Revista Destaque Rural 11ª edição

Page 1

ANO II NÚMERO 11 RIO GRANDE DO SUL FEVEREIRO | MARÇO | 2016 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

INFORMAÇÃO COM PROPRIEDADE

PREVENIR

PARA COLHER

A luta contra as doenças na lavoura

COMPOST BARN Sistema traz mais produtividade e conforto

MANEJO INTEGRADO

SEMENTE

Cabanha Santa Mônica é exemplo de integração de ovinos e erva-mate

Mais vigor, mais produtividade

Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

| 1


2 |

| Fevereiro e Marรงo - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nยบ11


ciRcULAÇÃO

ediTORiAL

Ameaça à produção

O

time da Destaque Rural foi a campo buscar informações sobre um tema que tem tirado o sono dos produtores, as doenças. Com entrevistas a especialistas respeitados e a produtores é possível analisar experiências, sucessos e insucessos na luta contra as doenças na lavoura. Os custos de produção estão cada vez mais altos e o que garante as margens de lucratividades ao produtor é a forma como ele agrega na sua atividade o manejo de sua produção com as tecnologias disponibilizadas pelo mercado. Esta edição está recheada de informação e será lançada em uma das maiores feiras da América Latina, a 17ª EXPODIRETO COTRIJAL. A EXPODIRETO será o termômetro do agronegócio para os próximos dois anos Após a ausência das cinco principais montadoras de máquinas agrícolas, CASE, NEW HOLAND, JOHN DEERE, MASSEY FERGUSSON e VALTRA na primeira grande feira do ano, a AGRISHOW, toda atenção nos negócios se voltam para a feira na cidade de Não-Me-Toque, pois os maiores volumes de negócios ficam por conta do setor de máquinas e implementos agrícolas. Saberemos, após a divulgação dos volumes de negócios, se o produtor rural está confiante ou não em sua atividade e disposto a investir. Também saberemos se os R$ 1,5 bilhão para financiar, a juros de 4,5%, a compra de máquinas agrícolas pelo programa Moderfrota, recentemente divulgados pela ministra da agricultura Kátia Abreu no lançamento da feira, realmente estarão disponíveis ao produtor ou esbarrarão no controle de crédito realizado pelos agentes financeiros. O agronegócio não é apenas o único setor da economia brasileira com estabilidade, tem um importante papel na tão sensível autoestima do brasileiro. Esperamos que o governo realmente cumpra sua palavra liberando crédito para investimentos e que o produtor rural, motivado pelo bom desempenho das lavouras de verão, tome este crédito. Só assim o setor continuará pelo menos nos próximos dois anos respirando sem ajuda de aparelhos. Esta edição conta também com uma matéria sobre Compost Barn, realizada pela jornalista Ângela Prestes, premiada com o primeiro lugar na categoria online do concurso realizado pelo SINDILAT/RS.

Boa leitura! Leonardo Wink

destaquerural.com.br

#edição 11 #Ano II #Fevereiro e Março Editora Riograndense CNPJ 17.965.942/0001-07 Inscrição Municipal 66829 Endereço Rua Cacilda Becker, 30 Boqueirão Cep 99010-010 Diretor Leonardo Wink Jornalista Responsável Ângela Prestes (MTB/RS 17.776) Jornalistas Rosângela Borges Ângela Prestes Projeto Gráfico Cássia Paula Colla Diagramação Ângela Prestes

facebook.com/destaquerural

Foto capa Diogo Zanatta Colunistas Gilberto Cunha Elmar Luis Floss Fernanda Falcão Revisão Liana Lângaro Comercial Leonardo Wink Impressão Gráfica Sul Oeste Contatos leonardowink@destaquerural.com.br redacao@destaquerural.com.br

(54) 9947- 9287 Tiragem 8 mil exemplares

twitter.com/destaquerural


DOENÇAS NA LAVOURA

índice

18

Prevenir

para colher

10

sindicato rural: Foco da nova gestão

14

cabanha santa mônica: manejo integrado

SEMENTE: MAIS VIGOR, MAIS PRODUTIVIDADE

32

cOMPOST BARN: NOVO SISTEMA DE CONFINAMENTO

MILHO: FASES DE DESENVOLVIMENTO

40

28 38

Sementes Roos: maior cerealista do Rio Grande do Sul


Fevereiro e Marรงo - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nยบ11

| 5


OPiniÃO elmar@grupofloss.com

Elmar Luiz Floss Engenheiro Agrônomo e licenciado em Ciências, Dr. em Agronomia, Diretor do Instituto Incia

Nutrição adequada aumenta a sanidade da soja

O

rendimento da soja depende da interação dos fatores genéticos (cultivares), das condições ambientais (estrutura física, química e biológica dos solos, temperatura, luminosidade, insolação, umidade relativa) e do manejo/tratos culturais utilizados, desde a semeadura até a colheita (rotação de culturas, semeadura direta, densidade de plantas, vigor das sementes, qualidade da semeadura, distribuição espacial de plantas e do controle eficiente de pragas, moléstias e plantas daninhas). Existe grande variabilidade entre os cultivares disponíveis de soja quanto à resistência/tolerância às principais moléstias. Com a utilização de cultivares com resistência/tolerância, há uma redução do nível de inoculo inicial, que, associado a uma nutrição equilibrada e rotação de culturas, pode possibilitar um controle mais eficiente das moléstias da cultura da soja, inclusive melhorando a eficiência dos fungicidas. Os mecanismos envolvidos com a resistência/tolerância são de natureza física ou mecânica (estrutura, lignificação e acúmulo de silício na parede celular) ou de natureza bioquímica (síntese de compostos pré e pós-formados, como as fitoalexinas). Dentre esses fatores, os nutrientes têm um papel-chave na incidência/severidade das moléstias na cultura, especialmente as causadas por fungos. Desequilíbrios nutricionais, como excesso de nitrogênio e deficiência de potássio, cálcio, magnésio e enxofre, e, de micronutrientes (boro, ferro, manganês, cobre, e zinco) e também dos elementos silício (Si) e o cobalto (Co), parecem predispor as culturas a moléstias. O excesso de nitrogênio na planta promove aumento da concentração de aminoácidos livres (especialmente os aminoácidos básicos lisina, arginina, citrulina, ornitina e histidina) e amidas (as6 |

paragina e glutamina) que são estimuladores da incidência e da severidade de moléstias, especialmente, fungos e bactérias. O efeito de nutrientes na sanidade das culturas é antigo. O mais antigo fungicida, ainda em uso, é sulfato de cobre, famoso “verderama”. Nos anos 1950 surgiram o maneb (manganês e enxofre), o zineb (zinco e enxofre) e depois o mancozeb (manganês, zinco e enxofre), que volta a ser usado como alternativa no controle de doenças. O desequilíbrio nutricional pode contribuir para uma mudança na suscetibilida-

O desequilíbrio nutricional pode contribuir para uma mudança na suscetibilidade do hospedeiro, pelo fato de influenciar no vigor das sementes e da plântula, no desenvolvimento da planta e na produção de defesas”.

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

de do hospedeiro, pelo fato de influenciar no vigor das sementes e da plântula, no desenvolvimento da planta e na produção de defesas. Essa influência da nutrição sobre a incidência/severidade parece depender mais do patógeno do que da cultura hospedeira. A resistência de um hospedeiro, dentro do contexto da fisiologia do parasitismo, pode ser definida como a capacidade da planta em atrasar ou evitar a entrada e/ou a subsequente atividade de um patógeno em seus tecidos. A resistência pode ser ampliada também pela alteração nas respostas da planta aos ataques parasíticos através do aumento da formação de barreiras mecânicas (lignificação) e da síntese de toxinas (fitoalexinas). As fitoalexinas constituem um grupo de metabólitos secundários, quimicamente diversos, que se acumulam em torno do local de infecção e apresentam atividade antimicrobiana. O principal mecanismo fisiológico de produção dessas defesas pela planta é a via do ácido chiquímico. Através dessa rota são formados os principais compostos orgânicos de defesa das plantas contra pragas e moléstias, destacando-se os glicosídeos cianogênicos, quinonas, compostos fenólicos (taninos) e lignina. Diversas reações dessa importante rota metabólica são dependentes de nutrientes, como manganês (Mn), cobalto (Co), cobre (Cu), zinco (Zn), boro (B), ferro (Fe) e silício (Si). Portanto, com a deficiência de um ou mais desses micronutrientes, é inibida a principal via de síntese das defesas vegetais. E, essa via também é temporariamente inibida pela aplicação do glifosato em pós-emergência, nos cultivares transgênicos de soja. Portanto, um dos melhores fungicidas é uma planta bem nutrida, associada a rotação de culturas e o uso de cultivares resistentes/tolerantes de soja.


Jair Rodrigues e sua filha Valéria. Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

| 7


sOJa

Preços devem se manter em 2016

E

m um cenário de incertezas para a economia brasileira, o agronegócio segue firme. Pelo menos no que diz respeito à soja. Conversamos com o sócio-diretor da New Agro Commodities, João Pedro Corazza, que falou sobre a importância do grão para a economia e as expectativas para o ano que segue.

Destaque Rural u Qual a impor-

tância da soja na economia?

João Pedro Corazza u Nos últimos

anos a soja vem se tornando o ouro cultivado nos campos brasileiros. Responsável direta pela colonização do centro-oeste torna as cidades locais verdadeiras metrópoles, com uma avançada infraestrutura e baixos níveis de desemprego em comparação às cidades industriais, fazendo com que o agronegócio ainda encontre alicerces para continuar sustentando o, cada vez mais pesado, Brasil. Essa evolução nos campos brasileiros só foi possível graças ao aumento da demanda mundial de grãos destinados à alimentação, sendo que o principal responsável por isso é um gigante asiático chamado China. Com uma população acima de 1 bilhão de pessoas e crescendo cada vez mais as importações da oleaginosa pelo país devem atingir cerca 80,5 milhões de toneladas, número 30% maior do que há dois anos. O apetite monstruoso por grãos e a economia emergente manipulada pelo governo faz com que lidere o ranking mundial dos compradores do grão.

Destaque Rural u Quais as expectativas de preço para este ano?

João Pedro Corazza u Ano novo,

8 |

milhões. A Argentina, terceiro vida nova. Mas não para o maior produtor mundial do mercado da soja. A perspectiva grão, também indica números para este 2016 que está apenas recordes (cerca de 57 milhões iniciando é de, novamente, terde tons). Todos esses números mos cotação atraente para todo devem fazer com que a colheita o complexo soja (grão, óleo e mundial atinja extraordinários farelo). Motivados pela impac320 milhões de toneladas. tante crise econômica que afeProdução aquecida somada ta os mais diferentes setores do com uma retração na econonosso país, os principais invesmia mundial, também eleva o tidores mundiais não pensam duas vezes na possibilidade de João Pedro Corazza último número da conta, que New Agro Commodities é o estoque final. A previsão é colocar ou não dólares no Brade que o ano de 2016 encerrasil. Isso faz com que não tenhase com 80 milhões de toneladas armazenamos perspectiva alguma de baixa na moeda das. No controle de toda a oferta e demanda americana frente ao real, uma vez que a crise continua a China. É essa economia que dita econômica tornou-se política. Vale salientar o ritmo das exportações e importações, e por que estamos observando cotações recordes ser muito fechada e com câmbio controlado, no preço da saca de 60 kg graças ao cenário não se pode confiar totalmente nos dados econômico brasileiro e o dólar alto é o fator emitidos pelos seus governantes. Uma retrafundamental para isso, já que é multiplicador ção em seu crescimento interno (PIB) pode direto. Outro fator importante que devedesencadear uma cadeia de vendas, quedas mos salientar é a despencada nos preços do e retrações nas principais bolsas do planeta, petróleo. Concorrente direto com o óleo de palma produzido na Malásia e com o milho puxadas principalmente por commodities. americano, o qual grande parte é destinada a produção de Etanol, influencia direto no preDestaque Rural u Qual a hora ço do óleo da soja negociado em Bolsa. Óleo certa para o produtor comercializar influencia diretamente na cotação do farelo e o grão? consequentemente do grão.

