Revista Eletrônica Bragantina On Line
Discutindo ideias, construindo opiniões!
Número 57 – Julho/2016 Joanópolis/SP
Edição nº 57 – Julho/2016
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SUMÁRIO
Nesta Edição: - EDITORIAL – Trechos .......................................................................................... Página 3; - A ARTE DO TURISMO E DA HOTELARIA – A saga começou: viajando para Europa Por Leonardo Giovane ............................................................................................. Página 4; - CRIATIVOS INOVADORES – Brasileiro cria auxiliar de estacionamento mais barato e eficiente que os existentes Por Paulo Gannam .................................................................................................... Página 6; - ROMANCE DAS LETRAS – Desapego Por Betta Fernandes ................................................................................................. Página 9; - EDUCAÇÃO AMBIENTAL – O fetiche da carne Por Flávio Roberto Chaddad ................................................................................. Página 11; - MEMÓRIAS – Ponta de pedra na mata Por Susumu Yamaguchi ......................................................................................... Página 13; - COLCHA DE RETALHOS – Achado ajuda a contar episódio da navegação no Rio São Francisco Por Rosy Luciane de Souza Costa ......................................................................... Página 18; - PALAVRAS E EXPERIÊNCIAS – Uma rua enfeitada pelos manacás Por Emily Caroline Kommers Pereira .................................................................. Página 23; - O ANDARILHO DA SERRA – Alucinação Por Diego de Toledo Lima da Silva ....................................................................... Página 26.
Edição nº 57 – Julho/2016
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REVISTA ELETRÔNICA BRAGANTINA ON LINE Uma publicação independente, com periodicidade mensal.
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EDITORIAL
TRECHOS
Prezados leitores! Ele olhou para trás e se desesperou com o passado, sentiu tanta lembrança e saudade que o coração quase parou, num pulsar lento e falho. Visualizou sua esquerda e segurou sua amada, com medo de perder suas mãos pelos dedos das incógnitas diárias. Olhou à direita e viu um horizonte tomado por raios de sol entre o nublado do céu. Levantou a cabeça, respirou fundo e olhou para frente, firmou o passo e seguiu o caminho, uma estrada sem volta e sem direito de pergunta... As respostas virão um dia, em algum trecho ou em vários deles, quem sabe?!
Diego de Toledo Lima da Silva – Editor (19/07/2016) E-mail: revistabragantinaon@gmail.com
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A ARTE DO TURISMO E DA HOTELARIA
Leonardo Giovane M. Gonçalves Técnico em Hospedagem e Graduando em Turismo E-mail: leonardo.giovane@hotmail.com A SAGA COMEÇOU: VIAJANDO PARA EUROPA
Há algum tempo venho tentando meu intercambio para Europa. Tentei a primeira vez para Santiago de Compostela, na Espanha, mas não obtive sucesso por estar no primeiro ano de faculdade. Há alguns meses entrei em mais um edital de intercâmbio, no qual coloquei três opções: Vigo, em Portugal; Valência, na Espanha; e como terceira escolha optei por Budapest, na Hungria. Mas sempre tive o desejo de estudar em um país de língua espanhola, no entanto, para minha surpresa fui selecionado para ir à Hungria. O país de língua oficial húngara e de segunda língua inglesa está situado no leste europeu. Basicamente ficarei dez meses lá, mas o que eu quero retratar a vocês é o inicio desta saga ainda aqui no Brasil. O território húngaro permite a visitação de brasileiros no período de três meses sem a necessidade de um visto. Mas, como disse anteriormente, vou ficar 10 meses, então tive que correr atrás do tão temido visto. Já comecei tendo que enviar uma papelada ao projeto que me selecionou e enviar os primeiros documentos à embaixada. E foram muitos documentos, formulários, várias impressões, xerox e por aí vai. No entanto, sair do Brasil parece mais difícil do que ficar nele, pois você tem que ir no Itamaraty autenticar seus documentos, enviar esses documentos para um(a) tradutor(a) juramentado(a), enviar à embaixada, ir à embaixada e assim esperar o seu visto ser emitido. Edição nº 57 – Julho/2016
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Claro, isso quando você já tem um passaporte, pois se não tiver tem que ir a Policia Federal e fazer todos os trâmites. Enfim, nessas idas e vindas ao Itamaraty, Embaixada e até mesmo a Policia Federal você pode ficar ciente que além dos custos com transportes, você vai desembolsar um bom dinheiro com as taxas que são cobradas. Em resumo, tem taxa de emissão de passaporte, taxa de autenticação do carimbo do Itamaraty, taxa de tradução, taxa de autenticação de tradução, taxa de emissão de visto e a taxa de envio dos documentos por correio, sendo esta a única opcional, pois você pode retirar os documentos direto na embaixada. Nesta saga você perde dias preparando documentos, relatórios e preenchendo formulários. Mas se seu sonho é viajar para fora, talvez enfrentar esses trâmites seja uma pequena dificuldade frente ao retorno. Além disto, depois que você passar por tudo isso uma vez, ficará mais fácil nas demais. Por isso, não hesite em sanar todas as suas dúvidas antes de ir a qualquer órgão, seja ao Itamaraty, ao Consulado ou a Policia Federal, leia atentamente tudo o que eles pedem, ligue, religue, mande e-mail, faça tudo para obter as informações a distancia, pois quando você tiver que ir pessoalmente a esses lugares tudo estará correto e você não perderá viagem, principalmente se você não mora nos grandes centros urbanos e que demora horas para se deslocar até eles. Portanto, se deseja viajar para fora se programe antes e tenha bastante paciência e Bon voyage!
