Constituição, ou morte! Líder do governo provisório de 1930, Getúlio Vargas suspendeu a Constituição de 1891 e dissolveu o Congresso.
Protestos eclodiram em SP. A escalada atingiu o máximo em 23 de maio de 1932, quando quatro manifestantes tombaram baleados na Praça da República.
Com as iniciais dos nomes dos quatro mortos, Miragaia, Martins, Dráusio, de 14 anos, e Camargo, batizou-se o movimento que uniu SP: MMDC.
O MMDC reuniu voluntários, treinou-os, armou-os e os vestiu com fardas. Foi a maior mobilização nacional: dos 135 mil soldados, 35 mil eram paulistas.
A Associação Comercial liderou as classes empresariais e promoveu campanhas como a do Ouro para o Bem de São Paulo e Capacetes de Aço.
Em 9 de julho, começaram os combates. Até a rendição, em 2/10, morreram 830 combatentes, muitos foram presos e 104, exilados. E a Constituição nasceu em 1934.
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DIÁRIO DO COMÉRCIO
terça-feira, 8 de julho de 2014 Ayrton Vignola/Folha Imagem
Rogério Amato
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m 9 de julho de 1932 eclodia em São Paulo o maior movimento cívico armado que o Brasil vivenciou até hoje. Os paulistas pegaram em armas para defender o direito à liberdade e pela Constituição, que o governo provisório de Getúlio Vargas, instaurado em 1930, protelava em conceder. Por essa razão, este movimento civil ficou conhecido como Revolução Constitucionalista. Não se queria a separação de São Paulo do Brasil, mas sim a convocação da Assembleia Constituinte, que redigiria uma nova Constituição. O idealismo movia a todos em torno da questão da consti- se a moralidade e a verdade do tucionalidade, um verdadeiro sufrágio e a convocação de frenesi envolvia toda a socieda- uma Constituinte em moldes lide paulista e conquistou apreço berais, de acordo com o sentide outras regiões do País, que mento público, com as tradiestavam inconformadas com ções nacionais e com o grau de os desmandos do governo dita- adiantamento da civilização torial. Neste brasileira”. Paulo Pampolin/Hype movimento, a No dia 23 Associação de maio desComercial de se mesmo São Paulo ano, na capi(ACSP) teve tal paulista, papel imporuma multidão tante como tomou conta elemento das ruas, praagl utina dor ças, viadutos das forças e janelas dos combatentes edifícios. O e como portapovo lotou a voz do anseio Praça do Pada sociedade t r i a r c a , s epaulista frenguiu em marte a um govercha pelo Vian o i n t r a n s iduto do Chá, gente R u a C o n s ePresidente Rogério Amato As Associalheiro Crispições Comerciais do Estado de niano e chegou ao Palácio dos São Paulo também participa- Campos Elíseos, então sede do ram ativamente deste movi- governo de São Paulo, onde mento, que lutava em defesa protestou. Ao cair da noite, mados valores que sempre nor- nifestantes reunidos na Praça tearam a atuação das entida- da República resolveram invades, conforme se constata no dir a sede da Legião RevolucioManifesto divulgado em 17 de nária, entidade tenentista fevereiro de 1932. Nesse Mani- transformada no Partido Popufesto, as entidades paulistas, lar Progressista. Tiros foram lideradas pela ACSP, pediam disparados contra a multidão, “a restauração do regime resultando na morte de quatro constitucional, mediante a de- jovens estudantes – Martins, cretação imediata de uma no- Miragaia, Dráusio e Camargo –, va lei eleitoral que asseguras- que ficaram imortalizados pela
