Vida de Imigrante

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Prémio Órgãos de Informação Regionais e Locais Carina Leal, pela rubrica "Vida de imigrante", publicada no Diário de Coimbra


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25 DE OUTUBRO DE 2009 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT REDACÇÃO 239 499 900 PUBLICIDADE 239 499 999 ASSINATURAS 239 499 950

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VIDA DE IMIGRANTE

Uma russa em terras portuguesas Carina Leal Aqueles olhos vagueiam pelos campos onde ensina uma paixão: ténis. Veio há 17 anos para Portugal. É, desde então, professora da secção de ténis da Associação Académica de Coimbra. O sotaque denuncia-a. O nome não passa despercebido. Irina Korbut, uma russa em terras portuguesas. Porque veio? «Um período muito difícil na Rússia», responde. Irina trabalhou durante três anos na televisão russa, num programa sobre ténis. Adorou. «Mesmo», sublinha. Se era motivante, também dava um «bom salário». Havia, contudo, o “outro lado da moeda”: o do pouco tempo para a família. O marido – «um grande jogador» de ténis russo - falecera. Se Irina tivesse de passar 14 ou 16 horas a trabalhar, a filha estaria sozinha. Como mãe, Irina tinha um desejo. «Queria fazer carreira para a minha filha», assim o refere. Escolheu Coimbra para um novo rumo. Tinha cá dois amigos. «Durante uns meses adorei viver e trabalhar aqui». Todavia, problemas com o pagamento não tardaram. Após sete meses de dificuldades, Eduardo Cabrita assumiu a presidência da secção. «Começou a correr tudo muito bem». Se alguma vez sentiu

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medo? Sim. Sentiu algo mais: saudade. «Depois de três anos cá, quis regressar. Aconteceu qualquer coisa cá dentro». Com a mão toca levemente no peito. Chorou, mas tudo passou. Ficou. «A vida aqui tem sido muito boa para a minha filha e para mim», confirma. No rosto exibe aquele orgulho de mãe quando aborda o percurso do seu “rebento”. «Ela sempre foi muito boa aluna, aprendeu muito rápido o português. Estudou na Martim de Freitas, depois na José Falcão. Entrou na Faculdade de Direito e, como é muito boa tenista, recebeu uma bolsa para os Estados Unidos». Chegou com 11 anos e hoje não tem qualquer sotaque. «É muito alta e loura, mas ninguém a julga russa porque fala perfeitamente», assegura a mãe. Foi uma aventura para ambas, pois foi. E houve quem as ajudasse. Pronuncia-se sobre dois casos para rematar que, «com pessoas como estas, é muito fácil viver». Comida “muito boa” Gosta «muito» de Coimbra. São tantos os que conhece. «Passo na rua e é sempre “bom dia”, “boa tarde”», explica. Quando os amigos a visitam prima por lhes mostrar esta terra com um rio «lindíssimo». Portugal e Rússia, duas culturas.«Às vezes gostava de trazer para cá as coisas boas de lá e de levar as de cá para lá». Irina aborda a disciplina e o ser trabalhador. «Não gosto muito de pessoas preguiçosas», solta. Este ponto leva-a a outro: «a própria educação das crianças é

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NOME: Irina Korbut PAÍS DE ORIGEM: Rússia IDADE: 53 anos LOCALIZAÇÃO: Coimbra PROFISSÃO: professora de ténis EM PORTUGAL: há 17 anos diferente. Os russos também gostam muito de crianças, mas não dão tantos beijinhos. Penso que aqui se protege muito as crianças. Na Rússia é mais duro». Não, não esqueceu a gastronomia. «Muitos portugueses já me visitaram em Moscovo e também gostaram da comida russa». Quanto “à de cá”, essa «é boa. Mesmo muito boa». Irina vai três vezes por ano à Rússia. Natal, Verão e Páscoa. O contacto com os que lá estão (amigos, tia, primos) faz-se através da Internet. Tem ainda daqueles cartões de chamadas internacionais «muito baratos». Se pondera retornar ao seu país? «Neste momento não. Tenho a vida estabilizada aqui. Não tenho idade para trocar. Com 20 ou 26 anos é muito fácil, mas com 50 já não é bem assim». Sim, Irina Korbut tem 53 anos. Adora praticar exercício físico. Levanta-se às 6h00, corre e passa pela sala de musculação. «Até me sinto melhor. Não tenho dor na coluna, nem nos joelhos ou pernas», comunica. Às 8h00 começa o dia de trabalho. Penoso? Certamente que não. «Gosto muito de ensinar

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Hoje - Céu muito nublado com períodos de chuva fraca. Vento fraco. Neblina matinal. No Sul, céu pouco nublado, temporariamente nublado por nuvens altas. MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 7h17 e às 20h03 Baixa-Mar às 00h42 e às 13h47 Porto de Aveiro Preia-Mar às 7h25 e às 20h10 Baixa-Mar às 00h50 e às 13h49

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Foi tenista até aos 19 anos. Hoje ensina em Coimbra

IRINA KORBUT ensina na secção de ténis da Associação Académica de Coimbra e destas pessoas» que são «inteligentes» e «doces». De crianças a adultos, muitos são os que seguem os seus ensinamentos. Bárbara Luz, tenista portuguesa com provas dadas a nível nacional e internacional, foi sua aluna. «Começou comi-

go pequenita, lindíssima. É um prazer ouvir as notícias». São mais de 6000 os quilómetros que separam Coimbra de Moscovo. Esse percurso foi percorrido por quem adorou a vida de tenista. Foi-o até aos 19 anos, altura em que ca-

sou.«Vi coisas lindíssimas». Recorda as pessoas famosas que conheceu, desde desportistas, músicos a outros artistas. Os treinadores diziam-na com muito talento. Passou pela Hungria, Polónia e França. Hoje, ensina por cá. l


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1 DE NOVEMBRO DE 2009 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT REDACÇÃO 239 499 900 PUBLICIDADE 239 499 999 ASSINATURAS 239 499 950

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“Quem domina o pensamento, nesta cidade, é quem está na reprodução”

Carina Leal Heinz Frieden responde àquele característico “toc, toc, toc”. Convida a entrar na Public-Art Editora, na tranquila localidade de Assafarge. Helena Friden, a esposa, está num dos computadores. Ouve-se fado. «Eu acho que sou produtor de música», responde. É um alemão de 54 anos que se radicou em Portugal em 1987. «Tenho formação em sociologia e não posso deixar de pensar permanentemente como tal. Mas, a minha actividade principal é a produção de música e, como editor, faço edição discográfica». Música. Este foi o motivo que o trouxe. Em 1983, veio sozinho passar férias a um desconhecido país. Não entendia a língua, mas ouviu-a. Escutou as pessoas. «Mesmo para um estrangeiro, tem uma certa música», afirma. E sendo ele músico? «Ganhei um certo amor por esta língua que me levou a voltar». Frequentou cursos na Universidade de Coimbra, onde estrangeiros aprendem língua e cultura portuguesa. «Em 86 já sentia ter encontrado algo que correspondia ao que está na minha onda emocional». Em Lisboa apresentou tra-

balhos. «Ficou mais do que confirmado este ser um local onde tinha vontade de passar a minha vida». Arrependido? «Até agora não estou». Há algo que orgulha Heinz. «Ter feito a composição de um spot publicitário da lotaria popular». Foi o seu primeiro trabalho «tipicamente português». O objectivo? «Compor uma música com carácter de música popular». O resultado? «Todos acharam que fora feito por um português». Este casal morou 10 anos em Berlim. Conheceram Paris e Nova Iorque. Sabiam não querer morar em Lisboa ou Porto. Decidiram por Coimbra. Heinz diz que hoje é complicado avaliar o impacto de então. «Viver aqui há 20 anos torna a vida tão quotidiana, natural que acabamos por criticar mais do que apreciar». Mesmo assim: «é uma cidade fora do vulgar, com qualquer coisa muito especial». Quanto à receptividade, «foi sempre de uma forma agradável e emocional como é típico do português». Para Heinz, Coimbra é uma «cidade complicada para quem aqui está a trabalhar». Segundo ele, «pode-se dividir a sociedade numa área de produção e noutra de reprodução. Esta cidade tem uma particularidade que outras não têm». O ser dominada pela reprodução, comunica. Na alta o ensino, na baixa o comércio. «Não há cultura de produção. Quem domina o pensamento, nesta cidade, é quem está na

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DADOS NOME: Heinz Frieden PAÍS DE ORIGEM: Alemanha IDADE: 54 anos LOCALIZAÇÃO: Assafarge, Coimbra PROFISSÃO: Produtor Musical

reprodução. Quem está nas artes espera encontrar artistas que produzam, façam». Não esconde que isto causa alguns obstáculos. «Sofro um bocado com isso, porque quero fazer, produzir, levar as coisas para a frente». Heinz esteve 10 anos no Orfeon Académico de Coimbra. «É verdade que isso influenciou a minha vida por completo». O gosto pela música coral principiou aqui. Surgiu, entretanto, um convite para os Antigos Orfeonistas. Considera que Portugal tem um problema. «Muitos estão preocupados consigo, com o seu grupinho e não se mostram muito interessados em saber o que os outros fazem». Em 1996, surge a Public-art no seu percurso. É aqui que inicia o processo de documentação da cultura musical portuguesa. Conheceu grupos corais, bandas filarmónicas e o canto alentejano. A forma como fala deles é fascinante. Confirma ser triste o não se valorizar devidamente o que de bom existe. «Não sou o primeiro, nem vou ser o último. A questão é que às

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Hoje: Céu muito nublado com períodos de chuva fraca, mas moderada no Minho e Douro Litoral. Sol: Nascimento às 7h05. Ocaso às 17h33 MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 1h25 e às 13h40 Baixa-Mar às 7h24 e às 19h42 Porto de Aveiro Preia-Mar às 1h46 e às 14h01 Baixa-Mar às 7h33 e às 19h51

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Heinz Frienden está radicado em Portugal desde 1987

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HEINZ foi ao encontro de grupos corais, bandas filarmónicas e do canto alentejano vezes é necessário vir alguém de fora para avaliar o que se passa». Heinz e Helena têm um filho que, com 14 anos, cá nasceu. Vão uma a duas vezes por ano ao país de origem, onde têm os pais. «Somos de uma zona do norte da Alemanha, mesmo na costa». Quanto à gastronomia de cá,

Helena é rápida: «gostamos muito da cozinha mediterrânea porque é muito mais saudável. Vinho tinto, azeite e um peixinho». No que toca a lembranças “de lá”, Heinz aproveita para frisar que «é importante não confundir algo que é muito significante para o português: a saudade. Isso é tipi-

camente português e não se pode aplicar a um estrangeiro, não funciona, nem o patriotismo». Certo é que Heinz e Helena já muito conhecem do país e cultura lusitanos. Vivem cá, foram ao seu encontro. Se regressarão? Isso é uma questão que «aqui na nossa cabeça para já não se coloca». l


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8 DE NOVEMBRO DE 2009 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT REDACÇÃO 239 499 900 PUBLICIDADE 239 499 999 ASSINATURAS 239 499 950

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“Quem não sabe arriscar não sabe o que é sentir a vida”

Carina Leal I Kiril. O nome não é difícil de pronunciar. Agora, quando se chega ao sobrenome a questão é outra. Bahcevandziev. Encontramos Kiril Bahcevandziev, de 50 anos, na Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC). Aborda num registo bem disposto quem o tenta “descobrir”. É alto. Fala um português correcto, de sons um pouco fechados. Questões de ordem pessoal fizeram-no radicar-se em Portugal em 1989, vindo da Macedónia (antiga Jugoslávia) onde era assistente na universidade. «Se me perguntar como é que cheguei cá eu digo: com o avião». É neste tom alegre que a conversa flui. «Não se trata do clássico imigrante à procura de emprego», alerta logo. Kiril passara férias em Portugal no ano anterior. Já por cá estivera em 86/87, no âmbito de um mestrado. Natural de Skopie, frisa que da sua educação sempre fizera parte um (entre outros) princípio: «fomos ensinados a conhecer a Europa e o mundo. Era assim na minha terra,

tínhamos de conhecer políticas, situações económicas, histórias». O seu país estava em mudança. «Quando cheguei não vi praticamente diferença nenhuma. Portugal tinha acabado de entrar na CEE». Não esconde que «há sempre choques». E a língua? Estudou latim no secundário e sempre gostou de aprender outras línguas. Enumera-as e são muitas.«Quando se quer uma coisa aprende-se», afirma. Quis “dominar” a de Camões, fê-lo através da associação. Houve então que ouvir e «adaptar o ouvido à pronúncia». Aborda o “clássico r”. «Lá é vogal». Cá consoante. «Corrigem-me. Não nasci com o “re”. Eu nasci com o “rre”». As variações vão-se aprendendo, mas atenção: «acho que é bom ter aquilo que é de raiz, porque no fim é charme». Ri, numa pronúncia com direito aos sons “de lá”. «A minha profissão é estudar as plantas, conhecê-las», assim responde à questão cuja finalidade é saber o que faz. «Há muito mistério nas plantas, como nas pessoas. A minha profissão é estudar as plantas do ponto de vista genético, vegetativo, cultural, alimentar e do desenvolvimento», completa. Começou por trabalhar numa escola profissional, onde perceberam que «tinha diplomas a mais». Concorreu para a Universidade dos Açores até que na década de 90 chega à ESAC. É formado em

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KIRIL BAHCEVANDZIEV defende que conhecer Portugal é ir ao encontro do povo, das terrinhas NOME: Kiril Bahcevandziev PAÍS DE ORIGEM: Macedónia I IDADE: 50 anos I LOCALIZAÇÃO: Coimbra I PROFISSÃO: “Estudar as plantas” I EM PORTUGAL: há 20 anos I I

Agronomia, tem mestrado em plantas subtropicais e doutoramento na área da Engenharia Agronómica. «Não dou aulas , eu falo com os alunos e explico aquilo que sei», clarifica. Define-se como comunicativo e aventureiro. O seu discurso “denuncia-lhe” outra característica: a da curiosidade. Se procura estar actualizado? «Não paro», responde. «Adoro aqueles alunos que me enfrentam, chateiam, mas que mostram capacidade para isso». O desafio, é sobre isto que se fala. «A vida desafiou-me e, por causa disso, cheguei a Portugal. Estou a arriscar. Quem não sabe arriscar não sabe o que é sentir a vida». Considera que os portugueses se deixam facilmente levar pelo medo. Regressa uma a duas vezes por ano ao seu país, «mas não tenho aquele vício de emigrante», avisa, «vou lá quando me apetece». Diz conhecer tão bem Portugal

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HOJE: Céu nublado, embora temporariamente pouco nublado no Sul. Aguaceiros fracos, que serão de neve, acima dos 1400 metros. MARÉS PORTO DA FIGUEIRA DA FOZ Preia-Mar às 6h26 19h09 Baixa-Mar às 12h45 PORTO DE AVEIRO Preia-Mar às 6h42 e às 19h24 Baixa-Mar às 12h49

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Para aprender uma língua há que adaptar o ouvido à pronúncia

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quanto «os portugueses o conhecem tão mal». Enquanto “os de cá” se dividem entre Algarve, Lisboa , Porto, Kiril gosta de conhecer «as terrinhas, porque acho que a riqueza deste país não está só nos locais de turismo. Portugal encanta-me todo». Adora o vinho alentejano. «Conhecer Portugal, é conhecer o povo que é honesto e orgulhoso».

Sorri quando se lhe pergunta sobre saudade. «Essa é a típica pergunta. Na minha terra também existe». Tem a bandeira do seu país consigo, bem como um pequeno mapa. «Todos sentimos o nosso país como somos. O mais importante de tudo é trazer dentro e sentir». E Coimbra? »Podia ser melhor. Abafou-se dentro da sua tristeza

ou no seu fado. Podia ser mais viva, feliz». Considera-se português. São já 20 anos. A sua língua materna é o macedónio. «O meu alfabeto é o cirílico. Tenho os dois alfabetos». Hoje é domingo. Como se diz “tenha um bom domingo” em macedónio? “Lesna nedela”. À letra significa “um domingo fácil”, mas os votos são de “um domingo descansado”. l


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15 DE NOVEMBRO DE 2009 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT REDACÇÃO 239 499 900 PUBLICIDADE 239 499 999 ASSINATURAS 239 499 950

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“Não foi fácil deixar lá um bom emprego para vir trabalhar no duro” Um olhar repleto de simpatia espelha a audácia de quem se aventurou

Se um dia chamar um táxi e lhe aparecer um daqueles pintados a dois tons – verde e preto – dedique alguma atenção ao taxista que o conduzirá rumo ao seu destino. Porquê? Simples. Na identificação do taxista poderá ler-se Constantin Ciuverca. E, se assim for, será o leitor já um pouco conhecedor da história deste romeno que, há oito anos e um mês, decidiu arriscar. Encontrámos este taxista de 39 anos numa das zonas mais emblemáticas de Coimbra - Praça 8 de Maio. Um final de tarde em que Constantin, à semelhança de outros dias, se preparava para ir buscar a sua “pequenina” cá nascida. Daí a umas horas (poucas) entraria ao serviço para mais uma noite enquanto taxista em ruas conimbricenses. «É um pouco complicado. Se calhar é melhor escrever», avisa quando a pergunta incide sobre o seu apelido. «Venho de um país latino. É parecido, mas a pronúncia é diferente». São duas as aprendizagens que logo se fazem. A primeira. A língua romena também deriva do latim. A segunda. O que cá se lê “ci”, lá tem som “chi”. «Sim, sou da Roménia, de Resita. Perto da fronteira com a Sérvia». Formado em Economia, trabalho não lhe faltava. Porque veio?

«Se penso bem, nem eu sei», escapa-lhe a expressão num sorriso de quem se prepara para soltar argumento. «Queria experimentar uma coisa diferente. Não vim por não ter uma vida estável». Tinha outra imagem do ocidente. «Queria uma mudança. Mas se penso bem não foi para melhor». Nota-se aqui algum desânimo perante as dificuldades que acabaram por encontrar. Diz que, na Roménia, se fala dos «países maravilha», onde «há tudo», onde «ganhas muito e ainda ficas com alguma coisa». Certo é que não encontrou um país de facilidades. «Posso dizer que é o contrário», reforça. «Pensava eu que a Roménia era o país onde havia mais burocracia. Afinal não é». Rodoviária de nome Bem-vindo A chegada a Lisboa. Na rodoviária em que “aportara” lia-se “Bemvindo”. Constantin, desconhecedor da língua portuguesa, não sabia qual o significado daquelas oito letras que à sua frente se afiguravam. Partiu do princípio de que se tratava do nome da estação. Disse-o mesmo a um amigo: «estou na rodoviária Bem-vindo». Esta situação fá-lo sorrir hoje que se expressa num claro português. Na altura não sabia uma única palavra. «É uma aventura», solta. «Os primeiros tempos não

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NOME: Constantin Ciuverca PAÍS DE ORIGEM: Roménia IDADE: 39 anos LOCALIZAÇÃO: Coimbra PROFISSÃO: Taxista EM PORTUGAL: há 8 anos

foram fáceis. Nos dois primeiros dias dormi na estrada». Depois de três dias em Lisboa, onde procurou emprego e encontrou promessas, rumou a Coimbra. Começou como servente. «Não foi fácil deixar lá um bom emprego para vir trabalhar no duro», explica. Tem dois cursos superiores que em Portugal «não valem nada. É complicado», remata. «Fui uma vez perguntar. Disseram que tinha de estudar mais dois anos cá». Constantin poderia fazê-lo, mas havia o “outro lado da moeda”: «se vou estudar, não consigo trabalhar. Se não trabalho, não ganho. Se não ganho, a minha família não tem meios suficientes». Foi auxiliar, pedreiro, conduziu camiões. «Polivalente», assim se define. “Nós por cá” ousamos ir mais longe: lutador. Há cerca de três anos chegou à Politáxis onde, hoje, é taxista. Se é difícil? «É uma questão de orientação, hábito». Segundo ele, os caminhos, nesta cidade, «são sempre os mesmos. Parece que vão todos para os mesmos sítios». No carro, que

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FERREIRA SANTOS

Carina Leal

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Hoje: Céu muito nublado com períodos de chuva, por vezes forte nas regiões a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela e possibilidade de trovoadas. MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 1h22 e às 13h42 Baixa-Mar às 7h22 e às 19h43 Porto de Aveiro Preia-Mar às 1h42 e às 14h03 Baixa-Mar às 7h32 e às 19h53

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CONSTANTIN “embarcou” numa aventura que o trouxe até Portugal “partilha” com um português, sentam-se muitos estudantes - «e mais de noite». Peripécias? «É todos os dias». Graceja. No ano passado foi à Roménia. «Custa muito poupar alguma coisa para gastar na viagem», clarifica. Quanto a um eventual regresso, não esconde que, tendo em consideração a forma como as coisas lhes estão a correr, «provavelmente na primeira oportunidade que tenhamos vamos».

Afirma que os portugueses são abertos e sociáveis «até um ponto. Depois acabou e não nos conseguimos integrar mais. Lá a convivência é diferente». Recorre a um «nós romenos» para comentar que «somos muito mais sociáveis com as pessoas de fora». Vindo de um país de comida frita , Constantin “aprendeu” a apreciar os cozidos. Um prato? Cozido à Portuguesa. Claro que se sente saudade. «Estão lá famí-

lia, amigos. Não é fácil». Sente falta também da vida social. «Aqui a nossa vida é trabalho – casa. Lá pode-se ser pobre, mas convive-se». Que Constantin conheça são seis os casais romenos a residir em Coimbra. «Fomos muitos há uns anos. Mas, agora a Roménia é país comunitário [desde 2007] Portugal já não é muito atraente». “Ai o duminica Buna”. O mesmo será dizer “tenha um bom domingo”. l


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22 DE NOVEMBRO DE 2009 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT REDACÇÃO 239 499 900 PUBLICIDADE 239 499 999 ASSINATURAS 239 499 950

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“Uma parte do coração já está cá” DADOS NOME: Mykhaylo Hayovych PAÍS DE ORIGEM: Ucrânia I IDADE: 45 anos I LOCALIZAÇÃO: Coimbra I PROFISSÃO: ajudante de cozinha I EM PORTUGAL: há 8 anos I I

NOME: Hanna Hayovych PAÍS DE ORIGEM: Ucrânia I IDADE: 45 anos I LOCALIZAÇÃO: Coimbra I PROFISSÃO: empregada de balcão I EM PORTUGAL: há 9 anos I I

Carina Leal O interior do Restaurante O Telheiro, em Coimbra, está agora sossegado. Hanna convida a sentar «naquela mesinha» e a aguardar pelo marido. Ele não tarda. O discurso faz-se a duas vozes. «Escrevo o meu e o Michel o dele», aceita Hanna. «Agora eu», diz ele puxando para si o bloco de notas . «O meu nome é muito complicado. Mykhaylo, que significa Miguel. Como aqui há muitos, para não fazer confusão, eu Michel». Têm o mesmo apelido, Hayovych. São ucranianos. Hanna veio há nove anos, Mykhaylo há oito. Eram ambos professores. Tinham uma «vida boa». Mas, Mykhaylo sofreu um acidente. Teve de ser acompanhado por médicos privados. «Foi preciso muito dinheiro». Pensavam no futuro do filho. «Vi uma publicidade num jornal ucraniano», que pedia professores para Portugal. «Vai para Portugal, ganha dinheiro e volta», foi o pensamento de Hanna. Veio. Chegou a Lagos com amigos e um cunhado. Conseguiu emprego, eles não. «Meus amigos telefonaram para outros, procuraram em Coimbra», conta. «Vens connosco», disseram-lhe. Ela veio, para Roxo onde serviu

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Na Ucrânia o Inverno “é Inverno” e a Primavera “cheira muito bem”

MYKHAYLO E HANNA trabalham no Restaurante O Telheiro, em Coimbra ao balcão de um café. «Muito boas pessoas. Ajudaram-me muito». Três meses depois procurou a casa onde estão. «Patrão quis logo fazer meus papéis». O processo começou e, no último dia de Julho, tinha o carimbo no passaporte. Foi rever os seus. «Não quero a minha mulher sozinha», comunicou-lhe então Mykhaylo. Foi assim que, desta vez, chegaram ambos cá. Lá ficara a família, o filho. «Para mim foi mais fácil», recorda Mykhaylo. «Hanna já tinha um quarto, algum dinheiro». Victor e Miguel, os patrões dela, ajudaram-no a arranjar emprego no restaurante D. Duarte II onde permaneceu até abrir uma vaga n’O

Telheiro. Mykhaylo é ajudante de cozinha, onde grelha carne e peixe. Hanna é empregada de balcão. “Borch é cinco estrelas” Falam recorrendo, sobretudo, ao presente. Lá há um sujeito, ou outro, a não concordar com o predicado. É fácil percebê-los. Como aprenderam? Ouvindo os ensinamentos. «Hanna, isto copo», exemplifica. A primeira palavra? «Filho». É assim que trata os clientes. «Gosto muito desta palavra», argumenta. «Foi mais fácil para Michel que aprendeu palavras correctas. Eu falo muito misturado». Moram com Maria – sobre quem se pronunciam com

muito carinho –, que também os ajuda nesta língua “esquisita”. Enquanto Hanna gosta de ler, Mykhaylo “afina” o ouvido para escutar sons do televisor. Juntos criam o seu dicionário. Têm 45 anos. São naturais de sítios diferentes. Mykhaylo desenha o seu país, explicando um pouco de história. Ele é de Zakarpatya, ela de Ternopol. «As nossas terras são muito diferentes», afirma. Uniu-os a universidade. Juntos vêm de Ivano-Francovsk, onde o Inverno «é Inverno», com temperaturas negati-

vas, e a Primavera tem «muitas flores e cheira muito bem». «Como a língua e o clima, também a comida é diferente», declara Mykhaylo. “Borch” é um afamado prato ucraniano. Quem já o provou foi um cliente português que, tendo ido à Ucrânia, não escondeu: «Hanna, Borch é cinco estrelas». A forma alegre com que se expressam adquire uns contornos “mais tristes”: «deixámos lá o nosso filho. Casou. Temos uma neta com um ano». A felicidade irradia aqui. «O corpo está cá, mas a alma lá». Criaram “raízes” cá. «Para

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SOL - Nascimento às 7h29 Ocaso às 17h14 LUA - Lua Nova. Quarto Crescente às 21h39 de 24 de Novembro.

