Economia & Mercado 140

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MAIO 2016 ANO 19 Nº 140 PREÇO 800Kz

ESPECIAL DIVERSIFICAÇÃO

AGRICULTURA ECONOMIA INFORMAL

OCUPA 60% DA POPULAÇÃO ACTIVA SEGURO DESPORTIVO

CENSO 2014

ANÁLISE

Protecção dentro e fora dos campos

condições básicas

Os contornos da intervenção do FMI

ENTREVISTA

OPINIÃO

empresária e membro de Direcção da AAPCIL

Fernando Pacheco Luís Todo Bom J.G Matos


NOVO PACOTE

PREÇO (UTT)

PREÇO (Kz)

PREÇO POR MB FORA DO PLANO (KZ)

500 MB PELO PREÇO DE 250 MB

125

900

7.2

2 GB PELO PREÇO DE 1 GB

375

2.700

5.8

4 GB PELO PREÇO DE 2 GB

625

4.500

4.3

10 GB PELO PREÇO DE 5 GB

1.250

9.000

2.9

20 GB PELO PREÇO DE 10 GB

2.000

14.400

2.0

50 GB PELO PREÇO DE 25 GB

4.500

32.400

*VELOCIDADE

REDUZIDA


MAIO 2016 WWW.ECONOMIAEMERCADO.SAPO.AO

RADAR 6 CÂMARA LIVRE 10 CONTRAPONTO 13 IPSIS VERBIS

18 CEICIN DA IMETRO REVELA PERDA DE CONFIANÇA DOS CONSUMIDORES Superior Politécnico Metropolitano de Angola (IMETRO) revela que, de Agosto

OPINIÃO 14 JUSTINO PINTO DE ANDRADE 16 CARTOON

MACRO ligeira recuperação (83 pontos), depois de ter batido no fundo (62,6 pontos) em Dezembro de 2015. A cifra obtida representa uma subida de 34,9% em relação ao mês de Janeiro e também a maior variação positiva de toda a série histórica do

18 ÍNDICE DO CONSUMIDOR 22 CENSO 2014 26 SEGURO DESPORTIVO

2014, em que vinha registando uma cada vez menor propensão dos luandenses a consumir.

OPINIÃO

48 ESPECIAL DIVERSIFICAÇÃO: AGRICULTURA

31 NÚMEROS EM CONTA

30 J. G. MATOS

CAPA meça esforços para empreender e produzir, contrariando a realidade. Porque estes

32 ECONOMIA INFORMAL 44 ENTREVISTA 48 ESPECIAL DIVERSIFICAÇÃO

da economia, e destacámos dois gestores – e as respectivas empresas a que estão verde”.

LÁ FORA 64 TERRORISMO

MERCADO E FINANÇAS

68 OS CONTORNOS DA INTERVENÇÃO DO FMI

68 INTERVENÇÃO DO FMI

Através do Ministério das Finanças, o Governo de Angola formulou um pedido de assistência técnica ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que se sujeitou a várias interpretações. Mas o comunicado emitido pelo próprio FMI e assinado pelo seu subdirector geral, Min Zhu, ajudou a desfazer algumas das dúvidas levantadas. O

SOCIEDADE

sejam iniciadas discussões sobre um programa económico que possa ser apoiado pela assistência técnica do FMI”. Há aqui, pois, duas questões interligadas: o

72 ALDEIA SOLAR 76 FIGURA DO MÊS

LAZER 78 VINHOS 80 OPINIÃO 81 AO VOLANTE

32 MERCADO PARALELO RONDARÁ OS 60% Em Angola, apenas 40% da população economicamente activa está empregada, de 2014. Com base em cálculos feitos pela Economia & Mercado, dos 13,6 milhões de habitantes com idades entre os 15 e os 64 anos, 8,2 milhões estarão no desemprego ou, na melhor das hipóteses, a desempenhar alguma actividade económica no mercado paralelo, contra os 5,4 milhões de pessoas que estão empregadas no sector formal. Estes dados vêm levantar várias dúvidas sobre a em 2014 por Decreto Presidencial, mas que ainda aguarda regulamentação.

REMATE 82 NUNO FERNANDES


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EDITORIAL | 5

www.economiaemercado.sapo.ao | Maio 2016

NÃO SE COMBATE A INFORMALIDADE APENAS COM MEDIDAS COERCIVAS Quingila Hebo

A abordagem da presente edição tem como tema central o mercado paralelo, um fenómeno que ganhou contornos incontroláveis na nossa economia, cujas políticas dirigidas ao sector nunca trouxeram nada de novo. As estimativas feitas em 2015 pela secretária de Estado das Finanças, Valentina Filipe, apontavam que o peso da economia informal em Angola suplantava o peso da formal, rondando os 60%, tornando-se, assim, num dos índices mais elevados deste sector em África. Este dado, embora representasse uma estimativa, acabou por 2014, segundo os quais, dos 53% da população economicamente activa, entre os 15 e 64 anos de idade, apenas 40% está empregada. De acordo com as contas da Economia & Mercado, com base de angolanos com idade para desempenhar alguma tarefa no sector da economia, o que se torna preocupante, na medida em que isto representa uma desestruturação do mercado porque promove a concorrência desleal, além de que apenas uma minoria está a

subemprego, pobreza, desigualdade de género e trabalho precário, o que está em linha com a realidade angolana. Nestas circunstâncias, de acordo com a OIT, o mercado paralelo torna-se um mal necessário de rendimento aos desempregados, devido à relativa facilidade demonstra que a maioria dos angolanos entra na economia informal, não por escolha, mas por necessidade de sobreviver e de ter acesso a actividades que lhe permitam obter um rendimento básico. Por isso, combater a economia informal com medidas coercivas pode ser um grande erro de política económica. As matérias da Economia & Mercado deste mês ajudam-nos a compreender que os agentes da economia paralela precisam, antes de tudo, de ser sensibilizados a perceber que, não sendo reconhecidos, registados, regulamentados ou protegidos pela legislação do trabalho e de protecção social, não podem desfrutar, exercer ou defender os seus direitos fundamentais enquanto agentes económicos e ter acesso a fácil. Um discurso que lhes diga para se formalizarem para terem que pagar impostos pode afastá-los cada vez mais desse processo. Os contornos do pedido de ajuda de Angola ao FMI, os resultados

Mas estes dados destapam outros problemas. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) diz que a economia informal se desenvolve em contextos de elevadas taxas de desemprego,

&

Propriedade Edicenter Publicações, Lda Directora Editorial Ana Filipa Amaro Director Sub-Editor

Copy Desk

Conselho

Editorial Laurinda Hoygaard; Justino Pinto de Andrade; José Matos; Fernando Pacheco; José Severino Redacção Colaboradores Bruno Faria Lopes; José Matos; Justino Pinto de Andrade; Luis Todo Bom; Nuno Fernandes; Sérgio

Piçarra Design

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Paginação Secretariado Aida Chimene Redacção Administração e Publicidade Smart Village Delegação em

Lisboa Impressão e Acabamento Tiragem

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6

| RADAR

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8

| RADAR

XYAMI SHOPPING INSTALA-SE NO LUBANGO O Xyami Shopping inaugurou recentemente um estabelecimento comercial no Lubango, constituindo o quarto empreendimento do género que a empresa Zahara Imobiliária inaugura em Angola em menos de dois anos. O último foi em Benguela. O Xyami Shopping da capital da Huíla dispõe de 40 lojas, uma zona privilegiada de restauração, cinco salas de cinema Cinemax, uma delas VIP, e o hipermercado Kero. Localizado no Bairro Dr. Agostinho Neto (Lage), estende-se por uma área comercial de 14 mil metros quadrados, contando com parque de estacionamento exterior com capacidade para 600 viaturas. A maior atracção tem sido a rede de cinemas multiplex Cinemax, com salas equipadas com projecção digital, tecnologia 3D exclusiva e som dolby surround 7.1. As salas do Cinemax estão também preparadas para receber reuniões, conferências e outros eventos. A publicidade destaca que no estabelecimento estão ao dispor “referências internacionais nos sectores da moda e na restauração – os restaurantes Só Peso e Manos –, no sector da saúde e beleza – Yves Rocher, Equivalenza, Perfumaria Fidalga e Okutala – e no sector da electrónica – Sistec”. &

TIGRA É A MAIS NOVA CERVEJA COM SELO ANGOLANO A Cerveja Tigra está ao dispor dos angolanos desde o mês de Abril, sendo o mais recente produto da empresa Refriango. “Com 5% de teor alcoólico, os seus ingredientes cuidadosamente seleccionados para garantir o prazer de uma cerveja refrescante e fácil de beber”, diz o comunicado da empresa. Num investimento de 50 milhões de dólares, a cerveja deverá ser exportada para Portugal e, em breve, para outros países, que certamente gostarão de apreciar uma bebida

cujo nome (Tigra) “tem como base a personalidade do consumidor angolano: audaz, determinado. Uma cerveja cheia de vida, cheia de garra. Tal como os angolanos”, descreve o comunicado. A Tigra é produzida no complexo industrial da Refriango, no Kikuxi, numa fábrica criada de raiz. A unidade industrial tem uma capacidade inicial de produção anual de cerca de 50 milhões de litros, mas as infra-estruturas estão preparadas para brevemente suplantar &



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| CONTRAPONTO

POLÍTICAS DE LIXO … ENTENDO QUE SEJA PRIMORDIAL QUE SUPEREMOS AS POLÍTICAS DE LIXO POR POLÍTICAS INTEGRADAS DE GESTÃO DE LIXO, O QUE INFELIZMENTE NÃO TEMOS NO PAÍS. ALIÁS, FALAR APENAS DE RECOLHA DE LIXO É UMA ATITUDE RETRÓGRADA E INIMIGA DO AMBIENTE, POIS O LIXO DEVE DEIXAR DE SER VISTO APENAS COMO LIXO.

Sebastião Vemba

A maka do lixo em Luanda é antiga. Na verdade o lixo — assim como a chuva — tem sido dos piores “inimigos” dos interinos do palácio do Governo Provincial de Luanda. Para combatê-lo, já várias políticas foram pensadas – algumas delas pobre Luanda. Curiosamente, há quase um ano, foi anunciado um novo modelo de recolha de lixo para Luanda. A expectativa dos citadinos era que a capital do país viesse a ter qualquer cenário melhor do que o actual estado calamitoso em que se encontra e que em nada tem favorecido o combate ao surto de febre-amarela que assola Luanda. Na altura, através do então director da ELISAL (Empresa de Saneamento e Limpeza de Luanda), Ermelindo Pereira, soube-se que algumas operadoras tinham interrompido a recolha de lixo devido à dívida que o Governo de Luanda tinha com as mesmas. Em consequência da crise, a ELISAL passou a ter apenas metade do seu orçamento mensal, incumprimento dos contratos com as empresas e a sua incapacidade de manter a cidade limpa. Porém, como a maka do lixo em Luanda é antiga, fez-nos pensar no destino que era dado ao dinheiro na época das vacas gordas… Como o tempo não perdoa, ele passou, o lixo na cidade aumentou e continuamos a aguardar pela entrada em funcionamento do novo modelo de recolha de lixo, agora aparentemente melhorado, apresentado pelo Governador de Luanda, Higino Carneiro, que anunciou que cada município terá uma operadora que vai cuidar da sua limpeza urbana e recolha de resíduos sólidos – um facto que não constitui novidade pois as operadoras sempre estiveram distribuídas por zonas. A grande novidade, porém, tem a ver com a contribuição dos cidadãos, que vão passar a pagar taxas pela recolha do lixo. Os valores vão dos 500 kwanzas aos 15 000

kwanzas, de acordo com a zona de residência, e dos 20 000 aos 150 000 kwanzas para as pequenas, médias e grandes empresas. Este assunto causou uma divergência de opiniões entre os luandenses, que questionam os critérios de após a regulamentação de uma lei de 2005 sobre as taxas de lixo em Luanda, de acordo com a qual o valor não pode superar os 15 UCF (unidade de Penso que é indiscutível que tenhamos todos da cidade. Entretanto, são de todo discutíveis os critérios e os valores encontrados, assim como se deve questionar de que forma as nossas contribuições serão geridas e como nós, os cidadãos, podemos fazer denúncia de possíveis incumprimentos. Suponho que todos estejamos de acordo que não faz sentido andarmos a pagar caro por um serviço mal prestado ou mesmo inexistente, assim como ocorre com as taxas de circulação que são cobradas a cada ano mas não se convertem na melhoria das estradas degradadas. que superemos as políticas de lixo por políticas integradas de gestão de lixo, o que infelizmente não temos no país. Aliás, falar apenas de recolha de lixo é uma atitude retrógrada e inimiga do ambiente, pois o lixo deve deixar de ser visto apenas como lixo. Não acredito muito numa alteração substancial do actual quadro se as políticas continuarem a ser de lixo. Assim, será necessário combinar os esforços dos vários organismos públicos e privados na adopção das melhores práticas de gestão e reaproveitamento dos resíduos sólidos, em que, obviamente, a componente educacional e formativa é fundamental, mas não informação que tenhamos, entre guardar o lixo em casa e depositá-lo num contentor a transbordar na rua ao lado, impedindo a passagem de veículos e pessoas, escolheríamos a segunda opção. &


RADAR | 11

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CLIENTES DO BE EM SINTONIA DIRECTA COM A ENSA Os clientes do Banco Económico (BE) podem agora recorrer à sua conta para efectuarem o débito directo dos prémios de seguros realizados com a Empresa Nacional de Seguros e Resseguros de Angola (ENSA). A medida deriva de um protocolo de colaboração assinado em Abril entre as duas entidades que visa permitir que os clientes do banco que tenham seguros efectuados pela ENSA façam o respectivo pagamento por débito directo na conta do BE. Desta forma, “os pagamentos de encargos com os seguros tornam-se mais fáceis,

práticos e cómodos para particulares ou empresas com contas no BE”. Uma nota de imprensa indica que “esta parceria com a ENSA representa mais um passo no sentido de estar cada vez mais perto dos clientes” do BE, um banco que “se assume como especialista, com um sólido conhecimento do mercado e da economia angolana”. O BE conta com uma rede de 70 balcões em 16 províncias do país, aos quais se juntam sete Centros de Empresas em Benguela, Cabinda, Huambo, Lubango e Luanda. &

MILLENNIUM E ATLÂNTICO FINALMENTE FUNDIDOS Os bancos Millennium Angola e Privado Atlântico foram autorizados a fundirem-se, o que resultou no Banco Millennium Atlântico. A informação foi prestada pela nova sociedade bancária, que acrescenta que a autorização foi concedida pelo Governo angolano e pelo Banco Nacional de Angola. Os accionistas prevêem que o novo banco venha a ter “um dos maiores

níveis de fundos próprios do sistema financeiro angolano, com um valor superior a 800 milhões de dólares, contribuindo fortemente para a sustentabilidade da economia angolana. O Millennium Atlântico prevê também liderar o financiamento ao Programa Angola Investe, com uma quota de 30%, empregar mais de 2 000 trabalhadores em 150 sucursais e ter mais de meio

milhão de clientes pelo país. Fundado em 2006, o Atlântico é o quinto maior banco do mercado em créditos e depósitos, com activos de 449 mil milhões de kwanzas em 30 de Junho de 2015. O Millennium Angola ocupa o sexto lugar no ranking do sistema bancário angolano em crédito e o oitavo em depósitos, com activos totais de 287 mil milhões de kwanzas. &

FÁBRICA DE VINAGRE E TEMPEROS EM VIANA O vinagre é o novo produto alimentar que está a ser produzido desde o mês de Abril no Pólo Industrial de Viana, numa parceria entre a fabricante Mendes Gonçalves e a empresa de distribuição alimentar Angoalissar. A parceria deu lugar à construção e operação de uma fábrica de vinagres, com a produção de 60 mil garrafas de vinagre por dia, num investimento que ultrapassou os cinco milhões de dólares. Na segunda fase, o investimento rondará os 10 milhões de dólares, com a construção da fábrica de temperos. Na cerimónia de inauguração, a ministra da Indústria, Bernarda Gonçalves Martins, sublinhou que este investimento do ramo alimentar “é um contributo directo para um dos mais importantes objectivos estratégicos do Plano Nacional de Desenvolvimento”, com recurso à matéria-prima nacional através da fruticultura. Por seu lado, Carlos Gonçalves, administrador da empresa Mendes Gonçalves, assegurou o prosseguimento do projecto em 2017, com a construção da fábrica de temperos, para a qual já foram admitidos 25 trabalhadores. &


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| OPINIÃO

O MINISTÉRIO DAS EXPORTAÇÕES A economia angolana adoptou, nos últimos anos, o modelo típico dos países com renda garantida: produtivo, utilização das receitas provenientes da exportação do petróleo para a importação de bens de consumo e equipamentos essenciais para o funcionamento do país. Com a descida acentuada do preço do petróleo, este modelo deixou de ser sustentável e o país tomou consciência da necessidade de aumentar a sua capacidade interna de produção de bens e serviços.

