ANO III NÚMERO 16 RIO GRANDE DO SUL JUNHO | JULHO | 2017 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA INFORMAÇÃO COM PROPRIEDADE
SOJA
Soberania de um grão MILHO Importância da cultura no sistema de produção
ADUBAÇÃO VERDE A planta não pode extrair do solo o que ele não tem
CARNE FRACA Entrevista com Francisco Sérgio Turra
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EDITORIAL
O Inverno pede socorro
#edição 16 #Ano III #Junho e Julho
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ão fosse a Soja, com sua importância econômica, gerar uma produção de riquezas que torna a atividade agrícola atrativa e movimenta a economia do Rio Grande do Sul, o que seria do agronegócio? Estamos em pleno período de cultivo das culturas de inverno e novamente o produtor passa pelo dilema de plantar ou não o Trigo, uma das culturas mais tradicionais na atividade agrícola. Tudo isso motivado pela baixa valorização do produto, que demanda por parte do produtor altos investimentos, com pouca capacidade de liquidez e desvalorização. Entrada de Trigo importado, logística inadequada, impostos, qualidade, genética e mercado são temas abordados em diversos e exaustivos debates realizados por entidades ligadas ao setor. Mas, em sua maioria, ficam apenas no discurso, no debate e com pouca efetividade na prática. Enquanto isso, passam os anos e não se vislumbra uma solução para o período de entressafra da Soja. Como resultado: áreas em pousio, aumento de pragas e plantas daninhas, degradação dos solos e perdas econômicas, pois, com a terra sem produzir não geramos riquezas, trabalho, impostos e o mais grave, o produtor rural fica refém de uma cultura apenas. E se o dólar estivesse desvalorizado? A Soja com preços abaixo dos cinquenta reais? Até que ponto a Soja é capaz de manter a viabilidade econômica da atividade agrícola? É preciso urgentemente achar alternativas para o inverno. A saída para esse dilema seria diminuir a área de Trigo? Diversificação da atividade com pecuária, cevada, aveia, canola? Precisamos nos movimentar, encontrar urgentemente uma saída para esse dilema e, para isso, cada ator do cenário do agronegócio precisa fazer sua parte. Estamos fazendo a nossa! Lançamos recentemente o projeto “Culturas de Inverno, uma mudança de Cultura”, no qual vamos percorrer o estado levantando os principais percalços da produção na entressafra da Soja, mas, principalmente, buscando soluções, exemplos que estão dando certo e que podem ser seguidos. E você, está fazendo o seu papel?
Editora Riograndense CNPJ 17.965.942/0001-07 Inscrição Municipal 66829 Endereço Rua Cacilda Becker, 30 Boqueirão Cep 99010-010 Diretor Leonardo Wink Jornalista Responsável Ângela Prestes (MTB/RS 17.776) Jornalistas: João Vicente Mello da Cruz Ângela Prestes Estagiária: Ana Cláudia Capellari Projeto Gráfico Cássia Paula Colla Diagramação Ângela Prestes Revisão Débora Chaves Lopes Colunistas Gilberto Cunha Elmar Luis Floss Fernanda Falcão Gerente Comercial Harry Nicolau Johann Impressão Gráfica Tapejarense Contatos leonardowink@destaquerural.com.br redacao@destaquerural.com.br (54) 9947- 9287 Tiragem 8 mil exemplares
Boa leitura! Leonardo Wink
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ESPECIAL
SOJA, RAINHA DO AGRONEGÓCIO
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GOVERNANÇA: Como separar família, negócio e patrimônio?
ÊXODO RURAL AO CONTRÁRIO: DE VOLTA PRA CASA
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ADUBAÇÃO VERDE: SAÍDA SUSTENTÁVEL AO SOLO
MILHO: COBERTURA E PRESERVAÇÃO
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OPERAÇÃO CARNE FRACA: ENTREVISTA COM DEPUTADO TURRA
SOJA MANEJO
Campeã de produtividade: região de Passo Fundo lidera ranking estadual A região de Passo Fundo obteve, na última safra, uma produtividade histórica de soja e ficou na liderança entre as regiões do Rio Grande do Sul. Segundo o engenheiro agrônomo da Emater/RS, Cláudio Dóro, a média de 3.776 kg/ha de soja foi alcançada graças ao alto nível tecnológico em que foram conduzidas as lavouras, desde a escolha da semente até o estado de pré-maturação das plantas. “Foi utilizada semente de alto potencial genético, fertilizante adequado com a necessidade das plantas. O manejo de ervas infestantes, das pragas e doenças foi realizado de maneira adequada e oportuna
e culminou com automotrizes previamente reguladas para evitar desperdícios”, explica. Outro fator que foi fundamental para alcançar este resultado foram as condições climáticas altamente favoráveis. Desde a implantação das lavouras até a maturação, tiveram chuvas bem distribuídas, temperaturas e insolação adequadas com o estádio tecnológico da cultura. A região contribuiu com 11,86% da produção gaúcha, abastecendo o mercado interno e disponibilizando produto para a exportação. Já a região de Pelotas registrou a menor média, de 2592kg/ha. Para
Dóro, as condições de solo da região, caracterizado por solo raso e textura arenosa, com menor teor de matéria orgânica e fertilidade natural, levaram a esses resultados. Segundo ele, a região Norte do Estado, compreendendo as regiões do Planalto, Alto Uruguai e Missões, são as melhores e mais adaptadas às exigências edafoclimáticas para a soja, com relevo favorável a mecanização, solos profundos e de boa fertilidade natural e regime de chuvas que atende a necessidade hídrica da cultura, além de possuir infraestrutura de logística e de armazenagem dimensionada para o tamanho das safras.
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OPINIÃO elmar@incia.com.br
Elmar Luiz Floss Engenheiro-agrônomo e diretor do Instituto de Ciências Agronômicas - Incia
Cevada, malte e cerveja
A
cevada-cervejeira é um cereal de inverno cultivado em diversas regiões no mundo e uma das alternativas de cultivo de inverno na região Sul do Brasil. É destinada, prioritariamente, na elaboração de malte, usado na elaboração de cerveja e destilados. Também é utilizada na alimentação humana na forma de farinhas, flocos e bebida alternativa ao café. A cevada é o cereal de inverno mais exigente em fertilidade dos solos, para expressão de altos potenciais de rendimento e boa qualidade industrial de grãos. A cevada é originária da região Asiática, antiga Mesopotâmia, tendo sua domesticação ocorrida em época pré-histórica, no início da agricultura, há aproximadamente 7000 anos antes de Cristo. A grande expansão da cultura e o seu melhoramento genético, que permitiu a obtenção dos cultivares modernos de cevada hoje disponíveis, ocorreu na Europa e posteriormente nos Estados Unidos e Canadá. No Brasil, a cultura é relativamente recente, cuja expansão ocorreu somente a partir da metade do século 20 com a expansão das indústrias cervejeiras. Trata-se de uma importante cultura alternativa em algumas regiões do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, para inclusão no sistema de produção, especialmente, em sucessão a soja. Segundo a Conab (abril de 2017), em 2016 forma cultivados 95,6 mil ha no Brasil, uma produção de 374,8 t e um rendimento de 3,921 kg/ha. Tradicionalmente, a cevada é cultivada em sistemas integrados de produção com as companhias cervejeiras, como a Ambev, Cooperativa Agrária e outras maltarias, geralmente em parceria com cooperati-
vas de produção. Atualmente, a maior parte do malte utilizado na fabricação de cerveja, cujo consumo cresce significativamente a cada ano que passa no Brasil, é importado, especialmente da Argentina. Com a instalação da Maltaria da Ambev em Passo Fundo, abre-se uma perspectiva de aumento da área cultivada desse cereal na região. Isso representa uma ocupação econômica de parte dos solos que ficam ociosos no período de inverno, gerando renda, empregos diretos e indiretos, e, tributos na região produtora. Quanto aos principais fatores de produção da cevada, há disponibilidade
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A cevada é o cereal de inverno mais exigente em fertilidade dos solos, para expressão de altos potenciais de rendimento e boa qualidade industrial de grãos.
de cultivares, com altos potenciais de rendimento, desenvolvidos pela Embrapa Trigo, bem como com adequada qualidade para malteação. Ao longo dos anos, a pesquisa também desenvolveu tecnologias de manejo da cultura (tratos culturais), desde a semeadura até a colheita, objetivando, além de altos rendimentos e qualidade industrial dos grãos, o aumento da rentabilidade ao produtor. Em relação ao fator ambiental, a cevada-cervejeira deve ser cultivada somente em solos corrigidos e de alta fertilidade, através de semeadura direta, sobre resteva de soja, obrigatoriamente em rotação de culturas para minimizar os riscos sanitários. É tolerante ao frio, expressando seu potencial em anos com primaveras secas, de alta luminosidade e baixas temperaturas noturnas, mas, sensível ao excesso de chuva na maturação. O grão de cevada destinado à malteação deve ter no máximo 12% de proteína, largura maior que 2,5cm e um poder germinativo mínimo de 95%. Isso por que, a malteação consiste numa pré-germinação do grão de cevada, para que o sistema enzimático converta o amido em maltose, que é o substrato utilizado pelos microrganismos de fermentação alcoólica, na indústria cervejeira. Aqui está a sensibilidade da cevada às condições de excesso de chuva na maturação, pois nesse caso ocorre uma redução no poder germinativo ou vigor dos grãos, tornando-os impróprios para malteação. No grão que não germina, não há a conversão do amido em maltose, portanto não serve como matéria prima na fabricação de cerveja. Nesse caso, seu destino é a alimentação animal, especialmente, na nutrição vacas leiteiras.