Como citar: GONÇALVES, L.G.M.
A saga começou: viajando para Europa. Revista Eletrônica
Bragantina On Line. Joanópolis, n.57, p. 4-5, jul. 2016. Edição nº 57 – Julho/2016
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CRIATIVOS INOVADORES
Paulo Gannam Jornalista e Inventor E-mail: pgannam@yahoo.com.br BRASILEIRO CRIA AUXILIAR DE ESTACIONAMENTO MAIS BARATO E EFICIENTE QUE OS EXISTENTES
Invento garante sossego ao motorista na hora de encostar seu veículo, além de poupar suas rodas, pneus e calotas em manobras com e sem uso de ré
Não tem coisa pior do que você instalar aquela roda de liga leve novinha ou comprar um carro 0 Km da concessionária e, de bobeira, chocar as rodas dianteiras ou traseiras na calçada não é mesmo? Tão desagradável quanto é você aguentar as gozações dos outros que estão contigo no carro e ouvir aquele estrondo, quando a roda se choca na calçada. Daí vem aquele frio na barriga e todas as atenções do pessoal que passa por perto se voltam para você... Pior ainda é quando você é acometido por aquele perfeccionismo que não te deixa sair do carro sem antes deixá-lo absolutamente alinhado paralelamente à calçada. Você fica manobrando por uma eternidade, enquanto os passageiros têm vontade de te enforcar: “Já está bom mãe, chega!”, alguns dizem. Você pode ser ainda aquela pessoa perita em manobras, então cai a noite junto com uma chuva forte. Seus vidros e retrovisores embaçam e molham rapidamente, dificultando o encostamento/estacionamento – ninguém merece! Você até pode ter investido num retrovisor tilt down, cujo preço hoje varia de R$ 300,00 a R$ 1.000,00, de acordo com o modelo. Mas ele não resolve quando você bate as rodas dianteiras na calçada na hora de encostar seu veículo nem te fornecem a distância exata em relação à guia, a não ser uma mera noção visual. E talvez você não esteja nem um pouco a fim de fazer um tremendo investimento, ou tenha condições de adquirir “carros-robôs”, melhor dizendo, aqueles que vem com sistemas complexos de sensoriamento, câmeras e seus softwares, como o Park Assist e o Intellisafe, que você usa 2 vezes, uma para experimentar, outra para mostrar para o seu cunhado, e nos Edição nº 57 – Julho/2016
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quais o processo de leitura dos sensores e acionamento dos movimentos é demasiadamente lento e irritante. Daí um motorista cola na sua traseira, começa a buzinar irritado com sua demora para estacionar numa simples vaga. E o pior: quando diante de vagas mais difíceis, estes sistemas complexos não funcionam! Você paga os olhos da cara, algo em torno de 5 mil reais (sem os demais opcionais), ou uns 30 mil (pelo pacote completo), por algo sem plena eficiência. Vários testes publicados na imprensa já demonstraram limitações desses produtos. Pensando ajudar nessas situações, o inventor Paulo Gannam desenvolveu um Sensor lateral auxiliar de estacionamento que protege pneus, rodas e calotas junto ao meio-fio. Para o inventor, que já dispõe da prova de conceito do produto feita em PIC e em Arduino, o principal benefício do produto é o fato de ser mais acessível e atingir um público mais amplo, seja pessoas de menor poder aquisitivo, seja aquelas de maior poder aquisitivo que não tem interesse em gastar horrores com produtos de estacionamento automático: os chamados ADAS (Advanced Driver Assistance Systems). “Em larga escala, o custo de fabricação do meu produto, por ponto, fica em torno 13 dólares!”, compara Gannam. O invento permite o conhecimento antecipado e preciso de uma distância segura entre pneus/rodas e o meio-fio, proporcionando maior tranquilidade ao motorista, com uma margem de segurança ao estacionar o carro, eliminando aquele desgaste nos pneus e nas rodas por meio de arranhões, rupturas, manchas, etc.
“Este projeto agrega diversas vantagens, entre elas: praticidade, facilidade, tranquilidade e maior segurança àquelas pessoas que gostam de proteger seus carros o Edição nº 57 – Julho/2016
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máximo possível, mantendo seu veículo sempre valorizado e bonito e sem micos! Ele é um salvador de rodas e um assistente de estacionamento, só que muito mais barato!”, garante.
Aqui você encontra vídeos bem legais em que o inventor fala de seu produto e demonstra o funcionamento dos pmvs: https://www.youtube.com/watch?v=t8L4CbQZfXw http://cl.ly/1a2b1F37113P?_ga=1.39114144.2010131969.1431280954 https://docs.google.com/file/d/0B4fAPURmJ9MkeDc0eVV5bVk0REU/edit?pli=1 Parceria – O produto já tem patente depositada e o inventor busca obter parceria com fabricantes, montadoras ou sistemistas, para realizar testes, industrializar e lançar o produto no mercado.
