova com as dimensões que ela tem, em relação ao investimento considerado pequeno que os criadores fazem.

Serão R$ 150 mil em prêmios R$ 8o mil para o primeiro lugar R$ 30 mil para o segundo R$ 15 mil para o terceiro R$ 5 mil para o quarto o quinto lugar R$ 3 mil do sexto ao décimo lugar

o ginete solicitou o cavalo fazer aquele movimenR$ 150 mil em prêmios A grande premiação é um dos maiores atrativos to”, explica Bertagnoli. da competição que teve, em 2016, cerca de 140 Aspectos avaliados conjuntos competidores. Neste ano, serão novaEntre as características levadas em considemente R$ 150 mil em prêmios. O primeiro lugar recebe R$ 80 mil, o segundo R$ 30 mil, o terceiro ração na avaliação estão a docilidade do cavalo, R$ 15 mil, o quarto o quinto lugar recebem R$ 5 uma vez que ele deve estar manso durante toda a mil cada e do sexto ao décimo lugar cada ginete prova e o instinto vaqueiro do animal, conhecido como o cowsense. Por esses fatores, o Vaquero é recebe R$ 3 mil. Pelo comprometimento dos organizadores na uma prova que seleciona animais. “Os animais busca por cavalos cada vez melhores e com o ob- que chegam na ponta são os que têm mais apjetivo de dar uma visibilidade ainda maior aos tidão vaqueira, mais coragem, temperamento mais fácil de serem apresentaanimais da raça crioula, a competidos, coragem para enfrentar o ção busca integrar e permitir a incluboi, como se comporta frente são de novos ginetes. “Como é uma ao boi, as reações, isso tudo é prova que permite duas mãos na réimportante e os jurados estão dea, qualquer tipo de embocadura, preparados para avaliar os cavaqualquer tipo de vestimenta e arreio los”, enfatiza. para o animal, tudo isso baixa o cusCada conjunto é avaliado to para o treinador e para o propriesempre por dois jurados que fotário do animal. Hoje, a questão firam treinados especificamente nanceira na preparação dos animais para a prova. Os treinamentos para prova é um limitante e tivemos ocorreram ao longo de 2016 o cuidado de facilitar algumas coie neste ano também. São sete sas para que tenha menor custo de jurados no total. “Treinamos manutenção e treinamento para a para que afinem cada vez mais prova”, explica Bertagnoli sobre os o conceito e consigamos cada objetivos da competição. “O Vaquero vez mais chegar a um resultado Outro facilitador para a inclusão começou a se imparcial e justo aos ginetes”, de novos ginetes é o fato de que os pontua Bertagnoli. tornar uma prova jurados se detêm a avaliar o moPara Caroline Bertagnoli, exevimento do cavalo, deixando em internacional. cutiva da Associação Vaquero, segundo plano a maneira como o Precisamos de o interesse de muitas cabanas ginete solicitou a execução de detodos nesse demonstra a grande aceitação terminado movimento. “Isso é improjeto para que a competição tem alcançaportante para ginetes novos que não conseguir ampliar do. “Todos os concorrentes e têm tanta tarimba de apresentação. cabanhas conseguem participar cada vez mais” É fundamental que se avalie mais o Marcelo Bertagnoli em condição de igualdade. A movimento do cavalo do que como 20 |

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Prova Vaquero tem um cunho inclusivo. Grandes, médios e pequenos criadores podem participar”, reforça.

Visibilidade para a raça crioula Para o criador de cavalos crioulos Onécio Prado Jr. o crescimento da Prova Vaquero é muito importante para a raça crioula. “É uma modalidade onde o nosso cavalo tem uma performance extraordinária. Com certeza vai gerar novos adeptos à modalidade e, consequentemente, um aumento de comercialização do cavalo crioulo. Esta modalidade, com poucas mudanças, já é praticada em outras regiões e com o incentivo e com o trabalho que está sendo feito certamente o Vaquero terá um grande crescimento”. Prado Jr. corrobora da opinião de que é uma prova que permite que mesmo quem tenha um ou dois animais, por exemplo, possa participar com possibilidade de obter bons resultados. “Acredito que um trabalho visando levar a Prova Vaquero para diferentes localidades do Estado, poderá acelerar em muito o crescimento da Modalidade”. Semana Vaquero Neste ano, a Semana Vaquero, que inclui a prova, acontece de 21 a 26 de novembro. A programação inclui ainda leilões de animais da raça crioula, conversas para os criadores e aspectos culturais. No ano passado foram 140 animais participantes. Neste ano a expectativa é de chegar aos 150 inscritos. As inscrições se iniciam um mês antes da prova. No total, 24 conjuntos chegam à final. Animais que podem participar Podem participar animais machos e fêmeas, que tenham idade hípica de quatro anos e que estejam, obrigatoriamente, marcados com o registro definitivo da Associação Brasileira. Os animais podem ser de cabanas habilitadas ou não na Associação, desde que cumpram os critérios estabelecidos. “Hoje apenas cavalos da raça crioula podem participar, porque foi uma iniciativa de criadores de cavalo crioulo. Apesar de ser uma prova grande ela tem seu tempo de se consolidar, possivelmente, no futuro, poderá ser aberta a outras raças, mas depende de uma discussão mais ampla. Muitos treinadores de outras raças já deAgosto e Setembro - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº17

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monstram interesse”, observa.

Como funciona a prova A prova é composta pela execução de 10 movimentos aos quais são atribuídas notas de um a dez para cada um, com um total máximo de 100 pontos para cada conjunto. A prova permite embocaduras de bridão e freio, a critério do concorrente, bem como qualquer tipo de arreamento. Não são permitidas gamarras, martingale ou outro tipo de ajuda equivalente. São permitidas proteções nos membros locomotores dos animais. É permitido o uso de duas mãos na rédea em qualquer momento da prova, a exclusivo critério do concorrente. Controle do boi A pontuação no trabalho com boi é baseada no cavalo que mantém o controle do outro animal todo o tempo, exibindo senso vaqueiro superior e habilidade natural de trabalhar com bovino sem uso excessivo de rédeas ou esporas. Quanto maior a dificuldade da prova, mais crédito será dado. Os critérios de dificuldade são a velocidade com que os movimentos são realizados, dificuldade imposta ou relutância do boi para correr na cerca quando conduzido pelo competidor. O trabalho com boi melhor controlado, com maior grau de dificuldade e com o novilho em movimento, deve receber pontuação mais alta.

