Entrevista Nuno Crato

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Ano XXI

nº 74

Jan/Fev 2009

Jornal O Vale

Departamento de Matemática

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PROJECTO SIGMATEMÁTICA ALUNOS VISITAM A FACULDADE DE CIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO

Professor Nuno Crato com alunos da Didaxis

No passado dia 31 de Janeiro um grupo vários alunos das turmas de 11º ano do curso de Ciências e Tecnologias da Escola Cooperativa de Vale S. Cosme - Didáxis deslocaram-se à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, FCUP, para assistirem à sessão de apresentação intermédia dos trabalhos do Projecto SigMatemática. O Projecto SigMatemática é uma actividade da FCUP direccionada para alunos de excelência do 11º ano. Nesta apresentação foram dados a conhecer os trabalhos apresentados até agora pelos participantes neste projecto.

Para além da mostra dos trabalhos este evento contou, ainda, com a participação do Presidente da Sociedade de Matemática (SPM), Professor Nuno Crato, que apresentou o seu mais recente livro da sua autoria, “Matemática das Coisas”. Como tal, os alunos da Didáxis aproveitaram a oportunidade para o entrevistarem e saber a sua opinião sobre certas questões do ensino da matemática. Esta visita foi assim, uma forma de incentivar o gosto pela matemática e divulgar o quão abrangente e essencial ela é.

ENTREVISTA AO PROFESSOR NUNO CRATO PERFIL

Nuno Crato (Lisboa, 1952) é um matemático e estatístico português que tem tido uma extensa actividade de divulgação científica. Foi professor na Escola Secundária Rainha Dona Leonor, no Instituto Superior de Economia, na Universidade dos Açores, no Stevens Institute of Technology e no New Jersey Institute of Technology. Desde 2000 é professor no Instituto Superior de Economia e Gestão. É também pró-reitor da Universidade Técnica de Lisboa. Em 2008 foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique. O seu trabalho de investigação incide sobre processos estocásticos e séries temporais com aplicações várias, nomeadamente climatéricas e financeiras. É Presidente e Coordenador Científico do Centro de Investigação Cemapre. Foi Presidente do International Symposium on Forecasting em 2000. É Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática desde 2004 e membro dos corpos gerentes do Fórum Internacional de Investigadores Portugueses (FIIP). É co-autor de Eclipses (Gradiva, 1999), autor de Zodíaco: Constelações e Mitos (Gradiva, 2001), co-autor de Trânsitos de Vénus (Gradiva, 2004), de A Espiral Dourada (Gradiva, 2006), de Relógios de Sol (CTT, 2007), de Passeio Aleatório (Gradiva, 2007), de A Matemática das Coisas (SPM/Gradiva, 2008) e de outras obras de divulgação. A Sociedade Europeia de Matemática (European Mathematical Society) atribuiu-lhe, em 2003, o Primeiro Prémio do concurso Public Awareness of Mathematics pelo seu trabalho de divulgação. A União Europeia atribuiu-lhe, em 2008, um European Science Award na categoria de Science Communicator of the Year. Intervindo no debate sobre o ensino, publicou O Eduquês em Discurso Directo: Uma Crítica da Pedagogia Romântica e Construtivista (Gradiva, 2006), coordenou Desastre no Ensino da Matemática: Como Recuperar o Tempo Perdido (SPM/Gradiva, 2006) e organizou a colectânea Ser Professor, de textos de Rómulo de Carvalho (Gradiva, 2006).

Pela leitura do livro “Passeio Aleatório” e “Matemática das Coisas” constata-se que tem um grande interesse pela área das ciências, nomeadamente pela Matemática. Qual foi o motivo pelo qual decidiu seguir esta área? Quando? Nuno Crato: É muito difícil saber, mas desde a minha primária, ou seja, desde o actual 1º ciclo, quando tinha 5 ou 6 anos, que já achava engraçadas as Ciências e a Matemática.

Ao longo da sua vida recebeu prémios, designadamente o prémio do concurso Public Awareness of Mathematics pelo seu trabalho de divulgação. Neste momento sente-se uma pessoa realizada? Já alcançou todos os seus objectivos? Nuno Crato: Sim sinto, não tanto pelos prémios, mas estou contente, comigo e com o que faço, e fico muito contente quando vejo pessoas como vocês interessadas em Matemática e interessadas na leitura dos meus livros. Fico muito contente!

A Matemática é uma das disciplinas em que os portugueses têm mais dificuldades. O que pensa sobre isso? Nuno Crato: Penso que há um grande desconsolo em relação a esse insucesso da Matemática, tanto pela parte dos alunos, como professores e como pais. E é preciso não desistir. As pessoas reconhecem mais hoje do que há 10 anos a importância da Matemática. Mesmo em Portugal, pais, professores e alunos, acho que a maioria das pessoas, têm mais noção da importância da Matemática do que tinham há 10 anos. E há maior preocupação. Infelizmente, isto ainda não se está a traduzir por melhores resultados escolares em Matemática, vai demorar um bocadinho… mas é importante não desistir! O que eu digo aos meus alunos e o que digo às pessoas que me perguntam como se pode ter sucesso a Matemática, é sempre o mesmo: é preciso persistência! É muito habitual os jovens estarem a estudar matéria e não percebendo, desistirem, passarem a frente e isso não resulta, isso não funciona. É preciso voltar atrás até perceber; é esse género de persistência que cada um de nós tem que ter, quando está

a estudar Matemática. Eu sei que é difícil, há muitas coisas ao lado que nos atraem e nós estamos cada vez menos habituados a estar muito tempo seguido a olhar para um problema. Mas a Matemática precisa de tempo.

“Mais vale estudar meia hora por dia do que 10h num fim-de-semana”

Outra coisa que julgo importante é o seguinte: praticar a Matemática com regularidade! Mais vale estudar meia hora por dia do que 10h num fim-de-semana; é preciso acompanhar as coisas não deixar que se acumulem as dúvidas ou incompreensões, falar com os professores, levantar as dúvidas na altura em que elas aparecem aproveitar as aulas… Enfim, são pequenas coisas que fazem a diferença entre o sucesso e a frustração. Está nas mãos de cada um de vocês e de cada um de nós, professores, porque a Matemática não é mais difícil do que as outras disciplinas, a Matemática é uma das disciplinas mais fáceis. A única diferença é que a Matemática exige talvez um pouco de concentração e mais persistência do que as outras disciplinas, mas depois de ter essa persistência, o sucesso está a vista!

“É preciso voltar atrás até perceber; é esse género de persistência que cada um de nós tem que ter” Como Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, que medidas deverão ser tomadas para a resolução deste problema? Pensa que o Ministério da Educação tem cumprido o seu papel ou tem vindo a facilitar a vida aos alunos? Nuno Crato: Julgo que há uma série de erros nos programas e que há alguns problemas em geral na orientação que tem sido dado à Matemática. Na realidade, julgo que a maioria dos professores não segue exactamente as orientações que chegam do Ministério, assim como todas as orientações implícitas que estão nos documentos oficiais, porque a maioria dos professores tem o bom senso de perceber, como se explica Matemática. Mas, de facto, de há alguns 20 ou 30 anos tem havido uma serie de orientações por parte do Ministério que, em meu entender, têm desorganizado o ensino. Vamos ver se as coisas se corrigem… José Ricardo Fernandes, Ângela Mendes, Maria João Barroso,Sara Sá, Elisabete Rio, Ana Maria Oliveira, Filipa Fernandes


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