DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA Um sonho longe da realidade
RELATÓRIO DO FMI Receita para a “dor do petróleo”
APOSENTADORIA Retribuir a quem contribuiu
ENTREVISTA
Com Carlos Cunha, empresário
OPINIÃO
Luís Todo Bom, Justino Pinto de Andrade
NOVOS PACOTES DE DADOS EMPRESARIAIS
O DOBRO DA INTERNET PARA O SEU NEGÓCIO
JANEIRO 2016 WWW.ECONOMIAEMERCADO.SAPO.AO
18 PRODUÇÃO CAI 20%
O volume de cargas de navios que atracam na costa marítima angolana teve uma quebra proporcional ao abrandamento da economia nacional, impactando as actividades dos portos, que, embora tenham o estatuto de empresas públicas, não são subvencionadas pelo Orçamento Geral do Estado (OGE). Este cenário pode estender-se para o presente ano, dado que o orçamento para o exercício económico de 2016 ainda demanda que se apertem os cintos. De acordo com o Conselho Nacional de Carregadores, entraram no país, no segundo trimestre do ano passado, 1,897 milhões de toneladas de produtos diversos, contra as 2,534 milhões de toneladas do período homólogo anterior, ou seja, houve uma redução de cerca de 30%. Os produtos mais importados por Angola via marítima variam entre os alimentares e os da construção, sendo este último o líder do segundo trimestre do recém-terminado 2015.
60 RECEITA PARA A “DOR DO PETRÓLEO”
O recente relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) diz que é provável que em 2016 a conjuntura macroeconómica de Angola continue a apresentar grandes desafios para o país, pois não se espera que o preço internacional do petróleo recupere, o que coloca Angola numa situação de alerta vermelho. Porém, é mais do que evidente que este ano Angola vai ressentir-se do choque externo da redução do preço do petróleo. No ano passado, 2015, o Fundo Monetário Internacional esteve em Angola e fez algumas recomendações às autoridades sobre as medidas a adoptar para que o impacto da redução das receitas petrolíferas, não seja desastroso.
64 RETRIBUIR A QUEM CONTRIBUIU
O Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), órgão do Estado responsável, entre outras questões, por receber as contribuições dos trabalhadores e de fazer pagamentos aos aposentados, estabelece que tem direito à pensão de reforma por velhice todo o cidadão com mais de 60 anos de idade ou 35 anos de trabalho e que esteja inscrito no INSS. A Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas (CSS-FAA) tem um propósito idêntico para todos os militares. Porém, nem sempre tal acontece. Há quem cumpra todos os requisitos e há anos que corre atrás da merecida pensão pelo contributo que deu ao INSS ou às Forças Armadas Angolanas e nada recebe. Há também quem não cumpre os requisitos e recebe. Esse é o pensionista fantasma que, quer o INSS, quer a CSS-FAA, lutam para eliminar.
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OPINIÃO 12 LUÍS TODO BOM 15 JUSTINO PINTO DE ANDRADE
MACRO 18 ACTIVIDADE PORTUÁRIA 22 DIVERSIFICAÇÃO ECONÓMICA 26 LIDERANÇA
OPINIÃO 28 J. G. MATOS 29 NÚMEROS EM CONTA
CAPA 30 TURISMO 44 ENTREVISTA
PAÍS 48 LUNDA SUL 51 NOTÍCIAS
LÁ FORA 52 NOVO GOVERNO PORTUGUÊS E ANGOLA 55 NOTÍCIAS
EMPRESAS 56 FOCUS EDUCATION
30 OS DESAFIOS DA INDÚSTRIA DA PAZ Sem paz não há turismo, e Angola está em paz mas só isso não basta. É necessário que haja negócios, preferencialmente de origem estrangeira, para que exista actividade turística, pois este ainda é o principal motivo de entradas de turistas em território angolano. Entretanto, com o abrandamento da economia, o país pode tornar-se menos atractivo aos olhos dos investidores, prevendo-se, em consequência disso, uma redução da chegada de turistas por motivos de negócio. E a questão que se coloca é que, até aqui, Angola não dispõe de infra-estruturas suficientes que facilitem uma melhor exploração do seu potencial turístico. Em época de crise, os principais programas de desenvolvimento do sector sofreram cortes na ordem dos 50% no Orçamento Geral do Estado de 2016, o que torna ainda mais difícil o alcance dos objectivos do Ministério da Hotelaria e Turismo, que quer trazer ao país, até 2020, 4,6 milhões de turistas e arrecadar mais de 4 mil milhões de dólares em receitas.
MERCADO E FINANÇAS 60 RELATÓRIO DO FMI
SOCIEDADE 64 APOSENTADORIA 69 FIGURA DO MÊS
LAZER 71 VINHOS 72 NOTÍCIAS 73 AO VOLANTE
REMATE 74 NUNO FERNANDES
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EDITORIAL | 5
www.economiaemercado.sapo.ao | Janeiro 2016
O TURISMO PRECISA DE OXIGÉNIO Quingila Hebo
A “indústria da paz”, como também é conhecido o turismo, faz parte do agregado do sector não petrolífero que pode trazer mais pujança à economia angolana, daí que o mesmo faz manchete na edição 136 da E&M, a primeira de 2016, que traz uma avaliação sobre o sector no país, apontando os principais constrangimentos e propondo soluções. A actividade turística é a maior fonte de receitas em países muito próximos do nosso, como a vizinha Namíbia (17,5% do PIB), com a qual, inclusive, partilhamos um projecto turístico transfronteiriço. Em 2011, o sector representou 12% do PIB de Moçambique e em 2014 pesou 9,4% no PIB da África do Sul, onde foi responsável por cerca de 10% da empregabilidade no país. Infelizmente, de acordo com o ministro angolano da Hotelaria e Turismo, Pedro Mutindi, o peso do sector no Produto Interno Bruto de Angola é inferior a 1%, o que demonstra que o mesmo precisa de mais oxigénio. Porém, criam-se boas perspectivas diante da previsão de que o turismo nacional cresça para 3% até 2020. Mas quando olhamos para as políticas e prioridades definidas, concluímos que tudo poderá não passar de uma ilusão se não forem repensados e/ou implementados com rigor e zelo as estratégias e instrumentos disponíveis, como o Plano Director do Turismo.
INFELIZMENTE, DE ACORDO COM O MINISTRO ANGOLANO DA HOTELARIA E TURISMO, PEDRO MUTINDI, O PESO DO SECTOR NO PRODUTO INTERNO BRUTO DE ANGOLA É INFERIOR A 1%, O QUE DEMONSTRA QUE O MESMO PRECISA DE MAIS OXIGÉNIO.
Entretanto, além dos desafios do turismo nacional, a presente edição espelha também aquilo que pensam os especialistas económicos e empresários sobre a diversificação da economia. Estes queixam-se de, muitas vezes, serem excluídos do processo de auscultação na hora de se elaborar as políticas. Porém, embora o Estado tenha cortado nas despesas que dinamizariam a tão almejada diversificação, esta ainda não é uma missão impossível. O desafio do Executivo angolano agora é “fazer mais com menos”, o que não se traduz numa tarefa de fácil realização. Aliás, receia-se que a pouca atractividade da economia angolana influencie negativamente os resultados do turismo nacional, que ainda depende em mais de 80% dos turistas de negócio. &
Propriedade Edicenter Publicações, Lda; Directora Editorial Ana Filipa Amaro Director Sebastião Vemba - sebastiao.vemba@economiaemercado.com; Sub-Editor Quingila Hebo - quingila.hebo@economiaemercado.com; Copy Desk Patrícia Pinto da Cruz - patricia.cruz@edicenter-angola.com; Conselho Editorial Laurinda Hoygaard; Justino Pinto de Andrade; José Matos; Fernando Pacheco; José Severino; Redacção António Piçarra - antonio.picarra@edicenter-angola.com; Edjaíl dos Santos - edjail.santos@economiaemercado.com; Jacinto Malungo - jacinto.malungo@edicenter-angola.com; José Pedro Correia - josecorreia.edicenter@gmail. com Colaboradores Bruno Faria Lopes, José Matos, Justino Pinto de Andrade, Luís Todo Bom, Nuno Fernandes Fotografia Vasco Célio (Editor), Afonso Francisco - afonsofrancisco.edicenter@gmail.com, Carlos Aguiar - carlosdaguiar.edicenter@gmail.com; Isidoro Felismina - isidorosuka@gmail.com Design Ana Nascimento – Executive; Paginação Fernando Dias - fernandodias@edicenter-angola.com, Teresa Campos - tcampos.estudio@iona.pt; Pedro Soares - psoares.estudio@iona. pt Capa Executive Publicidade Paulo Medeiros - paulomedeiros.edicenterangola@gmail.com, Secretariado Aida Chimene; Redacção Smart Village Talatona Zona CS1- Via AL 19A Talatona, Luanda - Angola Tel.: (244) 222 006 029 Fax: (244) 222 006 032, geral@economiaemercado.com; Administração e Publicidade Smart Village Talatona - Zona CS1- Via AL 19A Talatona, Luanda - Angola Tel. (244) 222 011 866 / 867 Fax: (244) 222 006 032 edicenterlda@gmail.com; Delegação em Lisboa Iona - Comunicação e Marketing, Lda R. Filipe Folque, 10 J - 2º Dir. - 1050-113 Lisboa Tel. (351) 213 813 566/7/8 Fax: (351) 213 813 569 iona@iona. pt; Impressão e Acabamento Damer Gráfica, Luanda - Angola; Distribuição Edicenter - Tel: (244) 222 011 866 / 867, Media Nova Distribuição, Greeline, Africana; Tiragem 5.000 exemplares; Angola - Registo Nº 249/B/99
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HABEMUS PLANO LUANDA ATÉ 2030 O Plano Director Metropolitano de Luanda será implementado em 15 anos, compreendendo quatro fases de cinco anos cada até 2030. A informação foi avançada pela responsável da empresa coordenadora do projecto, Urbinveste, Isabel dos Santos, durante a apresentação pública do mapa de ordenamento do crescimento e mudança da capital, em Dezembro último. O documento será agora tornado Lei e, posteriormente, entrará na sua fase de execução, sendo que, na primeira fase, mais concretamente, nos próximos dois anos, a prioridade são as linhas de água, porque, de acordo com Isabel dos Santos, “as valas de drenagem têm muitos resíduos sólidos, é necessário limpá-las e torná-las em zonas verdes e parques de recreio, uma ideia mais económica e vantajosa para as comunidades”. Segundo os dados económicos apresentados, o projecto terá um impacto de 342 milhões de dólares no PIB nacional, trará receitas fiscais de 132 milhões, tarifários de 198 mil milhões de dólares e criará três milhões de empregos, numa cidade que se prevê que tenha 13 milhões de habitantes até 2030. Em relação à repartição dos investimentos, o ramo dos transportes vai absorver 39%, o saneamento 32%, os realojamentos das pessoas em zonas abrangidas pelo plano consumirá 21% e os equipamentos públicos 7%. Entre as zonas mais beneficiadas destacam-se o município de Belas, com 17,5%, e Viana, com 13,5%. O desenvolvimento de cada município obedecerá a alguns conceitos, por exemplo, Belas será uma zona costeira turística com um mobiliário prime com um pólo agrícola e uma grande concentração de empresas e universidades.
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Já Luanda será o principal centro histórico, institucional e de negócios, com foco também no turismo. Cazenga tornar-se-á numa área residencial com foco nos serviços, Cacuaco ocupará uma área de indústria logística e mista. Viana continuará a ser o pólo industrial com algum foco na componente agrícola. A responsável da Urbinveste, adianta que o plano é “ambicioso e enorme”, tendo a sua equipa estudado vários modelos, usados noutros países, para a sua concepção, sendo que um dos princípios usados é o do “utilizador pagador”, que significa que todos os cidadãos pagarão esse desenvolvimento com o que usarem, ou seja, no consumo de água, luz, transportes públicos e outros serviços. “A factura do projecto é alta, mas esse trabalho é longo, falamos em 15 anos, e com certeza que o trabalho não acabará por aí, poderá chegar aos 20 ou 30 anos. Este desenvolvimento mais tarde ou mais cedo teria de acontecer como em outras sociedades, e as pessoas terão de o pagar, ou pelo menos uma parte, dependendo da política social que pode subvencionar em parte, ou não”, clarificou. Quando questionada em relação ao resto de Angola, a engenheira adiantou que o plano é apenas para Luanda, que é o desafio, mas acredita que as outras províncias também podem ter iniciativas similares com planos que se pareçam com o da capital. O Plano Luanda prevê ainda a criação de uma cintura verde para limitar o crescimento da cidade e a construção de três aterros para resíduos sólidos (no norte, centro e sul da capital). &
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CONTRAPONTO
2016, MAIS UMA OPORTUNIDADE… SE AO LONGO DOS ÚLTIMOS TRÊS ANOS, POR ALGUM MOTIVO, CONJUNTURAL OU NÃO, A LISTA DAS BOAS INTENSÕES DO GOVERNO TIVESSE SIDO ENGAVETADA, ESTA É, SEM SOMBRAS DE DÚVIDAS, A ALTURA PARA A PÔR NUM LUGAR MAIS VISÍVEL, PARA QUE MELHOR SE POSSA ACOMPANHAR A SUA IMPLEMENTAÇÃO.
Sebastião Vemba
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Na sua “Receita de Ano Novo”, o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade ensinou-nos que, para ganhar um “belíssimo Ano Novo”, não precisamos de “fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta”. E ensinou-nos ainda: “Não precisa chorar de arrependido/pelas besteiras consumadas/ nem parvamente acreditar/que por decreto da esperança/a partir de Janeiro as coisas mudem/e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações”. Como as coisas não mudam “por decreto da esperança”, que felizmente para os humanos é das últimas a morrer, temos que ser nós a pôr as mãos na massa e fazer uma lista do que dever ser realizado no Ano Novo, mas não arquivá-la na gaveta. Este é obviamente um bom começo para 2016, ano em que, a nível da governação em Angola, não faltam objectivos por concretizar. Aliás, no âmbito do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017, este ano que começa agora é derradeiro para o Governo angolano. Se ao longo dos últimos três anos, por algum motivo, conjuntural ou não, a lista das boas intensões do Governo tivesse sido engavetada, esta é, sem sombras de dúvidas, a altura para a pôr num lugar mais visível, para que melhor se possa acompanhar a sua implementação. Com base no último relatório do Fundo Monetário Internacional sobre Angola, publicado em Novembro, “é provável que em 2016 a conjuntura económica continue a apresentar desafios, pois não se espera que os
preços internacionais do petróleo recuperem, e os riscos são negativos”. Neste sentido, lê-se no documento, “embora as perspectivas de crescimento sejam estáveis, a persistência dos preços internacionais do petróleo em níveis baixos e o ambiente mundial incerto representam riscos consideráveis”. Da “lista de boas intenções” apresentadas pelo FMI consta a necessidade de se priorizar acções que promovam o investimento privado, melhorem o ambiente de negócio - com ênfase na redução da burocracia, simplificação do processo de constituição de empresas e reforço do Estado de direito -, bem como a melhoria das infra-estruturas físicas e do capital humano. 2016 é, de resto, mais uma oportunidade para que, efectivamente, conforme indica o documento do FMI, se mobilize a arrecadação de receitas fiscais não petrolíferas adicionais, assim como se deve melhorar a eficiência da despesa pública e dos controlos da despesa. Para a organização internacional, deve-se ainda “continuar a reduzir os subsídios aos combustíveis, mitigando, simultaneamente, o impacto para os pobres através de assistência social bem orientada”. Felizmente existe o tempo. E “quem teve a ideia de cortá-lo em fatias,/a que se deu o nome de ano,/foi um indivíduo genial./ Industrializou a esperança/fazendo-a funcionar no limite da exaustão”. Que não percamos mais esta oportunidade de sermos melhores… E que 2016 nos traga grandes realizações! &
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E&M É A REVISTA MAIS LIDA A revista Economia & Mercado é a mais lida no segmento de publicações de especialidade económica, de acordo com o último estudo da Marktest de 2015, AMPS ABC, que avalia as preferências e os hábitos dos habitantes de Luanda em relação aos media. Segundo o estudo, mais de 48 mil pessoas lêem a E&M, dos quais, 48% são do sexo feminino e 52% do masculino. Atrás da Economia & Mercado aparecem as revistas Exame, com quase 13 mil leitores e a Rumos com mais de seis mil. Já a revista de turismo e lifestyle Rotas e Sabores, outro produto editorial da Edicenter Publicações, continua a liderar isolada o seu segmento, um ano apôs o seu lançamento. &
ARBITRAGEM: A ALTERNATIVA À MOROSIDADE DOS PROCESSOS JUDICIAIS A aplicação da arbitragem como meio alternativo de resolução de litígios ajuda a reduzir a pressão e o tempo útil sobre os órgãos estatais na temática da resolução de conflitos, fez saber o bastonário da Ordem dos Advogados de Angola (OAA), Hermenegildo Cachimbombo, durante a IV Conferência Internacional de Arbitragem de Luanda, promovida pela Ordem dos Advogados de Angola, pelo escritório Manuel Gonçalves Advogados (MGA) e pela Sociedade de Advogados SLCM. À medida que os desafios se multiplicam e se colocam ao Estado angolano, passando pela diversificação da economia, a necessidade e a utilidade da arbitragem tornou-se cada vez maior, de acordo com Hermenegildo Cachimbombo. O responsável avançou que, apesar da sensibilização constante, os níveis de resolução de litígios com recurso à arbitragem em
Angola não são ainda satisfatórios, reconhecendo haver um longo caminho a percorrer para se atingir as metas preconizadas, caminho que passa pela abertura de um centro de arbitragem para reforçar a aplicação da lei angolana. O bastonário da Ordem dos Advogados salientou que a organização pretende dinamizar as actividades dos centros de arbitragem já existentes para ajudar qualquer cidadão, nacional ou estrangeiro, que pretenda investir no mercado angolano. Com o objectivo de promover uma maior utilização da arbitragem, a OAA, em cooperação com o escritório Manuel Gonçalves e a sociedade de advogados portuguesa Serra Lopes, realizou no dia 3 de Dezembro último a IV Conferência Internacional de Arbitragem, que juntou magistrados judiciais e do Ministério Público, advogados, docentes universitários, empresários e investidores de Angola, Brasil e de Portugal. &
O CAIXA TOTTA AGORA É CAIXA ANGOLA O Banco Caixa Geral Totta foi rebaptizado e é, agora, o Caixa Geral Angola. O banco refere, em nota de imprensa, que a nova marca apresentada em Dezembro traz uma nova visão para o mercado angolano, com a missão principal de prestar um serviço de excelência no sector, apoiando o desenvolvimento económico do país com apostas na área empresarial e no segmento particular affluent. Depois de ter adquirido, em Julho de 2015, a posição detida na Partang pelo Santander Totta no Caixa Totta, a Caixa Geral de Depósitos passou a deter a maioria do capital social do banco (51%), assumindo a importância do mercado angolano necessária para o reforço da sua estratégia de internacionalização. Em 2014, o banco apresentou um resultado líquido de 9 163 milhões de kwanzas, o que fez ascender o Caixa Angola ao quarto lugar do sistema financeiro angolano. Nos indicadores de rentabilidade e eficiência, situou-se também na quarta posição, com um rácio de rentabilidade de fundos próprios de 25% e um rácio cost-to-income de 37%. &
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A MATRIZ EMPRESARIAL DE ANGOLA A composição, a evolução e o nível de integração entre os vários elementos que constituem a matriz sectorial e a matriz empresarial de um país são indicadores essenciais sobre a eficiência e solidez da sua economia. APESAR DOS ESFORÇOS RECENTES DO SISTEMA FINANCEIRO, DOS EMPRESÁRIOS E DAS ENTIDADES GOVERNAMENTAIS, A MATRIZ EMPRESARIAL DE ANGOLA AINDA É MUITO DÉBIL PARA RESPONDER AOS DESAFIOS DA GLOBALIZAÇÃO E PARA AMBICIONAR REPRESENTAR UM PAPEL RELEVANTE NA ECONOMIA DA ÁFRICA AUSTRAL.
Luís Todo Bom Professor Associado Convidado do ISCTE-IUL (Lisboa) e Presidente do CA da Multitel e Administrador da Inotec (Angola).
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Os países mais desenvolvidos em termos económicos e sociais têm matrizes empresariais diversificadas e com ligações sólidas entre as unidades empresariais que as integram. Contemplam grupos empresariais de dimensão e presença internacional; grandes, pequenas e médias empresas; públicas, privadas e cooperativas; de natureza familiar ou com dispersão accionista; do sector financeiro, industrial e de serviços. A integração entre estas várias unidades é intensa, com as pequenas e médias empresas a fornecerem serviços às grandes empresas e aos grupos empresariais que detêm maior capacidade exportadora, com o sistema financeiro a suportar o crescimento das empresas industriais e de serviços e com um mercado de capitais que promova a constituição de empresas modernas e garanta os fundos necessários ao seu crescimento e consolidação. Apesar dos esforços recentes do sistema financeiro, dos empresários e das entidades governamentais, a matriz empresarial de Angola ainda é muito débil para responder aos desafios da globalização e para ambicionar representar um papel relevante na economia da África Austral. Os grupos empresariais privados não têm dimensão nem presença internacional; excluindo as unidades do sistema financeiro, há um número muito restrito de grandes empresas privadas; as empresas públicas de grande dimensão têm rentabilidades baixas ou negativas; existe uma prevalência de pequenas, médias e microempresas, sobretudo na área dos serviços; a integração entre as várias unidades do sistema não é suficiente para a criação de uma malha industrial e de serviços robusta. Acresce que, sendo de constituição recente e correspondendo à primeira vaga de formação dos grupos empresariais angolanos, todos estes apresentam características de grupos familiares, de primeira geração. Estas unidades empresariais, apesar de terem um conjunto de aspectos positivos, em termos de
valores empresariais, resiliência nas crises e uma aproximação patrimonial prevalecente, incorporam também um conjunto grande de constrangimentos, sobretudo em termos de alianças internacionais, crescimento focado, rentabilidade e posicionamento global. Angola tem, assim, um longo caminho a percorrer nestes domínios. Mas pode iniciá-lo, desde já, desenvolvendo acções que, robustecendo as suas matrizes sectoriais e empresariais, minimizem, também, as dificuldades actuais da sua economia face à baixa do preço do petróleo. A comunidade empresarial angolana, apesar das debilidades, já está suficientemente madura para que o Governo possa decidir o início de um processo de privatizações – na energia, telecomunicações, transportes –, sem receio de perder o controlo total destas entidades para o estrangeiro. Alguns sectores, com grande potencial de desenvolvimento, que têm estado fechados para o mercado externo, como o sector turístico, podem representar um papel fundamental no processo de diversificação e de robustecimento da matriz empresarial angolana. É possível e desejável criar uma discriminação positiva para as pequenas e médias empresas angolanas na prestação de serviços e fornecimento de produtos ao Estado e às grandes empresas do sector público. Finalmente, pode iniciar-se, desde já, um processo de atracção de investimento estrangeiro para áreas seleccionadas que melhorem e complementem a matriz industrial nacional. Este processo é longo, difícil e terá de vencer algumas resistências, sobretudo por parte dos agentes empresariais mais conservadores e mais receosos da concorrência internacional. Mas não vejo outro caminho para o fortalecimento das matrizes sectoriais e empresariais de Angola, condição necessária para o desenvolvimento harmonioso da sua economia. &
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IPSIS VERBIS “O INVESTIMENTO PRIVADO É O NOVO PETRÓLEO. TEMOS QUE LEVAR O INVESTIMENTO PRIVADO AO COLO”
NORBERTO GARCIA, DIRECTOR DA UNIDADE TÉCNICA PARA O INVESTIMENTO PRIVADO IN CONFERÊNCIA SOBRE TRIBUTAÇÃO DA AGT.
