Economia & Mercado 137

Page 1

FEVEREIRO 2016 ANO 19 Nº 137 PREÇO 800Kz

QUALIDADE DE VIDA VERSUS CRISE

UMA EQUAÇÃO DIFÍCIL DE RESOLVER O IMPACTO DA SUBIDA DOS COMBUSTÍVEIS Indústrias “a gerador” precipitam subida de preços

CUNENE

EM FOCO

ENTREVISTA

OPINIÃO

A água não mata a fome

Poltec, uma aposta certa em tempo de crise

Carlos Figueiredo, engenheiro agrónomo e membro da Assembleia Geral da ADRA

Fernando Pacheco José Gualberto Matos


NOVOS PACOTES DE DADOS EMPRESARIAIS

O DOBRO DA INTERNET PARA O SEU NEGÓCIO


FEVEREIRO 2016 WWW.ECONOMIAEMERCADO.SAPO.AO

22 INDÚSTRIAS “A GERADOR” PRECIPITAM SUBIDA DE PREÇOS As alterações na política de subvenção aos combustíveis podem implicar um aumento dos custos de produção das indústrias angolanas que funcionam à base de fontes alternativas de geração de energia, condição sine qua non para assegurar a produção. Segundo o Ministério da Indústria, 19% das indústrias nacionais dependem exclusivamente de geradores. Estas já começaram a incluir o custo do combustível nos seus produtos acabados.

26 ALTA FACTURA PARA O PLANO LUANDA 2030 O Plano Director Metropolitano de Luanda será implementado em 15 anos divididos em quatro fases, compreendendo três etapas de cinco anos cada, até 2030, e um estágio subsequente. A informação foi avançada, em Dezembro transacto, pela responsável da empresa coordenadora do projecto, Urbinveste, durante a apresentação pública do mapa de ordenamento do crescimento e mudança da capital. Entretanto, Isabel dos Santos avisa: “A factura do projecto é alta e o trabalho é longo. Falamos em 15 anos, mas de certeza que o trabalho não acabará por aí e poderá chegar aos 20 ou 30 anos”.

RADAR 6 CÂMARA LIVRE 10 CONTRAPONTO 13 IPSIS VERBIS 14 CARTOON

OPINIÃO 12 FERNANDO PACHECO 15 JUSTINO PINTO DE ANDRADE

MACRO 18 PECUÁRIA 22 AUMENTO DO CUSTO DOS COMBUSTÍVEIS 26 PLANO LUANDA

OPINIÃO 28 J. G. MATOS 29 NÚMEROS EM CONTA

56 A ÁGUA NÃO MATA A FOME No princípio de Janeiro, a província do Cunene registou as primeiras chuvas depois de um longo período de seca que afectou a região, mas a população continua a enfrentar condições precárias, que vão desde a falta de alimentos à ausência de saneamento básico. Nesse mesmo período, uma comitiva liderada pelo Secretário de Estado do Interior para a Protecção Civil e Bombeiros, Eugénio Laborinho, visitou as zonas assoladas para constatar a realidade. Até ao fecho desta edição, o resultado da visita não tinha sido apresentado, porém, sabe-se que, pelo menos, 755 mil famílias foram afectadas. A Economia & Mercado visitou algumas das comunidades, incluindo a comuna de Ombala Yo Mungo, onde a seca foi mais crítica, e ouviu as lamentações das famílias, que se sentem aliviadas com o início das chuvas mas, ao mesmo tempo, lamentam porque falta-lhes quase tudo.

CAPA 30 DESENVOLVIMENTO HUMANO 44 ENTREVISTA

EM FOCO 48 POLTEC

PAÍS 56 CUNENE 59 NOTÍCIAS

LÁ FORA 60 PETRÓLEO EM 2016 63 NOTÍCIAS

30 LONGA CAMINHADA EM TERRENO ESPINHOSO (IDH), em particular no período de 2000 a 2010, crescendo a uma média anual de 2,7%, embora ainda continue no grupo dos países com baixo desenvolvimento humano. A esperança média de vida aumentou para 52 anos (2014), no entanto, mantemo-nos na posição 149, com 0,532, o quinto na categoria dos menos desenvolvidos, a seguir ao Quénia, Nepal, Paquistão e Myanmar, mas estamos perto dos limites de acesso ao grupo dos países de médio desenvolvimento humano. Entretanto, diante do actual cenário económico e social que o país enfrenta, até que ponto terá Angola condições para continuar a fazer avanços, melhorando as condições infra-estruturais, mas também, e essencialmente, a qualidade de vida da população, promovendo a capacitação humana? Em muitos casos, os analistas que consultámos dividem-se nas respostas mas o certo é que o caminho que o país tem pela frente ainda é longo e o terreno espinhoso, não só devido à crise mas também a uma dúbia selecção de prioridades enquanto houve mais recursos.

EMPRESAS 64 HABITEC

MERCADO E FINANÇAS 68 MERCADO DE DÍVIDA CORPORATIVA

SOCIEDADE 72 LIXO HOSPITALAR 76 FIGURA DO MÊS

LAZER 78 VINHOS 80 NOTÍCIAS 81 AO VOLANTE

REMATE 82 NUNO FERNANDES


FAÇA UMA PAUSA. VENHA CONHECER A NAMÍBIA!

VOOS DIÁRIOS

COM CONFORTO, SEGURANÇA E QUALIDADE A BORDO DA AIR NAMIBIA.

airnamibia.com

Morada / Address: Rua Kwamme Nkrumah nº 88, Maianga

LUANDA

Luanda Town Office: (+ 244) 222 336 726 / 338 423 Luanda Airport: (+ 244) 923 595 698 / Fax: (+ 244) 222 335 293 Email: angola@airnamibia.aero / callcentre@airnamibia.aero Call Center: (+ 244) 612 996 111


EDITORIAL | 5

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

O REPTO AGORA É PRESERVAR Quingila Hebo

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Angola foi avaliado pela positiva pela Organização das Nações Unidas no relatório divulgado no fim do ano passado. A expectativa de vida dos angolanos em 2011, nove anos após o alcance da paz, era de 41 anos para as mulheres e 39 anos para os homens. Em 2014, três anos depois, a nossa expectativa de vida passou para 53 anos para as mulheres e 50 anos para os homens. O índice de escolaridade agora é de 11 anos e o PIB per capita é de 6 822 dólares. Embora estejamos na posição 149 entre 188 países classificados e ainda no grupo de Baixo Desenvolvimento Humano, estes indicadores provam o surgimento de uma classe média angolana emergente, o desafio agora é mantê-la e não deixar que o actual contexto macroeconómico recue o nível de vida que alguns já atingiram. Porém, na edição deste mês trazemos à ribalta o que pensam alguns actores da vida social angolana e o que estes crêem que se pode fazer, apesar da crise, para que se mantenha e se aumente o IDH dos angolanos. Os desafios são vários, alguns bem conhecidos entre nós e só não serão exequíveis se houver falta de vontade. A partir da página 26, vai poder também conhecer a factura que teremos que pagar pela requalificação de

EMBORA ESTEJAMOS NA POSIÇÃO 149 ENTRE 188 PAÍSES CLASSIFICADOS E AINDA NO GRUPO DE BAIXO DESENVOLVIMENTO HUMANO, ESTES INDICADORES PROVAM O SURGIMENTO DE UMA CLASSE MÉDIA ANGOLANA EMERGENTE, O DESAFIO AGORA É MANTÊ-LA E NÃO DEIXAR QUE O ACTUAL CONTEXTO MACROECONÓMICO RECUE O NÍVEL DE VIDA QUE ALGUNS JÁ ATINGIRAM.

Luanda, que se promete moderna e mais funcional em 2030, bem como saber como a pecuária pretende estar na linha da frente no processo de diversificação da economia. Fomos ao Cunene, que concentra grande parte do efectivo pecuário, para constatar in loco os estragos da seca, um dos desafios que a natureza coloca ao Executivo para zelar pelo bem-estar da população de norte a sul e do leste ao oeste do país. &

Propriedade Edicenter Publicações, Lda Directora Editorial Ana Filipa Amaro Director Sebastião Vemba - sebastiao.vemba@economiaemercado.com SubEditor Quingila Hebo - quingila.hebo@economiaemercado.com Copy Desk Patrícia Pinto da Cruz - patricia.cruz@edicenter-angola.com Conselho Editorial Laurinda Hoygaard; Justino Pinto de Andrade; José Matos; Fernando Pacheco; José Severino Redacção António Piçarra - antonio.picarra@edicenter-angola. com; Edjaíl dos Santos - edjail.santos@economiaemercado.com; Jacinto Malungo - jacinto.malungo@edicenter-angola.com; José Pedro Correia - josecorreia. edicenter@gmail.com Colaboradores Bruno Faria Lopes; Fernando Pacheco; José Matos; Justino Pinto de Andrade; Luís Lopes; Nuno Fernandes Vasco Célio (Editor); Afonso Francisco - afonsofrancisco.edicenter@gmail.com; Carlos Aguiar - carlosdaguiar.edicenter@gmail.com; Isidoro Felismina isidorosuka@gmail.com Design Ana Nascimento – Executive Paginação Fernando Dias - fernandodias@edicenter-angola.com; Pedro Soares - psoares. estudio@iona.pt Capa Executive Publicidade geral@edicenter-angola.com Secretariado Aida Chimene Redacção Smart Village Talatona - Zona CS1- Via AL 19A Talatona, Luanda - Angola Tel.: (244) 222 006 029 Fax: (244) 222 006 032, geral@economiaemercado.com Administração e Publicidade Smart Village Talatona - Zona CS1- Via AL 19A Talatona, Luanda - Angola Tel. (244) 222 011 866 / 867 Fax: (244) 222 006 032 edicenterlda@gmail.com Delegação em Lisboa Iona - Comunicação e Marketing, Lda R. Filipe Folque, 10 J - 2º Dir. - 1050-113 Lisboa Tel. (351) 213 813 566/7/8 Fax: (351) 213 813 569 iona@iona.pt Impressão e Acabamento Tiragem 5.000 exemplares Angola - Registo Nº 249/B/99

Distribuição Edicenter - Tel: (244) 222 011 866 / 867, Media Nova Distribuição, Greeline, Africana


6

| RADAR

CÂMARA LIVRE CARLOS AGUIAR


www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

O CAIXA ANGOLA FAZ PARTE DE UM GRUPO QUE FAZ PARTE DO MUNDO. O Grupo Caixa Geral de Depósitos está presente em 23 países e 4 continentes. O Banco Caixa Totta mudou. Agora é Caixa Angola. Com um novo nome e uma nova imagem, mas com a mesma equipa de especialistas Depósitos está presente em 23 países e 4 continentes. Seja bem-vindo ao Caixa Angola. O seu Banco de sempre.

www.caixaangola.ao Linha Caixadirecta Angola 24H +244 226 424 424


8

| RADAR

PRODUTORES DE DIAMANTES REDUZEM OFERTA Os países produtores de diamantes, incluindo Angola, pretendem baixar a quantidade de diamantes disponível no mercado. Esta medida é parte de uma estratégia que visa o aumento da procura e do preço da pedra preciosa. De acordo com o presidente do Conselho de Administração da Endiama, Carlos Sumbula, citado pela Angop, será lançada em Maio próximo uma campanha de publicidade para galvanizar esta nova medida nos países produtores de diamantes. O responsável da Endiama, que falava por ocasião do 35º aniversário da concessionária angolana, revelou que será uma empresa localizada em Las Vegas, EUA, a tratar da publicidade. Carlos Sumbula adiantou, por outro lado, que a Endiama vai intensificar a prospecção de novos jazigos em

colaboração com o grupo russo Alrosa e outros parceiros, atendendo ao facto de que os quimberlitos já conhecidos representam apenas cerca de 10% do que se pensa existir em Angola. Entretanto, o ministro da Geologia e Minas, Francisco Queirós, prevê que dentro de cinco a 10 anos o sector diamantífero vai contribuir mais para o Produto Interno Bruto. Intervindo, igualmente, na cerimónia dos 35 anos da Endiama, Francisco Queirós reconheceu que as receitas que este sector produz para o país ainda não são satisfatórias, existindo um longo caminho a percorrer. Estima-se que neste ano de 2016 a produção de diamantes registe um aumento de quase 9 milhões de quilates, contra os 8,837 milhões de quilates produzidos em 2015. &


www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016


10

| RADAR

CONTRAPONTO

O (DES)GOVERNO DE LUANDA A PRÁTICA MOSTRA-NOS, INFELIZMENTE, QUE POR ESTAS BANDAS MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE OS GOVERNADORES, MAS OS PROBLEMAS CONTINUAM IGUAIS.

A recente nomeação de Higino Carneiro para Governador de Luanda foi um dos assuntos mais debatidos no princípio deste ano, em função não só de alguma boa fama que esta Angola ostenta, no diz respeito a enfrentar também da suspeita de que esta mexida no xadrez governativo da cidade capital angolana venha a ser, infelizmente, mais do mesmo, ou seja, um cenário em que os governadores são da província é feita mais a nível central, com um amontoado de comissões administrativas à mistura. No entanto, parece que Higino Carneiro sendo que já anunciou as prioridades para o seu mandato, que são o reforço da segurança e a limpeza urbana, além da “necessidade urgente” de executar o novo Plano Director Geral Metropolitano, e mandou um “recado” aos actualmente, e sentir “nos próximos tempos alguma satisfação dos cidadãos”. Tratando-se de um mandato que acaba de começar, o normal seria renovarmos a esperança de ver alguns problemas críticos resolvidos. Porém, olhando para o facto de, nos últimos dez anos, por exemplo, Luanda ter tido cinco governadores que encontraram e deixaram

Sebastião Vemba

dúvidas se desta vez é para valer ou não. A prática mostra-nos, infelizmente, que por estas bandas mudam-se os tempos, mudam-se os governadores, mas os problemas continuam iguais. Luanda, assim como as demais províncias,

ainda vive de promessas. A cada ano são anunciados programas sociais que visam melhorar as condições de vida dos seus em obras concretas que solucionem os problemas críticos com que vivemos. Desde quando ouvimos que estão em curso obras estruturantes, ao nível dos municípios de Luanda, com o objectivo de reestruturar, por exemplo, as vias secundárias e terciárias, do trânsito automóvel na cidade? Só para citar alguns, Francisca do Espírito Santo, a “Tia Xica”, como era chamada, teve este discurso, Job Capapinha adoptou a mesma abordagem e Bento Bento também apresentou o mesmo discurso, mas este problema persiste. Quem acha que ele já foi resolvido, convido-o a visitar o Kilamba Kiaxi, nomeadamente o bairro do Golf; o Cazenga, onde o lixo invade até as moradias; o Sambizanga e Viana, com as ruas lamacentas e inundadas de águas pútridas… Em suma, e voltando às interferências na gestão da cidade, o excesso de comissões administrativas, subordinadas muitas vezes ao Governo central em vez de ao local, retira algum poder ao Governo da província. Sendo assim, mais do que mexer no xadrez governativo da capital, ou mesmo de outras províncias, assistindo-se regularmente a um jogo de cadeiras pouco animado, repetitivo e mesmo desnecessário, é urgente (re)pensar os modelos de gestão, autónomos ou não, que permitam saneamento básico, ruas esburacadas, falta de energia eléctrica e água potável, ocupação desordenada dos terrenos, delinquência, entre outros males que denunciam o desgoverno das nossas cidades. &


RADAR | 11

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

STANDARD BANK ANGOLA LIMITA TRANSACÇÕES COM O VISA GOLD Desde o dia 21 de Janeiro que quem tem o cartão Visa Gold do Standard Bank de Angola não pode fazer transacções mensais no estrangeiro acima dos 80 mil kwanzas (504 dólares). A medida foi comunicada pelo banco via carta, segundo a Bloomberg. das “condições que prevalecem no mercado angolano em relação à disponibilidade e execução de operações cambiais". &

MILLENNIUM ANGOLA FOI PREMIADO

CORTES NA BP AFECTAM ANGOLA O jornal britânico Financial Times (FT) noticiou que a BP vai despedir, pelo menos, quatro mil trabalhadores em todo o mundo nos próximos dois anos por causa da fraca cotação do barril do petróleo. Segundo o porta-voz do grupo petrolífero Angola vão ser afectadas neste âmbito. O porta-voz da petrolífera revelou que os cortes vão afectar empregados e agências de emprego, e vão reduzir o número de empregados no negócio da perfuração em 17%, para menos de 20 mil, e afectar as operações no Azerbaijão, Angola e no Golfo do México. “Isto tem a ver com a necessidade que temos de ser mais competitivos e de reconhecer o ambiente de negócio cada jornal. &

O banco Millennium Angola recebeu a distinção “Best Internet Banking Angola 2015”, atribuída pela Global Ranking & Finance Review, um dos principais portais Em comunicado, o galardoado sublinha que conseguiu destacar-se entre os outros bancos devido à qualidade e à facilidade de acesso e à segurança que os seus serviços apresentam ao nível dos canais remotos, em especial o serviço inovador “Paga Fácil”, que torna mais próxima a relação com os clientes. De acordo com a nota do banco, este serviço torna mais fácil o acesso às contas e permite realizar operações/ transacções a qualquer hora e em qualquer lugar, através do Internet Banking, SMS Banking, Mobile Banking e Contact Center. &


12

| RADAR

DESENVOLVIMENTO HUMANO, DESIGUALDADE E PRECARIEDADE Os dados constantes dos últimos Relatórios das Nações Unidas sobre a matéria mostram que o nível de desenvolvimento humano mundial tem vindo a aumentar de modo global, graças, sobretudo, aos avanços na tecnologia, na educação e nos rendimentos, o que pressagia vidas mais saudáveis, mais seguras e mais longas.

A MAIORIA DOS ANGOLANOS VIVE EM CONDIÇÕES PRECÁRIAS, O QUE É EXPLICADO PELA HISTÓRIA, PELA CULTURA, POR POLÍTICAS DESAJUSTADAS E PELA GUERRA. NESSA CIRCUNSTÂNCIA, AS PESSOAS PROCURAM SOLUÇÕES QUE LHES GARANTAM SEGURANÇA. FAZER COMO FAZIA O MEU PAI E O MEU AVÔ É MAIS SEGURO DO QUE FAZER COMO DIZ UM “AGENTE DE DESENVOLVIMENTO”, SEJA DE QUE NÍVEL FOR, OU O PRÓPRIO ESTADO, OU UM PARTIDO POLÍTICO.

Fernando Pacheco Engenheiro agrónomo

Contudo, regista-se, ao mesmo tempo e de modo generalizado, uma desaceleração no ritmo de crescimento económico, marcado sobretudo por um progresso muito irregular. Por outro lado, o Relatório relativo a 2014 referia que os países que apresentam um nível de desenvolvimento humano mais baixo pareciam estar a progredir a um ritmo mais acelerado, o que poderia indicar que a distância que separa os países com maior índice de desenvolvimento humano dos com menor está a reduzir. Este paradoxo pode ser explicado pelo aumento do nível de precariedade no mundo, tanto no que diz respeito aos meios de subsistência, como à segurança pessoal, ao ambiente e ao contexto político. Em situações de precariedade, as pessoas e, por abrangência, as sociedades e os Estados, optam por soluções mais conservadoras, visando a sobrevivência e a segurança individuais e de grupo. Ao meditar nos problemas mundiais contemporâneos, sou obrigado a concluir que a precariedade tem de ser encarada na perspectiva das desigualdades. De acordo com um relatório da Oxfam divulgado em 2015, a questão da concentração da riqueza no mundo tem vindo a piorar, prevendo-se que, a manter-se o ritmo actual, em 2016 a riqueza concentrada por 1% da população mundial vai ultrapassar a dos restantes 99%, o que não pressagia nada de bom. Por seu lado, o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2006 do Banco Mundial, referia que os diferentes tipos de desigualdades (políticas, económicas e socioculturais) interagem entre si e isso modela as instituições e as regras da sociedade; que o funcionamento das instituições afecta as oportunidades e a capacidade de prosperar das pessoas; e que a desigualdade de oportunidades económicas reforça o poder político desigual, e este modela instituições e políticas que bloqueiam a mobilidade social, pois tendem a promover a persistência das condições iniciais.

