Portifolio

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28% 4º Noruega

Ver para crer

78_outubro_2009

galileu.globo.com: confira as íntegras dos depoimentos do xeque, do padre e do rabino contestando Sam Harris, autor de A Morte da Fé

1º Suécia 29%

31º 17% Belarus

9%

41º Mongólia

46%

“O fato de que no Ocidente não estamos mais matando gente por crime de heresia demonstra que as más ideias, mesmo que sagradas, não conseguem sobreviver para sempre à companhia das boas ideias”

40%

16%

17º Bulgária

8% 37%

devido rigor. Para complicar, há o fato de a resistência das crenças poder ser atribuída em grande parte ao fato de haver tão pouca pressão social contra elas — e tanto suporte social a favor. Ainda é tabu criticar a fé religiosa, enquanto ninguém se incomoda de escutar argumentos contra a crença na astrologia, na feitiçaria, em óvnis etc. Claro que, apesar da lógica de seus argumentos, Harris não tem a menor fé de que legiões de fiéis abandonem seus dogmas assim que tomarem conhecimento das ideias expostas em A Morte da Fé. Mas, na remotíssima possibilidade de isso acontecer, seria algo bom ou ruim? A acusação da fé como a origem das maiores violências registradas na História e de Deus como o carrasco responsável por todos os ma-

44º Albânia

7%

Xintoístas: 4 milhões

19º Israel

2º Vietnã

38º Cingapura

25%

Jainistas: 4,2 milhões

sunitas (940 milhões)

32º Grécia

Bahaístas: 7 milhões

católicos (1,05 bilhão)

13%

Judeus: 14 milhões

xiitas (120 milhões)

49º Croácia

81%

6º República Tcheca

26º Taiwan

35º Armênia

14%

34º 15% Itália

Espíritas: 15 milhões

ortodoxos (240 milhões)

45º Argentina

7%

Religiões indígenas: 300 milhões

outros (440 milhões)

8%

38%

Jucheístas: 19 milhões

39º Uruguai

18º Eslovênia 50º Brasil

Sikhs: 23 milhões

12%

Budistas: 376 milhões

indígenas africanos (110 milhões)

7%

Religiõestradicionais africanas: 100 milhões

batistas (70 milhões)

pentecostais (105 milhões)

49% 61%

metodistas (70 milhões)

24%

30º Ucrânia

20% 11º Alemanha

13º Hungria

46º Quirguistão

25º Austrália

Rastafáris: 600 mil

26%

7%

24º Áustria

Caodaístas: 4 milhões

47º República Dominicana

luteranos (64 milhões)

presbiterianos (75 milhões)

9º 52% Coreia do Sul

27%

Unitarianistas: 800 mil

testemunhas de Jeová (14,8 milhões)

23º Suíça

48º Cuba

7%

33º 15% Coreia do Norte

Neopaganistas: 1 milhão

adventistas (12 milhões)

42º Portugal

9% 27º Espanha

5º Japão

65%

Tenrikyoristas: 2 milhões

43º EUA 24%

12º Rússia

14º Holanda

Zoroastristas: 2,6 milhões

9%

36º China

15º Reino Unido

16º 43% Bélgica

outros (216 milhões)

anglicanos (73 milhões)

14%

10º 49% Estônia

21º Letônia

8º França 54%

...e os que creem

40º Cazaquistão

12%

Cientologistas: 500 mil

44%

20º Canadá 30%

Religiões tradicionais chinesas: 394 milhões

(Confederação Nacional dos Bispos do Brasil). Para o xeque, orgulho, ganância e inveja são os verdadeiros motores por trás dos conflitos. Já o rabino acusa o autor de generalista e preconceituoso e lembra que o pior massacre conhecido é o Holocausto: “E o nazismo não tinha religião”, diz. Entre os acusados de motivadores de conflitos e inspiradores de assassinatos em massa, o Corão recebe vários ataques em A Morte da Fé. “Se isso fosse verdade hoje, então, desculpe, ele [o autor] não estaria vivo. Já teríamos acabado com ele. Temos 1,5 bilhão de muçulmanos no mundo e [segundo as ideias de Harris] mataríamos as pessoas antes de se tornarem muçulmanas”, contraataca o xeque. Um ponto atacado em coro pelos religiosos é a afirmação contida na obra de que os livros sagrados teriam sido escritos, de próprio punho, por Deus. Para o rabino, escrever um livro é um ato tão humano e antropocêntrico que seria ingênuo atribuí-lo a alguma divindade. O xeque diz que o Criador não escreveu, mas impôs as regras a serem seguidas pelas suas criaturas. “Não é Deus o escritor. São os profetas e apóstolos que foram instrumentos da ação divina”, afirma o padre Bizon.//Colaborou Ricardo F. Santos

80%

44%

Hinduístas: 900 milhões

Se todo mundo concordasse com as ideias do autor de A Morte da Fé, os três homens ouvidos para a produção deste texto estariam desempregados. Apesar disso, há pontos — poucos, é verdade — em que o xeque Jihad Hassan Hammadeh, o padre José Bizon e o rabino Ruben Sternschein concordam com os argumentos de Sam Harris. A começar pela afirmação de que, para muitos fiéis, Deus desaprova o respeito a outras religiões ou à opinião dos descrentes. “Deus não concorda, sim. Desagrada-Lhe, sim. Porém Ele nos deu a vida, inclusive para os ateus. Quer tolerância maior do que essa?”, diz o xeque Hammadeh, que é presidente do conselho de ética da UNI (União Nacional das Entidades Islâmicas). “Eu concordo que a religião como mágica é complicada para o desenvolvimento normal das funções sociais, políticas e éticas das pessoas. É uma atitude que poderia não ser responsável. Se eu penso que, faça o que eu fizer, pode não me acontecer nada, eu não preciso ter responsabilidade”, afirma o rabino da Congregação Israelita Paulista. Pronto, fim da concordância. Daí pra frente, os religiosos exorcizam as ideias do autor. O ponto que eles mais atacam é aquele em que Harris defende que os maiores conflitos mortais entre humanos têm motivação religiosa. “Nenhuma religião, que se diz de fato religião e que está conectada com uma divindade, é a favor da morte violenta”, diz o padre Bizon, assessor da CNBB

85%

3º Dinamarca

13%

7º Finlândia

22º Eslováquia

48%

Muçulmanos: 1,5 bilhão

“perdoai, ele não sabe o que diz” Líderes católico, judeu e muçulmano atacam as ideias do autor, mas concordam com algumas delas

Cristãos: 2,1 bilhões

Contraponto

Porcentual de habitantes que não acreditam na existência de Deus...

23%

28º Islândia

60%

72%

37º Lituânia

22%

29º Nova Zelândia

les no futuro imediato não deixariam a porta aberta para um mundo sem lei, no qual a ausência da ameaça divina deixaria de ser um último ponto de apoio para o respeito mútuo? Seria o fim da ética? A resposta do autor tem um toque de esperança, mas sempre com base numa costura lógica. Para os que desconfiam que a dúvida só tem o poder de abalar crenças, mas não o de instalar outros valores, menos ameaçadores, em seu lugar, Harris recorre à História, preservada em livros recheados de evidências e confirmações. “O fato de que no Ocidente não estamos mais matando gente por crime de heresia demonstra que as más ideias, mesmo que sagradas, não conseguem sobreviver para sempre à companhia das boas ideias.” Pode crer.

g

outubro_2009_79


PISCINA: no meio do deserto, água e sal são separados do lítio

Como o lítio é extraído

BOLÍVIA

1

La Paz Salar de Uyuni Uyuni

O GPS marca: 20°08'01 Sul 67°29'20 Oeste. Salar de Uyuni, Bolívia, América do Sul. A 3.760 metros de altitude, o vento sopra forte, e o sol parece tão próximo que dá a impressão de que podemos tocá-lo. Os operários têm o rosto tapado com capuzes de lã e óculos escuros para se proteger dos raios solares. Parecem fazer pouco caso do ar rarefeito, capaz de imobilizar as pernas e, a qualquer esforço, lançar nossos batimentos cardíacos a um ritmo galopante. São 70, e trabalham no projeto mais importante de seu país: a construção da primeira instalação industrial de exploração de lítio. O salar de Uyuni, um deserto branco de sal de 12 mil km2 localizado no sul da Bolívia, é onde está a maior jazida do mundo desse precioso material. 82_outuBRO_2009

Um dia, todo deserto de sal foi um mar. Não foi diferente no caso do salar de Uyuni, da Bolívia. Provavelmente por causa de um calor intenso, toda a água que estava ali evaporou, deixando para trás areia e sais em pó. Entre eles estão os sais de lítio

2

Os operários trabalham em turnos de 21 dias e dormem em precárias casinhas de madeira que pouco ajudam a barrar o frio de -25 °C durante as noites de inverno. Por isso, o primeiro edifício a sair da planta e o único que está quase terminado é justamente o quarteirão habitacional, onde os peões se alojam, situado ao lado dos futuros laboratórios. Quando o presidente Evo Morales assentou o primeiro tijolo do projeto, em maio de 2008, estimava-se que as obras terminassem em novembro de 2009. A um mês do prazo estipulado, o governo boliviano terá que se ajustar à realidade: somente em janeiro do ano que vem a fábrica deve processar a primeira das 40 toneladas mensais de carbonato de lítio. De acordo com as estimativas mais prudentes, debaixo do chão imaculado do salar de Uyuni, repousam pelo menos 100 milhões de toneladas de lítio. Cada tonelada vale US$ 5.500.

A nova Corrida do Ouro Desde que o presidente dos EUA, Barack Obama, lançou seu plano de eficiência energética — US$ 16 bilhões de investimentos, dos quais US$ 2 bilhões para criar baterias mais eficientes e duradouras, com o objetivo

declarado de ver circular pelas rotas norte-americanas um milhão de automóveis híbridos ou elétricos até 2015 —, surgiu uma febre do lítio, que promete repetir no enorme deserto branco boliviano, o maior do mundo, algo equivalente à Corrida do Ouro do final do século 19, na Califórnia. É fácil entender o porquê: atualmente, eficiência energética significa lítio, um metal volátil encontrado em abundância na salmoura de Uyuni, um mar de água e cloreto de sódio. Segundo estudos recentes, Chile, Bolívia e Argentina possuem, juntos, 75% de todas as reservas mundiais de lítio. O Chile é o principal produtor mundial. A Argentina, com um único local de extração, na província de Catamarca, noroeste do país, e explorada pela corporação norte-americana FMC Lithium, está em terceiro lugar, depois da China. A Bolívia ainda não entrou de fato no jogo, mas quando o fizer não haverá competição possível, dado que o salar de Uyuni abriga 50% de todo o lítio presente no planeta. Os maiores clientes, as grandes empresas líderes em produção de baterias recarregáveis, vêm do Japão, EUA, China e Alemanha. E o futuro não se trata apenas de automóveis elétricos: segundo dados divul-

gados em 2005, cerca de 50 milhões de notebooks, 80 milhões de câmeras fotográficas digitais e 800 milhões de telefones celulares dependem do lítio para o seu funcionamento. De lá para cá, esse número cresce de maneira exponencial, pois as baterias não conseguiram acompanhar o ritmo dos avanços tecnológicos. Veja só: de acordo com dados divulgados pela revista Wired, elas aumentaram a sua capacidade de carga em apenas 8 vezes nos seus 150 anos de existência. Por esse motivo, é muito provável que o recente auge do lítio seja um fenômeno destinado a durar no tempo, pois as baterias que contêm o material entre os seus componentes têm o triplo de energia e o dobro da potência das tradicionais, feitas de níquel metal. Além de serem muito mais leves, o que é crucial para a fabricação de automóveis elétricos com maior capacidade de armazenamento de energia e autonomia para percorrer distâncias maiores.

Controle absoluto A Bolívia tem uma renda anual per capita de US$ 4.500 (no Brasil, que ocupa a 102ª posição mudial, esse valor sobe para US$ 10.200). De seus 62.479 km

Na extração, grandes caminhões retiram toda essa poeira do deserto e a levam para centros de processamento. Ali o lítio é separado da areia e dos demais sais

3 Mais tarde, o lítio é dissolvido em ácido. Depois, essa mistura é ressecada até se transformar em pó novamente — o chamado cloreto de lítio. E pronto: o flexível pozinho está no ponto para ser usado na fabricação de baterias de celular e na composição de antidepressivos

outubRO_2009_83


Por dentro (e por fora) da COP15

* Cientistas da ONU sugeriram que os países ricos cortem as emissões de gases-estufa em 25% a 40% até 2020. Com isso, o mundo teria 50% de chances de não ter o aumento superior a 2 oC. * A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) afirmou que o setor vai reduzir as emissões em 50% até 2050. * A China planeja fechar pequenas usinas de carvão. Cerca de 70% da matriz elétrica do país utiliza esse sistema, o mais poluente dos combustíveis fósseis. * O bilionário George Soros disse que US$ 100 bilhões, o dinheiro “parado” do FMI, poderiam bancar um fundo para salvar o planeta. Sua tese foi afundada pelas delegações e economistas. * Oito ativistas do Greenpeace escalaram o Coliseu de Roma para exibir um cartaz pedindo a assinatura de um acordo. O protesto teve o respaldo do prefeito Gianni Alemanno. * Representantes do povo esquimó foram a Copenhague. A ideia era conseguir dinheiro para construir refrigeradores comunitários — já não faz mais frio suficiente para estocar carne naturalmente. * Thom Yorke, ativista e líder do Radiohead: “A COP15 foi conduzida por reprimidos de meia-idade”.

Emissões totais em

milhões de toneladas Emissões em 2007 Metas para 2020

para -40% a -45% por mil dólares do PIB

1.262,4

Europa*

para

4.720

788,2

para

EUA

3.776

6.006,7

4

para

4.970,8

3

México

453 Média do mundo bilhões de ton/ano e 4,48 ton por pessoa/ano

29,19

+1Estava (Victor Fasano) lá

18 mil pessoas/dia

representando uma ONG que defende a Amazônia

no centro de conferência

Para compensar o lixo gerado, será investido

US$1.000.000,00

Para a construção de 20 fábricas eficientes de tijolos em Bangladesh, substituindo antigas. Deixarão de ser emitidas 100.000 ton de CO2/ ano na atmosfera

5,7 mil toneladas

2

gerada pela cúpula

23% Hotel

77%

Atividades ocorridas no centro de conferência

*Segundo a consultoria Deloitte

254,7

Destes, US$ 113 bilhões irão para geração de energia limpa. Mas nem todo esse dinheiro virá do orçamento da União. Ou seja, o Brasil terá que captar recursos externos. E, apesar de o número ser alto, muitas das obras fazem parte do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC)

2

1

Austrália

456,4

US$

para o País bater suas metas

para

para -24% por mil dólares do PIB

para

166 bi serão investidos

318,5 235,6

1.400,7

397,6

416,7

Indonésia

Índia

Brasil

para

Total que supostamente foi gerado no encontro*

70_janeiro_2010

6.283,6

Japão

46,2 mil ton/CO com o transporte aéreo

1.318,2

China

para

460,3

O valor pode ter sido

40,5 mil toneladas

para

589,9

* A chefe da delegação brasileira, Dilma Rousseff, cometeu uma gafe ao discursar: “O meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”. Com a frase, ela concorreu ao “Fóssil do Dia”, antiprêmio entregue por ONGs aos que atrapalhavam o acordo climático. * Os três pré-candidatos à Presidência estavam por lá. José Serra e Marina Silva apresentaram propostas semelhantes, quase sempre discordando de Dilma. * O Brasil ficou na primeira posição em um ranking das “nações que mais lutam para evitar as mudanças climáticas”. * O País foi cobrado pela União Europeia sobre uso de petróleo do pré-sal. * Foi anunciado na bolsa BM&F Bovespa que o mercado de ações terá um índice “verde”. Os investidores poderão aferir os desempenhos financeiro e ambiental das companhias simultaneamente. * O Inpe divulgou estudo mostrando que a pecuária bovina é responsável por 50% das emissões do Brasil.

COP 15 em números

1.672,6

A maior ilha do mundo está sumindo. Segundo o Programa de Monitoramento do Ártico, só na última década, a taxa de degelo na Groenlândia triplicou. Como consequência da quebra de blocos maiores, o número de icebergs cresceu 30%

Canadá

O Brasil em Copenhague

3vezes maior do que a previsão

Rússia

País derretido

para

268,9 África*

1005

sem média de corte do continente inteiro

Eles vão afundar

Para quase todo mundo, você inclusive, o aquecimento global ainda é sinônimo de um verão mais quente. Na COP 15, ficou evidente que o buraco é bem mais fundo. O planeta ficou conhecendo a corrida desesperada de nações insulares do Oceano Pacífico para sobreviverem. Se houver o propalado aumento de 2 oC ao longo deste século, a elevação dos mares vai submergir seus lares. Eles brigam para que a elevação não exceda 1,5 oC. Dentre os locais "condenados" está o arquipélago de Tuvalu 1 (com somente 12 mil habitantes e 26 m2), a ilha de Kiribati 2 (que pode ser engolida em 50 anos), as Maldivas 3 (apenas 2,4 metros acima do nível do mar) e Bangladesh 4 , que até 2050 pode ter 17% de sua superfície embaixo de água salgada. Números de 2006 da Energy Information Administration (órgão do governo Americano que acompanha o setor de energia)

Conclusão

Por que não deu em (quase) nada? Dê uma olhada no mapa acima. Se as emissões continuarem no patamar atual (e a meta de 2020 permanecer ignorada), o planeta vai encarar um aumento de 3 oC na temperatura em menos de 15 anos. É um desastre. Por isso, ao fechar as portas com um documento tímido, a COP15 se credenciou como o mico de 2009. Um acordo para apaziguar a decepção mundial foi assinado por líderes de nações importantes, como EUA, China, Brasil e África do Sul. Mas, na prática, governantes saíram de Copenhague com um papel que, no máximo, esboça normas para “verificar ações para o corte de gases-estufa”. Ou seja, a decisão foi empurrada para frente. O que quer dizer que, até o fim de 2010, um novo encontro deverá ser agendado. Enquanto isso, o planeta perde mais uns meses na corrida contra o desastre ambiental... Nas palavras do negociador e embaixador brasileiro Sérgio Serra: “Foi um resultado decepcionante”. janeiro_2010_71


1925 – Formado médico em Kyoto, Shirota pesquisa a microbiologia do sistema gastrointestinal

breve história

no ar

Fauna intestinal

Primeira classe.

Músicos, atores, chef, locutor e arquiteto vão à TV relembrar a importância dos anos em que esquentaram bancos escolares

t Alessandro Manoel

>>>

1930 – O pesquisador cultiva com sucesso o microorganismo Lactobacillus casei Shirota, resistente à acidez no estômago e eficaz para o equilíbrio da flora intestinal

1899 – Minoru Shirota nasce na cidade de Iida, Japão, no dia 23 de abril

Com seus frascos de 80 ml e

O comum seria esperar que um tipo de homenagem assim viesse de um engenheiro, médico, escritor ou astrônomo. Mas o programa Tempo de Escola mostra que os primeiros anos de ensino também são guardados com carinho na memória, por exemplo, de um guitarrista de metal pesado, de um cantor de rap, de um ator de novela ou de um locutor esportivo. É gente assim que Serginho Groisman irá entrevistar nos programas. Além do bate-papo, a produção vai atrás do colégio, dos professores e dos amigos de infância dos convidados. Entre eles estão os músicos Andreas Kisser, Lenine, Dudu Nobre, Fernanda Takai, Mart’nália e MV Bill. Os atores Dan Stulbach e Douglas Silva também estarão no ar. Completam a série as memórias do chef Alex Atala, do locutor Cleber Machado e do arquiteto Isay Weinfeld. Os programas estreiam dia 18 de março, no Canal Futura, e serão exibidos todas as quintas, às 22h30. E, pra você que não fica só sentadão no sofá, a nova temporada traz uma promoção: os telespectadores poderão postar vídeos no YouTube sobre seus “tempos de escola”. Aqueles que se inscreverem no site do Canal Futura poderão ter seus casos selecionados e transformados em peças de TV. //paulo vicente

>>

cerca de 8 bilhões de lactobacilos vivíssimos, o Yakult combate problemas digestivos há 75 anos. O médico japonês Minoru Shirota (1899-1982) buscava algo que, ingerido, vencesse o suco gástrico e fosse até o intestino para melhorar a digestão e a absorção de nutrientes. Chegou a um probiótico, organismo vivo que, apreciado com moderação, beneficia quem o ingere. Nascia o leite fermentado.

1935 – O Yakult é lançado no Japão. À base de leite desnatado fermentado com os lactobacilos, o produto vira um sucesso

>

1955 – Com o nome de Yakult Honsha Co., a firma se estabelece em Tóquio

1968 – Com a presença de Shirota, uma fábrica é inaugurada em São Bernardo do Campo (SP)

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1963 – As “Yakult Ladies” — vendedoras de porta em porta — passam a comercializar e distribuir o produto por todo o Japão * Conteúdo fornecido pelo Futura,“o canal que liga você!” www.canalfutura.org.br

o brasil e o mundo

French Kiss. Gabriel Colombo é um poeta e tinha uma poesia. E o Gabriel queria mostrar essa poesia ao mundo. Com um só dedo, ele postou no YouTube. E o povo, amando a poesia, passou a beijar na boca inclinando levemente a cabeça para a direita

Scarlett Johansson. Olha, que o Haiti foi um desastre, eu sei, você sabe. O que eu não sei e você não sabe é o tamanho da alegria do sujeito que pagou US$ 40 mil para levar a atriz para um rendezvous beneficente. Ela doou a renda do leilão aos desabrigados

os baixos e os altos do mês de fevereiro //

edmundo clairefont

Bill Gates. O fundador da Microsoft praticou um dos esportes favoritos da humanidade: tacar fogo no circo. Diante da repercussão negativa do iPad, ele lascou uma patada em Steve Jobs: “Não gostaria que a Microsoft tivesse criado isso”

Richarlyson. O Brasil sempre foi meio carente de celebridades no mundo da internet. Isso até o Ricky brilhar muito no São Paulo e resolver cantar num palco. O vídeo circulou e o jogador virou hashtag: #freericharlyson

Modern Warfare 2. A patrulha do politicamente correto soltou uns balaços no game da série Call of Duty. Protestos surgiram após um jornal descobrir o seguinte diálogo: – Você já viu um homem nu? – Hey, cara, você é gay?