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A CIMEIRA DO CLIMA E A DESLOCALIZAÇÃO DE EMPRESAS CHINESAS O recente alerta lançado pelo Secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, aquando da abertura, em Paris, da semana ministerial da Cimeira sobre o Clima, soou bastante dramático ao afirmar que “o mundo caminha para uma verdadeira catástrofe, caso, rapidamente, não sejam tomadas as medidas mais adequadas”. Ao que acrescentou: “As decisões a serem tomadas em Paris far-se-ão sentir durante séculos”. E disse mais ainda: “O objectivo actual é o mínimo”, aconselhando os negociadores a terem “a ambição de ir mais longe”. No que diz respeito à repartição dos esforços mundiais para a preservação da vida no nosso planeta, o Secretário-geral das Nações Unidas afirmou: “Os países desenvolvidos devem aceitar desempenhar um papel motor e os países em desenvolvimento devem assumir uma parte crescente da responsabilidade, de acordo com as suas capacidades”. A repartição de esforços na luta contra as alterações climáticas é hoje uma das questões mais importantes em qualquer negociação sobre a matéria, separando, assim, as águas entre países desenvolvidos – historicamente mais responsáveis pelo mau estado actual do ambiente; os países emergentes – crescentemente poluidores, também eles contribuintes líquidos para a emissão de gases de efeito de estufa; e países subdesenvolvidos – muito eufemisticamente tratados por países em vias de desenvolvimento –, os que menos danos ainda causam ao meio ambiente. Os países ditos do Sul, os menos desenvolvidos, com menores níveis de emissões de gases causadores do efeito de estufa, fazem questão de requerer aos outros um financiamento adequado para melhor se adaptarem às medidas necessárias para a limitação do aquecimento global, um compromisso que, por sua vez, os países mais desenvolvidos se recusam a assumir em exclusividade. Pretendem agregar a esse compromisso os chamados países emergentes, hoje grandes poluidores como, por exemplo, a China – o maior poluidor da actualidade – e a Índia. Ironicamente, e talvez não por mero acaso, mais ou menos a par da Conferência de Paris sobre o Clima, decorreu em Joanesburgo o Fórum de
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Cooperação China-África, participado por cerca de 40 Chefes de Estado e de Governo africanos. Neste fórum, a China, no intuito de estreitar relações de todo o tipo com África, manifestou claramente a sua disponibilidade em ajudar o processo de industrialização do nosso continente e, também, de cooperar em matéria de segurança. O aumento da cooperação económica bilateral, em diversos domínios, entre a China e África afigura-se apetecível, quer na área das infra-estruturas, quer no desenvolvimento da agricultura, ou no turismo, pois pode permitir melhorar as condições de bem-estar das populações africanas e participar na luta contra a pobreza. A China prometeu também contribuir para a melhoria das condições de segurança no nosso continente, pois tem sido cada vez mais difícil garantir o êxito das operações das empresas chinesas em alguns países, por falta de segurança, como, por exemplo, nos Camarões, Mali, Sudão, e também no nosso. No entanto, no que diz respeito à cooperação económica bilateral com o continente africano, o que mais prendeu a minha atenção foi o facto de a China mostrar intenção de desactivar milhares de indústrias no seu espaço territorial declaradamente poluidoras – e, portanto, responsáveis pelo estado calamitoso em que se encontra o seu ambiente –, deslocalizando-as, de seguida, para o nosso continente, onde irão, aparentemente, contribuir para o nosso desenvolvimento industrial, deixando-nos, porém, no futuro, a contas com uma degradação ambiental que irá condicionar negativamente as nossas vidas e, sobretudo, as vidas das futuras gerações de africanos. &
… O QUE MAIS PRENDEU A MINHA ATENÇÃO FOI O FACTO DE A CHINA MOSTRAR INTENÇÃO DE DESACTIVAR MILHARES DE INDÚSTRIAS NO SEU ESPAÇO TERRITORIAL, DECLARADAMENTE POLUIDORAS, (…) DESLOCALIZANDO-AS, DE SEGUIDA, PARA O NOSSO CONTINENTE, ONDE IRÃO, APARENTEMENTE, CONTRIBUIR PARA O NOSSO DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL.
Justino Pinto de Andrade Economista
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SUGERIDO TRIÂNGULO ECONÓMICO ACTIVO PARA DINAMIZAR INVESTIMENTOS AGRÍCOLAS O presidente da Câmara Agrícola Lusófona (CAL), Jorge Correia Santos, sugeriu uma triangulação activa de empresas portuguesas, espanholas e brasileiras interessadas em investir em Angola. Jorge Correia Santos disse, em Luanda, que Angola é o segundo país da lusofonia, depois do Brasil, em extensão de terras aráveis, facto que pode incentivar a uma visão de futuro na área da agricultura. O presidente da CAL, que falava no seminário “Agronegócio”, promovido pela Associação Industrial de
ESTADO ANGOLANO COMPARTICIPA COM 70% NO PROGRAMA ANGOLA INVESTE O economista Lopes Paulo confirmou que 70% do valor de financiamento do programa Angola Investe é suportado pelo Estado angolano e que os restantes 30% são garantidos pela negociação entre empresários e os bancos. A fatia financiada pelo Estado, diz Lopes Paulo, serve como garantia para que as micro, pequenas e médias empresas arranquem com as suas actividades. O economista avisa que o sucesso de qualquer negócio passa pela boa gestão, uma ferramenta que pode ser potenciada através do Instituto Nacional de Apoio às Micro, Pequenas e Médias Empresas (INAPEM). “O sucesso não depende apenas da capacidade financeira, mas também da capacidade técnica e de uma gestão rigorosa que possa dar continuidade ao projecto”, adverte. Lopes Paulo refere, no entanto, que o programa Angola Investe, vocacionado para financiar projectos dos sectores produtivos - agricultura, pecuária e pescas - tem dado passos muito lentos, pelo que defende uma maior proactividade do projecto a partir de 2016. &
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Angola (AIA), considera que Angola está a dar passos positivos no que diz respeito aos agronegócios, investindo seriamente na produção de carne, leite, na agricultura e outras áreas. Para Jorge Correia Santos, o país ainda não atingiu os níveis de auto-suficiência nos vários domínios de produção, como o dos ovos e da hortofrutícola, o que abre portas ao negócio tricontinental. Enquadrado no programa de internacionalização, o evento teve como objectivo promover a interacção entre empresários da lusofonia, bem como criar um ambiente de negócios favorável em Angola. &
EMPRESA ANGOLANA GANHA PRÉMIO O grupo empresarial angolano Tandimex foi distinguido em Paris com a medalha de ouro do prémio Compromisso BID Mundial de Qualidade, atribuída durante a gala do BID World Quality Commitment, informou a empresa em comunicado. As empresas homenageadas no evento de Paris foram reconhecidas pelas suas realizações empresariais e pela sua dedicação à inovação e à melhoria contínua da produção, conceitos-chave do modelo de gestão da qualidade QC100, para aumentar a satisfação do cliente e optimizar a eficiência. O World Quality Commitment é um prémio concebido pelo BID para as empresas e organizações de todo o mundo que aliam a excelência e a inovação nas suas práticas, colocando a qualidade em primeiro lugar. &
STANDARD BANK VAI CONTINUAR A DISPONIBILIZAR DÓLARES AOS CLIENTES O Standard Bank garantiu, em comunicado, que "mantém inalterados" os serviços de cambiais em Angola e que, apesar das "dificuldades conjunturais" do país, vai continuar a disponibilizar dólares aos clientes. A posição do banco do grupo sul-africano, cujo maior accionista é o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), surge na sequência de informações públicas sobre restrições ao fornecimento de divisas aos balcões da instituição em Angola, devido à crise económica, financeira e cambial provocada pela quebra da cotação do petróleo. &
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ACTIVIDADE PORTUÁRIA
PRODUÇÃO CAI 20% Jacinto Malungo
O volume de cargas de navios que atracam na costa marítima angolana teve uma quebra proporcional ao abrandamento da economia nacional, impactando as actividades dos portos, que, embora tenham o estatuto de empresas públicas, não são subvencionadas pelo Orçamento Geral do Estado (OGE). Este cenário pode estender-se para o presente ano, dado que o orçamento para o exercício económico de 2016 ainda demanda que se apertem os cintos. De acordo com o Conselho Nacional de Carregadores, entraram no país, no segundo trimestre do ano passado, 1,897 milhões de toneladas de produtos diversos, contra as 2,534 milhões de toneladas do período homólogo anterior, ou seja, houve uma redução de cerca de 30%.
Em geral, os portos nacionais tiveram um fraco desempenho até à primeira metade de 2015 como consequência da falta de cambiais, o que afectou negativamente as importações. Os portos transaccionaram um total de 823 077,59 toneladas em contentores de 20 pés, contra as 1,026 milhões anteriores, uma queda próxima dos 20%. Os produtos mais importados por Angola via marítima variam entre os alimentares e os de construção, sendo estes últimos líderes do segundo trimestre do recém-terminado 2015. Durante o primeiro trimestre de 2015, atracaram no Porto de Luanda, o maior do país, 3 654 navios, sendo 480 de longo curso e 3 174 navios de cabotagem, números que correspondem a uma frequência média de chegada de 2,6 navios por dia, cifra abaixo dos 3,2 navios por dia registados no mesmo período de 2014. No segundo trimestre, o Porto de Luanda, responsável pela entrada de 80% da carga
importada, teve uma redução na ordem dos 18% para produtos transportados em contentores de 20 pés e de cerca de 35% em contentores de 40 pés, em comparação com o período homólogo de 2014. Para o terceiro trimestre de 2015, cujos dados ficaram por divulgar ainda no mês em curso, Manuel Zangui, administrador da Área Comercial do Porto de Luanda, prevê que haja crescimento. “Nesta altura há uma tendência para o aumento das cargas, resultante da quadra festiva”, prevê. No cômputo geral, o movimento de contentores no primeiro semestre de 2015 cifrou-se em 290 631 unidades, o que representa um decréscimo de 12% comparativamente a igual período de 2014. Em termos concretos, a produção geral do Porto de Luanda no período em análise, incluindo navios de carga e cabotagem, foi de 4,832 milhões de unidades transportadas, sendo que a maior parte da carga foi contentorizada (3,510 milhões),
O PCA DO PORTO LOBITANGA, ANAPAZ JESUS NETO, ATESTA QUE A INFRA-ESTRUTURA PERDEU CERCA DE
30%
DA NAVEGAÇÃO. “SE ANTES, MENSALMENTE, PASSAVAM PELO NOSSO PORTO CERCA DE 80 A 90 BARCOS, HOJE ESTAMOS COM UMA CAPACIDADE MUITO INFERIOR, EM TORNO DOS 30 A 35 BARCOS POR MÊS”.
o que corresponde a um decréscimo de 14% em relação a 2014. LOBITO CAI 30% O Porto do Lobito, o segundo maior do país, também tem sentido dificuldades, tendo registado, no segundo trimestre de 2015, uma queda de 30,65% nos contentores de 20 pés, e de 37,04% nos de 40. O presidente do Conselho de Administração do porto lobitanga, Anapaz Jesus Neto, atesta que a infra-estrutura perdeu cerca de 30% da navegação. “Se antes, mensalmente, passavam pelo nosso porto cerca de 80 a 90 barcos, hoje estamos com uma capacidade muito inferior, em torno dos 30 a 35 barcos por mês”. O incremento das parcerias é uma das saídas encontradas pelo Porto do Lobito para fazer face ao cenário adverso. “Estamos em contacto com sectores privados dos Estados Unidos da América, vamos assinar um contrato com a empresa Angolana de Navegação, e
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estamos a estabelecer parcerias com uma empresa da República Democrática do Congo, que tem minérios muito próximos do Luau e quer utilizar o Porto do Lobito. Estas são algumas vias que encontrámos para rentabilizar o porto e sair desta crise”, explica. Já o Porto do Namibe, situado no litoral sul do país, que é a porta principal entre a região austral de África e Angola, perdeu, na primeira metade do ano passado, o estatuto de terceiro maior porto em termos de movimentação, tendo registado, no período em referência, uma redução superior a 26% nos contentores de 20 pés, ao passo que nos contentores de 40 pés a redução
foi de 4%. Entretanto, António Samuel, administrador para a Área de Operações do porto, defende que esta redução se deve a vários factores. “Mas acreditamos que, com as mudanças que estamos a implementar, as exportações possam aumentar e, naturalmente, o tráfego também”, vaticina. Por seu turno, o Porto de Cabinda registou uma redução acima dos 32% nos contentores de 20 pés e de 14,05% nos de 40. Apesar disto, teve uma performance superior à do Porto do Namibe, posicionando-se, no segundo trimestre de 2015, como o terceiro porto mais movimentado do país.
OBRAS QUE SE ETERNIZAM Os portos angolanos têm beneficiado de obras de reabilitação mas algumas já se arrastam há algum tempo. O Porto de Luanda, por exemplo, dispunha, em 2009, de uma capacidade de atracação para 895 navios por ano. Com as obras de ampliação, passou a receber 1 135 navios por ano, alguns de 200 a 300 metros, o que não acontecia há 10 anos. O responsável desta instituição portuária, Manuel Zangui, adianta à E&M que o porto da capital do país vai continuar a investir, durante este ano, em equipamentos e acessos portuários, que jogam um papel fundamental.
Acrescenta que está a decorrer o desenvolvimento dos acessos terrestres para melhorar a passagem da mercadoria que entra e sai do porto. “Esperamos que em 2016 estes projectos estejam concluídos”, declara. Manuel Zangui desvenda ainda que, actualmente, há uma maior exigência no que toca aos navios de maior profundidade que chegam ao porto. “O que estamos a fazer é aumentar o calado do Porto de Luanda. Estamos, neste momento, com uma média de 10 a 12 metros, vamos ver se conseguimos chegar aos 12,5 metros, que já são aceitáveis nesta altura”. No caso do Porto do Lobito, o projecto de reabilitação que teve início em 2008 está
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EM GERAL, OS PORTOS NACIONAIS TIVERAM UM FRACO DESEMPENHO ATÉ À PRIMEIRA METADE DE 2015 COMO CONSEQUÊNCIA DA FALTA DE CAMBIAIS, O QUE AFECTOU NEGATIVAMENTE AS IMPORTAÇÕES. OS PORTOS TRANSACCIONARAM UM TOTAL DE 823 077,59 TONELADAS EM CONTENTORES DE 20 PÉS, CONTRA AS
1,026 Manuel Zangui, Administrador da Área Comercial do Porto de Luanda
Anapaz Jesus Neto, Presidente do Conselho de Administração do Porto do Lobito
subdividido em cinco fases. A primeira fase, já terminada, compreendeu a extensão do cais, pavimentação do terreno e subdivisão dos carris. A segunda fase foi a construção do terminal de contentores, que tem uma capacidade de 250 TEUs (Twenty Foot Equivalent Unit – unidade equivalente a 20 pés). Requalificou-se igualmente o terminal de minério, que conta agora com um cais de 310 metros, uma área total de cerca de 200 mil metros e com capacidade para receber navios com arqueação bruta de 50 mil metros cúbicos. O terminal de minério tem também uma capacidade de operar 3,6 milhões de toneladas de contentores por ano. Edificou-se ainda um porto seco e um terminal intermodal terrestre com ligação directa por estrada e via-férrea ao Porto do Lobito e ligação ao Caminho-de-Ferro de Benguela, numa área de 90 metros quadrados. Também foi construída uma ponte de 90 metros sobre o
Mangal, numa perspectiva de garantir a mobilidade dos veículos pesados destinados ao Porto do Lobito sem congestionar o núcleo urbano da cidade. No seu plano de investimento estratégico, o Porto do Namibe recebeu um financiamento do Governo japonês estimado em 24 milhões de dólares para o projecto de reabilitação e modernização, que inicialmente consistiu no alargamento de 240 para 875 metros de Cais. A segunda fase compreendeu a expansão em águas profundas. Numa recente entrevista à E&M, António Samuel, responsável da unidade portuária do Namibe, ressaltou que os portos que não tiverem essa visão de investimento serão ultrapassados, acrescentando que, tendo em conta que os portos se têm tornado grandes plataformas logísticas e que a concorrência entre eles é cada vez maior, é necessário que os portos estejam preparados para enfrentar estes desafios.
MILHÕES ANTERIORES, UMA QUEDA PRÓXIMA DOS 20%.
As obras de requalificação do porto do Namibe incluíram a construção de um parque de estacionamento com 25 748 metros quadrados, a modernização das vias de acesso ao recinto portuário e do sistema de abastecimento de água aos navios, entre outras obras. PARCEIROS COMERCIAIS TAMBÉM SOFREM O mercado asiático, particularmente a China e a Coreia do Sul, continua a ser o principal abastecedor dos produtos de que o país precisa mas não produz. Entretanto, as relações comerciais de Angola com esta parte do globo caíram 31% no segundo trimestre de 2015, comparativamente ao período homólogo de 2014. Da Ásia chegaram 827 435 toneladas de produtos diversos, contra as 1,207 milhões de toneladas anteriores. A China, segunda maior economia do mundo e principal
parceiro comercial de Angola, viu as suas exportações para o nosso país cairem quase para metade no segundo trimestre de 2015, uma baixa de 49,42% em comparação com igual período de 2014. Atrás do gigante asiático, em termos de exportações para o mercado Angolano, está Portugal, cujos produtos chegam em menos quantidade aos portos angolanos. No período em destaque, a queda das importações lusas foi de 22%, ocupando assim o segundo lugar, à frente da Coreia do Sul, país que cresceu nove vezes mais entre os 10 maiores mercados fornecedores de Angola, conservando para si o terceiro lugar. Já as exportações europeias para o mercado angolano caíram 18,42% no segundo trimestre de 2015, assim como as do continente americano, que registaram uma queda de 28,73%. Com efeito, os produtos do nosso continente caíram 2,32%. &
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DIVERSIFICAR A ECONOMIA
UM SONHO LONGE DA REALIDADE Edjaíl dos Santos
A diversificação da economia nacional é uma prioridade reconhecida, mas os benefícios deste tão desejado objectivo tardam em fazer-se sentir. Segundo especialistas ouvidos pela E&M, os programas não parecem ser os mais adequados ao que se pretende nem possibilitam uma reforma estrutural global. Os analistas defendem a correcção dos erros cometidos e uma maior concentração nas acções que visam melhorar o sistema económico.