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Movimentos da prova Conheça como são os movimentos que os conjuntos devem realizar e quais os aspectos avaliados em cada um deles conforme o regulamento da prova:

1 - Uma corrida referencial de aproximadamente 40 metros seguida de esbarro, na qual se avaliará a metida de patas do animal e a vontade de parar, a submissão, a continuidade do esbarro e a suavidade do movimento. 2 - Duas voltas sobre patas para o lado esquerdo, onde se avaliará o posicionamento do animal sobre os posteriores, simetria e velocidade dos movimentos. O giro excedente ou inferior a um quarto de volta implicará em nota zero para a etapa. 3 - Um movimento de “oito” a galope, saindo na mão esquerda, com trocas de mãos e patas no centro da pista, no qual será avaliada a simetria dos círculos, a velocidade média constante em ritmo semiacelerado, a troca de mãos e patas no centro da pista. 4 - Saindo do “oito” uma corrida referencial de aproximadamente 40 metros seguida de esbarro, na qual se avaliará a metida de patas do animal e a vontade de parar, a submissão, a continuidade do esbarro e a suavidade do movimento. 5 - Duas voltas sobre patas para o lado direito, onde se avaliará o posicionamento do animal sobre os posteriores, simetria e velocidade dos movimentos. Novamente, o giro excedente ou inferior a um quarto de volta implicará em nota zero para a etapa. Recuo em linha reta: este movimento não terá nota positiva dos jurados, mas a incorreção do movimento poderá retirar até dois pontos da nota anterior; a não efetivação do recuo implicará em erro de percurso e nota zero para a nota anterior (giro de patas para o lado direito). Em seguida, o conjunto se dirige ao centro da pista e solicita o novilho. Em todos os movimentos com o gado o cavalo deve sempre se manter de frente para o novilho. Se o conjunto der as costas para o novilho terá nota zero para aquela etapa. 6 - O conjunto deverá manter e trabalhar o novilho na dimensão lateral do fundo da pista. Será avaliado o controle do conjunto sobre o novilho e os movimentos laterais, consideradas a docilidade do cavalo, agilidade e velocidade. 7 - Depois, o conjunto deverá levar o novilho para correr em paralelo a qualquer das cercas da pista e fazê-lo retornar depois da marca estabelecida. Será avaliado o domínio do conjunto sobre o novilho, a velocidade, agilidade e qualidade na troca de direção. 8 - O conjunto deverá correr o novilho em sentido contrário, paralelo à cerca, mas desta vez sem necessidade de respeitar a marca de retorno. Novamente será avaliado o domínio do conjunto sobre o novilho, a velocidade, agilidade e qualidade na troca de direção. 9 - Em seguida o conjunto deverá fazer um círculo de, no mínimo, uma volta em torno do novilho o mais próximo possível de sua paleta. Será avaliado o domínio do conjunto sobre o novilho, a docilidade, velocidade, agilidade e qualidade do movimento.Se o concorrente der mais de uma volta em torno do novilho, a nota será sempre atribuída ao primeiro círculo realizado, desconsideradas as subsequentes para efeito de nota. 10 – O movimento anterior será repetido para o lado contrário, com os mesmos critérios de avaliação.

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FOTOS: FELIPE CONSALTER

Associação Vaquero

Faltas Durante a prova são consideradas como faltas as seguintes atitudes do animal: abrir a boca com exagero; boca dura ou pesada; balançar ou sacudir a cabeça; forçar a embocadura dando puxões; pausa ou hesitação enquanto estiver sendo apresentado, especialmente quando estiver correndo, indicando antecipação na parada antes do cavaleiro pedir a manobra; perder o boi ou não conseguir terminar o percurso da prova. Boas características São consideradas características de um bom cavalo de trabalho com gado: boas maneiras; ser astuto, habilidoso e ter as pernas sempre bem apoiadas no solo (bom equilíbrio); ao esbarrar deve fazer com que os posteriores fiquem bem encaixados embaixo de si; boca leve e deve ser receptivo a um leve comando de rédeas, especialmente nas curvas; deve manter a cabeça em sua posição natural; trabalhar em velocidade considerável e, mesmo assim, permanecer sob o domínio do cavaleiro.

Conheça as cabanhas que integram a Associação: Liberdade Tupambae Sendero Tamareira Taima Tamanca Dom Marcelino El Barquero Santa Fé Santa Eulália Santa Luzia Basca BT Junco Moinhos de Vento Dom Alberto Capanegra Viragro São Rafael Paraíso Mapuche Reservada Itao Gap São Pedro Carapuça Tarumã Aliança Cerro Frio Guarita Niazza Castanheiros Capão Redondo Estrela do Sul Cabanhas integrantes do conselho da Associação: Butiá Infinito Santa Angélica Maufer KT Don Teju Veio D’Agua Portal Gaúcho Cala Bassa Ico

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MERCADO

Cavalo Crioulo mantém liquidez diante da crise Novas provas de usuário devem expandir ainda mais o mercado. Ciclo de 2017 também apresentou crescimento nas provas esportivas 24 |

Ângela Prestes

A

Raça Crioula registrou uma evolução de 4,35% no Brasil em 2016. O número se refere ao total da manada em relação a 2015, que chegou a 480,65 mil animais, conforme levantamento da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC). O crescimento demonstra a força do mercado do crioulo diante da crise econômica e política brasileira. Na mesma linha do ano passado, segun-

