Copyright © 2018 by Divino B’atista preparação de texto: Divino B’atista
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Batista, Divino No último volume / Divino Batista : 2018. 2p. ; 21 cm ISBN 9781520227252 1. Literatura Brasileira. 2. Romance Brasileiro Juvenil. I. Título. ... …
1ª ediçãoRomance – Setembro – 2016 Reprodução proibida Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. ~2~
... ♪ Aos meus sempre fiéis leitores: já disse e nunca me cansarei de enfatizar a grande importância que cada um de vocês tem em minha jornada literária. Recebam meus verdadeiros e sempre sinceros agradecimentos
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Para todos aqueles que se intitulam 'fãs da Banda PARAMORE'' E, em especial, para todos aqueles que não vivem sem MÚSICA!
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Prólogo Pessoas são como músicas. São feitas para que a gente ouça e compreenda. Algumas, nós gostamos desde o início. Outras, gostamos depois de um tempo. Poucas tocam a nossa vida, mas tem uma, aquela especial, que é a nossa trilha sonora. E esta, eu ouço No Último Volume.
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Lista de cantores que
mudaram minha vida: (Escrita (e editada) por: Mariana Carey)
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1. Adam Lambert 2. Adele 3. Aerosmith 4. Akon 5. Alanis Morissette 6. Alejandro Sanz 7. Alexandra Burke 8. Alfonso Herrera 9. Alicia Keys 10. All Stone 11. Alphaville 12. Amanda Seyfried 13. Amy Winehouse 14. Anahí 15. Anna Kendrick 16. Anitta 17. Aretha Franklin 18. Ariana Grande 19. Austin Mahone 20. Avacii 21. Avril Lavigne 22. B.o.B 23. The Band Perry 24. Barbie 25. Barry White 26. Bastille 27. The Beatles 28. Belinda 29. Berlin 30. Beyoncé
31. Bianca Merhy 32. Black Eyed Peas 33. Bonnie Tyler 34. Boys Like Girls 35. The Bravery 36. Brian McKnight 37. Britney Spears 38. Britt Nicole 39. Bruno Mars 40. Bryan Adams 41. Calvin Harris 42. Carly Rae Jepsen 43. Carly Simon 44. Carrie Underwood 45. Celine Dion 46. Charice 47. Cher Lloyd 48. Cheryl Cole 49. Chris Brown 50. Chris Tian 51. Christina Aguilera 52. Christina Perri 53. Ciara 54. Clockwork 55. Cobra Starship 56. Colbie Caillat 57. Coldplay 58. Conor Maynard 59. Creed 60. CymcoLé
61. Cyndi Lauper 62. Daft 63. Danielle Bradbery 64. Daughter 65. David Carreira 66. David Guetta 67. Demi Lovato 68. Dido 69. Dionne Warwick 70. Drake 71. Dream Theater 72. Dulce Maria 73. Duran Duran 74. Ed Sheeran 75. Elli Goulding 76. Elton John 77. Emily Jaye 78. Emily Osment 79. Eminem 80. Enrique Inglesias 81. Eric Berdon 82. Esmee Deanters 83. Evanescence 84. The Ex-Grilfrends 85. Far East Movement 86. Fat Joe 87. Fergie 88. Fifth Harmony 89. Filipe Guerra 90. Flípsyde
91. Flo Rida 92. Foster the People 93. The Fray 94. Fun. 95. Gabrielle Aplin 96. The Game 97. Gamu 98. Glee Cast 99. Gloria Estefan 100. A Great Big World 101. Green Day 102. Gummy Bear 103. Gun N’ Roses 104. Guru Josh Project 105. Gyn Glass Heroes 106. Hilary Duff 107. Hilltop Hoods 108. Iggy Azalea 109. Ii Volo 110. Imagine Dragons 111. Isa TKM 112. Isabella Castillo 113. James Arthur 114. James Blunt 115. James Morrison 116. Jamie Cullum 117. Jamie O’Neal 118. Jana Kramer 119. Jeson Derulo 120. Jason Mraz ~ 13 ~
121. Jay-Z 122. Jennifer Lopez 123. Jeremih 124. Jessie J 125. Jesuton 126. John Legend 127. John Lennon 128. John Newman 129. John Tyree 130. JoJo 131. Juanes 132. Justin Bieber 133. Justin Timberlake 134. Kathryn Dean 135. Katy Perry 136. Ke$ha 137. Kelly Clarkson 138. Kirsch & Bass 139. KT Tunstali 140. Kyle Casteliani 141. Kylie Monigue 142. Lay Antebellum 143. Lady GaGa 144. Lana Del Rey 145. Lane Brody 146. Lara Fabian 147. Las Ketchup 148. Laura Bell Bundy 149. Laura Pausini 150. Lea Michele
151. Leighton Meester 152. Lena Katina 153. Lenny Kraier 154. Lenny Kravitz 155. Leona Lewis 156. Leonard Cohen 157. Lifehouse 158. Lil Jon 159. Lil Wayne 160. Lilly Wood 161. Linkin Park 162. Lisa Sommers 163. Little Big Tow 164. Lorde 165. Lucy Hale 166. Ludacris 167. Luis Miguel 168. Madona 169. Maejor Ali 170. Magic! 171. Maite Perroni 172. Maluna 173. Mandy Moore 174. Manu Gavassi 175. Mariah Carey 176. Mark Ronson 178. Maroon 5 179. Matchbox Twenty 180. Meghan Trainor 181. Melissa Gorga ~ 14 ~
182. Michael Jackson 183. Mickael Carreira 184. MIKA 185. Miley Cyrus 186. Miranda Cosgrove 187. Miranda! 188. Mister Jam 189. Mitchel Musso 190. Moby 191. Muse 192. Mystery Alaska 193. M83 194. Natasha Bedingfield 195. Naya Rivera 196. Nazareth 197. The Neighbourhood 198. Netsky 199. New Radicals 200. Nick Jonas 201. Nickelback 202. Nicki Minaj 203. Nico & Vinz 204. Nina Kinert 205. Nirvana 206. Oasis 207. Olly Murs 208. One Direction 209. OneRepublic 210. Owl City 211. P!nk
212. P9 213. Pagan John 214. Paramore 215. Paris Hilton 216. Pee Wee 217. Pez 218. Phantom Planet 219. Pharrell Williams 220. Phil Collins 221. Pitbull 222. Plan B 223. PSY 224. The Pussycat Dolls 225. Rachel Platten 226. Rascal Flatts 227. RBD 228. Remy Zero 229. Ricardo Arjona 230. Rich Homie Quan 231. Ricky Martin 232. Rihanna 233. Rita Ora 234. Robbie Williams 235. Rod Stewart 236. Roxette 237. Rudimental 238. Sam Smith 239. Sara Bareilles 240. Sarah Brightman 241. Schiller ~ 15 ~
242. The Script 243. Selena Gomez 244. September 245. Shaki 246. Shakira 247. Shania Twain 248. Sia 249. Sidney Bowen 250. Silentó 251. Silverchair 252. Simply Red 253. Skrillex 254. Slash 255. Sleeperstar 256. Snoop Dogg 257. Snow Patrol 258. Son Of Levi 259. Sonna Rele 260. Spice Girls 261. Sugababes 262. Suzanne Ciani 263. Swedish House Mafia 264. T.I. 265. Taio Cruz
266. Tanner Patrick 267. Tash Phillips 268. Taylor Swift 269. Taylr Renee 270. Tiësto 271. Tigertown 272. Tim Mcgraw 273. Timbaland 274. Tony Bennett 275. Tony Braxton 276. Train 277. U2 278. Union J 279. Vanessa Hudgens 280. Vannessa Carlton 281. Vengaboys 282. The Wanted 283. The Weeknd 284. Whitney Houston 285. Will.i.am 286. Wisin 287. Wiz Khalifa 288. Zedd 289. 3 Doors Down 290. 3OH!3
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1 Eu estava com uma enorme dor de cabeça quando por fim a minha mãe cedeu e resolveu me entregar os seus cartões de crédito. O motivo de tanta insistência surgiu devido ao fato de que a mais nova blusa da ''Paramore'' (a minha Banda de Rock favorita) havia acabado de ser lançada nas melhores vitrines do mundo a fora, e é obvio que eu – fã assídua da banda, tremendamente fanática e totalmente Paramorenática (segundo sou chamada pela minha melhor amiga Eloísa) – não poderia ficar sem um item desses, poderia? ~ 17 ~
Bem que eu tentei contar a verdade a minha mãe, mas se eu tivesse feito exatamente o que uma garota obediente faz, tenho quase certeza de que os seus cartões de crédito não estariam nas minhas mãos há essa hora. — Finalmente, Mariana, você concordou em ir ao Baile de Formatura deste ano. — pude ver um enorme sorriso amarelo transparecer em seu rosto — Tenho certeza de que você irá amar o evento estudantil desse ano, pois fiquei responsável pela decoração e tudo. — Ahã. — confirmei, tentando não parecer tão irônica no momento — Assim espero, mãe. Sei que mentir não é uma das minhas melhores habilidades desde quando decidi conseguir algo de tão valioso da minha mãe, mas… como uma paramorenática, nada do que tiver relacionado a ética e moral fará parte disso agora. Tudo começou em 2010 quando eu tinha apenas nove anos de idade e, se não me falha a memória, nesse dia estava chovendo muito forte, era uma tempestade pra lá de assustadora. Sei disso porque foi exatamente esse o motivo pelo qual acabei trancada dentro de casa, deitada no sofá completamente solitária assistindo televisão. Eis que então, sem querer, acabei enfiando o meu enorme traseiro em cima do controle remoto, e isso certamente fez com que a TV mudasse de canal descontroladamente logo em seguida. Droga, Mariana! Logo agora que iria começar o Sítio do Pica pau amarelo, você faz uma burrada dessas? ~ 18 ~
Odeio-me eternamente por ter feito isso – gritei eufórica comigo mesma (como se aquilo fosse resolver alguma coisa). Lembro-me que fiquei uma fera por causa disso, mas por fim acabei me agradecendo por ter sido tão desastrada (já explico). É o seguinte, com a mudança dos canais da TV a cabo, acabei fazendo uma das maiores descobertas da minha vida, a MTV, pois quando finalmente consegui fazer com que a TV voltasse ao normal, a primeira imagem que apareceu na tela foi a do Justin Bieber cantando e interpretando a música pela qual fez com que ele estourasse aqui no Brasil: Baby. Na época o Justin Bieber não era assim tão conhecido com é atualmente, pois no dia seguinte, quando finalmente assistir pela terceira vez o vídeo clipe e anotei o nome da música para poder baixá-la logo em seguida, fiz uma entrada triunfal pelos corredores do colégio sendo a primeira garota a obter a música Baby em um aparelho celular. — Amigaaa, que música é essa? — Eloísa foi a primeira a perguntar — Necessito urgentemente dela, será que você poderia me passar via Bluetooth? — Mas é claro, quero que todos conheçam o meu futuro namorado. — não consegui segurar um sorriso — Ele é lindo, não é mesmo? — e acabei mostrando uma das centenas de outras fotos que eu havia baixado da internet para o meu celular. Naquele tempo cheguei até a acreditar que era – eu – a responsável pelo Justin ser tão conhecido aqui no ~ 19 ~
Brasil como é hoje, pelo simples fato de levantar-me todos os dias às 6h em ponto, compartilhando no Orkut e mandando por SMS, para todas as minhas amigas, o link do melhor clipe do mundo. Convocando todos a comentar e dividir aquela belezura com pai, mãe, irmãos, primos, amigos, conhecidos e vizinhos! Eu estava completamente apaixonada pelo Justin, prometendo-me casar com ele assim que completasse os meus 16 anos de idade. Foram dois anos seguidos comprando todos os pôsteres, revistas e CDs dele, mas assim que espalharam a notícia de que ele estava namorando uma cantora e atriz da Disney, o meu mundo virou de cabeça para baixo literalmente (mas é claro, porque não havia pensando nisso antes? Eu teria que cursar Artes Cênicas e Aulas de Canto antes de me casar com ele… Droga!). — Amigaaa, Já soube da última do seu futuro namorado? Ou seria melhor chamá-lo de ex-futuro namorado? — lembro-me perfeitamente que a Eloísa segurava uma revista da Capricho nas mãos entreaberta justo na página onde a trágica notícia estava visivelmente bem destacada. — Nããããooo… — gritei aos prantos após ter lido tudo aquilo. Depois de uma notícia bombástica dessas, passei a desligar a TV toda vez que um vídeo clipe do Justin aparecia na tela. Embora eu ainda me lembre que a pior das notícias foi ter descoberto que a minha concorrente era, nada mais nada menos, que a própria Selena Gomez. ~ 20 ~