Destaque Rural u Qual a previsão dos estoques mundiais após a colheita brasileira? João Pedro Corazza u

A Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT) vem operando na casa dos 8 dólares o bushel desde agosto do ano passado. Esse cenário é o reflexo da superprodução mundial prevista para a safra 2015/2016. Os Estados Unidos produziram mais de 106 milhões de tons, enquanto o Brasil deverá colher cerca de 100

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

João Pedro Corazza u Soubemos que

a principal dúvida que está na cabeça dos produtores é a de quando é o momento certo para a comercialização. A resposta é simples. O momento exato deve ser calculado pelo custo de produção. Com ele no papel, somado com a margem de lucro desejada, a garantia na atividade será mantida. Uma rentabilidade ainda maior gera investimentos na atividade podendo resultar num crescimento da produtividade, seja ele oriundo da aquisição de novas áreas ou aplicados em mais tecnologia.


Fevereiro e Marรงo - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nยบ11

| 9


sindiCatO maneJO RuRal

Luta pelo direito à propriedade Foco da nova gestão do Sindicato Rural de Passo Fundo deve ser na implementação de uma política que proteja mais os produtores rurais e suas propriedades Ângela Prestes No início de dezembro, os associados do Sindicato Rural de Passo Fundo elegeram a nova diretoria que ficará à frente da entidade entre os anos de 2016 a 2018. Com a votação, o ex-presidente e candidato com chapa única, Jair Dutra Rodrigues, foi eleito para comandar o Sindicato no próximo período. O foco da gestão, em 2016, deve ser no direito à pro10 |

priedade. De acordo com o presidente eleito, a diretoria vai implementar, junto com os deputados, tanto estaduais, quanto federais, uma política que proteja mais os produtores rurais e suas propriedades. “Falo mais na invasão de índios, que na nossa região é muito grande a incidência, e nós precisamos nos precaver cada vez mais para que isso não ocorra”, explica Rodrigues. Conforme ele, outro trabalho foco para o próximo ano será junto da Brigada Militar, para que o produtor se sinta mais seguro no interior. “Está aumentando muito o número de assaltos às propriedades rurais. Já tivemos conversando algumas vezes com a patrulha rural e precisamos, para 2016, aparelhar melhor a equipe e implementar um trabalho mais seguro em toda a extensão de base do sindicato de Passo Fundo. Precisamos ampliar esse trabalho para que o produtor se sinta um pouco mais seguro”. Além disso, também será feito um trabalho quanto à lei de cultivares, que deve ir à votação em Brasília em 2016. “Nós precisamos proteger o produtor quanto à reserva de sementes, que ele consiga fazer a sua própria semente”, explica Rodrigues.

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11


FOTO: DIVULGAÇÃO/FABIANA REZENDE

Sindicato Com uma trajetória de atuação baseada na defesa dos interesses dos agricultores, o Sindicato Rural de Passo Fundo completou 50 anos em 2015. A entidade, fundada em 26 de novembro de 1965, vem atuando desde 1929 pelos interesses da categoria. Hoje, além de Passo Fundo, está presente também na região, com extensão de base em Ciríaco, David Canabarro, Ernestina, Gentil, Mato Castelhano, Pontão, Santo Antônio do Palma e Vanini. A entidade classista atua juntamente com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que conta com 170 cursos técnicos em todas as áreas para a capacitação do trabalhador e do produtor rural. Para o ex-presidente do sindicato, Paulo de Tarso, não há dúvida de que a entidade representa os produtores da grande região do Planalto. “A importância do sindicato, como entidade representativa do produtor rural – categoria empregador - em um primeiro momento se restringia somente a discutir as convenções salariais e eventuais dissídios da categoria. No entanto, com o seu trabalho de penetração na atividade socioeconômica do produtor rural, começou a se destacar e a defender os interesses do produtor”. Conforme ele, hoje, o sindicato é importante por auxiliar o agricultor, independentemente de ser associado ou não ou do tamanho da propriedade. “Nós defendemos os interesses que achamos que devem ser preservados. Tivemos muitos casos a respeito de demarcações de terras indígenas, o problema do fundo rural, o emplacamento de máquinas e tratores agrícolas em que tivemos uma atuação muito forte. Em to-

das essas investidas o sindicato defendeu os interesses do produtor”, ressalta o presidente. História Hoje uma entidade estabelecida, o sindicato passou por sérias dificuldades logo após a fundação. Segundo Jair Dutra Rodrigues, a organização não contava com o repasse de verbas da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e acabava tendo dificuldades para pagar os funcionários e contas como luz, água e telefone. “Logo após a lei que determinou o repasse de recursos para os sindicatos rurais, alguns sindicatos melhoraram sua situação financeira, como o nosso. Então esse prédio foi construído e os recursos foram bem aproveitados”. As ações dos ruralistas associados são marcantes por sua participação efetiva em movimentos que envolvem o setor. Exemplo disso foi a realização do Caminhonaço

para Brasília-DF (1998), a Cavalgada em Defesa dos Transgênicos (2003), a Mobilização em Defesa da Propriedade Rural e Contra as Invasões de Terra (2002); o Tratoraço para Brasília-DF (2005), reivindicando empréstimos de custeio e investimentos; a prorrogação dos financiamentos bancários das parcelas vencidas e a vencer em 2005, do Programa Especial de Saneamento de Ativos (Pesa) e da Securitização das dívidas rurais; alocação de recursos em linha de crédito para refinanciar dívidas dos produtores junto a fornecedores de insumos e máquinas; suspensão das importações predatórias de produtos agrícolas, a exemplo do arroz, trigo e milho, no âmbito do Mercosul; Política de Garantia de Preços Mínimos. Produtores do Brasil inteiro estavam reunidos e unidos na capital federal para tais reivindicações. A entidade entrou com uma ação contra a Monsanto

EXTENSÕES DE BASE PASSO FUNDO MATO CASTELHANO PONTÃO ERNESTINA

GENTIL CIRÍACO DAVID CANABARRO

SANTO ANTONIO DO PALMA

Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

VANINI

| 11


para suspensão da cobrança dos royalde para Belém ou Fortaleza, você gasta ties; que contempla também o pedido mais frete do que dos EUA ou do Canade ressarcimento das safras 2007/2008 dá. Nossa logística é péssima”. que se considera indevido; a ação foi movida individualmente por cada sóO setor cio. O sindicato também ganhou a ação A representatividade do sindicato para que não seja descontado o Fundo rural não se restringe ao trabalho do de Apoio ao Trabalhador Rural (Funprodutor, mas ao setor primário como rural) dos associados. Para que não um todo. Para Tarso, a agricultura passa aconteça o desconto por um momento de na nota fiscal do proapreensão. Com as addutor, o sindicato emiversidades do tempo, as te uma declaração. culturas de inverno esMais recentemente, tão grandemente prejuoutras manifestações dicadas. “Há um grande Aproximadamente foram lideradas pela número de propriedaentidade, como o prodes que não vão fazer a testo que pediu a revicolheita da cultura de talização da ERS 324, inverno, já que o grão associados no trecho de Pontão, não tem a mínima quaparticipativos no final de fevereiro lidade, devido ao excesdeste ano. Ou como so de chuvas e umidao tratoraço, contra o emplacamento de. Mesmo lavouras com um potencial de máquinas agrícolas em 2013, que inicial, agora na fase de amadurecimento contou com mais de 300 agricultores o grão perdeu qualidade”. Segundo ele, da região. A defesa do produtor nas deo setor faz investimentos muito grandes, marcações de terras supostamente inconsiderando o imobilizado técnico e dígenas, em 2014 e 2015, assim como os investimentos em correção de solo. o apoio no movimento dos caminhoAssim, quando o produtor colhe uma neiros, no ano passado. Tarso também ou duas safras boas e poderia depender cita a participação reivindicatória na inmenos de financiamentos eventualmente fraestrutura e logística, não somente do precisa trocar uma colheitadeira, um traestado, mas no país. “Temos uma difitor, uma plantadeira, ficando sempre deculdade muito grande de mandar nosso pendente de grandes valores para custear produto pelo porto. Hoje, por exemplo, a safra. “E, infelizmente, no momento nós para mandar um produto de Rio Granestamos passando por uma dificuldade

200

12 |

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

porque esse dinheiro não está chegando aos bancos para repassar para o produtor. A maioria já contratou esses valores, mas tem muita gente que está aguardando a remessa por parte do BNDES, por parte do Tesouro Nacional, o que não está acontecendo”, explica o ex-presidente. O cenário econômico atual, de crise na maioria dos setores, deve atingir a agricultura. O produtor que adquiriu fertilizantes e os insumos gerais para a lavoura logo que colheu a soja, em março e abril, comprou com o dólar ainda baixo. Rodrigues explica que esse produtor não terá tanto problema de caixa quanto o produtor que deixou para comprar agora, tanto o fertilizante quanto os insumos para o plantio da lavoura. “Mas para o próximo ano os produtores devem passar por dificuldades. Apesar do preço da soja ter subido bastante, os insumos subiram muito mais”. Trabalho em conjunto A entidade possui uma representação muito forte no estado, através da federação, e nacional, através da confederação. “Existe uma harmonia muito grande entre essas três escalas hierárquicas no sentido de criarmos uma força concentrada em defesa dos interesses do produtor. E, como um todo, em defesa do setor primário, do setor agrícola do país, que sustenta a nossa economia hoje”. O sindicato também trabalha em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, o que beneficia toda a área agrícola. Para Tarso, é recompensador chegar ao final da gestão com a consciência de que teve a oportunidade de participar do seu segmento. “Tive uma preocupação com a estrutura do sindicato, tanto na sede, quanto no parque, como uma continuação da gestão anterior. Uma coisa que nos envaidece é que nós temos uma forte representação em toda a sociedade civil. Nós temos um intercâmbio com as entidades representativas socioeconômicas da região. O sindicato se tornou uma entidade importante para a comunidade como um todo, não só a rural, como a urbana”, finaliza.