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A NECESSÁRIA DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ESTRUTURA DO PIB E TAXAS DE CRESCIMENTO
100% 90% 80% 70%
36,9
49,7
44,4
60% 50% 40% 30%
63,1
55,6 50,3
20% 10%
Carlos Rosado de Carvalho, Economista
0% 2002
2008
Peso sector não petrolífero
2013 Peso sector petrolífero 2002
2008
Peso sector não petrolífero
55,6
50,3
63,1
Peso sector petrolífero
44,4
49,7
36,9
14,1
-1,1
8,4
8,0
10,8
4,1
Taxa crescimento sector petrolífero Taxa crescimento sector não petrolífero Taxa crescimento PIB total
2013
Fonte: BDA
A redução dos investimentos públicos no Orçamento Geral do Estado (OGE) 2016 destoa da defendida aposta na diversificação da economia, já que não estão previstas acções que possam colaborar significativamente para um aumento da contribuição da agricultura e da indústria para o PIB - pouco mais de 2% para cada um, segundo considera o último relatório do Observatório Político e Social de Angola (OPSA) e da Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiental (ADRA) sobre a proposta de OGE para o próximo ano. O documento aclara que se verifica uma redução “preocupante de quase 28%”
no investimento em relação ao executado em 2015, o que, segundo as instituições, terá implicações não apenas na criação directa de riqueza e de emprego, mas também nas expectativas dos possíveis investidores privados no sector não-petrolífero. “Este risco demonstra o fraco peso do sector não petrolífero, nomeadamente, os sectores da agricultura, indústria transformadora, construção e dos serviços mercantis, o que vem moderar afirmações sobre um suposto crescimento robusto desses sectores”, observam a ADRA e o OPSA. O parecer das duas instituições sobre o OGE 2016 refere que as verbas para a
agricultura previstas para 2016 são praticamente metade das executadas em 2013, quando o OGE previu verbas de 67 mil milhões de kwanzas, o que, segundo o OPSA e a ADRA, não é “coerente” com as reiteradas declarações do Executivo de que a agricultura é uma prioridade, pelo seu potencial em criar empregos e no combate à pobreza. “Não se vislumbram acções significativas a nível de projectos estruturantes, como a investigação, a assistência técnica ou a mecanização”, defendem. Por sua vez, o engenheiro agrónomo Fernando Pacheco, durante o fórum empresarial promovido pelo Banco de Desenvolvimento de Angola,
adiantou que esses apertos demonstram que no tempo das “vacas gordas” o Estado gastou o dinheiro de forma pouco estratégica, investindo em indústrias que não funcionam, e agora devia reconhecer os erros cometidos e corrigi-los, uma atitude que, segundo o especialista, o Estado não tem tido. Na mesma senda, o economista Carlos Rosado de Carvalho avança que “infelizmente, o Estado não tem aprendido com os erros”, e pensa que o recém-inaugurado projecto agrícola da Quiminha, província do Bengo, é um exemplo disso, pois, continua, “vários similares foram criados e nunca deram frutos, como o Nosso Super e o financiamento de vários outros projectos”. “Temos que admitir que temos problemas, porque temos um dos piores ambientes de investimento do mundo”, defendeu o também director do jornal “Expansão” durante o fórum empresarial. HÁ INVESTIMENTO EM SECTORES AUXILIARES Entretanto, o Executivo argumenta que não se pode
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Fernando Pacheco, Engenheiro Agrónomo
Laércio Cândido, Técnico do Ministério da Economia
Manuel da Costa, Presidente do Conselho de Administração do BDA
Filomena de Oliveira, Vice-presidente da Associação dos Empresários da Huíla
analisar as verbas destinadas à agricultura exclusivamente pela lente das despesas por função, pois existem ainda as destinadas aos assuntos económicos, como a reabilitação e construção de estradas secundárias e terciárias, que beneficiam indirectamente o sector. O documento da ADRA e do OPSA reconhece que se verifica, a nível da reabilitação de estradas, um trabalho significativo que merecerá ainda um incremento em 2016 com recurso à linha de financiamento da China. Porém, lê-se no relatório, “o que não é lisonjeiro para o processo de diversificação da economia se tivermos em conta outros exemplos como o da construção de centralidades”. O relatório critica ainda o facto de o OGE 2016 prever 131 programas, menos quatro do que em 2015, e apenas quatro estarem directamente relacionados com a economia, considerando a promoção, o fomento e o desenvolvimento da actividade económica, a reabilitação e a construção de infra-estruturas económicas básicas, o Angola Investe e o apoio às grandes empresas e sua
inserção em clusters empresariais. Porém, Laércio Cândido, técnico do Ministério da Economia, lembra que dentro do perímetro dos projectos de investimento privado, todas as infra-estruturas são da responsabilidade das empresas e apenas as infra-estruturas externas são da responsabilidade do Estado. Entretanto, o privado, explica o economista, pode manifestar interesse em fazê-lo e depois renegociar com o Estado uma forma de reaver esse investimento, que pode ser através da isenção de impostos, por exemplo.
com o Observatório Político e Social de Angola e a Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente. Sendo um dos principais programas do Orçamento Geral do Estado, o Angola Investe viu a sua dotação orçamental diminuir de 30,5 mil milhões de kwanzas em 2014, para 18,96 mil milhões em 2015 e 18,5 mil milhões de kwanzas em 2016, o que, na análise do OPSA e da ADRA, “explica porque este programa, que representava uma fundamentada esperança no caminho da diversificação, apenas criou até ao momento cerca de 65 mil empregos dos 300 mil previstos até ao final de 2015”. O OGE 2016 prevê 12 programas directamente relacionados com o sector primário. Destes, os três maiores são o Programa de Construção e Reabilitação de Perímetros Irrigados com 8,9 mil milhões de kwanzas (0,14% do OGE), o Programa de Fomento Agrícola com 7,9 mil milhões (0,12% do OGE) e o Programa de Desenvolvimento da Agricultura Comercial (0,12% do OGE). É também de destacar o
desinvestimento no sector das pescas que, de 7,4 mil milhões de kwanzas em 2015, passará para 5,8 mil milhões em 2016 (uma taxa de variação de 21,5% negativos). Já no sector industrial está previsto um aumento da dotação de 16,7 mil milhões de kwanzas em 2015 para 31,2 mil milhões em 2016, o que representa um aumento na ordem dos 85%. Ao nível das dotações orçamentais para as rubricas relativas à categoria de Assuntos Económicos é de salientar que, globalmente, esta categoria viu as suas verbas aumentarem de 571,1 mil milhões de kwanzas para 631,0 mil milhões. Por outro lado, o Programa de Facilitação ao Crédito, que se afigura central para a realização de investimento, terá um valor irrisório de 0,1 mil milhões de kwanzas. Por sua vez, o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), principal financiador de investimentos privados no sector não petrolífero, avança que depois de aprovado o plano estratégico do banco para até 2017, alinhado e actualizado o capital estatutário em 54 880
DIVERSIFICAR COM POUCAS VERBAS O Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Indústria Transformadora terá, em 2016, uma dotação de 1,9 mil milhões de kwanzas e o Programa de Fomento da Actividade Produtiva da Indústria Transformadora usufruirá de 0,5 mil milhões. Já o Programa de Fomento da Indústria Rural, no qual se depositavam fundamentadas esperanças, “beneficia de uma verba insignificante”, de acordo
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milhões de kwanzas, a instituição está em condições para continuar a financiar o sector produtivo. Neste momento, o BDA garante já ter aprovado linhas de crédito para a banca comercial, nomeadamente, com o Banco Sol e com o BPC, num montante total de 35 mil milhões de kwanzas, para financiar sectores como a agricultura, pecuária e pescas, indústria transformadora, comércio e serviços e infra-estruturas, no valor máximo de 5 milhões de dólares americanos, sendo que cerca de 50% dos financiamentos é destinado à indústria. Porém, os participantes no fórum defenderam mais contenção face à degradação da qualidade da actual carteira de crédito do BDA e melhor optimização da cobrança dos créditos em situação irregular, cerca de 34% dos projectos, que têm uma tendência crescente. O presidente do Conselho de Administração do BDA, Manuel da Costa, frisa que o peso do sector petrolífero tem vindo a diminuir e para que haja equilíbrio na economia, o ramo não petrolífero tem que crescer muito mais. “Há uma margem grande de progresso e vamos continuar a financiar o sector produtivo e as infra-estruturas como os acessos, a electricidade e a água, sendo que, com o aumento do capital do banco, essa é a estratégia do Executivo”, garante.
Em contramão, Filomena de Oliveira, vice-presidente da Associação dos Empresários da Huíla, adverte que a diversificação é uma necessidade, mas não deve ser promovida de forma unilateral. “Devemos perceber que se deve conversar com os grupos e associações empresariais, pois a falta de diálogo leva a que sejam adoptadas políticas desajustadas criando vários problemas. O processo de diversificação não é uma acção unilateral”, sustenta. A ADRA e o OPSA elegem um conjunto de sete factores que podem ser mitigados com a melhoria do processo de avaliação do risco-cliente e do risco-projecto, bem como com a melhoria da avaliação técnica, económica e financeira dos projectos em si. Estes factores são: atrasos na entrega dos equipamentos pelas fornecedoras e falta de manutenção; fraco conhecimento do negócio e experiência técnica e de gestão; períodos de carência e reembolso do capital reduzido face às dificuldades logísticas e burocráticas; escolha de equipamentos inadequados aos negócios; falta de competitividade dos produtos e serviços e existência de concorrência desleal; escassez de recursos humanos qualificados e dificuldades na obtenção de vistos de trabalho para expatriados; e, por último, as derrapagens financeiras dos projectos por falhas na concepção. &
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LIDERANÇA
UM FACTOR DIFERENCIADOR EM SITUAÇÕES ADVERSAS Texto: Quingila Hebo Fotografia: Afonso Francisco
A African Leadership Academy (ALA) esteve em Luanda à procura de jovens que se destaquem como bons líderes para que estes se inscrevam num programa de formação com a duração de dois anos. O objectivo é juntar estudantes com veia de liderança, criatividade e inovação nas mais diversas áreas, com idades compreendidas entre os 16 e os 19 anos, de todos os países africanos. De acordo com o presidente do Conselho de Administração do Grupo Opaia, Agostinho Kapaia, independentemente do que as academias ensinam, um bom líder deve saber ouvir para tirar as ilações acertadas e oportunas para contornar as situações antagónicas que possam surgir.
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É em situações como a que Angola atravessa actualmente que os bons líderes, sejam empresariais ou políticos, se tornam factores determinantes para contornar questões adversas. De acordo com o presidente do Conselho de Administração do Grupo Opaia, Agostinho Kapaia, distinguido na categoria Empreendedorismo dos Prémios Sírius 2015, independentemente do que as academias ensinam, um bom líder deve saber ouvir para tirar as ilações acertadas e oportunas para contornar as situações antagónicas que possam surgir. Para Agostinho Kapaia, um bom líder deve ouvir 80% e falar apenas 20%, deve saber compreender e estar sempre aberto a aprender com os outros, ter visão, estratégia e saber, sobretudo, decidir. “As relações humanas são a base de uma boa liderança. Um líder não é um chefe, é aquele que sabe criar seguidores e sabe dar exemplos que façam com que as pessoas à sua volta se sintam motivadas a produzirem mais e melhor, seguindo a linha orientadora do líder”, acrescenta Agostinho Kapaia. Para o PCA do grupo Opaia, se, por um lado, as empresas primam pelos lucros, por outro, é fundamental que o líder desempenhe um papel determinante na relação laboral. “A rentabilidade de uma empresa não é possível se o líder não tiver a visão estratégica de constituir equipas coesas. Ele deve motivar com definições claras,
Agostinho Kapaia, Presidente do Conselho de Administração do Grupo Opaia
“A RENTABILIDADE DE UMA EMPRESA NÃO É POSSÍVEL SE O LÍDER NÃO TIVER A VISÃO ESTRATÉGICA DE CONSTITUIR EQUIPAS COESAS. ELE DEVE MOTIVAR COM DEFINIÇÕES CLARAS, OBJECTIVOS BEM DELINEADOS E UMA LIDERANÇA EM QUE TODOS SE REVEJAM”, EXPLICA AGOSTINHO KAPAIA.
objectivos bem delineados e uma liderança em que todos se revejam”, explica. Agostinho Kapaia foi distinguido com o prémio Empreendedorismo justamente porque o júri entendeu que este evidencia ser um empresário com projectos societários em fase de criação, tem um espírito de iniciativa, determinação e inovação e um percurso profissional demonstrativo de assunção e gestão de risco. O júri salienta ainda que Agostinho Kapaia é um empresário com visão de médio e longo prazo, podendo vir a ser visto como um referencial para a nova geração de empresários e gestores. O prémio de Melhor Gestor do ano 2015 coube a João Santos, presidente do Conselho de Administração do grupo Zahara, detentor da cadeia de supermercados Kero, que a E&M traz nesta edição como a Figura do Mês. VIVEIRO DE LÍDERES A African Leadership Academy (ALA) é uma instituição pan-africana situada na cidade de Joanesburgo, África do Sul, que reúne estudantes de mais de 30 países na área de empreendedorismo, estudos africanos e liderança. Não se foca apenas no desenvolvimento intelectual, mas também ajuda os alunos a melhorarem as notas para ingressarem na universidade, focando-se ainda, e sobretudo, no desenvolvimento pessoal de cada estudante. A escola procura alunos com vontade
e ideias para mudar África, contribuindo para o seu desenvolvimento. Os alunos aceites pela academia estudam em regime de internato do ensino secundário misto de nível mundial em Joanesburgo e concluem a formação em Liderança Empresarial e Estudos Africanos de nível A, reconhecida internacionalmente. Além dos alunos, a instituição conta ainda com professores de mérito oriundos de toda a África e do mundo. O ALA tem um histórico sem precedentes em colocações de alunos nas melhores universidades do mundo, além de promover estágios e oportunidades de emprego a nível mundial. A African Leadership Academy tem seis critérios de selecção dos candidatos: potencial de liderança, paixão por África, dedicação ao serviço público, espírito empreendedor, aptidão académica e idade entre os 16 e os 19 anos. Já a Jason Associates realiza, no próximo mês de Abril, a primeira etapa do Top Líderes em Luanda. Este tem como foco capacitar pessoas que ocupam cargos de relevo com técnicas para melhorar cada vez mais o seu desempenho enquanto líder empresarial. A formação está avaliada em 6 500 dólares, o equivalente a 880 750 kwanzas. As inscrições começaram em Dezembro e prolongam-se até dia 15 de Março deste ano. &
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| OPINIÃO
EDUCAR PARA O RISCO Viver é arriscado. Desde tempos imemoriais que o ser humano se defronta com perigos e incertezas. A vida moderna eliminou muitos dos perigos de uma existência primária, mas criou novos riscos, mais sofisticados, próprios de uma sociedade baseada na tecnologia e na globalização e com múltiplas formas de interacção económica e social. A modernização conduziu-nos assim a uma sociedade de risco. O objectivo desta nota é fazer uma reflexão sobre a necessidade de educar o cidadão angolano para uma adequada percepção do risco.
É PRECISO ENSINAR AS PESSOAS NÃO SÓ A RECONHECER OS RISCOS PESSOAIS E COLECTIVOS, COMO A COMPREENDER O CONCEITO DE TRANSFERÊNCIA DE RISCO. É IMPORTANTE AJUDAR AS PESSOAS A LISTAR E A CATEGORIZAR OS RISCOS, DISTINGUINDO OS QUE PODEM SER EVITADOS OU MITIGADOS DOS QUE DEVEM SER TRANSFERIDOS, DECIDINDO CRITERIOSAMENTE QUE RISCOS ASSUMIR.
José Gualberto Matos Engenheiro
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Risco é a probabilidade de que algo possa correr mal. A ideia mais corrente de risco está associada a catástrofes naturais, como cheias e inundações, terramotos, tsunamis e incêndios florestais. Estamos aqui a falar dos chamados riscos catalépticos, que, quando consumados, atingem em regra muita gente ao mesmo tempo. Mas há outros riscos, mais selectivos, que, pela sua natureza, atingem normalmente apenas um indivíduo ou uma família. Estamos a falar do risco de doença ou acidente pessoal e dos riscos de desemprego e de pobreza. A ideia que fazemos é a de que o cidadão angolano, em geral, não se preocupa muito em gerir riscos. Não se encontra suficientemente enraizada em Angola uma cultura de prevenção. Isto é, essencialmente, um problema de educação. É preciso sensibilizar as pessoas para a necessidade da prevenção. A sensibilização para a prevenção e poupança tem de ser inculcada nos bancos das escolas, a começar no primário e a acabar no universitário. É preciso ensinar as pessoas, não só a reconhecer os riscos pessoais e colectivos, como a compreender o conceito de transferência de risco. É importante ajudar as pessoas a listar e a categorizar os riscos, distinguindo os que podem ser evitados ou mitigados dos que devem ser transferidos, decidindo criteriosamente que riscos assumir. É importante fazer perceber que há riscos que se encontram socializados e que há riscos que é preciso gerir a nível pessoal. É importante explicar às pessoas por que razão é essencial pensar no amanhã e por que importa ser
previdente. Porque, como diz o ditado popular, a provisão faz-se na boca do saco. Não seria possível imaginar a sociedade moderna sem transferência de riscos. Embora o conceito de seguro seja antigo, a actividade seguradora só se desenvolveu a partir da revolução industrial, para fazer face aos enormes riscos inerentes ao progresso tecnológico. Embora este conceito possa parecer óbvio para muitos de nós, ninguém nasce ensinado. É preciso que quem inicia a vida activa tenha noção das protecções que uma economia moderna oferece, para que possa encarar os desafios da vida com a necessária segurança. Esse conhecimento é essencial, por exemplo, para fomentar o empreendedorismo. Porque é, então, necessário educar para o risco? Porque é preciso que as pessoas tenham a percepção correcta dos riscos que correm e saibam como lidar com eles. Nem sempre a dimensão real de um determinado risco coincide com a percepção que dele se tem. A educação pode ajudar as pessoas a reduzir esse gap. Uma vez conseguida a adequada perceção dos riscos, há que sensibilizar as pessoas para a sua gestão equilibrada, porquanto é importante que entendam que, se a preocupação excessiva com o risco pode levar à paralisia, a excessiva desvalorização pode conduzir ao desastre. Em conclusão, na minha opinião, e à semelhança do que se pratica em alguns países, é necessário lançar um programa nacional de educação para o risco, que deverá passar, não só pela inclusão da matéria nos currículos escolares, aos vários níveis do sistema de ensino, como pela organização de campanhas de divulgação e sensibilização. &
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UMA ECONOMIA MUNDIAL MAIS BRILHANTE EM 2016 2,8% ZONA EURO
O CRESCIMENTO ECONÓMICO NOS ESTADOS UNIDOS IRÁ MELHORAR LIGEIRAMENTE PARA 2,8%, SENDO O RITMO MAIS RÁPIDO ESTADOS DE CRESCIMENTO UNIDOS ANUAL DESDE 2005.
2,8%
ANGOLA DEVERÁ CRESCER 3,3%, DE ACORDO COM O ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO PARA 2016, ORÇAMENTADO EM 6,3 TRILIÕES DE KWANZAS. ANGOLA
A ZONA EURO VAI ACELERAR LIGEIRAMENTE ESTE ANO, PARA 2,8%, CONTRA OS 2,6% DE 2015, PERÍODO EM QUE REGISTOU O MAIOR CRESCIMENTO DESDE 2010.
5%
ECONOMIAS AFRICANAS
AS ECONOMIAS AFRICANAS PODERÃO ACELERAR PARA 5% EM 2016, ULTRAPASSANDO A MAIORIA DAS REGIÕES E CONVERGINDO COM AS ACTUAIS TAXAS DE CRESCIMENTO NA ÁSIA.
3,3% 1% JAPÃO
4,5% ECONOMIAS EMERGENTES
AS ECONOMIAS EMERGENTES TAMBÉM DEVEM CRESCER CERCA DE 0,5, PARA 4,5%. AS MAIORES BAIXAS PARA AS PERSPECTIVAS DE CRESCIMENTO DO FMI ESTAVAM EM ECONOMIAS DESENVOLVIDAS E EMERGENTES ORIENTADAS POR COMMODITIES EM RECESSÃO: BRASIL, RÚSSIA E CANADÁ. DESTES, SÓ A ECONOMIA DO CANADÁ DEVERÁ CRESCER EM 2016.
4,3% NIGÉRIA
1% É QUANTO DEVERÁ CRESCER A ECONOMIA JAPONESA, QUE VAI VOLTAR A ACELERAR EM 2016, DEPOIS DE NO ANO PASSADO TER CRESCIDO 0,6%, SUPERANDO O CRESCIMENTO NEGATIVO DE 2014 (-0,1).
A NIGÉRIA VAI ACELERAR 0,3, PARA 4,3%, EM 2016, AO PASSO QUE A ÁFRICA DO SUL DECRESCERÁ 0,1, PARA 1,3%, NO MESMO ANO.
EVOLUÇÃO DO PIB MUNDIAL E PREVISÃO PARA 2016
3,5% 3% 2,5% 2%
ESTES DADOS SÃO REFERENTES A JUNHO DE 2015 E CONFIRMARAM, NO FINAL DO ANO PASSADO, QUE AS PREVISÕES DO FMI TÊM SIDO AS MAIS ACERTADAS.
1,5% 1% 0,5%
FONTE: BUSINESS INSIDER
2014
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2015
2016
Bloomberg
FMI
OCDE
Banco Mundial
0%
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TURISMO
OS DESAFIOS DA INDÚSTRIA DA PAZ Sebastião Vemba
Sem paz não há turismo e Angola está em paz. Mas só isso não basta. É necessário que haja negócios, preferencialmente de origem estrangeira, para que exista actividade turística, pois este ainda é o principal motivo de entradas de turistas no território angolano. Entretanto, com o abrandamento da economia, o país pode tornar-se menos atractivo aos olhos dos investidores, prevendo-se, em consequência disso, uma redução da chegada de turistas por motivos de negócio. E a questão que se coloca é que, até aqui, Angola não dispõe de infra-estruturas suficientes que facilitem uma melhor exploração do seu potencial turístico. Em época de crise, os principais programas de desenvolvimento do sector sofreram cortes na ordem dos 50% no Orçamento Geral do Estado de 2016, o que torna ainda mais difícil o alcance dos objectivos do Ministério da Hotelaria e Turismo, que quer trazer ao país, até 2020, 4,6 milhões de turistas e arrecadar mais de 4 mil milhões de dólares em receitas.