Passei a odiar um dos meus seriados americano favorito por causa disso ''Wizards of Waverly Place'' (Os feiticeiros de Wayerly Place). Pelo menos ele havia escolhido alguém há minha altura, modéstia parte. Porém, descobri mais tarde que a minha maior paixão mesmo era pela a música. As responsáveis por essa maravilhosa descoberta agora eram as minhas divas Avril Lavigne e Katy Perry. — Mãeee… deixa eu pintar o meu cabelo, por favor? Eu já tenho trezes anos. — eu implorava aos berros enquanto tentava fazê-la assistir os melhores vídeos clipes já produzidos pelas minhas divas: ''Wide Awake'' e ''Smile''. — Você parece uma maluca chorando desse jeito, Mariana! — reclamou minha mãe — Vai acabar desidratando! Elas nem sabem que você existe! — Mas mãe, todo mundo está usando esse novo visual lá no colégio. — tentei inventar uma meia mentira a ponto de fazê-la ceder em relação a minha insistente proposta. Mas pelo visto minha mãe sempre guardava uma carta na manga. — Todo mundo? Então por que eu ainda não vi ninguém usando esse novo visual lá no meu trabalho? — minha mãe era, nada mais nada menos, do que a diretora do colégio onde eu freqüentava — Aliás, a aluna que me aparecer por lá com esse tipo de visual novo ficará suspensa até a segunda ordem. — ela engoliu a saliva antes de acrescentar — Aonde já se viu isso, será que
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vocês, adolescentes, ainda não perceberam que essas cantoras estão usando perucas? — Que nada, mãe, a senhora é quem devia se atualizar, sabia? A Avril Lavigne nunca usaria uma peruca. A Katy Perry até pode ter feito isso, mas a Avril não. — desabafei por fim, defendendo uma das minhas divas. Foi então que, para a minha alegria, quando o vídeo clipe ''Smile'' havia acabado, a minha maior inspiração apareceu na tela. Sim, era ela. Deslumbrante, e dona de uma voz maravilhosamente estupenda, Hayley Williams me cativou no mesmo instante (é claro que eu não sabia o nome dela quando a descobri, é obvio. Por isso é que existe a internet. Salve o Google!). Foi amor a primeira ouvida. Sendo que, o que mais me chamou a atenção foi a cor do seu cabelo: era totalmente laranja. — Olha só, não te falei, não te falei, mãe, que todo mundo estava usando esse novo visual? — pulei feito uma maluca na frente da TV mostrando as cenas em que Hayley aparecia de cabelo laranja em ''The Only Exception''. — Que fofa essa cantora, filha, adorei essa música. Se você me pedisse para usar um estilo como o dela, eu até poderia abrir uma exceção em relação a esse tal novo visual que você tanto diz, mas… — Sério, mãe? — eu a interrompi enquanto os meus olhos brilhavam — Mas porque não poderei usar o
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estilo da Avril ou da Katy, a senhora tem algo contra as minhas divas? — Chega de perguntas, Mariana, você quer ou não quer usar esse visual novo? — O que a senhora acha? — tentei não parecer irônica no momento, até porque eu ainda não conseguia acreditar que minha mãe, depois de tantos nãos, finalmente tinha deixado eu pintar o cabelo. Mais tarde, de frente ao computador, descobri o porquê da minha mãe ter mudado de ideia tão rápido, ''The Only Exception'' significa ''A Única Exceção''. OH. MY. GOD. Irônico mesmo foi ter descoberto o significado da palavra Paramore (que soa idêntica a Paramour): Amante secreto. E assim, P-A-R-A-M-O-R-E havia se tornado o meu amante (nada) secreto. Será que agora vocês conseguem entender por que sou uma Paramorenática? Se a cor do meu cabelo é laranja hoje, ao invés daquele loiro sem graça, é por culpa da Hayley Williams. ♫♪♫♪ ''That's what you get when you let your heart win, whoa… That's what you get when you let your heart win, whoa…'' ♫♪ Esse era o som do meu telefone celular berrando em cima da minha cama, enquanto eu ainda procurava ~ 23 ~
algo decente para sair. Afinal, não é todo dia que uma paramorenática consegue enganar a sua mãe assim tão facilmente para simplesmente obter o mais novo item da sua banda predileta. — Amigaaa, finalmente uma notícia boa, hein? — Eloísa berrava do outro lado da linha quando finalmente peguei o aparelho e o coloquei sobre a orelha — Porque não me avisou antes? Você sabe o quanto odeio ser a ultima a saber das coisas, não sabe? — Do que você está falando, Eloísa? — Ai, sua besta! Não vai me dizer que você já desistiu de comparecer ao Baile de Formatura, desistiu? — pude sentir uma mudança no seu tom de voz, era como se ela passasse de eletrizante para totalmente decepcionada — A sua mãe mau me avisou que você iria. Argh! Não me faça ficar triste outra vez, Mariana, por favor. Você sabe o quanto eu gostaria que você fosse, não sabe? — O quê? Como assim a minha mãe te avisou? — eu realmente havia sido pega de surpresa. A minha mãe não tinha nada que ter contado para a Eloísa sobre eu ter concordado em aparecer ao Baile de Formatura, mas, como sempre, a emoção fala mais alto, e quando dou por mim, toda a vizinhança já estar sabendo da novidade. — Ué, Mariana, ela apenas telefonou para perguntar se eu estava sabendo de alguma coisa, tipo: por qual motivo de você ter finalmente aceitado ir ao Baile de Formatura deste ano. Daí eu respondi que ainda não estava sabendo de nada disso, e que certamente iria ~ 24 ~
te ligar para perguntar o motivo. Depois ela desligou. Você sabe como a sua mãe é controladora, não sabe? Aliás, falando em controlar, você não vai acreditar no número de visualizações que o ''The only exception cover by Mariana'' alcançou durante esses sete últimos dias… — Quantos? — perguntei, pra lá de curiosa. Afinal, não fazia ideia do número de pessoas que haviam visualizado o mais novo vídeo, que por sinal, não seria o último no meu canal ''PARAMOUR'' no YouTube. — Preparada? — acrescentou, tentando fazer um breve suspense. — Espera só um momentinho… — respirei fundo, entrando na brincadeira — Agora sim, estou preparada. — Vamos lá, então… — eu a interrompi antes dela começar a falar novamente: — Calma! — gritei, jogando as blusas que eu havia retirado de dentro do meu guarda-roupa antes de atender o telefonema da Eloísa, ligando o meu computador de mesa logo em seguida — Agora você já pode falar, criatura. Como você já deve ter percebido, certamente eu não iria acreditar em nenhuma palavra da Eloísa (mesmo sendo best-friends e tudo mais), por isso, tratei logo de me certificar pessoalmente. Abri o link no mesmo segundo e aguardei a página carregar, sem nem piscar os olhos. A velocidade da internet era uma droga, então fiquei observando os elementos surgirem lentamente na tela… ~ 25 ~
_________________________________ * É isso que você ganha quando deixa seu coração ganhar, whoa É isso que você recebe ao deixar seu coração ganhar, whoa
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2 Argh! Odeio pessoas sem criatividade, mortas de espirito e, principalmente, sem compaixão pelo próximo. É o cúmulo do impossível alguém não conseguir gostar dos meus vídeos no YouTube. Todo mundo sabe como é difícil ficar esperando por horas e horas para finalmente poder publicar um vídeo no meu canal ''PARAMOUR''. É quase um milagre quando o botão PUBLISH aparece disponível, esperando apenas que o ~ 27 ~
mouse dê um click ali em cima. E depois de pronto, com o pensamento positivo lá nos 99,99% de esperanças de obter 1 milhão de VIEWS (visualizações) em uma semana, você vai lá toda esperançosa e descobre que apenas 3 pessoas visualizaram. Isso é, apenas 1 Curtiu, 2 Gostaram do meu vídeo e nenhum comentário sequer. Como podem existir pessoas nesse mundo com esse tipo de desprezo ao próximo? Deus deixou isso bem claro na bíblia: ''amar o próximo como a ti mesmo''. Cadê? Cadê o amor que Deus pediu, seres humanos? Hein? Custava levar a mão no mouse e centralizar a seta em cima da palavra COMPARTILHAR, CURTIR, e COMENTAR? Sem mencionar o quando dá um trabalhão ter que divulgar o vídeo para todos os meus ''amigos'' do meu Facebook – todos anônimos, tanto nas relações financeiras quanto nas fraternas (porque, Deus que me livre, como é que uma pessoa tem tantos amigos em uma rede social, mas quando se está em prantos não vem um se quer ajudar a limpar suas lágrimas?). Até entendo que não sou assim tão POPULAR como eu queria, mas, pelo amor de Deus, Brasil, Planeta, Galáxia, Universo, cadê a compaixão? Onde é que foi parar o amor ao próximo? Quero ser FAMOSA, será que vocês não entendem isso? Tudo bem, Mariana, respira! Conte de 1 a 1.000 que tudo passará (como se alguém fosse conseguir contar até mil). ~ 28 ~
— Olááá? Terra chamando Mariana! — Eloísa ainda berrava do outro lado da linha — Você ainda está aí, amiga? Responde. — Nossa, não consigo acreditar que o meu vídeo só conseguiu obter 3 visualizações. — realmente eu estava decepcionada com o mundo virtual. Não apenas pelo fato de não ter conseguido um número de visualizações decente como eu esperava, mas porque no dia anterior da gravação do clipe eu havia inventado uma outra meia mentira para conseguir arrancar dinheiro o suficiente da minha mãe para finalmente ter a honra de poder comprar um lindo vestido de cor preto rodado, e volumoso, especialmente para ter certeza de que eu estaria bem vestida nesse clipe. O que certamente não adiantou em nada. Droga! — A culpa é toda sua, Mariana! — prosseguiu Eloísa, quebrando o silêncio que havia se instalado por pelo menos vinte segundos depois dessa trágica descoberta — Ninguém mandou você ter tanta certeza assim de que os garotos iriam adorar o seu novo visual, enquanto você cantava perfeitamente a letra em inglês sem errar nenhuma palavra… — eu a interrompi, dizendo: — Não! — neguei, com toda certeza — Que culpa eu tenho se os garotos de hoje, em pleno século XXI, não conseguem notar o talento que nós, meninas, temos a oferecer?
