Terrorzine Nro 8 - Minicontos de terror

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TerrorZine – Minicontos de Terror nº 08

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Ademir Pascale e Elenir Alves (org.)

São Paulo, abril/2009

08

Ano 01. Número Circulação Gratuita

Ademir Pascale Qomolangma Almir Pascale O Vaso de Flores! Ana Mikaellu O Casamento Lunar Bruno C. Borges Vietnã Carla Ribeiro Dedos Christian David Despejo Daniel Frini Sindicato Domenium Além da Justiça de Deus Duda Falcão Horror no Espelho Elenir Alves O Velho Guerreiro

Jonatas Tosta Barbosa Residente do Armário Wellington Paisano Jato Sonho Astral Leonardo A. Ragacini O Sinistro Leonardo Brum Visita Noturna M. D. Amado Insert a Coin-cidência M. J. Borghi Sob a visão que não... Maurício Montenegro Deixe uma luz acesa Miriam Santiago Na Caverna de Santana Ricardo Delfin Ardor Rodrigo Araujo O Demônio no Quarto

Rúbia Cunha Telefonema Sergio Gaut vel Hartman Los Desalmados


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Ademir Pascale e Elenir Alves (org.)

Editorial Nesta edição, iniciamos com o tão comentado “mercado editorial”. Afinal, as editoras estão realmente abrindo as portas para os novos escritores? Sim, mas são poucas, e mesmo assim você escritor terá que batalhar muito para publicar a sua obra, então o mercado editorial não está tão bom assim. Os escritores são muitos, os leitores idem, mas o que falta são editoras que apostem no talento destes novos escritores, e se você quer realmente publicar o seu livro, tem que ser um autor pelo menos já conhecido entre os leitores, com um site ou blog bem visitado, além de participar freqüentemente de zines, revistas impressas, antologias e outras publicações que visem na divulgação e enaltecimento do seu nome para os leitores e consecutivamente para as editoras. Como exemplo, citamos André Vianco, que com muita dificuldade, bancou 1000 exemplares do seu primeiro livro e hoje faz um tremendo sucesso entre os leitores, agora publicando uma tiragem inicial de 15000 exemplares de cada um dos seus livros sem arcar com as despesas, como J.K. Rowling que passou por dificuldades financeiras e teve seu primeiro Harry Potter recusado por diversas editoras e hoje é uma das mulheres mais ricas do mundo, passaram por inúmeros obstáculos. Imaginem hoje o arrependimento das editoras que recusaram o primeiro Harry Potter? Mas, o sucesso não deve vir apenas das editoras abrirem as portas, você escritor deve ser persistente e correr atrás dos seus sonhos, participar mais de eventos literários; palestras, workshops, cursos de aperfeiçoamento, zines digitais e impressos, antologias, etc., além de publicar seus textos em sites ou blogs. Ler muito, escrever e ficar por dentro deste tão rico mundo da escrita, é primordial. Mas, infelizmente, são poucos os escritores que notamos persistirem nesta árdua luta. Com as editoras, também não é diferente, e notamos que algumas no decorrer do tempo, modificaram completamente o seu rumo e focaram mais em


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Ademir Pascale e Elenir Alves (org.) seus interesses pessoais. Isso é uma crítica aos escritores e editoras? Sim, afinal, somos ativistas culturais e também escritores que, além de minicontos, escrevemos contos e romances, além de organizar antologias e publicar mensalmente o zine TerrorZine: Minicontos de terror e administrar o portal Cranik (www.cranik.com) e outros dois sites, sendo um deles o Divulga Livros (www.divulgalivros.org), além de participarmos freqüentemente de eventos literários e sempre estarmos de olho em ambos os lados: escritor x editora. Estamos dando esta oportunidade para você, participe mais do TerrorZine, uma edição independente e gratuita com mais de 2000 downloads/mês, lida por leitores nacionais e internacionais. Além das antologias Draculea: O livro secreto dos vampiros (All Print) e Invasão (Giz Editorial) que o escritor e organizador Ademir Pascale está promovendo. Para dicas de leitura, além dos excelentes minicontos desta edição, destacamos também seis livros que lhes ajudarão nesta empreitada literária, além de três ótimas entrevistas com os escritores Felipe Colbert, Leandro Reis e M. D. Amado. Links interessantes: Para participar da antologia Draculea: O livro secreto dos vampiros, leia o regulamento na página: www.cranik.com/draculea.html Para participar da antologia Invasão, www.cranik.com/invasao_coletanea.html

leia

o

regulamento

na

página:

E para obter dicas para escrever o seu primeiro livro, além de um catálogo com mais de 200 endereços de editoras brasileiras, acesse o link para adquirir o e-book do escritor Ademir Pascale: www.divulgalivros.org/queropublicaromeulivro.htm. Agradecemos pela participação de todos os escritores desta edição e principalmente para você leitor que tanto nos prestigia. Para participar do próximo www.cranik.com/terrorzine.html.

TerrorZine

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(10/05/09),

acesse:

Para disponibilizar o TerrorZine nº 08 para download em seu blog, site ou comunidade, use o endereço: www.cranik.com/terrorzine8.pdf. A sua divulgação é muito importante para todos nós. *Para anunciar, divulgar seu livro ou patrocinar o TerrorZine, envie um e-mail com sua proposta para: cranik@cranik.com. Não deixem de enviar os seus comentários: sugestões para o TerrorZine, o novo suplemento especial e os minicontos temáticos. Dicas e críticas construtivas serão sempre bem-vindas. P.S.: Recebemos os livros O Rei e o Camaleão do autor Christian David e DiPresto e a Ilha Fantasma do autor Gustavo Barcamor.

Ademir Pascale e Elenir Alves Editores e Organizadores

Foto: Ademir Pascale e Rober A. Pinheiro, autor do livro: Lordes de Thargor: O Vale de Eldor, Editora 24x7) e Elenir Alves.

Dicas, opiniões, etc., entre em contato: cranik@cranik.com. Teremos prazer em respondê-lo.


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“Para sermos felizes até certo ponto é preciso que tenhamos sofrido até o mesmo ponto." Edgar Alan Poe (1809-1849)


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Índice Ademir Pascale Almir Pascale Ana Mikaellu Bruno C. Borges Carla Ribeiro Christian David Daniel Frini Domenium Duda Falcão Elenir Alves Jonatas Tosta Barbosa Wellington Paisano Jato Leonardo A. Ragacini Leonardo Brum M. D. Amado M. J. Borghi Maurício Montenegro Miriam Santiago Ricardo Delfin Rodrigo Araujo Rúbia Cunha Sergio Gaut vel Hartman Entrevista Entrevista Entrevista Coletânea Invasão Dicas de Livros Arte do Leitor TerrorZine nº 08

(Qomolangma: Mãe do Universo)................................. (O Vaso de Flores!)........................................................... (O Casamento Lunar).................................................... (Vietnã).......................................................................... (Dedos)………….............................................................. (Despejo)........................................................................... (Sindicato)......................................................................... (Além da Justiça de Deus)................................................. (Horror no Espelho)........................................................... (O Velho Guerreiro)........................................................... (Residente do Armário)...................................................... (Sonho Astral).................................................................... (O Sinistro)........................................................................ (Visita Noturna)................................................................. (Insert a Coin-cidência)...................................................... (Sob a visão que não enxerga)........................................... (Deixe uma luz acesa)....................................................... (Na Caverna de Santana).................................................... (Ardor)……………........................................................... (O Demônio no Quarto)..................................................... (Telefonema)...................................................................... (Los Desalmados).............................................................. (Ademir Pascale entrevista Felipe Colbert)...................... (Ademir Pascale entrevista Leandro Reis)........................ (Ademir Pascale entrevista M. D. Amado)....................... (Participe da Coletânea organizada por Ademir Pascale).. (Dicas de excelentes livros)............................................... (Arte selecionada de Evandro Guerra ).............................. (Saiba como participar do próximo TerrorZine)................

