90 anos com Mealhada

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90 ANOS COM

MEALHADA Esta revista faz parte integrante da edição de hoje do Diário de Coimbra e não pode ser vendida separadamente



90 anos com Mealhada Introdução

Diário de Coimbra

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90 anos com a Mealhada

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Natureza revelou-se pródiga. Abençoou o Luso-Buçaco, tornando-o um verdadeiro “cantinho do céu”. A Mata centenária ergue-se, profética e majestosa. Na mesma Serra onde nasce uma água única. Cedo se descobriram as suas qualidades terapêuticas para as mais diversas maleitas. Surgiam, assim, as Termas e os turistas. Depois, esta água «puríssima» parte à conquista do coração dos portugueses, levando o Luso ao mundo. Água, uma das Maravilhas da Mealhada. Junta-se-lhe o vinho, fruto da videira e do trabalho do homem. Outra das bênçãos com que a Natureza presenteou a Mealhada. Numa terra pobre, fez nascer e crescer um “terroir” com identidade e tradição, distinto, que faz honras à Bairrada. Uma terra de gente dinâmica e empreendedora, que desde sempre soube inovar, fazer bem e diferente. Que cresceu e se afirmou. Mas também gente alegre, bem-disposta, que vê o Carnaval como uma verdadeira festa e, numa demonstração da força mobilizadora do associativismo, celebra esta data

com euforia e vivacidade, confirmando que a alma do samba está onde existir essa vontade. É à Mealhada que o Diário de Coimbra dedica, hoje, mais uma revista, no âmbito dos 90 anos de publicação do jornal. Um projecto editorial que nos leva numa viagem por alguns dos momentos mais emblemáticos da vida e da história do concelho e a destacar algumas personalidades e eventos que imprimiram a sua marca neste percurso. Muito fica, não tenhamos dúvidas, por dizer, por saber e por contar. Neste simbólico registo de memórias, convidamos os leitores a partilharem connosco esta viagem, necessariamente breve. A recordarem alguns dos ícones deste território, as suas tradições, o espírito inovador e irrequieto da suas gentes. Mas também a arte de bem-fazer e de bem-receber que desde sempre fizeram e fazem parte da imagem de marca da Mealhada. Uma terra com vida, que convida e tem muito para oferecer e sabores únicos para partilhar. Sobretudo o leitão assado, eleito uma das 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa. 

FICHA TÉCNICA Fevereiro de 2021 Director: Adriano Callé Lucas Directores-adjuntos: Miguel Callé Lucas e João Luís Campos Directora-geral: Teresa Veríssimo Coordenação editorial: Manuela Ventura

Coordenação comercial: Mário Rasteiro Textos: Manuela Ventura e Mónica Sofia Lopes Fotos: Ferreira Santos, Figueiredo,

Mónica Sofia Lopes, José Moura, Arquivo da Família Messias Baptista, Arquivo e D.R. Vendas: Fernando Gomes e Marta Santos Design gráfico: Pedro Seiça

Publicidade: Carla Borges e Rui Semedo Impressão: FIG – Indústrias Gráficas, SA Tiragem: 10 mil exemplares


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Opinião 90 anos com Mealhada

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Pelas Pessoas, continuamos a melhorar o concelho Rui Marqueiro Presidente da Câmara Municipal da Mealhada

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m 2021, damos por concluído um ciclo de dois mandatos à frente do Município da Mealhada. Com o slogan “Pelas pessoas, sempre”, vimos renovada a confiança dos eleitores em 2017 e, nunca, como agora, esta nossa ideia fez tanto sentido. Este nosso mandato fica marcado por uma pandemia terrível que nos obrigou a esticar recursos para defesa e proteção dos nossos munícipes, nas áreas social, de saúde, de economia. A par deste enorme esforço, não perdemos, no entanto, a visão estratégica que tínhamos para o concelho, trabalhando para

que a Mealhada seja um território atrativo para as gerações futuras. Construímos escolas e remodelámos jardins de infância, consolidámos o apoio social, requalificámos espaços para potenciar o turismo, como o Convento de Santa Cruz do Bussaco, apoiámos coletividades, remodelámos pavilhões, relançámos a cultura, impulsionámos a economia local. E projetámos o futuro com obras fundamentais para a melhoria da qualidade de vida das populações. É o caso da remodelação da ETAR da Mealhada, uma obra de mais de 2,6 milhões de euros, é também o caso da aquisição da Quinta do Murtal, que vai permitir o arranjo urbanístico daquela zona da cidade e homenagear o mais ilustre mealhadense nos últimos 200 anos. Apostámos na remodelação do sistema de distribuição de águas, preparando-o para o futuro, investindo quase dois milhões de euros. Temos os mercados da Mealhada e da Pampilhosa praticamente concluídos e já

adjudicámos a obra de requalificação da piscina municipal da Mealhada, que ascende a mais de 1,3 milhão de euros. Temos na rua a requalificação do centro histórico, uma obra que vai melhorar o centro urbano e criar um parque de estacionamento e que ascende a 1,3 milhão de euros. Já iniciámos o Parque de Estacionamento do Vale de Castanheiros, no Luso. A par destas, damos início às novas infraestruturas: o novo edifício municipal, a requalificação da baixa da Pampilhosa; o “Chalet suisso”, a Sala Polivalente, no Luso. Seguimos, pois, uma estratégia ambiciosa, mas concretizável, graças ao empenho e resiliência de todos os serviços e à boa gestão financeira da Autarquia, que fechou as suas contas de 2020 sem dívidas a fornecedores e com um saldo bancário de 7,8 milhões de euros. Acredito que temos argumentos que refletem um trabalho sério que orgulhará o Executivo a que tenho a honra de presidir.


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90 anos com Mealhada Mata do Buçaco

MATA DO BUÇACO: UM HINO DE FÉ À NATUREZA 2017 Paraíso da biodiversidade e património arquitectónico único quer ascender ao patamar cimeiro da monumentalidade e ser Património Mundial da UNESCO

Floresta Relíquia é um dos atractivos da Mata. Um espaço único na Europa

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inspiração veio da fé. O resto foi trabalho dos homens. Aconteceu em 1928. Os monges Carmelitas Descalços instalaram-se no Buçaco. Estava ali o “deserto”que procuravam. Um “deserto” que transformaram numa mata-jardim verdadeiramente mágica. Do México vieram os cedros, que se adaptaram na perfeição. Da Austrália e da América chegaram as araucárias, as sequóias, os fetos e os eucaliptos. Todas cresceram. Tornaram-se verdadeiros gigantes à conquista dos céus. Um caminho para Deus, inspirado numa fé sóbria, humilde. Vestida de verde e serpenteada de água. Em 1834, a extinção das ordens religiosas, ditou a partida dos monges. Ficou o seu precioso legado. Até hoje. Uma herança que faz parte da lista indicativa de candidatos a Património Mundial da UNESCO São 110 hectares. Um oásis com 350 mil árvores e arbustos de cerca de 250 espécies. Algumas com um porte considerável. «Temos o maior eucalipto da Europa», afirma António Gravato, presidente da Fundação Mata do Buçaco, entidade responsável pela gestão da Mata. Um exemplar único, com

cerca de 73 metros de altura, que faz parte do Trilho de Árvores Notáveis. São 26 exemplares, árvores de grande porte, entre freixos, araucárias, sequóias, cedros do Buçaco. Todas classificadas como monumento nacional. «Demorámos dois anos a obter esta classificação», explica. Um processo concluído em Maio de 2017. Um trilho que, naturalmente, representa uma das atracções da Mata do Buçaco. Mas há muito mais para ver. «Temos 140 edificações, o que é fantástico», faz notar António Gravato. Algumas com uma grande monumentalidade, como o Palace do Buçaco, o Convento de Santa Cruz ou a Via-Sacra. Dispersas pela mata, existem várias ermidas e capelas, espaços que os monges usavam para orar e reflectir, isolados do Convento. Mais longe do mundo. Mais perto de Deus. Não é fácil eleger as jóias da Mata. «A Mata é fantástica no seu todo», afirma António Gravato, que se sente constrangido em apontar qual é o seu “filho” preferido. Todavia, reconhece, «há zonas com maior visibilidade, mais apelativas». «O coração da Mata é, sem dúvida, o Palace, o Convento, este conjunto edificado. Toda esta ancoragem

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cria um espaço místico». De visita obrigatória é, necessariamente a Via-Sacra. Uma obra prima, impulsionada pelo bispo-conde D. João de Melo (finais do século XVII) que pretende criar uma réplica perfeita da que existia na Cidade Santa de Jerusalém. No “deserto”Carmelita respeitam-se as medidas exactas, as distâncias e o Pretório apresenta os 28 degraus que Cristo subiu no palácio de Pilatos e a varanda do Ecce Homo. Uma “moda”da época, face à ocupação de Jerusalém pelo Império Otomano e a impossibilidade de visitar a Terra Santa. Uma Via-Sacra que sofreu, ao longo dos tempos, benefícios – como a colocação, no século XVIII, de figuras de vulto em cerâmica e em pedra, ou, já no século XX, com a intervenção do escultor Costa Mota (sobrinho) – mas também sucessivas “campanhas” de destruição, por mão humana ou pela fúria da natureza. Recentemente, avançou um novo processo de recuperação da Via-Sacra no Sacromonte do Buçaco. Mas ainda há muito para fazer... «A majestosidade fantástica da Fonte Fria», com os seus dois lagos, é outro dos espaços de referência. A rainha das fontes da Mata do Buçaco, onde são conhecidas, pelo menos, mais sete. Ali, mesmo ao lado da Fonte Fria, o Vale dos Fetos e dos Abetos. Ou ainda o Trilho das Árvores Notáveis. António Gravato faz questão de destacar uma unidade de paisagem que «talvez seja menos conhecida pelo público em geral», mas que constitui uma referência fundamental para um público mais específico. «Vêm especialistas da Nova Zelândia, Austrália, China ou Japão para visitar a Floresta Relíquia», afirma. Em causa está «a floresta primitiva, anterior à ocupação humana, o adernal». O aderno, uma espécie arbustiva, originária da Austrália, encontrou aqui o paraíso. «De espécie arbustiva, passou a arbórea, de dominado passou a dominante» e criou aqui um «espaço único em toda a Europa». Uma floresta com milhões de anos. Um local místico e majestoso, mas também um tanto fantasmagórico. Quase irreal. «O Buçaco é uma das maiores unidades dendrológicas vivas da Europa, com 250 espécies», afirma António Gravato, que destaca, ainda a biodiversidade da Mata, que é o habitat perfeito de um número significativo de plantas e de animais. Um paraíso inigualável. Esquecido durante demasiado tempo. 


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Mata do Buçaco 90 anos com Mealhada

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Fundação para pôr ponto final no abandono Até finais do século XX viveu-se uma “época de trevas”na Mata Nacional que, pertencente ao Estado, é votada a um completo abandono. É para reverter esta situação, de um «ex libris de Portugal e do mundo, perdido e abandonado», que surge, em Maio de 2009, a Fundação Mata do Buçaco. A Câmara Municipal da Mealhada, a Fundação e a Secretaria de Estado das Florestas (tutela) são o “braço armado” de uma nova era, plasmada num memorandum de entendimento que tem como objectivo pôr termo ao abandono e garantir o futuro da Mata Nacional e valorizar o território. «A intervenção imediata nas principais áreas, na floresta e no ambiente e na área edificada» constituem os principais objectivos da Fundação, explicaAntónio Gravato. Um processo que envolve, na sua matriz, uma aliança estratégia entre a Câmara da Mealhada, a Fundação e o ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e Florestas). Outras se juntaram. Entidades públicas e privadas credíveis, sublinha o presidente da Fundação. «Neste momento são 32 parceiros», entre os quais se encontram os municípios de Mortágua e Penacova (confluentes com a Mata), a Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (CIMRC), Turismo de Portugal, Turismo do Centro, Fundação Luso, Fundação Bissaya Barreto, Navigator, Altri, instituições de ensino superior, como a Escola Superior Agrária de Coimbra. Parcerias, mecenas, que se têm revelado fundamentais para, juntamente com os apoios comunitários, levar a “carta a Garcia”. «Nunca descansamos com a questão dos incêndios», afirma António Gravato. Se é verdade que a «abundância de água e o micro-clima do Buçaco» tornam os incêndios “difíceis”na Mata, também é certo que «a perigosidade vem do exterior», com «os incêndios importados». Uma realidade que tem levado a Fundação a empenhar-se estrategicamente na limpeza de «uma área que não é nossa», extra-muros. «Desimpedimos cerca de 16 km de caminhos na área adjacente à Mata, que estavam intransitáveis e são estratégicos em termos de protecção civil». Uma obra efectuada em finais de Dezembro de 2019, financiada pelo Fundo Florestal Permanente, que continua, com a manutenção. Mas há mais, como a criação

Vale dos Fetos e Trilho das Árvores Notáveis

de faixas de gestão de combustível externas e criação de rede primária em 70 hectares, e outra intervenção em 42 hectares, com o apoio do POSEUR, bem como operações de redução de combustível e de silvicultura preventiva. Ou, ainda, o alcatroamento da estrada que liga o Museu Militar à Cruz Alta, que estava intransitável. Um curto espaço de 3,5 km repartido pelos municípios da Mealhada, Mortágua e Penacova, e por três distritos: Aveiro, Viseu e Coimbra.

Promover a reflorestação Dentro da mata, há um conjunto de projectos em marcha, alguns propostos ou apadrinhados por mecenas.António Gravato exemplifica com a Cervejaria Ramiro, de Lisboa, cujo proprietário, Pedro Gonçalves, vai apadrinhar um hectare de medronheiros (625 árvores), no Pinhal do Marquês, garantindo um donativo à Fundação. Um gesto que revela não apenas a «sensibilidade» do empresário, mas também «a notoriedade e visibilidade da Mata». Noutro registo, um já concluído e outro em projecto, estão contactos com o PS e PSD, respectivamente, que pretendem reduzir a pegada de carbono decorrente das eleições legislativas com a plantação de árvores na Mata do Buçaco. «A mata não tem cores nem partidos, é de todos os portugueses», faz questão de frisar António Gravato, lembrando que por cada árvore

que cai ou morre devem ser plantadas duas ou três, de forma a manter e promover a biodiversidade. Refere, igualmente, a aprovação do Plano de Desenvolvimento Regional para a reflorestação em zonas de clareira, que envolve a plantação e limpeza, a efectuar por talhões. Uma parceria com a Escola SuperiorAgrária de Coimbra, através da equipa liderada por Raul Solas, Beatriz Fidalgo e João Gaspar. Esta atenção à paisagem é fundamental e tem de ter em conta as alterações climáticas. António Gravato lembra que no século XX apenas há registo de um ciclone, em 1941, que atingiu todo o país. Mas a cadência de temporais no século XXI é completamente outra. Se dúvidas houver, basta pensar que em 2013 foi o ciclone Gong, em 2018 a tempestade Leslie e em Dezembro de 2019 o Fabien, seguindo-se, imediatamente, em Janeiro de 2020, a tempestade Glória. Uma realidade nova que preocupa a Fundação. «Temos de pensar na tipologia das espécies, mais resilientes e que se adaptem melhor», faz notar, sublinhando, todavia, a necessidade manter a diversidade. Igualmente tendo em conta as alterações climáticas, a Fundação vai, com, o apoio do FundoAmbiental, avançar com um projecto de infraestruturação da Mata, intervencionando a zona do Vale dos Fetos, até à Fonte Fria, uma zona considerada mais crítica, sujeita a enxurradas.



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Mata do Buçaco 90 anos com Mealhada

Proteger e valorizar o património construído Relativamente à recuperação do património edificado, António Gravato destaca a intervenção efectuada no Convento de Santa Cruz – onde “chovia a cântaros”, concluída há dois anos, e nas capelas da Via-Sacra, ainda não terminada. Um investimento de um milhão e 200 mil euros, que envolveu uma parceria entre a Câmara Municipal da Mealhada e a Direcção Geral da Cultura. Foram igualmente recuperadas algumas antigas casas dos guardas florestais, sete das quais funcionam como espaços de alojamento local (casas da Floresta Relíquia, do Miradouro, do Serpa, das Ameias, das Lapas e da Feteira). Mas há muitos projectos em marcha. O presidente aponta a recuperação do Chalé de Santa Teresa, candidato ao Interreg – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, num projecto que envolve a Junta de Castilha y León, o Ayntamento de Béjar (ambos de Espanha) e a Fundação Mata do Buçaco. Um investimento previsto de 266 mil euros, que pretende criar um espaço de acolhimento e exposições temáticas. Na calha está a recuperação das antigas garagens do Palace, onde se pretende criar um espaço multiusos , «que faz falta». «Recebemos muitas pessoas, há imensos eventos e não temos um espaço». O projecto já foi apresentado à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) e está orçado em 900 mil euros. E também a recuperação da Fonte Fria, uma obra que, explica António Gravato, suscitou o interesse da World Monuments Found, através da presidente da Associação de Jardins Históricos, Teresa Andersen. «A associação está interessada em financiar a recuperação da escadaria», afirma com agrado, sublinhando que se trata de um «monumento importantíssimo», que vai ganhar uma maior dignidade.Aintervenção, prevista para arrancar em Dezembro, foi adiada devido à pandemia, mas vai arrancar a breve trecho. «A Fundação tem de ter uma estrutura estável e musculada para intervir na mata, sempre com o objectivo de valorizar o território», afirma Gravato, que não tem dúvidas que o novo modelo de gestão vai «oferecer outras condições». Assegurado está o financiamento do Estado, que até então não “punha um tostão” na Mata do Buçaco. 

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Via-Sacra, uma réplica de Jerusalém, tem vindo a ser recuperada

Candidatura a Património da UNESCO Durante 75 anos a Mata do Buçaco viveu com a classificação de Imóvel de Interesse Público. «Não se percebe», considera o responsável da Fundação. «Estávamos na segunda divisão», ironiza. Uma situação que, inclusivamente, «dificultava a candidatura a fundos comunitários», apesar de alguns projectos serem considerados do maior interesse. Só a 15 de Janeiro de 2018 a Mata Nacional foi reclassificada, ascendendo à categoria de Monumento Nacional. Um processo no qual António Gravato destaca o empenho, mais uma vez, do presidente da Câmara da Mealhada. «Ascendemos à primeira Liga», considera, usando a gíria futebolística. Seguiu-se uma nova aposta. Trata-se, agora, de disputar a “Liga Champions”. Ou seja, a candidatura a Património Mundial da UNESCO. Um projecto de longa data, apresentado em 2017, durante a Feira de Turismo de Lisboa. «Estamos na corrida. Fazemos parte da lista indicativa», refere o presidente da Fundação.António Gravato enaltece o envolvimento da Universidade de Coimbra, na pessoa do prof. Raimundo Esteves, que foi uma figura de proa na candidatura da Universidade, Sofia e Alta de Coimbra à UNESCO. «Estamos muito bem assessorados», considera. Mais do que isso, «temos um legado, um património inquestionável». Rui Marqueiro, presidente da Câmara da Mealhada e um dos maiores entusiastas desta candidatura, sublinha a aposta no

«selo de maior relevância» e reconhece que se trata de um desafio «difícil». «Nem todas as grandes candidaturas são aprovadas», faz notar. Todavia, confiante, o autarca destaca o «bom trabalho» feito pela empresa que apoia a Câmara e a Fundação nesta candidatura, e a «boa reacção» do Conselho Nacional que «reportou a candidatura para a sede da UNESCO». Lembra ainda que a candidatura de Coimbra demorou 10 anos a obter aprovação. «Quanto chegarmos à UNESCO, o paradigma vai ser completamente diferente. Já não vai ser preciso divulgar a Mata. As pessoas vêm “comprar” a mata», afirma Gravato. O aumento da visitação é, de resto, uma das prerrogativas que este “selo” da UNESCO irá garantir no futuro. Para a Mata é a subida a um patamar cimeiro. «Somos o segundo local mais visitado da região Centro, logo a seguir à Universidade de Coimbra», adianta, apontando os 237.500 visitantes registados em 2019 e o aumento de 37% verificado nos últimos seis anos. 

Mata do Buçaco é o segundo local mais visitado da região Centro, imediatamente a seguir à Universidade de Coimbra, distinguida com o selo da UNESCO


90 anos com Mealhada Convento

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A RIQUEZAI SÓBRIAI E DISCRETAI DO CONVENTOI DE SANTA CRUZI

Convento foi intervencionado ao nível do telhado e da estrutura

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s obras terão começado em 1628, imediatamente depois do bispo de Coimbra, D. João Manuel, ter doado a Mata à Ordem dos Carmelitas Descalços para ali construírem o seu “deserto”. A construção do Convento de Santa Cruz e da vasta cerca terá terminado em 1639. Um Convento que apresenta uma planta considerada única, que tenta replicar a ideia mítica do Templo de Jerusalém, e celebra o voto de pobreza assumido pelos monges. O Convento foi alvo de uma profunda e necessária obra de requalificação, uma vez que a estrutura do telhado apresentava grandes fragilidades, com a chuva a ter uma “porta aberta”. Uma obra que se estendeu às capelas da Via-Sacra e representou um investimento global de um milhão de euros, com um apoio de fundos comunitários (85%) e da Câmara da Mealhada, que assumiu o papel de “dona da obra”e garantiu o valor remanescente. A empreitada pro-

longou-se durante 18 meses, sob orientação da Direcção Regional da Cultura do Centro, ficando concluída em Julho de 2019. Trata-se de um espaço que surpreende pela originalidade. A começar pelo revestimento de cortiça, ou melhor, verdadeira “casca” de sobreiro, que cobre todo o tecto da estrutura. Poder-se-ia pensar numa solução de excelência em termos térmicos. Mas não é disso que se trata. Antes de uma solução decorativa que demonstra a simplicidade e o despojamento dos monges. O mesmo espírito ascético caracteriza grande parte dos altares, despidos, ornamentados apenas com azulejo. «O Buçaco tem uma das maiores colecções de altares de azulejo», esclarece o arqueólogo Rui Baptista, que nos acompanha na visita. «Seriam pequenos oratórios», onde, ao invés dos «brocados» e de outros tecidos ricos, habitualmente utilizados nos altares, figuram simples azulejos. Outros semelhantes estão dispersos pelo monte, onde

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existem várias ermidas (seriam 12), espaços onde os monges se refugiavam para uma vida de oração. Também a Igreja é diferente do habitual, sem separações, sem grades. Percebe-se claramente que era um templo apenas para os monges. As imagens, de grande beleza, também contrariam a tendência da época. Rui Baptista faz notar isso mesmo. «Estamos em pleno período Barroco, mas aqui praticamente não há talha dourada nem os mármores» que caracterizam esta época. As imagens obedecem a uma «concepção pobre», sem o dourado. O mármore não existe, substituído pelo azulejo. «Já temos 11 imagens recuperadas», esclarece o arqueólogo. Um trabalho de mecenas que tem vindo a ser efectuado paulatinamente. O profeta Elias e S. João da Cruz foram recuperados pela Fundação Luso. A terceira imagem, da Virgem Dolorosa, cuja recuperação a Fundação Luso assegura (com a bilheteira das exposições que organiza), está em falta no altar, precisamente porque em recuperação. Além de várias pinturas, a Igreja apresenta um presépio, que será uma produção dos ateliers de Machado de Castro. Igualmente de grande beleza é o baixo relevo da “Dorminação da Virgem”(morte da Virgem Maria), de autor desconhecido, instalado sob uma imagem de Nossa Senhora do Carmo. O outro baixo relevo, junto ao altar, ilustra a morte de Cristo. Ao contrário da maioria dos Conventos, cujo centro converge para um claustro, aqui esse espaço central é ocupado pela Igreja e há apenas quatro pequenos pátios exteriores, que seriam adornados com laranjeiras. Os corredores, que conduzem à Igreja, mantêm a cortiça como elemento dominante, com várias pinturas, algumas das quais se presume serem da autoria dos próprios monges.Atorre ostenta um relógio e quatro sinos. Uma das celas apresenta a memória viva da Batalha do Buçaco, com uma vitrine que ostenta armas e espadas. De resto, o tenente-general Arthur Wellesley, futuro duque de Wellington, que liderou as tropas anglo-lusas no combate contra o general André Massena, pernoitou no Convento na noite de 27 de Setembro de 1810, depois da célebre batalha. Uma memória igualmente preservada pela inscrição que recebe os visitantes, logo à entrada do Convento de Santa Cruz. 