Tudo isto se aplica, com maior ou menor frequência, ao caso angolano. Aplica-se, e trata-se apenas de um exemplo, ao relatado pelo investigador Paulo Filipe, que se dedica a estudos de nutrição, sobre o facto de em Angola, há muito poucos anos, haver cada três crianças a sofrer de mal nutrição crónica, o que afecta os níveis de consumo de microelementos. Ora, tal facto põe em causa a sua capacidade de aprender matemática e física. Tais crianças não terão as mesmas condições de partida, nem as mesmas oportunidades que terão as da mesma idade que são alimentadas e nutridas de modo mais correcto. Daí a pertinência de uma citação do Papa Francisco no Gáudio do Evangelho: “Enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos as causas estruturais da desigualdade social, não se problema algum. A desigualdade é a raiz dos males sociais”. A maioria dos angolanos vive em condições precárias, o que é explicado pela história, pela cultura, por políticas desajustadas e pela guerra. Nessa circunstância, as pessoas procuram soluções que lhes garantam segurança. Fazer como fazia o meu pai e o meu avô é mais seguro do que fazer como diz um “agente de desenvolvimento”, seja de que nível for, ou o próprio Estado, ou um partido político. Ainda que ocorram aceitações tácitas, o que perdura é a opção de “jogar pelo seguro”, o que revela sensatez e inteligência. Daí que as mudanças sugeridas pelos modelos dominantes precisem de tempo para cidadãos. As políticas públicas que visem a redução das igualdades não podem deixar de ter isto em conta. Desse modo, os progressos no desenvolvimento humano serão mais consistentes e mais sustentáveis. &


RADAR | 13

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

IPSIS VERBIS REGINALDO SILVA, JORNALISTA IN REDE ANGOLA.

Cupão de assinatura E&M.pdf

O ESTADO NÃO É NENHUMA GRANDE EMPRESA DE DIREITO COMUM QUE ANDA À PROCURA DE TOSTÕES PARA DISTRIBUIR MAIS RENDIMENTOS ENTRE OS SEUS SÓCIOS. AS RECEITAS QUE O ESTADO ARRECADA SÃO PARA SER DIVIDIDAS POR TODOS OS CIDADÃOS ATRAVÉS DA CRIAÇÃO DE CONDIÇÕES QUE PERMITAM QUE O PAÍS SE DESENVOLVA INTEGRALMENTE, EVITANDO, ANTES DE MAIS, AS CONVULSÕES SOCIAIS E AS RUPTURAS POLÍTICAS VIOLENTAS.

1

13/11/15

16:25


14

| RADAR

CARTOON SÉRGIO PIÇARRA


RADAR | 15

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

A LUTA PELO CONTROLO DO BFA O Banco Central Europeu decidiu não incluir Angola e Moçambique na lista de países terceiros com regulamentação e supervisão equivalentes às da União Europeia, obrigando, assim, o Banco Português de Investimento (BPI) a ter que cuidar da sua exposição a estes países. Por esse facto, o BPI partiu para a negociação de um novo acordo com o seu parceiro angolano no Banco de Fomento Angola (BFA) – onde detém 50,01% do capital –, e com o Banco Comercial e de Investimentos de Moçambique (BCI) – no qual detém 30% do capital social. Além dessas relações, o BPI detém ainda a totalidade do capital social do BPI Moçambique. VENDO OS NÚMEROS DA PROPOSTA DE CISÃO SIMPLES, E A DA UNITEL, DE ADQUIRIR MAIS 10% DO CAPITAL SOCIAL DO BFA, SUBTRAÍDO À PARCELA DETIDA ACTUALMENTE PELO BPI, CONSTATO QUE RESULTARIAM NUMA PERCENTAGEM PRATICAMENTE IDÊNTICA PARA A UNITEL: 59,99%, NO CASO DA AQUISIÇÃO DOS TAIS 10%; 59,49%, NA CISÃO SIMPLES, SEGUIDA DA CONSTITUIÇÃO DE UMA NOVA EMPRESA QUE PASSARIA A DETER O CAPITAL SOCIAL DO BPI NO BFA. Justino Pinto de Andrade Economista

A avaliação do Banco Central Europeu (BCE) relativamente às exposições decorreu, creio, do colapso do “Caso BES/BESA”, bancos intimamente ligados. Uma desobediência à orientação do BCE acarretaria a redução dos rácios de capital do BPI, tornando-o mais vulnerável e menos credível. O capital social do BFA é participado pela UNITEL em 49,99%. A venda de parte (ou da totalidade) do capital do BPI no BFA dependerá de um acordo entre os dois principais accionistas do BPI, nomeadamente, o CAIXABANK (dono de 44% do seu capital social) e Isabel dos Santos (através da SANTORO FINANCE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO), dona de 19% do capital social do BPI. A proposta avançada pelo BPI contém a constituição de uma nova empresa – a ser cotada na EuronextLisbon, com um capital social de 46 milhões de euros – para a qual se transfeririam as acções detidas pelo BPI no BFA (50,01%), assim como nos moçambicanos BCI (30%) e BPI Moçambique (100%), bem como os outros activos de suporte daquela unidade de negócio. As acções da nova empresa seriam passadas aos accionistas, na proporção das suas posições no BPI, uma engenharia capaz de libertar o BPI dos compromissos com os seus parceiros africanos, reduzindo, assim, a zero a sua exposição. Isabel dos Santos, empresária angolana e simultaneamente accionista do BFA, através da UNITEL (de que detém 25% do capital), e do BPI, por intermédio da Santoro Finance, recusou a proposta inicial do BPI, e manifestou

interesse em adquirir mais 10% do capital social do BFA – a subtrair, por compra, ao BPI, dando-lhe o controlo sobre 60% do BFA. A parte angolana avançou ainda mais duas alternativas para o problema do BFA: dispersão em bolsa de 30% do capital social do BFA – proposta recusada pelo BPI, por alegada falta de tempo para o desencadeamento da operação bolsista –; ou uma cisão, mas em moldes distintos dos avançados pelo BPI. Vendo os números da proposta de cisão simples, e a da UNITEL, de adquirir mais 10% do capital social do BFA, subtraído à parcela detida actualmente pelo BPI, constato que resultariam numa percentagem praticamente idêntica para a UNITEL: 59,99% no caso da aquisição dos tais 10%; 59,49% na cisão simples, seguida da constituição de uma nova empresa que passaria a deter o capital social do BPI no BFA. Existe aqui, porém, um importante elemento diferenciador: os 59,99% com que a UNITEL aquisição, limitá-la-ia ao BFA, enquanto os 59,49% decorrentes da cisão simples, tal como proposta pelo BPI, envolvê-la-ia também no capital social, quer do Banco Comercial e de Investimento de Moçambique – onde o BPI detém 30% do capital – quer no BPI de Moçambique – detido em 100% pelo BPI português. E, neste último caso, o BPI português cessaria a sua relação directa com a banca Banco Central Europeu. &


16

| RADAR

UTIP ASSINA CONTRATOS MILIONÁRIOS A Unidade Técnica de Investimentos Privados (UTIP), órgão que apoia o Executivo na avaliação e negociação de projectos de investimentos, assinou recentemente dois contratos num montante global de 45 milhões de dólares com investidores que actuam em sectores distintos da economia. Um dos contratos, avaliado em 30 milhões de dólares, foi assinado com o grupo privado Packgem, que vai na Zona Industrial do Kikuxi, em

Viana. A unidade Industrial entra em funcionamento dentro de 18 meses e terá uma capacidade instalada de produzir, anualmente, 686 milhões de embalagens e a impressão de 360 mil toneladas de papel. Contudo, importa realçar que 42,5% no pagamento dos impostos Industrial, sobre Aplicação de Capitais e da aquisição de terrenos e imóveis, durante seis anos. Segundo um comunicado à imprensa,

a fábrica pretende, no médio prazo, controlar 50% da quota de mercado. Entretanto, o grupo promete contratar 127 trabalhadores. A UTIP assinou também com a Nova Agrolíder um contrato avaliado em 15,1 milhões de dólares. A Nova Agrolíder vai investir na construção de uma fábrica para a transformação de hortofrutícolas, de lacticínios, carnes e similares, a ser erguida no município da Quibala, província do Kwanza Sul. &

PRODUZIR PARA NÃO IMPORTAR O director-geral do Instituto de Serviços Veterinários, António José, revela que estamos mais perto de atingir o equilíbrio no que diz respeito à produção de ovos. Actualmente, a produção nacional cobre 48% das necessidades recomendadas pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Segundo António José, a FAO recomenda que cada cidadão africano deve consumir, pelo menos, 70 ovos por ano, e em dois anos a produção nacional deverá ter a capacidade de garantir entre 60 a 70 ovos ao ano para cada angolano. “Está a haver uma grande expansão das empresas de produção de ovos e a meta é este ano o país produzir, pelo menos, 50 a 60% das necessidades. Dentro de dois anos, poderemos chegar a 80% daquilo que é recomendado pela FAO”, assegura, optimista, António José. Quanto à produção de frango, António José reconhece que o país está muito atrasados. A FAO recomenda que os habitantes da região austral de África, onde Angola se

situa, devem consumir um mínimo de sete quilos de frango por ano. “Estamos atrasados quanto à produção de frango. Esta depende muito da produção de milho em quantidade. Produzimos muito milho, mas é principalmente usado na dieta humana, em detrimento da animal. A nossa principal dieta alimentar inclui o funje, que pode ser de bombó ou de milho. Neste quesito, competimos com o animal e as espécies que dependem da produção de milho: a ave para a produção de ovos e para o abate, o porco e o homem”, reconhece António José. Apesar de reconhecer o atraso na produção de frango, o responsável avança que esta não é de todo inexistente. A fazenda Pérola do Kikuxi é pioneira no sector e produz cerca de 700 toneladas por mês. O projecto de Lukala, Kwanza Norte, também começou a produzir. A unidade instalou cerca de 19 mil bicos de abate, com previsão para alargar assim que aumentar a disponibilidade de milho. &

UNIÃO EUROPEIA FINANCIA PROJECTOS AGRO-PASTORIS EM ANGOLA O Fundo Europeu para o Desenvolvimento vai ajudar as comunidades angolanas afectadas pela seca investindo cerca de sete mil milhões de kwanzas. Esta instituição da União Europeia, segundo a Angop, vai alocar o dinheiro em dois projectos nas províncias da Huíla, Cunene, Benguela, Namibe e Huambo. Deste valor, de acordo com Matteo Tonini, quatro mil milhões de kwanzas serão investidos num projecto de segurança nutricional, que consiste na entrega de meios de produção agrícola, alimentos e medicamentos. Os outros três mil milhões serão empregues no projecto integrado de apoio às comunidades pastoris destas províncias, incluindo o Bié e o Kuando Kubango, com o propósito de fortalecer a capacidade em meios agro-pastoris e de gestão dos riscos relacionados com desastres naturais. &


Pague os impostos no BNI e ganhe mais tempo para si.

Se é um Grande Contribuinte, por ser uma empresa registada no Portal do Ministério das Finanças, agora pode pagar os seus impostos através do novo Serviço DLI do BNI. O pagamento dos seus impostos pode ser feito através do portal do BNI – www.bni.ao – por débito em conta. Se optar por pagar em numerário, dirija-se a um dos 98 balcões da Rede BNI. É automaticamente gerado um comprovativo da operação realizada. A seguir, basta aceder ao Portal do Contribuinte do Ministério das Finanças para obter o DAR, que comprova o pagamento do DLI. E depois, é um descanso. Dirija-se já a um balcão BNI e informe-se, ou vá a www.bni.ao e pague os seus impostos, sem filas, nem atrasos.

SERVIÇO PAGAMENTO DE IMPOSTOS www.bni.ao


18

| MACRO

PECUÁRIA

PRODUÇÃO NACIONAL LONGE DE SATISFAZER AS NECESSIDADES INTERNAS Quingila Hebo

Em 2014, Angola consumiu um total de 129,4 mil toneladas de carne bovina. Destas, apenas 27 mil toneladas (21%) foram de produção nacional. As restantes 102 mil toneladas (79%) foram importadas. Com o objectivo de alterar este quadro, o Executivo anunciou, em meados do ano passado, que iria investir 90,5 mil milhões de kwanzas até 2018 para impulsionar a actividade pecuária no país, com vista a aumentar a produção de carne bovina e reduzir as importações. No entanto, o médico veterinário Adriano Gomes, exímio conhecedor do sector pecuário do país, entende que, antes de se elaborar um programa como o que o Executivo está a levar a cabo, devia haver um levantamento sobre o sector, uma avaliação profunda que consultasse os criadores familiares para, junto destes, encontrar o melhor caminho para industrializar o sector, já que estes dominam 95% do efectivo pecuário do país.

O Ministério da Agricultura está a preparar o Censo Agro-pecuário para fazer um levantamento sobre o sector no país ao mesmo tempo que está a implementar o Programa Nacional de Produção de Carne, assente na importação de gado. As estimativas actuais apontam que Angola conta com 3,5 milhões de cabeças de gado bovino, sendo que 95% (3,3 milhões) está na posse de criadores familiares e apenas 5% (175 mil) está na posse de criadores empresariais. “Há criadores familiares que têm mais de 500 cabeças. Portanto, todo o efectivo pecuário está na posse das famílias do sul do país,

principalmente da Huíla e do Cunene, sem qualquer hipótese de ser cedido para abate, uma vez que algumas famílias só criam para a ostentação”, revela o director-geral do Instituto dos Serviços de Veterinária, António José “Lenine”. António José avança que actualmente o país produz entre 20 a 30 mil toneladas de carne bovina. Esclarece também que, desde Julho 2015, a produção nacional de carne baixou devido a uma restrição imposta na Huíla e no Cunene pelo instituto que dirige devido à febre aftosa ao longo da fronteira com a

Namíbia e algumas localidades do Cunene. O também médico veterinário admite que o aumento da produção e a autovão levar algum tempo. Apesar de todos os constrangimentos, António José é optimista e entende que o país pode, com toda a segurança, colocar a pecuária na linha da frente da “Há males que vêm por bem porque vêm contrariar tudo aquilo que achávamos que era certo. Sempre soubemos que produzir localmente é melhor que importar. Mas hoje, todos os agentes envolvidos no sector

produtivo olham para a agro-pecuária com outros olhos. Estamos convictos de que, através da produção nacional, podemos alterar o actual quadro macroeconómico que o país apresenta”, argumenta. A MARCHA LENTA EM DIRECÇÃO AO EQUILÍBRIO Para fazer face ao desequilíbrio entre a procura e a oferta nacional, o Ministério da Agricultura pospôs à estrutura central do Executivo a dinamização de um Programa Nacional de Produção de Carne, que prevê também a importação de animais para engorda e depois para abate.


MACRO | 19

Arquivo

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

O programa do Executivo estabelece a importação de 340,5 mil animais para reprodução e um milhão para engorda, das espécies Bonsmara, Simmentaller e Brahma, num processo que começou durante o ano 2015. Prevê também aumentar, para o dobro, a produção angolana de carne de vaca em 2016, para 46,8 mil toneladas, e em 2018, para 79,1 mil toneladas. O preâmbulo do programa Presidencial que confere o montante a despender com o facto de que o aumento da produção interna de carne bovina vai contribuir para a e, consequentemente, para a diminuição das importações, a criação de novos postos de trabalho e a melhoria da qualidade de vida dos angolanos. Em Abril de 2015, o ministro da Agricultura, Afonso Pedro Canga, revelou, num encontro com criadores de gado, no Lubango, que Angola gasta, em média, 500

milhões de dólares anuais (61,5 mil milhões de kwanzas) na importação de carne bovina e manifestou a determinação do Executivo em inverter a situação com a revitalização da produção. O ministro da Agricultura reconheceu, na altura, que o montante é avultado e pressiona as reservas cambiais, num contexto de crescimento do consumo de carne no mercado nacional, o que obriga o Estado a vender divisas aos importadores para que o produto chegue a todas as famílias. O responsável avisou, para explicar parte do funcionamento do programa, que os empresários que vão ter a obrigação de enviar o gado para abate aos matadouros industriais a instalar em todas as províncias. CRÉDITO A SETE CHAVES Segundo o director-geral do Instituto dos Serviços Veterinários, António José, alguns fazendeiros nacionais

bancário para materializar o programa, sem, no entanto, avançar os nomes dos está preocupado em substituir a importação excessiva de produtos alimentares de origem animal com a produção nacional. Os empresários que devem criar projectos para engorda, produção de leite, de crias até ao desmame, produção de fenos e silagens para vender aos criadores de animais. São estes, entre outros projectos, que os empresários podem canalizar para o Ministério da Agricultura, que depois os canalizará para os bancos comerciais”, apela António José. Entretanto, quando questionado sobre quantos de crédito à luz do programa, António José respondeu: “Não posso revelar, só sei que satisfeitos”, para depois deixar escapar que no Huambo, por exemplo, há um projecto grande de suinicultura e no Kuando Kubango está em

curso a construção de um matadouro que, caso haja algum contrato neste sentido, poderá também abater gado da vizinha Namíbia. Já o médico veterinário Adriano Gomes, exímio conhecedor do sector pecuário do país, entende que, antes de se elaborar um programa como o que o Executivo está a levar a cabo, completamente entregue aos empresários, devia haver um levantamento sobre o sector no país, uma avaliação profunda que consultasse os criadores familiares para, junto destes, encontrar a melhor solução, porque estes detêm 95% do efectivo pecuário do país. Adriano Gomes alerta o Ministério da Agricultura para o facto de estar a construir matadouros em zonas onde não existe um efectivo pecuário de uma infra- -estrutura do género. O director-geral da Cooperativa de Criadores de Gado do Sul de Angola, Álvaro Fernandes, contraria Adriano Gomes, dizendo que o futuro da pecuária em Angola passa


20

| MACRO

melhoramento do efectivo animal e suplementos alimentares (sal, vitaminas, etc.). Além destes investimentos, continua, é fundamental o acesso a factores de produção, a preços competitivos, nomeadamente, em produtos como a assistência técnica moderna. “A viabilidade económica da carne produzida sob estas condições dependerá da sua valorização, que deve ser garantida através de um sistema de abate, conservação e transporte que diferencie a qualidade. Assim para esta região, todo e qualquer investimento no âmbito do Programa Nacional de Produção de Carne, que passará também pela importação de bovinos de raças melhoradas, que, tendo em atenção os ciclos produtivos, quer dos alimentos, quer dos animais, urge pôr em acção”, defende Álvaro Fernandes. Por seu turno, o director-geral da Cooperativa dos Criadores de Gado do Planalto de Camabatela (COOPLACA), Rui Cruz, entende que este é um bom programa e, como parceira do Executivo, a cooperativa foi chamada a contribuir na

Afonso Francisco

pelo sistema empresarial, cujo desenvolvimento implica um conjunto de investimentos necessários para se atingir boa produtividade. Segundo Álvaro Fernandes, os investimentos devem ser canalizados para a desmatação, acesso a água, parqueamento, assistência zootécnica e veterinária,

António José “Lenine”, Director-geral do Instituto dos Serviços de Veterinária,

elaboração do mesmo. No entanto, embora o director-geral do Instituto dos Serviços Veterinários tenha assegurado que o Programa já está em marcha, a COOPLACA lamenta o facto de, até agora, não ter começado a ser implementado, já que o matadouro construído em Camabatela pelo Ministério da Agricultura, por exemplo, está inoperante e precisa de entrar em funcionamento imediatamente, nem que seja a 25 ou 30% da sua capacidade, para não se colocar em risco o referido investimento, avança o responsável associativo. Por outro lado, continua Rui Cruz, este projecto é importante porque trará para a região um valor acrescentado em várias vertentes, nomeadamente, no domínio do emprego e da dinamização económica e social da região. “Impõe-se, para tal, um forte programa de repovoamento pecuário na região, através da compra de animais noutras regiões do país e no exterior, particularmente nos países

vizinhos (Namíbia e Botswana), dada a sua melhor adaptação às condições climáticas e sanitárias da região. É urgente que se proceda a um maior controlo da situação sanitária animal no país, em particular na região do Planalto de Camabatela, de modo a evitar-se a transmissão de doenças através da circulação desses animais e da sua importação, com vista a proteger a saúde pública”, defende o director-geral da COOPLACA. OS PALACETES DA PECUÁRIA A Cooperativa dos Criadores de Gado do Sul de Angola, fundada em 2004 por 15 fazendas, com cerca de 8 mil cabeças de gado na altura, hoje é constituída por 65 fazendas de classe empresarial e conta com, aproximadamente, 30 mil cabeças, numa área total de 325 mil hectares. Estima-se que 64% das actuais toneladas de carne bovina são abatidas na área da cooperativa, numa produção aproximada de 25 mil toneladas de carne. -geral desta cooperativa, Álvaro Fernandes, a região foi,

é, e será sempre considerada o palacete da produção de carne em Angola. “Quero, com isto, adaptação climática desta região permitem criar animais nas melhores condições, tendo em atenção o sistema extensivo que aqui é praticado”, assegura. Já o Planalto de Camabatela, que abrange três províncias, nomeadamente, Kwanza Norte, Malanje e Uíge, é outra zona do território nacional tida como fundamental para catapultar o sector pecuário em Angola. Com um total de 11 municípios, nomeadamente, Ambaca, Samba Cajú (Kwanza Norte), Calandula, Kiwabanzoji e Cahombo (Malange), Negage, Bungo, Puri e Alto Kauale-Cangola (Uíge), tem uma área total de 1 415 049 hectares. O Planalto de Camabatela tem cerca de 20 mil cabeças de gado controladas. No entanto, existem mais cabeças de gado de criadores não associados. O número de criadores controlados pela COOPLACA é de 110, todos de características empresariais. -geral da COOPLACA, Rui Cruz, as situações dos criadores (sócios e não sócios) do Planalto de Camabatela não são as melhores, uma vez que trabalham em condições ainda inadequadas. O seu pessoal (gestores, técnicos e pastores) carece de formação e precisam de crédito com bancos comercias via Banco de da aceleração na legalização das fazendas por parte dos governos provinciais e do Ministério da Agricultura, apela o dirigente associativo. &


HÁ UMA ENERGIA POR TRÁS DO QUE NOS FAZ TRANSFORMAR O MUNDO.

www.sonangol.co.ao

Sabemos que não existe energia mais forte do que a de um povo. É por isso que acreditamos num país cada vez mais forte e desenvolvido, onde todos são chamados a fazer a diferença. Há uma energia por trás do que nos faz transformar o mundo. Essa energia chama-se Sonangol.