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Participe da Antologia DRACULEA – O LIVRO SECRETO DOS VAMPIROS

ENVIE O SEU CONTO ATÉ O DIA 15/05/09. MAIS INFORMAÇÕES NA PÁGINA OFICIAL:

www.cranik.com/draculea.html


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Qomolangma Mãe do Universo Ademir Pascale

H

á anos o tormento assola os meus vastos e interrogativos pensamentos:

procuro por Deus; uma palavra, um sinal... Tento encontrar explicações plausíveis para a minha existência; li centenas de livros que vão de Dalai Lama a Charles Robert Darwin; não encontrei consolo... Visitei a África; berço da humanidade. Percorri um dos extensos Caminhos de Santiago e escalei o ponto mais íngreme do monte Everest: nestas andanças, notei a delicadeza nas cores das flores mais exóticas do mundo, percebi a grandeza do intelecto nos olhos de um noturno Lêmure, assim como o poder e paciência nos vagarosos gestos de um grande felino. Mas foi somente em minha última aventura, no alto do monte Everest, segundos antes de falecer de hipotermia subaguda, quando visualizei o sol deslizando entre as brancas nuvens e ao meu redor a grandeza deste mundo pincelado de cores variadas, que Deus me revelou através do som dos ventos frios da cordilheira do Himalaia, num rápido flashe, que sempre tentou conversar comigo, desde o meu primeiro dia de vida... *O monte Everest em tibetano é chamado de Qomolangma (mãe do universo)

Ademir Pascale: Lingüista, crítico de cinema, ativista cultural, escritor, professor de informática (LINUX), idealizador do projeto de inclusão social Vá ao cinema e do zine TerrorZine – Minicontos de Terror. Administrador do portal Cranik e dos sites (www.oentrevistador.com.br) e (www.cranik.com) (www.divulgalivros.org) é autor do audiolivro Cinema – Despertando seu olhar crítico, editora Alyá. Organiza a coletânea de novelas de FC Invasão, Giz Editorial e a antologia de vampiros que criou, intitulada Draculea – O Livro Secreto dos Vampiros, All Print. Atualmente procura por uma editora que publique a sua obra do gênero suspense e horror O Desejo de Lilith (93 páginas, A4). Contato com o autor: ademir@cranik.com.


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O Vaso de Flores! Almir Pascale

-M

ulher, hoje passei no cemitério e vi uma coisa muita bonita; colocaram um

vaso de flores no túmulo do finado Zé Clodoaldo. Nesta noite vou pegá ele pra nóis! A mulher respondeu: “Sê tá loco homem, qué trazê disgraça pra nossa casa? - Já tá resolvido, o que defunto vai querer com vaso? Vai ter mais serventia aqui! Já era madrugada, quando o agricultor caminhou até o cemitério, pegou o vaso, despejou a água com as margaridas murchas e retornou para sua pequena chácara. Lá chegando, encontrou na varanda iluminada com a luz de um lampião, sua mulher ajoelhada perante a imagem de uma santa, e com um terço nas mãos: “Josenito, você teve mesmo a corage di rouba um difunto?” Quando o agricultor ia responder, a mulher gritou, e apavorada apontou algo! Ao virar-se para trás, o agricultor arregalou os olhos: lá estava um vulto negro de cabelos vermelhos, boca com dentes pontiagudos, sem olhos, orelhas e nariz. O ser tomou o vaso das mãos do agricultor, segurou-lhe pelos cabelos, e sumiu na escuridão da noite, arrastando o homem, que em vão tentava se desvencilhar. No dia seguinte, lá estava o vaso em seu local de origem, e dentro do mesmo, belas margaridas frescas. Já o agricultor, jamais voltou à ser visto.

Almir Pascale: São Paulo (1968) de origem européia (Itália) por parte de mãe, é formado em Gestão Financeira, escritor, participou da Antologia “Anno Domini” pela editora Andross, e da Antologia “Contos Fantásticos” 12° volume pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores; participou de todas as edições do TerrorZine; ativista cultural e colaborador do Portal Cultural Cranik (www.cranik.com). Contato com o autor: almir_pascale@hotmail.com.


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O Casamento Lunar Ana Mikaellu

O

Casamento fora perfeito. A noiva vestida de branco e ele vestido de preto.

Foi numa noite fria onde a lua brilhava gélida. O ritual se deu na casa da noiva; uma moça de 18 anos cujos pais já haviam falecido; de cabelos longos e negros, pele lívida, branca, onde a tez parecia um veludo; seus olhos pretos circunspetos, denunciavam seu amor às coisas da vida além-túmulo, tanto, que no casamento ela não acendeu as luzes e a cerimônia foi feita à luz de velas e decorada por cortinas brancas ao vento, onde no altar de mármore pérola, jaziam rosas vestidas de luto. Não era entanto isso que assombrava, mas o seu noivo. Na verdade ela se casava com uma aparição, cuja alma não descansou enquanto o beijo não foi dado entre a carne quente da jovem, e o espírito frio do belo senhor de olhos azuis acinzentados.

Ana Mikaellu: Nasceu no Brasil, Rio de Janeiro. Tem um livro publicado, Vento no Poente. Seus escritos têm uma temática sombria e luminosa ao mesmo tempo. Formou-se em jornalismo e atualmente trabalha escrevendo. Contato com a autora: mikhaellu@gmail.com.


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Vietnã Bruno Carramaschi Borges

O

s flashes clareavam a escuridão e cegavam os olhos de todos que ali estavam.

Os gritos de dor e os pedidos de socorro ecoavam dispersos pelo interior da densa floresta. Em meio ao breu daquela noite sem lua, as sombras se moviam rapidamente e desapareciam com os estampidos dos rifles. Lá estava eu cercado pelo terror de uma morte iminente, quando de repente, enquanto agachado atrás de uma trincheira e banhado pelo sangue de meus amigos ouvi uma voz rouca soar em meus ouvidos. Olhei assustado para aquele soldado que acabara de aproximar e se agachar ao meu lado, ríspido e centrado, disperso de todo aquele horror, focando apenas em minha pessoa e olhando diretamente nos meus olhos. — Pronto para vir comigo soldado! — Perguntou ele. — Para onde vamos senhor? — Para longe daqui. — Mas quem diabos é você? — A morte! — Eu já imaginava.

Bruno Carramaschi Borges: Formado em Agronomia, Perito do Ministério Público Federal por profissão e escritor amador por paixão. A algum tempo escrevendo o seu primeiro livro, mas com o sonho de publicá-lo em breve. Contato com o autor: bborges@brturbo.com.br. Site: oanodacaca.blogspot.com.


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Dedos Carla Ribeiro

E

stendem-se como véus diáfanos, dedos de penumbra em direcção ao abraço da

noite. Lá em baixo, os túmulos repousam, mas ela já não. Ela fugiu da sua reclusão e voa em liberdade em direcção ao desejo, à ânsia de saciedade que, como um fogo de sombras, a consome. Abrem-se como asas os ossos do seu crepúsculo pessoal e ela encontra em si os instintos predatórios. E depois desce, como ave de rapina, consumindo fogo e fome em direcção à presa que agora localizou. E entra, como um sussurro imperceptível, no corpo que, sem querer, se abre ao seu chamado. Agora, sim, contempla a liberdade, dona, enfim, de um corpo para manipular.

Carla Ribeiro: Estudante de Medicina Veterinária, nasceu em Portugal a 20 de Julho de 1986. Premiada em vários concursos literários, publicou em diversas antologias. Publicou, além disso, os livros Estrela sem Norte, Alma de Fogo, Canto de Eternidade, Herdeiros de Arasen, vol. I, Herdeiros de Arasen, vol. II , O Deus Maldito e Alma Abandonada. Contacto com a autora: carianmoonlight@gmail.com.


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Despejo Christian David

E

ntrei na casa à noite. Mesmo que houvesse luz eu não precisaria dela para saber que

rumo tomar. Os vinte anos vividos ali me faziam conhecer cada reentrância, saliência e rugosidade da minha velha casa. Casa que já não era minha por seis longos e dolorosos anos e que, desde minha saída, vivia abandonada, aberta aos mendigos e bandidos das redondezas. Ainda lembro do sorriso debochado, congelado na morte, do oficial de justiça que me entregou a ação de despejo. A casa era minha! Ninguém podia tomá-la! Ao adentrar no que era antes minha sala de estar, um sorriso peculiar brilhou na escuridão. O oficial de justiça, outra justiça, com uma ação de despejo nas mãos pálidas, sorria mais do que nunca. Quando a gadanha encostou no meu rosto fui despejado pela segunda vez. Desta vez, a prisão era mais longa, e a volta impossível.

Christian David: Formado em Ciências Biológicas pela UFRGS. Com o financiamento da Prefeitura de Porto Alegre editou o livro “O Rei e o Camaleão” em 2006. Em 2008 lançou o livro “Mão Dupla” pela Artes e Ofícios Editora e foi selecionado pelo concurso “Histórias do Trabalho” para a inclusão de um conto em coletânea a ser lançada em 2009. Contato com o autor: cndavid13@gmail.com.