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Palace 90 anos com Mealhada

HOTEL PALACE:: A REALIDADE DEI UM CONTO DE FADASI Palace do Buçaco é considerado um dos hotéis mais belos do mundo

1920 Empresário Alexandre de Almeida assina com o Estado a concessão de um espaço que até hoje se mantém sob a tutela deste grupo hoteleiro. Um caso único no país e raro no mundo

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gatha Christie, François Mauriac, Jules Romains, Miguel de Unamuno, Cole Porter, Hercule Poirot, Marie-José de Belgique, Joshua Benoliel, Sir Walter, Duarte Pacheco, Fernandel, Jacques Chirac, Amália Rodrigues, D. Juan Carlos de Espanha, Jacques Delors,

Lady Diane Wellington, General Ramalho Eanes, D. Manuel II, Géraldine Chirac, Bensaúde Oulman, Américo Tomás, António de Oliveira Salazar, Malcolm D. Williams ou D. Amélia de França e Bragança. Em diferentes épocas, estas foram algumas das figuras ilustres que passaram pelos salões

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do Palace Hotel do Buçaco. Um espaço mítico, considerado um dos mais belos, românticos e históricos hotéis do mundo. Um verdadeiro palácio real, que, hoje como ontem, continua a exercer um fascínio especial e a atrair gente dos quatro cantos do mundo. Uma experiência de um autêntico conto de fadas, que se vive dentro das seculares paredes, mas também no exterior, na histórica mata envolvente e no cunho único do património que a caracteriza. Um lugar de sonho, com classificação de cinco estrelas. Mandado construir pelo rei D. Carlos I, como pavilhão de caça real, o denominado “Edifício Monumental” foi entregue ao arquitecto italiano Luigi Manini e as obras arrancaram em 1888. Um edifício em estilo neo-manuelino, cuja estrutura «exibe perfis da Torre de Belém lavrados em pedra de Ançã, motivos do claustro do Mosteiro dos Jerónimos, alguns arabescos e florescências do Convento de Cristo, alegando um gótico florido com episódios românticos». No interior, «destacam-se notáveis obras de arte de grandes mestres portugueses da época, desde a colecção de painéis de azulejos do mestre Jorge Colaço, evocando “Os Lusíadas”, os autos de Gil Vicente e a Guerra Peninsular, graciosas esculturas de António Gonçalves e de Costa Mota, telas de João Vaz, ilustrando versos da epopeia marítima de Luís Vaz de Camões, frescos de António Ramalho e pinturas de Carlos Reis». «O mobiliário inclui peças portuguesas, indoportuguesas e chinesas, realçadas por faustosas tapeçarias. Destaque, ainda, para o tecto mourisco do restaurante, o notável soalho executado com madeiras exóticas do salão nobre e a galeria real». O rei D. Carlos, acompanhado pela rainha D. Amélia, inauguraram o hotel, em Setembro de 1904, promovendo festas, bailes e concertos, chegando o monarca, inclusive, a fazer ouvir a sua voz de barítono. Um ambiente único que, mais tarde, ganharia novo fôlego, fora da chancela da coroa, mas mantendo o requinte real. O empresário Alexandre de Almeida, natural do Luso, o grande percursor da indústria hoteleira e do turismo em Portugal, conheceu de perto, em criança e jovem, o palácio e acabou por ser o obreiro desta transformação. E de muitas outras, dando início a uma tradição de família que perdura há mais de um século. «Um caso único em Portugal» e igualmente «muito raro na Eu-


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ropa» Todavia, antes de se associar a Paul Bergamin, que explorava o ainda inacabado Grande Hotel da Mata do Bussaco, o jovem Alexandre começa inovar na “Casa Alliança”, designadamente com a instalação da primeira máquina de café, cujo apito era um verdadeiro “chamariz” paras «os clientes desejosos de tomarem um café fresco. Era vê-los afluir para a “Casa Alliança”, como abelhas a mel», escrevem Alexandre de Almeida e Jorge Tavares da Silva, na obra “Centenário dos Hotéis Alexandre de Almeida. Os primeiros 100 anos de uma família hoteleira portuguesa – 1917-2017”. Segue-se a aposta nas recordações para os turistas e numa sociedade de táxis, «concorrendo directamente com as charretes que efectuavam o serviço de passageiros da estação da Pampilhosa para o Luso e para o Buçaco». É todavia, em Lisboa que Alexandre de Almeida avança com o seu primeiro hotel, o Metrópole, que o obriga a afastar-se do Buçaco. Em 1917, de acordo com a mesma obra, «o excelente cozinheiro e pasteleiro que era Paul Bergamin reconhece não estar à altura de uma gestão moderna» e chama o antigo sócio, Alexandre de Almeida. «Em 22 de Março de 1920, o Palace Hotel do Bussaco entra realmente na era de Alexandre e, simultaneamente, na história da hotelaria em Portugal», referem os dois autores. Era o início de uma concessão que dura até aos dias de hoje. Segue-se um período de obras e a contratação de profissionais de excelência, vindos do estrangeiro, com experiência e créditos firmados. «O hotel apresenta-se então como: “ O melhor hotel de Portugal e um dos melhores da Europa. Instalações artísticas e de luxo. Magníficos salões, appartamentos completos, telefone para rede geral do país, Orquestra, garage, Sports, etc,. Todos os domingos Chá Dançante e reunião Elegante. Situado na linha Figueira da Foz – Vila Formoso (estação Luso-Bussaco ou Pampilhosa) a 2 horas da Figueira da Foz, 3 horas de Lisboa e 2 do Porto”». O objectivo de Alexandre de Almeida torna-se realidade: «criar um Palace onde os hóspedes pudessem usufruir do ambiente de um paço senhorial e de uma mata riquíssima, no âmago de uma região gastronómica e vinícola de grande reputação», escrevem ainda os autores da obra. Um registo que consegue através de uma reinventada cozinha portuguesa de "terroir”, numa altura em que a "cuisine francaise" era a "rainha", a que juntou uma colheita

90 anos com Mealhada Palace

própria de vinhos, produzida pelo hotel desde 1920, com uvas provenientes das propriedades da família. Um misto de Dão e Bairrada, com as castas próprias da região, que proporciona um vinho único, branco, tinto e rosé. Alexandre de Almeida morre em 1972. Na memória de todos fica o homem e a obra, mas também o espírito inquieto, que desafiou o então poderoso ministro Duarte Pacheco, aquando das primeiras transformações no Buçaco, em 1936, pondo termo ao diferendo com uma frase lapidar: “V. Ex.a é ministro hoje, eu serei Alexandre de Almeida para sempre”. Alexandre de Almeida, agora o neto, continua a obra, no Palace do Buçaco, na Curia, em Coimbra e em Lisboa, com seis hotéis de referência.

O que oferece o Palace O Palace Hotel do Buçaco tem 60 quartos e quatro suites, com uma profusão de estilos representativos do início do século XX, de Art Nouveau a Art Déco, e de clássicos portugueses como D. José ou D. Maria, todos com mobiliário original da época. Alguns dos quartos mantêm, inclusivamente, o antigo ambiente da época, favorecendo uma experiência histórica. A suite real, em puro estilo Louis XVI, tem sido ocupada por monarcas, chefes de Estado, casais em lua-demel. A antiga sala de banquetes dos Bragança, como o seu incrível tecto árabe e belíssimas telas de João Vaz, ilustrando passagens de “Os Lusíadas”, assistiu, em tempos, a banquetes reais e hoje é o restaurante “Mesa Real”, considerado «um dos mais belos e conceituados restaurantes de Portugal». Frente ao restaurante, merece atenção especial um salão privado para banquetes mais íntimos, a “Sala dos Anjos”, com uma magnífica vista sobre a floresta, que rivaliza com a beleza da pintura, da autoria do mestre Ernesto Condeixa. Junto ao salão nobre, antigo salão de festas, ressaltam os lambris de madeira apainelada, as pinturas com motivos florestais ao gosto pré-rafaelista, em “trompe d’oeil”, da autoria do mestre Carlos Reis e, ao fundo, acede-se, através de um arco sobre quatro colunas, ao bar Carlos Reis, onde sobressai o quadro “Os Derrotados”, imaginado por Carlos Reis e pintado pelo seu filho João. «Um espaço onde se pode relaxar e apreciar uma das colecções de Vinho do Porto, um raro Madeira ou o robusto bruto da Bairrada».

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2020 foi ano de obras As obras, de maior ou menor significado, foram uma realidade ao longo dos últimos 100 anos no Palace do Buçaco. As mais recentes foram efectuadas, de acordo com informação do Grupo Alexandre de Almeida, em 2020, durante a pandemia, altura em que a unidade hoteleira esteve temporariamente encerrada. Em causa estão «obras estruturais», que incluíram, «a recuperação integral da estrutura da cobertura e telhado da galeria exterior do palácio, que se encontrava em risco de colapso, a limpeza do rendilhado em pedra manuelina que ornamenta a galeria, a recuperação dos soalhos do Salão Nobre e do restaurante “Mesa Real”». A operação incluiu, também, «o resgate do piso original em madeira e reparações em inúmeros quartos e suas instalações sanitárias privativas, além das normais obras de conservação e manutenção em diversos espaços públicos e de serviço do hotel», conclui. Alexandre de Almeida, neto do fundador e administrador do Grupo Alexandre Almeida, não esconde o «orgulho por ver tudo recuperado», designadamente a galeria exterior, ou os soalhos do salão nobre, restaurante e quartos. «O piso está todo recuperado» e «os profissionais que fizeram este trabalho garantem que «temos aqui das melhores madeiras que existem no país». Com satisfação refere, ainda, a limpeza da arcada manuelina que dá um novo brilho a este palácio de contos de fadas 


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Palace 90 anos com Mealhada

Diário de Coimbra

Um legado inspirador que a família preserva «O Palace do Buçaco é, de facto, a afirmação do turismo de luxo, entendido enquanto um turismo promotor da realidade geográfica, da cultura regional e do passado histórico de um povo, de uma nação», afirma Alexandre de Almeida. O neto do grande visionário, de quem herdou o nome e a apetência para o turismo, recorda que este «palácio histórico», foi «um edifício semi-acabado, que há 100 anos, graças à visão de um habitante local, conseguiu concretizar a sua projecção», além de ter garantido a «preservação do património histórico». Foi, sublinha, «uma nova vida» para o Palace do Buçaco, ao serviço de uma indústria que «muito contribuiu para a afirmação do turismo português e que desde há 104 anos se apresenta como um grande embaixador do turismo nacional». Referindo a simplicidade do avô Alexandre de Almeida, um homem que não tinha mais do que a quarta-classe e «praticamente aprendeu a ler e a escrever na tropa», o empresário destaca o ambiente «cosmopolita» que se vivia, à época, no Luso, «graças às Termas» e que ditou, designadamente a construção do Palace, uma obra que começou em 1888, ou seja três anos depois do nascimento do avô. «Ele conviveu com a obra e, através da obra, com um mundo até então desconhecido», salienta, destacando as figuras gradas da cultura da época que, na altura, a convite da coroa, se deslocavam ao Luso e «visitavam o café da família», a célebre Casa Alliança. «De repente, ele percebe aquele mundo maior e descobre o turismo e inspira-se no turismo como a missão da sua vida». Um empreendedor nato, um visionário

Hotel mantém o traço distintivo da decoração original, com obras de artistas de referência

«surpreendente», «inspirador para toda a família», assume. Alexandre de Almeida conta que durante muito anos, quando chegava a Paris, Londres ou a qualquer outra «capital internacional», se habituou a que, num hotel, olhassem para a sua ficha de cliente ou para a sua bagagem e lhe perguntassem se era português e familiar de Alexandre de Almeida. Muitos desses funcionários tinham trabalhado com a família em Portugal, atestando a verdadeira escola de formação que Alexandre de Almeida criou. Com efeito, confrontado com a inexistência de profissionais qualificados em Portugal, «foi buscá-los ao estrangeiro», dando início a um processo de formação ímpar, que criou um leque alargado de profissionais de excelência, que rumaram posteriormente para alguns dos melhores hotéis do mundo. «Ele criou escola», sublinha e o

«Buçaco foi um grande berço dessa formação» e igualmente «a coluna vertebral da nossa actividade». A criação da Escola de Hotelaria de Lisboa foi, depois, a “oficialização” desse projecto de formação. Também ao nível dos sistemas de informação e de gestão Alexandre de Almeida foi inovador. Os paradigmas criados em 1918 pelo avô «nada perderam relativamente ao que é feito hoje. A diferença é o recurso à informática», garante o empresário. «Foi um pioneiro», considera. «É um orgulho ver a empresa continuar», diz Alexandre de Almeida, confiante que a nova geração da família «possa dar continuidade» a este projecto que já contabiliza mais de 100 anos. «Uma empresa familiar que se mantém dentro do rumo traçado, um projecto muito assente na genuinidade da nossa oferta e oferecendo o melhor a quem nos visita». 



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Museu Militar 90 anos com Mealhada

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MUSEU MILITAR: DESCOBRIR OS CONTORNOS DE UMA BATALHA DECISIVA 1910 Momento ímpar para a independência do país, a memória da Batalha do Buçaco mantém-se viva, tendo o Exército com, seu fiel guardião. Um Museu único em todo o território nacional

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m soldado do Regimento de Caçadores e um miliciano do Exército português recebem-nos à entrada. Mas há muito mais uniformes para descobrir, das cores lusas, mas também inglesas e francesas. Peças de artilharia ou, como vulgarmente lhe chamamos, canhões, mas também pistolas, espadas – direitas e curvas - espingardas e inclusivamente, uma carabina com tiro de precisão. Dos mais diversos tamanhos e proveniências, eram as armas da época. «É tudo genuíno», sublinha o major Lino Vicente Graça, responsável pelo Núcleo Museológico do Buçaco. Mas também há litografias, que ilustram a «propaganda de Napoleão», um tambor ou um sistro. Se o primeiro é um instrumento comum, o segundo, um artefacto com dezenas de pequenos sinos, impõe-se pela dimensão e suscita a curiosidade. «Imprimia o ritmo de andamento das tropas», apressa-se a esclarecer o major Graça. «Era levado à frente ou no meio», adianta. As bandeiras dos vários regimentos ou dos ostensivos bustos do vencedor e do vencido, respectivamente de Arthur Wellesley, Duque de Wellington e comandante do Exército Anglo-Luso, e Napoleão Bonaparte, o Imperador de França, são outros dos atractivos do Museu Militar. Mas há muito mais para ver. Se as maquetas nos apresentam a frente de batalha, com as tropas a postos ou confirmam que a estratégia seguida foi realmente certeira, as vitrines do Museu Militar oferecem outras relíquias dignas de um olhar atento. Na verdade, está ali religiosamente guardado aquele que terá sido o último tinteiro utilizado por D. Manuel II, último rei de Portugal, precisamente no Buçaco, 100 anos depois da batalha, no dia 27 de Setembro de 1910. Foi aquele o tinteiro usado pelo monarca quando assinou os documentos referentes à inauguração do Museu

Museu Militar do Buçaco preserva a memória e o espólio da grande batalha

Militar, naquele que seria um dos seus últimos actos oficiais como rei de Portugal. Dias depois, a 5 de Outubro, assistia-se à implantação da República. Era o início de uma nova era. O tinteiro permanece, intocável à passagem do tempo. O mesmo acontece com um pedaço do globo de cristal do Obelisco original, danificado por um raio, em Dezembro de 1876. O mesmo não se poderá dizer de um leque, que alegadamente pertenceu a D. Teresa de Carvalho, uma senhora que privou com o Marechal Massena. Uma recordação das vivências directas ou indirectas da batalha, que tem sofrido o desgaste do tempo e que nada garante que continue por muito mais décadas a dar o seu testemunho aos vindouros. Com um estatuto de quase eternidade, ficam as pistolas, espingardas, carabinas e peças e artilharia que emolduram as vitrines e os recantos do Museu e também o “Terraço dos Ca-

nhões”, um espaço entre a Capela e o Museu, que reúne dois exemplares da artilharia portuguesa do “Arcenal Real do Exército”. E também, logo adiante, a estátua de D. João VI, uma réplica em bronze dos monumento existentes no Porto e no Brasil, onde o rei e toda a Corte se refugiaram.

História em três salas São três salas distintas que se seguem à entrada, um espaço onde funciona a bilheteira e é possível adquirir pequenos soldados, recordações da batalha, mas também peças de cerâmica alusivas à memória inesquecível da Grande Batalha. Há ainda livros sobre o encontro bélico e sobre o Buçaco. Na primeira sala, recebem-nos dois manequins, com as fardas militares da época. Ambos das tropas lusas. Seguem-se as vitrinas com armas. As espadas curvas, esclarece o guardião do Museu do Buçaco poderão ter sido inspiradas


90 anos com Mealhada Museu Militar

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numa tendência da época de Napoleão, talvez resultante de uma campanha no Egipto. Outra explicação é dada pelo tenente-coronel Paulino, sub-director em exercício do Museu Militar de Lisboa, que aponta a diferença, entre as espadas da Cavalaria e da Infantaria ou Artilharia, com as primeiras a serem curvas devido à maior eficácia em recolher a arma após o golpe. Uma série de litografias ilustram o espírito da época, com o objectivo de levar o visitante a entrar no espírito do tempo. Segue-se uma segunda sala, mais pequena. À entrada somos recebidos pelos majestosos bustos de Napoleão e Wellington, feitos em mármore. Duas peças escultóricas geniais. É a ante-câmara da batalha, o espaço onde o visitante é presenteado com documentários, que sintetizam a Guerra Peninsular, com um enfoque especial na Terceira Invasão Francesa e na Batalha do Buçaco. O manequim com a farda de um soldado inglês de Infantaria Ligeira e duas peças de artilharia, com a chancela do Arsenal Real do Exército, integram, ainda, este cenário. Segue-se a terceira sala. Mais ampla e abrangente no volume de material exposto, mas com um enfoque muito preciso na Batalha do Buçaco. Três maquetas ajudam a contextualizar o visitante. A maior e mais antiga apresenta a disposição dos dois exércitos, numa recriação do espaço, mas sem dar atenção ao relevo. O tenente-coronel Paulino recorda que, nesse tempo, o Buçaco era um espaço descampado, muito diferente da zona amplamente arborizada que hoje conhecemos. Já com o relevo correcto e respeitando a orografia do terreno, está a segunda maqueta, mais recente, de Setembro de 2019, atesta o major Graça, que explica

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Fardamentos usados pelos exércitos na época são um dos atractivos do Museu

demoradamente o esquema das posições assumidas pelas dois exércitos e a forma como a estratégia definida por Wellington levou de vencidas as tropas de Massena. Uma terceira maqueta, de menores dimensões, dá a conhecer a ocupação de Sula. É nesta terceira sala que se encontra o sistro, o tambor, o que resta do decorativo leque, a carabina com trio de precisão, peças de artilharia, canhões, as bandeiras dos diversos regimentos, e também o tinteiro usado por D. Manuel e o pedaço do Obelisco partido por um raio. «Algumas peças recolhidas no campo de batalha» terão sido inicialmente guardadas na Capela. Entre armamento e equipamento, existia um espólio que não estava catalogado nem organizado, mas que “inspirou” a criação do Museu, ordenada pelo

próprio rei pouco depois da batalha. O actual espólio existente no Museu Militar do Buçaco resulta, sobretudo, de uma exposição realizada em Lisboa, «onde se reuniu grande parte do espólio» relacionado com as invasões napoleónicas. Hoje, no Museu Militar de Lisboa, existe uma secção dedicada às invasões napoleónicas, explica o tenente-coronel Paulino. O director em exercício do Museu Militar de Lisboa, do qual depende o Núcleo Museológico do Buçaco, esclarece ainda que, em 2006, numa reorganização efectuada, os museus militares passaram todos a ser temáticos. O Buçaco cumpria, desde a origem, esse desígnio. Nasceu para guardar a memória da Batalha do Buçaco e assim continua. Foi inaugurado 100 anos depois da batalha, no dia 27 de Setembro de 1810.

Uma luta de titãs Foi um confronto decisivo, em que Wellington levou a melhor sobre as tropas lideradas por Massena. Dois exércitos em confronto. Os gauleses sequiosos de sangue, animados com a possibilidade de um confronto frente a frente com o exército anglo-luso. Do lado anglo-luso, além do inquestionável prestígio do duque inglês, o visceral ódio aos franceses animava as hostes. A estratégia de Wellington resultou em pleno e a Serra do Buçaco ajudou. Foi

mais um guerreiro a lutar ao lado do exército de 50 e tal mil homens, que defrontou os 60 e tal mil (inicialmente o exército de Massena era de 65 mil homens, mas já havia baixas, à chegada ao Buçaco). O nevoeiro ajudou quem menos conhecia o terreno, que foi decisivo para a vitória. Primeiro porque era um local improvável para uma batalha. Wellington sabia e «mandou abrir um estradão», que permitia a movimentação das tropas, mas também


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Museu Militar 90 anos com Mealhada

o apoio da população, cansada da guerra, mas moralizada e com vontade de por termo à invasão. O exército de Napoleão, um exemplo em termos de organização, claudicou. «Era um exército muito apoiado pela artilharia e pela cavalaria». Todavia, explica o major Graça, tendo em conta os acentuados declives do terreno, a «cavalaria não se podia mexer» e a artilharia, igualmente pelo carácter acidentado do terreno, não tinha condições para actuar, com a inclinação do terreno a diminuir a força e a eficiência do tiro. Nossa Senhora da Vitória parece ter ignorado Massena, que ostentava o cognome «filho querido» (o que se adivinha pelas suas múltiplas vitórias) e protegeu Wellington. A contagem das baixas aponta para 4.479 no exército francês, 1.252 nas forças anglo-lusas. O “descuido” na protecção da passagem de Boialvo contribuiu para evitar uma verdadeira vitória e possibilitou a retirada imediata do exército francês. Todavia, mais do que a vitória, foi a moral que ganhou e perdeu terreno, esmorecendo as forças gaulesas, galvanizando portugueses e aliados ingleses. Sobretudo, deu tempo para a organização defensiva das Linhas de Torres e para pôr termo à invasão, a terceira, e à política de terra queimada que destroçou o país. As contas não enganam. No final da Guerra Peninsular, as estimativas apontam para 200 mil baixas, numa população que rondava os dois milhões e 100 mil habitantes. Era o princípio do fim do terror imposto por Napoleão. Uma nova era começava depois da memorável Batalha do Buçaco.

De acordo com os registos da época, o exército liderado por Massena sofreu 4.479 baixas enquanto as tropas portuguesas e inglesas registavam 1.252 baixas

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Outros elementos do Núcleo Museológico

Armas usadas pelos exércitos gaulês e anglo-luso

O Núcleo Museológico do Buçaco inclui, ainda, um outro acervo “extra-muros”. Referência especial merece o Obelisco, o monumento comemorativo da Batalha, concluído em 1873. Uma obra que teve no então tenente-coronel Costa Cascaes um dos grandes impulsionadores. Iniciado em 1862, o monumento apresentava um globo de cristal com oito raios facetados em forma de estrela, aplicado sobre uma pirâmide quadrangular, feita de um monólito de seis metros de altura, firmada sobre um pedestal de quatro faces e este sobre uma base de dois degraus. O monumento foi ladeado por oito peças de artilharia, de boca ao solo, ligadas por correntes. Em Dezembro de 1876 o monumento foi danificado por um raio, que obrigou a uma profunda reparação, concluída em 1879. A pirâmide, antes monolítica, passou a integrar várias peças. No pedestal foram incrustadas duas placas, uma evocando o exercito LusoBritânico e as campanhas da Guerra Peninsular, e outra lembrando a destruição e posterior restauro. Em 1910, o rei D. Manuel II presidiu às comemorações do centenário da Batalha do Buçaco e descerrou a coroa de bronze que passou a integrar o monumento, onde todos os anos, no dia 27 de Setembro, se assiste a uma cerimónia comemorativa. Referência, ainda, para o Moinho de Moura onde foi instalado o posto de comando do

general Massena e para o Moinho de Sula, que funcionou como quartel-general do major-general Robert Craufurd, comandante da Divisão Ligeira do Exército Anglo-Luso. No cimo da Serra encontra-se uma pedra evocativa, um memorial, que assinala o local onde Lord Wellington terá instalado o seu posto de comando.

Museu convida escolas para visitas No passado «vinham cá muitas escolas». Um bom hábito que se perdeu, lamenta o major Graça. O tenente-coronel Paulino destaca a importância da História na formação dos jovens e o contributo que uma visita destas pode dar. «Oferecemos a bilheteira e todos os anos enviamos convites para a sede dos agrupamentos de escolas», adianta o responsável pelo Museu Militar do Buçaco. A resposta, todavia, não tem sido a mais significativa. Mas há confiança de que possa mudar. À espera dos visitantes, das escolas e não só, está uma equipa constituída por colaboradores civis (assistente técnica e assistente operacional), dois militares praças, dois soldados, um sargento-ajudante, um sargentochefe e o major. O museu fecha à segunda-feira e nos dias 1.º de Maio, de Natal, Ano Novo e Páscoa. Funciona das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h00. 


