Merry Christmas (CONTO COMPLETO)

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NOTA DO AUTOR:

Querido leitor, Uma das tarefas mais difíceis do escritor é quando se tem um conto lindo como este e mantém guardá-lo dentro da gaveta ao invés de prestigiar os leitores. O motivo disso é devido a um acontecimento no mundo editorial. Esse conto faz parte de uma Antologia organizada por mim mesmo, porém, sem sucesso, a versão física não se sucedeu. E também não podemos lançar a antologia digital devido a desavenças entre os autores participantes. Ou seja, cansei de manter meu conto aprisionado ali na gavetinha do esquecimento, e por isso, decidi prestigiá-los com ele de forma gratuita. Claro, com uma condição apenas, nada mais justo do que receber em troca suas opiniões sobre o que acharam conto. Combinado? Espero que gostem...

Divino B’Atista


DIVINO

B‘A T I S T A


Copyright © 2016 by Divino B’atista

preparação de texto: Divino B’atista

projeto da capa: Divino B’atista

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônicos, mecânicos, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem a autorização prévia da Editora.

Batista, Divino Merry Christmas, Divino Batista: Conto – E-book, 2016.

1. Conto Brasileiro – ficção. 2. Literatura Brasileira I. Merry Christmas, Divino B’atista II.

1ª edição – Novembro – 2015 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


lhando para os restos que haviam sobrado do All Star pelo pequeno espaço de sua vidraça, Kaio já conseguia imaginar o desespero que enfrentaria ao encontrar com o seu tio, Tom. Não era a primeira e nem a última. O cachorro do vizinho, dos mais valentes da raça pitbull, já havia repetido aquela cena muitas e muitas vezes. Era a sétima vez que Tom comprara outro All Star para seu sobrinho órfão assim que prometiam ir a algum evento importantíssimo da região, mas, provavelmente, Kaio sempre encontrava um jeito de danificá-lo. E isso, obviamente, não era proposital. ''Que explicação darei ao meu tio?’’ — pensou Kaio, aflito com essa situação. — ''Co-mo irei convencê-lo de que não foi de propósito?’’. Entretanto, Kaio tinha consciência de que essa era a sua trigésima tentativa de fuga. E sempre fracassando em suas tentativas após os latidos de Draco assim que seus dentes afiados prendiam-se em seu All Star novinho.


Tom não fazia o tipo de vilão de histórias em quadrinhos, tanto é que ele até teve que fazer uma escolha difícil dias antes. Talvez a escolha mais difícil de toda a sua vida. Ao invés de ter comprado um lindo e deslumbrante smoking bem posicionado em um manequim que estava sobre a vitrine, Tom escolheu esse novo par de tênis para o sobrinho. E era por isso que Kaio deveria cuidar tão bem desse objeto, pois Tom desejava aquele smoking há meses. Dessa vez, o evento importantíssimo seria no dia vinte e cinco de dezembro, em comemoração ao Natal, claro. E como o calendário ainda marcava ser o dia vinte e quatro desse mês, exatamente na véspera de Natal, o garoto acreditava fielmente que encontraria uma saída. Ou, pelo menos, tentava acreditar. A manhã havia se passado, e o garoto ainda não tinha dado um jeito de consertar as coisas. Sim, Kaio ainda não havia conseguido outro par de tênis. O garoto começou a pensar bastante. Pensou mil coisas. Pensou até demais, e, quando tudo


parecia ter ido por água abaixo, eis que uma luz surgiu no fim do túnel. ‘’É isso!’’ — pensou Kaio, orgulhoso de si mesmo. O garoto correu até o porão e revirou todas as prateleiras, deixando cair sobre o chão as enormes caixas de papelão que ali estavam. Entre elas, havia uma caixa onde seu tio guardara diversos objetos velhos. E Kaio sabia perfeitamente que ali, no meio de toda aquela bagunça, um par de tênis poderia ser encontrado. E foi o que aconteceu. — Achei! — gritou Kaio, consigo mesmo. O plano era deixar aquele velho par de tênis esquecido entre tantas velharias no porão, igualzinho ao novo par de tênis que ele havia ganhado dias antes. O novo par possuía uma camada preta na lateral do calçado e uma fita branca próximo ao cadarço, deixando-o maravilhosamente impecável. E muito caro, por sinal. Por isso, esse modelo era especial. E único! Mas é claro que Kaio sabia perfeitamente disso, e por isso não economizou na hora de colocar bastante tinta sobre o pote onde, minutos depois,


