Revista Eletrônica Bragantina On Line - Outubro/2016

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Revista Eletrônica Bragantina On Line

Discutindo ideias, construindo opiniões!

Número 60 – Outubro/2016 Joanópolis/SP

Edição nº 60 – Outubro/2016

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SUMÁRIO

Nesta Edição: - EDITORIAL – Voar! ............................................................................................. Página 3; - COLCHA DE RETALHOS – Estrada de Ferro de Salvador/Juazeiro Por Rosy Luciane de Souza Costa ........................................................................... Página 4; - ARTE E VARIEDADES – Complexidade contida na Humanidade Por Thiago Santos ..................................................................................................... Página 8; - A ARTE DO TURISMO E DA HOTELARIA – O turismo também está na política Por Leonardo Giovane ............................................................................................. Página 9; - CRIATIVOS INOVADORES – Por que é raro inventor independente ser bemsucedido no Brasil? Por Paulo Gannam .................................................................................................. Página 11; - EDUCAÇÃO AMBIENTAL – Sobre o espírito do mundo Por Flávio Roberto Chaddad ................................................................................. Página 16; - MEMÓRIAS – Vida e morte peregrina Por Susumu Yamaguchi ......................................................................................... Página 18; - O ANDARILHO DA SERRA – Vilarejo das promessas Por Diego de Toledo Lima da Silva ....................................................................... Página 22.

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REVISTA ELETRÔNICA BRAGANTINA ON LINE Uma publicação independente, com periodicidade mensal.

Site: https://sites.google.com/site/revistabragantinaonline Facebook: https://www.facebook.com/RevistaBragantinaOnLine E-mail: revistabragantinaon@gmail.com Nossas edições são publicadas no Scribd e no ISSUU: www.scribd.com / www.issuu.com

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EDITORIAL

VOAR!

Prezados leitores! A Revista completa 5 anos neste mês de outubro, muita história, gente e conhecimento passou pelas nossas páginas. Um vôo que iniciou rasante e hoje abraça o mais longínquo dos céus... Olhamos para o futuro e a única certeza que temos que é preciso voar mais e mais! E queremos continuar contando com você na construção da história desta publicação independente e sem fins lucrativos. Parabéns hoje e sempre, querida Revista!

Diego de Toledo Lima da Silva – Editor (18/10/2016) E-mail: revistabragantinaon@gmail.com

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COLCHA DE RETALHOS

Rosy Luciane de Souza Costa Professora, Historiadora e Pesquisadora E-mail: costarosyluciane@hotmail.com ESTRADA DE FERRO DE SALVADOR/JUAZEIRO

A construção de uma via férrea que possibilitasse a ligação entre Juazeiro e a capital do Estado, era uma antiga aspiração do povo desse município e das áreas circunvizinhas. Através da Lei n° 450/1852 sancionada por Álvaro Tibério Moncorvo Lima, vice – presidente da Província da Bahia iniciara-se o grande empreendimento da Via Férrea: “Fica concedido” a Companhia composta de membros da junta da lavoura, e outros proprietários desta província, o privilégio exclusivo por 40 anos, para abertura de uma estrada sobre linhas de madeira ferrada, desta capital para a vila de Juazeiro, cuja comunicação se fará por meio de vapores. A estrada deverá ser feita em 10 anos. Foi celebrada uma convenção entre os concessionários e uma nova companhia Inglesa, iniciando o primeiro trecho de Salvador a Alagoinhas, posteriormente empreitada até Vila Nova da Rainha, hoje Senhor do Bonfim. Por conta da morosidade da obra, passou a ser o responsável pelos quilômetros restantes, o Eng° Miguel de Teive e Argolo que concluiu o assentamento dos trilhos em menos de um mês.