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90 anos com Mealhada Museu Militar

SANTO ANTÓNIO: A RELÍQUIA DA CAPELA

Imagem de Santo António terá acompanhado as tropas durante a batalha

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erá a imagem mais emblemática, uma verdadeira relíquia, sobretudo pelo seu simbolismo. Terá pouco mais de meio metro de altura, mas é enorme no significado e terá sido decisiva no ânimo imprimido às tropas. Falamos da imagem de Santo António. Protegida por uma campânula, é a imagem mais venerada e com maior significado que existe na pequena capela, junto ao Museu um espaço emblemático, que representa o início de uma viagem ao território da guerra. O princípio do fim da terceira invasão francesa. «É a peça mais valiosa», afirma, sem hesitações, o major Lino Vicente Graça, responsável pelo Núcleo Museológico do Buçaco. As razões são muitas. A começar pelo facto de, durante a Batalha do Buçaco, acompanhar um Regimento do Exército Português. «Seguia em cima de uma mula» e «era um elemento moralizador das tropas», explica. As tropas francesas terão mesmo feito uma incursão, com o objectivo de roubar a imagem, o que conseguiram, levando as tropas portuguesas, «com todo o risco», a empreenderem uma operação para o seu resgate. O objectivo foi cumprido, recorda o major, galvanizando, assim, a moral das hostes lusas.

Uma imagem única, rodeada de pormenores particularmente interessantes, que demonstram a força do seu simbolismo e dão razão à imensa fé. Santo António teria sido incorporado como soldado, em 1668, por alvará de D. Pedro II; que ordenava que o santo assentasse praça no 2.º Regimento de Infantaria de Lagos, como soldado voluntário. «Foi promovido», esclarece o major, apontando as diversas patentes. Já no tempo de D. Maria terá ascendido ao posto de general. «Era tratado como um autêntico militar» e, inclusivamente, recebia vencimento. «Temos fotocópia da folha do livro de vencimentos», atesta. Pecúlio este que sempre foi canalizado para obras de beneficiação e beneficência. E como qualquer outro soldado valente, a imagem de Santo António também foi condecorada e apresenta alguns destes galardões. «Continua a ser acarinhado como militar», mas já não recebe vencimento. Colocada num nicho lateral da Capela, a imagem de Santo António terá regressado ao Museu Militar em Novembro de 1968. Mas há mais imagens na capela. No altar central, está Nossa Senhora da Vitória, imagem da qual se desconhece autor e época, à semelhança, de resto, do que acontece com um conjunto de belas telas, que ilustram

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a “Visitação” e o “sepultamento de Jesus”, ou ainda os quatro evangelistas. No altar, um crucifixo igualmente distinto, com incrustações em madrepérola, poderá ter origem na Terra Santa. A capela acolhe, ainda, as imagens de Santa Gertrudes, São João Baptista Menino e uma imagem recente de Nossa Senhora de Fátima. Dois expositores apresentam um conjunto de paramentos, usados pelos sacerdotes nas celebrações da inauguração do Núcleo Museológico, em 1910, numa cerimónia presidida pelo Bispo-Conde de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pina, que terá sido senão o último, um dos últimos actos oficiais do então rei D. Manuel II. Vivia-se o dia 27 de Setembro de 1910. Dias depois, a 5 de Outubro, era proclamada a República. A capela, que terá sido erguida por Luiz Ferreira, é referida em documentos datados de 1783. «Não é o edifício que hoje vemos», alerta o major Graça, que destaca o importante papel desempenhado pela Capela durante a batalha, em 1810, que foi usada como “Hospital de Sangue”. Os feridos eram transportados para ali. «Ao que sabemos, os monges Carmelitas Descalços terão vindo para aqui ajudar a tratar dos feridos, indiscriminadamente, portugueses, ingleses e franceses», refere. O militar destaca o facto relevante deste tratamento às tropas invasoras, sobretudo tendo em linha de conta o «ódio a Napoleão e às tropas napoleónicas», alimentado pelas sucessivas invasões da chamada Guerra Peninsular, que deixou uma marca de destruição em todo o país, mas particularmente na região Centro. A Câmara da Mealhada terá adquirido a Capela doAncoradouro em 1859.Aintenção do então presidente da autarquia, Adriano Baptista Ferreira, seria transformar o templo num monumento comemorativo da batalha, colocando lá vários quadros e promover uma romaria anual. Todavia, nada foi feito, uma vez que ganhou terreno a ideia de erguer um monumento não de carácter local ou regional, mas nacional. Posteriormente, o general Costa Cascaes terá conseguido influenciar o ministro da Guerra, Visconde de Sá da Bandeira, para, a par da construção do monumento, recuperar a capela. Realizam-se, então, as obras, com a bênção da Capela a acontecer no dia 27 de Setembro de 1876, na data do 66.º aniversário da Batalha do Buçaco. 


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Rota Napoleónica 90 anos com Mealhada

Anualmente, dia 27 de Setembro, recorda-se o simbolismo da Batalha do Buçaco

NA ROTA DE NAPOLEÃO 2020 Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra e Federação Portuguesa das Cidades Napoleónicas assinam protocolo. Projecto NAPOCTEP integra circuito internacional

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de Setembro de 1810. Uma data gravada a ferro e fogo na memória de Portugal. Na Serra do Buçaco, assistia-se a um embate decisivo. De um lado as tropas anglo-lusas, lideradas por Arthur Wellesley, duque de Wellington. Do outro, as tropas napoleónicas, comandadas por André Massena. Era mais um quadro da ampla declaração de guerra que Napoleão Bonaparte fez a toda a Europa. A Guerra Peninsular e a terceira das invasões francesas. Uma guerra que deixou um rasto de desolação e morte, mas também fez exaltar o orgulho nacional e, com a ajuda dos ingleses, permitiu pôr termo à ocupação. A Batalha do Buçaco teve esse duplo significado. Hoje, volvidos mais de dois séculos, representa um outro desafio. Um património histórico e uma vivência que se pretende seja uma aposta de futuro. Um caminho aberto para o turismo. Com “nota mais” em termos de potencial. O primeiro passo já foi dado, com a adesão à Federação Europeia das Cidades Napoleónicas. Um protocolo assinado no dia 27 de Setembro de 2020, precisamente na data em que se assinalaram os 210 anos da Batalha do Buçaco. Um projecto que envolve a Comunidade Intermunicipal da

Região de Coimbra (CIM-RC) e em especial os municípios da Mealhada, Mortágua e Penacova, que repartem entre si os domínios da Serra do Buçaco, mas também as tradicionais comemorações da célebre batalha. Agora empenhados em prosseguir a Rota de Napoleão. Trata-se do projecto NAPOCTEP, promovido pela CIM-RC, que passa a integrar os itinerários “Destination Napoleon”, da Federação Europeia das Cidades Napoleónicas. Charles Bonaparte, descendente de Napoleão e presidente da Federação, assinou o protocolo de adesão, depois de visitar o território por onde passaram as tropas durante das Invasões Francesas. Nuno Canilho, vereador da Câmara da Mealhada responsável pelo pelouro da Cultura, destaca a importância da adesão a esta rede, reconhecida pelo Conselho Europeu desde 2015. Uma rede que, destaca, «envolve 63 cidades de 13 países, desde o Buçaco às portas de Moscovo, que nos coloca na rota dos destinos de Napoleão». Um projecto que replica os caminhos seguidos pelas tropas napoleónicas, desde a invasão da Rússia às Guerras Peninsulares, em Portugal e Espanha. «É um produto com uma imagem muito própria. Em qualquer um destes países e cidades há um fio

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condutor, uma linguagem própria, que permite descodificar os territórios com base em Napoleão Bonaparte», adianta. Para Nuno Canilho, trata-se de um «produto turístico absolutamente consolidado». Para quem tem dúvidas, o vereador faz notar que, nas pesquisas do “Google”, o nome de Napoleão Bonaparte surge «em segundo lugar», imediatamente depois de Jesus Cristo. Um dado que atesta o interesse que rodeia o nome de Napoleão que, além de continuar a ser estudado como uma referência nas academias militares de praticamente todo o mundo, é uma personagem que sempre exerceu um fascínio especial. «A imagem de Napoleão é particularmente forte», salienta Nuno Canilho, sublinhando a necessidade de «encontrar uma forma de aproveitar essa notoriedade» e fazer reverter isso para o desenvolvimento e sustentabilidade do território. O vereador refere, designadamente, a paixão dos ingleses por esta temática que, além da recriação da célebre batalha de Waterloo (1815) com mais de 10 mil figurantes, já visitam Portugal, procurando recriar os passos dos seus antepassados que integraram o exército anglo-luso. «O produto está feito», reitera. «Estamos a investir em várias frentes», esclarece. O NAPOCTEP, aprovado pelo Programa Operacional de Cooperação Transfronteiriça Espanha – Portugal Interreg POCTEP, envolve a região Centro, bem como as províncias castelhano-leonesas do Oeste – Salamanca, Zamora, Valladolid, León e Ávila. Além de pretender transformar o património da época das invasões francesas num produto turístico único, visa, igualmente, promover a sustentabilidade do território. O projecto conta com um investimento total de 711 mil euros e um apoio do FEDER que ascende a cerca de 533 mil euros. À semelhança do que já se faz noutros países, o objectivo é dinamizar uma ampla oferta e programação cultural, que até agora praticamente se cinge às comemorações anuais da Batalha do Buçaco, desenvolvidas em parceria com o Exército e a algumas recriações históricas. O que se pretende, segundo Nuno Canilho, é desenvolver «uma programação cultural em rede, específica». Nesse sentido, foi apresentada uma candidatura à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), que envolve um investimento de «cerca de 350 mil euros». 



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Rota do Buçaco 90 anos com Mealhada

GRANDE ROTA DO BUÇACO 2020 Mata é o elemento agregador de um percurso com 56 km, que envolve Mealhada, Mortágua e Penacova

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unta-se a exuberância da natureza com a história e as tradições. Um percurso estruturado, que tem como elemento central a Mata Nacional do Buçaco e se estende aos vizinhos territórios de Mortágua e de Penacova. É a Grande Rota do Buçaco. Um convite ao turismo de natureza, mas também para uma viagem de descoberta da gastronomia e da produção vitivinícola, da pureza das águas e do património construído. E ainda das estórias que a memória preserva, mais de 300 anos depois da passagem das tropas napoleónicas pela região. Um percurso de 56 quilómetros que faz parte dos “Caminhos da Região de Coimbra”, uma rede de oferta turística e de valorização dos corredores do património natural da região. Um projecto com a chancela da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (CIM-RC), que desafia os amantes das caminhadas para um conjunto diversificado de trilhos pedestres. Ao todos são mais de 700 quilómetros de rotas e percursos. Com epicentro na Mata do Bu-

Mata é o pólo central da Grande Rota

çaco desenha-se uma das rotas mais emblemáticas desta ampla oferta. «É um percurso em forma de estrela, devidamente sinalizado, que une a Mata Nacional do Buçaco aos vizinhos concelhos de Mortágua e de Penacova, devidamente homologado pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal», esclarece Nuno Canilho, vereador da Câmara Municipal da Mealhada. A rota pode ser cum-

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prida em três “ramais” diferentes, designadamente entre a Mealhada e o Buçaco (12 km); Mortágua – Buçaco (21 km) e Penacova – Buçaco (23 km). Nos 110 hectares da Mata do Buçaco os visitantes têm oportunidade de conhecer um verdadeiro oásis da região das Beiras, onde se encontra «uma das melhores colecções dendrológicas da Europa». Destaque merece o “Trilho das Árvores Notáveis”, um percurso interpretativo, com cerca de 7 km, constituídos por um conjunto de árvores classificadas, que inclui espécies como o cedro do Buçaco, sequoia, araucárias, eucaliptos, entre outras. Os percursos da Grande Rota do Bussaco não carecem de qualquer validação, o que significa que qualquer pessoa pode efectuá-los sem a necessidade de diligências prévias ou posteriores. Um facto que não permite ter uma noção precisa relativamente aos índices de procura. Todavia, apesar de «não conseguimos quantificar, temos a noção que o percurso está a ser bastante utilizado», afirma o vereador Nuno Canilho, referindo-se ao percurso integrado no concelho da Mealhada Uma percepção que advém de um conjunto de alertas dados pelos utilizadores, relativamente a situações anómalas, designadamente o derrube de postes ou destruição da sinalética, exemplifica. 



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Termas 90 anos com Mealhada

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TERMAS PARA TODAS AS IDADES E PARA QUASE TODAS AS MALEITAS 2010 Uma profunda remodelação, realizada em 2010, com um investimento superior a 3,5 milhões de euros, representou um virar de página e o início de uma nova era no termalismo do Luso. A par da vertente saúde e bem-estar, surge uma aposta lúdica e de lazer

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om o fato de treino vestido, Paulo Raposo desce à “Fons Vitae” (Fonte de Vida). No bolso leva o copo, de vidro, devidamente graduado. A água corre da fonte, sob o olhar atento da Pureza. Não a estátua original, em pedra de Lioz, criada por João da Silva (que está no Casino), mas a figura de perfil, em bronze, que integra o logótipo da marca. A água corre, numa cadência certa. Água que é vida, termal, puríssima. Uma água com história. Que começou há mil anos, com as chuvas que atingiram o Buçaco. A água infiltrou-se na terra, passou pelos rochedos quartzitos e foi ganhando alguma, pouca, mineralização. Das profundezas da terra, a 500 metros, começa a escorrer em direcção a Luso. Uma barreira geológica não permeável obriga-a a emergir. Surge à superfície, naturalmente, a uma temperatura de 28º. Traz consigo os gases que a caracterizam e diferenciam. Os mesmos que ajudam a tratar as mais diversas maleitas, do foro metabólico, respiratório, patologias dérmicas ou músculo-esqueléticos. São as Termas de Luso. Paulo Raposo é um “habitué”. Natural de Lisboa, correu mundo. Agora, reformado, passa a maior parte do tempo em Montemor-o-Velho. Mas no Inverno fixa “residência” no Luso. Cliente fiel desde há longa data, bebe serenamente a quota de água que lhe cabe em sorte. Depois, o pequeno copo regressa ao bolso. Até à próxima toma.«Ninguém aqui prova água. Só se bebe com prescrição médica», esclarece Bernardo Moreno, coordenador das Termas de Luso. Médicos hidrologistas que garantem uma consulta a todos os utentes, fazendo a prescrição de acordo com o diagnóstico e com o tempo de tratamento. Sete, 14 ou 21 dias são as propostas. A maioria fica uma ou duas semanas.Apenas os reformados se aventuram numa estadia mais prolongada. «A toma de água é o princípio diário do

Piscina termal mantém a estrutura projectada por Gultave Eiffel

termalismo. A primeira toma é de 20 cl. 20 minutos depois, mais 20 cl. Em jejum ou com a digestão feita. São três tomas por dia e ao longo da estadia a quantidade de água cresce», esclarece Bernardo Moreno, fazendo notar que «a água tem o poder de acelerar o metabolismo». A funcionar desde 1852, as Termas de Luso sofreram uma profunda obra de remodelação e revitalização em 2010. Obras integradas no programa Provere, com o apoio do Fundo de Desenvolvimento Regional, que anunciaram uma nova era para a vivência termal. Particularmente com a criação de uma nova valência, o SPATermal. Um espaço diferente, que oferece uma diversidade de experiências, todas elas com a água termal como elemento fundamental. «O que nos diferencia de um qualquer hotel é o facto de todos os tratamentos serem feitos com água termal. Não é água “del cano”», esclarece Bernardo Moreno. O circuito Acqua Sensations oferece as

mais diversas experiências, desde a sauna ao banho turno, com uma fonte de gelo pronta a servir quem quiser efectuar uma massagem mais localizada. Duche sensações, duche sensorial, cronoterapia e aromoterapia (menta e eucalipto), são algumas das opções, que conduzem à piscina interactiva, com diferentes tipos de jactos, jacuzzi e hidromassagem. A beleza do espaço, a elegância do ambiente, ajudam a relaxar. A piscina promete fazer o resto. As poltronas e a música ambiente, degustações de água do Luso ou rituais de chá, ajudam a criar um momento único. Não faltam as cabines de SPA (sete), uma das quais para tratamentos mais holísticos e outra com cabine dupla, que inclui massagem e jacuzzi. Se esta é a novidade, criada em 2010, o termalismo mais clássico, ou melhor, terapêutico, também saiu renovado deste projecto. Além da Fonte da Vida, onde se fazem as tomas de água termal, merece


90 anos com Mealhada Termas

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destaque o Emanatório. Já não se trata do “olho puro”, «mas os olhos de emergência da água termal são aqui e é daqui que a água sai para todo o complexo», explica o coordenador das Termas. Já não é o original, mas foi no Luso que foi construído, em 1930, o primeiro Emanatório existente em Portugal. Uma sala com um ambiente de semi-obscuridade, onde se sente a força dos gases que emanam da nascente. A porta, hermeticamente fechada, ajuda a criar um ambiente concentrado, “pesado”, que, entre outros efeitos, tem o condão de baixar a tensão arterial. «O objectivo é que ao fim de sete dias a tensão arterial esteja estabilizada», refere Moreno, salientando os efeitos benéficos igualmente para os problemas das vias respiratórias. E, pasme-se, na origem de todos estes benefícios está o radão. Para muitos um verdadeiro “bicho papão”, este gás radioactivo também oferece, dentro de limites, alguns benefícios. Depois de um “estágio” de 30 minutos, os aquistas saem do Emanatório e ficam numa sala anexa, a descansar. Duche Vichy, com jacto de água e massagem terapêutica, às costas ou corpo inteiro, são outras possibilidades. Para quem não pode ter contacto com a água, um colchão de água garante não só a sensação de boiar no mar, como um programa de massagem, mecânica, a diferentes partes do corpo, que também pode ser feita por um terapeuta. As salas

de massagem, geral e regional, perfilam-se de seguida, secundadas pelo duche de leque, com terapeuta, «bom para pedra nos rins, relaxamento, contracturas musculares», explica Bernardo Moreno. Duas cabines de hidromassagem oferecem programas diferentes e um duche sub-aquático é a receita mais promissora para tratamentos de pele. Já para os problemas músculo-esqueléticos está o banho Bertholet (banho de vapor à coluna). No edifício da génese da construção das Termas de Luso está agora concentrado o Medical Center. Uma zona de tratamentos médicos, particularmente ao nível das vias respiratórias (tratamentos de ORL, Otorrinolaringologia), complementada com gabinetes de fisiatria, fisioterapia e reabilitação, onde não faltam os tratamentos de ultra sons, lamas quentes e parafina. É precisamente neste espaço de tratamento médico puro e duro que se encontra uma das coqueluches das Termas de Luso. A piscina termal e terapêutica mantém a estrutura de ferro projectada em 1893 pelo gabinete de Gustavo Eiffel, pintada de um imaculado branco. Um corredor de marcha e uma marquesa dentro de água são os ingredientes para os tratamentos, individuais ou em grupo, destinados a pessoas com problemas de marcha ou que sofreram AVC. Com a água a 34º, a piscina está, também, aberta à comunidade. 

Fonte da Vida é o espaço onde a água termal é tomada pelos utentes

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O regresso às origens

Desde 2017 que as Termas do Luso estão concessionadas ao Grande Hotel de Luso. Um regresso às origens, uma vez que a unidade hoteleira foi construída na década de 30 do século passado precisamente para servir de alojamento aos muitos turistas que demandavam as termas. Um túnel liga as duas unidades, evitando que os utentes tenham de sair à rua. João Dinis, presidente do Conselho de Administração do Grande Hotel, enaltece o investimento feito em 2010, que colocou as Termas de Luso «com um padrão ao nível do que há de melhor na Europa». Uma revitalização que se impunha, depois de, em meados do século passado as Termas do Luso serem uma referência, rivalizando, inclusive, com as icónicas Termas de Vichy. «O conceito de termas, numa óptica de saúde, foi muito substituído, ao longo do tempo, pelo medicamento», refere o responsável, que destaca os programas de bem-estar e relaxamento, que hoje, a par do termalismo clássico, as Termas de Luso oferecem. «É um novo conceito», que tem dado resultados, com uma «procura adicional» das termas, particularmente pelas camadas mais jovens e, sobretudo, «uma grande fidelização de clientes». Bernardo Moreno corrobora e aponta o crescimento do número de clientes, desde 2017, sobretudo na vertente SPA Termal, com os utentes conquistados pela experiência a voltarem, para repetir. «Temos uma taxa de fidelização de 90%», afirma. A pandemia veio pôr travão neste ciclo de recuperação, com as perdas a atingirem os 70%, diz João Dinis, confiante que o segundo semestre deste ano possa fazer a diferença. Todavia, considera fundamental que haja «mecanismos para alavancar a recuperação». «Estamos à espera para ver o que surge da parte do Governo», designadamente «incentivos para os clientes beneficiarem deste produto». O que tem sido feito «são paliativos, não incentivos», conclui.


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Água de Luso 90 anos com Mealhada

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ÁGUA DE LUSO:I TÃO NATURALI COMO A SUA SEDEI Linha de enchimento, equipada com a mais moderna tecnologia, funciona na Vacariça desde 2012

2012 Construção de um pipeline com cerca de 5 quilómetros retira do centro da vila o processo de enchimento desta água natural, que desde então é feito na Vacariça

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ão 900 mil as embalagens que saem, em média, por dia da linha de enchimento. Entre garrafas e garrafões. É a Água de Luso pronta a seguir viagem. Uma «água puríssima» que conquistou Portugal e o mundo. «É a única marca de água certificada em todo o mundo», faz notar Nuno Pinto de Magalhães, presidente da Fundação Luso e director de comunicação e relações institucionais da Sociedade Central de Cervejas (SCC). Um título que ostenta desde 2000 e a que junta muitos outros. Sempre com o registo de excelência como garantia. Nascida na Serra do Buçaco, a Água de Luso constitui uma marca que se impôs. «É uma marca nacional, que promove o Luso/Buçaco», sublinha aquele responsável, salientando que estamos perante a «água mineral engarrafada mais conhecida de Portugal». Mais, uma água que tem na sua designação este nome, Luso, um «sinal de portugalidade», uma referência às origens, que faz toda a diferença. Diferenças, características próprias que derivam da morfologia mesma da Serra do Buçaco, onde a água nasce e ganha as

Líder e premiada Líder incontestada de mercado, a Água de Luso é a única marca de água certificada em todo o mundo, galardão que ostenta desde o ano 2000. Mas os prémios, que consecutivamente arrebata em todos os concursos, começaram há muito. A primeira referência surge em 1913, com a atribuição da Medalha de Ouro na Exposição de Águas Minerais Naturais. Desde 2006 a 2020 ganhou sempre a Grande Medalha de Ouro no Monde Selection e tem vindo a conquistar, igualmente, e de forma consecutiva o galardão “Marcas de Confiança”, na sua categoria, com um score superior a 60%, afirmando-se como a marca preferida dos portugueses. Como curiosidade, refira-se que a Água de Luso é, também, a água eleita pelo exigente Exército dos Estados Unidos da América. 

suas propriedades únicas. «A água não tem cor, não tem cheiro, mas ao contrário do que muitos pensam, tem sabor». Um sabor único que conquistou o mundo. Uma «água puríssima» que começou por ser “descoberta” pelas suas qualidades termais, já referidas nos princípios do século XVIII. Em Agosto de 1852, assistia-se à fundação da Sociedade de Melhoramento dos Banhos de Luso, confirmada por alvará régio de 21 de Dezembro do ano seguinte. Os banhistas começaram a surgir. Cada vez em maior número. Atestavam os benefícios das águas para os mais diversos problemas de saúde. Depois, fizeram questão de a levar para as suas casas. Os médicos, ao serviço do balneário, entenderam que sim e começou, então, a assistir-se aos primórdios do engarrafamento e da venda da água. O negócio cedo se revelou promissor. Todavia, só em 1894 começa o engarrafamento oficial e o resultado não deixou margem para dúvidas. «Um milhão de litros de água saíam do Luso em garrafões». Como as solicitações cresciam, a administração das Termas definiu uma estratégia: No Verão, os funcionários assumiram as funções de técnicos terapeutas, ao serviço as termas, assegurando os tratamentos dos utentes. No Inverno, com as Termas


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encerradas, procediam ao enchimento/engarrafamento da Água de Luso. «Tinham emprego todo o ano e as vendas cresciam». Satisfeita, a administração, procura uma «evidência técnica» e «indicação terapêutica para a Água de Luso, que então até nas farmácias se vendia. O afamado físico francês Charles Lepierre vem a terreiro, em 1903, analisa bacteriologicamente a água e classifica-a como «puríssima» e «muitíssimo pura». Estava dado o mote para o futuro. Os camiões, carregados com garrafas e garrafões de Água de Luso, ostentaram o slogan”Puríssima”. Frente às Termas, construiu-se um novo edifício, destinado ao engarrafamento. Foi ali, naquele espaço, actualmente devoluto, que durante largos anos se procedeu ao engarrafamento da Água de Luso. Todavia, o grande números de turistas que afluía à vila começou a criar algum “sururu”. «A autarquia e os moradores davam sinais de algum incómodo pelo facto de uma operação industrial daquele tipo e daquela dimensão ser efectuada dentro da vila», refere Nuno Pinto de Magalhães. Aquele responsável reconhece o «impacto negativo» da constante circulação de camiões que demandavam o Luso para levarem água para os quatro cantos do país. De resto, adianta, nem a vila «estava preparada», em termos de acessibilidades para uma realidade desta natureza. A solução passou por uma transferência. «Tínhamos outra nascente, da Águas Cruzeiro, na Vacariça, a cerca de 5 quilómetros do Luso. A decisão foi construir um pipeline, desde a vila do Luso até à Vacariça», onde é efectuado o engarrafamento. Um processo que implicou um investimento de 2,8 milhões de euros e que ficou concluído em 2012. É ali que se procede ao engarrafamento da Água de Luso, obtida em duas captações, uma a 78 metros de profundidade e outra a 150. Só por curiosidade, a Água Cruzeiro tem três captações, a cerca de 130 metros de profundidade. Por dia, em média (dados de 2019) 900 mil garrafas e garrafões saem da linha de embalagem. No mesmo ano foram vendidos 189 milhões de litros de Água de Luso e Luso Fruta. Dados que demonstram a excelência de uma água, «líder

90 anos com Mealhada Água de Luso

de mercado», que «desde sempre mereceu a preferência dos portugueses», atesta Nuno Pinto de Magalhães. Em todo o território nacional e também em qualquer ponto do globo onde se fale a língua de Camões. Nos últimos três anos, a Sociedade Central de Cervejas investiu entre 5/6 milhões de euros na Vacariça, para optimizar as linhas de enchimento e armazenamento. No ano passado foram ainda instalados painéis fotovoltaicos, que garantem cerca de 20% da energia consumida na unidade de produção. Para este ano está previsto um investimento de cerca de um milhão de euros, diz ainda o director de comunicação da SCC

Luso fruta: um convite reforçado para beber Água premium, com características próprias, intergeracional, para toda a família, que «pode ser consumida sem quaisquer limites», a Água de Luso também procura nichos de mercado, diversificando a oferta, mas mantendo firme «a preocupação com a saúde», que constitui um dos seus «patrimónios mais relevantes». Surge, assim, em 2011, a Luso Fruta. Trata-se de uma «bebida natural, que à Água de Luso apenas junta sumo natural de fruta, sem qualquer adição de açúcar que não seja o da fruta», refere Nuno Pinto de Magalhães. Um produto que pretende atrair, particularmente, as crianças e os seniores. Um convite a «beber mais» que passa pelo recurso a «receitas antigas». «Antigamente punha-se uma rodela de limão ou de laranja para aromatizar a água, torná-la mais atractiva», explica. E foi esse o princípio seguido. Um receituário antigo, com a diferença de ter como base uma água mineral natural. «Luso Fruta dá mais uma opção ao consumidor relativamente a outros produtos não naturais. Este produto não tem qualquer artificialidade», adianta. Por isso está aprovado pelo Ministério da Educação para os buffet escolares. «É considerado um produto natural», conclui o responsável. ALuso Fruta oferece uma gama variada: frutos vermelhos, limão, goiaba e toranja, melancia, maçã e pera. Possui ainda uma gama infantil: Luso Fruta Kids Morango e Luso Fruta Tutti Frutti. 