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Com certeza deveremos expandir mais esse mercado”. Eduardo Suñe Presidente ABCCC

do o presidente da ABCCC, Eduardo Suñe, o primeiro semestre de 2017 também superou as expectativas. “Mesmo perante a grande crise em que vive o país, o Cavalo Crioulo manteve a liquidez e mantiveram-se os leilões e vendas particulares”. A expectativa para o restante do ano também é boa. As vendas na Expointer darão uma ideia do que virá pela frente no segundo semestre. “Com certeza deveremos expandir mais esse mercado, pois estamos oficializando novas provas de usuários (Exposição de Castrados, Tira Boi, Ranch Shorting). E nesse ciclo 2017, todas as provas esportivas tiveram um crescimento considerável, tanto em número de participantes, como de animais e eventos”. Crescimento e expansão Todas as regiões do país apresentaram crescimento percentual no número de animais. A região Norte do Brasil teve alta de 7,47%, tendo liderado o ranking das regiões, seguido pelo Centro-Oeste, que vem sendo o grande destaque de expansão nos últimos anos, com 7,27%. Já o Sudeste fechou com crescimento de 4,69%, sendo seguido da região Sul, que concentra o maior número de animais, que finalizou o ano com alta de 4,3%. O Nordeste terminou 2016 com uma elevação de 4,14% na manada. Para Suñe, o trabalho desenvolvido pela entidade com a parceria dos núcleos locais foi determinante para o sucesso no ano de 2016. “Isso nos gratifica e nos dá a certeza que estamos no caminho certo”, observa.

Manada Raça Crioula REGIÃO

2015

2016

%

Centro Oeste 5.389 5.781 7,27% Nordeste 338 352 4,14% Norte 1.058 1.137 7,47% Sudeste 7.897 8.267 4,69% Sul 445.932 465.108 4,30% Brasil 460.614 480.645 4,35% Fonte: ABCCC

Dois fatores motivaram a expansão, especialmente nas regiões de fomento, como Sudeste e Centro-Oeste. O primeiro foi o crescimento de usuários da raça Crioula, que são aqueles que não criam, mas dispõem de animais para o lazer e práticas esportivas. Além disso, o cavalo para trabalho em locais de pecuária extensiva, como Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Bahia, que se destacaram no período passado, impulsionou os números de registros. “O agronegócio tem levado o Brasil nas costas. A pecuária brasileira hoje é uma das maiores do mundo. Nossa Raça é rústica, se adapta em todo o território e um de nossos focos é mostrarmos o nosso produto também como ferramenta de trabalho”, reforça Suñe. Agosto e Setembro - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº17

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MANEJO

Lavoura-pecuária: integ

Luiz Schuster, produtor rural de Não-Me-Toque, aliou a produção de grãos com o manejo pecuário para aumentar a produtividade

O manejo pecuário aliado à produção de grãos tem trazido excelentes resultados a uma propriedade rural de Não-Me-Toque/RS

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Juliana Turra Zanatta

A

propriedade não é muito grande, pouco mais de 50 hectares. Mas isso não foi problema para o produtor rural Luiz Schuster, de Não-Me-Toque, no Norte do Rio Grande do Sul. Foi aliando a produção de grãos com o manejo pecuário, que ele descobriu que era possível aumentar a produtividade de uma maneira bem simples. Há 30 anos ele trabalha com a integração lavoura-pecuária. Enquanto muitos pensam que o solo onde o gado pisoteia enquanto consome pasto perde

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gração que deu certo a qualidade na hora de plantar outras culturas, seu Luiz está convicto de que é justamente assim que a produção dispara. A prova disso são as médias colhidas nos últimos anos. Na safra de 2015/2016, a colheita da soja chegou a 78 sacas por hectare. Nesse último ano agrícola, o número subiu para 82. “A gente adota um manejo de data limites. Por exemplo, no inverno, o gado pastoreia em uma área maior de 15 hectares. Quando inicia o mês de outubro nós o retiramos do campo para dar um tempo da pastagem de inverno crescer e assim sobrar palha na terra”, explica o produtor. Seu Luiz não quis saber de gado da raça Holandesa; apostou em Jérseys. Hoje, com 18 vacas leiteiras, a média mensal de leite entregue é de 11 mil litros. Ele conta que a rentabilidade na produção leiteira, mesmo sendo menor que a de grãos, é fundamental para complementar os custos de manutenção familiar. “Muitos produtores acham que o gado tira da propriedade. Mas nem sempre é assim. Desde que bem manejado, o gado não tira, ele agrega. Há vários anos adotamos o pastoreio rotativo, isso aí melhorou muito a produção, tanto na área do leite como na do grão” – afirma – “No verão a gente usa pouca área para o gado de leite, cerca de 3 hectares com grama Tifton, sempre rotacionando em piquetes até fazer o giro. O resto da área é usado em grãos”. O gado também se alimenta de silagem de aveia branca ou de cevada - são cerca de 10 hectares destinados às culturas. Outra área é usada na produção de feno. “Ele aduba bem quando larga as vacas e aduba bem quando tem grãos. Então em termos de compactação, ele prova que não tem interferência negativa do rebanho leiteiro na área que também é destinada a outras culturas”, conta Kleiton Kissmann, médico veterinário da Cotrijal e responsável por acompanhar o produtor. Apaixonado pelo campo, seu Luiz investe com orgulho na propriedade. Há pouco tempo teve a ideia de aproveitar a água da chuva para o consu-

“Muitos produtores acham que o gado tira da propriedade. Mas nem sempre é assim. Desde que bem manejado, o gado não tira, ele agrega. Luiz Schuster Produtor

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mo do gado e irrigação das plantas. “Nós consumimos 56 mil litros de água por ano só na lavoura e com o gado leiteiro 1 milhão de litros d’água por ano. Então é uma água de graça, sem custo e a distribuição é totalmente feita por gravidade. Como a nossa região é bastante beneficiada por chuva, a água é decantada e depois disso vai para seu destino”, explica o produtor que se sente grato por também estar ajudando a natureza. São sete tanques instalados na propriedade. O próximo passo será instalar mais um tanque e com ele uma estufa para vender hortaliças. Para que a pequena propriedade tenha bons rendimentos, o veterinário explica que não existe segredo. “O jeito é fazer o que você vem fazendo bem feito. Sempre que você estiver implantando uma cultura, fazer um manejo de nutrição, fazer silagem, fazer pastagem, fazer bem feito. Adubar conforme precisa, conforme a necessidade do solo, fazer o principal que é a análise do solo para saber o que a gente precisa colocar de nutrientes para a pastagem dar resposta”, completa Kleiton.

