Revista Eletrônica Bragantina On Line - Agosto/2016

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Revista Eletrônica Bragantina On Line

Discutindo ideias, construindo opiniões!

Número 58 – Agosto/2016 Joanópolis/SP

Edição nº 58 – Agosto/2016

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SUMÁRIO

Nesta Edição: - EDITORIAL – Abra a janela! ............................................................................... Página 3; - COLCHA DE RETALHOS – Danças folclóricas vindas das ilhas para Juazeiro Por Rosy Luciane de Souza Costa ........................................................................... Página 4; - ROMANCE DAS LETRAS – A educação sustentável Por Betta Fernandes ................................................................................................. Página 9; - PALAVRAS E EXPERIÊNCIAS – Hoje eu tenho 25 anos, mas quero chegar aos... Por Emily Caroline Kommers Pereira .................................................................. Página 11; - A ARTE DO TURISMO E DA HOTELARIA – Hospedagem solidária Por Leonardo Giovane ........................................................................................... Página 13; – Tive uma ideia dos deuses e agora?

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Por Paulo Gannam .................................................................................................. Página 15; - EDUCAÇÃO AMBIENTAL – O que nos resta? Por Flávio Roberto Chaddad ................................................................................. Página 18; - O ANDARILHO DA SERRA – Janela de luz Por Diego de Toledo Lima da Silva ....................................................................... Página 23; - MEMÓRIAS – Feliz ano de paz Por Susumu Yamaguchi ......................................................................................... Página 25.

Edição nº 58 – Agosto/2016

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REVISTA ELETRÔNICA BRAGANTINA ON LINE Uma publicação independente, com periodicidade mensal.

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EDITORIAL

ABRA A JANELA!

Prezados leitores! Abra a janela e veja o sol... Veja uma nova chance que a vida dá... Um novo dia, outra oportunidade... De fazer tudo que não fizemos ou apenas de repetir velhas proezas... Simples, pois tudo que é simples é mais belo... Vamos lá! Abra a janela!

Diego de Toledo Lima da Silva – Editor (17/08/2016) E-mail: revistabragantinaon@gmail.com

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COLCHA DE RETALHOS

Rosy Luciane de Souza Costa Professora, Historiadora e Pesquisadora E-mail: costarosyluciane@hotmail.com DANÇAS FLOCLÓRICAS VINDAS DAS ILHAS PARA JUAZEIRO

(Acervos fotográficos de Raphael Paiva) Samba de véio é um folclore do Rodeador (ilha), que se estendeu para Juazeiro, Salitre, Ilha do Massangano, Correnteza, Casa Nova e Santana. Formam uma roda e ao som de batidas em tamboretes, pandeiros, violas e palmas, sapateiam (sambam). Uma mulher se manifesta e antes de sair do centro da roda, dá uma umbigada na outra.

Apresentação do Samba de Veio do Rodeador.

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Como parte das manifestações desta roda, a demonstração do equilíbrio das Senhoras.

A pessoa que recebeu a umbigada entra na roda e continua a dançar. Sapateiam homens, mulheres e crianças. A sambista, sob o som das palmas e versos cantados, faz piruetas com uma garrafa na cabeça. Esta manifestação popular pode ser apresentada em qualquer data do ano. O Samba de Véio é dançado também em homenagem aos Santos Reis. Sempre são iniciadas as palmas e rodas a partir do dia 06 de janeiro. A participação é livre. Até adolescentes se expressam nas batidas do pandeiro ou no compasso do sapateado. Não existe um traje característico para essa dança. O ideal é que sejam vestimentas compostas que atendam aos volteios e rodadas das mulheres presentes. — Beato / São Gonçalo de Amarante, dia 1/1. Saudação ao grande violeiro nascido no ano de 1187 em Portugal, que, segundo as histórias dos Santos católicos, invadia os prostíbulos, tocando e cantando, com o propósito de, através de sua música, encantar as mulheres e colocá-las a dançar o dia inteiro para que à noite elas, de tão cansadas, não tivessem mais disposição para se apresentarem nos salões. Uma bem intencionada providência para retirá-las da vida mundana.

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Ainda beirando a Rua da Coréia, lá estava instalado em plena década de 1960, na frente da casa de alguém que fez uma promessa, um cacete armado para “São Gonçalo de Amarante”. Esta era a forma de agradecer ao milagroso Santo pela graça alcançada. Então “Vivas e Revivas a São Gonçalo, Viva”! Cantadores e tocadores de pandeiros e violas formavam duas filas, para que determinados números de Rodas (12 ou 24) fossem dançadas no oitão da casa. Em cima de uma mesa coberta por uma toalha branca (altar), as velas eram acesas próximas da imagem do santo. Após

esta

preparação,

as

pessoas

posicionadas em filas, aguardavam o sinal para iniciar a festa. Gritava a dona da casa: — Soltem os foguetes do rabo de mel (do véio Puba) hôme! Cuidado com a cabeça meninos! Olhem a volta das varas. Os fumacentos foguetes do véio Puba (Manoel Boaventura da Paixão) rumavam em direção às nuvens. Ouviam-se os “Papocos”, os pandeiros e violas seguidos pelas cantorias das mulheres e tocadores:

São Gonçalo tá com raiva Do povo da Porque não deram a viola (Bis) Nem guia e nem dançadeira! Oh! Meu Senhor São Gonçalo (Bis) Feito do pau da alfavaca (Bis) O homem que não tem rede (Bis) Dorme no couro da vaca. (Bis) São Gonçalo minha gente Não é como os outros Santos (Bis) Os Santos pede que rezem (Bis) São Gonçalo pede que cantem. (Memórias de José Pereira Filho - Govéio)

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(Acervo de Euvaldo Macêdo Filho)

Roda de São Gonçalo no terreiro de uma roça.