Frank Sinatra. Nas Filipinas, você não pode mais cantar “My Way”, clássico de Frank Sinatra. A faixa foi proibida nos karaokês. Alguém fez piada com a performance de alguém. Pessoas brigaram. Seis morreram

Steve Jobs Quando ele lançou o iPad nano (vulgo iPhone), foi espetáculo, apoteose. Ao lançar o iPhonão, no fim de janeiro, ouviu críticas de todos os lados. Ele vai continuar rico e vai vender o treco aos magotes. Só porque é Apple. É, pensando bem, o burro na história é... você?

Google Buzz. O misturão de Facebook e Twitter lançado pelo Gmail surgiu meio do nada no seu Inbox e, pior de tudo, escolheu, sem te perguntar, quem são as pessoas que você segue

1964 – É instalada uma fábrica para produzir o Yakult em Taiwan, a primeira experiência internacional da empresa

de imigrantes japoneses, o Brasil recebe os primeiros lotes importados do leite fermentado

> >>

2009

1982 Lançamento do multivitamínico Taffman-E

1999

opaco

brilhante

Brilhante ou opaco?

1979 – Início das atividades na unidade industrial de Lages, em Santa Catarina, para produção de suco de maçã concentrado e aromas naturais

1966 – Cheio

Inauguração da fábrica da Yakult em Lorena (SP) e início das atividades da Yakult Cosmetics no Brasil i lu str aç ão:

Daniel da s Neves.

fotos:

Divulgação

2001 É lançado o Yakult 40, para adultos que não querem passar por crianças

2008 – Belize é o 32º país a receber o produto, que com isso está presente na Ásia, Europa, Oceania e Américas

Mais de 25 milhões de frascos de Yakult são consumidos diariamente no planeta. A empresa possui aproximadamente 47 mil “Yakult Ladies” no Japão e 33 mil em 11 outros países. No Brasil, são 6,5 mil comerciantes autônomas. A produção atual diária no País é de 2,1 milhões de frascos

>>> marçO_2010_23


$

Of ert a

seminovos

Quer pagar quanto? A Nasa está fazendo um saldão de naves. Cada uma sai por apenas US$ 28,8 mi

glossário

Com o fim do programa dos ônibus espaciais previsto para setembro deste ano, a Nasa resolveu se livrar da frota que ficará ociosa e já negocia três naves com museus e organizações escolares. O valor que está sendo sugerido agora, menos de US$ 30 milhões, é muito inferior ao que foi gasto na construção dos ônibus: cada um custou bilhões de dólares mais de duas décadas atrás. “Os ônibus espaciais não estão sendo vendidos. O valor servirá para prepará-los para exposições e o transporte até seu destino”, afirma Michael Curie, porta-voz da Nasa. Esse não é um final tão triste assim para a Discovery, a Atlantis e a Endeavour. Nas 130 missões realizadas — ainda faltam quatro: duas do Discovery, uma da Endeavour e uma da Atlantis —, elas colocaram dezenas de satélites na nossa órbita e ajudaram a construir a Estação Espacial Internacional. Confira abaixo alguns momentos gloriosos (e outros nem tanto) de cada uma. //felipe pontes

teFelipe Pontes

maior

Pontos (altos e baixos) dos ônibus

credibilidade

equivocadamente um texto seu. Para que não sobre dúvida, pelo menos quando

US$ 3,139

Junho de 1995 a setembro de 2007: faz sete voos para a estação espacial russa Mir, em uma parceria dos Estados Unidos com a Rússia

89

1981

83

84

03

Outubro: em seu 25º voo, leva o homem mais velho ao espaço — o ex-astronauta e então senador John Glenn, que tinha 77 anos na época

Maio: é entregue pela Rockwell (atual Boeing), que gastou US$ 2,2 bilhões na construção da Endeavour. Pesa 78 toneladas e mede 37 metros de comprimento e 23 metros de largura

Dezembro de 2003 a outubro de 2005: é reformada. A maioria das 124 modificações são relacionadas a segurança

Outras ofertas

um banco brasileiro — aquele em que você faz um rocambole com o

1,99, você baixa o sinal no site sarcmark.com. unobtainium: Tratase de uma piada levada longe demais. É um

por lançamento

termo nerd que vem da

destes, aproximadamente

palavra “unobtanaible”

US$ 100 milhões

(algo como “impossível

são gastos em combustível

Maio: a Nasa anuncia que 24 tanques de gás hélio e nitrogênio estão com a validade ultrapassada há dois anos. Apesar do risco de acidentes, a agência decide continuar as operações

de obter”). Daí, quando os caras querem se referir a algo extremamente raro,

isso é equivalente ao que consome um Boeing-747 para dar 295* voltas ao mundo

dizem “unobtainium”, palavra que também designa o mineral precioso de Avatar, que

*Cálculo feito com a ajuda da Agência Nacional de Aviação Cívil (Anac)

05

85

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87

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89

1990

91

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2000

01

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03

04

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07

06

07

batendo o martelo A Nasa começou em fevereiro um leilão online de 2.500 artefatos como roupas e réplicas de equipamentos. Os preços não foram divulgados

comida espacial O site astronautfoods.com vende sorvetes e palitos de proteína consumidos por astronautas. As porções custam cerca de US$ 3

Daniel da s Neves;

fotos:

Na sa /Divulgação

na rede Os sites space1.com e astronautcentral.com comercializam artefatos que estiveram em voos, autógrafos e peças reservas das naves

corr

no filme custa cerca de US$ 20 bilhões o quilo.

07

26 de julho: 1º voo após o desastre com a Columbia, 907 dias antes. Apresenta o mesmo problema que a antecessora: detritos se separando do tanque

08

as s

i lu str aç ão:

semelhante ao logo de

US$ 628 milhões

Agosto: a nave é danificada durante a decolagem. Nasa diz que isso não põe em risco a nave e a tripulação

05

visit

26_março_2010

É um caractere

serão 5 missões ao custo de

07

Primeira nave do programa de ônibus espaciais, apresentada em 1976, a Enterprise nunca voou para o espaço. Após participar de uma série de testes na atmosfera da Terra, suas partes foram removidas e reaproveitadas em outros ônibus espaciais. Em 1985, foi para o Smithsonian National Air and Space Museum, em Washington, onde permanece até hoje. Um ano depois, com a explosão da Challenger, a Nasa considerou reaproveitar a Enterprise, mas optou pela Endeavour, que começou a ser construída em 1987 82

internet o sarcmark.

com um ponto. Por US$

Enterprise 1976

sarcástico, chega à

dedo e coroa o gesto

95

Outubro: a Atlantis faz a primeira missão para o Departamento de Defesa. Lança dois satélites de comunicação

você estiver sendo

bilhões é o orçamento da Nasa para 2010

98

85

menor

Endeavour

Sarcmark: Nada pior do que interpretarem

98

91

Maio e outubro: envia as sondas Magellan e Galileo para Vênus e Júpiter, respectivamente

Abril: leva o primeiro congressista ao espaço, o senador Jake Garn. A nave sofre danos no sistema de freio

As palavras que a gente encontra por aí

Dezembro: carrega para a EEI o módulo Unity, primeiro equipamento norte-americano na estação

Abril: leva o Observatório de Raios Gamma. Com 17 toneladas, foi a carga mais pesada a bordo de um ônibus espacial até então

90

Agosto: em seu primeiro voo, a Discovery lança dois satélites. Essa missão, a 12ª do programa de ônibus espaciais dos EUA, dura 6 dias

Discovery

Atlantis

Abril: transporta o telescópio Hubble até a órbita. A tripulação grava em IMAX. O resultado aparece no filme Destino no Espaço (1994)

CÓDIGO ABERTO

09

2010

16 de setembro de 2010: será a 39ª e última missão da Discovery e do programa dos ônibus espaciais, que completará 134 voos desde o começo, em 1981

ó co

m

etor

vista para a terra A empresa Moon Estate vende terrenos na Lua, Marte e Vênus. O preço de um acre (4.047 m2) vai de US$ 27 a US$ 47. O comprador recebe um certificado

US$ perdidos no espaço

Orion

síndrome de galápagos: As empresas japonesas

Em fevereiro, o presidente Barack Obama cancelou o projeto Constellation, que criava os sucessores Altair dos ônibus espaciais. Com o fim desse programa, que teria formato similar ao Apollo — foguetes (Ares) com cápsulas (Orion) e módulos (Altair) —, não O projeto vamos voltar à Lua ou chegar a iria consumir Marte tão cedo. E os cerca de US$ 9 bilhões que já foram gastos nele vão para o espaço até 2020

US$ 97 bilhões

desenvolvem muitas coisas isoladas do resto do mundo. Assim como algumas espécies do arquipélago equatoriano, parte desses produtos não se adapta em nenhuma outra parte do planeta. É o que está acontecendo com os avançadíssimos celulares 3G nipônicos.

março_2010_27


2009

de no

façam justamente o que a mente faz: generalizar e entender o contexto. Não existem computadores que pensem

6% ão -4 locaçDVDPsaís

8 mil

2004

12 mil

v o n

01

Dsdos il DVendiBras

A nova inteligência artificial “Estamos investigando o sistema nervoso como uma forma distribuída, e com isso estamos aprendendo o que acontece quando colocamos milhões ou bilhões de elementos trabalhando juntos. Os computadores têm muito a aprender com isso. Daqui pra frente vai haver um novo ramo da ciência da computação que vai se basear nos mecanismos do cérebro. A intenção é fazer com que os computadores

As próximas três décadas serão mais frias. O gelo no Polo Norte já aumentou 26% desde 2007. Mas o gelo ainda não voltou à extensão que ocupava antes do planeta começar a aquecer

4% -1

MINIERA DO GELO

dessa maneira, que tenham uma visão crítica e ativa dos fatos. Acho que é nesse sentido que eles têm que evoluir: seguindo os passos do cérebro.” Miguel Nicolelis, fundador do Instituto de Neurociência de Natal, Rio Grande do Norte, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo

Videolocadoras no Brasil

Aluguel de filmes no YouTube

O YouTube pôs cinco filmes para aluguel no site, de forma experimental. A reação foi tímida, mas pode ser o golpe que faltava na minguante indústria dos DVDs e dos Blu-rays

02

tam e

2003

US$

a

2007

cultur

compor

ia tecnolog

saúde

meio ambie n

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05

3 bilhões 1 milhão 50 mil 5 mil 100

US$

2009

US$

2010

*

US$

2014

03

*

US$

*previsão

edição: Jones Rossi

Genoma a US$ 100 A BioNanomatrix promete decodificar todo o genoma humano por apenas US$ 100 em cinco anos. Atualmente, a decodificação completa ainda custa US$ 50 mil

reportagem: Felipe Pontes e Haidi lambauer

Sabe aquelas coisas que a gente só vê em filme de ficção científica? Coisas como falar em português e o seu telefone traduzir

04

O FIM DA PRIVACIDADE "Nos últimos 5 anos, os blogs cresceram de uma maneira enorme, assim como todos estes serviços diferentes nos quais as pessoas partilham suas informações. As pessoas passaram a se sentir confortáveis não só em dividir mais conteúdo, mas também de forma mais aberta e com mais pessoas. Essa norma social [privacidade] tem evoluído ao longo do tempo.” Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, ao anunciar que sua rede social passaria a exibir todas as informações dos usuários

62_março_2010

foto:

Ricardo Cor rêa .

i lustr ações:

A lexandre Af fonso

simultaneamente para o inglês; softwares que ensinam a robôs a diferença entre o bem e o mal; curar a depressão tomando água.

ideias que vão mudar o mundo

Pois existe uma porção de caras por aí transformando essas ideias em realidade. Nesta e nas próximas páginas, você vai dar uma olhada no futuro próximo da humanidade. março_2010_63


07

Problema número 1: milhões de carros nas cidades Problema número 2: Demanda crescente por energia Problema número 3: Necessidade de iluminar ruas e rodovias des

loc a

catavento

men to d e

08

ar

Escalada de proibições

Em menos de um século, o mundo entrou numa espiral de proibições, da maconha à gordura trans

Postecatavento

Cultura Meio ambiente

09

Rodovias para bicicletas

A prefeitura de Copenhague, na Dinamarca, está criando uma rodovia só para bicicletas ligando o centro da cidade aos subúrbios. Enquanto isso, o Brasil tem menos ciclovias que a cidade de Munique, na Alemanha. E São Paulo, a maior cidade do País, é superada até por Sorocaba, no interior do estado

iPhone toma lugar dos videogames portáteis

Século 21

Pessoas acumulam realizações cooperação entre países trabalhadores incentivados a crescer criatividade

14 Ligue-luz

08 1961 São proibidos o ópio, heroína (derivada do ópio), cocaína e maconha

1971 É a vez do veto às drogas sintéticas e psicotrópicos, como o éter

2007 2008 2009 A cidade de Japão multa É proibido o Nova York regiões que cigarro dentro proíbe a não conseguem de bares e gordura trans reduzir população restaurantes de São Paulo em restaurantes obesa

2010 Lei em MG proíbe frituras, doces e refrigerantes nas escolas

10 Bike com Kers O Kers aproveita a energia cinética (gerada quando algo entra em movimento) dos freios para que uma bateria dê energia extra ao motor. O Massachusetts Institute of Technology (MIT) criou um disco com bateria e motor que, acoplado à roda traseira da bicicleta, aproveita essa energia

13 Lixo rastreável Concebido por Valerie Thomas, professora de engenharia industrial e políticas públicas da Universidade Georgia Tech, EUA, neste sistema os produtos eletrônicos são identificados por meio de um código ou por uma rádio-frequência. Coisas ainda úteis podem ser anunciadas em sites de leilão, enquanto componentes tóxicos são cuidadosamente processados. Funcionará assim: o lixo etiquetado é dispensado em uma lixeira com scanner, que lê a etiqueta e disponibiliza online suas informações específicas (como a série, o nome do fabricante...) para uma empresa de reciclagem ou mesmo diretamente para um site de vendas como o eBay

4

3

2

1

MorgenrötheRautenkranz, uma cidade alemã com 900 habitantes, decidiu aplicar à iluminação pública o mesmo conceito das lâmpadas acionadas por sensores: as luzes de ruas, praças e parques ficam apagadas à noite, mas os moradores podem ligá-las via celular. A cidade foi dividida em zonas. Para acionar a luz, é só discar um número fornecido pela prefeitura e digitar o código correspondente à sua zona

12 RECICLAGEM ELETRÔNICA Em dezembro, a

Economia Em 1 ano, a cidade poupou 5.300 euros (o equivalente a 5,8 euros por habitante)

USP inaugurou um projeto de reciclagem de aparelhos eletrônicos. Os equipamentos que puderem ser reutilizados são enviados para entidades que usam as peças para montar novos computadores. O restante é reciclado

(S ão

M un Cu iq ue rit So (A ib lem a ro (P Sã ca an ar o ha ba an Pa )1 á (S )1 .4 ul ã 0 o 00 o 0 P

Século 20

Pessoas acumulam dinheiro volume de transações trabalhadores sem qualificação produtividade

Tecnologia

06

km au km lo) /1 Pa /1 2 ,8 7, ulo ,3 5 m )2 m km ilh 3, ilh ã / 5 o ão 5 km de 84 de ha /1 m ha il h bi 1 bi ta m ab ta ilh n ita te nt õe s es n s te de s ha bi ta nt es

Foi pensando nestes três problemas que o estúdio de design Tak, dos EUA, criou a Turbine Light, um poste que usa uma espécie de catavento para aproveitar o movimento criado pelos carros e gerar luz

Crescimento inteligente

Umair Haque, colunista da Harvard Business Review, lançou as bases do capitalismo no século 21 no artigo “Manifesto pelo crescimento inteligente”

Comportamento

1. Baterias - 2.Motor - 3.Câmbio - 4. Ciclocomputador

energia gerada pelo sistema

11

Taxas ecológicas De boas intenções... blablablá. Você conhece esse ditado, perfeito para os discursos sobre sustentabilidade e iniciativas “verdes” proferidos por aí. Alan Weber, co-fundador da revista americana Fast Company, defende que a mudança real só virá quando a economia mudar, seja concedendo subsídios às práticas sustentáveis ou taxando quem polui. “A mudança só acontece quando o custo de manter as coisas como estão é maior do que o custo de mudar. Por isso, precisamos focar nossos esforços em aumentar o custo do que é insustentável”, afirma

Triagem:

China

66,7%

Ainda pode ser utilizado?

Índia

8,3%

quilômetros x população

não Outros

Brasil

Desmontagem Pesagem total

Separação dos componentes

sim

20,8%

4,2%

Descaracterização Compactação e acondicionamento

reciclagem

Projetos sociais Matéria prima para a indústria Terminou o ciclo de vida?

sim

Saúde

64_março_2010

O Brasil é o terceiro produtor mundial de bicicletas

i lustr ações:

não

A lexandre Af fonso, Daniel da s Neves, Divulgação

Recicladores

Pesagem

Envio a parceiros

25%

75%

porcentagem do mercado de games que os jogos para dispositivos portáteis representam

dos desenvolvedores de mobile games estão produzindo para os aparelhos da Apple

16

15

Viver junto é o novo casamento

Véu, grinalda e igreja. Cada vez menos gente casa desse modo. Para Hannah Seligson, autora do livro A Little Bit Married ( Um pouquinho casados, inédito no Brasil), homens e mulheres estão entrando em relações de longa duração, similares ao casamento, mas que ainda não são casamentos propriamente ditos. É mais que namorados, menos que cônjuges. “Há 50 anos estes relacionamentos terminariam em casamento, mas hoje é parte de um tipo de experimentação endêmica entre as pessoas de 30 e 40 anos.” Por que não nos casamos mais? Adolescência tardia: a adolescência está se prolongando além da casa dos 20 anos. Profissão: as carreiras levam mais tempo para se estabilizarem e as pessoas preferem deixar o casamento pra depois. Medo do divórcio: a atual geração foi a primeira a conviver intensamente com o divórcio. O trauma de infância a fez desejar não repetir os erros dos pais. março_2010_65


24

Cérebro

Fluxo sanguíneo

Veia obstruida

Stent

90%

das pessoas com EM tem alguma má formação ou bloqueio nas veias que drenam o sangue do cérebro

2

Catéter

3

17 65 Saúde

Cultura

1 e 2. O stent é introduzido na veia pelo catéter 3. Depois é aberto para desobstruir a veia e deixar passar normalmente o fluxo sanguíneo

Cura para esclerose múltipla Mais de

1

Cidade-fazenda

pacientes com EM foram operados usando as técnicas de Zamboni. 73% está completamente livre dos sintomas de EM há 2 anos

Paolo Zamboni, médico da Universidade de Ferrara, na Itália, descobriu que veias obstruídas na região do pescoço e peito levam a um excesso de ferro no cérebro, o que pode atacar a mielina que protege os neurônios e causar a esclerose múltipla (EM). O médico desenvolveu uma técnica cirúrgica similar à angioplastia. A primeira a enfrentar a operação foi a sua própria mulher, que tem EM. Zamboni eliminou os ataques de sua esposa, que não aparecem há mais de três anos Meio ambiente Comportamento

Detroit foi a cidade mais afetada pela crise do mercado automobilístico americano. Sua população foi reduzida pela metade, de 2 milhões para 900 mil habitantes. A criminalidade subiu, o preço dos imóveis caiu, empresas foram embora. Para um grupo de investidores, a solução é criar fazendas nas áreas vazias da cidade. Henry Cisneros, que gere um fundo de investimentos, quer transformar Detroit na “pioneira em agricultura urbana em escala comercial”. Se der certo, o conceito pode ser aplicado em outras localidades decadentes dos EUA, como Saint Louis e Nova Orleans

1

Telefone movido a Coca-Cola

2

A designer chinesa Daizi Zheng criou um conceito de celular que pode ser recarregado com CocaCola ou Pepsi (1). A bateria do aparelho, desenvolvido para a Nokia, teria um sistema para extrair energia limpa de bebidas açucaradas, usando enzimas como catalizadores (2). Em seu site, Daizi diz que a bateria funcionaria de três a quatro vezes mais do que as baterias de lítio, usadas por celulares comuns (3). Além disso, o equipamento é todo biodegradável. Depois do fim da bateria, restaria somente oxigênio e água em seu recipiente (4).

