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DCEspecial DIRECTOR ADRIANO LUCAS
SIA E U G FRE DE S O T A M E D L I V
23 DE JANEIRO DE 2010 SÁBADO / NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE
Vil de Matos (des)espera por investimentos
A freguesia tem um extenso rol de carências, que têm sido agravadas com a falta de investimento. Obras na escola primária, a criação de um centro de dia e de uma valência de apoio domiciliário, vias de acesso a localidades onde começam a surgir novas habitações e um plano de requalificação ambiental são, no entender do presidente da Junta, investimentos que urge fazer com vista à melhoria da qualidade de vida da população. Entretanto, a ERSUC instala na freguesia uma unidade de Tratamento Mecânico e Biológico, cuja fase de testes deve ser iniciada no último trimestre deste ano. Uma obra pouco desejada em Vil de Matos
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Uma freguesia carente de tudo
ESTRADAS e equipamentos sociais são fundamentais para fixar e atrair população
Equipamentos sociais, vias de acesso e requalificação ambiental são necessidades urgentes de Vil de Matos
Os SMTUC asseguram há alguns anos os transportes para Vil de Matos, recentemente a freguesia conseguiu o saneamento – uma obra muito desejada e que veio resolver problemas de saúde pública –, mas o rol de carências é grande e tem sido agravado com anos de desinvestimento. Isso mesmo aponta o autarca local, lamentando que as dificuldades conhecidas de todos nunca tenham desencadeado mais apoios. «Somos poucos, 800 a 900 pessoas, significamos poucos votos», lamenta Fernando Pardal, que aproveita, ainda assim, a oportunidade para recordar à Câmara Municipal de Coimbra e às entidades oficiais pedidos antigos. «No âmbito do plano de actividades da Câmara, propusemos que fossem criadas duas vias de comunicação que consideramos fundamentais para o desenvolvimento da freguesia: a ligação de Vendas de Sant’Ana a Vil de Matos, que beneficiaria uma zona onde se estão a construir novas habitações, e a ligação entre Vil de Matos e Mourelos, que, na forma como tem sido projectada, constituiria a circular de Mourelos», explica o presidente da Junta. Com ruas estreitas e afuniladas, zonas sem acessos con-
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dignos, tem sido difícil fixar população. «Os jovens acabam por comprar ou construir casa fora daqui e também não há quem invista em termos de imobiliário», constata Fernando Pardal, acreditando que as estradas permitem inverter esse sentido. A escola primária é outra fonte de preocupações. «Não tem refeitório e as crianças – 30 no total, do jardim-de-infância e 1.o Ciclo – almoçam num corredor, apesar da escola ter espaço suficiente para ser criada uma sala apropriada», acrescenta o autarca, considerando que a remodelação não tem sido uma prioridade da Câmara. No que se refere ao posto médico, o alerta já vai para a Administração Regional de Saúde do Centro, com quem a Junta pretende reunir-se em breve. A extensão do Centro de Saúde de Fernão de Magalhães abre as portas à população, às terças e quintas-feiras, mas ultimamente tem-no feito sem serviços de enfermagem, obrigando os utentes a deslocaremse à sede para situações como pensos ou injectáveis. Resultado de anos de desinvestimento Todo este cenário leva autarquia e população local a considerar que a freguesia tem sido esquecida por quem manda. A
“Risco de incêndios é maior do que em 2005” Em 2005 a zona poente da freguesia foi devastada pelos incêndios florestais e chegou a pôr em risco a população de Mourelos. À excepção de pequenos núcleos, a floresta foi entretanto abandonada, já que nenhuma entidade se mostrou disponível para apoiar a recuperação de acessos e os produtores, I
FERREIRA SANTOS
Andrea Trindade
FERNANDO PARDAL lamenta os parcos recursos da Junta