Depois de muitas piruetas e rodopios, a dona da promessa ajoelhava e colocava o santo na cabeça. O foguetório fazia-se ouvir na Rua dos Ingleses e até mesmo nas Olarias. “Os oleiros” marcavam presenças nas palmas e nos cantos. Meio dia em pino, (12h00 horas em ponto) os “Gonçalinos” paravam pra descansar. Era servido mocotó, pirão do espinhaço de carneiro, o tradicional aluá de São Gonçalo e outras cangibrinas para animar os dançarinos. A festa só era encerrada junto com o pôr do sol. “Respeitando os costumes de antigamente, nas rodas do São Gonçalo só podiam participar homens de bem, moças virgens, mulheres viúvas e casadas que fossem sérias”. Aconteciam também as Rodas das Promessas dos Defuntos; alguém prometera ao Santo uma festa e à família quis continuar após sua morte.

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(Acervo de Sérgio Lino de Souza)

São Gonçalo de Finado - a “roda” é para uma pessoa que faleceu sem cumprir sua promessa. As mulheres são escolhidas por suas virtudes e bom comportamento; Os homens não usam chapéus, podendo apenas utilizar lenços para cobrirem a cabeça. Espontaneamente, as pessoas compareciam ao ouvirem os toques ou esperavam os convites e outras pagavam suas promessas também dançando. As tradições seculares e familiares demarcavam os limites e a valorização do que se acreditava. Pela promessa ou pela movimentação social, as pessoas expressavam sua fé de maneira simples e popular.

Glossário: Umbigada – bater com a barriga em outra pessoa. Cacete armado - cobertura em lona, sustentada por barrotes de madeira e armada no meio da rua. Foguetes do rabo de mel – fogos de artifícios que ao subirem deixavam um rastro de estrelinhas na cor de mel. Aluá de São Gonçalo – bebida fermentada no milho, abacaxi e rapadura. Cangibrinas – termo popular de cachaças, ou qualquer bebida alcóolica.

Como citar: COSTA, R.L.S.

Danças folclóricas vindas das ilhas para Juazeiro. Revista Eletrônica

Bragantina On Line. Joanópolis, n.58, p. 4-8, ago. 2016. Edição nº 58 – Agosto/2016

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ROMANCE DAS LETRAS

Betta Fernandes Escritora e Advogada E-mail: bettabianchi40@gmail.com A EDUCAÇÃO SUSTENTÁVEL

Há necessidade de uma escola voltada para o desenvolvimento das habilidades, onde os adolescentes adquiram conhecimentos, habilidades, atitudes e valores necessários para formar um futuro sustentável. A escola tem que reformular o seu papel em relação à sociedade, incluindo o desenvolvimento sustentável no ensino e na aprendizagem, falando sobre mudanças climáticas, redução de riscos de desastres, biodiversidade, redução da pobreza e consumo sustentável. O objetivo é promover competências como pensamentos, críticas, reflexão sobre cenários futuros e tomadas de decisão de forma colaborativa. É preciso cuidar da sustentabilidade individual, para depois discutir e cuidar da sustentabilidade do planeta, do sequestro de carbono, da riqueza da biodiversidade regional. A nova geração tem que frequentar a escola não só para buscar conhecimentos e aprovação em avaliações escolares, tem que estudar para aprender a se relacionar melhor com o mundo. Ter aulas de etiquetas e comportamentos para que possam futuramente participar do mercado do trabalho, elevar seu padrão de vida e também preservar a saúde do nosso planeta que está morrendo aos poucos.

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A prática do amor se faz necessário para que despertem novas consciências que tenham mais cuidado, mais responsabilidade em praticar o querer ser mais para o mundo... O querer ser mais para o nosso planeta.

Veja mais em:

Blog: bettafernandes.blogspot.com.br Twitter: @bettabianchi40 Facebook: Betta Fernandes

Como citar: FERNANDES, B.

A educação sustentável. Revista Eletrônica Bragantina On Line.

Joanópolis, n.58, p. 9-10, ago. 2016. Edição nº 58 – Agosto/2016

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PALAVRAS E EXPERIÊNCIAS

Emily Caroline Kommers Pereira Escritora e Jornalista E-mail: myzinhacarol@gmail.com HOJE EU TENHO 25 ANOS, MAS QUERO CHEGAR AOS...

