Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

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HOMENAGEM ADRIANO LUCAS o decano dos dirigentes da Imprensa Director do Diário de Coimbra e fundador dos Diários de Aveiro, de Leiria e de Viseu

DiáriodeCoimbra

21 DE JANEIRO DE 2011 NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

60 anos

ao serviço dos leitores, de Coimbra, das Beiras e da Liberdade de Imprensa

Faz agora 60 anos que Adriano Lucas, após a morte do seu pai, Adriano Viegas da Cunha Lucas, está à frente do Diário de Coimbra, jornal que completou, em 2010, 80 anos de existência e que hoje integra um grupo de jornais por si fundados : o Diário de Aveiro, que já conta 25 anos de publicação, o Diário de Leiria e o Diário de Viseu. Frontal, em Dezembro de 1950, Adriano Lucas convocou o então director do Diário de Coimbra e todos os colaboradores do jornal para lhes explicar que ninguém gostava mais do Diário de Coimbra do que ele próprio mas que, como não dispunha das mesmas condições financeiras do que o seu pai, não poderia continuar a pagar o papel. O caminho, anunciou, teria de passar por mais empenho de cada um e por um aumento das receitas. O jornal teria de se pagar a si próprio. Assim foi e assim é hoje, neste como nos restantes três jornais porque só assim se garante a total independência das empresas jornalísticas.

I

Só assim, como sempre defendeu Adriano Lucas, se pode fazer um jornal ao serviço dos seus leitores e não de quaisquer outros interesses, incluindo, obviamente, os dos seus proprietários. Por isso mesmo, sempre fez questão de não ser “notícia” e de não aparecer, por tudo e por nada, nas páginas dos seus jornais. O suplemento que hoje editamos é, assim, uma excepção porque é uma homenagem por parte daqueles que consigo aprenderam e que consigo partilham os seus ideais e valores e que pretende surpreender o Engenheiro Adriano Lucas no assinalar desta importante data. São seis décadas em defesa da Liberdade de Imprensa, da região das Beiras e com particular ênfase de Coimbra, Aveiro, Leiria e Viseu. Já aos cinco anos, Adriano Mário da Cunha Lucas, pelas mãos do seu pai, é presença regular nas instalações do Diário de Coimbra, na Av. Sá da Bandeira e no Pátio do Castilho. E quando, aos sete anos, vai estudar para o colégio Infante de Sagres, em Lisboa, passa a receber diariamente o Diário de Coimbra. Aos quinze anos, já com o jornal na rua da Sofia, na Baixa de Coimbra, torna-se sócio da empresa. É nessa altura que regressa a Coimbra, para estudar no Colégio S. Pedro e no Liceu D. João III (hoje Liceu José Falcão). Em 1945, aos 19 anos, era então estudante do Instituto Superior Técnico – é nomeado seu editor (1945). Com a morte de Adriano Viegas da Cunha Lucas, em 17 de Dezembro de 1950, o seu filho, aos 25 anos, fica responsável pelo Diário de Coimbra e herda os valores que lhe foram transmitidos pelo pai, muitos deles bem visíveis no que já era o jornal e no que se tornou este grupo de Comunicação Social. A regionalização, enquanto pro-

cesso de efectiva descentralização e transferência de poderes e competências para as várias regiões do país, para que cada comunidade local e regional possa decidir sobre o que mais directamente lhe diz respeito, é uma das suas “bandeiras” e motivo de vários acutilantes editoriais. «Temos de dar o primeiro passo. De outro modo, Portugal ficaria bloqueado no centralismo, que todos os “poderosos” pretendem erradamente manter, quando são donos do poder, ou pensam poder alcançá-lo quando são seus opositores. Que se erradiquem os totalitaristas de Estado», escreveu Adriano Lucas num editorial sobre a regionalização. Também por isso, Adriano Lucas decidiu fundar o Diário de Aveiro (em 19 de Junho de 1985), o Diário de Leiria (em 17 de Março de 1987 e que, depois de alguns números publicados, começou a sair diariamente a partir de 13 de Outubro), o Diário de Viseu (em 2 de Junho de 1997), a Rádio Regional de Aveiro (23 de Outubro de 1989) e a FIG – Indústrias Gráficas SA, onde são impressos os diários do grupo e muitos outros jornais regionais. O desenvolvimento das regiões passa, defende, por uma Imprensa Regional forte e independente. Devotado defensor da Liberdade de Imprensa e do manifesto liberal, Adriano Lucas representou os jornais diários portugueses na comissão que elaborou a Lei da Imprensa, publicada em Fevereiro de 1975 (durante o período revolucionário pós 25 de Abril) a qual, ao garantir a Liberdade de Imprensa e de Publicação, permitiu a sobrevivência da imprensa independente e ajudou a consolidar a democracia em Portugal. Foi membro do Conselho de Imprensa durante toda a sua existência (1975/90) e integrou, ainda, várias associações e organizações que têm como missão a defesa intransigente de uma imprensa livre e plural, nomeadamente a ENPA (Associação Europeia de Jornais), a FIEJ (Federação Internacional de Editores de Jornais), mais tarde da WAN-IFRA (Associação Mundial

de Jornais e Editoras de Notícias) e a Associação de Imprensa Diária (AID). Foi ainda administrador fundador do CENJOR (Centro Protocolar de Formação de Jornalistas) e da NP – Notícias de Portugal. Sob a sua liderança, o Diário de Coimbra resistiu à ditadura salazarista, às tentativas de controlo comunista, no pós 25 de Abril, e a todos os demais que o tentaram controlar ou influenciar, garantindo a sua total independência perante os poderes político e económicomonopolista. Assegurou, deste modo, a continuidade da sua linha editorial como jornal informativo republicano, liberal, defensor da democracia pluralista, da economia de mercado, da integração europeia e da regionalização do país, ao serviço de Coimbra e das Beiras, dos seus leitores e anunciantes. Linha editorial essa que é hoje partilhada pelos quatro jornais diários. Todos estes ideais reflectem-se, ao longo de décadas, nas páginas dos quatro jornais (as causas dos mais desfavorecidos que se apoiaram, as petições que foram promovidas em defesa da região, os editoriais descomprometidos com o poder instituído, entre outros exemplos). É, assim, justo afirmar que Adriano Lucas tem um percurso de coerência e de verticalidade. A região muito lhe deve. Graças à sua acção, Aveiro, Leiria e Viseu passaram a ter, pela primeira vez, jornais diários próprios e Coimbra tem hoje , no Diário de Coimbra, o principal diário regional português e o mais antigo diário que conserva a linha editorial de origem e que se mantém na posse da família do seu fundador. A Imprensa em Portugal pode orgulhar-se de tê-lo como o decano dos seus dirigentes e por isso, para este suplemento, ouvimos alguns dos que com ele estiveram em diferentes palcos do mundo da Comunicação Social, ao mesmo tempo que recordaremos diversos momentos mais marcantes do grupo de jornais que lidera. l João Luís Campos Director-Adjunto


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