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mim Miguel é já como um filho. Dona Maria como uma mãe», afirma Hanna. Mykhaylo vai mais longe: «quando chegar o dia de deixarmos Portugal acho que vai ser triste. É uma parte da nossa vida. Uma parte do coração já está cá. Ninguém nos pode tirar isso». Um bom domingo? Comentam que lá se diz do género “bons dias de folga”. Mykhaylo escreve-o primeiro em ucraniano - «muito difícil» - com letras que não existem no teclado português. Logo se socorre das ditas “letras inglês”: “dobrogovukhidnogo”. l

MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 5h53 e às 18h19 Baixa-Mar às 12h08 Porto de Aveiro Preia-Mar às 6h05 e às 18h29 Baixa-Mar às 12h13

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29 DE NOVEMBRO DE 2009 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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VIDA DE IMIGRANTE

“Temos este comprar e vender no sangue” Mounir lutou pela subida da Académica em 96/97 A edição 22 305 do Diário de Coimbra não deixa dúvidas. O 1 de Junho de 1997 – no qual reinou uma negra cor – foi absolutamente mágico. Ficou cravado na história de uma Académica/OAF que, há nove anos, ansiava pela subida de divisão. O “narrador” de hoje é um dos protagonistas do momento em que o “vulcão negro explodiu” [assim se escrevia então]. A época de 96/97 viu chegar, de Marrocos, Mounir Laroussi. Foi um dos jogadores que não se poupou a esforços para tirar o clube de uma “travessia do deserto”. «Fizemos um bom campeonato e subimos», recorda de sorriso desenhado num moreno rosto. «Nós, com um bom treinador, conseguimos». Fala de Vítor Oliveira. Fala da festa que se fez no, então, Estádio do Calhabé a transbordar de pessoas e a estravasar, primeiro, de ansiedade e expectativa e, depois, de um imenso gáudio. O adversário era o Estoril, batido por três bolas a zero. Mounir lembra um «campo cheio» e os «10 minutos antes de terminar», em que muitos já queriam festejar. «Depois o árbitro apitou… Foi uma semana de festa». Mounir tem 39 anos. Continua a fazer “o gosto ao pé”, pois inte-

gra os veteranos da Académica. Este Portugal não lhe era totalmente desconhecido quando chegou. «Vim antes com a minha equipa lá de Marrocos e gostei muito. Pensei: um dia vou jogar aqui e consegui», partilha. Numa fase prévia, passou por Setúbal, onde fez um teste e um pré-contrato. «Mas voltei para Marrocos», onde permaneceu um ano. «O presidente daqui foi à capital de Marrocos. Viu jogos. Gostou. E vim para aqui jogar». Quando colocou “o primeiro pé” no relvado português, diz ter sentido aquela sensação do “não acredito”, «mas depois quando começamos a jogar...». Esteve cerca de seis anos na equipa academista, passou pelo Leça, foi para o Qatar, tendo nos “entretanto’s” estado no país natal. De regresso a Portugal jogou, ainda, «nestes clubes pequeninos pertinho de Coimbra». Refere-se ao Lousanense e Sourense. É natural de Tânger, no norte do país. O contacto com os portugueses – que há muito lá se deslocam – ensinou-lhe palavras. «Falo espanhol, francês». O inglês também lhe é familiar. O início é, contudo, sempre difícil. «Não estava aqui ninguém marroquino». Não havia quem falasse a sua língua. «Foi aprender com os jogadores». Considera que o ter entrado

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Mounir Larroussi DE ORIGEM: Marrocos IDADE: 39 anos LOCALIZAÇÃO: Coimbra PROFISSÃO: Empresário EM PORTUGAL: há 13 anos. PAÍS

“pela porta do desporto” facilitou a sua integração. Se teve dificuldades? «Por acaso não. Vir para jogar é diferente». Lá “actuava” ao nível da 1.a divisão e vivia «bem», salienta. «Há outros imigrantes que vêm lutar pela vida», assinala. Mounir casou cá. Nunca se sentiu estrangeiro. «Tenho muitos amigos, familiares» e, se porventura a saudade apertar, a sua terra fica «pertinho. Vou muitas vezes a Marrocos. De carro, em oito, nove horas estou lá». A frequência com que lá se desloca deve-se também ao trabalho. Hoje, é empresário na área do artesanato. «Nós, quase todos os marroquinos, temos este comprar e vender no sangue». Diz que, mesmo quando jogava, gostava de negociar. «Quando acabei o futebol, decidi fazer uma coisa diferente». Comercializa, assim, produtos marroquinos, desde candeeiros, a tapetes, malas de típico couro. «Talvez vá abrir um restaurante com comida árabe, ainda estou à procura de um

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Sol - Nascimento às 7h36 Ocaso às 17h11 Lua - Quarto Crescente. Lua Cheia às 7h30 de 2 de Dezembro. Marés Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 00h09 e às 12h25 Baixa-Mar às 6h11 e às 18h31 Porto de Aveiro Preia-Mar às 00h26 e às 12h42 Baixa-Mar às 6h17 e às 18h38

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MOUNIR vai com muita frequência a Marrocos espaço», avança. São muitos os que apreciam o artesanato marroquino e este facto fá-lo percorrer o território português, bem como o estrangeiro. «Agora, ando sempre a viajar», solta. «Já tive oportunidade para ficar em Lisboa, abrir lá um negócio». Certo é que quando desta cidade sai, quer

sempre voltar. Além do artesanato, dedica-se ainda à decoração de lojas, bares, restaurantes. A 2 de Junho de 1997 escrevia o DC sobre Mounir: «uma aposta ganha pela Académica. Um acérrimo defensor da máxima: “passa a bola, não passa o homem”». A pergunta: “como se deseja um

bom domingo na sua língua?” «Um bom domingo?», devolve ele. «Em árabe?». Sorri adivinhando a reacção. Escreve da direita para a esquerda, numa diferente escrita. O gravador regista a pronúncia de uma cultura pautada pelas suas alegres e quentes cores. l


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6 DE DEZEMBRO DE 2009 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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“Ah sim, o sonho agora é realidade” Vieram do país das tulipas para a terra das Termas da Azenha

DADOS NOME: Ellen Lanser PAÍS DE ORIGEM: Holanda I IDADE: 47 anos I LOCALIZAÇÃO: Termas de Azenha (Soure) I PROFISSÃO: Empresária em hotelaria I EM PORTUGAL: há 10 anos I I

I É uma placa à antiga a que anuncia o lugar. Foi pintada num branco que o tempo ousou gastar. A negra cor, que outrora preencheu e deu forma às letras, já não é tão negra. Nos contornos lê-se Termas da Azenha. Bem-vindos à freguesia da Vinha da Rainha, concelho de Soure. Impera o sossego. O silêncio apenas é quebrado pelos sons tão próprios de uma natureza que se prepara para acolher o Inverno. Um vento suave toca a face, percebe-se vindo daqueles campos de arroz que, ali tão perto, se enchem de água. Ellen Lanser não tarda. É na varanda de uma das casas das Termas da Azenha – com um magnífico cenário ao alcance que esta holandesa de 47 anos fala sobre este «país do sul». Foi há 10 anos. «Queríamos sair de Roterdão. Nós, pessoas do norte, gostamos do sul por causa do sol». Espanha foi a primeira hipótese, mas escolheram Portugal . Conheceram as Termas da Azenha através de uma agência. «É uma zona muito linda. Tem cultura perto, natureza, floresta, campos. Tem quase tudo». Este é o primeiro argumento. Prestes a expor o segundo, os olhos azuis brilham de uma forma especial. «Não sei se

CARINA LEAL

Carina Leal

ELLEN LANSER diz que os portugueses vivem “mais em família” sabe o que é sonhar. Quando este processo começou estávamos a sonhar sobre o que queríamos fazer e onde íamos viver. São imagens, conversas». O sonho de Ellen era “ter uma aldeia”. Ri. «E isto é uma aldeia». Diz ter demorado algum tempo a ter noção disso mesmo. «De repente: ah sim, o sonho agora é realidade». Os pormenores cativam a atenção. O espaço é aprazível e cuidado. Quando chegaram o cenário era outro. «Não tínhamos electricidade, nem água. Nada, nada», acentua. Aponta para uma casa: «era a única que tinha porta e telhado». Isso não os desmotivou. «Estávamos muito entusiasmados. Esse primeiro ano foi tão agradável, tão charmoso». Não vieram sem antes aprender, na Holanda, a língua de Ca-

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Noite de São Nicolau «Os vegetarianos não têm boa vida aqui», responde quando o assunto é gastronomia. São-no. «Não comemos tanto carne, mas eu gosto do bacalhau». Nas termas diz cozinhar «mais internacional. Qualquer nacionalidade tem boas receitas». Há mais: «os vegetarianos têm de ver em todo o lado para encontrar coisas boas». O registo de Ellen é sempre alegre. Se é fácil para um vegetariano comer por cá?

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mões. «Os nossos filhos tinham seis e oito anos e tinham de ir para a escola», lembra. «Fomos à escolinha, no Pedrógão do Pranto , com oito alunos e uma professora. Fui com eles todos os dias, porque eles não falavam nada. Foi muito agradável».

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Hoje - Céu muito nublado com chuva, por vezes forte e trovoada, no Norte e Centro, estendendo-se gradualmente ao Sul. Subida da temperatura mínima, em especial no Interior. MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 5h24 às 17h57 Baixa-Mar às 11h37 às 23h49 Porto de Aveiro Preia-Mar às 5h41 e às 18h14 Baixa-Mar às 11h42 e às 23h53

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«Num restaurante? Não. É ovo ou omoleta». Segundo Ellen «a burocracia é terrível. Precisava de sete anos para obter as licenças necessárias e de gastar muito dinheiro». Considera, todavia, tratar-se de uma tendência europeia. «Há demasiadas regras». Em Portu-

gal encontrou, também, um outro lado: «as festas no Verão. Em todo o lado, em todas as aldeias». Recorda quando foram a uma discoteca com um grupo de jovens: «estava com os olhos abertos, porque estavam lá famílias. A vida aqui é mais em família. Isso é tão bom». Escuta-se ao fundo um leve martelar. A recuperação das termas muito se deve à ajuda de voluntários, a sua maioria holandeses. Aquando desta conversa, havia quem estivesse a construir uma capoeira, a demolir uma casa de banho ou a limpar. Embora na sua maioria jovens, vêm pessoas de várias idades. «Também tive um casal de 73 anos», relembra. Ontem, 5 de Dezembro, foi noite de São Nicolau na Holanda. «É

uma festa enorme para crianças, mas também para adultos», explica. «Fazemos prendas, com embalagens especiais, poemas para alguém especial». Mantiveram essa tradição nos primeiros anos. E as Termas da Azenha? «Pode encontrar uma casa para ficar, por exemplo, uma semana. Pode tomar um banho lá no balneário, fazer uma massagem, jantar connosco, aprender a fazer mosaicos artísticos, desenhar, pintar e dar passeios», afirma. Ellen diz ser «uma pessoa de tradição. Espero que o país fique mais ou menos como é». Refere-se aos avanços da tecnologia, não lhes negando benefícios, para rematar: «não temos de mudar tudo». «Ik wens jullie een prettige zondag» (“um bom domingo”, em holandês). l


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13 DE DEZEMBRO DE 2009 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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“É Pai Natal em todo o lado” Marc Ryon recorda a ruralidade que, em tempos, encontrou

DADOS NOME: Marc Ryon PAÍS DE ORIGEM: Bélgica IDADE: 64 anos LOCALIZAÇÃO: Penela PROFISSÃO: Médico veterinário e gerente EM PORTUGAL: há cerca de 23 anos

O início? Esse é anterior ao 25 de Abril de 1974. Remonta à altura em que Marc Ryon se deslocava a Portugal de férias. Vinha da Bélgica. «Mais concretamente de Flandres». O relevante pormenor é de antemão frisado. «Honestamente, era um país ultra barato e ultra seguro. Nunca fechava o meu carro», comunica. O que mais admirava? «A ruralidade». A ligeira dificuldade em pronunciar o complicado vocábulo é rapidamente ultrapassada. «Havia muito a vida no campo». Médico veterinário de formação e ligado à columbofilia, foi há cerca de 23 anos desafiado, pela multinacional Versele-Laga, a ser o seu representante neste país. «Já tinha comprado uma velha ruína à beira do Mondego. No lugar de esperar até à minha reforma, pronto, vim para cá». Chegou munido dos seus pertences e acompanhado pela família. «Mas, não foi fácil». O suspiro é longo e acentuado quando se lhe pergunta “porquê?”. «A burocracia aqui…» Um exemplo: «chatearam-me durante um ano para me dar equivalência do meu diploma. Segundo directiva da CEE, o meu diploma tinha validade». Gere a empresa que, com sede no Parque Industrial de Taveiro, em Coimbra, se dedica à alimentação animal. «Representamos os

animais de companhia». O começo foi em Eiras e «com um carro à mão». A empresa foi crescendo e abrange hoje toda a Península Ibérica. «As pessoas vêm aqui comprar um “saco de farinha” para o cão. Não dizem ração ou granulado, é farinha», brinca. Reside em Penela. Viveu outrora em Penacova. «Sempre gostei, e esta é uma das minhas guerras, da vida do campo tranquila, rústica». O sossego. “Nunca tive tanto frio” Conhecedor do país, não o era tanto da língua. «O nosso português limitava-se a “Uma bica por favor”». Ri. Conta, num sotaque tão acentuado, que foi a praticar que aprendeu. Dá ainda exemplos de expressões dúbias tão empregues pelos próprios portugueses e que não são, de antemão, decifradas por quem tem, neste caso, o neerlandês como língua materna. Relembra as dificuldades enfrentadas na escola por um dos filhos. «Até foi injustamente tratado. O que me revolta ainda mais é quando os portugueses escrevem mal a sua língua». Quanto à chuva, Marc diz não haver grande diferença entre Portugal e Bélgica. Agora, no que respeita ao frio, o assunto já é outro. «Nunca tive tanto frio na minha vida como aqui». Foca um importante ponto: este país

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«é concebido como um país de Verão, mas não é sempre Verão». O tema “frio” leva-o para outros cenários: «acho que, por exemplo, os cafés não são requintados. Se se vai a um café belga, alemão ou inglês, são todos requintados». Marc Ryon foi candidato à Câmara Municipal de Penela, pelo CDS-PP. «Aprendi muita coisa com isso. Foi uma experiência, mas difícil». Vai mais longe: «isto é uma democracia, mas com um “d” muito pequenino». Visita a Bélgica uma a duas vezes por ano. «Raramente planeado», avisa. «Como batata frita, há barracas na rua. Bebo muita cerveja boa e depois estou farto e volto». É natural de uma aldeia na Flandres Ocidental, Poperinge de seu nome, que «é a capital do lúpulo» [usado na cerveja]. Assume-se como um «flamengo português». Marc afirma ser «muito bonito» o manter da tradição. A 11 de Julho, dia nacional de Flandres, «fazemos um grande barbecue e penduramos a nossa bandeira».

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MARC RYON conheceu Portugal em férias

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MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 00h18 e às 12h41 Baixa-Mar às 6h22 e às 18h45 Porto de Aveiro Preia-Mar às 00h32 e às 12h57 Baixa-Mar às 6h28 e às 18h53

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A 6 de Dezembro, festejam o São Nicolau. «Os portugueses são muito rápidos a perder as suas tradições. É Pai Natal em todo o lado», comenta. Diz detestar o “fachadismo” («em português não se podem

fazer palavras novas, não é? Na nossa língua, podemos», deixa a dica para justificar a sua) e o formalismo (com direito a “excelentíssimos” em demasia). «O que se vê em muita gente é a falta de humor. Nós temos um humor

duro, duro, duro», reitera. Por isso, brinca também com o assunto idade. «Nasci no final da 2.a Guerra Mundial, em Abril de 1945». Tem 64 anos e, hoje, ensina-nos “um bom domingo” em neerlandês. «Goede Zondag». l


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20 DE DEZEMBRO DE 2009 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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VEÍCULO CAIU NUM RIBEIRO

Depilação com uma linha?

Ferido grave na Lousã

Beleza. O encontro de hoje faz-se com a oriental

DADOS NOME: Leila Sadeghi IDADE: 29 anos PAÍS DE ORIGEM: Irão LOCALIZAÇÃO: Coimbra PROFISSÃO: Empresária (Estética) EM PORTUGAL: há quatro anos.

Carina Leal Gira.Solum. Pé ante pé, logo se alcança o 2.o andar. Mais um pequeno lanço de escadas percorrido, dobrada “a esquina”. Ali está a loja 205. Enche-se de características que, de antemão, fazem cativar a atenção. Diferente? Sim. É um centro de beleza, “Elegance” de seu nome. Mais. É um centro de beleza oriental, cuja responsável é uma iraniana que, de 29 anos, chegou a Portugal há quatro anos. Leila Sadeghi é natural de Sary, no Irão. Atada ao pescoço de Leila está uma linha. Na face, uma máscara protectora. Ela percorre as sobrancelhas da cliente, recostada na cadeira, com essa mesma linha. O que faz? “Threading”, ou seja, depilação com linha. Um método por cá inovador, mas ancestral no médio oriente e sul asiático. Serve para tirar pêlos do rosto, bem como para definir e desenhar as sobrancelhas. Leila poderia estar, contudo, a responder a outros pedidos, como maquilhagem oriental, decoração corporal (com Henna) ou extensão de pestanas. «O meu marido foi convidado a fazer o doutoramento aqui no Pólo II», conta Leila. Assim chegaram. Como foram recebidos?

«Não tivemos qualquer problema cultural. Por acaso é engraçado estar a falar sobre isso», acrescenta. «Fui defender a minha tese de mestrado [quinta-feira, em Línguas e Relações Empresariais na Universidade de Aveiro]. Foi mesmo sobre a vida de imigrantes, mas os académicos». Aqui se alcança um importante item: a ajuda dada a quem vem de outro país. «O meu marido não teve ninguém para o ajudar a alugar casa. Foi muito complicado, muito mesmo». Grande parte da ajuda que existe é, sobretudo, dirigida a quem se encontra em Erasmus, sublinha-o. Conhecedores desta realidade, Leila e o marido procuram dar importantes “dicas” a quem imigra. Foram os primeiros iranianos a chegar a Coimbra. Hoje, acompanhamnos outros mais. Na sua opinião, deveria existir uma organização responsável que fizesse o acompanhamento. «Estas pessoas são muito curiosas, mas depois como não conhecem nada, ficam perdidas. Acham que não

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LEILA SADEGHI referiu a importância de se acompanhar quem aqui chega pela primeira vez vale a pena, porque é tudo muito difícil. É muita burocracia, ficam com medo», alerta. Num questionário que passou no âmbito do mestrado, muitos disseram gostar de Portugal e da sua cultura. «Mas, no fim preferem sair para outro país. Alguns voltam para o de origem. Isto é muito mau para o mercado português», comenta. Leila diz que a adaptação ao “novo mundo” varia de pessoa para pessoa. «Eu não sou tímida», destaca. A sua língua materna, o Persa, é muito diferente do Português. «Escrevemos da direita para a esquerda», elucida. O Inglês ajudou-a no

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Sol - Nascimento às 7h54 Ocaso às 17h13 Lua - Lua Nova. Quarto Crescente às 17h36 de 24 de Dezembro.

Preencher os quadrados de 9x9 de tal forma que cada linha, coluna e caixa contenha números de 1 a 9 sem se repetirem PATROCÍNIO:

MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 4h53 e às 17h12 Baixa-Mar às 11h02 e às 23h05 Porto de Aveiro Preia-Mar às 5h09 e às 17h27 Baixa-Mar às 11h09 e às 23h13

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processo de integração. Escutou as pessoas. «Acabei por aprender como as crianças», ri. E hoje expressa-se num claro português com direito a algum sotaque. A primeira palavra? «Obrigada». Agora, aquelas a que achou mais graça? Essas foram ouvidas dentro de um autocarro: «próxima paragem». Ano Novo: na Primavera Gosta desta «cidade de estudantes». Vem de um país com «clima extremamente diferente». Exemplifica recorrendo à cidade onde estudou: «no Inverno eram menos 29/28 graus. Nevava muito. No Sul, no Verão eram 50 graus. Durante o dia ninguém saía à rua». Vem de um país onde o «sabor da comida é muito importante. Fritamos muito as coisas». Cá, «a comida é mais saudável». Abriu o centro de beleza oriental há um ano. «Nós mulheres iranianas maquilhamo-nos muito». Declara que «tem de ser assim». Embora hoje não se maquilhe tanto, quando visita um amigo «tem de ser, se não fica estranho». Regressa uma vez por ano, ao Irão. «Quando entro, fico surpreendida com a maquilhagem muito perfeita». Considera que por cá não há muita informação sobre os países orientais. «Mesmo dentro do Irão temos várias culturas. Sul e

norte são completamente diferentes», destaca. «Aqui, misturam sempre Irão com países árabes. É um país muçulmano, mas a cultura é completamente diferente». Quanto a pontos de interesse? «Temos sítios muito lindos e antigos». Recorda o império persa. Sugere sítios como Shiraz, Tabriz, Yazd. Refere a agitada capital, Teerão. No que respeita a um eventual regresso, Leila remata com um “não sei”. «Não quero dizer que vou viver aqui toda a minha vida, mas também não vou voltar agora, agora». Por cá não tarda a chegar o novo ano. No Irão o “noruz” (ano novo) só acontece com o primeiro dia de Primavera (21 de Março). Aí trocam prendas, reúnem toda a família. «Preparamos uma mesa com sete coisas que comecem com a letra “s”, uma delas é o trigo que temos de plantar». Todos esses elementos têm um significado, uma mensagem. Mais diferenças entre ocidente e oriente? O domingo de lá, não corresponde ao nosso mesmo domingo de cá. A “folga” lá é à sexta-feira, o primeiro dia da semana ao sábado. Então, a aprendizagem de hoje é “bom fim-de-semana”. Primeiro em persa: . Depois com um alfabeto mais familiar: “Tatilat Khosh Begzavch!” l

Uma viatura ligeira caiu ontem num ribeiro, depois de ter saído da estrada e de ter “voado” de uma altura de cerca de cinco metros. O acidente aconteceu em Ribeiro Branco, Lousã, e levou o condutor, um homem, para os Hospitais da Universidade de Coimbra. A vítima, que foi transportada numa ambulância do INEM, deu entrada em estado grave. «O veículo saltou da estrada para o ribeiro e estamos a falar de um declive de uns cinco metros», referiu fonte dos Bombeiros da Lousã. «Quando chegámos ao local, o homem tinha conseguido sair do carro e foi assistido mesmo ali, ainda na água, que era pouco profunda», acrescentou a mesma fonte. O acidente aconteceu por volta das 16h30, perto de Ribeiro Branco, na antiga estrada que liga Lousã e Miranda do Corvo. A via de trânsito teve que ser cortada durante uns minutos, altura em que as forças de socorro prestaram cuidados médicos à vítima. No local do despiste estiveram responsáveis dos Bombeiros da Lousã, INEM e GNR, num total de cerca de 20 elementos. B.V.

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Alerta amarelo em todo o país A Autoridade Nacional de Protecção Civil colocou às 00h00 de hoje em alerta amarelo todos os distritos do país devido à chuva, frio e queda de neve esperada acima dos 300 metros, reforçando o dispositivo em todas as regiões. De acordo com o alerta da Protecção Civil, são esperadas «inundações em locais mais vulneráveis, desconforto térmico» e também gelo e neve nas estradas. O nível de alerta amarelo prolongar-se-á até às 23h59 de amanhã, pelo que «as pessoas devem manter-se vigilantes e informarse permanentemente sobre a situação», refere. O Instituto de Meteorologia, ontem às 22h00, mantinha seis distritos em alerta amarelo devido ao frio: Porto, Braga, Vila Real, Bragança, Viseu e Portalegre. Para a madrugada de hoje eram esperadas temperaturas mínimas negativas nestes distritos. I


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27 DE DEZEMBRO DE 2009 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT REDACÇÃO 239 499 900 PUBLICIDADE 239 499 999 ASSINATURAS 239 499 950

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Picante? Não. A cozinha árabe usa muito as especiarias Carina Leal Quer ir almoçar fora. Imagine. Apetece-lhe, por sinal, uma cozinha diferente. Equaciona várias hipóteses. Uma sugestão? E que tal experimentar uma ementa do médio oriente. Em Coimbra? Sim, por exemplo. Na Rua Manuel Silva Gaio está o Café, Sanduíche Bar, Restaurante Alaid Shoarma. “Asabih Kabab” é um dos pratos apresentados. O que o compõe? Carne moída de vitela com salsa, cebola, alho, trigo e batatas fritas. Outra possibilidade? “Dajaj Jordan”, ou seja, frango com caril, cebola, tomate, frutos e arroz. Ou, então, “Lahem Riash”, costeletas de borrego com molho de alho. Há mais. Kasem Alied “toma conta” deste espaço que pertence ao

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irmão Bassam Alaid, um afamado cozinheiro que já viajou por vários países e cujo percurso o levou até ao Sheraton Algarve. Qual é a profissão de Kasem? Ele responde: «cozinheiro». Contraria logo a ideia de que, na cozinha árabe, se usa muito o picante. «Não. Utilizamos sim as especiarias». Kasem nasceu na Síria, em Março de 1974. É natural de Darra uma cidade que se localiza perto da Jordânia. «Mas, a minha vida foi passada no Kuwait», faz logo a ressalva. «Estive lá quase 16 anos. Fui em pequenino». Foi na Síria que conheceu uma portuguesa com quem viria a casar. «Encontrámo-nos lá e aconteceu o amor um pelo outro». Ela fora em férias. «Depois de dois anos, tínhamos uma relação tão forte, vim cá e casámo-nos». Está em Portugal desde 2002. Contudo, «não correu bem», diz sublinhando que hoje são amigos e que prevalece o respeito entre ambos. Têm uma filha que, com seis anos, enche o pai de orgulho e felicidade. «Fiquei na mesma», afirma comunicando que gosta deste

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“O que é isso?” Relembra um episódio. Um susto, por assim dizer.«Já há uns anos, o meu irmão, que fala bem o portu-

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país. «É bonito, tem aquelas árvores, montanhas, muito verde. Tem pessoas calmas. Ninguém se mete com ninguém. A cultura. A maneira de conversar. Tudo. Tudo. Tudo». Não esconde, no entanto, que lhe foi difícil aprender a língua portuguesa. «Por acaso sofri muito». Recorre ao exemplo “Algarve”, à sílaba “al”, para recordar que árabes e portugueses têm palavras com raízes em comum, o que ajuda “um pouco”. Kasem aprendera, como segunda língua, o Inglês. Foi nessa que sempre comunicou durante o casamento. Foi no “Alaid Shoarma”, no contacto do dia-a-dia, que começou. «Esta casa pequenina ajudou-me a aprender cultura portuguesa». No convívio com as pessoas viu-se «obrigado a gravar todas as palavras e o que significavam». O que fazia? «Trocava da língua árabe para a portuguesa para entender».

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Hoje: Céu pouco nublado, tornando-se gradualmente muito nublado. MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 10h47 e às 23h25 Baixa-Mar às 4h29 e às 17h00 Porto de Aveiro Preia-Mar às 11h02 e às 23h39 Baixa-Mar às 4h35 e às 17h04

FERREIRA SANTOS

“Gosto deste país, vou viver aqui. Tenho de aprender”

KASEM ALIED agradece a todos os que o ajudaram nos “segredos” desta língua guês, foi de férias para o Brasil. Naquela altura, o negócio estava muito bem e ele tinha empregados aqui. Eles saíram a partir das 15h00 e eu fiquei». Entrou alguém que lhe pediu uma água com gás. A questão de Kasem: «o que é isso? Eu não sei!». Conta que tirou todas as bebidas do balcão, mostrou-lhas. Em Inglês, pediu desculpa ao cliente por não o estar a perceber. «A partir daquele dia, gravei na minha cabeça: gosto deste país, vou viver aqui. Tenho de aprender». Sem tempo para tirar um curso, começou a juntar palavras, a tentar entender o que podia e não podia dizer. «Com isto tenho de ter cuidado. Isto eu posso falar». Afirma que o Português tem muitas palavras parecidas. «Para uma pessoa estrangeira, que não estudou, não é fácil». É aqui que agradece aos amigos pelo apoio e ajuda. Agradece, igualmente, aos alunos e profes-

sores do Colégio de S. Teotónio, ali tão perto. «Eles ensinam-me. Dizem-me: “Kasem, calma, tem de ser assim”». Ele fez uso dos ensinamentos e descobertas, redigindo-os num papel. «Fiz um livro para mim». Apesar de se sentir bem por cá, não deixa de ter saudades da família que está lá. Depois de quatro a cinco meses cá, regressa à Síria, onde pode estar um mês ou dois. «A nossa terra é uma terra bonita. Diferente», assim a define sem deixar de acrescentar que não são só camelos e areia como muitos a imaginam. Refere-se à importância da agricultura naquele país. Lembra o enorme legado deixado pelos romanos. Pega num boletim escrito na sua língua e mostra um anfiteatro romano, uma mesquita, um mercado, bem como tantos outros pontos de interesse de um país com muita história.

DADOS NOME: Kasem Aleid IDADE: 35 anos PAÍS DE ORIGEM: Síria LOCALIZAÇÃO: Coimbra PROFISSÃO: Cozinheiro EM PORTUGAL: há sete anos

Levou consigo uns amigos portugueses a visitar a Síria. «Adoraram», revela. Da gastronomia portuguesa provou a chanfana, em casa de um amigo. Quanto a Coimbra, «é uma cidade de estudantes, com pessoas de todo o lado». Aprecia o Fado desta cidade. Reitera: «as pessoas são educadas».