Fevereiro e Marรงo - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nยบ11

| 13


maneJO santa mÔniCa CaBanHa

Integração de ovinos e erva-mate

A reportagem da Revista Destaque Rural conheceu as particularidades da propriedade de Osmar Teixeira, apaixonado por ovelhas da raça texel

14 |

Rosângela Borges

A

Cabanha Santa Mônica, localizada na ERS 324, km 95, em Passo Fundo, é um exemplo de manejo integrado de criação de ovinos e erva-mate em uma mesma área. Experiências com resultados positivos mostraram que é possível unir as duas áreas escolhidas pelo advogado passo-fundense Osmar Teixeira, proprie-

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11


tário do local e apaixonado por ovelhas da raça texel. A paixão se tornou reconhecimento e por três vezes os animais foram premiados na Expointer, além de em outras feiras do setor. Teixeira cria, em média, 150 ovinos, resultantes de uma rigorosa seleção genética, com investimentos contínuos por parte do criador. A cabanha importou sêmen da Nova Zelândia, de um macho campeão da maior feira daquele país. O criatório já teve uma campeã da Expointer 2001, adquiriu um grande campeão de 2005 e atualmente conta com o campeão macho da Expointer 2015, além de outros prêmios na feira e em outros eventos da área. Segundo Osmar Teixeira, a ideia foi organizar o criatório a partir de uma necessidade de limpeza do erval, onde FOTOS: ÂNGELA PRESTES

o plantio de 100 mil pés começou em 1989 e também pela necessidade de uma atividade extra como um hobby. “Sempre gostei de ovelhas e precisava de algo para relaxar a mente. O plantio de erva-mate e as ovelhas foram as opções. Tomei gosto e me dediquei a saber mais do setor”, conta o advogado, que já foi convidado para palestrar em países como a Argentina, como técnico, sobre manejo de ovinos. Osmar Teixeira conta que optou pela capina animal, onde o ambiente foi preservado e os custos, minimizados. Manejo integrado Entre as características da raça texel, estão aptidão da carne, rústicos, com excelente carcaça, conversibilidade e aptidão materna. “Esta foi a que melhor se adaptou às condições da região, ao solo e à erva-mate. As ovelhas são criadas em consórcio com a plantação, o que poderia ocorrer também com plantações de cítricos, café e parreirais”. O sistema é de semiconfinamento: os animais passam a noite recolhidos na cabanha, construída com piso de tijolos, com serragem de madeira, adicionado o cal virgem que aumenta a sanidade, elimina o mau cheiro, reforça o casco dos animais e esteriliza o ambiente. A propriedade utiliza área coberta de 850m² para o recolhimento. Os animais saem da área coberta por volta de 8h, após o orvalho ter secado, o que auxilia no controle parasitário. Pastam, em média, seis a oito horas no meio do erval e são novamente recolhidos. A área onde pastam está dividida em lotes de cerca de um hectare e os animais são cercados por cerca elétrica, na base de 15 metros para cada animal (em área com erva-mate). Em áreas de pastagem, são 10 metros por animal. A recomendação é a utilização de

lotes, em regime de lotação diária, cujo tamanho varia de acordo com o número de animais, multiplicado por 10m². “Essa rotação, que é o manejo do rebanho, potencializa as pequenas áreas, dá aos animais uma alimentação de precisão e contribui para o controle sanitário (verminose). Na propriedade, o rebanho é desverminado em média a cada três meses”. Por se tratar de uma cabanha destinada à venda de cordeiros para reprodução e fêmeas para exposições, os animais recebem uma suplementação alimentar à base de milho, farelo de soja, farelo de trigo, aveia, canola, resíduos de cereais em geral, inclusive feijão e sais especiais (média de 250 a 400 gramas/dia por animal). À noite recebem uma disponibilidade permanente de feno – matéria seca. No inverno à base de aveia, centeio, azevém e trevo e no verão: sorgo, capim italiano, teosinto, tanzânia, entre outros. A propriedade também utiliza cana-de-açúcar triturada, base de 300g por dia. Em períodos de disponibilidade adicionou-se abóbora de pescoço, que é farta na região na primavera e verão, com excelente resultado, segundo o criador.

Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

| 15


“A maior curiosidade é que os animais não comem a erva-mate. As ovelhas são animais inteligentes e, uma vez que mastigam a erva -mate e sentem o amargor das folhas, elas não mais querem comer”, explica Osmar Teixeira e salienta que por um período os animais ficaram confinados em uma área determinada para mastigarem as folhas e verificarem seu amargor.

Peso Os borregos texel nascem com uma média de 4 a 6,5kg de peso, chegando alguns a nascer com 8kg. Ao desmame com 90 dias atingem, em média, 25/30kg de carcaça. O texel atinge a sua maturidade com animal destinado à produção de carne entre o sexto e sétimo mês, quando alcança peso médio de 60/70kg, variando de fêmea para macho. Quando adultos, a fêmea alcança 90 a 100kg e o macho pode chegar a 135kg.

terística a preservação do meio ambiente, com reposição arbórea e ausência de produtos químicos. “O meio ambiente da propriedade foi totalmente reequilibrado. Notamos muitas mudanças positivas como um solo rico, árvores e plantas revigoradas”.

Erva-mate O plantio de 100 mil pés começou em 1989. Hoje são 50 mil pés em uma área de 35 hectares da Cabanha Santa Mônica. A média é de 8 quilos por pé, com dois cortes anuais, sendo uma poda total (até 90%) e um manejo –quando são cortados galhos dominantes após seis meses da poda total. Segundo Osmar Teixeira, a erva-mate está dentro dos mais rigorosos critérios técnicos disponíveis ao setor. É referência para produtores e técnicos, sendo pauta de trabalhos acadêmicos na área de agronomia. A plantação tem como carac-

Questão comercial O embate da erva-mate perpassa sua produção, ele é comercial. A pressão do setor industrial criou a função dos atravessadores. Há alguns anos as indústrias compravam os ervais, cortavam e transportavam até o destino final. O produto recebia o valor fixo pela arroba de 15 quilos, que chegou a valer UU$ 4,00 há 10 anos. Os cortadores de erva-mate, que eram equipes terceirizadas, cortavam para vários produtores e recebiam das indústrias. Porém, o Ministério do Trabalho passou a fiscalizar essas indústrias exigindo contrato de trabalho regular com esses

16 |

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

Para entender Uma arroba de 15 quilos em média produz 6 quilos de erva-mate (6x10=R$ 60,00). O produtor recebe 10% desse valor, ao passo que deveria receber algo em torno de

20%

cortadores, além de estabelecer multas, TAC e outras penalidades, como acidentes e não pagamento de direitos trabalhistas. Somado à competição da soja, muitos ervais foram destruídos e houve retração da indústria. O preço disparou, passando de um mínimo de R$ 3,00 por arroba de 15 quilos até R$ 25,00 pela mesma arroba. Como consequência, o consumidor absorveu esse aumento, com preços entre R$ 10,00 a R$ 17,00 o quilo da erva-mate. Entretanto o produtor, pequeno e médio, continua recebendo algo em torno de R$ 4,50 a R$ 8,00 pela arroba de 15 quilos. A diferença fica com os atravessadores. “Acredito que a solução para o pequeno produtor seja a regulação do mercado, com benefícios como ocorre com os micros, pequenos e médios empresários, além de uma equiparação dos produtores. Se isto não ocorrer, estaremos perdendo um importante setor primário da economia”.


Fevereiro e Marรงo - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nยบ11

| 17


esPeCial

Prevenir para colher

A aplicação de fungicidas de forma preventiva, seguindo as recomendações dos pesquisadores, faz a diferença no momento da colheita. Mas essa é apenas uma das ações necessárias na luta contra as doenças na lavoura

1FOTOS: 8 | DIOGO ZANATTA | Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11


Ângela Prestes

I

nvestir tempo e dinheiro na terra, ver a planta crescer e se desenvolver, e, gradativamente, passar de verde e sadia a uma planta doente. O homem do campo lida com muitas adversidades em seu trabalho, algumas que não permitem controle, como o clima, por vezes desfavorável, e outras que dependem de muita dedicação e conhecimento, como o manejo de doenças. As pesquisas caminham para um cenário cada vez mais avançado e o Brasil posiciona-se bem em relação aos outros países. Contudo, a informação que não chega ao agricultor ou até mesmo a falta de crença dele na ciência leva, por ano, a perdas que giram em torno de 20% da produção. Algumas doenças, ainda, podem ocasionar perdas de quase 100%, de acordo com dados da Embrapa. O cenário não parece animador, no entanto seguir algumas recomendações pode fazer a diferença. Diego Nascimento tem 34 anos e desde criança esteve envolvido com a lavoura. Há 15 anos, porém, ele passou a atuar juntamente com o seu pai nos 600 hectares de terras, divididos entre Carazinho, Santo Antônio do Planalto e Ernestina. Filho e neto de agricultores, Diego aprendeu desde cedo a trabalhar pelo campo e sempre valorizou a pesquisa. “Participo de palestras, dias de campo, fico muito em contato com o que há de novo. Evoluímos somente através do conhecimento”. Para ele, nesse passar dos anos, ocorreram muitas mudanças, entre elas a severidade das doenças e a tecnologia de aplicação. “O maior impacto foi a mudança para a aplicação dos fungicidas de uma forma mais técnica, levando em consideração a variedade, o ambiente e o momento.”


Para Diego Nascimento, a maior mudança com o passar dos anos foi a aplicação dos fungicidas de forma mais técnica

Aumentar o número de pulverizações não é suficiente, existe a necessidade de agregar práticas de manejo integrado”. Ricardo Balardin Colaborador Instituto Phytus

20 |

Evolução Aproximadamente 40 doenças causadas por fungos, bactérias, nematóides e vírus já foram identificadas no Brasil, somente na cultura da soja. O grande número de patógenos no país levou a um número maior de pessoas dedicadas a estudá-los. Segundo o colaborador do Instituto Phytus, Ricardo Balardin, o controle de doenças sofreu a influência de diversos fatores agronômicos e fitossanitários. “No caso dos fatores agronômicos, a busca por cultivares mais produtivas e com menor ciclo implicou menor rusticidade e a adoção de processos produtivos mais precisos, de um gerenciamento agronômico mais cuidadoso e minucioso. Como consequência, quaisquer equívocos produzem um reflexo direto na evolução das doenças e na necessidade de ações de proteção cada vez mais

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

ajustadas”. Pode-se dizer que houve uma evolução marcante, mas ainda insuficiente para que o problema doenças seja considerado resolvido. “Aumentar o número de pulverizações não é suficiente, existe a necessidade de agregar práticas de manejo integrado. Estas incluem tanto atividades fitossanitárias diretas como processos agronômicos ligados a produção”, explica Balardin. A tendência é que o futuro seja mais desafiador para todas as culturas. Conforme o professor da Faculdade de Agronomia da Universidade de Passo Fundo, Carlos Alberto Forcelini, tanto os produtores quanto os pesquisadores terão cada vez mais problemas para se envolver e se preocupar e por isso o controle das doenças deve evoluir a cada ano para dar conta desses novos desafios. “As doenças nunca diminuem, só aumentam”.


Cenário brasileiro O clima tropical facilita a incidência de doenças no Brasil, o que faz com que a pesquisa, principalmente em relação às doenças da soja, esteja bem posicionada frente aos outros países. “Pela maior importância que adquirem aqui no Brasil, nós tivemos que desenvolver métodos mais eficientes de controle. Em relação ao restante do mundo, nós temos um bom nível tecnológico”, ressalta Forcelini. Balardin compartilha da mesma visão, porém, para ele, uma das grandes dificuldades é a adoção das práticas de manejo integrado que podem auxiliar no controle de patógenos. “Para que a pesquisa esteja mais ligada à realidade do produtor, deve haver um maior convívio entre esta realidade e a busca de soluções viáveis e exequíveis através de métodos de investigação”. Para ele, os produtores estão em sintonia com o que há de mais avançado, embora existam problemas de transferência de tecnologia e de aceitação da mesma. “Se a geração do dado estiver distante da realidade do produtor, existe a possibilidade de que nem sempre se atinja o ideal”. E a prática não é incomum. Nascimento a cita como um dos maiores desafios no controle de doenças. “Hoje o produtor está bem informado. Se ele usa ou não estas informações é o problema. Tem coisas na agricultura que tem que acreditar sem ver. O produtor é muito de ver para crer. No momento que nós enxergamos o fungo, ele já está causando danos”.