100. Sim, quero chegar aos 100, se Deus assim permitir. Mas, sinceramente, não sei se conseguirei, pois a longevidade aqui do Brasil não é tão grande, nem temos hábitos tão saudáveis e rejuvenescedores, ou o hábito da medicina preventiva. Na maioria dos casos, as pessoas vão ao médico somente para curar a doença, não para preveni-la. Sem contar a violência muito presente e que tira vidas todos os dias. Então, mesmo que eu queira, não posso garantir que chegarei a ser uma senhora centenária. Além do mais, nem sempre é vantagem ser idoso no nosso país atualmente. Esses dias vi uma cena que me deixou espantada e triste também. Estava eu no banco, na fila do caixa para pagar uma conta e notei que um senhor, que tinha por volta dos oitenta anos ou perto disso, estava esperando, em pé, no balcão da recepção para ser atendido. Sozinho. Ninguém o acompanhava: algum parente ou conhecido. Nem ninguém do banco teve a dignidade de oferecer uma cadeira para o senhor se sentar. Eu mesma estava em pé, não tinha como oferecer assento. Depois de passados mais de vinte minutos que estava no banco (e nada da fila andar... menos de dez pessoas na minha frente e levou uma hora para eu ser atendida!), olhava indignada para aquele velhinho em pé sem ninguém para ampará-lo, e ele já estava lá quando cheguei. Achei que esperava alguém para lhe dar uma senha e me dispus a ajudar, mas estava somente esperando mesmo que uma funcionária do banco, que o deixara plantado ali, voltasse a atendê-lo.

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Finalmente a moça voltou. Deu então a notícia de que o senhor não poderia ser atendido, pois ele dera a ela o cartão do S.U.S. e não o cartão do banco, que por sua vez ele esquecera de levar. O velhinho não conseguia entender quando a moça dizia que o cartão do S.U.S. não servia para poder retirar o dinheiro da aposentadoria, como ele insistentemente pedia. De qualquer forma, o auxílio da previdência social somente seria liberado na próxima semana, mas ninguém explicara isso para ele antes. Sendo que "o banco não podia fazer nada para ajudar", o senhor foi mandado embora sem mais nem menos. De fato, o banco não podia ajudar, mas só o fato de terem demorado tanto tempo para dar uma informação que poderia ser passada em um minuto, com um simples “Desculpe, o senhor confundiu o cartão do banco com o cartão do S.U.S.” mostrou uma tremenda falta de respeito e consideração. O vovô ia sair na rua mais uma vez, sozinho, depois de perder quase uma hora de seu tempo. Fiquei compadecida e, se não tivesse eu mesma que pagar uma conta já vencida de uma colega, teria o acompanhado. Afinal, era de idade avançada, isso era notório, e tinha confundido dois simples cartões. Só de pensar que ele poderia facilmente se perder do caminho de volta para casa me doeu o coração. É triste ver cenas assim. Acho que era obrigação de um filho, ou de um neto, ou de quem quer que seja, acompanhar aquele senhor e não deixá-lo assim, confuso, sair sozinho na rua. Mais triste ainda é saber que não é somente com esse senhor que vi hoje, mas o descaso acontece com muitos idosos pelo país afora. As pessoas acabam não dando o devido respeito e valor, não cuidando como deveriam, e se esquecem que um dia serão elas as idosas que precisarão de auxílio. Se esquecem que um dia aquele idoso já foi jovem e viveu como eu, por exemplo, com meus vinte e cinco anos. Que já segurou um bebê nos braços e chamou de filho. E daí, eu me pergunto: será que eu quero mesmo chegar aos 100 anos? Será que não é melhor ter uma vida mais curta, mas, ao menos, não ser abandonado? Ou ser tão sozinho que nem uma companhia tem para ir ao banco e acabar confundindo cartões? Os jovens de hoje precisam ter a consciência de que serão os idosos de amanhã. E nunca, nunca, devem desprezar um velhinho. Devem, sim, tratá-lo com carinho, respeito e toda consideração que merece.

Como citar: PEREIRA, E.C.K. Hoje eu tenho 25 anos, mas quero chegar aos... Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.58, p. 11-12, ago. 2016. Edição nº 58 – Agosto/2016

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A ARTE DO TURISMO E DA HOTELARIA

Leonardo Giovane M. Gonçalves Técnico em Hospedagem e Graduando em Turismo E-mail: leonardo.giovane@hotmail.com HOSPEDAGEM SOLIDÁRIA

Viajar sempre foi um desejo de muitos, mas por inúmeros fatores não é sempre que podemos sair por aí conhecendo os lugares, nos aventurando e conhecendo novas pessoas, seja por falta de tempo, motivos financeiros e tantos outros motivos. No entanto, atualmente, vem ganhando força no Brasil a hospedagem solidária, muito conhecida também com a versão americana do Couchsurfing. A hospedagem solidária pode ser uma das alternativas para quem quer sair viajar e não deseja gastar muito. Na atualidade, por conta das redes sociais, sempre conhecemos novas pessoas e desenvolvemos amizades a distância. O couchsurfing, bem como o facebook, instragram e demais redes sociais, possui o intuito de unir viajantes e pessoas que os desejam receber. Nesse modelo de hospedagem você fica na casa de um anfitrião, vive sua rotina, seus hábitos e costumes. Mas é claro que não há a privacidade que temos nos hotéis e até nos hostels, mas o objetivo principal da hospedagem solidária e do couchsurfing é além de promover viagens para os necessitados, gerar interações entre pessoas. Vivemos em um contexto no qual as relações se tornaram robóticas, as pessoas que nos atendem, seja nos hotéis, transportes e outros serviços e equipamentos turísticos, mal perguntam nosso nome e de onde nós viemos. A cultura do consumo tem alargado as relações e restringindo-as a prática comerciais, esquecendo-se das bases da hospitalidade e, principalmente, da humanização das relações. Deste modo, surge a hospedagem solidária para tentar driblar esse movimento e trazer Edição nº 58 – Agosto/2016