3

4

21

Tecnologia

18

sinal wi-fi

carregador wi-fi

19 Energia wi-fi

25 Criocapacete

O Airnergy Charger é um pequeno carregador com circuitos que recebem o sinal wi-fi, o converte em eletricidade e o armazena. Numa exibição este ano, carregou completamente um smartphone que estava com 30% de bateria em cerca de 90 minutos, usando somente os sinais wi-fi bateria ambientes como fonte de energia. Seu desempenho depende da proximidade das redes e sua quantidade. A empresa RCA disse que o carregador USB estará à venda ainda neste ano por US$ 40

22

Cultura Saúde

20

Código para daltônicos É uma espécie de linguagem de sinais para quem não

enxerga as cores corretamente. O designer português Miguel Neiva criou códigos que simbolizam as cores. Vai facilitar a vida dos daltônicos na hora de realizar tarefas simples, como pegar a linha certa do metrô

Lítio na água Pesquisadores verificaram que comunidades em Oita, no Japão, que ingeriam água com um nível naturalmente maior de lítio ( de 0,7 a 59 microgramas) apresentavam menos suicídios do que aquelas onde a água continha esse íon em menor concentração. Ao todo, foram estudados 18 municípios de 2002 a 2006 66_março_2010

amarelo

vermelho

azul

amarelo

verde

laranja

vermelho

vermelho

azul

verde

roxo

marron

Em caso de acidente, o capacete-protótipo criado pela empresa americana ThermaHelm resfria e mantém a temperatura do cérebro em 37 ºC, impedindo que chegue acima de 42 ºC, quando as células do cérebro inchado pelo trauma começam a morrer

23

Hipotermia induzida

O coração para. Três minutos depois, as células do cérebro começam a morrer. Se o paciente sobreviver, existe grande probabilidade de sofrer sequelas graves. Mas uma técnica criada nos EUA e já testada no Brasil está aumentando as chances de sobrevivência — e sem sequelas. A hipotermia consiste em resfriar o paciente (com gelo e soro congelado direto no sangue) até uma temperatura entre 32 ºC e 34 ºC. Ela salva o paciente reduzindo o metabolismo e regenerando o cérebro fotos:

Divulgação.

i lustr ações:

3 min

Risco de vida + 42 °C

Temp. normal

36,5 °C 37,5 °C

Hipotermia induzida

34 °C 32 °C

35% a 50% aumento nas chances de sobrevivência sem sequelas após uma parada cardíaca

A lexandre Af fonso, Daniel da s Neves, Divulgação

Pílula anticoncepcional masculina Um estudo conduzido por Michelle Welsh, do Centro de Biologia Reprodutiva de Edimburgo, no Reino Unido, descobriu como os hormônios masculinos controlam a produção de esperma. Nos testículos existem células que geram espermatozoides e outras células que possuem genes que codificam o hormônio sem o qual é impossível produzir esperma. Na pesquisa de Michelle, o gene foi removido de ratos, e eles se tornaram inférteis. É esta descoberta que abre o caminho para uma pílula contraceptiva masculina, cinco décadas depois da feminina

Robôs com consciência

O roboticista Ronald Arkin, da Universidade Georgia Tech, nos EUA, explica o projeto que desenvolveu com o exército americano para criar robôs com ética A intenção é fazer com que os robôs trabalhem com os humanos. Robôs não desenvolvem a ética por conta própria. Enquanto o medo influencia as decisões humanas, eles classificam as ações em éticas e não-éticas. Para saber que tipos de ações cabem nessa equação, são necessários humanos Por exemplo, um robô, atingido por um atirador que se encontra perto de um monumento histórico, leva em conta dados geográficos e decide revidar com um rifle em vez de uma granada

26 março_2010_67


Trata-se de um método alternativo à cremação e ao enterro. Consome 1/6 de energia e emite menos carbono do que a cremação, anteriormente considerada o método mais ecológico. Em vez de queimar, o corpo é liquefeito por meio de uma hidrólise alcalina que imita o processo de decomposição natural, porém ocorrendo muito mais rapidamente

1. A cerimônia é idêntica à cremação

2. Após a preparação, o corpo é levado para uma câmara de alta pressão com o líquido a 180 °C e, graças a um método patenteado, o processo leva de 2,5 a três horas

3. Os resíduos gerados são: liquido com aminoácidos e peptídeos, além de fosfato de cálcio proveniente de dentes e ossos

Tecnologia Meio ambiente

68_março_2010

4. O líquido pode ser filtrado, devolvendo assim água pura para o solo

Caixão-parafuso O caixão-parafuso (ou Recipiente de Enterro Fácil, como foi batizado pelo seu inventor, Donald Scruggs) reduz o trabalho de escavação, diminui os custos com o sepultamento e necessita de menos terreno que o caixão tradicional

Em vez de lombadas feitas de asfalto e concreto, que tal uma lombada de plástico que utiliza o peso dos carros para gerar eletricidade? A energia alimenta as lâmpadas que tornam a lombada visível à noite

35

Doping genético

Lembra de quando os atletas se dopavam com esteroides? Essa fala será ouvida em 2020 sem nenhuma nostalgia. Cada atleta terá um banco de dados genético. Os dados serão usados para detectar os pontos fracos dos atletas. Com exames precisos feitos periodicamente, o doping por esteroides deve acabar. O problema é que o novo doping será genético, feito sem deixar traços, e pode criar atletas super-humanos. Nat Irvin, fundador de uma empresa que monitora tendências, a Future Focus, diz que até 2020 vamos achar o doping genético algo corriqueiro. “As pessoas vão pensar na melhora de performance (via biogenética) da mesma forma que pensamos em uma cirurgia corretiva nos olhos.”

32

A lombada produz energia com o peso dos automóveis

38 mÚsica dna

Tchau, MP3. O novo formato vem com letras, fotos, videoclipes e até notícias dos artistas, tudo atualizado via web

Banda larga popular O governo quer usar a rede de fibra óptica que atravessa 17 mil quilômetros do País para oferecer banda larga a preços baixos. A reação: NET e Telefônica lançaram pacotes com valores mais baixos

O governo de Sã o Paulo isenta de ICMS os planos mensalidade de até com R$ 29,80 e veloc idades entre 200 por segundo (Kbp kilobits s) e 1 megabit po r segundo (Mbps)

30

Evolução dos arquivos de música (tamanho de uma música de três minutos)

Mb

25

Mb

36

Televisão 3D

2010 será o ano zero da televisão 3D. A ESPN americana e a inglesa Sky lançaram canais para transmitir eventos esportivos em três dimensões. Ambos estreiam no dia 11 de junho, com a transmissão do jogo inaugural da Copa do Mundo

iPad

O novo gadget do tio Jobs vai salvar a mídia impressa, o cinema independente e a indústria da música, ou é mais um plano da Apple para dominar o planeta?

(veja matéria na página 70)

39

40

Guardachuva de ar

O guarda-chuva concebido pelos designers sulcoreanos Je Sung Park e Woo Jung Kwon usa uma cortina de ar para evitar a chuva. Pena que por enquanto é só um protótipo. Faria sucesso em São Paulo

20

Mb

15

Mb

10

Mb

Até 2013 haverá 13,6 milhões de TVs 3D na Europa

5

Mb

2,8 Mb 1,4 Mb

Ressomação

29

Lombada inteligente

MP3 128 Kbps

28

34

31

Cultura

enterro líquido

“The Google now translates what you write in real time. Now the company wants to do the same with our voices. In December 2009, Vic Gundotra, vice president of engineering at Google, said a few sentences in English on her cell phone during the presentation of company news. Seconds later, the phone repeated what was said in Spanish. The program should be launched later this year".

Nicholas Negroponte idealizou o programa One Laptop per Child (OLPC) e já colocou 1,4 milhão de notebooks nas mãos de crianças de 34 países. Seu novo projeto é o XO 3.0m, um tablet (como o iPad), que deve ser lançado em 2012, a um preço inferior a US$ 100

A cortina de ar é formada pela corrente que é soprada para fora do duto, que é oco

Ele pode ficar menor e o tamanho da cortina de ar pode ficar maior

MP3 64 Kbps

Comportamento

Abaixo, o texto anterior em inglês, traduzido pelo Google Tradutor. E aí, dá para confiar?

4,2 Mb 3,5 Mb

Saúde

Tradução em tempo (quase) real

MP3 192 Kbps

*

Qual o futuro para os jornais que não apostam tanto nas cores nem em grandes artigos?

*

O que os periódicos precisam fazer para sobreviver? Eggers: Se fizerem tudo que são capazes de fazer muito bem — bons artigos investigativos, fotografias e gráficos grandes, uma seleção criteriosa dos fatos noticiosos —, então os leitores acharão um valor nessa forma.

O Fraunhofer Research Institution for Electronic Nano Systems está desenvolvendo uma bateria de 0,6 milímetro. Baterias pequenas assim são essenciais para alimentar a próxima geração de gadgets: finos e flexíveis

MP3 150 Kbps

eu amo jornais. Eu quero que eles sobrevivam. Nos EUA, há uma atmosfera pessimista acerca do futuro dos jornais, então pensamos em demonstrar os papéis que essa mídia cumpre muito bem, além de lembrar as pessoas das possibilidades inerentes à sua forma.

Tablet popular

Baterias impressas

30,4 Mb

Janeiro de 2011 — Data prevista para abrir outro serviço pago do NYT. O visitante do site poderá ver um número limitado de artigos e notícias a cada mês. A partir disso, será preciso pagar um valor ainda não definido para ter acesso ilimitado. Os assinantes do jornal impresso (incluindo os que assinam somente o jornal de domingo) não precisarão pagar nada

Dave Eggers: Em primeiro lugar,

Eggers: Uma maneira dos jornais

sobreviverem é diferenciar-se dos sites de notícias. Então, deixamos os escritores livres para dedicar o tanto de espaço que achassem necessário para seus relatos. E obtivemos um bom feedback.

37

O Google já traduz o que você escreve em tempo real. Agora a empresa quer fazer o mesmo com nossas vozes. Em dezembro de 2009, Vic Gundotra, vice-presidente de engenharia do Google, disse algumas frases em inglês em seu celular durante a apresentação das novidades da empresa. Segundos depois, o celular repetiu o que foi dito em espanhol. O programa deve ser lançado ainda este ano

15,6 Mb

Setembro de 2007 — Fecha o serviço, que tinha uma receita de US$ 10 milhões anuais e 227 mil assinantes. O marketing do NYT achava que podia lucrar mais com propaganda online

* O que o levou a criar o San Francisco Panorama?

33

30

WMA

Setembro de 2005 — Abre o TimesSelect, serviço pago do NYT, após dois anos de funcionamento. Ele cobrava US$ 7,95 por mês ou US$ 49,95 anuais para oferecer artigos e notícias de 23 colunistas, além dos artigos desde 1851

O escritor Dave Eggers quer provar que os jornais impressos ainda são legais. Fez uma única (e linda) edição apostando em gráficos coloridos atraentes e textos quase literários

WAV

A volta do Conteúdo pago

O jornal americano The New York Times decidiu voltar a cobrar pelos textos que estão em sua página na internet a partir de janeiro de 2011. É a terceira mudança em cinco anos. Quanto tempo vai durar agora?

Tamanho

27

Formato

foto:

Divulgação.

i lustr ações:

A lexandre Af fonso, Daniel da s Neves

março_2010_69


estômago

beleza interior

Botox no estômago. Médicos brasileiros estudam toxina botulínica para combater a obesidade A substância que dá origem ao Botox, tratamento antirrugas que mais cresce no mercado segundo a Sociedade Americana de Cirurgia Plástica Estética (Asaps), pode ajudar as pessoas a emagrecer. A toxina botulínica vem sendo estudada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para diminuir a intensidade dos movimentos feitos pelo estômago e tornar a digestão mais lenta. Ao ser aplicada no antro (parte do órgão responsável por esvaziar o alimento sólido), a substância faria com que a fome levasse mais tempo a aparecer novamente. “O procedimento não mexe na anatomia do corpo como a redução do estômago. E pode ser feito sem cirurgia”, diz o gastrocirurgião da UFMG, Aloísio Cardoso Junior, responsável pelo estudo. “Em tese, o paciente pode ir para casa uma hora depois da aplicação”, diz. O estudopiloto comprovou a segurança da aplicação em humanos. Na próxima fase será possível determinar sua eficácia. Se o Botox agir no estômago com prazo parecido ao das aplicações estéticas (em torno de seis meses), seu uso não ficará restrito aos casos de obesidade mórbida, como acontece hoje para as operações de redução estomacal. //roberta malta

Endoscópio

Antro

passo 1: com um aparelho

Movimentos peristálticos

de endoscopia comum, o Botox é levado até o estômago. Sem cirurgia

passo 2: a substância é aplicada no antro, parte do estômago responsável pelo esvaziamento do órgão. Assim, a fome demora mais a aparecer

Outras aplicações do botox

Distonia C

hiperidrose

bexiga

hiperplasia

cefaléia

Suor exagerado

hiperativa

da próstata

tensional

nos pés, mãos

O botox relaxa a

No lugar de

Forte dor

e axilas, que

musculatura da

cirurgia para

de cabeça

que provoca

incomoda e gera

bexiga para que o

tratar o aumento

provocada por

espasmos e

insegurança. A

paciente consiga

da próstata,

estresse ou

causa postura

Você sabia que a toxina botulínica é...

toxina botulínica

segurar a vontade

usa-se a toxina

má postura.

anormal da

acaba com o

súbita de urinar.

botulínica. Ela

Tratamentos com

cabeça e

... o veneno mais forte do mundo? ... 40 milhões de vezes mais potente que o cianureto?

sintoma, se

Em vez de dez

diminui o órgão

Botox costumam

pescoço. O Botox

reaplicada a cada

dias no hospital, a

de forma bem

ser bem tolerados

é terapia eficaz

seis meses

alta é em 24h

e eficazes

no alívio da dor

18_JUNHO_2010

Distonia Cervical

menos agressiva

Distonia Cervical

i n fogr áfico:

Distonia Cervical

Daniel da s N eves.

distonia cervical

Distonia Cervical

Distúrbio

ícones:

A lexandre Af fonso


1 2

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5 9 6 0

Pense em si próprio como um robô sonhador em piloto 4 automático e você vai estar bem próximo da realidade”

8

Albert-Lázló Barabási

0

6

7

7 8 9 0 oráculo

Bola de cristal digital.

e surgiu da análise de dados digitais (a comunicação pela internet, telefone, os pagamentos por cartão de crédito e por aí vai). Esse rastro digital que os seres humanos deixam na rede torna previsível seus próximos passos. “Antes, a quantificação do comportamento não era possível porque ninguém queria ser submetido a investigações científicas como se fosse uma bactéria”, diz o diretor do Centro de Estudos de Redes Complexas na Northeastern University, em Boston, Estados Unidos. Hoje, boa parte de nossas ações tem um registro na rede e deixa pistas em algum banco de dados. “Embora ninguém queira pensar sobre isso, a verdade é que estamos sob observação e nossa vida pode ser investigada com incrível precisão.” Para Barabási, por meio de cálculos é possível prever detalhes do que você fará nos próximos anos. Ou seja, seu próximo burst. Basicamente, o lugar onde você nasceu, suas relações e hábitos já dão conta de decidir toda a sua vida. O mistério ainda está em como criar esses bursts ou, melhor dizendo, como direcionar o futuro. Novas redes sociais poderão nascer não com testes que perguntam “que tipo de pessoa você é?”, mas “o que estará fazendo em cinco anos?” e isso vai dar uma mãozinha a essa bola de cristal. Muito em breve, o futuro talvez esteja na rede. //rita loiola

Quem precisa de videntes quando se tem a internet para prever o futuro?

B

ursty, palavra inglesa que pode ser traduzida como explosivo, é o termo usado pelo cientista romeno Albert-Lázló Barabási para indicar que as pessoas não se comportam de maneira espontânea ou irracional. Ao contrário, seguem um padrão de explosões de intensa atividade seguidas de longos momentos de completo nada. A conclusão está em seu novo livro Bursts – The Hidden Pattern Behind Everything We Do (Explosões – O Padrão Escondido por Trás de Tudo o que Fazemos, em tradução livre),

i lu str aç ão:

Daniel da s Neves


saúde

O perigo mora no bolso Uma lista dos celulares

Blackberry 8800 1,58 w/kg*

HTC Magic 1,55 w/kg

LG Chocolate 3 1,26 w/kg

iPhone 3GS 1.19 w/kg

Nokia 5130 1,14 w/kg

Nokia 1100 1,02 w/kg

Motorola RAZR V3 0,89 w/kg

Sony W200a 0,87 w/kg

Samsung Omnia II 0,62 w/kg

que mais emitem radiação

(e sim, essa radiação pode causar câncer) No ano passado, dois estudos reacenderam um velho boato: celular pode causar câncer. A principal pesquisa, feita por um grupo de pesquisadores do International EMF Collaborative, indica que o uso prolongado de uma fonte de radiação pode, a longo prazo, ser fatal. E toda vez que você faz ou recebe uma chamada, seu aparelho emite um pouco de radiação. As empresas — e boa parte dos cientistas — dizem que a frequência é baixa, mas vai saber... Daí que a Galileu compilou um ranking dos telefones portáteis mais vendidos e que mais emitem radiação. Confira ao lado.

*Não é vendido no Brasil

Fonte: Environmental Working Group

w/kg: Quantidade de energia absorvida pelo corpo quando exposto à radiação. No caso, são watts por quilograma de massa corporal

sustentabilidade

Minhocas contra o lixo Uma bacia de minhocas dentro de casa pode acabar com o lixo da família. 60 cm

60 cm

kit maior Para casas com até 4 pessoas

1

Diariamente, o kit pequeno pode receber meio litro de lixo orgânico misturado a folhas

45 cm

secas. O kit grande vai até 1 litro 45 cm

45 cm 30 cm

kit menor Para casas com 2 pessoas

2

Na caixa do meio vão 2 kg de húmus e 150 g de

minhocas (no kit pequeno). Depois de 50 dias, quando a caixa do meio estiver cheia, o lixo, junto às folhas secas,

3

A caixa

deve ser depositado na caixa de

de baixo

cima. As minhocas vão migrar para

recebe o líquido

a caixa de cima e os 7 kg de húmus

resultante da

que restarem na caixa do meio (no

compostagem. Ele

kit grande são 15 kg) podem ser

é um fertilizante,

usados como adubo. Depois de

inodoro, que pode ser

50 dias, o processo recomeça.

usado na rega de plantas.

i lu str aç ão:

Daniel da s N eves;

fotos :

Divulgaç ão

A receita é simples: três caixas de plástico, uma torneira, um pouco de húmus e algumas minhocas. Com as caixas empilhadas, é só colocar dentro o lixo da cozinha para que ele se transforme em adubo. O sistema foi montado pelo Projeto Minhocasa, de Brasília, que presta consultoria na área de sustentabilidade, para redução do lixo doméstico. No Brasil, são cerca de 145 mil toneladas de resíduos orgânicos por dia. Sem tratamento, esse lixo gera gás metano e chorume, que migra para os lençóis freáticos e contamina rios e lagos. O kit acaba com o mau cheiro, é autorregulável e os inventores garantem que a quantidade de minhocas se mantém. “Se receberem comida todo dia, reciclam o lixo indefinidamente”, diz César. Os kits custam entre R$ 215 e R$ 305 (www. minhocasa.com). Entre os pedidos, 30% vão para moradores de apartamentos. //rita loiola JUNHO_2010_35


Japão

Gana

Holanda

Austrália

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Oitavas de final

É Hexa! Segundo o economista inglês

Quartas de final

Entenda o gráfico

Simon Kuper, autor do livro Soccernomics, o Brasil é favorito pela

Grupo

tradição, a maior população entre os países com boas seleções, contato com a bola desde crianças e uma indústria de

item vale um ponto: maior população (e, portanto, a maior base de atletas); melhor colocação em copas e posição na última copa (mais experiência), posição no

Vencedor

Semi final

formação de jogadores. Com base nisto, um sistema de pontuação para cada seleção. Cada

Ponto extra por jogar em casa Final

Melhor colocação em Copas População Renda per capita PIB/População

ranking Fifa; e renda per capita (que dá estrutura e condições

Ranking da Fifa

para formar os jogadores). Um ponto extra foi dado à África do

Posição na última Copa

Sul, por estar jogando em casa (os árbitros tendem a favorecer o

Número de participações em

time da casa, como você pode ver na página seguinte).

Copas (*critério de desempate)

i n fogr áfico:

Daniel da s Neves

Fontes: Fifa; CIA World Factbook, FMI, Banco Mundial, Simon Kuper

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60_JUNHO_2010

este ano, eles têm Messi, mas sua zaga não é confiável. O mesmo acontece com a Inglaterra, que terá um goleiro fraco na Copa”, afirma o jornalista esportivo Lycio Vellozo Ribas, autor de O Mundo das Copas. Outro jornalista da área, Marcos Gutterman, torcedor do Santos e autor de O Futebol Explica o Brasil, complementa o argumento: “Somos mais firmes nos momentos decisivos. A Alemanha, por exemplo, foi a mais finais que o Brasil, mas nós ganhamos mais. No futebol, a eficiência brasileira é maior que a alemã”. A não ser quando o adversário é a França, que nos eliminou nas Copas de 1986, 1998 e 2006. Mesmo assim, o Brasil tem tudo para voltar com a taça de campeão pela sexta vez para casa. Pelo menos é o que a fórmula matemática na tabela ao lado diz. Mas, claro, sempre há espaço para o imponderável, para um frango do goleiro ou um dia ruim do atacante. Ou um Zidane pela frente.

po

a razão dessa supremacia é uma combinação feliz entre tradição (disputamos todas as Copas), contato com o futebol desde crianças (consequentemente treinamos mais que os rivais), uma indústria de formação de jogadores (dos menores até os maiores times do País), e a maior população entre as nações com seleções competitivas. “O grupo de países mais experientes no cenário internacional é formado por Brasil, Inglaterra, Alemanha, Suécia, Argentina e Hungria. De longe, o Brasil é o que tem a maior população e, portanto, a maior base de atletas”, diz Simon Kuper, autor do livro Soccernomics (previsto para ser publicado no Brasil este mês pela editora Tinta Negra). Claro, as outras seleções possuem craques como o Brasil, mas falta algo. “No Brasil sempre há bons jogadores e o País conta com uma seleção competitiva. A Argentina de vez em quando leva equipes não tão boas, ou com deficiência em algum setor;

Gr u

q

uando o Brasil entrar em campo no estádio Ellis Park, em Johannesburgo, no dia 15 de junho, não serão apenas 190 milhões de pessoas que estarão congeladas diante da TV. O mundo inteiro vai acompanhar. Quando a Seleção verde e amarela disputa uma partida por uma Copa do Mundo, ela é respeitada como a maior – e mais temida – autoridade no esporte mais popular do planeta. Esse respeito foi conquistado ao longo do tempo. Desde a primeira edição, em 1930, o Brasil quase sempre terminou em boas colocações. Hoje, 18 Copas do Mundo depois, são cinco títulos, dois segundos lugares, dois terceiros e um quarto.

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custo: US$ 6 bilhões por ano

distância: 55 milhões de km

PRÓXIMA PARADA...

Marte

...

Os americanos querem fincar sua bandeira em solo marciano em

2030. Se tudo der certo, será o primeiro passo para que um dia você more no espaço

T Risis nóbile diniz, planeta terra

tempo de viagem: 214 dias*

O presidente americano Barack Obama tem planos ambiciosos para o espaço. Ele planeja que seus astronautas cheguem a Marte dentro de duas décadas. Antes disso, porém, garantiu que eles farão uma viagem preparatória para algum asteroide mais próximo. Para chegar lá, Obama vai aumentar o orçamento da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa). No ano que vem, serão investidos um total de US$ 19 bilhões, ou 11,7% a mais da quantia destinada às pesquisas espaciais em 2010. * Estimativa

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foto:

Divulgação

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invenções que vieram do espaço Veja alguns dos produtos e tecnologias usados nos programas espaciais e que passaram a fazer parte do nosso dia a dia

1957

Imagens médicas. A Nasa criou um programa para captar imagens enviadas pelas sondas espaciais. Foi o primeiro passo para os exames de ressonância magnética

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Sputnik I

Transmissão via satélite. Transmissões ao vivo pela TV só viraram realidade depois do lançamento do 1º satélite artificial pelos soviéticos, na década de 50

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Programa Apollo 11

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Satélites Programa Apollo 15

Lentes que bloqueiam a radiação solar. A partir de pesquisas sobre materiais para proteger os olhos dos astronautas, foram desenvolvidas lentes que filtram raios ultravioleta (UV)

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Tênis esportivos. O mesmo processo utilizado na fabricação de capacetes foi aplicado para criar solas ocas de borracha que absorvem o choque. Quem desenvolveu as solas da Nike foi Frank Rudy, exengenheiro da Nasa

M

galileu.globo.com

ou fotografe com o celular o código acima

ula

R.