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Primeiro Trem de Ferro que chegou em Festa de Inauguração da Estrada de Juazeiro – Bahia – 1896

Ferro Salvador/Juazeiro – 24 de fevereiro de 1896

A Estrada de Ferro de Salvador ao São Francisco chegou a Juazeiro, seu ponto terminal, no dia 24 de fevereiro de 1896, tecendo elogios no pronunciamento o Ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas, Dr. Antonio Olinto dos Santos Pires, que declarou na oportunidade, inaugurada a Estação de Juazeiro ponto terminal da Estrada de Ferro do Prolongamento, com um percurso de 452,310 km, ao tempo que se congratulava com o povo brasileiro por mais este auspicioso acontecimento e deixou dito que o nome do Dr. Argolo ficaria impresso naqueles trilhos e sempre seria acordado pelo silvo da locomotiva em todas aquelas plagas. Inaugurada a ponta de trilhos da Estrada de Ferro Salvador/ Juazeiro, ficou a cidade servida apenas por dois barracões nas margens do rio,

instalando-se

dessa

forma,

a

Estação

Provisória. Onze anos depois em 15 de novembro de 1907, se efetuava a inauguração do Edifício da Estação da Estrada de Ferro da cidade de Juazeiro. Antiga Estação Ferroviária da Leste Brasileira Juazeiro – Bahia

Seguramente a mais bonita e luxuosa estação ferroviária do Estado, ocasião em que o intendente em exercício Cel. Henrique José da Rocha, em nome do povo agradecia ao Engenheiro Dr. Miguel Argolo pelo arrojado Projeto da Estação Ferroviária.

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Estação Ferroviária de Sr. do Bonfim – Soc. Juazeirense na Estação Ferroviária, BA– 1930.

1927.

A Estrada de Ferro de Juazeiro, cujos serviços prestados à região foram de enorme valia, parcialmente desativada como parte de um processo que ocorreu em todo o país para favorecer a implantação e o desenvolvimento do parque automobilístico Nacional, oportunidade em que o governo da República incentivou a construção de Rodovias. Diante desse percurso histórico da linha Ferroviária Salvador/Juazeiro, lamentamos sinceramente não concluirmos a trajetória Férrea porque, a maior construção em imponência artística (prédio da Estação ferroviária) foi criminosamente demolida em 1953, tido como alegação “abrir passagem para a ponte General Eurico Gaspar Dutra”.

Pilares da Construção da Ponte Gal. Demolição da Antiga Estação Ferroviária Eurico Gaspar Dutra - 1950

– 1953

Por tudo isso na visão do hoje, Juazeiro se propõe a resgatar espaços e prédios, recuperar áreas que contribuam para a preservação da memória e história do povo São franciscano, utilizando uma metodologia educativo-social, em nome dos antepassados e da cidadania Juazeirense.

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Fontes de Pesquisa:

* Juazeiro, trajetória histórica (Angelina Garcez e Consuelo Ponde)

*Juazeiro da Bahia á luz da história (Walter de Castro Dourado)

*Juazeiro na esteira do tempo (Édson Ribeiro)

Como citar: COSTA, R.L.S. Estrada de Ferro de Salvador/Juazeiro. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.60, p. 4-7, out. 2016. Edição nº 60 – Outubro/2016

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ARTE E VARIEDADES

Thiago Santos Escritor, Cineasta e Roteirista E-mail: contatots2016@gmail.com COMPLEXIDADE CONTIDA NA HUMANIDADE

Valiosa é a ação em que o outro encontra no ser diante de si inspirações para o riso; surpreendente a ideia de que o silêncio dedicado ao próximo, cedendo a ele apenas a audição lhe servirá como um agente responsável por singelos, porém deliciosos momentos de alegria. Ter ao lado um ser (humano) capaz de proporcionar risos é o mesmo que encontrar no outro mais do que inspiração... Anjos (mortais) entre nós e em nosso favor. Lamento por todas as crianças que um dia sofreram agressões sexuais. Por vocês, fica o meu lamento!!!