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ao turismo uma nova concepção de viagem. Conhecer a comunidade local é o primeiro passo para entender o espaço em que se visita, para que assim, se construa um turismo consciente e menos degradador. E somente entendendo os locais, literalmente vivendo com eles, é que adquirimos consciência e experiências. A autenticidade das viagens só podem ser alcançadas quando vivenciamos a verdadeira realidade dos destinos. Não há idade para viajar e fazer uso de hospedagem solidária, também não existe restrições etárias, pois basta encontrar o anfitrião que mais se encaixa em seu perfil. Apenas dois fatores devem ser presentes no espírito de quem se hospeda solidariamente: o respeito às diferenças e o conhecimento do seu espaço. Claro que ser precavido(a) é algo essencial, pois você ficará na casa de uma pessoa que você nunca viu antes, mas com um planejamento prévio, semanas de conversas com os anfitriões, os problemas tendem a diminuir. Portanto, quando você viaja utilizando a hospedagem solidária, no ato de arrumar as malas o peso será maior, mas não devido às peças artesanais que comprastes, mas sim pelas inúmeras histórias, vivências e aprendizados que obteve neste período.

Como citar: GONÇALVES, L.G.M. Hospedagem solidária. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.58, p. 13-14, ago. 2016. Edição nº 58 – Agosto/2016

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Flávio Roberto Chaddad Graduado em Engenharia Agronômica e Ciências Biológicas; Graduando em Filosofia; Especialista em Educação Ambiental, Gestão da Educação Básica e Gestão Ambiental; Mestre em Educação Superior e Mestre em Educação Escolar E-mail: frchaddad@gmail.com O QUE NOS RESTA?

Com esta pergunta pretendo questionar as nossas utopias, que serviram e que estão servindo como um norte para a emancipação humana. Falar de emancipação é difícil. Vejo muitos trabalhos afirmando ser aquilo que propõem como finalidade o caminho para a realização universal do ser humano. Mas, será que isto, realmente, se enquadra na emancipação humana, ou são propostas que apenas dizem respeito à emancipação política. Há uma grande diferença entre ambas. A emancipação política visa apenas e somente o encaixe do ser humano no sistema econômico e produtivo, com toda a sua carga de ideologia e de alienação. Já a emancipação humana é algo mais, visa, sobretudo, dotar o ser humano de uma visão crítica que pretende a todo o custo superar o processo de produção capitalista. Ou seja, é muito mais profunda do que apenas a emancipação política. Um viés sociológico, filosófico e prático rompeu com a metafísica e se denominou marxismo. Lógico que nada se constrói ao acaso. Há necessidade da cultura humana lançada muito antes que a humanidade, realmente, se tornasse o que é. Neste sentido, as influências de nossos pais – Parmênides, Heráclito e Protágoras – não deixam de se fazer sentir em todas as propostas filosóficas, sociológicas e práticas que foram pensadas durante o transcorrer da humanidade. Neste sentido, marxismo recebeu influências de Heráclito – a luta dos contrários, o movimento, para a explicação da sociedade e realidade – e de Hegel. Hegel contribuiu com a dialética. Porém, a dialética Hegeliana mais se compara a um pretenso desenho panteísta, onde o Deus histórico constrói a realidade fazendo dos seres humanos meros fantoches. Estes não têm domínio sobre ela, são utilizados por este Deus histórico e a máxima expressão desta é a realização, por este Deus, do estado liberal ou da livre iniciativa. Edição nº 58 – Agosto/2016

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Mas, Marx, construtor do marxismo, não entendendo a realidade como mera manifestação do Deus Histórico, notou que não eram as ideias e sim a materialidade que determinam a superestrutura. Ou seja, são as relações de produção que determinam a vida dos homens. Neste sentido, ele construiu o maior arcabouço teórico e prático que explicaria o funcionamento da sociedade e como os homens deveriam se livrar do capitalismo e de suas formas de alienação. Porém, a prática – a aplicação deste cabedal de conhecimentos – mostrou que os homens com boas intenções se transformam em ditadores sanguinários, edificando um estado tão mais repressivo que dos antigos dominantes. É isto que a teoria psicanalítica vem nos explicar. Exemplos não nos faltam: a Revolução Russa e a ditadura vermelha na China. Porém, esta teoria, no momento da revolução russa, ainda estava sendo construída. O que não trouxe para os seres humanos mecanismos que elucidassem tal fato – a opressão dos oprimidos. Na primeira metade do século XX, a teoria crítica se debruça nos escritos de Freud e Marx, elucidando os mecanismos que fazem com que os rebeldes, ao derrubar o velho poder, tornam-se mais opressivos que os anteriores ditadores. Além disso, também estudaram as modificações do capitalismo e suas transformações e, num tom pessimista, decretaram que a razão humana emancipatória estava fadada entrar em crise em virtude do estado de bem estar social e da instrumentalização da vida de todos. Para eles, citando Adorno e Horkheimer, o estado de bem estar social saciou as necessidades de grande parte da população, mas acabou decretando o fim da realização da razão dialética. A partir do fim da segunda guerra mundial, o capitalismo se revigora e com o tempo o socialismo de estado acaba se mostrando um sistema inócuo e opressivo, que acaba caindo na década de 80 na URSS. Nesta época, ou seja, na década de 60 e 70 outros filósofos e pensadores – os pós-modernos – aparecem no seio da sociedade e colocam a subjetividade em foco. Porém, suas análises focam apenas na realização do sujeito – no sujeito rebelde. Como se este sujeito fosse dar conta do sistema e do capitalismo reinante com toda sua forma de opressão e de expropriação e exploração do ser humano. O fato é que não há na pósmodernidade, que permanece apenas como ideologia, uma crítica voraz ao capitalismo. Pelo contrário, a rebeldia na verdade é diluída para um espaço em que os discursos tornaram-se micro, pseudo-narrativas, que não apontam, realmente, o causador deste estado crítico que estamos atravessando – o capitalismo e suas formas de alienação.