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As culturas de inverno do Brasil são muitas vezes deixadas de lado pelos agricultores devido a inúmeras razões, dentre elas, devido à baixa rentabilidade. O Projeto Culturas de Inverno é direcionado a apresentar as principais culturas de inverno. Dentre elas, as culturas do trigo, cevada e aveia. Reportagens com outros cultivos também são desenvolvidas. O foco principal é mostrar aos produtores a importância desses cultivos e as alternativas viáveis para o sustento.

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IRRIGAÇÃO

Sistema bem implantado aumenta produtividade e reduz custos Entretanto, alguns cuidados precisam ser tomados antes da implantação. Confira algumas dicas:

Ângela Prestes

O

Brasil saltou de 5,404 milhões de hectares irrigados em 2015 para 5,623 milhões de hectares em 2016, crescimento de 4% no período. Os dados foram divulgados pela Câmara Setorial de Equipamentos de Irrigação da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e demonstram o crescimento das áreas irrigadas pelo país. Alguns cuidados são fundamentais na implementação de um sistema de irrigação. Segundo o engenheiro agrônomo e consultor, Paulo Rosa, primeiro, o produtor precisa obter outorga do uso da água para irrigação e licenciamento ambiental da atividade. Também é necessário obter, junto à concessionária de energia, a demanda energética para o empreendimento. “Por fim, é preciso avaliar se a quantidade de agua é suficiente e estudar a viabilidade econômica do projeto”, aconselha.

feita. “Para fazermos um processo de irrigação que tenha resultado é preciso conhecer estas características de umidade volumétrica do solo e fazer leituras e acompanhamentos diários. Desta forma mantemos a planta suprida com a necessidade de água adequada à evaporação e transpiração diária”, explica. Os parâmetros conhecidos como capacidade e campo e umidade crítica devem ser identificados através da análise de curva de retenção de água no solo. “Existem instrumentos eletrônicos e portáteis no mercado que determinam a necessidade ou o déficit de água através da interpretação desses parâmetros”.

Entraves Apesar do aumento na área irrigada, esse total representa apenas cerca de 5% das áreas brasileiras agricultáveis. Para Rosa, os principais entraves não são os custos. “O principal problema é a burocracia existente para a obtenção de outorga e licenciamento ambiental, bem como demanda energética disponível e viável, o que trava em muitos locais a implementação de sistemas de irrigação”. De acordo com ele, os custos de implantação atualmente são bastante viáveis, tendo em vista a grande disponibilidade de equipamentos e distribuidores. “Hoje, sistemas de irrigação por aspersão em malha para lavoura e pastagens e sistemas de irrigação localizada por gotejamento e microaspersão são viáveis tecnicamente e de forma econômica para pequenas áreas ou cultivos”.

Manejo Para manter as lavouras com um bom padrão e produtividade é fundamental um bom controle de irrigação. Para isso, a utilização de sistemas de monitoramento vem sendo uma aliada dos produtores rurais que buscam alta performance e o manejo dos sistemas de irrigação com ferramentas de controle é fundamental para alcançar os resultados. De acordo com Rosa, se a irrigação não tiver o monitoramento correto do nível de umidade do solo, ela não é tecnicamente bem 32 |

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PIB Indenizações

DESTAQUES

De 2006 a 2015, o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) atendeu cerca de 420 mil produtores rurais e possibilitou a proteção de mais de 52 milhões de hectares, sobretudo em culturas como soja, trigo, milho, maçã e uva. O PSR é um programa estratégico da política agrícola brasileira. Instituído em 2005, o programa tem auxiliado milhares de produtores a contratar o seguro rural, como forma de prevenir eventuais perdas financeiras.

O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro cresceu 0,36% nos primeiros cinco meses de 2017, em comparação com igual período de 2016, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Agricultura digital

Anúncio foi feito por Neri Geller, secretário de Política Agrícola do Mapa

Crise do leite

O mais longo ciclo de crise da produção láctea global dos últimos dez anos pode ter chegado ao fim. O preço do litro de leite pago ao produtor no mercado internacional, que chegou a 22 centavos de dólar, recuperou-se nos últimos meses e alcançou o valor histórico de 38 centavos de dólar em junho. A tonelada do leite em pó, que no pior momento de 2016, custava US$ 2.000,00, já está sendo vendida acima de R$ 3.100,00 no mercado internacional. Veja no gráfico.

O agronegócio brasileiro tem todo o potencial para liderar a revolução da agricultura digital. Foi o que destacou o presidente da Monsanto no Brasil, Rodrigo Santos, durante evento realizado em São Paulo (SP). Segundo Santos, o Brasil inovou ao desenvolver uma agricultura tropical de sucesso, e tem tudo para fazer o mesmo com a agricultura digital. De acordo com o executivo, um dos desafios, é aprimorar os modelos de financiamentos das chamadas agtechs. Na ocasião, o ex-ministro Maílson da Nóbrega citou dado de pesquisa, o qual aponta que 25% dos drones ativos no País estão em uso na agricultura. “A agricultura deixou há muito tempo de ser sinônimo de Jeca Tatu. O setor é exemplo para outros segmentos”, disse.