Como citar: SANTOS, T. Complexidade contida na Humanidade. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.60, p. 8, out. 2016. Edição nº 60 – Outubro/2016

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A ARTE DO TURISMO E DA HOTELARIA

Leonardo Giovane M. Gonçalves Técnico em Hospedagem e Graduando em Turismo E-mail: leonardo.giovane@hotmail.com O TURISMO TAMBÉM ESTÁ NA POLÍTICA

As eleições acabaram há poucas semanas. Candidatos foram eleitos, prefeitos e vereadores logo tomarão posse de seus cargos. Durante o período de campanha ouvimos muitos discursos, seja sobre saúde, educação, segurança, emprego e outros assuntos. Não me assusta não ouvir muito sobre o turismo e o lazer, mesmo havendo em nossa região um grande potencial turístico a ser explorado. O discurso turístico, quando feito, sempre aborda as mesmas propostas: “desenvolver o turismo”, “trazer divisas”, “gerar empregos” e outras coisas. Do mesmo modo que essas propostas se repetem, não me assusta também ver discursos errados mostrando um desconhecimento dos candidatos sobre a terminologia e a atividade turística. Se os candidatos soubessem mesmo sobre o turismo, possivelmente não utilizariam o mesmo somente como um fator econômico, ou seja, eu não preciso gerar atrativos turísticos no município somente para gerar divisas, mas se eu pensar na população, posso usar o turismo para gerar lazer para a comunidade. Gerando lazer para comunidade eu diminuo os gastos com saúde, pois uma comunidade que possui bons equipamentos de lazer dificilmente adoece. Com oportunidades de lazer e turismo é possível gastar menos com segurança, pois o turismo é também gerador de ideias e um agente educador, logo, por meio do turismo se fomenta cidadãos mais conscientes dos seus atos. Edição nº 60 – Outubro/2016

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Sabendo desses fatores, penso que o turismo deveria ser a base principal das campanhas políticas. No caso de Joanópolis, por exemplo, ou melhor, a Estância Turística de Joanópolis, escutamos discursos em favor do turismo e isso foi um grande avanço para um município que pode crescer neste nicho de mercado. Pensar o turismo sobre uma ótica econômica, social e ambiental são os princípios básicos da sustentabilidade. Muitos destinos nacionais e internacionais aplicaram esses conceitos e conseguiram obter um equilíbrio entre os interesses públicos, privados e da própria população. O turismo não deve ser planejado visando somente o turista, pois depois que o turista volta para sua moradia quem continua vivendo na cidade é o munícipe, ou seja, o planejamento não deve ser baseado de cima para baixo (do turista para o morador), mas sim de baixo para cima (do morador para o turista). Quando a população passa a crer que o turismo traz benefícios para ambos os lados, cria-se cidadãos que acreditam em sua cidade, valorizam as suas culturas e se diminui os índices de depredações de patrimônio público e outros fatores que foram abordados anteriormente. Dito isso, e com o intuito de gerar ideias e discutir opiniões, após termos eleitos nossos candidatos, agora temos que exercer o papel de cidadãos, cobrar, fiscalizar, sugerir e saber que como saúde, educação, segurança e afins, o acesso ao turismo e ao lazer também é um direito de todos!

Como citar: GONÇALVES, L.G.M. O turismo também está na política. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.60, p. 9-10, out. 2016. Edição nº 60 – Outubro/2016

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CRIATIVOS INOVADORES

Paulo Gannam Jornalista e Inventor E-mail: pgannam@yahoo.com.br POR QUE É RARO INVENTOR INDEPENDENTE SER BEM-SUCEDIDO NO BRASIL?

Porque uma invenção tem tantos filtros pelos quais passar que isso gera longos períodos de descoberta até se chegar – se chegar – a uma inovação escalável.

Porque investidor não quer problema, não quer ideia crua, quer solução. Você tem que estar com tudo pronto para apresentar a ideia de um produto/serviço nos moldes que ele deseja. Ou seja, com o projeto blindado com a patente, com um protótipo físico fresquinho e estudos de viabilidade econômica e pesquisa de mercado que validem a ideia proposta.

Porque, dependendo do investidor, você vai precisar apresentar projeções crescentes de vendas de uma eventual empresa que já você tenha constituído a partir de sua ideia – algo ainda mais improvável de um inventor independente conseguir.