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Assim, após todo o século 20 e início do século 21 o que devemos esperar? Penso que ainda a modernidade, mais especificamente, o marxismo e a psicanálise têm muito a dizer sobre um novo estar da humanidade diante de sua realidade. Ou seja, elucidando o que nos torna oprimidos – papel do marxismo – e o que nos torna opressores – papel da psicanálise – podemos pensar que a razão emancipatória, e somente ela, pode nortear este posicionar do homem na Terra, conduzido o ser humano para uma sociedade justa e emancipada.

Como citar: CHADDAD, F.R. O que nos resta? Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.58, p. 15-17, ago. 2016. Edição nº 58 – Agosto/2016

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TIVE UMA IDEIA DOS DEUSES E AGORA?

A primeira coisa é checar se alguém já não a teve e se já não está ganhando dinheiro com ela. Veja também se alguém já a teve, fracassou e por qual razão fracassou. Acesse um site de busca para ver o que está rolando no mercado e analise possibilidades. Além disso, se for uma ideia patenteável, entre no site do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (http://www.inpi.gov.br). Tem muita informação que vai lhe interessar por lá. Existe, por exemplo, um local para que você possa fazer uma pesquisa sobre tudo quanto é produto, desenho ou processo para o qual já existe um registro/patente concedida, solicitada ou arquivada, e que pode ser similar à sua. Você pode ir ao INPI e pedir para um técnico te ajudar nessa busca pagando uma taxa, pois há muitos pedidos de patente tramitando no Brasil e a pesquisa às vezes é complexa e demorada, por envolver muitos arquivos e palavras-chave. Se estiver pensando em patentear fora do Brasil, mais detalhamento e verdinha$ são necessários. Outra opção é, se tiver algum dinheiro guardado no seu subnutrido porquinho, contratar um advogado especialista em propriedade intelectual correto para ajudá-lo a fazer a pesquisa. Evite núcleos de inovação de universidades e entidades públicas ligadas ao tema. Normalmente o processo é burocrático, há muita gente a ser atendida, pouca gente disponível para lhe ajudar em tempo hábil e paredes com ouvidos. Proponha aos legisladores melhor atendimento desses núcleos (melhorando/mudando a CF, a Lei de Propriedade Intelectual e a Lei de Inovação), mas também faça o trabalho você mesmo, o aprendizado será muito maior! Não se iluda. Muitos de nós, quando temos uma ideia, tendemos a achar que ela é inovadora e que vamos ganhar rios de dinheiro com ela e “dominar o mundo”. Aconteceu comigo e aprendi a lição. Não caia nessa lorota da sua mente. Faça uma busca objetiva para ver o que já existe e desembace bem as suas lentes para poder ver com clareza produtos e processos que podem concorrer com o seu ou mesmo aniquilá-lo. Lembre-se: ideias nunca Edição nº 58 – Agosto/2016

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irão faltar na sua cabeça. E você pode fracassar quantas vezes for necessário. Só precisa acertar uma vez em cheio para ter sucesso. Pense se sua ideia resolve algo que gera muita dor ao seu cliente. E se há um número suficiente de pessoas que sente essa dor numa intensidade tal que você está pensando que seu produto/processo ajuda a resolver. Importante: essa dor no cliente pode ser latente, mas palpitante, ou patente, mas irrelevante. É o paradoxo da inovação. Siga dados objetivos e intuição. Dê um jeito de encontrar esse difícil equilíbrio. Feitas estas checagens, você pode solicitar a patente apenas do conceito da sua ideia e depois disso desenvolver o protótipo físico. Mas eu não recomendo isso em todos os casos. Pois conceitos podem ser muito vagos e sem os detalhes técnicos descritivos necessários para que a patente seja concedida a você. Primeiro desenvolva o protótipo de sua ideia em sigilo. Se você não tiver conhecimento técnico para fazer isso sozinho, contrate alguém e pergunte se esse alguém assinaria um termo que garantisse que o desenvolvimento é só uma prestação de serviços, mas que os eventuais direitos autorais e de patente sobre a ideia sejam somente seus. Isso é importante para que ninguém roube sua ideia e seu projeto de negócio. Se o desenvolvedor não assinar esse documento, ou você tem de confiar muito nele ou você corre o risco de lá na frente perder os direitos de exploração industrial e comercial exclusivos de seu produto/processo.

