Destaque Rural 15ª edição

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ANO III NÚMERO 15 RIO GRANDE DO SUL MARÇO | ABRIL | 2017 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

INFORMAÇÃO COM PROPRIEDADE

CRAQUES DA

PRODUÇÃO

Profissionais do campo revelam o manejo para altos rendimentos EXPODIRETO A menina dos olhos de Nei César Mânica

ALYSSON PAOLINELLI “Ninguém vai ser mais rico do que o Brasil”

MÁQUINAS Nova geração emite menos poluentes


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EDITORIAL

Discurso alinhado, descaso na prática

#edição 15 #Ano III #Março e Abril

C

onstantemente o Agronegócio brasileiro compõe os discursos de representantes políticos brasileiros. Presidente, governadores, senadores e deputados enchem a boca para falar da importância do segmento que gera divisas, renda e tem influenciado positivamente a economia do país, que luta para sair de uma crise. Indicado ao Ministério da Agricultura, pelo presidente Michel Temer, Blairo Maggi foi festejado pelo setor, que viu em um produtor rural de sucesso um importante aliado para resolver os problemas enfrentados no campo. Desde sua posse, Blairo tem feito inúmeras viagens internacionais vendendo nosso “peixe”, com um discurso afinado e contundente de um país que produz muito e que preserva os recursos naturais. Em ambos os casos vimos discursos alinhados, que valorizam o agro, porém, na prática, a realidade é outra. Não conseguem fazer o básico como, por exemplo, planejar uma safra e oferecer estrutura logística. O descaso dos políticos e gestores públicos fica evidente quando olhamos para a realidade enfrentada por quem produz e que padece enfrentando altos custos logísticos, tributários e burocráticos. Descaso evidenciado na rodovia BR 163, no Amazonas, principal rota de escoamento de grãos do Norte do Mato Grosso e do Sul do Pará para os portos de Miritituba e Santarém, onde aproximadamente cinco mil caminhões estiveram ilhados devido às péssimas condições de trafegabilidade. O prejuízo estimado em U$$ 400.000,00/dia é apenas uma pequena parcela do poço sem fundo cavado pela má gestão pública, onde escoam grande parte das riquezas produzidas no campo. Já passou da hora de quem tem o papel de gerir o estado deixar de lado a valorização do agronegócio no discurso e partir à prática. XVIII Expodireto Cotrijal Este ano a Destaque Rural traz para a feira, que serve como exemplo de organização e planejamento descritos na matéria com o Presidente Nei Mânica, uma edição especial, na qual reunimos um “Time de Craques” para compreender quais as características em comum que os tornam produtores de sucesso. Também fomos buscar alternativas para os problemas logísticos brasileiros, ocasionados basicamente pela dependência do sistema modal rodoviário. Desafios da Soja Enfim, muitos problemas a serem resolvidos, mas nossa missão como veículo não é somente apontar os problemas, mas também as soluções. Através de um amplo trabalho desenvolvido no projeto Desafios da Soja, que com o apoio da Bayer e Dow percorre o estado do RS acompanhando o desenvolvimento da produção e ampliando nossa plataforma de comunicação, através do nosso portal e redes sociais com matérias produzidas em texto, áudio e vídeo, procuramos deixar nossa contribuição ao Agronegócio Brasileiro.

Boa leitura! Leonardo Wink

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ESPECIAL

ÍNDICE

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CRAQUES DA PRODUÇÃO

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Expodireto: A menina dos olhos de Nei César Mânica

logística: desafios no Escoamento da produção

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PESQUISA: Biotecnologia em inseticidas

MERCADO: Comercialização da soja

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ENTREVISTA COM Alysson Paolinelli


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OPINIÃO elmar@incia.com.br

Elmar Luiz Floss Engenheiro-agrônomo e diretor do Instituto de Ciências Agronômicas - Incia

O molibdênio e a proteína na soja

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soja é a cultura que mais cresce no mundo quanto a produção de grãos. É utilizada diretamente na alimentação dos asiáticos (China, Japão, Índia, Vietnam, Coréia do Sul), e base da alimentação de frangos e suínos, em todo o mundo, misturado com o milho. Isso porque o grão de soja apresenta de 37% a 43% de proteína bruta (média 40%). Além do alto teor de proteína no grão, a proteína da soja apresenta alto valor nutritivo/biológico semelhante a proteína da carne, ovo e leite, devido a qualidade da composição de aminoácidos. A soja é a principal cultura brasileira produtora de grãos, pela produção (espera-se mais de 100 milhões de toneladas na safra 2016/2017, em área cultivada (mais de 33 milhões de ha), em empregos diretos e indiretos, e na geração de divisas (25 a 32 bilhões de dólares/ano, no saldo da balança comercial brasileira). O crescimento da demanda mundial de soja deve-se, principalmente, à proteína e, secundariamente, aos 20% médios de óleo presentes no grão. No Brasil, do ano 2000 a 2016, o crescimento da produção nacional de soja é linear com a produção de carne de frango e carne suína. No mesmo período, a soja e derivados, tornou-se o produto número um da pauta de exportação brasileira. E a exportação de carne, principalmente de frangos e suína, está em segundo lugar na exportação de produtos agrícolas. Por que o teor de proteína na soja está menor? Os importadores internacionais de soja estão reclamando que o teor de proteína na soja brasileira está muito abaixo da média de 40%. Nas regiões maior rendimento o teor de proteína é mais baixo. Considerando um rendimento médio de 40% de proteína e um rendimento de 4 t/ha de grãos de soja, colhe-se 1.600kg/ha de proteína. Como 16,5% da proteína é nitrogênio (N), exporta-se, aproximadamente, 264kgN/

ha. Mas a extração total de N pela soja é de 80kgN/t, necessitando 320kgN/ ha para produzir 4 t/ha. Resultados de pesquisas demonstram que até 85% desse N pode ser fornecido através da fixação biológica de N (FBN), realizado nos nódulos, pelas bactérias do gênero Bradyrhizobiumjaponicum B. Elkanii. Desde que realizada adequada inoculação anual das sementes, com inoculante, de qualidade e condições adequadas de formação de nódulos, especialmente a alta disponibilidade de fósforo, cálcio, magnésio, boro, enxofre, cobalto e molibdênio. A nodulação inicia no estádio V1 da soja (primeiro trifólio expandido) e somente libera N para a cultura a partir do estádio V5. Portanto, da emergência até o estádio

O crescimento da demanda mundial de soja deve-se, principalmente, à proteína e, secundariamente, aos 20% médios de óleo presentes no grão.

V5, a soja cresce às expensas do N remanescente da semente, absorvido do solo (decomposição da matéria orgânica ou fertilizante). Portanto, para um rendimento de 4t/ha, 272 kgN viria da FBN e 48kg N/ ha do solo. E até os estádios V5-V6, 10% do N deve ter sido absorvido pela soja, visando altos rendimentos (32kgN/ha para um rendimento de 4t/ha). Se a síntese de proteína é menor, é por deficiência de N. Essa deficiência de N é frequentemente observada na análise foliar na soja. Entretanto, com a mesma frequência observa-se também a deficiência de molibdênio. Essa deficiência de N é causada pela deficiência de molibdênio e não o contrário. Tanto na FBN, quanto na assimilação do N absorvido, na forma de nitrato do solo, há necessidade de suprimento adequado de molibdênio. Importância do molibdênio O molibdênio (Mo) é constituinte da enzima nitrogenase, que catalisa a fixação do gás nitrogênio no nódulo. O Mo também atua como cofator de enzima nitrato redutase, responsável pela redução do nitrato (forma principal de absorção) em amônia (forma de assimilação) do nitrogênio. Indica-se a aplicação de 12 a 25g de molibdênio no tratamento de sementes ou 25 a 50g de molibdênio quando aplicado via foliar no estádio V3-V4, juntamente com o herbicida. Na busca de altos rendimentos é responsiva a aplicação também de cobalto e molibdênio na fase reprodutiva, para acelerar a assimilação de nitrogênio pela soja e inibir a síntese de etileno, que reduz a fase de enchimento de grãos. Não existem padrões de teores adequados de Mono solo, e na folha os teores adequados devem estar acima de 5,1 mg/kg. Portanto, para obtenção de altos rendimentos e com bons teores de proteína nos grãos da soja, há necessidade de aumentar a adubação com molibdênio, independente o pH do solo.


FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

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AGRONEGÓCIO MANEJO

Expodireto Cotrijal: A menina dos olhos de Nei César Mânica Uma das principais feiras do agronegócio brasileiro chega em 2017 à sua 18ª edição, com a expectativa de ser a melhor de todos os tempos

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utubro de 1999 foi a data que colocou a cidade de Não-Me-Toque no mapa das principais feiras do agronegócio gaúcho. Depois entrou para o cenário nacional e em questão de tempo atravessou as fronteiras brasileiras e se tornou internacional. “Íamos fazer uma feira só de produção vegetal e eu disse ‘quem sabe vamos visitar outra feira?’ Então fomos à Cascavel, no Show Rural Coopavel, e o presidente da feira [Dilvo Grolli] nos deixou entusiasmados”. Quem afirma isso é o fundador da Expodireto e presidente da Cotrijal, Nei César Mânica. A volta do Paraná deixou em Mânica e em sua equipe um entusiasmo para concretizar a Expodireto. Em menos de cinco meses a primeira feira era realizada. “Começamos em outubro de 1999 para em março de 2000 fazer a primeira exposição. Nesse local [o parque] só sobrou essa casa aqui [administração], que era de um morador. Essa área não tinha nada, era um campo. Nós começamos a segmentar pelo setor de máquinas e setor de produção vegetal”, lembra o presidente. “O pessoal achou que viria uma feira comum, um dia de campo. Nós gramamos tudo, iluminamos e fizemos uma infraestrutura. A primeira Expodireto foi feita em 41 hectares. Eu disse ‘Ou nós levamos cinco anos para consolidar a feira ou já vamos fazer para dar aquele impacto’”. E a Expodireto teve um impacto positivo em seu primeiro ano. Nem Mânica, nem sua equipe imaginavam que a feira iria se transformar no que é hoje. Atualmente o evento é feito em 84 hectares. Para que a feira se consolidasse como um evento típico do agronegócio, Mânica diz que desde o início, em 1999, algumas decisões foram tomadas. O parque 10 |

Para Mânica, a Expodireto trouxe muitos benefícios para a região de Não-Me-Toque

não podia ter bebida alcoólica, não podia ter show e nem almoço nos expositores. A feira é, nas palavras de Nei Mânica, para business. “Nós tivemos dificuldade com a cidade [Não-Me-Toque], que queria colocar confecção, mas é business, negócio”, finaliza Mânica. O foco da Expodireto sempre foi mostrar e incentivar a tecnologia, inovação e a geração de negócios. A Expodireto também foi pensada para unir a cadeia do agronegócio. E, para isso, a feira foi e continua sendo local de eventos que geram discussões importantes para o setor. “No decorrer do tempo a Expodireto acabou virando um palco para discussões políticas, não partidárias, mas políticas voltadas para o agronegócio. A feira tem também uma força de reivindicação”, conta o presidente.

O PARQUE A ampliação do parque foi gradual. Todas as calçadas são drenadas, têm captação de água e bocas de lobo. Essa preocupação surgiu após uma conversa com o então ministro da Agricultura, Marcos Vinícius Pratini de Moraes, que esteve à frente da pasta de 1999 a 2003. O ministro visitou o parque na segunda edição da Expodireto. “Era tudo grama aqui, choveu e ficou com barro. Aí falei para ele “Que pena que está chovendo, o senhor veio e essa chuva” e o ministro Pratini disse: “Mânica, exposição sem chuva não é exposição, porque o agronegócio precisa de água”. Isso me marcou tanto

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DIVISOR DE ÁGUAS O presidente da Cotrijal se mantém otimista. Acredita que os expositores devem aumentar a comercialização, em um cenário de redução de juros e também de queda na taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia). “Além disso, o clima no Rio Grande do Sul está bom. O milho foi bem e a soja está com uma expectativa boa, uma das melhores safras da historia. Isso tudo traz um otimismo. E ainda as tecnologias, inovações que vêm”, afirma Nei César Mânica.

que a partir daí começamos a pensar em mais infraestrutura e fazer as calçadas”, relembra Nei Mânica. De acordo com o presidente, o parque possui um plano diretor e isso facilitou a organização do espaço. “Você não precisa mais ligar para um expositor. Chega em junho e ele [expositor] manda um e-mail e em dois, no máximo cinco dias o lote já está reservado”, finaliza.