Começou, então, a consolidar-se, nas análises internas, a proposta de um modelo alternativo, de desenvolvimento de um sector produtivo para substituição de importações. Acontece que este modelo, que foi genericamente utilizado nos anos 70 do século passado, pressupunha Num mundo globalizado, este modelo provoca, de sistema produtivo, por ausência de concorrência, e interno. Acresce que, no caso particular de Angola, em que a produção de energia eléctrica está suportada em geradores de pequena potência, sendo, por conseguinte, acréscimo de custos na produção de bens industriais com em relação aos padrões actuais. O novo modelo a adoptar deve, pois, ser diferente: dimensionar o sistema produtivo, nas áreas em que o país pode ser competitivo internacionalmente, para mercado interno e exportar. Depois, com o produto da exportação, adquirir no exterior os bens, essencialmente industriais, em que o país não consegue ter preços competitivos. Este processo iniciar-se-ia nas áreas agrícola e pecuária

Luís Todo Bom Professor Associado Convidado do ISCTE-IUL (Portugal) Presidente do CA da Multitel e Administrador da Inotec (Angola)

alimentar e onde tem vantagens competitivas claras na exportação de vários produtos – e prosseguiria nas áreas das pescas, dos minerais e da indústria agro-alimentar. No âmbito dos serviços, o turismo surge como primeira prioridade. Mas é minha convicção que esta alteração de paradigma na economia angolana não ocorrerá sem uma manifestação política clara, nesse

sentido, por parte do Presidente da República. Uma hipótese académica para esta mensagem política seria a criação de um Ministério das Exportações com a missão de aumentar e serviços não ligados ao petróleo no PIB do país. Dentro desta hipótese académica, o Ministério integraria três Secretarias de Estado com vocações Estado do Comércio Externo, com a missão de incentivar, impulsionar e facilitar todas as actividades exportadoras; a Secretaria de Estado do Investimento Estrangeiro, com a missão de captar investimento internacional para unidades de cariz claramente exportador – Celulose, Siderurgia, Reparação Naval, Redes Hoteleiras, etc – ; a Secretaria de Estado do Turismo, com a missão de captar turistas estrangeiros e, por essa via, divisas internacionais, explorando as enormes potencialidades de Angola neste domínio – praia, pesca, caça, safaris, gastronomia, paisagens únicas, etc. Deixo às autoridades angolanas a análise da viabilidade e oportunidade de aprofundamento desta hipótese académica, que partilho com os meus pares da Academia, mas quero assinalar que este modelo de aposta nas exportações foi adoptado pelo Governo em que participei, em Portugal, de ajustamento à entrada do país na Comunidade Europeia e, mais recentemente, por força da crise económica actual. Os resultados foram muito animadores em ambos os casos: implementámos, no ano da entrada na Desenvolvimento da Indústria Portuguesa e, nos últimos cinco anos, aumentámos a percentagem das exportações no PIB, em cerca de 10% melhorando sensivelmente a balança comercial do país. &


RADAR | 13

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IPSIS VERBIS JOÃO LUKOMBO NZATUZOLA, DEMÓGRAFO IN REDE ANGOLA

Cupão de assinatura E&M.pdf

“O CENSO É UMA BASE PARA TRABALHARMOS. AGORA JÁ NÃO VAMOS TRABALHAR COM ADIVINHAS”

1

13/11/15

16:25


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| OPINIÃO

UMA DUALIDADE QUE PREJUDICA A INTEGRAÇÃO SUB-REGIONAL Há relativamente pouco tempo, alguém me questionou sobre o porquê de Angola estar, simultaneamente, inserida em dois blocos de integração sub-regional: a SADC (Comunidade (Comunidade Económica dos Estados da África Central), surgida, formalmente, em 1981, em Libreville, mas apenas operacionalizada em 1985.

EM TERMOS ECONÓMICOS, ANGOLA ESTÁ CLARAMENTE MAIS PRÓXIMA DA ÁFRICA AUSTRAL DO QUE DA ÁFRICA CENTRAL. OS PAÍSES DA SADC ESTÃO A DESENVOLVER PROJECTOS COMUNS NOS DOMÍNIOS DAS INFRA-ESTRUTURAS RODOVIÁRIAS, FERROVIÁRIAS, DE ENERGIA E ÁGUA E TAMBÉM DE PROMOÇÃO DO TURISMO E DO COMÉRCIO, FRUTO DA RELATIVA PAZ E ESTABILIDADE QUE HOJE VIVEM.

Justino Pinto de Andrade Economista

Comecei por responder que, de início, poderá ter havido alguma hesitação por parte das autoridades angolanas, dado que o norte e o nordeste do nosso país fazem parte, claramente, da África Central, enquanto o sul e o sudeste são, indubitavelmente, territórios da África Austral. Pode ter sido esse o motivo que nos levou a pôr um pé em cada uma dessas duas posições. Somos, de facto, um país de transição sub-regional. A SADC é, nem mais nem menos, que uma evolução política da SADCC (Conferência de Coordenação e Desenvolvimento da África Austral), instrumento sub-regional nascido em 1980, inspirado no espírito dos “Países da Linha da Frente” que apoiavam directamente a luta contra o regime do apartheid e se opunham à hegemonia da África do Sul, apostada, na altura, na criação de uma suposta “Constelação de Estados”, com apartheid, em 1990, permitiu colocar ponto incorporando a própria África do Sul. Mas vale a pena recordar o quadro de países integrantes, quer da SADC, quer da CEEAC. Na SADC estão a África do Sul, Angola, Botswana, República Democrática do Congo (RDC), Lesotho, Madagáscar, Malawi, Ilhas Maurícias, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia, Zimbabwe, Seicheles. Por sua vez, na CEEAC estão o Burundi, Camarões, República Centro Africana, Chade, Congo, Guiné Equatorial, Gabão, Ruanda, São Tomé e Príncipe, República Democrática do Congo e Angola. Como vemos, Angola e a RDC repetem-se em ambos os blocos. As repetições de países acontecem também

noutros blocos sub-regionais. Dos 15 países da Comunidade Económica de Desenvolvimento de Estados da África Ocidental (CEDEAO), sete também são membros da União Económica e Monetária dos Estados da África Ocidental (UEMOA), partilhando o franco CFA. Na própria SADC, cinco países – África do Sul, Namíbia, Botswana, Lesotho e Suazilândia – constituíram já uma União Aduaneira, a SACU (Southern African Customs Union), uma espécie de Bloco Central. E sete países da SADC integram a COMESA (Common Market for Eastern and Southern África), um total de 21 países que se pretendem constituir em União Aduaneira. Eu não vejo como se possa evoluir nesse sentido inequívoca por parte de cada país, pois as actuais dualidades inviabilizam o desenvolvimento das organizações sub-regionais, violando, mesmo, regras basilares da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em termos económicos, Angola está claramente mais próxima da África Austral do que da África Central. Os países da SADC estão a desenvolver projectos comuns nos domínios das infra-estruturas rodoviárias, ferroviárias, de energia e água e também de promoção do turismo e do comércio, fruto da relativa paz e estabilidade que hoje vivem. A CEEAC parece mais um projecto económico adiado, fruto da permanente convulsão em que vivem alguns dos países que a integram, com especial realce para a RDC, persistentemente instável. Uma verdadeira espinha espetada na “garganta” da SADC. &


MACRO RADAR | 15

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CCBA OFERECE CINEMA A CRIANÇAS DE LUANDA O Centro Cultural Brasil Angola (CCBA) proporcionou momentos de felicidade a 100 crianças naquela que, para elas, foi uma manhã diferente do habitual. O Instituto de Desenvolvimento Educacional e Internacional de Angola (IDEIA), co-parceiro do CCBA, alugou um autocarro e foi buscar as 100 crianças a duas instituições de solidariedade de Luanda: ao Centro de Acolhimento Arnaldo Janssen (CACAJ) e ao Lar Kuzuola. De lá, seguiram para o Centro Cultural, onde Esta iniciativa do CCBA deixou a sua directora, Nídia Kelin, muito satisfeita: “Temos uma programação semanal e quinzenal muito direccionada para crianças e adolescentes. Hoje, decidimos trazer as crianças destas duas instituições para participarem nesta rubrica chamada ‘Cineminha’. E o resultado não podia ter sido melhor: uma centena de sorrisos”. Nídia Kelin acrescenta que a iniciativa vai continuar. “Temos outras rubricas dedicadas especialmente aos mais pequenos e queremos continuar a trazê-los para usufruírem destes momentos de lazer, divertimento e aprendizagem”, assegura. As 100 crianças tiveram direito a uma refeição durante a manhã e estiveram sempre acompanhadas por monitores e por membros do CCBA. &

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A Sonangol, concessionária nacional de hidrocarbonetos, anunciou em Abril a descoberta de gás natural em dimensões comerciais em três blocos das concessões barris de condensados e de 2,5 triliões de pés cúbicos de gás. A descoberta perfaz um total de 570 milhões barris de óleo equivalente (BOE – unidade de energia utilizada para comparar diferentes formas energéticas de combustível: 1 BOE = energia produzida por um barril de petróleo bruto) no poço Lontra-1 do bloco 20/15, na Bacia do Kwanza. No poço Katambi 1, do bloco 24/11, as reservas são estimadas em 280 milhões de barris de condensados e oito triliões de pés cúbicos de gás, o que totaliza 1,7 biliões de barris de óleo equivalente. A companhia anunciou que vai iniciar contactos com os operadores dessas concessões visando o aproveitamento e desenvolvimento do gás natural descoberto. A operação desses blocos é regida por um contrato de partilha de produção entre a Sonangol EP, a Sonangol Pesquisa e Produção e a BP Exploration Angola. Dados estatísticos indicam que, no ano passado, a produção angolana de gás natural no Angola LNG caiu 8%, para 507 293 toneladas métricas, o que aconteceu depois de uma paralisação que se prolongou por mais de um ano, desde 10 de Abril de 2014. A companhia retomou a produção no quarto trimestre, mas previa que os carregamentos só começariam ao longo dos primeiros três meses do ano em curso. & + INFORMAÇÕES comercial@cosmos-viagens.co.ao www.hospitality.cosmos-viagens.pt/en


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| RADAR

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| MACRO

ÍNDICE DE CONFIANÇA DO CONSUMIDOR

CEICIN DA IMETRO REVELA PERDA DE CONFIANÇA DOS CONSUMIDORES Texto: Carlos Aguiar

Segundo o estudo, os 83 pontos, embora continuem abaixo da barra dos 100, e portanto, considerados negativos se comparados com o índice de Dezembro de 2015 e Janeiro de 2016, revelam que os consumidores da capital depositaram mais esperança nos em Fevereiro, que foi motivada sobretudo pelo anúncio da saída de Angola do radar do GAFI (Grupo de Acção Financeira Internacional). O consultor do CEICin da IMETRO, Jorge Troper, esclarece que, quando analisados os resultados da sondagem ao longo dos 18 meses em que foi realizada, nota-se claramente que os consumidores têm vindo economia pessoal. Jorge Troper revela que em Agosto

de 2014, período em que foi efectuada a primeira sondagem,

A PESQUISA DE SONDAGEM DO CONSUMIDOR CAPTA A PERCEPÇÃO DOS INQUIRIDOS EM RELAÇÃO À SUA CAPACIDADE DE POUPAR DIANTE DAS CONDIÇÕES ACTUAIS E FUTURAS DA ECONOMIA.

17,3%

Consumidor (ICC) na capital era de 105,4 (positivo), mas a partir de Outubro, período em que se começou a sentir os primeiros efeitos da crise, até Dezembro de 2015, o ICC começou a registar uma queda vertiginosa até chegar aos 62,6 (muito negativo), ou seja, os consumidores têm vindo a perder cada vez mais a O pesquisador do CEICin da IMETRO, Zeferino Venâncio, analisa que a trajectória da seguiu quase o mesmo caminho das variações do preço do barril do petróleo no mercado internacional. De acordo com o também economista, o estudo espelha que há uma relação


MACRO | 19

www.economiaemercado.sapo.ao | Maio 2016

SÉRIE HISTÓRICA EM PONTOS SITUAÇÃO ACTUAL PERÍODO

AMBIENTE SITUAÇÃO ECONÓMICO FINANCEIRA

INDICADORES

EXPECTATIVAS

DEMANDA

AMBIENTE SITUAÇÃO ECONÓMICO FINANCEIRA

DEMANDA

ISA

IE

ICC

Ago / 14

76.6

86.2

108.5

98.0

153.0

109.8

90.4

120.3

105

Set / 14

75.9

84.9

86.9

84.7

144.5

112.5

82.6

113.9

98.2

Out / 14

77.4

87.4

82.2

93.4

154.9

94.4

82.3

114.2

98.3

Nov / 14

72.1

88.7

71.1

85.1

159

110.8

77.3

118.3

97.8

Dez / 14

60.3

92.4

83.6

74.9

141.2

95.5

78.8

103.9

91.3

Jan / 15

37.6

74.5

74.3

75.7

130.5

81.9

62.1

96.0

79.1

Fev / 15

55.4

89.8

81.6

87.6

139.9

83.9

75.6

103.8

89.7

Mar / 15

43.8

86

78.8

68.4

141.6

91.6

69.5

100.5

85.0

Abr / 15

35.3

79.4

87.5

48.5

116.0

97

67.4

87.2

77.3

Mai / 15

29.2

79.0

78.0

49.3

113.8

92.2

62.1

85.1

73.6

Jun / 15

27.1

73.7

62.0

74.0

122.0

105.5

54.3

100.5

77.4

Jul / 15

34.9

79.2

79.5

79.9

128.9

110.7

64.5

106.5

85.5

Ago / 15

32.2

72.4

54.0

63.7

120.0

102.9

52.9

95.5

74.2

Set / 15

15.8

69.0

67.5

64.4

120.4

114.6

50.8

99.8

75.3

Out / 15

25.6

72.6

55.3

79.5

125.7

108.9

51.2

104.7

77.9

Nov / 15

29.2

62.6

53.8

72.8

130.7

121.7

48.5

108.4

78.5

Dez / 15

28.3

57.3

53.7

47.2

88.7

100.6

46.4

78.8

62.6

Jan / 16

31.7

48.7

29.7

72.9

106.5

79.6

36.7

86.3

61.5

Fev / 16

48.6

69.5

46.4

103.3

138.5

91.8

54.8

111.2

83.0

entre o preço do petróleo e Consumidor. Zeferino Venâncio avança ainda que outro factor que tem contribuído para a diminuição do ICC é a eliminação da subvenção aos combustíveis. vez que subia o combustível, o muito, porque o preço do gasóleo e da gasolina repercutiado Consumidor de Luanda é o resultado da compilação de dois sub-índices que o CEICin da IMETRO analisa, nomeadamente o Índice de Situação Actual (ISA) e o Índice de Expectativa para os próximos seis meses (IE). O ISA do mês de Fevereiro apontou 54,8 pontos, um aumento de