Mas e a patente, como fazer o pedido?

A primeira coisa que você precisa saber é que pedir, conquistar e manter a conquista da patente de um produto/processo vai lhe custar um bom dinheiro periodicamente. No Brasil, você é depenado $ por tentar ser inovador. Dinheiro para depositar o pedido, dinheiro para solicitar pelo exame técnico de sua patente, dinheiro para pagar taxas anuais para manter o pedido tramitando dentro do INPI, dinheiro para atender a certas exigências, dinheiro para formalizar o recebimento da carta-patente, e por aí vai. Consulte a tabela de valores disponíveis no site do INPI e faça suas contas para ver se vale a pena todo o esforço e se você tem um bom plano para arcar com todas estas despesas. Talvez você vá precisar de ajuda financeira de alguém. Há sites de financiamento coletivo que podem ser uma boa pedida. No site do INPI ensina-se o inventor/empreendedor a fazer o pedido de patente obedecendo a algumas regrinhas de formatação, conteúdo e especificação da ideia. Se você optar por elaborar o pedido de patente sozinho, muito cuidado! Depois o leve à apreciação de um técnico no assunto para que você tenha a certeza de estar depositando um bom pedido de patente no INPI, aumentando suas chances de receber a patente depois de um longo processo. Se quiser “evitar a fadiga” e tiver dinheiro em caixa, contrate um redator de patentes competente, que é a pessoa que vai redigir o pedido de acordo Edição nº 58 – Agosto/2016

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com as exigências legais. As informações do desenvolvimento do produto/processo serão muitos importantes nessa hora para descrever bem a composição e funcionamento do seu projeto.

Tipos básicos de patente

No Brasil, existe a Patente de Invenção, que é um produto novo ou um novo processo industrial, contendo uma carga inventiva muito forte (por exemplo, o telefone na época em que foi inventado) e concede a você o direito de propriedade e uso exclusivo pelo prazo de 20 anos contados da data em que você solicitou a patente. Há também a Patente de Modelo de Utilidade: é o produto de uso prático que você bolou e que tenha nova forma ou disposição, envolvendo grau de criatividade menor do que a Patente de Invenção, mas que melhora bem o funcionamento de coisas que já existem, seja em seu uso seja em sua fabricação. Há espelho e há desembaçador de espelhos traseiros por calor nos carros, e você une o espelho e une o desembaçador dos carros e cria um desembaçador para espelhos de banheiro por aquecimento. Então é uma inovação em equipamento ou produto já existente em sua configuração, em seu formato, e concede a você o direito de propriedade e uso exclusivo pelo prazo de 15 anos contados da data em que você solicitou a patente. E o Desenho Industrial: tipo de proteção diferente das patentes e das marcas. Sua propriedade é concedida através de um certificado de registro, com validade de dez anos contados da data em que você solicitouo oficialmente no INPI. A proteção do desenho é mais para a forma estética/ornamental de um produto.

Já protocolei o pedido de patente. O que dá para fazer?

Tendo uma ideia com patente depositada no INPI você tem, basicamente, tem 3 caminhos:

1- Vender a patente: Você pode vender a patente concedida de um produto ou processo ou apenas o pedido de patente a uma empresa, para que ela possa explorá-la industrial e comercialmente em definitivo. Assim o inventor transfere a titularidade de seus direitos ou expectativas de direitos à patente a esta empresa. Se for um pedido de patente (tramitando no INPI), que estiver sendo negociado, avaliam-se as chances de a carta-patente ser ou não concedida no futuro, o seu grau de ineditismo e outros aspectos comerciais da ideia cuja patente foi solicitada (novidade, atividade inventiva, aplicação industrial, concorrentes, custo de fabricação e venda, mercado, escalabilidade, etc).

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2- Licenciar a patente: você concede a uma empresa o direito de fabricar e vender o produto ou empregar dado processo, mas a patente continua sendo da sua titularidade, e você passará a receber os chamados royalties (uma participação comercial que o inventor depositante da patente recebe da empresa sobre os lucros líquidos por cada unidade do produto que é vendida, - porcentagem definida em negociação).

3- Arrumar um sócio: é muita coisa para pensar, impossível fazer tudo sozinho? Você pode junto com outro empreendedor formar uma empresa/sociedade, montando uma startup a partir da patente, por exemplo. Você, como inventor, entra com o projeto com patente solicitada (capital intelectual); já o empreendedor (que talvez tenha mais visão comercial e industrial que você) entra com a implementação do projeto (capital técnico) e ambos se tornam sócios, definindo-se também qual será a participação de cada um.

Com essas informações espero ter contribuído para que você dê os primeiros passos rumo a um novo negócio e estimulado você na incessante busca dentro do surpreendente mundo das invenções. Ficou com dúvida? Entre em contato!

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As invenções de Gannam podem ser conferidas no site: https://paulogannam.wordpress.com/

Outros Contatos: Linkedin: https://www.linkedin.com/pub/paulo-gannam/51/1b0/89b Facebook: https://www.facebook.com/paulogannam.inventionsseekinvestors Google+: https://plus.google.com/+PauloGannaminven%C3%A7%C3%B5es Twitter: https://twitter.com/paulogannam

E você? Já teve ou está com uma grande ideia? Conte para o Paulo, pois pode virar notícia aqui na Revista Bragantina!