Em 2014, Angola foi o segundo maior destinatário africano de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) bruto, com cerca de 16 mil milhões de dólares, apenas atrás do Egipto, que recebeu mais 2 mil milhões de dólares. Este quadro foi positivo para a actividade turística em Angola, na medida em que o turismo de negócio ainda é o que mais rende ao país. No entanto, suspeita-se que este segmento do turismo registe um abrandamento, em consequência da redução da entrada de IDE no país, cuja economia está a ser afectada pela baixa do preço do petróleo no mercado internacional. De acordo com a FDI Markets, uma instituição que monitora a globalização dos investimentos, 57% das empresas estrangeiras que investem em África apontam o potencial de crescimento do mercado interno dos países como o primeiro factor a considerar na decisão de fazer investimentos. Assim sendo, e com base nas estimativas
ATÉ 2014, FUNCIONAVAM NO PAÍS 6 277 UNIDADES HOTELEIRAS, MEIOS COMPLEMENTARES DE ALOJAMENTO, RESTAURANTES E SIMILARES E AGÊNCIAS DE VIAGENS E TURISMO, DE INTERESSE TURÍSTICO, O QUE REPRESENTOU UM ACRÉSCIMO DE
8%
CORRESPONDENTE A MAIS 511 UNIDADES DO QUE EM 2013.
das instituições financeiras internacionais, como o FMI e Banco Mundial, e do próprio Governo angolano, o crescimento médio anual da economia nacional poderá não ultrapassar os 5% até ao ano 2020. Por outras palavras, hoje Angola é menos atractiva aos olhos dos investidores privados e o país vai registar uma menor taxa de entrada de turistas por motivos de negócios, criando vários desafios aos responsáveis do sector. A Economia & Mercado contactou o Ministério da Hotelaria e Turismo, através da direcção do GEPE, para obter as estatísticas do turismo referentes a 2015, mas este departamento negou disponibilizar dados por falta de autorização do ministro Pedro Mutindi, a quem enviámos uma carta a solicitar os dados, porém não obtivemos resposta até ao fecho desta edição. Entretanto, as viagens de negócios destacaram-se, em 2014, como o principal motivo das deslocações a Angola, com
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BALANÇA DE PAGAMENTOS 2014
VIAGENS
2013
2014
VAR. (%)
PESO
1 233,72
1 589,03
28,80
100,00
Viagens de negócio
998,87
1 328,09
32,96
83,58
Viagens pessoais
234,85
260,94
11,11
16,42
Viagens, Débito
166,35
113,07
-32,03
100,00
Viagens de negócio
87,23
107,28
22,99
94,88
Viagens pessoais
79,12
5,79
-92,68
5,12
Viagens, Líquido
1 067,37
1 475,96
38,28
DESCRIÇÃO Viagens, Crédito
Fonte: Anuário Estatístico do Turísmo 2015
REPARTIÇÃO DE EMPREGOS E SALÁRIOS POR TIPO DE UNIDADES HOMENS
MULHERES
Hotéis
25 377
20 826
46 203
14 121 061 621
Meios complementares de alojamento
20 773
22 003
42 776
7 621 348 026
Restaurantes e similares
TIPO DE UNIDADES
TOTAL
SALÁRIOS EM AKZ
52 696
45 780
98 476
12 841 954 525
Agências de viagens e turismo
8 899
6 412
15 311
3 561 714 328
Total geral
8 899
95 021
202 766
38 146 078 500 Fonte: Anuário Estatístico do Turísmo 2015
um peso de 83,58% sobre o valor total, ao passo que o turismo pessoal representou apenas 16,2%. Sobre esta questão, o próprio Ministério da Hotelaria e Turismo, através do Anuário Estatístico do Turismo 2015, admite que, não obstante a situação favorável do turismo, muito ainda deverá ser feito para tornar o turismo pessoal como uma importante fonte de receita do sector em Angola. “Para tal, é necessário que haja uma melhoria no fornecimento de serviços básicos, como transportes públicos, energia e água, comunicações, e a criação de infra-estruturas”, pode ler-se. Para já, de acordo com o Orçamento Geral de Estado 2016, a eliminação destes obstáculos infra-estruturais poderá ser retardada, sendo que os principais
programas destinados ao desenvolvimento do turismo em Angola registaram um corte das verbas na ordem dos 50%, comparativamente a 2015. Ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Actividade Turística, no OGE 2016, foram cabimentados pouco mais de 2,8 mil milhões de kwanzas, contra os 4,3 mil milhões disponibilizados em 2015. Por sua vez, o Programa de Formação de Profissionais para o Sector Turístico tem disponíveis 7,1 milhões de kwanzas contra os 14,5 milhões cabimentados no OGE de 2015. De resto, o desenvolvimento do sector do turismo está dependente das melhorias que devem ser feitas no sector das infra-estruturas e fornecimento de serviços
básicos, como energia e água, razão pela qual o país ainda tem fraca actividade de turismo de natureza, devido à dificuldade de acesso aos lugares mais recônditos, mas com forte potencial turístico. MENOS DE 1% DO PIB No prefácio do Anuário Estatístico do Turismo 2015, o ministro da Hotelaria e Turismo de Angola, Pedro Mutindi, afirmou que este é um dos sectores que mais cresce no mundo, sendo que “se tornou um factor de inclusão social e de desenvolvimento económico dos países, assumindo-se como a principal fonte de acumulação de reserva, contribuindo significativamente para o Produto Interno Bruto (PIB)”. Mas este ainda não é o
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| CAPA
PERCENTAGEM DAS RECEITAS POR TIPO DE UNIDADES 37,5
40,0 35,0 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0
20,4
21,7
Hotéis
Meios complementares de alojamento
20,3
Restaurantes e similares
Agências de viagens e turismo
CRESCIMENTO DAS RECEITAS POR TIPO DE UNIDADE EM 2014 RECEITAS EM MIL MILHÕES DE AKZ 2013
2014
VARIAÇÃO (%)
Hotéis
26 136
31 831
21,8
Meios complementares de alojamento
21 395
33 977
58,8
Restaurantes e similares
47 517
58 657
23,4
Agências de viagens e turismo
24 057
31 753
32,0
Total geral
119 105
156 218
31,2
TIPOS DE UNIDADES
Fonte: Anuário Estatístico do Turísmo 2015
caso de Angola, que é ultrapassada por economias vizinhas como a sul-africana e a namibiana, ou ainda a cabo-verdiana, onde o peso do turismo no PIB ultrapassa os 5%. Actualmente, o peso do sector da Hotelaria e Turismo no PIB nacional é inferior a 1%, porém, prevê-se que o mesmo cresça para 3% nos próximos anos. De acordo com uma notícia divulgada pelo jornal Expansão, este objectivo deverá ser alcançado com a inauguração, até 2017, de cerca de 600 hotéis e 117 resorts por todo o país. A informação foi avançada por altura da proclamação e constituição da Associação de Hotéis e Resorts de Angola (AHRA). Até 2014, funcionavam no país 6 277 unidades hoteleiras, meios complementares de alojamento, restaurantes e similares e agências de viagens e turismo, de interesse
AS VIAGENS DE NEGÓCIOS DESTACARAM--SE, EM 2014, COMO O PRINCIPAL MOTIVO DAS DESLOCAÇÕES A ANGOLA, COM UM PESO DE
83,58% SOBRE O VALOR TOTAL, AO PASSO QUE O TURISMO PESSOAL REPRESENTOU APENAS 16,2%.
turístico, o que representou um acréscimo de 8%, correspondente a mais 511 unidades do que em 2013. Luanda (35%), Benguela (24%), Huíla (13%), eram as cidades que dispunham do maior parque hoteleiro do país, e sabe-se que este quadro não foi alterado. De acordo com o Anuário Estatístico do Turismo, por tipo de unidades, aquele que mais cresceu foram os restaurantes e similares, com 491 novos estabelecimentos, correspondentes a 76,2% do seu número total. Em termos de quartos disponíveis, Angola dispunha, em 2014, de 22 mil unidades, o que representou um aumento de 6% em comparação com 2013. No entanto, considerando o tipo de unidade, os meios complementares de alojamento (aldeamentos turísticos, moradias turísticas)
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FUNDAMENTAL PARA A RECUPERAÇÃO ECONÓMICA De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT), o sector turístico será fundamental para a recuperação económica global, sobretudo na Europa. O turismo mundial terá crescido 4% em 2015. No início do ano passado, o secretário-geral da OMT esclareceu que, nos últimos anos, o sector mostrou ser uma actividade económica “surpreendentemente forte e resiliente e um contribuinte fundamental para a recuperação económica, ao gerar milhões de dólares em exportações e criando milhões de empregos. Isto é verdade para destinos em todo o mundo, mas especialmente para a Europa, à medida que a região luta para consolidar a saída de um dos piores momentos económicos da sua história”, disse Rifai, na abertura do Fórum Global de Turismo de Madrid, em 2015. Dados referentes ao primeiro semestre de 2015 apontavam as Caraíbas e a Oceânia como os destinos mais populares, com um crescimento de 7%. O leste e centro da Europa e a América Central revelaram um aumento de 6% no turismo. Apesar do acesso limitado à informação sobre o continente africano, a OMT relevou um declínio de 6% do turismo em África, com 10% de redução no Norte de África e 4% na África Subsaariana, áreas afectadas pelos ataques terroristas e pelos efeitos do surto de ébola. A Organização Mundial de Turismo indicou também que os russos e brasileiros foram os que mais deixaram de viajar devido, principalmente, ao lento crescimento económico em ambos os países e à desvalorização das suas moedas em relação ao euro e ao dólar.
representaram maiores proporções, com 52%, do que os hotéis (48%). Por província, Luanda ficou com 53%, Benguela 15% e Huíla 6%. Ainda em 2014, o sector hoteleiro em Angola dispunha de um total de 30 mil camas nos hotéis e meios complementares de alojamento em todo o país, representando um acréscimo de 7% comparativamente ao ano de 2013. O sector do turismo registou uma receita de 156 mil milhões de kwanzas em 2014, correspondendo a um acréscimo de 37 mil milhões de kwanzas comparativamente a 2013. Por tipo de unidade, os restaurantes e similares contribuíram com 37,6%, seguidos pelos meios complementares de alojamento com 21,7%. Por sua vez, os hotéis e as agências de viagens e turismo
contribuíram com 20,4% e 20,3%, respectivamente. Se compararmos o desempenho do sector no biénio 2013-2014 ao dos anos 2011-2012, as receitas do turismo no período mais recente atingiram a cifra de 275 mil milhões de kwanzas, o que representou um aumento de 130 milhões em relação ao biénio anterior. OCUPAÇÕES EM BAIXA Em 2014, as unidades hoteleiras e meios complementares de alojamento do país registaram um decréscimo de 1% na ocupação, o equivalente a menos 11 mil ocupantes comparativamente a 2013. O número de dormidas associadas às deslocações de turistas atingiu a cifra de 3,5 milhões, correspondente a um decréscimo na ordem dos 10%, ou seja,
menos 348 mil em comparação com o ano 2013. A taxa média de ocupação de quartos em todos os hotéis e meios complementares de alojamento situou-se em 85,8%, ao passo que, em termos de camas, a média foi de 78,7%. Outro dado que se salienta no documento tem a ver com a permanência dos hóspedes nas unidades hoteleiras e meios complementares de alojamento, que se situou em três noites, em média. Os angolanos destacaram-se com 2,5 noites, enquanto os estrangeiros não residentes representaram uma média de 3,4 noites. UMA FONTE DE EMPREGO O sector do turismo, a par do da agricultura e indústria, tem uma forte capacidade de geração de empregos, directos e indirectos, o que impacta positivamente na qualidade de vida da população. Até 2014, o turismo em Angola empregava 202 766 pessoas, porém, estima-se que este número não tenha crescido muito, em função do abrandamento da economia. No entanto, em comparação com 2013, constatou-se um crescimento de 16,9%, ou seja, mais 29 288 postos de trabalho criados. Destaque-se que esta cifra registada em 2014 ultrapassou a meta projectada no Plano Nacional de Desenvolvimento para o sector nesse período, o que se deveu ao forte crescimento do segmento de restauração. Repartido por tipo de unidades, em 2014, os restaurantes e similares foram o segmento que mais postos de trabalho gerou, atingindo 48,6% do total, seguidos pelo segmento hotéis e meios complementares de alojamento com 22,8% e 21,0%, respectivamente. As despesas com salários suportadas pelo sector privado atingiram um total de 38 mil milhões de kwanzas, o que representou um acréscimo de 13 mil milhões de kwanzas em comparação com as contas de 2013. Luanda representou 72,7% dos empregos do sector e seguiram-se-lhe as províncias de Benguela e Huíla, com 7,5% e 5,0%, respectivamente. No que diz respeito às características sócio-demográficas, esclarece o documento, os homens ocuparam 53,1% dos postos de trabalho, contra os 46,9% ocupados por mulheres. &
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TURISMO
PÓLOS TURÍSTICOS EM “BANHO-MARIA” Texto: Quingila Hebo Fotografia: Arquivo
O Plano Director do Turismo de Angola 2011-2020 reconhece que o sector apresenta um défice de oferta a vários níveis, mas dispõe de um conjunto de recursos e de um contexto favorável para o seu desenvolvimento. Para que tal seja possível, no âmbito do Plano Director, o Ministério da Hotelaria e Turismo propôs ao titular do poder Executivo a criação de pólos turísticos para funcionarem como âncoras, integrando uma variedade de ofertas de equipamentos e serviços para tornarem Angola num destino de diversão e animação em África, alavancando o seu património cultural, natural e desportivo. Mas já lá vão quatros anos e não se vê praticamente nada sobre a implementação dos pólos de desenvolvimento turístico. Os pólos de desenvolvimento turístico de Okavango, Calandula, Cabo Ledo e Futungo de Belas começaram a ser arquitectados em 2011 e a meta era, até 2013, começarem a gerar os primeiros frutos para, em 2015, arrancar-se com a segunda fase, que seria a atracção e diversificação de investimentos no sector e a promoção ao nível interno, cujo pano de fundo, numa primeira fase, era incentivar o turismo doméstico e regional. Segundo o que está traçado no Plano Director do Turismo, de 2015 a 2020, a aposta do órgão que tutela o sector seria dar também os primeiros passos para começar a competir ao nível global, atraindo os turistas ao nosso país, mas, pelo andar da navegação, Angola está a incontáveis milhas de atingir as metas traçadas com a criação dos pólos. É que a desenvoltura dos
pólos turísticos caminha a passos de caracol, o que obrigou o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, a exonerar, logo no segundo ano, em 2013, os primeiros directores dos pólos de Cabo Ledo e de Okavango, por estes não terem cumprido com os compromissos assumidos até àquela data. CONFLITO DE TERRAS IMPEDE AVANÇO A execução das infra-estruturas para sustentar o Pólo de Desenvolvimento de Cabo Ledo, no município da Kissama, província de Luanda, vai custar ao Estado mais de três mil milhões kwanzas, que até agora só está no recenseamento da população a ser reassentada, um processo minado pela resistência da população que habita a zona demarcada para pertencer ao pólo. Para mais dados sobre como anda o desenvolvimento do pólo de Cabo Ledo, visitámos
a antiga sede do Gabinete de Gestão do mesmo, situado no 3º andar do edifício Cunene, no Belas Business Park, mas fomos informados de que já não funciona ali, está em parte incerta. Os contactos que foram disponibilizados à imprensa na altura do lançamento do mesmo estão permanentemente desligados. Contudo, o projecto teve início, efectivamente, em Janeiro de 2012. Segundo as informações avançadas na altura do lançamento, o Pólo de Cabo Ledo será implementado em duas fases, cujo fim da primeira está previsto para 2017 e a segunda para 2020. Com o montante de três mil milhões de kwanzas, o objectivo é torná-lo num destino especial que reúna condições para ser classificado como área de interesse para o turismo. Conta com uma orla costeira de aproximadamente 1 650
metros quadrados e ocupa um espaço de 3 900 hectares, correspondendo a uma área de, aproximadamente, 25 quilómetros. É intenção do Gabinete de Gestão do Pólo de Desenvolvimento de Cabo Ledo criar um projecto turístico de excelência, com habitações de alto e médio padrão, hotéis, parque aquático, resorts e restaurantes. Cabo Ledo reveste-se também de grande importância pelo facto de diversas espécies de tartarugas desovarem na sua costa, daí a preocupação dos responsáveis do pólo em criarem condições para a protecção desta espécie marinha. Cabo Ledo apresenta ainda, em cada época do ano, duas das maiores ondas do mundo para surf. PÓLO DO FUTUNGO A PORTAS-FECHADAS O Pólo de Desenvolvimento
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O Pólo de Cabo Ledo abrange a zona da Muxima
Turístico do Futungo de Belas é o único, entre os quatro, que não está sobre a alçada do Ministério da Hotelaria e Turismo. A E&M sabe, no entanto, que o seu director é Rodrigo de Sousa Alves Santos. Tentámos localizar o escritório do pólo, mas também sem êxito. Entretanto, uma fonte avança que o Pólo do Futungo de Belas está a ser todo arquitectado ao nível da Casa Civil da Presidência da República. A primeira fase do projecto de requalificação do perímetro desanexado do Futungo de Belas está orçamentada em 150 milhões de dólares, financiados pelo Commercial Bank of China. O montante destina-se à reparação e construção de infra-estruturas completas, como água potável, energia eléctrica, estradas e rede de esgotos,
algo que já é visível no espaço delineado e vedado. Com 5 370 000 metros quadrados, o perímetro desanexado de Belas foi objecto de um plano urbano com uma duração estimada de 10 anos de desenvolvimento. Espera-se que o projecto estabeleça um novo padrão para a cidade de Luanda e para o país, redefinindo e reordenando o uso residencial e turístico, propondo a construção de infra-estruturas, loteamento de residenciais, de comércio e serviços, equipamentos de lazer e de apoio ao turismo. NÃO AVANÇOU DEVIDO ÀS MINAS A Unidade Especial da Brigada de Desminagem da Casa de Segurança do Presidente da República avançou recentemente que deixou
livres de minas cerca de dois milhões de metros quadrados no Pólo Turístico de Kalandula. Iniciado em Fevereiro de 2013, o trabalho na área da pousada, e Fevereiro de 2014, no miradouro, permitiu certificar 674 580 metros quadrados, estando ainda por certificar 1 028 300, noticiou a “Voz da América”. A área total da pousada é de 20 milhões de metros quadrados. Já a superfície total do Miradouro compreende 18 982 720 metros quadrados. Entretanto, numa entrevista concedida à E&M em 2013, pela directora do Pólo Turístico de Kalandula, Kátia Lopes, avançou na altura que, por cima do Plano Director Nacional, estavam a trabalhar no Plano Director do Turismo do Pólo de Kalandula. Salientou também
que a reserva de Kalandula irá potencializar um conjunto de acções na região e definir os eixos estratégicos no curto, médio e longo prazo, visando o desenvolvimento de infra-estruturas turísticas dentro da área delineada. O Plano Director do Turismo do Pólo de Kalandula resumia-se à criação, ao reforço e à qualificação de infra-estruturas básicas, reabilitação e requalificação urbana dos principais núcleos urbanos, qualificação e protecção dos recursos naturais, qualificação e protecção do património cultural, organização e promoção da oferta turística, segmentação do produto turístico, monitorização dos fluxos turísticos, desenvolvimento e estímulo da economia.
HÁ UMA ENERGIA POR TRÁS DO QUE NOS FAZ TRANSFORMAR O MUNDO.
www.sonangol.co.ao
Sabemos que não existe energia mais forte do que a de um povo. É por isso que acreditamos num país cada vez mais forte e desenvolvido, onde todos são chamados a fazer a diferença. Há uma energia por trás do que nos faz transformar o mundo. Essa energia chama-se Sonangol.
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Quedas de Kalandula
Vista aéria da zona transfonteriça do Okavango-Zambeze
Entretanto, além da desminagem, tudo indica que nada avançou desde aquela data. Para mais informações sobre o desenvolvimento do Pólo Turístico de Kalandula tentámos a mesma via para voltar a ter uma entrevista com a directora Kátia Lopes, mas, tanto os
contactos do gabinete que dirige, como os contactos pessoais, encontravam-se desligados até ao fecho desta edição. OKAVANGO AVANÇA PRESSIONADO O Pólo de Desenvolvimento Turístico da Bacia do
Okavango, na província do Kuando Kubango, é o maior de Angola, ocupando uma área total de 11 972 hectares. Foi arquitectado no âmbito do projecto transfronteiriço de conservação da Bacia do Okavango-Zambeze, contempla edifícios administrativos,
lodges, restaurantes e outros equipamentos para o fomento da hotelaria e do turismo na região. Considerado um dos maiores e mais ambiciosos planos turísticos em todo o mundo, Okavango/ Zambeze abrange cinco países. Tem uma dimensão de 278 mil quilómetros quadrados, dos quais 87 mil pertencem a Angola. Os restantes 98 mil quilómetros quadrados pertencem ao Zimbabwe, Botswana e à Namíbia, com a menor parcela do projecto. Talvez por esse motivo, o Pólo Turístico do Okavango, depois do Pólo do Futungo de Belas, é o que está mais avançado no que toca à criação de infra-estruturas, pressionado pelos avanços registados nos outros países membros. Segundo o “Portal de Angola”, o empresário português José Récio está a construir, a 13 quilómetros de Menongue, no alto de uma colina de quartzo, um resort de quatro mil hectares com opções de safari e produção de gado selvagem. José Récio, um nome bem conhecido na arena empresarial angolana, pela sua intervenção no projecto de reestruturação da Marginal de Luanda, é o homem escolhido pelo Executivo para dirigir o processo de concepção do Pólo Turístico de Okavango do lado angolano. O empresário pensa actuar numa área com mais de 300 mil hectares, onde deverá explorar serviços como safaris, canoagem ao longo dos rios e passeios de balão voador. Em entrevista ao canal português de televisão RTP, José Récio revelou a construção, em Dirico, de um hotel de seis estrelas, além dos projectos em carteira, que incluem os gunlodges, o turismo cinegético e o de caça. &
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TURISMO
SUPRESSÃO DE VISTOS NA ORDEM DO DIA Edjaíl dos Santos
Além de ser considerado caro, Angola é ainda um país difícil para os turistas estrangeiros visitarem. Com o crescimento económico, a procura pelo território nacional aumentou, mas continua a não haver facilidade para se conseguir visto de entrada, causando muitos problemas a quem precisa de passar a fronteira, seja por questões de trabalho ou de lazer. Quase todas as nacionalidades precisam de vistos ordinários para entrar em Angola, excepto a Namíbia. Numa visita recente ao território nacional, delegações presidenciais de Moçambique e da África do Sul manifestaram vontade em liberalizar a entrada de pessoas entre os seus Estados e o nosso país, mas ainda se desconhece a posição de Angola. Moçambique e África do Sul poderão assinar, nos próximos tempos, acordos de supressão de vistos ordinários com Angola, estando apenas a decisão dependente do Governo angolano. Caso esta seja positiva, os dois países juntar-se-ão à Namíbia, que, desde 2007, tem um convénio firmado com Angola nesse âmbito, que tem facilitado a circulação dos cidadãos de ambos os países em negócio ou turismo. Recentemente de visita a Angola, o chefe da diplomacia de Moçambique, Oldemiro Baloi, classificou de imprescindível a conclusão do acordo em negociação com Angola para suprimir os vistos ordinários, de forma a fomentar o desenvolvimento económico dos dois países. “Para dinamizar as relações económicas e empresariais, é imprescindível que os nossos países embarquem na facilitação da circulação de pessoas e bens”, defendeu o ministro
RELATIVAMENTE AOS ACORDOS DE VISTOS PARA PASSAPORTES DIPLOMÁTICOS, NUMA ENTREVISTA AO PORTAL DE NOTÍCIAS "DEUTSCHE WELLE", O PROFESSOR UNIVERSITÁRIO NELSON PESTANA AFIRMA QUE EXISTEM ACORDOS ESTABELECIDOS ENTRE AS AUTORIDADES ANGOLANAS QUE “SÓ BENEFICIAM MEIA DÚZIA DE PESSOAS”, OU SEJA, UMA CAMADA MUITO REDUZIDA DE ANGOLANOS, EXEMPLIFICANDO O CASO DO PROTOCOLO ASSINADO COM A SUÍÇA, EM 2013, UM PAÍS QUE NÃO É UM DESTINO PREFERENCIAL DOS ANGOLANOS.
dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, Oldemiro Baloi, que falava, em Luanda, à margem da IX Comissão Mista de Cooperação Bilateral Angola-Moçambique. Os “irmãos do Índico” apresentam-se na quarta posição entre os povos que mais viajam para Angola, com 8 041 chegadas em 2014, depois de Portugal (77 946), Brasil (45 021) e África do Sul (26 060). Já as autoridades sul-africanas garantem ter tudo pronto para assinar o acordo de isenção de vistos em passaportes ordinários, esperando apenas pela “luz verde” da parte angolana, como faz saber o encarregado de negócios da Embaixada sul-africana na República de Angola, Lucas Mukuena. Em relação à Namíbia, este é um país muito agradável para os turistas que gostem do contacto com a natureza. É limpo, bem organizado e seguro para os turistas, e a supressão de vistos tem sido mais vantajosa para os 426 mil
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angolanos que viajam para esse país vizinho para cuidados médicos, estudar e fazer turismo, tornando-se líder do “top 10” dos países visitados por angolanos. Já no sentido inverso, apenas 6 177 namibianos vieram a Angola em 2014, mas ainda assim ocupam o quinto lugar das visitas a Angola. No entanto, países como o Botswana, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e a Tunísia incluíram Angola nas suas listas de Estados que beneficiam de isenção de vistos nos passaportes ordinários, de serviço e diplomáticos. Com esta medida unilateral, estes países permitem que todos os cidadãos angolanos que apresentem um passaporte nacional válido para efeitos migratórios junto das autoridades fronteiriças não tenham qualquer impedimento de entrar e circular no seu território.
