No Simples Compasso da Paixão (Degustação)

Page 1






NO SIMPLES COMPASSO DA PAIXÃO © 2018 by Divino B’Atista Diagramação: Divino B’Atista Revisão final: Clys Oliveira/Divino B’Atista

Projeto da capa: Divino B’Atista Ilustrações: Imagens obtidas na internet

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônicos, mecânicos, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem a permissão escrita do autor.

Dados Internacionais de Catalogação (CIP) B’atista, Divino No Simples Compasso da Paixão/Divino Batista (com participação de Clys Oliveira) – 1ª ed. – Brasil: 2018. 100p. ; 21 cm ISBN; 9781719979801 1. Literatura Brasileira. 2. Romance Juvenil. I. Título.

CDD B869

1ª edição – Agosto – 2018 Reprodução proibida 
Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


Aos meus sempre fiéis leitores: já disse e nunca me cansarei de enfatizar a grande importância que cada um de vocês tem em minha jornada literária. Recebam meus verdadeiros e sempre sinceros agradecimentos.


ENTRANDO UM POUCO MAIS NA HISTÓRIA

Marina é uma pequena cidade litorânea que todos os anos se torna palco do grande festival de música "Águas Sonoras". Durante dois dias, a tranquilidade de Marina dá lugar a uma agitação frenética de jovens da cidade e redondezas. Daniel Vandres é vocalista da banda “Sound of Silence”, atração principal do festival. Ele, porém, não imaginava que cruzaria o caminho da sonhadora Josy, que só pensa em trabalho, mas é convencida pela irmã a ir ao festival se divertir um pouco. Roberta nutre um amor platônico por Daniel desde a sua infância, e é capaz de qualquer loucura para que o cantor a note. É no meio de uma dessas loucuras que elas conhecem Beto e Miguel, dois rapazes que farão Josy repensar um pouco sobre seus conceitos de diversão.


NOTA DO AUTOR Quando conheci a Clys, senti que seria mágico se escrevêssemos algo juntos, principalmente depois de afirmar que seria sobre um universo envolvendo bandas, músicas, e um tremendo festival (sempre adorei escrever sobre tais coisas). E foi o que aconteceu. Não necessariamente nesta ordem, mas... Inicialmente era pra ser um conto curtinho, até ela me mandar um arquivo intitulado como “Compasso” (que deu origem ao título do livro), e que mudou todos os meus planos desde então. No entanto, apesar de toda a história em si ter sido escrita por mim (claro, por sobre o contexto original da Clys), isso não significa que o livro pertence a mim e somente a mim, a Clys também faz parte disso, afinal, era pra ela que eu mandava cada novo capítulo concluído e aguardava a reação, pois, além de idealista e leitora Beta, Clys também é uma ótima escritora. Digamos que o processo deste livro é parecido com O Reino das Vozes que não se calam, escrito pela Carolina Munhóz e Sophia Abrahão. Eu só dei uma “nova caracterização” para esse universo da Josy, como a Carolina fez, e acho justo deixar a parte criada pela Clys em destaque, até porque a ideia do festival e todo o universo de Marina foi ideia dela. Creio que valeu as madrugadas que passei escrevendo e espero realmente que curtam o resultado final. Com carinho, Divino B’Atista. P.S. Conseguimos, Clys, este livro é nosso.



PRÓLOGO



PARTE 1 A CAPITAL



1

Hoje fiz a maior burrada da minha vida. Aliás, quando é que não faço burrada? Parece que vim ao mundo só para cometer erros. Demorei a admitir isso em voz alta, mas acho que fatores extremos contribuíram para que isso acontecesse. Maldito elevador, você tinha que estragar justo hoje? E agora o sr. Mazzaropi está no meu pé. Eu sabia que iria acontecer isso, e se continuar assim é bem provável que eu perca meu emprego. — Rápido! Mais rápido, querida! — Rebeca me socorre, vindo ao meu encontro e segurando uma das caixas que me sobrecarregam fisicamente. O trabalho dela é um pouco melhor que o meu. Bem melhor, aliás.