22

| MACRO

AUMENTO DO CUSTO DOS COMBUSTÍVEIS

INDÚSTRIAS “A GERADOR” PRECIPITAM SUBIDA DE PREÇOS Arquivo

Jacinto Malungo

As alterações na política de subvenção aos combustíveis podem implicar um aumento dos custos de produção das indústrias angolanas que funcionam à base de fontes alternativas de geração de energia, condição sine qua non para assegurar a produção. Segundo o Ministério da Indústria, 19% das indústrias nacionais dependem exclusivamente de geradores. Estas já começaram a incluir o custo do combustível nos seus produtos acabados.


MACRO | 23

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

NATUREZA JURÍDICA

ENERGIA ELÉCTRICA Não apurado 10,7%

Não apurado 3,67%

Rede pública 30,8%

Não tem 22,5%

Não usa 11,6%

Gerador 19,9% Rede pública /Gerador 4,6%

30,8% das unidades industriais são abastecidas pela rede pública de electricidade. 19,9% estão dependentes exclusivamente de fontes próprias, como geradores

ÁGUA Rede pública /Cisterna 0,88% Não apurado 8,68%

Cisterna 15,42%

Furo 11,31%

Não tem 32,45%

Não usa 19,23%

Rede pública 12,02% Em 27,6% das unidades industriais o abastecimento de água é feito por meios próprios (furos e cisternas). Apenas 12% estão ligadas à rede pública. Fonte: CIANG

DE ACORDO COM OS DADOS AVANÇADOS, MUITAS INDÚSTRIAS DEBATEM-SE COM PROBLEMAS DE ENERGIA E ÁGUA, BEM COMO A FALTA DE VIAS DE ACESSO EM BOAS CONDIÇÕES. APUROU-SE QUE

30%

DAS UNIDADES SÃO ABASTECIDAS PELA INSTÁVEL REDE PÚBLICA DE ELECTRICIDADE, ENQUANTO QUASE 20% DEPENDEM UNICAMENTE DE MEIOS PRÓPRIOS DE GERAÇÃO DE ENERGIA E 4% UTILIZAM A REDE PÚBLICA E AS FONTES ALTERNATIVAS.

Sociedade por quota 20,42% Sociedade anónima 2,05% Empresa em nome individual 10,20%

Sem situação jurídica 63,66%

Muitas unidades industriais não têm natureza jurídica definida (63%), sendo, por essa razão, consideradas informais.

ALVARÁ INDUSTRIAL Com Alvará industrial 17%

Sem Alvará industrial 83%

Apenas 17% das unidades industriais têm Alvará industrial, e a sua maioria foi atribuida pelas direcções provinciais da indústria.

PROPRIEDADE Sociedade por quota 20,42% Propriedade mista 0,4%

Propriedade não apurada 3,3%

Propriedade privada 95,8%

O Censo da Indústria, realizado pelo Ministério da tutela, revela que 20% das empresas no país funcionam exclusivamente com meios próprios de geração de energia. Estas unidades industriais precisam dos combustíveis para garantir a produção. Luciano Luís, vice-presidente da Associação dos Industriais de Angola, alerta que os combustíveis vão continuar a subir, sem, no entanto, saber ainda o tecto que o Governo pretende atingir. Por este motivo, Luciano Luís pensa ser prematuro falar-se em impacto ainda não terminaram. O vice-presidente da Associação Industrial de Angola considera que a alteração dos preços dos bens e serviços produzidos à base de fontes alternativas

um certo ponto, porque, “se uma fábrica depende de geradores, vai gastar mais em combustível, o que encarece ainda o também geólogo acha que as fábricas não devem precipitar a subida de preços, atendendo que o “sofrimento” das indústrias é relativo. “O que as indústrias têm que fazer é um estudo que rentabilize a produção. Têm que encontrar mecanismos que façam com que não se aumente o preço dos produtos, como, por exemplo, aumentar a capacidade de produção para vender mais e aumentar os lucros”, sugere Luciano Luís. Por seu turno, o director executivo da Habitec, Felisberto Capamba, pensa que as indústrias têm de olhar para o

O sector privado tem um peso dominante na indústria angolana Fonte: CIANG

que representa um litro de combustível no total dos inputs de produção. “A diferença não é muito grande”, calcula, acrescentando que, se o combustível sobe 40%, não quer dizer que os custos de produção da fábrica também têm de ser revistos na ordem dos 40%. “Há um impacto, mas nunca na mesma proporção”, analisa Felisberto Capamba. Entretanto, Luciano Luís aconselha o Executivo a acelerar os projectos estruturantes do sector da energia para melhorar a actividade industrial no país, que depende muito deste factor


REDE VIÁRIA Estrada asfaltada 42%

Afonso Francisco

| MACRO

Afonso Francisco

24

Estrada não asfaltada 58%

A maioria das unidades industriais (58%) não está servida por estradas asfaltadas.

CONSERVAÇÃO DA REDE VIÁRIA Bom 28% Mau 36%

Razoável 36% 36% das estradas encontram-se em mau estado de conservação. 64% das UI’s estão servidas por estradas com bom/razoável estado de conservação. Fonte: CIANG

de produção, sugerindo igualmente o aumento do número de transportes públicos a curto prazo, para que o cidadão não se ressinta tanto quando há uma subida brusca. CENSO CONFIRMA DEBILIDADES O Ministério da Indústria procedeu, 2014, ao primeiro levantamento do tecido industrial nacional. Este trabalho fragilidades da indústria angolana que, de acordo com o Secretário de Estado da Indústria, Kiala Gabriel, vai contribuir com 2% para o PIB no ano de 2016. Segundo os dados do Censo da Indústria Angolana (CIANG) apresentados em 2015 na Expo-Indústria pelo ex-ministro da Indústria, Manuel à época, 97% são micro e pequenas unidades. Os restantes 3% estão divididos entre as 98 grandes empresas

Luciano Luís, vice-presidente da Associação dos Industriais de Angola

Manuel Duque, Ex-ministro da Indústria,

PRODUTOS VOLUMES DE PRODUÇÃO A DESTACAR

Refrigerantes e sumos

13 milhões hl

Água de mesa

4,3 milhões hl

e as 91 médias empresas, situados, maioritariamente, em Luanda e Benguela. Entretanto, são os privados que dominam o sector industrial, totalizando 95,8% das unidades industriais do país. muitas destas indústrias debatem-se com problemas de energia e água, bem como a falta de vias de acesso em boas condições. Apurou-se que 30% delas são abastecidas pela instável rede pública de electricidade, enquanto quase 20% dependem unicamente de meios próprios de geração de energia e 4% utilizam a rede pública e as fontes alternativas. Quanto à água, o cenário é parecido. 12% das unidades industriais estão ligadas à rede pública de abastecimento de água,

Bebidas alcoólicas não espirituosas (cerveja e vinho)

8 milhões hl

ao passo que 27% delas dependem dos camiões cisternas (15,42%) e dos furos (11,31%). No que diz respeito à rede viária, 58% das unidades não têm acesso por estrada asfaltada, sendo que 36% das vias estão em mau estado de conservação. Apenas 64% das unidades industriais têm acesso a estradas entre o bom e o razoável estado de conservação. BEBIDAS NA LINHA DA FRENTE O sector das bebidas é o que mais valor produz. Até ao mês de Outubro passado, segundo o jornal “Expansão”, o sector gerou um valor de 151 mil milhões de Indústrias de Bebidas de Angola (AIBA),


| 25

Arquivo

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

este segmento gera 14 mil postos de trabalho directo. A AIBA apurou em 2015, num estudo ao seu sector de actuação, que o país produz 70% acima da procura. Em termos de volume de produção, no período da realização do CIANG, os refrigerantes e sumos tinham um volume de 13 milhões de hectolitros, as águas de mesa estavam com um volume de produção de 4,3 milhões de hectolitros, já as bebidas alcoólicas não espirituosas situavam-se em 8 milhões de hectolitros. Ao gerar cerca de 138 mil milhões de kwanzas no último mês de Outubro, segunda posição em termos de valor e importância. Seguem-se os materiais de construção na terceira posição, tendo gerado para a economia, em 2015, 96 mil milhões de kwanzas. FORMAÇÃO É O GRANDE HANDICAP pelo Censo da Indústria, um dos grandes calcanhares de Aquiles da indústria nacional é a formação. Num universo de 93% de trabalhadores de nacionalidade angolana que trabalhavam nas unidades recenseadas pelo CIANG de 2013 a 2014, metade e apenas 3% tinha formação superior. Neste mesmo período, registou-se um aumento de 11% na oferta de trabalho na Indústria.

O ex-ministro da Indústria, Manuel consultor ministerial, adiantou que os quadros médios e os operários mais províncias do Uíge, Lunda Norte, Luanda, Huambo, Bié e Benguela. apresentava o relatório na Expo-Indústria, considerou ser necessária a adopção de medidas visando o aproveitamento desta mão-de-obra, através de programas de formação e

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

MAIS PÓLOS A CAMINHO O Secretário de Estado da Indústria, Kiala Gabriel, anunciou na segunda edição da Expo-Indústria que o Executivo angolano pretende construir Industrial em todo o país (pelo menos dois em cada província). Para isso, estão, ao todo, disponíveis 36 mil hectares, sendo que, em 10 anos, poderão ser concluídos 12 mil hectares. Para estes projectos, serão investidos, segundo Kiala Gabriel, 1,6 mil milhões de dólares para criar as infra-estruturas necessárias à implementação dos pólos que se enquadram no Programa de Investimentos Públicos. Na sua prelecção subordinada ao tema “O papel dos pólos industriais Gabriel prometeu mais de 12 mil postos de trabalho com a criação destes pólos. &


26

| MACRO

URBANIZAÇÃO

ALTA FACTURA PARA O PLANO LUANDA 2030 Edjaíl dos Santos

O Plano Director Metropolitano de Luanda será implementado em 15 anos divididos em quatro fases, compreendendo três etapas de cinco anos cada, até 2030, e um estágio subsequente. A informação foi avançada, em Dezembro transacto, pela responsável da empresa coordenadora do projecto, Urbinveste, durante a apresentação pública do mapa de ordenamento do crescimento e mudança da capital. Entretanto, Isabel dos Santos avisa: “A factura do projecto é alta e o trabalho é longo. Falamos em 15 anos, mas de certeza que o trabalho não acabará por aí e poderá chegar aos 20 ou 30 anos”.

Os dados económicos apresentados Metropolitano de Luanda terá um impacto de 342 mil milhões de dólares no PIB nacional ao longo do período da de 132 mil milhões, receitas tarifárias de 198 mil milhões de dólares, partindo do conceito “utilizador pagador”, e três milhões de empregos criados, numa cidade que se prevê que tenha 13 milhões


MACRO | 27

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

ESPAÇO ABERTO

ÁGUA EVOLUÇÃO NO ACESSO DIÁRIO A ÁGUA POTÁVEL

3 745 HECTARES

Espaços de enquadramento

Actualmente, 42% da população de Luanda tem acesso diário a água potável. Em 2030, 95% da população terá acesso diário a esse recurso natural.

3 122 HECTARES

Recreio formal e informal

HIDROELÉCTRICA

2015

42%

2030

68%

TÉRMICA

2015

58%

3 122 HECTARES

Espaços para desportos

2030

32%

DA POPULAÇÃO

2030

95%

DA POPULAÇÃO

ENERGIA EVOLUÇÃO DO MÉTODO DE PRODUÇÃO DE ENERGIA Actualmente, a produção de energia eléctrica para Luanda é assegurada, na sua grande maioria, através da geração térmica, sendo 58% térmica e 42% hídrica. Em 2030, prevê-se que haja uma evolução positiva, diminuindo a geração térmica (Diesel) para 32% e aumentando a capacidade hídrica para 68%. A introdução de energias alternativas ainda poderá favorecer a descida da geração térmica num futuro próximo.

de habitantes até 2030. Estima-se que o retorno do investimento seja de 119%. “Este desenvolvimento teria de acontecer mais tarde ou mais cedo, como acontece em outras sociedades, e as pessoas terão de o pagar, ou pelo menos uma parte, dependendo da política social que pode empresária Isabel dos Santos. O documento, que será tornado Lei nos próximos meses e, posteriormente, entrará na sua fase de execução, pretende, nos próximos dois anos, dar prioridade às linhas de água, porque, de acordo com Isabel dos Santos, “as valas de drenagem têm muitos resíduos sólidos e é necessário limpá-las e torná-las em zonas verdes e parques de recreio, uma ideia mais económica e vantajosa para as comunidades”. Em relação à repartição dos investimentos, o ramo dos transportes e da mobilidade vai absorver 39%, depois a água, a energia e o saneamento 32%. A terceira área será dedicada aos realojamentos das pessoas em zonas abrangidas pelo plano e consumirá 21%, ao passo que os equipamentos públicos, como hospitais, escolas e outros, merecerão 7% dos investimentos.

2015

42%

Isabel dos Santos, Coordenadora da Urbinveste

A atribuição por regiões tem prevista uma cabimentação de 44% para toda a cidade. Entre as zonas mais Belas com 17,5% e Viana com 13,5%. O desenvolvimento de cada município obedecerá a determinados conceitos. Por

exemplo, Belas será uma zona costeira turística com um mobiliário prime, um pólo agrícola e uma grande concentração de empresas e universidades. A responsável da Urbinveste, Isabel dos Santos, adianta que o plano é “ambicioso e enorme”, tendo a sua equipa estudado vários modelos, usados noutros países, para a sua concepção. Já Luanda será o principal centro histórico, institucional e de negócios, com foco também no turismo. Cazenga tornar-se-á numa área residencial com foco nos serviços e Cacuaco ocupará uma área industrial, logística e mista. Viana continuará a ser o pólo industrial, com algum foco na componente agrícola e Icolo e Bengo será o grande campo agrícola, logístico e de turismo rural. Quando questionada sobre o resto do país, a engenheira adiantou que o plano é apenas para Luanda, que é o grande províncias também podem ter iniciativas similares com planos que se pareçam com o da capital. O Plano Luanda prevê ainda a criação de uma cintura verde para limitar o crescimento da cidade e a construção de três aterros para resíduos sólidos (no norte, centro e sul da capital). &


28

| OPINIÃO

A CONFUSÃO DOS PREÇOS LIVRES Por ocasião do último ajustamento dos preços dos combustíveis, veio a público a informação segundo a qual, uma vez eliminada a subvenção pelo Estado, os mesmos passavam para o regime de preços livres.

… NÃO HÁ COMO CONFUNDIR O FIM DAS SUBVENÇÕES ESTATAIS DOS PREÇOS COM O FIM DA NECESSIDADE DE REGULAR ESSES PREÇOS. O QUE DETERMINA A NECESSIDADE DE REGULAR PREÇOS NÃO É A EXISTÊNCIA DE SUBVENÇÃO ESTATAL, MAS SIM O ÍNDICE DE CONCENTRAÇÃO DO MERCADO.

A função essencial de um mercado é aproximar compradores e vendedores para mutuamente ajustarem preços de bens e serviços. O sistema de preços é, pois, o mecanismo invisível que comanda o mercado, permitindo aos agentes económicos decidirem sobre a produção e a distribuição. Os preços são, portanto, os “semáforos” de uma economia de mercado, coordenando as decisões de produtores e consumidores. Não existindo um mínimo adequado de concorrência, esse mecanismo deixa de funcionar ou não funciona tão bem, dando assim lugar a uma falha de mercado, que legitima a intervenção do Estado (ver artigos publicados na E&M 43 e 58). De acordo com os manuais, as empresas que actuam numa economia de mercado agrupam-se em tomadoras de preços (price takers) e em ditadoras de preços (price makers). As empresas do primeiro grupo actuam num mercado de tal modo atomizado que não têm qualquer poder preço ditado pelo mercado. Nessa situação, as vender ao preço do mercado, simplesmente desaparecem. No outro grupo estão as empresas que actuam em mercados com pouca ou nenhuma concorrência. Essas empresas têm menor grau, e diz-se então que têm poder de mercado. O poder de mercado pode ser graduado, desde o monopólio até aos mercados pouco concorrenciais, passando pelos oligopólios. As autoridades reguladoras dos mercados estabelecem critérios objectivos para determinar quando é que um mercado deve ser sujeito a regulação ou vigilância de preços. Para esse efeito, é comum usar o índice de concentração

José Gualberto Matos Engenheiro

– IHH), que é o somatório dos quadrados das

quotas de mercado de todas as empresas que operam no mercado em questão. Este índice varia entre 0 e 1. O valor 0 representa um mercado sem qualquer empresa e valor 1 representa um mercado detido totalmente por uma única empresa (monopólio). Considera-se que qualquer mercado com um índice de concentração superior a 0,25 deve ser sujeito a vigilância de preços. Os reguladores de mercado consideram com “poder de mercado mais de 30% de quota de mercado e que, por É o caso do mercado dos combustíveis em Angola, onde uma única empresa grossista abastece o mercado. O mercado dos combustíveis em Angola não pode, por isso, de que a lei limita as margens, e que isso é cost plus, simplesmente adiciona a margem aos custos, não havendo, por isso, qualquer garantia de que esses custos de preços, o monopolista simplesmente repassa que, no caso dos monopólios ou de mercados altamente concentrados, as autoridades reguladoras estabelecem um mecanismo de regulação que leva o operador a repartir os ganhos de escala e produtividade com o consumidor – é o caso do método de regulação conhecido na literatura como regulação pelo price cap. da necessidade de regular esses preços. O que determina a necessidade de regular preços não é a existência de subvenção estatal, mas sim o índice de concentração do mercado. &


NÚMEROS EM CONTA | 29

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

TROCAS COMERCIAIS ENTRE ANGOLA E CHINA

CHINA

ANGOLA

2012

2013

2014

2015

37,5 mil milhões

35,91 mil milhões

10,48 milhões

18,27 mil milhões

de dólares

de dólares

de dólares

de dólares

BALANÇA COMERCIAL ENTRE ANGOLA E CHINA Mais do dobro que em 2009, quando atingiu os 17 mil milhões de dólares.

Menos 4,24%. Neste ano, Pequim vendeu a Luanda bens no valor de 3,96 mil milhões de dólares.

Mais 8,46% em comparação com o mesmo período de 2013 (Janeiro a Maio).

3,42 mil milhões

14,84 mil milhões

Mercadorias Chinesas vendidas a Angola em 2015

Mercadorias Angolanas compradas pela China em 2015

46_JGMatosNumeros.indd 29

46,24% é quanto caíram as trocas comerciais entre os dois países no período de Janeiro a Novembro.

48,51% de Mercadorias trocadas quando comparadas com os primeiros 11 meses de 2014.