Ainda sobre os obstáculos com os vistos, a E&M soube, de uma fonte do Serviço de Migração e Estrangeiros, que várias embaixadas angolanas no estrageiro passaram “dificuldades de ordem técnica” no início de Dezembro que impossibilitaram a concessão de vistos para o nosso país. As reclamações chegaram principalmente das embaixadas de Angola na China, em Portugal e na África do Sul. Relativamente aos acordos de vistos para passaportes diplomáticos, numa entrevista ao portal de notícias “Deutsche Welle”, o professor universitário Nelson Pestana afirma que existem acordos estabelecidos entre as autoridades angolanas que “só beneficiam meia dúzia de pessoas”, ou seja, uma camada muito reduzida de angolanos, exemplificando o caso do
protocolo assinado com a Suíça, em 2013, um país que não é um destino preferencial dos angolanos. Porém, Nelson Pestana considera que é positivo que “Angola se abra ao mundo” e que estabeleça acordos recíprocos de eliminação de barreiras alfandegárias e de imigração. Entretanto, a mesma fonte afirma que, neste caso, os critérios de prioridade “não são os melhores”, fazendo um paralelo com os acordos assinados para a supressão de vistos diplomáticos e de serviços com países europeus como a Suíça e outros. “Nós temos um fluxo de pessoas muito maior com países africanos circunvizinhos, próximos, ou mesmo outros países, como Portugal, na Europa, e não há vontade do Governo no sentido da assinatura desses acordos”, critica Nelson Pestana. &
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A Ilha do Mussulo é uma das principais atracções turísticas de Luanda
TURISMO
OS ENCANTOS E RECANTOS DE ANGOLA Texto: António Piçarra Fotografia: Arquivo
Apesar das dificuldades estruturais que ainda persistem, o itinerário turístico angolano tem vindo a ganhar novos contornos com a oferta de mais opções de lazer e de descobertas para os turistas. Nesta edição dedicada ao turismo, a Economia & Mercado sugere-lhe, num pequeno roteiro, os lugares e paisagens indispensáveis que deve visitar, ou revisitar, numa combinação que contempla a interacção com a natureza de Angola e a cultura do seu povo.
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A começar o ano, e com vontade de novas descobertas, os turistas, nacionais ou estrangeiros, podem aproveitar as festividades da cidade de Luanda, cujo aniversário se assinala a 25 de Janeiro e contará com a presença de vários convidados dos países de língua portuguesa. A ocasião servirá certamente para os convidados e turistas darem um salto à Ilha do Mussulo e à Ilha de Luanda e desfrutarem das suas apetecíveis praias banhadas de sol, com a possibilidade de alugar embarcações que permitem fazer desportos náuticos, pesca à linha ou de corrico e outros divertimentos. Luanda oferece também vários museus (História Natural, Antropologia e Escravatura), assim como um vasto património histórico, sendo os de maior visibilidade a Fortaleza de S. Miguel (século XVI), o Palácio Dª Ana Joaquina (século XVI) e o Palácio de Ferro (século XVII), projectado por Gustave Eiffel, que também desenhou a Torre Eiffel. O património religioso é representado pela Igreja da Nazaré, Igreja dos Remédios, Igreja do Carmo, todas datadas do século XVII. Porém, o monumento mais recente e de maior grandeza em Luanda é o Mausoléu, dedicado ao primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto.
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A FESTA DE CARNAVAL Em Fevereiro, o Carnaval enriquece o mapa turístico angolano em três dias de festa de rua e em salões de farra, tanto em Luanda como no resto do país. As câmaras fotográficas e de filmar concentram-se no desfilar dos grupos carnavalescos e nos foliões que dançam e pulam ao som dos instrumentos musicais. A ocasião pode também ser pretexto para uma visita ao renomado Carnaval do Lobito, na província de Benguela. A capital é Benguela, Cidade das Acácias Rubras, em alusão ao toque de beleza que lhe dá esta árvore plantada pelas ruas. Ambas as cidades têm praias lindíssimas: Benguela envaidece-se com a Praia Morena, Lobito enaltece-se com as praias da sua extensa Restinga. Outras praias de referência são a Baía Azul, Caota e Caotinha, num clima que, normalmente, ultrapassa os 30 graus centígrados. O Lobito orgulha-se também da sua baía, que alberga o importante porto comercial – ponto de partida do gigante Caminho-de-Ferro de Benguela. Em termos de património, a província tem vários monumentos nacionais, museus de arqueologia e etnografia, igrejas seculares, reservas animais e florestais.
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A capital da Huíla é Lubango, também conhecida como Cidade do Cristo-Rei, em alusão à estátua bem no alto da serra da Chela, com um privilegiado miradouro. Lubango tem também ao dispor o Museu Regional da Huíla, de 1957, com centenas de peças etnográficas representando os povos da Huíla, Namibe, Cunene e Kuando Kubango. A cerca de 1 800 metros acima do nível do mar, no centro-sul do país, a província beneficia de um clima temperado e oferece locais galácticos, como a Fenda da Tundavala e a Serra da Leba, com a sua estrada em descida elegante, que serpenteia em direcção ao Namibe. UM LAGO, UM OÁSIS! Também no litoral, mas ainda mais a sul, o Namibe é a bela província entre o mar e o deserto. Das suas areias brota a Welwistchia Mirabilis, planta única no mundo. Passeios pelo deserto do Namibe são capazes de causar enormes emoções, como o cruzar com comunidades bosquímanas ou mucubais, que mantêm a cultura secular da região. Entretanto, pelo meio das areias do deserto (de 310 mil quilómetros quadrados) surge um oásis – um lago por entre formações rochosas em arco, nenúfares na água, palmeiras ao redor, plantas diversas, flamingos, pássaros esvoaçando de um lado para o outro. Mas esta província tem outras atracções, como as pinturas rupestres de Tchitundo-Hulo, o Parque Nacional do Iona (com as suas grutas e cavernas), a Reserva Especial do Namibe, as Furnas do Kapangumbe, as Fortalezas de S. Fernando e do Capagombe e as gravuras de Tehipopilo-Caraculo.
MULHER MUMUÍLA Na província da Huíla, as mulheres mumuílas (ou mwilas) são o retrato mais visível da preservação dos valores do grupo etno-linguístico Nyaneka-Nkhumbi – o tronco nu adornado de coloridas missangas por entre longas tranças típicas. Fazem parte da etnia de pastores que agradece a dádiva do gado bovino, realizando anualmente a cerimónia do Boi Sagrado.
PULSAR DO CORAÇÃO O Bié configura o formato de um coração, batendo bem forte no centro de Angola. De clima ameno, as maiores referências turísticas sustentam-se nas deslumbrantes dádivas naturais – rios, lagos, lagoas, cascatas, fauna e flora (a Reserva Florestal de Umpulo é o maior exemplo). Existem também diversos monumentos históricos, como são os casos do Forte de Silva Porto, o Forte de Munhango, a antiga cadeia da Colónia Penal de Kapolo (acolhia reclusos das outras ex-colónias portuguesas) e a Gruta Paleolítica. DESPORTOS DE AVENTURA O centro-sul do país acolhe também a província do Huambo, com temperaturas médias de 20 graus centígrados e constantes precipitações. O Morro do Moco configura o ponto mais alto da província e do país. Com os seus 2 620 metros, é considerado “um desafio aos praticantes de rappel e alpinismo”. De facto, é uma província que pode tirar partido dos seus rios e elevações para os desportos de aventura. A albufeira do rio Kuando tem uma praia em pleno planalto, proporcionada pela Barragem do Ngove, com boas condições para a natação, navegação e pesca desportiva. A Reserva Florestal do Kavongue, de 39 quilómetros, tem uma exuberante floresta. A capital é bafejada com uma estufa, parques infantis, jardins, campos floridos e o perfume de dálias no ar. KALANDULA E O IMPONENTE MAIOMBE A província nortenha de Cabinda acolhe a Reserva Florestal do Maiombe, ou apenas Floresta do Maiombe (de 290 mil hectares), densa e cerrada vegetação, árvores de cerca de 50 metros de altura e madeiras valiosíssimas como pau-preto, ébano e sândalo africano – habitat de gorilas, chimpanzés, elefantes, papagaios e uma infinidade de pássaros. Pelo país abundam idênticas áreas de protecção florestal e animal, como é o caso do Parque Nacional da Cangandala, província de Malange, que protege a Palanca Negra Gigante, símbolo nacional de Angola. Malange dispõe ainda da Reserva Integral do Luando e das Pedras Negras de Pungo Andongo, local histórico e de rara beleza natural, com várias espécies vegetais e animais. Como se não bastasse, Malange também ostenta a Barragem de Capanda, entre as maiores hidroeléctricas do país, e as Quedas de Kalandula, onde está
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projectada a construção de um dos pólos turísticos do país. Onde também existem várias espécies vegetais e animais é na Reserva Natural de Mupa, na província do Cunene, sendo aqui a atracção a Palanca Vermelha. No Moxico não faltam espécies animais e vegetais no Parque Nacional da Cameia. ACENDA UMA VELA NA MUXIMA Uma peregrinação anual ao Santuário da Nossa Senhora da Muxima, na província do Bengo, vizinha de Luanda, é tradição secular em Setembro, a propósito da festa dedicada a esta santa. É também um importante destino turístico, tanto pela cerimónia religiosa como pela igreja, do século XVII, classificada como Monumento Nacional, que recebe anualmente milhares de peregrinos que lá vão depositar uma vela acesa. A Fortaleza da Muxima é outra referência, assim como o Parque Nacional da Kissama (um dos maiores de África). O Kwanza Norte abriga a Barragem de Cambambe no curso do Rio Kwanza, o mais extenso de Angola – um percurso de cerca de mil quilómetros. Esta província tem um grande potencial turístico por explorar, assim como a vizinha Kwanza Sul, onde se destacam as Cachoeiras do Binga, no rio Keve, e as águas termais e medicinais da Tokota.
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Na Lunda Norte, berço da cultura Lunda-Tshokwé, situa-se o Museu Etnográfico do Dundo, com cerca de 10 mil peças retratando o antigo Reino da Lunda, cuja grande atracção é a célebre máscara Mwana Pwo (Jovem Mulher), mas também máscaras de dança Mukixi, instrumentos musicais tradicionais e estatuetas. Por seu lado, o antigo Reino do Congo está retratado na cidade do Uíge, no Museu Etnográfico do Congo, com acervo daquele antigo reino, que tinha como capital a cidade de Mbanza Congo, actual sede da província angolana do Zaire, onde ainda existem ruínas do velho Reino do Congo. &
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ENTREVISTA
COM CARLOS CUNHA, EMPRESÁRIO
“OS VISTOS DEVIAM SER ADQUIRIDOS COM A MESMA FACILIDADE COM QUE SE COMPRAM CHOCOLATES” Texto: Sebastião Vemba Fotografia: Afonso Francisco
A dinamização do turismo em Angola depende do desenvolvimento, numa primeira fase, de vários outros sectores que lhe são transversais, em particular o das infra-estruturas de circulação e alojamento, mas a dificuldade de adquisição de vistos para turistas ainda é, de acordo com o empresário Carlos Cunha, um dos principais condicionalismos. Para o antigo consultor do ministro da Hotelaria e Turismo, “não faz nenhum sentido Angola não ter os vistos de turismo liberalizados”. Entretanto, Carlos Cunha, que critica a baixa oferta hoteleira no país, considera que nem tudo é mau e prevê-se que ocorra algum ajustamento dos preços, que ainda são altos, com a entrada de mais de 250 novas unidades hoteleiras que estão a ser construídas pelo Grupo AAA. Economia & Mercado (E&M) - Qual é a avaliação que faz do sector do turismo em Angola, considerando que os negócios ainda são a principal razão de entrada de turistas no país? Carlos Cunha (CC) - O turismo é uma actividade multidisciplinar que, para sobreviver, depende muito de outros sectores que lhe são transversais. Entretanto, existem outros factores dinamizadores do turismo, nomeadamente, a oferta turística, que é basicamente determinada pela hotelaria. Aqui, o primeiro problema é que temos uma escassa oferta turística. Angola tem cerca de 40 mil camas, mas Moçambique, por exemplo, tem 170 mil camas, o que quer dizer que a nossa oferta turística representa pouco mais de um quarto da oferta turística moçambicana, um país sem petróleo e que só agora está a explorar outros recursos naturais. Isto dá-nos uma ideia clara da nossa pequenez turística. Sendo assim, para potenciarmos o turismo, primeiro temos que diversificar a nossa oferta e aumentar a capacidade de alojamento. E&M - Os preços altos que o mercado regista resultam desta baixa oferta? CC - Lógico. O turismo é um produto e, como tal, se temos pouca oferta e muita procura, obviamente que os bens aumentam. Mas nem tudo é mau e esta
realidade poderá ser alterada nos próximos anos. O Grupo AAA está a construir no país 61 hotéis de 60 quartos cada, e 20 hotéis de 200 quartos cada. Actualmente, a relação oferta/procura está muito desequilibrada, mas existem outros handicaps que acabam por bloquear o surgimento de mais oferta, nomeadamente, a falta de abertura para os investimentos. Por outro lado, a procura tem outros constrangimentos, nomeadamente, a dificuldade de os turistas conseguirem vistos, porque este ainda é um processo moroso, complicado e burocratizado. Nenhum turista, para conhecer outro país, quer depender de uma carta de chamada. Moral da história: a saída que nos resta é o turismo de negócio. E&M - E com o actual ambiente económico do país, até que ponto esse turismo foi e poderá ser afectado? CC - Está a ser muito afectado, mas é normal que isto aconteça. O que temos hoje em Angola é basicamente o turismo de negócio, o familiar – que é feito por familiares de estrangeiros que trabalham em Angola, daí que há quem o chame também de “turismo da saudade” –, e depois surge algum turismo de aventura, mas que ainda é insignificante. O turismo é uma indústria de proximidade. Quem
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A FORMAÇÃO DE UM HOTELEIRO DEVE SER IGUAL À DE UM PRÍNCIPE. ALIÁS, EM HOTELARIA, CADA PRODUTO CONSTITUI UM MATERIAL DIDÁCTICO ESPECÍFICO.
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visita Portugal em maior quantidade são os espanhóis, e o contrário também acontece, sendo que a proximidade pode ser geográfica, cultural ou histórica. RESOLVER O PROBLEMA DA FALTA DE ESTRADAS E&M - Como é que problemas como a ausência de infra-estruturas podem ser resolvidos com um Orçamento Geral do Estado que corta as verbas do turismo em cerca de 50%? CC - Depende da maneira como se encarar o desenvolvimento. O problema das vias de comunicação em Angola já devia estar resolvido. Nós podemos superar este problema, mas temos que despir a camisola estrutural e administrativa e pensar de maneira diferente. Sinto que o meio rural é um dos sectores que mais cresce em Angola, mas o grande constrangimento tem a ver com a ausência de estradas… E&M - Ainda com base na questão anterior, qual é a avaliação que faz sobre a formação dos quadros do sector? CC - Este é um tema apaixonante para mim, porque fui o único director da Escola de Formação Profissional de Turismo, onde fiquei dois anos, nomeadamente, de 1979 a 1981. Durante o meu mandato, houve um grande acordo entre Angola e Portugal, que trouxe ao nosso país vários profissionais para abrirmos escolas de hotelaria, mas, desde que me ausentei, por razões académicas, este projecto morreu. No entanto, ainda formámos 1 200 angolanos dentro e fora de Angola na área do turismo e da hotelaria. Mas, respondendo à sua questão, penso que o problema actual reside em
formar quadros que são seleccionados com base em critérios duvidosos. Em todo o mundo, trabalham em hotelaria jovens que estão a terminar o ensino médio ou estão a meio do curso. Infelizmente, em Angola, a grande maioria dos trabalhadores do sector da hotelaria e restauração é de origem camponesa e filhos de operários, ou pessoas que vêm de camadas sociais muito humildes. Isso parece ser um problema simples, ou algum tipo de descriminação, mas não é disso que se trata, pois é uma questão de importância fundamental e estrutural. Trata-se de um choque social que não é superado facilmente com a oferta de formação disponível no país. A formação de um hoteleiro deve ser igual à de um príncipe. Aliás, em hotelaria, cada produto constitui um material didáctico específico. Logo, a formação deve ser feita a médio ou longo prazo, com uma duração de pelo menos dois anos, para que se consiga formar as pessoas com qualidade, sendo que devia haver algum tipo de subvenção do Estado. Não podem ir trabalhar para o turismo e hotelaria os frustrados da classe média, que depois acabam por não ser os melhores. NEGÓCIO RENTÁVEL, MAS SAZONAL E&M - Quais são as principais potencialidades e insuficiências do mercado do turismo em Angola? CC - Penso que o turismo está a ser bem potenciado e tem tido bons resultados financeiros, sendo que, a par do comércio, é um dos sectores da economia que mais cresce no país. Isso é sinal de que se trata de um negócio altamente rentável. Até antes de 2002, o país tinha cerca de 80 hotéis, mas hoje tem o dobro e a previsão é que este número seja triplicado no curto prazo. Por outro lado, o turismo é dos poucos sectores em Angola que tem um plano director e existem várias iniciativas internas, de instituições privadas, que apostam na promoção de actividades turísticas. E&M - No âmbito do Plano Director do Turismo está prevista a construção dos pólos turísticos, cujos projectos já estão aprovados desde 2011, mas com poucas acções concretas realizadas até hoje, de acordo com a informação disponível. CC - Os pólos estão criados e os devidos corpos gerentes nomeados, mas o seu desenvolvimento depende de toda a conjuntura económica e financeira actual. O país não está famoso em termos de investimentos. Por outro lado, a construção dos pólos exige um elevado investimento em infra-estruturas que pode não ser prioritário nesta altura. E&M - Quanto ao Projecto Okavango-Zambeze, fala-se numa certa dependência das acções angolanas para que o mesmo avance.
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CC - O Projecto Okavango Zambeze é diferente. Trata-se de uma zona transfronteiriça, que envolve cinco países, e visa essencialmente a preservação dos elefantes. Sendo assim, o orçamento é internacional e existem questões fronteiriças e legais a serem resolvidas sobre as quais não me posso pronunciar porque já estou afastado destas lides há algum tempo. “A MONTANHA PARIU UM RATO” E&M - A ideia com que ficámos é que o mercado registou baixos índices de ocupação dos quartos, nomeadamente, numa altura pós Campeonato Africano das Nações (CAN), em 2010, por exemplo. O problema foi ultrapassado? CC - Na altura do CAN2010 eu era assessor do ministro da Hotelaria e Turismo e tinha um papel quase directo nesse processo. Entretanto, antes do campeonato, Angola tinha disponíveis 96 hotéis, que passaram para 126, o que quer dizer que o CAN provou um aumento de 30 hotéis, mas foram investimentos privados. É certo que, com base nas expectativas que tínhamos dos benefícios que o campeonato traria para o sector, a montanha pariu um rato, porque o país não recebeu turistas além das equipas de futebol. Entretanto, é necessário dizer que este desajustamento entre a oferta e a procura não ocorreu em todo o país, talvez só em Benguela e na Huíla, mas logo a seguir o mercado regulou-se. Neste momento, não disponho de dados muito aferidos, mas acredito que a oferta e a procura estão equilibradas. Acresça-se que o turismo é uma indústria sazonal. Sendo assim, em Angola, onde há mais turismo de negócio, normalmente o período que vai de Outubro a Março é o de maior pressão, porque está a ser aprovado o Orçamento Geral do Estado, novos negócios são criados e, portanto, é nessa altura que se regista uma maior ocupação, mas logo a seguir arrefece um pouco. Isso acontece em todo o mundo, dependendo dos períodos e das principais razões de viagens. E&M - O que deve acontecer de relevante em 2016 em termos de políticas de incentivo ao empresariado nacional no sector do turismo? CC - A primeira medida para potenciar a actividade turística em Angola devia ser a liberalização dos vistos. Não faz nenhum sentido Angola não ter os vistos de turismo liberalizados. Também acredito que a abertura do novo aeroporto e a entrada desta grande cadeia hoteleira do Grupo AAA vão ajudar a potenciar, de forma rápida, o desenvolvimento turístico de Angola. Posso estar enganado, mas o que tenho percepcionado é que as dificuldades agigantam-se em vez de se aligeirarem no que diz respeito à aquisição de vistos, quando eles deviam
ser adquiridos com a mesma facilidade com que se compram chocolates. E&M - Qual é o horizonte que desenha para o sector nos próximos cinco anos? CC - Segundo o último relatório do Banco Mundial, precisamos de um universo de cinco anos para estabilizarmos a economia do país. Isso quer dizer que a estabilidade será atingida por volta de 2020. Até lá, temos que ganhar outras defesas, fazer turismo rural e de aventura. Eu próprio hoje dedico mais tempo à agropecuária do que à imobiliária. Em 2015 não investi em imobiliário e não o voltarei a fazer até 2020. &
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LUNDA SUL
ALÉM DO DIAMANTE Texto: Pedro Correia Fotografia: Arquivo
Agricultura, pecuária, pesca e piscicultura, exploração e processamento de madeira são algumas das novas apostas para a diversificação da economia na Lunda Sul. Nos últimos meses, a execução de uma linha de financiamento do Banco de Desenvolvimento de Angola permitiu dar corpo a vários projectos apresentados por 35 produtores que investem na produção em grande escala de frutas e cereais, assim como de raízes e tubérculos. Também no sector pecuário, 27 associações pretendem garantir maior oferta ao consumidor local, com a execução de um programa de introdução de mais 750 cabeças de gado bovino (500) e caprino (250).