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Extinção da Sociedade de Água de Luso

Sucessora da Sociedade de Melhoramentos dos Banhos de Luso, organismo que impulsionou a exploração das termas e da água engarrafada, a Sociedade de Água de Luso (SAL) deixou de existir em Janeiro deste ano, com a fusão com a Sociedade Central de Cervejas (SCC), que desde 1970 era accionista da empresa e em 2000 passou a ser a sócia maioritária da SAL. Uma (SAL) e outra (SCC) pertencem desde 2008 a 100% ao Grupo Heineken. Nuno Pinto de Magalhães considera que a fusão não é mais do que um passo na consolidação da parceria que começou na década de 70. «O maior e o melhor legado da Sociedade Água de Luso é a Água de Luso, um produto do Luso, um recurso geológico que não pode ser deslocalizado», afirma. Recorda, de resto, o impulso que a integração na SCC trouxe à Água de Luso que «era uma marca regional e ganhou dimensão nacional». «A SCC deu dimensão e visibilidade à Água de Luso», uma vez que possui «uma distribuição capilar, superior a 90%. Estamos em todos os bares e cafés do país», sublinha. Decorrente da fusão, «os trabalhadores ficam nivelados pelas melhores práticas salariais. Era uma reivindicação dos trabalhadores da Vacariça – 115 no total. É um ganho», afirma. Por outro lado, «todas as obrigações da SAL com a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia se mantêm e com ganhos acrescidos», designadamente em termos de valores de derrama. Quanto «ao legado histórico e ao património da SAL, a Fundação Buçaco é a sua guardiã», refere. Inconformada com a extinção, está a Câmara Municipal da Mealhada. 


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Água de Luso 90 anos com Mealhada

Biblioteca é um espaço de cultura e lazer, que se mantém a funcionar

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Frescos embelezam o tecto do Salão Nobre

CASINO: UMA TRADIÇÃO DE CULTURA 2008 Profundas obras de requalificação permitiram recuperar a nobreza do espaço. Aberto à comunidade, é um local onde a história, as memórias e a cultura caminham de braço dado

L

onge vão os tempos dos grandes bailes de gala, das tertúlias memoráveis, dos espectáculos de teatro, dos sons harmónicos que saíam do piano de cauda. Mas o Casino do Luso continua a existir. Um espaço pertencente à Fundação Luso, aberto à comunidade, onde se realizam conferências, seminários, exposições, palestras e também espectáculos. A Biblioteca mantém-se intocável, com muitas centenas de livros, grande parte dos quais devidamente encadernados e com o

logótipo da Águas de Luso. Jornais, revistas e internet são os novos atractivos de uma sala que está aberta à comunidade e que vale a pena visitar. Quando mais não seja para apreciar a beleza e a sobriedade do mobiliário e a elegância da decoração. Por falar em elegância, será quase impossível ultrapassar a do Salão Nobre, cujos tectos ostentam frescos da autoria de Gabriel Constante, datados de 1910. O piano de cauda que outrora ali estava, foi substituído por um piano vertical, mas o palco mantém-se operacional.

Numa espécie de ante-câmara da biblioteca e do Salão Nobre, encontra-se uma sala única, com uma enorme clarabóia, onde as obras efectuadas em 2008 permitiram recuperar um conjunto de frescos, igualmente de Gabriel Constante, com os mesmos motivos do Salão Nobre, que durante anos estiveram escondidos por uma amarelada pintura. Uma sala com uma luminosidade extraordinária, que, além do vidro do tecto, tem um chão em tijolo de vidro. Por baixo encontra-se o antigo Emanatório, explica Noémia Calado, responsá-



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Casino 90 anos com Mealhada

vel pelas Relações Inconstitucionais da Águas de Luso. Numa visita guiada, recorda-nos a história e as memórias do Casino do Luso. A começar pelas circunstâncias que, em 1886 ditaram a sua criação. Nada mais, nada menos que o grande fluxo de turistas que demandavam as Termas de Luso, a partir do momento em que foi fundada a Sociedade para o Melhoramento do Banho do Luso. Corria o ano de 1852. A realeza descobre o benefício das termas e com ela vinham cada vez mais famílias nobres. Um dado que justifica, refira-se, o grande número de casas senhoriais existentes na freguesia. Ficavam dois a três meses por ano e «começa a sentir-se a necessidade de criar um espaço lúdico para as pessoas poderem estar e conviver no intervalo dos tratamentos», durante a tarde e à noite. A resposta foi dada pela Administração da Sociedade da Água de Luso (SAL), que avançou com a criação deste espaço, acima do núcleo das Termas. Inaugurada em 1886, a Casa de Associação passou, depois, a designar-se Club (Alameda do Club) e, mais tarde, em 1910, passa a designar-se Grémio, com algumas beneficiações no salão de baile e a conclusão da galeria envidraçada. Seis anos depois (1916) fica concluído o edifício anexo, onde se instala a Cafetaria. A animação e o movimento eram de tal ordem, que o então Casino Peninsular da Figueira da Foz «manifestou interesse em explorar o Club», o que acabou por conduzir, em 1924, a um contrato de arrendamento, com o Casino a assumir a gestão directa do espaço. Uma situação curiosa, que explica a designação Casino. Um nome que se mantém até hoje, muito embora a concessão tenha terminado no início da década de 30 e nunca ali tenha havido jogo, o prato forte de qualquer casino. Hoje, a Cafetaria está arrendada e a funcionar e o Casino, além de um espaço para «usufruto da comunidade», através dos mais diversos eventos, aposta em promover um conjunto de exposições temáticas. A última foi dedicada à “Origem do Chá”. As receitas de bilheteira são sempre e integralmente destinadas à Fundação Mata do Buçaco, com um objectivo muito claro: o restauro das imagens do Convento de Santa Cruz.

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Memórias de outros tempos

Colecção mostra a evolução das garrafas de Água de Luso

O Casino do Luso é também um espaço de memórias, que preserva a história da Sociedade de Água de Luso, desde 1852. Na galeria das recordações multiplicam-se os troféus de uma água que sempre foi líder de mercado e que é a única marca de água certificada no mundo, o que acontece desde 2000. Mas também os prémios Monde Selection e Marca Confiança. Sempre vencedora, a Água de Luso apresenta-nos as diferentes vasilhas, de vidro, em garrafões de 5, 7, 10 e 20 litros, devidamente empalhados. E também as garrafas. Uma de maior dimensão e outra, mais bojuda, eram exclusivas para exportação, explica Noémia Calado, que apresenta, orgulhosa, a escultura criada por João Luís Carrilho da Graça, em 2012, nas comemorações dos 160 anos. Há ainda garrafas em grés e outro tipo de equipamento, designadamente dois capsuladores manuais, datados de 1950. Também ali se encontra a escultura da Menina Pureza, uma obra de João da Silva, feita em pedra de Lioz branca, datada de 1940, que inspirou a imagem “A Pureza” que desde 1938 está associada à Água de Luso e foi adoptada no logo da marca. A mesma figura, mas em bronze e lateral, está no frontespício da Buvette das Termas. Uma vez que o Grande Hotel também pertenceu (até 2002) à Sociedade, encontra-se ali igualmente um conjunto de me-

mórias, como um móvel que inclui aparelho de rádio e de televisão, um original equipamento destinado a passar a ferro as toalhas, tachos e tabuleiros em cobre, equipamento usado para preparar os café ou os galões, entre muitos outros. Mas o Casino é também o fiel depositário das memórias das Termas. «Está aqui o primeiro equipamento do balneário termal», explica Noémia Calado. Pela originalidade e dimensão, ganham destaque as banheiras de cobre, onde se tomava banho sentado. A mesma posição é usada para aquela que foi a primeira sauna box. Um equipamento que remonta aos anos 40 do século passado, onde o utente fica confortavelmente sentado num banco, unicamente com a cabeça de fora. A vasta colecção inclui, ainda, um conjunto multidiversificado de equipamento médico. Memórias de outrora que o Casino mantém vivas. Uma aliança perfeita entre passado e presente. Entre natureza, saúde e cultura. 

O Casino apresenta um vasto Núcleo Museológico que preserva as memórias e a história da Água de Luso, das Termas e do Grande Hotel



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Fundação Luso 90 anos com Mealhada

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FUNDAÇÃO LUSO: A ENTIDADE ZELADORA 2009 Saúde, ambiente e comunidade são os eixos estratégicos desta entidade, criada em 2009, que tem como missão fundamental a defesa da água

É

a primeira Fundação em Portugal que associa a competência de uma empresa ao interesse de uma região onde se encontram instalados os recursos indispensáveis à sua actividade económica», afirma Nuno Pinto de Magalhães, presidente da Fundação Luso. Criada em 2009, no quadro da política de responsabilidade corporativa da Sociedade Central de Cervejas (SCC) e da Sociedade de Águas do Luso, a Fundação Luso tem na água a sua razão de ser. «A água traz grande benefícios para a saúde e bem-estar; faz parte do nosso património natural e cultural» e é no Luso que «nasce esta água mineral natural, desde sempre a preferida pelos portugueses». São estes os pilares em que assenta a Fundação Luso, que assume como sua missão contribuir para «o progresso do conhecimento e da informação relacionado com a água e a saúde humana, para a preservação do património hídrico e natural do Luso», bem como para o «desenvolvimento sustentável da comunidade desta região». Significa que são «três eixos» fundamentais de actuação, que transformam a Fundação Luso no «instrumento que a marca Luso tem para actuar» ao nível da «saúde, ambiente e comunidade». «É uma espécie de responsabilidade social e ambiental da organização», adianta Nuno Pinto de Magalhães. «Não tem qualquer leitura comercial. Não tem nada a ver com o negócio», sublinha. Antes e sim com uma preocupação de afirmação cultural, de elevação do território e das suas gentes. Nuno Pinto de Magalhães exemplifica com a realização de exposições temáticas que a Fundação tem vindo a promover, a última das quais centrada no chá. «Todas as receitas das entradas, pelo preço simbólico de um euro, revertem para a recuperação de peças do Convento de Santa Cruz do Buçaco», esclarece. «Já vamos para a terceira peça», adianta, recordando o «estado deplorável» em que este património se encontrava, cuja recuperação da Fundação está a «patrocinar». «Um papel cultural sempre associado e focado na comunidade,

Fundação promove no Casino exposições, cuja receita apoia recuperação de obras de arte

que queremos ver reforçado», destaca. «Gostaríamos que integrassem no Conselho Consultivo da Fundação os principais “stakeholders”da comunidade», considera, e aponta designadamente os presidentes da Câmara Municipal, da Fundação Mata do Buçaco, do Grande Hotel, mas também os presidentes de Junta de Freguesia e figuras gradas ligadas à saúde, designadamente nas áreas da Cardiologia e da Nutrição. «Queremos ter representantes ligados aos três eixos – saúde, ambiente e comunidade – que possam ajudar a formatar o plano da Fundação Luso», adianta.

Fundação Luso promove anualmente o Prémio de Empreendedorismo, destinado a apoiar projectos empresariais da freguesia e do concelho

Uma das iniciativas que a Fundação Luso tem promovido é o Prémio de Empreendedorismo, «que reconhece acções concretas, realizadas, de empresas, no concelho da Mealhada e na freguesia do Luso», refere. «Queremos continuar a promover este tipo de iniciativas», afirma, dando conta que a Fundação Luso é também a entidade que assume todo o legado histórico da Sociedade de Águas de Luso «e a sua ligação histórica e cultural». Nuno Pinto de Magalhães aponta também, como pilar fundamental da Fundação a «defesa da Serra do Buçaco» ou seja o “berço” da Água de Luso, designadamente através da promoção da plantação de árvores de espécies autóctones, de molde a manter o equilíbrio de um ecossistema único. Uma preocupação pela sustentabilidade ambiental a montante e a jusante, garante, referindo a «preocupação com os recursos naturais», mas também o facto de os rótulos utilizados pela Água de Luso serem igualmente ecológicos, bem como o “PET” utilizado nas garrafas. 


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90 anos com Mealhada Grande Hotel

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A escolha do presidente

GRANDE HOTEL DE LUSO:I UM SÍMBOLO QUE PERDURAI

No dia 13 de Novembro de 2020 o Grande Hotel de Luso recebeu a visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que reuniu com os empresários do turismo. Um encontro onde o chefe de Estado procurou inteirar-se das dificuldades e recolher sugestões deste sector. «Foi um prémio para nós e o reconhecimento do nosso trabalho», afirma João Dinis, que não esconde a sua satisfação pela escolha da unidade hoteleira que lidera, entre tantas que existem na região Centro. «Foi uma agradável surpresa», remata. 

Grande Hotel tem procurado, com sucesso, adaptar-se às novas tendências do mercado

1940 Inaugurado em Julho de 1940, dava resposta à crescente afluência de turistas, conquistados pelas águas. Hoje é uma unidade de 4 estrelas de referência

D

urante décadas o Grande Hotel foi um espaço de eleição para a vivência termal e para as férias em família, alimentadas pelo carácter saudável e curativo da água pura, que prevenia, mas também tratava as mais diversas maleitas. Uma tradição que se perdeu, fazendo emergir novos mercados e novas respostas. Com a classificação de 4 estrelas desde 2010, o Grande Hotel dá um “salto” gigante, em 2017, com um investimento de «quase 2,5 milhões de euros». Uma «renovação muito grande», que visou capacitar a unidade para dar resposta ao «segmento de turismo de desporto», refere João Dinis, presidente do Conselho de Administração. Há cinco anos com esta função, o responsável salienta a «evolução positiva» que a unidade hoteleira tem vindo a registar. «Está pujante, dento do contexto», diz. A adaptação à mudança representa o “segredo” do sucesso de uma estratégica que, nos últimos anos, teve como referência a instalação de um conjunto de estruturas, na vila do Luso e no concelho da Mealhada, que criaram esta apetência especial do sector desportivo. João Dinis sublinha isso mesmo, apontando da criação de «infraes-

truturas muito boas», em termos de desporto outdoor e indoor, com destaque para o Centro de Estágios do Luso, um pavilhão «muito bem apetrechado», as piscinas olímpicas da Mealhada e a proximidade do Velódromo de Sangalhos. Respostas que significam uma afluência significativa de atletas das mais diversas modalidades. «Há um conjunto de infraestruturas que dá ao concelho uma actividade muito grande, complementada com as características que o hotel desenvolveu para dar resposta a este tipo de cliente», refere, assumindo que o Grande Hotel desenvolveu um pacote de respostas complementares, que vão muito além do alojamento, designadamente, a criação de um ginásio, equipado com a mais diversas “máquinas” que permitem aos atletas trabalhar a boa forma física. Mas também há um cuidado acrescido em termos de nutrição/alimentação, ressalva. «As equipas sentem-se em casa. Esta é a sua segunda casa», afirma o presidente do Conselho de Administração, que destaca a presença assídua da Federação Portuguesa de Patinagem, bem como de equipas de Andebol, Basquetebol e Futebol, quer em estágio, quer em deslocações para o Cen-

tro/Norte do país. “Receita” semelhante aplica-se ao desporto adaptado, designadamente com a selecção de basquetebol em cadeira de rodas e outras áreas, com atletas com alguma deficiência intelectual. «É um casamento feliz», reconhece o responsável, que aponta as características do território, designadamente a «calma» do Luso, o «bom ambiente», bem como as belezas naturais da Serra do Buçaco, como um atractivo suplementar para atrair visitantes. Uma receita que «tanto se aplica ao desporto como às empresas», considera, referindo os muitos congressos de diferentes actividades e ordens profissionais que optam pelo Luso para as suas reuniões. Actualmente o Grande Hotel, que ostenta uma classificação de 4 estrelas, possui 132 quartos, dos quais 15 são suites, um auditório com capacidade para 320 pessoas, 12 salas de reunião e um bar e restaurante. João Dinis destaca a capacidade da cozinha e do restaurante que, além de assegurarem as refeições neste espaço, conseguem, em simultâneo, dar resposta a diversas situações. Possui, ainda, uma piscina olímpica, uma piscina interior aquecida, além do ginásio, com equipamento “top”, que também está


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Grande Hotel 90 anos com Mealhada

aberto ao público. Tem, ainda, um campo de squash e disponibiliza 30 bicicletas de montanha (normais) e três eléctricas. O Grande Hotel oferece, por norma, um conjunto de eventos festivos, assinalando desde o Carnaval à Páscoa, Natal e fim de ano, bem como os dias da mãe e do pai e também prepara momentos especiais para as férias de Verão. Há um conjunto de parcerias que beneficiam os visitantes, designadamente com a Fundação Mata do Buçaco, oferecendo passeios pedestres pela mata, visitas às Caves Messias ou ainda com alguns restaurantes, de forma a permitir saborear o tradicional leitão da Bairrada. «Servimos leitão no nosso restaurante, mas por encomenda», refere, destacando esta parceria, que permite aos hóspedes desfrutarem do que de bom existe no Luso e na Mealhada. Se a oferta é importante, a equipa é absolutamente fundamental. Um universo e 40 profissionais – que no Verão cresce ligeiramente – assegura uma resposta pronta e, sobretudo, atenta e atenciosa. «Temos profissionais com 20, 30, 40 anos de casa, pessoas que fizeram e fazem aqui toda a sua vida profissional e se dedicam a esta casa», refere João Dinis. Profissionais competentes que criam uma «relação de proximidade», um «espírito de família» com os hóspedes. «Conhecem-nos pelo nome», garante, fazendo notar que esta familiaridade também já se faz sentir com os muitos estrangeiros que demandam o Grande Hotel e também vão fidelizando a sua estadia. AFrança lidera o “ranking”dos hóspedes estrangeiros, que têm proveniências muito diversificadas. Segue-se a Itália, Espanha, Reino Unido, Alemanha e Rússia. Começa a emergir, com alguma relevância, o mercado da China e do Japão, mas também de Israel, Coreia e Suíça. O mercado externo, de acordo com o presidente do Conselho de Administração, representou, em 2019, 26% da actividade do hotel. «É muito bom», reconhece. 2019 foi «o melhor ano de sempre» em termos de taxa de ocupação, com o Grande Hotel de Luso a ultrapassar os 50%. O ano de 2020 começou da melhor forma, com indicadores superiores ao período homólogo do ano transacto, mas a pandemia pôs travão a esta tendência de crescimento. O objectivo é recuperar e optimizar esta linha ascendende. 

Diário de Coimbra

Uma obra de Bissaya Barreto

Piscina olímpica, um projecto que data de 1939. Única em espaço hoteleiro

Bissaya Barreto foi o grande impulsionador da construção da unidade hoteleira. Viviase o ano de 1938 e o médico era o então presidente do Conselho de Administração da Sociedade da Água de Luso, entidade à qual esteve ligado durante mais de 40 anos. O objectivo era o «engrandecimento das nossas termas de Luso» e dar resposta à crescente procura. A ida às termas era, na época, uma prática corrente das boas famílias e o Luso um destino de eleição. A decisão é tomada e o projecto é desenvolvido por Cassiano Branco, um dos arquitectos mais conceituados da altura, também responsável pela concepção do Portugal dos Pequenitos, em Coimbra, igualmente um projecto com a marca de Bissaya Barreto. Em 1939 mais uma decisão. Desta feita

Diário de Coimbra noticiou inauguração a 28 de Julho de 1940

para a construção de uma piscina com dimensões olímpicas. «Seria única em Portugal e ainda hoje é única em espaço hoteleiro. Um conceito muito à frente no tempo, mesmo a nível europeu», refere João Dinis, presidente do Conselho de Administração. O Grande Hotel das Termas de Luso foi inaugurado a 27 de Julho de 1940 e manteve-se, durante décadas, como um “departamento” da Sociedade de Água de Luso. Nos anos 90 assiste-se a um grande investimento na unidade hoteleira, com a realização de obras de remodelação e ampliação, que ditaram, designadamente, a ampliação da piscina interna e a instalação da sala de congressos. Em 2003 é constituída a empresa que passa a gerir o Grande Hotel de Luso, com a Fundação Bissaya Barreto como accionista, mantendo-se, desta forma, a ligação ao empreendedor que esteve na base da sua criação. Posteriormente, em 2010, assiste-se a uma nova renovação da unidade hoteleira, que era de 3 estrelas e passa a ostentar 4 estrelas. Um novo patamar que implicou uma intervenção profunda ao nível da decoração, renovação e ampliação dos quartos, adaptando-os às novas exigências da nova classificação. Sete anos depois, em 2017, assiste-se a um novo investimento, desta vez com o objectivo de capacitar o Grande Hotel para novos desafios. Era uma aposta clara no turismo desportivo, mas também um quase regresso às origens, uma vez que, na década de 40, o hotel nascia com essa vocação, espelhada na existência de uma inesperada piscina olímpica. 



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Pão 90 anos com Mealhada

A MARAVILHA DO PÃOI Amassar bem não chega. É preciso paixão para o pão ter aquele sabor especial

1995 Instalada há 35 anos no Cardal, a Padaria Regional mantém viva a tradição, produzindo todos os dias, em forno de lenha, o afamado pão da Mealhada

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egredo?» Carmina Cordeiro olhanos incrédula. «Não há segredo nenhum! É só farinha, sal, água e fermento», diz com simplicidade. «Mas é preciso paixão», adianta. Aqui sim, no «gosto pelo que se faz», poderá estar o segredo do tradicional pão da Mealhada. «A qualidade da farinha» é, no entender do marido, Carlos Dias, um factor fundamental. Mas a própria disposição do casal de padeiros interfere com a “evolução” do pão. «Se estivermos mal dispostos, isso reflecte-se no pão», adianta Carlos. O forno de lenha, garantidamente, «faz toda a diferença». No Beco das Padeiras, no Cardal, Carmina e Carlos fazem todos os dias o tradicional pão da Mealhada. São 365 dias por ano, sem fins-de-semana, sem férias. A alvorada soa entre as 5h00 e as 6h00 da madrugada, altura em que o pão começa a ser amassado. Até ao final da manhã não há mãos a medir para dar resposta às encomendas, dos restaurantes – da Mealhada, Anadia e Coimbra – e também aos muito particulares. No Cardal praticamente toda a gente ali vai buscar o pão. A primeira fornada está pronta por volta das 10h00. A sala enche-se com o cheiro bom do pão acabado de cozer. Os clientes começam a chegar. Outros esperam que Carlos vá fazer a entrega.