As invenções de Gannam podem ser conferidas no site: https://paulogannam.wordpress.com/
Outros Contatos: Linkedin: https://www.linkedin.com/pub/paulo-gannam/51/1b0/89b Facebook: https://www.facebook.com/paulogannam.inventionsseekinvestors Google+: https://plus.google.com/+PauloGannaminven%C3%A7%C3%B5es Twitter: https://twitter.com/paulogannam
E você? Já teve ou está com uma grande ideia? Conte para o Paulo, pois pode virar notícia aqui na Revista Bragantina!
Como citar: GANNAM, P. Brasileiro cria auxiliar de estacionamento mais barato e eficiente que os existentes. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.57, p. 6-8, jul. 2016. Edição nº 57 – Julho/2016
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ROMANCE DAS LETRAS
Betta Fernandes Escritora e Advogada E-mail: bettabianchi40@gmail.com DESAPEGO
Muitas vezes temos que praticar o desapego, ao tentar entender a saudade e a nostalgia, alguns podem se precipitar em dizer que é coisa de quem só olha para trás, ao invés de olhar adiante. Não podemos negar que boa parte do que esses sentimentos nos remetem está sim vinculada ao passado. Mas, se por um lado, o apego excessivo passado às pessoas e coisas podem ser um entrave na vida de alguém, será que a saudade e a nostalgia não contêm também uma indicação do futuro, do caminho a seguir? A saudade está no coração de quem quer viver no aqui e agora um ideal e sente essa ausência. Mas isso não é o mesmo que estar apegado. A nostalgia pode aparecer às vezes como um sentimento de melancolia pelo afastamento de algo, embora tampouco indique estar paralisado. Já o apego é a paralisia psíquica, emocional e consequentemente comportamental. É saudável termos em conta nosso histórico de vida e tudo o que vivemos no passado. Nossas raízes e sentimentos mais profundos não devem ser menosprezados diante da novidade que é a experiência do dia-a-dia. No entanto, convém lembrar que preservar um espaço da nossa história não é sinônimo de fixação nestes pontos. Deixe morrer mágoas, ressentimentos, dores, medos, inseguranças, fraquezas e apegos, para renascer cada dia mais forte e inteiro. Segundo André Lima, o apego é uma forma de dependência emocional e acaba sempre levando ao sofrimento. Apego aos filhos, à profissão, a alguma situação de vida, a um relacionamento, à resolução de algum problema. Quanto maior o apego, maior a ansiedade e a necessidade de controlar as pessoas e situações para que possamos ter uma temporária Edição nº 57 – Julho/2016
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sensação de paz, satisfação ou felicidade. O apego é visto como algo positivo, como se fosse sinal de cuidado. A preocupação com alguma situação é uma manifestação do apego. Desapego é diferente de desinteresse ou de não estar nem aí. Se desapegar significa ficar em paz, mesmo enquanto acontece algo que desejaríamos que fosse diferente ou enquanto algo não foi resolvido. É o abrir mão de controlar as situações da vida, as quais não temos realmente nenhum controle, mas agimos como se tivéssemos. A energia do apego acaba atrapalhando relacionamentos e afastando as pessoas. Quem se comporta dessa forma sofre mais rejeição. Entregue sua preocupação, deixe de se preocupar, relaxa e entrega. O que tiver que ser, será. Nesse momento, sua paz interior não mais depende do resultado, pois você agora já está em paz. E depois disso, tudo se resolve. Nos relacionamentos, o apego é interpretado por muitos como um sinal de amor e cuidado pelo outro, mas o que acaba ocorrendo é um jogo de manipulação devido a essa dependência emocional. Existe sempre muito medo inconsciente por trás desse jogo. O sofrimento vem em algum momento, pois não é possível controlar os pensamentos, sentimentos e atitudes de outras pessoas. Quando nos desapegamos dos nossos relacionamentos, ficamos mais seguros e acabamos transmitindo isso, o que nos torna pessoas mais interessantes. O outro lado se sente mais atraído. Segundo Raul Brandalise Junior, as pessoas são reencontros. Raros os que são novas amizades e relacionamentos desta vida. A maioria dos nossos familiares é karma. Resgate mesmo. O apego pode ser entendido como matéria e carência. O desapego em sua plenitude é a falta de entendimento real do que estamos fazendo neste planeta. É desconhecermos que o processo evolutivo acontece vida após vida. O desapego significa o início de nossa liberdade. O fim de nossa prisão de valores e a oportunidade de nos tornarmos efetivamente sabedores de que somos os senhores de nossos destinos.