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GOVERNANÇA MANEJO
Como separar família, negócio e patrimônio? Envolvimento emocional no ambiente empresarial pode colocar o negócio em risco. Produtor precisa saber como delegar responsabilidades e trabalhar com transparência para garantir a continuidade da empresa Ângela Prestes
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o Brasil, estima-se que mais de 90% das empresas rurais sejam administradas por grupos familiares. O que, em um primeiro momento, pode parecer mais confortável e promissor, já que os membros da família se conhecem e têm mais intimidade entre si, pode colocar em risco a sobrevivência do negócio. As empresas familiares guardam muitas armadilhas e a dificuldade de gerir um negócio que envolve filhos, irmãos e outros parentes coloca em risco a continuidade da empresa e o bem estar da família. Os pilares de governança: comunicação, transparência, apresentação de resultados e profissionalização, permitem regrar e gerar clareza às dimensões: família, negócio e patrimônio. Para o diretor especialista em Governança em empresas rurais familiares da Safras e Cifras, Franco Javier Cammarota Gerosa, o produtor brasileiro, em geral, sabe produzir muito bem. Preocupa-se em como obter mais por hectare, independentemente da cultura plantada. “Nos últimos anos isso vem se expandindo cada vez mais rápido também para a gestão, afinal, quem não gosta de saber o resultado gerado? Em quanto resultou, por exemplo, a soja safra ou o milho safrinha?”. Segundo ele, as empresas familiares têm peculiaridades que, tanto podem gerar resultados maravilhosos, como 10 |
também podem ser grandes armadilhas. Por isso, faz-se necessário separar e regrar a família, o negócio e o patrimônio. “O grave problema hoje é o emaranhamento, em alguns momentos a confusão é tanta que parece um eclipse. O envolvimento emocional familiar no ambiente da empresa é uma grande tendência, podendo deixar a racionalidade limitada, o que é um grande risco. Nesse caso temos um problema que pode levar ao fim do negócio além de terminar com o Natal da família”, explica. É necessário que os membros familiares entendam os seus papéis tanto na família como no negócio com muita clareza e transparência. Assim, o processo de delegação de responsabilidades e o grau de formalização dos mecanismos utilizados para o controle das atividades no interior da organização representam duas grandes frentes de ação para a profissionalização.
Como dividir cargos e responsabilidades? É importante realizar uma análise da organização buscando compreender as estratégias de negócio e entendimento da atual arquitetura organizacional, assim como uma análise dos gestores familiares e suas funções no grupo. Conforme Gerosa, com essa análise, é possível ter uma avaliação das necessidades da empresa versus perfil e
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potencial (cargo e função x potencial profissional). “Com o apoio de instrumentos da Psicologia e Administração, busca-se identificar o perfil profissional do membro da família (características gerais, motivação, pontos fortes e a desenvolver, entre outros), fazendo com que seja possível definir cargos e responsabilidades”.
Práticas essenciais
Planejamento sucessório O planejamento sucessório é extremamente necessário para a continuidade do grupo familiar. É um processo, não um ato, que pode demorar anos e deve ser feito quando os pais estão vivos. “Assim, situações do passado podem ser esclarecidas e definidas. Infelizmente, é muito delicado quando o assunto é tratado no velório. Emoções e relações de poder vem à tona, pode ser o início do fim”. Pensar no planejamento sucessório é importante para proteger as conquistas da família que, muitas vezes, levaram muitos anos As empresas para serem atingidas. “O fruto de anos de muito trabalho, sucessos, privações familiares têm e sofrimento pode ir embora em pouco peculiaridades tempo. Então, o que se busca é gerar os que tanto podem acordos familiares, deixando bem claro como a estrutura funcionará como emgerar resultados presa”. Se não for assim, de acordo com maravilhosos, Gerosa, o grupo estará fadado a entrar para a estatística, que aponta que de como também quatro empresas de primeira geração podem ser apenas uma passará para a segunda grandes geração. Já o patrimônio fica protegido de acordo com os desejos e as necesarmadilhas. sidades da família empresária. “Se não fizermos isso, o que vamos deixar? Um inventário para discutirmos? Fatiaremos a terra perdendo o ganho de escala? Vamos vender para o vizinho? Com certeza isso pode ser evitado e devemos pensar sim em crescimento e continuidade”.
Preocupação mundial A preocupação com o tema é mundial. As empresas familiares predominam no mundo, variando o percentual entre os países. A cultura e a legislação também são diferentes, mas no centro está a família. “Temos participado de encontros com consultores familiares da América do Sul e a discussão na Argentina, Uruguai, Chile e Colômbia são a mesma. As vezes o sentimento é de que só muda o CEP”. Entretanto, segundo Gerosa, para cada família a solução é diferente, não é uma receita de bolo, é algo que deve ser bem discutido e planejado, sem rupturas. “Com isso diminuímos o custo emocional e financeiro”.
O diretor especialista em Governança em empresas rurais familiares da Safras e Cifras, Franco Javier Cammarota Gerosa, elencou as práticas essenciais de governança corporativa para as empresas rurais familiares. Confira: Consideramos que no agronegócio é necessário trabalhar, prioritariamente, com quatro pilares para obter êxito na gestão dos negócios familiares:
Comunicação - A boa comunicação é fundamental para o clima de confiança entre os membros da família. Os sigilos familiares, tudo aquilo que não é dito, são em geral armadilhas e por isso, o diálogo ainda é a ferramenta mais eficaz para uma boa relação societária. Transparência - A transparência tem como princípio informar tudo aquilo que possa afetar significativamente os interesses dos demais membros da família, os quais, melhor informados, terão mais condições de tomar as decisões adequadas. A transparência de compromissos, responsabilidades e resultados são explicitados em um verdadeiro pacto de convergência por objetivos comuns. Apresentação de Resultados - Visando garantir a trans-
parência das informações prestadas, bem como um bom nível de comunicação entre os sócios, deve-se praticar a Apresentação de Resultados. Profissionalização - A profissionalização é um processo que organiza e formaliza os papéis na organização, objetivando aprimorar sua competitividade e garantir sua continuidade.
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ÊXODO MANEJO RURAL AO CONTRÁRIO
De volta pra casa Cenário brasileiro está mudando. A permanência dos jovens no campo nem sempre é fácil, mas há recursos e tecnologias que podem ajudar nessa escolha 12 |
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uidar das terras que um dia serão dela foi a motivação principal para Lilian Scariot voltar para casa. A engenheira agrônoma, de 26 anos, moradora de Tapejara, cidade do norte gaúcho, viu na permanência no meio rural um sinônimo de oportunidade para exercer a profissão. Lilian se formou em Agronomia pela Universidade de Passo Fundo (UPF) em 2013 e até trabalhou fora do campo por oito meses, em Sertão/RS, em uma filial da AgroDanieli. Mas o incentivo dos pais a fez ver com outros olhos a oportunidade de cuidar do que um dia será dela.
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“Sempre tive o incentivo dos meus pais para estudar e não saí de casa com a intenção 100% de ficar fora”, comenta. O êxodo rural - processo de migração em massa das pessoas que moram no campo para a cidade - ocorreu com mais intensidade no Brasil em dois momentos: entre 1960 e 1980. Segundo um estudo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) o êxodo rural nessas décadas contribuiu com cerca de 20% de toda a urbanização do país. Ainda de acordo com a Embrapa, nos anos 2000 o movimento perdeu força e foi responsável por apenas 3,5% da urbani-
zação do Brasil. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) confirma essa desaceleração: no último censo registrado em 2010, a taxa de migração do campo para a cidade ficou em 0,65%. No censo feito anteriormente, a taxa era de 1,31%. Contudo, no Rio Grande do Sul, hoje, a população rural ainda é 37% menor do que em 1980. Há 30 anos, o número de pessoas que moravam e trabalhavam no campo era de 2,5 milhões. Já em 2010, o número caiu para aproximadamente 1,6 milhões. O movimento de retorno ao campo acontece, porém, ainda é lento. Para Jorge Bilhar, coordenador do escritório regional do IBGE de Passo Fundo, três fatores impedem que mais jovens voltem ao campo: a falta de acessibilidade nas estradas que ligam as propriedades ao centro urO IBGE confirma bano, a comunicação precária e a desaceleração: a energia elétrica deficitária. “A no último censo tecnologia está ajudando e veio registrado em para facilitar o trabalho, mas ainda não compensa para que 2010, a taxa os jovens voltem para o campo, de migração falta investimento do setor púdo campo para blico e parceria com a iniciativa a cidade ficou privada para que se melhorem as estradas e se tenha um sinal de em 0,65%. No internet melhor nas áreas rurais, censo feito mais afastadas dos centros urbaanteriormente, a nos”, afirma Bilhar. Esses fatores taxa era de 1,31%. diminuem a vontade dos jovens de entrarem e continuarem no setor do agronegócio, que terminou 2016 com um crescimento de 4,48%. Por outro lado, o coordenador do IBGE de Passo Fundo acredita que o desemprego em alta nos centros faz com que o trabalho no campo seja uma possibilidade a se considerar. Para o diretor especialista em Governança em empresas rurais familiares da Safras e Cifras, Franco Javier Cammarota Gerosa, o retorno dos jovens ao campo demanda uma análise complexa. “Inicialmente temos que avaliar que a consciência vista hoje no meio rural, não existia com tanta clareza 20 anos atrás”, comenta o diretor. Gerosa também acredita que um dos motivos para este
Programa de incentivo
Santa Maria, município situado na região central do Rio Grande do Sul, lançou no final de abril, em parceria com a Secretaria de Município de Desenvolvimento Rural e a Emater/ RS-Ascar, um programa para manter e auxiliar o jovem que está no campo. O Pró-Jovem Rural é destinado a pessoas de 16 a 29 anos e neste primeiro momento vai atender 45 jovens em três distritos rurais de Santa Maria. A ideia, segundo o chefe do escritório municipal da Emater, Guilherme Godoy dos Santos, é fazer com que os jovens tenham “as cartas na mão” e possam adquirir a independência financeira no meio rural. “O programa surgiu de uma demanda da sociedade e queremos potencializar a inserção dos jovens no campo, trazer temas como, por exemplo, a sucessão rural para a discussão, ter um diálogo com a família”, conta o engenheiro. A expectativa da organização do programa é para o próximo ano atender o dobro de jovens em mais distritos rurais da cidade. Os jovens beneficiados pelo programa terão, segundo Godoy, um auxílio para a compra de insumos de R$ 823 mil reais. “Apenas depois que estes jovens passarem pelos treinamentos e capacitações é que eles terão acesso a esse recurso, que deverá ser usado de forma positiva, afinal, vem dos impostos que pagamos”, conclui o engenheiro.
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FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
retorno pode ser o status que o agronegócio conquistou na economia brasileira. “Se antes poderia ter uma conotação pejorativa hoje, ‘é tech, é pop, é tudo’”, diz.
Cuidar das terras que um dia serão dela foi a motivação principal para Lilian Scariot voltar para casa.
Ela e o irmão, que é médico veterinário, decidiram montar um tambo de leite.
Há três anos a engenheira agrônoma comanda o tambo e as lavouras de soja, milho e trigo da família.