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— Concordo plenamente, amiga. Além do mais, nenhuma garota é capaz de fazer o que você faz. Aliás, não é qualquer garota que segue os passos de todos os cantores e autores desse mundo como você, amiga. Me sinto privilegiada de ser a sua best-friend. Certamente a Eloísa estava repleta de razão. E daí se o meu vídeo só teve apenas três visualizações no YouTube? Ninguém consegue seguir os passos dos cantores internacionais e nacionais, atualizar um blog diariamente, ler todos os livros já lançados e os que acabaram de ser lançados, resenhá-los lá no blog em seguida, decorar todas as músicas internacionais e nacionais, gravar vídeos, editá-los, postá-los, divulgá-los, e ainda conseguir levar uma vida pra lá de normal ao mesmo tempo. Realmente sou uma adolescente incrível aos dezesseis anos de idade. — Falando em autores, vou aproveitar que já liguei o meu computador e checar se algumas das minhas escritoras lançaram algum livro novo. — Antes disso será que você poderia me revelar o motivo de ter aceitado ir ao Baile de Formatura deste ano, amiga? — Eloísa gritou antes do link abrir. Enquanto eu esperava a página do blog carregar, aproveitei para desabafava fielmente com a Eloísa, revelando o porquê de ter dito a minha mãe que eu participaria do Baile de Formatura deste ano, e… — Pelo visto você vai acabar não encontrando essa nova blusa da Paramore, amiga, se você continuar aí lendo todos os comentários do seu blog. — ouvi gritos ~ 30 ~
que pareciam ser da mãe dela tipo: Eloíííísaaaa — Tenho que ir agora, amiga, se não a minha mãe irá acabar me matando por eu não ter lavado as louças do almoço como eu prometi, se ela me desse de presente o livro que você me indicou lá no blog. — Vai lá, amiga, afinal você está precisando. — Me deseje sorte. — e antes dela desligar ainda teve a honra de acrescentar — E para de enrolar e vá logo atrás dessa nova blusa, amiga, antes que você acabe ficando sem ela. Bufei, e acabei optando por uma calça jeans um pouco mais escura e uma blusinha de pano fino roxa. Teria que servir. Era só me maquiar, pentear o cabelo, pôr um All Star no pé e pronto. Não importava quantas roupas eu colocasse, quão perfeita eu ficasse, eu ainda não tinha o novo item do Paramore nas minhas mãos, ninguém tinha ainda na verdade, e isso nenhuma garota Paramorenática pode aguentar. Afinal, eu tenho roupas legais, cintura 36 e o poder de ficar perfeita independente do que se coloque no corpo! O que mais eu poderia querer (além do novo item do Paramore, é claro)? Por fim, enfiei tudo de que iria precisar numa mochila, tentando ao máximo não amassar nada, e a coloquei nas costas. Peguei o dinheiro do ônibus, o celular, os meus documentos, dei um tchau rápido pra minha mãe e fui.
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3 Finalmente instalada na confortável poltrona, assim que entrei no ônibus, respirei fundo e deixei que o cheiro gostoso de diesel queimado adentrasse minhas narinas, antes de pegar o celular na mochila para que pudesse escutar alguma música da Paramore. Acabei optando pelo segundo álbum da minha banda preferida, ~ 33 ~
o Riot!! Que é um dos melhores álbuns que esse mundo já teve a honra de ouvir, se você quer compartilhar da minha opinião. As músicas são animadas e enevoadas, ótimas para se escutar em um ônibus, onde eu, milagrosamente, não estava viajando em pé. Isso parecia bom. Agora, eu só precisava fechar os olhos por alguns minutos, esperar a reprodução mp3 do celular atingir a faixa 10 (Fences), e descer do ônibus assim que eu avistar a nova blusa da Paramore estampada na primeira vitrine de qualquer uma dessas lojas, sem dor nas pernas dessa vez. Olha. Isso não estava tão ruim assim. Não, até, é claro, alguém arrancar um dos meus fones de ouvido no meio da faixa cinco (uma das melhores na minha opinião, When it Rains). Virei-me para matar. — Oh meu Deus, Mari! Mariana Carey! — oi? Como é? O cara pálida que eu ia matar me conhecia? — Cara, é você mesmo! Quanto tempo, hein? Devo ter olhado para ele com a maior cara de… ''de onde diabos você surgiu?'', porque ele sorriu e perguntou: — Não se lembra de mim? Franzi o cenho, olhando para o garoto que ainda me encarava, sorrindo. Ainda sentia vontade de matá-lo, e fiz questão de deixar isso bem explícito em minha expressão. Também na minha educação. De modo que respondi, apenas: — Não. ~ 34 ~
E recoloquei meu fone bem lentamente, subtendendo: e não puxe esse fio de novo, seu grande filho de uma vaca gorda. Aonde foi que você tirou essa ideia de me irritar justo agora que uma das melhores canções da minha banda predileta estava tocando? O rapaz sorriu de novo, mas acho que captou a mensagem subtendida, pois não retirou meus fones. Bom para ele. Com os fones, Hayley Williams gritando em meus ouvidos, Paramore tocaram sua música a todo vapor. O que não pôde impedir que eu escutasse a voz do rapaz ao meu lado: — Fiz a quarta série com você. — ele tentou mais uma vez, retirando minha mochila que estava milagrosamente descansando no banco ao lado para se sentar. Sair com uma mochila nas costas cansa, sabia? No entanto, o que mais chamou minha atenção foi como ele usou a cabeça para me distrair enquanto ocupava o banco ao lado. Muito espero você, hein? Aproveitando que a minha mochila estava ali para mencionar que estudava comigo! Como se, alguma vez na vida, eu tivesse frequentado um hospício. E eis que surge mais um motivo para que eu desejasse matá-lo de uma vez, pois, além disso, não me lembro de ter dado oportunidade alguma a ele para invadir a minha privacidade como passageira. Submetendo a me manter no controle no segundo seguinte, varri qualquer pensamento diabólico do tipo ‘’como matar esse garoto dentro de um ônibus evitando ser ~ 35 ~
presa em seguida’’, pois nem tinha visto que, em poucos minutos, o corredor do ônibus já estava super lotado de passageiros. — Matheus Figueiredo. — ele prosseguiu, enquanto eu ainda o encarava. Foi nesse momento que pequenos fragmentos de lembranças surgiram em minha mente, devolvendo quase setenta e oito por cento da minha memória — Não lembra mesmo, nem um pouquinho? Ai, meu Deus! Não pode ser quem eu estou pensando que é, pode? OH. MY. GOD. Por incrível que pareça é ele mesmo, o único, o insubstituível, o próprio Matheus Figueiredo em pessoa. Culpado pelo meu maior sofrimento amoroso. O garoto pela qual dei o meu primeiro selinho por não suportar ser chamada de BV (como chamam aqueles que nunca beijaram na vida: ou seja, boca virgem) antes dele se mudar para um outro colégio aqui da capital. — Como você mudou, está mais… — ele parou de dizer por alguns segundos enquanto me olhava de cima a baixo. — É, eu sei! Estou mais apresentável do que a cinco anos atrás, certo? Você também mudou, sabia? Está mais… — parei por ai mesmo, antes de acabar cometendo uma burrada dizendo: bonito e charmoso. A verdade é que o Matheus estava muito mais lindo do que eu imaginava que ele acabaria se tornando quando ainda estudávamos na quarta série. E para ser
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bem sincera mesmo, bonito era pouco para aquela perfeição que agora estava sentado bem ao meu lado. — Na verdade mesmo eu iria dizer ''radical''. Já pintou até o cabelo de laranja. — ele sorriu em seguida, mostrando as covinhas — Gostei dessa cor. Está parecendo a Hayley Williams. OXIGÊNIO, CADÊ VOCÊ QUANDO EU MAIS PRECISO??? Como assim, o Matheus conhece a Hayley? Será que ele também é um Paramorenático como eu?
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4 — Aceita tomar um milk-shake? Eu pago. — ele sorriu gentilmente assim que descemos do ônibus. — Claro! Por que não? — tentei parecer normal, enquanto me segurava para não insultá-lo com um pequeno comentário ofensivo sobre eu estar com os cartões de crédito da minha mãe e por isso ele não precisaria pagar absolutamente nada. Não me interprete mal, não sou egoísta, de maneira alguma, apenas não acho certo os garotos ficarem bancando as garotas de hoje. Isso é meio clichê. E ~ 39 ~
até demais. Além do mais, Hello? Garotas do século XXI, não precisamos disso, somos independentes, lembram? Por mais que eles sejam LINDOS, e irresistíveis, mantenha o total controle, o.k.? Ele me agarrou pelo braço, me guiando em direção a uma das dez mesas desocupadas, enquanto eu o encarava em um só suspiro, assim que adentramos em uma sorveteria qualquer na primeira esquina. Ele ainda fez questão de puxar a cadeira para que eu pudesse me sentar, acenando em direção ao balcão em seguida para fazer o pedido. — Já vão pedir? — perguntou a garçonete. — Uma banana split e uma coca-cola, por favor. — falei e Matheus me olhou surpreso. Já que eu estava em uma sorveteria, por que não pedir logo algo que me agrade, não é mesmo? A garçonete anotou meu pedido, encarando meu acompanhante em seguida. — O mesmo pra mim, por favor. — Matheus sorriu enquanto pedia e a garçonete anotou, nos deixando a sós novamente. — Pensei que iria pedir alguma coisa light. – ele respondeu, ainda surpreso. — Não gosto de ficar me incomodando com o que comer. Não ligo para o que os outros pensam, obviamente, mas eu corro duas vezes por semana. E mesmo que eu quisesse ou tentasse, eu não engordaria. Essa é uma das minhas qualidades. — sorri sem mostrar
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os dentes. Não sei por que, mas me senti um pouco nervosa — E, por favor, não me olhe assim. — Às vezes, eu chamo uma garota pra sair e ela pede água. — ele não desviou o olhar, certamente achando que me intimidaria — Eu fico irritado e acabo indo embora. — pude ver um sorriso torto em seus lábios — Não faz nenhum sentido convidar alguém, se ela não come nada. — ele diz e eu acabei rindo com o desabafo. — Então o que você gosta de fazer? —perguntei quando nossos pedidos chegaram. — O de sempre, mas... eu odeio! — falou — E você? — Ler, ouvir música, cantar. No chuveiro, é claro. — falei. — Que tipo de música? — perguntou. — Sou totalmente eclética, mas sempre tem aquela fase em que ficamos presos a um ritmo apenas, e no momento é o Rock — falei e mais uma vez ele me olhou surpreso — Que tipo de rock? — perguntou. — U2, Nirvana, Rascal Flatts. — respondi, empolgada — Mas ultimamente estou ouvindo muito Paramore. Tipo, muito meeesmoo. — Cara, que legal, você também curte Paramore. — prosseguiu, ainda mais radiante. — Como não curtir? É a melhor banda do mundo! — tentei segurar um meio sorriso, mas acabei falhando vergonhosamente.