Leia entrevista com o brasileiro Ramon Perez de Paula, engenheirochefe do Mars Exploration Program, em

Pa

1

Estação espacial Skylab 6

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196

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Programa Gemini

96 6

O objetivo desse investimento vai além da fora a experiência e o dinheiro investido trancafiou, em junho, conquista de poder político. Uma viagem no programa Constellation, que previa a seis voluntários interespacial como essa pode trazer também volta à Lua nos próximos anos. Nada disso em uma cápsula muitos avanços tecnológicos — como ocordiminuiu a empolgação dos pesquisadores. que imita uma nave reu depois que o homem pisou na Lua pela “Visitar um asteroide pode levar a um meespacial. O grupo primeira vez, em 1969. Na época, as pesquilhor entendimento sobre a formação dos vai ficar isolado por sas para a viagem deram origem a inovações planetas”, diz o brasileiro Nilton Renno, 520 dias, executando usadas até hoje. Os exames de ressonância professor da Universidade de Michigan, nos tarefas iguais às magnética e o tênis com solado Air que você Estados Unidos, e pesquisador da missão dos astronautas usa são algumas delas (veja quadro na próPhoenix (sonda enviada a Marte em 2008) xima página). No caso de Marte, uma das e do Mars Science Lab. Seria possível saber, possibilidades é a popularização de viagens comerciais por exemplo, se o gás metano em Marte indica mesmo dentro da órbita da Terra. “Imagine milhares de pessoas atividade vulcânica ou vida bacteriana. “Poderíamos visitando ou vivendo em torno do nosso planeta”, diz o checar se o planeta tem boas quantidades de água general Charles Bolden, administrador da Nasa. líquida, que é algo essencial para a vida”, diz Renno. Nos próximos cinco anos, o projeto de Obama prevê Três missões a Marte já passaram do papel para a ainda um investimento extra de US$ 6 bilhões em pro- prática. No ano que vem, o veículo Curiosity levará uma gramas privados que explorem comercialmente voos câmera 3D desenvolvida pelo diretor do filme Avatar, Jasuborbitais. Também está entre seus planos estender a mes Cameron, para filmar o planeta. Em 2013, a Missão continuidade da Estação Espacial Internacional (ISS) Atmosfera de Marte e Evolução Volátil (Maven) trará até 2020, que inicialmente estava programada para informações sobre sua história, clima e a possibilidade ser desativada em 2015. Finalmente, a partir de 2025 de abrigar seres humanos. Em 2016, a Nasa, em conjunficaremos mais próximos do Planeta Vermelho. Como to com a Agência Espacial Europeia (ESA), deve medir preparação, serão lançadas missões com astronautas os gases da atmosfera do planeta vizinho. Será uma a um asteroide e uma nave tripulada à órbita de Marte espécie de expedição arqueológica para descobrir se um até a década de 2030. dia houve vida por lá. De quebra, também irá prever a possibilidade de o planeta ser habitado no futuro. Por Neil Armstrong e Eugene Cernan, respectivamente fim, a Missão Mars500, feita em parceria pela ESA e o primeiro e o último homem a pousar na Lua, em 1969 e em 1972, pelo programa Apollo, não gostapela Rússia, vai colocar seis voluntários trancafiados ram da ideia (Neil é o autor da famosa frase: “Este é por 520 dias em um ambiente controlado, de condições um pequeno passo para um homem, mas um grande semelhantes às da atmosfera marciana. O objetivo é salto para a humanidade”, que disse ao colocar seus investigar como a permanência no planeta afetaria os pés em solo lunar). Os dois afirmaram, em um comuastronaustas. Se tudo isso der certo, você pode começar nicado, que as mudanças são devastadoras e jogam a sonhar com a casa própria em Marte.

Programa Voyager

1964

o projeto Mars 500

1963

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500 dias Com eles:

Aspirador portátil. A Black & Decker criou uma broca pequena, leve e alimentada por bateria, para recolher amostras do solo lunar

Detector de fumaça. Foi usado pela primeira vez na estação espacial Skylab, de 1973. O objetivo era identificar vapores tóxicos

GPS. A partir dos primeiros satélites, a Marinha americana desenvolveu um sistema de localização usado primeiro para fins militares e depois liberado para uso civil

Joystick. Evoluiu a partir de pesquisas para encontrar uma maneira de controlar o veículo lunar da missão Apollo

Sistema de respiração para bombeiro. Antes de 1971, o peso médio desse sistema era de 30 quilos. Os engenheiros da Nasa criaram uma versão que pesava um terço menos

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os programas Sputnik I. Primeiro satélite artificial (lançado pela então União Soviética) / Gemini. Segundo programa espacial americano / Apollo. O programa que levou o homem à Lua / Voyager. A primeira sonda a sair do Sistema Solar / Skylab. Primeira estação espacial americana.

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foto:

AP;

i lu str aç ão:

Daniel da s N eves

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em órbita

Vai e volta. As naves que retornam à

Terra depois de cumprir sua missão vão baratear as viagens ao espaço

C

hegou a hora de aposentar os ônibus espaciais e colocar no lugar deles veículos mais eficientes e baratos, que conseguem retornar e pousar em solo terrestre depois de cumprirem seu trajeto pela atmosfera. A Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) anunciou que a última viagem das atuais naves deve ocorrer no dia 26 de fevereiro de 2011. E já prepara os substitutos. O primeiro deles poderá ser usado a partir de 2025. O Reusable Booster System (RBS) é uma mistura de foguete com avião que, depois de colocar sua carga em órbita, consegue voltar à Terra e pousar sem avarias, ao contrário da maior parte das espaçonaves. Os foguetes usados hoje para

carregar os ônibus espaciais sofrem grandes danos na sua volta ao planeta e boa parte dos componentes é inutilizada. Como o RBS retornará sem grandes estragos, as viagens com ele ficarão cerca de 50% mais baratas. Atualmente, o lançamento de um ônibus espacial custa até US$ 450 milhões. Outra possibilidade são os voos suborbitais que vêm sendo desenvolvidos por diversas empresas ao redor do mundo, como as americanas Virgin Galactic e Space Adventures. É esse o caso da VSH, da companhia francesa Dassault Aviation. Ela pode atingir a fronteira com o espaço e retornar quase intacta. O próximo passo é aprimorar essas naves para que consigam escapar da órbita da Terra e atinjam o espaço sideral. //guilherme rosa

novos jeitos de voar 1 1. A nave VSH da Dassault leva até seis tripulantes para a fronteira com o espaço. Ela precisa ser carregada por um avião até uma altitude de 8 km, quando se solta e sobe cerca de 100 km, até os limites da atmosfera

*

Mach 3,5

2. embora a VSH não entre em órbita, ela pode fazer turismo espacial ou transportar cargas até o espaço. Depois, a nave volta planando até o solo terrestre, sofrendo menos danos que os ônibus espaciais usados hoje

O Reusable Booster System consegue decolar e colocar uma carga em órbita como qualquer foguete normal. A diferença é que, uma vez que a carga foi entregue, ele pode dar uma volta de 180º e pousar na Terra sem sofrer avarias, do mesmo modo que um avião

*

Mach 7

*Mach é uma unidade de medida de velocidade. Um Mach equivale à velocidade do som: 1.224 km/h

1. Para entrar em órbita, o ônibus espacial precisa ser carregado por foguetes. À altitude de 46 km, os foguetes são abandonados. O ônibus então ultrapassa os 100 km de altitude e consegue atingir o Mach 23, necessário para entrar em órbita

2 2. Depois de completar a missão, o ônibus espacial volta à Terra. Ele sofre grandes avarias e pega fogo na reentrada atmosférica. A recuperação gera prejuízos à Nasa — cada missão custa U$ 450 milhões

*

Mach 23

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veja bem

Oftalmologista pelo celular.

Brasileiro de 26 anos acaba de criar o primeiro exame de vista pelo celular. A melhor notícia? Ele custa apenas US$ 2

14_AGOSTO_2010

á era de se esperar que o menino fosse virar um inventor. Desde os dez anos, enquanto as crianças da vizinhança brincavam com carrinhos ou videogames, Vitor Pamplona se entretinha com peças de eletrônicos desmontados espalhadas pelo chão. Aprendeu a programar computador em casa, com um PC 286 daqueles de tela verde, que ganhou aos oito anos. Agora aos 26, como estudante de doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do time de pesquisas do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, Vitor é um dos criadores do Netra, gadget que transforma celulares em oftalmologistas eletrônicos. Ao custo de somente US$ 2. O autoexame é simples. É necessário baixar um aplicativo específico (disponível por enquanto apenas para celulares com sistema operacional Android), acoplar o Netra ao celular e aproximar o olho da lente. Com um teste simples (veja ao lado como funciona), o aparelho é capaz de calcular o grau de miopia, astigmatismo ou hipermetropia de cada pessoa. Claro, o gadget não substitui o médico. “Eu costumo comparar o Netra a um termômetro. Você descobre que tem febre, mas ele não te dá ferramentas para se automedicar”, diz Vitor. Com o Netra será possível fazer o exame e saber se é hora de marcar uma consulta ou se está na hora de trocar os óculos. A equipe da qual Vitor faz parte, formada por pesquisadores do MIT e da UFRGS, espera vender o invento como um equipamento médico, mas ninguém tem ideia de quando ele estará disponível no mercado. O próximo passo será adaptá-lo ao novo iPhone e ensiná-lo a reconhecer outras doenças, como a catarata. Por ser barato e portátil, o gadget poderia ajudar países pobres a oferecer diagnósticos de visão em áreas remotas. Por ora, ele ajudou Vitor, que nunca usou óculos, a descobrir que tem um alto grau de astigmatismo. //mariana lucena

COMO FUNCIONA o exame

Quando o usuário olhar pelo Netra acoplado ao celular, ele enxergará duas linhas paralelas, caso tenha algum problema de visão. Pessoas com visão saudável enxergam apenas uma

Em seguida, é necessário aproximar as duas linhas até que elas se sobreponham, usando um pequeno controle manual

Miopia e astigmatismo esférico cilíndrico

A partir do quanto cada um moveu as linhas, o aplicativo vai calcular o tamanho do desvio de visão. Vai diagnosticar também se a pessoa tem miopia, hipermetropia ou astigmatismo

foto:

Divulgação;

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Daniel da s Neves


ciência

Projeto Genoma, dez anos depois. Desde

der a razão de sermos tão diferentes. Ou o que está por trás de doenças sobre as quais pouco sabemos, como a esquizofrenia. Ou seja, boa parte das ideias que tínhamos sobre nosso código genético se mostrou falha. Agora, é preciso redescobrir as peças que nos constroem.

que o mapa genético humano foi decifrado, há uma década, pesquisadores encontraram mais perguntas que respostas

L

ançado em 26 de junho de 2000, uma das grandes promessas do Projeto Genoma era a possibilidade de descobrirmos previamente a chance de desenvolvermos problemas como diabetes ou doenças cardiovasculares. E então criar remédios para preveni-los. Com o código decifrado, seria “só” colocar supercomputadores para comparar os genes “saudáveis” com “doentes” e decifrar que parte estaria causando as enfermidades. Apesar desse processo de ter revelado mais de 500 enfermidades associadas ao DNA, as informações ainda significam muito pouco perto do que se esperava. É que uma variação no gene em si está longe de dizer tudo. Os pesquisadores descobriram que a receita de como o organismo deve funcionar também depende muito de outros fatores, como nossa alimentação e várias mutações raras em partes diferentes do código genético. Difícil é conseguir juntar tudo isso. São detalhes escondidos em uma espécie de “caixa-preta” do genoma. O desafio é distinguir quais mutações causam doenças e quais são inofensivas. “Temos que admitir que ainda não sabemos como fazer isso”, afirma David Goldstein, da Universidade Duke, nos Estados Unidos.

Design não-inteligente

23,5 mil genes — pouco mais que uma minhoca, que tem 19 mil. Os pesquisadores descobriram que um gene humano não sintetiza apenas uma proteína, mas sim várias delas. É que os genes têm pequenos pedaços, chamados exons, como em um colar de contas, que se recombinam de diferentes maneiras, tornando possível fabricar milhares de proteínas diferentes — apesar de a média ser de apenas cinco. Outra descoberta é que em vez de termos duas cópias de cada gene (uma do pai e outra da mãe), podemos ter só uma, ou três, ou mais. Isso é resultado de grandes blocos de DNA que são perdidos ou duplicados — sim, o nosso organismo parece ser um tanto bagunceiro. Essas perdas podem nos ajudar a enten-

No princípio, tudo parecia simples. O DNA era um mero conjunto de genes que continha receitas de fabricação de proteínas pelo organismo. Assim que os cientistas identificassem essas receitas e seu funcionamento fosse descoberto, os homens estariam no caminho certo para entender o que faz de nós o que somos. Mas não foi bem assim. Um dos grandes choques do projeto foi saber que temos apenas 28_agostO_2010

galileu.globo.com

ou fotografe com o celular o código acima

O estudo de todos esses mecanismos genéticos complexos, recheados de exceções e que aparentam funcionar aleatoriamente parece ser esquisito e inútil. “Às vezes me pergunto: por que diabos a biologia funciona desse jeito?”, diz Ewan Birney, do Instituto Europeu de Bioinformática. “Mas, do ponto de vista evolutivo, isso não tem que parecer bonito ou lógico, simplesmente tem que funcionar.” A confusão e o design não-inteligente dos nossos genes significa que há muita coisa que pode dar errado — e normalmente dá. Erros na hora de recombinar os pedaços de RNA (moléculas que ajudam na síntese de proteínas) que vagam pelas células têm papel importante no câncer, por exemplo. Essas descobertas podem indicar tratamentos para doenças conhecidas e nos ajudar a entender o ser humano. “O genoma está no começo, não no fim do processo”, diz Birney. //new scientist

Temos poucos genes a mais que uma minhoca: o funcionamento deles é que nos torna complexos

2010

o que rolou nESSA DÉCADA //tiago mali

Craig Venter anuncia a "criação" de bactéria com gene modificado em laboratório

2007

O biólogo James Watson, que ajudou a descobrir a estrutura do DNA, é a primeira pessoa a receber um mapa genético pessoal

2003

Cientistas consideram o Projeto Genoma concluído após atingir 99,9% de cobertura e precisão

Informação demais

Leia entrevista com o médico geneticista Salmo Raskin em

2008

2000

Projeto Genoma e Craig Venter, da Celera Genomics, anunciam o sequenciamento dos genes humanos. Mas isso ainda era um rascunho do que viria

2005

Lançada iniciativa para mapear os genes de vários tipos de câncer

99,9%

foto:

Get t y Ima ges;

i l u s t r a ç ã o : Daniel

da s Neves

Anunciado programa para decifrar o DNA da cana-deaçúcar no Brasil

2009

Bebê turco de cinco meses é salvo em processo pioneiro de diagnóstico pelo genoma

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eletrônicos

A

A dieta das TVs. Elas afinaram

o perambular por algum museu de tecnologia no futuro próximo, segure bem nos braços das crianças quando passar em frente ao televisor de tubo. Para elas, aquela tela rechonchuda será quase tão estranha quanto um esqueleto de brontossauro. É que os jovens de 2020 serão acostumados a assistir a seus filmes em modelos com espessura de 5 milímetros, ou, em português mais claro, da largura de um grão de arroz. A previsão é de Marcelo Zuffo, professor do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo: “Com tecnologias mais baratas e o ritmo do nosso mercado, as espessuras chegarão a próximo de zero em menos de dez anos”, diz. Veja como tudo isso será possível neste gráfico que mostra a impressionante evolução das telas. //guilherme pavarin

absurdamente nas últimas décadas — e vão emagrecer ainda mais 660 mm

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Por trás da imagem

45 mm

Do surgimento do tubo até hoje, como funciona cada tipo de tela 83 mm

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Espessura tela de 40 polegadas

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tubo catódico o responsável pela saliência na tela. A partir de 40 polegadas, fica tão volumoso que não serve para o ambiente doméstico 2

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Plasma

Camada de microlâmpadas fluorescentes emite plasma, como se fosse uma grade

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LCD Feita de camadas finas,

a mais espessa é a central de moléculas de cristal líquido. Por ser barata, foi a que evoluiu mais rápido

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led Tem a mesma estrutura do LCD, mas usa LED, lâmpadas mais leves que ficam em torno do painel e permitem que seja mais fino

led 3D

Precisa de uma tela brilhante e com resposta rápida, por isso usa apenas tecnologia de última geração. Logo, é bem fininha

6

oled Finíssima e dobrável, sofre com a oxidação em tamanhos grandes. Ainda é imatura para o mercado

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futuro As imagens serão criadas por projeção a laser. Ultrafina, a camada final deverá ser sensível ao toque

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como sobreviver a um ataque zumbi

e agora?: The Walking Dead aborda conflitos humanos no mundo dominado por zumbis

As séries são um exemplo da onda que invadiu a cultura pop — que chegou até a Harry Potter. Na revista inglesa Dazed and Confused de novembro, o ator Daniel Radcliffe posa para a capa e faz um ensaio fotográfico vestido de zumbi. As imagens são um pouco mais refinadas do que o visual nojento inaugurado em 1968 pelo filme A Noite dos Mortos-Vivos. O longa de George Romero cunhou a estética tosca dos zumbis adotada até hoje, uma espécie de primos pobres dos vampiros, sempre chiques e misteriosos. “Romero criou esse apelo trash de vermes saindo pela boca, roupas rasgadas e cheias de terra”, diz Marden Machado, crítico de cinema da rádio CBN em Curitiba. O que mudou é que o jeito letárgico foi substituído pela agilidade que esses seres ganharam desde o filme Extermínio (2002), de Danny Boyle. Essa moda está chegando agora à literatura. Max Brooks, filho do comediante Mel Brooks e antigo integrante da equipe do programa Saturday Night Live, lançou há pouco no Brasil Guerra Mundial Z (Ed. Rocco), ficção de terror que reúne testemunhos de sobreviventes de uma guerra dos zumbis que quase extinguiu a humanidade. O livro vem na esteira da obra anterior do autor, o divertido Guia de Sobrevivência a Zumbis, de 2006. Mas quem pode estar se revirando no túmulo agora é a escritora inglesa Jane Austen (1775-1817). Seu clássico Orgulho e Preconceito transformou-se em Orgulho e Preconceito e Zumbis (Ed. Intrínseca), primeiro exemplar do gênero literário mash-up. A técnica de misturar conteúdos de diversas fontes para criar algo novo tomou conta do mundo dos vídeos, da música e até dos jogos — em 2009 o consagrado game Call of Duty também lançou sua versão zumbi. O livro inspirado na obra de Austen vendeu 10 mil exemplares no Brasil desde que foi lançado, em março, três vezes a média desse tipo de lançamento na editora. Sua versão hilário-macabra mostra as intrigas da sociedade vitoriana com cenas de ação povoadas por mortos-vivos. Os direitos já foram vendidos para o cinema, com roteiro feito pelo autor, o americano Seth Grahame-Smith, e tem estreia prevista para o ano que vem. Natalie Portman foi cotada para a protagonista, mas recusou. Se o lançamento se confirmar, virá junto a uma leva de filmes prometida para 2011. Entre eles, a comédia de ação Zumbilândia 2 16_novembro_2010

1.Fuga

2.combate

1.Fuga Zumbi a la 1968

3.eliminação

2.combate Formas de extermínio

Zumbi a la 2002

Essas são as únicas maneiras efetivas de aniquilar um zumbi

machado

e Silent Hill 2, continuação da versão cinematográfica da trama de horror famosa nos games. Quem acabou de curtir Resident Evil 4: Recomeço, com Milla Jovovich, em 3D, mal terá tempo de se recuperar. E por que tantos zumbis resolveram ressurgir das trevas agora, tomando o lugar das vedetes do terror, os vampiros? Teorias não faltam. O mestre da literatura de suspense e horror Stephen King já havia lançado a ideia de que os filmes de zumbis são um grande reflexo do consumismo irracional, o que os torna mais populares em tempos de economia crescente. Enquanto isso, as histórias de vampiros tendem a crescer quando os mercados econômicos se encolhem, como o sol quando se põe. Recentemente, o colunista financeiro Bruce Watson jogou luz nesta ideia dizendo que as bolsas de valores dos Estados Unidos seriam, na verdade, uma grande briga entre zumbis e vampiros. Porém, uma análise da revista Wired combinou dados de filmes e séries de TV de zumbis com as médias obtidas pelo índice Dow Jones e constatou que as coisas não seriam bem assim. O maior exemplo é a crise de 2008, quando as franquias zumbis se acentuaram mesmo com a grande queda na economia nos Estados Unidos. Se for assim, as histórias de zumbis serão sempre assombradas pelo sucesso. Para isso, o professor de mídias digitais e fã dos mortos-vivos, Docca Soares, teria uma boa explicação. “O terror dos zumbis é muito atraente por mexer ao mesmo tempo com nossos medos e vontades. Quantos de nós já quiseram comer o cérebro de algum desafeto?”

foto:

Divulgação;

i n fogr áfico:

Daniel da s N eves

(A). Decapitação

espingarda

bastão

(B). Tiro na cabeça

(C). Pancada forte na cabeça

Para ganhar tempo

Identificação

Se você encontrar um zumbi a la 1968, quando George Romero dirigiu o longa A Noite dos Mortos-Vivos e eternizou o tipo lerdão, tem sorte. Será mais fácil fugir dele. Escale obstáculos, como muros e cercas, e provavelmente ele ficará para trás. Agora, se topar com um zumbi modelo 2002, o estilo ágil inaugurado no longa Extermínio, de Danny Boyle, corra sem olhar para trás

one!

e ou o é parent

nã a. : Não se rentlaracido durante a fuga ha querid PERIGO sua avozin zumbi enco corpo da Qualquer mo que esteja no os, loucos para amigo, mes: são seres infectad Lembre-seus miolos devorar se

Um ferimento no tronco ou pernas pode ser útil para reduzir a velocidade do morto-vivo — especialmente o do tipo esperto. Use o golpe somente quando a distância não permitir que se ataque diretamente a cabeça. Não é um método efetivo de extermínio

3.eliminação

Atenção:

Em caso de mordida

Já era. Conte os minutos para se transformar em um zumbi. Se for outro fugitivo o atacado, você viverá um conflito: matar a pessoa ou deixá-la virar um zumbi? Em caso de sogra ou primo chato, a dúvida desaparecerá automaticamente

Nunca queime o cadáver. Matou um zumbi?