com a ajuda de um enorme pincel, confeccionaria o antigo modelo em um novo. Tudo ocorreu bem, e o velho par de tênis agora parecia ter sido entregue diretamente da loja. Exatamente igual ao novo par de tênis. Exceto por um pequeno detalhe: Kaio esquecera de guardar o material usado para pintar o velho par sobre o chão do seu quarto. E foi essa a deixa para que seu tio o descobrisse por inteiro. Era Natal, e faltando apenas duas horas para o grande evento, eis que seu tio decidiu conferir se o sobrinho estava pronto para irem. Porém, ao entrar em seu quarto, Tom descobriu que o jovem havia fugido. — Mas aonde foi que essa peste se meteu agora? — gritou Tom, zangado. Kaio não gostava da maneira como seu tio o tratava. Mas sentia certo amor por ele. E sabia que aquela era a oportunidade perfeita. — Por acaso essa peste sou eu? — inquiriu o garoto, surgindo logo atrás do tio. — Pois aqui estou. Vamos?


— Mas por onde é que você se meteu, garoto? — Tom parecia segurar um sorriso, mesmo deixando sua expressão de preocupação visível aos olhos do garoto. — Estamos atrasados. Vamos! — Não! — confrontou Kaio. — Ainda não! — O que disse, garoto? – A cabeça de Tom parecia ferver, dando a imaginar que logo, logo, estaria pegando fogo. – Além de destruir o par de tênis novo que lhe dei, você ainda ousa levantar a voz para mim? É isso? — Como o senhor descobriu? — questionou o garoto, um pouco surpreso. — O pote sujo de tinta e o pincel logo aí, perto da sua cama. — Ele olhava para os objetos no mesmo instante em que os pronunciava, fazendo Kaio procurá-los com os olhos. Kaio não ficou surpreso ao constatar que seu tio havia descoberto seu plano. Muito pelo contrário, isso apenas reforçaria o ato ao qual estava prestes a se cumprir. — Isto aqui é para o senhor, tio – disse o garoto, retirando as mãos que estavam


escondidas para trás, revelando um enorme embrulho. — Feliz Natal! — Ma-mas co-como? Há meses que não lhe dou nenhum tostão. — Lágrimas começaram a escorrer em seu rosto, e Kaio sentiu-se realizado com a atitude que tomou. — Usei todas as minhas economias, tio — respondeu o garoto, com um sorriso nos lábios. — O senhor merece. Tom pegou o enorme embrulho, mas, antes de abrir, notou que havia um bilhete. Nele, Kaio tinha escrito: ’’MERRY CHRISTMAS!” e com um lindo desenho dos dois logo abaixo. Transparecendo ser um ‘’NATAL FELIZ!’’, diferente de todos os outros anteriores. Dentro do enorme embrulho, havia um novíssimo smoking. O mesmo modelo que Tom deixou de comprar para presentear o sobrinho com aquele par de tênis novos. — Não, eu não mereço! — Tom havia enxugado as lágrimas com a palma das mãos, ainda surpreso. — Nunca mereci. Afinal, eu sempre lhe tratei mal, e…


— E mesmo após a morte dos meus pais, quando eu ainda era apenas uma criança, o senhor cuidou de mim. Tem ato mais lindo que esse? — Kaio o interrompeu, o que pareceu ter sido uma continuidade de sua frase. – É claro que o senhor merece, tio! — E por que você não usou o dinheiro para comprar outro par de tênis? – Tom quis saber, pois tinha certeza de que ainda transmitia medo em seu sobrinho. — E perder a chance de poder retribuir tudo o que o senhor fez por mim?! – Kaio correu em sua direção e o abraçou, mas não deixou de acrescentar: – O tênis é apenas um objeto... que podemos reciclar, tio. Momentos como este são únicos, e não devemos deixá-los escapar. Tom abraçou-o ainda mais forte, retribuindo o gesto tão nobre de amor, dizendo:

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