Ela chegou a trabalhar em uma empresa em outra cidade, mas o incentivo dos pais a fez ver com outros olhos a volta para casa. 14 |
Conflito entre gerações No momento em que Lilian voltou para casa, em 2014, ela e o irmão, que é médico veterinário, decidiram montar um tambo de leite. Há três anos a engenheira agrônoma comanda o tambo e as lavouras de soja, milho e trigo da família. Na empresa familiar, Lilian afirma que a parte difícil é conseguir convencer os pais de que as ideias que ela tem, por ter estudado, podem ser utilizadas nas tarefas do campo. “Eles são abertos a ouvir tudo o que a gente [ela e seu irmão] propõe, mas, para incluir no trabalho, é complicado, tem que começar aos pouquinhos”. Nesses quase quatro anos em que Lilian trabalha na propriedade, ela já sente a mudança na mentalidade dos pais. “Até porque eles já estão ficando mais velhos e vão ter que deixar para alguém cuidar”, salienta. Gerosa crê que o pensar diferente, como acontece na família Scariot, é fundamental, mas reforça que a comunicação, num geral, entre as diferentes gerações está aquém do ideal. “Se cada um forçar para um lado da corda teremos sérios problemas, temos sim que pensar como grupo e com objetivos comuns”, diz o diretor. Para que os mais jovens consigam ficar no campo, assim como Lilian, é preciso melhorar as condições. A engenheira agrônoma acredita que no momento não está tão fácil de ocorrer estas mudanças e que é preciso mudar a cabeça da juventude em relação ao meio rural. Entretanto, se mantém otimista em relação ao cenário atual: “eu acredito que tendo esperança e com um pouquinho de esforço de cada um, a gente vai vencer”, conclui Lilian. Empreendedorismo Continuar o negócio da família não é a única opção. Também há espaço no meio rural para quem pensa em empreender. Há quem aposte no agronegócio para impulsionar a vida profissional e também o setor. Em Minas Gerais, Danielle Fonseca, 27, desenvolveu, junto com sua irmã e pai, um aplicativo de celular que permite disponibilizar máquinas e implementos agrícolas para locação. O Uller e o Uller Maq foram criados para organizar o mercado
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Apesar de lento, o fenômeno de volta ao campo acontece, mas depende de melhorias em infraestrutura e mais incentivo. O gráfico demonstra a queda da população rural entre os anos de 1970 e 2010 em cinco municípios gaúchos
População Rural em 1970
População Rural em 2010
0 Passo Fundo
5000
10.000
Santa Maria
de locação de máquinas agrícolas, que na visão de Danielle, serve também para reforçar o conceito de economia solidária. Danielle e sua família produzem café em uma propriedade no sul de Minas, em Três Pontas. A fazenda dos Fonseca, segundo ela, não pode ser considerada nem grande e nem pequena. Quem toca o negócio é ela, engenheira civil e ambiental, a irmã, Priscilla Fonseca, que gerencia o marketing e o pai, Renato Fonseca, que é geólogo. “A ideia do aplicativo nasceu a partir da dificuldade nossa de encontrar o maquinário que a gente precisava na época certa”, conta a COO dos apps Uller. A engenheira também conta que o próprio maquinário da fazenda ficava ocioso nos momentos em que não eram realizadas colheitas ou semeaduras. “Além do que, nós somos também usuários de aplicativos de economia compartilhada, sob demanda, como o Ifood. Então, juntou a questão da nossa dificuldade com a gente ter certa empatia
15.000
20.000 25.000
Ijuí
Lajeado
30.000
35.000
Frederico Westphalen
com essa forma de economia”. O “uber do campo” como é chamado o aplicativo, está há 10 meses no mercado e possui 120 usuários espalhados pelo Brasil. De acordo com Danielle, 70% dos usuários estão em Minas Gerais, mas os usuários da região Centro-Oeste crescem cada vez mais. No Rio Grande do Sul, ainda não há nenhum registro. “Se conseguirmos que haja fluidez no mercado de aluguel de máquinas agrícola, não haverá escassez e a produtividade será bem maior, queremos gerar valor para todas as partes mostrando que aonde houver fluidez, não haverá escassez”, conclui Danielle.
O campo
avança
tecnico@sementesfalcao.agr.br
Fernanda Falcão
Engenheira Agrônoma e Gerente Técnica da Sementes Falcão
Diferenciando Conceitos
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odos nós falamos e utilizamos termos técnicos diariamente, especialmente ao que se refere às práticas de manejo de conservação dos solos. Entretanto sabemos realmente os preceitos e significados que englobam a Agricultura Conservacionista? Para isso vamos definir cada um deles: A Agricultura Conservacionista é a agricultura praticada segundo os preceitos da ciência da conservação do solo. Agricultura Conservacionista é entendida como a agricultura conduzida sob a proteção de um complexo de tecnologias de caráter sistêmico, objetivando preservar, manter e restaurar ou recuperar os recursos naturais mediante o manejo integrado do solo, da água e da biodiversidade, devidamente compatibilizado com o uso dos insumos externos.
solo em quantidade, qualidade e frequência compatíveis com a demanda biológica do solo. Diferentemente do termo Semeadura Direta ou Plantio Direto que expressa simplesmente o ato de depositar no solo semente ou partes de plantas na ausência de mobilizações intensas de solo e a preservação dos resíduos culturais na superfície do solo. Agricultura de Precisão: a agricultura de precisão engloba o uso suficiente e exato de todos os insumos agrícolas e também o manejo de tráfego mecânico, animal e humano sob o solo. Práticas mecânicas para o controle da erosão: em muitos locais com declividades acentuadas são necessá-
A Agricultura Conservacionista engloba os principais preceitos: Sistema Plantio Direto: mobilização do solo apenas na linha ou cova de semeadura ou plantio; manutenção de resíduos culturais na superfície do solo; ampliação da biodiversidade, mediante diversificação de espécies estruturadas em modelos de produção agrícola, pastoril, silvícola, agropastoril, agrossilvícola, agrossilvipastoril ou silvipastoril, em rotação, sucessão e/ou consorciação de culturas; redução ou supressão do intervalo de tempo entre colheita e semeadura (processo colher-semear); manutenção da cobertura permanente no solo; aporte de material orgânico ao 16 |
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rias técnicas de manejo de enxurradas complementares ao sistema plantio direto. Uma das práticas de controle de erosão é a semeadura e a colheita em contorno e em nível, assim como as estradas internas da propriedade. Além desta, o sistema de terraceamento base larga em nível para sistema plantio direto é uma técnica que tem por função interceptar e disciplinar a enxurrada quando a intensidade da chuva supera a taxa de infiltração de água no solo, reduzindo a velocidade e a energia erosiva da enxurrada, assim como a perda de nutrientes, evitando perdas econômicas na lavoura. O solo é nosso maior patrimônio e, quando bem cuidado, gera sustentabilidade.
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Soja, a rainha do agro Ângela Prestes João Vicente Mello da Cruz Ana Cláudia Capellari
Soberania do grão vai além das porteiras do agronegócio. A soja foi fundamental na história do desenvolvimento econômico de todo o Rio Grande do Sul
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Rio Grande do Sul vive sua maior safra de soja. A colheita soma 18,21 milhões de toneladas, 12,4% a mais que no ano passado. A supersafra confirma o potencial do Estado para a produção do grão. Nos últimos seis anos a cultura da soja aumentou sua área de cultivo em aproximadamente 1,5 milhão de hectares. A chegada da cultura da soja no Rio Grande do Sul trouxe desenvolvimento e crescimento econômico que ultrapassa as porteiras do agronegócio. Além de mais investimento no trato com o solo, novas tecnologias em máquinas e insumos, a expansão do grão gerou reflexos nas indústrias metalmecânica, química, na indústria processadora de alimentos e nos setores de comércio e serviço em todo o Estado. Segundo Paulo Waquil, professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais (DERI) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a soja assumiu importância
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econômica no RS a partir dos anos 1960, quando a área cultivada começou a aumentar, particularmente na região do Planalto e das Missões. “A produção passou a ser valorizada e os mercados foram ampliados, com a destinação do grão para a produção de farelo e de óleo, que motivou o desenvolvimento da indústria processadora”. Nos anos seguintes, a indústria de insumos (máquinas, equipamentos, fertilizantes) também se desenvolveu para atender as demandas do setor produtivo. “Assim, se formou uma forte cadeia agroindustrial, contemplando a produção de sementes; a produção e fornecimento de máquinas, equipamentos, fertilizantes; a produção agrícola, que se expandiu para outras regiões do Estado e depois avançou para outras regiões do País; o processamento e distribuição; e as exportações”.
Desenvolvimento em cadeia Não é somente na agricultura que a soja desempenha um papel importante. Ela gera efeitos em diversas outras cadeias produtivas. O professor destaca a utilização do farelo de soja na produção de rações, que viabilizou a expansão da produção de aves, de suínos e de leite e a utilização como ingrediente básico na elaboração de uma ampla gama de produtos alimentícios. “A contribuição da soja é muito maior do que a mera geração de renda e de emprego; o produto gera significativos efeitos em diversas cadeias produtivas, contribuindo para o crescimento da indústria metalmecânica, da indústria química, da indústria processadora de alimentos e do setor de comércio e serviços em todas as regiões produtoras”. Entretanto, o professor lembra que o avanço da soja e a consolidação do processo de mecanização da agricultura, ao longo das últimas décadas, também causou efeitos negativos. O êxodo rural e a redução da diversificação na agricultura são alguns deles. “O cultivo de soja também provocou impactos ambientais, como a derrubada das vegetações nativas e a degradação dos solos. Só a partir dos anos 1990 foram aprimorados os sistemas de cultivo, com a ampla adoção do sistema de plantio direto, ajudando no controle da erosão e da redução das perdas de solo”. A Região Metropolitana de Porto Alegre, por
exemplo, não é uma região de produção de soja, porém desempenha um papel importante na cadeia, já que é polo industrial e de serviços. Conforme Waquil, as maiores indústrias do setor alimentício estão localizadas na região metropolitana, com maior proximidade dos centros consumidores. “A soja também é, em grande parte, exportada e os fluxos que vem de regiões como o Planalto e o Alto Uruguai passam pela região metropolitana em direção ao porto de Rio Grande. Assim, a soja tem maior importância, em termos econômicos, nas atividades de comercialização, envolvendo a logística, processamento e distribuição”, explica.
