DC Magazine (04.02)

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DiáriodeCoimbra

4 DE FEVEREIRO DE 2011 SEXTA-FEIRA SUPLEMENTO SEMANAL

DC Magazine NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

DIRECTOR ADRIANO LUCAS

Paisagens desfilam hoje no palco do Gil Vicente Joana Martins DC Magazine Que espectáculo traz esta noite a Coimbra? Paulo Ribeiro É uma peça que foi inspirada numa série de residências que fizemos em várias cidades. No início a ideia era fazer uma dedicatória a cada cidade e começámos por fazer residências de uma semana em cada local, mas depois percebemos que teríamos de reduzir para três dias, pois a informação era muita para condensar num solo de nove minutos. Então acabámos por mudar o projecto e passou a chamar-se “Paisagens – onde o negro é cor”. DCM Como surgiu esse nome? PR É a citação de uma publicidade francesa dos anos 80 ao vinho do Porto, em que aparecia uma mulher vestida de preto, em que o slogan final era precisamente “Portugal, o país onde o negro é cor”. Sempre me pareceu uma expressão muito feliz e penso que é um nome que se aplica bem a Portugal.

DCM Cada cidade tem direito a um solo? PR Sim, basicamente temos um grupo de seis pessoas em palco e percebemos que chegámos ao solo da cidade quando fica apenas uma pessoa no palco. É uma abordagem livre, sensorial e poética, não sendo tão caricatural ou objectiva como se possa pensar. DCM Quais são as nove cidades que têm um solo? PR Viseu, Lisboa, Guimarães, Ponta Delgada, Porto, Aveiro, Torres Novas, Torres Vedras e Coimbra. No entanto, a peça não é só para estas cidades, é uma peça sobre o país, estamos todos ligados, não só ao país, mas também ao mundo. Há aqui uma abordagem coreográfica dos nossos comportamentos, conceitos nossos que estão claramente lá. DCM Esta peça tem a particularidade de mudar consoante a cidade onde se apresenta...

PR Sim, a cada cidade por onde passava, a peça ia mudando. É como uma malha coreográfica densa, onde os solos estão tricotados numa malha maior. Entretanto, decidimos fechar a peça em Coimbra esta noite, ou seja, esta será a nossa última mudança e a partir daqui apresentaremos sempre a mesma peça. A ordem cronológica da peça, a partir de Coimbra, ficará sempre assim. DCM Que nos pode adiantar sobre as referências que encontraremos da cidade de Coimbra? PR Posso apenas dizer que as pessoas vão perceber quando falarmos de Coimbra. Não vou adiantar mais porque é uma descoberta, uma surpresa. DCM As pessoas reconhecem as suas regiões nos elementos presentes neste espectáculo? PR É um processo que tem piada. As pessoas localizam e acertam

ou enganam-se, às vezes são mais assertivas, outras vezes têm dúvidas. Tem havido uma abertura muito grande. Em Viseu, por exemplo, a abordagem do criador, o Peter Michael Dietz, foi algo dura e ambígua, era a visão dele, a forma como ele sente a cidade. Tive algum receio que as pessoas ficassem ofendidas mas isso não aconteceu e senti essa abertura grande, mesmo em relação a visões mais polémicas das cidades. As pessoas prendem-se ao todo da peça e acabam por dar menos valor aos elementos da cidade. Isto é uma viagem, um desfilar de várias paisagens. DCM O desafio de levar a cabo esta peça foi complexo? PR Foi uma dor de cabeça, foi terrível, e também por isso decidimos fechar a peça esta noite em Coimbra. O desafio de fazer algo diferente de cada vez que nos apresentávamos foi uma escravatura.

FOTO: JOSÉ ALFREDO

“Paisagens – onde o negro é cor” é um espectáculo de dança, com autoria da Companhia Paulo Ribeiro, que passa esta noite por Coimbra. Em palco estarão nove cidades portugueses, cada qual representada num solo, numa peça que o autor define num sentido mais lato, como uma obra sobre o país

NOVO ESPECTÁCULO da Companhia Paulo Ribeiro chega hoje a Coimbra

DCM Quais as maiores dificuldades que sentiram durante todo o processo? PR A maior dificuldade foi mesmo a síntese de tudo o que há em cada cidade num único solo. Cada local é diferente e depois houve cidades onde estivemos por nossa conta e outras onde tínhamos ou fizemos amigos que, de certo modo, tomaram conta de nós. Portanto o valor e o interesse do projecto está ligado também às relações humanas. Passar pela cidade e ser espectador é menos enriquecedor do que os

encontros e a forma como nos relacionamos. Para chegar à essência de uma coisa e trabalhar foi preciso reduzir o excesso de informação, de dinâmica e de sensações que existe à sua volta. DCM Por onde passarão depois de Coimbra? PR Aveiro, Torres Novas e Torres Vedras são alguns dos locais onde estaremos com esta peça e gostaríamos também de ir para fora, fazer uma tournée no estrangeiro, mas ainda não está nada definido. l


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