8 | Caderno3
DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO, 5 E 6 DE NOVEMBRO DE 2016
Contraplano DOCUMENTÁRIO
EM CARTAZ
Força estranha Nesse sentido, foi um acerto do estúdio adaptar um personagem menos popular, sem menosprezar sua valiosa dramaturgia. Ao contrário de Batman, Superman e Homem-Aranha, que são os que mais voltam à estaca zero para recontar suas origens, Doutor Estranho traz o frescor de um universo místico que não cabem a esses outros heróis. O protagonista é um médico competente, mas difícil de lidar. Ciente disso, o roteiro opta por trazer vulnerabilidade e toques de humor para que Doutor Estranho seja carismático, mesmo quando é grossei-
Nova aposta da Marvel, “Doutor Estranho” se destaca na atual produção incansável de super-heróis DIEGO BENEVIDES Crítico de Cinema
J
á é um fato que o cinema comercial não quer abandonar os blockbusters megalomaníacos provenientes de adaptações, refilmagens e sequências incansáveis, geralmente com maior qualidade visual do que narrativa, e às vezes nem isso. Entre as histórias de superheróis, a Marvel se mantém como a maior investidora, ciente do valioso universo que tem em mãos e do público que gera bilheterias milionárias. Depois de um ano repleto de erros nesse segmento do cinema, “Doutor Estranho” chega para revitalizar o interesse por heróis cuja inteligência é parte dos próprios poderes, rendendo um filme eficiente.
ro. A atuação de Benedict Cumberbatch é essencial para que o público entre na jornada do herói, que vê seu destino mágico surgir sem questioná-lo de forma vazia, compreendendo que a transição que passa é completamente orgânica. A direção de Scott Derrickson, que também participou do roteiro, surpreende por tirálo das sombras de filmes como “O Exorcismo de Emily Rose” (2005) e “Livrai-nos do Mal” (2014). Ainda que ocupe uma posição muito segura em relação às fórmulas da Marvel, Derrickson traz certa inventividade na construção dos cená-
rios e nas sequências dinâmicas, sem despregar o interesse do espectador pelo que vai acontecer. Aliás, a estética colorida e quase psicodélica do filme, com efeitos visuais impressionantes, a exemplo da cidade se desdobrando, levam dinâmica às cenas de ação, sempre bem orquestradas pelo diretor, que mostra mais do que esconde do personagem.
Elenco A fluidez de “Doutor Estranho” também pode ser atribuída ao elenco competente escalado para a aventura. Além do timing perfeito de Cumberbatch, não é todo dia que vemos Tilda Swinton arregaçando as mangas contra os inimigos. A presença de Mads Mikkelsen é sempre um deleite, ainda que o vilão Kaecilius sofra com o vazio de suas motivações. Mesmo assim, Mikkelsen se dedica para transformá-lo em uma verdadeira ameaça para o mundo, despertando no protagonista o instinto de heroísmo. Completando os principais nomes estão Chiwetel Ejiofor, como Mordo, parceiro de Strange, e Rachel McAdams, como Christine Palmer, o interesse amoroso do herói. Vale dizer que é um presente do roteiro que a mocinha não sirva de escada para o vilão. Christine não está em perigo. Pelo contrário, ela é essencial para momentos-chave da trama, posicionando o papel feminino nos filmes de herói de forma menos careta e machista, além de render bons momentos de humor. Ainda que o destino de “Doutor Estranho” no universo cinematográfico da Marvel não seja tão seguro, é bom saber que ainda há diversão com qualidade, colocando-o ao lado de “Guardiões da Galáxia” (2014) entre as produções que ainda valem a pena acompanhar.