Como citar: GANNAM, P. Tive uma ideia dos deuses e agora? Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.58, p. 18-22, ago. 2016. Edição nº 58 – Agosto/2016

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O ANDARILHO DA SERRA

Diego de Toledo Lima da Silva Técnico/Engenheiro Ambiental, Andarilho e Cronista E-mail: diegoaikidojoa@hotmail.com

JANELA DE LUZ

Vivemos e andamos pelos anos, visualizando a adolescência e os sonhos jovens. Cada dia um dia, cada hora uma hora, momentos que passaram pelas manhãs da vida. O lento dissipar do nevoeiro que encobria trechos do futuro, ainda presentes como vales entre serras. O mundo não acabou, não explodiu e não foi atingido por uma chuva de meteoros, apenas nossos dias foram atirados pela janela do cotidiano. Olhando o passado vejo àquele dia, há tanto tempo, atrasado para a formalidade de dispensa do Serviço Militar, jurando amor à pátria em curtas palavras. Estou chegando, outros dos nossos não chegaram? Não é? Quantas montanhas subimos? Quanta estrada percorremos? As canções tocam em nossos corações, uma mistura de hits pulsando nos delírios de nossa mente. Temporariamente refletimos em momentos de silêncio, madrugadas e dias. Mesmo buscando a luz, existem muitos versos ainda encobertos por nuvens, impedindo qualquer reprodução programada pelas luzes do céu. Aparências que o tempo esculpiu, escondendo em cantos do coração e visões poéticas, ninhos de sonhos e liras adolescentes. Louco e viajante, cantando passos e percorrendo as mesmas músicas. Louco, todos loucos, somos loucos? Loucura é a guerra, loucos são os cientistas que constroem bombas. Verdade que não recebemos a necessária autorização do tempo, pois este não outorga suas atribuições, simplesmente silencia.

Edição nº 58 – Agosto/2016

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Fogo de dragões (Susumu Yamaguchi)

Criamos atalhos e criaremos outros tantos, caminhos de luz... Clareia tempo, clareia meu velho amigo!

______ “Cheguei lá, cara!” – Susumu Yamaguchi – Joanópolis, 27 de Junho de 2016.

Como citar: DA SILVA, D.T.L. Janela de luz. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.58, p. 23-24, ago. 2016. Edição nº 58 – Agosto/2016

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MEMÓRIAS

Susumu Yamaguchi Cronista e Andarilho E-mail: sussayam@gmail.com FELIZ ANO DE PAZ

Quando o grego Polyvios Kossivas saiu para as ruas naquela tarde de domingo não imaginava que teria um encontro com o extraordinário. Há muito a vida de seu povo deixara de ser o palco apropriado para tal, mas ele gostara da figura do solitário que vinha na frente e foi dar-lhe apoio. Sentia que isso seria bom para o atleta, mas nada sabia de seu encontro marcado com dois homens. E nem sabia que um deles sabia, e somente ele. O irlandês Cornelius Horan planejara um encontro naquele local e dia, só não sabia com quem e nem a hora exata. Esperou com a paciência e eficiência de um campeão para atacar no momento certo. Sabia o que viria depois, mas isso não importava: seu sucesso faria cessar o tempo. E preparou-se para o encontro iminente. O terceiro personagem dessa insólita trindade que se formaria em instantes também de nada sabia. O brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima liderava a maratona dos Jogos Olímpicos de 2004 com uma vantagem de meio minuto e a uma légua da chegada. Ele tinha um compromisso com a linha final que o aguardava intocada, no estádio Panatinaikos. E era para honrar essa missão que ele corria isolado por Atenas, vindo de Maratona. E corria em paz.

MENSAGEIROS DE DEUSES. Vinte e cinco séculos antes, outro corredor percorria essa rota sem a presença de tantos olhos a acompanhá-lo. Também não havia perseguidores, a batalha de Maratona havia sido vencida e ele levava a notícia para Atenas. Embora habituado a portar boas e más mensagens, dessa vez uma inquietação o fazia correr sempre mais à medida que se aproximava do fim da viagem. Cada vez mais. Antes da vitória sobre os persas, ele fora enviado a Esparta para pedir ajuda. Nessa corrida de quase 500 km ele teve um encontro decisivo: ouvindo o chamado de "Feidípides!" deparou-se com o deus Pã, que lhe ordenou indagar dos atenienses a razão de o Edição nº 58 – Agosto/2016

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negligenciarem, apesar de toda a amizade que ele lhes dedicava e de muitas vezes os ter protegido no passado e de voltar a fazê-lo no futuro. Mas para os ancestrais de Kossivas encontros com deuses nada tinham de extraordinário, e simplesmente erigiram um templo a Pã e instituíram em sua honra uma cerimônia anual com sacrifícios e corridas com tochas. Pã ajudou-os a expulsar os persas criando um grande pânico entre estes. Esse confronto foi celebrado como uma vitória heroica e em sua História da Guerra do Peloponeso, Tucídides escreveu: "No mausoléu oficial, situado no subúrbio mais belo da cidade, lá são sempre sepultados os mortos em guerra, à exceção dos que tombaram em Maratona que, por seus méritos excepcionais, foram enterrados no próprio local da batalha". E Feidípides, o mensageiro que morreu distante e só, onde teria sido enterrado?