49,3% em comparação com o mês Janeiro (36,7 pontos). Este resultado, de acordo com o desempenho das variáveis que o compõem ao longo do mês em questão, nomeadamente, dos inquiridos, o ambiente económico e a demanda actual, que subiram 42,7, 53,7 e 56,2% respectivamente, em relação a Janeiro de 2016. Embora de modo relâmpago, em Fevereiro, a moeda norte-americana chegou a custar, no mercado paralelo luandense, 26 mil kwanzas, contra os 40 mil kwanzas a que se comercializava poucas semanas antes, concluindo-se ser um efeito imediato do anúncio do GAFI em relação à banca angolana. Em relação aos indicadores para os próximos seis meses,

o Índice de Expectativas de Fevereiro último marcou 111,2 pontos, um acréscimo de 24,9 pontos em relação ao mês precedente. O IE volta a passar a barra dos 100, depois de dois meses de queda vertiginosa. O bom resultado deste índice deve-se, sobretudo, ao bom desempenho de duas das suas componentes, nomeadamente, ambiente económico futuro, que apontaram 138,5 e 103,3 pontos percentuais, respectivamente. nas palavras de tomada de posse, dia 7 de Março último, do novo governador do BNA, Walter Filipe Duarte da Silva, que prometeu fazer da instituição que dirige uma verdadeira autoridade monetária e cambial, os consumidores da capital esperam que o custo da

moeda norte-americana volte a baixar e, com ele, os preços dos produtos da cesta básica. ESTÁ MAIS DIFÍCIL TER EMPREGO Apesar de uma ligeira melhoria, o Centro de Estudos do Instituto Metropolitano avança que o mercado de trabalho da cidade capital continua aquém do desejável. 84,2% dos inquiridos no mês de Fevereiro disse ter sido difícil encontrar emprego durante esse mês, contra os 90% do mês de Janeiro. “Os investidores aguardam pelas primeiras medidas do novo governador do BNA para tomarem as suas decisões de estudo. Já para os próximos seis meses, o optimismo dos


20

| MACRO

INFLAÇÃO SOB INVESTIGAÇÃO 67,2% 63,0%

NÍVEL DE PREÇOS MAIS ELEVADO, PRÓXIMOS 6 MESES

47,5% 62,7%

DIFICULDADE EM CONSEGUIR EMPREGO, PRÓXIMOS 6 MESES

67,2%

NÍVEL DE PREÇOS MAIS ELEVADO, PRESENTE

95,1% 84,2% 90,0%

DIFICULDADE EM CONSEGUIR EMPREGO, PRESENTE

0,0

20,0 Fev-16

40,0

60,0

80,0

100,0

Jan-16

IE

54,8

111,2

ICC

83,0

ser capaz de efectuar alguma

140,0 120,0

111,2

100,0

83,0

80,0

54,8

60,0 40,0 20,0 -

Ago-14 Set-14 Out-14 Nov-14 Dez-14 Jan-15 Fev-15 Mar-15 Abr-15 Mai-15 Jun-15 Jul-15 Ago-15 Set-15 Out-15 Nov-15 Dez-15 Jan-16 Fev-16

ISA

luandenses renova-se pelo segundo mês consecutivo, enquanto a percentagem de inquiridos que pensa que será mais difícil encontrar emprego nos próximos seis meses caiu de

IE

ICC

62,7 para 47,5%. Em relação ao nível de preços da economia, a sondagem de Fevereiro revelou que 67,2% dos entrevistados perceberam uma elevação dos preços dos produtos no último

planeado ou efectuado compras durante o mês. Em relação à demanda, entre os itens investigados, os mais procurados foram os computadores, tablets (33,0%), outros aparelhos electrónicos (30,9%) e móveis (18,6%). NÃO É UM BOM MOMENTO PARA POUPAR A pesquisa de Sondagem do Consumidor capta igualmente a percepção dos inquiridos em relação à sua capacidade de poupar diante das condições actuais e futuras da economia. Em relação ao presente, apenas

ÍNDICE DE CONFIANÇA DO CONSUMIDOR FEVEREIRO / 2016

ISA

semanas de Fevereiro, facto que não ocorria há já alguns meses. No que concerne aos próximos seis meses, os luandenses estão pouco optimistas, já que a nota de 100 dólares voltou a ser comercializada a 36 mil kwanzas no mercado paralelo desde as primeiras semanas de Março. Assim, 67,2% dos inquiridos respondeu que os preços estarão muito altos, contra os 63% do mês de Janeiro. Apenas 19,4%

mês. São 27,9% a menos em relação a Janeiro, valor motivado pela descida para abaixo de 30 mil kwanzas da nota de 100 dólares no mercado informal durante algumas

os 16,1% do mês anterior. Uma tímida resposta à queda relâmpago do dólar norte-americano, em Fevereiro, que fez com que os preços de alguns produtos baixassem ligeiramente. A percentagem de entrevistados que acredita que os próximos meses serão bons passou de 42,1 para 54,8%. O ICC registou a sua maior variação positiva de toda a a ascensão do optimismo do consumidor da capital angolana. Consumidor serve como um termómetro aos formuladores


MACRO | 21

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Conta Jovem BAI Para quem leva o futuro em conta.

C

de políticas económicas para medir o pulsar da economia num determinado momento, sobretudo a tendência da decisão do consumidor. Quanto menor a sua propensão para consumir, porque adopta uma postura mais conservadora. De acordo com o pesquisador do CEICin da IMETRO, Zeferino Venâncio, a sondagem do consumidor de Luanda é uma pesquisa de carácter qualitativo ordinal, o que quer dizer que procura transformar em indicador numérico a avaliação dos consumidores a respeito das variáveis investigadas, de acordo com as frequências relativas para cada opção de maneira ordinal de acordo com o grau de avaliação, que vai do mais negativo ao mais positivo, ou seja: as respostas possíveis são sempre: muito mal, mal, normal, bom e muito bom. Por outro lado, o mérito da pesquisa qualitativa é a possibilidade de captar e antever movimentos no ambiente económico no curto e médio prazo através da mensuração, em forma de indicador de dispersão, que varia de 0 a 200 pontos, onde valores inferiores a

valores acima de 100 mostram-se como avaliações positivas para cada indicador investigado. Os resultados gerados são de grande valia para o aprimoramento das políticas económicas implementadas, ajudando os produtores a orientar a oferta de bens e serviços num dado momento para se evitar prejuízos na produção. O Centro de Estudos e Investigação Politécnico Metropolitano de Angola é uma entidade de direito privado, autónoma, criada em 2012 para apoiar os cursos de Ciências Sociais do Instituto, com destacada actuação nas áreas de pesquisa, ensino e consultoria. Além da Sondagem do Consumidor, o CEICin da IMETRO desenvolve pesquisas e divulga outros estudos, como o Barómetro de Conjuntura Trimestral, o Observatório do Petróleo, Macroeconomia e Conjuntura Internacional, Finanças Públicas e Economia Monetária, Economia Regional, Mercado de Trabalho e Empregabilidade, bem como a Sondagem do Empresário, cujos primeiros resultados serão divulgados brevemente. &

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22

| MACRO

CENSO 2014

CONFIRMA FALTA DE CONDIÇÕES BÁSICAS DA POPULAÇÃO Texto:

Os resultados definitivos do Censo 2014 contradizem as estatísticas do Programa Água para Todos, segundo as quais, mais de 80% da população tem acesso a água. Tendo em conta os problemas de seca que se verificam todos os anos no sul do país, os dados do Censo 2014, quanto a esse assunto, estão mais próximos da realidade. Próxima da realidade está também a percentagem de angolanos com acesso a electricidade. De acordo com os dados, apenas 32% dos angolanos tem acesso a este bem. Desta percentagem, apenas 3,3 milhões vivem em

2,8% zonas urbanas e 2,1 residem em zonas rurais. O Censo também evidencia o quanto é deficitária a rede pública: apenas 1,7 milhões de habitantes da zona urbana,

um sexto da população de Luanda, tem acesso à energia da rede pública e apenas 48 mil habitantes das zonas rurais têm acesso à mesma. Esta realidade

espelhada pelo Censo ajuda a compreender o motivo pelo qual há poucas iniciativas empresariais no interior do país, principalmente nas zonas com forte potencial agrícola. Os dados definitivos do Censo 2014 revelam que Angola conta com 25,7 milhões de habitantes, dos quais 13,2 são mulheres e 12,4 são homens. Luanda é a província com mais habitantes, 6,9 milhões, a seguir vem a Huíla com 2,4 milhões. Segundo os cálculos do Instituto Nacional de Estatística, em Angola existem 20,6 mil habitantes por quilómetro quadrado.


MACRO | 23

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HABITAÇÕES FAMILIARES PERCENTAGEM DE AGREGADOS FAMILIARES, SEGUNDO O TIPO DE FONTE DE ÁGUA PARA BEBER A QUE TÊM ACESSO Charco/Rio/Riacho

15 1

Água da chuva/Chimpacas Nascente desprotegida

6

Nascente protegida

14

Cacimba desprotegida

17

Cacimba protegida

2

Furo com bomba

12

Chafariz público

2

Camião cisterna

10

Torneira do prédio/Vizinho, ligada à rede pública

6

Torneira na residência ligada à rede pública

11

Outros

2 0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Mais de 40% dos agregados familiares têm acesso a fontes apropriadas de água. Considera-se fontes apropriadas: torneira ligada à rede pública, chafariz público, furo com bomba, cacimba ou nascente protegida. Fonte: Censo 2014

76% dos angolanos vive em casa própria, 19% arrendou e 5% vive em casa ocupada ou cedida pelas autoridades. O PARADOXO DAS ESTATÍSTICAS Os dados oficiais do Censo 2014 espelham que 77% da população sabe ler, mas a maioria está no rol da população com idades no intervalo entre os 15 e os 24 anos, ou seja, estão enquadrados no grupo da população menos produtiva economicamente. O Censo diz que, dos angolanos que trabalham,

os homens com idades compreendidas entre os 40 e os 44 anos são os mais produtivos e as mulheres com idades entre os 45 e os 49 anos também são as mais produtivas. Os menos produtivos são os homens e as mulheres com idades no intervalo entre os 15 e os 19 anos e com mais de 64 anos. Quanto ao nível de escolaridade, apenas 13% da população entre os 18 e os 24 anos tem o 2º ciclo do ensino secundário concluído. Quanto ao ensino universitário, o Censo revela uma necessidade gritante de

o país formar mais quadros superiores, sendo que apenas 2,8% da população com idades entre os 25 e 64 anos concluiu o ensino superior e 0,8% de quem atingiu o grau superior corresponde à população em idade de reforma. O Censo revela ainda que os quadros superiores estão todos concentrados em Luanda (5,4%), Cabinda (3,8%) e Kwanza Norte (2,3%). Cunene (0,6%) e Bié (0,5%) são as províncias com mais necessidade de licenciados. Ainda segundo os dados

definitivos do documento, 25% da população entre os 18 e os 24 anos não concluiu nenhum nível de escolaridade, 54% com idades entre os 25 e os 64 anos também não terminou um nível de escolaridade e 89% da população com mais de 64 anos disse não ter frequentado a escola. A taxa de analfabetismo em Angola é de 34%. O Censo confirma que a inclusão tecnológica em Angola está atrasada, apenas 38% da população (7,8 milhões de habitantes), tem telemóvel, 10% (2,1


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| MACRO

SEGUNDO OS DADOS DO CENSO DE 2014, DOS ANGOLANOS QUE TRABALHAM, OS HOMENS COM IDADES COMPREENDIDAS ENTRE OS 40 E OS 44 ANOS SÃO OS MAIS PRODUTIVOS E AS MULHERES COM IDADES ENTRE OS 45 E OS 49 ANOS TAMBÉM SÃO AS MAIS PRODUTIVAS. OS MENOS PRODUTIVOS, SEGUNDO O CENSO, SÃO OS HOMENS E MULHERES COM IDADES NO INTERVALO ENTRE OS 15 E OS 19 ANOS E COM MAIS DE 64 ANOS.

HABITAÇÕES FAMILIARES Percentagem de agregados familiares, segundo o principal local de depósito do lixo, por área de residência 8

Enterra 6 4 Queima

3 87

Ao ar livre

59 1

Contentores

31 0

Outros

1

0

20

40 Rural

60

80

100

Urbana

Cerca de 6 em cada 10 agregados familiares, nas áreas urbanas, deposita o lixo ao ar livre, e cerca de 9 em cada 10, nas áreas rurais, tem o mesmo procedimento. Fonte: Censo 2014

milhões de habitantes), tem acesso à Internet, e 10% (dois milhões de habitantes), tem acesso a computadores. De acordo com os dados, os homens, embora em minoria em relação às mulheres, são os que têm mais acesso às tecnologias de informação e comunicação. De uma forma geral, no capítulo socioeconómico, os dados definitivos do Censo 2014 confirmam que o Executivo ainda tem muito por fazer no que concerne à melhoria das políticas macroeconómicas para garantir as condições básicas aos mais de 25 milhões de almas que vivem no país. &


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26

| MACRO

SEGURO DESPORTIVO

PROTECÇÃO DENTRO E FORA DOS CAMPOS Texto:


MACRO | 27

www.economiaemercado.sapo.ao | Maio 2016

CAPITAIS DE SEGUROS ENSA ATÉ 16 ANOS

INDICADORES

Incapacidade Permanente

30 000,00

Despesas de Tratamento Médico

10 000,00

Despesas de Repatriamento

5 000,00

Despesas de Funeral

3 000,00 1ª OPÇÃO (USD)

2ª OPÇÃO (USD)

3ª OPÇÃO (USD)

Morte ou Incapacidade Permanente

50 000,00

75 000,00

100 000,00

Despesas de Tratamento Médico

10 000,00

15 000,00

30 000,00

Despesas de Repatriamento

5 000,00

6 000,00

8 000,00

Despesas de Funeral

3 000,00

3 000,00

5 000,00

MAIORES DE 16 ANOS

Fonte: Ensa

A ENSA ADVOGOU PARA A CRIAÇÃO DESTE SEGURO A PREOCUPAÇÃO APRESENTADA POR VÁRIOS AGENTES DESPORTIVOS QUE PRETENDIAM DA SEGURADORA PÚBLICA UM PRODUTO QUE FOSSE AO ENCONTRO DAS EXIGÊNCIAS DO SECTOR DESPORTIVO.