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— Meu Deus, quando eu vou achar outra garota tão bonita, que gosta de banana split com coca-cola, rock e que, principalmente, curte a mesma banda que eu? Sorri, e completei: — E de carros. — ao dizer isso, ele me olhou um pouco surpreso e assustado. Não sou do tipo ‘’interesseira’’, mas eu já não aguentava mais andar de coletivo. Essa é a verdade. Eu não via à hora da minha mãe tirar a carteira de motorista e comprar o nosso próprio carro. Oh, Deus, porque não temos um carro? — Quer casar comigo? — perguntou e eu ri alto. Eu sabia que aquilo era brincadeira, mas, por algum motivo parei quando o pensamento de que talvez pudesse vir a ser verdade me consumiu. No entanto, caso algum dia eu tenha que escolher com quem devo me casar, obviamente eu escolheria um que tivesse seu próprio automóvel, porque pegar o coletivo é um saco. E, pelo que eu sei, o Matheus também não tinha automóvel algum. Super bem vestido por sinal para um simples passageiro, eu admito, mas não tinha. — Acho que isso é um não. — ele devolveu o sorriso pelo canto da boca. — Ainda não consigo acreditar que os irmãos Faro tocavam na garagem depois da escola. — tentei mudar de assunto, pois notei que o clima havia pesado. E deu certo. — Pena que eu não tive oportunidade de tocar nenhum instrumento em uma garagem.— consegui ver
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um sorriso crescer em seus lábios — Já imaginou quão legal seria fazer isso? — ele sorriu ainda mais, pensativo. — Talvez não fosse necessário mudar de cidade. — sugeri sem pensar, pois não queria perdê-lo outra vez. Era gratificante diverti-lo. — Como assim? — ele me olhou confuso. — Você não conhece a história? — desta vez quem ficou confusa fui eu — Que eles só chegaram a conhecer a Hayley pelo fato dela ter se mudado de cidade? — tentei parecer convincente, falhando milagrosamente outra vez já que ele sorriu bastante desta vez. ''Mariana, Mariana, cadê o seu poder de controladora?'' pensei enquanto ele ainda sorria pra mim (ou de mim). Eis então que decidi jogar as cartas na mesa logo de uma vez — Afinal, por onde você andava esse tempo todo? Não que fosse da minha conta, de maneira alguma, mas, de toda forma, eu deveria saber o que aconteceu após aquele nosso beijo. Eu merecia saber se ele tinha sofrido como eu sofri. Ou se ao menos se lembrara da garota pela qual lhe deu a chance de não ser rotulado de BV outra vez (ou quem sabe, pelo resto da vida). — Por nenhum lugar onde eu tenha me dado bem, se é isso que você quer saber. — toma, Mariana. Isso é pra você aprender a não ser tão intrometida — Mas… sabe de uma coisa, Mari? — continuou ele, agora me olhando timidamente. Ai, meu Deus! Seguuuura coração! Ele não vai dizer o que eu estou pensando que ele vai dizer, vai? Ai, ele vaaai, vai siiiim, e é agooora — Desde
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aquele dia em que nós… você sabe, nós… quando demos o nosso primeiro… — Beijo? — acrescentei, nervosa. — É, o nosso beijo. — ele sorriu envergonhado e logo corrigiu — Quero dizer, nosso primeiro e último beijo, se é que você me entende. — Ai, Matheus, naquele dia eu não sei onde eu estava com a cabeça, sabe? — ''mas o que é que você está falando, Mariana? Você sempre quis beijá-lo, e agora vem com esse papinho de que…'' — Já não suportava mais ser chamada de BV, e certamente você também não, e eu sei que parecia uma boa ideia na época, mas já passou. É passado. Não se preocupe com isso. Sim, eu tenho milhaaares de defeitos, alguns medos, e vááários problemas. Mas e daí? — Isso não estava me incomodando, Mari, de modo algum. — ele parou para segurar minhas mãos que estavam sobre a mesa — Eu só acho que deveria… — Sei que existe alguma coisa incomodando você. — lancei aquele olhar de ''nunca mais faça isso, certo?'', senti um arrepio constante naquele momento e retirando minhas mãos debaixo das dele senti meu rosto corar. Droga, Mariana, agora não! Tudo bem, eu adoooro pessoas que me deixam sem saber o que dizer, mas… como expressar nas palavras, os gestos que eu queria fazer, as coisas que eu gostaria de ver, os belos amanhecer e entardecer? Vocês sabem, não sabem? Não? Não tem problema, mas, será que ninguém vê o caos em que vivemos? ~ 44 ~
— Nossa... Já são nove da manhã. — falei surpresa, olhando no celular. — Já? — ele pareceu perdido — Parece que nós acabamos de nos sentar. — É o que acontece quando estamos ao lado da pessoa certa! — brinquei, citando uma das frases que eu tinha lido recentemente de um blog chamado ‘’Lições de Amor’’, cujo a autora adorava usar crônicas como desabafo. — Desculpa ter quer sair agora, Mari, mas é que eu preciso ir. Você entende, não entende? — disse ele olhando desesperadamente para o seu relógio de pulso. Era como se o Matheus estivesse atrasado para algo importante, sabe? E é lógico que eu não poderia atrapalhá-lo em uma situação dessas, né? — Claro que não, Matheus, o que isso! — tentei parecer o mais convincente possível desta vez. O que certamente deu certo já que agora ele se encontrava de pé sobre a mesa em menos de dois segundos. — Devíamos nos esbarrar outras vezes, sabia? Adorei conversar contigo novamente, Mari. — ele me deu um beijo na bochecha. — Bobo, também adorei conversar contigo. — não sei aonde eu estava com a cabeça, mas quando dei por mim, estava completamente derretida com aquele beijo (mesmo que tenha sido apenas na minha bochecha). Pelo visto o tempo não mudou nadinha o Matheus, pois ele ainda continuava sendo muito atencioso (sem
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comentar o quanto ele está mais lindo do que aparentava ser). Droga! O que é que eu estou falando? — Acho que para isso acontecer, precisaremos estar mais próximos do que estivemos nesses últimos dias. — ele agarrou um guardanapo e começou a escrever rapidamente com uma caneta esferográfica que se escondia entre os bolsos daquele blusão azul-marinho — Aqui está. — ele me entregou o pedaço do guardanapo — Esse é o número do meu telefone. Me chama qualquer dia desses lá no WhatsApp, certo? — e antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele se virou em direção a placa escrito ''exit'' visivelmente bem destacável, desaparecendo rapidamente entre a multidão. Como o Matheus era atencioso e… inteligente, meu Deus! Como não pensei nisso antes?!
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5 I miss you I miss you so bad I don't forget you Oh! It's so sad. ~ 47 ~
I hope you can hear me I remember it clearly. The day you slipped away Was the day I found It won't be the same.
♫♪ Eu chorava constantemente ouvindo ''Slipped Away'', da minha diva Avril Lavigne antes de entrar na primeira loja (Claro que eu deveria escolher algo meloso para lembrar do Matheus, o que mais eu poderia fazer?), mas não era aquele choro de inundar rios e rios de lágrimas, estava mais para aquele choro de quando você descobre que alguém muito especial decidiu se mudar para bem, mais bem, mais bem looonge mesmo. O que certamente era o caso, já que foi exatamente isso que separou o Matheus de mim. Ele havia mudado de Colégio e não de cidade, é claro, mas já era o suficiente para não nos aproximarmos mais. No entanto, eu chorava por outro motivo. Ou melhor, pelo o que acabara de acontecer. Acredita que depois daquela pressa toda, o Matheus acabou esquecendo de pagar a conta? Era só o que me faltava! Quero dizer, não que eu esperava que ele pagasse a conta, tinha motivos satisfatórios para não pensar em tal coisa, e… Resumindo: não preciso disso.
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Corrigindo: não preciso que nenhum garoto pague coisa alguma pra mim, os cartões de crédito em minhas mãos (melhor dizer, na minha bolsa) era o suficiente para provar isso (pelo menos não enquanto estivesse com eles). Mas, de toda forma, isso só me ajudou a pagar o maior mico na frente dos outros clientes ali presentes. Confesso que acabei não prestando tanta atenção assim se o Matheus havia pagado ou não a maldita conta, por culpa daquele imprevisto e maravilhoso beijo que minhas bochechas receberam a pouco menos de um minuto. E por isso, segui em direção a saída também, logo atrás dele, enquanto guardava o pedaço do guardanapo na minha bolsa. Mas, como vocês já devem ter percebido, antes que eu pudesse chegar até a porta, senti uma mão gelada (caramba, aquela mão era pra lá de gelada) segurar fortemente o meu braço. — Aonde a senhorita pensa que está indo? — ela me encarava toda eufórica. — Ora essa! Quem a senhora pensa que é pra me agarrar desse jeito? — eu a encarei bufando de raiva — Poderia me soltar, por favor? A senhora está me machucando. — Primeiro que eu não penso, eu sou a dona dessa sorveteria. — então começou a soltar o meu braço lentamente enquanto falava — E segundo, a senhorita não acha que seria melhor pagar o que deve primeiro, ao invés de sair sorrateiramente sem me pagar? Foi nesse momento – e da pior forma possível – que me lembrei que ainda não havíamos pagado a conta. ~ 49 ~
— M-me perdoe-me, m-minha senhora! E-eu juro que não pretendia fazer isso… — tentei dizer, enquanto o meu rosto corava diante dos olhares que me cercavam. Fiquei completamente vermelha como um pimentão nessa hora. Senti tanta vergonha. Até gaguejei. No mesmo instante, retirei os cartões de credito da minha mãe de dentro da minha bolsa, deixando-os visivelmente a mostra. — Que tipo de garota é você, afinal? — a dona daquela espelunca me encarou de cima a baixo quando finalmente paramos. Odeio quando as pessoas fazem isso! — Você pretende pagar os dois milk-shakes com cartão de crédito? — E porque não? — dei de ombros — Vocês não aceitam cartões de crédito como forma de pagamento, é isso? Ela me encarou por um tempo como se eu fosse uma alienígena, antes de abrir a boca outra vez e dizer: — Ainda estamos no século XXI, garota, não me diga que não tenha nenhum trocado nessa sua bolsa? — Não senhora! — objetei. — Mas é claro que não, garota. Afinal, para quem não tinha a mínima intenção de sair sorrateiramente sem pagar, até que você me enganou direitinho, sabia? — me senti ofendida com o seu comentário. O que ela quis dizer com isso, afinal? — Isso significa que não? — tentei não parecer medrosa perante essa situação. Além do mais, não estava nos meus planos ter de lavar louças como forma de ~ 50 ~
pagamento. Não que eu não tenha lavado louça uma única vez na vida, mas, por dois míseros milk-shakes? Isso era o apocalipse! Aos finais de semana minha mãe sempre dizia: — Hoje é o seu dia de organizar o apartamento, Mariana. — aquela voz autoritária de sempre — Assim, você evitará… Chega! Essa já é uma outra história que não vem ao caso. Quero dizer, prefiro não comentar isso agora, certo? Tenho coisas mais importantes para resolver no momento. Eu ficaria presa naquele lugar por culpa de dois míseros milk-shakes? É isso mesmo, Brasil? Que espécie de lugar é esse que não aceita cartões de crédito como forma de pagamento? Matheus, seu filho de uma vaca gorda, olha só no que você me meteu? – pensei exasperada. A dona daquela espelunca me encarava com tanta frieza, que comecei a imaginar que ela não só me colocaria para lavar as louças, como também, me obrigaria a lavar o chão. E o pior, com uma escova de dentes nas mãos, igual as vilãs dos meus livros fazem com as princesas. Argh! Me arrepiei só de pensar. — Olha, garota, o número de clientes que tentam me passar a perna é do tamanho de um oceano, e eu até já perdi as contas de quantas vezes tentavam me enganar com suas desculpinhas esfarrapadas. — ela me encarou ~ 51 ~
severamente — Mas desta vez eu não usarei a máscara de cidadã boazinha, quero dizer, ou você paga com dinheiro vivo, ou então, terá que… — o telefone fixo em cima do balcão a interrompeu tocando escandalosamente — …só um minuto. — ela agarrou o telefone e o colocou sobre a orelha — Sorveteria do Amor, em que posso ajudar? — ela parecia uma secretária enraivecida por ter que passar a maior parte do tempo atendendo aos telefonemas de uma empresa (e… como assim 'sorveteria do amor'? Ali não tinha nada de amor, principalmente na forma como fui tratada) — Sim. Entendo. Claro. Pode deixar. Não, senhor Figueiredo, já compreendi o ocorrido. Certo. Obrigada. — e desligou agarrando um bloco de anotações. Era impressão minha, ou ela disse ''senhor Figueiredo'' ao telefone? — Você está liberada. — e finalmente me olhou, após ter guardado o seu bloco de anotações — Pode ir embora, garota. — Posso? — eu meio que quase gritei ao dizer isso. Isso significa que eu não teria que lavar nadinha de nada, e muito menos esfregar o chão. Não que eu fosse esfregálo se caso não tivesse sido liberada dessa forma. Hello? Os cartões de credito foram feitos para o quê então? Certamente eu teria que ser liberada, de um jeito ou de outro, mas… como assim? O que aconteceu para fazê-la mudar de opinião de uma hora pra outra? — Como assim eu posso ir embora? — perguntei um pouco apreensiva. ~ 52 ~
— Para a sua sorte, o senhor Figueiredo me ligou e alertou sobre o ocorrido e disse que seu filho havia sido convocado para uma reunião importantíssima da empresa, mas que acabou se atrasando um pouco. Disse também que o jovem revelou por onde andava antes de aparecer por lá e que no embalo acabou esquecendo de pagar a conta. Neste caso, o que eu creio, você estava acompanhada do filho do senhor Figueiredo, e pelo que entendi, você não tem culpa de nada. Ele me ligou para acertamos a conta, e acrescentou que você não tinha culpa do que aconteceu porque foi convidada. Obviamente devem ter se lembrado dos meus bons modos de recepção com certos tipos de clientes que saem sem pagar a conta. — e sorriu de si mesma antes de continuar — Adorável o senhor Figueiredo, você não acha? — e me encarou aliviada. Matheus, seu filho de uma vaca gorda, eu poderia te matar por ser tão burro e tão inteligente ao mesmo tempo, sabia? Aliás, como você fez isso? — Não vejo porque te manter presa aqui, garota. — a moça ainda estava sentada em sua cadeira antes de se levantar — Como eu disse, e repito, pode ir embora. Não consegui responder, apenas tentava assimilar o quão bonito e atencioso o Matheus era. Foi então que recoloquei os meus fones de ouvido e soltei a faixa melosa da minha diva Avril: Slipped Away. ♫♪ ♫♪
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— Você tem o que eu quero? — perguntei um pouco sem paciência para a vendedora que me encarava como se eu tivesse entrado na loja errada. Ela já estava me deixando um pouco estressada. — Acho que sim! — ela parecia confusa — Não compreendi nada do que disse enquanto chorava. Será que você poderia repetir novamente? Era só o que me faltava! Além de ter passado um sufoco danado naquela maldita sorveteria do 'amor' (que não tinha absolutamente nada de amor ali), ainda por cima eu tinha que fazer a minha entrada triunfal pela loja aos prantos?