No que respeita à pesca artesanal, os incentivos estatais têm sido canalizados para as 67 associações registadas, através do Programa de Fomento que facilita a aquisição de pequenas embarcações e de material de pesca. A iniciativa permitiu a captura de cerca de duas toneladas de peixe entre Agosto e Setembro de 2015. Em actividade na província da Lunda Sul, estão também 15 piscicultores que operam 310 tanques. Os números mais recentes divulgados, em Outubro, pela Direcção Provincial de Agricultura e Pescas, apontam para uma produção de 1 800 quilos nos tanques do projecto de piscicultura das comunas de Mona Quimbundo e Muriege entre os meses de Agosto e Setembro de 2015. A extracção de diamantes,
EM ACTIVIDADE NA PROVÍNCIA DA LUNDA SUL, ESTÃO TAMBÉM 15 PISCICULTORES QUE OPERAM
310 TANQUES.
OS NÚMEROS MAIS RECENTES DIVULGADOS, EM OUTUBRO, PELA DIRECÇÃO PROVINCIAL DE AGRICULTURA E PESCAS, APONTAM PARA UMA PRODUÇÃO DE 1 800 QUILOS NOS TANQUES DO PROJECTO DE PISCICULTURA DAS COMUNAS DE MONA QUIMBUNDO E MURIEGE, ENTRE OS MESES DE AGOSTO E SETEMBRO DE 2015.
que continua a ser a mais importante actividade económica da província, mantém-se estável com a mina de Catoca a produzir, em média, seis milhões de quilates por ano, o que representa cerca de 75% da produção total de diamantes em Angola. Outros projectos estão em curso, nomeadamente, um da diamantífera russa Alrosa com um investimento de 1,2 mil milhões de dólares em projectos de prospecção e produção de diamantes, em conjunto com a empresa estatal angolana Endiama. A execução destes projectos poderá levar à duplicação da actual produção de diamantes em Angola, a segunda maior fonte de receita do país, depois do petróleo. Em execução está também o trabalho de delimitação de áreas de exploração diamantífera
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Lunda Sul, cidade de Saurimo
artesanal e semi-industrial, tendo em vista a criação do futuro pólo industrial de diamantes. Dados da indústria diamantífera mundial apontam Angola como o quinto maior produtor de diamantes, mas a sua produção representa pouco mais de 8% do valor global mundial. PREPARAR O FUTURO COM SAÚDE E EDUCAÇÃO Em entrevista à E&M, a governadora da Lunda Sul,
Cândida Narciso, revela que a população escolar da província ultrapassou os 204 mil alunos no ano lectivo de 2015, a que se juntam cerca de 30 mil inscritos no Programa de Alfabetização e Aceleração Escolar, todos distribuídos pelos 273 estabelecimentos de ensino da província. A maioria, 247 escolas, é do ensino primário (até à 6ª classe), 16 do primeiro ciclo (7ª, 8ª e 9ª) e 10 do ensino secundário (até à 12ª classe), num total de 1 447 salas de aula. O número de professores durante o ano
lectivo 2015 foi de 3 578. Em construção estão ainda sete escolas que, no ano lectivo que arranca em breve, devem absorver parte dos cerca de 12 mil jovens e crianças que ficaram fora do sistema de ensino em 2015. Também insuficientes são as duas instituições de ensino superior que existem na Lunda Sul, uma pública e outra privada, havendo a intenção de alargar o número de cursos no âmbito da criação do Pólo Universitário, por enquanto adiado devido aos
constrangimentos financeiros que o país atravessa. Quanto à saúde, a governadora Cândida Narciso chama a atenção para a significativa redução do número de mortes por malária, em 2014, fixado nas 107, muito abaixo das 649 registadas no ano de 2013, uma tendência que deverá manter-se quando se fizer o balanço de 2015. Refere, no entanto, que são os acidentes de viação a principal causa de morte na província, com 167 óbitos em 2014.
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Apesar do crescimento, a governadora Cândida Narciso admite que ainda há muito trabalho a fazer em Saurimo.
A entrevistada assegura que todas as comunas da Lunda Sul têm um centro de saúde, cada município tem um hospital secundário e Saurimo, além da maternidade central, tem o hospital de referência da região. Ao todo são sete hospitais, duas maternidades, dois centros materno-infantis, 17 centros de saúde e 79 postos de saúde que empregam cerca de 1 500 profissionais, dos quais mais de 50 são médicos. Na entrevista à E&M, a governadora da Lunda Sul considera ainda que houve
ganhos do desenvolvimento da província graças, também, ao crescimento do sector de energia e águas. Apesar de confessar a insuficiência dos sistemas já montados, Cândida Narciso revela que a cidade de Saurimo tem quase resolvido o problema de abastecimento de água potável, depois da construção da nova estação de captação e tratamento com capacidade de abastecer cerca de 300 metros cúbicos por hora. Nos restantes municípios, a situação ainda está por
resolver, diz a governadora. A responsável sublinha, no entanto, a construção de sistemas locais de abastecimento de água que já têm uma cobertura de pouco mais de 60% das localidades. No que diz respeito ao abastecimento de energia eléctrica, a governante também reconhece que ainda há muito por fazer, embora este já tenha sido melhorado nalgumas zonas da cidade de Saurimo, cujos arredores ainda sofrem restrições devido à precariedade ou insuficiência
da rede eléctrica. O fornecimento de energia é feito a partir da Hidroeléctrica do Chicapa, com uma capacidade de 16 megawatts, dos quais quatro são canalizados para Saurimo e 12 para a Sociedade Mineira do Catoca e a partir da Central Térmica que gera apenas 5 dos 12,5 megawatts de potência. Para os restantes municípios da província da Lunda Sul, a energia eléctrica é gerada por grupos de geradores com uma capacidade total instalada de 4,415 kVA (Kilovolt ampere). &
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MALANGE
HUÍLA
BANCO CONTINENTAL FINANCIA PROJECTOS EM ANGOLA
GOVERNO PEDE MAIOR RIGOR AOS INVESTIDORES
O representante em Angola do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) anunciou que a instituição financeira prevê, nos próximos tempos, financiar vários projectos público-privados no país, no domínio da agro-indústria. Depois de uma visita a Malange, Septime Martim, que não avançou nem valores nem o número de empresas a serem financiadas, disse estar bastante impressionado com as potencialidades agrícolas da província. “Já identificámos vários sectores para financiar, mas ainda temos muito trabalho para sabermos exactamente as áreas específicas em que o BAD pode actuar”. Septime Martim refere que, no caso de Malange, o Banco Africano de Desenvolvimento vai ajudar o Governo Provincial a criar condições para atrair investimento privado. O Banco Africano de Desenvolvimento já financiou três projectos nos domínios da agricultura, pesca artesanal e comercial, que estão em curso nas províncias do Huambo, Bengo e Benguela, no âmbito da promoção da integração regional entre Angola, Zâmbia e República Democrática do Congo. &
KWANZA NORTE
O Governo da Huíla quer que os empresários aumentem o investimento nos sectores produtivos e de serviços para desenvolver a economia. O Vice-governador para o sector económico e produtivo, Sérgio da Cunha Velho, considera o investimento privado uma necessidade para o crescimento económico, mas chama a atenção para o facto de a captação de financiamento externo depender da promoção das potencialidades económicas do país, da implementação de parcerias público-privadas, assim como da criação de condições mais atractivas nas regiões do interior. O Vice-governador reconhece que o sector privado regista ainda um reduzido índice de industrialização, mas defende que a agricultura pode diversificar a economia nacional através de políticas bem elaboradas. &
UÍGE
KIXI-CRÉDITO DISPONIBILIZA MAIS DE 100 MILHÕES DE KWANZAS De Janeiro a Outubro de 2015, foram disponibilizados 164 milhões de kwanzas a 369 clientes na província do Uíge pelo programa Kixi-Crédito, no âmbito da acção de combate à fome e à pobreza nas comunidades. O gestor do projecto na província, José Simba, fez saber que, por enquanto, o programa está a ser implementado apenas em três dos 16 municípios da província do Uíge, nomeadamente, Uíge (sede), Negage e Maquela do Zombo. O Kixi-Crédito trabalha com mulheres e homens com pequenas iniciativas económicas, a fim de potenciar as suas actividades. Para terem acesso ao Kixi-Crédito, os cidadãos devem formar grupos de três a cinco membros da mesma área de residência, com alguma experiência em negócios, a quem são atribuídos montantes entre os 50 mil e os 500 mil kwanzas. O Kixi-Crédito é uma instituição financeira não bancária especializada em microcrédito, licenciada pelo Banco Nacional de Angola desde 2008. &
TORREFACÇÃO E EMBALAGEM ESTIMULAM VENDAS DE CAFÉ As transacções de café aumentaram no Kwanza Norte desde que, em Março de 2015, uma unidade de torrefacção e embalagem foi aberta no município do Quiculungo pela empresa privada Café Cazengo, com um investimento de 600 milhões de kwanzas. O soba do sector de Quimbamba, Domingos Kizamba, que trabalha na produção de café desde 1961, declarou ao "Jornal de Angola" que, após a independência de Angola, nunca houve um intercâmbio tão significativo entre produtores e compradores como o que há agora. Domingos Kizamba diz que além do impulso dado pela nova maquinaria, este crescimento é também justificado pelo crédito à produção e colheita concedido sem juros pela empresa Café Cazengo. “Hoje, muita gente já se revê na produção do café por ser uma boa fonte de rendimento. Estamos a pensar em criar a associação dos cafeicultores locais para o aumento da produção e para obtermos mais apoios do Estado e dos empresários”, disse. &
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| LÁ FORA
ANÁLISE
O NOVO PODER EM PORTUGAL PODE MUDAR A RELAÇÃO COM ANGOLA? O primeiro-ministro português António Costa traz consigo um aliado e ministros com relações conturbadas com o regime angolano. Apesar dos riscos, a expectativa em Lisboa é de que vença o pragmatismo em que Costa é mestre – e que nada de essencial mude, para pior ou para melhor, nas relações entre os dois países.
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No dia da tomada de posse dos 230 deputados à Assembleia da República de Portugal, em meados de Outubro, os 18 deputados do Bloco de Esquerda organizaram uma acção inédita de protesto: todos vestiram uma t-shirt branca com a cara do activista Luaty Beirão, então em greve de fome em Luanda, e deixaram-se fotografar numa escadaria do Parlamento. Há menos de três meses este seria um gesto normal do Bloco (um partido de protesto situado na esquerda dura com um eleitorado predominantemente urbano e jovem) mas, agora, ganhava um peso adicional. O partido liderado por Catarina Martins, uma estrela em ascensão na política portuguesa, já estava a caminho de ser uma das forças que sustentam no Parlamento o novo Governo socialista liderado por António Costa. Dias depois, o Bloco assinaria um acordo político essencial para a posse de Costa como primeiro-ministro. O novo arranjo político em Portugal pode fazer levantar a sobrancelha de decisores políticos e observadores das relações entre Luanda e Lisboa. Além do peso maior do muito crítico Bloco de Esquerda – que não integra o Governo mas que ganhou influência no Parlamento –, há algumas escolhas ministeriais que podem preocupar Luanda. Um exemplo é o ministro da Cultura João Soares – filho de Mário Soares, histórico fundador do PS e principal político português da era democrática –, com ligações no passado à UNITA e críticas assumidas ao MPLA. Há ainda a surpresa para a pasta da Justiça: a luso-angolana Francisca Van Dunem, a primeira mulher negra a chegar a um cargo ministerial em Portugal, reputada magistrada, que desde o assassinato do irmão nos incidentes de 1977, em Luanda, cultiva um distanciamento firme, gerido com tacto, face ao regime angolano. Como podem, então, evoluir as relações entre Portugal e Angola neste Texto: Bruno Faria Lopes Fotos: iStock Photo Paulo Figueiredo/ Diário Económico
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COMO PODEM, ENTÃO, EVOLUIR AS RELAÇÕES ENTRE PORTUGAL E ANGOLA NESTE NOVO CONTEXTO POLÍTICO EM LISBOA, ORIENTADO À ESQUERDA? VÁRIOS OBSERVADORES POLÍTICOS – ALGUNS OUVIDOS SOB CONDIÇÃO DE ANONIMATO (ANGOLA É UM TEMA SENSÍVEL EM LISBOA) – ADMITEM QUE, SE À PARTIDA SE PODEM VER FACTORES POTENCIAIS DE PERTURBAÇÃO, NO FINAL, POUCO DE SUBSTANCIAL DEVERÁ MUDAR. novo contexto político em Lisboa, orientado à esquerda? Vários observadores políticos – alguns ouvidos sob condição de anonimato (Angola é um tema sensível em Lisboa) – admitem que, se à partida se podem ver factores potenciais de perturbação, no final, pouco de substancial deverá mudar. “Já se verificou, em ocasiões no passado, a chegada de pessoas a Governos [em Portugal] que poderiam representar algum risco para as relações com Angola, mas depois aconteceu sempre um reajustamento, venceu sempre o pragmatismo”, afirma Xavier de Figueiredo, director do Africa Monitor, um serviço de informação sobre países africanos lusófonos. O caso do ex-vice-primeiroministro Paulo Portas – que no passado assumira críticas ao MPLA e cujo partido, o CDS, havia sido um apoio em Portugal à UNITA – é um desses
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exemplos, sendo hoje um nome que goza de simpatia em Luanda e na Cidade Alta. “O pragmatismo é comandado pelo interesse nacional e este está em manter relações cordiais e profícuas com Angola”, acrescenta Xavier de Figueiredo. PORTUGAL É ORIGEM DE QUADROS Este “interesse nacional” centrou-se, nos últimos dez anos, na questão económica. Do lado angolano, o incentivo político e económico é também no sentido de preservar a relação com Portugal, principal contacto na Europa e Ocidente e origem de quadros de que a economia precisa, numa fase em que a diversificação face ao petróleo é uma prioridade. Para Portugal, há a comunidade ainda grande de quadros profissionais em Angola – apesar do regresso de milhares de pessoas desde o agudizar das dificuldades económicas angolanas – e muitas empresas com negócios ligados a Angola. “Já não temos 150 mil portugueses em Angola, mas ainda temos 100 mil e mais de duas mil empresas de direito angolano e mais de sete mil a exportar para Angola”, realça uma fonte política ligada ao anterior Governo. “António Costa não fará diferente [face aos governos passados], algo que perturbe as relações”, junta. O pragmatismo é uma das principais características de Costa como político. O seu percurso como ministro, presidente de Câmara (de Lisboa) e candidato a primeiro-ministro é feito de negociação constante e de alianças de geometria variável (ilustradas na forma sinuosa como, tendo perdido as eleições em Outubro, conseguiu chegar à liderança do Governo). No âmbito dos acordos à esquerda, e no que toca a Angola, Costa não deve esperar problemas do Partido Comunista Português, que mantém a sua linha de não “ingerência” nos assuntos que considera ser do foro da “soberania de Angola”. O papel de partido crítico tem sido desempenhado de forma isolada pelo Bloco, quer no plano das liberdades
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cívicas, quer no da crescente influência angolana nos negócios em Portugal. Crítico – mas fora da governação. “Os acordos à esquerda pouca influência têm neste plano de Angola, é uma das vantagens de o Bloco não estar no Governo – a menos que António Costa não tenha habilidade em lidar com o assunto”, afirma outra fonte. O “assunto” imediato é o caso de Luaty Beirão e “habilidade” é não fazer Luanda perder publicamente face neste plano, gerindo mais nos bastidores. Não causar perda de face tem sido a pedra de toque da diplomacia portuguesa em todas as questões sensíveis sobre Angola, do plano das liberdades cívicas à opacidade governativa, passando pelos efeitos da crise económica para as empresas portuguesas. Com o incentivo da economia e o pragmatismo de Costa – e do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva – ninguém espera aqui uma mudança de tom. Mais complexa, à partida, pode ser a relação dos referidos ministros da Cultura e da Justiça com Angola. No caso de João Soares, uma fonte em Lisboa, conhecedora do actual ministro e com ligações a Angola, reconhece que não “é fácil [para Soares] largar a acrimónia acumulada
durante anos” perante o MPLA, admitindo que, em Luanda, o nível de aceitação de Soares é também nulo. Mas, de um modo geral, não considera que as relações entre os dois países estejam em risco com o novo Governo. Xavier de Figueiredo concorda, no que toca ao caso de Soares ou de Van Dunem (que parece não ter caído mal em Luanda, a avaliar pelas declarações do vice-procurador geral angolano). “Não têm de abdicar das suas posições sobre Angola, nem acredito que o façam, mas de ajustar as suas intervenções enquanto membros do Governo”, afirma. Se o agravamento das relações parece fora do cenário central de quem conhece os dois países, uma melhoria significativa também não entra nas previsões. “Para isso, seria preciso que a relação deixasse de estar só centrada na economia e que se recuperasse mais o plano afectivo, cultural”, diz um político português com ligações antigas a Angola. “Para isso seria preciso haver mais gente no Governo conhecedora dessa afectividade, que consiga também funcionar como válvula de escape de eventuais momentos de pressão – e isso, neste novo Governo, continua a não existir”. &
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ONU PEDE 20 MIL MILHÕES DE DÓLARES PARA AJUDAR 37 PAÍSES EM CRISE A ONU pediu, aos países membros, 20,1 mil milhões de dólares para ajudar cerca de 87 milhões de pessoas afectadas por 27 crises que envolvem 37 países em todo o mundo. “Este pedido de fundos é o mais importante jamais feito”, afirmou Stephen O’Brien, secretário-geral adjunto das Nações Unidas. O’Brien, que é também o coordenador de assuntos humanitários e ajuda de emergência, destacou que o pedido representa o quíntuplo da quantia que a ONU pedia há dez anos. “O sofrimento no mundo alcançou níveis insólitos numa geração. Os conflitos e os desastres levaram milhões de crianças, mulheres e homens a situações de
sobrevivência. Eles precisam de ajuda desesperadamente”, declarou diante da imprensa. Os conflitos na Síria, Iraque, Sudão do Sul e Iémen são as crises que mais recursos receberão em 2016, afirmou a ONU. Já o alto-comissário da ONU para os refugiados, António Guterres, nota que “os movimentos em massa da população, sejam de refugiados ou deslocados internos, converteram-se na nova realidade do século XXI”. Em 2015, as ONGs terminam o ano com um défice de financiamento de 10,2 bilhões de dólares, o maior já registado até ao momento. &
BRASIL LIDERA LISTA DE PAÍSES QUE RECEBEM INVESTIMENTOS PRODUTIVOS O Brasil encerrou o ano com cerca de 65 mil milhões de dólares provenientes do mercado estrangeiro, mantendo-se no grupo dos dez países que mais recebem investimentos produtivos. As projecções são do Banco Central do Brasil e mostram o tamanho e potencial do mercado interno do país. A lista das economias que mais atraem investimento é feita pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), que inclui no grupo a China, os Estados Unidos, o Reino Unido, Singapura, Rússia, Canadá, Austrália e a cidade-Estado de Hong Kong. Nos nove primeiros meses de 2015, os investimentos estrangeiros somaram mais de 48 mil milhões de dólares.