Antes de Março deste ano, os desportistas angolanos não dispunham de nenhum seguro ligado especificamente à sua actividade profissional. Tanto atletas, como árbitros, cronometristas, treinadores e dirigentes desportivos dependiam da adequação de um seguro disponível nas seguradoras para a situação por que estivessem a passar, como ocorria na ENSA, que é a seguradora oficial do Comité Olímpico Angolano (COA) e do Comité Paralímpico Angolano (CPA), que usava os seus seguros não criados para o desporto para dar respostas a um infortúnio decorrente do exercício do desporto. Agora, o mercado segurador angolano já conta com o seguro da

ENSA, lançado a 22 de Março na Galeria dos Desportos da cidadela desportiva, em Luanda, e com o da Global Seguros, apresentado em Abril. Apesar de ter anunciado o seu Seguro Desportivo mais tarde, o director Comercial e de Marketing da Global Seguros, Gustavo Soares, revelou à Economia & Mercado que a sua firma já tinha este seguro criado e só não o tinha apresentado antes por uma questão de agenda. Em termos técnicos, o seguro da ENSA assemelha-se ao da Global Seguros, divergindo apenas em aspectos como a abrangência etária: a Global oferece o seu produto para atletas de idade não inferior a três anos e superior a 70, enquanto o seguro da

ENSA vai dos cinco aos 60 anos. A Global diferencia-se também nos capitais dos seguros, oferecendo três opções. Uma delas, a Premium, permite que o cliente escolha livremente os capitais que pretende para cada uma das coberturas. As outras opções de capital são o Bronze e a Prata, que a empresa afirma tornar mais fácil a aquisição dos seus produtos, que são vendidos em kwanzas. A ENSA, por seu turno, oferece, igualmente, três opções e, não obstante a flutuação cambial, os capitais de seguro da empresa são todos vendidos em dólares norte-americanos. Para os casos de morte ou invalidez permanente, por exemplo, os preços vão dos 50 mil aos 100 mil dólares. UM PRODUTO INOVADOR A ENSA advogou para a criação deste produto a preocupação apresentada por vários agentes desportivos, que pretendiam da seguradora pública um produto que fosse ao encontro das exigências do sector desportivo, ou seja, um produto preparado para garantir


28

| MACRO

A GLOBAL DIFERENCIA-SE DA ENSA NOS CAPITAIS DOS SEGUROS, OFERECENDO TRÊS OPÇÕES. UMA DELAS, A PREMIUM, PERMITE QUE O CLIENTE ESCOLHA LIVREMENTE OS CAPITAIS QUE PRETENDE PARA CADA UMA DAS COBERTURAS. AS OUTRAS OPÇÕES DE CAPITAL SÃO O BRONZE E A PRATA, QUE A EMPRESA AFIRMA TORNAR MAIS FÁCIL A AQUISIÇÃO DOS SEUS PRODUTOS, QUE SÃO VENDIDOS EM KWANZAS.

o pagamento de danos corporais que os atletas segurados possam sofrer no exercício desta actividade. Assim, quer a ENSA, quer a Global Seguros, apresentaram um produto que protege os desportistas em caso de lesões e danos corporais que resultem em incapacidade total ou parcial, temporária ou permanente, para o trabalho, ou morte no exercício da actividade desportiva. Neste sentido, Gustavo Soares, director Comercial e de Marketing da Global Seguros, avança que já está estabelecido um contrato com o Clube Recreativo do Libolo para que a seguradora proteja o clube do Kwanza Sul nesta vertente. Por sua vez, a ENSA, na altura da apresentação deste produto, ofereceu as primeiras apólices ao atleta paralímpico José Armando Sayovo e à andebolista Ilda Bengue. Segundo o director técnico Não Vida da ENSA, Rolande Gomes, o seguro desportivo da ENSA pode ser feito pelas federações, associações, clubes desportivos e entidades prestadoras de seguros desportivos. Rolande Gomes,

CAPITAIS DE SEGUROS GLOBAL SEGUROS COBERTURAS

OPÇÕES DE CAPITAL (AKZ) BRONZE

PRATA

Morte ou Incapacidade Permanente

6 000 000,00

12 000 000,00

Despesas de Tratamento e Repatriamento

1 500 000,00

3 000 000,00

Despesas de Funeral

400 000,00

800 000,00

que falava durante a cerimónia de apresentação do seguro na Galeria dos Desportos, adiantou ainda que este seguro não abrange pessoas com menos de cinco anos e mais de 60 anos apesar de, em Angola, termos atletas nessas idades, facto que gerou alguns questionamentos durante a apresentação do produto, sendo que a seguradora prometeu reavaliar o caso. Um aspecto que também levantou dúvidas é a imprevisão da cobertura de evacuação para o exterior do país em casos de impossibilidade de a enfermidade ser tratada em Angola. A isso, a ENSA atesta que, “caso se verifique que o prolongamento ou a gravidade não tenha solução em

Angola, a seguradora pode criar condições de o beneficiário ser tratado interesse da empresa “que o segurado Entretanto, a ENSA lançou também o Seguro de Responsabilidade Civil em Eventos Desportivos e Actividades Similares, quando promovidos pelo segurado. Este seguro cobre os danos corporais ou materiais causados a terceiros, sendo que o Presidente do Conselho de Administração da ENSA, Manuel Gonçalves, disse à imprensa que o produto cobre danos até 500 mil dólares norte-americanos, sendo que uma das primeiras opções de capital fixa-se nos 50 mil dólares. &


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| OPINIÃO

OS MILIONÁRIOS DE NOVA IORQUE Uma notícia do mês passado informava que quarenta milionários de Nova Iorque, numa carta aberta ao Governador e aos legisladores do Estado, pediram para serem aumentados os seus impostos, para assim compensarem a manutenção de impostos reduzidos das famílias mais carenciadas. No momento em que Angola passa por uma das mais sérias crises da sua história recente, achei adequado enfatizar este chamamento à realidade. É CASO PARA LEMBRAR AQUELA MÁXIMA: QUANDO OS RICOS NÃO TOMAM CONTA DOS POBRES, ESTES ACABAM POR TOMAR CONTA DOS RICOS. DE QUE SERVE A UMA PEQUENA ELITE SER RICA, SE NÃO CONSEGUE VIVER TRANQUILAMENTE NO SEU PRÓPRIO PAÍS?

Era sabido que o abandono da opção socialista com a adopção de uma economia de mercado em Angola teria os seus riscos, num país em guerra e com instituições ainda coisas enquanto durou. Catorze anos após o positivo. A quebra no preço do único produto muitas das políticas públicas. transição para uma economia de mercado. construção, os pilares salientes da economia angolanos não foram capazes ou não tiveram tempo de ocupar esse espaço. O resultado mercado selvagem, onde imperam os lobbies da importação e de interesses que se foram distanciando cada vez mais do desiderato maior: resolver os problemas do povo. A transição para uma economia de mercado devia ter tido por base um credo político sólido e um Estado forte. Ainda se falou formulação de um credo político concreto, Estado e mobilizador de todas as forças vivas dos valores que sustentam uma sociedade justa

José Gualberto Matos Engenheiro

nacional forte e a preocupação excessiva em mostrar-se ao mundo tiram ao Estado o foco na resolução de alguns dos problemas básicos das populações. A adopção de um modelo de governação demasiado centralizador não ajudou. O exercício consciente da cidadania estabilidade social tem um preço a pagar. Vale, então, a pena transcrever aqui o que disseram os nova-iorquinos ricos: “Somos os nova-iorquinos de altos rendimentos que apreciam a qualidade de vida do nosso Estado. Mas estamos profundamente preocupados com o facto de muitos nova-iorquinos debilitadas infra-estruturas do Estado precisem ouviremos algo equivalente em Angola? É caso para lembrar aquela máxima: quando os ricos não tomam conta dos pobres, estes acabam por tomar conta dos ricos. De que serve a uma pequena elite ser rica, se não consegue viver tranquilamente no seu próprio país? Em conclusão: aqui em Angola, como em está bem, ter a coragem para corrigir o que está mal e criar esperança para neutralizar os arautos da terra queimada. Tal como os angolanas sintam mais o seu próprio país e ajudem a criar esperança motivadora. &


NÚMEROS EM CONTA | 31

www.economiaemercado.sapo.ao | Maio 2016

DESPESAS PÚBLICAS PARA O SECTOR DA DEFESA NACIONAL NO OGE 2016 500 293 479 743 KWANZAS

TOTAL DAS DESPESAS DO MINISTÉRIO DA DEFESA ANGOLANO, DOS QUAIS, 61,3% (EQUIVALENTE A 306 693 366 014 KWANZAS) SÃO DESTINADOS ÀS DESPESAS CORRENTES COM O PESSOAL.

55,56%

É O PESO DAS DESPESAS COM O PESSOAL MILITAR, O EQUIVALENTE A PERTO DE 300 MIL MILHÕES DE KWANZAS, CONTRA OS 5,74% DO PESO DAS DESPESAS COM O PESSOAL CIVIL, O EQUIVALENTE A 28 MIL MILHÕES DE KWANZAS.

33 914 140 KWANZAS

1 224 901 KWANZAS

É O VALOR ORÇAMENTADO PARA A “SEGURANÇA E ORDEM PÚBLICA” NA RUBRICA DESPESAS POR FUNÇÃO, O QUE EQUIVALE A 0,01% DO TOTAL DAS DESPESAS.

É O VALOR DAS DESPESAS COM O PESSOAL PARAMILITAR.

24,24% DAS DESPESAS POR FUNÇÃO, EQUIVALENTES A MAIS DE 121 MIL MILHÕES DE KWANZAS, DESTINAM-SE À PROTECÇÃO SOCIAL, ESPECIFICAMENTE À VELHICE.

1,55% É QUANTO O PROGRAMA DE MELHORIA DA QUALIDADE E DAS TÉCNICAS E INFRA-ESTRUTURAS DAS FORÇAS ARMADAS PESA NAS DESPESAS TOTAIS DO MINISTÉRIO DA DEFESA NACIONAL, QUE TAMBÉM CABIMENTA 0,2% DO SEU ORÇAMENTO PARA O PROGRAMA DE MELHORIA DA QUALIDADE DE SERVIÇOS DE SAÚDE DESTINADOS AOS QUADROS DESTE SECTOR.


32

| CAPA

ECONOMIA INFORMAL

MERCADO PARALELO RONDARÁ OS 60% Quingila Hebo e Sebastião Vemba

Em Angola, apenas 40% da população economicamente activa está empregada, de acordo

EM NOVEMBRO DO ANO PASSADO, A SECRETÁRIA DE ESTADO DAS FINANÇAS, VALENTINA FILIPE, AFIRMOU QUE O SECTOR INFORMAL NO PAÍS É DOS MAIS ELEVADOS NA ÁFRICA SUBSAARIANA, EMBORA, DE 2010 A 2014 ANGOLA TENHA REGISTADO UM AUMENTO DE

80%

DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS NÃO PETROLÍFERAS, O QUE JÁ REPRESENTAVA 44% DO TOTAL DAS RECEITAS DO ESTADO.


CAPA | 33

www.economiaemercado.sapo.ao | Maio 2016

TAXA DE ACTIVIDADE (%) A taxa de actividade permite avaliar a relação entre a população economicamente activa e a população em idade activa (15 e mais anos)

90 80

71,3

75,1

76,2

53,1

55,0

76,5

76,3

73,3

70,5

70

63,2

60

54,8

50

42,6

50,5

55,6

55,9

53,7

50,4

36,1

40 30 20

52,1 45,7

27,2

Homens

24,9

Mulheres

10 0 15-19 anos

20-24 anos 25-29 anos

30-34 anos 35-39 anos 40-44 anos 45-49 anos 50-54 anos 55-59 anos 60-64 anos 65 anos e mais

A taxa de actividade dos homens é superior à das mulheres em 6% Nacional

53

Homens

CARACTERIZAÇÃO DA ECONOMIA INFORMAL site

61

MULHERES

45


34

| CAPA

42,2% DA POPULAÇÃO TRABALHA NO SECTOR PRIMÁRIO

RAMOS DE ACTIVIDADE DA POPULAÇÃO EMPREGADA, DE 15 OU MAIS ANOS POPULAÇÃO EMPREGADA, POR RAMOS DE ACTIVIDADE ECONÓMICA

42,2%

6,1%

PRIMÁRIO

SECUNDÁRIO

Agricultura, produção animal, caça, floresta, pesca...

Indústria, construção, energia, água...

26,2% TERCIÁRIO Transportes, comunicações, comércio, finanças, serviços administrativos...

49% NÃO DECLARADO

O SUCESSO DAS ESTRATÉGIAS PARA A TRANSIÇÃO PARA A FORMALIDADE ESTÁ ASSOCIADO A QUADROS MACROECONÓMICOS, SOCIAIS, POLÍTICOS E JURÍDICOS PROPÍCIOS.

OS BONS EXEMPLOS


CAPA | 35

www.economiaemercado.sapo.ao | Maio 2016

DE ACORDO COM ESPECIALISTAS, O SECTOR INFORMAL EM ANGOLA CONHECEU UM CRESCIMENTO E UMA DIVERSIFICAÇÃO IMPRESSIONANTES, SENDO QUE NÃO ESTÁ LIMITADO ÀS ÁREAS URBANAS, MAS SERVE, PELO CONTRÁRIO, DE LIGAÇÃO ENTRE O MEIO RURAL E AS CIDADES EM RELAÇÃO A PEQUENAS ACTIVIDADES. & GS EM ABR 16.pdf 1 3/21/2016 10:50:41 AM


36

| CAPA

ECONOMIA INFORMAL

REPRESSÃO PODE CAUSAR TENSÕES SOCIAIS

Texto: Edjaíl dos Santos Afonso Francisco


www.economiaemercado.sapo.ao | Maio 2016

CAPA | 37

“SE ADMITIRMOS QUE A ECONOMIA INFORMAL REPRESENTA

60% DO PIB TOTAL E SE ANALISARMOS QUE A RIQUEZA PRODUZIDA PELA ECONOMIA FORMAL ANGOLANA É DE 120 MIL MILHÕES DE DÓLARES, O QUE REPRESENTA 40%, CONCLUÍMOS QUE O MERCADO PARALELO DETÉM UMA QUOTA DE CERCA DE 150 MIL MILHÕES DE DÓLARES. HÁ RECEIOS NESSAS ANÁLISES, PORQUE OS VALORES DO MERCADO INFORMAL ULTRAPASSAM OS DO SECTOR PETROLÍFERO”, DETALHA PRECIOSO DOMINGOS.

iceberg,

boom de


38

| CAPA

DILSON GASPAR FRISA AINDA QUE AS MICRO, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS NA ECONOMIA INFORMAL NÃO TÊM A CAPACIDADE DE GERAR LUCROS SUFICIENTES PARA RECOMPENSAR A INOVAÇÃO E OS RISCOS, QUE SÃO DUAS CONDIÇÕES ESSENCIAIS PARA O SUCESSO ECONÓMICO A LONGO PRAZO.