Carmina mantém-se à boca do forno, colocando mais pão e retirando o que já está cozido. A filha, Marisa, vem dar uma ajuda a preparar as encomendas. É a recta final de uma maratona que começou às 6h00, cumprindo uma rotina com 35 anos. Depois de amassada, na amassadeira, a massa fica uma hora, hora e meia a levedar. Tudo depende da temperatura que se faz sentir. Mas, mais do que o relógio, quer aqui, quer noutros processos, é «a massa que manda». Depois de levedada, é dividida em pedaços, cada um com 2,750 kg. É o “empelo”, que também precisa de descansar um pedaço. Depois, cada “empelo” é colocado numa máquina e devidamente ajeitado. A massa é, então, enrolada e dividida. Cada “empelo” dá 22 pequenos pedacinhos de massa, que Carlos vai deitando no imenso tabuleiro. Carmina ajeita cada “pãozinho”, com 125 gramas cada. Um ou outro é colocado de lado. Porquê? perguntamos. «É mais pequeno», garante. Habituada desde garota aos segredos da massa e do pão, nem precisa da balança para saber que é assim. Esta fase, explica o casal, é agora feita com a ajuda da máquina enroladora e divisora, mas antes a massa era completamente trabalhada à mão e também cortada. Os dois enormes tabuleiros ficam cheios e

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pequenas bolas de massa, que se polvilham com farinha. «Trabalhamos com a Firmos, que entrou no mercado há uns 35 anos e tem muita qualidade», esclarece Carlos Dias, que além da padaria do Cardal trabalha no Rei dos Leitões, sendo um expert na arte de cortar o leitão. Um trabalho que faz há 18 anos. O pão descansa mais um minutos. Mais uma vez, não é o relógio que conta, mas a “cara da massa” e, claro, o olhar clínico de quem sabe. O forno, alimentado a pinho, está no “ponto”. «250 graus» é a temperatura aconselhada para garantir uma fornada que ronda os 600 pães. Forno que tem características especiais. «É um forno como os de assar leitões, só que três ou quatro vezes maior», diz Carlos. A fornalha – onde arde a lenha – constitui um compartimento próprio, que comunica com o forno propriamente dito, instalado ao lado. Um dado que facilita a operação de limpeza do forno, que também já não é feita com o clássico rodo, mas sim com um aspirador industrial, que recolhe toda a cinza que para ali tenha escapado. E é só depois de se aspirarem os “lares”, que o forno está pronto a receber o pão. Também, a arte de “enfornar” tem muito que se lhe diga. Carlos pega na comprida pá, estranhamente estreita. Carmina vai colocando os pequenos pedaços de massa. O limite são 10. Carlos ajeita cada pedacinho de per si. Carmina pega na tesoura e dá a cada bocado de massa um duplo corte, que vai fazer a coroa típica do pão da Mealhada. A cadência pode mudar e ser Carlos quem dá a tesourada, o que pode fazer com a mão esquerda ou com a direita. O pão é, depois, levado para o forno. Percebe-se, então o porquê de a pá ser longa e estreita, pois sucedem-se as filas de pequenos pães, 10 de cada vez, colocados lado a lado. Quando o casal acaba de encher o forno, os primeiros paezinhos estão prontos a sair. Então, o cheiro bom do pão fresco, acabado de cozer, invade a padaria. E o enorme cesto vai recebendo sucessivas pazadas de pão quente, lourinho e estaladiço, de fazer crescer água na boca. É tempo de atender os fregueses e dar início à ronda de distribuição. Não tarda, uma nova fornada começa a ser preparada. Todos os dias, até às 13h00.

Uma tradição de família Carmina Lurdes Costa Cordeiro é senhora


90 anos com Mealhada Pão

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de um saber ancestral que herdou do avô, Manuel Ferreira da Costa. «Foi um dos pioneiros a fazer pão», refere. Uma tradição que terá começado nos restaurantes, com a preparação de sandes de leitão para venda. O tradicional papo-seco era “curto” para “sustentar” uma sandes de leitão e os restaurantes terão dado o passo para produzir um pão diferente, que ganhou fama, o pão da Mealhada. O avô de Carmina começou a trabalhar nesta arte com 14 anos e manteve-se activo até aos 70 anos. Primeiro na Mealhada. Depois na vizinha localidade de Aguim, mas pertencente ao concelho de Anadia. A sua filha, Eduarda, mãe de Carmina, começou a trabalhar com ele e posteriormente montou a padaria no Cardal, com as filhas. «Já aqui estamos há 35 anos», refere Carmina Cordeiro. Nos últimos 15 conta com a colaboração do marido. Os filhos do casal – Bárbara, Marisa e Gabriel, e os genros, Pedro e Tiago - também dão uma ajuda, mantendo “em alta” o espírito de união da família e o sentido desta empresa familiar. «Estão habituados a tra-

Carlos Dias e Carmina Cordeiro

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balhar, desde pequenos que nos ajudam», refere Carmina. Os dois genros depressa se habituaram à rotina da família. Mil, mil e poucos, é a média de pães que a Padaria Regional faz todos os dias na época baixa. Ao fim-de-semana, a fasquia sobe e ultrapassa os quatro mil por dia. É assim todos os 365 dias do ano. Habitualmente a “empreitada” termina por volta das 13h00, altura em que o casal regressa à Póvoa da Mealhada, onde reside. Mas há situações especiais em que é necessário cozer mais uma fornada à tarde. Durante a pandemia, a produção reduziu substancialmente, particularmente quando os restaurantes da Mealhada, Anadia e Coimbra, estiveram fechados. A padaria só não trabalhou um dia, fazem notar. «Gosto muito do pão. É uma tradição que nunca devia acabar», afirma Carmina Cordeiro. E no que depender de si e do marido isso vai acontecer. Projectos não faltam para o futuro, que a pandemia veio atrasar, mas se mantêm de pé. Sempre com o pão no centro. Sem segredos, mas «com muita paixão». 


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Leitão 90 anos com Mealhada

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Uma vida dura para toda a família

Dourado e estaladiço, o aromático leitão sai do forno, depois de duas horas de assadura

O APETITOSO “REI” LEITÃO 1964 António Soares tinha 10 anos quando começou a aprender a arte de assar leitões. Assentou “arraiais” na sua terra natal, a Vacariça, e hoje é o mais experiente assador da Mealhada

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ou o assador mais velho da Mealhada!». Não em idade, mas em anos de vida dedicados ao leitão. 56, para sermos mais precisos. Falamos de António Soares, natural e residente na Vacariça, onde se dedica a assar leitões. «Aprendi com os melhores mestres», faz questão de sublinhar. Com 10 anos, imediatamente depois de ter concluído a 4.ª classe, começou a trabalhar. Toda a família se dedicava ao comércio de animais. Cabras, ovelhas, cabritos. «Eram magarefes, iam com o rebanho por essas terras. As pessoas escolhiam o que queriam e eles matavam os animais». Mas António Soares quis seguir outro destino. Ligado a um animal específico: o leitão. «Fui trabalhar para o Lúcio Simões, na Mealhada, para aprender», recorda. «Éramos mais dois ou três e eu dizia: “aprendam para serem alguém”». Todavia, contrariamente a António Soares, os restantes aprendizes não gostavam do que faziam. Ele sim! E tanto assim foi que se empenhou em aprender «Saí de lá aos 22 anos». Seguiu-se o Rei dos Leitões e uma passagem meteórica pelo Pedro dos Leitões e, pouco

depois, começou a trabalhar por conta própria. Foi o regresso à Vacariça. Primeiro com um «fornito de telha, na casa da minha mãe». Depois com três fornos, construídos de raíz, e outros três, mais tarde, para “dar vazão” a tanta encomenda. As novas exigências legais levaram-no a “mudar de casa” e a construir as actuais instalações, onde além da zona de assadura, com oito fornos, existe o matadouro. Um espaço inaugurado em Dezembro de 1999, onde António Soares continua a assar leitões. A família, a começar pela esposa, Maria de Jesus, mais conhecida por Marquitas, foi sempre o seu grande apoio. Esta acabou, de resto, por deixar a Sociedade Água de Luso, onde trabalhava, para ajudar o marido. Os filhos – Nuno, Patrícia e Andreia sempre ajudaram. Mas alturas houve em que não tinham mãos a medir e era necessário reforçar os recursos. «Tinha rapazes a trabalhar à hora», explica. E tinha mesmo que ser, tendo em conta a força das encomendas. Chegou a assar 200 leitões para a passagem de ano. Foi em 1999/2000. «Por alturas do Natal era uma loucura». Mas também na passagem-de-ano e na Páscoa.

«Aos 10 anos entrei para esta actividade e nunca mais conheci outra», afirma António Soares. Uma vida inteira de trabalho e sacrifício. Para si e para a família. «Sem férias, sem finsde-semana, sem feriados. É um trabalho muito duro, duríssimo. Passava semanas em que quase não ia à cama. Era trabalhar de dia e de noite. Começávamos à sexta e só parávamos no domingo à tarde». Escavaquei-me todo», queixa-se. Apesar das queixas, afirma com orgulho: «Assei milhares de leitões!» As contas não são difíceis de fazer. «Eram oito a 10 mil por ano»… Marquitas trabalha com o marido há 40 anos. Começou, aos 17 anos, a trabalhar na Sociedade de Água de Luso e quando se casou com António Soares, ajudava-o a nos leitões. Muitas vezes até altas horas da noite, já com um filho pequeno e à espera do segundo e a entrar ao serviço logo de manhã. Apesar das dúvidas, o casal entendeu que era melhor Marquitas sair da empresa e trabalharem juntos. E assim foi. «Dizem que é complicado trabalhar com a família. Graças a Deus, correu tudo bem», afirma. 

«Há 15/20 anos só não ganhou dinheiro quem não quis. Foi um pico. Trabalhava-se muito bem», afirma. Lembra, ainda, a primeira Festa do Avante, para onde enviou 150 leitões. Uma situação que contrasta com a realidade dos dias de hoje. «Agora, isto está muito mal», afirma. Uma realidade que está muito longe dos 50, 100 leitões que assava em média por dia. Desde que se instalou por conta própria, António Soares é o fornecedor oficial de vários restaurantes. «O Manuel Júlio foi o meu primeiro cliente», reforça. Logo seguido do Palace do Buçaco. Já lá vão 45 anos. De resto, toda a cadeia dos hotéis Alexandre de Almeida, na Curia, em Coimbra e em Carcavelos, serve leitão assado por António Soares. 


90 anos com Mealhada Leitão

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Carcaça e molho ditam a qualidade Segredos para um leitão de excelência? «90% do segredo está na carcaça», garante o especialista. Por isso a escolha recai no bísaro. Antes de se falar nesta raça, a opção era «um leitão esguio, de perna alta, estreitinho, magrinho». «Oito quilos, vivo» é o peso ideal. Todavia, tem de ter alguma gordura. «Meio centímetro», diz. Gordura necessária para obter a pele estaladiça, sobejamente apreciada. «Se a pele parece borracha, é porque o leitão é seco, não tem gordura», explica. Ideal, também, é “matar e pôr no forno”. Ou seja, abater os leitões, amanhá-los, deixar “escorrer” meia hora e prepará-los para irem para o forno. E é isso que António Soares faz. Num espaço anexo funciona o matadouro, onde são abatidos os animais, comprados nas redondezas, designadamente em Pombal, Sepins (Cantanhede) e Arazede (Montemor). Cumprida esta etapa, concentremo-nos no tempero. «O molho é essencial», diz. «A pimenta tem de ser boa» e Soares elege a Margão. Junta-se alho, sal e banha de porco. «É tudo amassado e misturado e mete-se dentro da barriga e na “papeira” do leitão. Depois, coze-se com fio e agulha». «Há quem ponha outros condimentos. Eu aprendi com pessoas que tinham 80 e tal anos e era assim que se fazia o leitão da Mealhada», afirma, recordando os mestres Chico do Pedro, Rabico de Sarnadelo, oArgentino da Mealhada, o Canas, o Lúcio Simões e a Mariazinha. O forno demora cerca de uma hora a aquecer e António Soares só usa vides , adquiridas na zona de Cadoiços e no Vale de Vila Nova. Uns oito molhos são necessários para atingir os 450º. Depois, “arreda-se” o brasio para o rebordo. «Não o

António Soares

tiro para fora», esclarece. Colocado no espeto, o leitão é levado ao forno. 15/20 minutos sem mexer. Depois retira-se. É o “constipar” o leitão. Um choque térmico que, por vezes, leva o assador a deslocar-se para a rua. É uma operação importante que se reflecte na pele estaladiça, claro está, conjugada com a gordura do leitão, que o «forno derrete». De regresso ao forno, não se pense que o leitão fica quieto. «Há quem pense que não se mexe mais», diz o experimentado assador. Nada mais errado. «O leitão precisa de ser “rodado”, até para tomar cor». Duas horas depois de entrar no forno, está pronto a sair. Há muito que o aroma invadiu a sala. Tostado e estaladiço é retirado por Nuno Soares, filho do especialista e também ele já um expert. A caixa está pronta. Nuno pega no leitão e coloca-a na posição vertical, para retirar o molho. «Há quem “lave” o leitão com vinho branco. Deus nos livre! Nunca fiz isso!», remata Soares. O molho escorre para a panela e o fumegante e aromático leitão é “aconchegado” na caixa. À espera há escassos minutos, o cliente segue o seu destino. Hoje, sem o corrupio de outros tempos. Mas com clientes fiéis 

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“Menores” de 30 anos não compram leitão A pandemia trouxe uma acentuada redução à clientela e o movimento de hoje não tem comparação com os tempos ditos normais. Todavia, não é só a pandemia que dita alterações na clientela. «Não há uma pessoa de 30 anos a vir comprar leitão», garante Nuno Soares. Certamente não será por não apreciarem leitão assado, mas por uma questão de hábito. O pai refere que muitos clientes, hoje com 50/60 anos, são “velhos” conhecidos, pois acompanhavam os pais ou os avós quando estes iam buscar leitão e derem continuidade a esse hábito. É essa geração que continua a comprar. Os mais novos nem por isso. «Cada vez vamos ter mais dificuldade em vender leitão, tirando a época das festas, como o Natal, Páscoa e passagem de ano», adianta Nuno, garantindo, também, que existe «muita concorrência» no sector. «Já não se pode comer leitão em qualquer casa, mesmo na Mealhada», alerta, crítico, António Soares. Mas no que ao assador diz respeito, garantidamente não come leitão que não seja assado em sua casa. Uma “receita” que se aplica a toda a família. «Já estive num jantar em que só havia leitão. Fiquei-me pela sopa», conta Nuno Soares. Marquitas, a esposa, também só come leitão de “casa”, o mesmo acontecendo com as duas filhas do casal. «Já gostei mais de leitão do que agora, mesmo sendo bem assado», adianta a esposa. Marido e filho concordam com a observação. «A gente também se cansa», concluem. 


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Caves Messias 90 anos com Mealhada

CAVES MESSIAS: O IMPÉRIO DOS VINHOS 1938 Começa em 1938 a construção dos armazéns e caves. Uma obra que se estende até 1943 e ocupa uma área de 35 mil metros quadrados. Ainda hoje a sede da empresa e epicentro da produção

Primeira cave . O enorme corredor subterrâneo estende-se a perder de vista

U

m enorme alambique lembra as origens. Sim, foi como comerciante que Messias Ferreira Baptista começou o seu império. Comprava e vendia vinho e também aguardente. A “água do fogo” permitiu-lhe uma grande proximidade com a região do Douro. «Era o principal fornecedor de aguardente dos produtores de Vinho do Porto». De fornecedor, depressa deu o passo seguinte. Começou a negociar com Vinho do Porto e comprou o primeiro armazém. Memórias de um passado longínquo que a empresa preserva. Num expositor guarda-se a nobreza de uma garrafa datada de 1926. É o Vinho do Porto mais velho que existe nas Caves Messias. «Temos 100 garrafas guardadas para comemorar o centenário», explica Margarida Valente, bisneta de Messias Baptista. A data seguinte, no que ao Vinho do Porto diz respeito, levanos ao ano de 1943. Seguem outras, 1947 (600 euros) ou uns modestos 900 euros que é quanto custa o Vinho do Porto

Messias de 1948, 1962, 1969 ou 1970. «Durante cerca de 20 anos o avô dedicou-se só ao comércio de vinhos e aguardentes», explica José Vigário, neto do fundador e presidente do Conselho de Administração da empresa. Para o fazer tinha-se inscrito, em 1926, como comerciante individual no Tribunal do Comércio de Anadia. Uma data que marca a fundação da Messias. Em 1937, Messias Baptista é admitido como sócio efectivo daAssociação

Loja e recepção das Caves Messias

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Comercial e Industrial de Gaia. O comércio de vinhos alarga horizontes, com uma aposta na exportação. Era muito, mas pouco para o espírito inquieto e empreendedor do empresário. Messias Baptista quer imprimir a sua marca. Produzir o seu próprio vinho. Em 1930, começa a aquisição de um conjunto de propriedades na região da Bairrada, a plantação de vinhas novas e a recuperação de outras. De todas elas, destaca-se a Quinta do Valdoeiro. Localizada na vertente poente da Serra do Buçaco, é considerada uma das propriedades agrícolas mais bem estruturadas da Bairrada. Um processo acompanhado, a partir de 1938, pela construção de um complexo de armazéns e caves, que ainda hoje constituem a principal unidade de produção e a sede da empresa. Sucedem-se as aquisições. No final da década de 50 com a compra da Quinta do Cachão, primeiro, e depois, a Quinta do Rei, ambas na Região do Douro. Nos finais da década de 90, foi a Quinta do Penedo, na Região Demarcada do Dão que veio enriquecer as “castas”dos vinhos da Messias. Um portefólio único e diversificado, que representa a imagem de marca do grupo empresarial. Uma aposta na qualidade que envolve vinhos de mesa “premium” das regiões demarcadas do Dão, Bairrada e Douro, mas também Vinho do Porto, espumantes e aguardentes velhíssimas.

2% da quota de mercado do Vinho do Porto Os espumantes serão, em termos de imagem, o principal produto das Caves Messias, mas a verdade é que apenas representa «cerca de 10% da produção da empresa», afirma José Vigário, embora estejamos a falar de 350 mil garrafas/ano. Diferente é a realidade do Vinho do Porto. «Temos 2% da quota de mercado. Somos os primeiros logo a seguir aos cinco grandes», brinca o presidente do Conselho de Administração, referindo-se aos grandes grupos internacionais que dominam desde há longa data o negócio do Vinho do Porto. A produção, claro está, provém da quinta do Douro, com o estágio e engarrafamento a ser efectuado em Vila Nova de Gaia. Vinho do Porto que se destina «essencialmente para exportação». Como mercados de referência encontram-se a França, Bélgica, Holanda, Brasil, Estados Unidos e Canadá, com a Dinamarca e a Rússia a assumirem



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Caves Messias 90 anos com Mealhada

uma importância crescente. «Trabalhamos muito pouco com Inglaterra», confessa o administrador. Todavia, os produtos enviados para consumo dos súbditos de Sua Majestade são efectivamente “principescos”. «São produtos de grande qualidade». Produtos “top” que também são os mais solicitados pelos mercados dos Estados Unidos e do Canadá. José Vigário alerta para a redução de consumo de Vinho do Porto entre os portugueses. Um fenómeno que o leva a defender uma campanha de marketing, no sentido de repor o Vinho do Porto no mer-

Vinhos premium em amadurecimento

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cado nacional. Todavia, nos últimos quatro/cinco anos, adianta, graças ao acréscimo de turistas, vendeu-se mais Vinho do Porto. Quanto aos vinhos de mesa – Douro, Bairrada e Dão, todos eles produzidos pelas Caves Messias, com uvas provenientes das respectivas quintas ou adquiridas a fornecedores, 65% da produção destina-se a exportação, com os mercados da Alemanha, França, Brasil, Dinamarca, EUA, Bélgica e Holanda a assumirem um papel de referência. Os restantes 35% são para o mercado nacional. 

Investimentos e projectos Trabalhadores também são família

Gonçalo Louzada, José Vigário, Margarida Valente, Messias Vigários e Henrique Campos são os administradores

Messias Baptista manteve-se à frente da administração da empresa até 1973, um ano antes da sua morte. Um império de vinhos e de prestígio que começou a erguer com a ajuda do filho e do genro. «Uma empresa familiar», sublinha José Vigário, fazendo notar que é a terceira geração da família que lidera a empresa e a quarta começa a perfilar-se para lhe dar continuidade. Na década de 80/90 do século passado a empresa fez um «grande investimento» na plantação de vinha nova e na renovação de vinhas mais antigas. Uma aposta, sempre renovada, «na produção de vinhos de qua-

Com uma tradição de grande ligação à região, os trabalhadores da empresa «são família». Alguns trabalharam ali toda a sua vida. «São muito dedicados e zelosos do seu trabalho», elogia Margarida Valente, que destaca, igualmente, a grande competência e profissionalismo dos colaboradores, mas também a sua «paixão» pelo trabalho que desenvolvem. Actualmente a empresa possui 48 funcionários na Mealhada, 17 em Gaia, oito no Douro e três na quinta do Dão. 

lidade», atesta José Vigário. Seguiu-se um período de pausa. «A partir de 2015 fizemos grandes investimentos necessários à empresa. Já não na vinha, mas na produção de sinergias, produção e engarrafamento e também no enoturismo», esclarece. Investimentos que, nos últimos cinco anos «rondaram os 500 mil euros por ano», adianta. É neste período que se situa a criação da loja e a remodelação das instalações, com a criação de uma área visitável que não interfere, mas permite conhecer o sector da produção. Um circuito que envolve as caves, emolduradas por um con-

junto de relíquias. Equipamentos usados até há pouco tempo, alguns ainda operacionais e capazes de dar resposta a situações de emergência. Outros, como o alambique, que nos recebe à entrada, que lembram o passado. Uma cuba de grande dimensão foi transformada numa pequena sala, onde os visitantes são presenteados com um vídeo, que permite conhecer as quintas e perceber os aromas da produção, na origem. «Consideramos o enoturismo uma actividade importante no programa global da empresa. O vinho está na moda», afirma José Vigário. «As pessoas gostam de provas de vinhos, de jantares vínicos, de sentir o clima, que alguém lhes explique o que cada vinho representa e como deve ser acompanhado. Infelizmente, este ano, quando estávamos em pleno desenvolvimento, parou tudo, devido à pandemia. Neste momento apenas temos visitas, muito limitadas, às caves», adianta. A empresa está, actualmente, em “repouso”, à semelhança dos vinhos “premium”que estagiam nas caves, em matéria de investimentos. Todavia, há projectos em carteira. O administrador destaca a construção de um pequeno hotel de charme, na Quinta do Cachão, no Douro. Um projecto de enoturismo que já não é novo, mas ainda não obteve a necessária licença para avançar. Trata-se de transformar um edifício muito antigo numa unidade hoteleira, para o qual as Caves Messias ponderam, depois, uma parceria com uma unidade hoteleira, no sentido de garantir a sua exploração. 


90 anos com Mealhada Caves Messias

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Segunda cave é praticamente toda dedicada ao espumante

BRINDE AO ESPUMANTE 1943 Primeiro espumante foi produzido em 1943. Hoje, as Caves Messias continuam a apostar no método clássico e a levar longe o nome da Mealhada e da Bairrada Desce-se o primeiro lanço de escadas e deparamo-nos com milhares, talvez milhões de garrafas. É o reino do vinho. Todo ele tinto. O branco, mais leve e fresco, raramente precisa de estagiar. Segue, célere, o seu destino. Excepção feita para aqueles que vão alimentar a cultura de espumantes. É mais um lanço de escadas. Mais uns metros enterrados no solo. É o segundo patamar das Caves Messias. O reinado dos espumantes. Uma tradição que levou o nome da Bairrada ao mundo e tem na Mealhada um porto de referência obrigatória. São centenas de metros escavados no solo. Uma verdadeira gruta onde os vinhos encontram o ambiente mais acolhedor

para o seu desenvolvimento. Há pó e humidade. Nas paredes, aqui e ali, brilham cristais. São os resíduos dos vinhos que, noutros tempos, enchiam as antigas cubas de betão, hoje transformadas na adega. Do tecto descem curiosas cortinas, um rendilhado fofo, escuro. Obra tecida por incansáveis e invisíveis aranhas e fortificada pelo passar dos anos. Aqui e ali a humidade é mais intensa e assume mesmo a forma de água. A temperatura é estável. Acolhedora no Inverno. Fresca no Verão. O estado perfeito para o amadurecimento dos vinhos. Mas também o ambiente certo para criar espumantes. Reserva ou Grande Reserva. Tudo depende da escultura do tempo.

