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São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Corbis
ESPECIAL
Parabéns ao herói da Contabilidade Hoje se comemora o Dia do Contador. A data teve origem na criação do curso superior de Ciências Contábeis e Atuariais em 22 de setembro de 1945.
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DIÁRIO DO COMÉRCIO
‘Quando crescer quero ser contador ’
segunda-feira, 22 de setembro de 2014 FreePik
É verdade e isso já começa no ingresso na profissão, pois para ter o registro no CRC é preciso passar no Exame de Suficiência, demonstrando o mínimo de condição técnica para exercer a profissão. Só existem duas profissões no Brasil que aplicam esta prova para quem vai ingressar no mercado: advogados e contadores. Depois que ele ingressa na profissão, já com o registro, tem a educação continuada. A profissão exige uma atualização constante em função da complexidade da legislação. Em relação aos auditores, essa educação continuada é obrigatória, controlada pelo CFC – o profissional tem de cumprir uma carga mínima de treinamento por ano e provar que cumpriu esta capacitação. Isso ainda é restrito aos profissionais que atuam em auditoria, mas já estamos trabalhando com a ideia de estender essa obrigação a outros segmentos.
Ainda é raro ouvir uma criança fazer essa afirmação, mas a profissão vem se popularizando Carlos Ossamu Divulgação
área contábil é vasta e repleta de oportunidades, mas ainda prevalece a ideia de que é uma profissão burocrática. Mas para Zulmir Ivânio Breda, vice-presidente de Desenvolvimento Profissional e Institucional do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), isso vem mudando, tanto é verdade que o curso de Ciências Contábeis já é o quarto mais procurado no Brasil. Conheça mais sobre a profissão de contador nesta entrevista.
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Diário do Comércio - Muitos acham que a profissão contábil é burocrática e chata. O que o senhor diria ao jovem que pensa em seguir esta profissão? Zulmir Ivânio Breda - Eu diria que esta visão é de um tempo passado, que não reflete a realidade dos dias atuais, mas que infelizmente ainda permanece no subconsciente das pessoas. A Contabilidade mudou muito no mundo todo, inclusive no Brasil, e hoje está em um patamar diferente em relação há alguns anos.
Quais foram os motivos? Foram vários fatores, muitos relacionados às crises econômicas que vários países ainda estão vivendo. A economia mundial foi abalada na crise econômica americana de 2007/08, muito pela falta de controle das empresas e das instituições financeiras. A partir dali houve uma reformulação das legislações para dar à Contabilidade uma importância maior dentro das organizações, como ferramenta para controle das operações e atividades, assim como um instrumento para assessoramento para tomada de decisões.
Qual é hoje o papel do contador? Hoje o profissional da Contabilidade participa muito mais das decisões estratégicas dentro das organizações do que no passado. Isso porque a Contabilidade não só trabalha com informações retrospectivas, dados do patrimônio só para fins estatísticos ou fins tributários para o Fisco, mas também com informações de cenários futuros, envolvendo a área de Controla-
doria, custos, gerenciamento financeiro, enfim, uma série de outras atividades que a Contabilidade realiza dentro de uma empresa. A importância deste profissional vem crescendo – nos EUA a profissão contábil é a segunda mais demandada, houve a abertura de mais de 30 mil vagas nos últimos dois anos, segundo revistas especializadas. E a procura no Brasil? Aqui no Brasil, a procura por vestibulares em Ciências Contábeis tem aumentado a cada ano e já é o quarto curso em número de matrículas nas universidades públicas e privadas. Estes são dados oficiais do Ministério da Educação. A que se deve esta grande procura, já que a profissão é tida como chata e burocrática? O mercado está demandando muito este profissional e já começa a ter falta de mão de obra qualificada. Quando o mercado demanda muito um profissional, essa informação chega aos alunos e eles direcionam suas opções para as
Zulmir Ivânio Breda, do CFC áreas com maiores oportunidades. Assim, o mercado hoje está altamente aquecido para os profissionais da Contabilidade, explicando o fato de o curso de Ciências Contábeis ser o quarto mais procurado no Brasil - há em torno de 350 mil estudantes de Ciências Contábeis no País. A profissão está em alta nas empresas, nos órgãos públicos e até mesmo nas entidades do Terceiro Setor.
buscam alunos nas universidades para formar mão de obra, não é mesmo? Sim, isso é verdade, pois as empresas de auditorias precisam de profissionais diferenciados. Elas buscam alunos nas faculdades para moldar a sua formação. A nossa legislação prevê esta possibilidade de o aluno, ainda durante o seu período de formação, já trabalhar em serviços auxiliares da profissão, desde que supervisionado por um profissional registrado. Isso serve até mesmo como estágio curricular na faculdade, além de treinamento naquela empresa que possivelmente irá contratá-lo no futuro. O senhor avalia que a responsabilidade deste profissional tem crescido nos últimos anos? Sim, a responsabilidade soReprodução
bre o trabalho se dá quando ele assina os demonstrativos contábeis e divulga as informações. Imagine a importância disso no âmbito das empresas que trabalham no mercado de valores imobiliários ou sistema financeiro. A responsabilidade é muito grande, influenciam as decisões de investidores, acionistas, sobre os seus capitais investidos. As decisões dos investidores partem dos demonstrativos contábeis que são assinados pelos contadores. Agora mais recentemente essa responsabilidade ficou maior em situações que envolvem a lei contra a lavagem de dinheiro, que obriga o profissional da Contabilidade a informar aos órgãos governamentais, como o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), as operações suspeitas de lavagem de dinheiro, sob pena de responsabilidade se não der essa informação. A educação continuada é intensa neste setor. Fale sobre ela.
As empresas de auditoria
Quais os principais campos de atuação profissional do contador? Esta é uma profissão que atua em vários segmentos do mercado, apresentando uma diversidade grande de opções. Ele pode montar a própria empresa de Contabilidade e prestar serviços para outras empresas. No Brasil, temos quase 80 mil escritórios de Contabilidade. Tem a atividade de auditoria, uma área especializada e que deve ter em torno de mil empresas que atuam neste setor. Outra opção é trabalhar em um departamento de Contabilidade de alguma organização. As empresas de médio e grande porte quase sempre preferem realizar a Contabilidade internamente. A área pública também é um bom campo para este profissional. O Terceiro Setor também emprega uma grande quantidade de pessoas. São entidades sem fins lucrativos, como as organizações não governamentais (ONGs), fundações e associações, que possuem uma legislação própria.