Missões Segundo o economista e professor da Universidade de Cruz Alta (Unicruz), José Ricardo Libardoni, a história do desenvolvimento da soja na região de Cruz Alta seguiu na esteira das demais regiões do Estado, apresentando um acréscimo expressivo na área plantada, sobretudo em virtude das questões relacionadas ao solo. “A geração de renda decorrente do plantio da soja é bastante expressiva nestas regiões, principalmente pelo fato de que o plantio ocorre, principalmente, em médias e grandes propriedades”. Entretanto, conforme o professor é preciso considerar que a falta de diversificação da produção e a concentração desta produz efeitos colaterais importantes para a região, pois a dependência desta cultura se torna significativa. “Além do mais, o alto nível de difuJunho e Julho - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº16
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são tecnológica no setor vem reduzindo significativamente a geração de emprego na agricultura”, afirma.
Região Norte No Norte do Estado, uma das principais regiões produtoras, a soja também desempenhou um importante papel para o desenvolvimento econômico. De acordo com o professor da Universidade de Passo Fundo, Batista Luis Gollo, assim como no Rio Grande do Sul, na região de Passo Fundo ocorreu o mesmo processo de plantio, exportação e envio de uma parte da soja para processamento, onde agrega-se valor na venda do farelo e do óleo. “Não podemos esquecer da cadeia da carne que depende diretamente do farelo na composição da rações para suínos, aves e bovinos”, enfatiza. O cultivo trouxe, além de renda ao produtor, outros benefícios como as exportações e a entrada de di-
nheiro para o estado como também as empresas de esmagamento de soja e produção de farelo e óleo. “Acredito que o cultivo da soja está sendo de primordial importância no desenvolvimento do estado, isso deve-se ao fato de que praticamente em todo o estado o cultivo da soja possa ser feito desde pequenas propriedades até grande extensões de terra”.
Santa Maria A agricultura é um dos principais alicerces da economia de Santa Maria/RS. Na última safra (2016/2017) foram semeados 45 mil hectares de soja no município. Em 2006 a área cultivada era de 25 mil hectares, segundo os dados da Emater/ RS. O que significa um aumento de quase 50% na área cultivada em 10 anos. Segundo o Prof. Dr. Eng. Agrônomo da Universidade Federal de Santa Maria, Thomas Newton Martin, a região
Caminhos da Soja - A história do grão no Rio Grande do Sul Com informações dos livros ”A Rainha Do Agronegócio” e “A marcha do grão de ouro”, selecionados pelo Extensionista Rural da EMATER/RS, Celso Siebert.
1914 Em 1914 o agrônomo norte americano E. C. Craig introduziu experimentos de soja na escola Superior de Agronomia e Veterinária de Porto Alegre. Em 1923 chegou a Santa Rosa o pastor norte-americano Albert Lehenbauer, trazendo sementes de soja amarela comum e alertou para o valor alimentício do grão. Dizia que incluída na ração de porcos, engordava mais rápido que alimentos como abóbora, mandioca, milho e restos cozinha.
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1926 Mais tarde, no de 1926, o agrônomo Henrique Löbbe, distribui sementes entre centros experimentais, ensino e pesquisa, entre eles Pelotas e Veranópolis. O objetivo era selecionar variedades aptas à produzir grãos mais ricos como alimento humano e ração animal. O polonês Czeslaw M. Biezanko, na década de 30, disseminou a soja na região do Vale do Rio Uruguai, no noroeste gaúcho entre colonos poloneses. Com dois kg de grãos ele ensinou a população local a usar a soja para fazer leite, margarina, farinha de pão.
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de Santa Maria é a segunda região em área cultivada, ficando atrás da região de Ijuí. Em toda a região, considerando 884.000 mil hectares, com uma produção média por hectare de 46 sacos e o valor médio de R$ 60,00, tem-se a geração de R$ 2.439.8400.000,00. “Esse valor faz gerar a economia de serviços e produtos das cidades, é utilizado de forma direta e indireta na agricultura e em outras áreas para o sustento das propriedades rurais”. Conforme o professor, no Rio Grande do Sul, as áreas destinadas à cultura da soja vêm ganhando cada vez mais espaço, principalmente pela maior ocupação de áreas que eram destinadas ao cultivo do milho, e também pela inserção da cultura em campos nativos e pastagens, bem como a inserção da cultura em áreas de várzea, que anteriormente eram destinadas apenas ao cultivo do arroz. “Nos últimos anos a expansão da soja no estado avança principalmente na metade Sul do estado do RS, região que possui solos mais arenosos e menos estruturados, com alto risco de sofrer restrição hídrica durante a época de cultivo”. Esta expansão da área tornou a cultura a mais importante do Estado economicamente, liderando as exportações do agronegócio gaúcho, em que o complexo soja representa aproximadamente 45% do total de produtos exportados (BRASIL, 2015). Devido à alta demanda externa e pelo ganho por área, nos últimos anos a produção de soja foi a que mais avançou no estado. O principal destino do grão de soja produzido no estado é a exportação, no ano de 2014 o esta-
1934 Em 1934 – a soja teve uma arrancada comercial no norte gaúcho com chegada de alguns agricultores de origem japonesa.. Nesta época, casas comerciais começaram a intermediar negócios envolvendo a soja – ainda desconhecida como alimento humano. Na época, população usava banha de porco na cozinha; os mais ricos consumiam gordura de coco; os mais pobres – sebo bovino, Óleo de soja só entrava na dieta por recomendação médica.
do exportou 80% da produção, onde o mercado Chinês absorveu 68% do total, dentre grão, farelo e óleo. Daí a importância do grão de soja na economia Gaúcha.
Região Sul Na região Sul, a soja vem se desenvolvendo as poucos e já representa boa parte da área cultivada. Segundo o engenheiro agrônomo da Emater de Pelotas, Evair Ehlert, a área de arroz está em torno de 200 mil hectares. A soja já tem 330 mil hectares. “Em função e com o avanço da soja, não vai parar em 330 mil hectares na região, vai avançar ainda mais, tanto em áreas de coxilha, como para as áreas mais planas, com arroz irrigado. “Até mesmo porque a saca do arroz irrigado ficou desvalorizado após a colheita e hoje todo mundo sabe que a soja é um cheque ponto. Ainda mais aqui, que estamos perto do porto, o gasto com a logística diminui”. O avanço da soja trouxe uma intensa mecanização dos setores na região. “Tínhamos praticamente só a pecuária de corte nas áreas de coxilha e com o avanço da cultura da soja, dos grãos, é necessário a mecanização, máquinas de médio e grande porte”. O avanço mais significativo da produção de soja na região de Pelotas se deu a partir de 2015. “Há 10 anos nós não plantávamos nem 80 mil hectares de soja. Isso muito em função dos avanços da tecnologia, da possibilidade de integrar lavoura e pecuária, e claro, o principal atrativo, como a soja é uma commodity, o dinheiro”.
1940 Nos anos 1940, uma rotina culinária em torno do cereal iniciava-se com fabrico de pão integral com farinha de soja, amplamente divulgado à partir de folders produzidos e distribuídos à população com informações sobre o valor do grão de soja. (1956-61), a triticultura gaúcha bateu recordes de área plantada no Rio Grande do Sul. Em média, plantou-se um milhão de hectares por ano (no mesmo período, a média de plantio de soja girou em torno de 100 mil hectares por ano).
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A Última fronteira Ao sul do Rio Grande Sul, a soja chegou mudando paisagens e tradições
Um ambiente com tradição na pecuária e na cultura do arroz. Um clima com chuvas intensas e um solo arenoso. A metade sul do estado do Rio Grande do Sul, carregada de características diferentes da região Norte, desafia os agricultores que estão investindo na soja a alcançarem rendimentos que paguem os altos custo de produção. A paisagem dos campos foi modificada pela presença das lavouras de soja nos últimos anos. Em Cachoeira do Sul, a segunda maior região produtora do grão no estado, a história do agricultor Luiz Carlos Camargo chama a atenção. Ele foi um dos pioneiros na atividade, com mais de 30 anos de cultivo de soja. “Foi na década de 1980 ainda, devido a família grande e disponibilidade de espaço, nós migramos para a região. Primeiro nós viemos arrendando área e depois começamos a comprar áreas, isso em 1981 para ser mais exato”. Em uma região onde a pecuária de corte é de tradição, em Cachoeira do Sul era uma aliada para muitos produtores na época: “a região aqui era muito pastoril, com muita pecuária extensiva. Se plantava um pouco de milho, se plantava um pouco de tudo. Tudo muito artesanal”, conta. O início tímido das primeiras lavouras de soja na região foi o prenúncio do que seria, anos depois, a implementação do plantio direto e que revolucionaria, não
somente a produção em si, mas também, a forma como a comunidade enxergava a chegada da soja por lá na época. “Não se acreditava muito em soja, tanto que as pessoas aqui comentavam que a soja ia destruir a terra da região. Aí, entramos plantando com um início convencional, na década de 1980. Já nos anos 1990 iniciamos o plantio direto em uma parte da área, fazendo o manejo bem adequado e corrigindo o solo”, relembra o agricultor. Mas os primeiros passos para a implantação das lavouras de soja na região Sul foram primeiramente desacreditados. “Um dos principais desafios é que por ser considerada uma área de arroz, o preço da soja, na época, era baixo. Inclusive, o financiamento nos bancos para quem plantava soja, na época, era muito baixo e quem plantava arroz tinha mais acesso. Nós, por sermos novos na região, tínhamos mais dificuldade, em função de não ter credibilidade para conseguir recursos para começar a plantar soja. Mas, aos poucos, com persistência, conseguimos”, relata Luís Carlos, relembrando como essa insegurança inicial deu espaço a uma consciência que permitiu que a soja se espalhasse e ocupasse mais espaço, desenvolvendo novas técnicas de plantio e também agregando tecnologia a sua produção. “Na época, se produzia em torno de 30 a 35 sacos de soja por hectare, no início dos anos 2000, as pessoas já falavam em 50 sacos. E aí começou a rotação de culturas, começou-se a plantar milho. Plantamos milho durante 21 anos para melhorar a estrutura do solo. Mas, o carro-chefe mesmo, foi a introdução do plantio direto, devido ao fato de que a região possui
Caminhos da Soja - A história do grão no Rio Grande do Sul Com informações dos livros ”A Rainha Do Agronegócio” e “A marcha do grão de ouro”, selecionados pelo Extensionista Rural da EMATER/RS, Celso Siebert.
1960 O grande impulso ao cultivo da soja, originou-se na sucessão “trigo-soja”, adotada no Rio Grande do Sul na década de 60, época em que a política governamental estimulou a expansão da cultura do trigo. Consolidada nas décadas 60 a 70, a soja impulsionou a mecanização e profissionalismo no campo, trouxe rentabilidade financeira da lavoura, abriu mercados interno e externo, desenvolveu infraestrutura de transporte, armazenagem e secagem, conhecimento técnico.