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40

| CAPA

ECONOMIA INFORMAL

LEI DA SIMPLIFICAÇÃO TORNOU MAIS FÁCIL LEGALIZAR EMPRESAS Jacinto Malungo

ranking ranking


CAPA | 41

Afonso Francisco

www.economiaemercado.sapo.ao | Maio 2016

O JURISTA ERICKSON AFONSO, QUE CONSTITUI EMPRESAS PARA TERCEIROS, RECONHECE QUE O PROCESSO ESTÁ MAIS CÉLERE, JÁ QUE, “ATÉ HÁ DOIS ANOS, MESMO DENTRO DO GUICHET, DAVA-SE MUITAS VOLTAS”.


| CAPA

Afonso Francisco

42

A EMPRESA DE RESTAURAÇÃO PRIS FOOD, QUE COMEÇOU COM UM INVESTIMENTO DE 80 MIL KWANZAS, É, SEGUNDO O PROPRIETÁRIO BRUNO ADRIANO, UMA DAS PRIMEIRAS ESCOLHAS EM TERMOS DE BOLOS NA CENTRALIDADE DO KILAMBA.

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44

| CAPA

ENTREVISTA FILOMENA OLIVEIRA, EMPRESÁRIA E MEMBRO DE DIRECÇÃO DA ASSOCIAÇÃO PROVINCIAL AGRO-PECUÁRIA E INDUSTRIAL DA HUÍLA

“O CÓDIGO TRIBUTÁRIO FOI APLICADO DE FORMA MECÂNICA” Texto: Carlos Aguiar

Economia & Mercado (E&M)

maioria da população economicamente activa possa não estar a pagar impostos? Filomena Oliveira (FO)

E&M preocupante? FO

um rendimento assim tão grande as pessoas rapidamente deixariam de vender na rua para ter

E&M economia nacional, certo? FO

as grandes economias do mundo são frutos de


CAPA | 45

www.economiaemercado.sapo.ao | Maio 2016

de rendimento para tirarmos as a criação do rendimento se criará

É necessário, igualmente,

É preciso fazer-se um saneamento destas estatísticas para podermos, com dados concretos, programar o

E&M

Empreendedor) e o PREI (Programa de Reconversão da Economia fazer a transição das empresas da informalidade para a formalidade? FO sentimos em ver resultados dos

pouca coordenação interministerial dos vários organismos do Estado

repercutem inevitavelmente na

mesmo, e não se dialogou primeiro


46

| CAPA

O TEMPO É CURTO E PRECISAMOS DE RACIONALIZAR AS NOSSAS DESPESAS,

cimentado, devidamente organizado, capacitado

sistemático com as forças vivas do país mas,

empresariado não foi fomentado efectivamente,

ou informalmente no sector Comercial, Industrial e

tentativas, sim, mas foram parciais e não respondem

E&M FO E&M - Refere-se à facturação ou ao pagamento de impostos? FO as características da economia portuguesa e as da

E&M FO


CAPA | 47

www.economiaemercado.sapo.ao | Maio 2016

o Estado não precisa de ter tantos funcionários ver a carga com os salários destes mesmos

ranking

E&M

criação de emprego, da materialização de projectos

e o mercado, e não apenas entre os empresários e o Estado? FO pode, competir com o empresariado nacional,

mais tecnologia à nossa disposição e temos todo

à grande diversidade, forma de ser e de estar e de as respostas foram dadas de acordo com a nossa

sistematicamente e procurarmos ir sempre pela E&M maioria da nossa juventude está desempregada e economicamente activa, mas apenas 40% está estão desempregados ou ligados à actividade FO forma, ligado às empresas e, de um modo geral, à &


48

ESPECIAL DIVERSIFICAÇÃO

AGRICULTURA


PESO DO INVESTIMENTO NO PND 2013-2017 NA AGRICULTURA, POR PROVÍNCIA 2%

BENGUELA

10% 3% HUÍLA

KWANZA SUL

33% UÍGE

3%

LUNDA NORTE

25% BIÉ

8%

CUNENE

33% BENGO

AGRICULTURA

33%

10%

NAMIBE

MOXICO

2% ZAIRE

33% MALANJE

2%

KWANZA NORTE

PRINCIPAIS PROGRAMAS E O SEU PESO NO OGE 2016 1 904 736 748 00

6,52%

106 250 000 00

0,36%

8 253 643 959 00

28,27%

389 163 043 00

1,33%

Programa de Desenvolvimento da Agricultura Familiar

2 264 388 798 00

7,76%

Programa de Desenvolvimento da Aquicultura

1 743 908 045 00

5,97%

Programa de Fomento da Actividade Produtiva Agrícola

5 851 342 179 00

20,04%

Programa de Investimento e Desenvolvimento Tecnológico

1 010 645 970 00

3,46%

Programa de Prom., Fomento e Desenv. da Act. Económica

210 000 000 00

0,72%

Programa de Promoção de Produção Sustentável

100 000 000 00

0,34%

Programa de Saúde Pública Veterinária

127 500 000 00

0,44%

Programa de Apoio e Fomento da Produção Animal Programa de Combate às Grandes Endemias Programa de Construção e Reab. de Perímetros Irrigados Programa de Desenvolvimento da Agricultura Comercial

OS INVESTIMENTOS, OS GANHOS E OS DESAFIOS DA AGRICULTURA


50 ED DESTAQUE

OS SENHORES DO OURO VERDE A diversificação económica em Angola não é apenas uma expressão de embelezamento de discursos. Apesar das dificuldades que o país sempre enfrentou a nível das infra-estruturas e do fornecimento de bens e serviços, há quem não meça esforços para empreender e produzir, contrariando a realidade. Porque estes exemplos são para divulgar e seguir, a Economia & Mercado traz, a partir desta edição, reportagens com histórias de vida e de negócios bem-sucedidos. Desta vez, escolhemos a agricultura, apontada como um dos pilares para a diversificação da economia, e destacámos dois gestores – e as respectivas empresas a que estão ligados – que se desafiaram a fazer vincar a produção nacional do chamado “ouro verde”. Texto: Sebastião Vemba Fotografia: Carlos Aguiar


MAIO • 2016 51

J

oão Macedo e Kobi Trivizki, gestores, têm alguns hábitos em comum. Além de começarem a trabalhar de manhã cedo, gostam de pisar a terra e pôr as mãos na massa. Os dois estão à frente de duas das mais bem referenciadas empresas do sector Agro-alimentar em Angola, o GrupoLíder, através da Agrolíder e da Nova Agrolíder, e a Aldeia Nova, esta última segue um percurso mais economicamente sustentável desde 2012, altura em que beneficiou de um financiamento de 10 milhões de dólares e passou a ter uma nova gestão e estrutura accionista. A aposta na agricultura, de acordo com estes dois gestores, é efectivamente um dos caminhos para a diversificação da economia. Porém, argumentam, deve haver, não só apoios – que não faltaram, em algumas circunstâncias –, mas também força de vontade e paixão por parte dos empresários. Para João Macedo, nascido em Portugal, mas há 22 anos a viver em Angola, a agricultura é muito complexa e tem que ser acompanhada diariamente. “O investidor que se quiser dedicar à agricultura tem de ter consciência disso”, sa-

lienta João Macedo, que lamenta que muitos projectos tenham falhado porque os empresários ou promotores não estavam preparados para eles. “No que toca à agricultura, não se pode dizer que não tem sido feito nada. O Governo, através do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) e de outros bancos comerciais, desembolsou muito dinheiro para projectos agrícolas. Agora, e infelizmente, muitos deles morreram por falta de conhecimento sobre agricultura da parte dos empresários. Neste sector, se não houver conhecimento, não há sucesso”, argumenta João Macedo, que acabava de chegar de férias na altura em que nos concedeu a entrevista e preparava a sua viagem para o interior do país, na Quibala, Kwanza Sul, onde o GrupoLíder tem um dos seus maiores projectos agrícolas. Por sua vez, Kobi Trivizki acredita que a actual fase de crise cambial e financeira que o país vive é uma boa oportunidade para se tornar auto-sustentável em vários sectores, em particular no agrário. “As crises acontecem em todo o mundo e trazem consigo oportunidades”, reforça.

Na mesma linha de pensamento, João Macedo considera que a economia angolana tem se diversificado, mas é preciso dinheiro, nesta altura de crise, para se diversificar mais. “Se não houver verbas, não há possibilidade de se alcançarem os objectivos”, disse, lamentando a actual dificuldade que os produtores encaram para importar os insumos. “Se os insumos não nos falharem, não teremos problemas com a crise. Se houver transferência de valores, o problema não é grave para quem produz localmente, pois a crise traz oportunidades para produzir mais e vender mais a melhor preço”. O MAIOR PRODUTOR DE OVOS É também no Kwanza Sul, mais propriamente no Waku-Kungo, que fica a Aldeia Nova, liderada por Kobi Trivizki. Actualmente, a empresa agro-alimentar detém 20% da produção nacional de ovos, sendo que se estima que o mercado produza cerca de 1,5 milhões de ovos por dia, dos quais 250 mil são da responsabilidade da Aldeia Nova, que tem capacidade para produzir 400 mil ovos por dia sem qualquer investimento adicional

nos aviários, garante o gestor, mas salienta que isso só será possível desde que tenham ração suficiente para as galinhas. Para garantir a alimentação das galinhas, a Aldeia Nova produz cinco a seis mil toneladas de milho por ano, mas ainda tem que comprar uma quantidade superior ao mercado nacional porque não dispõe de equipamento para produzir mais. “Este não é o nosso core business”, explica Kobi, que defende mais apoio às empresas produtoras de cereais para que possam produzir mais e com melhor qualidade. “Quanto mais milho houver no mercado, menor será o seu preço, baixando também o preço do leite e seus derivados e de vários outros produtos que têm como principal componente o milho”. Além da avicultura, a Aldeia Nova também se dedica à pecuária, com a criação de 200 vacas leiteiras que produzem, em média, 17 litros de leite por dia cada uma, mas apenas se forem bem “acarinhadas” e alimentadas, informou Kobi, apontando para os animais imponentes que aguardavam pela ordenha. A Aldeia Nova, SA. é, desde


52 ED DESTAQUE

A aposta na agricultura, de acordo com estes dois gestores, é efectivamente um dos caminhos para a diversificação da economia. Porém, argumentam, deve haver, não só apoios – que não faltaram, em algumas circunstâncias –, mas também força de vontade e paixão por parte dos empresários.

João Macedo, Administrador do GrupoLíder

2012, uma parceria público-privada entre o Vital Capital Fund, do grupo israelita Mittreli, e um consórcio angolano que agrupa a Gesterra, o Instituto do Desenvolvimento Agrário (IDA) e o Instituto do Sector Empresarial Público (ISEP). Em 2012, lembra Kobi Trivizki, a empresa repovoou os aviários dos avicultores a crédito. “Demos-lhes galinhas, ração, embalagens e cartões para acondicionar os ovos. No final, a diferença do valor dos ovos e o custo da produção é que entra na conta dos produtores, sendo que os melhores recebem acima de 100 mil kwanzas por mês”, esclareceu o gestor. O Projecto Aldeia Nova é composto por 15 aldeias onde habitam, no total, cerca de 600 famílias de camponeses. Kobi Trivizki conhece grande parte das pessoas pelo nome e o número da residência em que cada pessoa vive. MAIS DE CEM MIL TONELADAS DE PRODUTOS POR ANO O GrupoLíder produz mais de 100 mil toneladas de produtos agrícolas por ano nas suas três fazendas, localizadas na Quibala (Kwanza Sul), Caxito (Bengo) e Bom Jesus (Luanda). No Bengo

Kobi Trivizki, Director-Geral da Aldeia Nova, na companhia de uma agricultora

e em Luanda, a empresa produz maioritariamente frutícolas e hortícolas, com destaque para uvas, mangas, bananas, melões, melancias, papaias, tomates, beringelas, abacaxis, quiabos e citrinos. No Kwanza Sul, a diversidade de produtos é maior, sendo que aqui também há actividade pecuária e está a ser feito um investimento de cerca de meio milhão de dólares para a prática de piscicultura. A empresa, que desde 2007 já fez um investimento de cerca de 150 milhões de dólares, está também a desenvolver um projecto de produção de café avaliado em cerca de 10 milhões de dólares. “Já estão disponíveis cerca de 100 mil plantas em viveiro para a produção de café biológico ainda este ano”,

informou João Macedo, acrescentando que, se houvesse mais condições, tanto financeiras quanto infra-estruturais, por nada hesitaria em alargar o leque de serviços e a própria empresa por mais zonas do país. Aliás, a ausência de condições nunca amedrontou este empresário, que se instalou no país em 1994, através de actividades ligadas ao comércio e à prestação de serviços. Já em 1999, João Macedo criou com um irmão a Translider, empresa de transporte que deu o pontapé de saída para a constituição do GrupoLíder. “Motivou-me o facto de ver que o país tinha muito por fazer e que esta seria uma oportunidade de sentir-me realizado fazendo algo de útil”, ex-

plicou João Macedo, cujo grupo actualmente detém duas empresas dedicadas à agro-indústria, nomeadamente, a AgroLíder e a Nova AgroLíder, esta última com o conceito de produção agrícola, industrial e pecuária, sendo que ambas são de direito angolano. Apesar de a mão-de-obra local para o sector da Agricultura ser escassa, o que obriga a empresa a importar quadros, que representam cerca de 5% da força de trabalho, o GrupoLíder emprega actualmente mais de 2 500 pessoas. “Empregamos e formamos muita gente todos os dias. Como usamos tecnologias nas nossas actividades, temos sempre que ensinar as pessoas a usar os equipamentos”, remata João Macedo. ■


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54 ED CASOS DE SUCESSO

MANUEL ANTÓNIO MONTEIRO

“O REI DA BANANA” Manuel António Monteiro é hoje um conhecido e reconhecido empresário do sector da agricultura em Benguela, transportando cerca de 25 anos de trabalho agrícola e pecuário. Ele terá sido talhado à nascença para a actividade agrícola, pois o berço do seu nascimento foi uma fazenda do município de Caconda, na província agrícola da Huíla. Mas foi em Benguela, na década de 90, que começou a lançar as primeiras sementes de hortícolas à terra, para fins familiares, no vale do rio Cavaco, em 10 hectares de terra. Texto: António Piçarra Fotografia: Afonso Francisco

E

m 2002, o calar definitivo das armas em Angola foi determinante para a criação da sua primeira fazenda, levando o seu próprio nome, e para a plantação de bananeiras em novas parcelas de terra no vale do Cavaco. Após avultados investimentos em equipamentos tecnológicos modernos, em parte com recurso a fundos públicos, em 2011 aquela propriedade já tinha cerca de 50 hectares cultivados de banana, proporcionando cerca de 2 500 toneladas do fruto. Actualmente, a fazenda produz, no total, cerca de 3 500 toneladas de banana por ano, que é escoada maioritariamente para as grandes superfícies de Luanda, mas que também tem como destino estabelecimentos comerciais das cidades de Benguela, Lobito, Catumbela e outros pontos do país. A sua produção contribui para que o país já não tenha necessidade de importar banana para consumo interno. Manuel Monteiro afirma: “O país não importa banana há mais de cinco ou seis anos”, como resultado do trabalho e dos investimentos

aplicados no sector, não apenas em Benguela, mas também no Bengo. Ele reconhece-se como o maior produtor da melhor banana do país, não hesitando em deixar claro: “Todos os segmentos têm um rei, eu ostento a coroa de rei da banana, não em termos de quantidade, mas sim de qualidade”. Depois da banana, Manuel Monteiro manifesta a intenção de contribuir para que o país deixe também de importar outros produtos do campo, sobretudo os básicos. “Gostaria de reiterar todo o meu envolvimento para que este país deixe de importar produtos agrícolas, sobretudo os básicos”, sublinha. Para o efeito, o empresário benguelense tem também a Fazenda Utalala, no Cubal (onde, no ano passado, decorreu uma Feira de Tecnologias Agrícolas), a Fazenda Nova, no vale do rio Cavaco, e a Fazenda Dombe Grande, que produzem hortícolas, sobretudo, tomate, cebola, pimento, milho e batata rena, além de mais alguns frutos, como mangas, melancias e melões. APOSTA NA PECUÁRIA


MAIO • 2016 55

“Esta crise vai obrigar-nos a ser menos consumistas. Depois de a crise passar, ficaremos com uma mentalidade muito mais estruturada”.