Os ideais de 1932 ainda estão vivos sigla MMDC, símbolo da Revolução Constitucionalista. No dia 9 de julho o movimento ganhou as ruas da capital e do interior do Estado. Foi a maior mobilização militar que o País já assistiu, envolvendo um total de 135 mil soldados, dos quais apenas 35 mil paulistas. A inferioridade bélica dos paulistas era enorme. Houve batalhas sangrentas, a violência dos combates era assustadora. Dentre todos os que lutaram pelos ideais paulistas em 32, queremos destacar a figura de Carlos de Souza Nazareth, que na presidência da Associação Comercial de São Paulo tornouse o líder das classes empresariais em um momento dramático da vida do Estado. Sua atuação não se limitou apenas à mobilização da população, mas engajou a entidade de forma efetiva no Movimento Revolucionário, trabalhando na arrecadação de recursos, no alistamento de voluntários e na organização da logística, realizando campanhas importantes como “Capacetes de Aço para os Soldados Constitucionalistas” e a “Campanha do Ouro para o Bem de São Paulo”. Entre agosto e setembro os combates foram ferozes e a desvantagem dos paulistas frente às forças federais ficava cada dia mais evidente. Soldados de Minas Gerais atravessaram a fronteira e ameaçavam
as cidades de Cruzeiro e Campinas; tropas federais tomam Itapira (próximo a Mogi Mirim), Pinheiros, Lavrinhas e outras cidades do Vale do Paraíba. A última batalha ocorreu em Campinas, cruelmente bombardeada. Em 1º de outubro era assinado o armistício, com o fim da guerra. Após a rendição dos paulistas, Carlos de Souza Nazareth, juntamente com outros líderes do movimento, foi preso, enviado à Casa de Correção do Rio de Janeiro e depois exilado em Portugal, onde ficou por dois anos até o País restabelecer o regime democrático. Da prisão, após saber que seria deportado, Nazareth enviou mensagem para a diretoria da ACSP, concluída com a célebre frase, que tornou-se o seu lema: “Não esmorecer para não desmerecer”. Dois anos após o fim do conflito, Getúlio Vargas convocou a Assembleia Constituinte defendida por São Paulo. Ao regressar ao Brasil, Carlos de Souza Nazareth assumiu a presi-
dência da Companhia de Armazéns Gerais e mais tarde foi eleito deputado na Assembleia Estadual Constituinte. Deixou a política e se dedicou às atividades relacionadas com o comércio e a indústria. Foi presidente da Bolsa de Mercadorias de São Paulo (BMSP, que em maio de 1991 foi incorporada à BM&F). Neste 9 de julho, queremos lembrar aqueles que deram esforço, talento e até a vida pelos ideais de democracia e liberdade. Com base nos mesmos princípios e valores, continuamos lutando pelos mesmos objetivos de 32, de contribuir para um Brasil com liberdade, respeito aos direitos de todos, segurança e desenvolvimento econômico e social. ROGÉRIO AMATO É PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO (ACSP), DA FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES COMERCIAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO (FACESP) E DA CONFEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES COMERCIAIS E EMPRESARIAIS DO BRASIL (CACB)
Diretor de Redação Moisés Rabinovici
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Edição Carlos Ossamu
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A Revolução Constitucionalista Fotos: reprodução
Ruy Martins Altenfelder Silva
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dia 9 de julho marca o início da Revolução Co nsti tuc ion alis ta de 1932. É a data cívica mais importante do Estado de São Paulo. É preciso refletir sobre a atualidade do Movimento de 1932. Costuma-se indagar o que o Estado de São Paulo perdeu na Revolução Constitucionalista. Depende do conceito de perda ou de ganho. Se partirmos do princípio que a Revolução teve por semente a luta pelos princípios democráticos, pela defesa do Estado de Direito, São Paulo foi o grande vencedor. A Re v o l u ç ã o de 1932 teve o Acima, manifestação popular a favor de uma nova Casa de Miseriapoio de amplos Constituição; abaixo, homenagens aos heróis da córdia de São setores da socieRevolução – Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Paulo; Plinio Bardade paulista. reto, presidente Pa r t i c i p a r a m , do Instituto dos com espírito cíviAdvogados e coco, intelectuais, laborador do jorindustriais, conal O Estado de merciantes, São Paulo; min. operários, estuCosta Manso, dantes, além de p re s i d e n t e d o políticos ligados Tribunal de Justià Republica Veça do Estado de l h a o u Pa r t i d o S ã o Pa u l o ; S aDemocrático. muel Ribeiro, O foco era um engenheiro; Fasó: a luta antidibio da Silva Pratatorial. do, industrial. Dos preciosos E s s e d o c udocumentos remento, datado lacionados com de 13 de julho de a Revolução de 1932, concitava 32, vale a pena os brasileiros: destacar o Mani“Respeitemo f e s t o d o Po v o nos uns aos ouBrasileiro, substros. São Paulo lecrito, dentre ouvantou-se em art ro s , p o r: d o m mas pela lei, pelo Duarte Leopolnosso estremecido, arcebispo do Brasil. Brasileim et ro po li ta no ; ros nascidos em monsenhor GasSão Paulo, brasitão Liberal Pinleiros de todo o to, vigário geral de São Paulo; tor da Faculdade de Medicina; Brasil, assim como a espada curJosé Maria Whitaker, diretor Antônio de Almeida Prado, vou-se perante a lei, curvemodo Banco Comercial de São professor da Faculdade de nos uns aos outros pelo Brasil, Paulo; Francisco Pais Leme de Medicina; Antônio Carlos Pa- unido e forte, dentro da mesma Monlevade, diretor da Estra- checo e Silva, professor da Fa- lei. Brasileiro, ouvi o grito de nosda de Ferro Sorocabana; Gui- culdade de Medicina e diretor sa estremecida e angustiada Pálherme de Almeida, da Acade- do Hospital de Juqueri; Teodo- tria que nos chama. Não permitais mia Brasileira de Letras; Can- ro Ramos, da Escola Politécni- que a confusão provocada por altídio de Moura Campos, dire- ca; José Aires Neto, da Santa gum interessado nos separe. A
Manoel (SP). Fez seus estudos de ensino Médio no Colégio Mackenzie. No dia 23 de maio de 1932 encontrava-se na Praça da República, exercendo o nobre direito de cidadania, defendendo o estado democrático de Direito, quando eclodiu o conflito. Foi morto pelas forças da repressão, em consequência dos ferimentos recebidos naquela noite histórica. DRAUSIO MARCONDES DE SOUSA (D), filho de um farmacêutico, com apenas 14 anos de idade, participou da maniConstituição nos unirá a todos e festação ocorrida em São Paulo, na Praça da República, em um novo Brasil unido vencerá.” Va l e a p e n a t a m b é m re- 23 de maio de 1932, em prol do lembrar e homenagear os Estado Democrático de Direiquatro primeiros heróis de to. Foi mortalmente ferido a tiros. Apesar dos cuidados que 32 (MMDC): A N T O N I O A M E R I C O C A- recebeu, acabou falecendo no M A R G O D E A N D RA D E ( C ) , dia 28 de maio. Foram suas ulpaulistano, nasceu no dia 3 de timas palavras: “EU ESTAVA DESTINADO dezembro de 1901. Foi baleado mortalmente PARA ESTE SACRIFÍCIO. SE Leandro Moraes/Luz MIL VIDAS TIVESem plena Praça da SE, TODAS ELAS República, quanDARIA PEL A NOdo participava e BRE CAUSA DA LIapoiava o moviB E RTA Ç Ã O D A mento dos paulisT E R RA Q U E M E tas pela defesa do VIU NASCER.” Estado DemocráReverenciemos tico de Direito. todos os que partiEUCLIDES BUEciparam deste hisNO MIRAGAIA (M), tórico Movimento paulista de São Joe, principalmente, sé dos Campos, os que tombaram nasceu no dia 21 na frente de batade abril de 1911. Ruy Martins lha. Eles não morMiragaia estuAltenfelder da Silva re r a m à t o a p o r dou na Escola de Comércio Carlos de Carvalho São Paulo, pois clamaram por e trabalhou com seu tio como legalidade e liberdade. A luta e os ideais do Moviauxiliar de cartório. Encontrava-se na Praça da Repúbli- mento Constitucionalista de ca, no dia 23 de maio de 1932, 1932 não foram em vão. A daapoiando o movimento em ta de 9 de julho não pode desaprol do Estado Democrático parecer do calendário dos que de Direito. Foi abatido a tiros amam a liberdade. pelas forças da repressão, no levante dos paulistas contra RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA É PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA o governo provisório de GetúDE LETRAS JURÍDICAS (APLJ) E lio Vargas. DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO MARIO MARTINS DE ALMEIDO CENTRO DE INTEGRAÇÃO DA (M), nascido em 8 de feveEMPRESA ESCOLA (CIEE) reiro de 1901, na cidade de São
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Os principais líderes do Movimento foram presos; abaixo, no centro, Carlos de Souza Nazareth e Pedro de Toledo.