Porque muitos inventores autônomos não tem formação na área de administração, sequer tiveram contato com literaturas sobre empreendedorismo. São pessoas com muita sensibilidade para a criação de novos produtos que atendam a necessidades cotidianas, não por formação, mas por vocação! Tipos, muitas vezes anônimos, que não têm conhecimento técnico, muito menos estrutura laboratorial para desenvolver sua ideia e apresentá-la a contento a um mercado muito exigente.

Porque inventores autônomos costumam ter uma ideia, protegê-la via pedido de patente, embora não tenham o alcance e as informações necessárias para saber se sua ideia é realmente viável. E para chegar a essa conclusão, haja pesquisa e contato com possíveis clientes, modificações e adaptações no projeto até obter, quem sabe, o produto final.

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Porque no Brasil não existe programa que apoie, no sentido exato desta palavra, o inventor independente, pessoa física, com recursos para que ele possa realizar um estudo de viabilidade técnica e econômica de seu projeto e desenvolvimento de um protótipo físico. Há quem sempre sugira instituições como o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), o Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), Fundações Estaduais de Amparo ao Ensino e à Pesquisa, e o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Mas a maioria dos programas de apoio é voltada apenas a empresas, pessoas jurídicas com CNPJ, como se o foco devesse estar somente em empresas e não na inovação e qualidade do projeto, que – nascido ou não dentro de uma empresa – pode ajudar as pessoas e trazer muito imposto de renda ao país graças aos royalties que o produto criado e blindado com a patente pode gerar. Porque quando algumas dessas instituições chegam a “apoiar” o inventor independente, se você sondar direito o programa, não se trata de apoio coisa nenhuma, e sim de um negócio como outro qualquer – e dos piores para o inventor.

Porque, como exemplo, há fundações de amparo que, se julgarem sua invenção com bom potencial de mercado, arcam com os custos de depósito do pedido de patente e pela administração da sua patente, pagando pelas anuidades que hoje estão em torno de R$ 80,00 a R$ 100,00 ao ano, até que a carta-patente seja concedida (depois que a carta-patente é concedida as anuidades aumentam progressivamente a cada ano).

Porque em troca de pagar por essas taxas de serviços do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), fundações de amparo costumam reivindicar a cotitularidade da patente e dos direitos de participação comercial sobre a mesma. Ou seja, investem uma mixaria no projeto do inventor, normalmente não o ajudam a divulgá-lo nem a mediá-lo numa eventual negociação; nem a desenvolver o protótipo, tampouco a fazer um estudo de viabilidade comercial, não tendo tido ainda nenhuma participação na concepção da ideia. Mas se a patente do inventor milagrosamente gerar royalties pesados graças aos seus heroicos esforços, tais instituições abocanham uma boa fatia do bolo.

Porque legisladores e governos não se deram conta de que, se realmente ajudassem o inventor, esta anônima pessoa física, mesmo sem ter qualquer empresa constituída – sequer sendo microempreendedor individual – poderia estimular empresas a fabricarem e comercializarem sua patente, dentro e fora do País, e isso gera empregos, renda, e impostos que mantêm toda uma sociedade.

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Porque o que chamamos hoje de Lei de “Inovação”, aquela de número 10.973, não trouxe benefício efetivo nenhum para o inventor independente, pessoa física. Fala-se em um “estímulo ao inventor independente” no capítulo V. Na prática, os núcleos de inovação das universidades, se tiverem interesse (em 90% dos casos não tem), vão lhe prestar um mau atendimento, reivindicar direitos de patente em cima de sua ideia, e participação comercial em torno de 70% simplesmente por que isto está na lei!

Porque no Brasil, dar apoio a uma pessoa é o mesmo que fazer negócios com ela. Lidar com universidades se tornou algo mais desvantajoso do que contratar empresas privadas de desenvolvimento de protótipo e estudos de viabilidade comercial. A lei de inovação usa o termo “adoção de patente”, que pode ser feita pelas universidades em cima do trabalho do inventor autônomo. A sua invenção é tratada como uma criança perdida, sem dono, que pode ou não merecer ser “adotada” pela universidade que costuma demorar até 6 meses para te dar um retorno sobre o interesse pela adoção. Tempo útil para tornar sua ideia/patente um pouco mais obsoleta.

