Revista Eletrônica Bragantina On Line - Dezembro/2016

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Revista Eletrônica Bragantina On Line

Discutindo ideias, construindo opiniões!

Número 62 – Dezembro/2016 Joanópolis/SP

Edição nº 62 – Dezembro/2016

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SUMÁRIO

Nesta Edição: - EDITORIAL – Natal dos abandonados ................................................................ Página 3; - POLICLÍNICA – Banho de mar Por Aline Poli ............................................................................................................. Página 4;

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– Inventor brasileiro desenvolve sistema ambientador de som veicular

Por Paulo Gannam .................................................................................................... Página 6; - A ARTE DO TURISMO E DA HOTELARIA – O natal das tribos Por Leonardo Giovane ............................................................................................. Página 8; - EDUCAÇÃO AMBIENTAL – Pensar a educação ambiental Por Flávio Roberto Chaddad ................................................................................. Página 10; - LINHA DO TEMPO – Envelhecer com esperança Por Helen Kaline Pinheiro ..................................................................................... Página 12; - COLCHA DE RETALHOS – Feliz natal Por Rosy Luciane de Souza Costa ......................................................................... Página 15; - MEMÓRIAS – Carruagens de fogo: paixão e fé Por Susumu Yamaguchi ......................................................................................... Página 18; - O ANDARILHO DA SERRA – Folha de papel Por Diego de Toledo Lima da Silva ....................................................................... Página 22.

Edição nº 62 – Dezembro/2016

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REVISTA ELETRÔNICA BRAGANTINA ON LINE Uma publicação independente, com periodicidade mensal.

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EDITORIAL

NATAL DOS ABANDONADOS

Prezados leitores! Esta é mesmo uma época de sentimentos vivos, de abrir o coração para o mundo e os olhos para o céu. Também é um momento de reflexão, muitos têm muito e outros nada. Quanta desigualdade... Fico a imaginar o natal dos abandonados, dos sem família, das vítimas da guerra e das crianças pobres, que esperam o ano inteiro pela noite de natal e nada... Nem uma esperança! Por essas pessoas, gente como a gente, peço uma oração a cada um de vocês, queridos leitores. Juntos vamos cruzar nossas mãos no sinal de respeito do início dos tempos. Que, com o muito pouco que temos, possamos proporcionar um momento de alegria em suas vidas, pois a verdade é que não há nada mais belo que um sorriso no rosto, seja de uma criança ou de um velho...

Diego de Toledo Lima da Silva – Editor (20/12/2016) E-mail: revistabragantinaon@gmail.com

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POLICLÍNICA

Aline Poli Fisioterapeuta E-mail: alinepoli@gmail.com

BANHO DE MAR Final do ano chegando e muitas pessoas optam por passar a virada do ano no litoral. Alguns acreditam que pular as 7 ondas trará sorte, outros fazem sua oferenda à rainha do mar Iemanjá, e outros apenas para descansar. Independente da sua crença, o que poucos sabem é sobre os benefícios que um simples banho de mar pode trazer. Por isso escolhi encerrar o ano falando sobre os inúmeros benéficos da água do mar. Acompanhe-me!! A água do mar é usada há mais de 4 mil anos para recuperar e conservar a saúde. O pesquisador francês René Quinton descobriu que os componentes da água marinha são semelhantes ao do plasma sanguíneo. Doutor Jarricot usava água do mar para curar diversas doenças como: cólera, tireoides, desnutrição e até problemas de pele. Estudos recentes revelam que a água do mar limpa o intestino grosso, dá energias, melhora as defesas e desintoxica o organismo. Estudos com hipertensos revelaram que após usarem por 3 meses água marinha tiveram uma grande melhora nos quadros de hipertensão. A água do mar contém zinco, iodo, potássio e oligoelementos, possuindo um efeito antibiótico e é ideal para avançar os processos de cicatrização de feridas. Além de inúmeros benefícios na reabilitação ou pós operatório, favorecendo na recuperação de algumas lesões e proporcionando um relaxamento muscular. Devido ao magnésio, a água marinha é um excelente aliado para eliminar a ansiedade e acalmar. Edição nº 62 – Dezembro/2016

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É um excelente regenerador favorecendo no tratamento do fígado e rins. Esses são alguns dos inúmeros benefícios da água marinha!!! Então, aproveite essa dica e se beneficie desse bem que a natureza nos ofertou. Desejo um Natal cheio de amor e um ano novo com muitos banhos de mar e paz. Gratidão!