_________________________________ * ''Sinto sua falta/ Eu sinto a sua falta/ Eu não esqueço você/ Ah! É tão triste.//Espero que você possa me ouvir/ Eu me lembro claramente.// O dia em que você partiu/ Foi o dia em que eu percebi/ Que nada mais será igual.''
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6 — Ei, garota, eu estou falando com você! — a vendedora de cabelos loiros me lançou um olhar tão reprovador, que eu a amaldiçoei por ter feito isso — Será que você poderia repetir o que disse? Deixei o assunto de lado assim que olhei para a vitrine. Ah! Tantos modelos, tantas possibilidades ao meu alcance — desde que parcelassem no cartão de crédito, claro. Sentia-me como uma criança numa loja de brinquedos. ~ 55 ~
— E-eu q-queria saber se chegaram os novos modelos de blusas Modas Fashion? — tentei não gaguejar, enquanto limpava as lágrimas. Mariana, Mariana, o que deu em você? Está mais fresca do que o normal, sabia? — Porque não disse isso antes? — prosseguiu a vendedora enquanto sorria gentilmente — Venha! É por aqui. — e me mostrou as imensas pilhas de blusas presas em cabides. — Sinta-se a vontade. — e me deixou sozinha. Fiquei ali parada, diante das múltiplas opções. Todas as blusas eram da Paramore, o que me deixou ainda mais indecisa no quesito ter que escolher apenas uma. Droga, Mariana! Nesse momento lembrei-me de uma frase que a Eloísa costumava dizer sempre que desejava algo além do que era capaz de pagar, enfatizando como era duro ser pobre: — Ai, sua besta! Duro não é ser pobre, Mariana, duro é ser pobre e ter bom gosto! Não levou mais de dois segundos para que outra vendedora – agora de cabelos castanho-claro – aparecesse ao meu lado. — Procurando por algum modelo em especial, querida? — ela perguntou com sua voz suave. — Hum... Não. Quero dizer… Sim! — Me sentirei útil em ajudá-la. — um sorriso transpareceu em seu rosto de porcelana. ~ 56 ~
— Estou a procura de um modelo novo, sabe? Da melhor Banda que esse mundo já viu. A banda das bandas. A única banda que possui uma vocalista linda, carismática, linda, e com uma voz maravilhosamente impecável-avassaladora e de anjo. Ela também é responsável por essa belezura de cabelo que é o meu. — soltei de uma vez só, sem recuperar o fôlego — Já ouviu falar na Paramore? Eu ri e esperei que ela fizesse o mesmo, mas a vendedora de cabelos e olhos castanho-claro e bonitas feições não achou graça na minha brincadeira. Seu rosto de repente ficou pesaroso e eu comecei a ficar um pouco tensa. — Você tem o que eu quero? — perguntei um pouco apreensiva. Ela estava me deixando um pouco estressada. — Acho que não entendi o que disse, mas pelo o que notei, você procura algo relacionado à Paramore, não é mesmo? — e me lançou um olhar de súplica. Assenti com a cabeça. Um sorriso apareceu em seu rosto novamente. — Certo. — e me entregou os diversos modelitos novos, me indicando os provadores ao nosso lado esquerdo logo em seguida — Sinta-se a vontade. — e me deixou sozinha. Segui rumo ao provador e me tranquei lá dentro. Só Deus sabe como eu adoro experimentar roupas. Experimentar, comprar, tudo isso me deixa alegre. Eu nasci pra ser consumista, e definitivamente tinha sido ~ 57 ~
feita pra ficar horas e horas trocando de roupa pra me olhar num espelho. Como sempre, depois de provar milhões de peças de roupa, todas elas pareciam perfeitas pra mim, o que certamente me fez ficar em dúvida em qual delas escolher. Afinal, eu não poderia comprar mais do que o esperado, minha mãe saberia quando fosse tirar o extrato bancário, por isso apenas uma delas teria que servir! Eu não tinha tempo para escolher, mas ainda me restava muita paciência pra arranjar alguma coisa nova, única e original, sabe? Nesse momento, Eloísa me ligou, causando-me um pequeno susto. Certamente ela queria detalhes sobre eu ter ou não conseguido a blusa da Paramore. Contei tudo o que aconteceu durante o caminho até a loja: da conversa desnecessária com a dona da soverteria minutos depois do encontro com o Matheus, sobre o seu número de telefone registrado no guardanapo, e até o momento em que ele se demonstrou satisfeito por me encontrar dentro do ônibus. — E se ele não me ligar? — perguntei insegura. Afinal, depois que o Matheus se mudou para um outro colégio, dificilmente tínhamos um assunto decente para dialogar no dia seguinte. — A vida segue, você não vai morrer e, bonitona do jeito que é, vai encontrar alguém rapidinho. — Eloísa não me pareceu nada eletrizante como imaginei que ela ficaria assim que contasse a ela sobre o meu reencontro com Matheus — Alguém que valha a pena, é o que quero dizer.
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— O Matheus vale muito a pena! — garanti, convicta de que o Matheus é um cara diferente comparado a todos os outros garotos que conheci depois dele ter me abandonado. — Ai, sua besta! Você entendeu o que eu quis dizer, não entendeu? — ela berrou, furiosa. Respondi que sim — Então, porque é que você complica tanto? — Quem está complicando algo nessa história não sou eu, sua espertalhona. Eu só disse que o Matheus era o cara certo. E foi você quem veio mudando de assunto. — tentei parecer normal, não gosto de dar sermões por telefone. Principalmente se tratando da Eloísa no outro lado da linha. — Tudo bem, chega de conversa fiada. Sabe o que você poderia fazer, Mariana? Não sei se você se lembrou, mas, amanhã é o meu aniversário. Caso queira aproveitar a oportunidade de estar em uma loja, você bem que poderia escolher um modelito ao meu alcance, sabe? Não quero passar despercebida no baile de formatura. Principalmente porque você também estará lá. Ah, e não precisa embrulhar no papel de presente, tá? Só de ganhar algo escolhido por você já é o suficiente. — Eloísa parecia não ter controle sobre seus lábios, e continuava a falar feito uma matraca — Ai, vai ser tão legal. Você vai ver o quanto é divertida a galera que costuma frequentar os bailes e… — enquanto ela berrava do outro lado da linha, um flash-black veio a tona. Da última vez em que decidi comparecer ao um evento como este, foi como se minha vida tivesse ~ 59 ~
acabado para sempre (literalmente). E eu me lembro vagamente desse maldito incidente. Como eu poderia esquecer? Foi em 2011, e, se não me falha a memória, meus longos cabelos já estavam distribuindo seu novo tom laranja para a sociedade. Lembro-me que a maioria do pessoal do colégio ficaram surpresos. Alguns chegavam a dizer: — Aonde a sua mãe estava com a cabeça quando lhe permitiu fazer um estrago desses, Mariana? — com a maior cara-de-pau. Recordo de ter dado uma resposta que os fizeram calar no mesmo instante. No entanto, quando os apresentadores do evento anual estavam prestes a revelarem os escolhidos para os títulos de Rei e a Rainha do Baile, o terrível aconteceu. — E os vencedores ao título de Rei e a Rainha do baile são… — o nosso querido Diretor seguia com seu discurso, agora tentando fazer um pouco mais de suspense — …Matheus Figueiredo e Mariana Carey. — e todos começaram aplaudir. Sim, isso parecia ser ótimo! Vai por mim. — Eu GANHEI! Eu GANHEI! — lembro-me de ter gritado feito uma idiota, modéstia parte. Tá, tudo bem! Era só um baile da quinta série, mas, e daí? Eu tinha ganhado, e era isso que importava naquele tempo. Pela a primeira vez na vida eu tinha ganhado alguma coisa. Tudo parecia uma maravilha, até que… ~ 60 ~
— NÃÃÃÃO!!! — gritou alguém, antes mesmo de eu ter noção do que estaria prestes a acontecer. E o pior, comigo! Claro, tinha mesmo que ser comigo, não é mesmo? No teto do salão de festas havia uma corda (daquelas que as crianças usam para brincar de pular, sabe?) e um balde preso, obviamente, nela. E, antes que eu conseguisse pensar em alguma coisa, alguém puxou a maldita corda. Sim! Era uma ARMADILHA. E é lógico que euzinha aqui era a vítima. Para o meu total constrangimento, o líquido que haviam colocado ali dentro daquele maldito balde não era uma simples água gelada (pelo menos eu acreditava ser um balde de água fria). Mas, não! Era pura graxa. Sim, sim! G-R-A-X-A. Imaginem o nível de crueldades que essa pessoa é capaz de exercer. E o pior, comigo! Sim, isso foi pior, muito pior! — …você sabe, Mari, desta vez você não precisará se esconder daquele maldito balde de graxa. Ainda me lembro bem quando lhe deram aquele banho nojento na hora da coroação. — Eloísa finalizava, adivinhando os meus pensamentos — Da última vez em que você não compareceu ao baile estudantil, o grupinho dos populares escolheram outros nerds para zoarem. — Como? Quer dizer então que se eu tivesse comparecido nos eventos seguintes, eu continuaria ~ 61 ~
sendo a vítima? — eu a interrompi, incrédula com tudo aquilo, imaginando o tamanho da maldade que pretendiam fazer comigo. Pelo menos uma vez na vida eu tinha que ter tomado a decisão certa, não é mesmo? Tipo, não comparecer mais em Bailes de Formaturas?! — Se você quer saber o que eu acho sobre isso, Mari, pois saiba que eu só tenho uma palavra a dizer: esqueça. Desnecessário recordar esse incidente toda vez em que você tiver que ir a um evento desses. Claro que a Eloísa deveria me compreender e tudo mais, me tranquilizando e dizendo o quanto eu estava certa em não comparecer a tipos de bailes novamente — principalmente depois de tudo o que fizeram injustamente com a minha pessoa —, mas… é claro, com o título de minha melhor amiga, Eloísa tinha sempre que me colocar para cima. Embora, definitivamente, não acho sensato pensar que o fato de os miseráveis causadores do meu sofrimento na época terem escolhido outro pobre inocente para elaborar – e por em prática – seus maquiavélicos planos diabólicos, significa que eu deveria esquecer algo tão INESQUECÍVEL assim, de uma hora para outra. Impossível. — Pare de ser cara-de-pau, Eloísa! Eu irei compra um presente pra você sim, afinal, somos melhores amigas, certo? Mas não precisa me recordar sempre, não é mesmo? Assim, perde toda a graça do presente surpresa, você sabe.