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Sindicato Daniel Frini

—¡D

ebemos hacer algo, compañeros! Ya hemos perdido toda credibilidad y

nadie nos toma en serio. Acá el compañero Secretario General va a leer la propuesta que se pone a consideración de la Asamblea. Tiene la palabra el compañero Simón. Pálido, casi transparente, quejumbroso y arrastrando cadenas; se dirigió al micrófono el compañero Simón de Canterville, fantasma desde 1574, Secretario General del Sindicato que los agrupa.

Daniel Frini: Berrotarán (Córdoba, Argentina), 1963. Ingeniero, Redactor y columnista en revistas humorísticas del interior del país. Colaboró en “Axxón”. En 2000 publicó el libro “Poemas de Adriana”. Colabora habitualmente en Químicamente Impuro; Ráfagas,Parpadeos y Breves no tan Breves. Mail del autor: dfrini@gmail.com.


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Além Além da Justiça de Deus Domenium

O

som abafado das pás escavando com extrema frenesi ressoava em seus

ouvidos, sendo a salvação para as lamurias fúnebres que ouvirá durante muito tempo debaixo daqueles escombros. A esperança tomou formas quando viu a luz adentrar pela senda que pouco a pouco aumentava. Januário estava coberto por terra e sangue. Retido por um pavor inexplicável, teve apenas força para dizer: “O sangue de Javé tem poder! Glória senhor!”. Ao sair do buraco seus olhos vislumbraram a voracidade da destruição e uma pequena multidão de curiosos que cultuavam a busca por novos sobreviventes; o jornal nas mãos de uma senhora, dizia: “Aquecimento Global: furacões devastam Estado”. Januário, pastor devoto, faz o sinal da cruz ao ver aterrorizante manchete. - Venha senhor, vamos para ambulância. – consola, Moacir, o bombeiro, observando o estado débil do debilitado homem. Notando a vontade inviolável de suas mãos ao segurar um curioso rolo de papel manchado com sangue. A razão operou de forma estranha, breve e soturna na mente de Moacir. Não foram necessários 10 segundos após o seu imediato dizer: “Senhor, estão todos mortos aqui!” e a leitura do estranho rolo: “Lista dos escolhidos por Deus”. Onze nomes riscados a sangue! Como dito, não foram necessários 10 segundos; um disparo ecoou em meio a destruição, um corpo tombou no chão. - Realmente não há nenhum sobrevivente aí. Procuremos em outro lugar! Concluiu Moacir com a sua fumegante justiça automática em punho.

Márcio de Lima Domenes (Domenium): Publicitário. Um grande admirador da literatura fantástica. Sempre mescla em seus contos e poemas o surrealismo dos personagens em confronto com a realidade da vida social e nosso tempo histórico. Conheça o autor e seus escritos. Blog: domenium.blogspot.com. Contato com o autor: domenium@gmail.com.


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Horror no Espelho Duda Falcão

D

iante do espelho o profundo horror. Intolerável de se ver. Em minhas veias

corre sangue pré-histórico. Posso senti-lo quente a ferver, como se fosse entrar em erupção. Não bastava que os ancestrais tivessem a voracidade de formigas carnívoras... devastadores de mundo. Sou a herança das épocas remotas. Das guerras, dos sacrifícios, dos assassinatos e de todos os malditos vícios. Não me surpreende que essa natureza irracional finalmente tenha vindo à tona. Tudo o que representava beleza e harmonia nessa parca existência se foi. A história é testemunha de nossas ações. Desejo que me julguem. Uma cela fria não bastará para punir meus atos. Não desgrudo o olhar sinistro e gelado que surge do espelho. O horror me espreita vindo de um lugar bem profundo da alma. Nada pode ser mais vil. Eu. Um homem. Um assassino.

Duda Falcão: Graduado em história e especialista em literatura brasileira. É professor da Ulbra de Torres. Atualmente cursa mestrado em educação e dedica-se ao mundo de fantasia chamado Terras de Lhu. Entre uma e outra aventura de sua personagem favorita, Hylana, escreve também contos de terror e FC.


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O Velho Guerreiro Elenir Alves

O

s passos estão cada vez mais curtos... O chumaço de fios brancos sobre a

cabeça do velho corpo exausto, indica que os sinais da idade não correspondem mais aos desejos deste guerreiro. “DRAGÃO VERMELHO” – herói da resistência, o símbolo dos guerreiros da época, uma marca que Carl carregava no peito. As pálpebras pesam, os olhos se fecham, a falta de resistência em seu corpo, o deixa cada vez mais fraco. Carl, não sente mais as suas pernas e cai lentamente ao chão. Seu último suspiro é ofegante, o relógio do tempo de vida do guerreiro, foi acionado. Horas depois, nas proximidades da Abadia, seu corpo foi encontrado todo ensangüentado com uma espada cravada no peito. Em homenagem ao velho guerreiro Carl, sua espada está exposta no pequeno altar da Abadia, como mérito e honra pela coragem até o seu último alento.

Elenir Alves: Publicitária e escritora. Colabora regularmente com a revista Caderno Literário da editora Pragmatha, trabalhou 10 anos na área de R.H e trabalha atualmente na assessoria de imprensa do portal Cranik (www.cranik.com), além de organizadora e co-editora do zine TerrorZine – Minicontos de Terror, mantém também a sua página pessoal no Divulga Livros: www.divulgalivros.org/elenir_alves.htm e a home page Terror e Mistério: www.terroremisterio.ning.com. Contato com a autora: elenir@cranik.com.


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Residente do Armário Jonatas Tosta Barbosa

-T

odo dia é isso, filho! Você cisma em me perturbar só porque acha que tem

algo no armário! - Mas pai, tem algo se mexendo lá dentro! Eu vi! - E o que seria? - Não sei, papai. Mas é assustador! - Já está na hora de você crescer, enfrentar seus medos. Volte lá e mostre que é adulto! Verá que não há nada além de calças sujas e um suéter mofado. Ouviu? - Sim senhor... - Não fica triste, filho. Você é um bom garoto. Vai ver que não é nada... vai dormir. A noite passou como vento morno; e como despertar de primavera o dia nasceu. Foi estranho ele não descer pro café. O pai preocupado foi atrás... Lá em cima, no quarto abaçanado pelas cortinas, encontrou uma faca de cabo envelhecido e uma grande bandeja enferrujada sobre a cama do menino, além de um bilhete escrito: “Muito grato pela refeição, amigo. Ass.: Sr. Residente do Armário”. O pai sorriu de desespero ao notar como tudo estava sujo de sangue seco e farelo de ossos.

Jonatas Tosta Barbosa: Prefiro não falar sobre mim. Pode soar pior que uma história de horror, justamente por ser real. Brincadeira! Como a maioria dos escritores, Enredei por essa via obscura e obtusa desde cedo. Tornou-se parte fundamental. Desde as primeiras vezes que vi a morte de perto entendi a importância da literatura em mim. Não sou ninguém sem a escrita.


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Sonho Astral Wellington Paisano Jato

U

ma bela noite de outono, a primeira entre muitas outras magicamente

encantadas, aproveitei as férias num sítio reservado e escondido. Naquela fatídica noite em que a lua brilhava alta, imponente, ao soar das cigarras em meio a mata alta e relva selvagem, o ser etério de um dos doendes transeuntes, de índole peralta, batia na porta anunciando a visita e esvaecia nos ares puros do campo intencionando intrigar-me e perturbar-me com a dúvida de quem ou do que bateria na porta. Nas janelas o brilho do céu salpicado de estrelas, e como trilha sonora o tilintar do regato que escorria atrás; ambiente propício para os vultos vocíferos que arquejavam um deslocar de vento quase inaudível. As esferas de luzir cintilantes percorriam a casa, e dentro o longínquo reflexo das fadas. O coaxar dos sapos começou, dando inicio ao festim infernal; alguns momentos uníssono, em majestosa harmonia com o acalanto elemental dos seres etéricos que cantam os hinos do reino animal. A sinfonias estendia-se noite adentro, quando os bramidos dos sapos asquerosos atingiam vibrações elevadas e imperceptíveis. O cantarolar despertou o espírito dos mortos, advindo a catarse noturna das almas maléficas, num rito profano das bestialidades carnais. Temeroso as ocorrência, a ignição do meu retorno foi dada, voltando bruscamente do mundo dos sonhos, para onde o canto dos sapos era o simples coaxar.

Wellington Paisano Jato norwayshit@hotmail.com.