Site: www.alinepoli.com

Como citar: POLI, A. Banho de mar. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.62, p. 4-5, dez. 2016. Edição nº 62 – Dezembro/2016

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INVENTOR BRASILEIRO DESENVOLVE SISTEMA AMBIENTADOR DE SOM VEICULAR

Projeto proporcionaria nova experiência acústica ao dirigir separando voz e efeitos de música como se o motorista estivesse num show ao vivo

Quem é que não gosta de pegar a estrada e ouvir aquele som gostoso no carro, seja para se inspirar, seja para ter uma viagem mais leve e serena, sem perder, é claro, a atenção? Agora você já pode converter o som stereo do carro em 3D, usando apenas 3 alto-falantes. É o que afirma o inventor Wellington Terumi Uemura, que, sem bobear, já depositou a patente de sua invenção. Segundo ele, o software por trás de sua criação pode ser embarcado em forma de firmware em qualquer rádio vendido no mercado, já que todos viriam com um processador embutido. “Minha invenção é capaz de dar a ilusão de separar os instrumentos ao seu redor e colocar o cantor principal no centro do painel do carro”, garante. Uemura, usando um processador analógico, diz que os motoristas vão experimentar o que ele chama de “palco sonoro” de qualidade. “O problema é que você ouvia esse palco de fora. A minha invenção te coloca no meio desse palco fazendo as coisas acontecerem ao seu redor”. Aqui você encontra algumas imagens do processador e do produto instalado no carro. A placa do processador: http://i.imgur.com/CcCR8aO.jpg Da instalação: http://i.imgur.com/4ORDjPR.jpg / http://i.imgur.com/zukZgPK.jpg / http://i.imgur.com/32yioPi.jpg Uemura desenvolveu todo o esquema elétrico, a placa de circuito impresso do protótipo e já concluiu o projeto inserindo placa em fibra de vidro para obter melhor Edição nº 62 – Dezembro/2016

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acabamento.

Negócios: O objetivo do inventor é licenciar ou vender a tecnologia para estúdios de cinema, gravadoras e empresas do setor automotivo. Quem tiver interesse em conhecer melhor a tecnologia, basta entrar em contato com ele pelo email: wellingtonuemura@gmail.com

As invenções de Gannam podem ser conferidas no site: https://paulogannam.wordpress.com/

Outros Contatos: Linkedin: https://www.linkedin.com/pub/paulo-gannam/51/1b0/89b Facebook: https://www.facebook.com/paulogannam.inventionsseekinvestors Google+: https://plus.google.com/+PauloGannaminven%C3%A7%C3%B5es Twitter: https://twitter.com/paulogannam

E você? Já teve ou está com uma grande ideia? Conte para o Paulo, pois pode virar notícia aqui na Revista Bragantina!

Como citar: GANNAM, P. Inventor brasileiro desenvolve sistema ambientador de som veicular. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.62, p. 6-7, dez. 2016. Edição nº 62 – Dezembro/2016

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A ARTE DO TURISMO E DA HOTELARIA

Leonardo Giovane M. Gonçalves Técnico em Hospedagem e Graduando em Turismo E-mail: leonardo.giovane@hotmail.com O NATAL DAS TRIBOS

Passa ano entra ano, dezembro sempre foi e, penso que sempre será, o mês dos acertos. O mês de pensar em tudo o que fizemos durante o ano e planejar o que será de nós no ano que irá vir. Mas não somente isso, dezembro é um mês festivo, no qual o espírito natalino toma conta das pessoas e de cidades. Os mercados começam a receber panetones, perus, vinhos e outros insumos, as cidades se enfeitam de luz e brilho e as pessoas começam a decorar suas casas. No Natal e no Ano Novo muitos gastam centenas de reais preparando a ceia e viajando, enquanto outros têm muito pouco ou quase nada para festejar a data. Muitos compram presentes caros, enquanto outros só querem um pedaço de pão. Ter e não ter não é demérito ou mérito algum, são só condições sociais postas em um mundo desigual. Mas este não é o objetivo final do Natal, há muito além de presentes, viagens a Paris, comidas caras e hotéis de luxo. Há uma coisa que todos os seres humanos possuem e que podem compartilhar, ou seja, os bons gestos, sentimentos e atitudes. Não só na época natalina, mas como em todas as épocas do ano é necessário oferecer o que temos de melhor e fazer prevalecer os sentimentos mais puros. O Natal é de todas a tribos, de todas as cores, crenças e lugares. Há quem acredite que o Papai Noel existe, mas também há quem discorde. Há quem nem saiba da existência do bom Edição nº 62 – Dezembro/2016