Mais recentemente, Manuel Monteiro e alguns sócios decidiram apostar no ramo da pecuária, concretamente na fazenda Utalala, que já acolhe cerca de mil bovinos, como fruto do processo de inseminação artificial feito há cerca de um ano. Ele explica: “São bezerros de raça, de origem francesa, para a produção de carne e de leite”. A carne e o leite serão então mais dois produtos com o carimbo de Manuel Monteiro, senhor de quatro propriedades que produzem cerca de cinco mil toneladas anuais de frutos e hortícolas, “tudo vendido no mercado nacional”. “Nós não exportamos nada. O nosso primeiro compromisso é atender o mercado nacional. Só quando estivermos com o mercado nacional saturado é que iremos

para um processo de exportação”, assegura. Ainda em relação às perspectivas de exportação, o empresário não descarta a possibilidade de investir em plantações de café, que no passado constituiu o segundo gerador de receitas do país, a seguir ao petróleo, e já listou Angola como terceiro produtor mundial desse grão. Na sua opinião, tal como no passado, “pode produzir-se em Angola muitas variedades de café, das quais se pode colher enormes benefícios”. CENTRO LOGÍSTICO E LOJAS Manuel Monteiro e os sócios criaram a empresa Fertiangola Lda., para importação e comercialização de factores de produção. A empresa tem um

centro logístico e lojas de venda implantadas nos pontos fulcrais do país, que dispõem de equipamentos agrícolas, sistemas de rega, sementes, fertilizantes, agro-químicos e adubos destinados à actividade agrícola. O centro logístico está localizado no Pólo Industrial da Catumbela, as lojas estão instaladas em Benguela, Dombe Grande, Lubango, Huambo, Quibala e em Catete, esta última no sentido de cobrir as províncias de Luanda, Bengo, Kwanza Norte, Malanje e a restante parte norte do país. De acordo com a sua avaliação, já terão sido investidos cerca de 20 milhões de dólares (parte do dinheiro, proveniente do programa estatal Angola Investe) nos seus projectos ao longo dos anos. O financiamen-

to, explica, serviu para tornar as suas propriedades auto-suficientes, pois “estão ultrapassados os velhos problemas de falta de tractores, falta de alfaias e outros equipamentos técnicos”. Em relação ao actual contexto de crise económico-financeira do país, reconhece que a classe empresarial do sector está a ter algumas dificuldades, sobretudo ao nível dos consumíveis do dia-a-dia, como adubos, produtos agro-químicos ou produtos veterinários. Mas mostra-se optimista: “Penso que seja uma fase transitória”, augura Manuel Monteiro, enfatizando que as crises geram competência e desenvolvimento. “Esta crise vai obrigar-nos a ser menos consumistas. Depois de a crise passar, ficaremos com uma mentalidade muito mais estruturada”. ■


56 ED CASOS DE SUCESSO

FAZENDA MAXI

A VALORIZAÇÃO DA PRODUÇÃO NACIONAL O projecto Fazenda Maxi tem três anos e agrupa 33 fazendas em oito províncias de Angola. Em 2015, a parceria com os Supermercados Maxi levou às lojas do grupo 5 400 toneladas de 40 produtos diversos. Texto: Pedro Correia Fotografia: Arquivo

S

ão quatro fazendas a norte (Zaire, Malange, Kwanza Norte e Bengo) e quatro a sul (Namibe, Huíla, Benguela e Kwanza Sul) que, alternadamente, produzem frutas e legumes aproveitando o ciclo das chuvas em cada região do país para tirar o maior proveito da terra e dela conseguir também o melhor de cada produção. Entre os 40 produtos comercializados estão a banana-pão e a banana de mesa, o abacaxi, o limão e a lima, a laranja, a múcua, o morango e a manga. Nas hortícolas, o destaque vai para a produção de quiabos, curgete, espinafre, pimento, pepino, mandioca, repolho, batata, tomate e cebola, alface, cenoura, diversos tipos de couve e coentros. Os dados fornecidos pela Fazenda Maxi à E&M revelam que um agricultor com capacidade média produz mais de 300 toneladas de frutícolas e de hortícolas por ano. As pequenas fazendas têm produzido, em média, 70

toneladas por ano, quantidades que, dizem os responsáveis do projecto, “de uma forma geral, dão resposta às necessidades actuais dos clientes Maxi”, apesar de as avaliações contínuas do mercado por vezes aconselharem aumentos pontuais da produção, como aconteceu no ano agrícola 2013/2014, com um crescimento próximo dos 50% através do aumento das áreas de produção ou do número de agricultores associados. QUALIDADE É O MAIS IMPORTANTE Apesar de a Fazenda Maxi estar atenta à quantidade produzida, a qualidade do produto centra todas as atenções. Tem, então, em funcionamento um núcleo de técnicos especializados em Qualidade e Segurança Alimentar que garante o controlo e a conformidade dos produtos desde a origem até às lojas. Este trabalho é também realizado junto dos produtores através de acções de forma-

ção, aconselhamento e acompanhamento técnico, disponibilização de sementes certificadas e de sacos próprios para o embalamento dos produtos. Uma área em que o projecto prevê novos investimentos, com o objectivo de melhorar toda a cadeia de produção e de comercialização, normalizar e classificar a produção, introduzir a rotulagem dos produtos e incrementar a qualidade da informação do sector. Outro objectivo imediato, com a intenção de tornar o projecto sustentável e reduzir as importações, é optimizar a formação de segmentos do sector primário com investimentos localizados, especialmente nas áreas da matéria-prima, ferramentas e equipamentos, uma vez que este continua a ser um sector ainda muito dependente do exterior. Em perspectiva está também a melhoria da cadeia de frio da Fazenda Maxi desde o produtor até ao cliente. ■


OPINIÃO

MAIO • 2016 57

AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA: INSUCESSO COMERCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL Fernando Pacheco Agrónomo

O

s pequenos agricultores, no passado, garantiam a alimentação de base da população, com destaque para o milho, a mandioca, o feijão, o amendoim, a batata, a batata-doce e o arroz. À excepção do café, do algodão, do sisal e, nos últimos tempos, da pecuária de bovinos de carne, não tínhamos grandes fazendas como no Zimbabwe ou no Brasil. Os níveis de produção de então eram possíveis pela conjugação de dois factores. O primeiro era a rede densa dos chamados “comerciantes do mato”, portugueses pobres e pouco letrados que se sujeitavam a um comércio pouco evoluído e sem grandes margens de lucro, mas importantes para os pequenos agricultores em termos de crédito e outros apoios. Tratava-se de uma rede que, apesar de conformar uma relação injusta, criava nos agricultores expectativas suficientes para os estimularem a aumentar as produções. Na província de Malanje, por exemplo, estimava-se que mais de 50% da produção camponesa tinha como destino o mercado. O segundo factor era a rede de assistência técnica, que também não era famosa mas fazia chegar alguns conhecimentos, equipamentos e inputs como sementes de alguma qualidade, fertilizantes, tracção animal e tractores, pelo menos a algumas regiões e culturas. O desaparecimento dessas redes, por razões conhecidas, provocou uma retracção enorme das áreas cultivadas pelos pequenos agricultores. O Governo tentou várias soluções ao longo dos anos, mas foram todas infrutíferas, por incidirem em abordagens erradas, pois, ao contrário do que aconteceu nas cidades, onde a actividade comercial de retalho está hoje praticamente resolvida, insistiu-se na adopção de sucessivos “programas dirigidos” e centralizados, em que o papel fundamental estava reservado a entidades públicas. O último desses programas foi o de Aquisição de Produtos Agro-Pecuários (PAPAGRO), que tinha por objectivo operacionalizar a Estratégia Nacional de Comércio Rural e Empreendedorismo no quadro do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017. Criou-se uma enorme expectativa, foram gastos avultados fundos e o problema do comércio nas áreas rurais persiste sem solução.

Os pequenos agricultores angolanos hoje só podem (erradamente) ser remetidos à situação de subsistência por ausência de comércio: não dispõem de serviços de aprovisionamento de inputs agrícolas, nem de bens que estimulem a produção, desde motorizadas a geradores, motobombas ou televisores. Por sua vez, o investimento no comércio não é atractivo ao sector privado pelo baixo poder de compra dos cidadãos na maioria dos municípios rurais. Estamos perante um ciclo vicioso que tem um efeito nefasto – o dinheiro dos salários dos funcionários públicos e os subsídios das autoridades tradicionais (só estes últimos representavam antes da desvalorização recente do kwanza cerca de 120 milhões de dólares por ano, cerca de 700 mil dólares, em média, por município) voltam para as cidades. Duas consequências desta situação são a cada vez mais assustadora migração da população rural para os centros urbanos e a incapacidade dos municípios de oferecerem condições de vida atractivas a quadros que eventualmente poderiam ser lá colocados. Tal ciclo vicioso poderia ser convertido num ciclo virtuoso caso o comércio fosse considerado a alavanca para a animação das economias locais. A sua estruturação deveria permitir aos funcionários públicos gastarem lá parte dos salários e, desse modo, criar-se-iam condições para o aumento gradual da produção agro-pecuária e das receitas fiscais. O Estado poderia desenvolver acções nesse sentido, possivelmente através de créditos em condições especiais. Se o Executivo procurasse conhecer como actuam os diferentes operadores informais do comércio nas áreas rurais (desde os produtores e compradores aos transportadores e suas redes e rotas), ajudar o seu crescimento com capacitação e recursos e estimular a sua fixação nos municípios (onde está criado um interessante nível de confiança), seria possível encontrar um caminho mais frutuoso. O exemplo de funcionamento de mercados como o do Kikolo, em Luanda, e inúmeros nas áreas rurais do Uíge, do Kwanza Sul ou do Bié, é bem revelador de como pequenos serviços podem ser dispensados aos agricultores de modo a permitir que estes possam aumentar os seus níveis de produção. Ignorar a realidade é decididamente uma má aposta da parte de quem governa. ■


58 ED PEQUENOS NEGÓCIOS

UM ACTO DE HEROÍSMO Victor Lumbongo despertou para o empreendedorismo em 1994, começando por fazer comércio de produtos da cesta básica. Na altura já era licenciado em Filosofia. Hoje, como professor do Magistério Primário do Waku-Kungo, é também agricultor – criou a Kafuta Fil – e divide-se entre o campo, onde produz milho, e a sala de aula. Texto: Quingila Hebo e Sebastião Vemba Fotografia: Carlos Aguiar

A

té ao ano passado, Victor Lumbongo era também professor da Universidade Katyavala Buila, situada na região Académica de Benguela e do Kwanza Sul, mas, por causa da distância, teve que deixar

esta função para acompanhar mais de perto as suas actividades agrícolas. Hoje, o agricultor percorre cerca de 140 quilómetros da sede do Waku-Kungo (Kwanza Sul) para a sua fazenda de 900 hectares de terra arável,

na comuna da Sanga, para onde se desloca todos os fins-de-semana e se desliga totalmente da vida urbana. Além de ter que ultrapassar os buracos, riachos e pontes improvisadas, o agricultor deixa de ter sinal de telefone.

As inúmeras vezes que já percorreu o mesmo trajecto levaram-no a memorizar os buracos e obstáculos na estrada. Na sua pick-up antiga de cabine simples, a “rogar” por pintura, levou-nos a conhecer a sua pro-


MAIO • 2016 59

“Quando não há consumidores, porque toda gente só quer saber de importação, o negócio deixa de ser rentável”, lamenta o responsável da Kafuta Fil.

dução em finais de Fevereiro deste ano, cuja colheita aconteceria nas semanas seguintes. Para o ano agrícola 2015/2016, plantou 50 hectares de milho e a previsão era de colher quatro toneladas por hectare, numa estimativa geral de 200 toneladas de milho. “É pouco, mas a actividade dá rendimentos que chegam para cobrir os custos e obter algum lucro”, revelou, acrescentando que, infelizmente, tem enfrentado muitas dificuldades de compra de insumos. “Este ano estamos a enfrentar inúmeras dificuldades. Os combustíveis subiram, os adubos idem. Os fornecedores são a Taurus, a FertiAngola e a Cegonha. Ainda tive o apoio do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) em 2012: de-

ram-me um tractor que ainda funciona, mas tem sido muito difícil”. Entretanto, sobre a subida dos combustíveis, augura-se dias melhores para os homens do campo, com o recente anúncio do Ministério das Finanças da subvenção aos combustíveis para quem se dedica ao cultivo. Entre 2009 e 2013, Victor Lumbongo fez um investimento de 375 mil dólares na desmatação de cerca de 200 dos 900 hectares de extensão da fazenda. “É um investimento pessoal, sem recurso ao crédito bancário. Comecei a produzir milho desde 2013. O negócio só se torna rentável quando há consumidores. Quando não há consumidores, porque toda gente só quer saber de importação, deixa de ser rentável”, lamenta.

Ainda em 2013, a Kafuta Fil produziu 25 hectares de milho e colheu 120 toneladas. Infelizmente, releva o produtor, naquela altura não conseguiu vender toda a produção, cuja metade acabou por se estragar, o que o motivou a criar suínos para suportar algumas despesas. “O que plantámos em 2013 colhemos em 2014. Depois da colheita não houve comprador. Levei um amigo de Luanda, que tem uma fábrica de ração, à fazenda, ele dizia que o meu milho estava caro, pelo que preferia importar. Convenci-o a comprar, mas impôs-me que só compraria se eu garantisse transporte até Luanda. Transportei 60 toneladas até à capital, mas as outras 60 toneladas acabaram por se estragar por falta de comprador”.