PONTO MARCANTE DA FEIRA O que é uma Expodireto de cinco dias? Nei César Mânica questiona e ele mesmo responde. “É o local onde as empresas vêm mostrar tecnologia, inovação e vender. Se vender vendeu. Se no momento é bom, compra. As empresas vêm aqui para expor”, comenta o presidente da Cotrijal. “Uma coisa que me marcou muito num desses anos foi que a gente no começo visitava as empresas e sempre ouvia coisas boas, que tinham vendido bastante. Fui a uma pequena empresa e perguntei para um senhor como estavam as vendas. Ele me disse ‘Estou feliz de estar na feira, esse é meu primeiro ano’ e eu perguntei ‘E as vendas?’ e ele me disse que não tinha vendido nada. Ele disse então que estava feliz porque tinha feito 400 cadastros e agora ia ter 360 dias no ano pra visitar essas pessoas e vender os produtos”. Mânica relembra essa história da Expodireto e sorri com empolgação, pois acredita que este empresário aproveitou as oportunidades que a feira abriu.

“Nunca esqueço que o Dilvo Grolli [presidente da Coopavel] me dizia: ‘Mânica, tu vai ver que daqui 10 anos a Expodireto vai ser um divisor de águas’”. E realmente foi. Para o presidente da Cotrijal, a Expodireto trouxe muitos benefícios para a região de Não-Me-Toque. “Eu digo: nós criamos um monstro”, brinca. Ainda define a feira como um propulsor do agronegócio brasileiro. Quando perguntado sobre a importância da Expodireto para a Cotrijal, Mânica é firme. “Não dá para medir o tamanho dos benefícios que ela abriu”. A feira, por seu caráter abrangente e que já reuniu mais de 70 países no parque, abriu mercados e muitas oportunidades de negócios.

AGRICULTURA FAMILIAR A agricultura familiar é um dos pilares que compõem a diversidade da Expodireto. “Hoje não dá para pensar a Expodireto sem a Emater/RS-Ascar, a agricultura familiar aqui dentro”, afirma Mânica. A construção do pavilhão da agricultura familiar, que hoje abriga mais de 20 agroindústrias familiares em época de feira, é um marco da Expodireto. “Fizemos uma reunião com a Emater/RS-Ascar e a Fetag (Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul) e perguntamos o que nós poderíamos fazer para a agricultura familiar. Por volta de 2008, não me recordo a data exata, inauguramos o pavilhão”, relembra o presidente da Cotrijal. Para expor os produtos no pavilhão da Expodireto, é necessário que os produtores rurais estejam legalizados com os órgãos públicos competentes. Quem faz essa seleção é a Emater/RS-Ascar.

A primeira Expodireto reuniu 114 expositores nas áreas de sementes, químicos, fertilizantes, máquinas e implementos agrícolas. Também tinha expositores da área de pecuária leiteira, suinocultura, insumos agrícolas e serviços. A primeira feira recebeu mais de 41 mil visitantes em quatro dias de exposição.

FOTO: ANA CLÁUDIA CAPELLARI

EXPODIRETO 2017

COOPERATIVISMO Fazer com que a Expodireto seja também sinônimo de cooperativismo é um dos objetivos de Nei Mânica. “O próprio sistema OCERGS-SESCOOP/RS participa ativamente”. Mânica registra que a Expodireto é feita pelos produtores, por isso a importância do cooperativismo gaúcho estar presente na feira. “Porque quem faz a feira somos nós, os produtores, a Cotrijal. Não tem dinheiro público, prefeitura”.

A criação de um plano diretor facilitou a organização do parque Março e Abril - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº15

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LOGÍSTICA MANEJO

Escoamento da produção depende cada vez mais das estradas Mais de 90% da soja produzida no Rio Grande do Sul é escoada pelo modal rodoviário. O que fazer para desafogar as estradas e melhorar a logística? 12 |

A

soja é o produto agrícola que mais gera volume de exportação no Brasil. O complexo soja (soja em grãos e farelo de soja) vai movimentar para a safra 2016/2017 72,9 milhões de toneladas, de acordo com dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Esse número representa 70% da produção nacional. A commodity exige uma estrutura logística das cidades que suporte a quantidade de grãos produzida sem que haja perdas ou desperdícios. Se o transporte da soja não for adequado há riscos de prejuízos para o país. O desafio para o setor de transportes

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está no processo de distribuição. No trajeto das fábricas até o consumidor. A etapa de distribuição deve ser analisada com critério, pois envolve mais do que apenas carregar o grão. A área de logística deve selecionar o melhor modal a ser utilizado para cada tipo de transporte. O Rio Grande do Sul segue apostando quase que exclusivamente no modal rodoviário para escoar a produção de grãos. A dependência rodoviária da produção gaúcha passou da marca de 87% e hoje está em 92%. Nos Estados Unidos, país concorrente brasileiro na produção de soja, a dependência das estradas atinge pouco mais de 30%.


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De acordo com dados da Associação Brasileira de Logística (Abralog) o custo com a logística das estradas cresce de 0,3% a 0,4% ao ano. Já foi ultrapassado cerca de 20,03% do PIB gaúcho com esta conta. CAMINHOS DA SOJA O caminho que a soja percorre é longo e por vezes esburacado devido às condições das estradas. Os grãos colhidos do noroeste do Rio Grande do Sul percorrem mais de 600 km com destino ao porto de Rio Grande. O transporte é feito por meio de caminhões. As principais rotas de escoamento do grão no Estado são: a ERS 342 que liga Ijuí a Cruz Alta, a BR 158 que liga Cruz Alta a Santa Maria e a BR 392 de São Sepé a Rio Grande. Dentre os principais problemas das rodovias estão a falta de acostamento e sinalizações, ondulações e buracos no asfalto. Os buracos podem ser causados pelo excesso de peso das cargas. HIDROVIAS O Rio Grande do Sul possui cerca de 700 km de malha hidroviária situadas na Lagoa dos Patos,

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Guaíba, rios Jacuí, Taquarí, Caí, Sinos, Gravatai e São Gonçalo. A bacia do Rio Uruguai, que abrange a metade do estado, possui uma grande sub-bacia que é o Rio Ibicui. Apesar de o estado possuir canais hidroviários, esse modal é o menos utilizado. Ainda faltam pontos de embarque e desembarque. O valor do frete via hidrovia é 63% menor do o preço do frete nas rodovias. O estado utiliza também a via férrea para escoar parte da produção de soja, cerca de 18%. A metade norte do RS é a região que mais utiliza o modal ferroviário para transportar a soja até o porto de Rio Grande. Entretanto a utilização desse meio ainda é pequena. OPINIÃO Para a engenheira agrônoma Liamar Demarco, da Assistagro Agricultura, de Passo Fundo, o principal gargalo da logística da soja gaúcha é o transporte. Ela destaca que os problemas estão nas rodovias precárias. “Isso acaba onerando o transporte e aí gera mais custos, inclusive de combustíveis”. Liamar também comenta sobre a distância até o Porto de Rio Grande. “Os agricultores da região

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norte do RS, por exemplo, enfrentam a distância até o Porto para escoar a produção e isso encarece o produto”. Nesse sentido, a engenheira agrônoma ressalta a importância dos atravessadores. “Os cerealistas acabam comprando desses atravessadores a soja, que facilitam o transporte até o Porto”. Um dos problemas que pode ocorrer se o transporte da soja não for feito corretamente é a perda do grão. Liamar comenta que muitos agricultores perdem significativos números em rentabilidade com o transporte inadequado. Liamar destaca ainda que a armazenagem da soja é um ponto importante desse processo até o Porto. “Se todos os produtores tivessem um silo na propriedade os custos totais diminuiriam”, finaliza a engenheira agrônoma. Esse é o caso de Agaús Rizzardi, que é sócio proprietário da AgroRizzardi. Em Campo Novo, interior do Rio Grande do Sul, a agroindústria recebe soja de produtores de toda a região noroeste. Agaús conta que 80% da soja que é armazenada nos silos da família é encaminhada para atravessadores. Dos atravessadores o destino final é o porto de Rio Grande.

Como melhorar a logística de soja no RS? u Ampliar a capacidade de armazenamento nas fazendas; u

Desenvolver parcerias público-privadas;

u Implantar uma rede de terminais intermodais, aproveitando principalmente as possibilidades de combinação de ferrovias com a navegação fluvial; u

Abrir estradas vicinais;

u

Concessão rodoviária;

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Revitalização do sistema ferroviário;

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Redefinição de padrão e bitola;

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Construir uma rede de silos estratégicos;

u

Realizar uma reorganização portuária.


O campo

avança

Fernanda Falcão

tecnico@sementesfalcao.agr.br

Engenheira Agrônoma e Gerente Técnica da Sementes Falcão

Simplificado e fazendo sua lavoura no capricho

Q

uando paramos para observar todas as tecnologias disponíveis para o produtor rural percebemos o quanto a agricultura avançou e evoluiu nas últimas décadas. Lembrando o passado com a descoberta do DNA em 1953, a mecanização agrícola, o sistema de plantio direto, a biotecnologia, a informática e hoje softwares modernos, máquinas com piloto automático, drones e vants, equipamentos que trabalham sem operador, robotização, biotecnologia cada vez mais moderna, nanotecnologia, acesso à informação com uma velocidade que impressiona, agricultura com precisão, tecnologia da informação, ferramentas modernas de gestão e foco na rentabilidade. Entretanto, muitas vezes nós, produtores, acabamos por esquecer o básico e essencial. E o essencial é fazer as atividades no capricho, com planejamento e execução com qualidade. Inúmeros fatores influenciam para termos altos rendimentos, não apenas o clima, que é incontrolável. E temos muito a avançar, caso contrário a média do nosso Estado (RS) não estaria estagnada em 50 sacos por hectare. Mas como alguns produtores estão obtendo médias de 70 – 80 sacos por hectare? O que os melhores estão fazendo de diferente? Quais aspectos estamos falhando? Quais estamos acertando? Com tantas informações disponíveis em quais fontes podemos confiar? Quais são os insumos ideais para a realidade da minha lavoura, que é diferente do meu vizinho?

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Como posso definir qual adubação usar na minha lavoura se não tenho uma análise de solo bem feita e detalhada? Quais nutrientes estão limitando a minha produção? Tenho deixado a erosão do solo levar embora a camada de ouro, a superficial? Como está o solo física e biologicamente? E a matéria orgânica, fundamental para altas produtividades? Tenho compactação na minha área? Como está a taxa de infiltração de água no solo? Tenho feito rotação de culturas? Como

O essencial é fazer as atividades no capricho, com planejamento e execução com qualidade. escolho qual adubo utilizar? Como está a qualidade deste adubo? Deixo minha lavoura em pousio no inverno (= crime) ou semeio culturas que trarão benefícios para todo o sistema? Pois devemos sempre pensar no complexo que engloba nossa atividade e em resultados a longo prazo. Como escolho os cultivares que vou semear? Intercalo grupos de maturação para minimizar o risco? Defino a cultivar de acordo com o tipo de solo, microclima e adaptação para a região? Ava-

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lio as plantas daninhas e estádio das mesmas para definir qual melhor herbicida a ser usado e em qual dose? Faço dessecação antecipada? Rotaciono princípios ativos? Faço avaliação de pragas antes de estabelecer a cultura para verificar a necessidade de inseticida na dessecação? As máquinas e implementos estão revisados e bem regulados? Os colaboradores estão treinados e capacitados? E o pulverizador? Testo diferentes bicos, vazões, velocidades e pressão para verificar qual a ideal e mais eficiente para a minha realidade? Como está a qualidade da semente que vou semear? Alta germinação e vigor, padronizada por tamanho? O tratamento de semente utilizado é adequado e com a dose de ingrediente ativo necessária para a proteção por unidade de semente? Como está a distribuição da semente e do adubo? Defino os insumos com base em avaliações de pragas, doenças e plantas daninhas? E os micronutrientes? Quais realmente são necessários para a realidade da lavoura que conduzo? Para que todas estas perguntas sejam respondidas adequadamente é necessário conhecimento, capacitação constante e estarmos sempre cercados dos melhores profissionais. Saber onde e quando buscar a informação e com pessoas confiáveis. Pode parecer complexo, mas as respostas já estão na nossa mente. O que precisamos é observar os detalhes e buscar sempre fazer melhor a cada safra. Realizar as atividades no capricho não custa mais. Só depende de nós. Ótimas colheitas!