Produtividade A busca por uma maior produtividade, um maior rendimento de grãos, acaba sacrificando a rusticidade da planta, a sua capacidade se defender por conta própria das doenças. “Se nós compararmos os materiais que nós desenvolvemos no campo hoje, especialmente em soja, eles são muito mais produtivos que no passado, mas também acumulam mais doenças”, explica Forcelini. Esse é mais um dos motivos pelos quais a preocupação com as doenças é crescente.

Ambiente favorável Se, por um lado, a chuva é importante para que as plantas tenham um bom desenvolvimento, por outro, ela propicia um ambiente mais favorável para as doenças se manifestarem. “Uma boa distribuição de chuvas é interessante para a cultura, ela tem menos riscos de perdas por seca ou por estiagem, tem um potencial produtivo maior, mas essa condição ambiental é mais favorável às doenças. É bom para a cultura, mas é bom para as doenças”, ressalta Forcelini. O ambiente tem sido favorável nas últimas safras, por isso as doenças têm sido mais severas. “Nós já viemos de pelo menos três anos, 2013, 2014 e 2015, com uma distribuição boa de chuvas. No próximo verão, em 2016, também há uma previsão de El Niño. Os únicos anos que têm pouca incidência na cultura de verão são justamente os anos de secas fortes. Mas aí também

são anos ruins do ponto de vista de potencial produtivo para a cultura”. Monocultura Outro ponto que dificulta o controle, principalmente na cultura da soja, é que ela é plantada praticamente sempre nas mesmas áreas. De acordo com Forcelini, temos uma monocultura de soja contínua ao longo de vários anos. “E há muitos fungos causadores de doenças de soja que sobrevivem na palhada que fica na lavoura de um ano para o outro. Quando repetimos a soja no mesmo local, a tendência é que essas doenças também aumentem. Tem vários fatores que conduzem a um cenário de bastante doenças na cultura de verão. O produtor tem que fazer nessa safra um manejo, um controle ainda mais especial, mais cuidadoso para não correr riscos”.

Se, por um lado, a chuva é importante para que as plantas tenham um bom desenvolvimento, por outro, ela propicia um ambiente mais favorável para as doenças se manifestarem.

Soja A ferrugem é a doença mais severa da cultura da soja e pode reduzir a produtividade signifi-

Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

| 21


cativamente. Entre as principais características, estão a desfolha precoce, que compromete a formação, o desenvolvimento e o enchimento dos grãos, reduzindo seu peso final. Segundo o gerente de desenvolvimento técnico de Cereais Sul da BASF, Airton Leites, outras importantes doenças que afetam a cultura da soja no Rio Grande do Sul são as manchas foliares, que ocasionam danos em torno de 11 scs /ha. “Elas são chamadas de doenças de final de ciclo, porém infectam a planta desde o estágio vegetativo”. São elas: a antracnose, septoria e cercospora. Todas essas doenças são causadas por fungos necrotóficos, que têm como característica infectar o tecido da folha da planta e liberar toxinas que matam os tecidos produtivos. É do tecido morto que esse tipo de fungo irá se alimentar e depois formar novos esporos. Por isso, é mais difícil a ação dos fungicidas. Fungicidas Todos os fungicidas presentes no mercado são mais preventivos do que curativos. Por esse motivo, se a doença já estiver presente na planta eles não terão um desempenho tão satisfatório. Segundo Forcelini, o produtor deve começar com as aplicações cedo para que eles estejam protegendo a planta antes das doenças estarem estabelecidas. “O produtor deve fazer o primeiro controle através do tratamento de sementes. Depois que a cultura está estabelecida no campo, nós temos que fazer o que chamamos de proteção da soja na fase vegetativa. Quando a soja está com cinco ou seis trifólios, fazer a primeira aplicação de fun22 |

Como escolher o fungicida certo Utilizar um produto de qualidade pode determinar o destino da lavoura. Airton Leites, gerente de desenvolvimento técnico de Cereais Sul da BASF, dá algumas dicas: A escolha depende do hospedeiro, do patógeno e do ambiente. Deve-se sempre utilizar um produto autorizado para uso no cultivo, assim como consultar um engenheiro agrônomo.

u

Sempre rotacionar fungicidas com mecanismos de ação diferenciados. Utilizar nas doses e intervalos recomendados pelo fabricante.

u

u Os fungicidas devem ser usados de forma preventiva. Evitar aplicações com alta incidência de inoculo e de forma curativa. u A simples escolha e aplicação de um determinado fungicida não implica eficácia. Eficácia elevada será obtida se os fatores que a definem forem otimizados conjuntamente e ajustados localmente. Controle de doenças é um processo altamente técnico e que não permite improvisações.

gicida. Depois que fez o primeiro tratamento, basicamente se segue com intervalos, com uma programação, considerando quantos dias os fungicidas são aptos a proteger a soja”, explica. Hoje, no mercado, os produtos protegem a soja em torno de 14 dias, no máximo 18 dias. Então os intervalos não podem passar desse período. Para sojas de ciclo curto, semeadas em outubro, provavelmente três aplicações serão necessárias. Já para sojas de ciclo médio, semeadas em outubro ou em novembro, uma programação com quatro aplicações irá garantir uma maior segurança. “Às vezes, quando o produtor faz a conta começando cedo e trabalhando com intervalos de 14 a 18 dias, ele calcula que lá no final vai ficar um espaço de tempo do ciclo da soja sem proteção e muitas vezes ele atrasa o tratamento. Quando ele atrasa o primeiro tratamento ou aumenta os intervalos, é aí que acontece boa parte das falhas de controle na lavoura. As doenças que incomodam no final da safra não são doenças que

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

vieram de fora, são doenças que se multiplicaram dentro da lavoura. À medida que ele começa mais cedo e trabalha com intervalos seguros e bons produtos, ele mantém sob controle do início ao fim”, pontua Forcelini. Pulverização O objetivo principal de uma pulverização é atingir o alvo com quantidade suficiente de ingrediente ativo e cobertura, obtendo o máximo de eficiência sem contaminar o ambiente. Conforme Leites, para uma boa aplicação de fungicidas, devem-se levar em conta a planta, o problema a ser combatido, as condições climáticas, os equipamentos e a fisiologia de absorção dos produtos pelas plantas. “Para que o produto seja bem distribuído, é necessário considerar um item muito importante: a tecnologia de aplicação, em que devem ser observados os equipamentos de pulverização, as condições climáticas, a arquitetura da planta, além de aspectos relativos ao alvo. Em geral, aplicações


de produtos com ventos acima anos em que o inverno é fraco e de 10 km/hora devem ser evitaessas plantas de soja sobrevivem das. A questão mais importante, no campo, elas são a primeira considerada como fator essenfonte de doença para a lavoura cial, é a distribuição e densidaque vem no verão. “Isso faz com de de gotas, pois, quanto maior que a doença comece mais cedo. o número de gotas depositadas Não precisa vir de outras regiões sobre o alvo desejado, maior será que plantam soja antes de nós. O a dose do produto recebida pelo fungo já está na região, nas sojas mesmo, melhoranguachas”, explica do a eficiência da Forcelini. aplicação”. Diego O segundo ponNascimento foi um to a ser levado em dos pioneiros na reconsideração é a Durante o gião em se tratando previsão climática. dia, com altas de pulverização no“Nós tivemos no temperaturas, turna. Há 11 anos ano passado uma a planta está se ele passou a pulveriprevisão de chuvas protegendo e zar à noite, por penna primavera e veficamos muito sar um pouco mais rão que aconteceu e expostos a na planta. “Umidaesse ano temos uma perdas. Por isso de do ar mais alta, previsão que vem se eu comecei a fazer temperatura mais concretizando. Está pulverização amena, a planta está chovendo bastante noturna”. menos estressada. e está quente e a tenDiego Nascimento Durante o dia, com dência é continuar Produtor altas temperaturas, chovendo bem até ela está se protegenboa parte de 2016”. do e ficamos muito expostos a Os dois pontos, combinados, a perdas. Por isso eu comecei a fapresença local da ferrugem na zer pulverização noturna”. soja guacha junto com a maior ocorrência de chuvas que está Ações prevista são dois fatores que poO professor Forcelini apronta tencializam a doença. “Isso faz duas ações que são importanprincipalmente que ela comece tes para garantir que as doenças mais cedo. E por ela começar permaneçam fora da lavoura. A mais cedo tem mais tempo para primeira delas é a eliminação da evoluir e consequentemente vai soja guacha. “O fungo da princichegar a um nível mais elevado pal doença da soja, que é a ferruno fim, vai causar um prejuízo gem, sobrevive nas sojas chamamaior, conclui Forcelini. das de guachas, plantas de sojas Balardin ainda cita outros elevoluntárias que ficam no campo, mentos que influenciam na prena entressafra, que crescem no venção. “Semente de qualidade, meio da lavoura de inverno e nas adubação equilibrada, desenmargens das estradas. São nessas volvimento radicular adequado, plantas que a ferrugem e tamciclo mais reduzido, época de sebém o oídio sobrevivem”. Normeadura antecipada e arranjo de malmente o frio do inverno eliplantas adequado à arquitetura mina boa parte delas, porém, nos da cultivar”.


esPeCial

Por que os fungicidas falham? Erlei Melo Reisfala da resistência da soja à ferrugem e destaca o estudo de 20 entidades integrantes do Ensaio Nacional Cooperativo de Fungicidas, sugerindo o uso do Mancozebe em conjunto com outros fungicidas Rosângela Borges

O

controle de pragas de uma safra para outra, que em alguns casos cai de 90% para até 5%, preocupa muitos produtores. O problema de resistência sempre surge na lavoura, e o agricultor compara safras anteriores quando colhia bem e o fungicida funcionava e depois

não apresenta o mesmo resultado. Pensando nesse problema, um grupo de 20 entidades e organizações governamentais iniciou pesquisas para se chegar ao porquê da resistência contínua aos fungicidas. O engenheiro agrônomo da OR Sementes de Passo Fundo - RS, Erlei Melo Reis, integra o grupo e explicou que depois de grandes perdas como nas safras 2006/2007 e 2012/2013 os

produtores começaram a reclamar. Na safra 2012/13 usaram a mistura de triazóis e spirulina, mas reclamaram que as misturas não estavam agindo bem. “Estas misturas começaram a falhar e agora a spirulina começou a falhar e não há o que fazer. Os laboratórios comprovaram que o controle está tendo dificuldade pela sensibilidade tanto na síntese da membrana quanto na respiração chamada resistência múltipla. O grão se torna resistente ao fungicida já utilizado. Surgiu neste ínterim um novo produto químico para controlar esta doença chamada de carboxamida, que é outro grupo químico. Os triazóis agem na síntese da membrana, a spirulina e a carboxamida na respiração. Utilizados em conjunto, estavam sendo eficazes, só que em três safras mostrou queda no controle e,