(Nehaia Asph Saedh), assim deseja um bom fim-de-semana, escrito da direita para a esquerda. l

EDP INSTALOU 15 GERADORES

Energia voltou à zona Oeste de Lisboa Foi restabelecido o fornecimento de energia eléctrica em todas as localidades que foram afectadas pelas avarias provocadas pelo mau tempo na zona Oeste de Lisboa, de acordo com o último balanço feito pela EDP Distribuição. A empresa emitiu um comunicado garantindo que

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ao início da noite de ontem «ficaram ligados a totalidade dos nove mil postos de transformação que abastecem a região, estando alguns alimentados pelos 15 geradores instalados durante a noite e dia de hoje [ontem]». Contudo, subsistem alguns casos isolados de pequenas avarias na rede de baixa tensão, pelo que é possível que existam ainda «alguns clientes dispersos, sobretudo em zonas rurais, sem energia». Contactada pela Agência

Lusa, fonte oficial da EDP Distribuição disse que não é possível quantificar com exactidão o número de pessoas ainda afectadas pela falta de electricidade, mas garantiu que são «casos isoladíssimos». A EDP Distribuição anunciou ainda que «após três dias de trabalho foi possível reparar, ainda que provisoriamente, os estragos provocados pelo mau tempo em cerca de 40 por cento da rede eléctrica de Alta e Média Tensão». l


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3 DE DOMINGO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT REDACÇÃO 239 499 900 PUBLICIDADE 239 499 999 ASSINATURAS 239 499 950

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VIDA DE IMIGRANTE

“Pensava que me caíam as orelhas quando saí do avião”

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E se uma palavra não significar aquilo que se pensa?

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TEMPO Carina Leal A chuva insiste em cair. Sair à rua revela-se um acto audaz. Nem o guarda-chuva consegue impedir uma molha. Os pés não tardam em ficar ensopados e as muitas poças de água são já difíceis de contornar. Ivan Colesnic diz, ainda do outro lado da linha, que a conversa pode decorrer nesta mesma tarde, já que «com este tempo não dá para fazer nada». Ivan Colesnic tem 36 anos, chegou da Moldávia há 8 anos e, hoje, é jardineiro em Cantanhede. «Olha», conta ele, «lá na Moldávia não está muito fácil». O pensamento? «Vamos sair de lá para arranjar a nossa vida». Tem um tio em Lisboa com quem esteve algumas semanas. «Por intermédio de uma senhora russa, que o meu tio conhecia, é que vim parar aqui a Cantanhede». Mas, Portugal não foi “a primeira opção”. «Só queria sair daquela terra», sublinha. «Tinha ideia de parar na França, só que cheguei lá e era muito mais complicado». Veio. «Arranjei muitos amigos, emprego e, como costumo dizer: olha, já fiquei aqui». Era técnico de dentista, na Moldávia. A sua preocupação era pagar as dívidas que contraíra, por isso, «agarrava qualquer emprego e qualquer trabalho». Assim se tornou jardineiro. «Foi o primeiro emprego que consegui». Natural de Calarasi, não sabia uma única palavra em português. «Foi aprender no dia-a-dia. Apontava num bloco de notas as palavras e mais complicado era fazer as ligações. Presentes, futuros e passados era complicado». A primeira palavra? Ivan desata a rir. Logo se percebe que é melhor não a revelar. «Todos a diziam. Pensava que a palavra significava amigo, ficava contente. Depois, comecei

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TEMPO: Céu muito nublado com chuva, por vezes, forte e queda de neve nos pontos mais altas da Serra da Estrela. Vento fraco a forte nas terras altas, com rajadas até 80 km/h. Subida da temperatura, em especial da mínima no Interior. SOL: Nascimento às 7h58 Ocaso às 17h22

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IVAN COLESNIC integra o Rancho Folclórico Bairradinos de Ourentã

ATLETA TREINA EM MONTEMOR-O-VELHO a chamá-los também e eles ficaram chateados. Pensei: “oh, há aqui qualquer coisa que não bate certo”». O facto de, com a independência da Moldávia (1991), ter estudado latim (anteriormente era o cirílico) ajudou-o. «É isto que agora facilita a minha vida». Se foi bem recebido? Ele responde: «os portugueses recebem bem, porque a maior parte foi ou ainda está no estrangeiro. Sabem o que significa esta vida». Regressar à Moldávia é algo que não equaciona. «Comprei aqui apartamento. Faço aqui a minha vida». Comidas, bebidas e comportamento das pessoas. Ivan enumera estes três elementos explicando que «há muitas coisas semelhantes» entre o país de origem e o de acolhimento. «Já as tradições não são iguais. A troca de prendas é na passagem de ano». No dia 6 de Janeiro é Natal na Moldávia. Lá «não é bem o bacalhau, é mais à base de carne. Gosto mais do frango. Vocês aqui têm o leitão, Eu sinceramente não gosto muito». Há, contudo, dois pratos que Ivan cá conheceu e aprecia: pato no forno e cozido à portuguesa.

DADOS NOME: Ivan Calesnic IDADE: 36 anos PAÍS DE ORIGEM: Moldávia LOCALIZAÇÃO: Cantanhede PROFISSÃO: Jardineiro EM PORTUGAL: há 8 anos

Cantanhede: a cada ano maior Quanto à temperatura? Há dois anos, estavam em Portugal 5 graus positivos. «Quando cheguei à Moldávia eram quase 20 graus negativos. Pensava que me caíam as orelhas quando saí do avião». Levava vestido um «casaquinho fininho, nem chapéu na cabeça: “ai Jesus!”». Logo se agasalhou. A última vez que lá esteve foi em Julho. As saudades dos pais e do filho fazem-no regressar. Todavia, não esconde: «só de ver aquelas estradas apetece voltar logo para trás». Quando se questiona Ivan sobre o que conhece em Portugal, ele partilha que «como ando no rancho já conheço muito». Ran-

cho? Sim, integra o Rancho Folclórico Bairradinos de Ourentã. «Antigamente tocava na igreja, num grupo coral na Pocariça. As pessoas souberam que toco órgão e acordeão. Foram ter comigo». Não lhe era possível comprometer-se com ambos, logo teve de optar. Ficou pelo rancho. «Divertimo-nos. Visitamos muitos locais onde, se calhar, nunca iria». Segundo ele, «há sítios lindos». Como que em jeito de encetar uma história, começa: «uma vez estive no Porto. Passámos por aquele Porto velho, é muito lindo. Cada vez que passo lá queria ter uma máquina do tempo para voltar alguns anos atrás para ver como estavam aquelas casas». É neste instante que confessa ter visto o “Pátio das Cantigas”. E Cantanhede? «É como se fosse a minha casa. A cada ano que passa parece que fica maior». Para o novo ano, de 2010, o que deseja Ivan? «Não só para mim, mas para todos: que não seja pior que 2009, porque se não for pior já não é mau». E já que nos “desejos” se está, aqui ficam os votos de um bom fim-de-semana em moldavo: “UM SFERCIT DE SAPTAMENA”. l

Joana Vasconcelos vai remar pelo Benfica A canoista Joana Vasconcelos, campeã júnior da Europa e do Mundo em K1, na distância de 500 metros, vai representar o Benfica, anunciou ontem o clube encarnado no seu sítio oficial. «É um momento muito especial para mim. Desde pequenina que sonhava com este clube», disse Joana Vasconcelos, que promete dar o máximo para garantir a presença nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Joana Vasconcelos, de 18 anos, natural de Vila Nova de Gaia, treina com os técnicos Rui Fernandes e Ryszard Hoop no Centro de Alto Rendimento de Montemor-o-Velho e representava o Clube Náutico de Crestuma. «As minhas expectativas apontam para lutar ao máximo por conquistar medalhas, títulos e conseguir o apuramento para os Jogos Olímpicos de 2012», acrescenta ainda a jovem canoista. O vice-presidente para as modalidades do Benfica, João Coutinho, sublinhou, por seu

lado, que os resultados obtidos até ao momento por Joana Vasconcelos garantem confiança quanto ao futuro. «É uma aposta forte. É uma modalidade em que estamos a investir na linha daquilo que é a realidade do nosso projecto olímpico. É uma atleta que fez a sua formação a nível de júnior com excelentes resultados», afirma João Coutinho. Perante tão bons resultados, o vice-presidente para as modalidades sonha com o título da atleta em Londres: «Apesar de ser uma atleta jovem podemos sonhar com o título olímpico e ela também vai trabalhar para isso». João Coutinho defendeu ainda que o projecto olímpico «pode ir até onde o Benfica entender. Há realmente um rigor orçamental e mesmo a contratação da Joana faz parte desse rigor. Traçámos um projecto e ele tem de ser desportivamente validado, mas também financeiramente», concluiu. l


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10 DE DOMINGO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT

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“Muito sol, calor, aquele mar azul” Adora viajar. Albina aventurou-se por Portugal

DADOS NOME: Albina Govorova IDADE: 38 anos I PAÍS DE ORIGEM: Estónia I LOCALIZAÇÃO: Coimbra I PROFISSÃO: Esteticista I EM PORTUGAL: há oito, nove anos I I

Carina Leal

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Solução na página Agenda de amanhã

TEMPO

FIGUEIREDO

I Um perfume. É isso que aquele casal procura, ali, na Perfumaria Mars, Avenida Calouste Gulbenkian, Coimbra. E são muitas as possibilidades. A ajudá-los na decisão está Albina Govorova. «Este é mais doce», escuta-se. Depois de umas indicações, de testadas algumas fragrâncias, eis que a escolha está feita. Albina Govorova tem 38 anos. É esteticista. Recebe-nos num gabinete marcadamente agradável. Branco, bege e um delicado castanho são os tons que o constituem. Serenidade. É esta a sensação que prevalece. «Nós não utilizamos muitos nomes. Só temos dois e chega», explica ao redigir os seus dois no caderno. Está em Portugal há cerca de oito, nove anos. «O tempo passa tão depressa», ela o confirma. «Sou da Estónia. Não sou estoniana». Como? Explica: «Nasci na Estónia, mas sou de uma família russa». Sim, «tenho nacionalidade estoniana, passaporte estoniano». Então? «Lá dois povos vivem juntos há muito tempo», continua. Embora culturas e tradições possam estar algo misturadas, certo é que «são dois povos diferentes: russos e estonianos». Albina estudou numa escola russa. «Sempre tive aulas de estoniano», acrescenta. «É a língua oficial e temos por obrigação falá-la». Conhecer a história de Albina é aprender sobre a história de um território que, outrora, integrou a União Soviética. Ela própria o frisa. Quando «a União Soviética deixou de existir, as fronteiras começaram a ficar mais abertas e já conseguíamos viajar mais». Viajou «muito». Portugal foi um dos últimos países que visitou.

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ALBINA GOVOROVA ficou apaixonada pelas paisagens portuguesas. Tinha cá uma amiga casada com um português que lhe mostrou o país. Foi um conjunto de factores que a trouxe: o desafio, o espírito de aventura. Cá conheceu o marido, «que me fez realmente mudar para cá». Bacalhau: “é aqui que há o espírito” Lá ficaram a família e o negócio na área da estética. «Não foi um passo fácil». Considerou, contudo, tratar-se da altura certa para, e como ela diz, «fazer este desafio». É com um brilho nos olhos e com um enorme sorriso que fala da sua família portuguesa. É com manifesto orgulho que fala do filho de seis anos. «E agora vou ter outro». Está grávida de cinco meses. «Já tenho aqui raízes», comunica. Mora em Santa Clara. Este país não lhe é de todo estranho. Conhece-o de norte a sul. «Fiquei completamente apaixonada. As paisagens são maravilhosas». Há algo mais. «Aquilo que faz falta na Estónia: muito sol, calor, aquele mar azul». Claro que a Estónia tem mar, o Báltico, «que é muito frio». Ao russo, estoniano e inglês (com que conversava com o marido)

somou-se outra língua: o português. «Sabe, a melhor escola é aqui, no lugar de trabalho, é a comunicação com as pessoas», afirma. Recorda aquela fronteira com que se pode deparar qualquer um que ouse “percorrer” uma língua que não a materna: «pensar que as pessoas vão gozar». Foi devagarinho que começou. Frequentou um curso de português para estrangeiros. Fê-lo na Igreja S. José. «Era gratuito, à noite. Éramos de países diferentes: Ucrânia, Bielorrússia, Líbano, Marrocos». Deixa um alerta: «há pouca publicidade destes cursos, as pessoas não sabem».Se “Obrigada” foi a primeira palavra na língua de Camões, não tardou em aprender a contar até dez. Diz que em Portugal se consome muito peixe. «Para ser sincera aprendi a gostar do bacalhau, mas não foi assim amor à primeira vista». Defende que «tem de ser comido neste país, porque é aqui que há o espírito do bacalhau». Com a sogra, «que cozinha tão bem», procura descobrir a cozinha portuguesa. Também lhe ensina o que se confecciona na Estónia. “Pelmen” é um prato de festa, «para dias especiais. Faz

lembrar o Ravioli, só que de tamanho maior e recheado com carne picada». Há coisas que Albina não aprecia em Portugal. «Faz-me impressão a maneira de conduzir, muitos fazem-no sem qualquer respeito pelos outros». Refere a organização «muito certa» do seu povo, para apontar a «pouca organização em algumas coisas» que cá encontrou. Não esquece o assunto burocracia. É natural da capital, Tallinn, «é linda, linda linda». Sentiu-se uma verdadeira turista a última vez que lá foi, «porque não ia há quatro, cinco anos e a cidade mudou completamente». Não vai tantas vezes quantas gostaria, «é longe, não há voos directos» e, como gosta tanto de viajar, também quer conhecer outros locais. «A vida toda não é suficiente para ver tudo», partilha. Uma sugestão? «Ilhas Gregas». Considera o povo português acolhedor. «Tive muito apoio e muita sorte em encontrar pessoas fantásticas que confiaram em mim». Aproveita, assim, para agradecer a quem lhe deu a possibilidade de se realizar por cá, «porque sem eles não conseguia, sem dúvida». Um agradecimento especial? Esse dirige-o à família, «aos meus sogros que me ajudaram imenso». Hoje “bom domingo” deseja-se em duas línguas. Primeiro na língua materna de Albina, o russo com caracteres círilicos, , (Houoshihh gihodhnih). Em estoniano: .l

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HOJE - Céu muito nublado, com períodos de chuva ou aguaceiros, por vezes fortes. Queda de neve acima dos 400 metros, subindo gradualmente a cota. Vento moderado a forte, com rajadas até 80 km/h no litoral e terras altas. Pequena subida da temperatura mínima e pequena descida da máxima. Sol - Nascimento às 7h57 Ocaso às 17h29 Lua - Quarto Minguante. Lua Nova às 7h11 de 15 de Janeiro. Marés Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 5h09 e às 17h41 Baixa-Mar às 11h26

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17 DE DOMINGO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT

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“Nem imaginamos o quão importante somos” Vinda do país vizinho, conheceu a sopa aos 23 anos. “E adorei”

DADOS NOME: Lourdes Hidalgo IDADE: 32 anos PAÍS DE ORIGEM: Espanha LOCALIZAÇÃO: Coimbra PROFISSÃO: Enfermeira EM PORTUGAL: há 9 anos

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Lourdes Muñoz Hidalgo. Ao nome próprio (Lourdes) sucede-se o apelido do pai (Muñoz) e, a terminar, o da mãe (Hidalgo). É assim que, em Espanha, se “constrói” um nome. E esta é a primeira curiosidade que, neste domingo, se descobre, já que a “organização”, em Portugal, é a contrária. A viagem de hoje faz-se rumo àquele que tantos denominam como o “país de nuestros hermanos”. Lourdes tem 32 anos. É na Unidade de Saúde Familiar de Cruz de Celas, em Coimbra, que a encontramos, findo que está um dia de trabalho. Ela, enfermeira, convida a entrar num gabinete que logo se sente acolhedor. Contam-se algumas fotografias, alguns peluches. Há muitas frases afixadas num placard ou no móvel que está na parede oposta. Uma dessas frases conquista a atenção: “Decidi ser feliz porque faz bem à saúde”. Autoria? Voltaire. Num quadro corre o Rio Mondego. A cidade espelha-se nas águas. Autoria? Lourdes. «Estou sempre a pintar», partilha já quase no final da conversa. É nesse mesmo final que confessa adorar a sua profissão. «A enfermagem é muito gratificante. É ajudar, todos os dias. Não há nada melhor do que isso. Às vezes, nem imaginamos o impacto que têm as coisas mínimas. Nem imaginamos o quão importante somos. Somos um apoio», diz, lembrando o valor de uma palavra, de um gesto. É no próximo mês de Setembro que a sua chegada comemora 10 anos. De Portugal «não conhecia nada», ou melhor, conhecia apenas jogadores que, ainda hoje e nestas mesmas paredes vestem a camisola do clube de futebol que traz no coração: F.C. Barcelona. São

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LOURDES era conhecida como “enfermeira do dicionário” Vítor Baía e Figo. Terminou o curso em 1999. Na sua terra, faltava emprego na sua área de formação. «Na altura, o governo português ia lá à procura», conta. «Recebi uma chamada. A senhora, não sei como, conseguiu expressar o desejo de eu vir trabalhar para cá». Meia hora de entrevista, em Portugal, em Julho, e começava uma nova fase da sua vida em Setembro, no lugar de Castanheira de Pêra. «Vim. Fui até Leiria e de lá o motorista levou-me para Castanheira, numa viagem que nunca mais acabava». Ri ao recordar. Na altura era invadida por questões próprias de quem se aventura: «estou mesmo maluca, onde é que vim parar?». Anos se passaram. Agora, o seu português é correcto – apenas a denuncia o acentuado sotaque e a identificação que traz na bata -, mas então «não percebia» a língua que a acolhia. «Nada. Nada». Encontrou alguém que a ajudou, como ela diz, «imenso» - a amizade une-as ainda. Lá se desenrascou. «Andava sempre com um dicionário no bolso. Todos me conheciam como a enfermeira do dicionário». Sorri. A essa útil ferramenta, somavam--se outras: o contacto diário, as legendas nos filmes e a leitura. «Ajudou-me muito a bibli-

oteca cá de Coimbra. Lia dois a três livros todas as semanas». É nos filmes que se encontra outra “diferença” em relação ao país vizinho. Ela explica: «em Espanha, os filmes são dobrados em castelhano. Não temos muito o contacto com outras línguas. Mesmo na música, os cantores estrangeiros cantam em espanhol». Há mais “diferenças” e, estas, nas próprias palavras: em Espanha “esquisito” significa fantástico e “espanto” horrível. «Há palavras com umas diferenças engraçadas», afirma hoje que percebe o sentido dado por ambos os lados. “Totalmente realizada” Foram cinco anos em Castanheira. «É uma paz, um sossego enorme. Adorei», solta. Coimbra foi, desde 2001, 2002, a cidade escolhida para morar. O motivo é simples: «venho de Barcelona, uma grande cidade». Necessitava de actividade em seu redor: cultura, cinema, movimento. Os 90 quilómetros de distância faziam-se «num instante, duas horas. Era bom, dava para ouvir música, relaxar». Quando terminou o contrato em Castanheira foi até Porto de Mós, mas «pouco tempo», pois abriram vagas em Celas. Pediu transferência. Gosta de Coimbra. Acha-a bo-

nita. Deixa o alerta: «se estivesse cuidada era melhor». Considera que «quem mora aqui nem se dá conta. É como eu quando vou a Barcelona, vejo coisas que dantes não via. Aqui vejo como moradora e como turista». Um acrescento? E como artista. Lourdes é levada a “observar” a sua cidade natal: «é muito aberta. Muitas culturas misturadas. Muito ao contrário do que querem deixar transparecer, damo-nos bem com todas as culturas. Temos o mar. Acho que o mar muda o carácter, faz uma pessoa mais aberta». A dado instante deixa escapar, num jeito de saudade, que «até me custa falar da minha cidade». Mas, continua: «tem muita cultura, arte». Quando a pergunta é gastronomia, se sentiu muitas diferenças, ela solta um prolongado “ui”. «Até conhecer, comia sempre a mesma coisa. Era frango, com batatas e arroz ou costeleta». Um prato preferido? Ela pensa e declara: «a sopa. Comecei a comer sopa aos 23 anos e adorei. Quando vou a Barcelona até faço, é uma coisa que nós não temos». Coisas menos boas que cá tenha encontrado? Reflecte sobre o assunto: «é a dificuldade em seguir os estudos. É uma burocracia. Já me cansei. É muito complicado conseguir equivalência. Às vezes pergunto: então isto é a Europa?». Para Lourdes, ser enfermeira familiar é muito enriquecedor. «Conheço a família toda, desde a criança até aos mais idosos». Certifica quem veio à procura da sua vida: «sinto-me totalmente realizada». É Lourdes quem hoje nos ensina a dizer um bom domingo, primeiro na sua primeira língua, o catalão (“catalã”): “Bon Diumenge”. Depois em castelhano (“castellano”): “Buen Domingo”. l

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HOJE: Céu nublado com períodos de chuva fraca, tornando-se moderada ao final do dia no litoral a norte do Cabo Mondego. Vento fraco a muito forte nas terras altas, com rajadas até 100 km/h. Neblina. No Sul, o céu estará muito nublado com boas abertas durante a tarde.

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DIRECTOR DA OBRA DAS MIGRAÇÕES DEFENDE

Prioridade para investigação do tráfico de pessoas O director da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) defendeu ontem que o tráfico de pessoas deveria estar no centro da investigação criminal, considerando também ser necessária uma maior divulgação do problema junto da opinião pública. «Penso que em Portugal existe uma lacuna na investigação. Deveria haver mais empenho por parte das polícias e também de conhecimento e de divulgação desta realidade ao nível da opinião pública», disse frei Francisco Sales. Em Fátima, onde participa no X Encontro de Formação de Agentes Sócio-Pastorais das Migrações, que termina hoje, o responsável referiu que «houve uma época, quando começaram a surgir as questões do tráfico», que o assunto «esteve muito na linha da frente, mesmo da comunicação social». «Depois foi algo que foi desaparecendo e, praticamente, hoje já não se fala», declarou frei Francisco Sales. Para o director da OCPM, o tráfico de pessoas em Portugal é uma «realidade escamoteada», sustentando que se procura «delegar este assunto para um segundo plano», porque «não interessa, dá mau aspecto ou

porque o negócio tem se calhar gente muito importante». O dirigente acrescentou que, apesar de o país ter um Plano Nacional Contra o Tráfico de Seres Humanos, «existe uma lacuna na legislação penal». «Eu não tenho conhecimento de alguém que tenha sido condenado por tráfico de pessoas», referiu, exemplificando: «As pessoas são condenadas por outros crimes, quando se fazem rusgas a casas de alterne e a outros organizações onde estão mulheres ligadas à prostituição, ao tráfico para a exploração sexual, mas quando chega a tribunal nunca ninguém é condenado por tráfico de pessoas». Explicando que é visível, sobretudo nas cidades, «a presença de pessoas de outras nacionalidades que se dedicam à prostituição», o frei Francisco Sales sustentou que «é do conhecimento, particularmente das autoridades, de quem trabalha no terreno, que a maioria dessas pessoas está enredadas em redes de tráfico». O responsável referiu que além do tráfico de pessoas para fins sexuais, há também tráfico de pessoas com objectivos laborais e para a mendicidade, neste último caso crianças. «Nós vemos muitos imigrantes que vieram para Portugal ou são traficados por redes, com promessas de trabalho que são praticamente escravos ou, então, mão-de-obra barata», apontou. l


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24 DE JANEIRO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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“Amo-te é uma palavra bonita”

Amanhã, na terça ou num outro qualquer dia da semana, será mais ou menos assim. A entrada ao serviço faz-se logo às 6h30. Até cerca das 10h30, executam-se os vários trabalhos de limpeza que antecedem o rodopio que, a partir das 9h00, começa nos corredores da empresa. Pese embora o seu dia inicie cedo, Zara brinda com um simpático sorriso quem com ela se cruza. Terminadas as tarefas, sai de casaco vestido e mala pendurada no ombro direito. Apanha o autocarro. Debaixo do braço leva a matéria. Segue, possivelmente, em direcção à biblioteca, isto porque tem de estudar – e ela explica - «muito, muito. Para os portugueses é difícil, muito difícil esta matéria. Para mim, é duas ou três vezes mais difícil por causa da língua». Refere-se, neste caso, a Macroeconomia e cálculos. Tratam-na por Zara. Assegura que a loja com o mesmo nome nada tem que ver consigo. Zornitsa Angelova Ilieva é o seu nome, tem 24 anos e vem de Vratsa, na Bulgária. Quem a escutar, não dirá que está em Portugal há precisamente três

meses e 24 dias. «Não é perfeito, mas acho que falo bem», diz. É neste quase correcto português que dá a entender a sua história. «No ano lectivo de 2008/ /2009, fiz um programa chamado Erasmus. Foi cá em Portugal e só durante três meses». É licenciada em Administração Pública. «Em Agosto ou Setembro, a Universidade de Coimbra mandou para mim uma letra [carta] a dizer que eu podia estudar na Faculdade de Economia». Quer fazer mestrado em Economia Local ou Economia Europeia. Para isso, «por causa da minha nacionalidade, preciso de fazer uma pós-graduação que vai dar equivalência ao meu diploma. Depois da época dos exames, vou continuar a minha educação». Segue-se o mestrado. Voltou, após o Erasmus, porque considera tratar-se de uma boa oportunidade para aprender uma língua diferente da sua. Mais. Diz tratar-se de uma boa ocasião para «começar a minha vida sozinha. Até agora, vivi com a minha família, com o dinheiro dos meus pais. Tudo era muito mais fácil». Agora as coisas são diferentes. «Muito mais difícil, porque propinas, quarto, despesas, livros, tudo o que preciso é muito mais caro do que

na Bulgária». É, por este motivo, que trabalha, tendo sido «muito, muito, muito, muito difícil» “encontrar emprego”. «Fui a lojas, centros comerciais, entreguei o currículo, mas acho que preferem os portugueses, porque não falo perfeitamente, porque não sou portuguesa». Muita neve, muito frio O discurso de Zara é fluente. São raras as vezes em que demora por um instante a frase, a fim de encontrar o termo certo. Não, não aprendeu Português em Erasmus. Aí, expressava-se em Inglês. Quando regressou, há três meses e 24 dias, «decidi falar, escrever, ler, entender, pensar só em Português». Vai às aulas. As colegas portuguesas ajudam-na a escrever. «Uma amiga deu-me dicionários e gramática de língua portuguesa». Aos sábados e domingos, «eu estudei-os». E quando se trata de estudar, fá-lo sempre que possível na língua que aprende. A primeira palavra? Zara ri e profere-a com todo o gosto e satisfação: «amo-te» (logo nos ensina “obicham te”, em búlgaro). «É uma palavra bonita. Foi muito interessante outra», completa, «saudades. Só na língua portuguesa é que podes dizer “I miss

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NOME: Zornitsa Ilieva IDADE: 24 anos PAÍS DE ORIGEM: Bulgária LOCALIZAÇÃO: Coimbra PROFISSÃO: empregada de limpeza/estudante EM PORTUGAL: há quase quatro meses

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you” com apenas uma palavra». Sim, Zara tem saudades da família, dos amigos e colegas que estão na Bulgária. «Não posso falar com eles todos os dias ao telefone». Contam com úteis ferramentas disponíveis na Internet para o fazer: Skype, Messenger e Facebook. Quanto a cartas, ela é rápida: «acho que nestes dias ninguém escreve cartas». Apesar da distância e do muito que lhe está subjacente, as palavras não poderiam ser mais fortes: «os jovens como eu têm de começar uma vida diferente para depois o futuro ser mais fácil». É uma lutadora. Medo? «Eu não tenho», declara. Zara comenta que, por cá, se come muito peixe, saladas, e muitos bolos e doces. «Já comi pratos típicos, por exemplo a feijoada». E já mostrou aos amigos os pratos típicos de lá. «Eles adoraram, a nossa comida também é muito gostosa, mas diferente», explica. Distinto também é o clima. «Aqui é muito mais quente, mas chove muito, isso é que não gosto». Lá, no Inverno há muita neve, muito mais frio. O olhar brilha quando conta sentir saudades da neve, do gelo. Conhece Lisboa, Porto, Fátima, Figueira da Foz. É no meio deste enumerar que se percebe o quanto gosta de Coimbra. Faz um acrescento à informação: «nós sabemos, na Bulgária, que a Universidade de Coimbra é a universidade mais antiga na Europa e que tem um nome respeitável». Levada a falar da sua Bulgária, recorda a natureza «muito bonita e diferente na Primavera, Verão, Outono e Inverno». Tem muita história, igrejas, museus. «Há cidades mais antigas e cidades mais modernas». Vem do país banhado pelo Mar Negro. «Espaço a espaço, eu vou conseguir fazer todas as coisas», comunica. Hoje é ela quem ensina um “bom fim-de-semana” em búlgaro, escrito em caracteres cirílicos, (“Priatna Pochivka”). l

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Carina Leal

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Zara quis começar a sua vida sozinha. Prepara-se para o mestrado na FEUC

ZORNITSA ILIEVA expressa-se num claro português

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DADOS

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TEMPO Hoje: Céu muito nublado de manhã com aguaceiros fracos que serão de neve acima dos 1400 metros, tornando-se gradualmente pouco nublado. Vento fraco a moderado nas terras altas e a sul do Cabo Carvoeiro. Pequena descida da temperatura mínima no Interior. Neblina matinal.