TRÉGUA SAGRADA. Se essa batalha tornou-se um símbolo para os gregos, para os persas ela não teve significados. É o que afirma Ciro Espítama, neto do profeta Zoroastro e servidor de três gerações de reis persas: Dario, Xerxes e Artaxerxes. Personagem de Criação, de Gore Vidal, buscava a origem do Bem e do Mal e foi interlocutor de Heródoto, Tucídides, Anaxágoras, Sócrates e Péricles; conheceu Buda e Confúcio quando foi embaixador nos reinos da Índia e Catai, atual China. E falava: "Cavalgar, retesar o arco, dizer a verdade. Neste provérbio está contida a educação persa. Demócrito me lembra que a educação grega é quase igual – exceto no tocante a dizer a verdade". Mas são sempre os vencedores que contam a sua verdade – o que por certo nem Ciro Espítama negaria – e é por isso que hoje corremos a maratona e nos dizemos maratonistas. E alguns ainda correm os 246 km da Spartathlon, a metade do que correu Feidípides antes de ir para Maratona, lutar e partir para sua corrida final. Se essas corridas foram inspiradas em feitos de milhares de anos passados, ainda hoje não conseguimos honrar um preceito que marcava os Jogos Olímpicos de outrora: a trégua sagrada. As olimpíadas correspondiam aos quatro anos entre os Jogos Olímpicos. Quando estes chegavam vinham também tempos de paz. A trégua sagrada era o período em que era assegurado o livre deslocamento de participantes e espectadores para os Jogos e depois o seu retorno em segurança para casa. Desarmavam-se espíritos bélicos e inimigos tornavam-se fraternos no espírito olímpico, porque eram tempos de paz por serem anos de Jogos Olímpicos. Mas naquele ano dos Jogos de 2004 não houve trégua e nem paz. A dois mil quilômetros dali, uma guerra de ocupação da antiga Mesopotâmia dizimara dezenas de milhares de vidas em um ano e meio. Pã, deus dos bosques e protetor dos pastores, há muito desistiu de falar aos homens e já não chama corredores no alto de montanhas para enviar mensagens. Usa agora seu poder de tornar seres humanos e animais vítimas de um terror repentino: o chamado pânico, derivado de seu nome. Para isso, dispõe de todos os elementos Edição nº 58 – Agosto/2016

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porque simboliza também a Natureza, a Vida Universal, o Grande Todo.

ANO DO RATO. Agora se completa mais uma olimpíada porque este é um ano de Jogos Olímpicos, que serão realizados em Pequim, com abertura às 8 horas da noite do dia 8 do mês 8 de 2008. E é também o que inicia um novo ciclo de doze anos, porque o rato foi o primeiro animal que atendeu ao chamado de Buda. É possível que esse rato tenha sido contemporâneo de Feidípides, pois no ano 490 antes de Cristo, quando ocorreu a Batalha de Maratona, Buda ainda estava vivo – e iluminado. Agora não mais em honra a Zeus, mas em nome da paz, amizade e fraternidade entre os povos, o fogo sagrado de Olímpia por fim alcança a China que nem o persa Dario, nem o macedônio Alexandre e nem o romano Trajano conseguiram conquistar em nome de grandes impérios. Um soldado inspirou uma corrida que leva à paz; e o rato, em seu ano de regência, bem poderia conduzir os homens, se não à paz de Buda, ao menos a uma trégua sagrada.

A PAZ NO MEIO DO TUMULTO. Mas estávamos na tarde do dia 29 de agosto de 2004, nas ruas de Atenas. Vanderlei Cordeiro de Lima, Cornelius Horan e Polyvios Kossivas já tinham cruzado seus caminhos e se separado. O irlandês, detido, diria mais tarde: "Deus dará a Vanderlei o que eu tirei dele"; o grego foi para casa ver a chegada pela TV e diria que só havia três jeitos de ajudar Vanderlei: "O jeito certo, o jeito errado e o meu jeito"; e o brasileiro continuou a correr porque tinha também, como Feidípides, a sua missão. Na última hora dos Jogos, o espírito da paz desceu no meio do tumulto nas ruas de Atenas e passou a escoltar o corredor que ainda seguia na frente. Ele perdeu uma posição, perdeu duas, mas não perdeu a ciência de seu dever. Vanderlei Cordeiro de Lima alcançou o Panatinaikos já transformado na própria mensagem. Em sua volta olímpica, todos viram que o atleta abria os braços e chegava planando, leve, feliz, em paz. Só não perceberam que o espírito, antes de desprender de seu voo e rumar para o Olimpo, sussurrou-lhe em definitivo: "Vencemos!"

*Artigo publicado originalmente na revista Contra-Relógio em 2008, ano dos Jogos Olímpicos de Pequim, referente aos Jogos Olímpicos de Atenas 2004. Doze anos depois, e tendo recebido a mais nobre condecoração olímpica com a Medalha Barão Pierre de Coubertin, coube a Vanderlei Cordeiro de Lima depositar o fogo sagrado da paz, amizade e fraternidade entre os povos na pira dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016.

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Margareth – margot.joaninha@hotmail.com

Como citar: YAMAGUCHI, S. Feliz ano de paz. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.58, p. 25-28, ago. 2016. Edição nº 58 – Agosto/2016

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