ERSUC lembrou-se, no entanto, da localidade para ali instalar uma unidade de Tratamento Mecânico e Biológico (TMB) de resíduos sólidos urbanos. Notícia que não foi bem acolhida. «Temos a convicção que fomos escolhidos por um mero interesse económico da Câmara Municipal», diz Fernando Pardal, lembrando que já outras obras importantes para o con-
com explorações pouco significativas, também não possuem recursos para o fazer. Fernando Pardal diz que «a floresta cresceu desregradamente» e que o «risco de incêndio é já maior do que em 2005, uma vez que os solos somaram resíduos e vegetação que arde facilmente». Para o autarca, que já contactou a Protecção Covil, a requalificação dos caminhos agrícolas e florestais é igualmente importante para os produtores conseguirem obter ganhos económicos com a exploração. l
celho – como a construção da A1 e da A14, saliente-se, a propósito que «a portagem deve chamar-se de portagem de Vil de Matos e não de Trouxemil» – foram feitas com a penalização de Vil de Matos. O presidente da Junta de Freguesia conta que a primeira vez que o assunto foi levado à Assembleia Municipal, Carlos Encarnação admitiu isso mes-
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CONHECER VIL DE MATOS PATRIMÓNIO I A Igreja Matriz de Vil de Matos (de 1819), em estilo neoclássico, dedicada a São João Evangelista; a Capela de Sant’Ana (século XVI), situada no lugar de Vendas de Sant´Ana e que já foi a igreja Matriz desta paróquia; a Capela de Santo António, em Mourelos; a Capela de São Tomé, em Rios Frios, onde se encontra sepultado Ângelo Ferreira Dinis, Cavaleiro de Cristo; e o Palácio da Quinta da Zombaria, que pertenceu em 1886 a um ilustre lente de Botânica, Júlio Augusto Henriques, e, mais tarde, a Bissaya Barreto, fazem parte do património da freguesia.
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População idosa sem apoio na freguesia Projecto para centro de dia e apoio domiciliário aguarda respostas da Segurança Social
FERREIRA SANTOS
ESPAÇOS PÚBLICOS I Os espaços públicos e zonas de lazer nesta freguesia do concelho de Coimbra têm vindo a ser recuperados. Além dos fontanários, existe um moderno parque infantil no lugar de Vil de Matos e um parque de merendas, com áreas verdes, churrasqueira, mesas e área de lazer para as crianças.
FERREIRA SANTOS
O PAVILHÃO começou a ser construído há 15 anos e tem vindo a ser requalificado
mo, «que a freguesia tinha um histórico de maus-tratos ambientais e obras mal resolvidas que se prolongavam nos anos». As palavras «deram-nos alguma esperança, mas nunca passaram disso mesmo». Fernando Pardal apela, assim, a que se faça alguma justiça para com a população, «amenizando os impactos» de obras antigas e de mais esta unidade da ERSUC. O autarca prevê uma desvalorização dos terrenos e que a qualidade de vida seja afectada não só pela obra, mas também pelo funcionamento da unidade, o trânsito e os transportes contínuos de resíduos que acarreta. Resta investir ao nível dos equipamentos sociais. Da escola, ao pavilhão desportivo, ao centro de dia, posto médico e vias de acesso, muito há por fazer. Da parte da Junta de Freguesia, «com os poucos recursos que temos, vamos continuar, na senda do anterior executivo, a apostar na requalificação dos espaços verdes e locais públicos e na recuperação de imóveis». l
HABITANTES I A sede da Junta situa-se no centro de Vil de Matos. A freguesia, de 8,2 quilómetros quadrados, é ainda composta pelas povoações de Casal do Cartaxo, Casal da Murteira, Costa de Rios Frios, Mourelos e Vendas de Sant’Ana. Tem entre 800 a 900 habitantes, distribuídos numa pirâmide etária já envelhecida.
TRADIÇÕES RURAIS I As tradições de Vil de Matos são marcadamente rurais. A lavoura e a vinha ocuparam gerações, o que ainda hoje tem impacto quer na gastronomia, rica e baseada nos produtos da terra (sopa à lavrador, chanfana, leitão), quer na produção vinícola, agora incluída na região demarcada da Bairrada.