25/01/16 11:47


30

| CAPA

DESENVOLVIMENTO HUMANO

LONGA CAMINHADA EM TERRENO ESPINHOSO Sebastião Vemba

O baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em Angola resulta, por um lado, do fraco investimento público no sector social, apesar das melhorias registadas nos últimos anos, por outro, de um crescimento territorial e económico desigual, sendo que as desigualdades diluem os progressos efectuados ao nível do desenvolvimento humano. Estudos defendem que o IDH depende de uma séria aposta nos sectores da saúde, educação e protecção social, esta última através de políticas que funcionem como um instrumento contra as desigualdades, assegurando um crescimento inclusivo e sustentável. Em Angola, o sector social continua a ser o parente pobre do Orçamento Geral do Estado. No exercício de 2016, o peso da saúde no OGE registou um ligeiro aumento comparativamente a 2015, mais 0,2%, passando para 5,3%, mas este valor ainda está aquém das recomendações internacionais, sendo que

do progresso e do bom desempenho deste sector está dependente o nível de bem-estar da população. “O acesso a um nível de saúde o mais elevado possível e a uma nutrição adequada não são apenas direitos individuais, mas também condições necessárias para o desenvolvimento”, atesta um relatório da Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente, ressaltando que, ao longo dos últimos anos, o peso da atribuição do sector da saúde em relação ao total do orçamento

anos, nota-se uma ligeira tendência para a diminuição da percentagem do OGE atribuído à educação e que o valor deste ano está entre os mais baixos em termos percentuais. “Isto deve ser visto com alguma preocupação, uma vez que o ano de 2013 foi o primeiro da implementação do programa “Educação para Todos (2013-2020)” e que, dada a mais consistentes”, chama a atenção a ADRA. CRISE PODE DEIXAR O PAÍS MENOS DESENVOLVIDO

melhorias no sector da educação, que em 2016 representa 7,7% do OGE, no âmbito do compromisso de Dakar que inferior às verbas que o sector absorveu em 2015 (8,6%). Ainda com base no relatório da ADRA, olhando para a atribuição do sector nos últimos seis

o país enfrenta vai condicionar o alcance das principais metas de desenvolvimento humano, considerando que a situação está a provocar uma redução do poder de compra das famílias, assim como reduziu os investimentos públicos em vários sectores. Para o sociólogo José Katiavala, o


CAPA | 31

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

TENDÊNCIAS DO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO, 1990-2014 ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH)

RANKING IDH

PAÍSES COM IDH MUITO ALTO

1990

2000 2010

2011

Noruega

0,849

0,917 0,940

0,941 0,942 0,942 0,944

Austrália

0,865

0,898

Suíça

0,831

Dinamarca Holanda

PAÍSES COM IDH ALTO

PAÍSES COM IDH MÉDIO

2009-2014a

% 1990-2000

2000-2010

2010-2014

1990-2014

0,25

0,11

0,935

2

0

0,36

0,33

0,20

0,32

0,888 0,924 0,925

0,927 0,928 0,930

3

0

0,67

0,40

0,14

0,47

0,799

0,862 0,908 0,920

0,829

0,877 0,909

0,927 0,930

0,932 0,933

0,44

0,921 0,923

0,923

4

1

0,76

0,53

0,41

0,61

0,919 0,920 0,920

0,922

5

0

0,56

0,36

0,34

0,44

0,786 0,793 0,796 0,796

0,798

51

4

...

1,41

0,39

...

0,783 0,790

0,795 0,797

0,798

50

8

-0,17

0,88

0,47

0,38

...

0,683

0,729

0,717

...

...

0,795 0,793

0,793 0,792

0,793

52

-4

...

...

-0,06

...

0,703 0,706

0,784 0,786

0,788

0,791

0,793

53

-1

0,04

1,06

0,26

0,50

0,692

0,742 0,780 0,784

0,788 0,790

0,793

54

4

0,70

0,50

0,40

0,57

Botswana

0,584

0,561

0,681 0,688

0,691 0,696 0,698

106

1

-0,41

1,96

0,61

0,74

República da Moldávia

0,652

0,597

0,672 0,679 0,683 0,690 0,693

107

2

-0,87

1,19

0,78

0,26

Egipto

0,546

0,622

0,681 0,682 0,688 0,689 0,690

108

-3

1,31

0,90

0,33

0,98

0,671

0,677 0,682 0,688

109

...

...

...

0,80

...

0,620

...

0,632

0,663 0,668

0,673 0,679 0,684

111

1

0,20

0,48

0,76

0,41

Quénia

0,473

0,447

0,529

0,539 0,544 0,548

145

0

-0,58

1,70

0,92

0,62

Nepal

0,384

0,451

0,531 0,536 0,540 0,543 0,548

146

3

1,62

1,64

0,78

1,49

Paquistão

0,399 0,444

0,522

Myanmar

0,352 ...

Angola

... 0,666

0,535

0,527

0,425 0,520 0,524 0,390 0,509

Desenvolvimento humano muito elevado

0,801

0,851

Desenvolvimento humano elevado

0,592

0,642

Desenvolvimento humano médio

0,473

0,537

Desenvolvimento humano baixo

0,368 0,404

0,532 0,536

0,538

147

0

1,07

1,62

0,79

1,25

0,528

0,536

148

1

1,90

2,03

0,72

1,76

0,531

0,521 0,524 0,530 0,532

149

1

...

2,70

1,11

...

0,887 0,890 0,893 0,895 0,896

...

...

0,61

0,42

0,26

0,47

0,723 0,730

0,741 0,744

...

...

0,81

1,20

0,71

0,95

0,623 0,627 0,630

...

...

1,28

1,29

0,78

1,20

0,611

0,619

0,737

0,487 0,492 0,497 0,502 0,505

...

...

0,92

1,90

0,92

1,32

0,513

0,568 0,642 0,649 0,654 0,658 0,660

...

...

1,02

1,23

0,70

1,06

Estados Árabes

0,553

0,613

...

...

1,02

0,99

0,38

0,90

Ásia do Leste e Pacífico

0,516

0,593 0,686 0,693 0,702 0,707

0,710

...

...

1,39

1,48

0,87

1,34

Europa e Ásia Central

0,651

0,665

0,731 0,739 0,743 0,746 0,748

...

...

0,22

0,94

0,59

0,58

América Latina e Caribe 0,625

0,684

Países em desenvolvimento

REGIÕES

2013

Uruguai

Gabão

DESENVOLVIMENTO HUMANO POR GRUPO

2014

0,77

Turquemenistão

PAÍSES COM IDH BAIXO

2013

0

Omã Roménia

2012

1

Bielorrússia Federação Russa

CRESCIMENTO MÉDIO ANUAL IDH

VARIAÇÃO

VALOR

0,676 0,679 0,684 0,686 0,686

0,738 0,743 0,745 0,748

...

...

0,91

0,70

0,47

0,75

Ásia do Sul

0,437 0,503 0,586 0,596 0,599 0,603 0,607

0,734

...

...

1,42

1,55

0,86

1,38

África Subsaariana

0,400

0,518

...

...

0,54

1,68

0,94

1,08

0,422 0,499 0,505

0,510

0,514

Países menos desenvolvidos

0,348 0,399 0,484

0,491 0,495 0,499 0,502

...

...

1,39

1,95

0,92

1,54

Pequenas ilhas em desenvolvimento

0,574 0,607 0,656 0,658 0,658 0,658 0,660

...

...

0,56

0,79

0,13

0,59

Organização para a cooperação e desenvolvimento económico

0,785 0,834

...

...

0,61

0,44

0,24

0,48

Mundo

0,597

...

...

0,71

0,85

0,47

0,73

país vive toca num aspecto essencial que contribui para a qualidade de vida das pessoas, que é o poder de compra. “Nos últimos meses, temos vindo a assistir a uma redução acentuada do poder de compra, ou seja, com o dinheiro que as pessoas obtêm através dos salários e das remunerações das actividades que desenvolvem para o seu sustento,

0,872 0,875 0,877 0,879 0,880

0,641 0,697 0,703 0,707 0,709

0,711

adquirem menos bens e serviços para a satisfação das suas necessidades. Em particular, regista-se um aumento vertiginoso dos preços dos produtos alimentares, facto que coloca às famílias enormes restrições na aquisição desses bens, pondo em risco a sua segurança alimentar”, argumentou o também membro do Conselho Directivo da ADRA.

Por sua vez, Vladimir Russo, ambientalista, não crê que o agravamento da qualidade de vida dos angolanos esteja apenas ligado directamente ao actual em alturas em que havia um franco desenvolvimento, de dois dígitos, surgiram desenvolvimento humano de todos os


32

| CAPA

que “o facto de termos mais de 60% da população a viver abaixo da linha da pobreza, de termos uma das mais altas taxas de mortalidade infantil e mais baixas taxas de expectativa de vida do mundo são exemplos da baixa qualidade de vida da maioria dos angolanos”. No entanto, admitiu o entrevistado, “a situação actual servirá principalmente para exacerbar o fosso entre os pobres e os mais ricos, perpetuando as debilidades daqueles mais vulneráveis e com menor capacidade de resiliência”. persistir por mais tempo, e provavelmente assim o será, tendo em consideração a contínua queda dos preços do petróleo a nível do mercado internacional, irá certamente afectar a qualidade de vida dos angolanos. Ante este quadro, os cidadãos, as famílias, as empresas e a sociedade em geral passarão por ajustes, conformando as expectativas e os projectos à nova realidade que exigirá uma gestão mais racional dos recursos”. DESENVOLVIMENTO DESIGUAL Apesar dos progressos, o nível de desenvolvimento humano em África continua baixo e os indicadores agregados de crescimento encobrem dos países, bem como fenómenos de pobreza e privação, aponta um relatório desenvolvimento humano. De acordo com o documento, a exclusão e a desigualdade de género são uma evidência em muitos países, com altos níveis de discriminação no acesso a recursos e bens, bem como de violência contra as mulheres. A distribuição dos rendimentos e o consumo em África são largamente desequilibrados e as contribuem para um desenvolvimento humano desigual dentro dos países. que os países africanos realizaram dimensões do desenvolvimento humano, à semelhança de outras regiões do

A ACTUAL CRISE ECONÓMICA E FINANCEIRA QUE O PAÍS ENFRENTA VAI CONDICIONAR O ALCANCE DAS PRINCIPAIS METAS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO, CONSIDERANDO QUE A SITUAÇÃO ESTÁ A PROVOCAR UMA REDUÇÃO DO PODER DE COMPRA DAS FAMÍLIAS, ASSIM COMO REDUZIU OS INVESTIMENTOS PÚBLICOS EM VÁRIOS SECTORES.

mundo. Em 2014, 17 dos 52 países africanos avaliados atingiram níveis médios ou elevados de desenvolvimento humano e os restantes países registaram pontuações muito variáveis. O Níger registou a pontuação mais baixa (0,34), enquanto o Quénia atingiu a pontuação mais alta (0,54). Os valores do IDH na África Subsaariana aumentaram 26% entre 1990 e 2013, tornando-a na terceira região com maior crescimento, depois da Ásia Oriental (36%) e da Ásia do Sul (34%). Em comparação, os níveis de desenvolvimento humano nos Estados Árabes e na América Latina foram, respectivamente, 19% e 18% mais altos no mesmo período. As melhorias no desenvolvimento humano podem ser atribuídas ao rápido crescimento económico, baseado no aumento dos recursos naturais, ao crescimento na agricultura e serviços, ao desenvolvimento de capital humano e às melhorias na governação. Na África Austral, os maiores avanços registam-se em Angola, Botswana, Katiavala comentou que “Angola conheceu progressos nos últimos 13 anos”. “Em 2002, quando terminou a guerra civil, ocupávamos a 161ª posição

e oito anos depois, isto é, em 2010, ascendemos para a 146ª. Claramente, poderíamos ter melhorado ainda mais, comparando com outros países da região subsaariana de África ou dos PALOP, que com menos possibilidades económicas estão melhor posicionados, como é o caso de Cabo Verde”. O sociólogo é da opinião de que Angola não cresceu muito mais “porque não tem ainda uma democracia consolidada que permita uma formulação mais inclusiva das políticas públicas e um maior controlo da utilização justamente no aprofundamento do processo de democratização que deve ser assumido como um compromisso patriótico inadiável dos partidos políticos, das organizações da sociedade civil e de outras instituições sociais”, defendeu. mesmo diante do actual cenário económico e social, Vladimir Russo caminho a percorrer e tem sido capaz de ultrapassar determinados obstáculos”. Aliás, reforça, “o próprio relatório reconhece que Angola melhorou o valor do seu Índice de Desenvolvimento Humano em pelo menos um terço, apesar de continuar no grupo dos países com o país também melhorou na avaliação do cumprimento dos Objectivos de ATENÇÃO AO AMBIENTE! A abordagem que se faz sobre o desenvolvimento humano em Angola quase sempre passa ao lado da questão da protecção do ambiente, tido como o substrato indispensável para a produção de riqueza material, que, por sua vez, gera desenvolvimento humano, em função dos mecanismos através dos quais a riqueza é distribuída na sociedade. José Katiavala, também agrónomo, chama a atenção para o facto de os indicadores de sustentabilidade ambiental apresentados no Relatório de Desenvolvimento Humano 2015, relativos a Angola, denunciarem situações críticas em termos de desenvolvimento


CAPA | 33

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

humano. “Por exemplo, de acordo com o Relatório, Angola registou, entre 1990 e 2012, uma diminuição na ordem recurso natural, enquanto principal fonte de energia, para grande parte da população, através do fornecimento de lenha e carvão, num país onde a taxa de é de apenas 37%, sendo mais baixa entre Na mesma linha de pensamento, Vladimir Russo lembra que o país para contribuir para o desenvolvimento humano. No entanto, ressalta, “a sua exploração dever ser feita de forma regrada e sustentável para permitir que outras gerações possam também lado, acresce, “para que seja possível uma exploração harmoniosa dos recursos materiais, tem de haver investimento no capital humano, não só em termos de formação e capacitação mas também na melhoria da qualidade de vida e do bem-estar das populações”.

O ambientalista é da opinião de que o alcance do bem-estar e da melhoria da qualidade de vida “só é possível através do provimento de bens essenciais ao cidadão, tal como o acesso à saúde, educação, mas também a direitos como a liberdade, consagrados universalmente na Carta dos Direitos Humanos. A pobreza e a baixa qualidade de vida contribuem para a degradação ambiental e exploração insustentável dos recursos humanos”, defendeu. Apesar de reconhecer que os problemas ambientais no país têm tido alguma resposta, particularmente a nível da legislação, o entrevistado lamenta que, infelizmente, esta medida não tem sido acompanhada pela implementação da associados à inadequada gestão dos resíduos sólidos, à exploração desenfreada de recursos naturais (inertes, recursos sob a capa de caça de subsistência e que abastece um importante segmento do mercado de carne, e à poluição derivada de actividades industriais. É, por isso, importante gizar acções de formação

e capacitação do capital humano, implementar processos transversais de educação ambiental e reforçar a implementação da lei”, insistiu Vladimir Russo. ambiental passam pela concretização efectiva das políticas e dos programas públicos elaborados já há algum tempo. “São de suma importância, neste âmbito, os programas de Educação e Capacitação para a Gestão Ambiental, de Conservação da Biodiversidade e Áreas de Conservação e de Promoção da Produção Sustentável”, destacou, defendendo uma exploração regrada e sustentável dos recursos naturais disponíveis para permitir que outras destes recursos. José Katiavala, entretanto, lamenta que o país esteja a debater-se com o complexo problema da gestão do lixo nas grandes cidades, “que nos últimos tempos tende a atingir níveis insustentáveis, com todas as consequências daí decorrentes para a qualidade de vida das pessoas”. &


34

| CAPA

DESENVOLVIMENTO HUMANO

RESULTADOS POUCO VISÍVEIS


CAPA | 35

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

Tanto quanto se sabe, a função pública não prevê aumentos salariais em 2016 ou nos contrário, alguns funcionários ainda estão a ver os seus subsídios retirados. Como o sector privado depende muito do sector público, tanto da estrutura accionista, como da carteira de clientes, para quem está vinculado ao sector

privado a probabilidade de ajustes salariais também é quase nula, sendo que algumas empresas que estavam muito atreladas ao sector público já começaram a fechar e a despedir pessoal. Diante deste cenário, algumas pessoas já começaram a fazer contas. Henrique Neto, morador na centralidade do Kilamba, faz os cálculos. O

salário mínimo para o acesso às casas nas novas centralidades urbanas, quando estas surgiram, era 1 500 dólares (entenda-se 150 mil kwanzas ao câmbio da época). Hoje, a proposta coerciva da Imogestin força os moradores das centralidades ao pagamento de duas prestações mensais (já que, por motivos internos, a empresa não cobrou as

mensalidades de 2015). Além disso, um cidadão que resida no Kilamba e trabalhe no centro da cidade, com o actual preço do combustível – 160 kwanzas a gasolina e 135 kwanzas o gasóleo –, gastará em média 10 mil kwanzas em combustível por semana (carro de cilindrada baixa), porque terá de abastecer, pelo menos, duas vezes por semana.


36

| CAPA

Somando as quatro semanas do mês, gasta-se cerca de 40 mil kwanzas, ou mais, contando com o combustível que se gasta no trânsito na estrada do Lar do Patriota, entrada de Talatona (ponte molhada) e na estrada da Samba ou do Rocha Pinto. Quem vive na centralidade também não escapa às mesmas contas, devido ao tempo que perde na avenida Deolinda Rodrigues ou na estrada da Boavista para chegar ao centro económico boa parte das empresas e ministérios está concentrada. Adicionando os 50 mil da prestação da Imogestin (ou mais, dependendo da tipologia do apartamento), já totaliza 90 mil kwanzas. Então, 150 mil kwanzas (tomados como

base para o acesso aos imóveis) menos 90 mil do combustível e das prestações mensais, O RECEIO DOS CIDADÃOS OUVIDOS PELA sobra apenas 60 mil kwanzas – E&M É QUE, COM RENDIMENTOS NOMINAIS DE desvalorizados em quase 30% em relação ao dólar. O receio dos cidadãos

150

MIL KWANZAS E REAIS NA ORDEM DOS 60 MIL KWANZAS, POR EXEMPLO, NÃO VALHA A PENA VIVER NAS CENTRALIDADES TENDO EM CONTA AS DESPESAS FIXAS COM ALIMENTAÇÃO, SAÚDE, ELECTRICIDADE, ÁGUA, ESCOLA DOS FILHOS, VESTUÁRIO E OUTROS ENCARGOS, COM A SITUAÇÃO AGRAVANTE DE QUE ESTÁ TUDO MAIS CARO POR CAUSA DO DÉFICE NAS IMPORTAÇÕES, EM RESULTADO DA FALTA DE DIVISAS E POR NÃO SE PRODUZIR QUASE NADA NO PAÍS.

com rendimentos nominais de 150 mil kwanzas e reais na ordem dos 60 mil kwanzas, por exemplo, não valha a pena viver nas centralidades tendo em conta as despesas electricidade, água, escola encargos, com a situação agravante de que está tudo nas importações, em resultado da falta de divisas e por não se produzir quase nada no país. De acordo com o gestor situação que o país atravessa,


O nosso banco já ultrapassou várias tempestades. E o seu?

O nosso banco é o Standard Bank. Temos mais de 150 anos de experiência em África e toda a solidez de um banco presente em 20 países. Somos o maior banco do Continente Africano. Venha ver como é estar do nosso lado. Esperamos por si. Linha Standard Bank: 923 190 888 www.standardbank.co.ao

Standard Bank Seguindo em frente


38

| CAPA

NUMA RONDA EFECTUADA PELA ECONOMIA & MERCADO, CONSTATOU-SE QUE O EXECUTIVO ANGOLANO AINDA TEM MUITO POR FAZER PARA QUE O POVO VIVA COM CONDIÇÕES BÁSICAS.

caso não sejam adoptadas medidas adequadas, pode deitar abaixo todo o esforço que o Executivo fez para conferir alguma dignidade aos angolanos. “Estamos a viver uma situação como aquelas que vivemos nas nossas casas, em que o pai se esforça, trabalha, passa fome, junta dinheiro, compra o melhor brinquedo é que o parte”, ironiza o morador do Kilamba enquanto transpira no engarrafamento da Reis acrescenta que o Governo deve adoptar as melhores políticas para valorizar e conservar o nível de vida que uma parte da população já atingiu desde o alcance da paz. Já a estudante universitária Adelina José, também moradora do Kilamba, pensa que são pouco visíveis os efeitos da melhoria do índice

de Desenvolvimento Humano em Angola. “Continua a morrer muita gente de todas as idades nos hospitais, há muitas crianças fora do sistema de ensino fundamental e ainda temos uma população considerável que vive com menos de um dólar por dia”, Adelina José entende que Angola tem condições para que todos vivam condignamente, para que deixe de haver crianças a vender à beira da estrada para sustentar a família ou para que deixem de existir subúrbios onde as condições básicas de habitabilidade isso, a estudante de gestão de empresas entende que é necessário que se comece a responsabilizar os gestores públicos pelas irregularidades cometidas no exercício das suas funções.