Veja mais em:
Blog: bettafernandes.blogspot.com.br Twitter: @bettabianchi40 Facebook: Betta Fernandes Como citar: FERNANDES, B. Desapego. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.57, p. 9-10, jul. 2016. Edição nº 57 – Julho/2016
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Flávio Roberto Chaddad Graduado em Engenharia Agronômica e Ciências Biológicas; Graduando em Filosofia; Especialista em Educação Ambiental, Gestão da Educação Básica e Gestão Ambiental; Mestre em Educação Superior e Mestre em Educação Escolar E-mail: frchaddad@gmail.com O FETICHE DA CARNE
É incrível como a mídia distorce e manipula as informações sobre a utilização indiscriminada de carne de inocentes. Há pouco vi na televisão uma propaganda em que se mostrava uma mãe preparando salsicha para a filha que iria prestar vestibular. No fim, mostra-se que a filha conseguiu passar no vestibular, graças ao carinho da mãe e a escolha de uma alimentação saudável para todos no lar. O comercial passa a mensagem que a empresa em questão, produtora da carne, tem o mesmo carinho que a mãe na confecção de seus produtos. Porém, ela esconde como é realizada a produção deste embutido. Não mostra que inocentes tiveram uma morte horrível para saciar a sede primitiva do homem por carne. Na verdade estabelece-se um fetiche, em que a carne que está na prateleira é dotada de valores saudáveis e morais, escondendo-se o como foi produzida pelo sofrimento de inocentes. O ser humano que a vê na prateleira dos mercados age muitas vezes inconscientemente e não percebe o que há por detrás daquele produto, como os animais que são usados pela indústria alimentar foram sacrificados. A embalagem mostra o produto como “bom e saudável” e esconde a história - as etapas de produção. Em meu ponto de vista, se fosse dado uma faca na mão de cada um para matar um animal a maioria das pessoas não fariam isto. As pessoas compram pedaços de cadáveres, pois não enxergam o como foram obtidos – é o fetiche da carne. A carne como produto saudável e moral impede que percebam de imediato o como foi obtida. Neste sentido, para mim, está na hora de se fazer leis que se permita abrir os matadouros e os frigoríficos - as imagens da morte – e divulgá-las, através da mídia televisiva, para que a população consiga enxergar o que acontece em seus interiores. A Edição nº 57 – Julho/2016
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carnificina que ocorre, para que, de uma vez por todas, a população entenda o sofrimento que ela causa aos inocentes. Muitos animais são destroçados e esquartejados ainda vivos. Só assim, a população poderá tomar uma decisão consciente e coerente sobre o que comer e não aceitar um comercial ideológico
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que encobre as relações que estão por detrás
da produção de carne. Ter a liberdade de escolha, baseado em uma leitura crítica do processo de abate e da industrialização dos cadáveres de milhões de animais que ela ingere todos os dias sem pensar. É através deste movimento que talvez muitos animais serão libertos da indústria alimentícia e da ignorância dos homens. Mostrando como é produzida a carne não se tem mais o fetiche – feitiço – do como a produz. Da mesma forma que Karl Marx mostrou o fetiche da mercadoria, sua categoria de análise, onde ele delineou o como o capitalismo funciona e de como se mantém vivo através de seus mecanismos de alienação, é chegada a hora de mostrar o fetiche da carne, que infelizmente não deixa de ser uma mercadoria abominável.
____________ (1)
Ideologia significa o falso conhecimento, segundo Karl Marx.
Como citar: CHADDAD, F.R. O fetiche da carne. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.57, p. 11-12, jul. 2016. Edição nº 57 – Julho/2016
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MEMÓRIAS
Susumu Yamaguchi Cronista e Andarilho E-mail: sussayam@gmail.com PONTA DE PEDRA NA MATA
Após se apresentar a apenas dois passageiros na rodoviária de Montes Claros, Rosalvo instruiu da viagem e levou o ônibus rumo leste, direção de Juramento, ao encontro das serras que cresciam no horizonte. Perto de Pau d’Óleo, no alto da serra do Espinhaço, o sol enviava lá de baixo um calor de brasa quase cinzas. Aí, pela primeira vez pensei em Nhô Augusto: “... para rezar perto de um pau-d’arco florido e de um solene paud´óleo, que ambos conservavam, muito de-fresco, os sinais da mão de Deus. (...) Pela primeira vez na sua vida, se extasiou com as pinturas do poente, com os três coqueiros subindo da linha da montanha para se recortarem num fundo alaranjado, onde, na descida do sol, muitas nuvens pegam fogo.”1