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1960 Com a necessidade de melhorar os solos para produção, surge a OperaçãoTatu que consistia no uso do calcário para correção da acidez do solo. Os resultados promissores desencadearam a corrida pelo cultivo de soja, surgem máquinas cada vez mais modernas. Seduzidos pela propaganda, estancieiros de gado admitiram tratores e arados em seus campos nunca lavrados, ceifadeiras automotrizes chegavam encaixotados ao interior gaúcho.
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um solo arenoso e se não fizer um manejo adequado se acaba perdendo muito por erosão pelo falo de ser um solo muito argiloso”, relata Luís Carlos. O agricultor lembra como a questão foi superada com o manejo correto: “O primeiro passo foi acreditar na correção do solo. Fazer calagem, uma aplicação de calcário. E estruturando o solo fazendo correção com palha, manejando para fazer o plantio direto com a rotação de culturas. É o que eu sempre digo: se não houvesse o plantio direto, nós não estaríamos mais plantando, principalmente aqui na nossa região”. Porém, mesmo com o estabelecimento atual da cultura da soja na região Sul, fazer com que esta cultura renda um lucro que pague custos e gere lucros ainda é um desafio a muitos agricultores. “Uma das dificuldades hoje para se manter na atividade é conseguir ter renda. Pois temos grande produção, mas com um custo alto para atingir essa produção. Então, se fala muito em produtividade, mas precisa se falar em rentabilidade”. Luís Carlos tem uma receita a ser seguida: “um recado que eu deixo para os nossos colegas produtores é que busquem novas alternativas. Que participem e se envolvam mais. Que não se acomodem, que tentem materiais novos, tecnologias novas. Como, por exemplo, aqui eu faço um dia de campo para mexer com o brio das pessoas e elas não se acomodarem e não ficarem na mesmice. A mensagem que eu deixo é essa: ousem!”, conclui.
As primeiras rotações “A soja entrou na minha propriedade com o objetivo de fazer o controle de arroz vermelho na várzea. Então, buscando uma nova alternativa, encontramos a rotação de culturas com a soja”. Esse é o relato do arrozeiro Ricardo Engelmann, que há cinco anos ex-
1970 No inicio da década de 70, dirigentes de cooperativas concluíram que a informação seria a arma de defesa contra a ação dos intermediários que batiam à porta dos colonos com ofertas de compra de soja. No fim de 1973, a Cotrijui e Fecotrigo montaram em Porto Alegre um birô de informações para todas as cooperativas filiadas acompanharem as cotações da soja. A entidade recebia as informações via telex e as repassava via rádio para o interior. Um boletim era emitido na abertura da bolsa de Chicago. Mais dois boletins saíam no meio das operações .
perimenta a soja em sua propriedade em Cachoeira do Sul. Aos poucos, observando como a produção acontecia, ano após ano, a soja se espalhou e conquistou a confiança do agricultor: “depois de adquirirmos vários implementos para o plantio da soja na várzea, principalmente uma plantadeira para a semeadura, arriscamos áreas maiores na coxilha. E de um pedaço pequeno, hoje estamos com uma área de 50% de plantio em várzea para controle de arroz vermelho e 50% de área na coxilha”, relembra o agricultor, da época em que viu na soja a oportunidade de melhorar as condições precárias do solo da região, incorporando uma sucessão de culturas que a soja possibilitou. “Eu me apaixonei pela soja, principalmente pelo fato do incremento da fertilidade do solo. O que refletiu na necessidade da calagem para a produção da própria soja e, depois, pela melhora do alimento com a azevém para o gado poder pastar no inverno, apesar de ainda ser difícil implantar a soja na várzea em anos chuvosos, pois a visão do arrozeiro é encher a lavoura com água e com a soja é diferente, tem que se fazer uma drenagem eficiente do solo. Mas eu acho que tem que insistir”, explica Ricardo, ao contar como a implantação da soja onde antes havia pasto, pode trazer também a cobertura que serve para alimentar o gado, uma perfeita associação a pecuária. Cinco anos depois das primeiras experiências com a soja, Ricardo também enfatiza que a rentabilidade para os produtores que resolveram começar a plantar soja na região Sul ainda está aquém de um lucro que sustente a atividade de forma satisfatória. “Um dos principais desafios é buscar mais produtividade e uma cultivar que se adapte bem, fazendo uma boa drenagem, mas aos poucos, estamos aprendendo”, conclui o arrozeiro.
1970 Graças aos incentivos do Governo Brasileiro, da fartura de financiamentos oficiais e incentivos fiscais à exportação oferecidos ao meio empresarial a partir do final da década de 60 com injeção de recursos do BRDE, expandiram-se inúmeras indústrias de extração de óleo de soja – da iniciativa privada. O slogan “Exportar é a Solução” foi a senha para uma grande transformação no comportamento empresarial brasileiro.
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ADUBAÇÃO VERDE
Uma saída Prática que garante a rotação de culturas e sustentabilidade ao meio ambiente ainda é pouco explorada por produtores rurais Redação Destaque Rural
O
solo é uma das principais matérias-primas da agricultura. Sem um solo adequado para o plantio das culturas é praticamente impossível obter retorno financeiro. Cuidar do solo envolve fatores que podem fazer a diferença na produtividade da soja e do milho, por exemplo. Uma maneira de cuidar do solo e dar a ele o necessário para que a produção atinja bons resultados é a adubação verde. A prática agrícola consiste no cultivo de plantas em rotação, sucessão e consorciação para melhorar a qualidade química, física e biológica do solo. Alguns exemplos de plantas que servem de adubo verde são a canola, a aveia, a crotalária, o nabo forrageiro e o guandu. O objetivo desse cultivo é aumentar o rendimento das culturas comerciais por meio de uma incorporação da massa vegetal de determinadas espécies de plantas na terra. É como se disséssemos a uma criança que, antes de comer a sobremesa, é preciso comer o prato principal, pois ele contém nutrientes e substâncias que fazem bem à saúde. As plantas denominadas como adubos verdes têm características recicladoras, protetoras e melhoradoras do solo. O engenheiro agrônomo Dirceu Gassen acredita que a adubação verde deve ter a finalidade de produzir raízes e biomassa diversificada. “A mes24 |
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sustentável ao solo
cla de espécies vegetais na mesma área”. Gassen AVEIA NO CONTROLE DE NEMATÓIDES acredita que lavouras planejadas para altos rendiA aveia é um dos exemplos de plantas que pomentos e com estratégias para manejo de pragas dem ser usadas na adubação verde, para melhorar necessitam de uma biomassa diferenciada, que a a condição do solo e também para proteger as culadubação verde pode proporcionar. turas de doenças e pragas. Entre as vantagens do O pesquisador da Embrapa Trigo Fabiano Dacultivo de aveia no inverno está a formação da paniel de Bona, acredita que durante muito tempo a lhada. A palhada atua na proteção do solo e tamadubação verde se associou a uma prática que não bém no controle de nematoides. Os nematóides trazia retorno financeiro. Ele atribui isso ao imesão vermes de corpo aproximadamente cilíndrico, diatismo que o produtor tem em querer vender geralmente esguios e alongados, afilando-se de o que se produz. “Uma adubação modo gradual ou abrupto nas extreverde é um pensamento de quem midades anterior e posterior. está pensando no sistema como A bióloga e mestranda em agronoum todo”, afirma de Bona. Para ele, mia pela Universidade de Passo Funo agricultor que realiza a adubação do (UPF), Cláudia Fernanda CarraNenhuma verde na lavoura pode ser consideraro Lemes estuda o uso de espécies do um “agricultor de ponta”. tecnologia de aveias resistentes ou antagônicas Fabiano ressalta que a adubação no controle cultural dos nematoides. é capaz de verde é importante porque instiga A mestranda utiliza 10 genótipos de fazer a planta os produtores a fazer a rotação de aveias pretas e brancas e em estudos extrair do solo culturas. “O importante mesmo é a preliminares, que foram apresentadiversificação das culturas na lavoudos na XXXVII Reunião da Comiso que ele não ra, o produtor não plantar sempre a são Brasileira de Pesquisa de Aveia, tiver” mesma coisa porque isso empobrefoi concluído que todos os materiais Dirceu Gassen ce o solo, coloca uma pressão muito são resistentes ao nematoide de gaPesquisador grande no meio ambiente”. lha Meloidogyne javanica e que poEntre os benefícios da adubação dem ser utilizados para prevenir uma verde é possível destacar a redução da erosão e da infestação de praga. compactação do solo, o aumento da matéria orgânica, controle de pragas, doenças e nematoides, LEGUMINOSAS redução da infestação de espécies invasoras, forA adubação verde como já visto pode englobar mação de palha para o plantio direto, aumento da diversas espécies vegetais, mas, a preferência é peinfiltração de água no solo e maior preservação do las leguminosas. Essas plantas foram consagradas meio ambiente. De acordo com o pesquisador, se na adubação verde por ter a capacidade de fixar o mais produtores usassem a adubação verde, o uso nitrogênio (N) no solo. “É tudo o que o sistema de fertilizantes químicos cairia, visto que a própria quer, além de ter a planta que vai cobrir o solo e natureza se encarregaria de nutrir e proteger o solo. melhorar a qualidade física, ela coloca nitrogênio, Para Gassen “de pouco adianta adicionar fertilizantes que é um dos elementos mais caros e utilizados minerais no solo se não tiver porosidade para armano termo de nutrição da planta” comenta Fabiazenar água nem carbono para nutrir micro-organisno de Bona. Para o trigo, por exemplo, a inclusão mos responsáveis pela fertilidade biológica”. de mais nitrogênio (há uma quantidade no solo Junho e Julho - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº16
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A aveia melhora a condição do solo e protege as culturas de doenças e pragas
estimado em 20 a 60 kg de N/ha) permite que a planta tenha maior produtividade, o que gera melhor estabilidade industrial e melhor qualidade de panificação, por exemplo. O pesquisador ainda acrescenta que um dos maiores exemplos de leguminosa que fixa nitrogênio no solo é a soja. “O segredo do sucesso da soja é a capacidade de fixação de nitrogênio que ela tem”, afirma de Bona, que, não deixa de acreditar que a soja, por essa capacidade, também seja uma espécie de adubação verde.