TERRACEAMENTO

O solo tem mais poder O manejo do solo possibilita reter a água da chuva para as plantas de diversificadas raízes, dá estabilidade à lavoura e não coloca em risco a produção Juliana Turra Zanatta

A

erosão causada pela chuva é um dos processos mais determinantes quanto à degradação das terras na agricultura. Por isso a utilização de práticas adequadas para seu controle acaba por ser um dos grandes desafios para a sustentabilidade da produção de grãos no Brasil. Um estudo da Embrapa define o terraceamento da lavoura como sendo “uma prática de combate à erosão fundamentada na construção de terraços com o propósito de disciplinar o volume de escoamento das águas das chuvas, que consiste na construção de uma estrutura ao sentido do maior declive do terreno”. Apresenta estrutura composta de um dique e um canal e tem a finalidade de reter e infiltrar, nos terraços em nível, ou escoar lentamente para áreas adjacentes, nos terraços em desnível ou

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com gradiente, as águas das chuvas. Para que o procedimento dê certo, o Chefe Adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa, Jorge Lemainski, explica que é necessário executar três práticas. A primeira prática consiste na planta viva e na planta morta permanentemente cobrindo o solo, é a forma de reduzir os impactos da chuva em termos de erosão. A segunda prática enfatiza a água como sendo o principal adubo. As plantas são compostas 80% por água e 20% de matéria seca. O simples fato de fazer plantio em contorno dos terraços que são feitos pela linha da semeadeira, consegue reter uma chuva de 25 milímetros em média. Na terceira prática observa-se o uso do terraço para não perder água. Para se ter uma ideia, o solo da mata tem capacidade de infiltração de até 800 milímetros por hora. No caso das lavouras notam-se infiltrações de 10, 20, 30, 40, 50, 60 e até 70 mm por hora. Já a forma de segurar a água que não infiltra é fazendo o terraço em nível, para o líquido infiltrar lentamente, permitindo que as raízes aproveitem a água desse grande reservatório que é o solo. Para que se consiga ter crescente formação de solo fértil é preciso utilizar de 8 a 12 toneladas de matéria seca por ano com diversas plantas, isto é, a diversificação de culturas. O milho pode entregar de 8 a 16 toneladas de matéria seca por hectare, visto que a raiz desta planta dura de 12 a 36 meses. Nesse período, os microrganismos vão fazer a digestão

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das raízes quando as mesmas apodrecerem, gerando os agregados de solo, estes que são o reservatório de água e gás para a planta. Lemainski explica que para contribuir com esse processo, o uso de maquinário adequado permite ao solo absorver melhor a camada de composto que lhe é fornecida e chama atenção para a correção do solo com calcário. “A gente usa práticas mecânicas de escarificação e o uso de facão de semeadeira como uma forma auxiliar para que as raízes tenham aprofundamento no solo após ele ter sido corrigido adequadamente com a calagem, que é a primeira providência para se fazer agricultura. Acertando a calagem todos os outros fatores funcionam” explica Lemainski. Conforme a Embrapa, mesmo em solos sob plantio direto, as chuvas podem ser de alta intensidade, o que agrava terrenos com rampas longas ou de declividade acentuada. Nessas situações, pode até mesmo ocorrer a remoção da palhada pela enxurrada, o que agrava a perda de água e de matéria orgânica, mesmo que se perca pouco solo. Por isso, há um grande equívoco em se afirmar que lavouras sob sistema plantio direto não necessitam de terraceamento. Nesse caso a palha que recobre o solo retém a água, aumenta a velocidade de infiltração e diminui a desagregação do solo, mas não reduz completamente a enxurrada. Lemainski conta que em anos onde as chuvas ocorrem dentro da normalidade, o solo perdeu um pouco de fertilizantes e um pouco de terra, por não haver um sistema de terraceamento e plantio em contorno e de cobertura. Mas em anos de chuvas abaixo do normal

Assista o vídeo da matéria www.destaquerural. com.br/projetoconservar-terracos

Terraceamento em propriedade da Embrapa Trigo - Passo Fundo

onde os veranicos ocorreram, os produtores tiveram riscos de grandes quebras de safra por que não estarem exercitando os fundamentos da agricultura conservacionista. O manejo do solo, que possibilita reter a água da chuva para as plantas de diversificadas raízes, permite dar estabilidade de produção e não coloca em risco a economia dos agricultores, a economia do Estado e a economia do Brasil. “Agricultura é processo, é uma atividade complexa que você tem que harmonizar as condições de clima, de funcionamento vegetal, de nutrientes e correção e acidez do solo”, completa Lemainski.

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ENTREVISTA MANEJO

“Não trabalhamos hoje com o enfrentarmos todos os desafio Ângela Prestes

Com um orçamento anual de R$ 3 bilhões e quase 10 mil funcionários, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é uma das maiores instituições brasileiras. Com 44 anos de história e um papel essencial no desenvolvimento da agricultura brasileira, hoje, a organização enfrenta desafios orçamentários e luta pelo fortalecimento da pesquisa pública. A Destaque Rural conversou com Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa desde 2012, sobre essas e outras questões. Confira a entrevista:

Destaque Rural uA crise tem afetado a capacidade de investimento da Embrapa? Maurício Lopes u Num país com tantas prioridades, problemas e passivos, a Ciência enfrenta uma competição desigual com outros temas urgentes para a sociedade, como segurança pública, infraestrutura, logística e educação. Por isso, não trabalhamos hoje com o orçamento ideal e nem suficiente para enfrentarmos todos os desafios impostos para a Embrapa. A despeito do contexto de dificuldades, os projetos planejados e os recentemente aprovados continuam sendo desenvolvidos, alguns em ritmo mais lento. No entanto, tivemos que reduzir drasticamente outras despesas para manter nossa programação em dia. Costumo dizer que existem duas saídas para tratar essa questão. Uma, de curto prazo, é lutar pelo fortalecimento do orçamento público para a pesquisa, com a ressalva de contingenciamento na Lei Orçamentária Anual, impossibilitando corte de verbas para a pesquisa pública. A outra, de médio prazo, é buscarmos novos mecanismos de financiamento. Tramitam no Congresso Nacional dois projetos nesse sentido: um para criação da EmbrapaTec, braço de operação da Empresa no mercado de inovações; e outro para trazer para o Brasil o conceito de fundo patrimonial para recebimento de doações e recursos de desmobilização de ativos que possam render dividendos aplicáveis à pesquisa e à inovação no país. Destaque Rural uAo todo, a Embrapa possui 17 Unidades Centrais localizadas em