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ESPECIAL

Craques da produção O João Vicente Mello da Cruz

Escalamos um time de profissionais do campo para saber qual é o manejo decisivo na hora de obter altos rendimentos

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campo brasileiro possui centenas de anos de conhecimento acumulado em agricultura que até hoje é passado de geração em geração dentro das propriedades. No decorrer de toda essa história, a produção agrícola já conheceu diferentes momentos. De boas safras, de grandes secas, de revoluções tecnológicas e da consagração do agro como o produto brasileiro. Mas, o que fica de todo esse caminho percorrido até aqui? Outro campo com anos de história é o de futebol. Lá, 11 jogadores formam um time que busca um mesmo resultado: a vitória. Tanto no futebol como na agricultura, para chegar ao grande resultado é preciso ter elenco. Tem que haver um bom plantel de jogadores, pois é assim que se mantém o padrão de jogo e a com-

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Distribuição de sementes Os engenheiros agrônomos Tarso e Rodrigo Barison são irmãos e trabalham juntos na gestão da NBN Sementes, em Vacaria/RS. Os dois agricultores entendem a complexidade, e ao mesmo tempo, a necessidade de o produtor perceber a importância de uma semeadura adequada aliada ao uso de uma semente qualidade. “Assim como, hoje, existem raças de gado que geram carnes diferenciadas, nós também temos sementes de soja que geram cultivares diferenciadas. E qual seria nosso grande desafio? Hoje é a questão da distribuição adequada das plantas. Afinal, nós temos boa qualidade de plantas e de genética, mas o produtor, talvez, não tenha se atentado para a questão da distribuição. Se ele plantaria mais cedo ou mais tarde, por exemplo. A distribuição ainda é uma grande questão porque, afinal de contas, se você plantar uma grande quantidade de sementes, sem pensar na distribuição adequada, acaba que uma planta vai competir com a outra”, explica Tarso Barison, como um dos elementos-chave para aqueles produtores que almejam atingir o diferencial de produção em sua lavoura. Apesar de todo o conhecimento aplicado no campo e de toda a tecnologia empregada para altos rendimentos, os princípios básicos de um manejo

FOTO JOÃO VICCENTE MELLO DA CRUZ

petitividade do time: a preparação do solo deve acompanhar a escolha de uma semente de qualidade, distribuída de forma adequada para que a planta atinja o máximo de seu rendimento. Quem domina toda a tática para o alto rendimento na lavoura se torna um craque da produção.

Tarso e Rodrigo Barison

agronômico adequado, por vezes, são esquecidos ou mal utilizados. A rotação de culturas, como um exemplo, ainda é uma das técnicas agrícolas mais negligenciadas pelos produtores. “A gente vive um momento em que é muito mais difícil comprar mais hectares de terras, então, temos que tirar o máximo de produção do que já temos. Se ganhou muito dinheiro plantando soja, mas hoje é preciso diversificar. Soja plantada em cima de soja traz muitos problemas de fitossanidade radicular para as lavouras. Isso é esquecer, um pouco, da necessidade da rotação de culturas, plantando uma parte em milho. É esquecer um princípio básico. Apesar da dificuldade de plantio do milho, que hoje basicamente só acontece com a viabilidade do uso de pivôs, nós temos que pensar em novas possibilidades, talvez o plantio de alguma gramínea de verão, por exemplo. Afinal de contas, o que será do produtor que não pensa no aumento de produção, ou não diversifica, se algum dia a soja voltar à casa dos R$ 50,00?”, é o pensamento que

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Rodrigo Barison leva em consideração depois de constatar quais são os detalhes que fazem a diferença para o alto rendimento: “a nossa empresa foca na produção de grãos e de sementes, tanto de verão como de inverno. Depois de um grande investimento em unidade de armazenamento e em maquinários, nós percebemos um grande gargalo da produção, que era a distribuição das sementes no solo. Então, precisa-se de uma boa semente e de uma boa plantadeira. É isso que é valorizado. A plantabilidade da semente. Acho que, cada vez mais, só irão caber agricultores profissionais no mercado”, conclui. Sucessão familiar A realidade entre as propriedades agrícolas, no Brasil, é diferenciada. Por muitas vezes, até divergente. Mas uma ideia é comumente aceita: investimento na diversificação das culturas. O engenheiro agrônomo Fábio Crestani é agricultor em Lagoa Vermelha e pecuarista em Alegrete, e descobriu, nessa combinação, uma forma muito lucrativa de equilibrar os rendimentos. “Eu perdi um irmão em um acidente na fazenda e o sonho dele era fazer pecuária. Então, nós fizemos um projeto diferenciado de pecuária e hoje, dois anos após a morte dele, eu digo que a pecuária está em um momento ótimo”. A pecuária deve estar aliada a uma prática inteligente de gestão da propriedade, para servir como uma diversificação que valha a pena. “Para aqueles que não ficarem na vala comum e fizerem uma pecuária diferenciada, com confinamento, o negócio se apresenta de uma forma extremamente rentável. Eu tive a oportunidade de conhecer experiências de confinamento em pecuária fora do Brasil e tenho uma propriedade em Alegrete com um ciclo de pecuária completo onde se criam vacas de leite e terneiros de corte. Produzimos uma carne diferenciada, de terneiros novos que não pesam mais de 200 kg”. A diversificação traz ganhos para o produtor. E não foi diferente para Fábio Crestani. Na propriedade dele, ela acontece combinada a compreensão de uma nova forma de comercialização dessa produção. “Antes, eu entendia que o problema da pecuária era da porteira para fora, porque na hora de se

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Qual a importância da qualidade da semente para o aumento dos tetos produtivos e a rentabilidade do produtor? Professor Dejalma Zimmer Nenhuma prática agrícola como adubação, manejo e irrigação, pode melhorar a produção além dos limites impostos pela semente. Afirmação feita por dois professores americanos (James C. Delouche e Howard C. Potts) há mais de meio século. Há várias razões para ainda não termos incorporado esta lógica, mas não é mais possível postergá-la. A semente carrega a genética e a capacidade fisiológica de cada planta para a lavoura. Além disso, a boa semente faz com que as plantadeiras funcionem melhor, faz com que ocorra uma distribuição mais uniforme das plantas na linha de semeadura. Pode-se destacar ainda, que quando a semente é de alta qualidade o produtor fica mais seguro com o processo de construção da lavoura e, desta forma, confiando mais no processo e na semente, ele sempre terá uma lavoura com a população de plantas mais ajustada ao ideal. Portanto, com o uso de população ajustada, sementes bem distribuídas e plantas com elevada capacidade fisiológica, estaremos construindo a lavoura perfeita. Na lavoura perfeita cada planta recebe a dose correta de luz solar (o insumo mais mal manejado na sojicultora brasileira). Além disso, cada planta desfrutará de volume equivalente de solo para explorar (água e minerais) e das doses corretas de todos os produtos utilizados no programa de proteção. Assim, colheremos o máximo que cada planta conseguir fazer sob determinado ambiente, isso aumentará a produtividade e mudará drasticamente a rentabilidade, pois construir bem uma lavoura não é mais caro, é mais seguro e vem associado com o benefício da produtividade.


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FOTO DIOGO ZANNATA

produção desse negócio, mirando na qualidade da informação que entra porteira adentro. “Eu já venho de uma família de produtores, há muitos anos. Tenho propriedade em Coxilha e em Passo Fundo e percebo que a agricultura hoje, perto do que era 25 anos atrás, precisa ser gerenciada de uma forma muito melhor, gerenciar os recursos que temos, buscando sempre informação, pelo fato de sermos privilegiados na região com informação, com muitos dias de campo, temos a Universidade de Passo Fundo, a Embrapa. Precisamos buscar toda essa informação e também buscar informação agindo como um empresário”. O trabalho em uma propriedade de altos rendimentos traz ensinamentos diários. Marizete compartilha um deles: “A evolução depende do cuidado, olhando para a lavoura sob todos os aspectos, o ambiente, as pessoas, as máquinas e as tecnologias. Um manejo adequado, o cuidado com o solo, utilizando variedades produtivas, uma boa nutrição das plantas e um rigoroso controle sanitário de doenças invasoras e insetos”, destaca. Prestar atenção na lavoura não basta. A busca por conhecimento especializado é um ensinamento e garante o momento certo de o produtor agir, ensinamento que a agricultora passa adiante para a filha. “Apesar de eu ser formada em administração e não em agronomia, eu estou me in-

Fábio Crestani

vender, não tínhamos um frigorífico adequado e hoje já existem frigoríficos mais entrosados que entendem esse segmento da produção e pagam bem e se assemelham a uma butique de carnes, onde compra-se uma carne diferenciada. Essa brincadeira, que começou como um sonho do meu irmão, hoje tornou-se um negócio extremamente rentável”. Assim como Fábio aprendeu com o pai, ele passa seus conhecimentos para os filhos. O pensamento aberto à diversificação e o investimento em qualificação são preponderantes para que o negócio da família continue por mais um longo tempo. “Eu acho muito importante a questão da sucessão familiar nos negócios, tanto em empresas, como nas propriedades. Eu tenho dois filhos, um já formado em agronomia e outro iniciando os estudos na área. Acho importante investir em nossos filhos e compartilhar com eles as nossas experiências. O meu filho de 22 anos está experimentando uma jornada muito interessante, pois ele diz que está tentando ir um pouco mais longe de onde eu já fui. Eu vim de uma família onde o meu pai não tinha estudo e ele administrava de uma maneira. E nós, com um pouco mais de especialização, conseguimos entender melhor as relações e as variáveis da agronomia”, relata o produtor. Gerenciamento Das propriedades de tradição familiar, a de Marizete e Caroline Artuso chama a atenção por alcançar altos rendimentos focando na qualidade da gestão. Mãe e filha comandam de perto a 22 |

Marizette e Caroline Artuso

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Boas práticas agrícolas e as plantas daninhas Mauro Antônio Rizzardi

FOTO JOÃO VICENTE MELLO DA CRUZ

O herbicida é visto, por muitos, como a única estratégia a ser adotada para o controle de plantas daninhas; porém, a adoção do controle químico não deve ser vista como solução única. Culturas implantadas com população de plantas, adubação, espaçamento e cultivares adequadas à determinada condição ambiental tendem a apresentar drásticas reduções na interferência. A época de emergência da cultura influencia a intensidade com que ela suprime as plantas daninhas. Assim, uma boa prática a ser adotada é a semeadura da cultura na ausência de plantas daninhas na área, ou seja, “semear no limpo”. Os herbicidas de pré-emergência podem atuar no manejo integrado no início do ciclo da cultura, que será complementado pelo rápido e intenso fechamento do dossel proporcionado pela cultura, quando em altas populações ou por reduções do seu espaçamento. Outra prática agrícola importante no manejo de plantas daninhas é a adoção de um adequado sistema de rotação de culturas, que inclua culturas de interesse econômico com culturas de cobertura e proteção do solo.

teirando no negócio que está me colocando no segmento da agricultura”, é assim que Carolina entende seu papel na sucessão familiar e complementa: “é por isso que eu acredito que, na sucessão nos negócios, seja muito importante a colocação do jovem. Há uma semana, em um jantar do Sindicato Rural de Passo Fundo, haviam apenas três pessoas com menos de 50 anos fazendo a gestão do agronegócio”, declara a jovem administradora de empresas, que entende o papel de uma profissional como ela no segmento. “Eu acredito que, hoje, nós temos muita tecnologia e também muita informação, e vai acabar sendo mais fácil devido a isso. Mesmo eu não sendo formada na área de agronomia, eu busco pessoas que sejam formadas para poder ajudar, o que acaba sendo uma questão de administração, afinal de contas, a propriedade nada mais é que uma empresa, um negócio”, finaliza.