Com seu presidente Carlos de Souza Nazareth à frente, a entidade assumiu inúmeras tarefas para auxiliar o movimento revolucionário
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Associação Comerc i a l d e S ã o Pa u l o (ACSP) teve um papel de destaque no Movimento Constitucionalista de 1932, em particular pela corajosa atuação de seu presidente na época, o empresário Carlos de Souza Nazareth, que assumiu o comando da entidade em 11 de fevereiro de 1932. O Brasil passava por um momento delicado: na economia, a quebra da Bolsa de Nova York teve reflexos extremamente negativos nas lavouras de café, principal produto de exportação do Brasil; e na política, o País vinha sendo dirigido por um governo provisório, chefiado por Getúlio Vargas, que, para se manter no poder, adiava a formação de uma Assembleia Constituinte para a redação de uma nova Constituição. A ACSP articulou um amplo movimento, chamado Liga Paulista Pró -Constituinte, que serviu de apoio à Frente Única Paulista (FUP), fruto da união entre membros do Partido Republicano Paulista (PRP) e Partido Democrático (PD), que tinha como principais reivindicações a autonomia de São Paulo, a nomeação imediata de um interventor no Estado que fosse paulista e civil (no que foi atendido) e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. A Liga congregava dezenas de entidades representativas do Estado, que assinaram um manifesto em que se comprometeram a não pagar impostos federais e estaduais até que as reivindicações fossem atendidas. Ela também organizou um gi-
A ACSP em defesa da Constituição
gantesco comício na Praça da Sé, no dia 24 de fevereiro do mesmo ano, que reuniu mais de 100 mil manifestantes. É indiscutível a relevância da atuação da ACSP junto ao Governo Provisório até a intervenção do embaixador Pedro de Toledo, que embora há muito tempo afastado do Estado, mereceu o apoio da FUP e acabou aderindo ao Movimento Constitucionalista. No dia 22 de maio, Getúlio Vargas enviou o seu ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha, para se reunir com o interventor Pedro de Toledo. Temia-se que a intenção era pressionar a formação de um secretariado tenentista, alinhado com a ditadura de Vargas. Várias manifestações ocorreram na cidade. No dia 23 de maio o movimento ganhou proporções gigantescas. A ACSP conclamava o comércio a fechar suas portas e a se juntar à multidão.
Nessa mesma noite, manifestantes reunidos na Praça da República tentam invadir a sede da Legião Revolucionária, uma entidade pró-Vargas. Foram recebidos a tiros. Morreram os jovens Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, imortalizados pela sigla MMDC. Em 9 de julho de 1932 estoura a Revolução Constitucionalista. Carlos de Souza Nazareth e os membros da diretoria da ACSP assumiram inúmeras tarefas para auxiliar o movimento. Foram responsáveis pelo controle de receita e despesa, além de serem um importante elo de comunicação entre governo e entidades de classe, comércio, indústria e agricultores. A ACSP foi a responsável pelas campanhas de produção de capacetes e de doação de ouro (Ouro para o Bem de São Paulo). Nazareth chefiou pessoalmente o Departamento de
Abastecimento e dirigiu outros serviços, que tinham o objetivo de promover a assistência à frente de combate e retaguarda, incluindo o auxílio às famílias dos voluntários. O presidente da ACSP chegou a fazer um apelo pela Rádio Educadora Paulista aos comerciantes e às indústrias para que não aumentassem os preços dos produtos e que garantissem o emprego e os salários dos empregados que desejassem alistar-se ao movimento. Tudo isso para evitar que a população fosse penalizada ainda mais com a situação. A campanha de alistamento civil foi intensa, utilizando-se de cartazes que foram fixados à porta de estabelecimentos comerciais. Os estabelecimentos que aderiram ao movimento ostentaram nas suas fachadas cartazes como o seguinte teor: “Todos os nossos empregados alistados no Exército Constituinte têm assegurados os seus lugares e garantidos os seus ordenados integrais durante o tempo da incorporação”. Entre agosto e setembro os combates foram ferozes e a desvantagem dos paulistas frente às forças federais era evidente. Soldados de Minas Gerais atravessaram a frontei-