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«Ninguém imagina o que é preciso para fazer uma garrafa de espumante!». Palavras de Margarida Valente, bisneta de Messias Baptista, que nos orienta nesta viagem pelo universo do vinho. Tempo. Tempo e paciência. Saber-fazer. Paixão. São estes alguns dos ingredientes necessários. Mas também a tradição, escrupulosamente seguida e o carinho com que os zelosos profissionais, «uma família», sublinha, cumprem as suas tarefas. Não podemos esquecer as uvas, claro está. Porque aqui é de uvas que se faz o vinho e o espumante. E também aqui, entre as rigorosamente seleccionadas castas, obrigatoriamente está sempre a Baga. «É uma casta típica da região e entra em todos os espumantes», diz Margarida Valente, um dos cinco elementos da administração da empresa, hoje a cargo da terceira e da quarta geração. Uma casta sui generis, que foi rainha nos primeiros testes, feitos emAnadia, no finais do século XIX que permitiram a criação do primeiro espumante nacional. Em 1943, nas Caves Messias era feito o primeiro espumante da Mealhada. Um processo que, até hoje, nunca mais parou. Milhares de garrafas descansam, deitadas, cumprindo o tempo de espera. Um primeiro passo para o sucesso da segunda fermentação a que o vinho é sujeito e que vai permitir, meses depois, que se abra uma garrafa e as “bolhinhas” preencham o flute e os “piquinhos” nos façam comichão no nariz. Um processo conseguido com a adição de leveduras e açúcares, introduzidas em cada garrafa. Qual a dose? Nem nos atrevemos a perguntar. Trata-se de um dos maiores segredos, ciosamente guardados. O objectivo é «criar condições idênticas às da primeira fermentação», adianta José Vigário. Afermentação vai criando resíduos, borras que começam a enfeitar as paredes da garrafa. Importa, então, depois de dois a quatro


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Caves Messias 90 anos com Mealhada

meses, começar a erguê-las e, das fileiras horizontais, a garrafa passa para um novo estádio. Menos deitada, a garrafa, ou melhor, milhares de garrafas, são colocadas num cavalete próprio, de madeira, com alvéolos individuais destinados a encaixar cada garrafa. São as pupitres, que se estendem ao longo de dezenas e dezenas de metros da segunda cave. A mudança de posição tem um objectivo muito claro: deslocar os resíduos resultantes da segunda fermentação. Levá-los das paredes da garrafa para o gargalo. Mais uns meses de um caminho lento e de paciência. É o início da operação “remuage”, uma expressão francesa que faz todo o sentido, uma vez que o espumante é uma “inspiração” directa do famoso champagne produzido em terras gaulesas. Aqui junta-se ciência e destreza. «Três pessoas, em duas horas, rodam todas estas garrafas», afirma, com orgulho, Margarida Valente. Uma operação manual, feita todos os dias. Trata-se de fazer «a rotação da garrafa. «Um quarto de garrafa em cada dia». Para que não haja enganos, o fundo de cada garrafa apresenta duas pinceladas de cores diferentes. Uma indica o tipo de vinho. Outra o sentido da rotação. À medida que a garrafa vai sendo rodada, vai subindo para uma posição vertical, com o gargalo para baixo. O objectivo é concentrar todos os sedimentos junto ao gargalo. «Seguimos à risca o método tradicional», adianta José Vigário. Hoje em dia já existem sistemas automáticos de “remuage”, mas que não servem para o modo de produção clássico adoptado pela Caves Messias. Todavia, o fundador da empresa apostou, nos anos 60, numa inovação, com o objectivo de melhorar a capacidade tecnológica. A bisneta apresenta-nos a máquina, com uma capacidade para receber três mil garrafas, que faz a remuage de forma auto-

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Antigas rolhas de cortiça foram substituídas por cápsulas, que facilitam a remuage

mática. Sucede-se o “degorgement”, mais uma vez um termo francês. Uma operação delicada, que consiste em retirar a rocha e também os resíduos que se acumularam junto ao gargalo. Hoje em dia uma operação mais simples, porque a “máquina do frio”, onde as garrafas são colocadas de “boca para baixo”, congela o gargalo, o que permite, uma vez que a garrafa está sob pressão, retirar de forma rápida a cápsula e injectar para o exterior as impurezas resultantes da segunda fermentação. Antigamente era muito mais complicado, sobretudo porque, ao invés da cápsula actualmente usada, era utilizada uma rolha, igualmente de cortiça, com um agrafo que prendia ao rebordo da garrafa, e todo o processo era manual. «Era preciso ter dedo gordo e destreza», brinca a bisneta de Messias Baptista. A operação seguinte é feita de imediato. Trata-se do “atesto” da garrafa, com vinho igual ao que lá se encontra. É também nesta altura que é colocado o chamado “licor de expedição”. Mais um segredo do enólogo. «É o licor que define o vinho», ou seja, que vai ditar se se trata de um espumante bruto, meio-seco ou doce.

Estamos quase na recta final do circuito. Falta mesmo arrolhar a garrafa. Uma operação a cargo da rolhadora, uma máquina que contrai as bojudas rolhas de cortiça típicas do espumante e as impõe à garrafa. Mas não chega. É preciso colocar-lhe o “açaime”, ou, recorrendo à terminologia francesa, fazer o “muselet”. Trata-se de colocar os conhecidos arames, que acondicionam a rocha e só a deixam saltar na altura própria de fazer o brinde. Mas, ao lado desta moderna linha, mantém-se a velha rolhadeira. Manual, pesada, que exige perícia, mas também força. Uma máquina que continua a ser usada para o arrolhamento de todas as garrafas de espumante de 1,5 litros. A mesma tradição, Messias.Apenas com uma amplitude maior. Segue-se a aplicação do rótulo e, depois de confirmar que garrafa e conteúdo estão “comme il faut”, só falta mesmo encaminhar o espumante para o armazém e proceder à expedição. São 350 mil garrafas por ano. 10% destinam-se a exportação. Especialmente para o Brasil. Messias e Quinta do Valdoeiro são as marcas de referência. Reserva ou Grande Reserva. Uma opção engarrafada com o tempo. 



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4 Maravilhas 90 anos com Mealhada

4 MARAVILHAS DA MESA 2007 Associação visa promover os produtos endógenos do concelho como um todo e criar uma marca.

Água|Pão|Vinho|Leitão são os produtos eleitos das 4 Maravilhas

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gua|Pão|Vinho|Leitão. A mesa está posta e, em abono da verdade, não precisa de mais nada. A não ser apetite. Quatro produtos de eleição, todos eles do concelho. São as 4 Maravilhas da Mesa da Mealhada. Um projecto lançado em 2007, precisamente com o objectivo de «constituir uma marca que pudesse valorizar estes produtos endógenos como um conjunto». Isso mesmo explica o vereador da Câmara Municipal da Mealhada, Nuno Canilho, que destaca a “aliança”que se estabeleceu entre os quatro produtos, permitindo «alavancar uns nos outros» e, desta forma, elevar a notoriedade do conjunto. O leitão, assume, «não precisava de uma grande promoção». O mesmo acontecia relativamente à Água de Luso, uma das marcas mais acarinhadas pelo portugueses. Todavia, o pão tradicional, «um produto muito típico, estava um tanto desvalorizado». E o vinho precisava, igualmente, de uma “lufada de ar fresco”. A Câmara Municipal, que funcionou como mola impulsionadora de todo o processo, «entendeu que não fazia sentido apresentarmo-nos com único produto, cuja titularidade seria discutível com outros territórios», refere. Por isso, a aposta centrou--se no objectivo de «apresentar a especificidade

da Mealhada como um território onde estes quatro produtos se reúnem», explica. Surge, assim, o projecto 4 Maravilhas Mesa da Mealhada – Água|Pão|Vinho|Leitão. «O objectivo é criar um roteiro de degustação e de promoção destes produtos, aliado à certificação da sua qualidade», adianta. Para o vereador, esta certificação é fundamental, uma vez que representa, perante o cliente, a «garantia que estes produtos são legítimos, são bem confeccionados e respeitam um conjunto de regras básicas». O projecto cresceu e, a determinada altura, «entendemos que devíamos completar a mesa, acrescentando-lhe outros produtos endógenos similares, que pudessem beneficiar da alavanca desta marca», refere. Foi o “salto” para a sobremesa, dado em 2016, com o “menu” das 4 Maravilhas a acolher os caramujos e as cavacas do Luso e também os casticitos. São os “Produtos Alimentares Associados”, que representam um «acréscimo de valor à marca». Os caramujos e as cavacas são receitas tradicionais, com mais de um século de existência. Quanto aos casticitos, trata-se de um pastel criado à base de uva e espumante, no âmbito de um concurso lançado pela Associação 4 Maravilhas. Nuno Canilho não tem dúvidas que o

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objectivo foi cumprido e que a marca 4 Maravilhas fez a diferença, levando a todo o país e ao mundo uma imagem coesa e incisiva da Mealhada e dos seus produtos endógenos. Mas destaca, igualmente, o impacto na «melhoria da qualidade». «Os operadores, designadamente os restaurantes, têm de cumprir um conjunto de regras, o que se saldou num aumento da qualidade», refere, destacando, nomeadamente, a aposta feita ao nível da formação profissional. Mas também no cuidado acrescido relativamente ao vinho, a «valorização do pão» e da água, designadamente com o surgimento de «uma carta de águas, à semelhança da carta de vinhos». «Um conjunto de situações que contribuíram, em muito, para a melhoria do serviço, o que também fez com que os restaurantes tivessem resultados», com alguns a ganharem projecção nacional. Lembra, inclusive, que o leitão foi eleito como uma das 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa, o que representou mais um “input” para a região. Nuno Canilho confessa ser «difícil medir o impacto da marca 4 Maravilhas». Certo, isso sim, foi o crescimento continuado dos operadores aderentes. E também a afirmação da Mealhada como um território onde se aprecia a boa mesa.

Candidatura de dois em dois anos De dois em dois anos a Associação 4 Maravilhas procede à entrega dos selos e das bandeiras. Um processo que começa com a candidatura dos operadores a cada uma das 4 Maravilhas. Uma padaria, exemplifica Nuno Canilho, pretende certificar o pão; uma superfície comercial pode querer certificar o pão e a água e um restaurante tem interesse em certificar as quatro maravilhas. «São formulações diferentes para cada operador», explica. A equipa de jurados, que integra representantes da Escola de Hotelaria de Coimbra, Associação de Municípios Produtores de Vinho e Associação de Escanções, visita os candidatos e faz a sua avaliação. Os candidatos aprovados recebem a respectiva placa, que certifica a qualidade do produto a que concorreram. Podem ou não, esclarece, receber uma bandeira, uma vez que este galardão distingue apenas os concorrentes classificados com notas mais altas. Bandeiras e placas são entregues numa gala. A última decorreu em 2018 e certificou «mais de 40 operadores». 



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Messias Baptista 90 anos com Mealhada

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MESSIAS BAPTISTA: LIDERANÇA E CARISMA 1891-1974 Messias Ferreira Baptista, empresário, empreendedor, benemérito e solidário, foi sobretudo um “homem bom”, que imprimiu a sua marca e deixou um enorme legado

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ra uma personalidade enorme, muito rígido, mas com um grande sentido de humanismo. Todos lhe tínhamos um enorme respeito». Palavras de José Vigário, neto de Messias Ferreira Baptista, actual presidente do Conselho de Administração das Caves Messias, uma das imagens de marca da família, um exemplo da criatividade e do génio empreendedor de Messias Baptista. «Ainda trabalhei com ele na empresa», adianta. Aconteceu em 1973, o ano em que o empresário deixou a administração da Messias, que fundou em 1926. José Vigário tinha, então, 20 anos. Depois da morte do avô (Outubro de 1974), «a imagem dele» manteve-se sempre presente. A imagem de «um grande senhor», «uma pessoa excelente», «um grande benemérito», acrescenta a neta Maria Teresa Soares Baptista, destacando a importância que Messias Baptista dava à educação. Um homem simples, que não tinha mais do que a quarta classe, mas que sempre fez questão de aprender. «Era um homem muito culto» que se empenhou em dar aos filhos uma esmerada educação. «Mandou o meu pai, com 18 anos, estudar para Inglaterra» e a filha para o Colégio das Doroteias. «Dava muita importância à educação», diz, lembrando, ainda, o «rigor» que impunha. «À mesa nenhum de nós se podia levantar». «Era uma pessoa com raízes humildes, que se tornou muito cosmopolita, que se dava com as pessoas mais influentes do país», adianta José Vigário. «Nunca foi político», sublinha, «mas dava-se com políticos, com banqueiros, com gente influente». Entre os amigos, o neto destaca os proprietários do Banco Borges & Irmão. «As Caves Messias chegaram a ser correspondentes do banco», recorda. Esta faceta «cosmopolita» terá sido fundamental na sua vida. «Grande parte dos negócios que fez eram resultantes da facilidade dos muitos contactos que tinha», refere. Teresa dá uma achega, lembrando que muitos dos negócios do avô se «faziam à mesa». Por isso a avó, Emília Breda Baptista, «sempre teve boas cozinheiras e fazia doces muito bons».

Messias Baptista “guia” um grupo de amigos, numa das muitas visitas às Caves

Perfil Messias Ferreira Batista nasceu no dia 22 de Novembro de 1891 em Travasso. Começou a sua vida profissional como negociante de gado e dedicou-se, depois, à compra e venda de vinhos e aguardentes. Cedo o seu génio empreendedor veio à tona, e transformou-se no maior fornecedor de aguardente aos produtores de Vinho do Porto. Seguiu-se uma escalada de negócios, com a compra de armazéns e de quintas e a construção das caves da Mealhada. Administrador delegado da Sociedade de Águas de Luso, foi um dos obreiros do Grande Hotel das Termas de Luso. Empenhado em dotar a Mealhada de um espaço de referência cultural, construiu o Cineteatro, inaugurado em 1950. Casado com Emília Sereno Breda de Melo Baptista, teve dois filhos, Messias e Isabel de Melo Baptista. O filho e o genro foram os seus “braços” esquerdo e direito na administração da empresa, que dirigiu até 1973. Morreu a 9 de Outubro de 1974. 

Maria Teresa lembra, também, a grande amizade de Messias Baptista e Bissaya Barreto. «Eram como irmãos», diz e recorda o envolvimento de ambos na Sociedade de Águas de Luso e o seu empenho na construção do Grande Hotel de Luso, que durante largo tempo foi gerido por Messias Baptista. Em sintonia, os dois netos recordam o «homem de família», que fazia questão de juntar «os dois filhos e os sete netos, durante um mês, na quinta do Buçaco». «Era um verdadeiro patriarca», diz Maria Teresa. «Todos os domingos íamos a casa do avô» e «todos os anos nos levava a Salamanca e íamos à tourada», recorda salientando o facto de Messias Baptista ser «cidadão honorário de Salamanca», título que lhe terá sido atribuído pela ajuda que terá dado à região aquando da guerra civil de Espanha. «Era um homem fantástico, 100% família. Um benemérito». Ao contrário de José Vigário, que trabalha desde os 20 anos nas Caves Messias, Maria Teresa, educadora de infância, já reformada, sempre esteve longe dos vinhos. Mas recorda os tempos em que, garota, juntamente com os primos, brincava nas caves e de, com três ou quatro anos, ir para o Cinema com o irmão, «ver filmes passados pelo senhor Alberto Clemente».


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Maria Teresa recorda que Messias Baptista começou a sua vida profissional como negociante de cavalos. «O avô sempre adorou cavalos, era cavaleiro. Andava quase sempre com botas de montar». Recorda, igualmente, o «homem elegante» e «vaidoso», que «gostava de vestir bem». «No Verão andava sempre com fatos de linho branco». «Frequentava os melhores restaurantes» e também tinha «carros muitos bons». «Foi a primeira pessoa a ter um carro na região». Sem prestar grande atenção a marcas, a neta recorda-se de um Jaguar. «Fez muito pela Mealhada», diz ainda, destacando o «homem austero, inteligente e culto», mas também «um homem bom», «com uma grande sensibilidade e sentido de partilha». «Todos os anos oferecia um fato aos funcionários da empresa e uma saia e uma blusa às funcionárias». José Vigário refere a criação de um fundo de pensões, que representa uma mais-valia quando os funcionários se reformam. Recorda, ainda, as telhas e tijolos que o benemérito ofereceu, produtos de uma empresa que adquiriu aquando da construção das Caves. «80% das casas construídas nessa altura tiveram telhas e tijolos oferecidos por Messias Baptista», conta.

90 anos com Mealhada Messias Baptista

Cartas anónimas preservam memória «Foi o homem que mais se evidenciou na região da Mealhada, pela sua astúcia e inteligência». Um elogio a Messias Baptista que tem a particularidade de ser da autoria de um desconhecido. Fazendo questão de preservar o anonimato, o autor tem-se empenhado em enviar uma carta aos netos de Messias Baptista. Maria Teresa recebeu duas. São iguais.

“Matou a fome a muita gente” “Oh Quarta-Feira, traz-me cá uma caneca de água!”. Aurora Duarte Baptista recorda o pedido que o patrão, Messias Baptista, lhe fazia sempre que se deslocava à Quinta do Valdoeiro. Tinha 11 ou 12 anos quando ali começou a trabalhar. Uma forma de ajudar a mãe a cuidar dos irmãos, depois da morte do pai, no Brasil. Manuel Quartafeira, como era conhecido, andou com Messias Baptista na tropa. Eram ambos de Travasso e tornaram-se «grandes amigos». E foi em nome dessa amizade que o empresário estendeu a mão à família, dando trabalho a Aurora, pequena em tamanho e em idade. Tinha acabado de completar a terceira classe quando começou a trabalhar no Valdoeiro. Hoje com 85 anos, a residir com a filha, Dulce, na Pampilhosa, Aurora recorda o caminho que percorria até ao Santo Amaro, onde enchia o cântaro, de madeira. «A água era muito fina, muito boa e fresca, parecia que nascia ali», conta. Todos os dias, no

Verão mais do que uma vez, a pequena “Quarta-Feira” enchia o cântaro de água. Mas não era só Messias Baptista que lhe pedia uma caneca cheia. «Todos bebiam» e «todos me pediam água». «Até começaram a chamar-me aguadeira». Mas o trabalho de Aurora não era só dar de beber a quem tinha sede. Os enormes vinhedos da Quinta do Valdoeiro exigiam grande atenção. Especialmente na época da cura. «Andavam sete homens com as máquinas de curar e quatro mulheres a «acartar o sulfato». Aurora era uma delas. E foi nesta lide que conheceuAmérico Baptista, um dos homens que andava de máquina às costas a sulfatar. Conheceram-se no Valdoeiro, namoraram e casaram.Aurora tinha 17 anos e deixou de trabalhar na quinta. Anos mais tarde rumou para Luanda (Angola), onde trabalhou na lavandaria do Hotel Continental. Recordações que partilha com alegria, na companhia da filha, Dulce, da neta, Ângela, e da bisneta, Carlota.

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Manuscritas, com uma caligrafia de excelência. O autor recorda «o que criou» Messias Baptista, designadamente as «Caves Messias, a Quinta do Valdoeiro (…) vários armazéns de Vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia, Quinta do Pinhão, no Douro, para produção de Vinho do Porto, e milhentos pinhais», entre outras propriedades. «Este património fez com que fosse o maior (de longe) empregador do povo da Mealhada». «Em memória do passado», o autor refere a «construção do cinema da Mealhada» e o «rebate de consciência» que ditou a colocação de «um busto do velho Messias», junto ao Cine-Teatro. «Um grande homem, homem de grande valor que não mais é igualado» e «ficará para todo o sempre na memória de quem é consciente e amigo da Mealhada», escreve. Noutra das missivas, o autor assume-se como «grande admirador» de Messias Baptista, com quem, escreve, chegou a trabalhar. Inclusivamente diz ter presenciado a negociação, feita por telefone, de um armazém de Vinho do Porto em Vila Nova de Gaia. O admirador anónimo assume escrever estas mensagens para que «aos vindouros» «não passe despercebido» o legado de Messias Baptista.  «Fui feliz», afirma, sem hesitar. Com os olhos a brilhar, recorda o grupo que todos os dias partia de Travasso para a Quinta do Valdoeiro. «Era um rancho de homens e de mulheres». Não só de Travasso, mas também do Lameiro, da Lagarteira e da Pampilhosa. «O Valdoeiro matou a fome a muita gente. Era tempo de guerra e havia muita fome...», recorda. Mas a “jorna”, entregue todas as semanas pelo “pagador”, nunca falhava naquela quinta... «O senhor Messias era muito boa pessoa, um bom homem. Até nos convidou para irmos ver um filme ao Teatro, na Mealhada. Foi toda a gente que trabalhava no Valdoeiro», sublinha.Aurora recorda as palavras do patrão: “Preparem-se amanhã – era sábado – para irem ver um filme. Quero-vos lá todos!...” Nós trabalhávamos para ele e ele convidou-nos para iremos ver o teatro», recorda, com admiração. «Fomos todos», diz ainda, com entusiasmo. Aurora não se lembra quando aconteceu esta deslocação ao Cine-Teatro Messias. Mas foi a única vez que ali foi. «Por convite do patrão», sublinha, orgulhosa. 


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Odete Isabel 90 anos com Mealhada

ODETE ISABEL: A PAIXÃO PELA POLÍTICA 1976 Foi a primeira e até agora única presidente da Câmara da Mealhada. Imprimiu a sua marca e fez história

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rreverente e inconformada, com vontade de mudar o mundo, Odete Isabel atirou-se de alma e coração ao desafio e transformou a gestão da Câmara Municipal num projecto de vida. Três anos de uma intensidade arrebatadora que deixaram uma marca. Concluído o mandato, Odete Isabel cumpriu o prometido e regressou à Farmácia do Hospital.Apolítica e a farmácia hospitalar foram as grandes paixões da sua vida. Numa e noutra foi uma guerreira. «A Mealhada era um concelho especial», diz. «Faltava fazer praticamente tudo. Só a Mealhada tinha água canalizada», recorda, falando com o entusiasmo que sempre a caracterizou e com uma desenvoltura que quase faz parecer que tudo aconteceu ontem e... não em 1976. «Não conhecia o concelho», assume, recordando uma das primeiras visitas que, acompanhada pelo vice-presidente, empreendeu a Barcouço. «Uma terra de ninguém», no limite do concelho. Um copo de água para matar a sede levou-a a constatar que água não existia. Era preciso ir à fonte. E foi à fonte que a presidente se deslocou, no meio de pinhais. Para lá chegar atravessava-se uma vinha. «Estou tola ou ouço crianças a chorar»?, questionou. Não, não estava! «No meio da vinha estava uma roda com várias crianças, em caixotes e canastras, a chorar», enquanto os pais trabalhavam. «Que raio de país é este?!», desabafa, lembrando que pensou nos sobrinhos, filhos da irmã, residente em Aveiro, que frequentavam o Infantário da Gulbenkian. A imagem do choro das crianças foi, definitivamente, o click. «Está aqui o “nó”! Está aqui trabalho para fazer», percebeu. Foi assim que começou a «grande aventura» da equipa liderada por Odete Isabel para dotar o concelho de infantários e avançar com a educação pré-primária. Uma inovação em Portugal, que a Mealhada liderou. Barcouço, Mealhada e Pampilhosa foram os três infantários criados pelo executivo. O primeiro, em Barcouço, recebeu o seu nome. «Foi o reconhecimento da

Odete Isabel

terra à Câmara». «A certa altura, o PSD quis mudar o nome, mas a população não deixou», diz, com notório orgulho. O projecto gizado, “Criar igualdade de oportunidades para o concelho”, ganhava uma nova cambiante, focada nas crianças. O levantamento das necessidades foi efectuado, seguindo as directrizes de uma amiga, que trabalhava na Segurança Social: numa terra com mais de 35 crianças entre os 3 e os 6 anos, fazer um infantário; nos outros locais, criar algum tipo de apoio, com amas ou salas. «Só na Mealhada, Pampilhosa e Barcouço havia mais de 35 crianças» e foram estas as freguesias com “direito” a infantário. Sem dinheiro para erguer um, Odete Isabel queria construir três. Contou com a ajuda de um engenheiro, director da Soprem (fábrica de madeiras). «Faça-os em pré-fabricado. Bem-feitos duram 20 anos», sugeriu. Apresidente pediu-lhe que fizesse o projecto, que o executivo aprovou «por unanimidade». Seguiu-se uma viagem a Lisboa e uma reunião com o secretário de Estado Victor Vasques, de Coimbra, seu amigo, para obter

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a verba. «Conseguimos o dinheiro para os três infantários». A questão seguinte, levantada pelo vice-presidente, Augusto Mamede, eram os «outros sete», não infantários, mas espaços de apoio para as crianças. A solução foi apresentada pelo próprio, depois de várias visitas a todas as escolas primárias. A ideia era fechar parte do recreio/telheiro, colocar alcatifa, aquecimento e o equipamento necessário. Quanto aos quartos de banho, bastava, consoante a situação, retirar uma ou duas sanitas e substitui-las por outras mais pequenas. E foi assim que, aos três infantários, se juntaram sete salas de apoio destinadas ao pré-escolar.

