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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO, 11 E 12 DE NOVEMBRO DE 2017
CONTRAPLANO THRILLER
DRAMA
Noite alucinante de perseguição
O espaço da crise e da melancolia
Em seu melhor papel da carreira até agora, Robert Pattinson cai nas boas mãos de diretores jovens e criativos que exploram seu potencial dramático
Irmãos Safdie fazem de “Bom Comportamento” uma experiência frenética de crime e relação familiar DIEGO BENEVIDES Crítico de cinema
E
xibido no Festival de Cannes desse ano, onde colecionou elogios, “Bom Comportamento” é uma imersão pura no cinema dinâmico de Ben e Josh Safdie, que ficaram conhecidos após “Amor, Drogas e Nova York” (2014), premiado no Festival de Veneza. Aqui, uma história de crime em plena Nova York cheia de luzes neons e pessoas desajustadas. No cenário, o turismo é substituído por um submundo imprevisível, onde jovens como Connie, papel de Robert Pattinson, não têm medo das consequências de seus atos, até por talvez não prevê-las.
Após o mal sucedido assalto a um banco ao lado do irmão Nick, interpretado pelo diretor Ben Safdie, Connie vive uma noite eletrizante para tirar o irmão da prisão. Nick não é um jovem comum e Connie tenta cuidar dele dentro de suas limitações. A situação em casa não é das melhores. Uma família desestruturada ignora a responsabilidade pelos jovens. A tentativa de tirar o irmão das mãos da polícia leva Connie a situações extremas. O roteiro insere novos personagens e conflitos de forma fluida, em forma de bola de neve que aperta o cerco do protagonista. Tudo acontece em apenas uma noite, mostrando até onde Connie pode ir para salvar o irmão.
Visual Os irmãos Safdies optam por uma estética arrojada, onde as cores explodem nos momentos mais imprevisíveis. O submundo do crime é quase uma tela de pintura, ainda que a sujeira seja sempre evidente.
A criatividade dos diretores explora as possibilidades visuais da trama, ancoradas por elementos técnicos infalíveis, como a direção de fotografia e especialmente a montagem e a trilha sonora. “Bom Comportamento” transita entre uma história urbana sobre crime e família, com um aparente toque futurista, que faz com que os personagens, todos com a índole questionável, sejam realmente vistos como desajustados. O roteiro evita propor saídas para resolver a criminalidade e a ausência familiar, tendo tudo aquilo como um fato de uma classe média decadente que não sabe por onde recomeçar. Os Safdie elaboram um filme de total imersão que, mesmo caindo em algumas armadilhas previsíveis, sabe contorná-las de forma criativa. Em paralelos, os cineastas criam diálogos inspirados, que alfinetam com discrição diversos sintomas de uma atual sociedade intolerante.
DIEGO BENEVIDES
For Rainbow
diego.benevides@diariodonordeste.com.br
Amores Expressos REVER UM DOS principais filmes doinícioda carreira docineasta chinês Wong Kar-Wai,“Amores Expressos” (1994),continua umaexperiência extraordinária,mesmo 23anosdepois deseulançamentooriginal. No Brasil,o longa-metragemestreoucom um atrasodedoisanos efoio primeirodo diretorachegar aoscinemas nacionais.Ashistórias deamor que acontecemem uma HongKong iluminadaemarginal trazema originalidadee ofrescor criativodo diretorque,na época, impressionou comsua câmera dinâmica, montagem infalívele umritmofrenético. Eainda impressionahoje.Relançado pela distribuidoracearense Classicline, “AmoresExpressos” seduzopúblico comseu esquemanarrativofluido, um jogodeluzes e sombrasna vidade pessoasque tentamdriblar asolidão nacidadegrande. Falar sobre sentimentosnunca pareceutão futurísticoeoriginal, aocontrário de
“AMORES EXPRESSOS”, clássicode WongKar-Wai,segue como experiênciapsicodélica eemocional tantashistórias deamor redundantes quecontaminamocinema contemporâneocomercial. Wong Kar-Waiconvida opúblico amergulhar naalma deseuspersonagens esempre manteve,emsua vasta e incansável filmografia,apegadaautorale destemidaque fazdeseus filmes experiênciasdeimersãoe delírio.
Depois de ensaiar o afastamento dos filmes adolescentes ao participar dos ótimos “Mapas para as Estrelas” (2014) e “The Rover – A Caçada” (2014), para citar alguns, o ator Robert Pattinson entrega sua melhor interpretação até agora e conquista o respeito de quem o desprezou por suas escolhas erradas anteriores. Pattinson faz de Connie um personagem cheio de camadas, que transita facilmente entre o marginal, o sentimental e o trapaceiro. Todos giram ao seu redor, mas aparentemente ele nunca tenta pegar a história só para ele. Há uma magia na dinâmica de como as coisas se desenrolam em “Bom Comportamento”, que é o que faz desde um dos melhores filmes lançados nos cinemas esse ano. Os irmãos Safdie agregam técnica e criatividade em um filme que esbanja sentimentos, dos melhores aos piores, sobre uma juventude que nunca deixou de ser rebelde.