Senador João Lyra, considerado o patrono dos profissionais da Contabilidade
Hoje é um dia para se comemorar
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classe contábil está em festa: hoje se comemora o Dia do Contador. A data se deve ao Decreto nº 7.938, de 22 de setembro de 1945, que criou o curso superior de Ciências Contábeis e Atuariais, que confere o grau de bacharel aos formandos. Até então, todos os profissionais da área eram técnicos, sendo considerados equivalentes as denominações de guardalivros, contador, perito judicial e perito contador. Já nesta época, o registro do diploma era obrigatório. Meses depois, em 27 de maio de 1946, foi sancionado o Decreto Lei nº 9.295, que estabeleceu a criação do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e a definição das atribuições do contador e do guarda-livros. O seu artigo 2º preconiza que cabe ao
CFC e aos CRCs (Conselhos Regionais de Contabilidade) exercerem a fiscalização do exercício da profissão de contabilista, assim entendendo-se os profissionais habilitados, como contadores e técnicos em Contabilidade. A história da regulamentação da profissão de Contabilista tem seu início no Império. Com a edição do Código Comercial Brasileiro, sancionado pelo imperador D. Pedro II, em 1850, o guardalivros passou a ser considerado um agente auxiliar do comércio. Em 1915, foi fundado o Instituto Brasileiro de Contadores Fiscais, a primeira entidade para congregar contabilistas de que se tem notícia
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no País. No ano seguinte, foram fundados a Associação dos Contadores de São Paulo e o Instituto Brasileiro de Contabilidade, no Rio de Janeiro. Em 1924, foi realizado, no Rio de Janeiro, o 1º Congresso Brasileiro de Contabilidade, liderado pelo senador João Lyra, quando foi iniciada a campanha para a regulamentação da profissão de contador e para a reforma do ensino comercial. Em 1930, o Brasil passou pela maior convulsão política de sua história, que culminou na instalação no poder do governo provisório de Getúlio Vargas, que imprimiu grande ímpeto às mudanças institucionais que levaram à regulamentação de várias profissões, entre as quais, a de contabilista. A profissão foi crescendo em números absolutos e em
importância para a economia do País. Em 1943, o ensino comercial e a regulamentação profissional foram complementados e consolidados pelo Decreto-lei nº 6.141 e, em 1945, pelo Decreto nº 7.938, consolidou-se o ensino técnico em grau superior em Contabilidade. Faltava a criação do CFC para a regulamentação definitiva da profissão. Uma convenção foi realizada em outubro desse ano, com a participação de várias autoridades para reivindicar a criação do Conselho. Finalmente, em 27 de maio de 1946, foi assinado o Decreto-lei nº 9.295/46 e a história da Contabilidade entrou numa nova fase. Os meses seguintes à edição do decreto foram tomados em articulações para a criação dos Conselhos Regionais nos vários Estados.
Tudo vai muito bem no setor contábil
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Neste Dia do Contador, o presidente do CRC-SP, Claudio Filippi, deixa uma mensagem de confiança a todos os profissionais da Contabilidade ara o presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Est a d o d e S ã o Pa u l o (CRC-SP), Claudio Filippi, a Contabilidade brasileira vive um excelente momento: os profissionais estão valorizados, não há desemprego no setor, o nível de conhecimento dos profissionais vem crescendo e as normas internacionais estão chegando à área pública. Nesta entrevista, o presidente do CRC-SP fala sobre o setor, o perfil do novo profissional e deixa uma mensagem de confiança no futuro aos contadores que estão comemorando o seu dia e aos demais profissionais da área.
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Diário do Comércio - Qual a sua avaliação sobre o cenário atual do setor contábil, as conquistas recentes e os desafios da profissão? Claudio Filippi - Enquanto o mundo, e também o Brasil, passa por uma crise financeira e econômica, significando uma queda nas atividades, ocorre o contrário com a Contabilidade, um setor que está em franca evolução: os técnicos em Contabilidade estão sendo incentivados a fazerem os cursos de graduação; as IFRS, as normas internacionais, estão sendo revisadas, outras novas chegarão, substituindo algumas anteriores;
as normas internacionais estão chegando à área pública, estão em plena implementação; e não há desemprego para os bons profissionais. Já os maiores desafios são a melhora no nível de ensino, melhor capacitação dos docentes, atualização do profissional em si, para que ele possa transmitir aos seus clientes suas necessidades e evitar problemas em relação à lavagem de dinheiro, entre outros. O senhor comentou sobre melhora do nível do ensino e do corpo docente. Existe algum indicador que mostre como está o nível dos cursos de Ciências Contábeis? O Exame de Suficiência seria um termômetro? O Exame de Suficiência é um termômetro, pois é baseado nas matérias que o aluno acabou de cursar, seja técnico ou universitário. O grau de aprovação tem se mantido estável, mostrando que algumas escolas precisam melhorar a sua qualidade de ensino. Os professores precisam ter tempo suficiente para se atualizarem, mas muitas vezes eles não têm esse tempo. Qual o perfil do profissional de Contabilidade do século 21? Ele deve estar preparado para se manter atualizado em tecnologia e informática, que
evolui a t o d o m omento, e em matérias técnicas; precisa conhecer o ambiente global econômico e financeiro, tem de conhecer bem os negócios dos seus clientes, poder se comunicar em outras línguas, no mínimo a língua inglesa; estar atualizado em matérias tributárias, tanto nacional quanto internacional, para que ele possa dar orientação adequada aos clientes com negócios internacionais. A atualização do profissional é diária: se hoje há uma lei, semana que vem aparece outra, além disso, é preciso ver as tendências internacionais. Existem algumas normas internacionais que estão sendo revisadas e atualizadas, oportunamente elas serão traduzidas e divulgadas para serem discutidas e aplicadas no Brasil. A especialização em setores específicos é uma tendência no setor? Temos de focar este tema em dois ângulos: primeiro, o profissional da Contabilidade
tem de escolher seu campo de ação, se vai trabalhar em um escritório de Contabilidade, se vai fazer escrituração, se vai trabalhar na área tributária, se vai ser um perito, um auditor etc. Estes são campos de especialização. Dentro desses campos, para ele conhecer os negócios, ele precisa conhecer setores especializados, como indústria, comércio, serviços ou o Terceiro Setor, que é a grande novidade e que pede outros tipos de especializações. No Terceiro Setor tem empresas micro, pequena, média ou grande, tem legislação e operações específicas. Qual mensagem o senhor daria ao jovem que pretende ingressar na profissão contábil? Vamos imaginar aquele jovem que está se graduando, seja como técnico ou contador. Ao técnico, ele precisa ser incentivado a fazer o curso de graduação em Ciências Contábeis. Para o universitário,
precisamos entusiasmá-lo a buscar a atualização e o curso de pósgraduação, para que ele possa escolher um campo de especialização. Seria bom que ele buscasse um profissional de confiança, experiente, para que fosse bem orientado. Ele teria de dominar uma língua estrangeira, ler os noticiários especializados, ter relacionamentos com as entidades contábeis, que sempre oferecem cursos de especialização, e consultar sempre os portais das entidades contábeis, que são ricos em informações.
E qual mensagem o senhor daria neste Dia do Contador? Temos no Brasil a comemoração de três datas: em janeiro (12) temos a do empresário contábil, em abril (25) a do profissional de Contabilidade, antes chamado contabilista, e agora em setembro (22) o Dia do Contador. Com respeito às três datas, eu só posso me congratular com quem tenha escolhido esta profissão, que é um verdadeiro sacerdócio. Ser contador no Brasil tem algumas dificuldades, mas não há falta de emprego. Seja o empresário, seja profissional da Contabilidade ou o contador que está festejando o seu dia, que todos tenham plena confiança no futuro, pois o nosso setor vai muito bem.