Fernanda Falcão

Gestão de pessoas O campo é um local de variáveis diárias e de acontecimentos repentinos. É assim que Fernanda Falcão, engenheira agrônoma e gerente técnica da Sementes Falcão de Sarandi/RS, compreende a realidade a qual todos os produtores devem estar preparados. “Às vezes faz-se um planejamento e acaba que nada na agronomia é uma receita de bolo. De uma semana para a outra tudo pode mudar. Em função de clima e de diversas situações. O que você precisa é estar preparado e ter gestão. O planejamento tem que ser muito bem feito, não somente para aquela safra, mas também ao longo dos anos. É ter uma expectativa e ver quais os planos de ação que você precisa criar e, então, chegar onde você quer chegar”. No planejamento estratégico, destacado por Fernanda, estão os detalhes de uma gestão que faz a diferença. “O que nós procuramos fazer é estarmos cercados de pessoas que possuam mais conhecimento que nós mesmos para que se procure crescer”. Fernanda herdou não só os negócios, mas o sobrenome de seu pai, Roberto Falcão, que iniciou o trabalho da família em 1986, e desde então produz sementes de alta qualidade para Sul e Sudoeste do Brasil. “Nós, por sermos uma


Alexandre Van Ass

empresa familiar, acreditamos que temos a obrigação de crescer e não de ficar onde a gente está hoje”, é o que diz Fernanda antes de apontar a importância desta sucessão familiar. “A questão da sucessão deve ser desde o início. Não adianta o pai dizer para o filho no final da vida que ele terá que assumir o negócio da família. A sucessão vem de berço. Foi assim com o meu pai quando iniciou e cresceu, e está sendo assim comigo e com o meu irmão também”. Além desta questão de continuidade familiar nos negócios, outro fator que envolve pessoas é a gestão dos recursos humanos. “Hoje existe uma dificuldade em mão de obra capacitada e especializada. Os jovens não ficam mais na propriedade por serem muito imediatistas. Por outro lado, não adianta prezar por pessoas capacitadas, se o gestor não dá condições adequadas e oportunidades para que as pessoas cresçam”, conclui. Os 3 pontos diferenciais Além de compreender toda a complexidade que manejo agronômico que uma propriedade demanda, Alexandre Van Ass, das Sementes Van Ass, de Panambi/RS, compreende que cada propriedade possui características que a torna única: 24 |

“eu vejo que a variabilidade dentro das propriedades no Brasil é astronômica. Hoje nós estamos aqui, nesta sala, falando com produtores que são, talvez, a elite do Estado. Mas eu vejo que não é a realidade para todos. E ao mesmo tempo que nós vemos um produtor bem diversificado, que investe em pecuária, eu vejo produtores que plantam só soja, têm o mínimo de funcionários, e que vão bem, e durante o inverno fazem a cobertura com azevém. Ao mesmo tempo, nós temos outros produtores, que produzem com bastante valor agregado, que é um outro setor dentro do agronegócio. A agricultura pode apresentar uma infinidade de variáveis. Não existe limite, a exemplo do próprio turismo rural” o olhar diversificado do engenheiro agrônomo se estende aos diferenciais que pode fazer a diferença na hora de um mesmo produtor poder alcançar altos níveis de produção. “Observando mais a parte técnica, focando em A agricultura produtividade, tudo está muito pode ligado à tecnologia. Não necessaapresentar uma riamente ligado a possuir as melhores máquinas, mas sim tecnoinfinidade de logia de manejo, de saber a hora variáveis. Não de se posicionar no momento existe limite, certo. Aí temos produtores que a exemplo do utilizam, às vezes, os mesmos insumos e não conseguem obter os próprio turismo mesmos rendimentos por não sarural”. berem se posicionar no momenAlexandre Van Ass to certo”, comenta. Produtor Para Alexandre, três elementos saltam aos olhos de quem observa uma propriedade que celebra ganhos de produção ao final de uma safra. “Na questão de produtividade, eu elenco três fatores preponderantes: a fertilidade, que é cuidar do nosso solo, a biologia, a química do solo. Outro ponto é a questão de sementes, a qualidade, a genética. Este último quesito também está relacionado à sanidade, pois precisamos uma densidade de folhas adequadas para uma fotossíntese efetiva, sem exageros de população que cause dificuldades para a deposição dos defensivos e o sombreamento das folhas da parte inferior da planta”, pontua o engenheiro agrônomo.

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Como a tecnologia ajuda o produtor no aumento da rentabilidade? Elmar Luiz Floss

Celi Webber

Preservação do solo Celi Webber vem de uma propriedade familiar de 56 anos de história. Desde a criação por seu pai, Setembrino Webber, as Sementes Webber de Coxilha experimentam altos rendimentos em culturas de inverno e verão e se tornaram uma referência para a região. Ao longo dessa jornada, três fatores se tornaram cruciais para ganhos de produção: a conservação do solo, a qualidade da semente e a distribuição. Esse elenco de práticas conduziu a ganhos que deram notoriedade a Sementes Webber no decorrer da história. “Desde o início fomos nos destacando na produção, pois o sr. Setembrino Webber sempre cuidou muito do solo, foi um dos primeiros produtores da região a fazer a correção de solo com calcário e adubar a cultura de acordo com a recomendação das análises do solo. E a partir da entrada do Sistema Plantio Direto, entrando a soja em rotação com o milho também se deu um aumento na produtividade. A partir de 2008 iniciamos a prática da agricultura de precisão. Observamos que ocorreu uma uniformização da fertilidade das glebas, com as correções de fósforo, potássio, calcário, gesso, enxofre. Mas acredito que precisamos buscar mais informação e conhecimento sobre como melhorar a fertilidade do solo, para irmos aumentando mais a produtividade”. A busca por informação é um elemento recorrente na diferenciação de um produtor para outro, quando o manejo adequado de uma lavoura se torna um ponto diferenciador. “Os produtores

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As tecnologias adequadas de manejo, para cada região edafo-climática, permitem a expressão do potencial genético da cada cultivar, através da maximização dos processos fisiológicos de absorção, circulação de nutrientes e fotoassimilados, da produção fotossintética pela folha e da capacidade de acumulação nos grãos. Como as cultivares são cada vez mais precoces e o potencial de rendimento mais alto, a cultura necessita absorver mais nutrientes e água, em menos tempo. Por isso, as tecnologias que reduzem os impedimentos físicos, químicos e biológicos do solo, têm grande importância no aumento dos rendimentos. Da mesma forma, para produzir mais o aparelho fotossintético deve ser maior, apresentar uma duração verde e sadia por mais tempo (melhor enchimento de grãos), e ter maior eficiência (maior teor de clorofila). Finalmente, são importantes a tecnologias que promovam um maior pegamento de vagens/legumes por planta, maior número possível de grãos por legume e um bom enchimento de grãos.

não pensam a sua propriedade da porteira para fora. Apesar de ganhar muito dinheiro apenas com o plantio de soja, não pensam em como poderiam incrementar a sua produção com a rotação de culturas, por exemplo”. Estudo e profissionalização são dois elementos que um gestor de propriedade deve prezar para se tornar um grande produtor. É pelo que também preza, a engenheira agrônoma de Coxilha. “Isso faz a diferença, porque mantém as pessoas mais ativas mostrando os detalhes e mantendo todos mais alertas”.

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Sobre a gestão dos recursos humanos, Celi Webber deixa sua experiência: “a gestão de pessoas é muito importante. Prepará-los, fazê-los crescer juntos, pois vale a pena investir em pessoas. Nós crescemos incentivados a participar. O que nos faz pensar na sucessão familiar. Pois alguns produtores que estão no negócio trabalham tristes porque sabem que não têm ninguém para seguir aquele trabalho”, pontua a engenheira. A rotação de soja com soja “No meu caso construímos uma estrutura em família junto com os pais e os irmãos, trabalhando arduamente em uma pequena propriedade onde criávamos suínos, gado leiteiro e Alceu Bedin produzíamos soja e milho”. Uma realidade bastante comum a muitos produtores rurais, mas que foi a qual definiu uma base à propriedade gicidas e bons inseticidas. Muitos condenam que hoje rende altos ganhos em suas lavouras. o uso de calcário, pois eu não abro mão. Eu Quem conta essa história é o produtor rural, já venho de um uso de 20 anos de calcário na Alceu Bedin, natural de Ronda Alta/RS. Lá ele propriedade a cada três anos. experimenta uma gestão basSempre embasado na análise tante particular e que pode até de solo feita em laboratório”, chamar a atenção. “As pessoas Alceu está atento ao fato de me perguntam: o que você que ao manejar a lavoura sabiafaz para ter uma média de mente, se extrai o máximo dela. produção tão alta? Faz rotaEu comecei de baixo E esse espírito de empreender ção de cultura? Eu respondo, com a propriedade em práticas não convencionais sim! Faço rotação de soja com da minha família e vem desde o tempo de seu pai. soja! Não planto milho. Por“Eu comecei de baixo com a que na nossa região o clima o resultado que eu propriedade da minha famíé muito complicado. De mitenho hoje, do qual lia e o resultado que eu tenho crorregião para microrregião, eu tenho orgulho hoje, do qual eu tenho muito o clima muda. Eu tenho áreas e estou muito orgulho e estou muito satisfeina propriedade onde houve to, com certeza veio com mui16 milímetros de chuva em 40 satisfeito, com to trabalho. Em 1987 foi a pridias. Então, em uma safra de certeza veio com meira vez que eu ouvi falar em soja com uma variedade com muito trabalho. plantio direto, em como ele era potencial de 80 sacos por hecAlceu Bedin feito no Paraná, e só em 1993 tare, eu talvez colha 65”. Alceu Produtor eu consegui convencer o meu também acredita em práticas pai a implantá-lo e também que sempre garantem o renconsegui convencer o resto dos produtores da dimento desejado a qualquer produtor. “Para região. Eu acredito que o momento que fez toda mim tudo começa com uma boa recuperação a diferença para o produtor brasileiro foi a implantade solo, formando palhada, escolhendo boas ção do plantio direto”, conta o agricultor. variedades. Junto a isso, escolhendo bons fun-

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PESQUISA

Biotecnologia em inseticidas Pesquisa pioneira da UPF experimenta gene de toxina em milho transgênico João Vicente Mello da Cruz

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agricultura ao redor do mundo sempre teve de driblar a ação de pragas e doenças que colocam em risco os níveis de produção das lavouras. Alguns estudos revelam que, no Brasil, cerca de 30% das principais plantações são dizimadas por insetos e outras pragas, como ácaros e fungos. Assim, agricultores recorrem ao uso de inseticidas químicos, bioinseticidas e, mais recentemente, as chamadas proteínas pesticidas. Quando inseridas no material genético das plantas passam a ser organismos geneticamente modificados atuando como biopesticidas, matando determinados tipos de insetos, fungos e até vírus. As toxinas proteicas mais empregadas hoje são produzidas por bactérias da espécie Bacillus thuringiensis, conhecidas como toxinas BT. Elas são largamente utilizadas em culturas de milho, algodão e batata nos Estados Unidos e em outros países que permitem o uso de transgênicos. Apesar de eficientes no controle das pragas, as toxinas BT têm ação limitada, porque oferecem proteção apenas contra um número restrito de insetos, às vezes FOTOS: JOÃO VICENTE MELLO DA CRUZ

Embrião de milho de 1mm 28 |

uma única espécie de besouro, mariposa, borboleta, mosca ou mosquito. Contudo, a validade da atual eficiência da tecnologia BT já foi colocada em cheque com relatos de lagartas resistentes a sua toxina.