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velhinho. Há quem espera o bom velhinho chegar na manhã do dia 6 de dezembro e espera o menino Jesus na manhã do dia 25 de dezembro. De crenças, sabores, modos, tradições e outros fatores é que faz o Natal ser o que ele é: a época do amor, de juntar a família, rever os amigos, voltar para casa, dar um abraço apertado e restituir forças para as próximas jornadas. Mas é claro que assim como nas tribos dos sem presentes, sem ceia e sem hotel, há também as tribos de um homem só, os sem família. Para estes façamos o nosso melhor, oremos por eles, não os desprezamos e tentemos fazer tudo que estiver ao nosso alcance. Pois, afinal, mesmo para aqueles que não acreditam em religião, podemos ser de tribos diferentes, mas vivemos em um mesmo território. Por outro lado, não posso eu esquecer da minha tribo, a tribo que passa natais e anos novos fora de casa para fazer essas datas especiais para nossos hóspedes e clientes. Pessoas que dedicam o seu tempo para tornar momentos inesquecíveis, que muitas vezes se tornam únicos. Portanto, neste Natal das Tribos não se esqueças dos valores principais da data, pois são eles que nos tornam humanos e dignos de amar o próximo!

Como citar: GONÇALVES, L.G.M.

O natal das tribos. Revista Eletrônica Bragantina On Line.

Joanópolis, n.62, p. 8-9, dez. 2016. Edição nº 62 – Dezembro/2016

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Flávio Roberto Chaddad Graduado em Engenharia Agronômica e Ciências Biológicas; Graduando em Filosofia; Especialista em Educação Ambiental, Gestão da Educação Básica e Gestão Ambiental; Mestre em Educação Superior e Mestre em Educação Escolar E-mail: frchaddad@gmail.com PENSAR A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Muitos dizem que a educação ambiental é crítica ou emancipatória. Disso eu discordo. E todos estes dizeres estão retratados em pesquisas de pós-graduação Lato Sensu e Strictu Sensu. Estes pesquisadores alegam que a educação ambiental praticada pela pesquisa-açãoparticipativa é extremamente importante para gerar atitudes conscientes e críticas nas pessoas. Não vejo a educação ambiental com todo este poder. Para mim, a educação ambiental é apenas uma modalidade da educação. Como tal apenas serve para sensibilizar o ser humano para as questões ambientais. O emancipatório nestes projetos de educação ambiental, muitas vezes, serve apenas para integrar, em meu ponto de vista, ao sistema capitalista. Ou seja, são atitudes revisionistas do próprio capital e não a crítica ao capitalismo – o grande demônio da humanidade. E o que seria o emancipatório? Emancipatório é uma característica da educação crítica. E quais características a educação deve ter para ser emancipatória? Ela deve articular o conhecimento disciplinar produzido pela lógica formal, que foi elaborada por Aristóteles, com a lógica dialética de Karl Marx. Ou seja, os princípios da identidade; da não contradição e do terceiro excluído, que produzem o conhecimento disciplinar, com os princípios da lógica formal – principio da unidade na diversidade; da contradição e da síntese das múltiplas determinações de Marx, que produzem o conhecimento interdisciplinar. Vejo que, quando os professores conseguirem articular estas duas formas de conhecer, se dará um grande salto nas práticas educativas. Neste sentido, penso que a educação ambiental pode – ao invés de buscar a emancipação humana – apenas adestrar o ser humano ao processo capitalista. Vejo, por Edição nº 62 – Dezembro/2016

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outro lado, a educação como uma forma de produzir esta emancipação, mas os professores devem aprender a articular lógica formal com a lógica dialética e buscar transmitir o que há de mais desenvolvido na cultura humana. Só assim, com estes conhecimentos os alunos conseguirão sair do imediato e partir para o mediato, para o conhecimento que liberta.