Diretor de Redação Moisés Rabinovici
Diagramação Lino Fernandes
Editor-Chefe José Guilherme Rodrigues Ferreira
Gerente Executiva de Publicidade Sonia Oliveira
Edição e reportagem Carlos Ossamu
Telefone: 3180-3029 soliveira@acsp.com.br
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Caminhos para se especializar no Terceiro Setor Este segmento vem crescendo rapidamente no Brasil e ainda carece de profissionais especializados
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Te rc e i ro S e t o r é uma das estrelas hoje da Contabilidade. Muito profissionais estão se especializando nesta área por diversos motivos, mas principalmente pelo seu crescimento, melhor remuneração e também a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento social da comunidade ou País. Estimativas internacionais calculam que o Terceiro Setor movimente 6% do PIB mundial e empregue 12 milhões de pessoas no mundo. O segmento é composto por instituições sem fins lucrativos, que geram bens e serviços de caráter público, como ONGs, instituições religiosas, entidades beneficentes, centros sociais, organizações de voluntariado, entre outros. Jair Gomes de Araújo, presidente do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo (Sindcont-SP) é um profissional especializado no Terceiro Setor. Ele explica que, apesar de as pessoas jurídicas atuantes neste setor serem identifica-
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das como ONG (organização não governamental), OSCIP (organização da sociedade civil de interesse público), OS (organização social), Instituto, Instituição etc, elas são juridicamente constituídas sob
a forma de associação ou de fundação. “Hoje, o profissional da Contabilidade percebe que precisa ter um foco na área que pretende se dedicar. Pode ser, por exemplo, no Terceiro Setor, construção civil ou
outras atividades. No Terceiro Setor existem diversas legislações específicas, que exigem uma atenção direta do profissional”, diz Araújo. Segundo o presidente do Sindcont-SP, por ser uma área
es pe cia li zada, o Terceiro Setor oferece uma remuneração maior, em média 15% a mais em comparação a áreas mais tradicionais da Contabilidade. “Hoje há uma g r a n d e d emanda desse mercado e uma busca por profissionais especializados. Além do alto grau d e c o m p r ometimento que o profissional precisa ter com as entidades, estas se sentem mais seguras em trabalhar com um especialista, que conhece bem a legislação”, diz. Em sua opinião, para o estudante da área contábil, tratase se de uma boa oportunida-
A sociedade ainda desconhece a profissão
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ual a imagem que a sociedade tem dos profissionais contábeis? Este é o tema abordado por Renato Ferreira Leitão Azevedo, professor da FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) e pesquisador da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) no livro “O Profissional da Contabilidade - Desenvolvimento de Carreira, Percepções e seu Papel Social”, editado pela Senac São Paulo (270 págs. R$ 69,90). Segundo conta Azevedo, o contador quase sempre é percebido como introvertido, impessoal, metódico, conservador, entre outros estereótipos. “Há um desconhecimento das pessoas em relação à
profissão. Muitos se espantam ao saber que a Contabilidade é uma ciência social e não uma ciência exata, apesar de lidar com números”, diz Azevedo. Formada pela junção das palavras "cont(ar)" e "(h)abilidade", a Contabilidade designa literalmente a aptidão para contar, e trata-se de uma profissão que identifica, mensura e comunica informações econômicas envolvendo o contador e seu cliente. “Além do significado de mensurar, contar também se refere a comunicação (contar uma história) e confiança (conte comigo). Assim, se exige desse profissional mais do que a competência com números: também é necessário saber interpretar e comunicar essas informações, ou seja, ele deve reunir conhecimento técnico e
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humanista para que tenha um papel de destaque em um contexto global e tecnológico”, observa. Azevedo comenta que até os anos 90 no Brasil o contador era visto como um profissional “chato”, introvertido, mas honesto. Com a abertura do mercado, o contador teve uma maior abertura para participar da gestão das empresas, planejar investimentos, e com isso ser mais criativo. “Mas isso de certa forma afetou aquela imagem de honestidade. Na mídia, quando aparece uma notícia envolvendo um contador, ele quase sempre está ligado a fraude contábil”, diz. Outra imagem que o público em geral tem é de que se trata de uma profissão predominantemente masculina, o que vem mudando rapidamente, “Nos cursos de Ciên-
cias Contábeis, 60% dos alunos são mulheres”, conta Azevedo. No últim o l e v a n t amento feito pelo Conselho Federal de Contabilidade, a proporção, entre técnicos e contadores, estava em 59% homens e 41% mulheres. “O curioso é que na China a Contabilidade é uma profissão tradicionalmente exercida por mulheres, mais organizadas e detalhistas. Por aqui, as mulheres estão ganhando espaço, mas os salários são menores em comparação aos homens”, observa.
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Renato F. L. Azevedo: as mulheres estão ganhando espaço, mas com salários menores.
Jair Gomes de Araújo de para construir uma carreira. “Ele pode iniciar em uma área que tem boa demanda, ser recompensado financeiramente e ainda ter uma satisfação pessoal, atuando em uma área em que ele está contribuindo para a responsabilidade social. Ele trabalha onde gosta, onde ele percebe que há um ganho social”, diz. Mas como se iniciar nesta carreira? Araújo diz que há vários livros sobre o tema, mas o mais importante é participar das entidades contábeis, como o Sindicato dos Contabilistas de São Paulo. “Lá temos dias específicos em que somente são estudados temas do Terceiro Setor. No Sindicont-SP temos o Cettese (Centro de Estudos Técnicos do Terceiro Setor), voltado exclusivamente para esta área. Acompanhando as palestras, o profissional é introduzido na área e passa a entender as questões particulares deste segmento”, comenta. A perspectiva é de crescimento futuro, porque o Brasil ainda está em uma fase inicial, se comparado a outros países. “Apesar de sermos bem antigos no Terceiro Setor –a primeira Santa Casa do Brasil foi fundada em 1542, em Santos, a questão da especialização da Contabilidade tem cerca de dez anos. O Brasil ainda tem um caminho grande a percorrer, seja na criação de entidades do Terceiro Setor ou de parcerias com órgãos públicos”.
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Ela comanda a área mais importante do CRC-SP FreePik
Márcia Ruiz Alcazar é vice-presidente de Fiscalização, Ética e Disciplina da entidade, que acaba de abrir uma sindicância contra a técnica em Contabilidade Meire Poza, que trabalhava para o doleiro Alberto Youssef
o início deste mês, um comunicado no site do CRC-SP informava: “O Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRC-SP) comunica que, em razão de matérias veiculadas na mídia, abriu sindicância para apuração de supostas irregularidades profissionais da técnica em Contabilidade Meire Bomfim da Silva Poza”. As matérias veiculadas a que se refere a nota pipocaram na imprensa após a técnica dar entrevista à revista Veja sobre a chamada Operação Lava a Jato da Polícia Federal, que levou o doleiro Alberto Youssef à prisão em março. Meire Poza era responsável por manusear notas fiscais frias, assinar contratos de serviços que jamais foram feitos e montar empresas de fachada destinadas à lavagem de dinheiro. Esta sindicância está sendo realizada pela Vice-presidência de Fiscalização, Ética e Disciplina do CRC-SP, área comandada pela contadora Márcia Ruiz Alcazar. Nesta entrevista, Márcia conta como atua este setor, quais os casos mais comuns de denúncias que a entidade recebe e como o profissional pode se precaver para não ter problemas desta natureza.
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Diário do Comércio - Ter um contrato seria o primeiro passo para evitar conflitos com o cliente? Márcia Ruiz Alcazar - Não apenas ter um contrato. A relação que um contador tem de ter com seu cliente deve ser formal, mesmo no dia a dia, com memorandos, atas de reuniões, para que se possa registrar e documentar as decisões que foram tomadas, ter um histórico. Diante de tanta complexidade, em caso de algum problema, é comum o cliente dizer que não sabia que deveria ter tal procedimento e transferir a culpa ao contador. Nós sempre recomendamos que seja uma relação formal.
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Wilson Dias/ABr
festar, se defender e expor a sua versão dos fatos.