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ANOS CONSIGO
Uma parte significativa da população de Vil de Matos é idosa, mas não existe qualquer resposta social na freguesia. Centro de dia e apoio social são necessidades há muito identificadas e que tardam em ser colmatadas. O Centro Social e Desportivo de Sant’Ana tem um projecto que passa por adaptar uma parte das suas instalações, propriedade da Junta de Freguesia, para receber as duas valências. O Conselho Local de Acção Social de Coimbra (CLAS) deu até um parecer positivo ao projecto, em Fevereiro do ano passado, mas aguardam-se, de acordo com Marques dos Santos, presidente da direcção, as respostas da Segurança Social. «É uma carência muito grande e desejamos que a fase burocrática seja breve, para tornar o centro de dia e o apoio domiciliário
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uma realidade», diz o responsável. Fernando Pardal lembra que os idosos da localidade estão muito ligados à terra onde vivem «e não é fácil nem desejável que sejam levados para locais para eles estranhos». Devem, no entanto, ter na freguesia o apoio necessário, acrescenta o autarca, notando que a estrutura a criar no pavilhão gimnodesportivo terá capacidade para 20 a 30 idosos em centro de dia e outros tantos na valência de apoio domiciliário. Até lá, «os idosos ou estão abandonados à sua sorte, são apoiados pela família e vizinhos ou recorrem a respostas de instituições de fora da freguesia», repara Marques dos Santos. Promover o desporto O Centro Social e Desportivo de Sant’Ana investiu recente-
mente 30 mil euros na requalificação das suas instalações, dotando o pavilhão de novos balneários e estruturas que permitem a prática de futsal com todas as condições necessárias. «Já há uma equipa a jogar lá e estamos disponíveis para outras associações que pretendam alugar o espaço», diz o responsável. Por outro lado, e a pensar na ocupação dos jovens da terra, deverá ser criada uma equipa de futsal para a freguesia. Autarca e dirigente do centro social lembram que aquelas instalações tiveram a primeira pedra lançada há 15 anos e que, desde então, o seu caminho tem sido feito com pequenos apoios. «Nunca houve um grande financiamento, as ajudas são sempre diminutas», declara Marques dos Santos. l
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Unidade da ERSUC pronta até ao fim do ano Andrea Trindade A obra da unidade de Tratamento Mecânico e Biológico (TMB) em Vil de Matos, a cargo do consórcio HLC, Edifer e Ros Roca, deve estar concluída para fase de testes no último trimestre deste ano. O administrador-delegado da ERSUC – Resíduos Sólidos do Centro SA, Alberto Santos, garante que esta unidade, bem como uma idêntica a instalar em Aveiro, vai significar uma autêntica «mudança de paradigma» no tratamento de resíduos. No que se refere às preocupações da população, frisa que o estudo das incidências ambientais pedido à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) não levanta quaisquer riscos para a população ou ambiente da freguesia. «Deixamos de considerar os resíduos produzidos em nossas casas como des-
A UNIDADE VAI AINDA PRODUZIR ENERGIA ELÉCTRICA E COMBUSTÍVEIS DERIVADOS DE RESÍDUOS
veis derivados de resíduos. Os refugos e rejeitados depois da separação, não sendo passíveis de reciclagem, serão encaminhados para os dois aterros sanitários de apoio, a construir junto das TMB.
perdício para os considerar matériaprima, que pode dar origem a produtos e subprodutos», explicou o responsável ao Diário de Coimbra, lembrando que hoje, excluindo o que os cidadãos, mais ou menos preocupados, separam para os ecopontos, os resíduos são simplesmente depositados nos três aterros sanitários da região (Coimbra, Aveiro e Figueira da Foz). Para além de permitirem a separação mecânica dos materiais recicláveis e de matéria orgânica, que será valorizada por digestão anaeróbia, as unidades TMB vão produzir u composto para aplicação em solos (agricultura e silvicultura), energia eléctrica e ainda combustí-
“Estudo não aponta riscos” Sobre ter existido ou não um contacto com as pessoas da freguesia sobre a instalação da unidade em Vil de Matos, Alberto Santos diz que «a ERSUC contactou com uma parte significativa da população, uma vez que teve de adquirir cerca de 400 parcelas de terreno para a obra». De resto, «foi apresentado à Junta de Freguesia e à Câmara Municipal um estudo das incidências ambientais realizado pela FCTUC». Documento que, sublinha, «não aponta riscos para a população».
As duas unidades de TMB (Vil de Matos – Coimbra e Aveiro) representam um investimento de 70 milhões de euros e deverão receber os resíduos sólidos urbanos provenientes de 36 concelhos da região Centro. l
D.R.
Tratamento mecânico e biológico de resíduos deve iniciar fase de testes no último trimestre