Minha amizade com ela começou por sintonia. Logo na minha primeira semana dentro deste escritório, Rebeca me pegou fazendo cara feia por trás do sr. Mazzaropi e, desde então, nos tornamos inseparáveis, já que ela também não suporta nosso querido chefe. Carregar uma dúzia de caixas cheias de arquivos por cinco lanços de escada às oito da manhã é um trabalho fácil para uma moça que – ressaltando – não consegue levantar nem o seu próprio peso na academia. Então, só porque demorei uns trinta e sete minutos – meu tempo recorde –, ele está resmungando como um louco em sua sala, dizendo o quanto eu sou preguiçosa. Preguiçosa? Eu? Por favor. — Obrigada, Re! — e respiro, tremendamente aliviada com a diferença de peso que restou no fim das contas. Essa é a última caixa de arquivos que faltava e parece ser a mais importante também. Tento não demorar nem mais um segundo sequer, indo diretamente para a sala do meu chefe antes que ele me demita. — Desculpe pela demora com os arquivos, — digo, já dentro do escritório dele. Rebeca entrou logo atrás, deixando uma das caixas em cima da mesa — mas é que... — Ah! Chega de desculpas. Já estou farto delas. — ele bufa, e Rebeca dá meia volta, me deixando novamente a sós com o nosso chefe. Eu preciso deste emprego! Eu preciso deste emprego! Eu preciso deste emprego!, repeti mentalmente pra mim mesma várias vezes. Em meados de agosto do ano passado eu havia acabado de conseguir um emprego como secretária na


única transportadora da minha cidade natal, em Marina. Não era o emprego dos sonhos, nem de longe, mas era a forma que eu tinha de conseguir realizar meu sonho: guardar o máximo de dinheiro possível para, finalmente, vir morar na capital e concluir minha faculdade de direito. Contudo, o mais perto que consegui chegar do meu emprego dos sonhos foi conseguindo essa vaga como auxiliar de escritório. — Mas é que o elevador... — tento me explicar novamente, bem mais tranquila, mas ele parece irredutível e completamente zangado. Grrrr! — STOP! — gritou, levantando a mão esquerda em um gesto bastante significativo — Acha mesmo que eu acredito em suas histórias? Sinceramente, não entendo porque diabos eu ainda não te demiti! — ele arqueou uma sobrancelha desafiadoramente. Porque eu sou a auxiliar mais competente que esse escritório já teve, seu brutamontes! — Desculpa. Vou pra minha mesa agora mesmo pra compensar o atraso, tá bem? — e, sem esperar por mais um de seus ataques, marchei em direção à minha mesa, espiando sua reação pelo canto dos olhos. O Sr. Mazzaropi ficou parado me encarando por um momento, bufou e depois voltou a resmungar em um tom mais baixo que o anterior assim que atravessei a porta. Rebeca me lançou um olhar cúmplice, como quem dizia “Também não o suporto mais”. Sorri e tentei dissolver a pilha de papéis acumulada em minha mesa o mais rápido que pude. Era uma pilha considerável, mas eu era eficiente e terminaria tudo em pouco


tempo. Desde que me mudei pra capital, é assim que pago minha contas. No entanto, perto da hora do almoço, o telefone tocou e, de pronto, atendi, imaginando ser algum cliente ou até mesmo meu chefe. Surpreendi-me ao ouvir, do outro lado da linha, minha irmã zombeteira. Nunca passei mais que uma semana longe de casa e da minha família, pois, todas as vezes que eu mencionava que iria morar na capital para estudar, minha mãe passava mal. Ela dizia que não suportaria me ver partir. Já minha única irmã, nunca me deu muita bola, contradizendo que jamais sairia de Marina e que eu deveria repensar meu futuro. Porém, eu já estava decidida. — Josy, vamos para o Águas Sonoras? — seu entusiasmo é alarmante, o que não me surpreende — Por favor, diz que sim! — Que história é essa, Roberta? Estou em meu horário de trabalho, não podia esperar até eu chegar em casa? — ralhei e Rebeca me encarou por alguns instantes. — Não! Não dá para esperar, quero muito que você vá e preciso da sua resposta agora. Dou um sorriso largo para Rebeca que continua me encarando ao telefone, na tentativa de despistá-la. Ela sorri de volta, ainda séria, mas logo desiste, desviando o olhar para o pequeno monitor preso em sua mesa. Roberta ainda grita do outro lado da linha. — VAMOOOOOOOOOOS! Diz que sim. — Mas o festival já é neste final de semana, Roberta, você me pegou desprevenida.