Márcia Ruiz Alcazar, do CRC-SP Ter um contrato formal é uma prática habitual no setor? S e n d o u m a e m p re s a d e Contabilidade ou um contador terceirizado, já há alguns anos é obrigatório manter um contrato de prestação de serviços. Se não tiver o contrato, o contador pode ser penalizado. Além de ser uma garantia na relação, a questão do contrato é normativo em termos de exercício profissional. O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) regulamentou a obrigatoriedade do contrato de prestação de serviços. Como atua a área de Fiscalização do CRC-SP? Temos basicamente duas
Meire Poza: sindicância aberta. principais frentes, a preventiva e a corretiva. A preventiva trabalha muito em cima das metas que são estabelecidas pelo CFC. Temos metas de fiscalização de organizações contábeis, profissionais e instituições em geral. Existem relatórios de gestão, um planejamento de trabalho, prestação de contas e uma avaliação técnica desenvolvida dessas organizações que estão sob a nossa lei de regência. Já a corretiva é aquela que vem de denúncias e a abertura de sindicância. Existe todo um rito processual, com detalhamento na apuração dessa sindicância para dar oportunidade à parte denunciada se mani-
O que ocorre após o recebimento de uma denúncia? Há todo um processo de apuração e investigação, com a oportunidade de ampla defesa do denunciado. Se o profissional apresentou tudo o que foi solicitado, comprovou a regularidade do exercício profissional, a sindicância é arquivada e ele não sofre nenhuma penalidade. Por outro lado, se ele tem dificuldade na comprovação e mostra que de fato teve uma incapacidade técnica ou que não cumpriu com o código de ética da profissão, isso gera um auto de infração. A penalidade administrativa mínima equivale a multa de uma anuidade e a penalidade ética mínima é uma advertência reservada. Existe uma escala de agravamento. Por exemplo, uma reincidência na penalidade ética pula de advertência reservada para censura reservada. Se ele comete nova irregularidade, a censura reservada muda para censura pública. Essa escala vai subindo e a penalidade pode chegar a suspensão e até a cassação do registro profissional. Se o profissional não concordar com a pena, há
possibilidade de recorrer? Ao receber uma penalidade no CRC-SP em primeira instância, o profissional pode acionar a Câmara de Recursos. Se mesmo assim for mantida a decisão, ele ainda tem a possibilidade do recurso no CFC. Sempre há a homologação das penalidades no CFC. Quais os casos mais comuns de denúncias que chegam ao CRC-SP? Temos muito casos de clientes que alegam prejuízos relacionados a alguma orientação equivocada que receberam do contador. Também há casos de apropriação indébita – o cliente diz que o contador tinha a senha bancária para fazer todos os pagamentos de tributos e contribuições. Muitas vezes, os profissionais são envolvidos em uma situação em que o cliente transfere toda a sua deficiência de controle interno para o contador. O fato de não ter uma relação formal, registrada e documentada, dificulta ainda mais a comprovação se aquele dinheiro que o contador recebeu era de honorários ou de tributos e contribuições. Há outros casos mais comuns? Outro caso relevante é re-
lacionado ao registro profissional. Muitas empresas com departamentos de Contabilidade mantêm em suas estruturas o contador que assina o balanço com registro ativo e regular, mas a equipe da Contabilidade muitas vezes não tem registro para exercer a profissão. Este é um problema sério e que ocorre em um número significativo. E a culpa cai sempre sobre o contador – veja o risco que este profissional corre. A infração é de acobertamento ao não registrado. O contador que tem em sua equipe no departamento de Contabilidade um funcionário que não tem registro no CRC devidamente regular está acobertando um não habilitado a exercer a profissão. Ele é penalizado por isso, pois responde pelo código de ética da profissão. Ele até pode alegar que não foi responsável pela contratação, que é apenas um empregado, mas é seu dever que a sua equipe tenha as condições técnicas para desenvolver o que é uma prerrogativa da profissão. O que a senhora pode adiantar sobre a sindicância aberta contra a técnica em Contabilidade Meire Poza? Esta é outra forma de fazer a fiscalização, por meio de notícias de escândalos que são veiculadas na imprensa. Neste caso, temos o dever de abrir uma sindicância para apurar os fatos. Se ficar caracterizado que efetivamente ela descumpriu com o código de ética, ela será penalizada. Nós iremos atrás da colet a d e p ro v a s , c o m e ç a n d o com o que foi veiculado na imprensa, vamos atrás de elementos junto ao Ministério Público, Polícia Federal para pegar detalhes dos processos. Posteriormente, ela será convidada a se manifestar, pois tem os mesmos direitos de ampla defesa. Tudo isso será analisado e verificado se tem algum vínculo com a profissão – pode ser apenas uma situação criminal e que não haja irregularidade no exercício da profissão.
Prepare-se para o Exame de Suficiência
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Cursos preparam candidatos para passar na prova e assim obter o registro profissional
Exame de Suficiência é uma prova obrigatória, instituída pela Lei 12.249/2010 e pela Resolução CFC 1.373/2011, destinada à comprovação dos conhecimentos de alunos concluintes dos cursos Técnico em Contabilidade e do curso superior em Ciências Contábeis. A aprovação no Exame é um dos requisitos para a obtenção ou restabelecimento de registro profissional em Conselho Regional de Contabilidade (CRC). A prova ocorre duas vezes ao ano e é composta de 50 questões, dos quais o candidato deve acertar pelo menos 25 (50%). Menos de 40% dos candidatos são aprovados. Para ajudar os candidatos neste último desafio antes de conseguir o registro, o Instituto Monitor (www.institutomonitor.com.br) oferece um curso preparatório, que segundo a instituição, tem obtido 100% de aprovação. “É um workshop presencial de 16 horas, realizado em dois sába-
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Cruz Netto: o Instituto Monitor oferece um workshop.
lidade (CFC) para cada exame. “Este setor é muito dinâmico e as mudanças na legislação são constantes. Dessa forma, novos temas podem ser adicionados a cada prova. Por essa razão, não é eficiente o candidato estudar com apostilas prontas encontradas na internet, pois elas não estarão atualizadas”, diz Viviane. “Fizemos um levantamento com nossos alunos do curso a distância que prestaram o primeiro Exame de Suficiência deste ano e a aprovação foi de 83%, um número muito bom”, afirma. O livro Exame de Suficiência em Contabilidade custa R$ 152,10 no site www.iobstore.com.br e também pode ser adquirido pelo Televendas (11) 2188-7777 ou em algumas livrarias. O curso preparatório presencial tem carga horária de 48 horas, sendo 40 horas no auditório da empresa na Av. Paulista e mais 8 horas de curso pela internet. O curso é voltado para bacharéis ou que estejam concluindo o curso de Ciências Contábeis. O preço cheio é de R$ 1.530, mas estudantes pagam R$ 765 e clientes IOB, R$ 1.177. Já o curso preparatório a distância, via internet, tem carga de 90 horas, com uma parte ao vivo, que permite a interação com o professor via chat, e outra parte gravada. O preço cheio é de R$ 1.380, estudantes pagam R$ 690 e cliente IOB R$ 870.