“Há gestores públicos que nada durante o seu mandato e que se apoderam de recursos que seriam para melhorar são exonerados sem serem chamados a tribunal. Passa-se algum tempo e são novamente nomeados para exercerem outros cargos públicos, muitas vezes superiores aos que exerciam antes. Assim nunca teremos um país para todos como sonhamos, mesmo que suba o índice da educação, da expectativa de vida e o PIB per capita”, argumenta. ESPERANÇA ADIADA Enquanto a classe média teme voltar às antigas condições de vida, a crise do petróleo está a piorar e a matar as esperanças da população que vive em condições mais vulneráveis. Há bairros que existem há 30

anos e que até agora não têm saneamento básico, energia, água e zonas de lazer, que confeririam alguma qualidade de vida aos seus habitantes. Tala Hady (Cazenga), (Cacuaco), Rocha Pinto e e 2, Camama, Dangereux da capital angolana onde a população começa a perder a esperança de, no curto prazo, para que tenham mais condições. São bairros que, em geral, debatem-se com sérios problemas de saneamento básico, falta de água potável, serviços hospitalares e escolares, delinquência e falta de energia. Numa ronda efectuada pela constatou-se que o Executivo


CAPA | 39

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

angolano ainda tem muito por fazer para que o povo viva em condições básicas. O bairro da Pedreira, em Cacuaco, por exemplo, existe há 15 anos e as ruas são completamente lamacentas. Quando chove tornam-se intransitáveis. Segundo conta o morador Domingos Kivula, na Lagoa do Kizaca já morreram mais de cinco crianças numa ravina de cerca de 100 metros de altura, mas a administração local nunca interveio na zona. Neste bairro, a energia é fornecida através de postos de transformação privados e, tal como o bem, o preço varia de zona para zona, mas, em grande parte do bairro, o custo

é bastante elevado, chegando a ultrapassar os cinco mil kwanzas por mês. Quanto à água, o bairro da Pedreira conta com alguns chafarizes dispersos, mas a população é obrigada a percorrer grandes distâncias para os alcançar. Situação semelhante vive-se no bairro Paraíso que, embora já exista há 16 anos, só agora começa a ver as primeiras escavações para a canalização de água. de cima, o grande problema é a falta de energia, que também é fornecida através de postos de transformação privados e de não têm muitos problemas em

relação a água, mas debatemse com a falta de saneamento. “Este é conhecido como o bairro do lixo, porque é o cemitério de todo o lixo que é produzido em Luanda”, David, que vive a cerca de 500 metros do aterro A falta de saneamento não se vive apenas em Cacuaco, norte de Luanda, que é um município ligeiramente afastado do tradicional casco urbano. Bairros como o Prenda, Camuxiba, Golf 1 e 2, Dangereux, no centro e entre a antiga e a nova zona urbana de Luanda, vivem problemas semelhantes.

outrora tida como a “coqueluche” urbana de Luanda por conglomerar condomínios fechados, há bairros como Dangereux e o onde o saneamento básico e a com os moradores. Em suma, na capital angolana, de norte a sul, de leste a oeste e até no centro de Luanda, ainda há bairros que clamam por melhores condições de habitabilidade para os seus moradores. O inimigo das condições de vida dos habitantes de Luanda é comum: lixo, becos e águas paradas na rua. &


40

| CAPA

DESENVOLVIMENTO HUMANO

OBJECTIVOS DO MILÉNIO ATRASADOS Edjaíl dos Santos

O relatório sobre os Objectivos de no ano passado, avança que Angola tem mostrado melhorias no sector da saúde nos últimos 10 anos, através da construção e reconstrução de infra-estruturas sanitárias, formação de recursos humanos e a descentralização da saúde com foco na municipalidade. Saúde indicam que a malária continua a ser a principal causa de morte de menores de cinco anos, seguida de doenças diarreicas, infecções respiratórias agudas, prematuridade e sepsia). A desnutrição é também uma causa subjacente que leva à morte de crianças menores de cinco anos, principalmente nas zonas rurais. No âmbito dos Objectivos de da saúde, o país estabeleceu como principais prioridades a redução da mortalidade infantil e a vacinação das crianças. A taxa de mortalidade infantil diminuiu de 173 em cada 1 000 nascidos vivos (NV) em 1990 para 102 em 1000 diminuição de 41%. No entanto, apesar dos avanços, a meta de 57 em 1000 para 2015 não foi alcançada. O sociólogo e membro do Conselho

“A melhoria das condições sanitárias é fundamental para que tenhamos uma

O PAÍS ESTABELECEU COMO PRINCIPAIS PRIORIDADES A REDUÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL E A VACINAÇÃO DAS CRIANÇAS. A TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL DIMINUIU DE 173 EM CADA 1 000 NASCIDOS VIVOS (NV) EM 1990 PARA 102 EM 1000 NV EM 2013, O QUE SIGNIFICA UMA DIMINUIÇÃO DE

41% NO ENTANTO, APESAR DOS AVANÇOS, A META DE 57 EM 1000 PARA 2015 NÃO FOI ALCANÇADA. Directivo da ADRA, José Katiavala, adianta que as condições sanitárias são um elemento importante que promove o desenvolvimento humano.

desenvolvimento humano; a esperança média de vida, como é sabido, é um dos indicadores utilizados pelas Nações Unidas para o cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano”, aclara. saúde acumula 24,6% (341,6 mil milhões de kwanzas). Com um aumento de 55,7% para 139,8 mil milhões de kwanzas, a saúde pública é a rubrica que mais cresce na subfunção Saúde do OGE. Os gastos com a saúde vêem o seu peso na despesa total aumentar em 0,3 pontos percentuais, de 5% em 2015, para 5,3% em 2016. Contudo, os investimentos na saúde continuam a ser baixos, mesmo comparando com países africanos como que contribuem para a saúde com cerca de 15% e 20% dos seus respectivos gastos públicos. EDUCAÇÃO RECEBE MENOS O segundo grande objectivo de universalização da educação primária. Em Angola, segundo o relatório, nos últimos 15 anos, tendo aumentado o


CAPA | 41

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

número de alunos matriculados em todos os níveis, passando de 2,2 milhões de alunos em 2001 para 8 milhões em 2014. Para José Katiavala, é justo reconhecer que muitas das medidas para a concretização deste desiderato têm sido postas em marcha, como os investimentos feitos ao longo dos últimos anos na expansão da rede do ensino primário e secundário e, mais recentemente, da expansão do ensino superior para todas as províncias do país. “Evidentemente, coloca-se o problema da qualidade de ensino nos diferentes subsistemas, um assunto que temos de resolver com urgência para não comprometermos o No ensino primário, a percentagem de crianças matriculadas passou de 76% em 2008 para 86% em 2014, com destaque para uma redução das disparidades de há uma grande diferença no acesso ao ensino entre as zonas rurais e urbanas. A taxa líquida urbana de frequência é de

84,6% e a rural 72,2%. As razões destas disparidades estão relacionadas com as grandes distâncias percorridas para se familiares da população da zona rural. Porém, a taxa de frequência primária em Angola está acima da média dos países da África Subsaariana e do mundo. Neste capítulo, o documento reconhece que houve progressos ao nível da taxa líquida de escolarização, mas as taxas de conclusão do ensino primário ainda são baixas, o que revela que esforços adicionais devem ser realizados no sentido de aumentar o número de alunos que o concluem. Em 2001, a percentagem de crianças que se inscreveram na 1ª classe e atingiram a 6ª evolução para 61,6%, sendo que as taxas de repetência e abandono contribuem sobrevivência escolar no ensino primário e comprometem a qualidade do ensino. De acordo com o relatório, esta é uma

questão pertinente para o contexto do nosso país, onde ainda temos uma parte rural (37,7%, de acordo com os dados preliminares do Censo 2014). As zonas rurais, em geral, estão sujeitas a uma exclusão social estrutural, vivem privações de acesso às oportunidades e aos serviços sociais básicos, factores que criam um quadro de precariedade profunda do ponto de vista da qualidade de vida. Em relação ao Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017, o membro da ADRA José Katiavala considera que o documento apresenta linhas de orientação bastante concisas no que toca ao desenvolvimento do homem angolano, traduzidas, fundamentalmente, no Plano Nacional de Formação de Quadros. No entanto, o peso das despesas com a educação no OGE 2016 desceram 1,2 pontos percentuais comparativamente ao de 2015, de 8,9% para 7,7%, correspondentes a 492,1 mil milhões de kwanzas. &


42

| CAPA

DESENVOLVIMENTO HUMANO

O QUE DIZ O INE SOBRE O BEM-ESTAR E A QUALIDADE DE VIDA DOS ANGOLANOS Pedro Correia

INDICADORES DEMOGRÁFICOS PARA ANGOLA procurou, junto do Instituto Nacional de Estatística, aprofundar os dados apresentados nos documentos consultados. No entanto, para que tal acontecesse, foi-nos pedido dirigido à Direcção Geral do INE para maiores não conseguiu fazer em tempo útil dada a demora nesta indicação. Assim, no relatório referente a 2011, cujo título é “Angola em números 2015”, disponível no site do INE, mostra que, no da população com cinco anos de idade, ou mais, que alguma vez frequentou uma escola áreas urbanas e em 68,4% nas áreas rurais, com uma média nacional estabelecida em 79%. Paradoxalmente, ou não, é a população do meio rural quem tem maior percentagem de escolaridade ou frequência escolar no ensino primário,

INDICADORES Taxa de mortalidade infantil

115,7 por mil

Taxa de mortalidade de menores de 5 anos

193,5 por mil

Taxa de mortalidade materna

1 400 por mil

Alfabetização

76%

Índice de Desenvolvimento Humano

0,486

Taxa de fertilidade Esperança média de vida

7,2 41,5 anos - mulheres 38,8 anos - homens Fonte: INE 2010, MINPLAN 2010, MINPLAN 2011

NO QUE DIZ RESPEITO À CONTINUIDADE DOS CUIDADOS APÓS A PRIMEIRA CONSULTA,

16,2%

DOS PACIENTES REGRESSAM PARA UMA SEGUNDA CONSULTA MAS QUEIXAM-SE DO MUITO TEMPO DE ESPERA, ENQUANTO 15,6% RECLAMAM POR FALTA DE MEDICAMENTOS. HÁ AINDA QUEM CONSIDERE QUE OS SERVIÇOS SÃO MUITO CAROS (6,1%), QUE HÁ FALTA DE HIGIENE (2,9%) E QUE HÁ INSUFICIÊNCIA DE PESSOAL QUALIFICADO (2,4%).

com níveis superiores a 81% contra os cerca de 52% nas áreas urbanas. O total nacional não ultrapassa os 51,9%. Já a iniciação (préescolar) situa-se entre os níveis mais baixos de participação, com os totais nacionais a descerem para os 4,2 pontos percentuais. O ensino secundário do 1º e 2º ciclo têm níveis de participação escolar muito próximos entre si, com médias nacionais a rondarem os 22% e os 17%, respectivamente. Aqui, o ensino secundário do segundo ciclo nos meios rurais desce para níveis inferiores aos 3% contra os 9% nas áreas urbanas. Os níveis mais baixos são, no entanto, encontrados ao nível da participação da população no ensino superior. Dizem os dados do INE neste relatório, “Angola em números 2015”, que, em 2011, o ensino superior do país absorvia apenas 2,4% dos angolanos e residentes em Angola.


CAPA | 43

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

SAÚDE Neste capítulo, o INE não divulga números dos hospitais, centros ou delegações de saúde existentes no país, referindo-se apenas aos dados relacionados a esses estabelecimentos em cada província e as principais doenças ou sintomas exemplo, da população que esteve doente nos trinta dias anteriores ao inquérito de Indicadores Básicos de Bem-Estar (QUBB – 2011). Aqui encontramos a febre-amarela ou a malária como dominantes entre as doenças registadas em todo o país, com 60% de incidência nas 1-2 PAGINA_22x14.pdf

1

11/18/15

zonas urbanas e 52,3% nas áreas rurais. A tosse vem a seguir, com níveis bastante aproximados nas duas áreas, 19,2%, respectivamente. As diarreias estão logo a seguir, meios urbanos e 11,9% no campo. Para o diagnóstico e tratamento, o INE aponta números que rondam os 45% para pessoas que, nas cidades, procuraram um médico, enquanto no meio rural esse número baixa para os 13,3%. Na procura de enfermeiros, os dados invertem-se, com 74,4% da população rural a obter diagnósticos e tratamentos

12:39 PM

enfermagem. Nas cidades, esse Há ainda outros dados a considerar, nomeadamente, consultas a parteiras ou praticantes tradicionais que, no campo, ultrapassam os 6%, enquanto nas zonas urbanas não chega aos 3 pontos percentuais. Neste capítulo, há ainda diz respeito à continuidade dos cuidados de saúde após a primeira consulta, que revela que mais de 66% da população não volta às consultas relacionadas com o primeiro diagnóstico. Entre as restantes fatias da população, 16,2% regressa mas queixa-se do muito tempo de espera,

enquanto 15,6% reclama por falta de medicamentos. Há ainda quem considere que os serviços são muito caros (6,1%), que há falta de higiene Estes dados iniciais estão, nesta altura, a ser complementados com a realização do Inquérito de Saúde, cuja conclusão está prevista para Abril de 2016, com o objectivo de ouvir 16 mil agregados familiares em todo o país para avaliar a situação do VIH/SIDA, assim de crianças e mulheres nas áreas da saúde, educação e protecção à criança. &


44

| CAPA

ENTREVISTA COM CARLOS FIGUEIREDO, ENGENHEIRO AGRÓNOMO E MEMBRO DA ASSEMBLEIA GERAL DA ADRA

“INVESTIU-SE MUITO POUCO NA CAPACIDADE DE GESTÃO E NO CONHECIMENTO”

Economia & Mercado (E&M)

Carlos Figueiredo (CF)

E&M

CF


CAPA | 45

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

TEMOS A NOSSO FAVOR UM NÍVEL DE RENDIMENTO PER CAPITA RELATIVAMENTE ELEVADO QUANDO COMPARADO COM OUTROS PAÍSES,

É NECESSÁRIO QUE HAJA MAIS CONSENSO E&M CF

per


46

| CAPA

CF

ZONAS URBANAS ENFRENTAM PROBLEMAS DE SANEAMENTO E&M E&M CF CF

E&M


CAPA | 47

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

O PROGRAMA “ÁGUA PARA TODOS” PODERIA TER GRANDE IMPACTO SOBRE A SAÚDE PÚBLICA, MAS FOI DESASTROSO DO PONTO DE VISTA DOS RESULTADOS A QUE SE CHEGOU.

E&M

CF

E&M

Angola? CF

&


48

| EM FOCO

IMOBILIÁRIO

UMA APOSTA CERTA EM TEMPO DE CRISE A Poltec existe em Angola há 20 anos, 14 dos quais dedicados ao desenvolvimento de projectos imobiliários de alto padrão arquitectónico, ajustados à realidade, cultura e necessidade dos angolanos, mas vendidos a preços competitivos no contexto do mercado nacional. A estratégia, de acordo com os gestores, é dar margens de valorização dos imóveis ao longo dos anos. Com uma forte experiência no sector e tendo já desenvolvido


EM FOCO | 49

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

Até há pouco tempo, o mercado imobiliário em Angola oferecia apenas dois tipos de produto. Um para as pessoas de menor poder económico, que era de qualidade também menor e alterações na estrutura do imóvel, para maior conforto. E outro para o segmento alto, com valores especulados que limitam o acesso ao mesmo a uma franja de clientes da classe média. Este cenário foi o ponto de partida da Poltec, segundo explica o PCA do grupo, costumamos chamar de

média-média porque, ao longo surgiu uma classe média constituída por pessoas que se formaram e capacitaram, e hoje, fruto da sua iniciativa empreendedora, ou através de um salário decente, conseguiram autonomia e independência para comprar imóveis de alto padrão de qualidade a preços que, com a actual oferta do Governo no sector imobiliário, através das centralidades, onde os apartamentos são espaçosos e decentes, o segmento médio vai

nos próximos tempos, ao passo que o alto poderá abrandar, daí a Poltec apostar num projecto da Vida. Questionado sobre o impacto do actual cenário macroeconómico de Angola no sector imobiliário, o responsável defendeu que, em período de crise, é sempre possível vislumbrar nosso cenário económico não seja favorável devido à redução do preço do petróleo, que afecta e todo sector imobiliário sofre

com as consequências do enfraquecimento do mercado, a Poltec tomou algumas medidas, que vão desde a documentação legal exigida pelas instituições angolanas, à oferta de um produto com qualidade e preços competitivos”, esclareceu O PCA da Poltec acrescentou ainda que a proposta da empresa procura o equilíbrio entre a alta qualidade e um custo controlado. é uma coroação do esforço que a equipa empreendeu ao longo técnicas acauteladas por quadros da Polónia que coordenam


50

| EM FOCO

CONHEÇA A URBANIZAÇÃO BOA VIDA 2

;

• Condomínios fechados e independentes;

Pista de corrida Salão de festas Spa

• Integração para escritórios e centro comercial; • Áreas de lazer e desporto;

Ginásio Piscina para Adultos e Crianças Jardim Infantil Campo de Futebol e Basquetebol

• 112 Lojas duplex no Centro Comercial • Hotel com 60 suítes • Escritórios • Creche • Supermercado • Escola


EM FOCO | 51

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

controlar o nosso custo, que angolanos”. os imóveis foram vendidos ao preço de 60 milhões de hoje ultrapassaram o valor devido ao reconhecimento de uma excelente relação custo800 dólares norte-americanos pelo metro quadrado, o que, actualmente, é um preço muito abaixo do praticado no mercado. Em Talatona, por exemplo, quadrado pode chegar aos 5 000 dólares”. URBANIZAÇÃO BOA VIDA: EXCELÊNCIA NA CONSTRUÇÃO

a construção das casas é a oferta de um produto que os clientes não sintam necessidade de alterar devido a algum responsabilidade a compra e importação de todo o material de acabamento, que é criteriosamente seleccionado. Claro que isso aumenta o grau de responsabilidade da nossa empresa, nomeadamente, do departamento de logística”, reconheceu, tendo também informado que a Poltec importa materiais da Polónia, África

por conta própria, porque a cara. Sendo assim, criámos várias unidades produtivas, como o departamento de electricidade e o de carpintaria, onde os técnicos estrangeiros capacitam os quadros nacionais”. que no sector imobiliário três elementos são imprescindíveis. isso, por mais atraente que seja o projecto, este tem menos possibilidade de ter sucesso.

inspecções pré-embarque, o que nos obrigou a encontrar por nós nesses países”.

Metropolitano de Luanda, que será executado até 2030. A cidade está a expandir para essa

de terrenos no centro, mas também à construção do novo aeroporto”. Outro factor atractivo, prosseguiu, é que, estando na Via Expresso, os moradores da estabelecer comunicação, de forma rápida e fácil, com o litoral, o pólo industrial de Viana e o novo aeroporto internacional parecia um projecto afastado da cidade, hoje está no novo centro de Luanda”, frisou Wojciech. tem mais de 150 casas erguidas, mas estas só começaram a ser construídas em Fevereiro de 2015, depois da conclusão das casas-modelo, para se evitar os dividida em cinco condomínios que estão a ser construídos


52

| EM FOCO

de acordo com a resposta do referiu. FOCO NA QUALIDADE DE VIDA Conforto, qualidade e segurança são algumas das atracções apresentadas em projectos imobiliários no país, embora, na prática, nem sempre estes pressupostos sejam cumpridos do projecto é a qualidade de vida dos moradores, garantida através da oferta de infra-estruturas e espaços verdes pensados para uma vida com mais qualidade. passando pelos acabamentos e equipamentos, tudo foi escolhido com o objectivo de servir as famílias e vê-las

crescer desfrutando ao máximo de uma boa vida”, refere a A Economia & Mercado visitou as casas-modelo disponíveis, onde os responsáveis da Poltec foram fotografados, e sentiu a satisfação de clientes inovador e com alto padrão de qualidade. A directora comercial da

mostram muita satisfação com os produtos, na medida em que acabamentos”. RELAÇÃO COM OS CLIENTES FIDELIZADA Gisela dos Santos acrescentou ainda que a Poltec prima por

estar tão grave, mas aquilo que tenho percebido é que, mesmo neste período particular que a economia está a viver, a Poltec tem vendido bem, tanto no satisfação pelo apoio que recebeu da imobiliária, particularmente dos departamentos jurídico e comercial.

ao cliente, de modo a promover departamento jurídico da Poltec,

é um complexo habitacional onde há a possibilidade de podem também investir, ao adquirir os espaços comerciais, tal como hotéis e escritórios, poupar o tempo que se perde no trânsito, porque teremos vários serviços incorporados na

mesmo. Constantino dos Santos, satisfeito com o investimento sector imobiliário pode ser uma boa área para investir em período de crise, desde que haja

a intervenção dos técnicos desta área da empresa é fundamental para que os comerciais possam ter tranquilidade no processo de venda dos imóveis. dentro das normas jurídicas e administrativas do ordenamento jurídico vigente, entretanto, no


www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

EM FOCO | 53

A DIRECTORA COMERCIAL, GISELA DOS SANTOS, AFINCA QUE A POLTEC PRIMA POR UM ATENDIMENTO PERSONALIZADO AO CLIENTE, DE MODO A PROMOVER UMA RELAÇÃO DE FIDELIDADE.

projectos Poltec, o departamento jurídico, trabalha no sentido de ultrapassar barreiras e obter o resultado pretendido, que é comercial as certidões prediais de modo, oferecemos comodidade e segurança ao investimento feito pelo cliente”. Sobre segurança no

qualidade do imóvel no projecto é um elemento atractivo por estar acima da média e por ter fundamental no mercado imobiliário. Porém, o gestor considerou que o preço de entrada do investimento é que é competitivo, é possível que que, se o mercado estiver em bolha, a tendência é o mesmo O departamento jurídico da Poltec intervém também na intermediação entre o cliente e a banca, que precisa de garantias palpáveis para conceder crédito. Sendo assim, para que o imóvel seja usado como garantia de crédito, é necessário que superfície, é necessário que


54

| EM FOCO

CAPACITAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS aposta na capacitação dos recursos humanos, progresso colectivo e individual das pessoas. a empresa produzir melhor, mas sim a sua

dentro do grupo que trata da parte eléctrica, apenas um deles estrangeiro, responsável pela coordenação e capacitação dos

recursos humanos, a maior aposta da Poltec é o departamento de engenharia e arquitectura.