COIMBRA 6º 12º

MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 2h22 e às 14h55 Baixa-Mar às 18h43 e às 21h28

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RECUPERAÇÃO DO ESTADO DE SURDEZ

HUC organizam curso com técnicas avançadas Os avanços mais recentes nas técnicas para recuperação do estado de surdez, nomeadamente no domínio dos implantes, são apresentados a partir de segunda-feira num curso internacional que decorre nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC). Organizado pelo Serviço de Otorrinolaringologia dos HUC, o 11.º Curso de Microcirurgia Otológica e de Oto-Endoscopia tem um carácter teórico-prático e contempla a actualização em matéria de implantes cocleares, para a surdez total, e de implantes do ouvido médio, destinados à surdez neuro-sensorial, entre outros domínios. António Diogo de Paiva, director daquele serviço dos HUC e catedrático da Faculdade de Medicina de Coimbra, disse à agência Lusa que o professor da Universidade de Bordéus JeanPierre Bébéar vai apresentar os últimos avanços no domínio dos implantes cocleares no adulto e na criança.

Por seu turno, o médico Pedro Clarós, do Hospital de S. João de Deus (Barcelona), expõe as novidades nos implantes do ouvido médio, que se destinam às pessoas que ouvem os sons mas não conseguem perceber bem as palavras. Também os implantes osteo-integrados, para a designada surdez de transmissão, na qual o ouvido médio não está a transmitir os sons captados, serão abordados no curso por Carlos Cenjor, de Madrid. Outros especialistas portugueses e estrangeiros participam no curso, que decorre até quarta-feira, abordando temáticas como otites, otosclerose, imagiologia do ouvido, neurinoma do acústico, vertigem e paralisia facial, entre outras. Com várias sessões cirúrgicas, o curso no domínio da pósgraduação destina-se à «formação, actualização e divulgação de conhecimentos, promovendo a troca de conceitos e experiências entre especialistas», segundo o programa. l


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7 DE FEVEREIRO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT REDACÇÃO 239 499 900 PUBLICIDADE 239 499 999 ASSINATURAS 239 499 950 WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT

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“Ni hao”

DADOS NOME: Jin Shaobo IDADE: 50 anos PAÍS DE ORIGEM: China LOCALIZAÇÃO: Coimbra PROFISSÃO: Lojista EM PORTUGAL: Há 27 anos

Carina Leal Jin Shaobo soletra as letras que compõem o seu nome. Já o havia pronunciado. Já o escrevera na amarelecida folha de papel. É na Avenida Fernão de Magalhães – concretamente numa loja de seu nome Estrela Nova – que trabalha os seus dias. É nessa mesma loja que, nos seus 50 anos, aceita contar a história de quando deixou o país onde nascera em busca de uma outra sorte. Corria o ano de 1983 quando cá chegou. «Da China, claro». Foi daí que veio. «Naquela altura, a China era uma zona pobre. Vim cá procurar uma vida melhor». De lá saído, sozinho, passou por Itália e Brasil. Foi em Portugal que ficou. Nos primeiros tempos em Lisboa. «Quando vim não trouxe nada», partilha. «Os amigos começaram a emprestar dinheiro». E Jin iniciou-se como vendedor ambulante, ofício que lhe permitiu conhecer o país de Camões de lés-a-lés. «Corri Portugal todo». Até que se instalou em Coimbra. «Juntei dinheiro e abri um negócio». Gostou de Coimbra. «É uma cidade mais silenciosa», comunica. Gostou do país. Afirma que os portugueses o receberam bem. «Se não fosse assim, não

ficava. Está tudo bem», expressa num discurso que, perceptível, não esconde uma acentuada pronúncia que remete para o Oriente. Este português, com que fala, conquistou-o no contacto do dia-a-dia. «Foi aprender a falar com as pessoas. Com tempo». As primeiras palavras passaram pelo enumerar - «um, dois, três». «Depois, bom dia, boa tarde, boa noite. Como cumprimentar as pessoas». Nunca fez um curso de português para estrangeiros, mas ouviu. Muito. «Não falo correcto, mas compreende-se», diz ele. Não esconde que o início é sempre difícil no que respeita à comida. «Não se sabe falar, não se sabe como pedir». O “segredo” passava por ver o que havia e o que se comia. «Agora já sei ler a lista do restaurante». Noutros tempos, havia que observar e, com o dedo, apontar num gesto que significava: «queria aquele». «A primeira comida que se aprende a pedir é frango, vende-se em todos os lados», partilha. Contudo, e em casa, continua a cozinhar comida chinesa. Nestes dias, nestes em que já está habituado ao clima deste país “plantado” à beira Atlântico, o contacto com quem permanece na China faz-se por telefone e

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CARLOS ARAÚJO

Foi vendedor ambulante. Juntou dinheiro. Abriu um negócio

JIN SHAOBO aprendeu a falar português no contacto do dia-a-dia pela Internet (segundo ele, este último meio de comunicação facilitou muito as coisas). Vai todos os anos ao seu país. «Como tenho negócio, tenho de ir lá fazer as compras». Sim, gosta de cá estar, «enquanto se trabalhar», destaca. E, quando chegar a altura da reforma, tenciona voltar ao seu país. «Não há outra hipótese. Sempre pensei assim. Se não tenho nada para fazer, tenho de voltar».

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Solução na página Agenda de hoje Hoje: Céu muito nublado, com períodos de chuva fraca no litoral a norte do Cabo Carvoeiro

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Sol: Nascimento às 7h38. Ocaso às 18h02. MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 3h01 e às 15h37 Baixa-Mar às 9h30 e às 22h13

A Estrela Nova é animada por música. Uma após outra, várias se vão ouvindo. Jin confessa ter saudades da terra onde nasceu e cresceu. «É claro que tenho. Toda

a gente tem saudades da sua terra», frisa. Conta que, lá, «as cidades são grandes e bonitas». Não faz sugestões quanto a locais a visitar. Argumenta que tudo

depende do que se gosta. Mas, acaba por confirmar que em Pequim «há muito sítio especial». É, aí, que se localizam locais que muito contam sobre este país. Lá está a Cidade Perdida (outrora Palácio Imperial e hoje Palácio Museu), o Templo do Céu (desde 1998 considerado Património da Humanidade pela UNESCO), a Praça Tiananmen, a Universidade de Pequim e a Universidade de Tsinghua. É neste país que está a, também declarada Património da Humanidade pela Unesco (mas em 1987) e uma das Sete Maravilhas do Mundo (em 2007), Grande Muralha da China. Jin ensina este “ni hao”. Explica ele: «para nós lá, domingo é fim-da-semana. Lá, normalmente, não temos essa expressão [bom domingo]. Para cumprimentar é “olá”, “bom dia”». Então – e novamente – “ni hao”. Assim se termina. Por hoje. l


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31 DE JANEIRO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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“A Académica joga tanto na elegância”

Tóquio. Sayuri Goda estudava a língua portuguesa, no Centro Cultural Português. Havia um casal de portugueses que ali leccionava. O professor sonhava lá levar um grupo de fados de Coimbra. Conseguiu. Em 1999, Sayuri encontrou o Fado de Coimbra, «da forma mais concreta e mais profunda», conta ela. «Apaixonei-me logo, nomeadamente pela guitarra portuguesa». Portugal não lhe era desconhecido, quando em Setembro de 2002 veio com um objectivo bem definido: «aprender guitarra de Coimbra». Contam-se umas visitas feitas em 1995, 2000 e 2001, que lhe haviam mostrado, sobretudo, Lisboa. Pouco sabia de Coimbra, conhecia-lhe o fado. «Adorei», diz arrastando a última sílaba. «Costumamos brincar que Coimbra não é cidade pequena. É uma grande aldeia, porque todos se conhecem. Adorei mesmo esta convivência, a muita amizade». Faz a “primeira ponte” com Tóquio: «antigamente também tinha esse aspecto, só que a cidade cresceu. Hoje é gigante». Para Sayuri, Coimbra «é muito quente, muito familiar». Porquê esta cidade se a haviam desafiado a aprender guitarra em Lisboa? «Queria mesmo vir, porque o fado de Coimbra se baseia muito na praxe académica. Se queria aprender devidamente, tinha de estar aqui para ver como é que os

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estudantes vivem, como é que é o ambiente cá». Frequentou o Curso de Português para Estrangeiros. Confirma que há muitas diferenças entre a língua de origem e aquela em que hoje se expressa. «Por exemplo, os japoneses não têm o artigo». Frequentou o Curso de Especialização em Ciências Documentais. Hoje, está na biblioteca do Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra. «Quando vivia em Tóquio, já trabalhava numa biblioteca universitária. Mas, trabalhar no Japão e em Portugal é completamente diferente», assegura. Está a recuperar energias. «Acho que é isto o mais importante, recuperar o sentido de trabalho para servir alguém. Carregar as pilhas». Ri. «Estou a ajudar e a aprender mais coisas». Recorda um sonho de outrora: «queria ser assim como a minha mãe» que, durante 44 anos, trabalhou numa biblioteca escolar. Tornou-se, então, bibliotecária e foi no seu 11.0 ano de serviço no Japão que decidiu: «deixei a carreira, deixei a terra e cheguei cá». “É para ficar” É católica. Começou a frequentar a capela da universidade para «ouvir missa». É membro do coro da capela da universidade. Segundo ela, «para cantar nas missas tem que se ter muito cuidado com a pronúncia». Lembra uma cole-

ga, «que já foi para a terra», que a ajudou a corrigir-se. «Coro é coro. Várias pessoas ouvem sem ligar às nossas circunstâncias». Há outra paixão na vida de Sayuri. Segundo ela, «o futebol não é o primeiro desporto no Japão. Aqui, a capa dos jornais desportivos é quase sempre futebol». Lá, dão mais destaque ao basebol, ao atletismo e ao sumo («aquele desporto com homens fortes. Não estão todos nus, atenção»). No coro encontrou adeptos da Académica. No seu bairro também os havia. Todos lhe falavam «muitíssimo bem» do clube. Mas, naqueles primeiros tempos ela «não gostava muito da Académica». Olhava mais para o FC Porto, talvez por influência de uma colega sua que era, comunica rindo, «doidinha do Porto. Do Porto não, doidinha do José Mourinho». Como se “apaixonou” pela Académica? «Um dia fui fazer compras na loja da Académica, no Pavilhão OAF». Foi comprar lembranças para levar para o Japão. «Uma senhora que lá trabalhava perguntou-me se já tinha ido a algum jogo». Não tinha. Foi-lhe oferecido um bilhete para o Académica - Rio Ave. «Adorei», volta a arrastar a última sílaba. Perguntou-se mesmo: «porque é que nunca vim? Arrependi-me de nunca o ter feito». Porquê? «Foi tão engraçado, foi tão lindo». Sempre que pode assiste aos treinos. Tenta

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NOME: Sayuri Goda IDADE: 41 anos PAÍS DE ORIGEM: Japão LOCALIZAÇÃO: Coimbra PROFISSÃO: Bibliotecária EM PORTUGAL: há mais de sete anos

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Carina Leal

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A paixão pelo fado de Coimbra permitiu nascer uma outra paixão: a que sente pela Briosa

SAYURI GODA diz que Coimbra é muito quente e familiar

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DADOS

não falhar um jogo em casa e quando os jogos são fora e não pode ir, ouve na rádio ou vê na televisão. «A Académica joga tanto na elegância. O estilo do jogo é elegante, discreto, bem-educado», considera. Na sua primeira viagem fora, foi ver o Naval - Académica. «Foi quando o Domingos ganhou a primeira vez lá fora», relembra. É o nome de Domingos que se lê no livro que está sobre a mesa. O título “O que é que disseste Domingos?” guarda no seu interior recortes do que a imprensa noticia sobre o clube com que tanto simpatiza. Confessa, nas entrelinhas, que não apreciava Manuel Machado. «Mas, ele já está perdoado. Emprestou-nos o Bruno Amaro». Ri. «Agora sim» aprecia e vibra com o futebol. Agora sim gosta de coentros, «agradeço-o à comida portuguesa» e «à sopa alentejana». Aprendeu também a exprimir o que gosta. «Os japoneses não fazem muito isso. É da cultura», sublinha. Sayuri tem 41 anos, se pula de alegria ao ver a Académica marcar um golo, também gosta de passear de quimono numa cidade que a cativou. «É para ficar», confirma. Agradece aos portugueses pela forma como a receberam, a si e ao que trouxe de diferente. De sorriso fácil, voz ligeira e uma encantadora simpatia, Sayuri confessa os seus sonhos. «Quero ligar as pessoas através dos livros. Através da biblioteca, ligar o livro e as pessoas. Através do trabalho, ligar os portugueses e os japoneses». Nos portugueses encontrou o orgulho em “ser português”. «É algo que sonho ter». Vai mais longe: «ser conimbricense é dificílimo, mas eu tento ser. É um sonho ser conimbricense». Sayuri coloca muita estima em cada palavra, em cada frase, em cada recordação. Fá-lo igualmente quando é solicitada a ensinar como se diz “bom dia” (“ohayou”), “boa tarde” (“kon’nichiwa”) e “boa noite” (“konbanwa”). l

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Sol - Nascimento às 7h45 e às 17h53 Lua - Lua Cheia. Quarto Minguante às 23h48 de 5 de Fevereiro. MARÉS - Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 3h29 e às 15h54 Baixa-Mar às 9h48 e às 21h59

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14 19 31 35 37 41 38 RECTIFICAÇÃO I O Diário de Coimbra publicou ontem erradamente um dos números (era 43, e não 42) da combinação vencedora do último concurso do Euromilhões. Os números correctos são 9, 17, 30, 39 e 43, e as estrelas 5 e 7. Pedimos desculpa aos leitores. l

NAZARÉ

Acidente com tractor fez quatro feridos Uma colisão entre um tractor e quatro viaturas ligeiras provocou um ferido grave e três ligeiros ao início da noite de ontem no concelho da Nazaré, disse à agência

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Lusa fonte do Centro Distrital de Operações de Socorro de Leiria. O acidente ocorreu cerca das 19h10, na Estrada Nacional 8-5, em Marmeleira, freguesia de Valado dos Frades. No local estiveram 18 bombeiros das corporações da Nazaré e Alcobaça, apoiados por oito viaturas e uma equipa da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) das Caldas da Rainha. l

RECEBE ALGUNS DOS MAIORES ESPECIALISTAS

Óbidos acolhe II Simpósio Internacional de Castelos I O II Simpósio Internacional de Castelos, marcado para Novembro de 2011, será o ponto alto das comemorações do Centenário da Classificação do Castelo de Óbidos, apresentadas ontem na vila medieval. Depois da realização do primeiro simpósio em Palmela, Óbidos organiza a segunda edição da iniciativa que será comissariada pela arqueóloga Isabel Cristina Fernandes.

A iniciativa «contará com a participação de alguns dos maiores especialistas franceses, espanhóis, portugueses e ingleses, em castelos do espaço mediterrânico», disse à Lusa Miguel Silvestre, responsável pela Rede de Investigação, Inovação e Conhecimento de Óbidos. «Cientificamente é um evento da maior importância, dirigida a um público especializado que poderá ficar a conhecer as mais recentes investigações sobre castelos». O programa apresentado ontem assenta num conjunto de realizações que se iniciaram com as Nano Conferências, uma iniciativa que cruza exposições de arte com palestras científicas. l


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14 DE FEVEREIRO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT REDACÇÃO 239 499 900 PUBLICIDADE 239 499 999 ASSINATURAS 239 499 950 WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT

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“Foi começar do zero”

Carina Leal É alto. Muito alto. Estende a mão em jeito de “olá”. Fá-la acompanhar de um sorriso imenso, numa tarde que já se despediu e deu lugar ao anoitecer. Terminara a última consulta do dia. Daí a breves instantes, rumaria à cidade Invicta, ao Porto. «Muitos me perguntam se sou italiano», partilha Rajko Bjelanovic. Tem, efectivamente, uma pronúncia característica. «Eu sou sérvio e vivia na Croácia». Médico dentista de profissão, comunica nos seus 60 anos que «isto, para vocês, é um bocadinho difícil de perceber». O discurso é pausado. Nas palavras, que vão ao encontro do motivo que os fez, a ele e à família, chegarem a Portugal com apenas uns sacos nas mãos, sente-se tristeza, mágoa. Foi em Dezembro de 1993. Em 1991, a Croácia anunciava a separação do território jugoslavo. «Existe uma região, na Croácia, onde a maioria da população foi sérvia», conta referindo-se a Krajina. «Como nós sérvios, que aí

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vivíamos, não queríamos sair da Jugoslávia, fizemos um referendo. Decidimos ficar». A Croácia queria sair. Assim, principiou a guerra entre sérvios e croatas. «Infelizmente, alastrou-se». Os capacetes azuis chegaram ao território. Rajko não via fim à vista no que respeita ao conflito. Decidiu sair e, com a ajuda de dois polícias portugueses, alcançou Portugal, país que, segundo ele, «não pedia visto para entrar». Para trás ficara «uma vida boa. Deixámos um apartamento cheio, um consultório. Tinha quase tudo e perdi tudo. Infelizmente, quando, em 1995, a Croácia atacou Krajina ficou tudo queimado. Foi começar do zero». Não obstante, a esposa e os dois filhos ainda lá tenham regressado por uns tempos, Rajko decidiu não voltar mais. Em Coimbra, a «cidade nem grande nem pequena», encontrou pessoas simpáticas. «Felizmente acolheram-nos bem. Fizemos muitas amizades». Aquele sorriso volta a desenhar-se, sobretudo quando recorda amigos como Avelino Guerra e Pilar, Carlos Marques Pinto e esposa, toda a «equipa espectacular da clínica» situada no 5.o piso das Galerias Avenida onde, a cada quarta-feira, dá consultas. De muitos fala. Todos eles «nos ajudaram muito».

NOME: Rajko Bjelanonic IDADE: 60 anos I PAÍS DE ORIGEM: Croácia I LOCALIZAÇÃO: Porto I PROFISSÃO: médico dentista I EM PORTUGAL: desde 1993 I I

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Rajko agradece a todos os que ajudaram a família Bjelanovic

DADOS

RAJKO BJELANOVIC foi ajudado por dois portugueses na altura da guerra Foi sozinho que aprendeu a nova língua. Na altura, não havia dicionário de sérvio – português, logo houve que do sérvio ir até ao inglês e a partir deste, finalmente, descobrir o português. Solta um longo «ah, muito boa. Gosto muito de gastronomia portuguesa, bacalhau de todas as maneiras e cozido à portuguesa». O país «é muito bonito». Prefere as montanhas, pois gosta de caminhar, conhecer as aldeias, ouvir os pássaros. Aprecia as manhãs ao acordar. «Fantástico». “Burocracia é horrível” Esperava mais deste ibérico país. Foi-lhe difícil, apesar dos 17/18 anos de actividade na Croácia, conseguir exercer a profissão para a qual se formara em Bel-

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LOCAL MIN MAX AVEIRO 7º 14º BRAGANÇA -4º 7º CASTELO BRANCO 5º 10º FARO 13º 14º FIGUEIRA DA FOZ 9º 10º GUARDA -3º 4º LEIRIA 8º 12º LISBOA 8º 11º PORTO 6º 13º VISEU 2º 9º HOJE: Tempo frio com céu pouco nublado, tornando-se muito nublado, de sul para norte, com períodos de chuva ou aguaceiros. Queda de neve acima dos 800/1000 metros. Vento fraco a forte nas terras altas. SOL:- Nascimento às 7h30 Ocaso às 18h10 MARÉS PORTO DA FIGUEIRA DA FOZ Preia-Mar às 3h10 e às 15h28 Baixa-Mar às 9h28 e às 21h32

grado. «Demorei quase quatro anos, gastei muito dinheiro. Perdi toda a esperança». Mas, conseguiu. «A burocracia é horrível», frisa. Foram precisos 16 anos para que a nacionalidade portuguesa lhe fosse atribuída. É, neste sentido, que expressa um desejo: «gostava que Portugal se organizasse um bocadinho melhor. Tem possibilidade, mas falta-lhe a vontade». É, visivelmente, um pai muito orgulhoso. «Felizmente tenho dois filhos muito, muito bons.

Agora também tenho uma nora», partilha de brilho no olhar. O mais velho é formado em Fisioterapia. O mais novo joga andebol no Sporting. É, igualmente, membro da selecção portuguesa de andebol. «É um sucesso muito grande. Não é fácil chegar lá. É preciso muito trabalho», destaca. Bosko começou a jogar em Belgrado. Em Coimbra, integrou a equipa de juvenis da Académica, tendo o próprio pai feito parte dos corpos dirigentes do clube. Com 15 anos, foi convidado para

a equipa do FC Porto. «Não queríamos deixá-lo ir sozinho. Então, fomos viver para o Porto. Comprámos casa e abrimos uma clínica nossa». «Muitas». São estas as saudades que sente quando olha para trás, quando recorda a vida que, em Kistanje – Knin, «não podia ser melhor. Escolas grátis, hospitais grátis». Gosta muito do povo português. Considera, contudo, o país «muito» triste. «Cá há muitos créditos. Todos querem uma vida espectacular de um dia para o outro». Lá, «aproveitava-se cada situação para cantar, dançar, rir. Ansiolítico, depressão conhecia-os o médico, porque era médico». Em casa, os quatro falam sérvio. Vêem televisão sérvia. Cozinham pratos sérvios. Tentam manter as tradições. Como cristãos ortodoxos regem-se pelo calendário juliano. É Rajko quem hoje dá a lição, e em sérvio. , o mesmo será dizer “Feliz Feriado” (Sretchan Praznik). l


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21 DE FEVEREIRO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT REDACÇÃO 239 499 900 PUBLICIDADE 239 499 999 ASSINATURAS 239 499 950 WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT

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Carolyn dá uma lição de ternas palavras Carina Leal I São histórias. São histórias de vida. Este domingo conta um pouco da família de Carolyn Persis Cemlyn-Jones. Narra a própria no conforto do lar. Avenida Dias da Silva, Coimbra. «Sinto-me mesmo conimbricense». Di-lo. Carolyn tem 66 anos. «Nasci em Dublin, na Irlanda, mas sou inglesa». Em Setembro de 1972 veio com o marido para Portugal. Pensavam ficar só três anos. Mas, os anos, esses, correram. O marido leccionou no British Council. Dedicou-se, também, à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC). «Adorou o trabalho dele lá», comenta. Desconheciam este país onde, no início, caía tanta chuva. Carolyn estava grávida. Já tinham uma filha. «Houve algumas dificuldades, mas as pessoas foram sempre muito amigáveis». Também ela deu aulas no British Council (ou Casa de Inglaterra como tantas vezes lhe chama). A FLUC fez parte do seu percurso. «E depois, não sei como, tornei-me directora do British Council, em 1979». Foi-o até Julho de 2008. Uma experiência

«muito interessante». Relembra o começo. Havia aquela insegurança de a instituição poder fechar. Todavia, «foi ficando cada vez mais independente». O número de alunos cresceu. Muitos são os que, nela, aprendem. «Fiz muitos amigos dentro da casa». E fora também, comunica-o num sorriso coberto de doçura. Anos antes. 25 de Abril de 1974. Carolyn escutou o marido chamá-la: «olha isto na rádio». Acontecia a Revolução dos Cravos. «Nós fomos trabalhar. Vimos as notícias através da BBC». Diz que, antes disso e apesar de aparentemente não haver um ambiente de medo, ele existia. «Só se falava de futebol». Depois, a política tornou-se no assunto dominante. «Nos meses seguintes, era mais difícil avaliar o que estava a acontecer. Os nossos amigos, na Inglaterra, tinham mais noção do que nós». “Não é Antônio, mas António” Sempre falou Inglês, fosse no trabalho ou em casa. Só quando se reformou é que teve oportunidade de iniciar um curso de português na FLUC. O contacto com a língua portuguesa acontecia nas lojas, cuidados de saúde ou assuntos domésticos (como a canalização). Os portugueses «faziam sempre esforço para entender. Às vezes repetiam as palavras correctas: “não é cenhouras, mas cenouras”».

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Ri. Foi nas aulas que se deu conta dos erros: «verbos, tempos, estrutura da língua». Hoje, é a neta de três anos quem a corrige. «Diz-me que não é Antônio, mas António. Ela é completamente bilingue». Outro neto, com 7 anos, também a ensina, mas a matéria é diferente: futebol. Relembra o Euro 2004, «tinham medo dos adeptos ingleses. Mas, o ambiente em Coimbra foi tão bom». Por quem torceu no Portugal x Inglaterra? «Era a única que apoiava a Inglaterra. O resto da família apoiava Portugal». Um segredo? Gosta da Académica. Divide-se entre Lisboa, onde reside a filha mais velha, e Coimbra, à qual está muito ligada. Sente-se parte da cidade e da universidade. Tem casa no País de Gales. Caracteriza-o como «muito bonito». Aconselha a que o visitem. «As viagens são cada vez mais fáceis. Nos anos 70/80 era muito caro. Íamos uma vez por ano». Essas mesmas viagens, foram e são muito importantes, já que permitiram às filhas e, por estes dias aos netos, conhecer as raízes. Olharam para o seu país como turistas. Descobriram-lhe outros encantos. «Ficamos mais conscientes das mudanças. Em Portugal também são óbvias». Se outrora sentiu que Coimbra tinha pouco destaque a nível nacional, considera que «o seu papel está a crescer». Adora o Parque Verde do Monde-

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COIMBRA 13º 17º Hoje: Céu muito nublado com períodos de chuva ou aguaceiros, por vezes fortes e possibilidade de trovoadas. temperatura, em especial da mínima. MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 00h50 e às 13h12 Baixa-Mar às 7h01 e às 19h29

LOCAL AVEIRO CASTELO BRANCO COIMBRA FARO FIGUEIRA DA FOZ GUARDA LEIRIA LISBOA PORTO VISEU

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“Sinto-me mesmo conimbricense”

CAROLYN foi directora do British Council go, a Baixa. Refere vários sítios que têmsidoalvodeintervenção:«exactamente, Coimbra tem mais orgulho em si». Solta: «é uma cidade que temalma». É reformada. «Cá não há muitas coisas que possamos [reformados] fazer como voluntários», comenta. Explica que, na Inglaterra, não há o hábito de desejar um “bom fim-de-

semana”. «Portugal tem muito essas frases, como “boa continuação”». Como professora, numa pronúncia que tanto carrega na voz, ensina “bom dia”. “Good Morning”, na língua onde não há acentos. Na língua onde os alunos portugueses mostram ser, e segundo ela, «fantásticos. Fico sempre impressionada», comunica. l

DADOS NOME:Carolyn Cemlyn-Jones IDADE: 66 anos I ORIGEM: Reino Unido I PROFISSÃO: Reformada I EM PORTUGAL: desde 1972 I I


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28 DE FEVEREIRO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT REDACÇÃO 239 499 900 PUBLICIDADE 239 499 999 ASSINATURAS 239 499 950 WWW.DIARIOCOIMBRA.PT WWW.DIARIOCOIMBRA.PT

VIDA DE IMIGRANTE

“O que é importante é ser feliz. Portanto, sejam felizes” Relatou num jornal, “propriedade sua”, as peripécias que viveu Eles, os três filhotes, estão sentados à mesa. Sobre essa mesa estão cadernos, livros, lápis e canetas. Se deitam umas olhadelas à tarefa que têm de executar, também os conquista a curiosidade causada por um gravador que regista as palavras da mãe. Elas, as gémeas, e ele, o mais novo, parecem orgulhosos. Karina Guergous, a mãe, tem 35 anos. É funcionária da Câmara Municipal de Pombal (CMP), na Loja Ponto Já. Considera que, nesta terra, se está a desenvolver «um desafio interessante para a juventude». Próxima está a «primeira Semana da Juventude do concelho de Pombal». «Sim, muito trabalho», diz sorrindo. Desafio e aventura são as palavras que, esta Karina com “K”, mais refere. Foi ela própria quem partiu à aventura e aceitou desafios. Chegou há 12 anos. «Sou franco-argelina», comunica. Paris é a sua cidade. França o seu país. «Comecei a namorar com um luso descendente. O sonho dele era vir para cá». Deixaram a terra dela rumo à terra dele. Karina tinha por cá passado em tempos de férias. As cores, o sol haviam-na conquistado. Morar, isso, «foi menos agradável». O seu discurso é sempre, mas sempre, alegre. «Foi no Inverno, em Janeiro. Fomos viver para casa dos pais dele, que eram emigrantes em França». Foi aí que se deu conta de todo o conforto que tinha em França. «Para ter água quente, tínhamos de fazer fogueira para aquecer a caldeira. Para mim, era o fim do mundo». A sua formação, em Marketing, cá não lhe foi reconhecida. A outrora responsável pela rede de parafarmácias, começou «do zero, sem poder aproveitar a experiência profissional», sublinha. «Cheguei a fazer a loiça num restaurante». Quando se lhe per-

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gunta se o “fazer” significa “lavar”, solta uma enorme gargalhada: «lavar. Isso, isso!». O que sempre quis? «Trabalhar, afirmar, integrar». Esteve num escritório, onde fez frente às dificuldades ao nível da língua e escrita. Diz que poderá ter sido o espanhol, que aprendera na escola, a ajudá-la. «Só que agora sou incapaz de falar espanhol. Percebo, mas respondo sempre em português. Perguntam se sou brasileira, porque pelos vistos falo mais a cantar». Entende-se na perfeição. Por vezes, lá há um “ei” ao qual falta o “i”. Lutadora. É-o. Enquanto esteve em casa, «mesmo sem saber como funcionava», respondeu a concursos que apareciam nos jornais. Sentia não ter nada a perder. Houve um agrupamento de escolas que a contactou. Ficou como auxiliar de acção educativa. «A aventura no jardim-de-infância(...)». Ri, uma e outra vez. «Foi uma experiência muita gira. Permitiu-me aprender os costumes e

DADOS NOME: Karina Guergous IDADE: 35 anos I ORIGEM: França I PROFISSÃO: funcionária da Câmara de Pombal I EM PORTUGAL: há 12 anos I I

KARINA GUERGOUS faz parte do Teatro Amador de Pombal hábitos portugueses, as canções infantis, os contos». Em 2004 entrou para a CMP, onde trabalhou no serviço de educação, no gabinete de apoio aos vereadores. «Foi muito bom, uma aventura muito enriquecedora». Chegou, “nos entretantos”, ao espaço onde funcionava a ludoteca (que foi transferida) e a Loja Ponto Já, um Celeiro que, na Praça Marquês de Pombal, “fala” da história deste país. Teve alguma dificuldade com as etiquetas, «os doutores», mas habituou-se. Considera ter facilidade de comunicação, algo que tem como essencial no trabalho com os jovens.