— E desde quando isso é um problema pra você? Sem mencionar que você já viaja pra cá quase todo fim de semana. Precisa se divertir um pouco, não acha? — Não tenho dinheiro para comprar o ingresso, deveria ter me convidado antes. Bem antes! — Nossa! Você é muito metódica, Josy, tem que fazer as coisas sem planejamento ao menos uma vez na vida. Se joga, irmã, a vida é curta demais. Escute os conselhos da sua irmã mais velha. — Agradeço pelo conselho de vida, irmãzinha — ironizei. — Minha resposta é não. Divirta-se na festa. — Vamos, Josy, por favor! — implorou com certo desespero na voz. — O Daniel Vandres vai ser a atração principal do festival desse ano. Arghhhh! — E daí? Eu não gosto das músicas dele. — respondi, estridente. — Já comprei o seu ingresso, não tem mais volta. — Venda-o para alguém que queira ir. — solucionei. — NÃO! — gritou do outro lado da linha, quase me deixando surda. — VOCÊ TEM QUE IR, JÔ! — Espera um pouco. — estreitei os olhos quando um pensamento me ocorreu. — Posso saber o motivo de você me querer tanto assim neste festival? Você nunca gostou de sair comigo, ou pensa que eu já me esqueci do apelidinho que você me deu. Como era mesmo? “Certinha”? — zombei, revirando os olhos, pois sabia que não podia ser coisa boa. — Tudo bem, tudo bem. — começou ela — Olha, não fica chateada comigo, OK? Você sabe o quanto eu sou apaixonada platonicamente pelo Daniel desde sempre, então... Eu não poderia perder essa


oportunidade única de vê-lo depois de tantos anos ausente. Quem sabe dessa vez ele me note no meio da multidão e... — Desembucha, criatura! — Roberta tinha o dom de me tirar do sério. — Eu falei para a mamãe que é você quem quer ir ao festival e me chamou para ir junto — disse em um fôlego só. — O QUÊ? — fui tomada pela surpresa. Tudo fazia menos sentido ainda — Qual a necessidade dessa mentira? — Porque a mamãe me proibiu de ir ao festival, pois disse que eu devo parar de ir em festas e ter mais responsabilidade e blá, blá, blá. Mas, se a filha caçula me chamar para ir junto, mamãe nem vai ligar. — Ainda não estou entendendo. — Você é a certinha, esqueceu? Nunca faz nada errado. É isenta de qualquer suspeita. — E você é maluca, sabia? De pedra. — Por favor, Josy — Roberta choramingou. — Prometo que nunca mais te peço nada em toda a minha existência. Quanto exagero! Ambas tínhamos ciência de que aquela promessa era impossível de ser cumprida, mas eu simplesmente não conseguia não fazer as vontades da minha irmã. Eu sabia que ela ficaria triste se não pudesse ver o Daniel, sua paixão de infância, após dois anos fora em turnê. — Ok. Eu topo ir com você. — e ela começou a gritar como uma histérica do outro lado da linha. — Mas com uma condição. — Sempre tem, não é? O que quer dessa vez?


— Vamos voltar cedo para casa, Ok? — Ok! Tenho certeza que você não vai se arrepender. — e desligou. Na minha cara. Eu ainda tinha sérias dúvidas sobre “não me arrepender”. Passaria a noite de sábado em um lugar barulhento, cheio de pessoas pulando como loucos e, certamente, pisoteando meu pé. Sem contar que todas as bandas tocariam um estilo do qual não sou muito fã. — Preciso desses papéis na minha mesa antes do horário de almoço! — o Sr. Mazzaropi urrou da porta. Certamente deve ter me visto tagarelando no telefone. Droga!



2

Saí do escritório um pouco depois das seis com a cabeça estourando de dor. Passei a tarde inteira tentando organizar a enorme e inacabável pilha de contratos. Entretanto o serviço não rendeu muito depois que o sr. Mazzaropi suspendeu o meu intervalo das três, o único horário em que consigo comer de verdade. Justo hoje que não tomei o meu café da manhã. E quase nunca saio para almoçar. Posso seguir carreira de escritora, e meu primeiro livro vai se chamar: Como conseguir trabalhar um dia inteiro de estômago vazio. Ugh!!! E pra piorar, o escritório todo explodiu em uma gargalhada estrondosa, me deixando com vontade de me enterrar debaixo da papelada à minha frente. Bando de incompetentes. Vocês me pagam.