ra e ameaçavam as cidades de Cruzeiro e Campinas; tropas federais tomam Itapira (próximo a Mogi Mirim), Pinheiros, Lavrinhas e outras cidades do Vale do Paraíba. A última batalha foi em torno de Campinas, que foi bombardeada. Em 1º de outubro é assinado o armistício, com o fim da guerra. Após a rendição dos paulistas, Carlos de Souza Nazareth, juntamente com outros líderes do movimento, foi preso, enviado à Casa de Correção do Rio de Janeiro e depois exilado em Portugal, onde ficou por dois anos até o País restabelecer o regime democrático. Da prisão, após saber que seria deportado, Nazareth enviou uma mensagem por telégrafo para a diretoria da ACSP, concluída com a célebre frase, que tornou-se o seu lema: “Não esmorecer para não desmerecer”. Ao regressar ao Brasil, Carlos de Souza Nazareth assumiu a presidência da Companhia de Armazéns Gerais e mais tarde foi eleito deputado na assembleia Estadual Constituinte até 1937. Deixou a política e se dedicou às atividades relacionadas com o comércio e a indústria. Foi presidente da Bolsa de Mercadorias de São Paulo (BMSP, que em maio de 1991 foi incorporada à BM&F). Carlos de Souza Nazareth faleceu no dia 28 de março de 1951 por problemas cardíacos. Seis anos depois, seus restos mortais foram transferidos para o mausoléu no Obelisco do Ibirapuera da Revolução de 1932.
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Heróis nos campos de batalha
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Além dos enormes prejuízos materiais, mais de 800 soldados paulistas perderam a vida em combates sangrentos
Revolução Constitucionalista tomou as ruas de São Paulo no dia 9 de julho de 1932 e já no dia seguinte, o ex-interventor Pedro de Toledo foi aclamado governador do Estado. Aguardava-se forte reação do governo ditatorial de Getúlio Vargas, por isso, nas rádios, os locutores convocavam voluntários para o combate. Na madrugada do dia 10, as Forças Revolucionárias Paulistas tomaram as linhas férreas, paralisando completamente o tráfego de trens. A medida se estendeu para os edifícios públicos estaduais e federais. Getúlio Vargas, em mensagem lida pelo rádio, afirmava que tinha a seu lado a Marinha e a guarnição do Rio de Janeiro e de todo o Norte, e que “preferia morrer de armas na mão a ser governado por paulistas”. A declaração acendeu os ânimos, fazendo com que o general Bertholdo Klinger se pronunciasse num telegrama ao general Góes Monteiro, afirmando que era preciso agir, pois a situação era pior do que há quatro anos.
Batalhas Dentre as áreas de confronto, destacou-se a região do Túnel da Mantiqueira, na fronteira entre São Paulo e Minas Gerais. Esta área era considerada estratégica para as tropas paulistas, que se empenharam em defender o local, pois permitia o controle do acesso à região sul de Minas Gerais. No dia 17 de julho, soldados do Movimento Revolucionário lutaram contra as tropas federais na região. As tropas getulistas avançaram pelo Vale do Paraíba. Cidades como Caçapava e Lorena foram tomadas, assim como outras cidades rebeladas foram derrotadas em seguida, como Itapira, Atibaia e Bragança Paulista. As notícias que eram publicadas na imprensa na época contavam os
Fotos: Reprodução
avanços e recuos de guerra. O fechamento das fronteiras do Estado dificultou a entrada de armamentos, principalmente o bloqueio do porto de Santos, que foi tomado pelos getulistas em 12 de setembro. Tal situação fez que esforços se concentrassem na produção de armas, munições, máscaras de gás, veículos blindados (trens, carros e lanchas), canhões e na constituição de recursos para que as tropas pudessem lutar. A desvantagem bélica das
Uniformes de combate dos soldados paulistas
tropas revolucionárias era enorme. Para ludibriar os inimigos, os paulistas criaram a “matraca”, que era um simulador do ruído das metralhadoras, que enganava os inimigos, que pensavam estar sob o alvo. Também com esse objetivo, foi criado o “canhão bres ser ia no”, um canhão que não disparava, mas que enganava nas observações aéreas. A debilidade de recursos das tropas paulistas era visível e os comandantes anteviram uma derrota. Em 14 de setembro, os revolucionários enviaram ao almirante Protogenes Guimarães, Ministro da Marinha uma proposta de armistício, que foi concebida por Bertoldo Klinger. O primeiro contato dos negociadores, dos dois lados, só aconteceria quinze dias depois, sem que a deposição de armas fosse acordada. Enquanto isso, a imprensa paulista, tendo como intenção manter a chama acesa da luta, destacava as vantagens do exército paulista em diferentes frentes. A derrota No dia 19 de setembro era publicado o protesto das associações de classe de São Paulo junto ao ministro Afrânio de Mello Franco. Manifestavamse contra o ato estúpido e bárbaro, cruel e desumano que foi o bombardeio da cidade de
A desvantagem bélica das tropas revolucionárias era enorme, não havia como resistir ao poderio das forças getulistas.