Erlei Melo Reis engenheiro agrônomo

FOTOS: DIVULGAÇÃO

24 |

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11


Fevereiro e Marรงo - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nยบ11

| 25


se não houver alerta, os produtores estarão desassistidos. Os responsáveis se fazem de cegos, surdos e mudos para a magnitude do problema”. Mutação Segundo Erlei, há um problema genético conhecido que é a suscetibilidade de todos os seres vivos às mutações. “Esta mutação é espontânea. Quando ocorre numa população de micro-organismos, onde a reprodução é muito grande, você nota mais facilmente. Nos fungos a reprodução é rápida: dizemos que o fungo se acostumou com o fungicida”. Aplicações O segundo ponto que o especialista destaca é quanto ao número de aplicações que fazem na lavoura a cada ano. “Quando começou a surgir o problema, a média do Brasil eram três aplicações por hectare. Hoje todos usam quatro aplicações, o que acarreta mais custos. Quanto mais aplicar ou aumentar a dose, mais aumenta a seleção direcional: seleciona os resistentes e vai eliminando os sensíveis da lavoura. A causa é mutação genética e a alta pressão de seleção. É muito veneno na lavoura”. Mancozebe Vinte instituições de pesquisa de doenças representam o Ensaio Nacional Cooperativo de Fungicidas. O grupo foi criado para avaliar a situação dos fungicidas examinando a probabilidade de resistência. Um exemplo é a spirulina, que na última década teve redução no controle de 90% para 16%. 26 |

“Fizemos um levantamento na literatura e verificamos um problema semelhante, com controle de uma doença do tomate e da batata na Europa chamada de requeima. Tão forte que mesmo em quintais comia a plantação. Mas, sem controle químico, não se produz. Então estudaram o organismo, que não pertence aos fungos, chamado Estraminópila e os produtos que usamos em soja não controlam. Por isso foi desenvolvido um grupo de fungicidas para este fungo. Quando se descobriram as moléculas novas, uma empresa multinacional lançou o produto, mas em três safras não controlava mais (resistência/ mutação). Encontramos na literatura um fato semelhante. Como a área de tomate e batata era menor, eles tiraram imediatamente do mercado, para tirar a pressão de seleção, acabando com os resistentes e voltando a população sensível. Para preservar a molécula potente, eles misturaram com um fungicida antigo, chamado fungicida protetor, não penetrante nas folhas. Ao invés de agirem só num ponto, os protetores agem em seis sítios da bioquímica da célula, no conjunto. Para estes não se conhece resistência, pois ele não consegue se defender. Ele precisaria de seis mutações, o que é impossível. O produto está no mercado há 53 anos e não se conhece um caso de resistência. Trata-se

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

do Mancozebe. Hoje existem sete moléculas para controlar a doença no tomate e batata e com a lição aprendida na década de 60. Uma delas é que não se usa mais puro, mas com multisítio para resolver o problema. É um fungicida de longa vida graças a esta mistura. No Brasil pegaram os fungicidas utilizados e misturaram com o Mancozebe. Este grupo fez os experimentos e, assim como funciona para tomate e batata, funciona para a soja. As três misturas mais antigas para fungos a média de controle da última safra foi de 37%. Se colocam dois quilos do produto passam o controle para até 85%. Aparentemente o que funcionou para tomate e batata também funciona para resolver o problema. Esta notícia precisa chegar ao produtor. Esta nova combinação foi utilizada em três safras no mercado e já apresenta 84% de controle. Certamente irão surgir outras opções, mas hoje é o que temos”.

Pela adição do fungicida Unizeb Gold, da UPL, todas as misturas de triazóis com strubilurinas aumentaram a potência contra a ferrugem. A lição apreendida no passado com a requeima da batateira e do tomateiro pode contribuir para reverter a situação atual de controle da ferrugem da soja pela adição de fungicida multissítio as misturas de triazóis + strubilurinas e de strubilurinas com carboxamidas.


O campo

avança

Fernanda Falcão

tecnico@sementesfalcao.agr.br

Engenheira Agrônoma e Gerente Técnica da Sementes Falcão

Protegendo o potencial produtivo da sua lavoura

A

estimativa para safra 2015/2016, segundo relatório do mês de outubro da Conab, é de 210,3 a 213,5 milhões de toneladas, representando até 1,7% de crescimento em relação à safra anterior. Para a cultura da soja, a projeção é de 101,9 milhões de toneladas, aumento de até 5,9% na produção e aumento de 1,7% a 3,6% na área cultivada. Vários são os fatores que influenciam para altos rendimentos. Dentre estes podemos citar o clima, a genética, o sistema de produção utilizado, a nutrição das plantas e o manejo fitossanitário. Uma lavoura de alto rendimento tem seu potencial estabelecido no início dos processos, com semeadura em áreas livres de plantas daninhas e patógenos, sementes de alta qualidade, proteção dessas sementes, qualidade de semeadura, na profundidade e velocidade adequadas, distribuição uniforme das sementes, equilíbrio nutricional e disponibilidade de recursos para que tudo isso possa ser concretizado. Após o estabelecimento das plantas, são necessários tecnologias e insumos que visem manter o potencial produtivo da lavoura até o final do ciclo. E nesse contexto o manejo adequado de doenças tem papel fundamental. Com a projeção do fenômeno El Niño para a safra 2015/2016 e com o inverno pouco rigoroso no sul do país em 2015, houve favorecimento à sobrevivência de soja voluntária (guaxas ou tigueras) nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina que não adotam o vazio sanitário em razão das geadas que geralmente ocorrem matando essas plantas voluntárias. Entretanto, nesta sa-

fra, as geadas não foram rigorosas, e o inóculo do fungo da ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi), doença que pode causar prejuízos de 10% a 90%, já foi detectado pelo Consórcio Anti Ferrugem. A ferrugem asiática da soja causa prejuízos severos à produtividade agrícola e é favorecida pela ocorrência de chuvas durante o desenvolvimento da cultura. Períodos de molhamento foliar de 6 a 12 horas, umidade relativa entre

A ferrugem asiática da soja causa prejuízos severos à produtividade agrícola e é favorecida pela ocorrência de chuvas durante o desenvolvimento da cultura”.

75% e 80% e temperatura ótima para infecção de 18o a 26,5oC favorecem a ocorrência da doença. Os primeiros sintomas são pequenas lesões foliares, de coloração castanha a marrom-escura. Os danos são redução da área fotossintética, desfolha precoce, afetando diretamente a formação, enchimento das vagens e dos grãos. Entretanto, o produtor pode minimizar o risco e diminuir as perdas através do planejamento e da adoção de boas práticas de manejo. A rotação de culturas, a eliminação de plantas de soja voluntárias, o vazio sanitário, a definição da época de semeadura, população de plantas adequadas, escolha de sementes de alta qualidade e cultivares adaptados, tratamento de sementes, avaliação e acompanhamento da cultura pós-semeadura, observando a face inferior das folhas das plantas, local onde iniciam os primeiros sintomas e o estádio fenológico crítico para ocorrência da doença, a incidência de inoculo na região, a utilização de fungicidas preventivamente ou nos primeiros sintomas de aparecimento da doença, antes do fechamento da entrelinha, aliados a uma ótima tecnologia de aplicação, as condições climáticas e o monitoramento constante da lavoura são algumas medidas fundamentais para o controle das doenças. Produtor rural busque informações junto às instituições de pesquisa, universidades e assistência técnica para decidir quais fungicidas disponíveis no mercado e que apresentam o melhor controle para essa doença, que, quando mal controlada, pode trazer sérios prejuízos a sua lavoura, afetando a sua rentabilidade.

Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

| 27


qualidade de semente

Mais vigor, Agricultores que consideram a semente um insumo estratégico para a construção de suas lavouras saem ganhando numa maior produção e, consequentemente, uma maior lucratividade Ângela Prestes

P

ensar na lavoura como um todo, observando cada detalhe e suas particularidades é um dos segredos para uma boa produção. E o primeiro passo para constituir um bom cultivo é preocupar-se com a qualidade da semente. Considerá-la um insumo de menor importância pode acarretar consequências no momento da colheita. Conversamos com o professor Paulo Dejalma Zimmer, que é doutor em Ciência e Tecnologia de Sementes e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes da Universidade Federal de Pelotas. Ele fala sobre como o insumo tem influência na produção e sobre a importância de utilizar sementes com alto vigor. Destaque Rural u Como podemos definir uma semente de alta qualidade? Quais são as características? Paulo Dejalma Zimmer u Uma semente de alta qualidade se constitui no insumo mais importante da lavoura. Somente através da semente de alta qualidade será possível construir uma lavoura capaz de aproveitar ao máximo os insumos e o ambiente disponíveis num ciclo de cultivo. Também dependerá da qualidade da semente a capacidade das plantas suportarem os estresses impostos. A qualidade da semente é dividida em quatro atributos: qualidade física, fisiológica, genética e sanitária. Todos esses atributos interferem no tipo de lavoura que será construída. Entende-se por lavoura bem construída aquela que é formada pelo número certo de indivíduos por hectare, posicionados de forma correta em relação aos vizinhos (distribuição)


, mais produtividade em cada 15 cm de linha de semeadura; aquela que não apresente plantas dominadas, doentes e, também , que não apesente indivíduos de outras variedades. Portanto, é através da qualidade da semente que será possível compor um cultivo com indivíduos superiores fisiologicamente (qualidade fisiológica), no local certo (qualidade física), do mesmo ciclo e estatura (qualidade genética) e sem riscos sanitários para o cultivo e para a propriedade (qualidade sanitária).

Destaque Rural u Qual é a importância de utilizar sementes de alta qualidade?

Paulo Dejalma Zimmer u A utilização de sementes de alta qualidade é altamente estratégica para o produtor rural por interferir na construção da lavoura e, por conseguinte, na produtividade. Pesquisas realizadas em universidades e validadas por produtores rurais e produtores de sementes dão conta de que o vigor da semente aumenta a produtividade em lavouras de diversas culturas. Mas não basta elevado vigor se a semente não possuir um padrão físico capaz de permitir que os equipamentos utilizados na distribuição (semeadura) posicionem cada semente no local certo da linha de semeadura. Onde a semente for colocada existirá uma planta; portanto, há uma relação direta entre padrão físico da semente, distribuição das sementes e distribuição das plantas. Esse padrão de distribuição irá interferir no acesso de cada indivíduo da lavoura aos insumos disponibilizados (nutrientes minerais, água e luz) e todos os itens de manejo alocados na lavoura. Por isso que chamamos tanto a atenção para a velocidade de semeadura - que precisa ser diminuída. Daí que é importante dizer que a semente precisa ser boa, mas precisa ser utilizada rigorosamente com o manual de instruções.

Destaque Rural u Qual é o conceito de vigor?

Paulo Dejalma Zimmer u

Na literatura encontramos vários conceitos para vigor da semente. Vou destacar dois: “Vigor de sementes compreende aquelas propriedades que determinam o potencial para a emergência rápida e uniforme e para o desenvolvimento de plântulas normais sob uma ampla faixa de condições ambientais” (AOSA) e, “Vigor de semente é a soma daquelas propriedades que determinam o nível potencial de atividade e desempenho de uma semente ou de um lote de sementes durante a germinação e a emergência de plântula (ISTA). Pode-se generalizar dizendo Paulo Dejalma Zimmer que ambos se restringem ao desempenho das sementes até o estabelecimento das plântulas. Em minha opinião, precisamos evoluir na forma Somente através da semente de alta como isso é colocado, para mirarmos qualidade será no efeito deste estabelecimento sopossível construir bre a produtividade, ou colocamos uma lavoura capaz de desta forma ou não convenceremos o aproveitar ao máximo produtor rural da importância da quaos insumos e o lidade da semente. Toda a semente ambiente disponíveis que atrasar a germinação e emergênnum ciclo de cultivo”. cia (desempenho de baixo vigor) será dominada pelas primeiras que emergiram (alto vigor). Planta dominada produz menos (às vezes nem produz), atrapalha as demais e até reduz o desempenho de fungicidas e inseticidas por não receber a dose certa do princípio ativo. Em determinados casos, se comportam como plantas daninhas.