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7 — Ai. Meu. Deus! — eu disse, perplexa com o que os meus olhos viam. Não pode ser! Não pode ser! NÃO PODE SER! — O que aconteceu, amiga? Me conta? — Eloísa notou a mudança radical no meu tom de voz — Amigaaaa, você está ai? — Elô, você não vai acreditar no que eu acabei de descobrir. Ou melhor, no que estou vendo. — eu disse, tentando notificá-la do grau da situação.
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Havia acabado de experimentar os novos modelitos da minha banda predileta, com exceção apenas de uma peça. E esta, estava nas mãos de uma certa concorrente. Só que desta vez, não era uma concorrente qualquer, era a própria Letícia Gomes. Em pessoa. E sabe o que me deixa ainda mais indignada com toda essa situação?! O fato de que o único modelito que restara, a qual eu ainda não havia provado (e que eu desejava debilmente) estava em suas mãos. Por quê? — Amigaaaa, você está me ouvindo? — ignorei qualquer possibilidade de ter que dar detalhes para minha amiga e, aproveitando os berros de Eloísa, desliguei o meu aparelho olhando para a vendedora, a única ali desocupada, que se aproximou com um sorriso no rosto e disse: — Já escolheu qual desses devo embrulhar, querida? — e eu continuei interpretando meu lindo papel de pedra, paralisada bem ali na sua frente por um bom tempo, ainda não acreditando no que os meus lindos par de olhos me revelavam. Porém, eu já havia tido tempo o suficiente para planejar mentalmente o que viria a acontecer nos próximos quinze minutos. — Sim! — me ouvi dizer, segura do que eu estava prestes a fazer — Eu já escolhi o que vou levar, moça.
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— Aqui está! — sorri, enquanto a moça do caixa me devolvia os cartões de credito e eu segurava com as minhas próprias mãos a sacolinha de plástico obtendo o meu novo item da banda — Tenha um belo dia, querida, e volte sempre. Agradeci e, para evitar que o meu plano fosse por água abaixo (ou, talvez, antes que o meu plano pudesse vim a ser descoberto), escapei do local o mais rápido que pude. De maneira alguma eu poderia ser desmascarada ali dentro daquela loja. Justamente naquela loja, onde eu sempre posso me gabar por ser uma das clientes mais consumistas. Lógico. Quando tornei a ligar o meu aparelho celular, descobri que havia me metido em uma bela enrascada: Você tem 52 ligações perdidas E para tornar toda essa situação em uma catástrofe ainda maior, lógico, a maioria das ligações eram da minha mãe (45 ligações perdidas para ser mais exato. As outras 7 ligações perdidas eram da Eloísa). Entre retornar para o número da minha mãe e da Eloísa, preferi a segunda opção, claro! Pois, já que eu supostamente iria ganhar uma bela de uma bronca, porque não adiá-la por mais alguns míseros minutos, não é mesmo? Ao menos assim eu poderia recebê-la pessoalmente.
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Liguei de volta para a minha amiga, na tentativa de colocá-la a par dos acontecimentos atuais, cometidos por, nada mais nada menos do que, eu mesma. — O que foi que aconteceu para você ter desligado assim na minha cara? Ou melhor, por qual motivo você está me retornando mesmo, depois de ter feito o que fez? — Eloísa estava obviamente brava comigo pela atitude que tomei — Lembrou que tem uma amiga, foi? — Oi pra você também! — resolvi abrir a boca assim que ouvi a voz da minha amiga — Perdoe-me por ter desligado na sua cara, mas é que infelizmente (e totalmente contra a minha vontade) tive um belo de um imprevisto imenso, sabe? Do tamanho do Monte Everest, eu creio. Juro. Ok. Talvez eu não devesse usar justamente essa figura de linguagem, mas, que culpa eu tenho se constantemente uma das minhas figuras de linguagem a qual uso com frequência é exatamente a Hipérbole? — Como assim, do tamanho do Monte Everest? — minha amiga quis saber, supostamente curiosa. É como eu digo: a curiosidade sempre fala mais alto que a razão. E é exatamente aí que entre mais um dos motivos pelo qual adoro usar essa figura de linguagem: o fato dela ser obviamente a isca perfeita para que eu possa fisgar a Eloísa de volta para o meu lado do campo de batalha. — Amigaaaa, pelo amor de Deus, me diga o que realmente aconteceu? Não disse?! ~ 66 ~
— Você nem imagina o que aconteceu, Elô. — disse, quando eu finalmente havia chegado no ponto de ônibus. Certamente esse era o único ponto mais próximo do local onde eu me encontrava, e de maneira alguma eu iria caminhar mais do que cinco quilômetros a pé. — Ai, sua besta! Para de enrolar e me conta logo o que foi que aconteceu, você está acabando com as minhas unhas, sabia? — ouvi-a dizer enquanto me posicionava no banco de espera, olhando vagamente para os lados, na esperança de que o próximo ônibus não enrolasse tanto. — Que culpa eu tenho se toda vez que sua curiosidade fala mais alto, você torna a roer as unhas? — tentei me defender, aliás, eu não tinha nada haver com isso, certo? — Mas, mudando de assunto (ou melhor, voltando nele), acredita que acabei me encontrando com a Letícia dentro de uma das lojas a qual costumo ir com frequência? — admito, tentei fazer um pouco de suspense, mas Eloísa precisava saber assim, de uma vez por todas. E de uma só vez, é claro. — A Letícia? Você se esbarrou com a Letícia Gomes? — notei o grito de indignação da Eloísa do outra lado da linha, com sucesso. Se tem uma coisa que eu posso confiar é: nas reações que consigo causar na minha amiga — Aquela víbora nojenta, repugnante, que se acha a maioral e que, inclusive, foi a responsável pelo incidente do balde de graxa que evidentemente foi proposital? — Exatamente, amiga! A própria. — confirmei, com todas as letras. ~ 67 ~
— E o que aconteceu? Conta logo, Marianaaaaa… — tive que afastar o aparelho celular do meu ouvido para não prejudicar os meus pequeninos e sensíveis tímpanos, evitando, também, qualquer problema de audição futuramente, é claro! — Tudo bem! Eu conto! — respondi em meio aos berros da Eloísa — Foi o seguinte, quando eu estava prestes a segurar a tão sonhada blusa da minha banda de rock, eu a vi. Sim, eu tive um treco na hora, mas me saí bem! Digamos que coloquei o meu Super-Cérebro para funcionar e exatamente nessa hora tive um plano cujo resultado foi estupendo. — contei tudo para ela, detalhe por detalhe. Porém, Eloísa pareceu não acreditar quando lhe contei que fingi ser uma das funcionárias da loja: — Como assim, você se disfarçou de funcionária da loja? — o tom de sua vóz revelava total surpresa — Duvido, amiga! — ela parou de falar por um instante, enquanto parecia recuperar o fôlego — Se bem que, para conseguir a famosa blusa da Paramore, tenho certeza de que você realmente é capaz de qualquer coisa. Digo isso porque te conheço muito bem. Aliás, sou a única garota neste mundo que te conhece bem, e por isso eu vou lhe dar um crédito e fingir que acredito, tá? — e logo em seguida começou uma crise de risos do outro lado da linha e, evidentemente, eu sorri junto. Mais pela gargalhada do que pela a piada, eu confesso. — Bom, também irei fingir que não estou brava e contar que o que aconteceu depois foi maldade da minha parte. — realmente eu me senti culpada por uns ~ 68 ~
instantes, mas, quando a lembrança do balde de graxa veio a tona, passou. — Por que… você está… dizendo isso? — quis saber Eloísa, quando por fim recuperou o fôlego perdido pela crise de risos — Porque está se julgando um ser maldoso? — Eu não queria fazer isso, mas… — desabafei total, colocando-lhe a par dos mínimos detalhes. Contei como consegui a blusa, e por fim, a frase fenomenal que a Letícia disse quando descobriu que eu havia trancado-a dentro do provador: ‘’Hei? Qual é o seu problema, garota? Me tira daqui, agooooraaaa’’ — Você tinha que ter visto, Elô, foi hilário. E o melhor, acredita que a víbora maldita nem me reconheceu? Fiquei chateada por isso. Brincadeirinhaaa. Na verdade até que foi super útil ela não ter se lembrado, ela acabou colaborando ainda mais no meu suposto plano de matê-la presa em um daqueles provadores. No fundo, no fundo, eu sentia uma raivinha por aquela víbora maldita não ter, ao menos, conseguido se lembrar de mim. Como isso é possível? Bem, na verdade isso é bem possível mesmo, se tratando daquela ali. O que só pode significar uma coisa: ela é oficialmente um ser sem cérebro. Obviamente, também não iria dar à cara a tapa indo na direção dela e dizendo: ‘’Oi, querida, lembra de mim? Sou aquela garota que você derramou um balde cheinho de graxa. Se lembra? Não? Melhor, eu vou soletrar então para ver se você consegue me entender: G-R-A-X-A. ~ 69 ~
Muito obrigada pelo presente dos velhos tempos, tá? Você não sabe o quanto foi desagradável retirar toda aquela graxa do meu lindo e sedoso corpinho. Acredita que o que você fez acabou me ajudando? É verdade. Veja! Veja com seus próprios olhos’’. Sim, eu reconheço que estou sendo bastante abusada (bastante é pouco, isso é verdade), mas, só de quebra, eu ainda teria a honra de cantarolar a minha versão da cantora Kelly Key: ‘’Baba, baby! Baby, baba, baba!’’. Segundo o velho ditado popular: ‘’quem apanha nunca esquece’’, certo? Não que eu não quisesse dar um soco no meio daquele focinho magrelo dela, claro. Mas, diferente dela, a minha mãe tinha me dado alguma educação. Para a minha tristeza, a bateria do meu celular apitou, alertando-me que em breve descarregaria, me deixando completamente sem opção sobre: ‘’o que fazer dentro do ônibus durante todo o trajeto de volta para casa?!’’. — Amiga, vou ter que desligar porque o traidor ameaçou descarregar a qualquer instante. Te mando mensagens assim que chegar em casa. — eu disse, enquanto observava um deus grego se aproximando. — Aaaah nããão, eu queria muito poder ver a tal blusa que você supostamente raptou daquela víbora merecedora de todos os males dessa terra. Ou seria melhor usar a palavra: ‘’sequestrou’’? — e mais uma vez ela sorriu do outro lado da linha, me fazendo rir com ela. O garoto lindo acabou sentando no mesmo ponto de espera onde eu aguardava ansiosamente pelo primeiro ~ 70 ~
ônibus que passasse. Porém, ao me ver sorrir, ele sorriu de volta, esperançoso. Como se eu tivesse dado alguma chance pra ele. Aiii, meu Deus! Cadê o ar quando eu preciso dele? — Amiga, você não vai acreditar no… — sussurrei, tentando mais uma vez notificar Eloísa dos atuais acontecimentos da minha vida. No entanto, antes mesmo que eu pudesse dizer mais uma palavra sequer, o maldito aparelho descarregou. Fiquei sem saber o que fazer, agora que havia um deus grego me encarando. Fixamente. Ele vestia roupas leves, como se acabasse de sair da academia. E o seu corpo maravilhosamente escultural apenas apontava que eu estava certa mais uma vez. Pensei em dizer algo, mas meu raciocínio lógico não me permitiu dizer uma palavra sequer, ou que eu fizesse qualquer tipo de atrocidade insana no momento. Prefiro chamar isso de: Alerta! Não cometa nenhuma burrada, Mariana. O que obviamente iria acabar acontecendo ao deixarem esse maravilho, encantador, e impecável deus grego na minha frente. E ainda por cima me flertando, imagine só! Porém, não sei se devo chamar isso de: sorte, salva pelo gongo, ou azar. Pois, nesse mesmo instante, o ônibus apareceu à vista e estacionou bem na nossa frente. Alguns passageiros desciam enquanto eu me levantava do banco de espera e, ao notar que não havia mais ninguém do nosso lado, ele se aproximou mais. Meu coração deu um salto mortal e eu até pensei que ele poderia mesmo sair ~ 71 ~
pela boca, mas o que aconteceu em seguida supostamente não estava no roteiro que eu vinha imaginando há alguns segundos atrás. — Ei? — acredita que ele esticou as mãos e me roubou? Digo, sequestrou o meu único e insubstituível aparelho celular? — Devolve. — gritei, enquanto tentava assimilar o que realmente estava acontecendo — PERDEU! PERDEU! — sua voz era sexy, porém, eu não deveria de modo algum me importar tanto com isso — Passa a sacola! ANDA! — Ladrããão. — exatamente nessa hora em que eu gritava ensurdecidamente, rapidamente ele enfiou, entre a virilha, a outra mão que estava obviamente livre, me deixando um tanto curiosa em relação ao volume transcendente ali dentro (não me entenda mal, oportunidades como essa não se encontra em qualquer esquina, acredite!), mas o arrependimento bateu na minha porta no segundo seguinte. Eu julguei o livro pela a capa. Ou melhor, esse marginal pela definição esbelta do seu escultural e bem definido corpo. Pior coisa que já fiz em toda a minha vida. Mariana, Mariana, você é burra, é? Revelando-me sua arma, logo após retirar sua mão daquele local, ele a apontou em minha direção enquanto me arrancava à sacola cujo novo modelito da minha banda estivera. Eu só consegui dizer uma palavra apenas: — SOCORROOO! — gritei, totalmente apavorada com aquilo, enquanto observava desesperadamente aquela beldade maligna desaparecer de vista com o meu ~ 72 ~
Ăşnico e insubstituĂvel aparelho celular nas mĂŁos. E o pior, com o novo item da minha banda junto. E bem na minha frente.