Isole e marque o perímetro para que as autoridades de sua cidade localizem o corpo e o levem para uma Unidade Móvel de Desintegração Ácida

A incineração libera toxinas que podem espalhar a infecção causadora do fenômeno zumbi


Sanduíche elétrico

1. O Papel filtro absorve grupos de moléculas de água (clusters) do ar e os coloca em contato com os metais, que têm uma camada fina de oxidação

A experiência de Galembeck envolveu três folhas de papel filtro, uma de aço inox e uma de alumínio. Veja como é possível obter energia da umidade

2. No aço inox, a camada oxidada reage com as moléculas de água, liberando íons positivos e negativos. Os positivos se ligam ao metal, que fica com essa carga

3. No papel alumínio acontece o inverso. Os íons negativos se ligam ao metal, produzindo a carga oposta

carga positiva

Ar úmido

Papel filtro EXPERIMENTO

Energia no ar.

Folha de aço inox

Brasileiro contesta “verdade científica” e descobre como obter eletricidade a partir da umidade do ar

T

Papel filtro

udo o que está no ar tem carga neutra. A frase que, a grosso modo, ilustra o Princípio da Eletroneutralidade, está sendo contestada pelo trabalho do brasileiro Fernando Galembeck, Ph.D. em química e professor da Universidade de Campinas. O princípio, até então com status de verdade incontestável, foi colocado recentemente em xeque por um estudo do cientista apresentado em encontro da Sociedade Americana de Química, em Boston, EUA. A descoberta aconteceu por acaso. Sua aluna comprou canos de latão cromado para construir um Copo de Faraday (medidor de carga elétrica para experiências) e percebeu que o aparelho dava resultados inesperados. Em vez de jogar o cano fora, Galembeck resolveu estudá-lo e viu que a falha acontecia porque o material adquiria carga elétrica com a umidade do ar. “O latão é um dos metais que têm esse efeito mais forte; se fosse cobre, nem perceberíamos”, diz. Sua equipe começou então a testar outros metais com um mecanismo descrito como “sanduíche” (veja ilustração). Viram que o efeito se repetia, gerando cargas positivas e negativas, o que pode ser usado para obter energia. Ou seja, retiraram eletricidade do ar. O estudo ganhou as páginas de veículos de comunicação internacionais, como o jornal The New York Times, a rede BBC e a revista New Scientist, e atraiu elogios e críticas da comunidade científica. Alguns cientistas dizem que ainda é necessário mostrar que o

18_setembro_2010 i l u s t r a ç ã o : Daniel da s

N eves;

foto:

Divulgaç ão

Folha de alumínio

carga negativa

Ar úmido

4. A diferença de potencial entre os dois materiais mostra que é possível fechar um circuito, gerando eletricidade nesse processo

FErnan

do Galem

beck

o químic

mecanismo funciona em condições reais, fora do laboratório, no que Galembeck está trabalhando. “Não sei por que ninguém descobriu antes, é tão simples”, diz. Até agora, o experimento criou um potencial elétrico muito pequeno: 0,8 volt, o suficiente para que uma lâmpada de LED dê uma piscada longa. Só para comparar, uma pilha AA gera 1,5 volt. A equipe trabalha agora para descobrir os materiais e temperaturas que podem fazer o sistema ganhar mais eficiência. A ideia é tornar o aparelho viável em locais onde há muita umidade. “Se vai ser um carregador de celular ou um alimentador de iluminação de casa ainda não posso dizer.” //denise dalla colletta

GALILEU* do Mês

*A cada edição, faremos uma reportagem especial sobre pessoas que representem o espírito criativo e contestador do cientista italiano Galileu Galilei (1564–1642).


ao pó voltaremos

Fábrica ao contrário.

Indústria transforma geladeiras e freezers em matéria-prima

P

ense no filme Tempos Modernos, de 1936, retrocedendo. Em vez de apertar e montar peças, Carlitos afrouxa parafusos e destrói máquinas prontas, que fazem o caminho inverso na linha de montagem até virarem matéria-prima. É mais ou menos o que acontece na Indústria Fox, na cidade de Cabreúva, a 85 quilômetros de São Paulo. A recéminaugurada “fábrica pelo avesso” será a primeira da América do Sul a desconstruir geladeiras e freezers usados. O grande perigo desses equipamentos, normalmente destinados à sucata, é que cada um carrega gases com potencial altíssimo de destruição da camada de ozônio. Para evitar que um sucateiro libere esses produtos na retirada dos metais, o novo processo separa plástico, borracha e ferro para serem reutilizados enquanto recicla gases nocivos, como clorofluorcarbono (CFC) e hidroclorofluorcarbono (HCFC) dos aparelhos (veja o destino deles no gráfico ao lado). “A tecnologia permite uma economia de emissão de gases de efeito estufa equivalente a até 1 milhão de toneladas de CO2 por ano [comparável ao que emitiriam 62,5 mil carros populares no período]”, afirma o alemão Philipp Bohr, diretor-geral da indústria. A iniciativa, que prevê reciclar 420 mil geladeiras e freezers anualmente, inclui um investimento de R$ 20 milhões, financiado por fundações suíças. O projeto chega após a promulgação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, em agosto, que responsabiliza os fabricantes pelo descarte de seus resíduos. A ideia é que essas indústrias, junto com os varejistas, firmem parcerias recolhendo equipamentos velhos. Mais três projetos como esse devem sair do papel até 2011, o que ajudaria a dar um melhor destino a parte dos 4 milhões de geladeiras e freezers descartados no Brasil por ano. //luiz ferreira

34_novembro_2010

i n fogr áfico:

Daniel da s N eves

Assaltando a geladeira

Óleo do compressor

Precisa ser retirado no início do processo de reciclagem e armazenado. Depois pode ser reutilizado em outras geladeiras

Gases

CFC e HCFC são transformados em ácido clorídrico (usado em curtumes e na metalurgia) e ácido fluorídrico (para fabricar teflon)

2. Evaporador

Contém tubos de cobre e/ou alumínio. Pode ser derretido e transformado em objetos de decoração (como pratos ou vasos) ou virar componentes eletrônicos

1.Serpentina por onde passa o gás Contém ferro, que pode ser fundido e reaproveitado em latas, arames, partes de automóveis e outros objetos

3. Termostato

Tem de ser encaminhado para um descarte apropriado, já que contém mercúrio, um metal que pode contaminar o lençol freático

4. Revestimento e puxadores de portas

Podem conter alumínio, que é devolvido às indústrias, onde será transformado em objetos como esquadrias de janelas ou até componentes automotivos

2

4 1 3

6 7

5

7. Motor

Primeiro são retirados os gases nocivos ao meio ambiente usados na refrigeração, para que depois a peça seja desmontada e suas partes de ferro recicladas

6. Gavetas e compartimentos

São feitos com o plástico poliestireno que, depois de triturado, pode ser reutilizado na fabricação de aparelhos de barbear descartáveis ou brinquedos

5. Revestimento da espuma

Feito de poliuretano. O material pode ser reaproveitado em revestimento de bancos na indústria automotiva

De volta à matéria-prima

96% de cada aparelho

são reaproveitados col aborou com i n formações:

38 kg 1 kg 600 g de ferro

de alumínio

de plástico

Marcelo Ribeiro Baró, técnico responsável da Ref r iger ação A lla ska


Desenho

Folha A3 ou A4

1 Original

Cópia

Bandeja

Rolo de pintura

2 Água

Cola

3

Papel de parede com xerox: Como fazer 1 – Em uma folha de papel sulfite tamanho A3 ou A4 branca faça um desenho preto, de preferência com linhas retas. Use a folha por completo, sem deixar margens brancas 2 – Tire xerox do desenho. Cada 8 folhas A3 valem um metro quadrado. Calcule a quantidade de cópias de acordo com seu espaço

fazer as próprias roupas, bicicletas, cerveja e até games vem se tornando mais comum na vida de muita gente. a nova era do faça você mesmo se tornou possível graças à colaboração pela internet T Priscilla santos e Luciana van Deursen Loew

C C

I daniel das Neves

omprar um papel de parede, uma bicicleta ou uma estante demanda um esforço mínimo: ir até a loja, escolher e pagar. Ainda assim, muita gente vem preferindo um caminho mais longo. É o caso da artista plástica Juliana Russo, que faz seus próprios objetos de decoração, do empresário Mário Canna, que cria bicicletas, da publicitária Desirée Marantes, que produz seus instrumentos musicais, e do engenheiro Luiz Rocha, que fabrica de móveis a eletrônicos. Em vez de apenas sacar o cartão de crédito, eles preferem passar horas estudando o design ou procurando matériasprimas para seus inventos. Ironicamente, um dos motivos que levam a essa trabalheira toda é que no mundo das coisas prontas tudo é fácil — e igual — demais.

76_novembro_2010

foto:

Ricardo Cor rêa

3 – Dilua cola escolar em água filtrada. Para cada copo de cola, 2 de água. Com um rolo de tinta, passe uma demão de cola na parede, coloque o papel e passe cola por cima, para protegê-lo. Retire o papel e afixe-o novamente na parede, passando a mão por cima para evitar bolhas e ondulações. Cuidado para não deixar buracos entre as folhas

Baixe uma ilustração de Juliana Russo para fazer seu papel de parede em galileu.globo.com ou fotografe com o celular o código abaixo

A artista plástica Juliana Russo, 34 anos, e seu papel de parede feito com fotocópias de um desenho de autoria dela. O móvel antiguinho ao lado foi restaurado à mão

novembro_2010_77


"da mesma forma que os hackers do mundo digital modificam softwares, os do mundo real alterariam coisas" Dale Dougherty, editor-chefe da revista Make

“Numa era em que quase tudo é produzido por máquinas, fazer algo com as próprias mãos é um tipo de rebeldia”, diz a socióloga americana Betsy Greer, que pesquisou a cultura DIY (sigla para Do It Yourself, ou Faça Você Mesmo, em português), em seu mestrado na Universidade de Londres, na Inglaterra. Betsy faz parte de um movimento que ganha adeptos em diversas partes do mundo. A ideia de fabricar produtos, de objetos de decoração a gadgets, com as próprias mãos, ganhou uma justificativa extra com a crise financeira de 2008. Nos Estados Unidos e em diversos países da Europa, as pessoas passaram a abrir mão de objetos industrializados e a preferir os feitos em casa. Ok, mas fazer as coisas com as próprias mãos nem sempre sai mais barato do que comprá-las. Às vezes, fica até mais caro. Fabricar cerveja artesanal, por exemplo, custa bem mais caro do que comprá-la na esquina, por conta dos equipamentos. Mas isso não impediu que a publicitária Desirée Marantes, 32 anos, de Porto Alegre (RS), começasse a produzir cerveja em casa. Os encontros com os amigos para degustar a bebida são pequenos rituais, em que também se discutem receitas. “Dá trabalho, mas vale a pena ter mais um motivo para reunir as pessoas e conversar”, diz Desirée. Ex-violinista, e agora guitarrista nas horas vagas, ela aderiu à cultura do Faça Você Mesmo porque queria deixar seus instrumentos e acessórios musicais a seu gosto. No início, Desirée mandava os equipamentos a lojas especializadas com pedidos de customização. E era quase sempre ignorada pelos técnicos. Resolveu, então, fazer as adaptações por si mesma. A primeira foi um pop filter (aquele aro na frente dos microfones em estúdios de gravação), montado com um aro de bordar e um pedaço de meia calça. “A partir daí fui totalmente contaminada pela ideia de que basta dedicação para fazer qualquer coisa.” 78_novembro_2010

O empresário Mário Canna, 32 anos, ajusta sua bicicleta roda-fixa: o lance está no visual minimalista e no jeito de pedalar, que permite até andar de ré

Mais do que salvar alguns trocos, é essa descoberta da autossuficiência que impulsiona o movimento. Para muitos adeptos da cultura do faça-você-mesmo existe o orgulho em sair por aí usando um vestido criado em casa ou em pedalar a bicicleta customizada na própria garagem. Do mesmo jeito que os early adopters, aquele grupo de pessoas que compra eletrônicos em primeira mão para se diferenciar da multidão, nem que isso só dure alguns dias, quem fabrica produtos em casa quer ter algo diferente do que todo mundo tem. E sentir que participam do processo de fabricação. “São pessoas que querem ter produtos cada vez mais específicos, com os quais possam se identificar”, diz Lucas Liedke, diretor do núcleo de tendências da agência de pesquisa de comportamento jovem Box1824, em São

foto:

Ricardo Cor rêa

Freio

Paulo. “Quando você compra uma coisa pronta, é como se ela não te pertencesse. E, se você quiser adaptála, normalmente não tem jeito”, diz Dale Dougherty, editor-chefe da revista americana Make, especializada em DIY, com tutoriais de projetos ligados principalmente à ciência e tecnologia. Paradoxalmente, essa tendência de fazer coisas em casa acabou movimentando novos negócios nos países em que ganhou mais força. Na Europa e Estados Unidos surgiram empresas que não fabricam nada, mas fornecem infraestrutura para que outros fabriquem. São espaços que alugam equipamentos, como impressoras a laser, máquinas de corte ou softwares. O FabLab (de Fabrication Laboratory, ou laboratório de fabricação), em Amsterdã, é uma delas. Cobra 200

Catraca

Gancheira

Corrente

Catraca Câmbio

1

Roda traseira

Pinhão

2

3

bike roda-fixa: Como fazer 1 – Pegue uma bicicleta usada. Pode ser aquela que está encostada na garagem. Retire o freio traseiro e o câmbio, se houver 2 – Certifique-se de que a gancheira (gancho no final do quadro, onde se encaixa o eixo da roda traseira) é como no desenho. Este formato permite o ajuste fino da corrente, de maneira que ela fique sempre tensionada. Se necessário, peça a um serralheiro para fazer a alteração 3 – Substitua a catraca de roda livre (peça por onde passa a corrente, presa na roda traseira) por outro tipo de engrenagem, o pinhão. Esse é o segredo da roda-fixa. A catraca possui um rolamento que permite que a roda continue girando mesmo quando você não pedala. Por isso é possível “andar na banguela”. Já o pinhão não possui esse rolamento. A roda só se move enquanto você pedala. Dá para andar de ré e frear apenas girando a roda com os pés para trás, num solavanco. Para saber mais sobre a montagem de uma bike roda-fixa acesse o blog do Mário: mariocanna.multiply.com/journal/item/1

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Do real ao virtual

4 cm

acesse:

6 cm

Botão

Lata

1

Montagem

2

3

Desirée Marantes, 32 anos, usa seu miniamplificador feito com uma latinha de balas. A publicitária também reúne os amigos em casa para fabricar cerveja

“numa era em que quase tudo é produzido por máquinas, fazer algo com as próprias mãos é um tipo de rebeldia” Betsy greer, socióloga

miniamplificador de guitarra: como fazer 1 – Escolha uma latinha. Pode ser de bala, sardinha, café, biscoito... Só precisa ter tamanho suficiente para caber um circuito elétrico de 4 cm x 6 cm de medida 2 – Acesse www.handmades.com.br (clique em projetos, amplificadores, Mini Amp — 0,5 W /9 V). Siga as instruções para montar o circuito elétrico para o amplificador de baixa potência. Desirée levou uma tarde na tarefa. O nível de dificuldade é moderado para quem não entende de eletrônica. Coloque o circuito elétrico dentro da latinha 3 – Com uma chave de fenda e martelo faça 3 furos na lateral da lata para encaixar os botões de volume e ganho (para distorção de som) e a entrada para o cabo que fará a conexão do amplificador com a guitarra, o Jack

euros por uma hora e meia de uso e abriga, em suas estações de trabalho, até 15 pessoas. É como alugar uma quadra de futebol com os amigos. No entanto, em vez de jogar bola, pode-se criar de aparelhos eletrônicos a prateleiras. O modelo é similar ao da americana TechShop. Em um galpão de 15 mil m2 na região de São Francisco, Califórnia, tem U$ 750 mil disponíveis em ferramentas. Para usá-las, basta se associar, pagando U$ 120 ao mês. “Não é apenas um espaço, mas uma comunidade que se une para construir, criar e inovar em seu tempo livre”, diz o fundador, Jim Newton. Esse tipo de lugar é uma boa para gente como o empresário paulistano Mário Canna, 32 anos, que fabrica bicicletas em uma oficina improvisada nos fundos da casa de sua família. “Montar uma delas significa conhecer cada peça, cada detalhe, saber de cara onde está o problema quando algo dá errado”, diz. A ideia 80_novembro_2010

de fazer as bikes começou quando Canna morava no Canadá e recebeu uma encomenda embrulhada em um jornal. Nele, havia uma pequena matéria sobre bicicletas de roda-fixa, exatamente as que ele passou a montar. É um modelo sem marchas, em que a roda só gira enquanto a pessoa pedala. E como esse tipo de bike praticamente não se encontra pronta — só pode ser adaptada a partir de uma bicicleta usada —, está muito ligada a conceitos de DIY como reciclagem, economia e exclusividade. “Cada bicicleta é única”, diz Canna, um adepto da cultura DIY que defende que “fazer você mesmo” não é só começar um produto do zero, mas também modificar algo pronto.

Hackers do mundo real Todo mundo tem o direito de fuçar e hackear qualquer produto que exista no mercado. É no que acredita Dale Dougherty, da revista Make. Para ele, da mesma forma que os hackers do mundo digital modificam sistemas de computadores, os do mundo real alterariam coisas. A megarrede de lojas de artigos para casa Ikea, uma espécie de Tok & Stok de origem sueca, foi alvo de designers e artistas holandeses independentes que criaram o concurso não-autorizado Hack Your Ikea. A competição convidava as pessoas a não jogar fora seus produtos da loja já sem uso, mas a transformá-los. Foi

foto:

Luca s Cavalheiro

uma forma divertida de criticar os princípios da Ikea, que vende peças com design bacana a preços módicos, mas que, segundo os organizadores do concurso, não duram muito. A designer Lisette Haasnoot correu até a Ikea mais próxima e comprou uma luminária, a Astrid. Devolveu o produto sem a caixa no balcão de atendimento ao cliente e pegou seu dinheiro de volta. Levou para casa a embalagem. Fez um furinho na caixa para passar um fio, instalou uma lâmpada dentro e passou o estilete para criar fendas no papelão que permitissem a passagem da luz. Pronto. Criou uma luminária — e conquistou o prêmio. “Foi um hack brilhante de todo o sistema de empacotamento e devolução da Ikea”, disse uma das juradas. Essa é a crença que move Dougherty, da revista Make. “Os próprios fabricantes deveriam estimular as pessoas a transformar seus produtos, pois, muitas vezes, o usuário tem uma ideia que o fabricante não teria.” Ser mais independente em relação à produção em massa e conseguir imprimir uma marca pessoal nas coisas é uma ideia que se estende até na prestação de serviços. Criado em uma família em que todo mundo tinha síndrome de professor Pardal (o personagem inventor da Disney), o diretor de arte Cássio Moron, 43 anos, de São Paulo, tomou de vez gosto pela coisa quando morou nos Estados Unidos

Editor-chefe da revista Wired e autor dos livros Grátis e Cauda Longa (ambos da Ed. Campus), Chris Anderson acredita que as revoluções que aconteceram na internet agora vão invadir o mundo real — ele mesmo criou uma empresa que fabrica peças de aviões para aeromodelismo. É sobre a volta dos bits aos átomos que ele vai falar no livro que está preparando.

Como as inovações * da internet estão se estendendo para o mundo real? Chris Anderson: A internet oferece ferramentas para que qualquer pessoa crie alguma coisa dentro dela. É a democratização da tecnologia. Existe um paralelo agora no universo das manufaturas: a democratização das ferramentas de produção. A China abriu a venda de ferramentas para indivíduos e pequenas empresas. Assim, estão permitindo que mais pessoas e companhias entrem no ramo da manufatura. Na mesma linha da internet, esse processo tende a ser aberto e baseado em pequenas escalas.

Os adeptos do DIY * virtual vão migrar para o DIY físico? Chris: O mundo físico é mais

interessante de muitas maneiras. Primeiro, é maior do que o digital, é onde vivemos. Você pode mudar mais facilmente a vida das pessoas nele. Então, essa extensão é natural. Só não aconteceu antes porque era complicado. Era fácil criar um site, mas difícil fazer um objeto. Agora, acredito

que mais e mais pessoas vão aderir. E grande parte da inovação que estava acontecendo exclusivamente na web vai se espalhar para o mundo real.

É o início de uma nova * revolução industrial? Chris: Sim. A primeira

revolução industrial foi a substituição da força dos músculos pela força da roda. A segunda foi a revolução da informação, a substituição dos átomos pelos bits. E acredito que a terceira, que é obviamente muito mais democrática, será a aplicação do modelo dos bits de volta aos átomos. Mas isso virá por meio dos indivíduos, não de grandes companhias. E vai mudar economias, gerar empregos e criar uma variedade de novos produtos que não seriam possíveis no velho modelo, em que cada produto precisa vender milhões para ser bem-sucedido. Estamos agora onde os computadores pessoais estavam no final da década de 70. Temos uma era começando que será, de muitas maneiras, maior do que a dos computadores pessoais, porque a economia do mundo físico é muito maior do que a do digital.

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digamos, de nascença. Mas mesmo quem não é bom com ferramentas pode aprender a fazer as coisas por si mesmo. E na hora de colocar a mão na massa, o maior aliado — quem diria — é o mundo virtual.