EM FOCO | 55

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

CONSTANTINO DOS SANTOS, CLIENTE NO PROJECTO INFINITY I, EM TALATONA, MOSTROU-SE SATISFEITO COM O INVESTIMENTO QUE FEZ E CONSIDEROU QUE O SECTOR IMOBILIÁRIO PODE SER UMA BOA ÁREA PARA INVESTIR EM PERÍODO DE CRISE, DESDE QUE HAJA LIQUIDEZ FINANCEIRA PRÓPRIA OU POR RECURSO À BANCA.

tenha obrigatoriamente o registo predial, e o departamento jurídico assegura estes pressupostos aos clientes, bem como as instituições bancárias”, atestou Maria Teresa explica Gisela dos Santos, é um complexo habitacional concebido nos padrões internacionais, um empreendimento inovador, com um conceito até hoje não existente em Angola, adequado ao modo de vida do cidadão Angolano. Tem uma área total de 722 000 m2, que incorpora 730 residências, em 5 condomínios fechados e independentes,

integrando a qualidade de morar com a tranquilidade e segurança, que os moradores vão dispor de espaços como spa e ginásio. Agrupa ainda outros serviços como uma escola internacional, supermercado, creche, hotel, centro comercial com 112 lojas, clínica, escritórios e campos de desporto. para os quatro condomínios, tem imóveis de três, quatro e cinco quartos, implementados em lotes que vão de 360 a 1 080 disponíveis lotes de dimensões

a partir de 1 845 a 4 000 m2, com seis, sete e até oito quartos”, acrescenta a directora comercial da Poltec, referindo que o empreendimento proporciona aos clientes a resolução da problemática da habitação existente em Angola.

esclareu ainda que uma das grandes vantagens dos projectos

acordo com os costumes do povo angolano, que procura e gosta de espaço na sua casa. E com vista a garantir a qualidade e

muita satisfação pelos nossos produtos na medida em que constactam a qualidade e

propostas de investimentos, permitindo que os clientes apresentem uma contraproposta de acordo com a suas reais

acrescenta. & ao cliente, a Poltec SA aposta na formação de quadros nacionais”, argumentou Gisela dos Santos . Entretanto, a responsável


56

| PAÍS

CUNENE

A ÁGUA NÃO MATA A FOME Texto: Sebastião Vemba


PAÍS | 57

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

Ao longo dos 100 quilómetros que separam a cidade de Ondjiva da comuna de Xangongo, município de Ombandja, os charcos de água – provocados pelas primeiras chuvas que caíram sobre a província –, onde o gado passeava alegremente e saciava a sede depois de devorar o capim fresco dos campos, escondiam o drama da população afectada por uma seca que durou mais de um ano. O cenário que contemplávamos contrastava totalmente com as imagens de pessoas a percorrer longas distâncias com recipientes de água sobre a cabeça, animais mortos ao longo da estrada e pastores a guiar o gado numa procura incerta por água, como mostravam as redes sociais. Entretanto, apesar de minimizados com o início das chuvas, os vestígios da seca são visíveis nas principais aldeias assoladas.

Na aldeia do Oxandi, encontrámos Bento Tamunila, regedor de Ombala Yo Mungo, que viu morrer 36 cabeças de gado das quarenta que tinha. “Vai ser muito difícil recuperar”, admitiu o ancião de 75 anos, que adquiriu os animais ao longo dos anos em que trabalhou na Namíbia, região de Etosha. Visitámos Oxandi a 9 de Janeiro, cinco dias depois de terem caído as primeiras chuvas, e encontrámos parte das terras de Bento Tamunila já aradas. “Felizmente, começou a chover e, com os quatro bois que nos restam, conseguimos preparar as lavras, mas ainda vai levar algum tempo até termos comida”, esclareceu o regedor de Ombala Yo Mungo. Entretanto, elucidou, a produção agrícola de bens como o massango, massambala e feijão macunde, servirá apenas para o auto-sustento. “Não temos

condições para produzir quantidades acrescentou, apontando para os instrumentos velhos que usa para o cultivo da terra. “TEMOS ÁGUA, MAS A FOME CONTINUA” O mesmo drama vive a família de Judite Kuonume, de 63 anos, mãe solteira de Onepolo, região que faz fronteira com a Namíbia. Reunida com a sua prole à sombra de uma árvore, protegendo-se de um sol abrasador que endurecia a terra acabada de ser banhada pela chuva, Judite produzia óleo alimentar a partir de caroços do fruto de uma árvore cultivada na região, localmente chamada de gongo. “Quando chove comemos… Se não chove, não há nada”, disse, ignorando


58

| PAÍS

o fotógrafo que tentava roubar-lhe um sorriso, e continuou a lamentar. “A situação está perigosa. Caminhamos cerca de 2 quilómetros para conseguir água para período mais crítico, teve que vender parte dos seus cabritos e galinhas, ou permutá-los, para conseguir alimentos. Bento Tamunila, por sua vez, lembra que, quando as chimbacas (poços de água, na língua local) das aldeias mais próximas secaram, foram obrigados a fazer percursos de até 40 quilómetros para chegar ao rio Cunene e dar de beber ao gado. Infelizmente, ao longo da marcha, pelo caminho. Já na comuna sede de Ombala Yo Mungo, Mwayolele Hilifavale, de 60 anos de idade, lamenta a perda de mais de 19 cabeças de gado. Das 33 que tinha em sendo quatro deles machos. Apesar de já ter começado a chover, o também agricultor lembra que ainda há fome na região. “Temos água, mas a fome continua”, desabafou, reforçando que, enquanto não houver produção agrícola para o auto-sustento, nem apoio do Governo, terão que vender os poucos

animais que sobreviveram. “Se não produzirmos nada, só conseguiremos alimentos vendendo-os”. ainda que, por se tratar de um período de seca, os animais perdem valor, devido à sua saúde débil, daí que não espera conseguir muito da venda dos mesmos. APOIOS TARDAM EM CHEGAR Até ao fecho desta edição, falava-se em cerca de 755 mil pessoas e mais de 500 mil cabeças de gado afectadas pela seca, informação que não nos foi Provincial do Cunene, nem com o Secretário de Estado do Interior para a Protecção Civil e Bombeiros, que contactámos sem sucesso. Entretanto, de acordo com a Angop, que citou um relatório do Governo Provincial do Cunene, para responder às necessidades da população, serão necessárias 223 328 toneladas de alimentos mas, até então, só tinham sido conseguidas 1 600 toneladas de milho e 60 de feijão. Em Luanda, assim como em várias cidades do país, foram desenvolvidas campanhas de solidariedade para com as

vítimas da seca, onde foi possível recolher bens alimentares, água, medicamentos e roupas usadas. No domínio da saúde, foi desenvolvido um programa junto das comunidades, através de acções de prevenção e assistência sanitária. A Economia & Mercado contactou também o Ministério da Assistência e Reinserção Social, através do assessor para a comunicação e imprensa do ministro, a quem enviámos um questionário, mas as respostas não nos chegaram até ao fecho desta edição. Por sua vez, o Governador António Didalelwa, num dos encontros com a Comissão de Protecção Civil, garantiu a continuidade dos esforços do Governo no apoio à população afectada pela seca, sendo que já tinham sido desencadeadas acções imediatas para suprir a carência de alimentos da população. O documento do Governo do Cunene diz também que, no domínio da saúde pública, foi desenvolvido um programa junto das comunidades, através de acções de prevenção e assistência sanitária e, durante 2015, a província não registou nenhum caso de cólera ou doenças do fórum epidemiológico, como sarampo e sarna. &


PAÍS | 59

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

BENGUELA

HUAMBO

DESTACADO POTENCIAL GEOLÓGICO DO CUBAL

FAS TEM 4 MILHÕES DE DÓLARES PARA PROJECTOS

potencialidades”, que o município tem um grande potencial geológico, especialmente rochas graníticas, que carece de exploração. Silvano Levi, salienta que, além das rochas graníticas, os recursos argilosos e hídricos existem em abundância no subsolo dessa região e podem constituir uma forte fonte de divisas. Por esta razão, manifestou-se a favor de que esse potencial geológico seja explorado, para dinamizar a economia, com múltiplas vantagens para o empresariado local. &

MOXICO

CAMEIA PREPARA-SE PARA FEIRA DA BANANA A Feira da Banana, que se prevê que impulsione e dinamize o potencial da fruta, será realizada no próximo mês de Maio, no município da Cameia, província do Moxico, anunciou recentemente, no Luena, o director provincial da Agricultura, António da Silva. A feira, a decorrer de 5 a 9 de Maio, contará com a participação de 40 expositores que vão também apresentar outras frutas no certame, nomeadamente, laranja, tangerina e limão. O responsável valorizou a realização da feira que servirá de alavanca para impulsionar local. O evento, segundo o gestor, vai também proporcionar aos produtores nacionais uma oportunidade para exporem os seus produtos com qualidade, estabelecer parcerias, trocar experiências, assim como comercializar equipamentos. Quanto ao contributo da Feira da Banana no combate à fome, António da Silva informou que o certame contribuirá igualmente para a criação de empregos temporários, trará rendimentos aos produtores e permitirá o desenvolvimento de oportunidades de negócios. “A banana nacional é muito consumida e já começa a conquistar mercados. Num futuro breve, poderá ser exportada para países vizinhos, uma forma de expor o potencial económico da província e criar mais rendimentos para as famílias camponesas”, disse. &

ZAIRE

CHUVAS ESTRAGAM COLHEITA Os camponeses do município de M’banza Congo revelaram que as chuvas que se abatem intensamente naquela região destruíram as culturas de amendoim, feijão e milho devido ao transbordo do rio Lueji, comprometendo, deste modo, a colheita dos cereais. De acordo com os agricultores, citados pela Angop, foram comprometidas dezenas de hectares de cultivo. Segundo os mesmos, o perímetro agrícola do Lueji é, por natureza, fértil para a prática da agricultura, mas quando chove intensamente acaba por destruir as sementeiras devido ao transbordo do rio. &

O Fundo de Apoio Social (FAS) pretende executar este ano, na província do Huambo, 11 projectos diversos, avaliados em quatro milhões de dólares, visando melhorar as condições de vida da população. Em declarações recentes à Angop, o responsável local da instituição, Silva Siquilile, disse que serão construídas seis escolas (com seis e quatro salas de aula), dois postos médicos, igual número de centros de saúde e uma residência, sendo que a execução destes projectos será nos municípios do Huambo, Chinjenje, Ecunha, Caála e Chicala-Cholohanga e vai beneficiar 12 mil pessoas. Comparando com o ano anterior, Silva Siquilile disse que o número de projectos mantém-se, porém houve um incremento de 50% do valor a aplicar na componente social. Ainda este ano, segundo o responsável, o FAS vai executar 51 projectos na componente de desenvolvimento económico local que visam o financiamento de pequenos projectos, na sua maioria negócios, contra os 22 do ano anterior. O Fundo de Apoio Social foi criado a 28 de Outubro de 1994, ao abrigo do Decreto 44/94 do Conselho de Ministros, está presente nas 18 províncias do país, conta com o suporte financeiro do Governo, créditos do Banco Mundial e doações da União Europeia e países como a Noruega, Suécia, Japão, Itália, Holanda, além das petrolíferas multinacionais Chevron, British Petroleum, Shell, e o PNUD e a USAID. &


60

| LÁ FORA

PETRÓLEO EM 2016

UM NEGÓCIO NO FUNDO DO POÇO

Excesso de petróleo no mercado leva preço do barril a cair para mínimos de mais de doze anos. Ascensão dos Estados Unidos e reentrada do Irão no mercado são factores cruciais, como é a estratégia da Arábia Saudita para assegurar a sua riqueza a longo prazo. Preço tenderá a recuperar, mas não para os valores altos vistos nos últimos anos.

Junho de 2014: a Rússia acaba de anexar a Crimeia, o ISIS ataca o norte do Iraque e o preço do barril de crude, relativamente estável acima dos 100 dólares desde 2011, sobe para quase 115 dólares. Janeiro de 2016: dois dos principais produtores de petróleo, Arábia Saudita e Irão, cortam relações diplomáticas,

a situação no Iraque continua instável e o regime da Coreia do Norte anuncia um ensaio nuclear bem-sucedido. Estas notícias, que narrativa favorável à subida do preço do barril, passam ao lado da atenção do mercado. O barril cai abaixo dos 30 dólares pela

primeira vez desde 2004 e perde mais de 75% em apenas um ano e meio, caindo para o nível mais baixo de sempre em termos muito baixa, nas economias desenvolvidas). Por que cai, então, o preço do petróleo? E quais as perspectivas para o resto do ano?

A resposta imediata à primeira pergunta remete para a lei simples da oferta e da procura: depois do debate intenso, em 2008, sobre o esgotamento a prazo do petróleo, o mundo vive hoje com excesso de oferta. “O preço cai porque há excesso de oferta”, explica Agostinho Miranda, advogado com 30


LÁ FORA | 61

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

anos de experiência no sector da energia e fundador da Miranda Law Firm, em Lisboa. Os últimos 14 meses registaram um excesso de cerca de dois milhões de barris por dia. “É um choque semelhante ao de 1985/86 só que, nessa altura, o excesso de produção era três vezes maior, demorando mais de dez anos até que a procura o cobrisse”, acrescenta este especialista. O desequilíbrio entre oferta e procura explica-se por acontecimentos nos dois pratos da balança. A mudança mais dramática acontece no lado da oferta – e pode ser ilustrada pela saída, no início deste ano, de um navio petroleiro de um terminal do Texas para Itália, a primeira vez que tal acontece em cerca de quatro décadas. A revolução do shale oil nos Estados Unidos transformou o país num dos principais exportadores mundiais de petróleo, ao lado da Arábia Saudita. A maior economia do mundo duplicou a produção interna desde 2008, deixando de absorver os barris de produtores como Arábia Saudita ou Nigéria (que são forçados a baixar o preço para competir por mercados como a Ásia) e aumentando a quantidade disponível no mercado global. “A reemergência dos Estados Unidos como superpotência energética é a maior alteração estrutural no mercado da energia desde a António Costa e Silva, presidente da Comissão Executiva da Partex Oil and Gas, detida pela Fundação Calouste Gulbenkian, em Portugal. Se o aumento estrutural da oferta causado pelos Estados Unidos – com contribuições do Canadá e de outros países, como o Iraque – é o factor geral subjacente à queda dos nas últimas semanas tem sido a entrada em jogo de outro gigante adormecido: o Irão. O programa nuclear do país levou, em 2012, à aplicação de sanções que limitaram

a exportação de petróleo. No entanto, depois do acordo internacional na frente nuclear, a expectativa é de levantamento das sanções em Janeiro deste ano, com Teerão a planear já formas de recuperar a quota perdida para os seus competidores. diferentes analistas a estimarem mais 500 mil a um milhão de barris por dia no mercado. Este será, também, um impacto duradouro. “O Irão é uma superpotência energética adormecida”, aponta Costa e Silva. “Tem as terceiras maiores reservas mundiais de petróleo e de gás combinadas, com cerca de 75% destas reservas ainda por produzir”, explica. No passado, o cartel de produtores de petróleo – a OPEP, que Angola integra com mais 12 estados – cortava a produção para levantar os preços. A Arábia Saudita tem, contudo, resistido no último ano à pressão dos restantes membros (cujos governos estão sob forte pressão política e social devido à crise gerada pela queda dos preços) para cortar a produção, gerando tensão alta na OPEP. Os sauditas têm reservas para aguentar a sangria nos preços e jogam pensando no futuro: tentam arrasar os produtores norte-americanos (que têm custos dez a quinze vezes mais altos para extrair petróleo); tentam controlar o preço do petróleo para níveis que não mudem os padrões de consumo de forma tão forte que venham a tornar o ouro negro obsoleto no longo prazo (a economia da Arábia Saudita é totalmente dependente do petróleo). A acumulação de petróleo despejado em excesso no mercado surge também numa altura em que as necessidades de consumo não estão a acompanhar. A desaceleração económica (difícil de medir) na China, a segunda maior economia mundial, os riscos noutros mercados emergentes e a recuperação muito modesta da zona euro levam os analistas a perspectivarem uma redução da taxa global de crescimento. PARA ONDE VÃO OS PREÇOS? A história mostra que o equilíbrio no mercado do petróleo tende a mudar rapidamente e de forma abrupta – no início de 2004, o barril cotava abaixo dos 30 dólares para, quatro anos depois, tocar quase nos 150 dólares; nesse mesmo ano


62

| LÁ FORA

Vencedores e perdedores PERDEDORES 1. Produtores de petróleo I. A sangria nos preços do barril de crude é um enorme factor de pressão para todos os países produtores, na sua maioria muito dependente das receitas do petróleo para susterem as suas moedas e equilibrarem os orçamentos públicos. Países como a Arábia Saudita e outros estados do Golfo acumularam dos actuais preços – embora todos tenham recorrido a medidas para

sociais maiores. Na Noruega, um dos países mais ricos do mundo, o Governo declarou a sua indústria petrolífera “em crise”. 2. Produtores de petróleo II. As empresas de shale oil nos Estados Unidos – que extraem petróleo de fragmentos de rocha – têm custos muito elevados de extracção. Os preços actuais são devastadores para uma indústria nascente de um país que duplicou a produção desde 2008. Os analistas citam sinais de desaceleração do investimento neste sector, que registou quase três dezenas de falências no ano passado (mais do que nos cinco anos anteriores combinados). A estratégia saudita de deixar o preço cair tem como um dos objectivos afastar esta fonte de concorrência. 3. Empresas ligadas ao ciclo ou ao petróleo. Empresas de construção com negócios em países produtores (como a portuguesa Mota Engil presente em Angola, que perdeu mais de 23% da cotação em bolsa desde o início do ano), empresas fornecedoras dos projectos de investimento da indústria petrolífera (como a norte-americana Caterpillar, por exemplo) ou empresas de energia estão entre os principais penalizados no mundo corporativo. 4. Banqueiros centrais/economias desenvolvidas. Uma descida limitada no preço do petróleo é um incentivo para aos bancos centrais para baixar juros). Mas uma descida violenta, extraordinariamente expansionista – como na zona euro – pode

descida superior a 70% é um risco para a economia global. O

VENCEDORES 1. Empresas. Companhias de aviação (que vendem mais) ou fabricantes de automóveis (que vendem mais carros de alto valor acrescentado e maior consumo de combustível) são exemplos de empresas que ganham com a baixa do petróleo. 2. Economia. Apesar dos riscos para algumas economias e para o cenário global (ver “perdedores”), há vantagens para economias importadoras de petróleo em grande quantidade (o Japão é o principal exemplo, seguido da Índia) – e há vantagens que decorrem do aumento do rendimento disponível das famílias (e do consumo privado). &

de 2008, de pico histórico, o barril cai abaixo dos 40 dólares devido ao rebentamento da crise superava 125 dólares para se situar, hoje, ao nível de 2004. (Esta enorme volatilidade é, de resto, a razão pela qual o mercado petrolífero assenta no mercado de futuros, que ajudam empresas e países a acautelarem parte do risco.) Para onde vai, então, o preço? No curtíssimo prazo, a generalidade dos analistas do sector acredita que o fundo do poço em termos de preço está como o Goldman Sachs, que no pico dos preços, em 2008, chegou a assumir como cenário limite um valor de 200 dólares, admitem agora que, no limite, o barril poderá tocar nos 20 dólares. Este não é, no entanto, o cenário central das previsões: a Goldman fala em 40 dólares de preço médio e o consenso das estimativas dos analistas, compilado pela agência Reuters, apontava, no início do ano, para cerca de 50 dólares em 2016. “Os preços vão subir, em especial a partir do segundo semestre de 2017, quando o mercado absorver o excesso de produção e os efeitos dos cortes brutais no investimento se começarem a fazer sentir”,

prevê António Costa e Silva. Os preços em mínimos estão já a levar à retirada de produtores nos Estados Unidos – país que registou 26 falências neste sector só no ano passado –, uma tendência que deverá acelerar. Numa indústria que eliminou 250 mil postos de trabalho em 2015, o investimento está em valores muito baixos em todo o mundo. Tão certa como a expectativa de subida, parece ser a de que os preços não voltarão tão cedo a valores acima dos 100 dólares. Por um lado, porque a quantidade de petróleo armazenado em excesso levará tempo a consumir. Por outro, e mais importante, porque passos como o acordo de Paris contra as alterações climáticas – restritivo em relação ao consumo de combustíveis fósseis – leva grandes produtores, como a Arábia Saudita, a quererem controlar o preço para desincentivar o investimento em alternativas mais “limpas”. Esta produtores mais pequenos, como Angola. &