Porque se ignora o fato de que o direito de propriedade intelectual deveria ser redigido para o inventor, com o mesmo raciocínio com base no qual o direito trabalhista foi para o trabalhador, que é a parte mais fraca na relação negocial, mas ocorre o inverso.

Porque para você receber ou não a carta-patente no Brasil você espera em média 10 anos, repito, 10 anos! Chegado este tão esperado momento, finalmente pensa, aliviado, se sua ideia já não for obsoleta: “Agora sim vou poder explorar ou permitir que outros explorem a minha inovação com exclusividade, vou poder tornar a concorrência irrelevante, e ter o retorno de tantos anos de investimento, desenvolvimento e estudo de viabilidades”. Vai sonhando: uma grande empresa pode acionar a justiça e tentar anular a validade de sua patente. Argumento costumeiro que usam: “O INPI - autarquia responsável por uma análise criteriosa da carga de inventividade, novidade e aplicação industrial de seu produto – não fez o julgamento adequado”. Daí fica cabendo ao Judiciário, que muitas vezes pouco conhecimento da Lei de Propriedade Intelectual tem, salvo se nomear peritos realmente competentes e imparciais, julgar a contenda. Em muitos casos, se o juiz não estiver atento, por manobras processuais que favorecem quem está contestando a validade de sua patente, você a perde. E mais, seus efeitos retroagem de tal modo que caso você tenha ganhado algum money com a venda de seu produto, pode começar a fazer as contas para devolver o dinheiro.

Porque ainda não se compreendeu que se os inventores ganhassem dinheiro fruto de Edição nº 60 – Outubro/2016

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seu trabalho, os advogados e agentes seriam mais procurados, pois teríamos mais inventos, mais inventores, mais relações comerciais, mais trabalho para todos. Não é difícil, basta copiar ou mirar na lei de patentes dos EUA, que já mostrou que funciona. Lá o direito é do inventor/autor, aqui: da "sociedade", ou do "interesse social". Mas é o inventor é que se sacrifica para inventar, não é a sociedade. Esta última apenas usufrui o bem inventado (cabe aqui relativizar um pouco quando se tratar de inventos no setor farmacêutico).

Porque nossa atual doutrina tem equívoco ideológico, resquício do antigo comunismo, onde se dizia: O “tudo” é o Estado/sociedade, o indivíduo é nada. Quando na verdade; agora se percebe: O indivíduo “é quase-tudo”,

e forma o Estado/sociedade com sua

presença/força/trabalho individual .

Quem mais inventa no mundo?

De acordo com a Organização Mundial de Propriedade Intelectual, mais de 60 % de tudo o que foi inventado ou aperfeiçoado no mundo até hoje foi a partir de inventores autônomos. Mesmo com estes números, podemos contar nos dedos os inventores, pessoas físicas, que se transformaram em grandes empresários ou que conseguem licenciar a patente de sua invenção a empresas estabelecidas/emergentes. Sem falar nos casos de inventores brasileiros que somente depois de longuíssimos processos judiciais conseguiram obter uma parte do que lhes era devido, como o caso do brasileiro Nélio Nicolai, que inventou o BINA (identificador de chamadas presente hoje em praticamente todos os telefones móveis do mundo).

Será que me intimido?

De jeito nenhum, a paixão, a perseverança e o aprendizado contínuo falam mais alto! Mas, independentemente disso, urge adequar a legislação brasileira, melhorar a estrutura do INPI para análise das patentes requeridas e implantar uma política de inovação que beneficie de fato inventores autônomos, pessoas físicas. E que esta política seja capaz de equipará-los para fins de concessão de benefícios - ao status legal dos MEI e/ou das pequenas e médias empresas, também prejudicadas por receberem incentivos infinitamente menores – quando comparadas com grandes empresas estabelecidas.

