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4. PARA UMA INTERVENÇÃO DE RESTAURO NO GAIO ROSÁRIO
40 GAIO – ROSÁRIO: LEITURA DO LUGAR Câmara Municipal da Moita | Frederico Vicente e Ana Filipa Paisano
lá no alto. Dedica-se aos afazeres domésticos e quando faltou o cultivo da terra, foi trabalhar para as fábricas, que respondiam à modernidade dos tempos. Ele, por outro lado, dedicou-se quase sempre à vida no rio e aos seus afazeres. Desde a construção do barco, à sua pintura e navegação. Visitar o Gaio-Rosário é um encontro com as modestas origens das povoações à beira do Tejo.
4. PARA UMA INTERVENÇÃO DE RESTAURO NO GAIO-ROSÁRIO
Qualquer intervenção arquitetónica a realizar no Gaio-Rosário não deverá perder de vista estas duas personalidades – o homem rio e a mulher campo. Devem ser defendidas as características pelas quais é vinculada esta especi icidade.
A estrada que desce no Gaio e o arruamento no Rosário deveriam perder o forte carácter viário. A rua, sobretudo no Rosário, deveria estreitar, possibilitando ao casario uma nova apropriação, como uma extensão da casa – semelhante ao pátio.
O estaleiro naval tem um forte potencial de requali icação. O pavimento deveria ser contínuo entre via, estaleiro e casario, com ligação ao jardim, reforçando o conceito de bolsa. Com isto, a relação com o rio mantém-se luida, tirando partido da existência da caldeira e das águas brandas do Tejo. O programa que ditar a intervenção deve ir ao encontro da preservação das técnicas tradicionais de construção naval, costura de velas e pintura de embarcações – um abrigo para o património imaterial que são os saberes populares. Um equipamento que digni ique a construção naval, resgatando-a para a contemporaneidade, seja pelo ensino das técnicas, seja pelo uso recreativo e lúdico das embarcações.
O percurso entre o estaleiro e o Rosário deve manter-se desimpedido ao olhar para poente, para a caldeira, sobre a praia, mantendo o per il de estrada estreito. Os largos comunicantes no Rosário, ou seja, o largo do atual lavadouro e o largo do coreto, devem ser pontos da mesma reta, privilegiando o espaço público de permanência, plantando sombra e lugares de espera. O desenho não deve ser rígido, a régua e esquadro, mas espontâneo e com pouco ornamento,
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sem vícios arquitetónicos, reproduzindo as vivencias daquela comunidade. Tal como junto do estaleiro, aqui o casario deve manter a paleta de cores pastel, procurando uniformizar os tons, mas nunca a sua individualidade. Não deveriam ser utilizados materiais nobres para os embasamentos das casas, capeamentos, revestimentos e molduras de vãos, antes a cal e o potencial da plasticidade da cor.
Sugere-se que as casas que compõem o pátio mantenham apenas um piso, com coberturas de uma água inclinadas ao céu. O céu é o elemento da paisagem dentro do pátio, e as vistas devem ser orientadas nessa direcção. A cor, ao contrário dos arruamentos, deveria ser única, sublinhando o pátio como edi ício único. O pavimento, recentemente intervencionado, é o campo comum do impluvium, assim deveria se uma única materialidade, com poucas diferenças altimétricas. Os ruídos contemporâneos impossibilitam uma apropriação espacial doméstica, que é crucial. Em caso algum deve ser anulada a permeabilidade pedonal e visual entre o centro do Rosário, o Pátio e o Largo da igreja, uma vez que é este o gesto natural e de comportamento no espaço. Estas intenções de projeto permitem que a comunidade possa usar o espaço público como uma real extensão das suas casas, sublinhando a expressão de acolhimento.
O desenho da plataforma onde assenta a igreja é um delicado plateau. Deveria estender-se ao restante largo sob a forma de an iteatro ao rio, sem vegetação alta, ou mesmo sem vegetação. Sobretudo árido, procurando o vazio, porque é o sítio próprio de confronto com o rio. O muro que sobe até à igreja deveria ser opaco, robusto, e curvar na frente da igreja, reforçando o gesto de subida paralela ao rio, até ao adro da igreja.
No parque das merendas, os eucaliptos deveriam ser substituídos por árvores autóctones com copa mais baixa, para que se assemelhe mais à escala do Homem. Pode ser pensada em substituição uma estrutura efémera, um posto de observação da paisagem – um miratejo.
Deve ser enfatizado o limite do percurso e da vila, na igreja. Para isso, o norte deveria manter-se vacante, plantando-se apenas paisagem. O crescimento do Rosário para norte, ocorrendo, deveria respeitar o plano marginal da vila, mantendo a igreja isolada.
O Gaio é o lugar da terra, ligado ao esteiro. O Rosário, o sítio onde a embocadura do Tejo se abre ao horizonte. Estão intricados um no outro como dois povoados de origens humildes, um homem e uma mulher de jeitos e dizeres toscos. São lugares de despojamento material, ligados às técnicas, aos modos e aos meios. Os modos, como a forma empenhada em fazer, a própria actividade, o meio como o contexto onde está inserido, sobretudo as especi icidades do território.
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