Texto: Bruno Faria Lopes Fotos: iStockphoto


LÁ LÁ FORA FORA | 63

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

BRASIL ESTÁ MAIS DESIGUAL

OCEANOS VÃO TER MAIS PLÁSTICO DO QUE PEIXES

A desigualdade de rendimento entre a população

O aumento da utilização de plásticos é

em 23 anos, de acordo com a ONG britânica Oxfam. A diferença de capital daqueles que estão entre os 10% mais ricos relativamente aos 50% da população que pertence à classe mais pobre, passou de 113 mil milhões de dólares, em 1988, para 194 mil milhões de dólares, em 2011.

os oceanos terão mais detritos desse material do que peixes, alertou o Fórum Económico Mundial de Davos, que decorreu na Suíça. “O sistema actual de produção, de utilização e de abandono de plásticos tem

subida acelerada de rendimento nas últimas duas

milhões de dólares e 120 mil milhões são perdidos anualmente em embalagens de

experimentada pelas pessoas mais ricas, a ONG indica que a distribuição da riqueza continua O relatório da Oxfam destacou ainda que, no ano passado, a riqueza acumulada por 1% da superou a dos restantes 99%. A ONG calculou que “62 pessoas detêm tanto capital como a metade mais pobre da população mundial”, quando, há cinco anos, esse montante equivalia ao capital das 388 pessoas mais ricas do mundo. &

WAL-MART FECHA 269 LOJAS E ENCERRA REDE EXPRESS

mudar, os oceanos terão mais plásticos do que peixes (em peso) até 2050”, indicou um comunicado do fórum, que reuniu líderes mundiais e multimilionários. As conclusões têm como base um estudo da fundação britânica Ellen MacArthur, em parceria com a consultora Segundo o relatório, a proporção entre as toneladas de plástico e as toneladas de peixe registadas nos oceanos era de 1 para

5 em 2014. Em 2025, será de 1 para 3 e até 2050 será de 1 para 1. O fórum considera necessária “uma reformulação total das embalagens e dos plásticos em geral”, bem como a procura de alternativas ao petróleo, principal matéria para a produção do plástico. Caso não seja encontrada uma matéria alternativa, essa indústria irá consumir 20% da produção petrolífera em 2050, alerta o relatório. Actualmente, vários países tentam limitar o uso de sacos plásticos. Em Portugal, por exemplo, entrou em vigor, em Fevereiro de 2015, uma taxa de 10 cêntimos (cerca de 20 kwanzas) sobre os sacos de plástico leves. França quer proibir o uso único de sacos de plástico no próximo mês de Março, enquanto o Reino Unido também aprovou uma legislação que exige que o uso destes sacos seja sujeito a uma taxa pecuniária. &

OPEP ESPERA REEQUILÍBRIO DOS PREÇOS Um relatório da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), de que Angola é membro, revela o optimismo da organização quanto ao processo de reequilíbrio do preço do petróleo a partir deste ano, já que a acentuada queda fará com que a produção dos concorrentes comece a cair. O documento, divulgado em Janeiro, analisa que “depois de sete anos consecutivos de expressivo crescimento da oferta fora da OPEP, muitas vezes superior a dois milhões de barris por dia, em 2016 está previsto um declínio da produção, com efeitos profundos no corte das despesas de capital”. &

O Wal-Mart Stores encerrou o seu formato de lojas menores, o Walmart Express, e fechou 269 unidades globalmente, incluindo 154 nos Estados Unidos, numa reestruturação que afecta 16 mil trabalhadores, dos quais 10 mil nos EUA e 6 mil noutros mercados. Segundo a empresa, as unidades fechadas representavam apenas 1% do seu lucro global: existem cerca de 11 600 unidades em todo mundo. Na América Latina, 115 lojas foram fechadas,

BANK OF AMERICA TRIPLICA LUCROS

de 558 lojas no país, que representam 5% da facturação. A empresa comprometeu-se a realocar os cerca de 4 mil funcionários brasileiros noutras unidades. Das 154 unidades fechadas nos Estados Unidos, 102 são do tipo Express, que tem um décimo do tamanho de uma loja convencional. O formato estava em testes desde 2011, mas não obteve os resultados desejados. &

bancos do mercado norte-americano, anunciou que no quarto trimestre de 2015 os lucros foram 9,3% acima do registado no mesmo momento de 2014. Segundo a Lusa, neste período, a instituição financeira americana arrecadou 3,3 mil milhões de dólares.

O presidente executivo do banco, resultados de 2015 têm os lucros mais elevados em quase uma década. De acordo com o responsável, a situação deveu-se, essencialmente, a uma forte redução das despesas e a uma diminuição dos gastos com multas ligadas à crise financeira. &


64

| EMPRESAS

HABITEC

O ROSTO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL


EMPRESAS | 65

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

A Habitec é uma empresa angolana que transforma madeira de eucalipto em mobiliário escolar, de residências e de restaurantes. Ganhou no ano passado o The Venture, uma competição global, cujo objectivo consiste em descobrir e apoiar as mais promissoras ideias de empreendedores sociais em todo o mundo. Criada em 2006, como meio de dar resposta à crescente procura de mobiliários anos de presença no mercado, a Habitec já leva os seus produtos para todo o país e vê, neste momento

Dos 120 trabalhadores da Habitec, vale destacar que 30% são pessoas com

Habitec, Felisberto Capamba,

on-job, algo a que Felisberto Capamba da Habitec, Felisberto capacitados e podem agora parte de um projecto de ajuda

produzir o carvão que servia de recurso, mas estabelece, como

Workshop, com um cariz social Desde 2010, altura em que


66

| EMPRESAS

aquele brilho em termos

escassez de divisas, mas isso RECONHECIDA INTERNACIONALMENTE escolares da Habitec chegam a uma competição global cujo e apoiar as mais promissoras ou cadeiras, a Habitec produz

capacidade de importação”,

pela marca escocesa de whisky, Para que as peças cheguem -chave para atribuir o prémio, avaliado em 100 mil dólares, e o mercado absorve um Huambo tem agora a missão

outra, em média, paga-se dez de trabalho e, como é óbvio, diz o que quer e como quer e a Habitec produz o material

UM NEGÓCIO QUE COMPENSA A Habitec tem uma carteira

&

Texto: Jacinto Malungo Cedidas pela empresa



68

| MERCADO E FINANÇAS

DÍVIDA CORPORATIVA

UMA ALTERNATIVA AO FINANCIAMENTO BANCÁRIO A comissão do Mercado de Capitais, entidade promotora e reguladora dos Mercados de Valores Mobiliários, e a Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA), sociedade gestora dos mercados regulamentados, colocaram à disposição de todas as partes interessadas o ambiente de negócios que torna possível a emissão e o investimento em títulos de dívida corporativa.

O Mercado de Dívida Corporativa é

é obtido através dos Mercados de Valores Mobiliários, o crescimento económico tem uma dinâmica própria, que não depende do ritmo a que os bancos comerciais conseguem reforçar ou não os seus capitais próprios. É mais uma via, através da qual a poupança é captada

O FINANCIAMENTO VIA MERCADOS DE VALORES MOBILIÁRIOS, ONDE SE ENQUADRA A DÍVIDA CORPORATIVA, OFERECE INÚMERAS VANTAGENS. POR EXEMPLO, MANTÉM O SISTEMA DE REEMBOLSO LONGE DOS RISCOS EXISTENTES NA ESFERA DA ECONOMIA REAL, O QUE CONTRIBUI PARA PRESERVAR A ESTABILIDADE DO SISTEMA FINANCEIRO, ALGO QUE NÃO É POSSÍVEL COM O FINANCIAMENTO ATRAVÉS DO CRÉDITO BANCÁRIO.

empresas, seja através de instrumentos de capital – tipicamente Acções – ou de instrumentos de dívida – tipicamente Obrigações. O Mercado de Obrigações Privadas

é o primeiro segmento de Dívida Corporativa a ser disponibilizado pela Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA). Permite aos investidores efectuarem as suas operações de compra

Mercados de Valores Mobiliários, onde se enquadra a dívida corporativa, oferece inúmeras vantagens. Por um lado, mantém o sistema de reembolso longe dos riscos existentes na esfera da economia real, o que contribui para preservar a através do crédito bancário.

e venda de obrigações corporativas em regime de order driven, isto é, por meio de interacção permanente de todos os interesses de compra e venda. De acordo com a BODIVA, após registo, são unicamente admitidos à negociação valores mobiliários escriturais que estejam integrados no sistema centralizado e o montante de emissão não deve ser inferior a 60 milhões de kwanzas. A BODIVA salienta ainda que o emissor deverá reunir um conjunto de requisitos, como ter resultados líquidos positivos no último balanço, apresentar notação de risco da emissão atribuída por uma sociedade de notação de risco registada na CMC, acções admitidas à negociação em mercado regulamentado garantia do Estado. EMISSÕES CORPORATIVAS GANHAM TERRENO EM ÁFRICA lado), as emissões no mercado de dívida corporativa atingiram os 329 mil milhões


MERCADO E FINANÇAS | 69

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

O MERCADO AFRICANO EMISSÃO DE DÍVIDA CORPORATIVA 2000-2015 (EM MILHÕES DE DÓLARES)

FINANCIAMENTO ESTRUTURADO 2000-2015 (EM MILHÕES DE DÓLARES)

Outros Países 70 423 (22%)

Outros Países 70 423 (22%)

África do Sul 134 385 (25%)

Angola 28 616 (5%) Supra Nacionais 47 334 (14%)

África do Sul 210 487 (64%)

Marrocos 20 351 (4%)

Egipto 110 980 (21%)

Gana 31 363 (6%) Libéria 33 588 (6%)

Nota: 89% das “supra-nacionais” são do Banco Africano de Desenvolvimento

Nigéria 57 535 (11%)

Nota: os valores da Libéria são essencialmente de empresas do sector marítimo Fonte: Bloomberg

CRONOGRAMA DE IMPLEMENTAÇÃO DEZEMBRO 2015

JANEIRO 2016

FEVEREIRO 2016

Processo de implementação Testes SIMER CUSTÓDIA - Membros Go Live CEVEMA / Negociação instrumentos privados Início do processo de Migração de carteiras para CEVAMA Início da Negociação Dívida Pública DATAS RELEVANTES:

• 18.01.2016 - Go live CEVAMA (Central de Valores Mobiliários de Angola) e a possibilidade de negociação de instrumentos privados • 19.01.2016 - Início da migração dos títulos de tesouro para a conta CEVAMA • 01.02.2016 - Go live Negociação de dívida pública em ambiente de bolsa Fonte: BODIVA


70

| MERCADO E FINANÇAS

ESTATÍSTICAS DE MERCADO E MEMBROS BODIVA MONTANTES NEGOCIADOS DE ACORDO COM NELSON COSTA, TÉCNICO SÉNIOR DO BFA, PARA QUE AS EMISSÕES CORPORATIVAS TAMBÉM GANHEM TERRENO NO MERCADO ANGOLANO, É PRECISO QUE AS EMPRESAS NACIONAIS TENHAM BOAS HISTÓRIAS PARA CONTAR, OU SEJA, TENHAM CONTAS BEM ORGANIZADAS, BOM RISCO DE CRÉDITO E TENHAM UM REPORTE FINANCEIRO ADEQUADO, PARA QUE SEJAM EMISSORES CREDÍVEIS.

de dólares nos principais mercados africanos. Só o mercado sul-africano representou 26 mil milhões de dólares do total de emissões registadas até ao mês de Novembro de 2015. Contudo, desde o ano 2000, as maiores emissões deram-se durante o triénio 2011-2013. Os principais emissores em mercados como o sul-africano e o egípcio são empresas públicas e privadas ligadas ao sector da energia, água e dos transportes. De acordo com os dados da Bloomberg, África do Sul é o país que apresenta Egipto aparece a seguir, depois a Libéria e a Nigéria. A fonte avança ainda que o mil milhões de dólares nos últimos 15 anos. De acordo com Nelson Costa, técnico sénior do BFA, para que as emissões corporativas também ganhem terreno no mercado angolano, é preciso que as empresas nacionais tenham boas histórias para contar, ou seja, tenham contas bem organizadas, bom risco de crédito e para que sejam emissores credíveis.

25 000 000 000 AOA

20 000 000 000 AOA

15 000 000 000 AOA

10 000 000 000 AOA

5 000 000 000 AOA

0 AOA Maio

Junho

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

Novembro Fonte: BODIVA

TÍTULOS DO TESOURO JÁ VÃO EM LARGOS MILHÕES O primeiro segmento de negócios disponibilizado a partir de Maio de 2015 pela Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA) já atingiu valores expressivos. De acordo com os dados da BODIVA, de Maio a Novembro de 2015 registou-se 500 mil Títulos de Tesouro e transacções no valor de 78,492 mil milhões de kwanzas (577 milhões de dólares), cifra que, embora ainda baixa para as aspirações da economia angolana, coloca a praça de Luanda no 12º lugar no ranking de bolsas africanas de Títulos de Tesouro e no 1º lugar entre os PALOP. A abertura de negociações de títulos de capital próprio representativo de dívida das empresas é mais um passo que a BODIVA dá em direcção à bolsa negociações está prevista para o próximo ano. O administrador executivo da Comissão de Mercado de Capitais, Patrício Vilar, assegura que está concluído o quadro regulatório e a

plataforma tecnológica de negociação e pós-negociação. Enquanto as empresas se preparam para o mercado accionista, escalão mais exigente do Mercado de Valores Mobiliários, e uma vez concluídos o quadro regulatório e a infra-estrutura de pós-negociação, Patrício Vilar acredita estarem criadas as condições para o arranque de mais um mercado, como antecâmara para o mercado de acções. Sobre o quadro regulatório, o Presidente da Comissão Executiva da BODIVA, Pedro Pitta-Groz, anunciou que as regras da BODIVA aplicáveis a este segmento do mercado já estão registadas e publicadas. Entre estas, o gestor destacou a regra da BODIVA do funcionamento dos sistemas de compensação, liquidação e centralização dos valores mobiliários. &

Quingila Hebo


transfer.sapo.ao

A VIDA É PARA SER PARTILHADA

O tempo não é para perder, a vida é para ser partilhada. Agora é fácil, grátis, e muito mais rápido transferir ficheiros até 3GB para quem quiser: chegou o SAPO Transfer. Não precisa de registo e basta escolher os ficheiros, indicar os destinatários, e por fim, enviar. O SAPO Transfer deixa-lhe tempo para se divertir, para descansar, para captar os melhores momentos da sua vida que quiser partilhar depois. Não perca tempo, nós transferimos.

SAPOTRANSFER

FÁCIL GRÁTIS MAIS RÁPIDO


72

| SOCIEDADE

LIXO HOSPITALAR

CENTROS MÉDICOS PERIFÉRICOS PRECISAM DE FISCALIZAÇÃO Texto: Jacinto Malungo


SOCIEDADE | 73

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

Num centro médico na zona dos Mulenvos, em Cacuaco, a escassos metros do aterro sanitário e da Recolix (empresa privada de recolha de resíduos hospitalares), constatámos aquilo que se considera uma desordem no tratamento dos resíduos hospitalares. Num balde, é depositado o lixo hospitalar (como seringas, agulhas, sistemas de soro, lâminas de bisturi), que neste balde que os pacientes depositam latas de refrigerantes e restos de comida. Diante deste cenário, questionámos o analista clínico do centro, que que tratamentos dão ao lixo quando aquele balde enche, o entrevistado respondeu: “É o dono do centro que leva o balde de lixo, para onde não sei”, reforçando que é apenas um analista e este assunto, do lixo, não é da sua alçada. O analista clínico alega que, por serem uma unidade sanitária de pequena dimensão e com parcos recursos, não têm capacidade para pagar os empresas que fazem a recolha e tratamento deste tipo de lixo. Por isso, pensa ele, é compreensível a “alternativa” do seu patrão, apesar de desconhecer o rumo que é dado aos resíduos hospitalares. Entretanto, o Regulamento Sobre a Gestão de Resíduos Hospitalares e de Serviços de Saúde do Executivo angolano prevê que cada unidade sanitária, pública ou privada, deve ter um plano de gestão de resíduos hospitalares e de serviços de saúde antes do início da sua actividade, uma medida que nem sempre é observada. Deste modo, situações como a do centro médico dos Mulenvos repetem-se noutros

hospitalares previamente separados pelas unidades sanitárias e leva para a sua estação de tratamento na zona dos Mulenvos. Entretanto, em 2012, a Recolix foi multada, pelo Ministério do Ambiente, em 10 milhões de kwanzas, por incinerar o lixo hospitalar a céu aberto. Na altura, o inspector-geral adjunto dos Serviços de Fiscalização do Ministério do Ambiente, Kayosso Cunha, asseverou, em declarações

NUMA RONDA QUE EFECTUÁMOS POR ALGUNS CENTROS HOSPITALARES, VERIFICÁMOS QUE SERINGAS, AGULHAS, COMPRESSAS COM SANGUE, PRÓTESES, GESSOS ACABADOS DE SER UTILIZADOS POR PACIENTES, E MUITO MAIS, PODEM SER VISTOS NOS CONTENTORES E BALDES DE LIXO FORA DOS HOSPITAIS OU NOS AMONTOADOS DE LIXO QUE FICAM AO AR

a empresa de saneamento que apresenta mais graves exemplos de todas as outras que “Depois dos vários trabalhos de inspecção realizados ao longo do ano, constatámos que a Recolix não cumpriu com as normas estabelecidas. Encontrámos a máquina de incineração avariada e não havia uma suplente que pudesse dar continuidade a esses trabalhos” avançou. Para mais dados sobre a empresa, a recolha e o tratamento do lixo hospitalar, solicitámos previamente uma mas, até ao fecho desta edição, a

centros hospitalares nas zonas periféricas da cidade capital. Numa ronda que efectuámos por alguns centros hospitalares, agulhas, compressas com sangue, próteses, gessos acabados de ser utilizados por pacientes, e muito mais, podem ser vistos nos contentores e baldes de lixo fora

dos hospitais ou nos amontoados UM MAU EXEMPLO A única empresa que trata da recolha e tratamento dos resíduos hospitalares é a saneamento básico e cuidados ambientais recolhe os resíduos

AMÉRICO BOAVIDA DONO DO SEU LIXO O Hospital Américo Boavida, no Rangel, elaborou um plano de gestão que visa educar os utentes e trabalhadores na política de segregação dos resíduos gerados no interior e no recinto hospitalar, e garantir a sua recolha, tratamento e eliminação. Dentro do Hospital, é notória a separação dos resíduos no próprio local onde são produzidos, sendo que cada tipo de lixo é colocado num saco


74

| SOCIEDADE

Contudo, a médica enterologista ressaltou que o Hospital Américo Boavida está a criar as condições necessárias para que seja o próprio hospital a tratar dos seus resíduos. Constantina Furtado desvendou que está para breve a implementação de um sistema que vai capacitar o hospital neste sentido. “O hospital pretende adquirir uma autoclave que custa 200 mil dólares. Esta máquina esteriliza o lixo transformando-o em lixo comum não contagioso”, adianta a médica, acrescentando que a projecção do Américo Boavida é não gastar mais dinheiro com o contrato de transporte de lixo para fora do hospital. “O objectivo é termos a autonomia de fazermos o tratamento do nosso próprio lixo, transformando-o em lixo comum”, augura. A directora-geral do Américo Boavida regozija-se com o facto de, quando for implementada esta medida de tratamento, o hospital gastar muito menos. Quanto ao dinheiro para adquirir a máquina, Constantina Furtado revela: “Conseguimos

RESÍDUOS HOSPITALARES

Europeia para comprarmos a máquina graças a uma de cor diferente. Os resíduos comuns (papel ou embalagens de comida) são colocados em sacos pretos, o lixo biológico (seringas ou sistemas de soro) é colocado em sacos vermelhos. No que toca aos resíduos perfuro-cortantes (agulhas, lâminas de bisturi), pela sua natureza, são depositados em recipientes próprios. Entretanto, os tecidos humanos, por não entrarem na categoria de lixo, são armazenados na morgue do hospital até que, na devida

altura, são enterrados em cemitérios da capital. A directora da instituição hospitalar, a médica enterologista Constantina Pereira Furtado, que a unidade sanitária paga, anualmente, o equivalente a 300 com a responsável, no estado actual da economia nacional, hospital, mas é um esforço que deve prevalecer porque evita outros males.