Sim, havia solenidade nos finais de tarde do sertão. Depois, no escuro, vi apenas pequenas luzes lá embaixo e senti que o ônibus descia bem devagar para entrar na calma da pequena cidade. Rosalvo apontou a igreja matriz de Itacambira – motivo de minha viagem – contornou a praça e parou junto a sua casa, ao lado da pousada de Toni. Depois de jantar subi a rua principal, cheguei por trás, passei ao lado, fiquei de frente e olhei pela porta aberta: à esquerda, o púlpito; à direita, um grupo reunido; e ao fundo, o altarmor que reunia memórias de muitos ocidentes e orientes. Eu sabia que se passasse pela soleira podia ver a pia batismal, mas não o fiz. Olhando do escuro da rua para o interior mal iluminado, era como se a nave adquirisse o brilho de uma lanterna mágica em sua proa e me conduzisse, pelos céus abertos do sertão, para a banda da mão esquerda do rio São Francisco, para os campos acolhedores do Paredão de Minas. “Daí, fomos, e em sepultura deixamos, no cemitério do Paredão enterrada, em campo do sertão.”2
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Margareth – margot.joaninha@hotmail.com
Eu estivera lá no ano anterior, onde Diadorim fora revelada após a vida. Agora eu estava ali, a poucos passos de sua pia batismal. Na manhã seguinte vi que a cidade ficava mesmo dependurada na serra e não, no vale. Era o lugar escolhido por Santo Antonio, cuja imagem amanhecia sempre ali ainda que a levassem todos os dias para a baixada. Descíamos a rua e Toni dava instruções, combinava ensaios, marcava reuniões; mostrou-me um centro de esportes em reformas; e na prefeitura, fez pequenos despachos antes de seguirmos pela cidade. À noite ele me falara – após ensaio de dança para a próxima festa religiosa – da inclusão de Itacambira no circuito da Estrada Real, bem além de Diamantina; das dificuldades nas reformas da matriz; da impossibilidade de repatriação de três múmias depositadas na Fiocruz, no Rio de Janeiro, por falta de câmaras de conservação; do lento despertar da população para receber adequadamente os turistas; e também, de sua pousada, que ele e sua jovem filha levavam adiante apesar do falecimento da esposa e mãe, especialmente “por ser um projeto dela”. Na igreja, Toni apontou a precariedade da parede atrás do altar-mor, com seus buracos que cresciam sempre. As largas paredes laterais foram reformadas, mas pelo teto eu podia ver inúmeros pontos de céu azul. Ela vinha inclinando e fora aprumada em meados do século Edição nº 57 – Julho/2016
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passado, mas ainda pendia de lado. Deixamos para trás o altar multicor e chegamos à pia batismal, em madeira verde, amarela, azul e rosa sobre piso avermelhado de grandes tijolos. “Da matriz de Itacambira, onde tem tantos mortos enterrados. Lá ela foi levada à pia. Lá registrada, assim. Em um 11 de setembro da era de 1800 e tantos...”2
Depois fomos aos mortos enterrados sob o assoalho da sala do altar lateral, onde um pequeno alçapão permitia ver vários crânios amontoados. Com largos gestos Toni indicou que havia mais muitos ossos, aos pedaços. Uma explicação seria a existência ali de um antigo cemitério, cujas ossadas foram transferidas; outra, que além dos clérigos habituais, leigos eram aceitos por doações à igreja, inclusive fiéis de outras freguesias; e finalmente, que para a ressurreição no dia do juízo final o melhor lugar para a espera era no próprio corpo da igreja. De qualquer modo, na matriz de Itacambira, caminhar da pia batismal até a antessala do paraíso – ainda que se atravesse o purgatório e o inferno em vida – requer apenas alguns passos. E foi também ali, após o fim de tudo, que Riobaldo encontrou o todo início. “O senhor lê. De Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins – que nasceu para o dever de guerrear e nunca ter medo, e mais para muito amar, sem gozo de amor... Reze o senhor por essa minha alma.”2
Por indicação de Toni encontrei seu Geraldo no cartório, que me contou ter tudo começado através da capela erigida por Fernão Dias Paes Leme, que chegara ali depois de perambular por mais de seis anos pelos sertões em busca de pedras preciosas. Tinha enfrentado até rebelião na bandeira, e como jurara os responsáveis pela traição acabou executando também um seu filho natural. Esse local – onde eu passara no dia anterior me indagando a respeito do nome – ficou referido como Juramento. Disse que Fernão Dias não encontrou esmeraldas como sonhava, mas turmalinas e maleita; e que essas serras que antes pertenciam à província da Bahia guardavam mesmo muitos tesouros, tanto, que a matriz de Santo Antonio do Itacambira logo passou a sediar paróquia, emancipada de Serra do Grão-Mogol. Dona Coló chamou-me à cozinha para ver a serra Resplandecente, que era assim por causa do reflexo do sol quando molhada, o que levou Fernão Dias a imaginar que se tratava, enfim, do brilho das almejadas pedras. Um lugar bonito, com muitas cachoeiras, ela disse. Na sala, um quadro com três pessoas e uma igreja representava a sua vida na visão de uma amiga: ela e seu Geraldo recebendo mais um padre que chegava. Dona Coló fazia concessões ao marido e citava bandeirantes, mas sua paixão era a literatura de Guimarães Rosa. Disse que os registros que outrora estavam no cartório tinham voltado para a igreja, e que vasculhara os papéis e nada achara que lembrasse Diadorim – só se alguém retirara a página do livro. Sorrimos.