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“Paris nas veias” Enérgica, Karina confessa que, no início, fez um jornal onde relatou as suas peripécias aos familiares e amigos que permaneciam em França. Hoje, com a Internet constrói um blogue. Faz parte do Teatro Amador de Pombal (TAP). Define-o como «um mundo fabuloso». Brilham-lhe os olhos ao enumerar os trabalhos que têm em cena. Brilham-lhe os olhos, ainda mais, ao dizer que os seus filhos adoram as viagens a França, que falam francês (até porque faz mesmo questão que assim seja). Perguntam-lhe como é a Argé-

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Hoje - Céu muito nublado com períodos de chuva ou aguaceiros, por vezes fortes, granizo e possibilidade de trovoada. Queda de neve no Interior, acima dos 800/1000 metros, subindo a cota 1400 metros durante o dia. Vento fraco a muito forte nas terras altas, com rajadas até 90 km/h. Descida da temperatura. Sol - Nascimento às 7h10 Ocaso às 18h26 Lua - Lua Cheia. Quarto Minguante às 15h42 de 7 de Março.

PATROCÍNIO: MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 8h46 e às 20h59 Baixa-Mar às 2h28 e às 14h52

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lia, a terra do avô. «Paris correme nas veias. É a terra da diferença, da tolerância. É uma terra de acolhimento», afirma. Sozinha com os filhos em Portugal, diz ter já colocado a possibilidade de voltar. Mas, «acho que gosto muito mais do que penso. Os meus filhos estão bem. É um meio muito agradável para crescer. Só voltaria se, realmente, a nível financeiro não me safasse». Não esconde sentir que

«aqui o social está um bocadito limitado». Karina considera que o tempo «influencia bastante a moral e a boa disposição das pessoas». Confessa que, quando regressa à Cidade das Luzes, «é como se nunca de lá tivesse saído». Por outro lado, «quando lá estou já tenho saudades daqui». Termina assim: «o que é importante é ser feliz. Portanto, sejam felizes». l


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7 DE MARÇO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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VIDA DE IMIGRANTE

“Onde estamos é o nosso país, a nossa terra” Carina Leal O incenso perfuma um ambiente, cujas cores – preto e vermelho –, o fazem quente e acolhedor. Shuhrat Majidov convida, numa pausada e calma voz, a entrar na sua morada que, também, é sede da empresa “Construções Somos Nós”. Condeixa-a-Nova. Ainda é manhã. Shuhrat (cujo “h” não é mudo, como acontece na língua portuguesa) é empresário, na área da construção civil, com 34 anos. Ouviu, em anos idos, falar de um país chamado Portugal. Ficou interessado. Chegou em Dezembro de 2001 para passear, ver. «Ficar aqui só dois, três meses e depois voltar», conta ele. Gostou. Ele próprio o refere. Ficou. «Gos-

tei do tempo, primeira coisa», assume, dizendo que aprecia a chuva. «Eu tinha uma doença aqui», Shuhrat toca no peito, «e desapareceu tudo, isso ajudou». O seu país? Uzbequistão. «Nada… Zero». Não compreendia a língua portuguesa. «Entrei numa fábrica para trabalhar. Ajudou-me a aprender a contar». Enumera: «um, dois… até ao milhão». É ele quem pergunta para depois responder: «Porquê? Porque era uma fábrica de vasos e tínhamos marcações». Lá trabalhava Paulo, um português, que «sempre me ensinava». Foram cinco meses. Cinco meses em que aprendeu a exprimir-se em português, enfrentando as circunstâncias do dia-a-dia. Hoje, não mostra dificuldades em conversar num registo marcadamente fluido. Shuhrat defende que «onde estamos é o nosso país, a nossa terra. Sempre digo isso. Porquê? Porque se não gosto não vale a pena ficar». Sim, gosta de estar por cá. Morou primeiro na zona de Águeda, passou

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DADOS NOME: Shuhrat Majidov IDADE: 34 anos PAÍS: Uzbequistão LOCALIZAÇÃO: Condeixa PROFISSÃO: empresário (construção civil) EM PORTUGAL: desde 2001

por Taveiro e está, há um ano, em Condeixa que caracteriza como «calminha». Receberamnos, a ele e à família, «sempre bem». Foi trabalhando, batalhando que criou o seu negócio cá. «É possível quando queremos fazer alguma coisa. Quando só pensamos e não começamos isso é complicado». Não esconde uma fase inicial menos fácil. «Ninguém me conhecia». Passaram os anos. «Neste momento tenho 12 empregados». E obras em curso. E a crise? Refere não a ter sentido. «Há crise, mas temos de aguen-

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Hpje: Céu muito nublado, com abertas durante a tarde. Aguaceiros fracos, que serão de neve acima dos 1200 metros.Vento fraco a moderado. Neblina matinal. Pequena subida da temperatura máxima. Sol: Nascimento às 7h01. Ocaso às 18h33 Lua: Quarto Minguante. Lua Nova às 21h01 de 15 de Março. MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 1h18 e às 13h38 Baixa-Mar às 7h34 e às 20h03

LOCAL MIN MAX AVEIRO 10º 17º CASTELO BRANCO 5º 13º FIGUEIRA DA FOZ 11º 16º LEIRIA 9º 15º PORTO 9º 16º VISEU 2º 11º COIMBRA 6º 15º

FERREIRA SANTOS

Todos os anos visita os seus, porque as saudades apertam

SHUHRAT MAJIDOV caracteriza, a sua cidade, Samarkand, como «muito bonita» tar tudo». Shuhrat dá uma lição de optimismo: «há pessoas que ganham um milhão e sempre choram. Eu ganho um euro e nunca choro». Quando escolheu deixar de estudar, a professora tentou incentivá-lo a não o fazer. Aos 14 anos importava vacas e bois. Trabalhou na Rússia, também na importação, mas de roupas. Não há voos directos de Portugal para o Uzbequistão. Faz, todos os anos, a viagem de cerca de 40 horas, com escalas em Kiev ou Amesterdão, para reencontrar a família «muito, muito grande». «Senão, as saudades não deixam aqui o coração». Sente-se emoção nas palavras, na expressão. «O meu sangue caiu lá. É aquele sangue que sempre puxa. Esse sangue é a nossa família». A sua cidade? Samarkand. «Também tem muitas coisas turísticas. É muito bonita a minha cidade, onde eu nasci. Vivi lá até aos 25 anos». Recorda-a a cada instante. «Não a posso esquecer. Mesmo quando ando aqui nas ruas de Condeixa, em Portugal, nos meus olhos estão as ruas de Samarkand». Já lhe perguntaram ao ver umas fotografias: “então mas no Uzbequistão também têm vacas?”. «Nós temos tudo o que há aqui, a mesma coisa», respondeu então. Nasceu lá, o pai também,

mas a origens da família remontam ao Irão. «Nunca fui lá. Não conheço nada». Shuhrat define a vida como «um circuito». «É assim. Uns vão, outros entram». Dá o exemplo dos portugueses que emigram, para concluir que «há aqueles que vêm para cá». Se é para ficar? Segura por breves instantes as palavras. «Não é segredo,

qualquer dia volto. A minha terra é a minha terra». É início de Março. É possível que no Uzbequistão esteja a nevar. Segundo ele, o alfabeto que neste momento utilizam é o latino. «Antigamente estudávamos cirílico, depoismudaramtudo».Éemuzbeque que hoje se deseja “um bom domingo”. “Hayirci Yaksaanba”. l


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14 DE MARÇO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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VIDA DE IMIGRANTE

“É como voltar a nascer” Carina Leal Aventureiro se percebe nas palavras. Um alegre aventureiro, sublinhe-se. Desafia «toda a gente a conhecer outras culturas, a mexer-se, viajar, ampliar a mente». Se aconselha a que se faça uso da “veia aventureira”? «Acho que sim, porque se vai ver coisas de uma forma completamente diferente e estar aberto a outras situações». Ele, um alegre aventureiro de discurso veloz («característica argentina», afirma-o), é Sebastian Espinosa. Há oito anos que se mexe pelo mundo. «Histórias há muitas», diz. Vem da Argentina, um extenso país que, segundo ele, pode levar três a quatro meses a conhecer realmente bem. Recomenda, então, «muitos dias e paciência» para uma possível aventura, da qual «acho que iam gostar muito». Ele, o alegre aventureiro de profundo olhar, desde que saiu da sua terra, Buenos Aires, não mais lá voltou. «Já me toca. Tenho muitas, muitas sau-

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dades. Principalmente da carne de vaca, não há como a nossa». E não é que coloca aquela deleitada expressão de quem, por breves instantes, a saboreia? Brinca. Amarelo, azul, vermelho, outras cores preenchem os negros traços que se desenham no braço esquerdo de Espinosa. Também o direito tem formas tatuadas. São «as voltas da vida», solta ao explicar a sua chegada a Portugal, vindo de Espanha. Foi «há já três anos e pouco» que conheceu Aveiro. «Se passei uns sete meses ao princípio que foram muito, muito difíceis, não estou nada arrependido». Foi uma mudança. Uma aventura. Um novo desafio. «Começar outra vez do zero e aprender. É como voltar a nascer, porque não sabes falar, onde comprar, onde ir ou não ir». Não esconde algum desespero. «Quando começas sempre tens medo de algo. Portugal não era o meu país. Se vinha com trabalho e um apartamento alugado, não sabia como ia correr». Passou por Viseu, chegou a Coimbra. «Adoro», é rápido na afirmação e justificação: «primeiro porque é a maior das cidades onde já estive aqui. Segundo, porque tenho raízes aqui: a namorada, a loja, as amizades. Realmente estão todos aqui».

DADOS NOME: Sebastian Espinosa IDADE: 31 anos I PAÍS: Argentina I LOCALIZAÇÃO: Coimbra I PROFISSÃO: Empresário (Tatuagens e Piercings) I EM PORTUGAL: há mais de três anos I I

“Sabeis que sou uma pinturinha” Loja? Sim. A Power Tattoo & Piercing que, no Centro Comercial Golden, oferece uma privilegiada vista para a Avenida Sá da Bandeira. Vai fazer um ano desde que abriram portas. «As coisas estão a correr bem. A gente está a gostar e a responder. Estamos a ver os frutos de tudo aquilo que sonhámos». Fala no plural, num “nós”. A seu lado tem o irmão, Fernando Espinosa. Arte? «É arte. Ou penduro o quadro em casa ou penduro-o no meu corpo. Vós sabeis que sou uma pinturinha». Brinca uma vez mais. Considera que, em Portugal, ainda se associa muito tatuagem e piercing «à malta rebelde», mas essa é uma ideia que já está a mudar.

CARLOS ARAÚJO

Quis olhar para o futuro. Assim partiu, rumo à Europa

SEBASTIAN ESPINOSA desafia a que se conheçam outras culturas Há «muitos anos» que se dedica ao ofício. Deu os primeiros passos ainda na Argentina. Há as tatuagens da moda: «estrelinhas, borboletas ou tribalzinhos». Há quem tatue em Chinês ou Árabe. «Ficam bem, mas não consideramos isso arte. São rabiscos». Sebastian comunica naquelas sentidas palavras de quem tanto gosta do que faz: «arte é tentar expressar determinadas situações vividas ou sentimentos que podes ter». Primam por executar trabalhos originais. «Primeiro há que tentar reduzir o número de possibilidades dentro dos estilos diferentes, porque desenhos podem fazer-se milhões e milhões e milhões». É alcançar a ideia, depois adaptá-la ao corpo e concretizar. Se se tatua mais num sítio ou noutro? «Não, é em todo o lado». Está sempre a aprender. A sua pronúncia é acentuada.

É como se tivesse musicalidade na voz. Tem mesmo. «Perceber, percebo tudo». Ajudou-o a televisão, os filmes legendados em português. «Aqui há muita telenovela», acentua. Os amigos que ganhou foram fundamentais nesta tarefa. «Lamentavelmente, quando chegamos, o que aprendemos primeiro é o calão, a dizer asneiras. Mas não o fazemos de propósito». Explica que quando cá chegou, as pessoas se «esforçaram por falar o meu idioma, coisa que eu queria ao contrário, porque tinha de aprender. Isso é algo de que muito gosto, a gente a esforçar-se». O seu prato preferido? «Carne de porco à alentejana», responde. Também aprecia o bacalhau, seja à brás ou com natas. «A gastronomia europeia é bastante conhecida, porque nós na Argentina temos uma mistura europeia.

Somos descendentes de italianos, espanhóis, portugueses, alemães», conta. Nos seus 31 anos, sente que veio para ficar. Partiu a pensar no “amanhã”. «Quando saí da Argentina tinha claro que seria mesmo complicado fazer ali um futuro, pela situação política e social. Trabalhar 40 anos da tua vida para que um político te tire tudo de um dia para o outro não é nada agradável». Quis, assim, olhar para um futuro, «em que queres ter filhos, casar-te». Alcançou a Europa. Define-se uma «pessoa como as demais». Sabe que «fazer um nome e um trabalho que na rua se deixe falar por si próprio é muito difícil». Mas ele, um alegre aventureiro de profundo olhar, tem amor à arte. É a sua vez de ensinar algo no seu idioma, o espanhol: «Q’tengas un buen dia» (“que tenhas um bom dia”). l

NUMA QUINTA EM S. JOÃO DA LOUROSA

Dois homens armados roubaram ouro e dinheiro Dois homens armados e encapuzados assaltaram ontem à tarde uma quinta em S. João da Lourosa, tendo roubado ouro e dinheiI

ro, revelou fonte da GNR de Viseu. Segundo o comandante do Destacamento Territorial de Viseu da GNR, sob a ameaça de

uma arma de fogo e de uma faca os homens apoderaram-se de objectos em ouro e dinheiro, cujo montante ainda não foi apurado. Os dados disponíveis indicam que os assaltantes chegaram a pé à quinta e abandonaram-na da mesma forma. l

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I O Programa Operacional Potencial Humano distinguiu ontem dois portugueses que concluíram o 12.o ano com apoios do Fundo Social Europeu, atribuin-

do-lhes «vouchers» de estudo. Um dos vencedores do concurso “Grande Será o meu Futuro” é Joaquim Santos, que abandonou os estudos antes de com-

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PROGRAMA OPERACIONAL POTENCIAL HUMANO pletar o 9.o ano e que hoje está a completar um mestrado na Universidade de Coimbra, depois de ter tirado o 12.o ano através do programa Novas Oportunidades. Joaquim Santos, que trabalhou na área do jornalismo, recebeu um «voucher» de 3500 euros. I

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Distinguido aluno de mestrado na Universidade de Coimbra

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Hoje - Céu limpo. Vento fraco a moderado nas terras altas. Acentuado arrefecimento nocturno com formação de geada no Interior. Pequena subida da temperatura máxima. Sol - Nascimento às 6h49 Ocaso às 18h41 Lua - Quarto Minguante. Lua Nova às 21h01 de amanhã. MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 2h05 e às 14h22 Baixa-Mar às 8h10 e às 20h18

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VIDA DE IMIGRANTE

No Peru, as pessoas são “muito alegres” Carina Leal Sexta-feira, 19 de Março. Hugo levou o filho à escola. Fá-lo todos os dias. «Oh pai, toma», disse-lhe Miguel que, nos seus 7 anos, se apressou por explicar os desenhos. «Deu-me uma prenda», conta Hugo. «Alegrou-me o dia. Tudo o que está para trás uma pessoa esquece». É de uma semana que «foi um caos» que fala. «O meu filho é um orgulho para mim». [Era Dia do Pai.]

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Hugo Oviedo Ocampo é natural do sul do Peru. «Mesmo da cidade que faz fronteira com a Bolívia»: Puno. Chegou a Portugal há 11 anos. «É uma história muito comprida, dava para fazer um livro», brinca. Residia em Madrid – cidade que o recebeu ainda «muito novo» - quando numas férias conheceu «a pessoa que me trouxe cá». Em Coimbra residiam (residem ainda) uns tios. «Vim cá por amor», partilha. Vindo de um sítio maior, confessa ter-se assustado. Momentos houve em que se perguntou: «onde é que eu estou?». Corria o ano de 1999. Os portugueses, esses, receberam-no bem. «Muito

acolhedores, simpáticos». Refere-se à disponibilidade que demonstraram em integrar quem vinha de outro(s) país(es). «Houve quem tentasse falar a nossa língua para que nos sentíssemos um pouco em casa», remata. Tem 31 anos e é sócio-gerente da Marca d’Água, empresa com sede no número 275 da Rua Carlos Seixas, em Coimbra. Criada em Abril de 2007, dedica-se à construção, renovação e manutenção de piscinas. «É uma área bonita», afirma. «Não sentimos a crise. Está a ser mais complicado pelo tempo». A chuva teima em cair. Começou por trabalhar na Makro. «O meu sócio foi um dos

FERREIRA SANTOS

Machu Picchu, Linhas de Nazca e Puno. Uma viagem até ao Peru? DADOS HUGO OVIEDO OCAMPO é sócio-gerente da Marca d’Água amigos que fiz nessa altura». Lembra Carlos Mendes: «um senhor que confiou e arriscou em mim, a quem devo muito, porque foi graças a ele que comecei a evoluir em todos os sentidos». Está ligado à área da construção de piscinas desde 2000. Comunica que lhe foi «relativamente fácil» aprender a língua portuguesa. Ajudaram-no. Fez-se, ainda, acompanhar de um dicionário de Português – Espanhol. «Andava ali a riscar palavra por palavra. Havia algumas que já sabia que não podia dizer para não ficar envergonhado». E, se necessário fosse, também se misturavam as duas línguas. Houve quem lhe tivesse perguntado se era natural do Brasil, México, Venezuela ou Marrocos. Foram poucos os que acertaram na sua nacionalidade. «A mais engraçada foi um médico que olhou para mim e disse: “é ucraniano?”». Hugo respondeu-lhe: «É doutor, deve ser pelos meus olhos azuis». O seu acastanhado e sereno olhar ri ao reviver a situação.

“País carnavalesco” Reencontrou há dois anos, o seu país. A sua terra. Os seus, por ocasião dos 55 anos de casados dos avós. «Saudades» é a palavra (e o sentimento) que lhe escapa. Não ia lá fazia, então, 14 anos. «Já vivo na Europa há bem mais de 17 anos. Só depois de ter voltado de férias ao meu país é que me senti, pela primeira vez, estrangeiro por cá». Não lhe é fácil explicar. Fá-lo: «as pessoas são muito mais alegres, tranquilas. É um país pobre, mas apesar da pobreza é um país muito carnavalesco. Fazem festa por tudo e por nada». A sua família é «muito unida. Nas bodas conseguimos juntar cento e tal familiares. Foi isto que pesou na minha volta». Machu Picchu, Linhas de Nazca e a cidade onde nasceu são os sítios que aconselha para quem quiser visitar o Peru. «E de preferência no Carnaval que é completamente diferente do que se vive no Brasil. As ruas enchem-se para ver danças típicas». Não fosse este um país de comida

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picante, a sugestão de Hugo tem um condimentado sabor e destina-se a quem gosta de peixe: ceviche. «Nós no Peru somos muito, muito patriotas», completa. Hugo gosta de Portugal, «de Coimbra principalmente, uma cidade onde, e por ser pequenita, acabam todos por se conhecer». “Que lo pases bien” (“que tenhas um bom dia”), é o ensinamento que redige na folha de papel, instantes antes de desligar o computador na Marca d’Água. A semana terminou. É Dia do Pai e, por isso, se prepara para ir jantar com Miguel, «que me mantém por cá». É um dia especial para Hugo. «São coisinhas destas que fazem com que o nosso dia-a-dia seja bom. O Miguel faz com que me sinta feliz». É mesmo felicidade que ostenta quando acerca dele se pronuncia. l

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I NOME: Hugo Oviedo Ocampo I IDADE: 31 anos I PAÍS DE ORIGEM: Peru I LOCALIZAÇÃO: Coimbra I PROFISSÃO: Sócio-gerente I EM PORTUGAL: 11 anos

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Hoje: Períodos de céu muito nublado com aguaceiros, especialmente no Sul.Vento fraco a moderado. Neblina matinal.Pequena descida da temperatura mínima. Sol: Nascimento às 6h37. Ocaso às 18h49 Lua: Lua Nova. Quarto Crescente às 11h00 de 23 de Março. MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 5h53 e às 18h13 Baixa-Mar às 11h48

LOCAL AVEIRO CASTELO BRANCO FARO FIGUEIRA DA FOZ GUARDA LEIRIA LISBOA PORTO VISEU

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28 DE MARÇO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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VIDA DE IMIGRANTE

“Orgulho-me de ser imigrante” Carina Leal “Parla Piú Piano”. A música fá-lo recordar a aldeia onde cresceu: Graniti. Leva-o a abrir o baú das memórias para daí retirar momentos em que o cineasta Francis Ford Cappolla gravava cenas do filme “O Padrinho. Parte II”. Nessa aldeia «muito pequenina», vivia Giovanni D’Amore que, desses seus 6 anos, guarda «recordações fantásticas». Afirma-o. “Parla Piú Piano” é uma de 12 músicas com significado para si. Escolheu-as para formar o álbum “Íntimo” e, desta forma, assinalar 30 anos de carreira. Tem 44 anos. É cantor lírico. Tenor, assim define a voz. Parque Dr. Manuel Braga, Coimbra. O Basófias terminou mais uma travessia pelo Rio Mondego. Atracou para permitir a um grupo de crianças descer em direcção a solo firme. Giovanni quis conversar ali, no Restaurante Itália, onde a língua italiana, aquela com que cresceu, se escuta sempre. «São cantinhos como este onde, de vez em quando, gostamos de encontrar as nossas raízes, tradições», confessa. «Seria hipócrita

se dissesse que não tenho nostalgia, saudades do meu país». Nasceu em Taormina. Cresceu em Graniti, onde residem os pais. Sicília. «Engraçado, Portugal estava no meu destino», conta. Falhara, em 1991, uma viagem com o Coro Polifónico da Universidade de Parma que o levaria até Espanha e Portugal. Foi, então, em 1993 que teve o primeiro contacto com o país de Camões. «Não cá, mas em Itália», já que fora convidado a acompanhar a digressão do Coro Misto da Universidade de Coimbra. «Aí, cruzei-me com as tradições e usos deste país». Surgiu a oportunidade de um coro italiano visitar Portugal. Com ele viria Giovanni. «Gosto muito de história. Vi este país tão pequenino. Apaixonou-me um sítio tão verde, com tanta riqueza». Vir para cá não era ainda uma possibilidade. «Sempre pensei, como artista e músico, viver na América». Certo é que a vida dá voltas. Deslocou-se a Portugal por diversas vezes. «Aconteceram-me várias coisas», comenta. «Escolhi-o como país para passar férias, vir cantar». O seu pri-

EM 24 HORAS

Detidas 155 pessoas em operação nacional da PSP A Polícia de Segurança Pública deteve 155 pessoas numa operação nacional de 24 horas denominada “Nós Providenciamos Segurança”, segundo dados do gabinete de imprensa daquela força de segurança. A operação, que decorreu das 7h00 de sexta-feira às 7h00 de ontem, envolveu todos os comandos nacionais, do continente e ilhas. Mais de metade das deten-

meiro recital aconteceu numa sala que define como «magnífica»: Teatro Académico de Gil Vicente. Passou pelo Teatro Paulo Quintela, na Faculdade de Letras. Foi convidado na inauguração da Estátua de João de Deus, no Penedo da Saudade. É em 1998 que vive um momento que se percebe muito significativo: «fui convidado para cantar em Fátima, nas celebrações de Maio». Conhece, então, pessoalmente o Papa João Paulo II. Construíram uma amizade através da “palavra escrita”. É neste mesmo ano que também conhece Amália. Estava «na Praça da Alegria, com Luís Goucha e Sónia Araújo, quando chega um telefonema em directo de Amália Rodrigues. Nem acreditava». Há contentamento nas palavras de Giovanni. É em 2003 que decide ficar. «Orgulho-me de ser imigrante», reforça. «Imigrante é alguém que tem a possibilidade de viajar, ver e aprender». Recorda uma canção que diz «que a vida é um livro aberto, onde escrevemos a nossa história». É por cá que compõe a sua. «Espero poder contribuir com a minha voz

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Giovanni D’Amore sublinha o quão importante é aproveitar e proteger o país

EM “ÍNTIMO”, Giovanni D’Amore reúne canções com significado e música». Tem uma associação de solidariedade social, nacional e internacional, de seu nome “Giovanni D’Amore”. É confrade da Academia de Bacalhau do Porto. Momento marcante Giovanni manifesta um «obrigado a todos os portugueses. Obrigado pelo carinho e calor humano que me têm dado». Estabelece uma analogia entre Portugal e Itália, dois países cujos povos emigraram. «Os portugueses lá fora dignificam o país, bem como os italianos». Há algo mais em comum: «quando acontece algo vão ao encontro para ajudar», refere. Expressa-se num claro português. Há palavras que não escondem ritmos próprios de um outro idioma. Ambas as línguas têm na sua origem o latim. Foi ao ler as letras das canções e cantando que aprendeu. «Esforço-me», sublinha. Mas, para Giovanni, «a música é uma

linguagem universal. Tudo tem uma ligação. Só se muda o nome do país, a língua do povo». Define Portugal como «um país pequenino. De uma ponta à outra demora-se poucas horas». Contudo, «é um país com muita coisa boa». Quer aqui deixar um conselho: «aproveitem o país que têm. Protejam-no, desenvolvam-no». Acrescenta que é importante «ter a coragem de se ser verdadeiro e sincero» para «construir um país e um mundo melhor». Participou no movimento “Agora Sim, Coimbra!” nas últimas autárquicas. «Decidi fazê-lo enquanto cidadão e imigrante. Para mim, representou uma questão cívica». Comunica que sempre que o seu maestro Stefano Nanni (o último pianista de Pavarotti) visita este país, «onde mais gosta de estar é em Coimbra». Trabalhar com ele fá-lo sentir-se «honrado». Foi, na cidade cujo fado é cantado por homens, que viveu o que julga ter sido, até