Jaburetox e RNA de interferência Sobre este aspecto, há 10 anos, a Universidade de Passo vem desenvolvendo um estudo de transgenia em milho que busca uma alternativa viável e sustentável ao uso de BT. “Nós temos duas frentes, que são a produção de milho geneticamente modificado resistente a insetos com gene desenvolvido e isolado pelos pesquisadores da Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Sul, que se diferencia do gene BT, se configurando então em uma nova alternativa, que se chama Jaburetox. E nós temos outra tecnologia sendo desenvolvida que é o RNA de interferência, uma técnica nova para silenciamento de gene de insetos, no caso, se colocarmos esse gene no milho, o inseto come e bloqueia um gene vital para a sua sobrevivência”, esse é o relato de uma das responsáveis pelo estudo da UPF, a professora do Programa de Pós-GraduaHá 10 anos a ção em Agronomia, Magali Grando. “No RNA de Universidade interferência, precisa-se produzir uma molécula de Passo vem para cada inseto. Já o Jaburetox é um gene de amplo desenvolvendo espectro”, detalha a pesquisadora. um estudo de No caso dessas duas tecnologias inovadoras, o transgenia RNA de interferência é específico para insetos, no em milho que caso a Helicoverpa armigera, a lagarta do cartubusca uma cho, o pulgão do milho e percevejo barriga verde. alternativa Este estudo é proveniente de pesquisas realizadas viável e inicialmente nos Estados Unidos e a plicados aqui sustentável ao uso de BT. pela professora Magali Grando, no Laboratório de Biotecnologia Vegetal da UPF. “Eu que estabeleci o estudo de transformações genéticas de plantas aqui na universidade. Essa é uma corrente de pesquisa de transgenia que eu trouxe dos Estados Unidos, de um estudo na universidade da Flórida e de um em Nebraska. Aqui, na universidade, alunos de graduação e pós-graduação participam na pesquisa”. Já o estudo com a toxina peptídica Jabu-

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Plantas trângênicas dentro do berçário climatizador Foto João Vicente Mello da Cruz

Plantas trângênicas dentro do berçário climatizador

ratox, teve origem no trabalho da pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a professora Célia Carlini, que 1997 isolou um gene de feijão-de-porco, descobrindo suas propriedades inseticidas. “Artigos sobre o uso do gene Jaburetox na soja já fodem ser encontrados, mas a Universidade de Passo Fundo é a única desenvolvendo esse trabalho com milho. No Brasil, só existe um outro lugar trabalhando a transgenia no milho, que é a Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas, no estado de Minas Gerais. Este estudo feito com o milho é o único no Brasil. A pesquisa em milho já tem 10 anos aqui na universidade. Com Jaburetox, 5 anos. Foram várias teses de mestrado e doutorado para, agora, termos a implantação do nosso gene de interesse”, segundo a pesquisadora da UPF, na época da implantação do estudo, a UFRGS cedeu o gene da toxina para a aplicação nos estudos da transgenia em milho para a pesquisa conduzida pela professora Magali, aqui na UPF.

Aplicação “Já existem inseticidas biológicos no mercado que funcionam como alternativas não convencio-

Extração de um embrião de milho

nais. Nós temos um laboratório, uma infraestrutura de criação de insetos para que se possa usá-los nos testes de avaliação e eficácia dessas alternativas de controle”. Este é o relato do professor coordenador do Laboratório de Entomologia da Universidade de Passo Fundo, José Roberto Salvadori, que é parceiro do trabalho de aplicação das toxinas desenvolvidas em genes de milho nas pesquisas com o Jaburetox. “No caso de uma praga como a heliMarço e Abril - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº15

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Plantas doadoras de embriões para introduzir o gene de interesse

coverpa armigera, nós já demos o primeiro passo. Nos testes em laboratório, já provocou morte da lagarta e a toxina Jaburetox é uma grande candidata a ser desenvolvida. A helicoverpa não existia no Brasil até alguns anos e começou a ser amplamente estudada então, daí o interesse nesta alternativa”, conta o pesquisador. O gene Jaburetox já foi colocado em embriões de milho e foi testado com sucesso. “Nós primeiramente alimentamos a helicoverpa armigera com a proteína do Jabuterox. Causou mortalidade. Então pegamos o gene que produz essa proteína tóxica e colocamos no milho. Agora estamos testando a expressão do gene e vendo se a proteína tóxica produzida pela planta causa a morte de insetos”, esse é o detalhe da pesquisa feita pela professora Magali, segundo ela.

Investimentos O Governo do Estado, através do Polo Tecnológico do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, já investiu R$ 1 milhão na pesquisa. “O governo tem interesse em incentivar a produção agrícola com plantas mais resistentes a insetos, aumentando assim a produção. E como a tecnologia BT já está apresentando problemas, muitos entomolo30 |

gistas já estão atrás de uma nova alternativa. Por isso o governo veio procurar a gente. Assim como algumas empresas privadas já mostraram interesse no nosso produto. Toda as tecnologias de produtos transgênicos presentes no Brasil hoje são estrangeiras. Por isso a importância de um estudo como esse, que é pioneiro e único no Brasil. É ter no nosso estado uma planta adaptada às nossas condições”, conclui a pesquisadora.

RNA de Interferência (RNAi)

RNA de interferência é uma pequena molécula de RNA que tem a capacidade de silenciar genes alvos, por bloquear a sua expressão. O RNA de interferência se liga ao RNA alvo e impede que o mesmo produza proteínas, as quais determinam as características fenotípicas e garantem a sobrevivência do organismo.

Jaburetox

É um peptídeo, formado por uma cadeia de 81 aminoácidos. Os pesquisadores deram a ele o nome de jaburetox, uma palavra formada por jack bean, nome em inglês do feijão-de-porco, o vegetal em que a proteína foi identificada pela primeira vez, e mais urease e toxina.

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Grandeza em todos os campos

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excelência em ensino, pesquisa, extensão e inovação tecnológica consolidam a Universidade de Passo Fundo (UPF) como a maior instituição de educação superior do norte gaúcho. Inserida em uma região com agricultura promissora, a UPF tem relação muito próxima com o agronegócio e destacada tradição no ensino de ciências agrárias, o que motiva a Instituição a estar sempre próxima dos produtores, disponibilizando produtos, serviços e pesquisas que contribuem com o desenvolvimento da produção agrícola. Mostrando a sua “Grandeza em todos os campos”, a UPF estará presente na Expodireto Cotrijal 2016, uma das maiores feiras do agronegócio brasileiro, com alcance internacional. O evento acontece de 6 a 10 de março, em Não-Me-Toque/RS. Presente desde a primeira edição, a UPF encontra na Expodireto os produtores que buscam o conhecimento produzido na Universidade e os serviços oferecidos pela Instituição. Para o diretor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (FAMV/UPF), Helio Rocha, é importante estar presente na principal feira do agronegócio do sul do Brasil. “Produtores, técnicos e empresas detentoras de patentes mostram as suas novidades a cada feira, e, para nós, é imprescindível estar junto a esses segmentos e junto com os alunos, oportunizando a visão de evolução do agronegócio como um todo”, destaca ele.

Pesquisa e inovação Nesta edição de 2017 da Expodireto, a UPF apresenta uma alternativa para minimizar problemas de plantio: um dispositivo autônomo desenvolvido por pesquisadores da Universidade. O equipamento, que auxilia no plantio em nível e incrementa infiltração de água no solo, será lançado na feira. A inovação tem custo reduzido e se torna uma prática complementar ao sistema de plantio direto. Um simulador mostrará na prática as perdas hídricas e a minimização dos danos a partir do uso do dispositivo. Além disso, os pesquisadores e idealizadores do projeto farão explanações aos produtores sobre o uso da tecnologia. A UPF também apresenta na Expodireto a pesquisa

Tecnologias e pesquisas desenvolvidas pela UPF serão apresentadas na Expodireto Cotrijal 2017, que acontece em Não-Me-Toque, de 6 a 10 de março

de nova cultivar de batata semente. A cultivar foi avaliada em nível de produção de chips e batata palito, por conter alto teor de matéria seca e baixo teor de açúcar, produzindo chips secos e que não escurecem. Além disso, comparado a outras cultivares já existentes, o material também se mostrou produtivo e resistente a doenças e tolerante a ataques de insetos. O clone está em fase de testes a campo e, em breve, será lançado como cultivar e a documentação para registro será encaminhada.

Serviços No estande institucional da UPF estarão disponíveis informações sobre diferentes cursos de graduação e pós-graduação, serviços, setores e laboratórios. Entre os setores representados na Feira, estarão o Centro de Pesquisa em Alimentação (Cepa), o Centro de Extensão e Pesquisa Agropecuária (Cepagro), o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Alto Jacuí (Coaju), o Hospital Veterinário, o Museu Zoobotânico Augusto Ruschi (Muzar) e o Serpentário, além dos laboratórios de Solos, Biotecnologia e Sementes e Aveia. A cobertura do evento também contará com a presença da Rádio UPF e da UPF TV. Março e Abril - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº15

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Live na p O pesq

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Entrevista com o engenheiro agrônomo Sérgio Schneider, em Santa Rosa, sobre qualidade da semente e semeadura

soja hoje é a mais importante cultura produzida no Rio Grande do Sul, com participação significativa na economia estadual. E a perspectiva é que a cultura cresça ainda mais, já que a produção média hoje, é de apenas 49 sc/ha. Há produtores que já superam o número de 80 sc/ha. A incidência de doenças, pragas, plantas daninhas e o manejo inadequado de solo e fertilizantes são alguns dos fatores que contribuem para o baixo desempenho da produção. Nesse contexto, o Projeto Desafios da Soja busca auxiliar o produtor. O projeto percorre as principais regiões produtoras do Estado para desenvolver conteúdo jornalístico sobre as boas práticas agrícolas desenvolvidas, mostrando soluções às dificuldades enfrentadas por quem está no campo. Aproximar pesquisa e produtor e possibilitar a aplicação do conhecimento produzido no meio científico na lavoura também é um dos objetivos do projeto.

Realização: 32 |

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A equipe do Desafios da Soja viajou mais de 10 mil km pelo Rio Grande do Sul e uma pequena parte de Santa Catarina. O ponto inicial foi o município de Muitos Capões, onde o assunto tratado foi a qualidade da semeadura e a importância de fazer esse processo com qualidade para atingir uma boa produtividade. Viajamos à região noroeste para tratar sobre plantas daninhas e o manejo adequado para cada situação. Rabo de burro e capim amargoso deram dor de cabeça aos produtores daquela região. Vacaria, Não-Me-Toque, Santo Augusto e São Luiz Gonzaga foram outros municípios percorridos. Em Santa Catarina visitamos a cidade de Palmitos, onde a lógica de produção é diferente da dos gaúchos. Documentar o dia a dia dos produtores, técnicos e pesquisadores é o objetivo do projeto Desafios da Soja. Confira nos cliques um pouquinho do nosso caminho pelo Rio Grande do Sul para descobrir o desafio de produzir soja.

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página do Facebook da Destaque Rural com Dirceu Gassen. quisador falou sobre os principais desafios de produzir soja.

Live na página do Facebook da Destaque com Elmar Floss sobre manejo de soja para altos rendimentos.

Em São Luiz Gonzaga/RS, conversamos com o gerente técnico da Coopatrigo.

Em Santa Rosa o pesquisador da CCGL e professor da UniCruz, Mário Bianchi, falou sobre o desenvolvimento da soja no RS.