dos antes do Exame. No primeiro dia, os alunos revisam todos os conceitos e fazem exercícios; no segundo dia, o professor pega o último Exame de Suficiência, resolve e comenta”, explica Ovídio Lopes da Cruz Netto, diretor de Serviços Educacionais do Instituto Monitor. “Como temos um curso de Técnico em Contabilidade, a maioria dos alunos é desse curso, mas vem versidades”, afirma o diretor. Rio de Janeiro e no Paraná cia: livro, curso preparatório crescendo a participação de O Instituto Monitor possui ,além de 8 polos em parceria presencial e curso preparatóbacharéis, até porque o último uma sede própria com 6.500 com outras instituições e 16 rio a distância. Segundo expliExame de Suficiência para m² em São Paulo (Av. Rangel polos in company. ca Viviane Silva, gerente de técnicos ocorrerá em abril do Pestana, 1.105 – Brás) e tamEducação da empresa, todo ano que vem – a partir de junho bém está presente em mais Várias opções material didático e planejade 2015 os CRCs não mais re- duas sedes nos EstaA IOB Folhamatic oferece mento são elaborados com gistrarão profissionais de ní- dos do três produtos para quem vai base no edital publicado pelo vel técnico”, diz Netto. prestar o Exame de Suficiên- Conselho Federal de ContabiO workshop pre parató rio para o Exame de Suficiência custa R$ 303 (2x de R$ 151,50) e conta com cerca de 15 alunos pesquisa- criar uma cidade e administrar acordo com o autor do estudo, por turma. d o r e seus recursos, de forma a evitar a possibilita ao aluno vivenciar uma “Todos os nosprofes sor falência e a expulsão do prefeito. simulação acerca da formação e sos alunos de Contabilidade Governamental Intitulada "Educação com en- gestão de uma cidade e o desenO game têm sido aproda Universidade Federal do Rio de tretenimento: um experimento volvimento de um sistema de inSimCity pode ser vados, em Janeiro (UFRJ), Marcos Roberto com SimCity para curtir e aprender formações contábeis. Em seu trausado para motivar 2004, três de Pinto, defendeu sua tese de douto- a Contabilidade Governamental", balho, Marcos Roberto Pinto dealunos em sala de aula nossos alunos rado na Faculdade de Economia, a tese foi orientada pelo professor monstra que os estudantes que ficaram em Administração e Contabilidade da Edgard Cornacchione, chefe do utilizam o SimCity, inserido no amp r i m e i r o l uUSP (FEAUSP) no fim de abril, de- Departamento de Contabilidade e biente de aprendizagem, têm megar. Temos exmonstrando que a aplicação do jo- Atuária da FEAUSP. Marcos Rober- lhores notas e se saem melhores celentes insgo eletrônico SimCity pode au- to Pinto disse que a decisão de pes- em testes-padrão. talações, um mentar os níveis de motivação e de quisar o assunto partiu da preocu"O emprego do jogo eletrônico bom material desempenho dos estudantes de pação com os resultados apresen- se apresenta como uma inovação didático, traContabilidade. Segundo ele, as tados pelos programas de educa- no processo de ensino, podendo dição em enpráticas convencionais de ensino ção em Contabilidade. Ele citou o ser considerado um forte aliado no sino e profesnem sempre atendem a necessida- Exame de Suficiência realizado pe- desenvolvimento de estratégias sores qualifide dos jovens de hoje, os quais ele lo CFC (Conselho Federal de Conta- instrucionais destinadas a um púcados, que denomina de "estudantes nativos bilidade), que chega a reprovar blico que já nasceu sob a forte inministram digitais". O SimCity é um jogo de mais da metade dos bacharéis. fluência dos aparatos digitais", sucursos de simulação que tem por objetivo A aplicação do jogo SimCity, de gere o pesquisador. Ciências Contábeis em uni-
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DIÁRIO DO COMÉRCIO
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Saiba como contabilizar sucesso O setor contábil pode ser altamente rentável para aqueles que abrem o próprio escritório, mas exige cuidados e muito trabalho ice-presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o contador José Maria Chapina Alcazar é um líder empresarial conhecido e admirado no meio contábil. Foi presidente do Sescon-SP (Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícia, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo) e do AESCON-SP (Associação das Empresas Contábeis do Estado de São Paulo) por seis anos, de janeiro de 2007 a dezembro de 2012. É sócio-fundador da Seteco Consultoria Contábil, empresa fundada juntamente com sua esposa, Cátia Ruiz Alcazar, na sala de sua casa há mais de 40 anos. Nesta entrevista, Chapina, como é mais conhecido, dá dicas para profissionais da Contabilidade que sonham em ter o próprio negócio.
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Diário do Comércio – Para o contador que está pensando em ter o próprio negócio, ser um empreendedor, quais conselhos o senhor daria? José Maria Chapina Alcazar Ele tem de começar primeiramente pensando no conhecimento, pois vai lidar com uma diversidade grande de especializações – indústria, comércio, serviços, todos com suas características. Ele pode se dedicar a um segmento econômico específico – no mercado tem gente que é especializado no Terceiro Setor, gente que só faz indústria, que só faz comércio, existem profissionais que só prestam serviços para empresas do Simples Nacional. Há uma ramificação grande de atuação. O que mais? Que ele não siga aquele pensamento antigo de que a prestação de serviços em Contabilidade é com base na confiança. Faça uma proposta por escrito, transforme essa proposta em um contrato, deixando bem definidas as responsabilidades dele como prestador de serviços e do cliente em fornecer as informações em tempo para que se possa executar os serviços. Ou seja, entrar na formalidade do relacionamento. Essa relação de amigo no final acaba em grandes conflitos. Um relacionamento profissional, não é mesmo? Sim, criar uma metodologia em que todas as orientações técnicas sejam feitas por escrito, mantendo um arquivo com todas as orientações passadas ao cliente. Quando ele notar alguma não conformidade, que ele faça reuniões com o cliente, que registre que ele está assessorando, orientando e que a empresa contratante foi orientada como não cometer determinados erros, por exemplo, falhas na emissão das notas fiscais. O que nós assistimos na prática é que, no momento do conflito, é comum dizer que o erro foi do contador. Falhas podem ocorrer e hoje as multas são pesadas. É
Evandro Monteiro / Hype
José Maria Chapina Alcazar: formalizar o relacionamento com o cliente é fundamental para evitar conflitos.
comum os profissionais terem um seguro de responsabilidade civil? Não é comum, pois se tem um custo que não é barato, mas é um seguro que traz tranquilidade ao contador. Mas para ele estar seguro é preciso justamente a recomendação formalista. Se as informações não foram passadas, a responsabilidade não pode ser do contador. Se o contador tentou obter e não conseguiu, e está documentado, a responsabilidade da multa não é do contador. O que é da responsabilidade do contador? A negligência profissional. O cliente atendeu todos os requisitos necessários para que o contador prestasse o serviço, disponibilizou as informações, mas ao fazer a transmissão dos dados e mandar a guia de recolhimento para o cliente efetuar o pagamento, o contador errou no cálculo por imperícia profissional. O seguro vai discutir essa relação, vai entrar no mérito se efetivamente foi um erro profissional, uma
imperícia, e cobrirá o prejuízo. Mas se o erro persistir algumas vezes, ele poderá perder a apólice. Quais os conflitos mais comuns? O maior índice de reclama-
ção dentro do CRC é declaração de rendimentos que não tem prova contábil, seguido de empresas que estão obrigadas a fazer a Contabilidade e que não fizeram. Exemplo: em empresas do Simples Nacional e do Lucro Presumido a legislação fiscal diz que essas empresas estão dispensadas da manutenção da Contabilidade, que basta a escrituração do livro caixa. Aqui eu faço um apelo: contabilista e futuro empreendedor, não caia nesta armadilha, isso é infração profissional. A Contabilidade é obrigatória para todo tipo de empresário, seja micro, pequeno, médio ou grande. Essa obrigação está no nosso códi-
go de exercício da profissão e no Código Civil. Não é a legislação fiscal que rege a obrigatoriedade de executar a Contabilidade. Além do que, a falta de Contabilidade é uma arma a favor do Fisco, que tem interesse em gerar este tipo de conflito, pois quanto mais desorganizado estiver o pequeno empresário, mais favorável fica para ele sustentar um auto de infração. Que outra mensagem o senhor gostaria de deixar para este novo empreendedor? Que ele tenha uma visão mais ampla. A profissão contábil pode ser altamente rentável, com oportunidades de
prestar serviços para todos os segmentos da economia, qualquer que seja a atividade, pois uma empresa sempre precisará do contador. Que ele comece sólido de conhecimentos e com estrutura para prestar os serviços adequadamente. Ele pode começar sozinho, como eu comecei, e depois, a medida que for conquistando mais clientes, investir em sua equipe. Mas que ele comece seguindo os princípios de ética, conduta e não entrar no jogo de ganhar dinheiro fácil por vias duvidosas. Aquele que se estruturar com solidez, trabalhar corretamente, terá uma fundação que jamais será abalada.