DADOS NOME: Giovanni D’Amore IDADE: 44 anos PAÍS: Itália LOCALIZAÇÃO: Coimbra PROFISSÃO: Cantor lírico EM PORTUGAL: desde 2003

hoje, «o momento mais marcante» da sua vida. «Nunca esquecerei. Foi no dia do meu casamento, na capela da Universidade de Coimbra». Presidia à cerimónia monsenhor Leal Pedrosa. «Por vários motivos não tive aqui ninguém da minha família». Recebeu «uma bênção. Uma carta que foi lida no final e que me chegava de João Paulo II». “Ciao, ci vediamo lunedi. Ti auguro una buona domenica”, o mesmo será dizer, e agora em português, “Adeus, vemo-nos segunda-feira. Desejo um bom domingo”. Assim termina. l

INICIATIVA DO WWF ções foram motivadas por crimes como o tráfico de estupefacientes, posse ilegal de arma, mandados de detenção e furtos. Segundo a PSP, em 24 horas foram realizadas 365 operações em «zonas urbanas sensíveis, estabelecimentos de diversão nocturna e em artérias de maior tráfego, que levaram a 155 detenções e à detecção de 903 infracções. Foram ainda identificadas 745 pessoas e apreendidas sete armas e 602 doses de estupefacientes. A PSP detectou ainda 92 pessoas a conduzir com excesso de álcool, 17 sem carta de condução, duas com armas ilegais e oito que detinham mandados de detenção. l

“Apagão” em defesa do planeta Luzes em todo mundo foram ontem desligadas às 20h30 (hora de Lisboa) num gesto simbólico em defesa do planeta e numa iniciativa que registou um recorde de adesão em Portugal e no resto do globo. Tratou-se de uma iniciativa do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), sendo que até sexta-feira à tarde tinham aderido, em Portugal, 25 municípios – mais do dobro dos de 2009. O “apagão”, entre as 20h30 e as 21h30 de ontem, foi um gesto simbólico de luta contra as alterações climáticas. l

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HOJE: Céu pouco nublado, temporariamente muito nublado por nuvens altas com possibilidade de aguaceiros fracos no Interior. Vento fraco a moderado nas terras altas Neblina ou nevoeiro matinal. MARÉ PORTO DA FIGUEIRA DA FOZ Preia-Mar às 2h14 e às 14h42 Baixa-Mar às 8h24 e às 20h38

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LOCAL AVEIRO BRAGANÇA C. BRANCO FARO FIGUEIRA GUARDA LEIRIA LISBOA PORTO VISEU

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4 DE ABRIL DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT REDACÇÃO 239 499 900 PUBLICIDADE 239 499 999 ASSINATURAS 239 499 950

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O desporto “ensina coisas para a vida”

DADOS

Carina Leal Foi em Dezembro de 1998 que Paul Alfonso Diaz Sanchez conheceu uma cidade de que muito gosta. «Ainda é daquelas cidades que têm qualidade de vida». É de Coimbra que fala, de onde não deseja sair. Alto. A estrutura física logo o denuncia como um praticante de desporto. «Jogo desde os 11 anos». O quê? Ténis de mesa. Foi o que o trouxe. Mas não só. «É uma história muito engraçada. Nunca me tinha passado pela cabeça vir para Portugal». 1998, então. Paul fazia parte da selecção colombiana de ténis de mesa. Sim, é natural de Santiago de Cali, na Colômbia. «Estudava na universidade pública», conta. Arquitectura era a sua área. «Só que um dia houve uma greve na minha universidade. Não se sabia quanto tempo ia durar». Parado, foi quando recebeu um convite de alguém relacionado com a sua I

modalidade. «Andava a convidar o pessoal da América latina para treinar em Badajoz. Havia ainda a possibilidade de jogar nalgum clube durante três meses». Se Espanha era para ter sido o ponto de chegada, certo é que acabou por aportar no país vizinho. Mais do que treinar, permitir-lhe-ia competir. «Três meses era fixe. Um país novo. Era uma aventura», continua. Portugal, o país novo. A nova cidade, Coimbra. Foi no ACM que continuou então a praticar ténis de mesa. Depois de um mês, «queria saber notícias da Colômbia». Continuaria em greve ou não? Perguntou a um colega: «onde é que há Internet?». O outro, estudante, não escondeu o espanto: «na Colômbia há Internet?». Percebia então que Paul não era apenas um jogador, mas também estudante. «Queremos que fiques cá connosco», foi o desafio. Voltou à Colômbia. Tratou dos papéis. «Tive montes de dificulda-

des», conta. «Queria fazer a homologação das cadeiras, mas Colômbia e Portugal não têm nada que ver». A resposta aos papéis de lá trazidos foi sempre: «indeferido». Nem por isso desistiu. Lá estudavam até ao 11.0 ano. Cá até ao 12.0 ano. Das opções que, em Lisboa, lhe apresentaram – fazer o 12.0 ano ou os exames de acesso à universidade – Paul optou pela segunda possibilidade. 2000. Foi quando o chamaram para a selecção. Em 2001 repete-se “a história”. É em 2002 que Paul decide: «tem de ser». Fez os exames. Concorreu à Universidade de Coimbra. Entrou em Engenharia Mecânica. Foi estudante, professor e praticante de ténis de mesa. Hoje é Engenheiro Mecânico na Certenergia, professor e praticante de ténis de mesa. “Respeito mútuo” O desporto «ensina coisas para a vida», explica hoje com 34 anos. Adora praticá-lo. Não deixa de ser «muito ingrato. Vai chegar a altu-

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Conciliar o desporto com os estudos sempre foi uma prioridade para Paul

NOME: Paul Diaz Sanchez IDADE: 34 anos PAÍS: Colômbia PROFISSÃO: Eng. Mecânico/ /Ténis de Mesa EM PORTUGAL: desde 1998.

PAUL reconhecido à solidariedade do ACM ra em que o corpo já não vai dar e tens de ter opções», frisa. A opção de Paul foi «aproveitar ao máximo o desporto, mas ter sempre aquele plano B». Por isso, se empenhou. Solta um largo «ah» quando a questão é “como aprendeu português?”. Ri. «Uma coisa boa cá é que os filmes vêm com legendas». Teve outra “fonte”: «aprendi muito com o Batatoon. A sério! Aquele vocabulário de crianças facilita muito. E depois as conversas de rua». Diz que «com os miúdos é assim. Tens de falar bem. São os primeiros a corrigir-te. E se não percebem é logo “ahn, ahn”». Quando preciso fosse misturava espanhol com português e «acabava a falar “portunhol”». Ensina ténis de mesa a “pequenos e graúdos” no ACM. A 9 de Abril inicia um novo projecto em Condeixa: uma Escola de Ténis de Mesa. Considera importante

«manter aquele espírito jovem. Quando estou com crianças baixo o meu nível à idade deles, para poder falar com eles, para que falem comigo». A palavra de ordem é: amigo. «Procuro que o respeito seja mútuo». Aliás, para Paul, o desporto é como que “a fórmula mágica” para a juventude. «Pensam sempre que sou mais novo». Colômbia. «Estamos um bocado marcados por aquilo que é o narcotráfico, a droga». É o primeiro ponto que aborda, salientando que «a verdade é que as pessoas não sabem como são as coisas». É o país do café, «de grandes cantores como Shakira e Juanes», do escritor Gabriel Gárcia Marquez. «Turisticamente, as pessoas não conhecem a parte mais bonita». Conhece quem lá tenha ido e deseje voltar. «As pessoas são carinhosas, amáveis». Sente-se um turis-

ta, cada vez que regressa à sua terra. «As coisas estão diferentes. Os meus amigos estão diferentes. Aconteceram coisas que não partilhámos». Sente-se já parte «deste lado», onde traça o seu rumo e onde tem a namorada, uma espanhola geóloga de profissão. É no ACM, junto às mesas onde pratica e ensina a arte de bem jogar (e de ter uma «atitude muito positiva perante as coisas»), que conta a sua história. «Têm sido [no ACM] espectaculares comigo. São como uma família. Quando tive dificuldades foram eles que me ajudaram. Tenho muito que agradecer a todos». Daí a breves instantes houve jogo para o campeonato distrital. Antes ainda, o descontraído e confiante professor ensinou que, na sua terra, cuja língua oficial é o espanhol, se expressa um “muy bacano” quando algo é “muito porreiro”. l

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Hoje: Céu pouco nublado, temporariamente muito nublado no Norte até meio da tarde com possibilidade de aguaceiros fracos. Sol: Nascimento às 7h15 e oacso às 20h03 Lua: Lua Cheia. Quarto Minguante às 10h37 de 6 de Abril.

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11 DE ABRIL DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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VIDA DE IMIGRANTE

“Não é preciso ter muito dinheiro e ser rico para ser feliz” Carina Leal O “mister” está à baliza. Dá indicações. Os desportistas correm. Lutam pela bola. Treinam com todo o afinco, numa tarde em que o sol brilha de uma forma especial, ali, no polidesportivo do Bairro da Rosa, em Coimbra. A 24 de Abril, chega mais um desafio: o Torneio Coca Cola. Trabalham para estar devidamente preparados. Quem são eles? São os jogadores da Fundação Miguel Escobar que “medem forças” no Campeonato Distrital Infantis de Futsal – Série B. À fundação deu o nome. Miguel Escobar tem 53 anos. Enquanto em campo o treino continua, ele, sentado no banco, refere-se inúmeras vezes ao quanto gosta do que faz. «Realizado», assim se sente. «Posso dizer que não é preciso ter muito dinheiro e ser rico para ser feliz». Um facto? Esboça o sorriso ao longo de toda a conversa. É de Capiatá, no Paraguai. Chegou a Coimbra em 1982. «Consi-

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dero Portugal o meu segundo país», afirma enquanto os gritos deste e daquele jogador entoam na tarde. «Estudava na Universidade do Rio Grande do Norte, no Brasil», conta num jeito que não esconde traços próprios desse país. «Conheci alguns jogadores que jogavam, na altura, no Clube Académico de Coimbra. Tive contacto com a direcção e o treinador, Mário Wilson, que me abriu a porta para vir aqui fazer provas de experiência». Correu bem. «Fiquei seis meses na Académica», mas na altura, só podia jogar um estrangeiro. Esse “lugar” cabia então ao seu «amigo Beto». Foi para norte. Jogou em Valença do Minho e Monção. Regressou à zona centro, à Mealhada. Problemas no joelho levaram-no à reforma antecipada. «Já não conseguia trabalhar em clubes grandes e, por isso, me dedico a esta causa», declara. Qual? Em 1996 começou, com os Missionários Combonianos, a dedicar-se às comunidades mais carenciadas. Em 2004, juntamente com a

Associação de Moradores do Bairro da Rosa, deu continuidade às causas sociais na área do desporto. «Estou a abraçar esse projecto. Criei uma fundação, a Miguel Escobar, Escola de Futebol Social». Oficializada em 2008, tem no futebol uma forma de integração de crianças em risco. Ganhou já o Prémio Compromisso com o Desporto Social, na III Gala do Desporto Cidade de Coimbra. Da América do Sul veio para um país «maravilhoso». «Não passei muito frio», recorda. «Me adaptei logo ao país e à sociedade jogando na Académica». Confessa: «em todo o canto que visitei deixei muitos amigos». Assume-se como um privilegiado, «porque faço aquilo que gosto, aquilo que quero e por minha conta. As pessoas tratam-me bem e, como vê aqui, estas crianças me adoram». [Sentara-se, entretanto, um petiz ao seu colo. Ele e outros, entretanto do banco abeirados, desdobravam-se em feitos para conquistar a sua atenção].

FERREIRA SANTOS

A equipa da Fundação Miguel Escobar prepara-se para o Torneio Coca Cola MIGUEL ESCOBAR está a finalizar a licenciatura em Serviço Social “Cidadãos para o futuro” Miguel tem três filhos. Ao falar deles o olhar irradia ainda mais felicidade. «Têm 16, 14 e 11 anos», partilha. É ao lado deles que, no próximo dia 18, deseja assistir ao Académica X Benfica e «torcer pelos dois» clubes. «Quero ver lá o meu patrício». Fala de Cardozo, o jogador benquista. Treinador e agente social, está a finalizar a licenciatura em Serviço Social, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Em Setembro, iniciou o estágio «numa universidade muito antiga da Europa, a Universidade de Salamanca». «”Hasta” Julho», estará a estagiar na associação sem fins lucrativos ASDECOBA, cujo trabalho incide no “Bairro de Buenos Aires”. [O petiz curioso pergunta: “mister, isto é o quê?”. Já tentara perceber, de olho arregalado, que coisa estranha era

aquela que registava o diálogo]. A última vez que esteve no Paraguai foi em 2006. «As novas tecnologias ajudam a não ter saudades», confirma. É, através, da Internet que se mantém em contacto com o pai e os irmãos. Diz que a sua terra natal é «muito verde, com muita natureza. Tem muito sol». Se o espanhol é língua social, certo é que falam também guarani. «É uma língua indígena», explica. «Todos os paraguaios a falam em território nacional. Na escola, colégio, universidade, os professores dão aulas em guarani». A aprendizagem, deste domingo, faz-se, assim, em guarani: “cherojaiy”, ou seja, “eu te amo”. Miguel Escobar agradece a quem o apoiou. «A Câmara Municipal de Coimbra, Camilo Fernandes da Académica/OAF que me tem ajudado no exame médico dos meus jogadores». Agradece igualmente aos filhos,

DADOS NOME: Miguel Escobar IDADE: 53 anos I PAÍS DE ORIGEM: Paraguai I LOCALIZAÇÃO: Coimbra I PROFISSÃO: Treinador/ /agente social I EM PORTUGAL: desde 1982 I I

«estamos juntos», assim como «a todos estes miúdos que estão à minha volta. Foi graças a eles ganhámos o prémio». Define o que faz como «magnífico». «Isso não tem preço. São cidadãos para o futuro que se estão a formar aqui. E a nossa missão é a integração através do desporto, educação e cidadania na rua». O “mister” regressa ao treino. A bola continua a rolar pelo campo. Estão felizes. l

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Cadáver encontrado na barragem de Castelo de Bode O cadáver de um homem que aparenta ter mais de 50 anos foi retirado ontem da albufeira da barragem de Castelo de Bode, disse uma fonte I

dos Bombeiros Municipais de Tomar. O corpo, que já estava em decomposição, a boiar junto à margem, «foi descoberto por um

canoísta», que deu o alerta, adiantou a fonte. O cadáver foi transportado pelos bombeiros para o Gabinete Médico-Legal do Hospital de Tomar. A GNR registou a ocorrência, passando a investigação para a alçada da Polícia Judiciária. l

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Incêndio consumiu área florestal Um incêndio destruiu ontem uma área florestal no concelho de I

Castanheira de Pêra, informou uma fonte do CDOS de Leiria. O fogo começou a lavrar pouco depois das 11h00, junto à povoação do Camelo, numa zona de mato, pinhal e eucaliptal. Estiveram no local 67 homens afectos a corporações de bombeiros, GNR

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8 2 6 e Sapadores Florestais e outras entidades, num total de 15 instituições apoiadas por 17 viaturas. No combate ao incêndio interveio ainda um helicóptero. O fogo foi circunscrito ao fim de três horas, tendo-se prolongado pela tarde os trabalhos de rescaldo. l

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HOJE: Céu pouco nublado, embora muito nublado no Sul, por nuvens altas. Vento fraco a moderado. SOL - Nascimento às 7h04 Ocaso às 20h10 LUA - Quarto Minguante. Lua Nova às 13h29 de 14 de Abril. MARÉS PORTO DA FIGUEIRA DA FOZ Preia-Mar às 1h54 e às 14h17 Baixa-Mar às 8h03 e às 20h13

LOCAL MIN AVEIRO 14º BRAGANÇA 6º CASTELO BRANCO 11º COIMBRA 12º FARO 14º FIGUEIRA DA FOZ 13º GUARDA 6º LEIRIA 13º LISBOA 13º PORTO 12º VISEU 9º

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18 DE ABRIL DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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VIDA DE IMIGRANTE

“Quando se confia, é tudo mais fácil” Encontrou frio num país que julgava de “palmeiras e macacos” I Um grupo de amigos quis testar a sua veia aventureira. Rumaram a Espiunca, em Arouca. Aguardava-os a Capitão Dureza, com o equipamento já pronto. Feito o “briefing”, dadas as indicações, os amigos entraram nos rafts. Dois troços do Rio Paiva os esperavam. Rafting era o desafio, mas antes: as dicas do monitor. Dmitry Anishchyk era (é) um deles. Se a paisagem e o percurso os deslumbrou, certo é que o profissionalismo muito contribuiu para os sorrisos estampados nos rostos.”Oh, já terminou!” “Vamos repetir!” Soltaram. Ana Santos foi uma das aventureiras. Quanto ao seu monitor, Dmitry: «é super divertido e profissional. Não corre riscos. Senti-me segura. Ensinou-nos umas palavras em russo». Dmitry Anishchyk tem 31 anos. Vem «da parte mais bela da Rússia, a Bielorrússia», brinca ele. É monitor de desportos de aventura. Faz, também, trabalhos verticais. Trabalhos verticais? Se um dia vir alguém a executar um serviço – que de outra forma seria difícil de concretizar – suspenso num prédio

por umas cordas poderá ser Dmitry. «Hoje estive a substituir umas telhas», explica. «Há três semanas estive a mudar luzes na torre do Fórum Coimbra. Há sempre trabalho». É de Mogilev. «Sempre gostei de visitar sítios longe de casa». Chegava a estar fora um mês. Portugal, o país onde julgava haver «palmeiras e macacos», foi «mais uma aventura», conta. O aventureiro veio em 2001. Encontrou o frio e «trazia só short’s e tshirt’s». Ri. «Não foi muito fácil», recorda. «Não foi difícil. Há quem tenha passado por pior». Dmitry tinha cá amigos. «Arranjaram-me trabalho, casa e comida». Foi nas obras que começou. Sentia que «não era o trabalho que queria fazer toda a vida». Passou pela jardinagem e por uma casa de pneus. Águas bravas Era treinador de slalom, na Bielossússia. As águas bravas eram (são) “o seu mundo”. Fazia alpinismo e escalada. Um dia, encontrou a Capitão Dureza, no Rio Mondego. «Eles estavam a fazer a descida. Pedi um barco, dei umas voltas. Vê-se logo quando se percebe ou não», acrescenta.

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Pediu lá trabalho. Ficou. Prima por que os clientes se divirtam. «Com monitores experientes não é preciso ter medo», assegura. «Quando se confia, é tudo mais fácil». Gosta de rafting, porque «tem mais adrenalina». Para os principiantes, aconselha a descida do Mondego. «Há uma actividade muito fixe, de que gosto muito: o canyoning». A fotografia está, também, a seu cargo. «Chego a tirar até mil fotos». Conhece os locais próprios para registar os momentos de adrenalina e lazer. Russo é a sua língua. Ao escutar o português chegou a pensar: «isso não é para mim». “Não baixou os braços”. «Percebi que se falasse mal ficava toda a vida a trabalhar nas obras». O seu “curso” foi feito no próprio trabalho. «Tive uma pessoa que me ensinou muito. O Paulo. Há poucos assim. Tudo o que eu perguntava, ele respondia», frisa.

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NOME: Dmitry Anishchyk Idade: 31 anos I País: Bielorrússia I Localização: Coimbra I Profissão: Monitor de desportos aventura I Em Portugal: desde 2001

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FERREIRA SANTOS

Carina Leal

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Hoje: Céu muito nublado com aguaceiros, por vezes fortes e possibilidade de trovoadas. Vento fraco a moderado no litoral do Sul e nas terras altas. Sol: Nascimento às 6h53 e ocso às 20h17 Lua: Lua Nova. Quarto Crescente às 19h20 de 21 de Abril. MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 5h59 e às 18h16 Baixa-Mar às 11h51

LOCAL AVEIRO BRAGANÇA CASTELO BRANCO FARO FIGUEIRA DA FOZ GUARDA LEIRIA LISBOA PORTO VIANA DO CASTELO VISEU

MIN MAX 14º 21º 8º 14º 11º 16º 14º 18º 13º 17º 5º 11º 13º 17º 13º 18º 13º 21º 13º 19º 9º 14º

DMITRY ANISHCHYK gosta da adrenalina do rafting Este apreciador de leitão e chanfana comunica que, por cá, as refeições são «sempre uma festa. Vão todos juntos almoçar». Na sua terra, «ir a restaurantes é um bocado caro. Cá, vai-se pelo menos uma vez por semana. Lá, uma vez por mês». No próximo mês de Maio visita a Bielorrússia. Fá-lo a cada dois anos. Sente «sempre» sauda-

de. «Gostava de voltar, só que cá tenho um bom trabalho, aquilo que gosto: os rios, as montanhas». Se um dia regressar, «gostava de levar alguns amigos» consigo. Há férias em que viaja com os amigos para outros países, rios e montanhas. Na Córsega fizeram 11 rios. Em 2009 estiveram no Chile. É em Coimbra que vive. «Não

sei de que país podia gostar mais.Esta é a minha segunda terra», confirma. «Podia o ordenado mínimo ser um bocadito maior. O resto está tudo bem», acrescenta. Se àquele grupo de amigos ensinou umas palavras em russo, hoje fá-lo aqui: (“Dobroe utro”). O que diz? Bom dia. l


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25 DE ABRIL DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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VIDA DE IMIGRANTE

Estudou em Wroclaw, uma cidade de estudantes, à semelhança de Coimbra Carina Leal Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. «É realmente espantoso». Magdalena Hetmanska tem entusiasmo nas palavras. Fala deste exímio lugar, onde basta transpor a entrada para se respirar história, cultura. Verbaliza algo mais: «antes de vir, enquanto redigia o meu plano de estágio, tentei incluir o máximo de coisas que queria fazer». Confessa que não esperava concretizá-lo na totalidade, até porque tinha ideia de que as suas tarefas poderiam passar por «fazer café, escrever protocolos». Mas, «sim. Fizemos tudo e ainda mais». Há contentamento no seu expressivo olhar. Magdalena tem 25 anos. O primeiro contacto com Portugal aconteceu há sete anos, no

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âmbito do programa Sócrates/Coménius. O segundo foi quando veio em Erasmus. Tinha já feito a grande maioria das disciplinas na Polónia (sim, é esse o seu país). Como tal, sobrara-lhe tempo para descobrir. «Fiz uma viagem por Portugal e apaixonei-me». Foi isso mesmo que a fez voltar. «Também tinha cá amigos de há sete anos. Sempre nos mantivemos em contacto. Mantive sempre Portugal no meu coração». É, na sua terceira chegada que se cruza com Santa Clara-a-Velha, no âmbito de um estágio. É lá que se dedica à arte, enquanto historiadora de arte. Está, também, a escrever a sua tese. Optou por estender o período de estágio.«Estou por mim. Enquanto tiver dinheiro para ficar, vou

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fazê-lo», assegura quem gostaria de por cá permanecer. «São dois países muito parecidos e, ao mesmo tempo, diferentes», comunica. Das semelhanças entre Portugal e Polónia aponta «algo no ambiente, na paisagem, no convívio entre as pessoas que me relembra os lados bons do meu país». Considera, contudo, ser a diferença que a mantém ligada a Portugal. «Lembro que, nos primeiros tempos, encontrei pessoas que muito queriam ajudar, conhecer. Foi muito simpático e muito novo. Não somos assim na Polónia. Gostamos de manter contacto, mas não somos tão extrovertidos». A arte também a cativou. «É espantoso. Tão diferente. Influências africanas, árabes. É muito estimulante». Quanto a Santa Clara-a-Velha, «está sem-

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Hoje - Céu pouco nublado, embora nublado durante a manhã no litoral a norte do Cabo da Roca. Vento fraco a moderado. Pequena subida da temperatura máxima.

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“Mantive sempre Portugal no meu coração” MAGDALENA HETMANSKA observa que há semelhanças entre Portugal e Polónia pre a produzir e desenvolver novos projectos educativos, eventos». Enumera vários com visível orgulho. Natural de Opole, «uma cidade pequenina», é de Wroclaw, onde estudou, que fala. «É o sítio que podemos comparar a Coimbra, porque é uma cidade de estudantes». Por isso, não lhe é estranho quando, cá, encontra muitas nacionalidades e pessoas de diferentes pontos do país. «Wroclaw tem muitos monumentos. A cada esquina há algo para ver, de diferentes épocas. Acima de tudo temos o modernismo que, lá, é fantástico». Se, por cá, «todos sorriem, querem falar e têm sempre tempo para tomar café (a primeira coisa que se faz), lá não é bem assim». Refere o rigor. «Os estudantes estão sobre alguma pressão. Têm de estudar arduamente». Refere a competição.«Não estou a dizer que não é bom, estou habituada porque sou dessa cultura». Há mesmo quem diga que «nós, polacos, somos muito rigorosos, nervosos, que tudo tem de estar a tempo».

Sol - Nascimento às 6h43. Ocaso às 19h24 Lua - Quarto Crescente. Lua Cheia às 13h18 de 28 de Abril. MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 13h32 Baixa-Mar às 7h13 e às 19h30

Pierogi, Bigos e Kietbasa Ainda no início, Magdalena pergunta se a conversa não pode decorrer em polaco. Dada a impossibilidade, pede para dia-

logar em inglês. Nas poucas palavras que arrisca em português faz-se entender na perfeição. «Acho que percebo melhor do que falo. E, depois, também sou um pouco tímida», segreda. Quando soube que viria de Erasmus, quis preparar-se. «Comecei a estudar Filologia francesa». Na Universidade de Coimbra, frequentou um mês de português para estrangeiros. Como havia tido latim, não lhe foi difícil a gramática. Certifica ela: «o que aprendemos nas aulas não tem nada que ver com a língua que vocês falam. Pensava que sabia alguma coisa, que poderia falar e as pessoas me compreenderiam, mas...». Ri. O «adoro» que lança é enérgico. Diz respeito à gastronomia portuguesa. Embora não goste da quantidade de óleo utilizada e de queijo fresco, aprecia as misturas, os molhos, as sopas. «Apaixonei-me». Uma vez mais. Magdalena sugere Pierogi, Bigos e Kietbasa, enquanto pratos típicos a experimentar no seu país. No seu jeito simpático, confessa sentir saudades da família. «Não sinto falta do país, mas das pessoas», até porque «há algo que me relembra a Polónia». Sempre que, com os amigos, por cá viaja encontra algo

semelhante. «Olhem, isto é a Polónia», costuma brincar. É possível que, hoje, esteja na sua terra, de visita aos seus. Uma visita de apenas três dias, pois também o seu voo foi afectado pela nuvem de cinza vulcânica expelida pelo Eyjafjallajökull, na Islândia. O que nos vai ensinar hoje Magdalena? «Olá», comunica. Em polaco é "Czesc". «Aqui, além de dizerem "olá", ainda perguntam "como estás?". Nós só o fazemos com quem realmente conhecemos e com quem poderemos ter uma conversa maior», acrescenta. Então, "jak sie masz?", ou seja, "como estás?". l

DADOS I NOME: Magdalena Hetmanska I IDADE: 25 anos I PAÍS: Polónia I LOCALIZAÇÃO: Coimbra I PROFISSÃO: Historiadora de arte I EM PORTUGAL: desde o final de 2009

COIMBRA 15º 25º LOCAL MIN MAX AVEIRO 14º 23º BRAGANÇA 10º 23º CASTELO BRANCO 14º 23º FARO 17º 23º FIGUEIRA DA FOZ 16º 21º GUARDA 9º 17º LEIRIA 15º 23º LISBOA 16º 22º PORTO 13º 22º VIANA DO CASTELO 14º 22º VISEU 12º 21º

EXCESSO DE ÁLCOOL E FALTA DE CARTA DE CONDUÇÃO

Dois detidos em operação “stop” da GNR A operação “stop” que a GNR efectuou no distrito de Coimbra durante a madrugada de ontem,

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entre a meia-noite e as 8h00, resultou na detenção de dois homens. A zona de Condeixa foi a que mereceu a maior atenção dos militares. Primeiro, a GNR deteve um homem com 1,95 gramas de álcool por litro de sangue. O detido, com 39 anos, é

natural de Cernache. Mais tarde, um homem que nasceu em Rio Maior, com 34 anos, foi apanhado sem carta enquanto conduzia um ligeiro de passageiros. Os dois detidos estiveram ontem presentes no Tribunal de Coimbra. B.V.