Como citar: CHADDAD, F.R. Pensar a educação ambiental. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.62, p. 10-11, dez. 2016. Edição nº 62 – Dezembro/2016

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LINHA DO TEMPO

Helen Kaline Pinheiro Estudante de Psicologia e jovem talento de Joanópolis E-mail: helenkpinheiro@gmail.com

ENVELHECER COM ESPERANÇA

A cada dia que passa a história revela tudo o que se plantou e o que se continua a semear, um ciclo que termina, às vezes, quando menos se espera. A consciência de finitude é algo que causa estranheza, saber que as pessoas que estão ao nosso lado um dia deixarão de ‘existir’, e há ainda um maior desconforto quando se pensa na própria morte (CUNHA, 2010). Sendo assim, refletir a vida que a cada dia se torna mais curta não pode ser motivo de desespero, mas sim de gratidão, quando se reconhece em cada amanhecer a possibilidade de mudar os caminhos ou de trilhar as estradas com mais convicção. Os anos passam, as histórias permanecem, e embora a velhice seja percebida como uma fase em que há mais perdas, os ganhos continuam a fazer parte (FREIRE & RESENDE, 2001 apud LUZ; AMATUZZI, 2008), como a oportunidade de vivenciar esta etapa da vida. Um momento em que além das perdas, pode se tornar uma fase significativa, quando os idosos possuem a oportunidade de finalizarem a existência ao lado das pessoas que possibilitam que as perdas necessárias aconteçam, sem ofuscar a importância da vida de cada idoso. O envelhecimento acarreta dores e limitações que por vezes trazem a percepção da aproximação da própria finitude, um momento que angustia e que não raramente é solitário. Um sentimento que pode ser agravado pelo contexto em que o idoso se encontra, quando neste não há atividades e principalmente quando há ausência relacionamentos afetivos. A falta de relacionamento com sua família contribuem para o agravamento da saúde do idoso, quando a família se ausenta, não necessariamente fisicamente, mas principalmente afetivamente, Edição nº 62 – Dezembro/2016

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deixando o idoso cada vez mais solitário com os seus pensamentos de finitude e solidão (VARGAS, 1997 apud BISPO; LOPES, 2010). Envelhecer em sua casa promove ao idoso conviver com sua família, exercer sua autonomia e desempenhar atividades, ainda que de modo limitado. Diferentemente de idosos institucionalizados, que mesmo se encontrando abrigados e cuidados, há sempre um vazio, há sempre a ausência, por vezes resta algum objeto para ajuda-lo a recordar de sua própria história. A espera por uma visita de seus familiares parece ser, na maioria das vezes, uma espera sem fim e se uma pessoa se aproxima, ofertando com carinho e respeito um pouco de atenção, as histórias são compartilhadas, com todas as lutas e vitórias, e assim a aparência fica menos agoniada e seus olhares transmitem um pouco mais de serenidade. Em cada momento é preciso reconhecer os caminhos com os desafios a serem superados, com os cansaços a serem suportados, tendo em vista a possibilidade do envelhecimento. As luzes que hoje brilham de um modo especial não devem ser confundidas com os barulhos, para que a noite de Natal oferte além dos presentes, o reencontro com a vida, que insiste em prevalecer, e que neste momento saibamos agradecer, pela oportunidade de viver o único dia de nossas vidas e quem sabe, assim, um dia, envelhecer.

“… Saber envelhecer é a maior das sabedorias e um dos mais difíceis capítulos da grande arte de viver.” (Maria de Jesus Garcia Arroyo)

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Referências Bibliográficas BISPO, Nuno de Noronha da Costa. LOPES, Ruth Gelehrter da Costa. A solidão entre idosos institucionalizados e o efeito do atendimento de fisioterapia. Disponível em: http://seer.upf.br/index.php/rbceh/article/viewFile/409/924. Acesso em: 14 de dezembro de 2016. CUNHA, Anderson Santana. Finitude Humana: a perplexidade do homem diante da morte. Disponível em: http://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/FILOGENESE/AndersonSantanaCun ha(182-193).pdf. Acesso em: 13 de dezembro de 2016. LUZ, Márcia Maria Carvalho. AMATUZZI, Mauro Martins. Vivências de felicidades de pessoas idosas. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2008000200014. Acesso em: 14 de dezembro de 2016.