No Interior Depois de passar pelo CCBNB Fortaleza, a mostra itinerante do 27º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema vai para o CCBNB Juazeiro do Norte, de 14 a 18 de novembro. O programa exibirá os 37 curtas-metragens brasileiros que passaram pelo Cine Ceará, em agosto desse ano. 23 deles formara ma Mostra Olhar do Ceará, cuja curadoria foi assinada pela Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). Entre os curtas que serão exibidos estão “Vando Vulgo Vedita” (foto), de Andréia Pires e Leonardo Mouramateus; “Candeias”, de Ythallo Rodrigues; “Caleidoscópio”, de Natal Portela, entre outros. Após Juazeiro do Norte, a itinerância vai para CCBNB Sousa, interior da Paraíba, de 21 a 24 de novembro.
Um dos mais importantes espaço para discutir diversidade sexual no cinema, o For Rainbow segue até a próxima quarta-feira (18) com programação gratuita de filmes. Neste sábado (11), a Mostra Queer exibirá os curtas “Stanley” (PB), de Paulo Roberto; “Inocentes” (RJ), de Douglas Soares, e “Baunilha” (PE), de Leo Tabosa. Entre os destaques do domingo (12) está o longa-metragem “O Tempo Feliz que Passou” (PB), de André da Costa Pinto.
P
or mais que seja conhecido por seus trabalhos cômicos, o ator Ben Stiller tem um lado sempre bom de ser explorado: o drama. Em “O Estado das Coisas”, ele interpreta um pai em crise existencial sobre si mesmo e sobre os outros ao seu redor. O protagonista é Brad, que tem uma vida aparentemente confortável ao lado da mulher e do filho. Um estalo desperta todos os questionamentos levantados pelo filme: o filho de Brad está pronto para escolher uma profissão, entrar em uma faculdade e mudar a vida da família. Brad não se considera um homem de muito sucesso, já que se compara constantemente com os amigos do colégio que hoje são bem-sucedidos. Ele optou por fazer trabalhos mais humanos, ajudando as pessoas ao redor. No entanto, o início da vida profissional de seu filho entra em conflito com os frutos que Brad conseguiu ou não colher desde cedo. Mike White, também mais conhecido por seus personagens cômicos, assina o roteiro e a direção de “O Estado das Coisas”, balanceando a crise existencial melancólica com pitadas de humor que quase sempre funcionam. O protagonista já é praticamente um homem de meia idade que parece, finalmente, ter acordado para o futuro que construiu e questionado se isso
seria suficiente para ele. O principal acerto do roteiro é justamente se reconhecer como uma crítica aos brancos bem sucedidos que reclamam de uma vida boa. Em certo momento do filme, uma jovem joga na cara de Brad que ele aparentemente tem tudo e não entende os motivos de questionar tanto sobre si e sobre os outros. Mesmo com a narração em off exagerada, que faz com que o ritmo seja maçante a maior parte do tempo, “O Estado das Coisas” acerta ao brincar com os pontos de vista dos personagens e do público. É divertido ver como as coisas nem sempre são como realmente pensamos e que essas impressões podem ser óbvias. A relação de Brad com os colegas da faculdade explora esse conflito. No fim das contas, White tem um filme razoável sobre as transformações no decorrer do tempo, sem apelar para situações moralistas. Ben Stiller se entrega à melancolia do personagem e é fácil se interessar por ele, ainda que o filme se estenda mais do que devia. Mais um exemplar da ótima safra de produções originais da Amazon, “O Estado das Coisas” desperta o público para pensar sobre sua própria realidade. Mesmo sendo um filme redundante, não chega a incomodar como obra cinematográfica, mas também não vai além do que poderia ser. (DB)
Em mais um papel dramático, Ben Stiller estrela “O Estado das Coisas”. O ator interpreta um homem que passa a questionar sua atual situação no mundo
TitanicemIMAX
Filmagens O cineasta gaúcho Jorge Furtado, responsável por filmes como “Ilha das Flores” (1989) e “Saneamento Básico, o Filme” (2009), deu início, na última quarta-feira (8), às gravações de seu novo longa-metragem, “Rasga Coração”. O filme é uma adaptação da peça homônima de Oduvaldo Vianna Filho, com roteiro assinado pelo diretor ao lado de Ana Luiza Azevedo e Vicente Moreno. O elenco conta com Marco Ricca, Chay Suede, Drica Moraes e outros. A estreia acontece em setembro de 2018.
EXIBIÇÃO Para comemorar 20 anos de mercado, a Rede UCI exibirá “Titanic” (1997) em 3D, IMAX e 4DX, com exclusividade no dia 13 de novembro. A produção revolucionária de James Cameron ultrapassou US$2 bilhões em bilheteria no mundo inteiro, além de ter vencido 11 estatuetas do Oscar. Além de “Titanic”, outro clássico também está marcado para o mesmo dia. “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” (1977), de Steven Spielberg, ficção científica que marcou uma geração e influenciou tantas outras produções sobre alienígenas. Os filmes serão exibidos em todos os cinemas UCI de 12 cidades, com valores especiais. Em Fortaleza, a Rede UCI opera no Shopping Iguatemi e no Shopping Parangaba.