POUSIO O pousio é a prática de “descansar” o solo, o deixar sem semeadura para repousar. Essa prática é regulamenta por lei e consta no Código Florestal Brasileiro. Neste ano, a prática ganhou um incremento: é necessário que o produtor rural registre a data de início do pousio no Cadastro Ambiental Rural (CAR). A lei de 2012 estabelece que este período seja de no máximo cinco anos. Para o pesquisador da Embrapa, esta prática faz com que o solo perca fertilidade. “Não adianta ter uma super safra de soja e deixar a terra em pousio que em
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poucos anos o solo vai perder tudo aquilo que foi aplicado”. O pesquisador ressalta que para manter os nutrientes de uma lavoura é necessário manter o solo coberto. Entretanto, Fabiano lembra que em algumas regiões brasileiras as chuvas não ocorrem com regularidade, o que inviabiliza o plantio de culturas o ano todo. “Nesses casos, talvez não seja complicado deixar a terra em pousio, mas, mesmo assim, quanto menos possível deixar a terra descoberta, melhor, tem que tentar manter a vida deste solo”, finaliza o pesquisador. Na região do Planalto do Rio Grande do Sul, após a colheita do milho em fevereiro e depois da colheita da soja, em março e em abril, mais de 95% da superfície do solo é abandonada. “Menos de 5% da área apresenta cobertura vegetal semeada com o objetivo de adubação verde ou para a construção da fertilidade física, biológica e química”. O benefício da adubação verde por ser aproveitado pelas cultura do trigo, que é semeada no inverno ou ainda para a culturas semeadas na primavera. “Nenhuma tecnologia é capaz de fazer a planta extrair do solo o que ele não tiver”, conclui Gassen.
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MILHO
Cobertura e preservação Cultura é capaz de beneficiar a cobertura do solo de forma mais eficaz que as leguminosas João Vicente Mello da Cruz
A
crescente demanda mundial por alimentos e fibras impõe uma constante pressão sobre as áreas agrícolas e recursos naturais, direcionando a agricultura moderna para sistemas de produção que garantam a elevação da produtividade das culturas e reduzam os impactos negativos sobre esses recursos. Em regiões tropicais, onde as condições de solos e clima permitem uma agricultura mais intensiva, é essencial o estabelecimento de manejos conservacionistas para garantir a sustentabilidade da agricultura. Nesse sentido, algumas práticas agrícolas, envolvendo o manejo do solo, a adubação verde, a adubação orgânica, a rotação e a sucessão de culturas, entre outras, passam a ter maior importância. Para as condições de solo e clima das regiões subtropical e tropical do Brasil, a manutenção da fertilidade do solo está na dependência da adoção de modelos de produção que contemplem gramíneas de verão, com frequência não superior a três anos em um sistema de plantio direto. Entre estas gramíneas, destacam-se os cereais de verão, como o milho, o sorgo, o milheto, o capim Sudão e a braquiária. “Estas espécies são condicionadoras de solo em razão da quantidade e qualidade do material orgânico que produzem e, com ênfase, do desempenho de suas raízes na estruturação do solo”, é o que explica o pesquisador da Embrapa Trigo de Passo Fundo, José Denardin. Assim como condicionamento do solo, a cultura dessas plantas em sucessão com outras culturas, como a soja, permite ainda o armazenamento de 28 |
água no solo, a disponibilidade de água e nutrientes às plantas, resistência do solo à penetração de raízes, pH da solução do solo e também o armazenamento e a difusão de calor.
O milho no sistema de produção Ainda segundo o pesquisador, precisa-se fazer um destaque para a importância de uma cultura como o milho no sistema de produção. “Nesse cenário, o milho, consorciado ou não à braquiária, se destaca entre as demais gramíneas de verão por ser uma commodity, passível, assim, de ser cultivado tanto como cultura cash como cultura de cobertura de solo ou adubo verde”, sendo assim, o milho trabalha na propriedade como um produto que traz rentabilidade ao produtor e funciona também como cultura de manejo de solo. De forma a trabalhar como uma ferramenta de conservação de solo, a cultura do milho como gramínea é capaz de beneficiar a cobertura do solo de forma mais eficaz que as leguminosas, por exemplo. Tendo-se mais palha, maior o efeito de sombreamento e menor a emergência e a infestação de plantas invasoras. A maior quantidade de palha também reduz a erosão e causa uma maior retenção de umidade no solo. Além disso, o sistema radicular do milho é importante para estruturação e agregação do solo, consequentemente maior infiltração de água e menor serão as perdas de água por escorrimento superficial e a erosão. “Dados de pesquisa mostram que onde tem o milho em rotação com o sistema de produção com aveia/soja, as perdas de água e solo são 40% inferiores em relação ao sistema trigo/soja, por exemplo. Isso se deve à eficácia dos resíduos culturais do milho para o controle da erosão, já que os resíduos culturais do milho, como das outras gramíneas, persistem por mais tempo sobre o solo que as leguminosas, razão pela qual tem maior eficiência no controle da erosão”, explica o assistente técnico estadual de manejo de recursos naturais da Emater/RS, Edemar Streck. Além dos benefícios à conservação do solo, o manejo com o milho contribui para a diminuição, a longo
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prazo, das entradas de maquinário nas lavouras e também os gastos com químicos. “O aumento da matéria orgânica é fundamental para melhorar as condições físicas, como estrutura e infiltração de água. Melhorar, também, condições biológicas do solo e aumentar a fertilidade do solo e a produtividade. Com isso é possível minimizar as perdas de nutrientes do solo por erosão e reduzir o uso de fertilizantes e herbicidas no controle de invasoras, consequentemente diminuir os custos de produção”, complementa Edemar.
As primeiras lavouras O engenheiro agrônomo Mário Ângelo Possa foi um dos pioneiros na inserção do milho como cultura de verão na região de Passo Fundo/RS. No final da década de 70, mais precisamente no ano de 1978, quando ainda cursava a faculdade de agronomia, Mário convenceu seu pai a cultivar um terço da área da propriedade com milho, algo muito incomum para a época. “Infelizmente aquele verão foi muito seco e a produtividade não atingiu 1000 Kg por hectare. Cheguei a pensar que ele nunca mais plantaria milho”, relembra o engenheiro, que percebeu a importância do milho no sistema da propriedade no ano seguinte, reconhecendo o reforço nos resultados obtidos com a lavoura de soja na safra seguinte, adotando como regra cultivar no mínimo 25% da sua área com milho todos os anos. Em janeiro de 1981, já finalizando o curso de agronomia, Mário ajudou a organizar o primeiro dia de campo da cultura do milho para mais de 600 produtores rurais da região, com a participação de cinco empresas de sementes. “Apresentamos 23 híbridos comerciais da época, bem como máquinas e equipamentos para mecanização da cultura”. Até então mais de 90% do cultivo do milho era manual e em áreas de difícil mecanização, pois a soja já reinava como principal cultura, e com a vantagem de ter todas as fases de cultivo mecanizada. A década de 1980, principalmente, foi o período de investimento de todos os setores ligados à cultura, como indústria de máquinas, empresas de sementes e assistência técnica. Buscava-se solucionar os entraves da mecanização e expansão da cultura do milho a nível de alta tecnologia. “Para que tenham uma noção das dificuldades da época, as plantadeiras possuíam dois jogos de discos distribuidores de sementes, um
Benefícios da rotação com o milho: u Quebra de ciclo na ocorrência de doenças fúngicas de solo para culturas seguintes (soja). u Previne e reduz a ocorrência de nematoides (pragas de solo) na cultura da soja. u Quebra de ciclo de ocorrência de plantas invasoras devido ao uso de outros tipos de herbicidas, quebrando a resistência.
com furação redonda e um oblonga, quando as sementes já eram calibradas em até 12 tamanhos/formatos diferentes”. Desta forma, os limites de produtividade não eram determinados apenas pelo potencial dos híbridos disponíveis, mas pela formação de stand, ou seja, afetado pela dificuldade de distribuição uniforme das sementes, qualidade de sementes, assim como fertilização, especialmente nitrogênio, perdas à nível de campo, colheita e armazenagem. Com a solução destes entraves e a implantação definitiva do sistema de plantio direto, o milho passou a ter presença obrigatória na propriedade. Sua importância, dentro do sistema, vai muito além de uma segunda alternativa de cultivo e renda. Em muitas situações o preço passa a ser secundário diante dos benefícios que a cultura traz ao sistema de plantio direto.
O preço Além de seu alto prestígio no agronegócio, o milho também é uma das culturas mais cultivadas pela agricultura familiar brasileira, tanto para a subsistênJunho e Julho - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº16
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cia quanto para a venda local. O milho corresponde por 85% da ração animal, os demais 15% são formados por fontes de proteínas, vitaminas, minerais, aminoácidos. Em questões calóricas, o milho corresponde por 66% da ração das aves e por 71% da ração dos suínos. Na verdade, o maior cliente dos grãos são os animais, pois 83% da produção vai para a nutrição animal. A redução na área e na produção de milho da safra no Rio Grande do Sul nos últimos anos devido a oscilação de preços impactou diretamente na indústria de carnes, já que o Estado consome 6,5 milhões de toneladas e produz volume abaixo do necessário. “A alta instabilidade de preço no mercado interno e, por consequência, elevada inconsistência como cultura integrante dos modelos de produção, quando o preço é alto a área cultivada aumenta e quando a área cultivada aumenta o preço diminui”, comenta o pesquisador da Embrapa Trigo, José Denardin. Pode-se inferir que a ocorrência desta oscilação é fortemente instigada pelo próprio hábito do produtor rural em decidir o que cultivar em uma determinada safra apenas com base no cenário da safra anterior – se o preço esteve baixo não cultiva e se o preço esteve elevado cultiva, obrigando o mercado do produto a se comportar rigorosamente pela oferta e demanda. O fluxo de caixa do estabelecimento rural não pode ser visualizado apenas com a safra corrente, mas ser capaz de resistir a flutuações econômicas de curto prazo para manter-se segura no futuro. “A ‘seguridade social’ da lavoura necessita ser pensada antes da ocorrência do problema, isto é, estabelecer uma previdência para a lavoura para que se mantenha produtiva no futuro”, pontua o pesquisador.
5 pontos que caracterizam o sistema de plantio direto 1 u Mobilização de solo restrita à linha de semeadura; 2 u Manutenção dos restos de cultura na superfície do solo; 3 u Diversificação de culturas, mediante rotação/sucessão de culturas, na condição de que haja aporte ao solo de material orgânico (raiz e palha), em quantidade, qualidade e frequência compatíveis com a demanda biológica do solo; 4 u Emprego do processo colher/semear, entendido como minimização do intervalo de tempo entre a colheita e a semeadura subsequente; e 5 u Cobertura permanente do solo.