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os últimos anos, o cenário fiscal brasileiro apresentou diversas mudanças, mas a de maior impacto e relevância para as empresas foi a automatização do envio das informações por meio eletrônico através do SPEDs (Sistema Público de Escrituração Digital). Houve mudanças drásticas na rotina dos empresários, que precisaram se adequar, organizar os processos e contar com pessoas preparadas para trabalhar com tecnologia. No meio dessa mudança, os escritórios de Contabilidade passaram a ter um papel ainda mais importante. Com estrutura e profissionais qualificados, auxiliam as empresas a padronizar as atividades e, assim, conseguem ajudar na gestão do negócio, trazendo melhorias até nos resultados financeiros. “Antes da era digital, as empresas enviavam as informações para o escritório de Contabilidade, que as retrabalhava no seu sistema. Esse mode-
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Sistema integra cliente e contador Sistema de gestão da ABC71 permite ao contador acessar informações remotamente
lo não é seguro no cenário atual. O modelo onde o escritório se torna um usuário do sistema do cliente é mais seguro e otimizado, pois usufrui de uma única fonte de informação. É imprescindível para a boa gestão empresarial, a mesma tecnologia estar nas duas pontas”, afirma Airton Cruz, gerente de relacionamento da ABC71, empresa que desenvolve software de gestão empresarial.
O executivo da ABC71 explica que é importante cliente e fornecedor estarem alinhados no uso do mesmo sistema de gestão empresarial para consolidar o envio das informações fiscais e tributárias ao Governo. “No atual ambiente do SPED , as operações se tornam mais seguras e o processo mais eficiente quando o escritório de Contabilidade utiliza a mesma ferramenta da empresa cliente, tornando-se
um usuário do mesmo sistema de ERP”, reforça Cruz. É assim que funciona na Azeplan, escritório de Contabilidade com sede em São Paulo. De acordo com o diretor Carlos Eduardo Azedo, a empresa trabalha com um sistema de gestão e grande parte dos seus clientes utiliza o mesmo software. “Aces samos remotamente as informações, o que garante mais veracidade dos dados e rapi-
dez na análise. “Nossos client e s n ã o p re c i s a m m a i s s e preocupar em fornecer papéis ou ficar buscando relatórios, pois fazemos esse trabalho, obtendo os dados diretamente no sistema”, aplica Azedo. “Com isso, a empresa otimiza o seu tempo e pode se dedicar ao que realmente interessa. Ele sabe quanto custa para manter o seu negócio, o valor do produto, consegue administrar a carga tributá-
ria, a gestão de caixa, acompanha centros de resultados, a qualidade dos processos, entre tantas outras atividades essenciais para a conquista das metas”, explica. Para o diretor da Azeplan, todas as empresas que tiverem um software de gestão e tornarem seu contador um usuário de seu sistema sentirão resultados imediatos. “Qualquer perfil de companhia perceberá a melhoria no negócio. Pequenas e médias tendem a buscar com mais intensidade o trabalho dos escritórios de Contabilidade, pois não precisam investir em equipe interna". Outra vantagem apontada pelo gerente de relacionamento da ABC71, Airton Cruz, é que a utilização do mesmo sistema entre o escritório e a empresa tende a diminuir os custos. “As informações serão facilmente trocadas, os processos estarão padronizados e a análise será mais ágil e eficiente, reduzindo custos", diz.
rátis, fácil e online. Apostando nesse trinômio, o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) lançou recentemente o Programa de Assessoramento Intensivo do Micro e Pequeno Negócio, batizado de PAI Inteligência Contábil. Trata-se de um desdobramento do programa gerencial lançado em 2012 pelo IBPT, com o objetivo de reduzir a mortalidade das pequenas empresas através da utilização de ferramentas tecnológicas de última geração. “Um software de gestão é o coração do projeto, que agora recebeu um upgrade para melhorar a relação entre escritórios de Contabilidade de pequeno porte e seus clientes microempresários”, diz o presidente-executivo do IBPT, João Eloi Olenike. O sistema possui dois mó-
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dulos: o PAI Gerencial, para o cliente, e o PAI Inteligência Contábil, para o escritório de Contabilidade. O primeiro tem como base um sistema de gestão empresarial (ERP) personalizado para cada tipo de negócio, fácil de entender e totalmente online (cloud computing). O sistema, com suporte técnico grátis por e-mail, possibil i t a a o e m p re e n d e d o r u m acompanhamento permanente de seu empreendimento, com advertências sobre os principais erros cometidos na gestão e orientações sobre como corrigi-los. O software informa, por exemplo, o preço médio de mercadorias e serviços e o custo tributário por nota emitida. Também possui fluxo de caixa inteligente com geração de cenários, controle de estoque, controle patrimo-
Captura de tela
Tecnologia de ponta para os pequenos O sistema do IBPT possui dois módulos: o PAI Gerencial, para o cliente, e o PAI Inteligência Contábil, para o escritório de contabilidade.
nial, módulos integrados de BI (Business Intelligence) e CRM (Customer Relationship Management), módulo de cálculo e projeção de custos dos funcionários, aluguel, financiamentos e outros quesitos.
O PAI Inteligência Contábil, por sua vez, facilita o relacionamento escritório-clientes, automatiza e acelera as operações com total segurança. Depois de se cadastrar no sistema, o escritório pode insta-
lar o software em qualquer PC e supervisionar operações de clientes de qualquer lugar do mundo. O primeiro benefício é o fim do problema de espaço no servidor do escritório contábil. Os documentos são ar-
mazenados na web, com segurança, no servidor do IBPT, que utiliza as melhores tecnologias em termos de segurança de dados. O sistema permite analisar o fluxo de caixa do cliente, receber alertas sobre a situação financeira dos negócios e aconselhar as decisões. O sistema repete operações programadas e avisa quando uma empresa atinge o ponto de equilíbrio, por exemplo. Os documentos podem ser capturados com a câmera do seu smartphone ou tablet (notas fiscais, comprovantes de pagamentos etc.) e enviados para o sistema do escritório contábil. É o fim do transporte de documentos, aumentando a segurança e cortando custos. Mais informações no site www.pai.org.br
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érgio Approbato Machado Júnior é um dos mais importantes líderes da área contábil. Presidente do Sescon-SP (Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícia, Informações e Pesquisa no Estado de São Paulo) e do AESCON-SP (Associação das Empresas Contábeis do Estado de São Paulo), Machado Jr. vem de uma família de contadores – o seu avô foi um dos primeiros a obter o registro no CRC-SP e o seu pai, Sergio Approbato Machado, presidiu a entidade de 1989 a 1990 e foi membro fundador do Ibracon (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil). Mas o pai não o influenciou a seguir a profissão, a descoberta da vocação e da importância da Contabilidade para o mundo dos negócios veio naturalmente, após se formar em Administração de Empresas. Nesta entrevista, Machado Jr. conta esta história.