(kabukiman):

Contato

com

o

autor:


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O Sinistro Leonardo Adriano Ragacini

M

eus olhos petrificados pelo medo se comprimiam como se pudessem apagar

aquela visão. Sabia que minha hora havia chegado, mas não estava pronto para “descansar em paz”. A morte se aproximava de mim tentado me segurar inutilmente. Gritava meu nome através das lápides. Ela poderia ser rápida, porém nunca poderia caçar um espírito sem corpo como o meu. O enorme cão negro de olhos de fogo e presas afiadas como ossos que me perseguia era seu aliado. Maldito guardião da morte, tão odioso como seu pai Cerberus. O nojento Sinistro me perseguia pelo cemitério sem descanso. Não faltava muito para chegar aos portões do cemitério e estar livre novamente para possuir os mortais e fazê-los meus fantoches de carne. Indo o mais rápido possível não conseguia fazer o Sinistro desistir. Ele me perseguia implacavelmente arrebentado as sepulturas com sua força. Um forte puxão violento me lançou para trás quando estava perto de passar pelos portões da liberdade. O sinistro havia me pegado. O pior castigo sofrido por uma alma apanhada pelo Sinistro é saber que ao ser dilacero por ele se sofre a mesma dor da carne viva.

Leonardo Adriano Ragacini: Um jovem escritor de 19 anos que escreve desde 12 anos, Criaturas da noite fria de sangue quente é seu primeiro livro e será lançado dia 18/03/09. Sua mete e atingir o máximo dos seus sentimentos no que escreve ao ponto de levar o leitor com ele nas suas viagens sombrias e picantes e mitológicas. Contato com o autor: Leo89_adriano@hotmail.com.


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Visita Noturna Leonardo Brum

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uando voltou a si, tentou gritar, mas sua boca exalou apenas um murmúrio

seco. Não conseguia se mexer. Seus olhos doeram à luz cegante sobre ele. Então a luz se arrefeceu, e ele pôde perceber que estava nu, deitado sobre uma mesa de metal. Viu-se no que parecia ser uma sala de cirurgia, e duas criaturas de aparência hostil manuseavam instrumentos metálicos pontiagudos. Dois olhos imensos e penetrantes puseram-se sobre ele, ao que estremeceu. Não possuía nariz nem orelhas. No lugar da boca, apenas uma saliência. “Socorro!”, gritou em pensamento, e começou a chorar. O coração dava pulos sobre o peito. A criatura parecia sondá-lo, e trocava olhares expressivos com as outras. Uma pinça com extremidade em forma de cuia foi inserida em seu olho esquerdo. Uma haste, mais fina, com cerca de 30 centímetros de comprimento, foi erguida por uma das criaturas. Quis gritar de novo, e tossiu pelo esforço inútil. “Meu Deus”, pensou, entregue ao próprio desespero. “O que vão fazer comigo?” “Acalme-se, criança”, um pensamento invadiu-lhe a cabeça. “Seu deus não está aqui”.

Leonardo Brum: Mineiro de Belo Horizonte, autor do livro de suspense Um Mundo Perfeito, publicado recentemente pela Editora Novo Século. Nas horas vagas, vem se dedicando à finalização do segundo livro, uma história de vampiros. No site do autor existe o Portal UFO, que traz a análise dos casos mais importantes envolvendo discos voadores e abduções no Brasil e no mundo. O endereço é www.leonardobrum.com.br.


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Insert a Coin oin-cidência M. D. Amado

S

omente quando comecei a descer as escadas é que me dei conta da

coincidência. Estava vestindo uma camisa com a estampa do rosto de Frankenstein. Minutos antes estávamos, eu e um amigo, conversando pela internet sobre pessoas que sentem medo ao ler contos e livros de terror ou histórias de fantasmas. Ele dizia que até então só teria sentido medo do livro Frankenstein. Pouco antes havia chegado de viagem e subi com as malas, mochila com notebook e uma sacola nas mãos. Deixei cair minha carteira e algumas moedas rolaram pela escada. Incrível como a combinação: piso em granito, moedas e chinelos podem causar um acidente. No dia seguinte, pela vidraça que dá para o estacionamento, meus vizinhos viram meu corpo estirado no chão ao pé da escada. Veio a polícia, vieram os curiosos, veio a família. Chamaram o rabecão. Nome do motorista: Frank.

M. D. Amado: Analista de sistemas, mineiro de Belo Horizonte, 40 anos. Mantém o site Estronho e Esquésito, onde, dentre outras coisas, abre espaço para novos escritores de fantasia e ficção. Possui contos publicados nos livros Necrópole Vol II e Paradigmas Vol I, além de vários contos espalhados pela internet. Seus textos podem ser encontrados em www.estronho.com.br/md.amado.


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Sob a visão que não enxerga M. J. Borghi

A

lguém sentado no fundo de um vagão de trem parece dormir, porém na

verdade está morto. Causa natural? Não, foi assassinado por envenenamento e, deixado encostado no banco contra a parede lateral do trem. O assassino era um profissional contratado para apagar aquele homem, que era um incomodo para alguns poderosos. Tal assassino era um químico produtor de drogas. Já fazia algum tempo, que tal químico havia elaborado uma droga mortal; um veneno natural, que sumia do corpo, depois do efeito que gerava a morte, parecendo que o usuário teve ataque cardíaco. Tal droga já havia feito outras vítimas além daquele pobre sujeito. As viagens do trem iam e vinham e, pessoas distintas entravam e saiam do trem, mas levou mais de duas horas para alguém ver além da superficialidade e notar o morto.

M. J. Borghi: é o pseudônimo de Marcelo Jacomo Borghi, designer detentor de uma nova técnica de construção de objetos tridimensionais, pioneiro da sustentabilidade em seus projetos. Publicou nas antologias: caminhos do medo e o livro negro dos vampiros, ambos da Andross editora e no Terrorzine I e II. Contato com o autor: marcelo.borghi@gmail.com.


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Deixe uma luz acesa Maurício Montenegro

E

u ainda gritava desesperadamente quando ele entrou no quarto e acendeu a luz.

Sentou ao meu lado e enxugou minhas lágrimas, me abraçou e em seguida levantou meu rosto carinhosamente. - Não tenha medo. Já acabou. O que aconteceu dessa vez? - Estavam aqui. Parados em frente á minha cama. Olhando de forma tão fria e acusadora que dava para sentir a maldade. A todo o momento chegavam mais e mais... Uma verdadeira legião... - As lágrimas voltaram e meu corpo tremia. - É o stress da separação. A mudança para uma nova casa e uma nova vida está mexendo com você. – ele se levantou - Não tem nada aqui. Nem aqui. – falava com segurança enquanto mostrava o interior do guarda-roupa e o banheiro contíguo. – Agora volte a dormir, está bem. Estou muito cansado. - Daniel? - Sim, mãe. – parado no umbral da porta meu filho de seis anos sorria amavelmente. Ele sumiu de casa há dois anos e voltou quando vim morar aqui. - Deixe uma luz acesa, por favor.

Maurício Montenegro: nasceu no Rio de Janeiro e escreve desde os nove anos de idade. Atualmente está trabalhando num livro de contos a ser lançado ainda esse ano. Ele mora em São Paulo com a esposa e um filho. Contato com o autor: mauricio.js@itelefonica.com.br.


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Na Caverna de Santana Miriam Santiago

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aulo e Roberto conduziram o grupo até o alojamento e retornaram para a Trilha

do Betari; de volta à caverna de Santana e ansiosos para ultrapassar os 800 metros permitidos. -Ei Paulo, já estamos aqui há mais de 60 minutos, minha lanterna está começando a falhar e ... De repente o breu tomou conta. Na pressa, esqueceram as pilhas reservas. Sem saber o que fazer, os rapazes começaram a retornar pelo caminho, tatiando na imensa escuridão. Com muitas galerias e labirintos e repleta de estalactites e estalagmites, até com iluminação é difícil percorrer. Um estrondo e um grito... Roberto havia caído e teve fratura exposta em uma das pernas. -Paulo, o que vamos fazer agora cara? Eu não lembrei de avisar o grupo. -Eu também não. É melhor você permanecer aqui e eu vou tentar sair e trazer ajuda... Depois de três dias policiais e moradores conseguiram achar os rapazes. Um deles estava morto próximo da saída, havia batido a cabeça e com a perda de sangue, morrera em baixo de uma estalactite. O outro, mais longe, falecera do mesmo jeito. -Não consigo entender, dois guias experientes. Por que tanta irresponsabilidade? -É seu guarda, falou o morador rural, chegou a hora deles e quando Deus chama, não tem explicação!