Realização:

Patrocínio:

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MERCADO

Comercialização da soja: Não há receita de bolo O preço da soja no Brasil hoje é pautado pelo dólar. Entender o mercado internacional na hora de comercializar o grão é um fator chave para uma boa rentabilidade

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ara produzir soja no Rio Grande do Sul há muitos desafios. Desde a escolha da cultivar até a hora de acertar a venda da saca de soja o produtor rural precisa estar

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atento, não só ao mercado, mas também à qualidade da semente. Entretanto, ainda existem muitos produtores que não reconhecem a importância disso. É o que João Gusman, gestor de risco da TS Corretora de Grãos, define como falta de profissionalização e conhecimento. “O grande problema para os nossos produtores aqui é a falta de profissionalização”. Gusman acredita que um dos fatores desse problema é a margem de lucro que o produtor gaúcho mantém. “Nós aqui [no RS] temos uma boa margem de lucro em relação ao resto do Brasil, pois basicamente estamos próximos ao porto, temos insumos mais baratos e temos um preço de venda melhor que os outros e o frete é o fator que menos impacta no preço de venda”, finaliza o gestor. Para Claiton Santos, que trabalha com commodities agrícolas também na TS Corretora, o produtor rural acaba ficando acomodado. “Qualquer crise eco-

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nômica que aconteça no mercado o governo federal libera crédito fácil nos bancos para os produtores”. Para Santos, o produtor com esses recursos dispoGUIA BÁSICO SOBRE níveis para adquirir acaba por não pensar no custo O COMÉRCIO DE SOJA da lavoura. “Na pior das hipóteses o banco pode adiantar dinheiro e ele [produtor rural] cria uma Quem são os compradores? bola de neve com as dívidas”. Indústrias, tradings, cooperativas, Gusman salienta que a falta de profissionalizacerealistas e empresas de insumo; ção gera o pensamento que cria as ‘bolas de neve’. “Quanto menor a margem de lucro mais profissioModalidades de Venda: Balcão, Spot nalizado o produtor tem de ser”. O gestor compara ou Soja disponível e lotes; o RS a estados como o Mato Grosso, por exemplo, Mercado Futuro: HEDGE, NDF, que hoje estão na frente dos gaúchos no quesito Pré-fixação, Pré-pagamento, Bartes e venda do grão. “Hoje as margens de lucro estão vendas a fixar; boas e cobrem os custos fixos e variáveis”. Mesmo Modalidades de Entrega: FOB (Free assim, a produção gera lucro independentemente On Board) e CIF (Cost, Insurance and do preço estar bom ou não. Essa zona de conforto é Freight consolidada pelo preço da soja, que há aproximadaRemuneração: Praças, volume mente dois anos está sustentada no dólar. “O prede negociação no Mercado interno, ço da soja no Brasil está bom em função do dólar e composição de preços ou prêmio. do prêmio do porto positivo”. O prêmio do porto é uma remuneração extra para a entrega da soja para exportação. O pagamento de prêmios é negociado entre tradings e os compradores internacionais. A base de cálculo é uma porcentagem d a cotação de Chigaco descontando os custos de logística da soja até o porto. O prêmio aconteceu porque os Estados Como identificar o preço de venda Unidos não vendia barato o grão. “O que mantém o Para identificar o preço de venda é preciso olhar preço da soja no mundo inteiro é Chigaco”, acres- a propriedade como um todo. Os custos com insucenta o gestor. mos para a lavoura, mão de obra, o cusAlém da falta de profissionalização to com financiamentos (endividamenO mercado de para calcular o preço de venda, há o tos). Se esses valores forem colocados commodities é desconhecimento por parte dos pro- dinâmico e pautado no papel é possível encontrar o preço dutores rurais da origem dos preços. de venda. Atualmente o produtor calpela Lei de Oferta e Os preços são formados em Chicago, Procura. Não há cula de forma diferente. Para a negocianos Estados Unidos, consequenteção ele calcula quantos sacos de soja o “melhor” mente em dólar. “O mercado é quem deve produzir. “Isso é muito relativo. Se jeito para coloca o preço e a origem do mercado eu vender a saca de soja a R$90,00, por é Chicago, na CBOT”, explica Gusman. vender o grão exemplo, vou precisar de x sacos. Se eu Para o produtor ter segurança na sua de soja, visto que vender a R$50,00, outros tantos sacos venda é necessário profissionalizar a a comercialização e de soja. O inconsciente do produtor comercialização. As propriedades es- os melhores preços está direcionando ele a transformar em dependem do tão concentradas em produtividade e saca de soja”, acrescenta Claiton. Encontexto econômico esquecem como irão comercializar. tretanto, não há um embasamento para de cada safra. Não é preciso deixar de lado a proesse cálculo. Não existe uma receita de dutividade. “A produtividade não bolo para vender a soja. É necessário depende só do produtor, por mais que se tenha profissionalizar a comercialização e entender as nuanalta tecnologia, o clima não é um fator que está ces do mercado. Acompanhar preços, cotações internanas mãos dele”, afirma Claiton. cionais e saber a hora certa de vender. Março e Abril - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº15

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ENTREVISTA MANEJO

“Ninguém vai ser mais ri Bruna Karpinski Uma trajetória repleta de vivências no campo, na cidade e na política permite que Alysson Paolinelli demonstre suas opiniões com a mais genuína franqueza. Não hesita em falar o que pensa e costuma dizer que é o movimento que o mantém equilibrado. O caminhar a passos curtos e firmes dá a certeza de que ele não pretende parar tão cedo. Aos 80 anos, o mineiro esbanja energia e tem um ritmo de dar inveja. Presidenteexecutivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), sua rotina é enfrentar a ponte aérea para cumprir uma agenda diária corrida que inclui palestras técnicas, congressos e eventos pelo Brasil afora. Os finais de semana são dedicados à vida na fazenda, em Belo Horizonte, onde planta feijão, soja e milho. Agrônomo de formação, Paolinelli foi o ministro da Agricultura (1974 a 1979) que permaneceu por mais tempo à frente da Pasta. Entusiasta da agricultura tropical, acredita que o caminho para o desenvolvimento produtivo é o investimento em pesquisa para a geração e a transferência de tecnologia. “Se nós formos capazes de colocar a ciência na natureza, e se nós formos competentes para aprender a manejar a natureza sem degradá-la, ninguém vai ser mais rico que o Brasil”, disse em entrevista exclusiva à revista Destaque Rural. Nas páginas a seguir, Paolinelli fala sobre conjuntura econômica e também dos gargalos da agropecuária na atualidade, além de abordar as potencialidades e os desafios do setor para avançar na conquista de novos mercados.

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Destaque Rural u Quais foram as principais transformações do setor nas últimas quatro décadas, desde a época em que você foi ministro da agricultura? Alysson Paolinelli u As transformações foram muito grandes, a começar pelas dificuldades que o Brasil, país tropical, tinha de se autoabastecer. Hoje, felizmente, o País é um grande exportador porque desenvolveu uma tecnologia tropical sustentável. Isso veio em um crescente e a gente espera que continue.

DR u De que forma a agricultura e a pecuária con-

tribuíram para o desenvolvimento econômico e social do país neste período?

Paolinelli u A contribuição do setor agropecuário é muito grande. A agricultura e a pecuária, hoje, na verdade, estão sendo a base da nossa economia. O País está endividado e este é o único setor que realmente tem dado saldos positivos. A nossa pecuária cresceu muito. Ela tinha um desfrute muito pequeno e hoje é um dos maiores que se tem, especialmente considerando o sistema de manejo que nós damos aqui, à pecuária de corte, e também os pequenos animais. O Brasil, hoje, em suínos, aves e ovos, não perde para ninguém em tecnologia e nem em sistemas produtivos. Nós somos competitivos. Os nossos concorrentes vão ter que subsidiar os seus produtos senão nós tomamos o mercado deles. E essa é a melhor notícia que nós podemos ter. Em agricultura, nós ainda temos alguns problemas que também afetam a pecuária. O primeiro deles é uma política pública ainda muito errática. Esse negócio de fazer plano de safra, de 12 em 12 meses, é complicado.

DR u Quais são os principais desafios para o avanço do agronegócio brasileiro?

Paolinelli u

Se você fizer uma análise clara, terá uma tristeza muito grande. O Brasil foi um dos mais


ico que o Brasil”

dirigentes países aplicadores de políticas públicas. O nosso crédito foi campeão, foi o primeiro crédito assistido do mundo. Não temos seguro [agrícola] até hoje. Não temos preços mínimos. Os preços mínimos foram trucidados desde o primeiro plano econômico, lá em 1986. De lá pra cá, acabaram as nossas políticas públicas e o crédito rural chegou nisso que está aí agora. Crédito rural no Brasil é um perigo. Inclusive, é o crédito rural mais frágil do mundo. E outra coisa, não temos o dinheiro na hora que precisa. Ele [o crédito] acabou trucidando grande parte dos produtores, talvez pela falta do seguro, talvez pelas exigências bancárias. Outro ponto que nós não temos mais é crédito de comercialização. O próprio governo não é capaz de fazer a sua tarefa, por exemplo, de garantir preço, no momento em que não tem crédito de comercialização. Outro ponto que é muito terrível para nós é a infraestrutura logística. Em armazéns,

nós estamos atrasadíssimos. O nosso custo de armazenagem é o mais caro do mundo e não é o melhor. Há um déficit estimado de 40 milhões de toneladas de armazenamento. E não se consegue, nem em nível de produtor e nem em nível de empresas, atingir o volume necessário. Outro ponto são as estruturas de transporte. Se você vai ‘lá em cima’ hoje, a BR 163, por exemplo, não está passando. Como é que pode uma rodovia como a 163 não dar escoamento numa hora dessas? As estradas vicinais estão sendo trabalhadas por tratores. Os grandes tratores agrícolas, nessa época, têm um serviço importantíssimo: desatolar caminhão. Não pode um negócio desses, isso encarece mais. Os nossos fretes são caríssimos, tanto internos quanto externos. O nosso frete, pra fora, por esses azares brasileiros, já é sempre o mais caro. Falta estabilidade na política agrícola. Tá faltando tremendamente uma segurança, especialmente no direito Março e Abril - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº15

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de propriedade. Os roubos estão aumentando dia a dia. Já tem quadrilhas especializadas em roubo. Tá (SIC) um negócio vergonhoso. E falta também uma definição clara na estratégia governamental.

DR u Os gargalos atuais são mais difíceis de serem vencidos que os de 40 anos atrás?

Paolinelli u Sim. Você sabe que o Brasil ocupa 8% da sua área em agricultura, pecuária e florestas plantadas, e 13% em áreas indígenas? E afinal, os índios produzem quanto? No passado, a segurança e as garantias eram muito maiores. O crédito funcionava e tínhamos programas.

São Paulo: ‘eu agora posso morrer tranquilo porque pela primeira vez eu vi o homem fazer o inverso’. Pegar o que há de mais degradado no mundo, que é o Cerrado, recuperar física, química e biologicamente, e transformar no mais produtivo e competitivo do mundo. Norman Borlaug morreu há sete anos.

DR u Dentro deste conceito de agricultura tropical, na sua visão de técnico, o Rio Grande do Sul tem algum potencial agrícola ainda não explorado? Paolinelli u Muito. O Rio Grande do Sul é uma

potência e eu vou explicar por que. O Rio Grande do Sul é o clima subtropical que nós temos, é a zona de confluência. O paralelo 30 passa ali no Alegrete [riDR u O que ainda falta para a agricultura tropical sos], foi ali que nós produzimos a primeira soja no desenvolver-se ainda mais e de que forma o setor Brasil. O Rio Grande do Sul tem um potencial fabulopode ajudar o País a sair da crise econômica? so e nós temos que investir. Eu estou brigando para que o Brasil coloque aí nos Pampas gaúchos, que é o Paolinelli u A integração lavoura-pecuária é uma sexto bioma que eu considero no Brasil ser de grande revolução, como é a agricultura tropical sustentável. porte, um número maior de cientistas, de Na década de 70, 80 e 90, e até bem repesquisas e de inovação. Porque ali tem centemente, houve um grande medo. um potencial muito grande. O mundo, a E inclusive isso foi noticiado lá fora... cada momento, demonstra que está muque o Brasil estava crescendo sua proHoje o mundo dando fortemente os seus hábitos alimendução à custa de seus recursos naturais. reconhece que o tares, especialmente para os chamados É ao contrário. Hoje o mundo reconheBrasil é o único produtos orgânicos e eu acho isso muito ce que o Brasil é o único País que está País que está conseguindo fazer uma agricultura que conseguindo fazer bom porque permite cobrar caro por um é absolutamente sustentável. É a agri- uma agricultura que produto. E eles [consumidores] pagam, cultura tropical que nós desenvolveé absolutamente né?! [risos] O que mais me impressiona é que essa mudança de hábito alimentar vai sustentável”. mos desde o plantio direto com palha, abrir ao Brasil uma possibilidade enorme essas revoluções, e agora as integrações. de mudanças de sistemas produtivos. E o Rio Grande As balelas que foram levantadas estão agora sendo do Sul é o grande laboratório para isso. analisadas por cientistas. Era o que nós queríamos. O Norman Borlaug [agrônomo americano que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1970], por exemplo, alega que ele fez a primeira revolução verde do mundo. Ele diz que mesmo tendo feito essa revolução, ele não dormia bem à noite e tinha brigas com o travesseiro. Qual a razão? É que ele conhecia a agricultura no mundo inteiro e sabia de lugares onde o homem arrancou a vegetação nativa e, sucessivamente, vinha cultivando e degradando estas áreas. Mas aqui no Brasil, quando ele conheceu o Cerrado, ele se tranquilizou. Certa vez, chegou a dizer, em uma palestra para 250 agrônomos, que eu estava presente, em 38 |

DR u Como você vê o papel da Embrapa hoje e nas próximas décadas?