Leia mais no Blog: http://helenkaline.blogspot.com.br/

Como citar: PINHEIRO, H.K. Envelhecer com esperança. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.62, p. 12-14, dez. 2016. Edição nº 62 – Dezembro/2016

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COLCHA DE RETALHOS

Rosy Luciane de Souza Costa Professora, Historiadora e Pesquisadora E-mail: costarosyluciane@hotmail.com FELIZ NATAL

Desde a ascensão de Herodes, o Grande, que se fizera rei com o apoio dos romanos, não se falava na Palestina senão no Salvador que viria, enfim... Mais forte que Moisés, mais sábio que Salomão, mais suave que David, chegaria em suntuoso carro de triunfo para estender sobre a Terra as leis do Povo Escolhido. Por isso, judeus prestigiosos, descendentes das doze tribos, preparavam-lhe oferendas em várias nações do mundo. Velhas profecias eram lidas e comentadas, na Fenícia e na Síria, na Etiópia e no Egito. Dos Confins do Mar Morto às terras de Abilena, tumultuavam notícias da suspirada reforma... E mãos hábeis preparavam com devotamento e carinho o advento do Redentor. Castiçais de ouro e prata eram burilados em Cesaréia, tapetes primorosos eram tecidos em Damasco, vasos finos eram importados de Roma, perfumes raros eram trazidos de remotos rincões da Pérsia... Negociantes habituados à cobiça cediam verdadeiras fortunas ao Templo de Jerusalém, após ouvirem as predições dos sacerdotes, e filhos tostados do deserto vinham de longe trazer ao santuário da raça a contribuição espontânea com que desejavam formar nas homenagens ao Celeste Renovador. Tudo era febre de expectação e ansiedade. Palácios eram reconstruídos, pomares e vinhas surgiam cuidadosamente podados, touros e carneiros, cabras e pombos eram tratados com esmero para o regozijo esperado.

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Entretanto, o Emissário Divino desce ao mundo na sombra espessa da noite. Das torres e dos montes, hebreus inteligentes recolhem a grata notícia... Uma estrela rutila no firmamento. O enviado, porém, elege pequena manjedoura para seu berço de luz. E porque as vozes do Céu se fazem ouvir, cristalinas e jubilosas, cantam eles também: - "Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens!...". Ali, na estrebaria singela, estão Ele e o povo... E o povo com Ele inicia uma nova era... É por isso que o Natal é a festa da bondade vitoriosa. Lembrando o rei Divino que desceu da Glória à Manjedoura, reparte com teu irmão tua alegria e tua esperança, teu pão e tua veste. Recorda que Ele, em sua divina magnificência, elegeu por primeiros amigos e benfeitores aqueles que do mundo nada possuíam para dar, além da pobreza ignorada e singela. Não importa sejas, por enquanto, terno e generoso para com o próximo somente um dia. Pouco a pouco, aprenderás que o espírito do Natal deve reinar conosco em todas as horas de nossa vida. Então, serás o irmão abnegado e fiel de todos, porque, em cada manhã, ouvirás uma voz do Céu a sussurrar-te, sutil: Jesus nasceu! Jesus nasceu!... E o Mestre do Amor terá realmente nascido em teu coração para viver contigo eternamente? (Irmão X)

Conto de Natal

A noite é quase gelada... Contudo, Mariazinha, é a menina de outras noites, que treme, tosse e caminha... Guizos longe, guizos perto... É Natal de paz e amor. Há muitas vozes cantando: “Louvado seja o Senhor!” A rua parece nova, qual jardim que floresceu, cada vitrine enfeitada repete: “Jesus nasceu!” Descalça vestido roto, Mariazinha lá vai... Sozinha, sem mãe que a beije, menina triste, sem pai. Aqui e ali, pede um pão... Está faminta e doente. -“Vadia, saia depressa!”, é o grito de muita gente. -“Menina ladra!, outros dizem. - "Fuja daqui, pata feia! Toda criança perdida, Deve dormir na cadeia”. Mariazinha tem fome e chora, sentindo em torno o vento que traz o aroma do pão aquecido ao forno. Abatida, fatigada, depois de percurso enorme, estira-se na calçada... Tenta o sono, mas não dorme. Nisso, um moço calmo e belo, surge e fala, doce e brando: - "Mariazinha, você está dormindo ou pensando?". A pequenina responde, erguendo os bracinhos nus: - "Hoje é dia de Natal, estou pensando em Jesus". Edição nº 62 – Dezembro/2016