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“Só um letreiro achei. Este papel, que eu trouxe – batistério. Da matriz de Itacambira...”2
E continuou: antigamente meninas eram criadas como meninos por necessidade, mas esse caso devia ser da imaginação de Guimarães Rosa. Mas os sentimentos de amor e dor descritos, ainda que não pessoalmente, deviam ter sido vividos de alguma forma. E aqueles lugares que ele citava existiam todos por ali. “Rumamos daí então para bem longe reato: Juramento, o Peixe-Crú, Terra-Branca e Capela, a Capelinha-do-Chumbo.”2
Despedi-me de dona Coló e seu Geraldo no meio da rua, com a igreja atrás: eu no lugar do padre no quadro da sala da casa de cuja cozinha se podia maravilhar com a serra Resplandecente de Fernão Dias. Eu ria e subia devagar a rua – e continuava a rir. De repente, lembrei-me que logo abaixo ficava o restaurante da Dilma, onde uma delicada moça me atendera à noite e parecia encarnar a presença de Otacília, a moça da fazenda Santa Catarina, em terras de Diadorim. “Toda moça é mansa, é branca e delicada. Otacília era a mais. (...) Desde esse primeiro dia, Diadorim guardou raiva de Otacília.”2
Por aqui passaram, em busca da vida só descoberta na morte, Riobaldo, Alaripe e o Quipes. Só aterrissei dessa viagem desnorteada de jagunços já na prefeitura, com o contar galopante de Edivaldo da jornada que fizera a pé com tio Afonso e amigos, de Belo Horizonte a Itacambira, por cima da serra do Espinhaço. Mas ele gostava mesmo era de caminhar pelas serras de Itacambira, só com seu tempo e lanche e acompanhado de seu cachorro. Assim, do alto do mais alto de uma ou outra pedra pontuda que sai do mato fechado ele contemplava, esquecido, muitas outras Itacambiras. E subi, para deixar Itacambira e voltar a Montes Claros. Do alto de onde eu tinha visto as luzes da cidade na noite, o mundo se abria em vastidão de luz. A meus pés, Itacambira; à esquerda, abaixo, a serra Resplandecente; às minhas costas, o rumo do Juramento; da direita para frente, em cada lugar que não sabia dizer, a Terra Branca, o Peixe Cru, o Jequitinhonha; e a serra do Grão-Mogol, na curvatura do céu no fim da terra. Bem podia ter sido ali: Nhô Augusto, a caminho de se tornar Augusto Matraga,
“ficou a contemplar, do alto, o caminho, belo como um rio, reboante ao tropel de uma boiada de duas mil cabeças, que rolava para o Itacambira, com a vaqueirama encourada...”1
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Depois de acompanhar a essa movimentação fui pela estrada plana de altitude, em cujas margens eucaliptos se multiplicavam com os quilômetros. E antes de descer a serra pude avistar, à distância, muitas outras duas mil boiadas de outras tantas duas mil cabeças se transmutarem em inumeráveis eucaliptos, em vasto tropel sem fim. ______________ 1
– A hora e vez de Augusto Matraga – João Guimarães Rosa
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– Grande sertão: veredas – João Guimarães Rosa
Como citar: YAMAGUCHI, S.
Ponta de pedra na mata. Revista Eletrônica Bragantina On Line.
Joanópolis, n.57, p. 13-17, jul. 2016. Edição nº 57 – Julho/2016
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COLCHA DE RETALHOS
Rosy Luciane de Souza Costa Professora, Historiadora e Pesquisadora E-mail: costarosyluciane@hotmail.com ACHADO AJUDA A CONTAR EPISÓDIO DA NAVEGAÇÃO NO RIO SÃO FRANCISCO
Um fragmento do passado emergiu das águas do São Francisco como uma lembrança palpável da era da navegação no rio, sua importância e dos dramas humanos que marcaram sua história: um fuzil Mauser, modelo 1908, encontrado nos escombros do navio a vapor Antônio Olyntho, naufragado em março de 1926, próximo a Ilha da Assunção, em Cabrobó. Semi-carcomido ao longo de quase 90 anos de submersão e repleto de uma crosta, formada por sedimentos, o fuzil mantém relativamente preservado o mecanismo de ferrolho, a coronha com o detalhe circular no lado direito, parte da haste de limpeza, na parte inferior do cano, e o guarda-mato. Uma relíquia sem dúvida, mas como arma, inutilizada. Sem serventia. O autor do achado foi o mecânico e construtor de embarcações Sivaldo Manoel de Sá, morador de Ibó, município de Abaré (BA). Ele encontrou o fuzil praticamente por acaso, logo depois de realizar a manutenção do motor de uma lancha, em companhia de pescadores que fazem pesca com arpão. Findo o serviço, eles decidiram conferir os escombros do navio – cuja presença naquele ponto do rio é de conhecimento da população local há muitos anos.
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De acordo com Sivaldo, devido à baixa das águas do Rio São Francisco uma das escotilhas do navio está a cerca de dois metros de profundidade, mas a parte inferior do casco encontra-se a oito metros. Segundo ele, a correnteza é forte para o mergulho prolongado sem auxílio de equipamentos. HISTÓRIA – A arma encontrada era um fuzil de repetição (ou rifle) Mauser calibre 7x57mm era arma comum das Polícias Militares do princípio do século XX. Também conhecido como F.O (fuzil ordinário) podia ser carregado com pente-carregador (cinco cartuchos). Media 1,257 metro e pesava 3,796 kg. Curioso sobre a história do navio e disposto a repassar o fuzil a um museu, ou entidade voltado a preservação de bens históricos, Sivaldo procurou a Fundação Regional Museu do São Francisco em Juazeiro, no dia 05. “Eu poderia pendurar ele na minha casa, mas creio que ficaria mais importante para um museu, porque é uma peça de muitos anos”, explicou. Um fato que ocorreu há tantos anos não pode passar despercebido pelos dias de hoje. Se uma história dessas viesse à tona seria importante para muita gente que tem interesse em saber. VAPOR – Do Antônio Olyntho, que começou a operar antes de 1895, não restaram fotos conhecidas, mas sabe-se que o vapor tipo gaiola tinha 25 metros de comprimento e 0,60m de calado (profundidade a que se encontra o ponto mais baixo da quilha de uma embarcação, em relação à linha d’água – superfície da água) o mesmo do Saldanha Marinho, hoje monumento histórico em Juazeiro. Em 1903, menos de um ano após a liquidação forçada da Empresa Viação do Brasil, o Antonio Olyntho foi leiloado com os demais vapores e arrematado pelo governo do Estado da Edição nº 57 – Julho/2016