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FOTO : ORLANDO BRITO

o orçamento suficiente para os impostos para a Embrapa”

Brasília, 46 Unidades Descentralizadas em todas as regiões do Brasil e quase 10 mil empregados. Os resultados da Embrapa condizem com o tamanho da instituição? Maurício Lopes u O balanço social 2016 da Embrapa apurou um lucro social de R$ 34,88 bilhões em 2016, a partir da análise do impacto econômico de 117 tecnologias e cerca de 200

cultivares. Se relacionarmos este lucro social à receita operacional líquida, a relação é de 11,37. Isso indica que, considerando apenas a receita da Embrapa em 2016 e o lucro social obtido, o retorno anual foi superior a 11 vezes o investimento feito pelo Governo naquele ano. Em outras palavras, para cada real investido na Embrapa, os seus resultados de PD&I retornam à sociedade 11 reais e 37 centavos em

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benefícios sociais advindos da utilização tecnocom outros atores. A retração na participação lógica. Outro indicador que atesta o alto retorno da Embrapa e demais organizações públicas no social foi a geração de 43.229 novos empregos mercado de cultivares de milho, soja e algodão em 2016 decorrentes do uso de tecnologias da foi inevitável ao longo dos últimos anos. Ainda Embrapa. Este é um patamar mínimo, pois se reassim, a Embrapa é uma das poucas empresas fere aos novos empregos gerados pelas tecnolopúblicas no mundo que tem conseguido mangias avaliadas neste Balanço. Como a Embrapa, ter um número significativo de programas de ao longo de sua história, gerou conhecimentos melhoramento genético. É preciso ressaltar que, e tecnologias para a sociedade brasileira em núembora significativo e importante, o esforço mero muito superior ao utilizado para estimar de pesquisa da Embrapa com as três principais tais empregos, esse impacto, a cada ano, é muito commodities – soja, milho e algodão − perfaz maior. Apesar disso, seguimos sempre buscanpequena parte do conjunto do esforço da Emdo modernização e maior aproxipresa, que, apenas no que se refere mação com o setor produtivo. Esao melhoramento genético, se dedica tudos estão sendo finalizados para a mais de 80 espécies vegetais e anipropor eliminação de redundânmais. Isso garante ativa participação cias em alguns centros de pesquisa, “A retração na do setor público como provedor de participação da enxugamento de processos e maior cultivares para a agricultura brasileiEmbrapa e demais compartilhamento de laboratórios ra, em especial para aquelas espécies organizações e campos experimentais. Sem persque não atraem o interesse das granpúblicas no pectiva de aumento significativo des corporações privadas, mas têm mercado de do nosso orçamento nos próximos importância social e estratégica muito anos, devido à Lei do Teto aprova- cultivares de milho, grande. Por exemplo, neste momento, soja e algodão da pelo Congresso Nacional, terea Embrapa lidera o processo de adapfoi inevitável ao mos que cortar gastos e enxugar tação do trigo ao Cerrado brasileiro e longo dos últimos estruturas, sem colocar em risco o introduz as primeiras variedades de anos. Ainda assim, trabalho desenvolvido há quatro algodão de fibra longa. A Empresa é a a Embrapa é décadas em todo o país pelas nosprincipal provedora de novas cultivauma das poucas sas equipes. res de mandioca, banana, amendoim, empresas públicas feijão, além de grande diversidade de no mundo que Destaque Rural uA Embrapa tem conseguido hortaliças e frutas tropicais. A Embrajá ocupou um papel de desta- manter um número pa é ainda a principal desenvolvedora significativo de que no desenvolvimento de de gramíneas tropicais para pastagens, programas de sementes. Hoje, a iniciativa priprocesso que tem permitido à pecuária melhoramento vada está à frente da Instituição brasileira alcançar uma posição de grangenético”. nessa atividade. Qual o prinde destaque no mundo. cipal foco da Embrapa hoje? Destaque Rural u A pesquisa pública Maurício Lopes uAté meados dos anos 1990, acompanha a pesquisa privada? a Embrapa foi protagonista da pesquisa em melhoramento genético e sementes no Brasil porMaurício Lopes u A Embrapa procura cumque inexistia um setor privado organizado, comprir seu papel, que de maneira alguma é o de petitivo e conectado com as demandas do setor. competir com o setor privado. O que buscamos Quando diversas empresas nacionais e internaé que a pesquisa pública e a pesquisa privada cionais se interessaram por esse mercado, é eviatuem de maneira complementar. Seus intedente que nossa atuação teve que ser dividida resses e prioridades são diferentes. A pesquisa 38 |

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privada estará sempre atrelada a interesses comerciais e de mercado. A pesquisa pública tem uma função mais estratégica, e atua em projetos de maior risco e que demandam maior tempo de maturação, além de se dedicar à função social de atender demandas de setores da sociedade nem sempre atrativas financeiramente. Programas públicos usualmente investem em pesquisa de médio e longo prazos, procurando antever e responder de forma tempestiva a riscos e desafios que poderão surgir no futuro, investimento que a pesquisa privada normalmente não faz. A sobrevivência desses programas é um imperativo para o futuro, em especial diante de riscos e desafios relacionados às mudanças climáticas e à emergência de pragas e doenças cada vez mais desafiadoras, por exemplo. Eu sempre digo que a pesquisa pública precisa servir como uma locomotiva limpa-trilho que vai à frente removendo impedimentos, para que o setor privado encontre caminho livre para investir gerando emprego e renda, com muito mais rapidez. Destaque Rural u Você acha que o Brasil investe pouco em pesquisa na área? Qual a percentagem do PIB agropecuário destinado à pesquisa? Maurício Lopes u Os investimentos em pesquisa pública têm variado entre 0,90% a 1,80% do produto interno bruto agropecuário nas últimas duas décadas. Se compararmos a proporção do investimento em pesquisa em relação ao PIB no Brasil com os países da América Latina e os do Brics, veremos que estamos muito distante da China e da Coreia do Sul. Mas o que faz essa diferença é principalmente o volume de investimento feito pela iniciativa privada. O percentual de 0,55% do PIB aplicado pelas empresas brasileiras está longe dos 2,68% investidos pelo setor privado da Coreia do Sul ou dos 1,22% da China, por exemplo. Quando comparamos os investimentos públicos, no entanto, os gastos do Brasil estão na média das nações mais desenvolvidas: o percentual de 0,61% do