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- "Não recorda mais alguém?". E ela, a chorar, disse: "Eu penso também com saudade em minha mãe que morreu...". - "Se Jesus aparecesse, que é que você queria?". - "Queria que ele me desse um bolo da padaria...". Depois de comer, então: - E a pobre sorriu contente, "queria um par de sapatos e uma blusa grande e quente... Depois... Queria uma casa, assim como todos têm... Depois de tudo... eu queria uma boneca também...". - "Pois saiba Mariazinha, eu lhe digo que assim seja! Você hoje terá tudo aquilo que mais deseja". - "Mas, o senhor quem é mesmo?" E ele afirma, olhos em luz: - "Sou seu amigo". Quando o lojista abre a porta, Um corpo caiu de leve... A menina estava morta. (Francisca Clotilde)

Presépio de Belém

________________ XAVIER, Francisco Cândido. Antologia Mediúnica do Natal. Espíritos Diversos. FEB.

Como citar: COSTA, R.L.S. Feliz natal. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.62, p. 15-17, dez. 2016. Edição nº 62 – Dezembro/2016

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MEMÓRIAS

Susumu Yamaguchi Cronista e Andarilho E-mail: sussayam@gmail.com CARRUAGENS DE FOGO: PAIXÃO E FÉ

Não sabemos se certo Evángelos Odysséas Papathanassíu tem o hábito de correr, mas uma de suas obras acompanha corredores de todo o mundo, desde pequenas corridas de bairro até provas de longa distância como a Comrades, na África do Sul. A partir de 1981, muita gente passou a gostar de correr – ou a reafirmar essa paixão – com a trilha sonora do filme Carruagens de Fogo. O título foi inspirado pelo poema visionário de William Blake Jerusalém, musicado por Charles Parry e cantado nos funerais de Abrahams, no começo e fim do filme. O verso traga-me minha carruagem de fogo seria uma referência à passagem em que o profeta Elias foi levado ao céu, relatada em 2 Reis 2,11. Assim corriam aqueles atletas britânicos, com asas nos pés. “ENTREGUEI-LHE TUDO”. No mesmo ano em que Vangelis nascia na Grécia, o tema de uma de suas futuras composições (Eric's Theme) era aprisionado em um campo de concentração das forças de ocupação japonesas no norte da China. O missionário cristão escocês Eric Henry Liddell morreria dois anos depois, ainda confinado, com um tumor no cérebro, a poucos meses do final da 2ª Guerra. Embora tenha passado metade da vida evangelizando na China – onde nasceu em 1902 – trabalhando com educação, saúde e esportes, Liddell não seria lembrado por isso. Nem o seria pela atuação na organização da precária vida no campo de concentração; e nem pela doação integral aos internos em meio à deterioração de sua própria saúde. Seria celebrado por outros feitos, em outros tempos e campos. Quando ainda não se dedicava à missão, Liddell corria pela glória de Deus: “Acredito que ele me fez para um propósito, mas também me fez veloz, e quando corro sinto o seu regozijo". O homem que se entregou a Deus em vida já tivera a sua glória entre os homens duas décadas antes, nos Jogos Olímpicos de Paris. Edição nº 62 – Dezembro/2016