Destaque Rural u Há alguma legislação que fiscalize o vigor das sementes?

Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

| 29


Paulo Dejalma Zimmer u Não. Sinceramente acho que precisamos evoluir na forma como nos relacionamos com o arcabouço legal (legislações em geral). Adiantaria estar na legislação? Nosso arcabouço legal não contempla vigor por este depender de um conjunto de testes com algum viés subjetivo ou com problema de repetitividade em função de ambiente. Em ambos os casos, qualquer questão legal envolvendo alguma disputa poderia facilmente ser judicializada. Temos que entender que o objetivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é definir as regras mínimas para o jogo e evitar o desabastecimento. É por isso que defendo que o mercado de sementes precisa ser reinventado. Devemos sim deixar a regulação a cargo do MAPA, mas entendo que não devemos apostar num mercado fiscalizado e,sim, num mercado regulado pelo consumidor - produtor rural. Para isso precisamos urgentemente informar as relações entre qualidade da semente e produtividade ao agricultor, para que ele exerça uma compra de sementes com mais consciência e passe, com isso, a valorizar o insumo de alta qualidade disponível no mercado, em detrimento da busca por preço. Esse processo também passa por um treinamento forte das equipes de vendas de sementes. Essas equipes poderão contribuir muito para uma venda mais sustentável economicamente, também com mais ética e que se repetirá. Voltando ao tema do vigor e da legislação, muitas sementeiras já estão informando o vigor ao produtor rural, como um serviço. Sem dúvida, isso precisa ser incentivado, pois se constitui no primeiro passo para a regulação do mercado pelo consumidor e não pelo fiscal.

Destaque Rural

u

mais lucratividade?

cia com vigor elevado sejam mais rápidas; que ele proporcione plântulas mais vigorosas e que ainda contribua para ajustar a população de plantas com mais precisão; sem dúvida, assim o vigor contribuirá para incrementos de produtividade e, neste caso, melhorará a margem final. Há dados de campo que mostram incrementos de 40 a 60 kg de grão de soja para cada ponto de vigor na semente.

Destaque Rural u Hoje, há uma preocupação

maior por parte dos produtores em utilizar sementes de alta qualidade nas lavouras?

Paulo Dejalma Zimmer u Sim e não. Precisamos entender que produtor rural não tem um pensamento comum. Produtor rural se constitui num conjunto de pessoas que pensam distintamente em função das experiências vividas como produtor, dos riscos e angústias, do sucesso, do fracasso e, principalmente, da história familiar e dos valores passados de pai para filho. Sem dúvida, as facilidades e ou dificuldades comuns de sua região também contribuem muito para a formação da sua lógica de pensamento e para o valor que ele atribui para cada insumo. Entendo que a segmentação permitiria entender melhor esse universo que é o “produtor rural”. Generalizando, podemos dividi-los em dois grupos: aqueles que estão olhando para a semente como algo altamente estratégico para a construção de suas lavouras voltadas para altas produtividades e aqueles que ainda olham para a semente como apenas mais um insumo ou um insumo de menor importância por poder ser “feito em casa”.

Um alto vigor significa

Paulo Dejalma Zimmer u Em minha opinião, sim e ela é baseada em dados de pesquisa validados por muitos produtores de grãos e sementes. Considerando que o vigor permitirá a formação de uma lavoura, ainda que as condições ambientais não sejam as ideais (sob estresse); que ele contribua para a diminuição de plantas dominadas na lavoura (plantas daninhas); que a germinação e emergên30 |

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11


Fevereiro e Marรงo - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nยบ11

| 31


COmPOst BaRn

Produtividade e conforto

Sistema de confinamento de gado leiteiro, ainda novo no Brasil, aumenta os níveis de produção e traz benefícios aos produtores e aos animais 32 |

Ângela Prestes

A

cordar de madrugada, enfrentar chuva, lama e tempo ruim para buscar os animais e ainda precisar lavá-los todas as manhãs antes de iniciar a ordenha. A rotina cansativa e desestimulante, comum para muitos produtores de leite no inverno, foi um dos motivos pelos quais Augusto Hoffstaedter decidiu trocar o sistema de semi-

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

confinamento pelo ainda pouco conhecido Compost Barn. O modelo, desenvolvido nos Estados Unidos ainda na década de 1980, começou a obter popularidade entre os produtores somente em 2001. No Brasil, ainda é novo, mas já faz sucesso entre os poucos adeptos. A redação da Destaque Rural esteve na propriedade de Augusto, na localidade de São José do Umbu, em Victor Graeff, e conheceu os benefícios do sistema.


A diária de uma vaca custa R$22,00

1x

=

O que inclui: Alimentação, energia elétrica e mão de obra

Desde 1996 na atividade pecuária, juntamente com o pai, Augusto iniciou o rebanho comprando 30 novilhas uruguaias importadas. A genética, de 19 anos de casa, 100% inseminação, já era de alto padrão, mas os animais apresentavam uma produtividade em torno de 25 litros de leite por dia. “O sistema utilizado era semiconfinamento. Tratava no cocho com silagem, ração e minerais e conduzia os animais até a pastagem. E assim se passou por 18 anos e meio”. As dificuldades com o manejo do gado, principalmente no inverno, foram um dos motivos pelos quais a mudança foi feita. “Ano passado, na época de chuvas, as vacas vinham atoladas até o ubre

de barro. Estava muito ruim de fazer as ordenhas, o pessoal aqui estava de baixo-astral. Chuva, raio, trovão, tinha que ir pegar os animais às 4h20min e chegava aqui e ainda tinha que lavar todos eles”, conta Augusto. Outro motivo apontado por ele é a área perdida onde os animais caminhavam, cerca de dois hectares. “Falando hoje, aqui na nossa região, de mil sacas de soja/ hectare, se for fazer a conta de R$70,00 a saca, são R$140 mil que as vacas estavam caminhando em cima. É muito dinheiro para vaca caminhar em cima”. A decisão pelo Compost Barn veio depois de muita pesquisa literária e visita a fazendas que já utilizam o modelo. O bem-estar e conforto animal foram as principais razões da escolha. “Não

existe sistema no mundo que dê mais conforto para o animal do que o sistema de cama de compostagem”. O sistema O Compost Barn consiste em uma grande área coberta de descanso para vacas leiteiras, revestida com uma cama de serragem, separada do corredor de alimentação ou cocho por um beiral de concreto. Seu princípio básico de funcionamento é a compostagem. O modelo visa ao aumento na produtividade e conforto dos animais e o principal elemento que proporciona isso é a cama, que depende de manejo adequado para o funcionamento. Segundo Augusto, não existe receita pronta; é preciso muita observação e cuidado. “Nós sabíamos que os desafios iriam ser grandes, porque existia pouca informação. Cada lugar é um lugar, cada propriedade é uma propriedade. Está acontecendo muito de o pessoal aderir ao sistema sem a informação correta. Nós tivemos um desafio bastante grande, mas conseguimos passar por tudo isso”.

As ordenhas são realizadas

de 8 em 8 horas às 5h às 13h às 21h

FOTOS: ÂNGELA PRESTES

Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

| 33


A temperatura da cama deve variar de

55˚C a 65˚C a 30 cm da superfície

Manejo De acordo com Augusto, é preciso manter a temperatura e a umidade controladas. “E isso só se consegue fazendo um bom manejo. Mexidas de cama, escarificação ou o uso de enxadas rotativas para quebrar o torrão e reposição de cama”. A reposição, feita com maravalha, não tem um intervalo específico; é necessário acompanhar se a cama está com a temperatura ideal e se a umidade está controlada. “Não existe um intervalo predeterminado, mas o que nós temos observado aqui é em torno de três semanas. Outro fator que faz você perceber que precisa repor cama é quando as vacas começam a vir muito sujas para a sala de ordenha”. Conforme Augusto, quando é feita a reposição de cama, a temperatura vai de 55ºC a 65ºC, a 10 cm da superfície. “E quando a cama chega a uma fase adiantada de compostagem, que é o que tem que acontecer, a temperatura começa a cair. A temperatura não pode chegar, em hipótese alguma, em menos de 40ºC, porque aí as bactérias prejudiciais, que podem causar problemas, entram no jogo. Chegou em 42ºC, eu ligo pro pessoal trazer mais material para que eu possa fazer a reposição”. O custo fica em torno de R$ 3400,00 para uma reposição de 5 cm. Porém, é preciso colocar, na planilha de custos, cerca de R$ 4 mil reais por mês de material, já que no verão as reposições são feitas mais espaçadas e no inverno é necessário um investimento maior. Além da reposição, as mexidas da cama também fazem parte de um manejo correto. O produtor precisa ficar atento ao clima. Em 34 |

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11


dias quentes, com umidade do ar relativamente baixa, duas vezes ao dia é suficiente. Nos dias em que chove muito, a umidade da cama tende a aumentar; então, é preciso mexer três, até quatro vezes ao dia. O revolvimento deve respeitar também a profundidade. “Não se pode mexer a cama lá embaixo, na parte em que não tem mais oxigênio. Tem que manter um padrão de profundidade de mexida de cama. Nós estamos usando o padrão de 30 cm”, explica Augusto. Hoje, a cama, que começou com uma altura de 30 cm, está com 45 cm. Nos 15 cm que não se mexe mais, o composto já está formado. O uso de enxada rotativa, para baixar a umidade, é semanal, já que ela diminui a capacidade oxidativa da cama. Galpão Se o manejo da cama e os cuidados com reposição e mexidas são importantes, a construção do local também tem um peso significativo. O investimento no galpão, com capacidade para 160 animais - 10m² de cama por animal, foi de R$640 mil. A construção tem altura de 5 metros de pé direito e angulação de telhado de 25 graus. O projeto foi feito por Augusto, com o auxílio da fazenda StarMilk, do Paraná. Segundo ele, um dos pontos importantes durante a construção do galpão é

Augusto Hoffstaedter trabalha desde 1996 na atividade pecuária

o lanternim, uma abertura na parte superior do telhado que possibilita a ventilação natural do ar sob a cobertura. “A primeira coisa que as pessoas que vêm visitar me perguntam é se chove pra dentro pela abertura do lanternim. Chove para dentro e consequentemente aumenta a umidade. Mas isso são cerca de 60 dias durante o ano. Aí tu vais penalizar o sistema, construir mal, fazer a abertura de lanternim errada por causa de 60 dias? E os outros 305 dias do ano? Eu fiz sabendo que isso iria acontecer, que eu teria que repor mais vezes durante essa época. Mas o lanternim é o que faz o galpão funcionar porque tira o calor de dentro do galpão”. Além disso, a utilização de cortinas, que impedem que a chuva entre, e ventiladores, que auxiliam na secagem da cama, são outros fatores a serem observados. Vantagens A conta vale a pena. Além de mais conforto, tanto para os animais, quanto para as pessoas trabalhando no sistema, a lucra-

tividade aumentou. Em abril, quando o sistema foi implantado, a média de leite era de 26 litros vaca/dia. Hoje, são 35 litros vaca/ dia e um rebanho de 132 animais. “A gente já tinha alimentação dos animais 80% no cocho. Nós colocamos aqui dentro 100% da alimentação. Aumentou 20%, mas o custo não aumentou tanto. Principalmente porque as áreas em que nós plantávamos pastagem, agora nós produzimos silagem”, explica Augusto. Com uma estrutura melhor, não é possível produzir mais barato o leite, mas é possível aumentar a eficiência produtiva dos animais e das áreas. Contudo, para que o Compost Barn seja eficiente, é preciso pensar no todo e não deixar passar nenhum detalhe. “A informação que se vende por aí às vezes é falha. Nesse sistema não se pode ter o eu acho. Tem que fazer a coisa certa. O sistema, se bem feito, se paga. Só pelo acréscimo de produção”. Para Augusto, a mudança só trouxe benefícios. “Nós estamos mais do que contentes com o sistema”, conclui.

Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

A produtividade passou de 26 litros vaca/dia para

35 litros vaca/dia

| 35


CT& Bio

Gilberto Cunha

gilberto.cunha@embrapa.br

Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura - Embrapa Trigo

Schumpeter no reino dos plant breeders

T

em ares de ironia o fato de que, hoje, a previsão de fim do capitalismo pode ter mais credibilidade nas ideias do economista austríaco radicado em Harvard, Joseph Alois Schumpeter, um dos ícones da ciência econômica no século XX e árduo defensor do sistema capitalista, do que propriamente no pensamento de Karl Marx (que teria por base o inimigo número um: o proletariado). Foi com o seu creative destruction, expresso no clássico Capitalism, Socialism and Democracy, de 1942, que surgiu a crença de que o capitalismo poderia ser destruído pelo seu próprio êxito e, paralelamente, criou-se o conceito do que entendemos por inovação. É a inovação (invenção posta em prática) que leva à destruição criativa (creative destruction), tornando obsoletos tecnologias, ideias e equipamentos. Inovação, nesse começo de terceiro milênio, é a essência do capitalismo. Denota o processo de mutação que impulsiona a economia, criando o novo e destruindo o velho. Novos consumidores, novos produtos, novos mercados, novas formas de organização, etc. Os grandes avanços na agricultura, particularmente em termos de elevação do rendimento das culturas, indubitavelmente, se deram no século XX. E, nesse particular, destacam-se os esforços dos programas de melhoramento genético vegetal, que, no caso dos cereais (trigo, arroz e milho), mesmo havendo quem diga que tudo começou com a redescoberta das leis de Mendel em 1900, os resultados começaram a aparecer, de fato, depois de 1945, vindo a atingir o seu ápice após os anos 1970. Foi criando cultivares e introduzindo novas práticas de manejo de cultivos, substituindo o tradicional pelo novo, que a ciência interferiu de forma efetiva no aumento

36 |

da produção mundial de alimentos. Os melhoristas vegetais e seus programas de criação de novas cultivares encarnaram como poucos o espírito schumpeteriano da “destruição criativa” em agricultura; as vezes com contradições. Vejamos: por um lado, o triunfo da ciência, afastando o espectro da fome em muitas regiões do globo, e, por outro, “incentivando”, pela abundância de alimentos, o aumento da população mundial. Também, com a inovação e suas leis de mercado, permi-

Foi criando cultivares e introduzindo novas práticas de manejo de cultivos, substituindo o tradicional pelo novo, que a ciência interferiu de forma efetiva no aumento da produção mundial de alimentos”.

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

tindo o avanço da tecnologia no campo e a concentração de riquezas, houve a expulsão de pessoas da atividade e um incentivo ao êxodo rural (aumento da pobreza urbana). E, ainda, não se podem desconsiderar o possível estreitamento de uma base genética comum nas modernas cultivares e a perda de biodiversidade (maior vulnerabilidade). Ou seja, no reino dos plant breeders, Schumpeter é senhor absoluto. Peter Drucker no seu Drucker on Asia, de 1966, relata a visita que ele e seu pai fizeram a Joseph Schumpeter, em janeiro de 1950. Na ocasião, Schumpeter, então com sessenta e seis anos e no auge da fama em Harvard. O pai de Drucker, que tinha sido contemporâneo e amigo de Schumpeter na Áustria, perguntou: “Joseph, você ainda fala pelo que gostaria de ser lembrado?” Sabia-se que ele tinha dito, quando jovem e com os dois primeiros livros de economia publicados, que gostaria de ser lembrado por ter sido o maior amante de mulheres bonitas e o melhor cavaleiro da Europa – e talvez também o maior economista do mundo. Schumpeter disse: “Sim, esta pergunta ainda é importante para mim, mas hoje a resposta é diferente. Eu quero ser lembrado por ter sido o professor que converteu meia dúzia de estudantes brilhantes em economistas de primeira classe”. E continuou: “Agora cheguei à idade em que sei que ser lembrado por livros e por teorias não basta. Ninguém se destaca a não ser que faça diferença na vida das pessoas.” Cinco dias depois dessa visita, Schumpeter morreria. Antes que a confusão se instale na mente dos incautos, vale refletir: inovação (e destruição criativa) é uma coisa e obsolescência planejada é outra. Especialmente no melhoramento vegetal.


| 37


milHO

Conhecer para produzir mais Identificar as características de cada fase de desenvolvimento da planta auxilia na definição das práticas de proteção contra doenças e maiores cuidados com pulgões e lagartas

38 |

Ângela Prestes

D

os cereais produzidos no Brasil, o milho é o mais expressivo: são cerca de 82 milhões de toneladas do grão produzidas em 2015. Em 10 anos esse número aumentou 134% em comparação com o ano de 2005, quando foram produzidas 35 milhões de toneladas. Por suas características fisiológicas, o milho tem alto potencial produtivo, porém o nível médio nacional de produtividade é muito baixo: cerca de 4.913 kg/ha na safra e 5.683 kg/ha na segunda safra de 2014/15. Os dados, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), demonstram o potencial a ser explorado na cultura.

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

Estar atento às fases de crescimento vegetativo da planta pode fazer a diferença no momento da colheita. De acordo com o pesquisador e engenheiro agrônomo Dirceu Gassen, a evolução recente da genética da soja, com ciclo mais curto, hábitos de crescimento indeterminado e expressão de períodos de juvenilidade, permitiu antecipar a semeadura e a colheita da oleaginosa. “Com isso, a segunda safra de milho, a partir de 2012, assumiu produção maior do que a safra normal, no Brasil. Essa combinação desenvolvida na região Centro-Oeste permitiu o crescimento das áreas cultivadas com soja e milho e, principalmente, aumento significativo de produção, de 50 para 80 milhões de toneladas”.


e as primeiras folhas mortas tamPotencial de produção bém não são contadas nos estádios Conforme Gassen, a qualidade da mais avançados”. semeadura e o estabelecimento das A fase de crescimento vegetatiplântulas são os fatores mais imporvo do milho define as práticas de tantes para definir potencial de proproteção contra doenças e maiores dução de grãos. “Na fase de crescuidados com pulgões e lagartas. cimento vegetativo, entre 20 e 60 De acordo com Gassen, no estádio dias, ou até o pendoamento, a planta V10, a planta de milho apresenta desenvolve a área foliar onde arma10 folhas estendidas e colar visízena nutrientes para encher grãos”. vel. Nessa fase a planta já definiu A fase vegetativa é a fase de vigor o número de fileira de grãos por da planta, na qual ela produz fitoaespiga, com base no vigor e na salexinas e defesas contra doenças e nidade e vigor das raízes e no teor pragas. “Nessa fase é importante de nutrientes armazenados nas fomonitorar a ocorrência de lagartas lhas. “Ao cortar o colmo no sentido e pulgões, pragas frequentes na cullongitudinal, pode ser constatada a tura. Também definir as estratégias formação de uma ou mais espigas, de proteção contra doenças. Cada com 2 a 3 cm de comprimento. Acihíbrido apresenta características ma das espigas aparece o número de próprias de resistência ou suscetinós que estão em expansão e produbilidade a diferentes patógenos. Alzirão folhas. Em geral, encontramguns híbridos têm alto potencial de se 6 a 8 nós, cada um produzindo rendimento de grãos, mas podem uma folha até a emissão do pendão apresentar características de suscee da espiga. O crescimento tibilidade a ferrugens Cada uma das folhas nessa fase é muiou a manchas-foliadas fases do to rápido, chegando a mais res”. Para o pesquisador, é importante desenvolvimento de 5 cm por dia. Os milhos de uma cultura modernos produzem uma conhecer a fenologia da planta de milho e cumpre um papel espiga por planta, em geimportante na ral no nó -6 ou -7, na conmanejar no momento produtividade tagem a partir da última certo para maior efifi nal. folha, na parte superior. ciência na produção. O número de folhas por “O estádio V1 é deterplanta varia com o ciclo do minado pela primeira híbrido. As cultivares norfolha que emerge do mais produzem em torno solo. Essa folha aprede 21 folhas, enquanto os senta a ponta arredonmais precoces apresentam dada. Os estádios V2, número menor, podendo V3 e Vn são definidos chegar a 15 folhas. Os mipelo número de folhas lhos com ciclo mais longo estendidas e o colar podem produzir até 25 folhas”. que prende a lâmina e a bainha ao colmo, completamente visível. No Fase reprodutiva campo existe defasagem na interCada uma das fases do desenvolpretação dos estádios vegetativos vimento de uma cultura cumpre do milho, geralmente contando um papel importante na produtiduas a quatro folhas a mais do que a vidade final. A fase reprodutiva do definição formal da pesquisa. A fomilho é caracterizada pela emissão lha V1, em geral, não é considerada,

da flor (inflorescência) masculina ou pendão, e da inflorescência feminina, ou espiga com estilo-estigmas (cabelos). “Cada pendão de milho pode produzir até 25 milhões de grãos de pólen. A liberação maior de pólen ocorre no meio do turno da manhã e no fim da tarde. A membrana externa do grão de pólen é tenra e frágil, mantendo-se viável por poucos minutos, até dessecar. A desidratação, por baixa umidade relativa do ar ou por ventos secos, dificulta a fecundação. Períodos de seca também prejudicam a sincronia na produção de pólen com o desenvolvimento do estilo-estigma”, explica Gassen. Segundo o engenheiro agrônomo, o cabelo da espiga é o tubo por onde o grão de pólen penetra e cresce até chegar ao óvulo para a fecundação. Esse período se completa em até 24 horas. Enquanto o óvulo não é fecundado, o cabelo continua crescendo até 3 cm por dia, podendo ser cortado por insetos ou sofrer danos físicos, e continuar viável. “A cor avermelhada da parte exposta do cabelo de milho da maioria dos híbridos ocorre pela produção de antocianina, induzida pela fecundação. A fase fértil para a fecundação da espiga é de aproximadamente 10 dias, mas os primeiros 3 a 4 dias definem mais de 80% da fecundação e da produção de grãos”, conclui.

Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

| 39


DESTAQUE EMPRESAS

Sementes Roos: a maior cerealista do Rio Grande do Sul Cinco décadas de trajetória e uma estrutura operacional com capacidade estática para armazenagem de 540 mil toneladas de grãos

40 |

Rosângela Borges

N

a agricultura, a semente exerce um papel central. Apesar desse protagonismo, ela não se sustenta por si só. Atrás de cada germinação, há o trabalho de homens, a complexidade de máquinas e a pesquisa de tecnologias e genéticas. Pensando nesse foco, a Sementes Roos, empresa localizada em Não-me-Toque, região do Planalto

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11


DESTAQUE EMPRESAS sementes de trigo. Em 1968 houve a aquisição da Agropecuária Marina e em 1969 foi a primeira empresa do Rio Grande do Sul a produzir sementes. De lá para cá, a empresa cresceu em produtos e serviços. Estrutura Na sua estrutura operacional, possui atualmente uma capacidade estática para armazenagem de 540 mil toneladas de grãos (9.000.000 sacas). Com onze unidades e o Centro Administrativo, a Roos produz sementes de trigo e soja, além de comercializar grãos de soja, trigo, milho e insumos. Atende o produtor em todas as fases do cultivo, desde o planejamento do plantio até a colheita. Foi com uma base de solidez, eficiência e inovação que a empresa cresceu e conquistou a confiança de seus profissionais e parceiros. Hoje, eles já atravessam fronteiras, espalhando-se pelo Brasil e alguns países da América Latina. A empresa se diferencia pela qualidade de seus produtos e serviços no mercado do agronegócio. Também traz a marca de suas raízes familiares, aliando a tradição do campo às novas tecnologias, visualizando um horizonte de crescimento contínuo. Estimativa Segundo Eduardo Souilljee, engenheiro agrônomo do Depto. Comercial de Venda Sementes E. Orlando Roos Comércio de Cereais Ltda, há oportunidade e possibilidade de o Brasil produzir

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Médio gaúcho, foi fundada em 1963, tendo as sementes como sua principal matéria-prima. Nestes mais de 50 anos de história, no entanto, foi o capital humano e tecnológico que transformou um pequeno armazém na maior cerealista do Estado e uma das maiores do país. Em 1963 iniciou operações atuando na compra, venda e beneficiamento de madeiras. Dois anos depois, o ramo da empresa muda de madeireira para a comercialização e produção de

Eduardo Souilljee

mais. “O agronegócio representa hoje 18% do PIB brasileiro e 41% do total das exportações. Em 15 anos passamos de 20 bilhões para 99 bilhões exportados, sendo que o principal expoente é a cultura da soja, que se manteve no patamar de 25% do total do complexo de exportação pelo agronegócio brasileiro e, portanto, quintuplicou o volume de receitas geradas para o país, e então acompanhou o crescimento do setor, tornando-se assim o principal produto exportado do agronegócio, e o Brasil o principal exportador mundial (52% do total), superando café, açúcar e outros. Estes fatores, quando cruzados com a tendência do consumo de alimentos no mundo, que está estagnado na América do Norte, Oceania e União Europeia, mas em pleno crescimento na Ásia e na América do Sul, e ainda aliado à substituição neste último grupo de países do consumo de cereais e amidos por lácteos, doces, frutas e alimentos processados, podemos ver claramente a oportunidade e a responsabilidade de produzir

Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

| 41


DESTAQUE EMPRESAS

Marcos da história da empresa 1963 – Fundação da E. Orlando Roos, em Não-

mais”, relata. Para o agrônomo, o país alcançou a maioria tornando-se o segundo maior produtor e o maior exportador mundial de soja. “Tudo isso dinamizado pela tecnologia tropical desenvolvida através de instituições públicas e privadas que fizeram aumentar a produtividade consistentemente, pelas condições edafoclimáticas favoráveis para culturas como a da soja, impulsionado pelo crédito disponibilizado e principalmente pelo empreendedorismo do agricultor brasileiro”. Para Eduardo, com o objetivo de acompanhar o avanço tecnológico, surgem empresas no agronegócio brasileiro das mais variadas áreas, onde se enquadra a Sementes Roos, disponibilizando ao produtor, além do recebimento de grãos e venda de insumos, sementes de alta qualidade produzidas numa região com vantagens comparativas enormes dentro do cenário nacional, onde condições ambientais e logísticas são benéficas, buscando sempre consolidar isto numa vantagem competitiva, com inovação tecnológica e qualidade das sementes. “E, neste caso, hoje temos a capacidade industrial de produzir sementes com poder germinativo (PG) maior do que o que é exigido pelo Ministério da Agricultura (MAPA), além de focar fortemente na questão do vigor (VG), que se relaciona diretamente com a força das sementes. Investimentos pesados na área de automação de tratamento e de embalagem das sementes, bem como a capacitação de pessoal técnico para a 42 |

atuação na indústria de sementes, nos colocam na vanguarda do processo de multiplicação de sementes, onde disponibilizamos sementes com alto padrão de qualidade, disponibilizando a nossos clientes grandes volumes e um portfólio que apresenta 38 cultivares de soja que serão comercializadas na próxima safra, além de 17 cultivares de trigo”, salientou Eduardo. Tratamento industrial Eduardo afirma que todas estas sementes podem ser tratadas com tratamento industrial de sementes (TSI), que ajuda a manter a qualidade fisiológica das sementes, influi positivamente na plantabilidade, além de proteger contra o ataque de pragas e doenças. “Ademais, todas as sementes tratadas contam com o produto Roos Prime, da linha de produtos Dinastia, colocando então na mesma semente cobalto e molibdênio, elicitores e gluconato de Ca (energia), todos de origem vegetal, ou seja, não são sintéticos”. Pirataria das sementes A grande revolução do agronegócio brasileiro iniciou na década de 1970 com o desbravamento de grandes áreas agrícolas, em especial o cerrado. “Acredito que o produtor que iniciou este ciclo está passando o bastão, quando a segunda geração de produtores rurais (ou empresários rurais), que está substituindo gradativamente a primeira, pelo menos 75% destes têm formação acadêmica (engenharias agrícolas, administração). Estes empresários

| Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

Me-Toque, inicialmente atuando na compra, venda e beneficiamento de madeiras 1965 – O ramo da empresa muda de madeireira para a comercialização e produção de sementes de trigo. 1968 - Aquisição da Agropecuária Marina 1969 –A empresa é a primeira empresa a produzir sementes do RS 1972 – Com a crise no café no PR, os cafeicultores encontram no RS alternativas de plantio optando pela soja – Grande virada na empresa, expansão dos negócios 1974 –O primeiro armazém é construído, nascia a filial 1 em Não-Me-Toque – Expansão da produção de semente 1976 – Construção do prédio administrativo da empresa 1983 – Ingresso da segunda geração na gestão da empresa, Airton e Marina Roos 1985 - Implantação do laboratório de análise de semente 1990 – Aquisição da filial 2 – Carazinho 1993 – Direção da Empresa ROOS 40 anos 1995 - Construção da filial 3 – Santo Antônio do Planalto 1998 – Aquisição da filial 4 – Pontão 2000 - Certificação ISO 9001 2002 – Construção da filial 5 – Santa Bárbara do Sul 2008 – Lançamento de sua 1ª cultivar própria de soja ROOS CAMINO RR 2008 – Construção das unidades de Bom Sucesso NMT (F6) e São Bento - Carazinho (F7) 2009 – Destaque A granja do ano - segmento soja 2009 – Lançamento da cultivar de soja ROOS AVANCE RR 2010 - Construção das unidades recebimento de grãos em Tio Hugo (F8), Ernestina (F9) e Almirante Tamandaré do Sul (F10) 2011 - A empresa é pioneira em Tratamento de Sementes Industrial no RS 2012 - Inauguração do centro Administrativo Roos Com 2.300 metros quadrados e uma estrutura moderna, que inclui o Auditório Warna Erpen Roos, representa também a inauguração de um novo tempo da história da empresa. Tempo em que a inovação e a tecnologia se tornam cada vez mais presentes. 2013 - A empresa completa 50 anos Em seus 50 anos, foi o capital humano e tecnológico que transformou um pequeno armazém na maior sementeira do estado e uma das maiores do país. A empresa coloca no mercado sua 1ª cultivar de trigo ROOS CELEBRA 2014 - A empresa coloca no mercado sua 1ª cultivar de soja com a tecnologia Intacta ROTA 54IPRO Lançamento da biografia do Sr. Erni Orlando Roos - Sementes que Plantei Ampliação de sua filial 1 para recebimento de grãos e sementes 2015 - Lançamento da linha de insumos agrícolas


DESTAQUE EMPRESAS

rurais, até por conseqüência de sua formação, adotam tecnologias modernas e fazem a gestão da propriedade, portanto são exigentes no produto que utilizam, e buscam retorno financeiro sobre cada insumo utilizado. A adoção de novas tecnologias é uma realidade dentro da propriedade rural, tanto na mecanização, quanto na utilização de insumos e no manejo adequado destes. É neste ponto que a Sementes Roos busca atender aos anseios desses produtores, pois sabemos que o sucesso de nossa empresa depende do sucesso dos produtores, que, por sua vez, impulsionam a cada dia mais o agronegócio brasileiro”. O agricultor tem aderido às tecnologias Para o especialista, mesmo com os avanços do agronegócio nos últimos anos, alguns problemas ainda persistem. “No caso da cadeia de sementes, o principal problema é a semente pirata, ou então, aquele

grão de soja que é comercializado como semente sem pagamento de nenhum tributo, sem controle de qualidade, e também sem remunerar o obtentor (aquela empresa que desenvolveu a tecnologia). Somos sabedores de que todos os países desenvolvidos têm como princípio respeitar e proteger a propriedade intelectual (aonde a princípio todos queremos chegar), e que para isso ocorra e remunere toda a cadeia de produção de sementes(obtentor>multiplicador>comerciante>produtor), é necessário que a pirataria de sementes seja combatida”, disse. Para ele, o ciclo será sempre realimentado e o obtentor continuará a investir na busca e obtenção de novas cultivares. “Um dado interessante sobre este assunto é que a totalidade dos obtentores de semente retiraram suas unidades de pesquisa do RS, transferindo as mesmas para outras unidades da federação. Este fato está correlacionado com a grande produção de semente pirata no estado do RS”.

Desafios Os grandes desafios do agronegócio passam entre outros, como infraestrutura, certificações e qualificação da mão de obra, pelo desafio da biotecnologia com segurança jurídica, no caso do setor de sementes. Para Eduardo, a produção de semente pirata pode ocasionar num médio ou longo prazo a dificuldade na obtenção de cultivares mais adaptadas ao estado, fazendo que haja menor produtividade em relação a outros estados produtores de semente no Brasil. “Para evitar que estes fatos se disseminem, a Sementes Roos fomenta fortemente o uso de sementes certificadas, buscando novas tecnologias, tratando junto a entidades do setor no sentido de aumentar e valorizar os padrões de qualidade, prestando assistência técnica no pósvenda e realizando dias de campo de soja e de trigo com o objetivo de disseminar estas tecnologias, que estão ao alcance do produtor, sempre visualizando um maior retorno econômico, que revigora o agronegócio brasileiro como principal produtor de energia e alimentos a nível mundial nas próximas décadas”, finalizou.

Fevereiro e Março - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº11

| 43


44 |

| Fevereiro e Marรงo - 2016 | Rio Grande do Sul | Ano II | nยบ11


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.