Constantina Pereira assumiu a existência de uma dívida que dura desde Julho do ano passado, período em que a Recolix, empresa privada que monopoliza o mercado na recolha de lixo hospitalar, suspendeu a recolha dos resíduos sólidos, o que levou a um acumular de lixo no hospital. A dívida ainda não foi liquidada, mas a empresa voltou a recolher o lixo depois de uma intervenção por parte do Ministério da Saúde.

portugueses, que revelou as boas práticas de higiene”. Quase todos os hospitais de referência têm planos de gestão de resíduos, gerados ao abrigo da prestação de cuidados de saúde. No entanto, os pequenos centros, situados nas zonas periféricas, merecem uma atenção especial por não darem o devido tratamento ao lixo hospitalar e por, em tempo de chuva, ignorarem completamente os males que este tipo de resíduos pode causar ao ser misturado com o lixo comum. &


activação da sua campanha inspirada no design e exibida na media culmina num evento divulgado no digital e promovido pelas RP de quantas agências Se a

precisa?

Se escolher a Executive Angola, chega uma. Hoje em dia é difícil ser gestor de marketing. Os desafios que as marcas enfrentam exigem estratégias 360º que podem envolver diferentes agências e processos. É aí que a Executive Angola faz a diferença. Oferecemos numa única agência as principais áreas da comunicação moderna, de forma integrada, para garantir qualidade global com impacto local. E nem é preciso lembrar as vantagens de tratar do seu 360º com um único interlocutor: decisões mais rápidas e eficazes, e um processo administrativo muito mais simples. Fale com a Executive Angola e conheça tudo o que podemos fazer pela sua marca.

COMUNICAÇÃO • ACTIVAÇÃO DE MARCA • DESIGN • EVENTOS • DIGITAL COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL E RELAÇÕES PÚBLICAS • GESTÃO DE MEDIA

LUANDA Talatona, Zona CS1 • Via AL 19 A • Luanda - Angola Tel. +244 222 006 029/ 030/ 031 • Móv. +244 925 117 847 • Fax +244 222 006 032 MAPUTO Rua de Marconi, N.º 43 • Bairro Polana Cimento • Maputo - Moçambique Tel. +258 21 485 652 • Móv. + 258 84 311 9150 LISBOA Rua Filipe Folque 10 J, 2.º Dt.º • 1050-113 Lisboa - Portugal Tel. +351 21 381 35 66 • Fax +351 21 381 35 69

www.fb.com/executiveangola www.youtube.com/executiveangola

www.executive-angola.com


76

| FIGURA DO MÊS

EMÍLIO LONDA, DIRECTOR DO DEPARTAMENTO DE ESTUDOS E ANÁLISES DA COMISSÃO DO MERCADO DE CAPITAIS

“DAQUI A ALGUNS ANOS ESTAREMOS MUITO MAIS FORTES” RESPONSABILIDADES Orientar uma equipa que produz análises e estudos que dão suporte ao processo de tomada de decisão das estruturas de liderança da Comissão de Mercado de Capitais. A equipa também disponibiliza o material de suporte ao processo de formação de agentes de

MÁXIMA DE GESTÃO “Tenta, não para te tornares num homem de sucesso, mas sim num homem de valores”, Albert Einstein.

CARREIRA /CURRICULUM VITAE Emílio Londa, 34 anos, é natural do Zaire. É mestre em Economia pela Universidade Católica de Lisboa e licenciado em Economia pela Universidade Católica de Angola. Frequentou na Universidade do Texas, pelo FMI, International Data Corporation (IDC), com o professor Amândio Vaz Velho, pelo International Capital Market Association (ICMA). Actualmente, do Mercado de Capitais (CMC) e professor assistente das Cadeiras de Desenvolvimento Económico na Faculdade de Economia da Universidade Católica de Angola. Antes da CMC, trabalhou para o Ministério do Planeamento de Angola como técnico sénior do Gabinete de Acompanhamento à Política Macroeconómica e na Deloitte em Angola e Portugal, sendo ainda co-fundador da empresa Pareto Consulting, uma empresa muito próxima à Universidade Católica de Angola. Foi também investigador do núcleo de macroeconomia e do (CEIC), tendo participado no Relatório Económico 2009 e 2010, no Relatório sobre Energia em Angola 2010 e 2011 e no Relatório Social 2011. É co-autor e editor da 1ª Colectânea de Teses Económicas da Universidade Católica de Angola.


www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

ECONOMIA & MERCADO (E&M) - Qual é a sua opinião face à actual situação económica do país? EMÍLIO LONDA (EL) - Angola está num processo de ajustamento em direcção aos seus reais fundamentos económicos. Este ajustamento está a ser brutal, pelo que a situação económica actual do país levará ao agravamento dos índices de profundidade da pobreza e de assimetrias de rendimento. Por outro lado, começamos a criar um primeiro consenso em torno da necessidade de mobilizar as nossas mais elevadas capacidades para superar a actual crise. Isto é muito positivo. Acima de tudo, estamos todos de acordo sobre as reformas fundamentais que a economia deve sofrer, faltando, contudo, uma discussão profunda sobre os detalhes de implementação das mesmas. Estou convicto de que, daqui a alguns anos, estaremos muito mais fortes. E&M – Quais os principais desafios que vê pela frente? EL - As políticas económicas de que o país precisa actualmente requerem um conhecimento mais profundo das estruturas económicas, o funcionamento dos diferentes mercados e a eficácia relativa dos diferentes instrumentos de política. Assim, diria que um dos maiores desafios é a criação, em tempo útil, de capacidades internas em matéria de análise económica, análise sectorial e nas áreas de métodos estatísticos e econométricos. Um outro pressuposto é a produção de estatísticas e informações que possibilitem este diagnóstico. Outro desafio fundamental para os tempos actuais é a modernização das estruturas de financiamento da economia. Um processo de saneamento das empresas públicas e de privatização por via da bolsa de valores permitiria dinamizar este mecanismo de financiamento da economia, além de conferir aos cidadãos uma oportunidade de participar no capital de empresas importantes. Um processo de privatização por via da bolsa é muito mais transparente e eficiente do que os demais processos. Penso que este é um dos desafios mais importantes, na minha área, nos tempos actuais.

FIGURA DO MÊS | 77

E&M - Como avalia o recém-lançado mercado de dívida corporativa e como pode ser uma mais-valia para a diversificação da economia? EL - O mercado de dívida corporativa, recentemente lançado pela BODIVA, é um marco revolucionário na história económica de Angola, que marcará uma era de maior eficiência na alocação de crédito, baseada na transparência, disponibilização de informação e boa gestão corporativa. Num ambiente de elevação das taxas de juro activas na nossa economia e de redução significativa da liquidez, nada mais prudente do que dar a oportunidade às empresas melhor geridas a ter acesso à liquidez dos agentes mais avessos ao risco, que existe em quantidades ainda satisfatórias. Para o país, o benefício resultará de uma maior oportunidade de inclusão financeira, que será alavancada pelos fundos de investimentos e por uma maior literacia financeira. A premiação dos melhores gestores (aqueles que obedecem aos princípios da boa governação corporativa e que são os mais capazes de gerar lucros nas respectivas áreas de actuação) será uma mais-valia para uma economia que precisa de aumentar os níveis de competitividade. É importante saber que a intermediação financeira por via do mercado de capitais é menos custosa, o que é um benefício adicional, tanto para o credor (que recebe maiores juros), quanto para o devedor (que paga menos pela dívida). E&M - Que aspectos distinguem o mercado angolano da realidade dos países da região? EL - A economia de Angola tem uma história recente de crescimento importante. Contudo, tem uma elevada margem de expansão, mesmo no curto prazo. Basta, para tal, que reorganize os seus factores de produção, com base numa estratégia de industrialização sustentada na expansão das capacidades das pessoas e das empresas, que o coloque na cadeia de valor da economia mundial. Penso que poucos países africanos apresentam o mesmo potencial de expansão como Angola. Este é o grande factor diferenciador.


78

| LAZER

PORTO “ON ICE”

APRENDA A BEBER VINHO COM A AJUDA DO SEU SMARTPHONE Agora já pode consultar, de forma rápida e tranquila, dicas que o vão ajudar a apreciar o seu vinho da melhor forma. Trata-se da aplicação ViniDikas, desenvolvida pela Lusovini, com quase 200 dicas e conselhos para quem quer tirar o melhor partido do vinho. Disponível gratuitamente nas lojas da Apple (AppStore), Android (Googleplay) e Windows (Microsoft Store), a ViniDikas é dinâmica, com actualizações constantes e dirigida aos mercados da lusofonia, nomeadamente Angola, Brasil, Moçambique e Portugal, onde o grupo Lusovini tem as suas empresas próprias. Em geral, destina-se a pessoas que gostam de vinhos e que precisam de ajuda para os escolher, saber em que ocasiões o beber e como os preparar antes de os servir. Na ViniDikas também é possível aprender como apreciar um vinho e a linguagem adequada para o descrever, além da sua conservação (a garrafeira em casa), até ao serviço que implica a abertura da garrafa, copos, decantação, temperaturas. Não menos importante, a aplicação indica como consumir o vinho à mesa, apontando as harmonias entre o vinho e a comida. &

O Vinho do Porto é o vinho português mais conhecido no mundo e o seu prestígio é bastante elevado. Mas a verdade é que apesar de manter uma imagem nobre, esta é algo antiquada, e hoje em dia não é fácil cativar para este vinho licoroso e doce a geração de apreciadores que tem entre 30 e 40 anos. Conscientes disso, os produtores de Vinho do Porto têm procurado encontrar novas formas de consumo que atraiam um público mais jovem. Há mais de uma dezena de anos foi divulgado o chamado Portonic. Trata-se de um cocktail feito com Porto branco seco, água tónica, gelo e limão, e que resulta muito bem como aperitivo num dia quente de Verão. Representou uma imagem diferente para o Porto, mas agora este foi ainda mais longe, no sentido de inovar este tipo de vinho tradicional. A Andresen, pequena casa de Porto especializada em vinhos raros e de grande qualidade, lançou no mercado internacional o Cambridge Ice, que é um lote de Vinho do Porto branco concebido copo largo com duas ou três pedras de gelo. E não é que resulta muito bem? O sabor é delicado mas ao mesmo tempo intenso, muito aromático, saboroso, com a leve doçura do vinho compensada pela frescura e pelo gelo. Bebido antes da refeição, acompanhando ginguba ou frutos secos, à sobremesa com doces de fruta ou depois de comer, como digestivo, é um vinho delicioso, refrescante, perigosamente sedutor. O Cambridge Ice é distribuído em Angola pela Lusovini e o preço em loja ronda os 8 000 kwanzas. & Luís Lopes


, O B A C NA TV A L E P M E C R O T TODOS A S E U G U T R O P LIGA

E AGORA PODEM TAMBÉM TORCER PELA LIGA ESPANHOLA DIVERTE-TE COM AS EMOÇÕES DAS LIGAS PORTUGUESA E ESPANHOLA Adere a um dos pacotes VIV L ou VIV XL e acompanha a Liga Portuguesa e a Liga Espanhola em tua casa com os teus familiares e amigos.

923 168 000 | 222 680 000 | tvcabo@tvcabo.co.ao | www.tvcabo.ao


80

| LAZER

LEICA ANUNCIA CÂMARA FOTOGRÁFICA À PROVA DE ÁGUA design rugoso que também promete oferecer uma maior resistência a impactos físicos. hardware componentes secos mesmo quando eles estão submersos. Segundo a fabricante, é possível operar o aparelho em profundidades de até 15 metros sem que isso prejudique o seu funcionamento. &

NETFLIX EM ANGOLA que oferece serviços de televisão via Internet, já está disponível em Angola. Agora, os consumidores angolanos poderão ter acesso aos conteúdos disponíveis, como séries, interface completamente em português. A informação foi avançada pelo O responsável disse que o serviço streaming em 130 países do mundo, incluindo o continente africano. “Com este lançamento, os consumidores de todo o mundo – de Singapura a São Petersburgo; de São Francisco a São Paulo – serão capazes de desfrutar dos ajuda da Internet, estamos a colocar o poder nas mãos dos consumidores para assistirem [aos programas] em qualquer &

ANGOLANA VENCE THE VOICE PORTUGAL A majestosa voz de Deolinda Kinzinga conquistou a terceira edição do The Voice Portugal, a edição mais vista de sempre. Deolinda, angolana de 20 anos, está em Portugal há um ano, onde estuda Direito, e mostra-se feliz com o carinho que tem recebido do povo português depois de arrebatar o título de detentora da melhor voz entre os concorrentes. “Ter recebido este carinho dos portugueses é muito bom. Sinto-me muito agradecida e todos os dias, na rua, vejo a forma linda como me tratam”, conta. Deolinda Kinzimba está a agora a gravar o seu primeiro álbum com a editora inspiração Whitney Houston e Mariah Carey. No entanto, promete: “Mas vou querer dar o meu cunho pessoal, dentro do soul. Quero criar a minha identidade”, diz. &


LAZER | 81

www.economiaemercado.sapo.ao | Fevereiro 2016

AO VOLANTE

MENOS COMBUSTÍVEL E MAIS SEGURANÇA

A Ford Motor Company e a Robert Hudson apresentaram o programa “Habilidades de Condução para a Vida” (Driving Skills for Life, em inglês) em Angola. Trata-se de um projecto para promover uma cultura de condução A Economia & Mercado esteve presente e traz-lhe várias dicas de como poupar ao volante no ano em que o preço dos combustíveis aumentou. VELOCIDADE DO MOTOR 1ª Velocidade… Arranque

6ª Velocidade… Possível acima de 50 UTILIZE A ENERGIA CINÉTICA Tire o pé do acelerador e deslize quando: mudar de direcção, em situações de “pára-arranca”, cedência de prioridade,

SELECÇÃO DE MUDANÇAS Mudança rápida da velocidade engrenada permite manter a velocidade do motor a

engarrafamentos, passagem de nível. *Nota: Carro parado com motor ligado por três minutos é equivalente a

mais alta possível, mude para uma mudança mais alta acima das 2 000 – 2 500 rpm, conduza normalmente às 2 500

Desligar o motor de arranque não prejudica a sua vida útil.

*OBS: Aplicável também para viaturas automáticas. IMPULSO/ENERGIA CINÉTICA Situações: Antes de um cruzamento, num sinal de “Stop” ou semáforo, no “pára-arranca”, utilizando livre arbítrio, podendo aumentar a distância de segurança para a viatura da frente. segurança aumenta a tranquilidade e capacidade de acção (evitando a travagem constante e as mudanças de velocidade engrenada). DESLIGUE O MOTOR Sempre que parar por mais de 20 segundos. Situações: Carga e descarga, semáforos,

PRESSÃO ADEQUADA DOS PNEUS pois diminui o consumo de combustível e aumenta a segurança (economia de 1% a da pressão correcta pode aumentar a resistência de rolamentos em 10%. O pneu pode perder metade do ar sem parecer vazio (aconselhável calibrar duas vezes por semana). REMOVA PESO E GRADES NÃO USADAS Remova pesos desnecessários da bagageira, retire suportes do tejadilho e bagagens ao transportar objectos no tejadilho aumentar a segurança. &


82

| REMATE

O PEIXE QUE COME MALÁRIA

Nuno Fernandes Jornalista Presidente do Conselho Executivo Grupo Executive

Importado da Carolina do Norte, o “peixeportadores de esporozoítos infectantes da -mosquito” sofreu uma pequena aclimatização malária do género Plasmodium. O ritmo em Cáceres, sul de Espanha, e foi espalhado com que o fazem é assustador. Acresça-se em toda a bacia do rio Tejo, rios, lagos, que o seu tamanho reduzido faz com que não pateiras, pântanos, tenha interesse para pauis, lagoas e charcos a alimentação do ser dos países referidos. Nas humano. A EXPERIÊNCIA DE lagoas de Mira, na região A experiência de TERCEIROS TEM MAIOR alentejana de Portugal, terceiros tem maior IMPORTÂNCIA QUANDO foram também criados importância quando OBSERVADA À LUZ DOS viveiros desse peixe que observada à luz dos RESULTADOS QUE TENHA se adapta muito bem resultados que tenha PRODUZIDO. NÃO TENDO a ambientes hostis e produzido. Não tendo UMA IDEIA DO VALOR condições adversas, como uma ideia do valor temperaturas elevadas e de uma operação DE UMA OPERAÇÃO DE águas pouco oxigenadas, de transladação da TRANSLADAÇÃO DA Gambusia Holbrooki GAMBUSIA HOLBROOKI em Angola. para o nosso ambiente, PARA O NOSSO AMBIENTE, Dizem os estudos acho, contudo, que ACHO, CONTUDO, QUE que a Gambusia é valeria a pena fazer-se VALERIA A PENA FAZER-SE extremamente voraz. esse exercício, em ESSE EXERCÍCIO, EM Estes peixinhos são termos de saúde pública, TERMOS DE SAÚDE PÚBLICA, canibais, capazes correlacionando-o com CORRELACIONANDO-O COM de predar a própria o custo da importação O CUSTO DA IMPORTAÇÃO descendência e dos anti-maláricos e DOS ANTI-MALÁRICOS E reproduzem-se da hospitalização dos DA HOSPITALIZAÇÃO DOS rapidamente (quatro vezes infectados, o valor por ano). da imobilização dos INFECTADOS (…) Os ovos são fecundados no ventre materno e vida laboral, estudantil, as suas crias nascem, não completamente desenvolvidas, mas já com alguma autonomia, vidas. Não há valor que o dimensione. Mas conseguindo logo alimentar-se, nadar e um facto temos de considerar: no Sul da comer larvas, principalmente dos mosquitos Europa deu resultado! &


BIC 10 ANOS

TER UMA OFERTA DE SEGUROS, É TER OUTRA DIMENSÃO.

Este é o momento. O momento que chegamos a 3 continentes e 5 países. E em que já contamos com mais de 1 milhão de clientes. O momento em que temos mais de 220 balcões em todo o país e mais de 2000 trabalhadores. E em que somos um Banco, mas também uma Seguradora, com a marca BIC Seguros. Por isso, chegou o momento de dizer: 10 anos depois, o Banco BIC tem outra dimensão.

www.bancobic.ao


FORAM PRECISAS MUITAS MÃOS PARA CONQUISTAR ESTES PRÉMIOS. BFA DISTINGUIDO COMO MELHOR EMPRESA DO ANO DO SECTOR FINANCEIRO E BANCO DO ANO EM ANGOLA. A excelência do BFA foi novamente reconhecida ao ser premiado pela terceira vez MELHOR EMPRESA DO ANO DO SECTOR FINANCEIRO, pela Delloite. Um prémio a que se soma o de MELHOR BANCO DE ANGOLA atribuído pelas revistas internacionais The Banker e Euromoney. Estes prémios são o resultado do desempenho e excelência de todos os nossos colaboradores e, também, da confiança que os clientes depositam em nós.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.