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8 Quando cheguei em casa, não encontrei minha mãe em lugar algum. O que é totalmente estranho de se acontecer em dias não tão bem ensolarados como o de hoje. Procurei em todos os cômodos existentes em nossa casa, mas nenhum sinal sequer da minha mãe. Decidi ir até a cozinha. Se tem um local ao qual posso recorrer em situações como esta é a cozinha, pois, mantemos o velho hábito de deixar recados quando uma de nós não estivera presente no momento e, adivinhem só o que a minha mãe havia deixado escrito no bilhetinho pendurado na porta da geladeira? ~ 75 ~
Mariana, porque você não atende esse maldito aparelho celular? Do que adiantou gastar toda aquela fortuna se esse maldito aparelho não é utilizado quando (e como) realmente precisamos? Minhas aulas para tirar a carteira de motorista começaram hoje e eu, com tantas coisas na cabeça, acabei esquecendo de lhe avisar. Provavelmente eu voltarei mais tarde hoje e, por esse motivo, lhe dou permissão para que você prepare o jantar (caso não escolha morrer de fome). Me deseje sorte! Bjs, mamãe. P.S.: Sobre os meus cartões, assim que eu voltar quero vê-los inteirinhos e intactos, estamos entendidas? E nem pense em querer esconder os extratos porque eu também pretendo vê-los, ok?
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Quero nem ver qual vai ser a reação da minha mãe quando ela descobrir que o meu aparelho celular foi roubado no ponto de ônibus. Ainda bem! Pelo menos assim eu não ficarei de castigo quando minha mãe resolver confiscar o meu aparelho exatamente por eu não ter feito o que combinamos: jamais perder uma de suas ligações. Não que eu gostasse da ideia de ter perdido o meu único e insubstituível aparelho celular, eu perdi 1.384 faixas de músicas, e entre a maioria delas eram justamente da minha banda preferida, mas quando se é forçada a escolher entre entregar o meu aparelho e me salvar, ao invés de ficar com ele e levar um tiro, fico com o: prefiro não correr nenhum risco. Apesar de que ele já tinha roubado o meu aparelho celular antes mesmo de me apontar àquela arma. Tudo bem que eu ainda tenho um iPod para ouvir minhas faixas, mas, porra, era o meu celular! A catástrofe perfeita mesmo foi ter perdido o único modelito da minha banda de rock predileta que, estranhamente, estava nas mãos da minha pior arquiinimiga (não que eu tivesse outras, claro). E olha que eu sou dessas que não acreditam em destino e, muito menos, em coincidências. Mas… Do que me adiantou se, no final, acabei ficando sem poder usá-lo? Qual foi a lógica de ter me fantasiado de funcionária da loja e ter prendido a Letícia se, no fim, nenhuma de nós duas podemos usar o modelito? ~ 77 ~
Bem, acho que adiantou sim, pelo simples momento de vingança (pois é, também acho que passei tempo demais assistindo o seriado da Emily Thorne. Qual é mesmo o nome? Ah, sim: Revenge). Aquela víbora realmente merecia, mas, a minha mãe não merecia pagar por algo que eu não usarei. O que eu vou fazer quando a minha mãe decidi ver o modelito? E o que eu mostrarei a ela? Qual a desculpa que eu vou ter de inventar quando isso realmente acontecer? Só perguntas e nenhuma resposta que pudesse me consolar no momento. Resolvi deixar os cartões de crédito da minha mãe em cima da cama. Obviamente dentro do quarto dela. E logo após me hibernei dentro do quarto. Desta vez no meu, é claro. Neste momento, eu não queria ver ninguém, não queria falar com ninguém, e muito menos ouvir alguém dizer abobrinhas pelo resto da tarde. Eu podia fazer isso se eu quisesse, pois, segundo o bilhete, minha mãe chegaria muito tarde hoje. Aleluia! Por esse motivo, me joguei na cama com tudo, como se naturalmente esse fosse o único objeto no mundo capaz de transmitir paz e tranquilidade em situações desagradáveis. Foi quando eu apaguei.
♫♪♫♪ A luz do sol inundou meus olhos e senti o cheiro de café recém-coado. Minha janela estava aberta, com a ~ 78 ~
cortina escancarada, a luz do sol estava batendo na metade da minha cama. — Mãe! – resmunguei. Ela havia aberto a janela em uma tentativa de me acordar. E conseguiu. — É hora de acordar, Bela Adormecida. — ela anunciou enquanto retirava o edredom macio de cima de mim. — Deixa eu dormir só mais vinte minutinhos? Por favor, por favor, por favor! — disse aos bocejos. Eu estava super cansada e mesmo eu tendo dormido mais do que o normal ainda me sentia como se acabasse de deitar. — Não posso, querida! — ela sorriu ao perceber que sua filhinha estava recentemente acabada — Preciso que você faça um favor para mim antes. Eu sabia! Minha mãe nunca se encaixou no papel de ‘’vamos despertar porque o dia está lindo’’, ou de qualquer outra maneira parecida. Exceto, quando precisa de algum favor meu. — Quero que você vá até a panificadora da esquina e compre alguns biscoitos de queijo. — Pede para a Matilda, mãe. — sugeri. Matilda é nossa empregada. Não que eu goste de tratar as pessoas com arrogância, mas, o fato é que a Matilda é quem sempre compra o nosso café da manhã. Porque a minha mãe decidiu me acordar justo hoje? Será que, ela descobriu?
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— Hoje é folga da Matilda, filha. — ela insistiu, me jogando um balde de água fria. No sentido literário, claro! Eu havia me esquecido de que hoje era sábado, e que supostamente esse é um dos únicos dias em que a Matilda não trabalha. Azar o meu, lógico! — Tudo bem, mãe! — concordei, ainda discutindo com o meu inconsciente que desejava desesperadamente dormir por mais algumas horas — Vou só vestir uma roupa decente, tudo bem? — Claro, filha! — e me deixou sozinha no quarto — O dinheiro está em cima da geladeira. Eu ainda estava com o mesmo modelito de ontem, pelo simples fato de ter apagado e por isso não tive tempo de colocar o meu pijama. E isso, provavelmente, me deixou feliz já que eu não tinha mais o porquê de me trocar. E ela nem estava tão amassada assim. Fiz a minha higiene matinal de sempre antes de sair rumo à panificadora. Passei pela cozinha para pegar o dinheiro que estava em cima da geladeira, segundo minha mãe havia mencionado antes de entrar no elevador. — Ei, filha! — ouvi a voz de minha mãe vindo da varanda dos fundos, e, pelo que notei em sua sombra, ela parecia estar segurando uma xícara — Você vai mesmo deixar a sua mãe morrendo de curiosidade em relação ao seu novo modelito? Droga! Eu não podia contar a ela. Não agora! ~ 80 ~
— Assim que chegar eu lhe mostro, mãe. — tentei parecer convincente, e rapidamente fechei a porta atrás de mim. Eu não poderia esperar por nenhuma outra pergunta óbvia, já que o timbre da minha voz me ameaçava falhar a qualquer momento. O dia estava realmente desagradável, o sol estava muito quente e desconfortável e uma brisa suave trazia o perfume das flores da pequena praça próxima ao meu prédio – embora um pouco de poluição no ar fizesse parte do pacote. E, para piorar ainda mais a situação, um aroma de comida no ar fez meu estômago se agitar fora do normal quando a lembrança de que eu tinha dormido sem jantar ontem à noite me veio à cabeça. Passei pela praça e notei com estranheza, que haviam poucas pessoas ali. Normalmente, sempre ficava cheia de ciclistas e pessoas fazendo suas corridas, famílias com seus filhos correndo na grama e até cachorros levando seus donos para um passeio matinal. Naquela manhã, porém, estava quase deserta. Talvez por que já estivesse perto da hora do almoço, pensei. Entrei na panificadora e, estranhamente, também estava vazia, apenas uma vendedora ali sem cliente algum. Será que era feriado ou coisa assim e eu não estava sabendo? No entanto, lá estava ele. Meus Deus! Se tivessem me avisado, eu teria acordado mais cedo pra arrumar melhor o cabelo! Mariana, o que você está fazendo com essa roupa sem
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graça? Por que eu não passei perfume? Minhas olheiras devem estar terríveis! Mas o que está acontecendo comigo? Desde quando eu me importei com isso? Matheus, seu filho de uma vaca gorda. Porque você não me avisou que frequentávamos a mesma panificadora? Se eu viesse neste mesmo horário, ao invés de vir como o de costume, eu provavelmente o encontraria todos os dias? É! A resposta é obvia.