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100 METROS. Harold Maurice Abrahams, também tema de Vangelis (Abraham's Theme), participava de um jantar especial todo dia 7 do mês 7, às 7 horas da noite, desde 1925 até sua morte, em 1978. Um ano antes, nos Jogos Olímpicos de Paris, exatamente nessa hora, ele havia conquistado a medalha de ouro na prova dos 100 m; seu companheiro de pódio e de gastronomia era o neozelandês Arthur Porritt, medalha de bronze. Eles celebraram ano após ano, por mais de meio século, aqueles 10,6 segundos de Abrahams – recorde olímpico – e os 10,8 de Porritt. O inglês Abrahams, filho de um judeu lituano, tinha participado dos Jogos da Antuérpia em 1920 sem muito sucesso. A seis meses dos Jogos de Paris, entretanto, tomou uma decisão que mudaria sua vida: contratou um técnico profissional. O experiente Sam Mussabini, apresentado pelo rival Eric Liddell, enfatizou o treinamento nos 100 m, deixando os 200 m em segundo plano. 200 METROS. Ao se recusar a participar da prova dos 100 m, Liddell foi muito criticado por abandonar chances de conquistar uma medalha de ouro em sua especialidade. Seu motivo – incompreendido – foi que uma eliminatória aconteceria em um domingo, dia consagrado ao Senhor. Pela mesma razão, declinou das provas de revezamento 4 x 100 m e 4 x 400 m. Disse que nunca questionava as escolhas de Deus: “Não preciso de explicações, simplesmente acredito nele e aceito qualquer que seja o meu caminho". Liddell conquistou a medalha de bronze nos 200 m com o tempo de 21,9 segundos e Abrahams terminou em sexto e último lugar, na única ocasião em que ambos competiram na mesma prova. O norte-americano Jackson Scholz ganhou a medalha de ouro com 21,6 segundos, recorde olímpico. “PENSE SÓ EM DUAS COISAS”. Scipio Africanus Mussabini (SAM) nasceu em Londres em 1867, de ascendência árabe, turca, italiana e francesa. Foi corredor, jornalista, técnico de ciclismo, especialista em bilhar e técnico de corrida. Fotografava atletas em ação e aperfeiçoou as três fases dos 100 m: a largada, o comprimento e ritmo das passadas e o mergulho para a chegada. Entretanto, nunca teve reconhecimento oficial por ser um técnico pago em uma época de espírito amador no esporte. Com a decisão de Liddell de não correr os 100 m, as expectativas de medalha de ouro recaíram sobre Abrahams. Aguilhoado pelo preconceito antissemita, ele trazia também um lembrete de Mussabini para a final dos 100 m: "Pense só em duas coisas – a pistola e a fita. Quando ouvir uma, corra como um demônio até romper a outra". A aliança entre os dois discriminados renderia ainda mais uma medalha. Abrindo a equipe britânica no revezamento 4 x 100 m, Abrahams conquistou a prata com o tempo de 41,2 segundos; os Estados Unidos levaram o ouro com o recorde mundial de 41,0. 400 METROS. Após o episódio dos 100 m – e o bronze nos 200 m – Liddell foi para a prova dos 400 m sem ser considerado favorito. Em 1924 o recorde olímpico era de 48,2 Edição nº 62 – Dezembro/2016

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segundos, que na eliminatória foi baixado para 48,0 pelo suíço Imbach. Na semifinal, o norteamericano Fitch puxou-o para 47,8, criando uma grande expectativa para a final. “A quem me glorificar, eu glorificarei”, dizia o bilhete que Liddell recebeu pouco antes da largada, citando 1 Samuel 2,30. Ele então correu como sempre: na reta final jogando a cabeça para trás, abrindo largamente a boca, olhando para o céu e cruzando a linha de chegada – e vencendo. Conquistou a medalha de ouro e estabeleceu novo recorde olímpico: 47,6 segundos. O ex-recordista Fitch ficou com a medalha de prata, com 48,4; o outro, Imbach, não completou a corrida. Liddell percorreu a primeira metade da prova em 22,2 segundos, apenas 0,3 menos rápido que o seu tempo para a medalha de bronze nos 200 m. Sua explicação era tão singela quanto cristalina: “O segredo de meu sucesso nos 400 m é que corro os primeiros 200 tão forte quanto posso. Então, para os 200 restantes, com a ajuda de Deus, corro ainda mais forte”.