“Deixe a política para os homens” «Não há palavras para descrever o que representou o 25 de Abril na minha vida e na vida deste país», afirma Odete Isabel, que confessa a falta que hoje fazem «umas migalhinhas desse espírito entusiasta», da «força motivadora do 25 de Abril». Odete Isabel era, na altura em que decidiu candidatar-se (1976), directora da Farmácia do Hospital dos Covões, uma unidade de saúde que lhe está no coração. «Foi uma escola de humanismo e de ciência médica brutal», refere e destaca o «espírito de família» que ali se vivia. Integrava o Conselho de Gerência, presidido por Santana Maia e o «entusiasmo do 25 de Abril» fez com que pensasse concorrer à Câmara. «Mas só podia se o Hospital aceitasse», refere. «O quê? Nem pensar! Deixe a política para os homens, que a menina tem outras coisas para fazer!». Foi esta, recorda, a primeira reacção de Santana Maia ao seu pedido e à vontade de perceber o que «podia fazer com o poder». Todavia, dias depois, chamou-a e propôs-lhe um acordo, que passava por, caso ganhasse, cumprir um mandato e depois regressar à Farmácia dos Covões. «Precisamos muito aqui de si», salientava o médico. Em casa, a decisão provocou uma «preocupação enorme» no pai. «Estás tão bem, porque é que vais fazer isto?» questionava. Já da parte da mãe, «uma pessoa muito dinâmica, fora de série», recebeu todo o apoio. E também foi à mãe que confessou «algum receio de não ser capaz». “Quem manda aqui sou eu” Os resultados eleitorais ditaram quatro mandatos ao PS e três ao PPD. O secretário da Câmara, um «homem notável, muito


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competente», foi o primeiro obstáculo. «No dia seguinte às eleições, disse-me que ia pedir transferência» pois «não concordava com as minhas ideias», refere. «O senhor é a única pessoa que sabe como isto funciona e quer ir-se embora?» ripostou a edil, que logo negociou a solução: «O senhor é quem sabe das leis autárquicas e vai continuar a trabalhar nas suas competências. Não se mete na gestão, eu não me meto na parte técnica e vamos trabalhar em conjunto». Vasco Albuquerque aceitou e cumpriu. «Era verdade, ninguém sabia fazer nada», confirma. «Por uma questão de simpatia fizemos a distribuição de pelouros», recorda, elogiando a «equipa fantástica», constituída por José Barroso, comandante dos Bombeiros, um pedreiro, um médico, um taxista, o dono do restaurante Boa Viagem, um «senhor de Barcouço, autodidacta do cooperativismo, com um brutal conhecimento». Divididas as tarefas, cada um foi para o seu sector, mas a presidente, então com 36 anos, fez questão de deixar bem claro: «Cada um vai ao seu trabalho, mas quem manda aqui sou eu», disse. 

90 anos com Mealhada Odete Isabel

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No poder autárquico está a força da mudança «Tive duas grande paixões na minha vida, a farmácia hospitalar e, até morrer, a política. Só me deixei da política partidária», confessa. Aliás, Odete Isabel entregou o cartão de militante do PS no início da década de 80, «mas nunca deixei de ser socialista». Todavia, foi como independente que se voltou a candidatar à Câmara «Foi o primeiro movimento cívico - Movimento Cívico Odete Isabel que surgiu em Portugal», faz notar. Eleita, cumpriu o mandato, num executivo liderado por Carlos Cabral. Mais uma vez com uma grande paixão pela política. Sobretudo pelo poder autárquico. «O poder autárquico é aquele que efectivamente pode mudar a vida das pessoas. Quem se identificar com as necessidades e tenha a força do povo, pode fazer coisas lindíssimas», considera. O seu caso é exemplar. «Em tão pouco tempo – três anos –

fez-se tanto! Não tinha dinheiro, inventava!. Tínhamos a colaboração das pessoas, o entusiasmo, a força motivadora do 25 de Abril». Foi esse clima que permitiu fazer obras nas estradas de todas as freguesias, com a Câmara a fornecer os materiais e as Juntas a «arranjarem as pessoas para trabalhar». Um tempo difícil, em que os cantoneiros levavam de casa o equipamento. Pequenos nadas que fazem a diferença. Em nome do bem-estar do povo. «É essa a nossa razão de existir», anota. Odete Isabel liderou o executivo da Mealhada num tempo diferente. No acto eleitoral que a elegeu, foram eleitas mais quatro mulheres. Três, consigo, no distrito de Aveiro: Lurdes Breu, em Estarreja (PPD), e Alda Santos Vítor, em Vagos (CDS). Em Coimbra foi eleita Judite Mendes Abreu e na Câmara do Sardoal Francelina Chambel. Era o grupo d’ “As Cinco Magníficas”. 


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Biblioteca Municipal 90 anos com Mealhada

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são algumas das razões. Certo é que o serviço veio para ficar, oferecendo mais uma alternativa aos 7.800 utilizadores.

Biblioteca implementou um conjunto de programas para levar a leitura à população

RODA VIVA DE CULTURA 2004 No dia 29 de Novembro de 2004 assistia-se à inauguração da Biblioteca Municipal

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Biblioteca Itinerante n.º 2 da Fundação Calouste Gulbenkian foi, durante anos, a forma de fazer chegar o livro e a leitura à população. A carrinha, ansiosamente esperada, percorria o concelho de lés a lés. Quilómetros de leituras que terminaram em 2004, quando a Câmara entendeu avançar com a construção da biblioteca municipal, inaugurada a 29 de Novembro de 2004. Num espaço construído de raíz, a biblioteca ganhou novo rumo, a pensar nos mais velhos e nos mais novos, mas também em diferentes actividades, sempre em prol da cultura. De resto é para isso que serve a sala polivalente, «um espaço que todos os munícipes podem utilizar», refere o coordenador, Sandro Carvalho. A Universidade Sénior usa-a para as aulas e o Cineclube da Bairrada faz questão de ali projectar, todos os meses, um filme. A secção de leitura geral para adultos inclui um espaço para jornais, zona onde os leitores podem estudar e ter acesso à internet e, caso não tenham computador, estes também existem. Garante acesso a livros, CD e DVD e respectivo visionamento. No rés-do-chão, na secção infanto-juvenil, é igualmente possível o visionamento de vídeos e CD-ROM, há espaço de leitura e acesso à internet. A “Hora do Conto” selec-

ciona três histórias por mês, às quais se assiste, por marcação. Todavia, desde cedo a Biblioteca entendeu que isto não chegava e era importante dar mais um passo. Não era só uma questão de levar as pessoas à biblioteca, mas também de levar a biblioteca às pessoas. Aos mais velhos e aos mais novos. É assim que surgem os projectos “Abraços de Biblioteca” e “Livros em Viagem”. Uma resposta pensada para «o público sénior e crianças de IPSS e instituições que não têm acesso directo à Biblioteca», explica Sandro Carvalho.Assim, os livros, filmes e documentários são colocados numa mala, que «todos os meses levamos aos lares, centros de dia e jardinsde-infância». Uma iniciativa que arrancou em 2004 e «tem corrido muito bem». Um projecto que serviu de inspiração para uma nova iniciativa que, no quadro da pandemia e do confinamento, a biblioteca acolheu. «Nestes dois projectos, são sugestões nossas», esclarece o coordenador. Ao contrário, no “takeaway” de livros que a biblioteca operacionalizou desde Março de 2019, «as pessoas dizem-nos o que querem ler, recolhemos as obras, embalamos e remetemos os livros», esclarece. Um sistema de entrega ao domicílio que correu da melhor forma e continua a funcionar. Problemas de mobilidade, incompatibilidade de horário

Autocarro transporta biblioteca É uma biblioteca sobre rodas, sim, mas diferente pelo facto de recorrer a um autocarro. «Era um autocarro de transporte de alunos, pertencente ao município», recorda Sandro Carvalho. Os funcionários da Câmara foram os obreiros da mudança e os responsáveis por dar vida ao projecto “Mil folhas, Mil Viagens, Milhares de Leituras, Milhares de Imagens”. Inaugurado a 5 de Novembro de 2007, o projecto vem responder à «necessidade de levar a cultura e o conhecimento», promovendo uma «sociedade mais inclusiva», tendo em conta que «muitas pessoas não tinham um acesso fácil à biblioteca». “Bibliomealhada” foi o nome dado ao autocarro-biblioteca, que percorre o concelho. Leva livros infantis e para adultos, DVD e CD. Inclusive permite assistir a um filme e tem computadores e acesso à Internet. 570 é o número de utilizadores deste serviço, que em 2019 emprestou cerca de 1.500 documentos. Serviço 24 horas Mais recente e inovador foi a transformação de uma cabine telefónica numa pequena biblioteca. Um projecto que resulta de uma parceria do município com a Fundação Altice. 19 de Setembro de 2019 foi a data de inauguração desta nova valência, instalada no Jardim Municipal. «É uma cabine de leitura e uma biblioteca que funciona fora de horas, 24 sobre 24 horas», explica o coordenador. Os utilizadores podem, a qualquer hora, do dia ou da noite, ir à cabina, retirar um livro e fazer a respectiva referência no livro de registos. Ou entregar a obra que acabaram de ler. Mas também podem deixar livros, sugestões para outros leitores. «É uma porta sempre aberta», destaca Sandro Carvalho, que explica a selecção feita para aquele espaço, que abriu com 256 livros, distribuídos por cinco prateleiras com obras de ioga, sobre o Buçaco, literatura portuguesa e estrangeira e obras infantis. Os indicadores de utilização são «muito positivos». «No primeiro mês tivemos cerca de 150 testemunhos no livro de registo», diz, fazendo notar o carácter não obrigatório do registo. 


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90 anos com Mealhada Cine-Teatro

afirma José Vigário, presidente do Conselho de Administração das Caves Messias. «A família não tinha vocação para gerir aquele espaço», adianta o neto de Messias Baptista, sublinhando que a reabertura constitui uma «homenagem ao fundador» e ao seu projecto de divulgação cultural. Para José Vigário este foi um «legado» que o avô se empenhou em erguer para beneficiar a sua terra natal. «Foi uma marca na região, um farol de cultura. Os filmes estreavam em Lisboa, Porto, Coimbra e na Mealhada», recorda. A Mealhada era, também, ponto de paragem obrigatória quando «os teatros de Lisboa faziam tournées pela província». A programação incluía cinema, teatro, mas também bailes, festas tradicionais, de finalistas, de passagem de ano. O então ministro da Cultura, Augusto Santos Silva, presidiu à inauguração.

CINE-TEATROI MESSIAS:I UM FAROLI DE CULTURAI

Cine-Teatro nasceu como uma baluarte de cultura, desde 2001 sob chancela da Câmara

1950 Paixão pela cultura e pela sua terra levaram Messias Baptista a erguer o “cinema”. Inaugurado em 1950, espaço esteve uma década inactivo, para regressar em 2001

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uma constante manifestação de amor pela linda vila que o viu nascer, Messias Baptista tem procurado, por todas as maneiras, desenvolver uma actividade benéfica em torno da mesma (...). Ultimamente uma ideia lhe germinou no cérebro: a construção de um Cine-Teatro (...). E, agarrado a essa ideia, Messias Baptista – enérgico e decidido nos seus empreendimentos – fez erguer na sua terra um Cine-Teatro que – com justiça se diga – faz inveja a Coimbra e a tantas outras terras de categoria». Foi assim que o Diário de Coimbra noticiou, a 18 de Janeiro de 1950, a inauguração do Cine Teatro da Mealhada. Reportando-se a uma visita à obra, o autor elogiava o «belo e moderno edifício», projectado pelo arquitecto Rodrigues Lima, «elegante, de linhas exteriores sugestivas e artísticas e, interiormente dotado com todas as condições de comodidade e conforto». No dia 20, o jornal destacava as «expressivas e justas manifestações de simpatia» de que Messias Baptista foi alvo na inauguração. A primeira a cargo do presidente da Câmara, Manuel Lousada, que o proclamou “Cidadão benemérito da Mealhada”,. De seguida «foram descerradas duas lápides

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de consagração do benemérito: uma dos seus colaboradores, outra da Câmara da Mealhada». A 27 de Outubro de 2001 o Cine-Teatro Messias reabre as portas, depois de uma década de inactivação. Um regresso que as negociações entre a Câmara e a família Messias tornaram possível. Um processo liderado pelo então (e actual) presidente da autarquia, Rui Marqueiro, que acordou a cedência do edifício por um prazo de 50 anos (com os primeiros 25 a título gratuito), com a autarquia a assumir as obras de requalificação e modernização, um investimento a rondar os 400 mil euros. Rui Marqueiro lembra a «oportunidade», face à possibilidade de recorrer a fundos comunitários. «Não foi difícil falar com a família e encontrar um acordo», faz notar, lembrando que o espaço estava encerrado, situação que desagradava à família e «não era honrosa para a memória de Messias Baptista». Quando saiu da Câmara, em 1999, o projecto estava pronto e o concurso lançado. As obras foram inauguradas em Outubro de 2001, com Carlos Cabral como presidente da autarquia. A Mealhada voltava a ter um espaço de referência cultural. «Foi a melhor solução»,

Na rota dos grandes eventos Pelo Cine-Teatro Messias têm passado artistas de referência nacional, praticamente sempre com casa-cheia e, não bastas vezes, a obrigar a uma segunda sessão.AMealhada volta a entrar na rota nacional das grandes digressões, recuperando um palmarés de notoriedade que caracterizou o espaço na sua origem. «É um grande trabalho da equipa», elogia Rui Marqueiro. Se a abertura do espaço às associações do concelho é um dado adquirido, a programação diversificada, a pensar dos diferentes públicos, tem-se revelado um êxito. Música, humor, teatro, cinema, fazem parte do vasto pacote de experiências que o Cine-Teatro oferece. «Conseguimos um programa que não é muito caro, muito longe disso, e trazer artistas, grupos de teatro, cinema, uma quantidade de manifestações da mais diversa natureza», refere. Um “segredo”, em termos de gestão, que dá pelo nome de “receita de bilheteira”. «Começamos com a receita de bilheteira, mas acabámos por fazer uma evolução, garantindo ao artista a totalidade da bilheteira», explica. Significa que, caso os bilhetes não esgotem, o artista tem a garantia de receber o montante global, uma vez que a Câmara procede à sua aquisição. Devoto de música clássica, de ópera e de poesia, Marqueiro entende que a programação do Cine-Teatro deve ser o mais diversificada possível e, sobretudo, «ir ao encontro do gosto do público», com uma oferta alargada. 


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EPVL 90 anos com Mealhada

ESCOLA COM OS OLHOS POSTOS NO FUTURO 2020 Vendida em hasta pública em Maio de 2020, Vasconcellos Lebre reafirma o seu empenho na formação de qualidade e no reforço da ligação com a comunidade

Escola tem um histórico de formação de excelência, que quer projectar e promover

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undada em 1991, a Escola Profissional Vasconcellos Lebre (EPVL) assistiu a um “virar de página” em 2020, passando da tutela do município para o domínio privado, sob a chancela do Grupo GPS. Mantém-se o mesmo objectivo de «formar profissionais que contribuam para o desenvolvimento do município, da região e do país». «Este é o nosso grande desafio», atesta o director, Carlos Sousa. Herdeira de uma «grande história» e de «muito trabalho ao nível da formação», a EPVL pretende dar continuidade a esse caminho de sucesso. Mas também reforçar a oferta formativa, dando-lhe uma nova dimensão e projecção, sempre de “braço dado” com a comunidade. O director destaca os “pergaminhos” da escola, particularmente nos cursos de Mecatrónica, Multimédia, Desenho Gráfico, Electrónica, Automação e Comando. «São o “prato forte”, a referência», refere. Mas também ao nível dos cursos de restauração – Cozinha/Pastelaria e Restaurante/Bar a EPVL “deu cartas”. E quer continuar. «Reabrimos o Restaurante Pedagógico “Prova dos Novos, na Pampilhosa», refere o director, que quer transformar esta valência

num «espaço de referência» para os alunos, para a escola e para a Pampilhosa. «Queremos dinamizar este espaço, não como área de negócio, mas como um espaço de trabalho, de formação, que permita dar a conhecer o trabalho dos alunos», adianta. O Restaurante Pedagógico funciona à terça-feira, servindo almoços, por marcação. «Pretendemos, também, promover alguns jantares temáticos, tendo por base os produtos endógenos da Mealhada», adianta, destacando que as refeições são confecionadas e servidas pelos alunos, sob orientação dos professores. Uma espécie de aula prática que inclui a apreciação do público. A direcção da EPVL pretende estreitar este traço de união com a comunidade, através das possibilidades oferecidas por outras áreas de formação, como a Mecatrónica, Multimédia e Desenho Gráfico. «Temos reunido com as instituições locais, designadamente as Juntas de Freguesia, para que todos os cursos estejam efectivamente ao serviço da comunidade», diz. Trata-se de áreas «preponderantes» na formação ministrada, que se querem “abrir” à comunidade, designadamente acolhendo alunos de outras áreas e outras escolas, através de workshops, que permitam re-

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forçar a aliança com a comunidade e «dar visibilidade ao trabalho da escola». O director aponta, igualmente, uma «reflexão profunda» sobre «o perfil do aluno e a escola que pretendemos», que suscitou o amplo envolvimento da comunidade educativa e definiu o projecto de uma «escola inclusiva, inovadora, que preconiza a ligação à comunidade». Relativamente ao perfil do aluno, a tónica é colocada em jovens «solidários, responsáveis e empreendedores, que não se limitam a ser um receptáculo de informação, mas se empenham num trabalho de pesquisa» e com sentido de partilha e de cidadania. Um trabalho com «implicações práticas», que «gerou na escola um espírito reformista». «Uma nova forma de fazer, que está a dar os seus primeiros passos e queremos impulsionar», diz. Um programa que encaixa no novo paradigma de avaliação, que a direcção implementou e tem outras componentes, designadamente «chamar os pais à escola» e envolvê-los neste trabalho conjunto. «Todas as turmas elegeram representantes dos encarregados de educação», que participam no conselho de turma. Todos os períodos, os representantes dos pais reúnem com o director, para «analisar a escola e propor melhorias».

Novas propostas À semelhança das suas congéneres, a EPVL não alterou, no último ano, a oferta formativa. Todavia, perspectivam-se novidades. «Fizemos uma candidatura, aprovada, para uma Unidade de Formação de Curta Duração (UFCD)», explica o director. Um projecto financiado, que pretende ir ao encontro da comunidade, garantindo formação multidisciplinar em diversas áreas, para empresas e população em geral. No próximo ano lectivo deverá abrir o curso de Auxiliar de Acção Educativa, que a direcção considera necessário, uma vez que «não há nenhuma escola a formar profissionais nesta área». A proposta vai ser apresentada ao Conselho Consultivo e, após aprovação, remetida à tutela. O projecto do Centro Qualifica nasceu sob a anterior gestão, mas já foi sob a tutela da nova direcção que entrou em funcionamento. Uma resposta que faltava no concelho, quer ao nível da certificação de competências escolares, quer profissionais. «Temos mais de 100 inscritos», refere Carlos Sousa, satisfeito com a boa adesão. 


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90 anos com Mealhada Paços do Concelho

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PAÇOS DO CONCELHO EM MUDANÇA 2021 Projecto do novo edifício está pronto e o concurso público vai avançar este ano

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onstruído em 1895 e sem grandes intervenções de adaptação, o edifício dos Paços do Concelho não só está velho como está bastante degradado. O futuro passa pela edificação de um novo imóvel e pela reabilitação do actual. Rui Marqueiro, presidente do executivo, está empenhado nesse desígnio. «Quando foi pensado, era um grande edifício, talvez até exagerado». Todavia, hoje, tendo em conta a forma «como encaramos a gestão e a administração das entidades públicas, está ultrapassado», refere. O mobiliário antigo, um pé direito a perder de vista, algumas zonas a ameaçarem derrocada são alguns dos “contratempos” mais notórios. O projecto dos novos Paços do Concelho está pronto e o concurso público internacional será lançado este ano, provavelmente no início do segundo semestre.

Actual edifício foi construído em 1895

Em causa está um investimento que ronda os seis milhões de euros. «Quase metade» em comparação com o projecto anterior, da responsabilidade do executivo liderado por Carlos Cabral. «Um projecto pensado para o mesmo local, com uma ligação subterrânea a este edifício», refere Rui Marqueiro, que apresentava uma desvantagem: a existência de alguns gabinetes

sem luz natural. Um pequeno inconveniente a que se juntou outro, este sim de grande envergadura. «Segundo os técnicos, custaria até 12 milhões de euros», «uma construção muito cara», destaca. Um valor que não comportava a intervenção a efectuar no actual edifício e que Rui Marqueiro considera excessivo tendo em conta que o orçamento do município ronda os «14/15 milhões de euros, sem fundos comunitários». Por isso, o projecto do novo edifício, «moderno», mas «minimalista», não comporta «qualquer desperdício». Marqueiro destaca a filosofia de “open space”, bem como o recurso a plataformas informáticas, que permitam «interagir com os munícipes» e criar uma rede de intranet entre os diferentes serviços. Ao contrário do actual, a «grande capacidade de ver e ser visto» é o conceito dominante do novo espaço. 


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Centro de Estágios 90 anos com Mealhada

UM PARAÍSOI PARA O DESPORTOI

Centro de Estágios é “requisitado” pelas mais diversas equipas e selecções

2004 Euro 2004 foi o acontecimento “inspirador” para criar, no Luso, uma infraestrutura de excelência para as equipas de futebol e praticantes de atletismo

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anúncio de que Portugal iria receber o Campeonato Europeu de Futebol em 2004, desencadeou uma verdadeira revolução no Luso. Vivia-se o ano de 1999. Rui Marqueiro, então presidente da Câmara Municipal da Mealhada, viu ali uma oportunidade. E no Luso um espaço de excelência. O resultado foi a construção do Centro de Estágios, um espaço que “chegou, viu e venceu”, representando um contributo significativo para a animação da vila e, sobretudo, para o desenvolvimento da economia local. Rui Marqueiro, presidente da autarquia,

partilha connosco essas memórias. «A ideia nasceu no seio do executivo, logo depois do anúncio que Portugal ia receber o Euro 200». O objectivo era «criar um equipamento que pudesse servir para o Euro e ficar». Ao serviço do desporto e, sobretudo, da comunidade. «Não tive nada a ver com a execução. Só com a ideia», assume. «A execução foi da responsabilidade do executivo que se seguiu», liderado por Carlos Cabral. Inaugurado em 2004, o Centro de Estágios do Luso representa, hoje, «um equipamento muitíssimo importante para o município e particularmente para o Luso. Veio potenciar o futebol e o atletismo», com muitas equipas a demandarem o Centro de Estágios. A verdade é que o Luso, com este equipamento e com o Pavilhão, transformou-se num espaço de eleição para a presença de atletas. Se as equipas profissionais praticamente se limitam ao "staff", já as provas

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e torneios envolvendo as camadas mais jovens “arrastam” igualmente as famílias. A propósito, Rui Marqueiro lembra a tragédia iminente que se viveu em Abril de 2018, aquando o colapso de uma conduta subterrânea do chamado rio velho, instalada a 10 metros de profundidade, que abriu uma cratera enorme junto ao Pavilhão. A sólida construção evitou o colapso e a sorte impediu que estivessem lá alguns dos 600 jovens que, dias antes, tinham participado num campeonato de xadrez. «Foi um colapso instantâneo», recorda, confessando o arrepio que sentiu quando recebeu a informação, a caminho de Lisboa. A tranquilidade só a recuperou quando percebeu que não havia vítimas. «Se lá estivesse alguém, teria sido morte certa», diz. A recuperação demorou tempo e requereu um grande investimento. «Ninguém sabia que estava ali aquela conduta», diz, elogiando a construção, que não cedeu, bem como a intervenção, que permite, agora, uma fiscalização assídua da remodelada tubagem. Este conjunto de equipamentos – Centro de Estágios e Pavilhão - «tem um grande impacto na economia local», afirma o autarca. «Não se trata de turismo, mas sim da captação de atletas, equipas, selecções», refere. O “calendário” da temporada conta com a reserva – se não houver alterações ditadas pela pandemia – de várias equipas de futebol e também de duas selecções de boccia, explica. Rui Marqueiro destaca o impacto destas estruturas, particularmente nas instalações hoteleiras do Luso. Mas também nos restaurantes, cafés, pastelarias, no comércio em geral. Uma lufada de ar fresco, que imprime um novo ânimo à oferta de excelência que representa o Luso/Buçaco. 