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Bahia. O governo organizou então a Empresa Viação do São Francisco, de acordo com o livro “Navegação do Rio São Francisco”, de Fernando da Matta Machado. O próprio Sivaldo contou ter tomado conhecimento que havia nada menos que 60 soldados no Antônio Olyntho. “Pelo que pesquisei na internet não consta nada. O que eu soube das pessoas mais velhas é que essa embarcação afundou em 1926 e tinha soldados que foram para Barra do Tarrachil para conter uma revolta. Estavam voltando, o rio estava muito cheio e a embarcação afundou na subida da cachoeira. É o que os mais velhos contam lá em Ibó”, disse. “Meu tio fala que morreram 16 pessoas, inclusive na Ilha da Várzea foram sepultados dois”, contou. Sobre outras incursões aos escombros do Antônio Olyntho, o construtor disse ter tomado conhecimento que há cerca de trinta anos, prepostos da Marinha teriam retirado porcelanas e outros materiais do barco. MISTÉRIO – Passados 89 anos, as informações sobre o naufrágio do Antonio Olyntho continuam uma página misteriosa da navegação no Velho Chico. Conta o historiador Walter Dourado, no livro “Pequena História da Navegação no Rio São Francisco”, de 1973, que o incidente aconteceu por volta das 10h da manhã do dia 07 de março de 1926, um domingo. O navio a vapor naufragou na localidade então conhecida como Cachoeira do Pambu, próximo a Ilha da Assunção, quando retornava de Belém do São Francisco. Segundo
o
historiador,
nove
pessoas morreram: seis tripulantes (chefe de
máquinas,
um
marinheiro,
o
contramestre, a zeladora, um taifeiro, um foguista) e três passageiros, incluindo entre estes, dois soldados da Polícia Militar da Bahia que retornaram de um confronto com integrantes da Coluna Prestes – ou seja, é possível que o fuzil tenha pertencido a um dos dois. O comandante do navio chamava-se João de Deus da Rocha Alves, conhecido como Pombinho. Da imprensa da época, o jornal O Pharol, edição de 20 de março, informa laconicamente, com base em telegrama do Recife, o naufrágio do Olyntho “em viagem no baixo S. Francisco, morrendo seis tripulantes e dois passageiros, por motivo de explosão na caldeira do referido vapor”. Da imprensa da época, o jornal O Pharol, edição de 20 de março, informa laconicamente, com base em telegrama do Recife, o naufrágio do Olyntho “em viagem no baixo S. Francisco, morrendo seis tripulantes e dois passageiros, por motivo de explosão na caldeira do referido vapor”. Da imprensa da época, o jornal O Pharol, edição de 20 de março, informa laconicamente, com base em telegrama do Recife, o naufrágio do Edição nº 57 – Julho/2016
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Olyntho “em viagem no baixo S. Francisco, morrendo seis tripulantes e dois passageiros, por motivo de explosão na caldeira do referido vapor”. SOBREVIVENTE – Sivaldo entregou o fuzil para a diretora do Museu Regional do São Francisco, Rosy Costa, que considerou “imensurável” o valor do achado. “Uma peça que está submersa há 89 anos é de um valor inestimável. Para o Museu, que tem como carro chefe da memória o Rio São Francisco, é como resgatar um pedaço da sua história que estava afogada”, afirmou Rosy Costa. Sobre a exposição da peça, ela informou que conversará com museólogas da capital para obter mais informações sobre a maneira adequada de apresentar o fuzil, após ele ter permanecido tanto tempo embaixo da água.
Logo em seguida a chegada de Sivaldo ao Museu, na quinta-feira da semana passada (05), o ex-piloto fluvial Benedito Lima, 80 anos completados no último mês de setembro, residente no Alagadiço, em Juazeiro, informado por Rosy do achado, foi ao museu conferir a relíquia e compartilhar histórias sobre os tempos da navegação. “Isso é um achado histórico”, disse, ao ver a arma. Benedito não é apenas um ex-navegante do Velho Chico: o pai dele, Manoel Lima Sobrinho, trabalhou como prático (timoneiro ou piloto) em navegação e estava no Antônio Olyntho na ocasião da tragédia, contou Benedito. Manoel conseguiu nadar e agarrar-se na vegetação as margens do rio. Faleceu em 1943 e está sepultado em Carnaíba, distrito de Juazeiro. Do que ouviu da mãe e da avó, Benedito contou que o navio Antônio Olyntho emproou por causa do peso da lenha que transportava, entrando numa “panela” ou “corrupios” (redemoinhos), afundando naquele trecho do Velho Chico, justamente perto da Cachoeira do Pambu.
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“O negócio lá era tão forte que trouxeram um barco da Marinha, porque remo ou vela não aguentava”, explicou Benedito, sobre a correnteza do rio e os trabalhos da Marinha e do Governo da Bahia para esclarecer o acidente e eventualmente, recuperar pertences do navio. “Tudo o que o senhor está me dizendo aqui, comprova com o que o meu tio me disse”, confirmou Sivaldo.