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As invenções de Gannam podem ser conferidas no site: https://paulogannam.wordpress.com/

Outros Contatos: Linkedin: https://www.linkedin.com/pub/paulo-gannam/51/1b0/89b Facebook: https://www.facebook.com/paulogannam.inventionsseekinvestors Google+: https://plus.google.com/+PauloGannaminven%C3%A7%C3%B5es Twitter: https://twitter.com/paulogannam

E você? Já teve ou está com uma grande ideia? Conte para o Paulo, pois pode virar notícia aqui na Revista Bragantina!

Como citar: GANNAM, P. Por que é raro inventor independente ser bem-sucedido no Brasil? Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.60, p. 11-15, out. 2016. Edição nº 60 – Outubro/2016

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Flávio Roberto Chaddad Graduado em Engenharia Agronômica e Ciências Biológicas; Graduando em Filosofia; Especialista em Educação Ambiental, Gestão da Educação Básica e Gestão Ambiental; Mestre em Educação Superior e Mestre em Educação Escolar E-mail: frchaddad@gmail.com SOBRE O ESPÍRITO DO MUNDO

Não quero falar de Hegel e de seu panteísmo travestido pelo Espírito do Mundo. Estou falando da vontade, o que há por trás de tudo. Até de nossa sociedade, do ser humano. Quero falar da necessidade que subjaz por trás das aparências, da visão simplista de quem analisa a natureza e a olha como um ser em suprema harmonia. Ou então, de nosso ID que se fosse expresso sem a clara necessidade do Superego traria, como já trouxe, sérias consequências para a humanidade. Assim, a aparente harmonia, equilíbrio da natureza, nos revela um todo que age em função de uma necessidade. Esta necessidade é perpetuar o gene, a ditadura do gene. Todos seres vivos se adaptam ao meio para passar seus genes, as plantas se tornam mais atraentes, mais coloridas, florescem, doam seu pólen, atraem insetos com seu néctar, suas cores, etc., só para poder dar vazão a este espírito, esta vontade que perpassa a todos os seres vivos, sem ter por eles nenhuma piedade ou compaixão. Anfíbios do deserto evoluíram tendo como característica perpetuarem seus genes quando lá chove, em um curto espaço de tempo, aprenderam, ou melhor, o meio selecionou o formato genético que se adaptaria com mais perfeição a este clima. Tudo para que os genes, donos desta vontade irracional, deste espírito do mundo, desta vontade sem ética e sem tréguas, que atravessa todos os seres, inclusive o ser humano, possam perpetuar-se até quando outra irracionalidade faça com que o planeta se acabe, outra extinção em massa ocorra.

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O ser humano não deixa de ser diferente. Por trás das aparências metafísicas e religiosas, o ser humano é instinto, é ID que deve, pelo Superego, ser amenizado, o que muitas vezes traz grandes traumas a civilização. Um exemplo a ser citado pode ser o mito de Perseu e da Górgona. Perseu para derrotar a medusa, que nada mais era que seu interior, olhou pelo escudo da razão e a decepou violentamente. Será que a razão pode tudo isto? Não sei, mas é a única arma contra a ditadura da vontade, de nosso instinto, deste espírito do mundo, o que nos torna uma criatura um pouco mais diferenciada, apesar de que alguns filósofos como Nietzsche e Schopenhauer acreditam ser a sociedade mera representação deste espetáculo.

Como citar: CHADDAD, F.R. Sobre o espírito do mundo. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.60, p. 16-17, out. 2016. Edição nº 60 – Outubro/2016

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MEMÓRIAS

Susumu Yamaguchi Cronista e Andarilho E-mail: sussayam@gmail.com VIDA E MORTE PEREGRINA