Miriam Santiago dos Santos: é jornalista e trabalha em Assessoria de Comunicação. Está cursando Letras na Universidade Metodista. Participou das antologias: “Livro Negro dos Vampiros”, 2007, “A Mulher Japonesa Imigrante”, 2008 e “Histórias de uma Noite de Natal”, 2008. Contato com a autora: mirianmorganuns@hotmail.com/ miriansssantos@gmail.com.


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Ardor Ricardo Delfin

M

enina travessa,

sempre brincou com fogo. Os pais não mais reclamam.

Ricardo Delfin: formado em Processamento de Dados e Cinema, publicou contos em quatro antologias. Contato com o autor: rick.delfin@yahoo.com.br.


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O Demônio no Quarto Rodrigo Araujo

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e cima mesa eu pego a faca, ainda suja de gordura, vou de mansinho ao

quarto. Ela cochila, puxo de leve o cobertor, e com um só golpe transformo a utilidade doméstica na arma que me liberta. Acordo de sobressalto, e ela: – Que foi, amor? – Nada não, aquele meu sonho de sempre, sonhei que caía. Ela vira e dorme, eu fico na vigília. Olhos abertos, cuidando dos demônios do escuro.

Rodrigo Araujo: Curitibano. Em 2008 publicou o e-book de microcontos intitulado “inferninho”, disponível no site Recanto das Letras. Não gosta que acentuem seu sobrenome, não cursa Letras, não ganhou nenhum concurso, não usa sapatos marrons. Contato com o autor: othenada@yahoo.com.br.


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Telefonema Rúbia Cunha

A

rrancada do sono, atendo ao telefonema. Coração acelerado na incerteza do que

seria escutado. Um alô receoso, acompanhado da angústia, leva meu corpo ao chão, ansiando pela resposta muda. A dor ao peito aumenta em desatino, cravando garras ao membro quase desfalecido. Mente girando em turbilhão de pensamentos, gritando por uma segurança breve, que seja. Mãos que se fecham mais fortes ao aparelho, contraditório ao corpo já trêmulo. Imaginação que alimenta monstros no decorrer do tempo e um breve lampejo arranca-me do sono ao tocar do telefone em que eu escuto sua voz mais uma vez.

Rúbia Cunha: Residente em Brasília, Distrito Federal, possui três publicações em antologias pela Andross Editora e quatro pelo Terrorzine do Portal Cranik. Mantém sua contribuição para os sites, elefantebu.blogspot.com/, asasnegrastyr.blogspot.com. Contato com a autora: rubia.cunha@gmail.com.


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Los Desalmados Sergio Gaut vel Hartman

-S

e terminaron.

- ¿Cómo? - ¿Es sordo? Se terminaron, no hay más almas. Los que nacen son más que los que se van muriendo y en el depósito no queda un alma. - ¡Es inaudito! La primera vez que pasa algo así. - ¡Por favor! Pasa todo el tiempo, en este ciclo, en los anteriores. ¡Cómo se nota que usted es nuevo aquí! - La ineficiencia debería ser castigada, ¿no le parece? - Cháchara. ¿No se le ocurrió pensar que el jefe hace eso a propósito, que obedece a un plan cuidadosamente diseñado?

Sergio Gaut vel Hartman: nació en 1947 en Buenos Aires, Argentina. Publica desde 1970 en revistas y antologías. Entre sus libros se cuentan Cuerpos descartables (relatos) y El universo de la ciencia ficción (ensayo). Dirige la revista digital Sinergia, tres blogs de minificciones y ha compilado Los universos vislumbrados 2, Grageas, Desde el Taller y Mañanas en sombras.


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Entrevista Ademir Pascale entrevista o escritor Felipe Colbert. Ademir Pascale: Como foi o início e as principais influências de Felipe Colbert para o meio literário? Felipe Colbert: O início foi como o de todo leitor em potencial, o sonho de escrever e publicar sua obra. Sempre gostei de suspenses literários, devo ter lido em minha juventude quase toda a obra de Agatha Christie, embora não tenha seguido sua influência. Não envolvo tanto mistério em meu primeiro livro, e sim, uma boa dose de suspense e ação ininterrupta. Fica muito difícil eu comparar meu estilo literário a de outros autores, porque acho que tirei um pouquinho de cada obra que li e admirei. Ademir Pascale: Como foi o processo de criação e enredo da sua obra “A entrevista ininterrupta” (Novo Século)? Felipe Colbert: O filete do enredo veio de repente. Lembro que estava dirigindo quando surgiu a idéia, e assim que parei o carro, anotei em meu celular para não esquecer. Ficou rondando em minha cabeça por algum tempo. Durante este período, fui amadurecendo a estória, os personagens, o ambiente. É lógico que muita coisa mudou durante o processo da escrita, mas a idéia original está lá, foi mantida desde o início. Ademir Pascale: Como os interessados deverão proceder para adquirir um exemplar da sua obra autografada? Felipe Colbert: Basta entrar no meu blog (felipecolbert.blogspot.com) e preencher o formulário. Depois disso, entro em contato e finalizo o pedido. Todos os leitores recebem o livro com dedicatória e marcador de páginas personalizado. Ademir Pascale: Você saiu do Rio de Janeiro para morar em São Paulo. No seu ponto de vista, é mais fácil encontrar editoras, publicar e divulgar um livro em nosso estado ou não existe diferença? Felipe Colbert: Eu acredito que não exista diferença entre as cidades, e sim, entre Regiões. O eixo Rio-São Paulo concentra a maioria das editoras, e o deslocamento acaba se tornando mais fácil. Porque você tem que conhecer a Editora e o editor pessoalmente, bem antes de assinar um contrato. A visita deve acontecer no processo de negociação, para não ter arrependimentos posteriores. Ademir Pascale: Existem novos projetos em pauta?


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Ademir Pascale e Elenir Alves (org.) Felipe Colbert: Sim. Já iniciei um novo livro. Pretendo seguir a linha suspense, misturado com show business. Vou focar minha carreira nisso. Porém, não devo publicar antes de 2010. Ademir Pascale: Quais são as dicas que você daria para os novos escritores que desejam publicar os seus textos em uma editora? Felipe Colbert: São muitas, desde o momento em que se escreve até a divulgação da obra. Se fosse resumir, eu diria: escreva sem pressa, procure bons profissionais para avaliar seu texto antes de encaminhá-lo as Editoras (principalmente uma leitura crítica), e finalmente, deixe a Editora tomar as rédeas do projeto. Eles vivem de vender livros, então sabem exatamente o que devem fazer. E depois de publicar a obra, não se esqueça: faça também a sua divulgação pessoal. Ademir Pascale: Qual é a sua visão do mercado editorial brasileiro? Está sendo fácil publicar? Felipe Colbert: Não, não é fácil, mas também não é impossível. Existem basicamente dois caminhos para se publicar uma obra: por demanda ou cair “nas graças” de uma Editora. Eu procuro ajudar sempre os que me perguntam como eu consegui publicar meu livro, dando dicas por e-mail, Orkut ou pelo meu blog. Agora, publicar é só o primeiro passo. O sucesso e tudo mais dependerão da sua competência e insistência. Mas isso vai vir com o tempo, só mesmo emplacando uns três ou quatro livros com boa vendagem no mercado. Ademir Pascale: Existem mais prestadores de serviços do que editoras comerciais que buscam a publicação de novas obras ou vice-versa? Felipe Colbert: O problema maior é que são poucas editoras assumindo o risco de publicar novos autores. A maioria só publica Best-sellers com alta vendagem no exterior. Isso abre espaço para quem presta serviços. Considero uma boa alternativa para quem pode bancar seu projeto, desde que esses profissionais sejam sérios e competentes. Acho que fica mais fácil chegar numa grande editora com um livro já publicado, mesmo que tenha sido sob demanda. Mas o grande problema fica por conta da distribuição dos livros. É aí que o projeto desanda, e não conheço nenhum profissional que efetue este serviço com presteza. Ademir Pascale: Onde os interessados poderão saber mais sobre Felipe Colbert? Felipe Colbert: Procurem-me no blog ou no Orkut. Não sou tão difícil de encontrar... e atendo a todos com o mesmo carinho e atenção! Perguntas Rápidas: Um livro: Sobre Meninos e Lobos (Mystic River) Um(a) autor(a): João Ubaldo Ribeiro Um ator ou atriz: Sean Penn Um filme: O Poderoso Chefão Um dia especial: O nascimento do meu filho Um desejo: Não ser esquecido


TerrorZine – Minicontos de Terror nº 08 Ademir Pascale e Elenir Alves (org.) Ademir Pascale: Desejo-lhe muito sucesso. Um grande abraço. Felipe Colbert: Obrigado a todos!