PIB brasileiro está próximo do investido pelo conjunto dos países, que é de 0,69%. A meta do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, estabelecida na Estratégia Nacional de Ciência e Tecnologia, é que até 2019, o volume de recursos destinados para ciência, tecnologia e inovação seja de 2% do Produto Interno Bruto (PIB). É um valor mínimo necessário para que o Brasil possa competir com grandes players mundiais, mas temos que entender que a iniciativa privada precisa também se comprometer com mais investimentos para a pesquisa científica no país − um investimenAgosto e Setembro - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº17

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to que se paga, pois tem taxas de retorno tipicamente entre 20% e 40%. Entretanto, a resposta positiva ao investimento ocorre em períodos geralmente longos e da ordem de 10 a 20 anos. Destaque Rural u O Brasil desempenhará um papel cada vez mais importante para o futuro da alimentação mundial. De onde virá o novo salto da agricultura brasileira? Maurício Lopes u Estou certo de que os sistemas integrados vão se constituir na próxima revolução agrícola no cinturão tropical do globo, com a liderança inconteste do Brasil, a começar pela Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, estratégia que busca a produção sustentável integrando atividades agrícolas, pecuárias e florestais numa mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotacionado. Tais inovações tecnológicas são fundamentais para sustentação do Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), e diversas propriedades brasileiras já vêm adotando a lógica dos sistemas integrados. Em breve, esses sistemas permitirão produzir carne, grãos, fibras e energia com emissões líquidas de carbono muito baixas ou, em algumas situações, com captura maior que emissão, um grande feito que vai projetar a agropecuária brasileira como uma das mais sustentáveis do mundo. Precisamos também estar atentos ao fato de que a agricultura do futuro deverá contribuir na promoção da saúde e qualidade de vida das pessoas, com oferta de alimentos de maior densidade nutricional e com novas funcionalidades, ajudando o mundo a lidar com o desafio da segurança nutricional. Por fim, estamos conscientes da necessidade de lidarmos com a intensificação de estresses de diversas naturezas − pragas, doenças, eventos climáticos extremos, etc. − em função das mudanças climáticas, particularmente no Brasil, onde os ambientes já são desafiadores para a agricultura e a produção de alimentos. 40 |

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EMBRAPA Orçamento anual (2015)

R$3 bilhões Distribuição Geográfica 17 Unidades Centrais localizadas em Brasília 46 Unidades Descentralizadas em todas as regiões do Brasil 4 Laboratórios Virtuais no Exterior (Labex), nos EUA, Europa, China e Coreia do Sul 3 Escritórios Internacionais na América Latina e África

9.713 empregados 2.463

Pesquisadores

2.546

Analistas

1.715

Técnicos

2.980

Assistentes


CT& Bio

Gilberto Cunha

gilberto.cunha@embrapa.br

Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura - Embrapa Trigo

O Pai do Trigo no Brasil

S

em Iwar Beckman, não existiria o cultivo comercial de trigo no Brasil (pelo menos, não nos moldes que conhecemos atualmente). Eis uma afirmação que pode soar desmesurada, mas que, de forma nenhuma, é de toda destituída de verdade. Basta atentarmos para “o que era” e “o que virou” o cultivo desse cereal em terras brasileiras, desde que esse cientista de naturalidade sueca começou a trabalhar no nosso País, a partir dos anos 1920. E como ele fez isso? É o que podemos descobrir lendo o livro Iwar Beckman, O Pai do Trigo no Brasil. Iwar Beckman foi quem, no Brasil, efetivamente, colocou Mendel a serviço dos agricultores. Ele, que, na Universidade de Lund, na Suécia, havia estudado e trabalhado com Nilson-Ehle, um dos pioneiros da genética quantitativa, trouxe para os campos brasileiros a redescoberta das Leis de Mendel. Isso mesmo, Mendel entrou no melhoramento genético de trigo no Brasil, em 1925, por intermédio de Beckman. Nesse ano, recém-chegado no País (1924), na antiga Estação de Seleção de Sementes de Alfredo Chaves (Veranópolis/RS), Iwar Beckman realizou o primeiro cruzamento artificial, documentado, em trigo no Brasil: linhagem Alfredo Chaves 6 x trigo Polysú. Surgia aí, pelas variedades oriundas desse cruzamento, a base genética do que podemos chamar de trigos genuinamente brasileiros.

A partir de Beckman, a triticultura brasileira não seria mais a mesma. E, a revolução, de fato, viria com a obra prima, o trigo Frontana, lançado em 1940. Frontana foi inovador, pelo ciclo (mais curto), pelo porte (mais baixo), pela resistência a doenças (ferrugens, especialmente), pela tolerância à acidez do solo, pela adaptação ampla, pela qualidade tecnológica (baixa sensibilidade à germinação na espiga), etc. Eis porque ouso afirmar que a história da triticultura brasileira pode ser dividida em a.F. (antes de Frontana) e d.F. (depois de Frontana) ou, se preferirem, em a.B. (antes de Beckman) e d.B. (depois de Beckman). O esforço de Iwar Beckmam em promover o desenvolvimento do cultivo de trigo no Brasil, todavia, não se limitou ao campo tecnológico (fitotécnico e genético, por exemplo). Ele foi muito além. Quer seja assessorando politicamente governantes, redigindo planos para o fomento do cultivo desse cereal, dando palestra sobre a importância e como bem conduzir as lavouras, escrevendo artigos de opinião ou pela participação ativa em encontros de natureza técnica e cientifica, tanto no País quanto no exterior. Não raras vezes, atuou como diplomata, colocando Bagé, aos olhos do mundo, como um centro de excelência em produção de ciência e tecnologia em trigo. Aqueles que já admiravam Iwar