Paolinelli u A Embrapa, hoje, é um exocet [tipo de míssil que pode ser lançado a partir de navios, submarinos e aviões] e os governos não podem brincar com ela como se fosse track [bombinha] para festa de São João, que foi o que fizeram com ela anos atrás. A Embrapa tem que ter recurso pra investir em pesquisa. Exocet é pra uma guerra. Guerra alimentar que o mundo vai ter que enfrentar, de alimentar 9 a 10 bi-

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FOTOS: DIVULGAÇÃO/ABRAMILHO

lhões de pessoas em 2050. Eu entendo assim. Não estou fazendo crítica a A, B ou C. A Embrapa tem que ser aproveitada. Nós temos que ter uma estratégia. O novo ministro [da Agricultura, Blairo Maggi] está tentando fazer isso, ele já me disse enfaticamente.

DR u Ampliar a produtividade das lavouras implica em investir, sempre mais, em pesquisa e novas tecnologias. Qual o caminho para a obtenção de mais recursos para instituições como a Embrapa? Paolinelli u Lógico. A pesquisa no mundo hoje é feita em rede. Se eu sou especialista em uma determinada doença de uma determinada planta, eu tenho que descobrir no mundo todos que estão interessados naquilo e formar uma rede para pesquisar junto. Hoje, com a Internet, isso tem que acontecer assim. Não pode os pesquisadores ficarem pesquisando as mesmas coisas. Eu chamo isso de pesquisar sexo de anjo. Não pode. Pesquisador tem que buscar resultados, inovações. Eu não sou contra a pesquisa pura, não. Acho que ela é fundamental. Mas acho que um País como o Brasil precisa fazer mais pesquisa aplicada, racionalizada, estrategicamente bem definida em uma política de desenvolvimento. Eu vou te dar um exemplo que explica tudo. O Brasil tem seis grandes biomas: a Amazônia, o Semiárido Nordeste, o Cerrado, a Mata Atlântica, o Pantanal e o Pampa gaúcho. Meu Deus do céu, quer desafio maior que esse? Nossa senhora. É um País que tem a Embrapa, que tem as universidades, que tem a iniciativa privada e faz uma loucura de um Código Florestal. Politicamente, eu até bato palmas porque aproximou e avançou muito. Mas botar no mesmo parâmetro do trópico úmido da Amazônia o Semiárido Nordeste... como é que pode? Isso aí é uma burrice sem tamanho. Isso desmoralizou o Brasil lá fora. Eu que vou nestes congressos, a primeira pergunta que eles fazem eu procuro sair fora, sabe. Eu caio fora, e não entro na questão.

DR u E qual o caminho para fazer chegar ao campo todo o conhecimento gerado nas universidades e instituições de pesquisa? Paolinelli u Tem várias formas. Tivemos um serviço de extensão que foi liquidado. Felizmente a pesquisa tinha peso de corpo e se defendeu. O caminho é a ge-

ração e transferência de tecnologia competentes.

DR u Como você vê o fechamento de instituições

de pesquisa estaduais, como recentemente ocorreu com a Fepagro no Rio Grande do Sul?

Paolinelli u Sob o ponto de vista administrativo-financeiro eu sei que os estados estão em uma fase terrível, e os governadores, naturalmente, ao terem que fazer isso... aqui em Minas já houve isso, em 1968. O homem que criou o Instituto Agronômico tinha sido eleito governador e foi obrigado a fechar. Eu não estava perto dele, mas tenho certeza que ele chorou ao assinar aquilo. E extinguiu o Instituto Agronômico. Depois nós criamos a hoje Epamig – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, que é uma instituição forte e que ajuda muito a Embrapa. Mas eu Março e Abril - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº15

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acho que não posso daqui avaliar essa emergência que o governador [José Ivo Sartori] aí provavelmente teve que tomar. Eu só espero que isso passe e que o Rio Grande do Sul se recomponha o mais rápido possível, inclusive na pesquisa.

DR u As exposições voltadas à difusão de novas

tecnologias, como a Expodireto Cotrijal, contribuem para que os produtores tenham acesso facilitado a estas inovações?

Paolinelli u Sim. A Expodireto é fabulosa, a começar pela sua organização que é ímpar no Brasil. Eu vou todo ano que posso.

DR u O senhor viu o País deixar de ser importador de alimentos para ser exportador. Na sua opinião, o que ainda falta para o Brasil avançar nas negociações com o mercado externo?

Paolinelli u Isso aí é mercado e eu sou muito realista com relação a mercado. Mercado você não ganha se não tiver capacidade produtiva, preço e oferta constante. Quando eu vejo um milho como o do ano passado dar aquela recuada me tremeu o último cabelo da cabeça. Porque a minha angústia é que o País não tem estabilidade, não tem constância. Uma hora importa e na outra hora exporta, como nós fizemos. Pior do que isso, falhou, rasgou os contratos já realizados de exportação porque não tinha o produto para oferecer. Isso é duro.

DR u Como presidente executivo da Abrami-

lho, qual o caminho para estimular os produtores gaúchos a ampliarem a área plantada com o grão no Estado?

Paolinelli u Eu acho que o Rio Grande do Sul já praticamente ocupa toda a sua área, o que o Estado precisa é aproveitar melhor essas áreas. Nós temos no Brasil uma diferença muito grande. Os nossos concorrentes têm uma janela de 12 dias para plantar. Nós, aqui, temos 12 meses. Se eles não podem fazer mais de uma safra lá, nós aqui podemos fazer três. Se irrigar, você planta três lavouras por ano e o Rio Grande do Sul está caminhando para isso. 40 |

DR u Como estimular o setor a investir na agregação de valor dos produtos que vêm do campo?

Paolinelli u Isso é fundamental. A França, há 200 anos, exportava o seu vinho em tonéis. Os vitivinicultores lá eram quebrados, igual aos nossos produtores aqui. Hoje, a França exporta o que há de mais sofisticado em termos de bebida fina. De um produto que ela elabora, chamado vinho. Os homens mais ricos da França são os vitivinicultores. Aqui no Brasil, e eu sou do Estado produtor, fui eu que fiz Minas Gerais produzir 52% do café nacional. Agora, nós exportamos seis bilhões de dólares em café. Ótimo. Mas uma Alemanha exporta 15 ou 16 [bilhões de dólares] em processar esse café. Não é capaz de produzir um grão. É a maior compradora de café do Brasil. Ela [Alemanha] e os Estados Unidos. Se nós não mudarmos isso, estamos perdidos. Se você agregar valor e, ao invés de exportar soja ou milho, exportar proteína nobre... é isso que nós temos que fazer. Não estou criticando A, B ou C. É um processo evolutivo. A política pública não pode deixar de funcionar.

DR u Como o senhor vê o futuro da atividade rural, com mais de 90% da população vivendo em zonas urbanas nas próximas décadas, frente ao desafio de alimentar uma população mundial que cresce exponencialmente?

Paolinelli u A tecnologia, hoje, melhora a capacidade de rendimento do trabalhador rural. A tendência é que vai crescer. O Brasil vai ser como os Estados Unidos, que não chega a 2% da população efetivamente rural. Nós vamos chegar próximo disso. Mas temos que fazer a coisa funcionar bem e ter a capacidade de produzir o que precisa via ciência, tecnologia e desenvolvimento produtivo. Eu acredito que o Brasil é um dos países mais ricos do mundo em termos de recursos naturais que nós, agricultores, preservamos muito mais do que todo mundo pensa. A terra, a água, o solo, as plantas, os animais e o clima. Se nós formos capazes de colocar a ciência na natureza, e se nós formos competentes para aprender a manejar a natureza sem degradá-la e tirar dela as riquezas que ela pode nos dar, ninguém vai ser mais rico que o Brasil.

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GRUPO MANEJO KUHN

Brasil: uma das grandes cestas de alimento do mundo João Vicente Mello da Cruz

O

relatório “Perspectivas da População Mundial: A Revisão de 2015”, divulgado pela ONU em 2016, aponta um crescimento de 32% da população mundial até 2050, dos atuais 7,3 bilhões para 9,7 bilhões de pessoas em todo o mundo. Nesse ritmo, o planeta deve chegar ao ano de 2100 habitado por 11,2 bilhões de seres humanos, apontando um crescimento populacional de 53%. Em um outro levantamento publicado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 795 milhões é o número de pessoas que passam fome no mundo atualmente, uma média de uma em cada nove pessoas no planeta. Assim, levando-se em conta a forma como esse crescimento populacional afetará a demanda por alimentos em uma produção agrícola sustentável, é que as grandes empresas globais do agronegócio estabelecem seus planejamentos estratégicos de atuação ao redor do mundo. Também guiados por essa motivação, é que o Grupo Kuhn, uma marca com 200 anos de história em implementação de maquinário agrícola, vem atuando há 10 anos na América Latina para trazer tecnologias para que a agricultura atenda a essas necessidades a cada dia maiores. O vice-presidente mundial do Grupo, Roland Rieger, esteve no Show Rural da Coopavel, em Cascavel no Paraná, e destacou as principais questões que levaram a marca a investir e

desenvolver seu mercado na América ras para as diferentes culturas do ano Latina, enxergando um potencial de todo, em tratamentos fitossanitários desenvolvimento promissor para seus com pulverizadores e também na apliimplementos no Brasil. “Para a Kuhn, cação de adubos com distribuidores de nós estamos orgulhosos de sermos fertilizantes. “A marca Kuhn tem quase capazes de contribuir com uma causa 200 anos. E nós somos uma companhia tão nobre, que é de alimentar uma pode quase 1 bilhão de euros hoje, empulação mundial crescente e de uma pregando cerca de 5 mil pessoas. Nossa forma boa e sustentável. expansão na América do O mundo vai precisar Sul não é tão forte quande mais alimento. E to gostaríamos que fosessa é umas das princise. Na América do Sul, especialmente no Brasil, pais razões pelas quais irá continuar a crescer. O mais de 10 anos atrás nosso objetivo é alcannós decidimos investir no mercado brasileiro”, çar 20% do nosso faturaexplicou o francês que mento global na Américompreende a imporca Latina nos próximos 10 anos. O Brasil é o tância do Brasil para a mercado mais imporprodução agrícola mun- Roland Rieger dial. Rieger observa tante na América do Sul nosso potencial de proe nós vamos continuar a desenvolver nosso dução e também vê que O Brasil é o mercado portfólio para o mercasomos privilegiados por mais importante cultivar aqui: “O Brado brasileiro. Como obna América do sil é uma das ‘cestas de jetivo de entregar uma Sul e nós vamos alimento’, senão mais experiência personalicontinuar a importante ‘cesta de alizada mais atraente para desenvolver os nossos clientes. O mento’ no mundo. Vonosso portfólio nosso objetivo, é atuar cês têm terra. Vocês têm para o mercado liderando de forma reo clima. Vocês têm sol. brasileiro”. Vocês têm estruturas levante aqui no Brasil muito boas nesse país para continuar no setor de implementos agrícolas. E aumentando a produção agrícola”. para alcançar os nossos objetivos, nós Enquanto marca global, a Kuhn tem estamos trabalhando todos os dias, uma tradição centenária de inovação muito duro para chegar lá”, pontua o ao atender a agricultura, implemenvice-presidente Roland Rieger, divultando o maquinário do agricultor na gando o interesse que a Kuhn tem em hora de preparar o solo com adubatrazer mais tecnologia ao produtor, para ajudá-lo a alcançar altos rendidores e trituradores de resíduos orgânicos, com plantadeiras e semeadeimentos na agricultura mundial. Março e Abril - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº15