Em redes

Suporte

Estilete

Marcação

1

Cola Parafuso

2 O engenheiro da computação Luiz Rocha, 25 anos, e sua estante feita com livros. Esse é um dos projetos ensinados em seu site colaborativo, o inventeaqui

Estante

3 estante invisível: Como fazer 1 – Escolha um livro que você não vai usar mais, de preferência de capa dura. Meça-o com uma régua para encontrar o meio. Posicione ali um suporte de prateleira, como indicado no desenho. Faça uma marca ao redor dele. Use um estilete para cortar as páginas na marcação, fazendo um buraco profundo o bastante para encaixar o suporte. Parafuse-o 2 – Junte as páginas com parafusos. Passe cola em toda a capa, feche e deixe secar por uma noite. Use um peso para pressionar 3 – Fixe a estante na parede com um parafuso grande e uma broca. Preencha com livros a parte do L que ainda está visível

82_novembro_2010

e Europa. Percebeu que estávamos mal acostumados com a mão de obra barata no Brasil. De volta à terra natal, Cássio fez toda a parte de marcenaria, além dos sistemas elétrico e hidráulico de sua casa. Foi ele quem criou o sistema doméstico de tratamento de esgoto. “É difícil eu ficar satisfeito com um trabalho contratado, sem contar meu prazer em colocar a mão na massa”, diz. Por isso, na casa dele praticamente não entra encanador ou eletricista. Profissionais também raramente requisitados pela artista plástica paulistana Juliana Russo, 34 anos. Além de fazer consertos domésticos por conta própria, Juliana garimpa peças que as pessoas jogam fora e as transforma. Já reformou um armário com gavetas, uma luminária e uma cadeira, entre as peças que lhe deram maior orgulho. “Quero ir na contramão do consumo. Uso as coisas até o último momento. Pego as roupas velhas, costuro, ajeito, prolongo a vida delas mais um pouquinho”, afirma. Cássio e Juliana têm essas habilidades manuais,

foto:

Guilher me Puppo

A internet é uma das melhores justificativas para o ressurgimento da cultura do Faça Você Mesmo. Primeiro, por quebrar barreiras geográficas. O jornalista americano Daniel Sinker, que acompanha os movimentos urbanos nos Estados Unidos e é um dos criadores da revista Punk Planet (1994-2007), exemplifica com um caso igual a diversos outros que se poderia encontrar por aí. Ele diz que em Chicago, onde vive, sempre houve garotos que gostavam de fazer pôsteres de bandas, por pura diversão. Daí veio a internet e um pessoal no Canadá, por exemplo, resolveu lançar um site para vender esse tipo de produto, o gigposters.com. “Além de descobrir que não estavam sozinhos, do dia para a noite aqueles garotos começaram a ganhar uma graninha com o que antes era apenas lazer. Alguns até passaram a viver disso”, diz. A rede virtual conectou pessoas que fazem coisas e pessoas que querem comprar essas coisas. Criou, assim, um canal para o escoamento de produtos feitos em qualquer lugar do mundo. O site Etsy.com é emblemático dessa corrente. Criado em 2005 por um pintor, carpinteiro e fotógrafo americano que queria vender suas invenções, hoje tem cerca de 6 milhões de itens em sua vitrine digital. E reúne gente que se inspira para fazer sites semelhantes, que criam comunidades de pessoas interessadas em vender seus produtos feitos à mão, como o brasileiro ciadasmaes.com.br. O site reúne peças feitas apenas por mães, como roupas, quadros e brinquedos. Mais do que gerar vendas, porém, a grande contribuição da rede virtual está na formação de comunidades. “É um paradoxo: faça você mesmo não quer dizer faça sozinho. Normalmente, significa fazer com outras pessoas”, diz Dougherty. Por isso, um fenômeno que surge com a atual cultura DIY são os sites colaborativos com tutoriais para se fazer de tudo. No Brasil, somente no ano passado, foram lançadas ao menos duas páginas nessa linha. Uma delas é o inventeaqui. com.br, criado pelo engenheiro da computação Luiz Rocha, 25 anos, de Curitiba (PR). De tanto ver projetos bacanas serem desenvolvidos em sua faculdade e não compartilhados por falta de espaço, Luiz se juntou a um programador de internet e em três meses colocou o site no ar. Por lá, pode-se aprender (ou ao menos tentar) a fazer desde estantes invisíveis a um minigerador eólico a partir de um cooler de computador. “Me inspirei em sites bacanas que existem lá fora, mas que não aceitavam postagens em português”, diz. Atualmente, o inventeaqui tem 7.500 usuários cadastrados. Com cerca de mil pessoas inscritas, o diybrasil.com.br é mais focado em tecnologia. Alguns de seus tutoriais exigem conhecimento de eletrônica — como a montagem do controle remoto para a vovó,

“antigamente as pessoas apenas reproduziam as lições, sem criar nada” Andréa Onishi, do site superziper

que reúne as funções TV aberta, a cabo e DVD em um único aparelho. “Os projetos não precisam estar finalizados para serem postados”, diz o professor de computação André Barbosa, 36 anos, do Rio de Janeiro (RJ), idealizador do site. A ideia é que as pessoas façam críticas e sugestões. É o preceito do open source, o mesmo em que os usuários podem alterar softwares de maneira colaborativa pela internet.

Li e aprendi O holandês Arne Hendriks sempre acompanhou o instructables.com, um dos sites que lideram as comunidades de DIY no mundo. Criado no Laboratório de Mídia do Massachusetts Institute of Technology (MIT), a plataforma tem instruções para fazer de cosméticos a robôs, passando por um tabuleiro para treinamento de controle de tráfego aéreo e brownie de caneca. Depois de colocar vários projetos no site, Hendriks teve a sensação de que nada era posto em prática. “Era triste ter aquele cemitério de boas intenções rapidamente consumidas, mas nunca materializadas”, diz. Foi daí que ele, que trabalhava com gastronomia, decidiu abrir um restaurante onde tudo, dos móveis às receitas, fosse tirado do site. O nome da casa, em Amsterdã: Instructables Restaurant. Mas não só de projetos elaborados vive a comunidade virtual do Faça Você Mesmo. Cansadas de ficar na frente do computador, já que trabalham com internet, Andréa Onishi, 35 anos, e Cláudia Fajkarz, 35, de São Paulo (SP), decidiram fazer tricô e culinária. Criaram um blog sobre o tema, o superziper.com — e voltaram para a frente do monitor. Mas ainda sobra dedicação para os pontos de costura, que nada têm a ver com os tempos da vovó, garantem. “Antigamente as pessoas apenas reproduziam as lições, sem criar”, diz Andréa. “Quando se adquire o material e se faz algo com as próprias mãos, existe uma satisfação que não tem preço”, afirma, com conhecimento de causa. No fim das contas, é essa satisfação que move as pessoas a produzirem objetos sozinhas. Mais do que economizar ou ir contra a economia de mercado, o que mais querem é se divertir. “Se não, seria só trabalho”, diz o jornalista Daniel Sinker. E disso já estamos cheios.

g

novembro_2010_83


Sug do leestão itor* Você m faz! In anda e a ge diq n

Areia fértil Como funciona a invenção que

faz crescer plantas no deserto

repo

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tinyur rtagem aces ma de sa n l.c Se ele om/galileup do for sele au ta c io s

1. umA semente ou árvore pequena é plantada dentro da caixa (o que as protege do vento), que por sua vez é preenchida com água

airá na n a d o, pró edição xima

glossário

CÓDIGO ABERTO carga

positiva As palavras que a gente encontra por aí

1

RockMelt Chegou a hora da vingança do programador

4

Marc Andreessen,

Dia

criador do browser

2

Variação de temperatura dentro da caixa

Netscape, o mais

água

Variação de temperatura fora da caixa

popular da web antes de ser destronado pelo Internet Explorer. Ele está por trás do Rockmelt, já

Noite

reconhecido como o 2. Durante o dia, a temperatura interna é menor do que a externa. À noite, ocorre o contrário. Isso minimiza os danos das grandes variações térmicas do deserto à planta

primeiro navegador

3

social por integrar redes como Facebook 4. A ÁGUA que evapora de noite condensa quando em contato com a superfície fria da tampa e retorna à caixa

3. Um orifício da Waterboxx goteja água em pequena quantidade e estimula a raiz da árvore a crescer mais do que o normal

e Twitter ao ato de surfar na web e facilitar o compartilhamento de links e informações. Por enquanto, o programa, desenvolvido na plataforma do Google Chrome, está em

tudo verde

versão beta e só é

Oásis hi-tech. No futuro,

disponível para o uso

gotejamento em Israel, em 1960. Esse método é composto por um sistema de tubos que leva pequenas quantidades de água sob pressão às raízes. Em sua versão mais avançada, por pulsos, o sistema capta a “sede” da planta com sensores de temperatura e umidade e faz a rega só quando é necessário. “O gasto de água e energia cai pela metade”, diz Marcelo Artel, diretor comercial da israelense Netafim, uma das maiores empresas mundiais de irrigação por gotejamento. Plantações de café em regiões áridas brasileiras já testam esse método. Outro projeto, previsto para 2011, prevê usar a água do mar para irrigar regiões costeiras por meio de um sistema de evaporação e condensação. A ideia do Sahara Forest Project é dessalinizar a água disponível e criar uma usina de energia solar para suprir suas necessidades energéticas. Pode ser um passo para que regiões não-cultiváveis deem frutos. //marília kodic

poderemos transformar desertos em fazendas

E

m 20 anos, uma em cada três pessoas no mundo viverá em regiões com falta de água e haverá mais de 1 bilhão de novas bocas para alimentar, estima a Organização das Nações Unidas (ONU). Em contrapartida, as terras cultiváveis serão cada vez mais escassas. Estender a agricultura para o deserto pode ser a solução, é o que propõe uma nova leva de projetos tecnológicos. Um deles é o Groasis Waterboxx, listado entre as dez maiores invenções do mundo em 2010 pela revista americana Popular Science (veja gráfico acima). Criação de uma empresa holandesa, ele está à venda no site www.groasis.com por 19 euros, ou cerca de R$ 45. A invenção, já testada com sucesso no deserto do Saara, é mais um capítulo da história que começou com a irrigação por

antena líquida A marinha dos Estados Unidos descobriu um jeito de transformar jatos de água em antenas de alta potência para serem usadas na comunicação de barcos. O truque é possível porque a tecnologia aproveita propriedades do sal presente na água marinha para criar um campo magnético, que permite enviar e receber sinais de rádio por meio do jato. As frequências obtidas variam de acordo com a altura que a água consegue atingir

* O tema desta reportagem foi sugerido por Eni de Oliveira, do Rio de Janeiro

30_DEZEMbro_2010

em Windows

i n fogr áfico:

Daniel da s N eves


HIDROGÊNIO

Dando a partida

Como Leandro Sousa produziu o novo combustível mais sustentável

óleo de girassol

sustentável

Movido a flor.

O novo catalisador, sem enxofre na fórmula, reage com os ácidos graxos e o hidrogênio, dando origem ao biocombustível e a água, sem gerar subprodutos indesejáveis como a glicerina

Pesquisador faz biodiesel ainda menos poluente com óleo de cozinha

Ao contrário do biodiesel, o novo combustível uando o químico Leandro pode ser usadoAlves de Sousa, 27 anos, puro nos definiu o projeto de mesmotores de trado na Universidade carro, e sem Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), jogar o poluente nãona pensou que teria tanta dor de enxofre cabeça. atmosfera Ele perdeu a conta das madrugadas solitárias no laboratório durante quatro meses sem sábados, domingos ou feriados. Emagreceu 10 quilos enquanto buscava uma descoberta que, já no final do prazo de entrega do mestrado, não dava nenhum sinal de que apareceria. Mas apareceu. Leandro inventou uma técnica para transformar óleo de cozinha feito de girassol, novo ou usado, em um combustível para carros mais ecológico. Venceu o Prêmio Jovem Cientista deste ano e recebeu, de quebra, R$ 20 mil. O desafio era produzir uma alternativa mais sustentável ao biodiesel tradicional, que não pode ser usado puro nos motores a diesel. “A frota atual brasileira suporta até 20% de biodiesel diluído no combustível comum sem que o carro precise de adaptações”, diz o pesquisador. Alguns métodos já conseguem fazer biodiesel a ser usado puro, mas eles usam catalisadores à base de enxofre, produto bastante poluente que acaba saindo pelos escapamentos e contribuindo com o aquecimento global.

Q

32_DEZEMbro_2010

1

O óleo de girassol se junta ao gás hidrogênio e segue para o reator, onde entra em contato com o catalisador

350ºc O óleo é composto por triglicerídeos. A temperatura interna faz com que essas moléculas sejam quebradas e produzidas outras, de ácidos graxos

2

triglicerídeos

catalisador

calor

ácido graxo

hidrogênio

90%

biocombustível

biocombustível

água

3 O novo catalisador, sem enxofre na fórmula, consegue reagir com os ácidos graxos e o hidrogênio dando origem ao biocombustível e à água, sem gerar subprodutos indesejáveis como a glicerina

10% água

reator

4

Ao contrário do biodiesel tradicional, o novo combustível pode ser usado puro nos motores de carro. E sem jogar o poluente enxofre na atmosfera

usa o de so leandr ico

quím

U GALI LE * do Mês

Encontrar uma substância que, sem o enxofre, quebraria moléculas no óleo de girassol para transformá-lo em combustível foi exatamente o que custou o tempo de Leandro. “Tinha dias em que nada dava certo. Vinha então a vontade de largar tudo e ir para a praia.” Mas, em vez de ficar bronzeado, Leandro ganhou olheiras testando dezenas de químicos e, por fim, acabou encontrando um, o carbeto de molibdênio. O processo, além de não produzir enxofre, também não produz glicerina, subproduto que aparece em excesso na fabricação de biocombustíves e acaba contaminando os rios. Já no doutorado, Leandro agora aperfeiçoa sua invenção e negocia patrocínio da Petrobras para seus estudos. “Já é possível adotar esse novo biocombustível em escala industrial, mas ainda posso gerar um catalisador mais econômico para a indústria e um combustível mais eficiente.” //allan de abreu *A cada edição, faremos uma reportagem especial sobre pessoas que representem o espírito criativo e contestador do cientista italiano Galileu Galilei (1564–1642).

i n fogr áfico:

Daniel da s Neves;

foto:

Divulgação


{Célula-mãe} A americana Henrietta Lacks morreu de câncer há 60 anos. Suas células continuam vivas em laboratórios. Já ajudaram em grandes avanços científicos. E levantam a pergunta: quem tem direito sobre tecidos retirados do corpo humano? T Guilherme Rosa

O

corpo de Henrietta Lacks está enterrado em um cemitério clandestino nos fundos da casa onde ela foi criada, em Clover, uma cidadezinha no interior do estado de Virginia, Estados Unidos. A cova não tem identificação e não é possível visitá-la. No entanto, muitos biólogos, médicos e farmacêuticos têm contato com pedacinhos dessa mulher — pois algumas de suas células continuam vivas e se reproduzindo. Tornaram-se importantes avanços da medicina no século 20 e uma das provas de que Henrietta nunca vai morrer. As chamadas células HeLa, devido às iniciais da doadora, foram auxiliares de ao menos três grandes avanços da pesquisa médica no último século: a criação da vacina contra a poliomielite, a identificação de que nosso DNA tem 46 cromossomos e, antes disso, a reprodução de células humanas em laboratório (veja quadro). Se fossem colocadas em

56_fevereiro_2011

i lu str aç ão:

Daniel da s Neves;

foto:

Divulgação

linha reta, todas as células HeLa já produzidas no mundo dariam três voltas em torno da Terra. Tudo usado para estudos científicos. Ainda assim, durante décadas, ninguém se preocupou em saber quem era a mulher por trás daquele valioso tecido humano. Poucos eram os pesquisadores que tinham conhecimento de que aquelas células presentes em tantos laboratórios ao redor do mundo tinham sido cultivadas a partir de amostras do tumor que vitimou Henrietta. Agora a história pode estar mudando. A escritora americana Rebecca Skloot lançou em fevereiro do ano passado o livro The Immortal Life of Henrietta Lacks (A Vida Imortal de Henrietta Lacks, que chega ao Brasil em março pela Companhia das Letras), em que fala sobre o milagre que as células HeLa representaram para a medicina e a tragédia que trouxeram para a família da doadora. “Essa é uma história sobre ciência, racismo, pobreza e ética médica.”

fevereiro_2011_57


Ela, muito prazer Henrietta era uma mulher negra, dona de casa descendente de escravos, nascida em agosto de 1920. Passou sua vida em um Estados Unidos segregacionista: os negros não podiam frequentar os mesmos hospitais, escolas e restaurantes que os brancos. Durante a infância na cidade de Clover, ajudava o avô com a colheita de tabaco. Aos 20 anos, se casou com um de seus primos, Day, com quem teve cinco filhos: Lawrence, Elsie, Sonny, Deborah e Joseph. Em 1951, ela descobriu que tinha câncer no colo do útero. A doença se espalhou rapidamente por todo o seu corpo e, oito meses depois, Henrietta estava morta — ao menos sua maior parte. Durante o tratamento, os médicos haviam retirado pedaços de seu tumor, sem avisar à paciente ou à sua família. A amostra foi enviada para George Gey, um cientista que há décadas tentava produzir uma linhagem de células para pesquisa. Até então, ninguém havia conseguido fazer células se reproduzirem em laboratório. As tentativas de Gey sempre falhavam e as células morriam. Mas com o tecido de Henrietta foi diferente. Mantidas dentro de tubos de ensaio e cobertas com sangue de frango, para nutri-las, as células do tumor se reproduziam numa velocidade nunca antes vista pelos cientistas: sua quantidade se duplicava a cada 24 horas. Estava criada a primeira linhagem de células imortais cultivadas em laboratório. “Foi uma das descobertas médicas mais importantes do século, e ajudou a desenvolver várias outras relevantes”, diz Rebecca.

Pesquisadores infectam a célula com todos os tipos de vírus e toxinas. Elas são usadas em testes para a vacina contra a pólio, ajudando a salvar milhões de vidas

{Linha do tempo}

Ao misturar o químico errado com as células HeLa, geneticistas desenvolvem um modo de tornar o DNA visível. A descoberta ajuda a contabilizar os 46 cromossomos humanos

Os avanços da ciência e medicina que as células HeLa ajudaram a desenvolver. E, assim, a salvar milhões de vidas. Obrigado, Henrietta

1953 1952

Amostras do tumor de Henrietta são retiradas e se reproduzem em laboratório. Elas se tornam a primeira linhagem imortal de células humanas cultivadas por cientistas, no laboratório de George Gey

1954 1951 1960

1965

1966

Vezes muito As células do câncer já se reproduzem mais rapidamente do que as saudáveis. Porém, as de Henrietta eram velozmente anormais, o que os cientistas nunca conseguiram explicar. A principal suspeita é de que o vírus que causou seu câncer, o HPV, possa ter provocado mutação nas células, fazendo-as se reproduzir incessantemente até hoje. Por sua resistência, poderiam ser utilizadas em todo tipo de experiência científica em que fosse arriscado — ou caro — demais usar cobaias humanas. Foi o que aconteceu no desenvolvimento da vacina contra a poliomielite. Sabendo disso, George Gey passou a enviá-las para qualquer cientista que as pedisse. Nos anos seguintes à morte de Henrietta, suas células foram infectadas por vários tipos de vírus e toxinas, irradiadas e até enviadas ao espaço para ver como se comportavam. Em 1954, a empresa americana Microbiological Associates passou a vender amostras do material por menos de US$ 50, dando início a um milionário comércio de células humanas. No entanto, a família de Henrietta nunca viu a cor do dinheiro. Não só isso. Eles sequer faziam ideia das maravilhas que sua mãe estava ajudando a desenvolver. Depois da morte dela, a família Lacks, pertencente à classe baixa americana, seguiu a vida. Day se casou novamente. Elsie, a segunda filha, que havia sido internada num hospício, morreu quatro anos depois da mãe. Joseph, o caçula, acabou na cadeia por matar um homem. Eles só foram saber da história das células HeLa em 1973, quando cientistas necessitaram de amostras de sangue da família. 58_fevereiro_2011

A empresa Microbiological Associates começa a vender as células HeLa. Por menos de US$ 50, qualquer um podia encomendar uma amostra

1984

1973

Certo ou errado Nos EUA, o livro de Rebecca provocou uma grande discussão sobre a propriedade de células retiradas do corpo humano: elas pertencem aos pesquisadores ou aos pacientes? A rigor, tanto o cientista que reproduziu as células HeLa quanto os que as usaram em suas pesquisas não fizeram nada fora da lei. Nem o médico que retirou tecidos de Henrietta. Era e ainda é permitido, na maior parte do mundo, usar material biológico coletado em hospitais e laboratórios para pesquisas científicas. A história de Henrietta chama a atenção porque se conhece a identidade da mulher por trás daquele tumor. Mas qualquer um de nós pode ter suas células estudadas em laboratório. Essas amostras são coletadas em cirurgias, biópsias e procedimentos médicos de rotina, até com nosso consentimento. Pois muitos dos formulários que assinamos vêm com esses termos. “Esse i lu str aç ão:

Daniel da s Neves;

Cientistas cruzam células de rato com as HeLa, produzindo o primeiro híbrido de humano com animal da história. Isso ajuda a estudar a função dos genes

Novos parâmetros éticos são implementados para os pesquisadores americanos, depois que um médico injeta as células HeLa em seus pacientes para ver se desenvolveriam tumores

As células HeLa se reproduzem tão rápido que começam a infectar outras culturas nos laboratórios. Os cientistas precisam de amostras do sangue da família Lacks para frear a contaminação

Cientistas usam as células HeLa para provar que o HPV pode causar câncer. Eles também descobrem que esse vírus foi a causa do tumor de Henrietta

As células de Henrietta começaram a infectar outras linhagens desenvolvidas em laboratório. Para conseguir distingui-las das culturas atacadas, os pesquisadores precisavam de amostras de DNA próximas às originais. Foi então que ligaram para os descendentes de Henrietta e pediram uma coleta de sangue. Segundo a família, o laboratório alegou que queria se certificar de que nenhum deles havia herdado o câncer de Henrietta, e não que o sangue era para ajudar em pesquisas médicas. “Seus filhos foram usados em estudos sem consentimento. Eles não entendiam o que se estava fazendo com as células da mãe e ninguém se preocupou em explicar”, diz Rebecca. Mas o que realmente os irritou foi quando ficaram sabendo que havia empresas lucrando com a venda das células, enquanto eles não tinham dinheiro nem para bancar atendimento médico para si.

As células HeLa são enviadas para o espaço junto com um satélite russo. A intenção era analisar como elas se comportariam fora da Terra

fotos:

Divulgação

material gera um conhecimento que ajuda milhares de pessoas. No entanto, comercializá-lo não é de todo ético”, afirma Reinaldo Ayer de Oliveira, professor de bioética da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Esse foi o principal ponto da família Lacks, que, felizmente, agora pode pagar para ir ao médico. Após concluir seu livro, Rebecca criou a Henrietta Lacks Foundation, para custear a educação e a saúde dos descendentes da mulher que salvou vidas. Com as coisas melhorando para os Lacks, permanece o mistério sobre a imortalidade das células. O biólogo brasileiro Fernando Reinach, que usou a HeLa em seu doutorado em genética, nos anos 80, conta que, sempre que pensa na história de Henrietta, questiona critérios de vida e morte: “Associamos morte à morte do corpo. Mas ao vermos essas células, nos damos conta de que Henrietta está morta e é imortal ao mesmo tempo”.