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Diário do Comércio - Qual a influência de seu pai, Sergio Approbato Machado, que foi presidente do CRC-SP e membro fundador do Ibracon, na escolha da sua profissão? Sérgio Approbato Machado Júnior - Por incrível que pareça, meu pai nunca me influenciou para trabalhar na empresa. A nossa empresa, que é a Approbato & Fischer Contabilistas, foi fundada em 1945, há quase 70 anos, inicialmente como Contábil Paulista. O fundador da empresa foi meu avô, pai do meu pai, Antônio Machado Sobrinho, cujo número de registro no CRC era 67 – ele foi um dos pioneiros da área contábil a querer regularizar a profissão.
Como o senhor iniciou na área contábil? Eu comecei minhas atividades no mundo corporativo, não comecei na área contábil. Como formação, primeiramente fiz Administração de Empresas e trabalhei no mercado corporativo. Trabalhei em uma empresa de auditoria, o que me motivou a fazer o curso de Ciências Contábeis. Foi então que percebi a importância da Contabilidade na tomada de decisão das empresas e me interessei pela matéria. Depois de formado, ingressei na empresa da família em 1987, na época comandada pelo meu pai e mais três sócios, e estou lá desde então.
Como surgiu o interesse na Contabilidade? Meu pai nunca forçou a situação, querendo que eu estudasse Contabilidade para assumir a empresa. Eu despertei o interesse em trabalhar com Contabilidade quando ingressei na empresa de auditoria e vi a importância que ela tinha na vida empresarial. Aí sim, depois que comecei a fazer Ciências Contábeis o meu pai passou a querer que eu frequentasse mais o escritório. Depois eu recebi o convite do sócio de meu pai, Paulo Fischer, para ingressar na empresa.
Qual mensagem o senhor deixaria aos jovens que pensam em seguir a profissão contábil? É muito importante sempre estarmos abertos a aprender, a gente nunca pode parar. Essa foi uma lição que eu aprendi desde que comecei a trabalhar, nunca se acomodar. Na nossa profissão não se pode pensar em se acomodar, ainda mais no país que a gente vive, em que as leis se alteram todos os dias, é preciso sempre se atualizar, caso contrário o profissional terá sérios problemas na sua atividade. Diria ainda aos jovens que estão ingressando na profissão de que estamos vivendo um momento muito especial, de muito reconhecimento. Os sistemas eletrônicos de impostos passaram a exigir uma série de controles sofisticados por conta da tecnologia. Com isso, o empresário percebeu que terá problemas se ele não fizer as coisas de forma correta. Isso valorizou muito o nosso papel perante o mercado corporativo. A gente sabe que hoje a nossa profissão é reconhecida, somos fundamentais na vida das empresas. É bom que os profissionais da Contabilidade tenham consciência disso e também se valorizem. Procurem manter suas empresas dentro deste novo mercado que vivemos agora, procure reciclar seus funcionários dando-lhes treinamentos de forma constante, para que eles possam levar a empresa à posição que ela merece estar.
O controller desempenha hoje o papel que seria do contador, auxiliando nas tomadas de decisões
O papel da Controladoria nas empresas principal função da Contabilidade é cuidar da saúde financeira da empresa, interpretando os principais indicadores e auxiliando na tomada de decisões. Mas por uma distorção do sistema tributário brasileiro, o contador brasileiro hoje perde grande parte de seu tempo trabalhando para o governo, recolhendo tributos e cumprindo obrigações acessórias. Nas empresas mais bem estruturadas, esta real função do contador é exercida pelo controller, que na maioria das vezes é um contador de formação, mas com uma visão mais ampla em administração, negócio e tecnologia. A Controladoria tem como funções principais exercer os controles contábeis, financeiros, orçamentários, operacionais e patrimoniais da instituição. Com sua visão ampla e generalista, o controller influencia e assessora todos os outros departamentos da empresa, onde as informações são geradas e colocadas à disposição dos executivos para a tomada de decisões. O controller tem papel importante, gerando informações confiáveis e eficazes, supervisionando os setores de Contabilidade, finanças, administração, informática e recursos humanos, tomando decisões que envolvem a todos e principalmente atuando constantemente em mudanças, como de mercado, tecnologias, sis-
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Paulo Pampolin / Hype
Sérgio Approbato Machado Júnior: é muito importante sempre estarmos abertos a aprender.
temas de gestão etc. Estudiosos em administração dizem que o controller é a coesão do gerente financeiro e do contador, que tem por objetivo reduzir os custos operacionais e administrativos, maximizando lucros, através de um adequado gerenciamento de caixa com projeção de recebimentos e pagamentos, balanços com controle de custos, despesas, receitas, vendas e faturamento e, também, a guarda das informações “O controller é um cargo gerencial, em grandes corporações ele responde ao CFO (principal executivo de finanças ou diretor financeiro), em empresas de menor porte, diretamente ao proprietário. O contador é o profissional mais indicado a ocupar este cargo por ter conhecimentos técnicos, mas somente isso não basta: ele precisa conhecer bem o negócio da empresa que atua”, observa Nilson Pereira, diretor financeiro do ManpowerGroup Brasil, empresa especializada em recrutamento, seleção e recursos humanos. “É um cargo gerencial, em média os salários variam de R$ 10 mil até R$ 30 mil, dependendo do porte da empresa”, observa. Na opinião do executivo, a primeira providência que o contador deve tomar para assumir o cargo de controller é ampliar os seus conhecimentos e melhorar sua formação acadêmica. Para tanto, um
curso de MBA em Controladoria é o mais indicado. Este curso prepara o profissional para atuar como indutor de gestão financeira e econômica da empresa, fornecendo e desenvolvendo técnicas e sistemas de informação gerencial, que darão sustentação ao planejamento, orçamento, execução e controle do desempenho da organização. “Este profissional estará reportando para os principais executivos da companhia e por essa razão é importante uma boa comunicação, para que ele expresse com clareza suas ideias. Dominar uma segunda língua também é im-
25 anos
portante, principalmente em empresas multinacionais, pois ele estará reportando diretamente a executivos da matriz”, comenta Pereira. Como este profissional comandará uma equipe que estará interagindo com diversos setores da empresa, ter liderança e saber administrar pessoas também são requisitos fundamentais para o sucesso profissional. Além disso, conhecimentos em tecnologia, principalmente os sistemas de gestão (ERP), são necessários, já que hoje tudo é informatizado. Além do controller, os profissionais da Contabilidade mais valorizados hoje são aqueles com experiência em auditoria interna e compliance (aderência às normas como SarbanesOxley, por exemplo). Os profissionais brasileiros são muito bem vistos lá fora por serem mais flexíveis – eles aprenderam isso por atuarem em um mercado muito regulado”, comenta o executivo da ManpowerGroup Brasil.
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O lado criativo da Contabilidade
Como a academia vê essa questão esta entrevista, Fernando Dal-Ri Murcia, professor do Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA-USP, conta como a academia enxerga a questão da Contabilidade Criativa, que tem sido tema de estudos. Formado em Business Management pela Webber International University e em Contabilidade pela Univali, Murcia é Mestre em Contabilidade pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutor em Controladoria e Contabilidade pela Universidade de São Paulo.