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Considerando um período maior de 12 meses, terminados em Setembro de 2015, essa cifra está em quase 72 mil milhões de dólares, indicam os dados do Banco Central. Para 2016, esses capitais devem permanecer no nível actual ou aumentar. Entre os factores que vão impulsionar os negócios e manter o Brasil no radar dos investidores está a valorização do dólar face ao real, que torna as empresas internas baratas ao capital externo, favorecendo operações de fusão e aquisição entre o empresário nacional e o de fora do país. Os países que mais investem no Brasil são os Estados Unidos, a China, o Japão, França, Espanha e Itália. &
NOVO GASODUTO LIGA MOÇAMBIQUE A ÁFRICA DO SUL O grupo petroquímico sul-africano Sasol e os governos da África do Sul e de Moçambique vão investir 120 milhões de dólares na construção de um novo gasoduto, a entrar em funcionamento em 2017, anunciou a empresa Rompco. O gasoduto, com uma extensão de 127 quilómetros, vai permitir que a África do Sul passe a receber 212 milhões de gigajoules, contra os actuais 188 milhões, com o envio de gás natural que o grupo sul-africano extrai nos campos de Pande e Temane, na província de Inhambane. A construção do primeiro gasoduto custou 200 milhões de dólares. Louis Bosch, director-geral da Rompco, afirma que o novo gasoduto, “Loop Line 2”, representa o empenho da empresa em investir no desenvolvimento das infra-estruturas de Moçambique. O novo gasoduto vai ser instalado em paralelo durante uma parte do percurso do primeiro que, com uma extensão de 865 quilómetros, liga o campo de gás de Temane à central da Sasol em Secunda. &
COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO A Organização Internacional do Trabalho (OIT) elaborou, em Bruxelas, um novo protocolo para reforçar, a nível mundial, as estratégias para a abolição do trabalho forçado, documento válido a partir de 2016. A OIT estima que, actualmente, existem em todo o mundo 21 milhões de vítimas de trabalho forçado e muitas pessoas arriscam o mesmo ao saírem dos seus países em busca de melhores condições de vida. Este protocolo, “juridicamente vinculativo”, vai contribuir para erradicar o trabalho escravo. &
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| EMPRESAS
FOCUS EDUCATION
APOSTA NO FUTURO O objectivo é elevar a qualidade da educação no país até ao ponto de alunos dos países vizinhos quererem vir estudar para Angola. Ao longo dos últimos 25 anos, a Focus Education deu grandes passos nessa direcção e a meta já esteve muito mais longe, apesar de ainda haver um longo caminho a percorrer. Desde o ano 2000, só o projecto da Reforma do Ensino Técnico Profissional (RETEP) já formou cerca de 700 professores e mais de 100 mil alunos, num investimento que, ao longo dos seus vários processos de execução, já deve rondar os 100 milhões de dólares.
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EMPRESAS | 57
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A Focus Education faz parte do Grupo Mitrelli, mas funciona também como um grupo, com a SISTEF, empresa angolana, e a LUSIS, portuguesa. Dentro do Grupo Mitrelli, a Focus é a empresa responsável por toda a área da educação e da formação profissional e está em Angola há cerca de 25 anos. Tudo começou com a Reforma do Ensino Técnico Profissional (RETEP). “Começámos por fazer um levantamento das necessidades do ensino técnico profissional em Angola. Visitámos todos os institutos politécnicos e vimos as condições em que se encontravam. Eram condições bastante más, em relação aos laboratórios, aos currículos e programas, e em relação também à capacidade dos próprios professores”, lembra o presidente da empresa, José Paiva. Depois do levantamento feito, a Focus apresentou uma proposta do trabalho a ser feito ao ministro da Educação, que a aprovou de imediato. “A partir daí foi tudo feito com os próprios técnicos da educação, não fomos buscar um processo fora, desenvolvemo-lo dentro de Angola, com técnicos angolanos. Evidentemente, com todo o apoio e know-how que nós tínhamos”, explica José Paiva. Na altura, havia poucas profissões dentro do ensino técnico, que foram aumentadas e diversificadas de acordo com as necessidades do momento, com formações dentro da área agrícola, na área da administração e serviços e de áreas técnicas. “Começámos com três institutos médios politécnicos e, neste momento, existem 54 a trabalhar com os programas e currículos que desenhámos e com os laboratórios que trouxemos. Colocámos determinadas disciplinas que não existiam, como a de informática, em todos os cursos, tal como uma disciplina de línguas, normalmente o inglês”, revela. A Focus também criou, dentro das escolas, um departamento denominado GIVA, com o objectivo de preparar o aluno para o mercado de trabalho.
Durante o último ano da formação, este gabinete ensina os jovens a responder a um anúncio de emprego, a contactar as empresas, tenta colocá-lo em estágios, acompanha o início das suas carreiras e recolhe informações para saber se os programas e currículos da escola estão de acordo com as necessidades do mercado de trabalho, no sentido de depois os ir ajustando. Recentemente, a Focus Education apresentou uma análise ao Ministério da Educação sobre as necessidades do sector para 2015-2025. Este estudo, direccionado para o ensino secundário, geral e técnico, especifica o número de escolas, laboratórios e de professores que são necessários, a formação necessária para os mesmos, e o orçamento para todo esse investimento. “Foi um trabalho muito importante que pode ir sendo realizado de acordo com a capacidade financeira do momento. O que é importante é seguirmos um caminho e termos um objectivo, não é fazer uma coisinha aqui e outra acolá e depois chegarmos ao fim e não existe nada. Este estudo foi um caminho que traçámos, sabe-se onde se quer chegar e consegue-se fazer uma previsão dos resultados, o que é muito importante”, frisa José Paiva, referindo-se ao actual quadro económico do país, que sofre devido à descida do preço do petróleo.
E o responsável continua: “Evidentemente que as coisas estão difíceis, mas este estudo, por exemplo, já é todo um trabalho que está feito e, quando houver possibilidades, já há um caminho traçado a seguir. Há que trabalhar! Este tem sido um trabalho muito bom, um trabalho com futuro”. OUTROS PROJECTOS Outro dos projectos desenvolvidos pela Focus Education foi a abertura dos Centros Locais de Empreendedorismo e Serviços de Emprego (CLESE), entidades viradas para o empreendedorismo que começaram para se conjugarem com o RETEP. “Dar uma formação técnica aos jovens já não era suficiente. O que era do interesse do Governo, e para o que tínhamos trabalhado, era a preparação dos jovens quando terminassem o curso, para poderem criar o seu posto de trabalho”, esclarece o responsável da empresa. Os CLESE trouxeram uma grande evolução na área do empreendedorismo, ajudando os jovens que desejam criar o seu próprio negócio, mas a entrada nestes centros não é nada fácil. Os candidatos devem ter o 12º ano terminado e são sujeitos a uma entrevista, através da qual são seleccionados os melhores. Após esta selecção, o candidato apresenta um projecto de negócio perante um júri. O
Texto: Patrícia Pinto da Cruz Fotografia: cedidas pela empresa
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Afonso Francisco
José Paiva, Presidente da Focus Education
Dentro do Grupo Mitrelli, a Focus é aquela que tem a ver com toda a área da educação e formação profissional. É uma empresa internacional, com origem israelita. Esta, para poder dar apoio aos projectos com que trabalha, está ligada à empresa angolana SISTEF, que faz a manutenção, a formação, e dá todo o suporte necessário. A parceria com a portuguesa LUSIS baseia-se na formação e no know-how estrangeiro, trazendo conhecimento de outros países com quem a Focus Education tem protocolos, como Israel, Itália, Alemanha ou Inglaterra. “Quando desenvolvemos o projecto RETEP, por exemplo, não podíamos trazer o programa de Portugal ou de Israel para Angola. O país tinha outras necessidades, as pessoas tinham outro carácter, outros conhecimentos. Mas com o know-how exterior pudemos ajudar de uma forma muito mais correcta”, elucida José Paiva, presidente da empresa Focus Education.
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primeiro CLESE abriu no Huambo, em 2012, e neste momento já existem 10 CLESE em funcionamento em 10 províncias diferentes, com mais de 7 000 alunos inscritos, e acima de 500 negócios já criados e lançados. Inicialmente, os alunos não pagavam propinas, mas recentemente foi criada uma taxa para o próprio funcionamento do CLESE. “Estes investimentos não são fáceis. Por exemplo, avança-se com um projecto que custa x, mas esse projecto depois não pára, é preciso que haja um investimento para que ele continue. Há professores, há manutenção, há consumíveis, tem que se comprar material. Portanto, se não houver uma ajuda por parte dos alunos, estes projectos tornam-se muito pesados para o Governo”, esclarece José Paiva. O projecto das Aldeias Jovens é também ímpar. Estas são escolas com internato e neste momento existem duas: uma em Cabiri (Bengo) e outra em Sacassange (Moxico). “A ideia foi tirar os jovens da rua, darmos-lhes um curso para que eles possam ter uma vida activa, longe da marginalidade. Estes jovens muitas vezes têm problemas familiares, ou nem têm família”, esclarece José Paiva. Estes
cursos internos têm uma área agrícola, em que os jovens trabalham com animais no campo. Dentro da Aldeia, cada jovem tem uma profissão: podem ser pedreiros, ou carpinteiros, e têm uma área de tecnologia básica e académica, de modo a que tenham acesso ao ensino primário. “Aqui criam-se jovens com futuro para o país. Este projecto está a ser trabalhado em parceria com o Ministério da Administração Pública, Emprego e Segurança Social (MAPESS) e já estão a ser planeadas mais Aldeias Jovens para o futuro”, revela o presidente da empresa. A Focus Education é responsável pelo Instituto Superior Técnico Militar, para o qual trabalha os programas e currículos, fornece e monta os laboratórios, dá as formações e faz a ponte com o Ministério do Ensino Superior para que os cursos (de engenharia e de medicina) sejam reconhecidos e tenham equivalência com o ensino superior. Nesta área, está a ser desenhado um novo projecto virado para as academias militares. A empresa também identifica áreas a melhorar dentro de cada ministério e responde com formações específicas que, muitas vezes, decorrem em Portugal ou Israel, país de origem da empresa. “Recentemente, terminámos uma formação no Instituto Nacional de Veterinária no Huambo, na área agrícola também temos feito muitos cursos, tal como na área da educação”, especifica José Paiva. Quando questionado sobre projectos futuros, o responsável da empresa respondeu: “Existem sempre possibilidades de projectos. Há uma possibilidade, por exemplo, no ensino superior, que é uma área muito importante na qual não temos nenhum projecto. Desde que seja dentro do sector da educação, formação e do desenvolvimento do país, nós estamos aqui e somos parceiros. Estamos cá há 25 anos e estamos para continuar. O nosso objectivo não é chegar, fazermos um projecto e irmos embora. Não, nós estamos cá, conhecem-nos, sabem quem somos, sabem como somos responsáveis. É para continuar”. &
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RELATÓRIO DO FMI
RECEITA PARA A “DOR DO PETRÓLEO” O recente relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) diz que é provável que em 2016 a conjuntura macroeconómica de Angola continue a apresentar grandes desafios para o país, pois não se espera que o preço internacional do petróleo recupere, o que coloca a economia numa situação de alerta vermelho. Porém, em 2015, o Fundo Monetário Internacional esteve em Angola e fez algumas recomendações às autoridades sobre as medidas a adoptar para que o impacto da redução das receitas petrolíferas não seja desastroso.
Caso as autoridades angolanas cumpram a receita passada pelo FMI, este órgão prevê que o crescimento permaneça estável comparativamente ao estimado em 2015, 3,5% em 2016, um pouco mais optimista que a previsão do Executivo expressa no OGE, de 3,3%. O sector petrolífero, de acordo com as projecções, Texto: Quingila Hebo Foto: Afonso Francisco
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crescerá cerca de 4%. A expectativa para o sector não petrolífero é de uma ligeira melhoria, em comparação com o crescimento homólogo de 3,4%, impulsionado sobretudo pela recuperação mais robusta da agricultura. A inflação deverá abrandar para 13% no final de 2016, sendo de prever que o efeito da recente política monetária seja sentido de forma mais clara no segundo semestre do ano em curso.
Os enviados especiais do FMI, no final da visita, recomendaram às autoridades angolanas restaurar gradualmente as margens de manobras (buffers) orçamentais e garantir que parte da riqueza do petróleo de Angola seja poupada para as futuras gerações, sob uma estrutura de governação sólida e transparente, procurando-se, com o tempo, manter um excedente orçamental estrutural. Enfatizaram
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ANGOLA: EVOLUÇÃO ORÇAMENTAL 2004-16 Prevê-se uma forte queda das exportações e receitas do petróleo em 2015-16 com a descida dos preços...
A produção de petróleo recuperou após a conclusão das obras de manutenção em 2014
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PRODUÇÃO DE PETRÓLEO
(MILHÕES DE USD)
(MILHÕES DE BARRIS POR DIA)
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EXPORTAÇÕES E RECEITAS DO PETRÓLEO
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2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015P 2016P Receita do petróleo
Com uma consequente melhoria do défice orçamental e do saldo primário não petrolífero.
...o que provocará cortes profundos nos gastos.
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20
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DESPESAS
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SALDO GLOBAL E SALDO PRIMÁRIO NÃO PETROLÍFERO (% DO PIB E % DO PIB NÃO PETROLÍFERO, RESPECTIVAMENTE)
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Despesas de capital
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2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015P 2016P
Saldo global
-120
Saldo primário não petrolífero (escala à direita)
Fonte: Autoridades angolanas e estimativas do corpo técnico do FMI
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| MERCADO E FINANÇAS
ANGOLA: EVOLUÇÃO MONETÁRIA 2004-16 O crescimento do crédito deve abrandar em 2015 devido às condições bancárias mais rigorosas e à diminuição da procura 70
70
CRESCIMENTO DO CRÉDITO E DE M2
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Crescimento do crédito
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Crescimento de M2
A tendência de desdolarização deve estabilizar em 2015-16 com o aumento da incerteza sobre a taxa de câmbio
DEPÓSITOS E EMPRÉSTIMOS EM MOEDA ESTRANGEIRA (PERCENTAGEM)
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60
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20
0
0 2009
2010 2011 2012 Depósitos em moeda estrangeira
2013 2014 2015P 2016P Empréstimos em moeda estrangeira
O crescimento da Base Monetária será brando com o aperto político monetário, mas a inflação deve subir
INFLAÇÃO E CRESCIMENTO DA BASE MONETÁRIA
20
(PERCENTAGEM)
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16
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14 50
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Inflação do IPC
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2015P
2016P
Crescimento da base monetária
Fonte: Autoridades angolanas e cálculo do corpo técnico do FMI.
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também a importância de eliminar as dívidas às empresas e reverter o aumento significativo do rácio entre a dívida pública e o PIB projectado para 2015. Referindo-se à elaboração do orçamento de 2016, os técnicos do FMI incentivaram as autoridades a utilizar como base pressupostos cautelosos sobre o preço do petróleo e um nível prudente de despesas, preservando, porém, os gastos com a protecção social e as infra-estruturas essenciais, recomendações já postas em prática no OGE 2016 aprovado em Novembro de 2015, que estima receitas com base num preço médio de referência de 45 dólares o barril do petróleo. Os peritos do órgão internacional sublinharam também com grande destaque a necessidade de racionalização das despesas e de maior mobilização de receitas não petrolíferas. Instaram por esforços coordenados para conter o crescimento da massa salarial da função pública, reformar a administração tributária, simplificar os incentivos fiscais, melhorar a qualidade do investimento público e eliminar os subsídios aos combustíveis, alargando, em simultâneo, a assistência social orientada para os pobres, que são os mais prejudicados com a subvenção dos combustíveis. Os especialistas do FMI observaram ainda que a implementação cautelosa de um Imposto sobre Valor Acrescentado poderia proporcionar uma fonte mais estável de receita pública. Um quadro fiscal de médio prazo melhorado, com a adopção de regras fiscais e de um fundo de estabilização, que ajudaria a reduzir a pro-ciclicidade da despesa e a volatilidade da receita orçamental. É PRECISO TRAVAR A DEPRECIAÇÃO DO KWANZA O kwanza está a desvalorizar, o mercado cambial permanece desequilibrado, com diferenças abismais entre a taxa de câmbio no mercado paralelo e a oficial a aumentar de 15%, em Setembro de 2014, para 65%, no fim de Setembro de 2015, elevando
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também a taxa de inflação. Embora as reservas internacionais estejam a ser utilizadas para atenuar a depreciação do kwanza, serão, contudo, de acordo com o FMI, necessários ajustes de políticas adicionais à medida que a economia se adapta ao que parecem ser receitas do petróleo permanentemente menores. O FMI aconselha o Executivo angolano a focar-se em políticas que ajudem a alcançar uma consolidação orçamental ordenada e, em simultâneo, proteger os pobres, abordar os desequilíbrios persistentes no mercado cambial, mantendo a estabilidade de preços, preservar a estabilidade financeira e apoiar a diversificação económica e o crescimento inclusivo do território nacional, para atenuar o impacto da crise. Neste quadrante, é preciso, de acordo com o Fundo Monetário Internacional, mobilizar receitas fiscais não petrolíferas adicionais, melhorar, principalmente, a eficiência da despesa pública e dos controlos da despesa e continuar a reduzir os subsídios aos combustíveis, mitigando, simultaneamente, o impacto para os pobres através de assistência social bem orientada. Adoptar um quadro fiscal de médio prazo melhorado, centrando--se em regras de despesa e num fundo de estabilização orçamental adequadamente concebido para reduzir a pró-ciclicidade da despesa e salvaguardar a sustentabilidade da dívida. Continuar a ajustar a taxa de câmbio apoiada por uma política monetária restritiva para abordar os desequilíbrios no mercado cambial, contendo o impacto sobre a inflação. Reforçar o papel dos agregados monetários no quadro de política monetária, melhorando, simultaneamente, as previsões de inflação e a gestão de liquidez. Aumentar a resistência do sector financeiro, continuando a reforçar a supervisão bancária e o quadro de resolução bancária, e acelerar os planos para restruturar os bancos mais fracos. Promover a diversificação económica,
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melhorando o ambiente de negócios e a competitividade, e reforçando o papel do sector privado na reconstrução de infra-estruturas através de concessões e parcerias público-privadas.
EMBORA AS RESERVAS INTERNACIONAIS ESTEJAM A SER UTILIZADAS PARA ATENUAR A DEPRECIAÇÃO DO KWANZA, SERÃO, CONTUDO, DE ACORDO COM O FMI, NECESSÁRIOS AJUSTES DE POLÍTICAS ADICIONAIS À MEDIDA QUE A ECONOMIA SE ADAPTA A MENORES RECEITAS PETROLÍFERAS.
DÍVIDA SENSÍVEL AOS CHOQUES EXTERNOS A autoridade monetária internacional revela no relatório que as contas externas de Angola estão a enfraquecer em consequência de uma diminuição acentuada das exportações de petróleo, mas as importações estão a começar a ajustar-se e projecta-se que as reservas internacionais, embora em declínio gradual, permaneçam em níveis relativamente confortáveis. As perspectivas são de início de uma recuperação em 2017, mas existem riscos negativos significativos, incluindo o de descida adicional dos preços do petróleo. Esta perspectiva de médio prazo, no entanto, apresenta os seus riscos. Angola enfrenta o desafio de equilibrar as pressões de menores receitas do petróleo face aos níveis de 2010-13 e da procura elevada das muito necessárias melhorias das infra-estruturas físicas do país e de capital humano, bem como de alívio da pobreza. De acordo com o FMI, isto requer um melhor equilíbrio entre a racionalização da despesa corrente e de capital, tornando a consolidação orçamental mais sustentável no médio prazo. A análise de sustentabilidade da dívida mostra que a dívida pública de Angola permanece sustentável mas, simultaneamente, é sensível a vários choques, incluindo ao preço internacional do petróleo, ao crescimento do PIB real e à taxa de câmbio. Para fintar possíveis choques que coloquem em perigo a possibilidade de o Estado se financiar deve-se, em 2016, afinar a máquina tributária e obrigar as pessoas singulares e colectivas, que desenvolvem actividades lucrativas, a contribuírem mais. &
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REFORMA
RETRIBUIR A QUEM CONTRIBUIU Jacinto Malungo
O Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), órgão do Estado responsável, entre outras questões, por receber as contribuições dos trabalhadores e de fazer pagamentos aos aposentados, estabelece que tem direito à pensão de reforma por velhice todo o cidadão com mais de 60 anos de idade ou 35 anos de trabalho e que esteja inscrito no INSS. A Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas (CSS-FAA) tem um propósito idêntico para todos os militares. Porém, nem sempre tal acontece. Há quem cumpra todos os requisitos e há anos que corre atrás da merecida pensão pelo contributo que deu ao INSS ou às Forças Armadas Angolanas e nada recebe. Há também quem não cumpre os requisitos e recebe. Esse é o pensionista fantasma que, quer o INSS, quer a CSS-FAA, lutam para eliminar. Entre os mais de 100 mil pensionistas de todo o país que são pagos pelo Instituto Nacional de Segurança Social, está Raimundo Baptista. É antigo funcionário da Angonave Linhas Marítimas de Angola. O pensionista de 75 anos trabalhou para a empresa marítima durante 16 anos, tendo sido reformado devido à idade avançada. Raimundo Baptista admite receber a pensão, mas alega que esta não corresponde a todo o esforço empregue durante os 16 anos no activo. No dia em que nos cruzámos com o pensionista à porta do INSS, este dirigia-se lá para solicitar um aumento da pensão, pois classifica a sua actual renda como “uma miséria que nem dá para cobrir um quarto” das suas necessidades, numa altura em que os preços disparam a uma velocidade galopante. Raimundo Baptista
O INSS TEM INSCRITOS, NAS SUAS 28 AGÊNCIAS ESPALHADAS PELO PAÍS,
1,4
MILHÕES DE SEGURADOS.
DESTE NÚMERO, 105 MIL SÃO CONTRIBUINTES.
disse já ter reclamado várias vezes por um aumento da pensão, mas a resposta que recebe do INSS é que não há condições para aumentos. O aposentado desconfia que foi mandado para a reforma estrategicamente pela empresa a que esteve filiado 16 anos como forma de limitar a retribuição. “Se tivesse ficado mais tempo, não receberia estes 35 mil kwanzas, que não servem nem para o básico”, protesta. Entretanto, a Angonave faz parte do rol de empresas públicas que o Estado angolano classificou como improdutivas e que, recentemente, foram extintas por despacho presidencial, o que reduz a probabilidade de se rever a situação de Raimundo Baptista, que almeja ter um descanso condigno depois de “dar o litro” durante 16 anos na empresa.