Rumo a Ouro Fino, poeira era o que não me faltava ao deixar Andradas e seguir pela estrada de terra. Alguns carros reduziam bem a velocidade ao me avistarem, mas invariavelmente aqueles com vidros escuros não o faziam, talvez porque seus motoristas vissem que eu não os podia ver. Naquele espesso pó, rastros de pedestres e de ciclistas também perdiam sua identidade em breve tempo. Embora uma grande placa se refira a certo Festival Enogastronômico, a grande produção da região deve ser mesmo o café a se julgar pelas enormes plantações que ocupam quase toda a área visível, até as mais improváveis encostas de serras. Pelo que ouço falar desde que cheguei a Joanópolis, lá devia ser assim antes; hoje, a pastagem ocupa a área que pertencia aos cafezais e vem sendo gradativamente substituída por eucaliptais. Como será a visão de um peregrino do futuro ao subir lentamente a Serra dos Limas e olhar para trás, como faço neste momento? Imagino que aquele um poderia ser o Benê, um amigo habituado a fazer longas caminhadas diárias com um pesado bornal. Ele traz notícias de muitos cantos do grande mundo para pessoas da pequena cidade, que sempre as recebem com renovadas alegrias ou insólita tristeza, mas nunca com indiferença. E imagino que ele poderia correr o olhar pelo amplo vale e lembrar-se mais uma vez de nosso amigo Moisés, com quem caminhava mais longamente em seus momentos de folga do trabalho. Tomavam o ônibus por meia hora até Piracaia e voltavam andando por mais de seis horas; e, entre outros percursos, subiam a Serra do Lopo e desciam para Extrema, almoçavam em Minas pesadamente à beira da rodovia Fernão Dias e voltavam pela estrada Entre Serras e Águas, percorrendo mais que uma maratona. Caminharam muito, eles. Mas este Caminho da Fé não fizeram juntos, e nem o farão. E nem eu, com Moisés pelo menos. Agora sigo por sobre as pegadas que ele deixou neste trecho, guardadas debaixo de poeiras e lamas de muitas estações. E oxalá Benê passe por Edição nº 60 – Outubro/2016

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sobre os nossos passos, um dia qualquer em que todo o cenário aqui do alto poderá estar diferente, mas que o espírito que move nossos passos nessa serra, e em todo o caminho, seja o mesmo.

Margareth – margot.joaninha@hotmail.com

No alto da Serra dos Limas, poucas casas, igreja, orelhão e bancos onde Edson e Maurício descansam e me aguardam. Um garoto louro espera em um banco a van para o último dia de aula, que está atrasada e a mãe acha que terá de levá-lo até Andradas. A outra van não o levará, passa devagar e vai embora. Nas férias ele ajudará na colheita do café, que está atrasada neste ano. Preparamo-nos para partir. A mãe chama-o para a porta de casa. Saímos da pracinha e começamos a andar. O menino parece triste. Olho para trás. O silêncio do bairro vazio também parece triste. Volto-me e sigo, devagar. Para leste, sempre. Edição nº 60 – Outubro/2016

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Mais adiante, dona Natalina diz que Edgar passou em sua pousada na tarde do dia anterior e, como se sentia bem, esticou até Barra, sete quilômetros à frente. Ela mostra os cômodos que fez para acolher melhor os peregrinos. Quando são muitos, ela chama a filha e a nora para ajudar na alimentação. Habitualmente elas ficam no cafezal, mas ela mesma tem de ficar em casa para receber telefonemas e peregrinos que passam sem regularidade. Diz que tem vontade também de ir a Aparecida a pé, já até falou com uma amiga, mas tem de ter pouso no máximo com vinte e cinco quilômetros. O seu amistoso cachorro atende pelo nome de Saddam Hussein. A visão que se tem de Barra do alto da serra é impressionante, ainda mais se sentimos dores nos joelhos. Assim como eu, Maurício começou a sentir o joelho direito um dia após a descida para Águas da Prata. Edson nada sentiu, e como não os vejo na estrada que desce para lá imagino que já tenham chegado. Agora é minha vez de descer até o pequeno bairro rural que pertence a Andradas, Jacutinga e Ouro Fino, e por isso também conhecida por Três Barras. E quem primeiro me saúda na pousada é uma alegre cachorrinha chamada Chiara. Enquanto Edson e Maurício percorrem os três municípios da vila procurando mortadela e tubaína gelada, converso com Joelma e seu filho Kauê na pousada, onde moram também o marido João e o caçula Caio. Atendem peregrinos desde o início do Caminho da Fé, em fevereiro de 2003, primeiramente apenas com refeições no bar e alojamentos no salão paroquial. Construíram a pousada depois, e também a pequena gruta de Nossa Senhora Aparecida no quintal. Vejo pelo livro de peregrinos que quase cinco mil pessoas já passaram por aqui, muitas apenas para carimbar a credencial, sendo cerca de setenta apenas neste mês. Folheio as páginas e encontro a assinatura de Moisés Eli Araújo, peregrino nº 1.804, em 13 de julho de 2005, há quase exatos 3 anos. Digo a ela que ele morreu em dezembro último, em acidente quando pedalava em Joanópolis. De certa maneira, desde Tambaú vínhamos seguindo seus passos por todos os lugares que ele passou com Edson naquele ano, como ocorreu na primeira pousada em que o caminho adentra na região de montanhas, logo após Vargem Grande do Sul, onde também localizamos o seu nome. Ao saber do acontecido com Moisés, a hospedeira Cidinha Navas imediatamente escreveu ao lado: “Morreu e foi para o Céu”. Joelma mostra uma fotografia de um casal de peregrinos em frente ao Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Vilma e Léo haviam feito o Caminho da Fé em junho de 2007, em quatorze dias. Desde novembro ele estava só, após um convívio de trinta e cinco anos. Por ela, ele peregrinou novamente em junho de 2008 e deixou ao longo do caminho uma tocante homenagem à sua memória, para os que a acolheram e também para os que não a conheceram.