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fevereiro_2011_59


A palavra "Freud" representa

o número

de deus

T felipe pontes i Daniel das neves

e o de elvis, freud, beatles, darwin... ferramenta do google mapeia tendências culturais na história

0,00200% das palavras publicadas em livros naquele ano

Q

uer saber qual é o cientista mais hypado da história ou checar a popularidade de Michael Jackson? A nova ferramenta de buscas do Google Books, a Ngram (ngrams. googlelabs.com) analisa a frequência do aparecimento de palavras em livros. Matemáticos da Universidade de Harvard selecionaram 5,2 milhões de obras — publicadas de 1500 a 2008 — entre as 15 milhões digitalizadas pelo Google, o que equivale a 12% do que já foi lançado. São 500 bilhões de termos em sete idiomas. “A ideia é que as buscas apenas completem pesquisas, pois precisam ser interpretadas”, diz Erez Lieberman Aiden, líder do projeto ao lado do francês Jean-Baptiste Michel. Galileu convidou os historiadores José Luiz Goldfarb, da PUC-SP, e Robert Sean Purdy, da USP, para analisar esses altos e baixos.

Sigmund Freud Morre em 1939, mas

2000

sua obra prospera em

Isaac Newton

diferentes idiomas

Newton publica Principia, a grande obra da física clássica. O livro o mantém forte na briga até hoje

1687

Charles Darwin A Origem das Espécies foi publicada em 1859. O livro foi traduzido para outras línguas e ganhou várias edições. Era um best seller científico

Albert Einstein

Ciência corrida

1800

Freud levou a ciência para um novo patamar: ao falar de questões da alma, conseguiu uma audiência maior que outros cientistas. "Suas teorias e de Darwin são mais populares por serem expressas em prosa e não em equações matemáticas”, diz Goldfarb.

A Teoria da Relatividade, de 1905, era tão revolucionária que demorou a ser discutida. Com isso, Einstein supera Galileu nas buscas

1939

Galileu Galilei

1859

1920

“A teoria do Gailleu é necessária para explicar a teoria do Einstein. Por isso, houve uma popularização da física em geral", diz Goldfarb

1840

1880

1920

1960

2000

As melhores buscas são feitas em inglês (idioma usado nas pesquisas nesta reportagem), entre 1800 e 2000. Antes disso, não havia livros para quantificá-las de maneira confiável e, depois deste período, as obras ainda não foram avaliadas devidamente

fevereiro_2011_73 janeiro_2011_73


2000

Paradas de sucesso

Elvis Presley Morreu em 1977, com

Elvis continuou vivo nas prateleiras após sua morte. "O culto e mística envolvendo sua personalidade ajudaram. Já Michael Jackson está pior do que o esperado porque a ferramenta só abrange livros. Ele tinha um apelo muito forte na televisão, por exemplo", afirma Purdy

a carreira em franca decadência. Mas seu legado, nascido na década de 50, lhe garantiu o topo

A palavra "ELVIS" representa

“O Ngram é uma ferramenta poderosa para historiadores e linguistas”, Erez Lieberman Aiden, um dos líderes1930 do projeto

0,0000500%

Frank Sinatra

1977

lança suas primeiras

das palavras publicadas em livros naquele

músicas solo. Em

ano

1960, sua carreira decolou com atuações em vários filmes

Os Beatles Lançam seu primeiro disco, Please Please Me. Caem

1963

1942 1940

1950

Declínio Divino

A ciência moderna surgiu como uma alternativa aos estudos teológicos e o nome de Deus caiu nas buscas

Michael Jackson

1982

Lança Thriller, o disco mais vendido de todos os

em 1970, com o fim do grupo, e voltam a subir 10

tempos. No final da década de 90, sua carreira

anos depois, após a morte de John Lennon

estagnou e ele se envolveu em vários escândalos

1960

1970

1980

1990

2000

A foice e o cifrão

A palavra "COMUNISMO"

"O comunismo foi a bandeira de intelectuais do século 20. Os anos 60 refletem os movimentos sociais e os estudos em torno deles", diz Goldfarb. Sua queda mostra a decepção com as ditaduras socialistas, coincidindo com o crescimento do capitalismo

Deus No século 19, o termo começa a oscilar. Curiosamente, Ele reagiu nos últimos 50 anos

representa

0,00200% das palavras publicadas

1963

naquele ano

1825 Explode a

Década de 40

Revolução Russa.

Comunismo e

É a primeira grande

capitalismo caem

e a União

revolução comunista

com a Segunda

Soviética

do mundo

Guerra Mundial

desmorona

1917

A palavra "DEUS" representa

1989 Cai o muro de Berlim

Comunismo

0,1% das palavras publicadas em livros naquele ano

1800

74_fevereiro_2011

Capitalismo 1840

1880

1920

1960

2000

1840

1880

1920

1960

2000

fevereiro_2011_75


Um passe de mágica

Os mágicos usam os conhecimentos da neurociência para enganar o cérebro Quando vemos a assistente dentro da caixa, com seus pés e mãos se mexendo, nosso cérebro não resiste e "junta" as duas partes num corpo só. Ao vê-la cortada ao meio, só conseguimos bolar uma explicação boa o suficiente: é mágica!

Tanto que o casal Stephen Macknick e Suzana MartinezConde, ambos neurocientistas do Barrow Neurological Institute, nos Estados Unidos, acabam de publicar Sleights of Mind (Truques da Mente, a ser lançado no Brasil pela Editora Zahar). Com a ajuda de diversos mágicos, entre eles o próprio James Randi, o casal estudou os mecanismos pelos quais os truques enganam o cérebro humano — a que chamaram de neuromágica. Durante as pesquisas, acabaram descobrindo que os ilusionistas sabiam mais do que ninguém como funciona a mente humana, e que os cientistas teriam muito a aprender com eles. “Para desenvolver um truque, eles precisam saber como nossa consciência funciona. A mágica de verdade acontece dentro do cérebro”, diz Macknick. É claro que os mágicos não frequentaram as salas de aula na universidade atrás dos mistérios da mente — seu conhecimento é muito mais intuitivo. “O trabalho consiste em manipular nossos processos cognitivos”, diz Suzana Martinez-Conde. Eles sabem que não enxergamos o mundo como ele de fato é, mas como nosso cérebro o constrói, e se aproveitam disso. Segundo o casal, cada olho nosso seria equivalente a uma câmera de um megapixel. A gente só tem a impressão de enxergar com melhor qualidade porque nosso cérebro preenche as partes que não conseguimos ver perfeitamente, usando para isso experiências passadas. Os mágicos entenderam esse mecanismo para nos enganar. O seu trabalho é uma tentativa constante de surpreender nosso senso muito treinado de causa e efeito. “A mágica acontece justamente quando presenciamos algo que não condiz com o modo que percebemos o mundo”, diz Suzana. Como ninguém some no meio do ar sem explicação e não cabem coelhos dentro de cartolas, só há uma explicação para aquilo que vemos no palco: pura mágica. Por esse sistema, estamos programados para assumir que, se um objeto desaparecer atrás de outro, ele continuará existindo, ainda que não possamos mais vê-lo. “Quando se levanta o objeto da frente e percebemos que o de trás sumiu, supomos que ele desapareceu magicamente”, diz o mágico D. J. Grothe, atual presidente da fundação de Randi. É o que acontece naquele famoso truque em que uma assistente é colocada dentro de uma caixa e serrada ao meio. O truque só funciona porque vemos a cabeça da mulher de um lado da caixa, seus pés do outro, e intuímos que seu corpo inteiro está lá. Quando a caixa é serrada em dois e a mulher permanece viva, nosso processo cognitivo entra em pane. Analisar o modo com que os mágicos faziam seu truque passar despercebido do público ajudou Stephen e Suzana a 10_fevereiro_2011

A nossa percepção do mundo está ligada a nossas experiências. Como só conhecemos colheres com cabos retos, quando vemos um mágico segurando uma colher, logo intuímos que ela está intacta. Se ela começar a dobrar em suas mãos, só conseguimos explicar o fato por meio de poderes paranormais

Não conseguimos focar nossa atenção em mais de uma coisa por vez. Um mágico se aproveita disso. Ele fala que vai roubar sua carteira, movimenta os braços, põe a mão em seu bolsos, faz piadas e, de repente, seu relógio está em suas mãos

i lu str aç ão:

Daniel da s N eves

Os mágicos são mestres na arte de manipular a nossa atenção. Usando sua linguagem corporal e seu aparato mágico, como cartolas e varinhas, eles nos fazem olhar para a direção em que quiserem. Enquanto isso, usam a mão livre para realizar o truque bem tranquilamente

entender melhor como funciona o sistema de atenção do ser humano. “Nós temos um foco de atenção. Podemos olhar para toda uma região do espaço físico, ou podemos nos focar em determinado ponto e suprimir todo o resto”, diz. O que os mágicos fazem é manipular esse foco de atenção, para que o público olhe para a direção errada, justamente onde o truque não está sendo realizado — é o que eles chamam de misdirection, ou direção errada, em português. Usando sua linguagem corporal, piadas e luzes, os espetáculos de magia conseguem nos distrair do que realmente importa. E não adianta resistir, nosso cérebro foi programado para ser enganado. “A misdirection acontece porque evoluímos tendo que prestar atenção às coisas importantes que aconteciam à nossa volta, para escaparmos de predadores, por exemplo. Quando vemos um movimento, somos automaticamente levados a olhar nessa direção”, afirma Grothe. Os mágicos são unânimes em dizer que não basta ter apenas conhecimento científico — eles levam anos treinando para que suas mãos sejam rápidas o suficiente para tapear nossa cognição. É o caso do mágico paulista Geraldin, que durante toda sua vida treinou para se tornar mestre na arte da manipulação de objetos. Ele diz que começou a aprender pelos truques mais básicos, foi se aprofundando em movimentos mais complexos, até se tornar praticamente “um malabarista escondido”. Geraldin sabe que sua arte tem por base enganar o cérebro do público, mas nunca parou pra pensar muito no assunto. “Tem mágico por aí que faz isso sem nem saber do que se trata. Nosso trabalho é muito mais intuitivo. Aprendi a falar com o corpo, com as mãos, com os olhos. A pessoa não consegue resistir, e olha pra onde quero”, diz ele, que é mágico profissional há 40 anos. O próprio casal de neurocientistas sabe que a prática é mais importante que a ciência na hora de entender o que se passa durante um truque. Por isso mesmo, Suzana e Stephen se tornaram ilusionistas amadores durante o tempo em que escreviam o livro e chegaram a ser aceitos pelo Magic Castle, uma das mais importantes sociedades de mágicos dos Estados Unidos. “Nós precisávamos de uma visão interna”, diz ela. Longe de tornar a arte menos misteriosa, Suzana defende que essa perspectiva pode tornar seu efeito ainda mais fantástico: “Mesmo que você saiba exatamente qual o truque, ainda não saberá como ele funciona na cabeça do espectador. Estamos adicionando mais um mistério à mágica”. É como disse James Randi, do alto de seus 60 anos de profissão: “Eu nunca me canso de ver novas mágicas. Elas sempre me ensinam alguma coisa nova sobre como enxergo o mundo”. fevereiro_2011_11


Tecnologia contra a fila

No momento da balada em que você está mais cansado — a hora de sair — é que aparece a fila quilométrica para pagar. Cansados disso, quatro estudantes de ciências da computação da Universidade Federal de Pernambuco aproveitaram esse tempo inútil de espera para ter uma grande ideia. Eles criaram o MobiClub, um sistema que permite quitar a conta da noitada com poucos toques no celular. O protótipo já recebeu um prêmio de R$ 100 mil da Campus Party e é alvo de interesse de uma empresa de telefonia. “Com qualquer celular que acesse a web, a pessoa acessa a fatura, paga e recebe um comprovante por e-mail”, afirma Bruno Inojosa, um dos responsáveis pela ideia. Em março, os primeiros bares e restaurantes já devem começar a testar o aparelho.

1

A câmera emite diversos fótons de luz que chegam a todas as paredes em cerca de 1 quadrilionésimo de segundo

2 Os fótons percorrem milhares de caminhos. Depois de serem refletidos, parte deles rebate nas superfícies e volta à câmera

3

A luz chega a um dispositivo sensível que capta alterações na estrutura dos fótons. No computador, esses dados são usados para construir as imagens

tecnologia

Visão além do alcance.

Como pode ser usada

Cientistas desenvolvem câmera que capta até o que está fora do ângulo de visão

I

magine saber o que acontece entre quatro paredes sem olhar por uma frestinha da porta. Provar que isso é possível é o desafio de um grupo de pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que desenvolve uma câmera capaz de capturar imagens sem estar apontada diretamente para a cena. A chamada femtofotografia baseia-se na emissão e reflexão de partículas de luz em um femtossegundo (um quadrilionésimo de segundo), o tempo que os fótons emitidos demoram para se espalhar por todo o ambiente. “É um feixe de luz que rebate por todo o ambiente e, então, gera as imagens”, afirma Tyler Hutchison,

20_MARÇO_2011

Bombeiros identificariam pontos cegos em incêndios

um dos pesquisadores envolvidos no projeto. Na volta da luz, um sensor da câmera capta alterações nos fótons que são interpretadas por algoritmos para gerar as imagens. No futuro, a câmera poderá ser usada na endoscopia, método em que as microcâmeras médicas podem enfrentar dificuldades para alcançar locais muito estreitos do sistema digestivo. Outra possibilidade é ajudar equipes de resgate de vítimas sob escombros, mostrando áreas de difícil acesso. “Câmeras modernas não devem ser limitadas à visão humana, elas irão realizar tarefas impossíveis aos olhos”, diz Ramesh Raskar, coordenador da pesquisa no MIT. //felipe turioni

Médicos fariam imagens em partes estreitas do corpo

Motoristas enxergariam locais ocultos ao retrovisor

foto:

Shu t ter s tock ;

i n fogr áfico:

Daniel da s Neves


saúde pública

Terrível contra os insetos. O biólogo

Álvaro Eiras criou um sistema que monitora o mosquito da dengue. E custa só R$ 1 por habitante

O

U GALI LE * s ê do M s eira Álvaro o

biólog

Como funciona o MI Dengue Os bichinhos são guiados pelo AtrAedes, um odor que atrai as fêmeas do mosquito desenvolvido por Eiras

Lá dentro, elas ficam presas em uma fita adesiva e morrem. Os ovos não eclodem por falta de água

22_MARÇO_2011

2

1

No computador, o software do sistema MI Dengue usa os números e traça o mapa da doença no local

4

biólogo Álvaro Eduardo Eiras acredita que a beleza da tecnologia está na simplicidade. Ele aprendeu a lição durante um bate-papo com Bill Gates, o fundador da Microsoft, que lhe entregou o prêmio Inovação Tecnológica em Benefício da Humanidade Tech Museum Awards em 2006, nos Estados Unidos. Eiras, 50 anos, é pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e aplicou essa simplicidade em seu invento premiado, o MI Dengue. Feito para monitorar a incidência do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti, já é usado por 35 municípios brasileiros, pelo governo de Cingapura e pela cidade de Cairns, na Austrália. “Decidi ver como era o monitoramento feito pelo Ministério da Saúde. Descobri que os métodos usados são da década de 20.” O MI Dengue inclui o MosquiTrap, uma armadilha para a fêmea (com odor criado por Eiras, chamado sugestivamente de AtrAedes) que atrai e cola o bichinho em um cartão adesivo. Depois, é usado um sistema online, com GPS nas armadilhas, que ajuda a acompanhar os focos da doença. A contagem dos mosquitos é enviada pelo celular e processada por um software que auxilia traçar o mapa da dengue. O MI Dengue é vendido pela Ecovec, empresa de biotecnologia, em parceria com o Instituto Inovação, e dispõe o produto para cidades por cerca de R$ 1 anual por habitante — 2% do faturamento vai para a UFMG. Para se ter uma ideia, um paciente internado com dengue custa ao SUS cerca de R$ 3,5 mil por dia. Em 2010, o Ministério da Saúde registrou um milhão de casos da doença no País, mas ainda não adotou a armadilha. Ela está em avaliação, mas o processo pode levar dois anos. //felipe pontes

3 Um profissional faz a contagem dos mosquitos e envia, por celular, os números a um computador

*A cada edição, fazemos uma reportagem especial sobre pessoas que representem o espírito criativo e contestador do cientista italiano Galileu Galilei (1564–1642)

foto:

Br uno Ma galhães.

i n fogr áfico:

Daniel da s Neves


trem quente 1. Ao sistema de ar condicionado da estação foram acopladas máquinas que capturam o calor — gerado pelas pessoas energia verde

Calor humano.Temperatura

ou pelo funcionamento do aparelho. O calor aquece a água, que é enviada via tubulações ao edifício da frente

corporal dos passageiros de estação de trem é usada para aquecer prédio

Q

uem já andou de ônibus ou metrô em horário de pico sabe: muita gente espremida em um mesmo espaço gera calor. Seja no verão brasileiro ou no inverno sueco. A diferença é que lá o sufoco virou experimento científico que já foi colocado em prática. Na estação de trem central de Estocolmo, capital do país, o calor gerado pelos 250 mil passageiros diários abastece o sistema de aquecimento de um edifício de escritórios que fica do outro lado da rua. O mecanismo é muito simples. Ao regular a temperatura da estação, o ar condicionado absorve o calor do ambiente. “O sistema de refrigeração funciona como uma geladeira doméstica”, diz Klas Johansson, diretor da divisão de meio ambiente da Jernhusen, empresa de estratégias para estações de trem. Por isso, ao produzir ar frio, o aparelho gera também calor, que normalmente é descartado. Nesse caso, porém, esse calor produzido é enviado por tubulações ao edifício da frente. Ali, ele encontra o sistema de aquecimento central que, por sua vez, envia a água fria que descartaria de volta à estação, para esfriamento dos aparelhos de ar-condicionado. Um ciclo completo que gera economia. “A expectativa é uma redução de 25% no gasto de energia no edifício este ano”, diz Johansson. Se na gélida Estocolmo os passageiros conseguem aquecer um prédio inteiro, imagine no horário de pico do metrô paulistano. //margarida telles

i lu str aç ão:

Daniel da s N eves;

foto:

Michell Zappa

água quente água fria

2. Dentro do prédio, os canos de água quente são ligados ao sistema de aquecimento central. A água fria expelida é enviada para a estação e ajuda a resfriar os equipamentos de ar-condicionado

março_2011_29


fortalecido: leite de vaca modificado vai fornecer insulina e hormônio do

quem não aguenta bebe

Leite medicinal.

crescimento

C

Vacas transgênicas farão bebida com remédios

omo se não bastasse produzirem clones de vacas em série, cientistas da Universidade Norte do Paraná (Unopar) planejam outra revolução do mundo bovino: clonar animais transgênicos capazes de produzir leite com substâncias medicinais, como pré-insulina e hormônio do crescimento (GH), componentes para remédios para diabéticos e problemas de desenvolvimento físico, por exemplo. “As vacas leiteiras clonadas e transgênicas são mais eficientes na produção dessas proteínas medicinais do que as bactérias, suas grandes fabricantes atualmente”, diz o biólogo e doutor em produção animal Paulo Roberto Adona, coordenador do projeto na Unopar. “Dezenas de litros de leite contendo as substâncias podem ser fornecidos diariamente”, afirma Adona. A pesquisa está em fase embrionária. Ainda faltam testes e avais dos órgãos reguladores de medicamentos para que o leite (este, sim, verdadeiramente fortalecido) seja colocado à venda. Mas não pense que você irá encontrá-lo na padaria da esquina. A produção leiteira será apenas uma forma para extrair os medicamentos. Assim como a carne transgênica, ao menos com selo da fazenda da Unopar, por hora vai ficar bem longe do prato dos consumidores. //yuri vasconcelos

Linha de montagem Como serão produzidos os clones

5º Transfere-se o embrião transgênico para a barriga de uma vaca de aluguel. Depois de nove meses você vê o

célula retirada

núcleo

resultado: nasce um bezerro clonado 4º É feita a fusão entre a

2º Retiram-se

célula da vaca e o óvulo sem

células do animal a ser

núcleo, por meio da aplicação

clonado da pele do rabo, a melhor

de pequenos choques elétricos

para o processo de clonagem

1º colhem-se óvulos de uma vaca

3º Insere-se nas células da vaca o gene da produção

comum. Extrai-se o núcleo para tirar toda

de insulina, GH etc. Para insulina humana, é preciso

a informação genética contida na célula

recolher a sequência do gene numa célula humana cauda

30_março_2011

foto:

Sendi Mor ais;

i lu str aç ão:

Daniel da s N eves;


Uma semana de autonomia: 1,4 milhão de metros cúbicos de hélio, além do reservatório de combustível

US$ 216 milhões

dos motores, permitirá que o dirigível voe por 7 dias a uma

será o custo do

altura média de seis quilômetros, sem reabastecer

balão gigante

Receptores que captam informações enviadas por equipamentos no solo

DIABO no céu

Um espião difícil de esconder. Dirigível

gigante e ultratecnológico será a nova arma dos EUA contra o Afeganistão

U

ma qualidade essencial para qualquer espião é a capacidade de passar despercebido. Não é o caso do Blue Devil, o dirigível que está sendo construído pela força aérea norteamericana para vigiar o Afeganistão. Mesmo assim, promete ser a menina dos olhos do exército ianque. Ele tem 350 metros de comprimento, o equivalente a sete vezes o tamanho do famoso zepelim da Goodyear. Virá equipado com gravadores de áudio capazes de interceptar celulares e walktalkies a milhas de distância, câmeras com infravermelho e radares que acompanham a movimentação de veículos e pessoas. A parte externa será de kevlar, uma fibra sintética sete vezes mais resistente que o aço. Mas os protagonistas serão os 12 sensores com a tecnologia WAAS (Sistema de Vigilância Aérea de Grande Amplitude). Cada um é equipado com nove câmeras com alto poder de zoom, capazes de filmar em câmera lenta e em ângulos diferentes. Juntos, os sensores conseguirão cobrir uma área de 93 km2 nas zonas de conflito. O “Diabo Azul” está sendo construído na Carolina do Norte ao custo de US$ 216 milhões e seu primeiro voo está previsto para 15 de outubro. //gustavo heidrich

16_abril_2011

i lu str aç ão:

Daniel da s Neves

12

sensores com a tecnologia WAAS Cada um é equipado com um conjunto de nove câmeras

Mais forte que o aço A parte externa será de kevlar, uma fibra sete vezes mais resistente que o aço

7X mais

O Blue Devil tem 350 metros de comprimento: sete vezes o tamanho do famoso dirigível da Goodyear

capacidade de trabalhar com 300 terabytes de informação por hora e mais de 2 mil processadores

Radares que acompanham a movimentação de veículos e pessoas

Gravadores de áudio capazes de interceptar celulares e walk-talkies a milhas de distância