Crédito da foto: Arquivo pessoal de Felipe Colbert. Livro: A Entrevista Ininterrupta, Felipe Colbert – Novo Século.

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Entrevista Ademir Pascale entrevista o escritor Leandro Reis “Radrak”.

Ademir Pascale: Primeiramente, agradeço por ceder a entrevista. Gostaria de saber como foi o início de Leandro Reis “Radrak” na literatura. Leandro Reis: Foi uma montanha russa. Sempre fui da área de exatas e me formei como Analista de Sistemas. Não me imaginava escrevendo livros. Até 2005, eu lia e escrevia muito pouco, sem pretensão alguma, brincando com as palavras aqui e ali para criar lugares, personagens e culturas. Mas o gosto pela “arte” veio rápido. Em dois anos tudo mudou e me vi, em 2007, com produção máxima de contos, materiais para meu mundo, o primeiro livro em avaliação pelas editoras e o segundo saindo do forno. Algo que era um hobby e casual tornou-se sério e agora faz parte da minha vida. Ademir Pascale: “Radrak”?

Por

que

o

apelido

Leandro Reis: Radrak foi o primeiro personagem que criei em Grinmelken, o marco zero. Era um mortal, filho de um dragão que acabou sendo venerado como deus, por um sacrifício. É um personagem que e gosto muito, por representar sabedoria e ser um defensor da vida. Passei a usá-lo como apelido nas conversas da internet e agora muitos me conhecem como tal. Ademir Pascale: Você foi ou é influenciado por algum escritor? Se sim, qual? Leandro Reis: Quem não é? O mestre Tolkien me inspira. A roupagem que ele deixou de herança para a Alta Fantasia pode estar batida para alguns leitores, mas ainda me fascina de um modo que não sei explicar. Ademir Pascale: Como surgiu a idéia inicial do Mundo de Grinmelken e posteriormente a sua obra Filhos de Galagah? Leandro Reis: Sua concepção foi desenvolvida aos poucos. Não é segredo que joguei bastante RPG de mesa na minha adolescência e, de todos os gêneros, o de capa e espada sempre me atraiu mais. Como não gostava dos cenários prontos, iniciei a criação de reinos, paisagens e personagens. Isso aconteceu entre 98 e 2004, em um processo moroso, em que muita coisa não se aproveita. Quando comecei a escrever, bem mais maduro do que na época em que o criei, peguei os conceitos que julgava válidos e me esforcei para transformar tudo aquilo em algo fantástico. Filhos de Galagah e suas duas seqüências vieram naturalmente deste cenário, inspirado em uma história antiga e colocado no papel com uma visão mais madura da coisa toda. Esta saga é fruto do objetivo de contar esta aventura da minha cabeça e entreter os fãs do gênero. Ademir Pascale: Como os interessados deverão proceder para adquirir a obra


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Ademir Pascale e Elenir Alves (org.) Filhos de Galagah? Leandro Reis: O livro está à venda em várias livrarias, sendo as principais a Saraiva, Siciliano e Cultura (Lojas físicas e virtuais). Mas caso tenham qualquer dificuldade em adiquirir, é só entrar em contato comigo que providencio um exemplar. Ademir Pascale: Parabéns pelo criativo layout do site Grinmelken (www.grinmelken.com.br). Quando o mesmo foi ao ar? Leandro Reis: Obrigado, o layout foi desenvolvido pela Inote, empresa do meu amigo Silvio Borges. Alias, um trabalho que me agradou muito. Ele foi ao ar no meio de 2007, mas comecei a divulgar e atualizar seriamente, com contos principalmente, em Março de 2008. O site tem o objetivo de complementar as obras com curiosidades sobre alguns personagens e contos que são citados ao longo da história. Muitos são os elogios e cada vez mais me inspiro a publicar material nele. Aproveito para mencionar o trailer do livro, encontrado facilmente no Youtube se procurar por “Filhos de Galagah”. Este foi outro trabalho que me impressionou, executado com habilidade por meu irmão, Leonardo Reis. Ademir Pascale: Você enfrentou barreiras para publicar a sua obra? Caso sim, conte pra gente como foi. Leandro Reis: Sim. Acredito que todos aqueles que buscam por publicação enfrentam suas barreiras. Uma coisa que me ajudou foi o fato de realizar uma pesquisa de mercado, procurando entender como o sistema literário funcionava. Conversei com vários escritores e fiz uma boa pesquisa. Por fim, com base nas informações adquiridas, tracei alguns objetivos que julgava serem essenciais para destacar a obra. A primeira tarefa foi revisar meu material com um profissional. De longe o melhor investimento que fiz na obra, que corrigiu alguns vícios e me ensinou muito. Em paralelo, trabalhei no site para que as editoras pudessem acompanhar e se informar sobre Grinmelken. Aquele site seria minha vitrine para a editora e o público. Por fim, preparei um protótipo já no formato de livro, com capa colorida e boa apresentação e o enviei para as editoras. Admito que, mesmo assim, foram várias recusas. Ao todo foram quase dois anos de procura e espera até a Editora Idea aparecer e ler meu protótipo. Quando dei conta, o editor Rodrigo Courbe já estava me apressando para lançarmos a obra antes do Natal de 2008. Acredito que o material do site, o protótipo e todos os frutos gerados ao longo desta jornada possibilitaram a publicação. Enfim, tive a prova de que é preciso se esforçar para poder dar o primeiro passo neste concorrido mercado. Ademir Pascale: Quais são as suas dicas para os autores iniciantes que desejam publicar suas obras? Leandro Reis: Quando eu comecei me deram várias dicas, quatro das quais sempre repasso aos iniciantes que me procuram: 1 – Escreva contos! Trabalhe vários tipos e tamanhos. Eles são a melhor ferramenta para se aprimorar e tirar os vícios iniciais. Além de haver diversas comunidades e listas que promovem desafios e incentivam a escrita dos mesmos, avaliando resultados e dando dicas.


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Ademir Pascale e Elenir Alves (org.) 2 – Peça para desconhecidos lerem e opinarem sobre seus textos. Estas serão as opiniões realmente sinceras e proveitosas. Várias comunidades têm pessoas dispostas a ajudarem com nossos textos. 3 – Estude o mercado antes de pular nele. Saiba o que as editoras esperam das obras e o que esperar das editoras. Isso lhe dará paciência, argumentos e visão para tornar-se um bom escritor. Ademir Pascale: No seu ponto de vista, como está o mercado literário para a inclusão de novas obras da literatura fantástica? Leandro Reis: A literatura fantástica está em alta. Isto é visível nos catálogos das livrarias. Mas as obras nacionais ainda enfrentam dificuldades. Pouquíssimos são os escritores que conseguem a publicação sem pagar por ela e, aqueles que conseguem, tem que se movimentar dez vezes mais para tentar aparecer em meio ao forte marketing que as grandes obras, já consagradas, trazem consigo. Todavia, acredito que já foi pior. Nossa atual literatura fantástica saiu da estaca zero e tem sido bem representada por algumas pessoas que lutam, dia após dia, por ela. Por causa disto, tenho esperança que surjam mais “Andrés Viancos” nos próximos anos. Perguntas Rápidas: Um livro: A História sem Fim (Michael Ende) Um(a) autor(a): Tolkien Um ator ou atriz: Heath Ledger Um filme: Império do Sol Um dia especial: Meu casamento. Um desejo: Ver um Brasil orgulhoso de seus novos autores e a literatura nacional ser mais aceita que a estrangeira, fantástica ou não. Ademir Pascale: Desejo-lhe muito sucesso em suas empreitadas literárias. Um forte abraço. Leandro Reis: Eu agradeço a oportunidade. Desde que conheci o Cranik, acompanho as entrevistas e as suas empreitadas. Você é um dos soldados que lutam pelo nosso espaço e um exemplo a ser seguido. Um grande abraço e que os deuses nos tragam um futuro promissor.

Crédito da foto: Arquivo pessoal de Leandro Reis. Livro: Filhos de Galagh, Leandro Reis - Idea Editora.