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2 DE MAIO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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Aos 32 minutos… “Goooooooolo”! Académica trouxe vitória da Luz, em 2008. Berger foi um dos marcadores Brinca com a bola em jeito de quem a conhece há longa data. E conhece. Um toque após o outro, fá-la rodopiar com manifesta destreza. É pelo apelido que, a ele, muitos se referem: Berger. Markus Berger, de seu nome. Hoje, há jogo em casa. A Académica recebe o Nacional da Madeira, às 20h15. «Espero que venha muita gente», diz o camisola cinco. «É a nossa casa e este um jogo importante para nós». Foi a 18 de Agosto de 2007 que Berger se estreou na I Liga. Essa “primeira” partida fez-se frente ao Sporting, uma das equipas a que, à semelhança do Benfica e FC Porto, atribui o adjectivo “grande”. Chegara a Portugal para essa época: 2007/2008. Aliás, quando se lhe pergunta que motivo o trouxe, é célere na resposta em forma de interrogação: «por causa do futebol, não é?». O convite para jogar no campeonato português (que, nas suas palavras, é «melhor que o campeonato na Áustria») havia-lhe sido feito. Conheceu o clube, cuja negra camisola hoje veste. Gostou. «E decidi vir para cá». Quanto ao país, esse não lhe era de todo estranho. Estágios com a selecção no Algarve haviam-lhe mostrado o mar, a praia. «Foi muito giro», partilha. Depois de três épocas no austríaco SV Josko Ried, alcançou Coimbra. «Gosto muito, é uma cidade tranquila e eu também sou mais tranquilo», afirma numa postura que o atesta. «Fui muito bem recebido na Académica». Lembra os jogadores, o director desportivo, Luís Agostinho, e o presidente, José Eduardo Simões. É, aliás, com manifesta alegria que fala da Académica. «É um grande clube. Tem uma grande tradição. É mesmo um orgulho que tenho em poder continuar aqui mais dois anos». Sim, renovou recentemente o contrato e, por isso, se diz num momento

«muito bom» da sua carreira. «Estou a jogar regularmente. Eu adoro futebol, não é? E quando não se pode praticar o que se gosta é muito difícil», observa. Momentos especiais já os viveu. Mas há um que merece relevo: «quando nós ganhámos na Luz contra o Benfica e eu fiz um golo. Isto foi grande para mim». Foi aos 32 minutos. E, ao apito final, naquele 11 Abril de 2008, o marcador não deixava margens para dúvidas: 0-3, com Berger, Miguel Pedro e Luís Aguiar a “invadir” as redes das águias. A manutenção da Briosa foi garantida no passado domingo, numa contenda que, curiosamente, colocou frente a frente os irmãos Berger. O guarda-redes do Leixões é o próprio Hans-Peter Berger. «Foi a primeira vez que jogámos entre nós. Foi um bocado difícil, é o meu irmão», não esconde sublinhando tratar-se de um jogo de importância para os dois clubes. Mas, os irmãos acabaram por não ter muitos duelos. «Foi bom. Foi um bom jogo», avalia. “Contamos com o apoio” «Acho que muitas pessoas gostam mesmo da Briosa», declara o defesa. Sayuri Goda é uma delas. «Ela, quase todos os dias, quer ver os nossos treinos. É incrível, uma pessoa que vem de um outro país [Japão] para viver em Portugal e tem uma paixão pela Académica. É uma coisa especial». Acontece-lhe ser abordado, na rua, por adeptos. Perguntamlhe: “como é? Vamos ganhar? Vamos perder? Como está a equipa?”. É para todos eles que dirige as palavras seguintes: «contamos com o apoio. Para a equipa é mesmo importante sentir que as pessoas gostam da Académica, que gostam de nos ver. Num jogo, quando jogas é sempre bom quando tens uma casa cheia e as pessoas te apoiam». A forma como se refere a Portugal, permite antever que se sen-

DADOS NOME: Markus Berger IDADE: 25 anos PAÍS: Áustria LOCALIZAÇÃO: Coimbra PROFISSÃO: jogador de futebol EM PORTUGAL: há três anos

te bem por cá. «Mas, a Áustria…». A frase inacabada deixa escapar saudade. «Eu gosto muito do meu país. Acho que é maravilhoso. Só a grande diferença é que, aqui, há mar e isso é, para nós, algo muito lindo». Só pode reencontrar os seus, quando a equipa entra de férias. E aí sente-se «contente, porque posso ver a minha família outra vez». É de Salzburg, a cidade que aconselha a integrar num roteiro turístico por terras austríacas. O que comer por lá? «Wiener schnitzel, é tipo panados e muito típico. Para sobremesa, marillen knödel», é a sugestão de quem, por cá, aprecia robalo. Este mês chega um dia especial para Berger. «Estou muito feliz. Encontrei a mulher para a minha vida. Vamos casar aqui. Ela é brasileira, mas já vive cá há oito anos. Acho que vai ser uma festa muito linda». Berger tem 25 anos. Expressase num português claro. Não esconde que lhe foi «muito, muito difícil» aprender a nova língua. «Nós falamos alemão e eu nunca tinha ouvido ninguém falar em português». Fez um curso de três semanas, no Verão, que hoje considera ter sido fundamental. Segundo ele, na Académica, os dias de trabalho flúem ao som da língua de Camões. «Mas, quando cheguei falei inglês». Recorda jogadores como Nuno Piloto que ajudaram nesse primeiro contacto. «Ein Schönes Wochenende». É assim que Berger deseja “um bom fim-de-semana”. l

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MARKUS BERGER integra o plantel da Académica desde a época de 2007/2008

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Hoje: Céu muito nublado por nuvens altas. Vento fraco a forte no litoral e nas terras altas. Pequena descida de temperatura. Neblina matinal. Sol: Nascimento às 6h34. Ocaso às 20h31 Lua: Lua Cheia. Quarto Minguante às 5h15 de 6 de Maio. MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 6h08 e às 18h25 Baixa-Mar às 11h59

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9 DE MAIO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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“Tem de haver amizade entre as religiões” Carina Leal Tem 38 anos. Mamadou Saidou Diallo é natural da Guiné-Conacri. Foi há 18 anos que alcançou Portugal. Veio «porque estava a necessitar de emigrar», conta de forma pausada. «Lá, na África, como vocês sabem, é um bocado difícil. A vida é completamente diferente. Aqui, na Europa, é um pouco melhor». A tarde dá lugar à noite. Mamadou Saidou Diallo está na mesquita que, no Bairro de Santa Apolónia, em Coimbra, abre portas desde 1992. É imam. «Estou a fazer reza aqui, como padre», explica. Saído de África, passou primeiro pela Holanda. «Depois vim até aqui», directamente para Lisboa. Passou pelo Algarve, Vila Real de Trás-os-Montes e Malveira. É em 1996 que se estabelece em Coimbra. «Sim, gosto muito. Não tenho razão de queixa», diz, confirmando que os portugueses o receberam bem e que são pessoas «simpáticas, muito simpáticas». «Portugal é como a África», compara. «Posso dizer que me sinto mais ou menos como na Guiné», onde

regressa a cada dois anos. Fê-lo no ano passado. Tem saudades da família que por lá permanece, assim como do sítio onde cresceu: Poye. «Só que não dá para ir muitas vezes, porque a despesa é grande». É um país quente. «Tem seis meses de Verão e seis meses de Inverno. Mas, quando é Verão…», deixa a frase em entreaberto para explicar que o frio do Inverno «não é como cá. Aqui, é muito mais». Agora que os anos foram passando, já se habituou. É da opinião que, por cá residir «há muitos anos», «devia falar melhor». A língua portuguesa, que diz ser «um bocado difícil», era-lhe estranha. «Não sabia dizer nem bom dia». Os colegas de trabalho, o dia-a-dia, ensinaram-no. E hoje faz-se entender claramente. O francês, língua oficial na Guiné-Conacri, ajudou-o. «Aprendi assim, a pouco e pouco». Hoje, trabalha num armazém. Confirma que são muitos os que conhecem a mesquita, ali na cave do lote 201 da Rua Bernardo Santareno. «Temos cinco orações diárias», conta. «Tem uma hora

fixa cada oração». A primeira faz-se às 4h50. Comunica que estes momentos trazem tranquilidade. «Uma pessoa está habituada a fazer oração e quando não faz não se sente bem», afirma. Quando rezam, fazem-no virados para Meca, a cidade sagrada que se situa na Arábia Saudita. São imensos os muçulmanos que, a cada ano, aí se deslocam em peregrinação. «Eu já fui», partilha Mamadou. «Gostei. Gostei muito. Foi a melhor viagem que fiz. Gostaria de repetir. É forte. Estando lá, a pessoa fica tranquila». “Só quer paz” «A nossa religião não é como muitas pessoas pensam», assegura. «É muito pacífica. A religião islâmica só quer paz, não quer guerra». Sublinha ser importante não confundir as coisas. «Tem de haver amizade entre as religiões», defende. Um dos momentos marcantes do calendário islâmico é o Ramadão. Jejuam, durante um mês, entre o nascer e o pôr do sol. «Não é só impedir o estômago da comida. São todas as coisas ilícitas. Fora do Ramadão também,

FERREIRA SANTOS

Mamadou Saidou Diallo é quem faz a reza na mesquita em Coimbra

MAMADOU SAIDOU DIALLO recordou a tranquilidade que encontrou em Meca mas principalmente no Ramadão» que, este ano, chega em Agosto. Se é difícil cumprir os rituais da sua religião em Portugal? «É um bocado. Mesmo assim, há pessoas, mesmo não muçulmanas, que facilitam», responde recordando um patrão que, no Ramadão, não lhe permitia pegar em pesos. «Nem deixava ninguém dar-me coisas pesadas», lembra. Quando questionado se quer deixar uma mensagem, aproveita para destacar que «a religião islâmica chama pela paz». Observa que «temos de dar uma

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APRESENTADO ONTEM EM LEIRIA

O dispositivo especial de combate a incêndios florestais apresentado ontem, em Leiria, teve um aumento de 156 elementos, segundo informou fonte da Autoridade Nacional da Proteção Civil. «Estamos preparados», garantiu Paulo Gil Martins, comandante operacional nacional da Auto-

ridade Nacional de Proteção Civil. «A partir de 15 de Maio, e logo que as condições de risco o justificarem, projectaremos no terreno um dispositivo dedicado à defesa da floresta contra incêndios», que contará, até final de Setembro, com «22 519 operacionais e 5002 veículos de comando,

5 intervenção e apoio». O número de elementos tem um acréscimo de 156 elementos humanos, em relação a 2009. O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, manifestou “confiança” nos 9985 elementos que compõem o dispositivo, durante a fase Charlie, que compreende um período entre 1 de Julho e 30 de Setembro, que terão o apoio de 2177 veículos e 56 meios aéreos. l

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DADOS NOME: Mamadou Saidou Diallo IDADE: 38 anos PAÍS: Guiné-Conacri LOCALIZAÇÃO: Coimbra PROFISSÃO: Empregado de armazém EM PORTUGAL: há 18 anos

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Reforçado dispositivo especial de combate a incêndios florestais

boa imagem. Uma pessoa não pode ter a fé completa, enquanto não desejar o bem. Aquilo que desejas para ti, deves desejar para o outro irmão». Afirma que «o que conta é o íntimo. Se estiver limpo, então todas as acções estarão limpas. Muçulmanos ou não muçulmanos, têm de se portar bem e desejar o bem». Deixa um pedido. «Que não haja discriminação. Peço a todos os irmãos que sejam iguais. Isso é que é importante». A conversa terminou. Daí a breves instantes, iniciar-se-ia a quinta hora de oração. l

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HOJE: Céu muito nublado com aguaceiros, por vezes fortes e acompanhados de trovoada até meio da tarde. Queda de neve nos pontos mais altos da Serra da Estrela. Vento moderado a forte nas terras altas com rajadas até 80 km/h. Pequena subida da temperatura mínima. SOL - Nascimento às 6h26 e às 20h38 LUA Quarto Minguante. Lua Nova às 2h04 de 14 de Maio. MARÉS PORTO DA FIGUEIRA DA FOZ Preia-Mar às 12h54 Baixa-Mar às 6h36 e às 18h52

COIMBRA 11º 19º LOCAL MIN MAX AVEIRO 16º 19º BRAGANÇA 6º 18º CASTELO BRANCO 11º 16º FARO 16º 21º FIGUEIRA DA FOZ 14º 19º GUARDA 5º 11º LEIRIA 11º 18º LISBOA 15º 20º PORTO 15º 18º VIANA DO CASTELO 14º 18º VISEU 7º 15º


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16 DE MAIO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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VIDA DE IMIGRANTE

Palavras em espanhol ainda escapam a Nancy Carina Leal I Nancy Oliveira nasceu na Venezuela. O pai, português, emigrara para a América Latina «para ganhar a vida», conta ela hoje nos seus 38 anos. «Voltou, porque se apercebeu de que aquilo podia ficar mau. Como ele diz, na altura certa». De quando em vez visita o país onde, em tempos idos, teve uma padaria. Por cá, acabou por apostar nesse mesmo negócio. «Abriu padarias em Aveiro», conta a filha. São escassas as memórias que Nancy guarda dos momentos em que crescia em Cumaná, a capital do estado de Sucre. Foi aos seis anos que partiu do mundo que, até então, conhecia como seu. Os tios, que por lá continuam, fazem a ligação entre a Venezuela e Portugal. Comunicam através da Internet e, quando as férias chegam, «trazem muitos chocolates que não existem cá e que são muito bons», observa. Nancy lembra as festas que, alegres, reuniam a família. Lembra, também, o calor que, no verão, aí se fazia sentir. Tanto que

desse clima gostava. «A fruta, um país tropical, muitas praias», continua rematando que sim. Sim, sente saudades. «As pessoas lá são alegres. Fazem festa em tudo», acrescenta. Em Portugal, a escola. Além do ler e escrever – tarefas que cabiam a quaisquer alunos da sala -, Nancy tinha de aprender a falar. A língua portuguesa era-lhe desconhecida. «Foi muito complicado», partilha. «Sempre fui uma pessoa muito calada e, antigamente, não era como agora nas escolas. Tínhamos de saber e, se não soubéssemos, levávamos reguadas». Frequentara, ainda em Cumaná, uma escola particular onde aprendera algumas letras, sons. Cá, quando teve de aprender o “nhe” e o “lhe”, não lhe foi fácil. «Cada erro, cada reguada». Custou-lhe pronunciar as palavras cujos sons eram diferentes daqueles que conhecia. E os colegas? «Fartavam-se de rir». Foi tudo uma questão de tempo. «Ainda hoje digo algumas palavras em espanhol». Dá como exemplo o “apurate” que lhe escapa quando pede a alguém que se

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NOME: Nancy Oliveira IDADE: 38 anos I PAÍS: Venezuela I LOCALIZAÇÃO: Vagos I PROFISSÃO: Empregada de balcão I EM PORTUGAL: desde os seis anos I I

despache. Há quem lhe note o sotaque. “Arepa”, “Hallaca” e “cachitos” Gostou de vir para Portugal. «Fui para uma aldeia pacata», onde encontrou poucas pessoas. «Na Venezuela morávamos num apartamento. Aqui, com um pátio grande era uma festa». Nancy, nos seus seis anos, podia andar de bicicleta, «para trás e para a frente». Tinham quintal. Reside em Vagos, perto de Aveiro, onde segundo ela «há muita gente da Venezuela». De França também. Desloca-se todos os dias a Coimbra, ao Pão & Açúcar, uma padaria, pastelaria e pizzaria, na Urbanização Porta São Miguel, onde é empregada de balcão. É frequente encontrar quem tenha sido emigrante na Venezuela e que, por cá, tenha negócio na área da panificação. «Quando vemos uma padaria, “aquele senhor esteve na Venezuela”», demonstra. Muito comum em Vagos é um prato venezuelano que Nancy recomenda: “Arepa”. «É muito bom». Há, também, “Hallaca”,

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Hoje: Céu pouco nublado. Formação de geada em alguns locais do Interior. Vento fraco a moderado. Neblina matinal. Pequena subida da temperatura máxima. Sol: Nascimento às 6h19. Ocaso às 20h45 Lua: Lua Nova. Quarto Crescente às 1h43 de 21 de Maio. MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 5h06 e às 17h24 Baixa-Mar às 10h58 e às 23h31

COIMBRA 12º 23º LOCAL MIN MAX AVEIRO 13º 21º BRAGANÇA 7º 21º CASTELO BRANCO 11º 21º FARO 16º 22º FIGUEIRA DA FOZ 14º 21º GUARDA 5º 15º LEIRIA 13º 21º LISBOA 15º 20º PORTO 12º 20º VIANA DO CASTELO 12º 19º VISEU 9º 18º

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“As pessoas lá são alegres”

NANCY OLIVEIRA recorda as praias, o calor e as pessoas da Venezuela que aconselha vivamente. Não esquece os “cachitos” que, feitos de massa pão, têm direito «a fiambre cortado aos bocaditos. É enrolado. Sabe o que é?», pergunta olhando para a montra repleta de verdadeiras iguarias. Doce ou salgado. Não falta o pão. Sente-se «um bocadito» ligada à terra que a viu nascer. Passa-

ram-se os anos. Tem as duas nacionalidades: venezuelana e portuguesa. Sente-se tristeza quando afirma que as coisas não estão fáceis por lá. Mas, Cumaná – e segundo os tios – continua calma. «Ainda hei-de lá ir para relembrar, as praias, a areia branca, as palmeiras, o mar calminho». Sim, nestas palavras há

entusiasmo. Um entusiasmo banhado a alguma nostalgia própria de quem gostaria de reviver o que, noutros tempos, fez parte do seu dia-a-dia, o que continua a ser parte integrante da sua história. Uma viagem de cerca de oito horas, é esse o tempo que distancia os dois países. “Buenos dias”, o bom dia dado por Nancy. l


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23 DE MAIO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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“Estamos felizes aqui” Carina Leal Lera sobre este país à beira do Atlântico. O avô havia-lhe narrado «histórias de portugueses que descobriram grande parte do mundo», conta. Escutara, assim, os feitos de «portugueses famosos que viajaram pelos oceanos». Ele, Ahbab Gul, gosta de História. Sublinha-o. «Rica», é deste modo que descreve a de Portugal, de onde, há muitos séculos, partiu Vasco da Gama rumo à Índia, a um território que, e segundo ele, abrangia também o, hoje, seu país. É do Paquistão, mais precisamente de Lahore. São muitos os motivos que o trouxeram, há oito anos. A História, sim. O irmão que, por cá, constituiu família e que o desafiou a vir trabalhar consigo. «No resto da Europa, as pessoas não são tão simpáticas quanto os portugueses», diz Ahbab, acrescentado que nunca sentiu a diferença por ser imigrante. Há algo mais que surge quando a conversa já vai mais adiantada: «em Portugal, as pessoas estão ligadas às suas famílias. Gosto muito disso. Ainda há o respeito pelo sistema familiar». A Avenida Emídio Navarro enche-se daquele aconchegante sol de final de dia. No mesmo edi-

fício que acolhe, o também histórico Hotel Avenida, está o Restaurante Indo-Paquistanês Macguls. Falta pouco mais de uma hora para o jantar. Da cozinha já se ouvem os preparativos. A sala de jantar é decorada com um avermelhado tom que a torna quente, confortável. O tecto deslumbra o olhar. Ahbab é gerente deste espaço que “fala” da sua cultura, assim como da cultura cidade onde está: na parede, por trás do balcão, desenha-se a Coimbra de outros tempos. Falar português «é difícil», confessa. Uma palavra e outra, mas é em inglês que se sente mais confortável para conversar. «Com o negócio, temos de lidar com os clientes». E são muitos os portugueses que ali vão. No início, «falavam devagarinho e eu comecei a perceber. Ajudaram-me. São pessoas muito prestativas». A língua oficial do Paquistão é o Urdu. «Temos muitas palavras portuguesas». Dá como exemplo “armário”. Se os clientes fazem muitas perguntas? Fazem. «Perguntam sobre a nossa cultura, o nosso país, o nosso sistema familiar», explica. Há mesmo quem o questione se o Paquistão é, efectivamente, um país perigoso. «Eu digo que não. É só em algumas partes. Com os problemas no Afeganistão, perdemos muitos turistas», observa. Claro que sente saudades do país onde, por estes dias, faz muito calor. «Laho-

re é uma cidade muito famosa. Temos montanhas muito bonitas, lindos rios». Sente Portugal como a sua segunda casa. «Estou habituado, sinto-me confortável». Teve a visita dos pais, no ano passado. Levou-os por Coimbra, Figueira, Lisboa, Porto. Se gostaram? Ahbab confirma: «gostaram muito das pessoas». País “perfeito”, mas… No restaurante “coexistem” duas cozinhas: a indiana e a paquistanesa. «Não são diferentes». Refere que é habitual o uso do termo “comida indiana” pelo simples facto de ser mais famosa. A cozinha paquistanesa tem mais pratos de carne. «Damos mais sabor». A indiana tem mais vegetais. Se os sabores são fortes? «É forte, mas não demasiado», responde. «Temos de olhar para o que o cliente gosta. Os portugueses gostam muito de natas e nós usamo-las». Faz outra confirmação: muitos foram os que já provaram a comida típica e gostaram. Têm galinha, de várias formas, camarão, borrego, vegetais. «As pessoas gostam muito de Chicken Tika Masala». Há ainda o pão, Garlic Naan, «algo que não se encontra facilmente». Ficam as sugestões. Para beber? O delicioso Mango Lassi. Outra coisa que aprecia em Portugal é a gastronomia. «Tem uma das melhores comidas da Europa», afirma um entendido no assunto. Fecham à segunda para descanso, é quando apro-

CARLOS ARAÚJO

Ouviu sobre um país de descobridores

AHBAB GUL defende que se deve apostar nos produtos nacionais veita para se deliciar com os pratos portugueses. Cabrito. Chanfana. Bacalhau. «Se abrisse um restaurante no Paquistão, seria português. E, se o fizesse, acho que resultaria, porque a comida é muito boa». Há ainda outro aspecto: «este país é muito famoso pelo vinho». Costuma dizer aos turistas que o vinho português «é um dos melhores do mundo». Ahbab prima por dar destaque aos produtos da zona. «Temos de representar o sítio onde estamos», frisa. É por isso que não entende o porquê, quando vai – e dá como exemplo as

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NOME: Ahbab Gul IDADE: 31 anos PAÍS: Paquistão LOCALIZAÇÃO: Coimbra PROFISSÃO: Gerente de restaurante EM PORTUGAL: Há 8 anos

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cidade calma e boa. Já conheço muito de Portugal e sinto-me mais confortável aqui», partilha. «Estamos felizes aqui. Esperamos o melhor para o futuro deste país». Ahbab ensina-nos como se cumprimentam no Paquistão. «Só temos uma forma. É como uma pequena oração. Asalan-a-Akam (que Deus te dê uma boa vida)». O retorno? «U-Akam-Aslam (que Deus também te dê uma boa vida)». É aqui que nos conta algo mais, tendo como ponto de partida o “até amanhã” português: «no nosso país, não temos a certeza de que nos vamos encontrar amanhã». l

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cebolas – fazer compras, dos produtos não serem nacionais. Se os houver, são esses mesmo que quer. «Portugal não tem cebolas? Este país tem de crescer. Sim, somos imigrantes, estamos cá e temos de pensar no futuro do país». Não deixa de tocar no assunto burocracia. Sentiu dificuldades quando quis a nacionalidade portuguesa. «Trabalho cá, pago os impostos», sublinha infindas vezes. «O país é perfeito. Têm o país, mas não têm bons políticos», comenta. Sente que Coimbra, a cidade de «pessoas educadas», «mudou muito, está mais bonita. É uma

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Hoje: Céu pouco nublado, mas aumentando de nebulosidade com possibilidade de aguaceiros. Vento fraco a moderado. Descida da temperatura máxima, em especial no litoral. Sol: Nascimento às 6h13. Ocaso às 20h51 Lua: Quarto Crescente. Lua Cheia à 1h07 de 28 de Maio. MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 12h09 Baixa-Mar às 5h47 e às 18h09

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30 DE MAIO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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“Gostas realmente da Figueira?” Sente falta do calor próprio do país que lhe ensinou a arte da dança Dayamira Garcés Valerino nunca tinha equacionado visitar Portugal. O espectáculo, com que a companhia do Hotel Nacional percorria a Europa, acabou por trazê-la à Figueira da Foz. Ao casino. «Chamou-me a atenção o idioma. Quando ia a França, Bélgica, não tinha nada que ver. Aqui, era-me um pouco familiar», lembra. Havia ainda o mar. «Noutros países nunca o víamos. Tinha algo que me lembrava de Cuba. Mas, nunca pensei, tão pouco, que fosse ficar». Quatro meses que se tornaram já em sete anos. Tem 42 anos e nasceu em Santiago de Cuba. Que motivo a fez ficar? «Casei», responde. «Mas não com um português. Com um mexicano». Dayamira ri num jeito de muita simpatia. Houve que ir a Cuba tratar de todos os processos. «Se não o fizesse era como se fosse uma pessoa ilegal. Casámos lá, para depois voltar». «Depois de bailarina e professora durante tantos anos, o que vou fazer em Portugal?», questionou-se. Sim, Dayamira é bailarina e professora de dança. Em Cuba, trabalhou numa escola de artes. Integrou a Companhia Narciso Medina e, mais tarde, a do Hotel Nacional. «A vida estava difícil». Queria ajudar a mãe e as irmãs. «Comecei a trabalhar ali, a viajar e a ter flexibilidade monetária. Bons sapatos, comer melhor». Ginasta desde pequena, Dayamira, a professora formada em clássico, moderno e contemporâneo, apercebeu-se de que, em Portugal, a salsa I

estava na moda. Os ritmos latinos. Pensou: «tenho de fazer alguma coisa, em casa não vou ficar». Começaram as aulas de salsa, na Cantina San Lorenzo, o restaurante mexicano que abre portas na Figueira e cuja gerência pertence ao marido. «Entreguei o currículo nas escolas». No início sentiu alguma estranheza. «Percebo agora que vinha de uma escola diferente». Fala do sistema que lhe exigira muita dedicação, assim como o ter as medidas exactas. Cá enfrentou as aulas duas vezes por semana, os muitos motivos apresentados pelos alunos como justificação para faltar. «Foi complicado. As pessoas diziam-me para não ficar triste. À medida que o tempo foi passando, fui-me adaptando». Há satisfação, hoje, nas suas palavras. Ensina adultos, na “Kompassos Latinos”. Com um colega, também cubano, dá a conhecer os segredos, ritmos e movimentos do Merengue, Salsa, Cha Cha Cha, Mambo, com uma atenção especial para o Kizomba e Kúduro. Comunica que salsaerobic é uma modalidade que tem tido muita aceitação. «É aeróbica com ritmos latinos». Ensina, ainda, crianças a partir dos 3 anos, na “Kompassitos”. “Já temos coca-cola” E o português? «Ainda não consigo muito bem», ri Dayamira. Em Cuba, a língua oficial é o castelhano. Dá exemplos de sons que lhe são difíceis, explicando que a filha, de sete anos, a ajuda na pronúncia. «Trato de aprender. Vejo filmes». E, depois, há as

aulas de dança. «Tenho aprendido com eles». Recorda aqueles tempos em que não havia dificuldade quanto a termos técnicos de dança e ballet. «Agora, quando me diziam outra coisa qualquer, ficava no ar». Houve o dia em que, para explicar a posição de cócoras, a encenou. Foi uma aluna a ensinar-lhe o termo. «Fartei-me de rir». Se lhe perguntam sobre Cuba? «Sim, alguns dizem que sou espanhola. Perguntam-me sobre a minha família, quando vou». A última vez que visitou os seus foi há três anos. Sublinha o quão caras são as viagens. Sentiu muitas diferenças nesse país que, apesar das dificuldades, tem pessoas alegres. «Muito, muito, muito. Havia épocas em que tiravam a luz durante horas. Sem luz, íamos para a marginal. A guitarra, a garrafa de rum e cantar». Quando no restaurante se reúnem, «o meu marido diz “oh, os cubanos que falam tão alto”». «Há muitas pessoas que querem ir a Cuba agora com o Fidel Castro, porque dizem que depois vai mudar», afirma. Contudo, é da opinião de que essa mudança «não vai ser muito fácil». «Já temos coca-cola», refere lembrando tempos em que bebê-la «era estar contra Fidel». Assegura que há de tudo. «Temos um grande avanço, mas isso lá fica». Aconselha a que se conheça Trinidad, «está-se mais perto do povo». Fala dos paladares, restaurantes de comida caseira. «Gostas realmente da Figueira?», pergunta-lhe a mãe. Dayamara confirma. «Eu gosto mais da Figueira do que de

Nome: Dayamira Garcés Valerino Idade: 42 anos País: Cuba Localização: Figueira da Foz Profissão: professora de dança Em Portugal: há sete anos

outra cidade, pela tranquilidade e confiança com que posso caminhar». Se sente saudades? «Sinto. Sinto falta do calor. Quando chega o Verão, é como se estivesse em Cuba», a terra de bebidas como Mojito, Daiquiri e Cuba Libre, onde a carne vermelha é cara e difícil de encontrar. «Nós cubanos somos quentes, carinhosos. Mas, vocês são mais educados». Comunica que lá só se cumprimentam com um beijo. «Te vere pronto». Então, “até à próxima”. l

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Carina Leal

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DAYAMIRA GARCÉS dança desde pequena

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HOJE - Céu pouco nublado, temporariamente muito nublado e com neblina no litoral a norte do Cabo Carvoeiro durante a manhã. Vento fraco a moderado no litoral oeste. Pequena subida de temperatura, em especial da máxima. SOL – Nascimento às 6h09. Ocaso às 20h57 LUA - Lua Cheia. Quarto Minguante às 23h15 de 4 de Junho. Marés Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 5h11 e às 17h27 Baixa-Mar às 11h02 e às 23h35

COIMBRA 17º 30º LOCAL MIN MAX AVEIRO 17º 25º BRAGANÇA 14º 29º CASTELO BRANCO 17º 29º FARO 21º 26º FIGUEIRA DA FOZ 18º 25º GUARDA 13º 23º LEIRIA 18º 26º LISBOA 17º 24º PORTO 16º 24º VIANA DO CASTELO 16º 24º VISEU 15º 24º


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6 DE JUNHO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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“Então, o que é que está a fazer aqui?” Hollis conheceu Emília num cruzeiro. A “viagem” hoje faz-se em Coimbra

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Mas não pode fazer o exame, porque é tudo em português».