Câmeras de vigilância com infravermelho, que funcionam à noite


está mais próximo o dia em que você poderá pedir rim, bexiga e veias sob encomenda ou imprimi-los em 3D. Conheça as tecnologias que prometem uma revolução industrial dos transplantes T Felipe Pontes

N

o último dia três de março, o pesquisador do Instituto de Medicina Regenerativa da Universidade Wake Forest, nos Estados Unidos, Anthony Atala, deu uma das palestras de maior repercussão da edição de 2011 do TED — conferência anual na Califórnia que reúne pensadores para apresentar suas melhores ideias em palestras de 15 minutos. No palco, Atala segurou nas mãos o molde de um rim impresso no dia anterior. O processo levou sete horas e usou células humanas e materiais biológicos que são inseridos no cartucho de uma impressora 3D. Em casos assim, o paciente teria o corpo escaneado para que se identificasse o formato exato do órgão a ser reproduzido. Ainda em desenvolvimento — por enquanto é possível imprimir apenas a carcaça do órgão, mas não sua parte interna —, o método sinaliza o início de uma espécie de revolução industrial dos transplantes. Uma era em que pode ser possível produzir órgãos em larga escala e até sob

54_abril_2011

encomenda. “Queremos resolver o problema das longas filas de espera pelos transplantes”, afirmou Atala em entrevista à galileu. No Brasil, elas duram, em média, quatro anos. E 70% das cirurgias são para ganhar um novo rim. As tecnologias emergentes que mais apontam para a produção em massa de órgãos e tecidos a partir de materiais biológicos são novíssimas impressoras 3D. Usando células do próprio paciente em vez de tinta, espera-se que a precisão robótica destas máquinas imprima estruturas de órgãos para transplantes. No ano passado, a start-up de biotecnologia norte-americana Organovo lançou a primeira máquina comercial para imprimir tecido humano. Fabricada para pesquisas desenvolvidas em laboratórios universitários, custa cerca de US$ 250 mil e produz vasos sanguíneos. A máquina já imprimiu estruturas de órgãos implantados em animais. “Chegaremos ao ponto de fabricar órgãos prontos para serem transplantados em pessoas”, afirmou à galileu o cientista húngaro Gabor Forgacs, um dos fundadores da Organovo e inventor do protótipo da impressora.

foto:

Dave Bullock

abril_2011_55


Das mãos às máquinas Anthony Atala é um pioneiro da fabricação de órgãos. Quatro dias após sua palestra no TED, ele, que é urologista pediátrico, publicou em um dos mais importantes periódicos científicos do mundo, The Lancet, o resultado de um estudo que acompanhou cinco mexicanos de 10 a 14 anos após receberem, em 2004, transplante de uretras criadas em seu laboratório. Os órgãos funcionaram normalmente ao longo dos seis anos de monitoramento. Em 1998, sua equipe já havia criado e implantado bexigas em nove crianças, tornando-se a primeira a transplantar em pessoas órgãos feitos em laboratório. Atualmente, Atala e sua equipe desenvolvem e testam mais de 30 tipos de tecidos e órgãos, entre eles pele, rins, pâncreas, fígado e válvulas cardíacas. O cientista leva cerca de seis semanas para fabricar um órgão oco e relativamente simples como uma bexiga. O processo começa com a coleta de um pedaço de tecido, menor que a metade de um selo postal, da bexiga do paciente. Depois, as células são cultivadas em laboratório e colocadas dentro e fora de uma carcaça feita à base de colágeno. Assim, elas se espalham e se organizam por conta própria. Na última etapa, o órgão “semeado” é colocado em uma espécie de forno que simula as condições de um corpo humano, com 370 C de temperatura e 95% de oxigênio. Por utilizar células do paciente, o procedimento diminui muito as chances de rejeição. Em outubro do ano passado, pesquisadores do mesmo instituto desenvolveram uma miniatura funcional de um fígado humano. Os cientistas retiraram o órgão de um animal morto. O fígado foi lavado com um detergente neutro para remover todas as células, deixando apenas o esqueleto de colágeno do órgão original. Feito isso, células humanas foram inseridas no suporte natural. Após uma semana dentro de uma máquina bombeada por nutrientes e oxigênio, o tecido de fígado humano começou a ser formado. Até agora, órgãos produzidos por este processo não foram colocados em pessoas. Mas é assim que Atala pretende fazer o primeiro transplante de rim de laboratório. O método também pode reutilizar órgãos humanos.

CÉLULAS EM VEZ DE TINTA Como funciona a impressão de veias da organovo Células aglomeradas

1

COLHEITA – No laboratório, célulastronco retiradas da medula, gordura ou pele do paciente se multiplicam nos três tipos de células que formam veias sanguíneas. Elas são aglomeradas em formato de pelotas

CARTUCHO – As pelotas de células são colocadas dentro de um cilindro, formando a tinta da impressora. O cartucho é, então, colocado na máquina

ÓRGÃO APROVEITADO veja como o médico anthony

2

atala pretende fazer o primeiro transplante de rim fabricado em laboratório — enquanto seu método de impressão 3d não fica pronto

BIÓPSIA — Um pedaço de tecido é retirado do rim do paciente. A amostra é menor do que metade de um selo postal

Cilindro

Tinta à base de células

Cultura de células-tronco

Células que formam vasos sanguíneos

MULTIPLICAÇÃO — Células do tecido do rim e de veias são separadas e cultivadas de quatro a seis semanas no laboratório

Tinta sendo liberada pelo cartucho

Células organizadas

MOLDE – O rim de um animal ou pessoa morta é lavado com detergente. Todas as células são retiradas. Fica a carcaça, feita principalmente de colágeno. As células multiplicadas em laboratório são injetadas dentro e fora da estrutura

Peça com antecedência Além da redução das filas para transplantes, a produção de órgãos em escala traria a diminuição de custos. Um procedimento como o dos garotos que receberam as uretras criadas no laboratório de Atala sai por cerca de US$ 5 mil (e não está disponível para o público). “O interesse comercial nestas tecnologias deve estimular sua industrialização e reduzir preços”, diz Atala. Ainda assim, a fabricação não será instantânea. O ideal, então, poderá ser a encomenda antecipada. “Se sua família tiver um histórico de problemas cardíacos, poderemos produzir vasos sanguíneos e guardá-los para o dia em que você precisar deles”, diz Forgacs, da Organovo. Com fabricação em massa e sob encomenda, você poderá comprar uma bexiga ou fígado novo quando os seus falharem. Quem sabe até parcelar no cartão.

4

g

56_abril_2011

i n fogr áfico:

ACABAMENTO – Todo o gel se dissolve. Fica a nova veia, que é incubada de quatro a seis semanas. Um coquetel de nutrientes é bombeado dentro da veia, imitando o fluxo sanguíneo. Os três tipos de células, até agora misturadas, se organizam naturalmente. Está pronto!

Daniel da s N eves

3

IMPRESSÃO — A máquina libera uma camada de gel que vai ajudar a moldar as veias. Ela recebe, alternadamente, células e mais gel até adquirir formato tubular, conforme gráfico ao lado

Célula Gel

INCUBAÇÃO – O material é colocado em um tipo de forno com as mesmas condições de nosso corpo: temperatura média de 37 º C, 95% de oxigênio e bombeamento de nutrientes. Alimentado, o tecido humano cresce. Depois de seis a oito semanas do início de todo o processo, o órgão estará disponível para transplante abril_2011_57


Polo Norte Magnético

Polo Norte Geográfico

geociência

O Polo Norte vai à Rússia. Um dos centros

N s

magnéticos da Terra está se movendo cada vez mais rápido Grande ímã As bússolas não apontam o Polo Norte geográfico, mas sim o ponto ao norte do planeta para onde as linhas do campo magnético Crosta

terrestre se voltam verticalmente

adeus, Canadá Movimentações de

núcleo líquido

ferro no núcleo terrestre fazem o polo se deslocar em direção à Rússia. Veja

núcleo

por onde ele já andou ao

sólido

longo da história

2005

Manto

2000 80º

1980 75º

1960 1940

1920 1900 1831

240º 250º

O

aeroporto de Tampa, na Flórida, teve de fechar sua pista principal durante uma semana no início do ano. Nesse tempo, ela ganhou novo nome, suas faixas foram repintadas e as placas, trocadas. Não se tratava de caos aéreo nos EUA: todo esse trabalho teve de ser feito porque as pistas dos aeroportos costumam ser nomeadas a partir do ângulo que formam com o Polo Norte, para facilitar a navegação dos aviões. Não estamos falando da massa de gelo gigante que conhecemos, mas do polo magnético do planeta, para onde

22_maio_2011

todas as bússolas apontam como norte. Ele vem mudando de lugar rapidamente. Um estudo do Instituto de Física do Globo de Paris, publicado em dezembro passado, mostrou que esse deslocamento atingiu uma velocidade inédita de 60 quilômetros por ano na última década. “A movimentação por si só é um fenômeno normal”, diz Igor Pacca, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. A questão é que ela ficou quatro vezes mais veloz. Desde o século 19, o polo costumava se mover a 15 quilômetros por ano, do norte

270º

260º

do Canadá em direção à Rússia (veja na ilustração acima). O polo é uma camada líquida constituída basicamente de ferro fundido. Com o deslocamento dessa grande massa férrea, o campo magnético do planeta se altera e afeta a navegação por meio de bússolas, por exemplo. Com a mudança, equipes de aeroportos, exploradores que se guiam por instrumentos magnéticos ou quem trabalha debaixo da terra ou no fundo do mar (onde o sinal de GPS não chega), como mineiros e escavadores, terão de acertar seus equipamentos. //guilherme rosa

i n fogr áfico:

Daniel da s Neves


TECNOLOGIA

Nosso Kinect. Brasileiro cria software para games reconhecerem gestos

game livre: João Bernardes Júnior, o criador do software, pretende abri-lo de graça na rede

O

engenheiro mecatrônico João Luiz Bernardes Júnior, 34 anos, dedicou os quatro anos e meio de seu doutorado na USP para criar um software aberto que possibilitaria jogar qualquer game de computador sem usar teclado — e ainda personalizar a interação com o jogo. Neste sistema, apresentado em novembro passado e ainda não batizado, todos os comandos vêm de gestos manuais. Quem escolhe os movimentos e o que eles querem dizer (mão para cima pode ser “atacar”, por exemplo) é o próprio usuário. “Só é necessário programar o computador para entender os movimentos como letras. Assim, em vez das teclas, você usa as mãos para jogar”, diz Bernardes. O sistema permite o cadastro de até 100

mil gestos, mas o usuário só precisa, em média, de 10 a 20 por jogo. Ao contrário do Kinect, hardware detector de movimentos que só funciona no videogame Xbox 360, da Microsoft, o sistema criado por Bernardes poderá ser aplicado em qualquer computador. Até agora, só foi testado com o City of Heroes, game de ação estrelado por personagens com superpoderes, mas Bernardes planeja colocar seu software com código aberto na rede para que a comunidade online possa adaptá-lo a qualquer jogo. Para isso, está em busca de financiamento. Se conseguir, o usuário só precisará de uma webcam, que custa em torno de R$ 50, para fazer com que funcione. Diversão barata e garantida. //felipe pontes

mãos ao alto No sistema, gestos substituem o uso das teclas

Posição.

movimentos* voar

Tradução.

Um programador cadastra os movimentos das mãos do jogador com letras correspondentes no teclado

pular

Calibragem. O jogador aponta

Os comandos são executados com as mãos. Um gesto pode ter significados diferentes de acordo com a altura do corpo em que é executado

deitar

sua mão em direção da tela e a interface identifica que ele é uma pessoa por características da pele *Os exemplos são meramente ilustrativos foto:

Ricardo Cor rea ;

i n fogr áfico:

Daniel da s Neves

defender

maio_2011_29


teste de laboratório GALILEU do Mês

biólogo Alysson Muotri em seu

A cada edição, apresentamos representantes do espírito criativo e contestador do cientista italiano Galileu Galilei (1564–1642)

1

Os experimentos que revelaram uma das causas da síndrome. E como eliminá-la

imerso em pesquisa: O laboratório na Universidade da Califórnia, onde estuda drogas

Extração

Células de pele foram retiradas de pacientes autistas e saudáveis

que podem reverter o problema

medicina

Uma cura para o autismo.

Biólogo brasileiro testa remédios contra a doença, que pode ser consequência de um cérebro superativo

S

aber mais sobre como os neurônios se comportam ao longo de nossa vida sempre fascinou o biólogo Alysson Muotri. Depois do doutorado em genética na USP e uma passagem por Harvard, Muotri passou 6 anos no Instituto Salk, na Califórnia, que já abrigou prêmios Nobel como o inglês Francis Crick, um dos descobridores da estrutura do DNA. Nesse período, se aprofundou em como neurônios surgem no cérebro adulto. Os estudos na área o levariam a uma explicação inédita e uma possível cura para o autismo — que atinge uma a cada 110 crianças norte-americanas. “Conseguimos abalar um dos grandes dogmas da neurociência, aquele de que doenças mentais não têm cura.”

22_julho_2011

A grande revelação científica de Muotri, já professor do Departamento de Pediatria e Medicina Celular e Molecular da Universidade da Califórnia, foi descobrir que, em cérebros autistas, novos neurônios se formam com mais facilidade devido a uma mutação genética. Em pessoas comuns, o surgimento desses neurônios na fase adulta é possível porque nosso cérebro possui células-tronco (capazes de se diferenciar em diversas estruturas de nosso corpo) adormecidas. Quando estimuladas , por exemplo por novas experiências e aprendizados, elas se transformam em neurônios. “Isso acontece graças à ativação de determinadas sequências de genes, chamadas de elementos transponíveis.” Na maioria das pessoas, exercitar a mente, seja lendo um livro, jogando xadrez ou aprendendo a tocar um instrumento, desperta os tais elementos transponíveis. Porém, os autistas não precisariam de tanto exercício. Segundo a pesquisa de Muotri, eles já possuem esse sistema naturalmente mais ativo do que gente saudável. Em tese, isso seria bom, já que um cérebro dinâmico pode gerar habilidades extraordinárias, como uma supermemória ou destreza em cálculos matemáticos. Mas isso também multiplica a chance de mutações que tornam os neurônios autistas defeituosos. Por exemplo, são menores e têm menos capacidade de completar sinapses, as regiões de comunicação entre as células cerebrais. O pesquisador e sua equipe retiraram células da pele de pacientes autistas e saudáveis, depois fizeram com que elas voltassem a ser células-tronco e as submeteram a

Regressão

2

Redes neurais

3

Elas foram regredidas a células-tronco, capazes de se transformar em diversas células do corpo

Em um ambiente que imita o cérebro, por meio de vitaminas e sais, células-tronco viram neurônios

4

um ambiente similar ao do cérebro, usando vitaminais e sais minerais. “Assim, conseguimos que essas células se comportassem como neurônios”, diz Muotri. Acompanhando sua evolução, o grupo observou o surgimento dos defeitos nos neurônios autistas. Com o tempo, eles se atrofiavam. O passo seguinte foi testar várias substâncias para reverter o problema. Duas delas — o hormônio Insulin Grow Factor 1

(IGF1) e o antibiótico Gentamicina — provaram ser eficazes. “Em tese, curamos o autismo, mas ainda há vários testes para que essas drogas possam chegar ao mercado.” Em caráter experimental, uma equipe de médicos do Children´s Hospital, em Boston, nos EUA, já usa as substâncias em um grupo de 10 crianças autistas. No entanto, os efeitos colaterais ainda não são completamente conhecidos. “Po-

foto:

Divulgação;

i lu str aç ão:

Daniel da Neves

de haver perda de memórias e até de conhecimentos adquiridos por conta da reconfiguração cerebral provocada pelos medicamentos”, diz Muotri. Se essas barreiras forem ultrapassadas, os autistas não devem ser os únicos beneficiados. “No futuro, talvez possamos ampliar a inteligência e a criatividade ao acelerar o desenvolvimento de neurônios em um cérebro adulto.” //gustavo heidrich

Defeito

Observa-se que os neurônios vindos de células de autistas se atrofiam e fazem menos sinapses

5 Revitalização Em testes, o hormônio IGF1 e o antibiótico Gentamicina revertem a atrofia

Diferença de Tamanho

Neurônio Normal

Neurônio Autista

julho_2011_23


De fora: Máquinas são isoladas dos cientistas para evitar risco de contaminação nas novas células (à direita)

um braço robótico leva os ingredientes de uma máquina para a outra. Eles passam por uma linha de montagem, onde são filtrados e misturados até se chegar ao produto final, pronto para a venda. Tudo automatizado, comandado à distância por um operador. Poderia ser a descrição de uma indústria química ou de alimentos, mas é da fábrica de pele inaugurada neste ano pelo Instituto Fraunhofer, na Alemanha, a primeira do mundo a produzir tecido humano em escala. Ela tem capacidade para entregar por mês 5 mil discos de pele pouco menores que uma moeda de um centavo, ao preço de 50 euros (cerca de R$ 120) a unidade. Ok, mas quem vai comprar isso? O instituto, que aplica US$ 2,3 bilhões por ano em pesquisas de saúde, energia e comunicações, mira um mercado que deve se expandir. A União Europeia decidiu proibir, depois de 2013, a venda de cosméticos testados em animais. A pele feita em laboratórios é um dos procedimentos alternativos mais cotados pa-

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ra substituir as cobaias nessa tarefa. Outros clientes em potencial são as companhias farmacêuticas, já que também é melhor usar tecido humano para experimentar novos remédios do que ratinhos e coelhos. “A fábrica será importante ainda para produzir pele em transplantes”, diz a bioquímica alemã Heike Walles, diretora do projeto no instituto. O procedimento seria útil, por exemplo, na recuperação de pacientes que tiveram queimaduras graves. A tecnologia de reproduzir partes de tecidos já existe em centros especializados, mas a fabricação em grande escala ainda não era feita. “Há poucas empresas no mundo que fazem pele reconstituída para cosméticos. A maioria produz membranas, culturas celulares mais simples. Fabricar em escala é um passo considerável”, diz o bioquímico Jadir Nunes, doutor pela Universidade de São Paulo e conselheiro da Associação Brasileira de Cosmetologia. O novo sistema alemão promete acelerar e baratear esse tipo de produção.

Linha de montagem A fabricação de pele é uma espécie de replicação acelerada de tecidos obtidos com doadores voluntários. De acordo com os cientistas, cada doação de material humano é suficiente para 100 discos. Em um laboratório cercado por vidros para não haver contaminação, as máquinas trabalham sozinhas, comandadas do lado de fora por um especialista. Primeiro, picotam a amostra e filtram os pedacinhos. Depois, substâncias importantes para a replicação são extraídas e manipuladas, enquanto as células são “alimentadas” (confira o processo completo na próxima página). O resultado, a pele reconstituída, é uma substância esbranquiçada, mas que também pode adquirir outras tonalidades. “A vida é de 6 dias dentro da clínica”, explica Michaela Kaufmann, pesquisadora assistente do Instituto Fraunhofer. Essa tecnologia deve produzir tecido humano em escala também para transplantes até o final de 2012, o que dependerá de adaptações e do aval da União Eu-

foto:

Raf ael Kroet z /Fr aunhofer/Divulgação

ropeia. Uma decisão da entidade obrigou que organismos criados fora do corpo humano sejam classificados como instrumentos farmacêuticos, o que significa que devem passar pelos mesmos testes rigorosos aplicados a remédios antes de serem liberados para uso médico. Será usado o mesmo sistema dos discos produzidos para as companhias de cosméticos mas, em vez de doadores, a pele virá do próprio receptor. “O que vai acontecer é um autotransplante com a retirada de pele do mesmo corpo que receberá depois o material”, diz a diretora do Fraunhofer. Com isso, a possibilidade de rejeição diminui. Para que a pele fabricada possa ser “colada” ao receptor, as máquinas serão programadas para estimular no material coletado a produção da proteína fibronectina. A substância faz parte das membranas celulares do nosso corpo, e é responsável por estabelecer conexões com outras moléculas — como o colágeno —, ativar a circulação do sangue e ajudar na cicatrização. “Todos julho_2011_45


A pele feita em escala pode ser usada em testes de cosméticos, medicamentos e, em 2012, para transplantes em humanos. Em breve, o Brasil deve ter a sua própria fábrica de tecido humano, uma filial da empresa alemã

14

Xerox de tecidos

dias

Veja como a fábrica alemã, a partir de uma amostra, produz 100 discos de pele reconstituída

4

3

multiplicação das células Os dois tipos são cultivados em biorreatores e se replicam. As células produzem colágeno, proteína que ajuda a unir e fortalecer os tecidos

Filtração Com ajuda de enzimas, uma máquina separa dois tipos de células: os queratinócitos, da superfície, e os fibroblastos, que compõem a parte interna da pele

2 Captação Um braço robótico corta a pele em pedacinhos

1

poderão utilizar a pele e esse tipo de transplante deverá ser fundamental para pacientes que sofreram fortes queimaduras ou têm algum ferimento crônico”, afirma Walles. A escala deve trazer benefícios aos transplantes. “Essa maquinaria pode ser importante na produção de pele quando há ferimentos em grandes superfícies do corpo”, diz Radovan Borojevic, professor de Biologia Celular da UFRJ, sobre a ajuda que o sistema robotizado trará a quem precisa desse tipo de cirurgia. “É um tipo de pele muito difícil de ser manipulado e extremamente frágil.” De acordo com Heike Walles, do Fraunhofer, o Brasil também pode ter produção de pele nesses moldes em breve. Os alemães estão em negociação com duas empresas de perfumes e cosméticos nacionais (que preferem não ter os nomes divulgados) e informam que cogitam abrir uma espécie de filial aqui. O objetivo é fazer testes de produtos para substituir cobaias, mas, como na sede, o laboratório poderia ser adaptado para fabricar tecido humano destinado a transplantes. A produção para cosméticos usará material coletado de doadores brasileiros — o que elimina dificuldades de transporte e melhora a aceitação da pele entre os pacientes locais.

Doador Com uma biópsia, extrai-se um pequeno pedaço de pele do voluntário

1ª camada Os fibroblastos são despejados em frascos onde formam a derme. Nutrientes são adicionados para ajudar no processo

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6

2ª camada Por cima da derme são acrescentados os queratinócitos, que ajudam a formar a epiderme

semanas

7 repouso Fica tudo numa incubadora a 37 oC até a pele adquirir a forma final. O resultado tem as mesmas camadas que formam o tecido humano: derme e epiderme e subdivisões

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46_julho_2011

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Daniel da s Neves

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