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Entrevista Ademir Pascale entrevista o escritor M. D. Amado. Ademir Pascale: Primeiramente, agradeço por ter aceitado a entrevista. Gostaria de saber como foi o início da sua paixão pelo gênero horror. M. D. Amado: Eu que agradeço a oportunidade. Saiba que admiro muito sua iniciativa de estar sempre divulgando novos autores, sem se esquecer daqueles que já estão trilhando esse caminho há algum tempo. Bom, eu diria que o gosto pelo terror veio inicialmente dos filmes do gênero, assim também como os hilários filmes trash. Não sou um profundo conhecedor da arte, mas sempre gostei desde pequeno. Me lembro do Cine Trash da Band, que nos trazia maravilhosas pérolas cinematográficas e um programa na MTV também. Atualmente eu coleciono outro gênero: western. Já o gosto pelos livros de fantasia e terror veio somente bem mais tarde. Eu já tinha passado dos 34 anos – hoje tenho 40. Comecei de cara por Stephen King, Poe, H.P. Lovecraft e recentemente Ray Bradbury, que achei simplesmente sensacional. Ele mistura suspense, terror e ficção científica de uma forma bem interessante. Narrativa e diálogos naturais, que não deixam a leitura cansativa. Além disso, passei ai por Anne Rice, Bram Stocker e outros. Ademir Pascale: E como foi seu inicio para o meio literário? Fale sobre as suas publicações em antologias e sites. M. D. Amado: Comecei a escrever na mesma época em que comecei a ler sobre terror. Pra ser mais preciso, meu primeiro conto foi escrito no final de 2004. Era pra ser apenas uma brincadeira. Meio que incentivado pelos contos que eram publicados no Estronho (principalmente os contos de Richard Diegues, Camila Fernandes e Rita Maria Félix). Sem muitas pretensões, escrevi “Chovia muito naquela noite”. O retorno foi muito positivo. Os mesmos autores de quem eu era fã, acabaram me incentivando a escrever mais. Depois de alguns contos publicados no Estronho e em outros sites, fui convidado pelo Richard a participar do Necrópole Volume II (Ed. Alaúde). E agora também fui selecionado para o volume 1 da coleção Paradigmas (Tarja Editorial). Vale citar também que tenho minicontos publicados no Terrozine, desde a edição número 2. Aliás, devo lhe agradecer não só pela oportunidade de publicar, mas também por me “apresentar” aos minicontos. Nunca tinha experimentado e agora viciei (risos). Ademir Pascale: Conheci o site Estronho (www.estronho.com.br) em 2008, e aproveito o ensejo para parabenizá-lo pela iniciativa e excelente conteúdo. Como surgiu o site e porquê o nome Estronho?


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Ademir Pascale e Elenir Alves (org.) M. D. Amado: Cara, é muito legal falar do Estronho, porque ele está na internet desde setembro de 1996 e já passou por altos e baixos várias vezes. Ganhou prêmios, se classificou algumas vezes entre os primeiros colocados no iBest (na época em que o prêmio ainda fazia algum sentido), foi muito copiado no início e também teve momentos de puro esquecimento. Hoje anda por ai, meio no undergroud, mas com um público fiel. Começou meio que por acaso. Eu estava aprendendo a mexer com internet e HTML e queria montar um site qualquer. Um dia, lendo o jornal Estado de Minas (no papel mesmo), vi uma notícia com o seguinte título: “Presidiário japonês se mata engolindo um rolo de papel higiênico”. Além de rir muito, achei aquilo maravilhosamente inusitado. Então tive a idéia de montar um site com coisas esquisitas. E tinha um amigo meu de BBS (nem tinha internet direito ainda) que tudo que achava estranho, ele dizia que era ESTRONHO. Daí coloquei o nome de Estronho e Esquésito. No início o forte do site eram os mistérios cotidianos, nomes estranhos, leis esquisitas, fotos estranhas e causos e lendas de assombração. O primeiro conto de ficção publicado foi em outubro de 1996, um conto da Shirlei Massapust. E que até hoje está no site. De uns quatro anos pra cá, comecei a dar mais ênfase aos contos e abrir cada vez mais esse espaço para a literatura. Divulgo não somente os contos, mas também os livros, fanzines, blogs e sites de autores de fantasia, terror e FC. E também qualquer projeto que incentive a literatura e/ou o cinema alternativo (como os infinitos sites, blogs e comunidades do Iam Godoy, da Ravens House Brasil – risos – Não sei como ele consegue tomar conta de tanta coisa ao mesmo tempo). O Estronho está sempre aberto a parcerias e a novos autores. É só entrar em contato (oguardiao@estronho.com.br) Ademir Pascale: Qual é a sua visão referente aos zines amadores digitais e impressos? M. D. Amado: Admiro e respeito muito o trabalho de todos, inclusive o seu e da Elenir, com o Terrorzine. Sem dúvida alguma é uma excelente ferramenta de divulgação para quem, como eu, está querendo colocar a cara a tapa. Mostrar a que veio. Eu mesmo conheci novos autores através do Terrorzine, do Flores do Lado de Cima e do Funhouse. Há inclusive no Estronho um tópico de divulgação para fanzines gratuitos. Em breve vou abrir para os pagos também. Ademir Pascale: E qual a sua opinião referente a aceitação das editoras na publicação de novos escritores? M. D. Amado: Bom, eu não estou muito interado de uma forma geral. Sei por alguns amigos, que a coisa não é tão fácil e muitos partem para a edição independente, o que eu também devo fazer em breve. Acho válida a iniciativa das antologias de algumas editoras. Embora ainda tenhamos que pagar para publicar, é sem dúvida um caminho mais fácil e eficiente para mostrar o trabalho. Só acho que falta mais divulgação nas prateleiras. Pelo menos aqui em Belo Horizonte, quase não se vê nada do gênero, de autores brasileiros, exceto do André Vianco. Ademir Pascale: Você está trabalhando em um livro seu de contos. Poderia falar pra gente como está sendo o processo? M. D. Amado: É uma coletânea de contos sobre a morte, sob diferentes pontos de vista. Tento mudar um pouco o preceito de que a morte é aquela velha senhora segurando uma foice e assustando criancinhas. Alguns contos são não inéditos, pois já publiquei em alguns sites por ai, mas mesmo estes, foram reescritos e melhorados. Está em fase de revisão e a capa também está pronta, mas ainda devo inserir mais alguns contos. Não tenho editora para esse projeto e talvez eu lance somente no final do ano de forma independente mesmo. Alguns desses contos foram adaptações de fatos que ocorreram comigo e com amigos, só que com finais obviamente fantasiosos e por isso mesmo não pretendo modificá-los em sua essência. Por isso prefiro não publicar através de editoras, pois sei por experiência


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Ademir Pascale e Elenir Alves (org.) própria que muitas coisas acabam sendo modificadas pelo editor. Em outros trabalhos que pretendo lançar, não me importaria que houvesse uma edição/modificação do texto, mas nesse livro especificamente eu prefiro que seja assim, do meu jeito. Ademir Pascale: Além deste livro de contos, você está envolvido em outros projetos? M. D. Amado: Sim. Tenho um projeto que ficou engavetado por quatro anos e que agora estou finalizando. Um enredo que mistura romance, feitiçaria, terror e fantasia. Começa na idade média e se arrasta por mais alguns séculos. Inicialmente era pra ser um livro apenas, mas tenho amadurecido a ideia de transformá-lo em uma série de dois ou três volumes. Também venho trabalhando em uma história que se passa dentro de um velho sebo, onde coisas estranhas acontecem a quem lê determinados livros, indicados pela misteriosa filha do livreiro. As pessoas passam pela experiência de viver as histórias e algumas não conseguem se livrar da fantasia em sua vida real. Além disso, continuo escrevendo meus contos e publicando no meu blog, que fica junto com o Estronho (www.estronho.com.br/md.amado) e estou tentando participar de algumas antologias (fui recentemente recusado em uma delas – risos – mas isso faz parte). Perguntas Rápidas: Um livro: Pilares da Terra – Ken Follett Um(a) autor(a): Ray Bradbury Um ator ou atriz: Selton Melo Um filme: Era uma vez no oeste Um dia especial: Todos aqueles em que recebo o sorriso de meus filhos Um desejo: Levar uma vida tranquila e poder continuar escrevendo, escrevendo, escrevendo... Ademir Pascale: Desejo-lhe muito sucesso. Um grande abraço. M. D. Amado: Ademir, muitíssimo obrigado mais uma vez por essa oportunidade. Ainda estou engatinhando como escritor e sei que tenho muita coisa pra aprender. E justamente por viver esse lado de iniciante a procura de espaço, é que me permito dizer o seguinte: acredito que o caminho para que a literatura fantástica no Brasil obtenha algum sucesso e cresça cada vez mais, é exatamente através de iniciativas como a sua, como a dos editores de fanzines e revistas que temos hoje no Brasil. Também de blogs e sites de autores, que podem se unir e divulgar o trabalho de todos. Tenho visto isso acontecendo com novos autores. Acho que é bem por aí, afinal não podemos nos dar ao luxo de sermos egoístas ou metidos a escritores, sem nos unirmos para divulgar o gênero. Infelizmente algumas pessoas deixam um pouco de “quase sucesso” subir à cabeça, viram “estrelinhas” e não participam dessa nossa “luta”. E claro, vou deixar a modéstia de lado, pois sei que o Estronho também tem um papel importante nessa divulgação. Aproveito para convidar aqueles que ainda não o conhecem. Tragam seus contos e divulguem seus livros. A única coisa que peço em troca é a divulgação do próprio site, para que mais pessoas possam conhecer a obra de todos. Abraços horripilantes!