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Informação também é insumo
Revista Destaque Rural acompanhou, desde a semeadura até a colheita, o desenvolvimento da maior safra de soja da história brasileira
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esde a semeadura até a colheita do grão. A revista Destaque Rural acompanhou o desenvolvimento e ajudou a traçar a maior safra de soja da história brasileira. O projeto Desafios da Soja iniciou ainda em dezembro de 2016 e, desde então, levou informação, tirou dúvidas e dividiu experiências com milhares de produtores de todo o Rio Grande do Sul. De acordo com levantamento da Emater, somente no Estado, a colheita já soma mais de 18 milhões de toneladas - uma marca histórica para os gaúchos. O total de grãos também é recorde: serão mais de 35 milhões de toneladas. Em todo o país, a projeção também é de volume histórico: 237 milhões de toneladas de grãos, com aumento de cerca de 27,1% em relação à safra anterior. Para acompanhar o desenvolvimento desses resultados, a Destaque Rural percorreu mais de 20 mil quilômetros, em 20
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municípios do Rio Grande do Sul e também de Santa Catarina. Foram cerca de 40 vídeos, cinco lives no Facebook, 15 matérias no site da Destaque Rural e centenas de fotos. Em Muitos Capões, por exemplo, na propriedade de Tarso e Rodrigo Barison, falamos sobre qualidade da semeadura. Já na região das Missões, conversamos com técnicos e produtores rurais sobre plantas daninhas. Em Coxilha, pertinho de Passo Fundo, fomos conhecer a propriedade do Lisandro e da Celi Webber para falar sobre manejo para altas produtividades. No Sul, conhecemos a região de Bagé, que possui três atividades agrícolas principais: o arroz, a pecuária e, nos últimos 10 anos, a soja. Apesar dos bons resultados da safra o caminho a percorrer ainda é longo. As produtividades alcançadas no Estado têm muito a melhorar. Ajudar os produtores a elevar esse número foi um dos objetivos do projeto. Segundo o diretor da Destaque Rural, Leo-
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Campo Novo
Boa Vista das Missões
Santa Rosa
Coxilha
Santo Augusto
S. Luis Gonzaga
Pontão
Santa Bárbara do Sul
Passo Fundo Lagoa
Vermelha
Muitos Capões
Não-Me-Toque Tapera
Ibirubá
+ de
20 mil
km percorridos
Cachoeira do Sul Cerca de
20
municípios
Bagé Pelotas
5
entrevistas ao vivo na página do Facebook
34
posts no Instagram com a #desafiosdasoja
40
vídeos publicados no Youtube e Facebook
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cerca de
500
fotografias
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tweets com as hashtags #desafios da soja e #informação tambem é insumo
em sistema de produção, diluindo custos com as culturas de inverno, fazendo um manejo de rotação de culturas adequado, preparando bem o solo para a semeadura corrigindo a fertilidade e os níveis de acidez, usar sementes de qualidade e distribuídas adequadamente de acordo com as características de cada cultivar e depois controlar as doenças protegendo bem as plantas desde as primeiras camadas. “Inovações tecnológicas como os novos eventos transgênicos também estão surgindo para contribuir no manejo de plantas daninhas e a tecnologia de informação com mapas de produtividade, agricultura de precisão e aplicativos com informação armazenadas em nuvens serão a próxima revolução da agricultura”, aponta. Outro fator que também precisa de atenção, segundo ele, é a profissionalização da comercialização da Pontos de atenção produção. “O produtor está pouco As plantas daninhas resistentes assessorado neste sentido, ainda usa ao glifosato causam dor de cabeça pouco as ferramentas para garantir aos produtores. Doenças como fer- preços e fica à mercê de especularugem asiática, antracnose e oídio ções do mercado”. estão mais severas. Pragas como perEm cada propriedade e em cada cevejos e lagartas também contam região conhecemos histórias inspicomo fatores que dificultam o cul- radoras. Mostramos esse trabalho e tivo da soja. “Todas essas doenças e espalhamos todo o conhecimento e pragas estão exigindo cada vez mais coragem de cada produtor por todo o investimentos, fazendo com que o Estado. O clima ajudou, mas o conhecusto da lavoura aumente significa- cimento, o investimento em tecnolotivamente. Isso exige por parte do gia e a competência do produtor rural produtor um grande conhecimento brasileiro, são essenciais para manter o e dedicação nos tratos com a cul- País no posto em que está hoje: uma tura”. Ele precisa começar a pensar potência na produção de alimentos.
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FOTO: ANA CLÁUDIA CAPELLARI
nardo Wink, o foco do Desafios da Soja é disseminar informações de qualidade aos produtores rurais. “Existe muita pesquisa, muita tecnologia e o Rio Grande do Sul, por exemplo, até ano passado não tinha superado a média de 50 sacas de soja por hectare. Isso significa que temos um número muito grande de produtores que produzem abaixo dessa média. Nosso papel como veículo de comunicação é produzir conteúdos que traduzam de uma forma simples e de fácil entendimento, o que tem de mais avançado em produtos, manejos e pesquisas para o produtor rural”, explica. Contudo, não se pode negar o avanço de produtividade nos últimos 10 anos. Leonardo cita tecnologias, como a intacta, que contribuíram muito para colher, hoje, áreas que superam as 100 sacas.
O projeto percorreu mais de 20 cidades, em todo Estado
Foram mais de 10 mil km percorridos
E muitas entrevistas com produtores e pesquisadores
Com o objetivo de documentar a supersafra de soja
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OPERAÇÃO MANEJO CARNE FRACA
“Estamos virando a págin campo mostrou sua força Ângela Prestes A Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal em março deste ano, deixou os consumidores brasileiros e diversos países importadores surpresos. A investigação revelou um sistema de corrupção que envolvia até mesmo agentes do Ministério da Agricultura. Entretanto, ela mirava uma minoria dentro do setor produtivo da carne e acabou afetando toda a cadeia. A Operação revelou um problema generalizado ou apenas casos isolados? Erros de interpretação colocaram em risco a imagem da carne brasileira e a pujança de um setor tão importante para a economia nacional. O ex-ministro da Agricultura e presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Sérgio Turra, falou à Destaque Rural sobre o assunto. Após a divulgação da Operação, ele foi um dos líderes na busca por reverter a situação e buscar de volta a credibilidade do país. Confira a entrevista:
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Destaque Rural u O Brasil todo sentiu o baque da Operação Carne Fraca e viu as consequências que uma quebra no setor, por menor que fosse, poderia causar para a economia brasileira. Qual a importância do setor de proteína animal para a matriz econômica do Brasil? Francisco Sérgio Turra u Hoje, o alimento produzido em nossas terras está nas mesas do mundo inteiro. Somos líderes na exportação de carne de frango, que chegou a 203 países dos cinco continentes nas últimas quatro décadas — representando nada menos que US$ 94 bilhões em receitas. Com os suínos, estamos na quarta posição, levando 9,3 milhões de toneladas do nosso produto para cerca de 120 nações em 40 anos. Há pouco mais de um mês, os consumidores gaúchos e brasileiros foram surpreendidos com a deflagração da Operação Carne Fraca. A investigação, legítima e necessária, mirava uma minoria que não representa nem 0,1% dos frigoríficos do país. Mas, com tantas generalizações na divulgação, a maioria que trabalha corretamente acabou pagando o preço gerado pela apreensão e espetacularização. A avicultura e a suinocultura do país sofreram um baque significativo, após a suspensão temporária das importações por vários mercados. Em março, os embarques de frango para a China — o segundo maior comprador do Brasil — caíram 30%. Restrições também ocorreram por outros players importantes como Hong Kong e Chile, revertendo o cenário positivo do primeiro bimestre do ano.
FOTO ÉDI PEREIRA
na. Mais uma vez, o a para superar desafios”
Destaque Rural u Falando especificamente da produção gaúcha, qual a representação do Rio Grande do Sul no setor de produção de proteína animal brasileira? O Rio Grande do Sul ocupa espaço destacado no setor da proteína animal. Somos o terceiro maior estado em produção de frango e suínos, perdendo apenas para Santa Catarina e Paraná.
Em 2016, essa atividade rendeu US$ 1,6 bilhão em exportações. Somente a carne suína gaúcha foi responsável por 25% das vendas brasileiras para o exterior. Em todo o Estado, entre empregos diretos e indiretos, mais de um milhão de pessoas são beneficiadas pela cadeia de aves e suínos. Na Região da Produção, especialmente, o setor é responsável pela renda de milhares de trabalhadores, impulJunho e Julho - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº16
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sionando o desenvolvimento dos municípios ao envolver uma ampla cadeia produtiva. Pois apenas um dia colocou todo esse patrimônio em risco. As especulações e erros de interpretação causaram confusão aqui e pelo mundo afora. Mas, passado o calor do momento, a opinião pública percebeu que eram casos isolados, não um problema generalizado do setor. Com isso, a confiança vai, aos poucos, se restabelecendo.