Não faço ideia de como consegui caminhar do escritório até o térreo sem debruçar no chão feito uma desmiolada. Ah, sim! É claro. Graças à minúscula barra de cereal que sequestrei da Rebeca que estava lá, perdida, em cima da mesa. Implorando para ser comida. Só fiz o que tinha que ser feito. Olhei para o celular bem a tempo de ver o aplicativo informar que o meu motorista já estava chegando. — Tremenda covardia o que sr. Mazzaropi fez com você lá em cima. — Rebeca exalta, atônita, deixando visível o seu companheirismo de sempre. Apenas assenti em um movimento leve com a cabeça, enquanto tentava não pensar em comer, beber, ou em qualquer outra coisa parecida. O Uber estacionou exatamente quando Rebeca e eu passamos pela porta de entrada do pequeno prédio. — Josy? — o motorista me analisou dos pés a cabeça. — Sim. — e já fui abrindo a porta, dando “tchau” com as mãos para Rebeca — Até semana que vem. Ouço um “Até” antes de vê-la me dar as costas e entrar no carro do marido atrás de mim. Fecho a porta em seguida. — Alguma preferência? Digo, conhece algum caminho mais perto, ou prefere que eu siga o trajeto do aplicativo? — e me estudou pelo espelho do retrovisor, enquanto eu dava início em uma sucessão de tentativas ridículas de colocar o cinto de segurança. — Tudo bem. Seguirei o aplicativo. — e voltou ao volante. Segundos depois, já bem instalada, dei as coordenadas ao motorista. Assim que entrei na


avenida abarrotada de carros, ônibus e pedestres que insistiam em atravessar fora da faixa, me arrependi. Era óbvio que eu chegaria em casa mais depressa se tivesse ido a pé. Droga! Meu estômago urrou de fome. — Tem como você ir mais rápido? — implorei, mas o motorista apenas continuou em silêncio. Meia hora depois, chego ao meu destino. Joguei as chaves e a bolsa sobre a mesa de centro na sala logo que entrei no meu apartamento, seguindo diretamente para o banheiro. Precisava tomar banho. Deixei a água quente escorrer por meu pescoço e minhas costas, esperando relaxar. E até que relaxei um pouco, na verdade. Fechei o registro do chuveiro e fui me vestir. Estava com a toalha enrolada na cabeça quando o meu celular tocou. — Você vai comigo no festival amanhã, não vai? — inquiriu a voz antes mesmo que eu conseguisse dizer alô. — Oi pra você também, Roberta. Como tá a mamãe... — VAI OU NÃO? — ela me interrompeu apressada, tive que afastar o aparelho devido aos gritos — VOCÊ NÃO VAI ME ENROLAR OUTRA VEZ. Você sempre acaba arranjando uma desculpa pra não ir comigo sempre que combinamos. Amanhã você vai sair. — E a voz se tornou mais ameaçadora. — Nem que eu mesma tenha que te buscar à força! — Tenha calma, Roberta. Eu dei minha palavra. E irei honrá-la. Assim como espero que você honre a sua.


Ela respirou fundo do outro lado da linha. Quase conseguia ver o bico que ela devia estar fazendo. — Tô precisando sair e beber alguma coisa, Josy. Essa semana foi um inferno lá no trabalho! — só se o seu chefe for pior que o sr. Mazzaropi, resmunguei mentalmente — Ainda bem que o festival é nesse fim de semana. — Você quis dizer amanhã. —corrigi. — Nem me fale! — outro suspiro — Por isso mesmo preciso de você aqui ainda hoje. Quero te apresentar uma pessoa. Ai, Senhor! De novo? — Posso saber o motivo? — honestamente, Roberta já estava passando dos limites. — Não seja tão curiosa, Josy. Você terá todo o tempo do mundo quando chegar. — e, pela segunda vez, ela desligou no meio da conversa. Confesso que fiquei curiosa com o assunto misterioso da minha irmã. O que aquela maluca estaria aprontando dessa vez? Em seguida, vesti roupas leves e dei uma última olhada no espelho, antes de pegar a mala e arremessála por sobre a cama. Coloquei somente aquilo que já estava acostumada levar nos finais de semana dentro dela e fechei o zíper. Depois, abri o aplicativo do Uber, definindo o mesmo trajeto de sempre até a rodoviária. Quanto o aplicativo informou que restava apenas dois minutos para o meu motorista aparecer, dei uma última conferida no apartamento antes de trancar tudo, portas e janelas, e desci. Estava na hora de voltar à cidade natal.


Compre Agora



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.