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SUSTENTABILIDADE MANEJO

Nova geração de máquinas Bruna Karpinski

A

preocupação com o meio ambiente e o investimento em tecnologia são alguns dos caminhos a serem percorridos na busca por mais sustentabilidade na produção de alimentos. Diante deste cenário global, uma nova geração de máquinas agrícolas está entrando em campo. Os modelos fabricados no Brasil ou importados a partir de 2017 terão motores que emitem de 60% a 85% menos poluentes se comparados ao padrão dos equipamentos comercializados até então. Para atingir estes parâmetros, a indústria concentrou esforços em pesquisa e inovação durante dois anos. A mudança entrou em vigor no dia 1º de janeiro e atende à legislação brasileira prevista no Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automo-

tores (Proconve MAR-I), fase destinada a máquinas agrícolas e rodoviárias. Agora, a renovação inclui equipamentos de médio e grande porte. Mas até janeiro de 2019 a modificação vai se estender aos de pequeno porte. “Para o setor de máquinas é um novo momento tecnológico”, avalia a vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Ana Helena de Andrade, também coordenadora da Câmara Setorial de Máquinas Autopropulsadas da entidade. Os motores que atendem ao novo limite de emissão foram testados em laboratórios credenciados ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O desafio, no entanto, é a renovação da frota. As máquinas antigas que estão em campo não precisam de nenhuma adaptação e ainda poderão ser encontradas nas concessionárias, pois

FOTO: ERON ZENI

Novo motor em uma CR5.85, da FPT industrial 42 |

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emite menos poluentes há estoque. Ana Helena acredita que a substituição dos equipamentos será feita de maneira gradual e organizada. Entre as tecnologias que impulsionam esta redução da emissão de poluentes está o controle eletrônico da injeção de combustível que ajuda a melhorar a precisão do fluxo. “Parte dos gases que sairiam para a atmosfera entra para a câmara de combustão e inibe a formação de óxido de nitrogênio”, complementa o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Pedro Estevão Bastos. “Essa etapa é uma revolução muito grande”, avalia o engenheiro mecânico Gustavo Teixeira, especialista em homologação de motores da FPT Industrial, responsável pela fabricação dos motores utilizados nas máquinas agrícolas da Case e New Holland. Já o diretor da AGCO Power para América do Sul, Ricardo Huhtala, destaca a melhoria dos equipamentos, tanto em desempenho como no consumo de combustível e mais potência do motor, quanto em melhor performance do motor e também da máquina.

Menor consumo de combustível Os motores desenvolvidos e testados pela AGCO apresentaram menor consumo de combustível e maior potência do motor. No caso da emissão de poluentes, a redução é de 75% para o óxido de nitrogênio (poluentes que se dissipam na atmosfera) e chega a 85% de redução na emissão de material particulado (fumaça preta). Entre as tecnologias desenvolvidas para atender aos parâmetros ambientais, está um sistema de recirculação interna de gases que reduz a temperatura da combustão e formação de óxido de nitrogênio.

Incremento da performance A FPT Industrial, que homologou 43 motores menos poluentes, sendo 26 deles destinados à máquinas agrícolas, constatou redução de 63% do material particulado e 57% de redução do óxido de nitrogênio

emitido. Além do ganho ambiental, os motores maximizam a capacidade das máquinas agrícolas, agregando em ganho de performance dos equipamentos: 14% de aumento de torque (força do motor) e 7% de incremento da potência. Nos dois casos, foi mantido o custo operacional com manutenção e combustível.

Sobre o Proconve MAR-I - O Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) foi criado em 1986 pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que estabeleceu diretrizes, prazos e padrões legais de emissão para diferentes categorias. - As discussões iniciaram-se com o Proconve, porém a regulamentação para máquinas agrícolas só ocorreu em 2011, por meio da publicação da resolução 433 pelo Conama. - A fase MAR-I, destinada a máquinas agrícolas e rodoviárias, entrou em vigor de forma escalonada no mercado brasileiro. A mudança começou em 2015, com as máquinas do setor de construção. - No segmento agrícola, a legislação passou a valer em 1º de janeiro de 2017 para todos os modelos nacionais ou importados fabricados com potência igual ou superior a 101 cv até 761 cv. - Em 2019, a norma será obrigatória também para as máquinas agrícolas com potência igual ou superior a 25 cv até 101 cv. - Após estas adaptações, o Brasil passa a trabalhar com os mesmos padrões de China e Índia. - Apesar do atraso, o Brasil é o primeiro país da América Latina a ter controle de emissão de poluentes para equipamentos pesados, seguindo o padrão de controle adotado nos Estados Unidos e Europa, que já estão em fase mais avançada e aderiram às regras em 2006.

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Professor ganha “corredor de aplausos” no último dia de aula, será que o Brasil está mudando? São Paulo – O professor de ciências Luiz Antônio Jarcovis foi surpreendido em seu último dia de aula na Escola Estadual Almirante Custódio José de Mello, em São Paulo.

De surfista a fazendeiro, do mar para as terras de Minas para produzir café e dos bons!

O ex-surfista Clayton Monteiro hoje é um renomado cafeicultor da Zona da Mata, em Minas Gerais. Surfar era a vida de Clayton Monteiro. Há quase 20 anos, depois de pegar muita onda no litoral brasileiro, ele optou por uma mudança radical em sua vida. Clayton trocou as praias e o surfe pela cafeicultura em Minas Gerais. E o resultado não poderia ser melhor: o café produzido na propriedade dele, no Alto Caparaó, na Zona da Mata, virou referência de qualidade e ganhou o mundo.

DESTAQUES

“Cometemos alguns erros”, diz Abilio sobre gestão da BRF

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O presidente do conselho de administração da BRF, Abilio Diniz, reconheceu na sexta-feira (24/02), em teleconferência com analistas, que o mau momento vivido pela empresa, que reportou ontem o primeiro prejuízo anual de sua história, é resultado de erros cometidos pela gestão da própria companhia. “Cometemos alguns erros. Está na hora de aceitar isso”, afirmou ele, reconhecendo que o momento é de “desconfiança” dos investidores em relação ao comando da BRF.

Primeiro Atletiba trasmitido por redes socias, teve segundo o @youtube, cerca de 3,7 milhões de visualizações no nesta quarta feira, dia 1º de março 2017.

“Paraíso lembrado”, crônica de Lya Luft

O texto da gaúcha traz recordações da fazenda onde ela passou a infância, num embalo preguiçoso, a escritora relembra sua infância e a relação com a terra, os animais e a natureza. Texto rico, sensível e emocionante.

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Como um choque de capitalismo fez da Portela a campeã do Carnaval.

“O último que sair apague a luz; ops, as velas”. O meme, que mostrava a foto de um caixão coberto com a bandeira da Portela, circulou rapidamente pela internet e fez a alegria dos internautas das agremiações rivais. Era o ano de 2013 e uma das mais tradicionais escolas de samba do Brasil agonizava em praça pública.


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CT& Bio

Gilberto Cunha

gilberto.cunha@embrapa.br

Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura - Embrapa Trigo

O astrônomo real e a Ouroboros

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ir Martin Rees, o astrônomo real de sua majestade a rainha da Inglaterra, tentou (e conseguiu) descrever o “nosso universo” em apenas seis números (justsixnumbers). Não deixou nada de fora, inclusive nós, os seres humanos. Para tal, valeu-se das chamadas constantes físicas fundamentais do “nosso universo”, cujos valores podemos medir, mas não podemos derivar tomando por base apenas as teorias existentes, e do simbolismo mítico da Ouroborus, a emblemática serpente do antigo Egito, cuja figura da cobra com a cauda na boca, que devora a si mesma e também renasce dela mesma, expressa a unidade de todas as coisas, material e espiritual, que nunca desaparecem, embora mudem de forma, num eterno ciclo de destruição e recriação. Bem no meio do caminho, entre a cauda da Ouroboros, representando escalas do mundo subatômico da ordem de 10 cm elevado na potência -20, e a cabeça da mítica serpente, cujas escalas cósmicas rondam 10cm elevado na potência 25; estamos nós e nossas pretensões. Esses extremos, separados por quarenta e cinco potências de 10, denotam uma dimensão espacial inimaginável para a maioria dos mortais comuns. Nada é em vão nesse “nosso universo” e suas constantes físicas fundamentais, que incluem desde a razão entre as intensidades das forças elétrica e gravitacional (o primeiro número) até o número de dimensões (três) por nós percebidas (o sexto número). Pela ar-

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gumentação robusta apresentada por Sir Martin Rees, caso esses números fossem diferentes (apenas pouco diferentes), o “nosso universo” não seria o mesmo e estrelas, planetas e seres vivos não teriam surgido ou não seriam da forma que conhecemos. Você já se imaginou vivendo num mundo de duas dimensões? Ou parou para pensar por que o “nosso universo” é tão grande? As conexões entre o micro (escalas subatômicas) e o cosmos, ainda que não expliquem tudo, explicam muito. Entender o mundo talvez exija o nosso regresso ao primeiro segundo após o Big Bang ou ao “8º dia da criação”, dependendo de preferências individuais de crenças. Eu opto pelo primeiro segundo após o Big Bang, cuja viagem no tempo retrocede uns 15 bilhões de anos, pois é impossível o entendimento de nossas origens sem o contexto cósmico. Infelizmente o que emerge dessa viagem pode não ser o que a maioria de nós esperava que fosse. Os seis números de Sir Martin Rees exigem sintonia para o funcionamento do universo tal qual conhecemos e que ao redor de 4 bilhões de anos atrás possibilitou a emergência do que entendemos por vida nesse planeta chamado Terra, não passando nós de meros frutos da evolução segundo Darwin. A sintonia das constantes físicas fundamentais do “nosso universo” (os seis números de Sir Martin Rees) não passou de mera coincidência (obra do acaso)? Ou foi uma providência de um “Criador” benevolente? Possivelmente, nem

| Março e Abril - 2017 | Rio Grande do Sul | Ano III | nº15

uma dessasperguntasseja aformulação melhor para a intrigante questão. A primeira exige uma resposta tipicamente materialista e a segunda pressupõe um “designer inteligente”, que não passa de uma versão travestida do criacionismo. Outros universos podem existir, com esses mesmo seis números analisados por Sir Martin Rees sendo diferentes. Nós (vida no sentido amplo) podemos ter emergido em um universo com a combinação certa dessas constantes físicas fundamentais. Não é fácil imaginar as dimensões dessas constantes uma vez que escapam das sensações do nosso dia a dia. Se fossem menores, apenas um universo em miniatura poderia existir, sendo as criaturas vivas não muito maiores que um inseto e nem haveria tempo hábil, nos últimos 4 bilhões de anos, para que uma bactéria evoluísse até um serhumano. O cosmos pode ser muito mais vasto do que o universo que podemos ver, cujo tamanho, em estimativa grosseira, teria em torno de 10 a 15 bilhões de anos-luz. Mas, quem nos garante que não há outros domínios cósmicos, cuja luz que vem viajando desde o Big Bang ainda não chegou até os nossos dias? Ou que o “nosso universo” não passe de apenas uma possibilidade numa mistura de universos, derivando, por consequência, o novo conceito de “multiverso”. Para o nosso desespero, as seis constantes físicas fundamentais de Sir Martin Rees apenas reforçam o quão sem importância somos no cosmos.


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