Crédito da foto: Arquivo pessoal de Gerson J.V. Couto. Livro: Hemisfério-Dorso, Gerson J.V. Couto. Editora Multifoco.


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Invasão Fic Science Edition PARTICIPE DA COLETÂNEA DE FICÇÃO CIENTÍFICA “INVASÃO” A Giz Editorial, selo sediado em São Paulo, e o organizador cultural Ademir Pascale, o convidam para fazer parte do livro INVASÃO. INVASÃO será uma obra do gênero ficção científica que reunirá próximo de 26 textos, novelas ou contos, selecionados pelo organizador Ademir Pascale. O tema INVASÃO já nos remete ao conteúdo da obra, ou seja, o planeta Terra sendo invadido por seres hostis. O organizador Ademir Pascale, no entanto, resolveu deixar algo mais amplo que a clássica obra A Guerra dos Mundos de H. G. Wells, assim as histórias inscritas poderão conter tanto enredos com alienígenas, como robôs, personagens de outras dimensões, insetos gigantes, viagens no tempo e espaço, etc., desde que seja relacionado com o tema principal: INVASÃO. Com prefácio de Roberto de Sousa Causo. As inscrições terminam no dia 30/04/2009. Leia o regulamento completo na página: http://www.gizeditorial.com.br/site/index.asp?pag=93 Comunidade no Orkut: Invasão - Fic Science Edition Para mais informações sobre a coletânea Invasão, envie um e-mail para: universofantastico@gizeditorial.com.br


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Dicas de Livros DIPRESTO E A ILHA FANTASMA GUSTAVO BARCAMOR O livro conta o início da saga de Valfrido DiPresto, um garoto bardo que tem sua vida virada do avesso, após perder a família e encontrar um alaúde misterioso e incomum. Com a morte da mãe e a destruição de sua pequena ilha natal pelas mãos dos piratas, DiPresto vê-se a bordo de um navio da Guarda dos Mares, comandado pelo pomposo capitão Lurrone. Descobrindo que corre perigo, o jovem bardo inicia então uma vertiginosa jornada por mares traiçoeiros e ilhas misteriosas, na busca por seu pai desaparecido e por pistas que decifrem a estranha ligação entre toda aquela série de tragédias e o enigmático alaúde que ele carrega. Junto de novos e antigos amigos, como Jade Lurrone (a inteligente alquimaga), Sorfidis Murtod (o corajoso garoto caolho), Elen DiLumis (a menina dos olhos de águia), Pudim (um papagaio com extenso vocabulário), Múrcius (o cozinheiro porcalhão) e outras figuras nada comuns, Valfrido DiPresto viverá grandes aventuras, percorrendo o fantástico arquipélago de Polímagus até chegar à Ilha Fantasma, uma terra sombria e abandonada onde podem estar muitas das respostas que ele busca. PRODUTO GRATUITO (DISPONÍVEL PARA DOWNLOAD) Páginas: 331 Para download, acesse: www.4shared.com/file/94779969/48803ac2/DiPresto_e_a_Ilha_Fantasma__1a_Edi o_.html ou peça no e-mail: barcamor@yahoo.com.br

AS FLORES DO MAL CHARLES BALDELAIRE O poeta crítico francês Baudelaire inventou uma nova estratégia da linguagem, incorporando a matéria da realidade grotesca à linguagem sublimada do romantismo, criando, dessa maneira, a poesia moderna. Suas poesias retratam a inquietude, o mal, o degredo e as paixões da alma humana. Em seus versos transpõe todos os prazeres que o homem pode desfrutar entre um e outro copo de vinho. Valor: R$ 9,40 ISBN: 8572324054 Páginas: 192 – Martin Claret Para adquirir, acesse: www.fnac.com.br


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DESBRAVADORES LAETA KALOGRIDIS Quinhentos anos antes de Colombo, brutais invasões vikings devastaram a América do Norte. 'Desbravadores' conta a história de um jovem garoto viking abandonado como único sobrevivente de uma expedição naufragada. Sendo um estranho numa terra estranha, o garoto é criado por uma tribo de índios americanos - o povo que os vikings juraram destruir. Quando os bárbaros desembarcam novamente nas praias do leste, em mais uma selvagem campanha, eles massacram a tribo que adotou o rapaz. E agora nosso herói trava uma violenta batalha pessoal para acabar com a trilha de morte e destruição dos vikings.

Valor: R$ 42,00 ISBN: 8575322710 Páginas: 152 – DEVIR Editora Para adquirir, acesse: www.livrariacultura.com.br

CRIATURAS DA NOITE FRIA DE SANGUE QUENTE LEONARDO ADRIANO RAGACINI Criaturas da noite fria de sangue quente é um livro composto por uma seleção de dez contos onde existe desde um canibal a fim de carne e sexo, a um lobisomen virgem e demônios variados como uma Veela inglesa. Poderosos seres em questões conflitantes; eles riem, matam, choram e mostram todo seu lado sangue quente, sem perder o seu instinto frio e calculista. Um livro rápido de ler com 66 páginas, com histórias envolventes e perfeitas para lhe acompanhar onde for sua expedição as trevas. Valor: R$ 12,00 ISBN: 9788560864355 Páginas: 70 – Virtual Books Para adquirir, acesse: www.virtualbooks.com.br ou adquira diretamente com o autor: leo89_adriano@hotmail.com


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MEMÓRIAS ANCESTRAIS – V1 EM: A MAGIA DE MOON EDNA VEZZONI No passado remoto da Terra, em um mundo primitivo, Clãs, antes nômades, principiam a se fixar em pequenas povoações. Lá, em seus primórdios, existe um Universo mágico, onde seres humanos, deuses, elementais e a própria natureza, convivem em total comunhão e dependência das forças mágicas. Ainda não existiam formas de escritas, tão pouco “leis” codificadas; homens e mulheres sábios, em contato direto com as divindades ancestrais, governavam as pessoas. Nos dias atuais, através das vivencias de Pina, Sacerdotisa da Grande Arte, contadas em manuscritos para sua bisneta Lidyane, este mundo começa a nos ser revelado. Kôlly, a velha louca dos charcos, Aeon, o primeiro druida e líder do povoado, Crow, o sacerdote, Nenúfar, a bela fada, Lórcan o pai de Estrell, Garcynia a curandeira e mãe de Crow, Iram, a serva de Aeon, Slain, o guardião da Grande Senhora; Lizandra, Caeley, Tessa, Monka, e, outros tantos personagens, tem suas vidas entrelaçadas pela teia do destino. Valor: R$ 64,38 ISBN: 9788578931384 Páginas: 350 – Biblioteca 24x7 Para adquirir, acesse: www.biblioteca24x7.com.br

A TERRA DOS VAMPIROS JOHN MARKS Ninguém sabe de Ion Torgu. Ele se esconde nas montanhas da Transilvânia. Sua aparência é horripilante. Seus desejos são uma ordem. Apresenta-se como chefe do crime organizado, mas seus negócios parecem ser muito mais sangrentos. A jornalista Evangeline Harker foi procurá-lo para uma entrevista. Acabou presa no verdadeiro inferno. Quando os vampiros pareciam ser apenas personagens de ficção, surge Fangland - A Terra dos Vampiros, o romance em que demônios reais ganham vida e assombram a cidade de Nova York. Ninguém está imune. Não há alho ou crucifixo que nos proteja de nossos próprios monstros.

Valor: R$ 49,90 ISBN: 8576653036 Páginas: 416 – Planeta do Brasil Para adquirir, acesse: www.livrariacultura.com.br *DIVULGUE A SUA OBRA NO TERRORZINE. SOLICITE INFORMAÇÕES SOBRE VALORES, ETC. ENVIE UM E-MAIL PARA: ademir@cranik.com


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Arte do Leitor

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Edgar Alan Poe (1809-1849)

Ademir Pascale

Elenir Alves

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® Todos os direitos reservados a Ademir Pascale e Elenir Alves – 2009 Cada autor responde pelo teor do seu miniconto, assim como plágio.


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