Campinas, praticado por aviões a serviço do governo ditatorial. Em 21 de setembro era noticiado o bombardeio de cidades abertas e de ambulâncias e hospitais da Cruz Vermelha, que manifestou o seu protesto contra os métodos de guerra que estavam sendo usados, fazendo vítimas crianças indefesas, ambulâncias que transportavam doentes e pessoas abnegadas que atendiam aos doentes. No mesmo dia, a incipiente força aérea paulista destruíram cinco aparelhos dos inimigos estacionados em Mogi-Mirim. O número de mortos cresceu nos embates que se seg u i r a m a t é 2 d e o u t u b ro , quando as tropas paulistas foram derrotadas pelo general Pedro Aurélio de Góes Monteiro. Os sinais de enfraquecimento indicavam que a via mais adequada para a questão era a solicitação de armistício. O governo, reunido com os comandantes militares e
representantes das associações comerciais, chegou à conclusão que não havia mais condições de continuar o confronto, tendo em conta a rendição da Força Pública Paulista, localizadas em Cruzeiro, que sem alternativas depuseram as armas. As tropas governistas ocuparam a capital paulista e impuseram uma perseguição inclemente aos revoltosos: a Revolução de 1932 terminara. O saldo era um prejuízo material elevado e a perda da vida de mais de 800 paulistas. Apesar da derrota, a impressa destacou a abnegação do povo paulista em não esmorecer e sempre lutar, como no passado havia ocorrido com os bandeirantes, referencial a ser ter como exemplo de perseverança. Para o novo governo provisório foi nomeado com o General Valdomiro Castilho de Lim a . N o d i a 3 d e o u t u b ro o MMDC foi dissolvido. A prioridade agora era dar assistência aos retirantes e às famílias dos combatentes.
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O povo paulista atendeu ao chamado
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esde os primeiros momentos da Revolução Constitucionalista, os paulistas fizeram doações de joias e objetos de valor que podiam ser transformados rapidamente em dinheiro. Estas contribuições eram para garantir os recursos necessários para a guerra, o que fez com que ACSP organizasse um sistema para a captação desses bens. Assim foi lançada a campanha “Ouro para o Bem de São Paulo”, também chamada “Ouro para a Vitória”, iniciativa encabeçada por Carlos de Souza Nazareth, presidente da ACSP na época. A campanha foi inspirada nas doações de ouro feitas pelos europeus durante a Primeira Guerra Mundial. A ACSP combinou com alguns bancos, como o Banco Comercial, Banco do Comércio e Indústria, Banco do Estado, Banco Noroeste e Banco de São Paulo, o recebimento das doações de joias, que eram feitas em guichês específicos. Em reconhecimento ao valioso gesto, os doadores recebiam um diploma de honra, onde constava o nome e a distinção de ter doado ouro para o bem de São Paulo. Membros de diferentes camadas sociais fizeram doações, unidos entorno dos ideais da luta. A campanha conquistou notoriedade e passou a ser um símbolo do desprendimento e da defesa da liberdade. A cada dia a Campanha do Ouro registrava o crescimento das doações e a comoção popular. Empresários, presidentes de entidades e religiosos vinham a público manifestar o seu apreço pela causa e conclamar o povo a aderir. Muitos deles fizeram doações expressivas, como a conhecida Condessa de Lara, que por meio do Banco Comercial, ofereceu um cheque polpudo de contos de réis. Antonieta Penteado da Silva Prado, dama
Doações para a campanha Ouro para o Bem de São Paulo ganharam notoriedade e garantiram recursos para a guerra
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Colar Carlos de Souza Nazareth
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Campanha Ouro para o Bem de São Paulo, iniciativa da ACSP.