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Pelo pequeno povoado de São Pedro da Barra, que conta com não mais de duas a três centenas de almas, a travessia da vida prossegue incessantemente. A morte, também peregrina, às vezes demora mais de ano para passar.

Como citar: YAMAGUCHI, S.

Vida e morte peregrina. Revista Eletrônica Bragantina On Line.

Joanópolis, n.60, p. 18-21, out. 2016. Edição nº 60 – Outubro/2016

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O ANDARILHO DA SERRA

Diego de Toledo Lima da Silva Técnico/Engenheiro Ambiental, Andarilho e Cronista E-mail: diegoaikidojoa@hotmail.com

VILAREJO DAS PROMESSAS

A tradição local reza que todo homem de fé deve percorrer o caminho à Aparecida pelo menos uma vez na vida, uma peregrinação que a todo instante desafia o corpo, a mente e a própria crença. Havia adentrado ao vilarejo no percalço de dois ciclistas, mesmo estando a pé, dividido entre o azul do céu e da capela local. Ao entrar na antiga construção fui recebido por mulheres e crianças da comunidade, onde os atos de cada missa eram transmitidos pelos mais velhos aos jovens, numa renovação para meus incrédulos olhos. Talvez o sol do caminho já tivesse me afetado, causando efeitos colaterais e alucinógenos, ou àquela cena era tão real quanto às pegadas que encontrei no caminho de terra. Certo que a dupla de ciclistas já estava bem distantes, favorecidos pelas descidas e retas sem fim do sertão mineiro de Três Barras. Os minutos a passar e seguia preso nos degraus do escadão de acesso à igreja que dividia a rua principal em duas, num trecho de continuação da estrada rural. Todo diamante ou joia rara seria incapaz de pagar aquele momento vivido, único e marcante. Ali, tive a certeza que o caminho seria profundo e vivo para um espírito calejado e demasiadamente urbano. Das muitas lágrimas que deixei na poeira da estrada, algumas foram naquele pequeno vilarejo rural, sem ao menos imaginar que muitas outras seriam derramadas até o destino. Confesso, porém, que toda explicação que buscasse iria compor o teatro dos milagres, que não se resume aos agradecimentos, intenções, histórias e promessas dos muitos peregrinos e da gente do caminho, mas de minha própria andança dia-a-dia por centenas de quilômetros sobre pegadas e marcas de outros andarilhos.

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Se um dia me perguntarem se Deus existe mesmo, responderei apenas com um sinal afirmativo e uma lágrima... Ou muitas delas!

Como citar: DA SILVA, D.T.L.

Vilarejo das promessas. Revista Eletrônica Bragantina On Line.

Joanópolis, n.60, p. 22-23, out. 2016. Edição nº 60 – Outubro/2016

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