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9 Sabe aquele momento em que você se pega olhando para a boca alheia e nem ouve quando a outra pessoa está falando com você? Então, é exatamente o que está acontecendo agora, só que neste caso, a Márcia (a única funcionária ali presente e também quem sempre me atende) era quem estava tentando falar comigo. — O que você vai levar hoje, Mari? — ela esbanjava um sorriso enorme, como de costume. Mesmo não olhando para ela, eu sabia pelo seu simples timbre alegre — Ah, espera um pouco, deixa eu adivinhar; “o de sempre’’. Acertei? — Yes! — foi o que eu consegui dizer enquanto ainda olhava para o Matheus guardando as sacolinhas de ~ 83 ~
pães no carro. Ele não tinha me visto, então eu era capaz de observá-lo, sem ele saber. Sinceramente, eu estava encarando-o. Ele parecia ainda mais incrível sem o blusão de ontem. Mas, o que está acontecendo comigo? Porque não posso simplesmente olhar para o corpo do Matheus sem imaginar o que tinha ali dentro? — Parece que temos uma pessoa apaixonada aqui. — Márcia me despertou com essa sua piadinha nada engraçada. Será que isso era possível? Eu poderia está me apaixonando pelo Matheus de verdade? E ele se apaixonaria por mim, se soubesse? Bem, isso sendo verdade ou não, ele não podia me achar uma menina fácil. Aproveitei a oportunidade de ser sempre atendida pela Márcia e desviei o olhar, encarandoa em seguida. Márcia pareceu entender o meu olhar terrorista. — Não me olhe assim, Mari. — Então me responda uma coisa. Porque você acha que eu estou apaixonada? — eu quis saber, enquanto ela finalizava meu pedido. — Eu não acho, Mari, eu tenho certeza. — ela me entregou o saquinho de biscoitos que ainda estavam quentes. — E porque você tem tanta certeza assim? — indaguei, atônita. — Talvez seja porque nessa sua carinha linda tem dois corações no lugar dos seus olhos?! — ela arqueou as sobrancelhas, como se isso fosse óbvio. ~ 84 ~
Enrubesço com a descrição super detalhada. — Mas quem não se apaixona por uma coisa dessas? — ela encarava o Matheus agora, imitando aquelas menininhas super apaixonadas. Senti um pouquinho de raiva. Não pelo que a Márcia dissera, mas, pelo jeito como ela o olhava. — Não tem nada a ver com beleza, você olha para a pessoa e sente algo bom, positividade... sei lá! — Ahãã! O que eu disse? — Márcia parecia ter ganhado na loteria pela sua expressão de vitória — Sabia que você estava apaixonada, Mari. Não adianta negar. Ninguém olha para outra pessoa do jeito que você olhou para ele, só por olhar. Principalmente quando esse “outro alguém’’ é do sexo oposto. — ela sorria, orgulhosa de si mesma. Tudo bem, vai, era possível sim! E graças a Matilda. Anotei mentalmente para não me esquecer de agradecê-la por hoje ser sua folga. — Digamos que você esteja certa em relação ao que disse, mas, o que você ganha com isso? — não me entendam mal, ela merecia. — Além do mais, não fico por aí tentando adivinhar o que acontece na vida dos outros. — não resisti, acabei empinando o nariz para fechar meu discurso com maestria. É como eu sempre digo: quem fala o que quer, escuta o que não quer. — Nossa, Mari! Também não precisava ser tão grosseira assim, né? — quem mandou se meter onde não é chamada?, pensei — Eu só achei que seria legal falar ~ 85 ~
sobre relacionamentos. A Eloísa sempre se abre comigo, se você quer saber, e é verdade que ela fala algumas asneiras na maioria das vezes, mas, enfim, ao menos ela se abre. Certo tipo de gente não me engana. Se falam mal de alguém pra mim, é bem provável que fale mal de mim pra alguém. Disso eu tenho certeza! Por isso, decidi acabar logo com isso. — Às vezes, não precisamos dizer nada. Só aquela troca de olhares basta. — pelo menos por um tempo, pensei — Ei, aquele celular é o meu… eu o conheceria a quilômetros de distância. — gritei ao notar o bandido safado mexendo no meu aparelho celular e tomando café no banquinho da praça. — O quê? — Márcia parecia pasma, e um pouco enfurecida com a minha confissão — Quer dizer que aquele ladrão ali roubou o seu celular, Mari? — confirmei com a cabeça e ela saiu de trás do balcão vindo até mim, como se fosse resolver todos os meus problemas — Que tal darmos uma lição nesse marginal? — olhei pra ela incrédula. O que ela poderia fazer, afinal? — Não me olhe assim, eu sei muito bem lhe dar com esse tipo de gente. Confia em mim. — O que você vai fazer? — tentei evitar que ela caminhasse até ele, enquanto sentia o olhar fixo do Matheus em mim, mas, lá estava ela, já na metade do caminho. A coisa ia ficar preta. Por minha causa. ~ 86 ~
E, em milésimo de segundos, tudo acontece muito rápido. E, enquanto aquele desconhecido cai no chão, corro em disparada em direção a Márcia que, não me pergunte como, estava com o meu celular nas mãos. Ela havia conseguido recuperar o meu aparelho, meu Deus. — Quando foi que você aprendeu a lutar daquele jeito? — eu realmente estava de quatro pra ela. Foi incrível. — Você foi incrível! — Tem muita coisa que você não sabe sobre mim, Mari, e não é por falta de interesse não. Nós duas sabemos que eu sempre quis me abrir com você, estou mentindo? — dessa vez doeu. Era como se ela tivesse cravado uma adaga em meu peito. Ou pior, como se ela tivesse feito em mim o que ela fez no ladrão cujo agora eu só conseguia sentir pena. — Mari? — nem vi quando o Matheus se aproximou — O que aconteceu? Pelo que entendi aquele cara havia te roubado, e acabou aprendendo uma lição da sua… — ele parecia confuso, sua face demonstrava isso. — Não somos amigas, guri, se é isso que você ia dizer. — ela o interrompeu, completando o que ele provavelmente ia dizer — Não ainda. — e então ela piscou pra mim, enquanto devolvia o meu aparelho. — Obrigada! — foi só o que consegui dizer enquanto segurava, com as minhas próprias mãos, o meu aparelhinho celular outra vez. Márcia voltou para o seu posto, pois ela ainda estava no horário de trabalho.
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— Hoje é o aniversário da Eloísa, estou certa? — ela quis saber, como se planejasse alguma coisa. Apenas confirmei com a cabeça, um tanto curiosa, confesso. Porém, ao revelar isso, acabei me recordando que eu ainda não havia comprado um presente para minha amiga — Isso significa que teremos muito tempo para conversar, não é mesmo? Além do mais, ela também me convidou. E eu sei que você não perderia um evento desses, não é verdade? — ela me lançou um olhar cúmplice, e isso foi o bastante. — Sim! É verdade. — eu disse, me virando para o Matheus. Eu queria muito agradecer a Márcia por ela ter resgatado o meu aparelhinho de volta, mas, ela estava repleta de razões. Eu, no lugar dela, não gostaria de atrapalhar este momento inesperado ao lado do Matheus. Por isso, decidi aproveitá-lo. — Já liguei para a polícia e eles estão a caminho. — Matheus quis me confortar, já que todos nós sabíamos que aquele deus grego ladrão iria se recuperar do golpe – que, segundo a Márcia, era apenas de defesa pessoal –, e se levantar a qualquer momento. — Olha, estão todos aqui. — exaltei tamanha alegria ao notar que os meus dois chips e o meu cartão SD ainda estavam ali no aparelho. Recuperei o meu aparelho, mas… o modelito que eu havia libertado das mãos daquela víbora, ainda estava perdido por ai. Talvez o ladrão já o tivesse vendido para a
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primeira que apareceu na sua frente, mas não custava nada ir lá dar uma conferida, não é mesmo? — Se você não falar nada, como é que eu vou te ajudar? — tentei parecer amigável, mesmo sabendo que deveria agir ao contrário com o cara que havia me roubado. Se passaram apenas dois minutos após o Matheus tê-lo despertado e por isso decidi arriscar, pois eu ainda tinha esperanças de conseguir recuperar o modelito. Por isso eu não deveria, de maneira alguma, ser grosseira no momento. — Não sabem o tamanho da burrada que se meteram, seus idiotas. — ele respondeu, com um olhar vitorioso. Nesse momento o carro da polícia apareceu na esquina. Finalmente!, agradeci em pensamento. Matheus acenou, indicando onde estávamos. — Tudo bem. Se quer seguir por este caminho, só tenho a dizer que a sua carona acaba de chegar. — eu até que iria ajudá-lo inventando uma desculpa qualquer se, ao menos, me contasse para quem ele havia vendido o meu modelito. Matheus parecia tentar explicar ao policial o que havia acontecido enquanto ambos caminhavam em nossa direção. — Lúcio? — o policial o encarou. Pera aí, Brasil, o ladrão e o policial se conhecem? — Não posso acreditar que cometeu mais uma das suas, meu filho. — prosseguiu o policial, agora fechando a cara. ~ 89 ~
Oi? Como assim ele o chamou de ’’meu filho’’? O ladrão é filho do policial? O policial é pai do ladrão? Um mais um são dois? Qual é a raiz quadrada de nove? Será que eu bebi e não lembro? — Pai, eu… — o deus grego maligno parecia envergonhado, e isso acabou resolvendo todas as minhas dúvidas. — Espera um pouco! — Matheus disse, tão surpreso quanto eu — Vocês são pai e filho? — Anda logo, mocinho, entre já no carro. — o policia obviamente ignorou a pergunta que o Matheus o havia feito, ainda olhando para o seu filho — Anda! Você quer que eu repita mais uma vez, é isso? — e, quando pronunciava tais palavras, ele rapidamente passou a mão na cintura e nos apontou sua arma. — Agora sabemos por que o ladrão tinha uma arma. — eu disse, incrédula. — Isso explica tudo. — ouvi o Matheus dizer antes de o policial atirar nele, com sua arma elétrica. — Viu no que você me meteu, filho? — enquanto ele discutia, Matheus já se encontrava no chão, se contorcendo dos pés a cabeça com a potência do choque elétrico — Agora vou ter que limpar sua sujeira. — mas, antes de qualquer movimento meu, ele me acertou também — Aonde a mocinha pensa que vai? — foram as últimas palavras que consegui ouvir antes de adormecer com toda aquela carga elétrica.
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10 De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Mariana Carey <Marianaanacarey@gmail.com> Enviada: 10 de Março, 16:15 Assunto: ME DÊ NOTÍCIAS, POR FAVOR!!!!!! Oi, Mari, resolvi te escrever por e-mail já que o traidor descarregou, e eu sei que, ~ 91 ~
assim que você chega na sua casa a primeira coisa que você faz é ligar o computador, então… E ai, conta, o que você queria me contar naquela hora que o seu aparelho descarregou??? Afinal, você me deixou curiosa aqui, né? Conta, conta, conta!!! Argh! Já comecei até a roer as unhas de tanta curiosidade. AMIGAAAAAA, por favor, me conta looogooooooooooooo??? P.S.: É sério! Ou melhor, me liga assim que ver esse e-mail, pode ser? ___________________________________________________
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De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Mariana Carey <Marianaanacarey@gmail.com> Enviada: 10 de Março, 17:45 Assunto: EI???????
Amiga, CADÊ VOCÊ?????????? O que aconteceu?????? Perdeu o celular no ônibus, foi??? Foi assaltada? Encontrou outra blusa da Paramore e teve que dar o celular como forma de pagamento??? Porque eu sei que você OBVIAMENTE não ultrapassará o limite do cartão de crédito da sua mãe, não é verdade? Ai, sua besta, vou acabar ficando sem minhas unhas aqui! P.S: Como assim, Mari, você não vai mesmo responder???????????? ___________________________________________________
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De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Mariana Carey <Marianaanacarey@gmail.com> Enviada: 10 de Março, 21:02 Assunto: DESCULPAAAAAA!!!!!!
Oi, amiga. Desculpa pelo que escrevi no outro e-mail. É que você me deixou bastante curiosa aqui, sabia? Afinal, você não vai mesmo me contar o que aconteceu???? Bom, só quero deixar claro que já pedi pra Lorena convidar toda a galera da nossa sala para o meu NIVER. Você vem, né? Não vai me dizer que pegou uma gripe, ou ficou doente ~ 94 ~
na volta para casa, porque você está totalmente PROIBIDA de adoecer justo no dia do meu aniversário, senhora Mari. Estamos entendidas? Pelo menos vou poder usar o meu presente no Baile. Presente esse que eu sei que você não se esqueceu de comprar e me entregará amanhã, não é mesmo? Porque será horrível não receber um presente justo de VOCÊ, amiga. P.S: Você nem me ligou! Fiquei chateada por isso, mas… ainda dá tempo de eu te perdoar. Só se você me ligar agora, claro! ___________________________________________________
De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Mariana Carey <Marianaanacarey@gmail.com> ~ 95 ~
Enviada: 11 de Março, 08:15 Assunto: NIVEEEEEEEER!!!!!! AMIGAAAAAAAAAAA, vamos fazer academia????????? Vamos, vamos vamos??????????? A minha mãe disse que eu preciso entrar em forma e eu resolvi seguir os conselhos dela. Claro que eu não iria me jogar do precipício sozinha, né? É lógico que você vai junto. Não vai??? Afinal, somos best-friend e tudo mais. E como melhores amigas você bem que poderia pedir para a Sra. Christina (a sua mãe), nos dar uma carona, nós duas sabemos que ela passa em frente à academia todos os dias. Afinal, não custa nada levar a filha e sua melhor amiga. P.S: Obrigada pelos parabéns, tá??? _______________________________________________
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CONTINUE SUA LEITURA
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(ONDE COMPRAR)
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