Portifolio

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28% 4º Noruega

Ver para crer

78_outubro_2009

galileu.globo.com: confira as íntegras dos depoimentos do xeque, do padre e do rabino contestando Sam Harris, autor de A Morte da Fé

1º Suécia 29%

31º 17% Belarus

9%

41º Mongólia

46%

“O fato de que no Ocidente não estamos mais matando gente por crime de heresia demonstra que as más ideias, mesmo que sagradas, não conseguem sobreviver para sempre à companhia das boas ideias”

40%

16%

17º Bulgária

8% 37%

devido rigor. Para complicar, há o fato de a resistência das crenças poder ser atribuída em grande parte ao fato de haver tão pouca pressão social contra elas — e tanto suporte social a favor. Ainda é tabu criticar a fé religiosa, enquanto ninguém se incomoda de escutar argumentos contra a crença na astrologia, na feitiçaria, em óvnis etc. Claro que, apesar da lógica de seus argumentos, Harris não tem a menor fé de que legiões de fiéis abandonem seus dogmas assim que tomarem conhecimento das ideias expostas em A Morte da Fé. Mas, na remotíssima possibilidade de isso acontecer, seria algo bom ou ruim? A acusação da fé como a origem das maiores violências registradas na História e de Deus como o carrasco responsável por todos os ma-

44º Albânia

7%

Xintoístas: 4 milhões

19º Israel

2º Vietnã

38º Cingapura

25%

Jainistas: 4,2 milhões

sunitas (940 milhões)

32º Grécia

Bahaístas: 7 milhões

católicos (1,05 bilhão)

13%

Judeus: 14 milhões

xiitas (120 milhões)

49º Croácia

81%

6º República Tcheca

26º Taiwan

35º Armênia

14%

34º 15% Itália

Espíritas: 15 milhões

ortodoxos (240 milhões)

45º Argentina

7%

Religiões indígenas: 300 milhões

outros (440 milhões)

8%

38%

Jucheístas: 19 milhões

39º Uruguai

18º Eslovênia 50º Brasil

Sikhs: 23 milhões

12%

Budistas: 376 milhões

indígenas africanos (110 milhões)

7%

Religiõestradicionais africanas: 100 milhões

batistas (70 milhões)

pentecostais (105 milhões)

49% 61%

metodistas (70 milhões)

24%

30º Ucrânia

20% 11º Alemanha

13º Hungria

46º Quirguistão

25º Austrália

Rastafáris: 600 mil

26%

7%

24º Áustria

Caodaístas: 4 milhões

47º República Dominicana

luteranos (64 milhões)

presbiterianos (75 milhões)

9º 52% Coreia do Sul

27%

Unitarianistas: 800 mil

testemunhas de Jeová (14,8 milhões)

23º Suíça

48º Cuba

7%

33º 15% Coreia do Norte

Neopaganistas: 1 milhão

adventistas (12 milhões)

42º Portugal

9% 27º Espanha

5º Japão

65%

Tenrikyoristas: 2 milhões

43º EUA 24%

12º Rússia

14º Holanda

Zoroastristas: 2,6 milhões

9%

36º China

15º Reino Unido

16º 43% Bélgica

outros (216 milhões)

anglicanos (73 milhões)

14%

10º 49% Estônia

21º Letônia

8º França 54%

...e os que creem

40º Cazaquistão

12%

Cientologistas: 500 mil

44%

20º Canadá 30%

Religiões tradicionais chinesas: 394 milhões

(Confederação Nacional dos Bispos do Brasil). Para o xeque, orgulho, ganância e inveja são os verdadeiros motores por trás dos conflitos. Já o rabino acusa o autor de generalista e preconceituoso e lembra que o pior massacre conhecido é o Holocausto: “E o nazismo não tinha religião”, diz. Entre os acusados de motivadores de conflitos e inspiradores de assassinatos em massa, o Corão recebe vários ataques em A Morte da Fé. “Se isso fosse verdade hoje, então, desculpe, ele [o autor] não estaria vivo. Já teríamos acabado com ele. Temos 1,5 bilhão de muçulmanos no mundo e [segundo as ideias de Harris] mataríamos as pessoas antes de se tornarem muçulmanas”, contraataca o xeque. Um ponto atacado em coro pelos religiosos é a afirmação contida na obra de que os livros sagrados teriam sido escritos, de próprio punho, por Deus. Para o rabino, escrever um livro é um ato tão humano e antropocêntrico que seria ingênuo atribuí-lo a alguma divindade. O xeque diz que o Criador não escreveu, mas impôs as regras a serem seguidas pelas suas criaturas. “Não é Deus o escritor. São os profetas e apóstolos que foram instrumentos da ação divina”, afirma o padre Bizon.//Colaborou Ricardo F. Santos

80%

44%

Hinduístas: 900 milhões

Se todo mundo concordasse com as ideias do autor de A Morte da Fé, os três homens ouvidos para a produção deste texto estariam desempregados. Apesar disso, há pontos — poucos, é verdade — em que o xeque Jihad Hassan Hammadeh, o padre José Bizon e o rabino Ruben Sternschein concordam com os argumentos de Sam Harris. A começar pela afirmação de que, para muitos fiéis, Deus desaprova o respeito a outras religiões ou à opinião dos descrentes. “Deus não concorda, sim. Desagrada-Lhe, sim. Porém Ele nos deu a vida, inclusive para os ateus. Quer tolerância maior do que essa?”, diz o xeque Hammadeh, que é presidente do conselho de ética da UNI (União Nacional das Entidades Islâmicas). “Eu concordo que a religião como mágica é complicada para o desenvolvimento normal das funções sociais, políticas e éticas das pessoas. É uma atitude que poderia não ser responsável. Se eu penso que, faça o que eu fizer, pode não me acontecer nada, eu não preciso ter responsabilidade”, afirma o rabino da Congregação Israelita Paulista. Pronto, fim da concordância. Daí pra frente, os religiosos exorcizam as ideias do autor. O ponto que eles mais atacam é aquele em que Harris defende que os maiores conflitos mortais entre humanos têm motivação religiosa. “Nenhuma religião, que se diz de fato religião e que está conectada com uma divindade, é a favor da morte violenta”, diz o padre Bizon, assessor da CNBB

85%

3º Dinamarca

13%

7º Finlândia

22º Eslováquia

48%

Muçulmanos: 1,5 bilhão

“perdoai, ele não sabe o que diz” Líderes católico, judeu e muçulmano atacam as ideias do autor, mas concordam com algumas delas

Cristãos: 2,1 bilhões

Contraponto

Porcentual de habitantes que não acreditam na existência de Deus...

23%

28º Islândia

60%

72%

37º Lituânia

22%

29º Nova Zelândia

les no futuro imediato não deixariam a porta aberta para um mundo sem lei, no qual a ausência da ameaça divina deixaria de ser um último ponto de apoio para o respeito mútuo? Seria o fim da ética? A resposta do autor tem um toque de esperança, mas sempre com base numa costura lógica. Para os que desconfiam que a dúvida só tem o poder de abalar crenças, mas não o de instalar outros valores, menos ameaçadores, em seu lugar, Harris recorre à História, preservada em livros recheados de evidências e confirmações. “O fato de que no Ocidente não estamos mais matando gente por crime de heresia demonstra que as más ideias, mesmo que sagradas, não conseguem sobreviver para sempre à companhia das boas ideias.” Pode crer.

g

outubro_2009_79


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