Beckman pelos seus feitos em prol do desenvolvimento do trigo no Brasil, e eu estou certo disso, depois de lerem o livro Iwar Beckman, O Pai do Trigo no Brasil, o admirarão muito mais. E, os mais jovens na ciência do trigo, que ainda não haviam ouvido falar dele ou, por ventura, desconheciam a importância dos seus feitos, terão, a partir de agora, à disposição, um verdadeiro guia de como produzir ciência de qualidade e com relevância social. Indubitavelmente, não podemos deixar de render nossos respeitos a um homem, que dominava pelo menos oito idiomas (sueco, inglês, alemão, holandês, italiano, francês, espanhol e português), cujos textos, em língua portuguesa, sobre trigo, são tão bem ou até melhores escritos, inclusive, do que os de seus pares brasileiros. Louvamos a iniciativa dos familiares do insigne geneticista Iwar Beckman, no que toca à produção e publicação do livro Iwar Beckman, O Pai do Trigo no Brasil, passados 46 anos da sua morte, ocorrida em 15 de março de 1971. Apesar de alguns textos esparsos, não havia, até então, nenhuma biografia de Iwar Beckman tão completa quanto essa e que, efetivamente, fizesse justiça ao seu legado. Parabéns Heloísa Beckman e colaboradores! Os interessados na aquisição desse livro (R$ 40,00) podem fazer contato com Heloisa Beckman, pelo e-mail heloisabeckman@hotmail.com ou via o telefone (0xx53)999999956.

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UPF

Pesquisa desenvolve alimento O propósito é descobrir que outras finalidades a Ilex paraguariensis (erva-mate) tem, além das já conhecidas Juliana Turra Zanatta

A

erva-mate é uma matéria-prima bastante difundida em todo o Brasil, com uma grande aceitação pelo consumidor, principalmente para o chimarrão, tererê e chá. Originária da região subtropical da América do Sul, é uma árvore da família das aquifoliáceas, que pode atingir em média doze metros de altura. Conforme dados do IBGE, em 2013 foram produzidas 515.451 toneladas de erva-mate verde numa área colhida de 67.397 hectares, resultando numa produtividade média de 7.648 kg/ha. Segundo a pesquisa, o principal responsável pela produção de ervais cultivados é o Rio Grande do Sul, com 265 mil toneladas, representando 52% do total.

Benefícios para alimentação Um estudo, realizado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), comprovou que a erva-mate reduz as taxas de açúcar, combatendo o diabetes e doenças cardiovasculares – impede a formação de placas de gordura, que podem causar infartos - além de auxiliar no emagrecimento. Com tantos benefícios comprovados, você já pensou em consumir alimentos que contenham erva-mate como ingrediente? É isso que a Universidade de Passo Fundo (UPF), por meio de um projeto de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (UPF/PPGCTA), está buscando fazer. O projeto intitulado “Erva-mate como componente funcional no desenvolvimento de processos e produ42 |

tos alimentares”, foi aprovado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul em dezembro de 2016, e está sendo desenvolvido dentro da área de abrangência do Conselho de Desenvolvimento da Região da Produção (Corede), Polo de Inovação Tecnológica da Região da Produção e conta com o apoio da UPFTec. Conforme a professora coordenadora do projeto, Dra. Telma Elita Bertolin, o propósito da pesquisa é descobrir que outras finalidades a Ilex paraguariensis (erva-mate) tem, além das já conhecidas. “É uma planta que a gente considera pouco explorada, frente a todo potencial que ela possui. Por isso a ideia do projeto é trabalhar com a folha e não com o produto chimarrão. Frente a esse resultado nós queremos trabalhar com processo que visa microencapsular, ou seja, fazer uma camada de proteção do extrato para que os potenciais funcionais consigam se manter”, explica a coordenadora. Segundo a pesquisadora, atualmente existem muitos estudos que comprovam que a erva-mate tem potencial funcional como antioxidante e como redutor do colesterol e tem perfil lipídico, provocando a aceleração do metabolismo e desencadeando ações anti-inflama-

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os a partir da erva-mate processos de desenvolvimento da microencapsulação já estão em andamento. De acordo com a professora Telma, a partir dessa nova técnica de encapsulação, abre-se um leque para projetar novos produtos. Para a realização desse projeto foi firmada uma parceria com a empresa Belém Indústria e Comércio de Produtos Alimentícios (Belemix), de Passo Fundo. “O projeto se propõe a desenvolver o pão de queijo na empresa e, na sequência, colocá-lo no mercado, fazendo também um trabalho de extensão, disponibilizando à comunidade as informações e a formação. Outra parceria firmada foi com a empresa Inovamate de Ilópolis, que está incubada no UPF Parque e que trabalhará conosco em algumas ações”, lembrou a coordenadora. A expectativa é de que o projeto poderá render excelentes resultados, mas a coordenadora explica que o passo inicial é investigar as propriedades funcionais, obter bons extratos e aí poder informar a comunidade científica e a comunidade consumidora, respostas importantes sobre a erva-mate usada em alimentos.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

tórias. Nesse contexto, ressalta-se a necessidade de que a indústria de alimentos se potencialize cada vez mais para o desenvolvimento de alimentos que tragam mais saúde para o homem. A proposta de ampliar o uso da erva-mate vem de encontro com um mercado que, segundo a pesquisadora, carece de ampliação, tanto que muitos produtores acabaram deixando de produzir o produto por falta de alternativas. Um exemplo é o Rio Grande do Sul, que em 2015 substituiu mais de 15% da área plantada com erva-mate por outras culturas. “Então a ideia do projeto é primeiro obter extratos diferentes, depois encapsular o extrato e utilizar esses microencapsulados no desenvolvimento de novos produtos”, completa a pesquisadora. Cinco mestrandas do PPGCTA estão trabalhando em projetos para obter resultados com essa ideia. Pão de queijo e bebida láctea com extrato de erva mate, são exemplos de alimentos que já estão em execução. No caso do pão de queijo, para que ele saia do papel, os

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