Apesar das situações adversas, Victor Lumbongo continua a produzir. Das 60 toneladas de milho vendidas conseguiu 3,6 milhões de kwanzas, mas não foi o suficiente para cobrir o custo com os 10 funcionários efectivos que a fazenda tem, nomeadamente, dois operadores de máquinas e o pessoal do campo. “No período de colheita, como é tudo feito à mão, temos a necessidade de contratar pelo menos 100 pessoas para trabalhar num período de 30 dias. Para este trabalho gastamos à volta de um milhão e quinhentos mil kwanzas. O nosso grande problema é mesmo a mão-de-obra. Quando chega a fase da colheita, às vezes, aquilo que seriam os lucros gastamos para pagar às pessoas que contratamos para a colheita”. ■


60 ED FINANÇAS

A PRECISAR DE MAIS ATENÇÃO O volume de financiamento ao sector agrícola ainda é inferior a 2% do crédito global fornecido à economia. Entretanto, com a operacionalização, este ano, de uma linha de crédito, o Governo pretende acelerar a diversificação da economia, mesmo com a queda do preço do barril de crude no mercado internacional, que provocou uma redução das receitas. O financiamento está a ser implementado pelo Banco de Poupança e Crédito (BPC), após um convénio com o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), de acordo com o Ministério da Agricultura. Texto: Edjaíl dos Santos Fotografia: Afonso Francisco

O

BDA garante já ter aprovado linhas de crédito para o Banco Sol e para o BPC num montante total de 35 mil milhões de kwanzas para financiar sectores como a Agricultura, Pecuária, Pescas, Indústria Transformadora, Comércio e Servi-

ços e Infra-estruturas até um tecto máximo de cinco milhões de dólares norte-americanos para cada ramo. Ao BPC foi repassado um montante de 2,5 mil milhões de kwanzas para o financiamento de projectos ligados ao sector da

Agricultura, Pecuária e Pescas. Os beneficiários finais serão financiados com um prazo de reembolso superior a 66 meses e um período de carência superior a 24 meses. Além do BPC e do Banco Sol, estão também outras instituições financeiras em fase


MAIO • 2016 61

PROGRAMAS DE FINANCIAMENTO DIRECTO AGROPECUÁRIA E SILVICULTURA | PRAZO MÁXIMO (EM MESES) Tipo de Projecto

Carência

Reembolso

Maturidade Total

Projecto de Raiz

72

168

240

Projecto de Ampliação / Expansão

60

132

192 Fonte: BDA

Joaquim Catinda, Director da KixiCrédito

O director da KixiCrédito, Joaquim Catinda, adianta que o volume de crédito concedido à agricultura ainda é baixo, clareando que, no ano passado, o financiamento à economia foi de 32 mil milhões de dólares e, deste valor, menos de 2% destinou-se à agricultura. de negociação. No entanto, à medida que os bancos forem financiando os seus clientes, caso necessitem de mais recursos, poderão negociar novos valores. As taxas de juro a serem praticadas aos beneficiários finais serão definidas pelos respectivos bancos comerciais. O acesso às linhas de crédito pelos bancos comerciais é em condições de financiamento com períodos de maturidade de crédito de médio e longo prazo. Assim, para a linha de crédito de 12,5 mil milhões

de kwanzas para os sectores da Agricultura, Pecuária e Pescas, os bancos comerciais terão acesso ao crédito a uma taxa de juros de 6,40% ao ano. Porém, o director da KixiCrédito, Joaquim Catinda, adianta que o volume de crédito concedido à agricultura ainda é baixo, clareando que, no ano passado, o financiamento à economia foi de 32 mil milhões de dólares e, deste valor, menos de 2% destinou-se à agricultura. “Tem de se encontrar uma estratégia para aumentar os números

olhando para os riscos que a actividade comporta por causa de factores naturais e tecnológicos”, defendeu, acrescentando que é necessário que o Estado dê garantias bancárias. Entretanto, o presidente do BDA, Manuel Neto da Costa, afirma que a instituição continua “a crescer nessa direcção” e a tornar relevante o seu canal indirecto de financiamento, “associando-o ao directo, que continua aberto para os que pretendem empreender nos vários domínios da economia”. Manuel da Costa frisa que o peso do sector petrolífero tem vindo a diminuir e que, para que haja equilíbrio na economia, o ramo não petrolífero tem de crescer muito mais. “Há uma margem grande de progresso e vamos continuar a financiar o sector produtivo e as infra-estruturas, como os acessos, a electricidade e a água, sendo que, com o aumento do capital do banco, essa é a estratégia do Executivo”, argumenta. Segundo os dados do Banco Nacional de Angola, os sectores da Agricultura e das Pescas atingiram, em meados de 2015, o volume mais elevado de crédito concedido, respectivamente, de 171 952 milhões de kwanzas e 8 773 milhões kwanzas. De acordo com o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2016, o montante afecto


62 ED FINANÇAS

DESEMPENHO OPERACIONAL DISTRIBUIÇÃO SECTORIAL DO CRÉDITO CONCEDIDO

21,6% COMÉRCIO E SERVIÇOS

49,6% INDÚSTRIA

28,8% AGRICULTURA E PESCA

Fonte: BDA

à agricultura familiar está acima dos dois biliões de kwanzas e corresponde a 7% da dotação orçamental destinada ao Ministério da Agricultura, mais de 29 biliões de kwanzas. Entretanto, a maior fasquia orçamental no sector da Agricultura recai ao Programa de Construção e Reabilitação de Perímetros Irrigados (mais de oito biliões de kwanzas, o equivalente a 28,27%), seguido pelos programas de Conservação da Biodiversidade e Áreas de Conservação (mais de seis biliões de kwanzas – 20,89%) e de Fomento da Actividade Produtiva Agrícola (mais de cinco biliões de kwanzas, o correspondente a 20,04%). MICROCRÉDITO AINDA DE PÉ Considerado unanimemente como um instrumento eficaz de combate à pobreza, o microcrédito foi tema de debate internacional em 2010 aquando da visita a Angola do economista e banqueiro do Bangladesh, Muhammad Yunus, considerado o “pai do microcrédito”. Há mais de dez anos a operar no país, o KixiCrédito disponibiliza 400 a 500 milhões de kwanzas mensalmente para o microcrédito. De acordo com o director da instituição, Joaquim Catinda, face aos riscos associados ao sector agrícola, a instituição não financia a produção agrícola mas sim o escoamento dos produtos para os grandes centros de consumo no país. “Não financiamos directamente a produção agrícola, apenas o escoamento dos produtos em cerca de 20% da nossa carteira de crédito. O poder de compra concentra-se muito em localidades agrícolas do interior, apesar de o crédito baixo que damos servir para o negócio local. Por outro lado, não temos capacidade para conceder muito crédito mensal, sendo que a nossa disponibilidade mensal é de 400 a 500 milhões de kwanzas, dos quais, até 100 milhões de kwanzas são para financiar o escoamento da produção agrícola”, explica o responsável. Joaquim Catinda revelou ainda que, no primeiro trimestre de 2016, em relação aos últimos três anos passados, houve uma queda do volume de crédito concedido pela sua instituição, mas garante que estão a criar condições para que a tendência mude até ao final do ano. ■


OPINIÃO

MAIO • 2016 63

NÃO SE DIVERSIFICA UMA ECONOMIA SÓ COM AGRICULTURA Milton Delo Economista

T

emos observado algumas opiniões que destacam o papel da agricultura na diversificação económica. Em África existe uma tendência recorrente de má interpretação dos factos e medidas a seguir para a aceleração do processo de desenvolvimento económico. Nos anos pós-independências, notou-se um empenho desorientado de alguns países africanos em tornarem-se potências industriais em detrimento da produção agrícola. Ironicamente, o resultado deste esforço é a insegurança alimentar que se tem observado em alguns cantos do Continente Berço. Lembra-se da fome na Etiópia em 1985? Inesperadamente, a sinfonia “pró-industrialização” da orquestra “Os propagandistas” tem uma nova cadência – “agricultura avante”. Hoje, em Angola, o debate sobre a diversificação tem-se centrado na tese de que o país precisa de alargar a sua base de exportações. Visto que se acredita que o país tem uma vantagem comparativa na produção agrícola, porque não a menosprezada agricultura? Apesar de as exportações serem um factor determinante para o desenvolvimento económico, a actual conjuntura macroeconómica mundial não aconselha essa estratégia. Orientar as actividades económicas à exportação, sobretudo de produtos agrícolas, apenas visa expandir a existente ligação económica do país com o resto do mundo sem melhorias significativas na acumulação de capital, que é o ingrediente necessário à diversificação produtiva no longo prazo, porque existe um abrandamento na demanda por matérias-primas nos países industriais (devido à estagnação secular) e também à perda de dinamismo na economia da China (maior parceiro económico de Angola), o que leva este último país a adoptar uma nova estratégia de desenvolvimento centrada na demanda interna. Além do mais, o ciclo de negociações multilaterais de Doha ainda está por concluir. Tal-qualmente, não somos o único país com um potencial agrícola de maravilhar. Logo, o excesso de competição neste segmento implica uma redução nos valores acrescentados à economia. A agricultura deve, sem sombra de dúvida, servir de suporte à indústria de manufacturados e garantir a segurança alimentar, mas não como pivô da estratégia de

A agricultura deve, sem sombra de dúvida, servir de suporte à indústria de manufacturados e garantir a segurança alimentar, mas não como pivô da estratégia de desenvolvimento. Nesta fase do processo de desenvolvimento em que nos encontramos é conveniente reduzir as importações de bens de consumo e importar mais bens de capital. As exportações devem ser constituídas por bens processados, inicialmente direccionadas aos mercados africanos.

desenvolvimento. Nesta fase do processo de desenvolvimento em que nos encontramos é conveniente reduzir as importações de bens de consumo e importar mais bens de capital. As exportações devem ser constituídas por bens processados, inicialmente direccionadas aos mercados africanos. Dentro desta abordagem, a estratégia de desenvolvimento a seguir consiste no fortalecimento da demanda doméstica através de políticas salariais e melhorias na distribuição da renda. A acumulação desproporcional da renda não apoia a diversificação da economia visto que os indivíduos com maior renda têm tendência a consumir mais as importações. Outrossim, devemos recorrer à prática de políticas industriais selectivas, sendo o Governo o timoneiro na identificação de sectores estratégicos. A moeda nacional deverá ser mantida estável e competitiva, evitando-se sempre a sua sobrevalorização. Na verdade, a “crise do petróleo” proporciona-nos uma oportunidade de melhorarmos o cenário económico de Angola. ■


64

| LÁ FORA

TERRORISMO

ÁFRICA NA LINHA DA FRENTE DO JIHADISMO Bruno Faria Lopes

Os ataques terroristas em Paris e Bruxelas comandam grande atenção mediática, mas a acção mais intensa está a acontecer em África, um dos principais e mais antigos palcos da jihad. Apesar durar. Uma semana depois dos atentados de Paris, um grupo de militantes da al-Qaeda entra num hotel da cadeia internacional Raddison em Bamako, capital do Mali – do combate com as autoridades resultam 20 mortos. Quatro dias depois, a 24 de Novembro do ano passado, um autocarro que transporta guardas presidenciais é atacado em Tunis, capital da Tunísia, por um bombista suicida – são 13 os mortos no terceiro grande atentado do Estado Islâmico no país em 2015. Menos de dois meses mais tarde, outra capital africana atingida: Ouagadougou, Burkina Faso. O grupo de militantes da al-Qaeda deixa 30 mortos e 56 feridos no Splendid Hotel. Fevereiro traz outro atentado a um hotel, na capital da Somália, Mogadíscio, o sexto ataque do grupo al-Shabab só este ano. Em Março, é a vez de um resort na Costa do Os atentados terroristas

de Bruxelas, a 22 de Março, foram o ataque que mais mediatismo atraiu desde os ataques em Paris a 13 de Novembro do ano passado – mas, entre as duas datas, houve uma escalada global do jihadismo. Os alvos mais frequentes: países africanos. O Médio Oriente é a zona do planeta que tem atraído mais recursos militares contra o terrorismo – e atenção mediática, agora a par da Europa –, mas há sinais de que o continente africano está a tornar-se num palco central da batalha contra o jihadismo.

“África é prioritária quando falamos de terrorismo”, de Lima, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, em Portugal. O media” internacionais, como lhe chama Pires de Lima, não tem sido acompanhado pela desatenção dos decisores políticos e militares. “Tem havido um crescimento dessa atenção, sobretudo dos Estados Unidos”, aponta. O jihadismo – um conceito

que implica um uso restritivo do termo “jihad” (ver caixa da página 66) – não é uma novidade recente em África. Entre 1992 e 1996, o Governo islâmico do Sudão albergou Osama bin Laden e a al-Qaeda. Antes dos ataques de 11 de Setembro em Nova Iorque, os primeiros atentados de larga escala contra alvos norte-americanos no exterior foram as bombas nas embaixadas no Quénia e na Tanzânia, em 1998. Em resposta, os Estados Unidos bombardearam instalações fabris no Sudão, que alegadamente produziam armas químicas, e perseguiram na Somália os responsáveis pelos ataques – um primeiro passo na estratégia de intervir militarmente em países que albergam jihadistas. “A jihad tem uma plataforma desde sempre em Duarte, professor no Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, em


LÁ FORA | 65

www.economiaemercado.sapo.ao | Maio 2016

Lisboa. Para este especialista, cuja tese de doutoramento se centra na al-Qaeda, a fragilidade institucional de vários “estados semi-falhados”

africanos e a pobreza “aumentam a permeabilidade de parte do continente às estruturas jihadistas”. A somar a estas razões

estruturais houve, nos últimos anos, desenvolvimentos que ampliaram a actividade terrorista, em particular, o vazio de poder na Líbia, onde

o Estado Islâmico já opera e de onde saíram armas e líderes para desestabilizar outros países do Sahel e da costa oeste de África.


66

| LÁ FORA

GRUPOS DE MILITANTES ISLÂMICOS E SUAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA EM ÁFRICA

MARROCOS LÍBIA

ARGÉLIA

EGIPTO COCAÍNA DA AMÉRICA DO SUL

MAURITÂNIA MALI NÍGER

CHADE SUDÃO

NIGÉRIA

AQIM E ALIADOS BOKO HARAM

HEROÍNA DA ÁSIA

ETIÓPIA CAMARÕES

SOMÁLIA UGANDA

QUÉNIA

AL -SHABAAB ROTAS DE TRÁFICO DESERTO DO SAARA SAHEL (TERRITÓRIO SEMI-ÁRIDO)

JIHAD, UMA PALAVRA CARREGADA negativa nos media

actividades que uma pessoa faz para se superar uma dimensão de luta contra um opressor, mas lado algum se defende a luta contra pessoas de outras religiões ou contra pessoas desarmadas foi adoptada por vários grupos extremistas

paradigmático do uso da linguagem da jihad para promover globalmente o terrorismo.