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Carina Leal São Vicente e Ilhas Granadinas. Onde fica? Nas Caraíbas. Hollis Roberts, de 37 anos, é natural desse lugar que muitos têm como destino de sonho. Mais concretamente de São Vicente, «a ilha principal. As Granadinas são pequenas ilhas à volta», explica. Quando lhe perguntam sobre a sua origem é frequente retorquirem com um: «então, o que é que está a fazer aqui?». O aqui é Coimbra. E se ele gosta de cá estar? Sim, gosta. «É muito agradável». Hollis sempre viajou muito. E são tantos os sítios que já conhece! Trabalhou durante anos em cruzeiros. Foi num navio que conheceu Emília. Depois, «viemos cá em férias. Decidimos casar e aqui estou». Riem os dois. Sorriem os dois muito, num jeito de muita sintonia e tranquilidade. Também Emília trabalhou em cruzeiros. Também Emília foi emigrante. Chegou, contudo, aquele momento em que os dois quiseram, juntos, começar uma viagem diferente. «Sempre fizemos e partilhámos tudo. Esta é mais uma das aventuras em conjunto», afirma Emília. Numa viagem por Portugal encontraram Coimbra. Dela nada conheciam. Ficaram e não é que se apaixonaram pela cidade? «Decidimos abrir aqui um negócio», conta Hollis. É no 1.o B, do n.o 91, da Rua Ferreira Borges que está o Zen Estetika. É – também o espaço – tranquilo. Muito. Hollis é quem, aí, se dedica ao serviço de hidrolinfa que consiste no tratamento de edemas e de problemas do sistema linfático. «Abrimos este espaço exactamente na altura em que come-

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HOLLIS ROBERTS diz que Coimbra é muito agradável çou a crise. Não sou de Coimbra, ele também não. Não conhecíamos cá ninguém. Apostámos. Foi difícil no início, mas o negócio está a avançar», observa Emília, vinda de Santarém. Hollis tem ainda um hobbie. Dedica-se à construção de websites, sendo disso exemplo o da Zen Estetika . Afirma que o receberam bem. «São todos simpáticos, nunca tive nenhuma má experiência». Emília acrescenta: «as senhoras de mais idade gostam sempre muito dele e as crianças também». Ele não esconde: «é bom estar aqui em Coimbra». Embora com residência em Portugal há seis anos, está cá «a morar mesmo há cerca de três». «Costumava estar a viajar», completa. Percebe o português. Complicado é quando lhe falam muito rápido. «É muito difícil falar, mas a culpa é dela», brinca apontando para Emília. «Sempre que tento falar em português ela ri-se de mim». A pronúncia.

DADOS NOME: Hollis Roberts IDADE: 37 anos PAÍS: São Vicente e Granadinas LOCALIZAÇÃO: Coimbra PROFISSÃO: trabalhador por conta própria EM PORTUGAL: há cerca de 6 anos

Sons como “nh”, “lh”, “ão”. Fazer soá-los correctamente é outra aventura. «Eu digo como vocês e não é igual porquê?», interroga rindo. «Hoje em dia já todos falam inglês. Preferem falar com ele em inglês, porque também é uma oportunidade de praticar», conta Emília. Aqui outro assunto se levanta: o conduzir. «Tem carta de condução do país dele, mas há sempre limites cá», explica Emília, «seria muito mais fácil ter a portuguesa.

“Uma forma de começar a vida” Confirma que lhe perguntam sobre o seu país, que tem como chefe de Estado a Rainha Isabel II. «Fazem perguntas sobre lo-cais para férias». Diz que foi na sua ilha, vulcânica e muito montanhosa, que decorreu parte das filmagens de “Piratas das Caraíbas”. Quanto a Emília, adora as ilhas Granadinas, «têm a água do mar mais azul que se pode ver». Estar “longe” «acaba por ser normal» para Hollis, porque isso sempre foi inerente ao viajar. Mas sim, sente saudades, sobretudo da mãe. Nas Caraíbas, a temperatura ronda os 32/33 graus e é mais constante. «Mas aqui…». A frase fica em entreaberto por instantes. «Talvez pela humidade, sente-se mais o calor. É extremamente quente. É sempre um subir e descer. Lá não é tão duro, não se sente tanto». E o frio português? «Gosto», esclarece quem, num ponto mais avançado da conversa, garante adorar a comida portuguesa. «Sopa da pedra, cozido à portuguesa, bacalhau à brás, bacalhau com natas». É ele quem faz a enumeração e entende-se na perfeição. Quanto a uma sugestão vinda das Caraíbas? «Roti», escreve na folha, não sem antes dizer que há tantas coisas boas para se provar. «Sabe, lá também há muitos indianos», informa, para justificar as influências que marcam aquela gastronomia. Hollis pega na sua experiência pessoal para deixar um conselho: «recomendo a qualquer jovem. É também uma forma de começar a vida. Nós fizemo-lo». Refere-se ao trabalhar em cruzeiros, ao viajar. A primeira vez que parou em Portugal foi há 12 anos. E, hoje, é na Rua Ferreira Borges que os dois constroem os seus dias, a vida em conjunto. «Esta zona da baixa, do rio», cativou-o. Emília conclui: «desde o Parque Verde ao Choupal». l

HOJE O TEMPO COIMBRA 11º 23º HOJE: Céu pouco nublado, temporariamente nublado por nuvens altas. Vento fraco a forte no litoral oeste durante a tarde. Neblina matinal. Pequena descida da temperatura mínima.

SOL - Nascimento às 6h07 Ocaso às 21 h02 LUA Quarto Minguante. Lua Nova às 12h15 de 12 de Junho. MARÉS PORTO DA FIGUEIRA DA FOZ Preia-Mar às 10h53 e às 23h13 Baixa-Mar às 4h33 e às 16h56

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RUGBY

Académica conquista Nacional de Sevens O rugby da Associação Académica de Coimbra conquistou mais um troféu para o seu palmarés. Os “pretos” apresentaram-se em bom plano na quarta etapa da competição, realizada na Tapada, confirmando o sucesso da sua aposta nesta variante da modalidade. Depois de ter conquistado as provas deste circuito realizadas em Arcos de Valdevez e Elvas (a do Algarve foi cancelada), o “sete” academista partia para esta competição com boas perspectivas para assegurar a sua conquista até porque passou a

ser a única que participou nos três certames. Ontem, na Tapada da Ajuda, estrearam-se Agronomia, CDUL e Belenenses, que juntaram o seu nome a uma lista composta por Benfica, CRAV, RC Évora, Famalicão, Técnico, Oeiras, FCT e Elvas. Este circuito tem primado pela ausências da maioria das equipas, fruto das datas agendadas coincidirem com outras provas. Por exemplo, a Selecção Nacional Sevens encontra-se em Split, na Croácia, a disputar o Europeu. Ontem venceram Andorra (33-7) Bósnia (71-0) e Alemanha (31-0), esgrimindo hoje argumentos com a Dinamarca. A quinta e última etapa do Nacional de Sevens realiza-se em Coimbra, onde a Académica irá jogar já com o estatuto de campeã nacional. R.F.S

POR MAIS UMA TEMPORADA

Nicola Godemèche renova com Naval Nicola Godemèche, médio francês, prorrogou o seu vínculo contratual com a Naval 1.0 de Maio por mais uma temporada, disse à agência Lusa Aprígio Santos, presidente daquele clube

da Liga portuguesa de futebol. Chegaram assim a bom termo as negociações entre o representante do jogador e Aprígio Santos, que assim garantiu o concurso do médio gaulês por mais uma temporada. «Godemèche está connosco há três anos, um jogador de grande carácter e excelente profissional, dou por bem empregue o esforço que fizemos para o manter entre nós», vincou o dirigente. l


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13 DE JUNHO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT REDACÇÃO 239 499 900 PUBLICIDADE 239 499 999 ASSINATURAS 239 499 950

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“Se fosse hoje faria igual”

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Há quem tenha a coragem de se aventurar e fazer frente ao desconhecido. Jader fê-lo

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Jader sorri ao vestir o rosto daquela expressão que tanto ilustra o que diz: «essa parte é difícil. Brasil em primeiro lugar, mas torcendo por Portugal claro». A questão era inevitável, sobretudo agora que a África do Sul recebe o Mundial 2010. Quis o sorteio colocar o país que viu nascer Jader Roratto frente ao que o recebe há cinco anos: Brasil e Portugal, respectivamente. Às 15h00 de 25 de Junho, as duas selecções vão medir forças. Em campo poderão, porventura, estar os dois jogadores que este brasileiro muito aprecia: Kaká e Cristiano Ronaldo. Se ainda há bem pouco tempo, vestiam a camisola do mesmo clube, o Real Madrid, por estes dias cada qual defende as cores do respectivo país. E, claro, Jader vai torcer pelo seu. Espera, contudo, «que os dois passem na fase dos grupos». E depois? «Logo se vê». Tem 27 anos e é chefe de sala num restaurante, cujas paredes e ambiente muito falam sobre o Brasil. O Gauchão. Há rostos tão conhecidos a rir nas paredes. Escuta-se Daniela Mercury. O almoço terminou há instantes. Agora, o espaço está tranquilo. Prepara-se uma noite que não tardará. Jader nasceu no Rio Grande do Sul, mas morou durante anos em São Paulo. Acompanhado pela esposa, quis procurar «novas oportunidades», em prol, e como diz, de «um futuro melhor». Contactos feitos com Gonçalo Carvalho, o proprietário do restaurante, veio ao encontro de uma terra que não conhecia. «Tive muitos colegas que inclusive me disseram que eu era maluco, que não teriam coragem». Jader não conhecia ninguém, nada. Mas, partiu. «Não me arrependo. Se fosse hoje faria igual». «Essa casa, Coimbra, Portugal» acolheram--no bem. Ele confirma e não faz parte dos seus planos regressar ao Brasil, «pelo menos para já». Vindo para Coimbra, ainda esteve, mais tarde, em Braga. «Mas, não é como cá», afirma.

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Solução na página Agenda de hoje

TEMPO COIMBRA

15º 27º

TEMPERATURAS

HOJE: Períodos de céu muito nublado com aguaceiros fracos e pouco frequentes. SOL - Nascimento às 6h06 Ocaso às 21h06 LUA - Lua Nova. Quarto Crescente às 5h29 de 19 de Junho. MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 4h10 e às 16h29 Baixa-Mar às 10h03 e às 22h38

AVEIRO BRAGANÇA CASTELO BRANCO FARO FIGUEIRA DA FOZ GUARDA LEIRIA VISEU

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TOTOLOTO

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JADER RORATTO diz que vai primeiro torcer pelo Brasil e, depois, por Portugal «Esta cidade em si é maravilhosa. Tem gente do mundo inteiro. O povo daqui é muito educado e simples ao mesmo tempo». Assegura que há quem lhe faça perguntas sobre o país que tantos sonham (e outros chegam mesmo a) visitar. «Perguntam como funcionam as coisas lá, que lugares bonitos tem para conhecer». O nordeste é, segundo ele, muito visitado pelos portugueses. «O sul já é diferente». É mesmo sobre o sul que quer falar: «é muito bonito também». Especifica nomeando a capital do estado de Santa Catarina, Florianopolis. «É fabuloso. Tem um povo acolhedor» E alegre? «Muito», responde. «O pessoal costuma dizer que é a Europa dentro do Brasil». Família: “é o que me faz mais falta” Têm como língua oficial o português. Mesmo assim, «ao princípio é difícil. Não é igual. A forma de falar as coisas é diferente», comunica recorrendo a uma pronúncia tão característica, quanto acentuada. Há traços de música em cada palavra. Braga, Coimbra, Aveiro, Viseu, Viana do Castelo, Porto, Lisboa, Sintra. «É um país muito bonito», afirma. «Gosto muito do Porto, jun-

DADOS NOME: Jader Roratto Idade: 27 anos I País: Brasil I Localização: Coimbra I Profissão: chefe de sala I Em Portugal: há 5 anos I I

to ao rio é fabuloso». E para férias? «O Algarve» que «já se assemelha um pouco mais com o Brasil». Sente muitas saudades.«Da minha família principalmente», até porque além da esposa, apenas cá tem um irmão. «É o país da gente. Há coisas com que a gente cresceu e sente falta. Sinto falta o tempo todo, mesmo gostando daqui». Não esconde: «a gente lá é muito apegado à família. É o que me faz mais falta». Associar palavras como “comida” e “Brasil” faz muitos pensar em rodízio. «É típico do Rio Grande do Sul», explica. «Lá todo o final de semana é churrasco. As festas é com churrasco». Conta que se foi aprimorando e, por estes dias, «todo o restaurante de luxo tem um rodízio». De que gostam os portugueses?

«Picanha, feijão preto, costela de boi». E para beber? «Caipirinha». A sugestão? «Caipirinha de morango é muito bom». E de que gosta Jader? «De bacalhau. Lá é muito difícil de encontrar e muito caro». É quando tem folga que parte à descoberta deste país, «para conhecer, tirar muitas fotos» e, assim, provar a gastronomia portuguesa que «tem muitos pratos excelentes». Quanto aos vinhos, «sem comentários». Mas, faz um: «muito bom». Brasil. É o país do samba. O país de onde, chegado o Carnaval, vêm imagens de muita animação, folia e alegria. Essa altura, lá, é vivida por «cada lugar de uma forma diferente. No nordeste, é o Carnaval de rua, o pessoal a pular a semana toda. Em São Paulo, são as escolas de samba. Em Santa Catarina, todo o mundo se junta, tomando cerveja, fazendo festa». Essa cerveja é o “choop” tão conhecido daquelas novelas que, há décadas, trazem “esse mundo” a este ibérico país. O “Olá” hoje é “Oi”. O “até amanhã” dá lugar ao “tchau”. Todavia, o que Jader quer mesmo dizer é «um bom domingo. Vale a pena conhecer o Gauchão e o Brasil». E no dia 25 há Portugal-Brasil. l

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POPULARES SOCORRERAM CONDUTOR

Despiste faz um ferido em Vil de Matos I Um homem de 71 anos, residente em Santo António dos Olivais, ficou ferido em consequência de um acidente registado ontem, cerca das 14h30, na localidade de Rios Frios, em Vil de Matos. Segundo fonte dos Bombeiros Voluntários de Brasfemes tratou-se de um despiste de uma viatura ligeira que acabou por embater contra o muro de uma quinta existente no local. Quando os bombeiros chegaram ao local (com um carro de fogo e uma ambulância) já o ferido, condutor e único ocupante da viatura, estava fora do carro, «sentado no chão», com ferimentos na cabeça e no nariz e a queixar-se do tórax.

O indivíduo, que foi transportado para os Hospitais da Universidade de Coimbra, «partiu o vidro do carro com a cabeça» e foi ajudado por populares a sair de dentro do carro, uma situação que não é recomendada nestes casos, como explica a mesma fonte dos bombeiros, adiantando que a retirada do ferido do interior da viatura obrigaria, neste caso, à utilização de material de desencarceramento. O que acabou por não acontecer. Aliás, de acordo com a mesma fonte, o condutor terá, com a violência do embate, partido o volante da viatura contra o corpo, podendo explicar-se assim as dores no tórax de que se queixava. No local estiveram os Bombeiros Voluntários de Brasfemes, com sete homens e duas viaturas (uma delas a ambulância que transportou o ferido para os HUC) e a GNR de Cantanhede. l

COZINHA DESTRUÍDA EM INCÊNDIO I Uma cozinha anexa a uma habitação ficou completamente destruída em consequência de um incêndio ocorrido ontem, cerca das 15h30, na Rua dos Covões, em S. Martinho do Bispo, a poucos metros da Bluepharma.

Segundo fonte dos Bombeiros Sapadores de Coimbra, as chamas terão tido origem nas brasas de uma fogueira que ficaram esquecidas junto àquela divisão pelos proprietários, que a terão acendido para preparar o almoço. l


DiáriodeCoimbra

20 DE JUNHO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT REDACÇÃO 239 499 900 PUBLICIDADE 239 499 999 ASSINATURAS 239 499 950

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VIDA DE IMIGRANTE

“Ficas cá preso. Porquê? Não sei”

DADOS NOME: Rafael Lara IDADE: 41 anos PAÍS: México LOCALIZAÇÃO: Figueira da Foz PROFISSÃO: Empresário (restauração) EM PORTUGAL: há 11 anos

De Portugal apenas conhecia o Vinho do Porto. A Expo 98 fê-lo ficar I Imagine. Há alguém que lhe pede uma “palhinha”. Uma quê? A pergunta é inevitável, caso se desconheça o termo. A dado instante o cliente já recorre à mímica para se dar a entender: dois dedos seguram na “palhinha” imaginária, através qual se absorve uma bebida, também ela, imaginária. Rafael Venegas Lara ri ao recordar uma das muitas situações engraçadas que viveu aquando da Expo 98. Pediam-lhe, então, uma palhinha que, no México, se apelida de “popote”. Rafael trabalhava numa empresa que, à Expo 98, deu a conhecer a gastronomia mexicana. À questão “quem quer ir a Portugal trabalhar?”, respondeu com um pronto “eu vou”. E veio. «Só conhecia o Vinho do Porto. Sempre trabalhei na hotelaria e essa era uma bebida conhecida a nível mundial». Confessa que a Expo 98 foi uma experiência «muito boa» que adorou e que lhe permitiu conhecer pessoas de muitos países. «Nunca quis sair do México», afirma. «Vim a Portugal sempre legal». Confirma ter-se tratado de um desafio, uma aventura. Veio ao encontro de culturas e terras novas. O que o fez ficar? «Não sei. Se calhar o destino», partilha. Certo é que o convidaram a gerir um restaurante que, da mesma empresa, ia abrir em Lisboa. Esteve lá dois anos. Entretanto, «uma pessoa daqui da Figueira da Foz convidou-me para fazer este projecto». Fala da Cantina San Lorenzo, um restaurante que abre portas muito perto do Casino

CARLOS ARAÚJO

Carina Leal

mexicana, autêntica. Aqui não há enganos», sublinha. Uma sugestão? «Plato del patron». Responde à pergunta “o que contém?” com a ementa onde se lê “não pergunte o que leva, peça-o”. Ri. «É o prato que mais se vende nesta casa. Não convém dizer o que tem, senão perde a piada», justifica. Afirma que «a comida nem sempre é picante. Isso é um mito» que, na sua opinião, se deve esquecer. Para beber? «Cerveja mexicanaemargaritas,claro». Diz que o clima em Portugal é muito instável. «Aqui na Figueira não falta nada. Chove, faz vento, já nevou. Hoje está frio, amanhã calor. Mas, acho que isso está a acontecer em todo o lado». Rafael tem 41 anos. Convida a «conhecer

esta casa mexicana, a cultura do país». O calendário marca o início do Verão para amanhã. São muitos os que, nos próximos meses, elegerão a Figueira como destino de férias. Há quem nela faça praia ou aproveite para conviver com os amigos. Na Rua São Lourenço, há «ambiente com sabor a fiesta». «Va un tequilla?». O quê? «Bebemos uma tequilla?», desafia hoje Rafael. E quanto ao mundial? «Temos de torcer pelos dois (Portugal e México)»,defende.l

RAFAEL LARA aconselha a visitar a Cidade do México Figueira. É um espaço quente pelas cores alegres que o preenchem. Nas paredes há imensos elementos que logo lembram o país de onde vêm. Há, ainda, imensas fotografias que relatam momentos que, de há 9 anos para cá, ali se viveram. Destaque para o acolhedor, e tipicamente mexicano, pátio. A música, latina e mexicana, convida à “fiesta”. «Gosto de uma casa animada e tem de ser assim para marcarmos a diferença», destaca. Diz que se adaptou bem ao novo país. Quanto à Figueira, «tem um encanto, cativa as pessoas e não as deixa fugir. Ficas cá preso. Porquê? Não sei». Há visível contentamento e conforto nas suas palavras. «Ainda temos qualidade de vida aqui». E a língua portuguesa? Como foi? «Ao princípio foi um pouco complicado. Tem muitas palavras diferen-

tes em relação ao castelhano». O dia-a-dia foi-o ensinando. Questionar Rafael sobre o México é fazer o olhar brilhar de saudade. Tem consigo a Nossa Senhora de Guadalupe e peças de artesanato mexicano que tanto lhe recordam o sítio onde cresceu. «Tenho saudades das tradições, da família. Mas, estou bem aqui». Foi aqui que conheceu Dayamira Garces que, recentemente, contou a sua história nesta mesma página. Foi aqui que ambos, ele mexicano e ela cubana, formaram uma família. «Ui... Eu por mim ia a cada ano ao México. Há 5 anos que não vou lá. Somos três, não é fácil. E isso implica fechar o restaurante um mês». A última vez que visitou os seus sentiu muitas diferenças no país. «Achava que não ia ter saudades da Figueira, mas tive». Já sente esta terra como sua. «As pessoas falam que há

muita violência, insegurança lá. Não é só no México. É em todas as grandes capitais do mundo». Deixa o reparo. Aconselha os turistas a descobrir a sua terra, a Cidade do México, e Acapulco. «Há muitas mais coisas para conhecer, não é só Cancún, Riviera Maya». As pessoas, essas, são «muito alegres, muito calorosas». «Entregamo-nos muito. Acho que somos muito bons». Plato del patron Define Portugal como um tranquilo país. «É um conjunto de coisas que te fazem ficar», comunica. «Gosto muito da gastronomia». Refere-se à do interior que tem «comida mais requintada, elaborada, mais caseira». Do que gosta? «Arroz de pato, cozido à portuguesa, bacalhau com natas, bacalhau assado». A enumeração é vasta. Na Cantina San Lorenzo «é só comida

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Solução na página Agenda de hoje HOJE: Céu pouco nublado, embora muito nublado de manhã no litoral a sul do Cabo Carvoeiro e de tarde no Interior. Vento fraco a forte, com rajadas até 65 km/h, no litoral. Pequena subida da temperatura máxima.

PORTO DA FIGUEIRA DA FOZ Preia-Mar às 10h29 e às 22h56 Baixa-Mar às 4h06 e às 16h30

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DiáriodeCoimbra

27 DE JUNHO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT REDACÇÃO 239 499 900 PUBLICIDADE 239 499 999 ASSINATURAS 239 499 950

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VIDA DE IMIGRANTE

“Nós por cá” dizemos: obrigado Histórias de vida deram cor ao DC durante oito meses. Momentos, nomes, sorrisos de quem arriscou e quis “sentir a vida” Carina Leal I 25 de Outubro de 2009. Domingo. Agora olha-se para trás. Contam-se as edições em que, na última página, se lia “Vida de Imigrante”. Foram 35 domingos de histórias. São, sobretudo, histórias de vida de quem, um dia, fez frente à incerteza e partiu rumo a um amanhã diferente. Para novo começo, escolheram o país de navegadores: Portugal. Sozinhos ou acompanhados. Com ou sem conhecimento deste ibérico país. Por uns meses ou anos. Motivos? Vários: trabalho, música, desejo de mudança ou de deixar a aventura acontecer. O desporto trouxe alguns. E não foi apenas o futebol. Foi, também, o ténis de mesa. Acontecimentos que marcam a história trouxeram outros, assim como a dança e, até mesmo, representar a gastronomia do país onde se nasceu. Claro, o amor. O amor moveu corações, fez atravessar fronteiras e juntou quem já estava por cá. Ainda o amor pela guitarra portuguesa que, dias mais tarde, se estendeu a um clube de futebol. É frequente escutar que “saudade” é um sentimento/palavra muito português. A grande maio-

ria não esconde que sente saudades do país de origem, das suas raízes, família e amigos. Se quis o DC saber como chegaram, começaram e aprenderam a língua de Camões (e contam-se algumas peripécias engraçadas), também ouviu as “tristezas” que enfrentaram. Muitos apontam o excesso de burocracia de Portugal. Em contraste, tantos sublinharam o quão bem os portugueses os receberam. Se está aprovada a cozinha nacional? Parece que sim. Foi uma volta ao mundo esta. Não em 80 dias, mas em oito meses. Não se repetiram nacionalidades, nem profissões. Foi um ir ao encontro de outros países, culturas, línguas, tradições e gastronomias. Há expressões, momentos, nomes, sorrisos, lágrimas até, a perfazer esta página. A partilha faz-se de tudo isso. E foi isso mesmo que estes 35 se disponibilizaram a fazer: partilhar. Hoje o DC agradece a todos. Se muito se escreveu, tanto mais ficou pelo gravador. Recorde-se, em jeito, de conclusão (se é que se pode concluir) as palavras do professor Kiril Bahcevandziev: «quem não sabe arriscar, não sabe o que é sentir a vida». I

IRINA KORBUT I Rússia

HEINZ FRIEDEN I Alemanha

KIRIL BAHCEVANDZIEV I Macedónia

CONSTANTIN CIUVERCA I Roménia

MYKHAYLO E HANNA I Ucrânia

MOUNIR LARROUSSI I Marrocos

ELLEN LANSER I Holanda

MARC RYON I Bélgica

LEILA SADEGHI I Irão

KASEM ALEID I Síria

IVAN COLESNIC I Moldávia

ALBINA GOVOROVA I Estónia

LOURDES HIDALGO I Espanha

ZORNITSA ILIEVA I Bulgária

SAYURI GODA I Japão

JIN SHAOBO I China

RAJKO BJELANOVIC I Croácia

CAROLYN CEMLYN-JONES I Reino Unido

KARINA GUERGOUS I França

SHUHRAT MAJIDOV I Uzbequistão

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SEBASTIAN ESPINOSA I Argentina

HUGO OVIEDO OCAMPO I Peru

GIOVANNI D’AMORE I Itália

PAUL DIAZ SANCHEZ I Colômbia

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MIGUEL ESCOBAR I Paraguai

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MAGDALENA HETMANSKA I Polónia

MARKUS BERGER I Áustria

MAMADOU DIALLO I Guiné-Conacri

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NANCY OLIVEIRA I Venezuela

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Solução na página Agenda de hoje MARÉS PORTO DA FIGUEIRA DA FOZ Preia-Mar às 4h16 e às 16h32 Baixa-Mar às 10h08 e às 22h40

PORTO DE AVEIRO Preia-Mar às 4h35 e às 16h51 Baixa-Mar às 10h16 e às 22h46

TOTOLOTO AHBAB GUL I Paquistão

DAYAMIRA GARCES I Cuba

HOLLIS ROBERTS I São Vicente e Granadinas

JADER RORATTO Brasil

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RAFAEL LARA I México

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