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ACIBA 90 anos com Mealhada

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Espaço Inovação acolhe projectos empresariais

ACIBA funciona no Espaço Inovação, um porto de abrigo para projectos empresariais

A UNIÃO FAZ A FORÇA 2014 Fundada em 2002, a Associação Comercial e Industrial da Mealhada altera os estatutos em 2014 e alarga o seu território aos concelhos de Penacova e de Mortágua

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riada em 2002, com o objectivo de dar voz aos empresários do concelho, a Associação Comercial e Industrial da Mealhada (ACIM) cresceu e fez obra. Sobretudo, ganhou crédito e criou nos concelhos vizinhos uma maior apetência para o movimento associativo. Em 2014, assistia-se à necessária alteração dos estatutos, de forma a abrir a porta ao tecido empresarial dos vizinhos concelhos de Mortágua e Penacova. A designação também mudou e a ACIM “cresce” para ACIBA - Associação Comercial e Industrial da Bairrada e Aguieira. «A existência de uma associação empresarial nunca foi consensual em Mortágua», recorda Cláudio Matos, empresário daquele concelho e vice-presidente da ACIBA. «Podia existir no papel, mas não funcionava». Situação semelhante acontecia em Penacova, com um vazio efectivo em termos práticos. Um clima propício para que os dois concelhos se aliassem ao porto de abrigo que funcionava na Mealhada. «A Serra do Buçaco é o nosso elemento de ligação, existe este elemento comum e historicamente os três concelhos estão ligados», afirma. Mais do que isso, Cláudio

Matos destaca uma atitude diferente. «Não devemos pensar apenas na nossa quintinha» e, inquestionavelmente, «faz mais sentido trabalhar e defender os empresários dos três concelhos». «Juntos somos mais fortes», faz notar, lembrando que esta filosofia tem ganho relevo nos últimos tempos. Exemplo disso é o Conselho Empresarial da Região de Coimbra, organismo que integra o CEC (Conselho Empresarial do Centro), que agrega as 13 associações empresariais dos 19 concelhos da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (CIM-RC) e funciona como «uma voz muito mais forte». «A criação da ACIBA vem nessa linha. Juntos podemos ser mais fortes», considera, destacando que os problemas, as necessidades, são os mesmos em Mortágua, Penacova ou Mealhada. Com a vantagem de, em conjunto, se «ganhar escala». Com cerca de 300 associados, a ACIBA envolve desde empresários da área da restauração, comércio, indústria e serviços. Pioneira nos concurso/tômbolas de Natal, um apoio significativo ao comércio local, em parceria com os municípios e a adesão crescente do público e dos empresários, o vice-presidente faz questão

«É uma espécie de incubadora de empresas». É assim que Nuno Canilho, vereador da Câmara Municipal apresenta o Espaço Inovação Mealhada. Trata-se de uma valência que entrou em funcionamento em 2016, no espaço onde funcionou o antigo matadouro, depois de devidamente requalificado e adaptado à novos desígnios. «Temos um conjunto de espaços que cedemos gratuitamente a empresa que se candidatam», adianta, destacando um pacote de serviços, designadamente internet, recepção e atendimento que são asseguradas pela estrutura, que também dispõe de espaços de uso comum, designadamente auditório e sala de reuniões, que podem ser utilizados pelos locatários, mas também por outros empresários. Mais de duas dezenas de projectos empresariais já passaram pelo Espaço Inovação. «Transformámos um matadouro numa maternidade», afirma, com sentido de humor o vereador. Nuno Canilho destaca, ainda, um protocolo com a Universidade de Coimbra, assinado em 2018, que permitiu a implementação de um serviço de mentoria e também de apoio ao empreendedorismo. 

de destacar os projectos de formação modelar e de consultoria e formação financiados que a ACIBA promove. Um leque de serviços – que inclui apoio jurídico e contabilístico - que a associação quer alargar e oferece «garantias de credibilidade e confiança» e «preços mais vantajosos».A associação, instalada no Espaço Inovação, funciona, numa parceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional, como estrutura de apoio técnico à criação de emprego. «Nos últimos dois anos, ajudámos a criar 15 empresas», refere, destacando este desempenho como «base de apoio, que aconselha e encaminha» os futuros empresários. 


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90 anos com Mealhada Logoplaste

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“PRÉ-FORMAS” PARA TODO O PAÍS

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guas, refrigerantes, óleos alimentares, azeite, molhos e detergentes são alguns dos produtos do nosso quotidiano. Chegam-nos embalados, claro, e raramente pensamos no invólucro que resguarda e salvaguarda o produto. A embalagem é discreta, passa despercebida. Mas é fundamental. A Logoplaste é uma imagem de marca do sector. Com fábricas nos vários cantos do mundo, dedica-se à produção de embalagens rígidas de plástico. Em 1979, instalou-se na Mealhada. Em causa está uma fábrica muito particular, cuja função é exclusivamente a produção de “pré-formas”. Uma designação curiosa, que indicia efectivamente do que se trata, ou seja, do produto que vai dar origem à embalagem. São centenas de “modelos”, pois cada formato, cada tamanho, cada cor, exige uma tipologia diferenciada. Um processo de produção tecnologicamente avançado, por injecção, que trans-

Linha de produção da Logoplaste

forma o PET (polietileno tereftalato), virgem e reciclado, numa pré-forma, uma espécie de “tubo de ensaio”, com tamanhos e espessuras diferentes, que vai posteriormente “dar forma” à embalagem. O gargalo é o elemento final que fica “formatado”na préforma. O restante formato da embalagem é “soprado” posteriormente. A fábrica da Pampilhosa assegura a produção de préformas para as restantes unidades do grupo existentes no país.

A particularidade do Grupo Logoplaste, que desde 1976 se decida à produção de embalagens, prende-se com uma resposta capilar, diferenciadora, que responde milimetricamente à necessidade do cliente. Significa que não se trata de uma produção por atacado, de catálogo, mas direccionada, personalizada. Embalagens rígidas de plástico que entram directamente na linha de enchimento da unidade produtiva do cliente. Esta foi, de resto, a aposta estratégica e inovadora, imprimida por Marcel de Botton, fundador do Grupo Logoplaste, que representa uma marca de diferenciação em termos de negócio, sendo igualmente essencial para a sua sustentabilidade e para a redução da pegada ecológica.Apreocupação ambiental sempre uma referência da Logoplaste, que em 2020 instalou na Pampilhosa 1.890 painéis fotovoltaicos, com capacidade para produzir 800 mil Kwh/ano e, assim, reduzir as emissões de CO2. 


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Misericórdia 90 anos com Mealhada

UM BALUARTE NA SAÚDE 2006 O velho hospital, erguido em 1906, esteve na raiz da Santa Casa. Um desafio que perdurou no tempo, renovado em 2006, com a inauguração da nova unidade de saúde

Hospital presta cuidados à população da Mealhada e concelhos limítrofes

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naugurado em Agosto de 2006, o Hospital da Misericórdia é herdeiro de um projecto que arrancou no longínquo ano de 1903, pela mão do dr. Costa Simões, que, já no final da vida, conseguiu concretizar o velho sonho de erguer um hospital na Mealhada. O obra foi concluída em 1906, doada à Câmara, cumprindo o desejo do benemérito, e a sua administração entregue à Santa Casa da Misericórdia da Mealhada (SCMM), criada em Outubro desse ano, com esse propósito. Um projecto que ganha consistência, garantindo um serviço de saúde à população. Em 1968, é construído um novo hospital sub-regional, mas o Hospital de Santa Maria continua em funcionamento, acolhendo novas valências, como o Asilo para os Pobres e a Sopa dos Pobres. Mais tarde,

face à necessidade de construir uma extensão do lar, o velho hospital, bastante degradado, acabou por ser demolido. O novo hospital passou, depois do 25 de Abril de 1974, para a tutela do Estado e ali funcionou o Centro de Saúde, até Outubro de 1999, sendo então devolvido à Misericórdia. Começa então um novo desafio, com a Santa Casa a consolidar a ideia de aproveitar a estrutura existente para criar um novo hospital. O projecto foi elaborado, em respeito pela traça arquitectónica, mas com mais 1.200 m2.Aempreitada, incluindo o equipamento, ascendeu a 5 milhões de euros e contou com o apoio do Ministério da Saúde (MS) e da Câmara da Mealhada. Em Fevereiro de 2005, foi celebrado um protocolo com o MS, que imputa à Administração Regional de Saúde do Centro

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(ARSC), o financiamento de 20 das 150 camas. O novo Hospital da Misericórdia da Mealhada (HMM), foi inaugurada emAgosto de 2006. Ao longo destes 14 anos, João Peres, provedor da instituição, destaca momentos bons e menos bons. Dos bons recorda, «com especial carinho», «a abertura do Bloco Operatório, em Março de 2007, com cirurgias de Oftalmologia. Foi um momento pelo qual esperámos muito e vê-lo acontecer deixou-nos muito felizes». No mesmo mês abriu o Serviço deApoio Permanente (SAP). «Foi outro momento marcante». Marcantes foram, ainda, os acordos firmados com diferentes entidades, que «nos permitiram crescer e servir melhor a população». Sobre os momentos menos bons, João Peres recorda, «15 dias antes» do Hospital abrir as portas, a visita do então presidente da ARSC, «que nos informou que o acordo assinado com o anterior Ministério da Saúde, para os Cuidados Continuados, era para rasgar». Mas havia mais. Na Imagiologia, «ao olhar para todos os aparelhos, já instalados, para a realização de TAC, RX, mamografias e ecografias», o responsável da ARSC «informou-nos, também, que a convenção com o Serviço Nacional de Saúde (SNS) no âmbito da Imagiologia e Fisioterapia, não iria ser assinada». «Estas notícias, a apenas 15 dias da abertura, levaram-nos a questionar o propósito do HMM e a repensar a sua estratégia e missão», assume. Mas não era tempo de voltar para trás. «Graças à nossa teimosia, a inauguração aconteceu, tal como previsto, no dia 12 de Agosto de 2006 e, um ano mais tarde, inaugurámos a Unidade de Cuidados Continuados». «Cá estamos, até hoje, a servir a comunidade, numa lógica de proximidade em saúde, que estamos certos ser a que melhor serve as populações», afirma.


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De entre os diferentes marcos da história do HMM, João Peres destaca a assinatura da convenção para a prestação de cuidados de saúde no âmbito do Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), (2007), os acordos com a Unidade de Média Duração e Reabilitação (2007), de Imagiologia e Medicina Física e de Reabilitação (2009), o acordo com aADSE (2009) e para prestação de cuidados na área de Cardiologia (2011) e de Gastrenterologia (2015).

Serviço complementar ao SNS Referência especial merece o acordo de cooperação, firmado em 2011, de Consulta a Tempo e Horas (CTH), através do qual o HMM integrou a Rede Nacional de Prestação de Cuidados de Saúde, em complementaridade com o SNS. O provedor destaca o facto de este acordo permitir que os utentes sejam encaminhados directamente pelo médico de família para as oito especialidades contratualizadas (Cirurgia Geral, Cirurgia Vascular, Oftalmologia, Dermatologia, Ginecologia, Ortopedia, Otorrino e Urologia). Um acordo que «tem sido difícil de gerir», refere. «O Estado não reconhece a necessidade do CTH e não nos permite investir de forma séria, sistemática e sustentada neste serviço absolutamente essencial para a comunidade», afirma. Crítico, entende que «não existe, em Portugal, uma política de proximidade em saúde, o que é de lamentar a todos os níveis, mas essencialmente pelo que se perde na prevenção das doenças e nos ganhos em saúde.Anossa comunidade precisa de muito mais investimento numa política de saúde de proximidade», afirma o provedor. Das diferentes valências do HMM, destaca, o SPA, que funciona das 8h00 às 24h00, garantindo apoio à população concelhia, procurando «evitar ajuntamentos nos hospitais públicos da região». Referência especial à área da Imagiologia e da Medicina Física e de Reabilitação, esta última a afirmar-se como «a especialidade que mais movimenta mais utentes diariamente». Atenção ainda, para a Gastro e Unidade de Risco Cardiovascular e para o internamento médico-cirúrgico, com 30 camas e respostas ao nível da Ortopedia, Otorrinolaringologia, Urologia, Oftalmologia e Cirurgia Geral. Aponta, ainda

90 anos com Mealhada Misericórdia

a Unidade de Cuidados Continuados Integrados de Média Duração, destinada a pessoas com perda transitória de autonomia. Outra aposta, a mais recente da Santa Casa, é a Statherapy, uma Clínica de Desempenho e Fisioterapia Avançada.

Proximidade e prevenção O HMM tem vindo a desenvolver uma forte acção de prevenção. Nessa linha surge, em 2015, o projecto “O Coração é a Razão” e a Unidade de Risco Cardiovascular, uma parceria que envolve a Câmara, a Faculdade de Ciências de Educação Física e Desporto da Universidade de Coimbra e a Delegação Centro da Fundação Portuguesa de Cardiologia. O objectivo é promover a prevenção primária na população da Mealhada e concelhos limítrofes, reduzindo o risco de doença aterosclerótica em indivíduos aparentemente saudáveis, mas com factores de risco vascular. Inclui, ainda, a prevenção secundária, junto de pessoas que já desenvolveram manifestações clínicas de doenças aterosclerótica cardiovascular e cerebrovascular, procurando diminuir a probabilidade de recorrência. O projecto envolve uma equipa de profissionais de Medicina, Enfermagem, Desporto e Nutrição que dinamiza planos de actuação, individuais e em grupo, com sessões de exercício físico. «Os ganhos em saúde são notórios», refere. O êxito do programa ditou a sua continuidade. Na mesma linha, em 2017, o HMM propôs ao município um projecto de rastreios de saúde. «Foram aprovados os rastreios auditivos e visuais às crianças do pré-escolar e 1.º ciclo do ensino básico». João Peres destaca «as elevadíssimas taxas de adesão» a este programa, que permitiu a identificação precoce de problemas auditivos e de visão e o seu devido encaminhamento. O êxito levou a que, em 2019, este programa fosse alargado ao 2.º e 3.º ciclo, ensino secundário e profissional. «O controlo da doença e o seu tratamento são mais eficazes nos casos em que a doença é detectada em fases precoces e localizadas», faz notar o provedor. «O Hospital cumpriu o seu papel», conclui.  João Peres, provedor da Santa Casa da Misericórdia

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Complexo Social é uma aposta de futuro Além da Saúde, a sua vocação de origem, a Santa Casa tem também um desempenho de referência em termos de apoio social, designadamente na área da Geriatria, através da Estrutura Residencial para Idosos (ERPI), Serviço de Apoio Domiciliário e Centro de Dia. Um sector que representa uma aposta para o futuro. Tanto assim é que, no Verão de 2020, foi lançada a primeira pedra do Complexo Social. Trata-se de «um projecto que nasce para responder à problemática da sustentabilidade e da melhoria das condições na área da Geriatria», explica João Peres. O Complexo Social vai ocupar o espaço do actual Mercado da Mealhada e contempla ERPI, Serviço de Apoio Domiciliário e Centro de Dia (60 utentes cada), bem como o edifício de Serviços Partilhados. A ERPI tem capacidade para 120 utentes e vai apresentar duas tipologias de habitação: quartos e apartamentos. «A Santa Casa assumiu como principal objectivo para os próximos anos a remodelação das ERPI da instituição, através da construção de uma nova estrutura, com capacidade para englobar a capacidade actual», diz o provedor. Desafio balizado pela «procura de eficiência operacional, aumento da qualidade dos serviços prestados e diversificação da oferta». «Estamos certos de que este novo empreendimento – com os seus jardins, espaços de convívio e de actividade física, intelectual e recreativa – será um equipamento fundamental na missão da SCMM de potenciar e promover o envelhecimento activo e saudável dos utentes na área da Geriatria», conclui o provedor. Ao nível da Educação, a Santa Casa tem respostas de creche, jardim-de-infância e ATL. Garante, ainda, respostas de apoio alimentar, através da Cantina Social. É ainda detentora do Jornal da Mealhada, da Capela de Santa Ana e do Espaço de Memórias, «um património que colocamos ao serviço da comunidade», conclui.


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Carnaval 90 anos com Mealhada

FOLIA E EMOÇÃOI DO CARNAVALI Escolas de samba são uma das grandes forças motoras do Carnaval bairradino

1971 Por estranho que pareça, foi a morte de Salazar que esteve na origem ao Carnaval da Mealhada. O toque brasileiro veio dos estudantes da Universidade de Coimbra e fez escola… Até hoje

O

primeiro desfile do Carnaval Luso Brasileiro da Bairrada remonta a 1971, após no ano anterior, um grupo de pessoas – que incluía, entre outros, Luís Bernardino Marques, Manuel Santos, Cesário Cerveira, Álvaro Xabregas, Albino Saldanha, Carlos Pereira e Joaquim Luís – verem cancelados os festejos de Sant’Ana, devido ao falecimento de Salazar, em Julho de 1970. Neste ano, a festa da padroeira da Mealhada seria a maior de sempre com perto de uma semana de duração e um programa com provas de ciclismo, muita música e uma garraiada. Com o cancelamento das festas, Luís Marques lançou o desafio aos colegas, no sentido de se fazer um Carnaval «como o que acontecia em Ovar», depois do professor Manuel Santos ter dito que a Av. Dr. Manuel Louzada seria um excelente circuito para o efeito. Estava lançado o mote para um evento que, não só se realizou de 1971 a 75, como ainda ininterruptamente de 1978 a 2020. À comitiva da organização dos festejos

de Sant’Ana de 1970 juntam-se elementos de um grupo de snooker, e outros, conhecidos da vila. Eram eles José Castanheira, António Costa, António Alves, Manuel da Cruz, António Fernandes, António Castanheira de Melo, António Ferreira, António Inácio, Zé Flauta, Valeriano Cardeira, Manuel Coleta, António Machado, Carlos Jaime, António Lopes, João Penetra Saraiva, Fernando Melo, António Gradim, João Peres, José Coleta e Carlos Breda. Começam assim os preparativos para a primeira edição do Carnaval Luso Brasileiro da Bairrada.

Estudantes brasileiros inspiraram cortejo

Diário de Coimbra

O primeiro corso… O ansiado cortejo realizou-se a 21 de Fevereiro de 1971, tendo os participantes partido do armazém do Grémio da Lavoura para a Avenida Dr. Manuel Louzada. Iam no desfile, entre outros, os Gaiteiros Zés Pereiras das Carvalheiras, da Quinta do Valongo e de Ribeira de Frades; as “Caldeireiras” da Póvoa da Mealhada; o carro Foguetão (que abria caminho à imaginação das crianças); carros da Casa Gilinho (veículo blindado de combate) e das Caves Messias (enorme garrafa de espumante); o grupo «Macacu» com um numeroso número de índios cuja crítica sem filtros fez deste agrupamento um marco do Carnaval da Mealhada; e um carro “sala de restaurante”, de Sernadelo, elaborado por Manuel Martins Vaz, Carlos Alberto Castela e Carlos Gradim. O mais aguardado era uma camioneta de caixa aberta, cedida por César Carvalheira, com uma estátua em gesso, da autoria de Augusto Mamede, de Casal Comba, que representava um alegre folião carioca. À volta dessa estátua, brasileiros da Universidade de Coimbra - os responsáveis pelo evento se designar “luso-brasileiro” - cantavam e dançavam. No fim, vinha o carro real com o Cerejo, o Rei Momo, e toda a sua corte. «O Cerejo era do Rosmaninhal, mas trabalhava no laboratório do Instituto da Vinha e do Vinho na Mealhada. Era um “bom vivant”, uma pessoa bem-disposta, muito sociável e um homem vistoso. Era alguém que estava cem anos à frente do tempo. Não havia muita gente a querer desempenhar o papel de Rei, mas para ele não havia problema nenhum», refere Maria da Conceição Rosmaninho, antiga funcionária do IVV e elemento das “Damas”, grupo que começou a desfilar no Carnaval em 1979. O desfile repetiu-se na terça-feira, tendo o evento dado um saldo positivo global de 33.170$00. Em 1972, consegue-se a mobilização das populações das oito freguesias do concelho, e em 1973 a Comissão do Carnaval contrata um ornamentista - senhor Lobo, de Felgueiras - para construir os carros. O lucro deste biénio, além de uma reserva de 100 contos para os festejos de 1974, foi distribuído por associações desportivas, com 50 contos “reservados” para se dar início à construção do Pavilhão Gimnodesportivo da Mealhada. Em 1978, com o Carnaval a «ultrapassar os mil contos» de saldo, a comissão adquire



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Carnaval 90 anos com Mealhada

Diário de Coimbra

As escolas de samba

Em 1971, o primeiro corso, com críticas a Marcelo Caetano

um terreno junto ao campo de futebol e, em 1979, com um lucro de mais de três mil contos, inicia-se a construção do Pavilhão. Os anos seguintes, contudo, trouxeram proveitos bastante inferiores e a Associação de Carnaval da Bairrada (constituída em 1979) não conseguiria concluir o pavilhão, que acabou por ser vendido à autarquia.

A estreia do rei brasileiro Em 1975, ainda terá havido um apontamento, mas em 1976 e 77 não houve Carnaval. Nessa altura, a Câmara, presidida por Odete Isabel, solicita a Luís Marques que retome os festejos, que regressam em 1978, com uma inovação: um rei brasileiro conhecido do público.Aproveitando a “febre” das telenovelas, a organização do Carnaval trouxe ao desfile o actor Jaime Barcelos, o “dr. Ezequiel na telenovela “Gabriela, Cravo e Canela”. O sucesso «estrondoso», estava longe de se igualar ao ano seguinte, em que o rei foi o actor Tony Ramos, talvez o ano com maior enchente de público. «Recordo-me de o desfile ter parado ao pé do armazém de tecidos, porque era impossível alguém circular ou mexer-se. O Tony, do alto do carro, “entalado de pessoas”, só pedia para lhe darem as crianças lá para cima», descreve Maria da Conceição Rosmaninho, acrescentando que «a massa humana era tanta que havia pessoas a chorar com a aflição».

É nesse ano que desfila também no evento a primeira escola de samba da Mealhada, a segunda mais antiga do país, os Sócios da Mangueira. Uma década depois surge o Batuque, seguindo-se, passados dez anos, a Real Imperatriz, de Casal Comba; e, nos anos seguintes, a Juventude de Paquetá, da Mealhada; os Amigos da Tijuca, de Enxofães; e o Samba no Pé, de Sepins.

Do Sambódromo ao centro Em 2001, com Fernanda Graça e José Guindeira, respectivamente, na presidência e vice-presidência da ACB, o Carnaval muda-se do centro da vila para a zona desportiva da Mealhada, para aquele que, durante muitos anos, foi designado de Sambódromo Luís Marques. Na altura, a organização entendia que só assim o Carnaval podia crescer e as escolas se poderiam «especializar». É neste percurso que “nasce” o Concurso de Escolas de Samba, em 2006, promovido pelo Jornal da Mealhada. Bruno Peres e Nuno Canilho foram os autores do regulamento. Passados mais de 15 anos, e num mandato liderado por Alexandre Oliveira, os corsos regressam ao centro da Mealhada, uma mudança aplaudida pela maioria dos foliões. 

Luís Marques foi um dos grandes obreiros do Carnaval da Mealhada

Sócios da Mangueira foi a primeira escola de samba. Com a ausência dos estudantes brasileiros de Coimbra no pós25 de Abril, numa noite fria de Dezembro de 1978, ao redor de uma fogueira, João de Oliveira (o «Macaca») lança o desafio aos colegas – Zezé, Smart, Tó Ferraz, Serginho e Francisco Castanheira – para criar uma escola de samba. Desfilam, pela primeira vez, em 1979, sendo actualmente uma das melhores escolas do país. Seguiu-se o Batuque, em 1987, pelas mãos dos “filhos” do Cleto, um grupo de pessoas mais velhas, onde desfilavam, entre outros, João Peres, Carlos Castela, Manuel Rochinha e Dina Gradim. Os filhos decidem deslocar-se do grupo dos progenitores e criarem o seu próprio grupo, uma escola de samba, que desfila pela primeira vez em 1988. Em 1991, é a vez da Turma do Rambuque” - actual Real Imperatriz - uma escola pensada num acampamento de escuteiros à beira do Mondego, com origem em Casal Comba. Segue-se, a Juventude de Paquetá, em 1992, que desfila até finais de 2000. Em 2004, nascem os Amigos da Tijuca, escola formada na localidade de Enxofães, no concelho de Cantanhede. Em 2006, é criada a agremiação Samba no Pé, de Sepins, que, poucos anos depois deixa de desfilar.

Celebrar os 50 anos No ano em que o Carnaval da Mealhada completa meio século, a pandemia impede a festa. Pela menos nos moldes habituais. AACB programou um conjunto de eventos, nomeadamente a Gala dos 50 anos, que pretende homenagear os principais intervenientes no Carnaval, e a apresentação de um livro e de um samba enredo, previstos para 21 e 22 de Maio, no Cine-Teatro Messias. Também em prol da comemoração, a ACB tem recolhido, em vídeo, testemunhos de pessoas que fizeram e fazem parte da organização do Carnaval. «Este não é um momento só desta direcção. É de todas as direcções da ACB e das escolas, de todos os grupos e de todos os executivos da Câmara. É um momento de todos», diz Janine de Oliveira, presidente da direcção. 




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