d e s t a c ada da sociedade paulista, depositou donativos e objetos de arte de ouro e platina. José de Azevedo Marques, ex-ministro das Relações Exteriores, fez a doação de medalhas recebidas enquanto exercia o cargo de ministro do governo de Epitácio Pessoa. O maestro
Antão Fernandes doou a sua batuta de ébano com o qual regia o Hino Nacional em ocasiões solenes. Mas não era apenas a parcela mais abastada da população que fazia doações. Os jornais publicavam matérias comoventes, com o objetivo de sensibilizar as pessoas a contribuírem para a causa. O ideal patriótico era evocado, como o registro de uma aluna do Colégio Sagrado Coração de Jesus, Lygia Maria dos Santos, publicado no jornal O Estado de S. Paulo do dia 18 de agosto: “Sou pequenina, de 8 anos. Mas ontem fui também levar ‘meu ouro’ para o nosso queri-
m 19 de agosto de 2003, o governador Geraldo Alckmin, por meio do Decreto nº 48.033 oficializou a criação do Colar Carlos de Souza Nazareth, instituído pela Associação Comercial de São Paulo, que tem por objetivo homenagear personalidades brasileiras ou estrangeiras, que por seus méritos pessoais e relevantes serviços prestados no que diz respeito à cidadania, tenham-se tornado dignas de reconhecimento público. Trata-se de uma Cruz de Malta esmaltada de amarelo e perfilada de ouro, com 75 mm de extremo a extremo de seus ramos, com a efígie de Carlos de Souza Nazareth, de perfil oitavado e no reverso um disco trazendo o emblema da Associação
do São Paulo. Não é nada, mas era só o que eu tinha; é o primeiro anelzinho que meus pais me deram porque tirei o primeiro lugar no ano passado na minha classe. Fiz o que papai e mamãe fizeram, dando alianças e abotoaduras. Assim Deus abra mais ainda o coração da nossa gente, para sofrer com paciência todos os insultos dos invejosos Juarez Távora e Juracy Magalhães. Nossa Senhora Aparecida que nos proteja”. O u t ro s t re c h o s e c a r t a s completas foram publicados na imprensa, permitindo compreender como uma grande corrente se formou, sempre salientando o altruísmo do doador, que agia sem vacilar. O discurso do período mostra-
Comercial de São Paulo. Este ano, a ACSP entregará o Colar Carlos de Souza Nazareth a Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE (Centro de Integração Empresa Escola), diretor da Fiesp e presidente da Academia Paulista de História. E o CIEE concederá a Medalha do Mérito Hernâni Donato a autoridades paulistas, educadores e empresários. As láureas serão entregues durante o seminário "O Ideal da Revolução Constitucionalista de 1932", que será realizado hoje, dia 8 de julho, às 8h30, no Espaço Sociocultural – Teatro CIEE (Rua Tabapuã, 445 – Itaim Bibi).
va que era a luta do Direito contra a Força, lembrando que São Paulo defendia o Direito da nação brasileira de um regime constitucional. Assim, a Campanha do Ouro obtinha resultados importantes em Santos, Campinas, Franca e Rio Claro, e novas comissões eram formadas em Bauru, Catanduva, São João da Boa Vista e Araraquara. Doações identificadas ou anônimas, grandiosas ou modestas, de engenheiros, médicos, políticos, diplomatas misturavamse com as contribuições de equipes de futebol que dispunham dos troféus e medalhas conquistados nos campeonatos. Os paulistas mostravam, com as doações, o seu ardor e a identificação com a causa.