Câmera na mão e ideias na cabeça
T
alvez não seja um peso carregar o sobrenome de um dos maiores cineastas brasileiros de todos os tempos, mas há uma associação inevitável quando damos atenção ao cinema que interessa a Eryk Rocha. Seu novo projeto, o documentário “Cinema Novo”, é uma ode em forma de ensaio poético ao movimento que trouxe mudanças significativas de linguagem ao cinema brasileiro, baseado no famoso discurso de mudar o mundo com a câmera na mão e uma ideia na cabeça. É curioso acompanhar a percepção de Eryk a partir do tema que tem em mãos. Sua pesquisa não se restringe a Glauber justamente porque o compromisso do documentário é mostrar, em definitivo, as influências intelectuais dos mais diversos diretores do período. Assim, “Cinema Novo” traz um trabalho riquíssimo de entrevistas com nomes como Nelson Pereira dos Santos, Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade, Ruy Guerra, Carlos Diegues e tantos outros realizadores que contribuíram para um cinema voltado à própria realidade brasileira, a partir do pensamento sobre os problemas humanos e do questionamento social. As entrevistas, às vezes apenas em áudio, se misturam a cenas de filmes importantes do movimento, que passam por
“Rio, 40 Graus” (1955), “Vidas Secas” (1963), “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1963), “A Falecida” (1964), “São Bernardo” (1972) e “Macunaíma” (1969), para citar alguns. O documentário se revela, antes de tudo, como um precioso trabalho de montagem que possibilita que o público revisite essas obras importantes e atualizem, mesmo que rapidamente, suas impressões sobre elas. Por meio dos depoimentos, revivemos a experiência de Glauber, Leon, Joaquim, Ruy e dos demais amigos que perceberam que a linguagem cinematográfica brasileira poderia seguir por outro rumo após o vazio deixado com o declínio das pornochanchadas. Eryk evita o conteúdo clichê, fanático ou didático demais em relação ao tema, até para não tornar o documentário maçante. É fácil perceber o elo que ligou os cineastas desse período e como eles acreditavam na arte como denúncia do real, sem maquiar a realidade brasileira da época ao mesmo tempo em que desenvolviam a linguagem. Ao mesmo tempo em que homenageia a nossa história “Cinema Novo” é um filme fundamental para pensar a produção nacional do passado e do presente, e defende que o cinema e a arte ainda são as melhores ferramentas de reflexão política sobre a nossa realidade. (DB)
Em “Cinema Novo”, Eryk Rocha faz um ensaio sobre os realizadores e filmes do movimento histórico que mudou o cinema brasileiro
DIEGO BENEVIDES
Aceccine
diego.benevides@diariodonordeste.com.br
For Rainbow AEDIÇÃO COMEMORATIVA doFor Rainbow– FestivaldeCinema e Culturada DiversidadeSexual está agendadapara acontecerentre osdias 10e17 denovembro,sempre com programaçãogratuita noCinema do Dragão-FundaçãoJoaquimNabuco. Aimportânciado evento não está apenaspelabandeira quecarrega, mas tambémpor resistirdentroda programaçãodefestivais cearenses, mesmocom incentivos financeiros limitados.OForRainbow nunca deixoudeseruma festa queabre espaçopara pensare discutir identidadedegênero, reflexonão apenasda programação defilmes,mas tambémdasatividades paralelas. Esseano,seis longas-metragense 28 curtas/médiasparticipamda competição.Exibições especiais, showse lançamentodelivros completamaagenda deatividades. Anoitedeabertura,no dia10, prestará homenagema ElkeMaravilha, que
DESTAQUEEM BERLIM, drama“Antes oTempoNãoAcabava” seráexibido pelaprimeiravez emFortaleza duranteanosfoi amadrinha doevento. Aartistafaleceunomês deagosto, deixandocomoprincipais marcas a irreverênciae aintelectualidade.Elke tambémserátema deexposição na MultigaleriadoDragão doMar eum concursodesósias tambémreunirá artistaslocaisqueainda são influenciadosporela.
Maracanaú Com a proposta de dar mais espaço para a produção audiovisual cearense, o 6º FestCine Maracanaú - Festival de Cinema Digital e Novas Mídias começa na próxima segunda-feira (5) e segue até o dia 10 de novembro. Na competição de longas estão quatro cearenses, entre eles “Do Outro Lado do Atlântico”, de Márcio Câmara e Daniele Ellery, e o premiado “Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois”, de Petrus Cariry. Já entre os curtas nacionais, os principais destaques são “Os Olhos de Arthur” (foto), de Allan Deberton; “Abissal”, de Arthur Leite, e “O Homem que Virou Armário”, de Marcelo Ikeda, realizados também no Ceará. Todas as exibições são gratuitas e acontecem no Cineteatro Dorian Sampaio, no bairro Antônio Justa, em Maracanaú.
A Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine) abriu convocatória anual para integrar novos membros que já atuem há, pelo menos, dois anos com crítica de cinema. A Aceccine reúne e reconhece o trabalho dos profissionais da área que nasceram ou residem no Ceará, promovendo ações que estimulam o pensamento crítico em relação às obras audiovisuais, valorizando especialmente o cinema brasileiro e o cearense em suas mais variadas experimentações.
MostradeSP
Edital Seguem até o dia 21 de novembro as inscrições para o Edital de Apoio a Projetos de Promoção à Memória, à Visibilidade e à Afirmação das Manifestações Culturais de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT), facilitado pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult). O orçamento é de R$400 mil e será distribuído em 24 trabalhos, cada um recebendo apoio financeiro entre R$10 mil e R$35 mil.
DESTAQUE O drama “Mulher do Pai”, primeiro longa-metragem dirigido por Cristiane Oliveira, foi eleito pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) como o melhor filme da 40ª Mostra Internacional de Cinema, que terminou na última semana. O filme também foi premiado no Festival do Rio com os troféus de Melhor Direção e Melhor Fotografia e atriz coadjuvante. A trama acompanha a história de pai e filha que precisam reaprender a se relacionar após a morte da avó da menina. “Mulher do Pai” é uma coprodução Brasil/Uruguai e tem previsão de estreia para 2017, sem data definida pela distribuidora Vitrine Filmes.