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NÚMERO DE PENSIONISTAS, DEZEMBRO DE 2012 A ABRIL DE 2013 119 022
119 112
Mar-13
Abr-13
117 849 116 376
Dez-12
PENSIONISTAS
Dez-12 116 376
117 077
Jan-13 Jan-13 117 077
Fev-13 Fev-13 117 849
Mar-13 119 022
Abr-13 119 112 Fonte: BDA
NÚMERO ANUAL DE CONTRIBUINTES, 2002 A 2014 95 896 79 716
9 383 10 230 11 718
16 355 12 505 14 048
2002
2005
2003 2004
2006 2007
21 358
2008
26 529
2009
30 923
2010
36 571
2011
43 210
2012
2013
2014 Fonte: BDA
PEDRO MANUEL TEM 70 ANOS E É ANTIGO COMBATENTE. HÁ TRÊS ANOS QUE ESPERA PELO DINHEIRO DO FUNDO DE PENSÃO DOS ANTIGOS COMBATENTES. O APOSENTADO ASSEVERA TER O NOME INSCRITO E TODOS OS DOCUMENTOS “EM DIA” NA INSTITUIÇÃO, MAS QUEIXA-SE DE, ATÉ AO MOMENTO, NUNCA TER RECEBIDO NADA.
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ANTIGOS COMBATENTES TAMBÉM SOFREM Pedro Manuel tem 70 anos e é antigo combatente. Há três anos que espera pelo dinheiro do Fundo de Pensão dos antigos combatentes. O aposentado assevera ter o nome inscrito e todos os documentos “em dia” na instituição, mas queixa-se de, até ao momento, nunca ter recebido nada. No entanto, Pedro Manuel está ciente do processo de reforma pelo qual o Fundo de Pensão dos antigos combatentes está a passar e pensa que esta seja a razão para que até agora o seu caso não tenha sido resolvido. Ainda assim, para não perder a hipótese de receber o que lhe é devido, o antigo combatente visita, sempre que pode, a CSS-FAA. “Deixo passar algum tempo. Uns dois ou três meses. Tudo o que posso dizer é que nunca recebi nada”. Como Raimundo Baptista e Pedro Manuel, existem vários ex-trabalhadores e antigos combatentes que esperam há anos que lhes seja compensado condignamente todo o esforço que empregaram enquanto estiveram no activo, um processo que ainda é manchado por várias irregularidades. No entanto, os técnicos do INSS esclarecem que o valor da pensão depende daquilo que o reformado recebia enquanto estava no activo, os anos de serviço e o valor da sua contribuição no INSS. Os responsáveis do Instituto de Segurança Social admitem que as reclamações se devem ao desconhecimento das contas que vão determinar o valor da pensão. CAÇA AOS “FANTASMAS” O INSS tem inscritos, nas suas 28 agências espalhadas pelo país, 1,4 milhões de segurados. Deste número, 105 mil são contribuintes. Entretanto, as prestações sociais são pagas, no dia 20 de cada mês, a mais de 100 mil pensionistas que tenham contribuído com 3% do
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A PROVA DE VIDA JÁ É UTILIZADA TAMBÉM PELA CAIXA DE SEGURANÇA SOCIAL DAS FORÇAS ARMADAS ANGOLANAS, QUE REALIZOU EM MAIO DO ANO PASSADO MAIS UMA VERIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA “REAL” DO PENSIONISTA. seu salário, sendo que os outros 8%, como definido por lei, são da entidade empregadora que tem a obrigatoriedade de inscrever os seus trabalhadores na segurança social. Antes de o Instituto de Segurança Social adoptar a Prova de Vida, um modelo obrigatório de comprovação física da existência do pensionista, de velhice ou de sobrevivência, para manter o direito à prestação social, debatia-se com um grande número de pensionistas fantasmas. Em 2012, por exemplo, foram registados 100 436 pensionistas. Esta cifra reduziu, em 2013, para 93 909, ou seja, desapareceram 6 527 pensionistas, resultando na recuperação de volumosas somas de dinheiro que, até então, eram desperdiçadas. Segundo o Secretário de Estado do MAPTSS (Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social), António Paulo, esta redução “é resultado do esforço de fiscalização da Prova de Vida”. O responsável, que falava à margem de um workshop sobre protecção social obrigatória, com o nome “Níveis de Solidez e Perspectivas de Desenvolvimento”, desvendou ainda que, em relação aos inscritos, os dados de 2013 indicam mais de 1 milhão de segurados, o que, comparativamente a
Raimundo Baptista, antigo funcionário da Angonave Linhas Marítimas de Angola
2012, representa um aumento de mais de 102 mil inscritos. A Prova de Vida já é utilizada também pela Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas, que realizou em Maio do ano passado mais uma verificação da existência “real” do pensionista, desta vez com dados computadorizados e de forma presencial, que, de acordo com o ministro da Defesa, João Lourenço, visa “afastar todos os que, de forma ilícita, beneficiam de pensões”. O titular da pasta da Defesa teceu tais declarações durante a inauguração da Delegação Provincial da Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas no município de Belas, em Luanda. Na altura, João Lourenço reiterou a necessidade de “garantir que os pensionistas inscritos e que já beneficiam das suas pensões não percam este direito conferido pelo Estado angolano e, de igual forma, de assegurar que outros possam beneficiar dele no futuro, sem
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grandes constrangimentos”. As pensões de reforma podem ser por velhice, quando o segurado tem a partir de 60 anos de idade (idade de reforma), conjugados com uma carreira contributiva corrida ou descontinuada. A idade pode ser menor caso o trabalhador já tenha 35 anos de tempo de serviço. Esse processo começa quando o funcionário é inscrito pela empresa no Instituto Nacional de Segurança Social. A outra forma estabelecida por lei para que alguém possa beneficiar deste apoio é a reforma antecipada, que funciona para o segurado com até 50 anos de idade e, pelo menos, 15 anos de trabalho efectivo
considerado desgastante ou penoso, como são os casos de trabalhadores de portos e aeroportos comerciais na movimentação de cargas, mineiros, electricistas de alta tensão e pintores à pistola. A outra forma de pensão é a reforma por abono de velhice dada aos trabalhadores impedidos pela idade de exercer a sua profissão. Esse tipo de pensão também obedece a algumas exigências, como estar desempregado, ter a partir de 60 anos e pelo menos 10 anos de contribuições seguidas ou interpoladas. O órgão do Estado que paga as pensões aos civis, o INSS, dita que o pensionista que estiver a receber as pensões por
velhice ou a reforma antecipada, ainda pode voltar a trabalhar e continuar a contribuir para a segurança social. Desta forma, acumula a prestação ao seu rendimento. O mesmo não acontece com o beneficiário do abono de velhice, considerando que um dos pressupostos para a sua recepção é estar desvinculado de qualquer actividade laboral remunerada. O INSS institui ainda que todas as formas de pensão sejam recebidas em forma de dinheiro, exclusivamente via BPC, e que o ordenado não seja inferior ao salário mínimo nacional definido para a respectiva actividade laboral. &
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JOÃO SANTOS, PCA DO GRUPO ZAHARA
“É PRECISO SER LUTADOR, ACREDITAR NOS PROJECTOS, ESTABELECER METAS E PROCURAR ATINGI-LAS”
MÁXIMA DE GESTÃO Trabalho, resiliência, vontade de fazer mais e melhor
CARREIRA /CURRICULUM VITAE: João Santos, 38 anos, é economista de formação. Acumula uma experiência de 16 anos no sector. Começou a trabalhar na área da distribuição com 22 anos, no grupo francês Auchan. Começou como chefe de secção e foi progredindo na carreira. Ao longo destes 16 anos, percorreu todos os cargos existentes numa cadeia de distribuição, até chegar a Presidente do Conselho de Administração do maior grupo de distribuição de Angola, o grupo Zahara, cargo que exerce actualmente. &
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ECONOMIA E MERCADO (E&M) – Qual é a receita para ser um bom gestor, principalmente numa conjectura económica como aquela em que nos encontramos? JOÃO SANTOS (JS) – É preciso trabalho, superar os obstáculos e ter vontade de fazer mais e melhor. Numa conjuntura económica como aquela em que nos encontramos, o bom líder deve ter capacidade de análise e adaptação, e posicionar rapidamente a empresa para enfrentar os momentos menos e mais favoráveis. É preciso ser lutador, acreditar nos projectos, estabelecer metas e procurar atingi-las de forma honesta, transparente e, sobretudo, confiar na equipa e prestar um bom serviço aos clientes e parceiros. E&M - Quantas empresas já geriu ao longo do seu percurso profissional? JS - Numa cadeia como o grupo Zahara, por exemplo, todos os dias gerimos 35 empresas, já que cada uma das áreas de negócio constitui uma empresa. Então, nessa lógica, fazendo bem as contas, já geri mais de 50 empresas na minha curta história profissional. E&M - Que significado atribui ao prémio de melhor gestor atribuído pela Deloitte? JS - É o reconhecimento de um trabalho. Como nunca se trabalha sozinho, atrás de mim há uma grande equipa, o prémio é para todo o staff que trabalha comigo. E&M - Que projectos tem em carteira para 2016? JS - Em 2016, vamos manter a tendência dos últimos cinco anos. Começámos com o Kero, já temos mais sete empresas dentro do grupo Zahara e, obviamente, sempre que houver oportunidades de mercado, vamos investir e fazer surgir novos projectos. E&M - O que se pode esperar da parceria com o Nosso Super? JS - O Kero passa a gerir a cadeia Nosso Super a partir do mês em curso. O que vamos fazer é multiplicar pelas restantes 16 províncias aquilo que fazemos em duas. O nosso objectivo é, até ao final do primeiro trimestre deste ano, o Kero estar presente na Huíla e em zonas onde o Nosso Super está presente e o Kero não.
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RESERVA DO COMENDADOR O Reserva do Comendador Tinto 2011, da Adega Mayor, faz-nos lembrar uma das célebres frases do pensador Cícero: “Os vinhos são como os homens. Com o tempo, os maus azedam e os bons apuram”. Felizmente, para o caso deste vinho, ele apura-se à medida que envelhece, ganhando uma personalidade distinta. Provámo-lo no quarto e último jantar do “Clube Vinhos de Portugal” - composto por profissionais angolanos da comunicação social e gastronomia -, cuja ementa, composta por carpaccio de garoupa, lombinhos de cherne com risotto de espargos e o tornedó com molho 4 pimentas, foi acompanha por outros néctares, mas é especificamente do Reserva do Comendador Tinto que vamos falar. Desenhado a partir das castas Alicante Bouschet, Syrah e Touriga Nacional, o Reserva do Comendador Tinto estagia 18 meses em barricas novas de carvalho francês e um ano em garrafa. E nasce de um lugar especial, as planícies de Campo Maior, onde “crescem as vinhas que dão origem a vinhos de carácter fresco e marcante”, de acordo com a descrição da adega Mayor. De cor granada, o Reserva do Comendador é de aroma intenso, silvestre e com notas de cereja preta. Este vinho
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tem ainda um paladar encorpado, taninos maduros, e um final longo e persistente, além de ter um grande potencial de envelhecimento. É dos que se apuram com o tempo, lembre-se. O Reserva do Comendador pode ser acompanhado, de forma elegante e refinada, por uma selecção de queijos fortes e pratos de carne no forno. “Excelente harmonia com pratos de caça e/ou de aromas e sabores bem intensos e condimentados”, lê-se na sua ficha técnica. E porque não se trata de um vinho qualquer, os reconhecimentos não tardaram. Em Setembro de 2015, junto com o Pai Chão 2011, outro vinho da Adega Mayor, o Reserva do Comendador Tinto 2011 foi premiado com uma medalha de ouro no concurso Mundus Vini 2015 – Summer Tasting, decorrido na Alemanha. As duas marcas, distribuídas há cinco anos no mercado angolano pela Angonabeiro, receberam a distinção pela segunda vez consecutiva, o que reforça o reconhecimento da qualidade do seu produtor. O Reserva do Comendador está disponível nos principais espaços comerciais do país, nomeadamente, nas lojas Maxi, KERO, Deskontão, Mega e Shoprite, ao preço recomendado de 6 776 kwanzas. &
“EXPERIÊNCIA VINHOS DE PORTUGAL” PARA PROFISSIONAIS HORECA Na segunda quinzena de Novembro de 2015, aconteceu em Luanda a “Experiência Vinhos de Portugal”, uma formação destinada aos profissionais de hotelaria, restauração e retalho, que teve como objectivo contribuir para a criação de competências e aumento do conhecimento no sector sobre os vinhos portugueses. Numa lógica de workshop, o evento decorreu a 18 de Novembro no Moments Corporate, e contou com a presença de mais de 40 profissionais. “Com este workshop, os Vinhos de Portugal quiseram sedimentar o trabalho que têm vindo a fazer no mercado ao longo do ano. Além de eventos de relações públicas e da Grande Prova Anual, onde os vinhos são dados a provar de forma informal e lúdica, era importante acrescentar uma vertente pedagógica, formativa e dar aos profissionais angolanos bases de conhecimento para escolher, servir e provar um bom vinho”, explica Luís Lopes, formador da ViniPortugal, que guiou o workshop.
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LUANDA GANHA MAIS SETE SALAS DE CINEMA
FOTÓGRAFO DA EDICENTER COLECCIONA PRÉMIOS O fotógrafo da Edicenter Publicações, Carlos Aguiar, foi distinguido recentemente pelo Instituto de Fomento Turístico, instituição afecta ao Ministério do Turismo, com o prémio Maravilhas de Angola, por ter ficado em primeiro lugar no concurso que reconhece a melhor fotografia de belezas naturais do nosso país. A foto premiada mostra um novo ângulo da Serra da Leba, na Huíla. No princípio do ano em curso, Carlos Aguiar venceu também o Concurso Fotográfico África 2015 na categoria Cidades, realizado pela Agility, empresa que promoveu a competição. A foto premiada pela Agility mostra uma cidade de Luanda que se esforça por avançar, segundo a própria legenda da imagem. A Agility queria que os concorrentes captassem uma África em crescimento, com conhecimentos técnicos, consumidores jovens, a rápida urbanização e as perspectivas económicas a longo prazo. As imagens vencedoras foram seleccionadas entre as mais de 700 fotografias apresentadas por fotógrafos de 33 países. O concurso foi avaliado por um júri independente composto por Sneha Shah, directora administrativa da Thomson Reuters Africa; Bronwyn Nielsen, editor chefe da CNBC Africa; e o conhecido artista do Gana, o professor Ablade Glove. &
O Cinemax, rede de cinemas multiplex, é a nova atracção do recém aberto Xyami Shopping Nova Vida. Conta com sete salas, todas equipadas com projecção digital e tecnologia 3D e com a última tecnologia de som dolby surround 7.1, tornando-se num espaço ideal de lazer para o fim-de-semana. Os preços das sessões cinematográficas vão dos 750 kwanzas, para filmes infantis, aos dois mil kwanzas, para filmes para adultos. O Cinemax no Xyami Shopping dispõe também de uma sala VIP com acesso a um bar exclusivo para que os clientes possam desfrutar dos filmes e de um atendimento personalizado, com conforto e qualidade. O Cinemax apresenta-se aos amantes do cinema como alternativa de qualidade, exclusividade e tecnologia ao mais alto nível. &
IDEIA TRAZ “ACÇÕES PARA A QUALIDADE” O Instituto de Desenvolvimento Educacional Internacional de Angola, em parceria com a Escola Nacional de Administração (ENAD), promoveu recentemente o lançamento do livro “Acções para a Qualidade” da autoria do Professor Dr. Marcus Vinícius Rodrigues. A obra faz uma abordagem técnica que visa a formação integral e complementar de administradores, pesquisadores, gerentes e estudantes. De forma clara e objectiva, o autor fala sobre a utilização adequada e eficaz de ferramentas, técnicas, programas e métodos para quem procura a excelência profissional. &
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AO VOLANTE
RESISTENTE E ECONÓMICO
Resistência e economia de combustível são duas características que descrevem muito bem o Renault Sandero, modelo 2015, e o valorizam diante dos seus principais concorrentes, que até podem ser mais atractivos em termos de design ou interactividade com o condutor, mas não o superam nas condições físicas menos favoráveis a que os carros são expostos em Angola. Aliás, o tempo chuvoso em que nos encontramos é uma boa altura para se fazer a prova dos nove. E não é de estranhar que factores como a sua motorização – 1.2, 16 válvulas e 75 cavalos –, consumo médio de combustível, bem como o custo médio de manutenção (relação custo/benefício), o tornem, como o Logan, no automóvel líder de vendas na TDA. Foram mais de 700 unidades vendidas o ano passado. Na versão básica, faróis dianteiros diurnos e faróis com óptica dupla e máscara preta são os principais componentes exteriores
que cativam os nossos olhares quando cruzamos com o Sandero, mas o seu interior reserva-nos outras comodidades, embora não exclusivas. O veículo dispõe de airbags para o condutor e passageiro, direcção assistida, rádio leitor de CD, um alerta de esquecimento da colocação do cinto de segurança e três apoios de cabeça nos bancos traseiros. Mas voltando ao seu exterior, os retrovisores – é pena que sejam manuais – não destoam da cor da carroçaria e dispõem de luzes de indicação de mudança de direcção. Apesar de não ser um carro de caixa automática, algo que se vai tornando preferencial entre os consumidores angolanos, a existência de alguns comandos proporcionam mais interactividade entre o automobilista e o veículo. Por exemplo, os comandos do rádio estão dispostos no volante que, por sua vez, é regulável em altura, mas o ar condicionado é manual. Já
os elevadores de vidros dianteiros, dispostos nos painéis das portas, são eléctricos. Entretanto, na versão “Authentique +”, o Sandero traz ABS com repartidor electrónico de travagem, elevadores de vidro com função impulsional do lado do condutor, elevador electrónico de vidros traseiros, banco do condutor regulável em altura, retrovisores exteriores eléctricos, com sistema de desembaciamento, faróis de nevoeiro, assim como banco traseiro com encosto rebatível 1/3-2/3 e computador de bordo. Num ano em que se perspectiva que a conjuntura económica do país não apresente grandes melhorias, a compra de um carro económico como o Sandero, mas que também resista às péssimas condições das nossas estradas, pode ser uma “manobra” segura e acertada. Fica aqui a dica. &
Sebastião Vemba
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| REMATE
OUVIR A EXPERIÊNCIA Comemorámos os 40 Anos da Independência Nacional debaixo de uma séria crise económico-financeira provocada pela baixa abrupta do preço do petróleo, a nossa quase única fonte de exportação e da qual estamos claramente dependentes.
Nuno Fernandes Jornalista Presidente do Conselho Executivo Grupo Executive
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Vivemos anos em que o preço do crude nos a dependência alimentar, criam emprego e proporcionava receitas fiscais de elevado valor mercado. A norte e a leste do nosso país, temos que, infelizmente, não foram aplicadas na um mercado de mais de 150 milhões de almas. economia reprodutiva de forma assertiva. Será, Já fomos a segunda potência agrícola de África de todo, injusto dizer que esse dinheiro público e fomos auto-suficientes nas pescas. É preciso não foi empregue em escolas, na recuperação revisitar os processos que nos conduziram, no e construção de estradas e pontes, aeroportos e passado, a essa situação e percebermos o que portos, hospitais, na recuperação e construção de temos de fazer. barragens hidroeléctricas, enfim, há por aí obra Há já uma experiência que ditou claros suficiente onde assistimos à aplicação de parte resultados que permitiram um interessante desse dinheiro. grau de industrialização da nossa economia. Mas todos sabemos que Existem no país quadros uma outra parte, muito que vivenciaram e considerável por sinal, não foram activos nessas A NORTE E A LESTE DO conheceu a melhor aplicação. experiências. Precisamos NOSSO PAÍS, TEMOS UM O dinheiro saiu da banca da sua memória e do MERCADO DE MAIS DE sem que se garantisse a seu contributo para 150 MILHÕES DE ALMAS. viabilidade dos projectos, que gizarmos uma estratégia JÁ FOMOS A SEGUNDA resultaram na contratação de médio a longo prazo. POTÊNCIA AGRÍCOLA DE desses financiamentos, e Oiçamo-los. Eles estão ÁFRICA E FOMOS AUTOos mecanismos de retorno. aí e outros poderão, -SUFICIENTES NAS PESCAS. Possibilitou-se a formação estando fora, estar de uma elite financeira que, disponíveis para o fazer. É PRECISO REVISITAR OS não tendo cuidado da melhor O programa agrícola PROCESSOS QUE NOS maneira da sua renda, está denominado Extensão CONDUZIRAM, NO PASSADO, agora exposta às intempéries Rural de Angola foi A ESSA SITUAÇÃO E da crise, constituindo-se eficaz e trouxe ao PERCEBERMOS O QUE também em factor de risco das país, ainda no tempo TEMOS DE FAZER. instituições financeiras que tal colonial, um estatuto situação proporcionaram. Os de produtor agrícola de tempos que se adivinham são, por conseguinte, referência. Penso que seria de toda a utilidade de enorme dificuldade e exigem-nos medidas perceber o que foi feito e como. Poderemos audazes, quer na gestão dos parcos recursos que evitar experiências desastrosas que, claramente, temos, quer nas estratégias que delinearmos para nos deixem mais depauperados. Os recursos o crescimento de uma economia não petrolífera. financeiros devem, doravante, ser cuidados Na ordem das prioridades deverão estar de outra maneira e aplicados em projectos de a agricultura e a pesca. Ambas diminuem criação clara de riqueza e bem-estar. &
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BIC 10 ANOS
TER MAIS DE 220 BALCÕES EM ANGOLA, É TER OUTRA DIMENSÃO.
Este é o momento. O momento que chegamos a 3 continentes e 5 países. E em que somos um Banco, mas também uma Seguradora. O momento em que já contamos com mais de 1 milhão de clientes. E em que temos mais de 220 balcões em todo o país e mais de 2000 trabalhadores. Por isso, chegou o momento de dizer: 10 anos depois, o Banco BIC tem outra dimensão.
www.bancobic.ao
FORAM PRECISAS MUITAS MÃOS PARA CONQUISTAR ESTES PRÉMIOS. BFA DISTINGUIDO COMO MELHOR EMPRESA DO ANO DO SECTOR FINANCEIRO E BANCO DO ANO EM ANGOLA. A excelência do BFA foi novamente reconhecida ao ser premiado pela terceira vez MELHOR EMPRESA DO ANO DO SECTOR FINANCEIRO, pela Delloite. Um prémio a que se soma o de MELHOR BANCO DE ANGOLA atribuído pelas revistas internacionais The Banker e Euromoney. Estes prémios são o resultado do desempenho e excelência de todos os nossos colaboradores e, também, da confiança que os clientes depositam em nós.