***

Sam Mussabini morreu aos 60 anos. Em cinco jogos olímpicos seus atletas ganharam um total de onze medalhas. Seu grande feito ocorreu em Paris, com o ouro de Abrahams. Nos Jogos de 1928, um ano após sua morte, seu último atleta ainda obteria a prata nos 100 m e o bronze no revezamento. Harold Abrahams encerrou a carreira aos 25 anos, um ano após os Jogos de Paris, ao sofrer grave lesão na perna no salto em distância. Manteve o recorde inglês dessa prova por 32 anos. Atuou como advogado e foi jornalista e dirigente esportivo. Morreu aos 78 anos, convertido ao cristianismo. Eric Liddell encerrou a carreira aos 23 anos, um ano após os Jogos de Paris, para se dedicar a Deus. Seguiu competindo esporadicamente até 1930, em festividades e campeonatos regionais no interior da China. Morreu em um campo de concentração, aos 43 anos de idade. Nos Jogos Olímpicos de Paris, estas vidas se cruzaram nas pistas: dois atletas excepcionais e um técnico à frente de seu tempo. Conquistaram duas medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze. Atingiram o apogeu de suas vidas esportivas oito anos depois dos Jogos abortados pela guerra de 1914 a 1918. Embora não soubessem, haveria ainda outra grande guerra, e o técnico descendente de árabes e turcos morreria antes dela; o cristão que corria em nome do Senhor, durante; e o judeu que desafiava a intolerância sobreviveria a ela. Tinham em comum a paixão pela corrida pedestre, mas para todos eles – por diferentes razões – não haveria mais tempo para os próximos Jogos. Assim, brilharam por inteiro naquele verão de 1924, separados apenas pelas raias e pela linha de chegada. “Tomarão asas como de águia; correrão e não se fatigarão” – estas palavras de Isaías Edição nº 62 – Dezembro/2016

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40,31 assinalam a lápide de Eric Liddell em um local remoto no interior da China. E aqui, sempre que corremos com Carruagens de Fogo sabemos que elas alçarão voo de lá, e que nos buscarão pelo ar, e que nos alcançarão, e que nos darão novas forças, e que não nos deixarão cair. Então, e só então, correremos com asas nos pés. _____________ * Publicado originalmente na Revista Contra-Relógio.

Margareth – margot.joaninha@hotmail.com

Como citar: YAMAGUCHI, S. Carruagens de fogo: paixão e fé. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.62, p. 18-21, dez. 2016. Edição nº 62 – Dezembro/2016

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O ANDARILHO DA SERRA

Diego de Toledo Lima da Silva Técnico/Engenheiro Ambiental, Andarilho e Cronista E-mail: diegoaikidojoa@hotmail.com

FOLHA DE PAPEL

O espírito movente dominava a pauta da confraria dos andantes, mesmo não querendo acreditar em homens e mulheres banhados em ribeirões. Nas paralelas do caminho buscou resquícios da ceia de natal, mesmo ainda atolado no barro do caminho para a Serra do Lopo. Esta era apenas a memória de um amigo de olhos puxados, mas naquele momento representou muito mais que os muitos fatos importantes exibidos na retrospectiva de final de ano. O holofote que iluminava o gramado se apagou repentinamente, restando a solidão de um bosque escuro e um céu de estrelas viajantes. Eram estrelas oportunistas, tomando seu espaço após uma tempestade de verão. É viajante leva eu, leva eu pra viajar... E a vida ditou as regras desta viagem, num pequeno papel em branco escrevemos apenas o essencial para um tempo moderno e cheio de aflições. A menina ao lado redigiu as palavras com facilidade, seu coração puro não estava preso pelas amarras e assombrações cotidianas. Enquanto ele, assumindo certa irresponsabilidade de seus atos, olhou fixamente o horizonte a 16 quilômetros de distância e imaginou como seria a vista lá do alto. Contei detalhes da paisagem, ainda incrédulo de seu ponto de vista. Ora! Homem, vamos lá! Saiu e percorreu os poucos metros daquele jardim caipira, uma mescla de plantas nativas e exóticas, folhas e flores. Buscou e encontrou uma folha de papel em branco, olhou para os lados e se certificou de que estava sozinho. Rabiscou meia dúzia de palavras e prometeu que dali em diante seria tudo diferente.

Edição nº 62 – Dezembro/2016

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Na verdade, ele descobriu que há um caminho e é preciso ir, sem despedidas melancólicas, apenas seguir em frente. Gritou pela sua amada Manuela, deu-lhe um forte abraço e silenciou seus olhos incrédulos. Sorri com a cena e acenei com um desejo de felicidades, numa noite tão irreal quanto os fatos. Ao simples piscar dos olhos frente a um brilho ofuscante, entendeu que a luz provinha das palavras ditas pelo coração ou somente das quentes lágrimas vindas de suas retinas.

Margareth – margot.joaninha@hotmail.com

_______________ Susumu Yamaguchi. “Uma brincadeira de papel”. Revista Eletrônica Bragantina On Line, Edição nº 50, dez/2015. Como citar: DA SILVA, D.T.L. Folha de papel. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.62, p. 22-23, dez. 2016. Edição nº 62 – Dezembro/2016

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