(Matéria do jornalista Jean Corrêa)
Como citar: COSTA, R.L.S. Achado ajuda a contar episódio da navegação no Rio São Francisco. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.57, p. 18-22, jul. 2016. Edição nº 57 – Julho/2016
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PALAVRAS E EXPERIÊNCIAS
Emily Caroline Kommers Pereira Escritora e Jornalista E-mail: myzinhacarol@gmail.com UMA RUA ENFEITADA PELOS MANACÁS
A Avenida Paulista, em São Paulo, é muito conhecida. Sempre está sob os holofotes, manifestações de cunho político, ideológico ou cultural acontecem ali. O Museu de Arte de São Paulo, o MASP, uma das mais significativas instituições culturais do país, está localizado na famosa avenida. Contudo, não é só na capital que podemos encontrar uma Avenida Paulista. Em Atibaia também há uma grande avenida que leva esse nome, atravessando o bairro Jardim Paulista e finalmente alcançando outra importante e grande, enorme avenida (que na verdade é uma alameda), Professor Lucas Nogueira Garcez. No presente artigo falarei um pouco sobre uma rua que cruza a Avenida Paulista de Atibaia, a Araraquara. Nos últimos dias, tenho observado atentamente essa rua, que foi asfaltada recentemente. Paralela à “Lucas”, se tornou uma boa alternativa para quem quer ir do Jardim Maristela (e outros bairros afastados) para a “cidade”. Quem é do interior entende bem esse conceito de “cidade”. Não é o mesmo que encontramos no dicionário, mas é lugar onde se concentram bancos, lojas, escolas, farmácias, restaurante, bares, padarias, qualquer tipo de comércio, carros e pessoas. Em geral, são os centros comerciais e históricos. Enfim, eu passo com alguma frequência por essa rua, conheço pessoas que moram por perto e, tanto para carros quanto para pedestres, é uma boa alternativa. Andando por ali, pude observar a quantidade de manacás que há por ali. Não somente na Araraquara, mas nas proximidades. Nessa época do ano, a árvore está bastante florida, com flores brancas e lilás. É um enorme deleite passar por elas e ver todas aquelas pétalas abertas e sorrindo.
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Nunca fui muito ligada a plantas, meu conhecimento é bem limitado. Porém me lembro de que nessa época, há um ano, passeando pela rua de cima de onde moro, notei um manacá pela primeira vez. Provavelmente já tinha visto a árvore antes, afinal em minha cidade há várias, mas nunca prestei atenção. Foi justamente por estar toda florida e bicolor que fiquei tão admirada. Desde então, tenho reparado mais que, de fato, a cidade é cheia de manacás.
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Há manacás na Rua Araraquara. Um, inclusive, está na casa de minha amiga. Mesmo quando estão na calçada, temos a impressão de que as pessoas cuidam deles. E muitos estão nas casas. Posso vê-los através das grades e dos altos muros. Grandes, pequenos e até mesmo cultivados como uma planta em um vaso. Eles enchem a vista. Quem visitar Atibaia, não se esqueça de dar uma passadinha na rua Araraquara e admirar os manacás. E descobrir a paz que a observação proporciona, além de sorrir involuntariamente ao ver todas aquelas flores.
Como citar: PEREIRA, E.C.K. Uma rua enfeitada pelos manacás. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.57, p. 23-25, jul. 2016. Edição nº 57 – Julho/2016
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O ANDARILHO DA SERRA
Diego de Toledo Lima da Silva Técnico/Engenheiro Ambiental, Andarilho e Cronista E-mail: diegoaikidojoa@hotmail.com
ALUCINAÇÃO
A luz da capela iluminava as últimas horas de uma madrugada fria, mas cheia de sentimentos. Ao longe, centros urbanos respondiam ao fogo de chão, com seus postes e prédios. Sentados ao pé da cruz enxergávamos muito mais que um horizonte de morros e serras, muito menos que a alucinação de nossas mentes. Velhos, jovens e crianças subindo rumo ao ponto final de suas próprias certezas, sentimentos e passos. Simples eloquências eternizadas na memória de cada caminhante, viva e quente como as brasas da fogueira. Pontos de uma curva que só a poeira do tempo é capaz de ocultar ou revelar em seu lento dissipar... Lembro-me muito bem da primeira vez que cheguei aqui, quanta emoção. Vários estreantes devem estar sentindo o mesmo sentimento, a mesma emoção... Identidades e promessas, lugares e vilas, grandes e pequenas cidades, ali nada nos diferencia, somos todos iguais. O batismo dos iniciantes é um sol nascente e misterioso entre nuvens, com luzes primitivas provenientes da criação original. Mais do que uma fábula, uma história real de milagres e gente devota. A certeza de estar vivo, vendo o transpor de longos dias e manhãs tão próximas da madrugada. Dias de verão que transitam para o outono num piscar de olhos, ou ditados pelo giro do grande globo.
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Simplesmente estar vivo, querer respirar, sentir o perfume das flores e da vida latinoamericana, difícil e tortuosa. No fundo dos nossos corações uma oração pela justiça, paz, tolerância e sabedoria, por rumos certos de uma nação tão sofrida e necessitada. Mas sabe, tenho que confessar que eu não sei rezar, assim trouxe apenas meu olhar, meu olhar... Invisível aos olhos e marcante para o coração, momentos do pequeno perfil de um cidadão comum.
Como citar: DA SILVA, D.T.L. Alucinação. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.57, p. 26-27, jul. 2016. Edição nº 57 – Julho/2016
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