va. Estamos virando a página. Mais uma vez, o campo mostrou sua força para superar desafios. Aos poucos, vamos recuperando terreno internacional. Recentemente, estive com representantes do setor nos Estados Unidos, México, esclarecendo sobre o problema e o que o país tem feito para enfrentá-lo. Ações também foram realizadas em nações como Egito e Irã. A resposta foi muito positiva. Por aqui, esperamos que a Polícia Federal e a JusDestaque Rural u Como o setor se movitiça prossigam com as investigações, responsabimentou para recuperar a imagem do Brasil lizando todos os infratores. E, de nossa parte, seno exterior e com os consumidoguiremos investindo naquilo que nos res brasileiros? Quais os reflexos distingue: a qualidade. Pois os brasileifuturos da Operação? ros, assim como os mercados do exteTurra u O estrago à imagem rior, são muito exigentes. E respondere“Erros isolados aconteceu, é verdade. Porém, com o mos com um produto cada vez melhor. e generalizações trabalho árduo de diversos atores do Erros isolados e generalizações não renão reduzirão a setor e a ação ágil, disciplinar e eficaz duzirão a pó uma história construída pó uma história do Ministério da Agricultura, o nível por milhões de pessoas. O campo move construída por de exportações já mostra melhoras. milhões de pessoas. o Rio Grande do Sul e o país. É orgulho Não demorou até que os grandes imda nossa região, dos gaúchos e de todos O campo move o portadores revisassem suas decisões, os brasileiros. É exemplo de trabalho e Rio Grande do Sul liberando novamente as compras de perseverança. As lições das semanas e o país. É orgulho nossa carne. Se nossos concorrentes da nossa região, que passaram servirão para nos fortados gaúchos e de não tivessem uma situação sanitária lecer. problemática, teríamos perdido vá- todos os brasileiros. É exemplo rios mercados conquistados. Em sínDestaque Rural u Você acha que a de trabalho e tese: o tempo passou, e o caos anunciaOperação Carne Fraca foi irresponperseverança. As do pela operação se mostrou irreal. sável, considerando que pode ter A história centenária de trabalho e lições das semanas dado a impressão de que a carne que passaram o atestado de qualidade do agronebrasileira é toda fraudada? Como servirão para nos gócio gaúcho e brasileiro não serão a Polícia Federal poderia ter agido fortalecer”. apagados pelos erros de tão poucos. para não causar essa impressão? Mesmo com gigantes obstáculos Turra u Foi equivocada a dissemiinternos, conseguimos vencer adversários comnação de informações de resultados da Operação petitivos e firmar o país como referência global no Carne Fraca naquela manhã de sexta-feira. Análisetor de carnes. ses errôneas de questões relacionadas à qualidade E como chegamos tão longe? Graças, em primeiro de todo o sistema produtivo fizeram o país entrar lugar, ao empenho de nossos produtores, que inem uma histeria coletiva, causando impacto a mivestem em tecnologia e nas melhores práticas de lhões de pessoas, sejam consumidores ou trabaprodução. Isso gera um produto com notável segulhadores desta fundamental cadeia produtiva. rança sanitária, reconhecido mundialmente com A falta de análises técnica deturpou e gerou uma certificações globais. Empreendedores, técnicos, série de desinformações sobre o teor do que estava homens e mulheres dos campo e líderes públicos em análise. A ABPA defende os princípios da ação movem, dia após dia, essa grande cadeia produtipolicial e acredita que é fundamental o combate à 38 |
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corrupção. Entretanto, é equivocada a postura fazer de casos pontuais se transformarem em um ato que prejudicou a imagem de todo o setor. Foram graves os equívocos de desinformação, causando danos ainda inimagináveis à imagem nacional e internacional do setor. Levaremos anos, com fortes investimentos, para recuperar o que foi perdido. E não, a saúde do consumidor nunca esteve em risco. Nós todos que dedicamos nossa vida a produzir alimentos para nossa família, para nosso país e para o mundo, sabemos da qualidade e da seriedade que empregamos em nossos esforços diários, buscando sempre melhorar – e nunca o contrário. Destaque Rural u É possível estimar o prejuízo decorrente da operação? Turra u Ainda é muito cedo para quantificar impactos financeiros. Na primeira semana, apenas com os embargos totais, calculamos um número próximo de US$ 40 milhões para aves e suínos. O número, entretanto, vai muito além disso: há prejuízos com a logística perdida ou desnecessária, com a perda de vendas no período imediato ou futuro, os custos para o trabalho de recuperação de imagens. Há uma conta intangível neste contexto, também, sobre a honra de quem dedica diariamente seus esforços por um setor que prima pela qualidade. Veja que, conforme divulgação ocorrida esta semana, as perdas de valor de empresas do setor somadas superara R$ 5 bilhões desde a Operação. Muito já explicamos por meio da grande imprensa, que percebeu os absurdos que se construíram em torno da divulgação da Operação. Há um longo trabalho de conscientização que, entretanto, será feito. A primeira onda de informações passou, e conseguimos atuar de forma incisiva para diminuir os danos. As próximas ondas, agora, será um trabalho mais intenso e detalhado junto aos formadores de opinião de toda a sociedade – da imprensa aos profissionais da área da saúde – para lembrá-los daquilo que tantas vezes já dissemos e comprovamos: a proteína animal do Brasil é uma das melhores do mundo. Poucos sistemas
A investigação revelou um sistema de corrupção que envolvia até mesmo agentes do Ministério da Agricultura.
Entretanto, a operação mirava uma minoria dentro do setor produtivo da carne e acabou afetando toda a cadeia
de inspeção e vigilância sanitária se comparam ao Brasileiro. Destaque Rural u A operação revelou o esquema de corrupção existente em alguns frigoríficos. O consumidor pode confiar na carne produzida no Brasil? O que garante a qualidade? Turra u O consumidor deve confiar na carne brasileira. Casos isolados não justificam a perda de confiança em um produto de excelência, reconhecido internacionalmente pela qualidade – exatamente por isto, atuamos em tantos mercados – e inspecionado pelas autoridades brasileiras e por mais 160 países. O produto brasileiro está no topo do mundo. Junho e Julho - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº16
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CT& Bio
Gilberto Cunha
gilberto.cunha@embrapa.br
Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura - Embrapa Trigo
Orgânicos versus Convencionais
N
egar que a atividade agrícola tem uma parcela substancial de culpa pela degradação ambiental que assola o mundo contemporâneo é, no mínimo, uma irresponsabilidade. Mas, colocar toda essa culpa sobre os agricultores, como alguns fazem, também não é uma irresponsabilidade menor. Ao se fazer isso, convenientemente, foca-se em um segmento e ignoram-se todos os demais braços do sistema mundial de alimentação, que antes e depois do campo, envolvendo desde a geração de tecnologias, passando pela indústria de insumos agrícolas e de processamento e distribuição e alimentos até o consumidor final, com suas atitudes de consumo consciente ou não e do destino que dá às embalagens que viram lixo doméstico, não há inocentes a priori; ainda que seja justa a reivindicação dessa presunção. A solução, apontada por alguns e negada com veemência por outros, para o mundo atingir a segurança alimentar plena e de forma sustentável, seria a agricultura orgânica. Evidentemente, em tese; pois menos de 1% das terras atualmente usadas em agricultura no mundo poderiam ser enquadradas nos contornos dos rótulos dos produtos orgânicos encontráveis, com certificação, nas gôndolas dos supermercados. Isso significa que o sistema mundial de alimentação é, e vai continuar sendo ainda por um bom tempo, dependente da
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chamada agricultura convencional (essa que, pela via da exportação e produção de alimentos baratos, tem sido responsável por não piorar ainda mais o desempenho da economia brasileira). Mas, por outro lado, não há impedimentos para que muitas das boas práticas da agricultura orgânica não possam ser usadas na agricultura convencional, quer seja pelos benefícios trazidos para a saúde humana, por razões ecológicas ou por motivações meramente econômicas. Eis um ponto de controvérsia: a agricultura orgânica seria a solução para a produção sustentável de alimentos no mundo, como apregoam os seus adeptos, ou não passa de um modelo retrógrado de produção alinhado com uma visão romântica de agricultura, que, pelo baixo desempenho produtivo, como insistem alguns críticos, em vez de soluções, espalharia fome pelo mundo e intensificaria a devastação ambiental? Uma questão aparentemente simples, mas que exige uma resposta complexa ou, pelo menos, para ir um pouco mais além do território das meras opiniões de ocasião, que seja, minimamente, fundamentada. Luzes sobre essa discussão foram recentemente lançadas por Verena Seufert e Navin Ramankutty, da Universidade de Bristish Columbia/ Canadá, em exaustiva revisão publicada na revisa Science Advances (edição de 10 de março de 2017), em que destacam que tanto os críticos quanto os defensores da
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agricultura orgânica, não raro, parecem que se referem a realidades distintas. Mesmo que há evidencias suportando os argumentos de ambos os lados, nenhum deles, pelas incertezas em muitas dimensões e os múltiplos contextos envolvidos, pode se alvoroçar como o detentor da razão. São bem claros, mesmo que dependentes de contextos, os benefícios da agricultura orgânica. Sim, as práticas orgânicas promovem positivamente a biodiversidade local, podem trazer benefícios à saúde humana pelo menor uso de agrotóxicos e à qualidade das águas pelo menor aporte de contaminantes químicos (N e P, por exemplo) e ao produtor rural pelo prêmio que é pago adicionalmente, por um lado; mas, por outro lado, pairam dúvidas e possíveis malefícios relacionados com a contaminação de águas pelo tipo de adubo orgânico usado, a expansão de uso da terra pela menor intensificação da produção e o maior gasto em alimentação pelo adicional em preço pago pelo consumidor por produtos que ostentam o rótulo orgânico. Indiscutivelmente, frisam Verena Seufert e Navin Ramankutty, a agricultura orgânica não é o Santo Graal para vencermos os desafios relacionados com a segurança alimentar sustentável no mundo. Mas, a integração de algumas práticas orgânicas, de reconhecido valor, nos modelos convencionais de produção, pode ser um passo importante.
DESTAQUES
Valor da produção agropecuária
O Valor Bruto da Produção agropecuária (VBP) deste ano, estimado com base nas informações de abril, ficou em R$ 544,9 bilhões. O valor é 4,4% superior ao montante de fechamento em 2016, de R$ 521,7 bilhões. O VPB foi divulgado ontem, 16, pela Secretaria de Política Agrícola (SPA) do Ministério. Segundo os números da SPA, o montante das lavouras cresceu 10,2% e da pecuária teve redução de 6,3%. Dentre os produtos que têm se destacado no VPB, estão: o algodão herbáceo (70,6%), amendoim (28,7%), arroz (10,6%), cana-de-açúcar (51,8%), laranja (20,6%), mandioca (82,4%), milho (20,8%) e uva (38,6%).
Não podemos desanimar. Continuo colocando esforços para que o Brasil volte a crescer. O trabalho é árduo, mas sempre que me vejo nesses momentos de crise, recordo do que meu pai André Maggi me dizia: não há crise que resista ao trabalho.” Ministro da Agricultura, Blairo Maggi, sobre a crise política brasileira
Estradas ruins
De acordo com o estudo “Transporte & Desenvolvimento – Entraves Logísticos ao Escoamento de Soja e Milho” realizado pelo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, há problemas graves no escoamento da safra brasileira de grãos e isso encarece em cerca de 30% no custo operacional do transporte. Se não existissem esses gastos adicionais, o produtor poderia ter uma economia anual de R$ 3,8 bilhões.
Clima
A Secretária de Política Agrícola (SPA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) disponibiliza aos agricultores, agentes financeiros e seguradoras acessar informações sobre a melhor época de plantio das culturas, nos diferentes tipos de solo e variedades de cada cultura (ciclos de cultivares). É o Painel de Indicação de Riscos, disponível em indicadores.agricultura.gov.br/zarc/index.htm
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