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Diário do Comércio - Existe a chamada Contabilidade Criativa? O que é? Fernando Dal-Ri Murcia Uma das características fundamentais da Contabilidade, segundo as normas, é a representação fidedigna de um fenômeno econômico. Para isso, a Contabilidade deveria ser realizada de maneira neutra, sem viés. Acontece que existe um ser humano fazendo a Contabilidade, que pode não agir semp re d e m a n e i r a n e u t r a e imparcial. Então, a Contabilidade Criativa ou o chamado gerenciamento de resultados, existe sim. Ela pode ser definida como a utilização oportunista da discricionaDivulgação
riedade existente nas normas contábeis para alterar os resultados da empresa. Há estudos acadêmicos sobre o tema? Sim, esse assunto é bastante estudado no âmbito acadêmico. Já existem diversas pesquisas no âmbito nacional e internacional que comprovam que algumas empresas gerenciaram seus resultados em razão de diversos incentivos econômicos. Em alguns casos, essas empresas se utilizaram da Contabilidade Criativa para aumentar seus lucros, para atingir projeções de analistas no mercado de capitais ou cumprir cláusulas contratuais de empréstimos. Em outro caso, se busca reduzir os lucros para pagar menos impostos. Existem ainda casos de empresas que se utilizaram da Contabilidade Criativa para suavizar os resultados ao longo de um período de tempo. Há casos no Brasil em que a Contabilidade Criativa foi utilizada? Sim, mas pesquisas demonstram que ocorre Contabilidade Criativa em várias partes do mundo. De maneira geral, ambientes caracterizados por baixa governança corporativa e baixa fiscalização são mais propícios para a sua ocorrência. Em outras palavras, quanto menor o controle, a auditoria independente, a governança, a fiscalização por órgãos independentes, mais propicio é o ambiente para a prática da Contabilidade Criativa. O que difere a Contabilidade Criativa da fraude contábil? A Contabilidade Criativa envolve a utilização da flexibilidade e discrecionarieda-
termo Contabilidade Criativa ganhou notoriedade nos últimos meses quando a Petrobras publicou o balanço do segundo trimestre e mudou a forma de apresentar sua dívida exposta à variação cambial, elevando assim os resultados em cerca de R$ 7 bilhões. A operação foi totalmente legal, mas foi vista pelo mercado como maquiagem, já que a empresa vem sendo alvo de denúncias de superfaturamento na compra da refinaria de Pasadena (EUA) e mais recentemente por conta de desvios de recursos para alimentar um gigantesco esquema de pagamento de propina. Mas o que vem a ser a Contabilidade Criativa? Na opinião de Irineu De Mula, presidente da Academia Paulista de Contabilidade (APC) e expresidente do Ibracon (1994-96) e do CRC-SP (1998-99), o termo Contabilidade Criativa vem sendo usado de forma pejorativa. “Ela é criativa pois cria para o mal, mas não necessariamente é isso. A Contabilidade é uma ciência social, que cresce, se movimenta, se modifica, se amplia em conformidade com o mundo dos negócios. Se eu crio uma operação que antes não existia, evidentemente preciso fazer uma norma contábil para isso. Não é a Contabilidade que foi criativa, mas a governança das empresas que criaram novas oportunidades de negócios”, observa De Mula, lembrando que a área financeira costuma ser extremamente criativa, a engenharia financeira dos grandes bancos, por exemplo, estão sempre criando operações para sobrepujar seus concorrentes. Para o presidente da APC, abordando a questão tecnicamente, sem considerar o momento político, a Petrobras adotou um procedimento contábil no reconhecimento das variações cambiais totalmente correto. “A operação foi taxada de Contabilidade Criativa, mas na verdade ela estava absolutamente alinhada com a Norma Internacional (IFRS) ao qual estamos convergindo. A Norma Internacional reconhece os resultados daquela maneira em determinadas circunstância. Se você usou nas circunstâncias apropriadas, não tem nada de criativo, pois se está adotando um procedimento preconizado pela IFRS que não se adotava antes, mas que nada tem de errado, não deve merecer dos auditores uma ressalva ou coisa do tipo. Se diz que, com isso, o governo reduziu uma perda enorme de bilhões de reais, mas o procedimento estava suportado por uma norma internacional. Não tem nada de criativo, tem sim de evolutivo”, argumenta. De acordo com o presidente da APC, no mundo todo, e também no Brasil, os escândalos que ocorreram são tidos como contábeis, o que ele discorda. “Os escândalos são corporativos, muitos deles criados dentro dos gabinetes da presidência do conselho de administração e com a anuência dos gestores. Essas fraudes muitas vezes sequer tiveram a participação de um contador, mas depois virou um escândalo contábil. Na verdade, a Contabilidade revela o escândalo por meios dos registros contábeis, ela não faz o escândalo”, afirma. “A Contabilidade Criativa quase sempre é interpretada como o mau uso contábil, algo que veio para escamotear a verdade. Se confunde o termo
O
de existente dentro das normas contábeis. Nesse sentido, alguns defendem que seria uma prática lícita, pois seria como “achar uma brecha numa lei de Direito” que beneficiasse a empresa. Já a fraude contábil envolveria uma tentativa deliberada de manipular a informações financeiras da empresa e
implicaria a violação das normas contábeis. A área Fiscal é mais propícia ao uso da Contabilidade Criativa pela complexidade da legislação? Concordo que a complexidade pode gerar uma oportunidade para a Contabilidade Criativa. Entretanto, enten-
criativo com Contabilidade evolutiva. A Contabilidade evolui, assim como o mundo dos negócios”, completa. De Mula afirma que a área fiscal é um setor em que a Contabilidade Criativa pode ser utilizada para gerar economia, com procedimentos aceitos pelo Fisco, mesmo que sem embasamento técnico-científico como Contabilidade. “Se sou o administrador de um patrimônio, tenho de defender esse patrimônio. Se eu adotar um procedimento que não está de acordo com a Contabilidade como ciência, mas que é aceito pela Receita e vai me propiciar uma economia fiscal, estou preservando o patrimônio da entidade que me contratou para desempenhar essa função. Pode ser que o auditor faça uma ressalva de que não está em conformidade com as normas contábeis como ciência, mas será uma ressalva com louvor, como se diz no jargão dos auditores, pois gerou uma economia e a Receita aceita que seja desse jeito. Aí sim, se pode dizer que é criativa”, diz. De Mula ressalta que a Contabilidade tem princípios, tem normas, que é uma ciência social. “Se eu tenho uma operação nova, terei também um procedimento contábil novo. A operação é que foi criativa. A adoção contábil é a mesma, seguindo os princípios das normas de Contabilidade”, comenta. “Não se pode usar a Contabilidade para acobertar atos de simulação, isso é o mau uso da Contabilidade, que não está alinhada aos princípios contábeis e não deve ser aceito por parte do contador. Porém, muitas vezes o contador não tem a independência de fazer o que deseja”.
Irineu De Mula, da APC: Se eu tenho uma operação nova, terei um procedimento contábil novo. A operação é que foi criativa.
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Para o presidente da APC, a Contabilidade evolui com o mundo dos negócios, mas o termo Contabilidade Criativa vem sendo usado de forma pejorativa
Fernando Dal-Ri Murcia
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
do que existem dois outros fatores importantes que concorrem para a ocorrência da Contabilidade Criativa: a racionalização e a pressão. A racionalização refere-se basicamente em como o individuo enxerga a Contabilidade Criativa. É aquela história de que “sonegar impostos é normal, pois todo mundo sone-
ga”. Já a pressão tem relação com os incentivos que o contador ou a empresa tem para engajar em Contabilidade Criativa. Por exemplo, a empresa pode ter um incentivo para atingir um determinado resultado ou meta esperada pelo mercado. Quanto maior a pressão, maior a chance de Contabilidade Criativa.