Fonte: Global Security, UNODC, BBC Somali Service

“A Líbia é um ponto-chave: quem a controlar tem facilidade em percorrer o corredor para o Sahel e para a costa ocidental e oriental”, destaca Pathé Duarte. Para lá do Estado Islâmico na Líbia, há três grupos jihadistas dominantes (ver caixa da página 67): o Boko Haram (Nigéria), o mais letal do mundo; o al-Shabaab, na Somália e costa oriental; e a al-Qaeda do Magreb Islâmico (norte e costa ocidental). Angola não surge no radar destas organizações. A resposta europeia tem sido fragmentada e de carácter bilateral – com destaque para a França

– e têm sido os Estados Unidos a reforçar muito o combate ao jihadismo em África, coordenado pelo seu comando militar designado por Africom. No Djibouti, os Estados Unidos têm a sua maior base no continente, com quatro mil efectivos, de onde lançam ataques contra o al-Shabaab, no corno de África, e a al-Qaeda, no Iémen. Vários países – Etiópia, Sudão do Sul, Quénia, Mali, entre outros – albergam instalações militares norte-americanas de algum tipo, como estações de drones. A expectativa dos analistas é de que esta presença militar – sob a forma de ataques


LÁ FORA | 67

www.economiaemercado.sapo.ao | Maio 2016

QUEM LIDERA O TERRORISMO EM ÁFRICA BOKO HARAM

está erradicada. AL-SHABAAB

AL-QAEDA DO MAGREB ISLÂMICO (AQMI)

selectivos, apoio às forças armadas de países visados pelo jihadismo, etc. – venha a aumentar nos próximos anos. O problema está, contudo, constrangimentos na relação entre quem ajuda e quem precisa de ser ajudado”, explica Bernardo Pires de Lima. A presença estrangeira ocidental caminha sobre

acusações de neo-colonialismo e não pode ser vista como excessiva. A isto soma-se o parceiros – e a fragilidade das próprias forças armadas que os EUA ajudam a treinar e equipar, muito divididas entre etnias e passíveis de se desmembrar (como no Sudão do Sul em 2013). E a actividade jihadista não vai abrandar. Nos casos do

Boko Haram e do al-Shabaab os exércitos regulares dos países visados conquistaram ganhos territoriais importantes. Estes grupos continuam, no entanto, muito activos. Por outro lado, há África entre a al-Qaeda e o Estado Islâmico, que tenderá a aumentar a intensidade dos ataques. A “marca” global criada pelo Estado Islâmico

tem cativado mais seguidores resto do mundo, como em África – para responder, a “al Qaeda terá de conseguir ataques mediáticos”, aponta Pires de Lima. Esta é uma concorrência que, a somar-se a todos os problemas estruturais dos estados afectados, continuará a alimentar a espiral de violência. &


68

| MERCADO E FINANÇAS

ANÁLISE

OS CONTORNOS DA INTERVENÇÃO DO FMI DR

Justino Pinto de Andrade Economista

Através do Ministério das Finanças, o Governo de Angola formulou um pedido de assistência técnica ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que se sujeitou a várias interpretações. Mas o comunicado emitido pelo próprio FMI e assinado pelo seu subdirector geral, Min Zhu, ajudou a autoridades angolanas para que sejam iniciadas discussões sobre um programa económico que possa ser apoiado pela assistência técnica do FMI”. Há aqui, pois, duas questões interligadas: o


MERCADO E FINANÇAS | 69

www.economiaemercado.sapo.ao | Maio 2016

A imprensa internacional deu o devido destaque ao assunto, realçando, porém, o

do “resgate”, um termo muito repetido Portugal, Grécia e Irlanda, com um enorme protagonismo de funcionários do FMI, do do programa económico imposto pela Pelo modo como as nossas autoridades “resgate” lhes terá causado algum conferência de imprensa, o ministro das Finanças procurou reduzir o âmbito da assistência técnica”, subalternizando a outra componente a si naturalmente acoplada: o “programa económico” que, na linguagem

por Angola com o presente estado da nossa economia, decorrente da “descida acentuada dos preços do petróleo desde meados de 2014, o que representa um de petróleo, sobretudo aqueles cujas economias precisam de se tornar mais por Min Zhu adianta ainda que “o FMI está pronto a auxiliar Angola a abordar os

salvaguardando, em simultâneo, a

(…) O MINISTRO DAS FINANÇAS, ARMANDO MANUEL, DISSE NÃO HAVER AINDA LUGAR À FIGURA DO “RESGATE”, PORQUE, SEGUNDO ELE, DE MOMENTO, OS RÁCIOS MACROECONÓMICOS NÃO SÃO ALARMANTES. SÓ QUE O MINISTRO DAS FINANÇAS ESQUECEU-SE QUE A SAÚDE ECONÓMICO-FINANCEIRA DE UM PAÍS NÃO SE AVALIA APENAS PELOS SEUS INDICADORES DE CURTO PRAZO.

suas balanças de pagamentos, decorrentes da existência de profundas distorções que exijam reformas económicas profundas; II) Por norma, a assistência no âmbito

implementar reformas estruturais de III)

que o SBA – 2 a 10 anos, após a data do desembolso – para que o ajuste estrutural

repetido entre nós e que, pelo que se vê, foi subalternizado quando sobre nós “choviam rios de dólares” provenientes das receitas do Min Zhu concluiu dizendo que as discussões devem ser iniciadas durante as “Reuniões de Primavera em Washington e numa visita a Angola em data próxima, para tratar de um programa económico” – o sublinhado é meu – “que possa ser apoiado por um acordo de três anos ao abrigo do Programa de Financiamento Ampliado (Extended Fund Facility, EFF desse comunicado levanta, pois, o véu sobre o modo como o FMI colaborará

Angola, com a nossa economia a cada dia mais ancorada nos dinheiros provenientes mais condicionados, dado o mau momento Extended Fund Facility (EFF) contempla a cedência de empréstimos por parte do

pelo recurso ao FMI? Por um lado, porque

Vale, pois, a pena revisitarmos a essência FMI, comparando-o, por exemplo, com um outro, denominado Acordo Stand-By (Stand By Agreement, SBA na signa inglesa), de

O comunicado do Ministério das Finanças refere que um dos objectivos do pedido de apoio ao FMI é a sua economia”, um desiderato extremamente

I) O SBA é estabelecido com o FMI no médio e destina-se a auxiliá-los para a

envolvimento, de tal modo que, se julgado necessário, o Programa de Assistência do FMI pode ser prorrogado por mais um ano, as seguintes circunstâncias:


70

| MERCADO E FINANÇAS

I) Persistência na necessidade de se equilibrar a balança de pagamentos; II) macroeconómica; III)

comprometendo-se a devolvê-los acrescidos

vez que perdemos grande capacidade

O Estado tem todo o interesse em obter empréstimos com juros baixos, o que nem

acentuada e persistente das receitas externas,

nos mercados internacionais, por causa

sustentadas e consistentes para uma maior

de juro mais favoráveis, estando na linha

do mercado internacional de um produto – o petróleo – de que somos produtores e

de implementar reformas estruturais Vê-se, pois, que os Programas de Assistência do FMI exigem reformas cumulativamente, pode recorrer a outras na Europa, com Portugal, Grécia e Irlanda,

É pouco importante centrarmos a

Mas, quer seja no SBA, quer seja no EFF, os limites do empréstimo dependem das economia, o “resgate” tem lugar sempre

a alimentar o “ego” dos governantes, sempre muito ansiosos em manifestar um

No caso do EFF, que é o que mais nos sujeitos ao limite normal de até 200% do a um limite cumulativo de 600% da quota,

acarretando com todas as consequências

o FMI pode permitir que se exceda tais

em default

No curto prazo, prevejo os seguintes impactos: I) aliviar o peso do Estado no orçamento; II) Aumento do desemprego no sector reajuste desse sector económico; III) Subida dos preços de bens e serviços – muitos dos quais essenciais – pela

que considero de menor relevância face aos entre os analistas sobre a presente démarche do Governo angolano é se o pedido de assistência técnica formulado ao FMI pode

Na já referida conferência de imprensa, o ministro das Finanças, Armando Manuel, “resgate”, porque, segundo ele, de momento,

melhor entendimento da essência do termo “resgate”, temos que partir da problemática

reforço de alguns dos actuais impostos; IV) Acentuada perda do poder de compra dos salários; V) Maior abertura ao capital estrangeiro; VI) Privatizações de empresas do sector VII) Maior rigidez salarial, com aumento

esconder a probabilidade de ocorrência os encargos do Estado superam as suas receitas próprias, ele tem que se socorrer de fontes alternativas: ir aos mercados

correcta é a dinâmica, obtida por projecções

Ou seja, o Estado contrai empréstimos

de modo algum nos deixa tranquilos, uma

VIII) A emergente classe média sofrerá apertos e passará demasiados incómodos; IX) Apertos nos orçamentos dos sectores No longo prazo, depois dos ajustes

Por exemplo, no médio e no longo prazo, &


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| SOCIEDADE

ALDEIA SOLAR

DEIXADA AO ABANDONO Texto: Edjaíl dos Santos Carlos Aguiar

Inaugurada há mais de dois anos pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, a Aldeia Solar continua abandonada e sem habitantes. O projecto abastecido com electricidade através de painéis solares para cada uma das 500 moradias visa a redução da pobreza e o Porém, e estranhamente, até hoje permanece sem moradores.


SOCIEDADE | 73

www.economiaemercado.sapo.ao | Maio 2016

A construção da Aldeia Solar de Cabiri, Icolo e Bengo, contemplou 505 sistemas solares fotovoltaicos (SHS), instalados em 500 domicílios, e equipamentos sociais, como uma escola com seis salas de aula, um centro de saúde, um centro de e 83 postes de iluminação solar pública, mas a comunidade local não usufrui destas condições, uma vez que o projecto ainda não foi entregue aos moradores da região. No local, a Economia & Mercado A Aldeia Solar é habitada apenas por quatro agentes de protecção física da empresa Ecro-empreendimentos, que controlam o acesso ao projecto e garantem

seu almoço. Com a panela ao fogo, adiantaram-nos que apenas protegem o local e não sabem quando as casas serão entregues. Sem movimento de de vandalismo e viu desaparecer alguns painéis solares. “Aconteceu, no dia 18 de Maio do ano passado, um incêndio no projecto, por ateamento de fogo, um acto praticado por elementos desconhecidos. As chamas chegaram a afectar 50 metros. Aconteceram também roubos de coisas mínimas, como lava-loiças, sanitas e alguns que solicitou anonimato.

As residências pequenas, de cor castanha, com portas ora azuis ora brancas, estão todas fechadas. Todas do tipo T2, com sala, cozinha, equipadas com forno solar, e despensa. As placas

INVADIDAS POR CAPIM A vista da aldeia é composta por muito capim, que quase encobre as casas. Ao gente a viver em casas de adobe, chapa e sem condições de habitabilidade. A escola, de apenas duas salas, alberga mais de 200 alunos em dois turnos. O coordenador da comissão de


74

| SOCIEDADE

Bairro Sojambo, onde há pessoas a viver em casas de adobe e chapa

moradores do bairro, que não aceitou gravar entrevista por não ter autorização da administração local, revelou que era pretensão da administração transferir, neste ano lectivo, os alunos para ocuparem as seis salas construídas na Aldeia Solar, mas, por as chaves ainda estarem na posse o acto não se concretizou e os alunos continuam a estudar “apertados”, segundo desabafou. comunicação da Sonangol, que desmentiu ter as chaves em sua posse. “As de 2014”, disse o director do Gabinete de Comunicação e Imagem da Sonangol, Mateus Cristóvão. Entretanto, segundo reportou a Angop, em meados do ano passado, o administrador do Icolo e Bengo, Adriano Mendes de Carvalho, soube que a ocupação depende de um estudo sobre as modalidades de entrega e de

arrendamento. Depois do estudo, “as casas serão entregues”, prometeu, em 2015, Mendes de Carvalho, sem, no entanto, arriscar qualquer previsão de datas. O estudo, depois de concluído, vai ser apresentado ao Governo de Luanda para que sejam feitas obras de reabilitação, sendo que até agora não se sabe em que pé A E&M tentou o contacto via telefone com o administrador do Icolo e Bengo, Adriano Mendes de Carvalho, mas sem sucesso. 150 MILHÕES DE DÓLARES SERÃO INVESTIDOS ATÉ 2025 O programa Aldeia Solar, lançado pelo Executivo no âmbito do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) 2013-2017, de 48 aldeias em distintas regiões do país revelou, em 2014, o ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, que prestou a

que decorreu em Luanda. Executivo é produzir até 2025 cerca de 100 megawatts de energia solar para todas as zonas rurais, num investimento estimado em 150 milhões de dólares. Os projectos estão a ser implementados pela empresa portuguesa Fundação EDP, em parceria com a Holding, com vista a proporcionar energia a custos inferiores às actuais despesas com combustíveis fósseis, através de soluções de energia solar e da capacitação da comunidade. Este projecto vai impulsionar o crescimento das actividades económicas, o acesso aos meios de comunicação e às tecnologias de informação e comunicação nas escolas, diminuir a poluição do ar no interior das habitações e as doenças respiratórias daí resultantes. Mas, ao que tudo indica, as Aldeias Solares não estão a cumprir os objectivos para os quais foram construídas. &


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| FIGURA DO MÊS

ALEXANDRA GONÇALVES, ADVOGADA ASSOCIADA DA MG ADVOGADOS

“O FUTURO DO PAÍS DEPENDE DAS PESSOAS E NÃO DOS BENS” RESPONSABILIDADES Assessoria jurídica nas áreas de prática de Direito Societário, Financeiro, Comércio Internacional, Petróleo e Gás, Fiscal, Investimento Privado, Arbitragem Comercial, entre outros. Coordenadora Executiva da Conferência Internacional de Arbitragem de Luanda, promovida pelo MGA em parceria com a Ordem dos Advogados de Angola, da qual é membro do Conselho Provincial. MÁXIMA DE GESTÃO “O líder é um transformador de esperanças em dinâmicas que geram vida.” (sobre a responsabilidade social de um líder perante a comunidade em que está inserido, cuja estratégia de gestão afecta, positiva ou negativamente, os funcionários da sua empresa e os cidadãos, em geral), Manuel Gonçalves. BILHETE DE IDENTIDADE Alexandra do Nascimento Gonçalves, de 33 anos, nasceu em Luanda, no seio de uma família

de viagens no seu blogue The Alexe Affair, documentário, que será lançado ainda este

CARREIRA / CURRICULUM VITAE É licenciada em Direito pela Universidade de Lisboa (Clássica), cidade onde viveu durante 15 anos. Lisboa teve, por isso, uma grande


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ECONOMIA & MERCADO (E&M) - Qual a receita para ser uma boa advogada, principalmente na conjuntura em que nos encontramos? ALEXANDRA DO NASCIMENTO GONÇALVES (AG) Não há certamente uma resposta única a esta questão, o sucesso. A meu ver, a formação constante, o radar ligado à actualidade socioeconómica e às novidades legislativas, bem como imprescindíveis (muitas) horas de trabalho, poderão sem dúvida contribuir para o e seguir à risca o plano estipulado para o alcançar, em acréscimo, será a cereja no topo do bolo. americano, poderá servir como orientação para quem estratégia própria, ou então somos parte da estratégia de alguém”. E&M AG - Em síntese, construir uma carreira sólida e com consciência social em Angola. E&M - Que obstáculo encontra para alcançar as metas que pretende? AG proporciona, temos necessariamente de trabalhar com expertise que os nossos congéneres noutras partes do mundo, o que nem

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E&M - Qual é a sua opinião face à actual situação económica do país? AG transformar, tomadas as decisões correctas, em tempos interessantes. A queda abrupta do preço do barril de petróleo teve efeitos imediatos sobre as receitas da economia nacional, ancorada essencialmente na produção petrolífera. A quebra da dinâmica de crescimento na África Subsaariana afecta, igualmente, a capacidade de crescimento económico de Angola. Teremos menos exportações, menos investimento público e, expectavelmente, menos investimento privado nacional e estrangeiro. Temos, por isso, de entrar num novo ciclo económico de estabilidade não dependente do petróleo. Neste clima de todos os players do mercado em prol da diminuição do despesismo, da substituição do petróleo como fonte principal de receita, do aumento da produção interna e das exportações. No entanto, essa urgente reviravolta só poderá ser possível com a formação e capacitação dos quadros nacionais, o apoio ao empreendedorismo nacional e aos novos empreendedores, e com um investimento considerável em áreas de futuro, tais como a agricultura

191 mil postos de trabalho directos. Estes são números

Vivemos num país ainda em fase de transição, que

história de superação e acredito que esta geração, mais

E&M - Que aspectos distinguem o mercado angolano da realidade dos países com quem Angola tem parcerias económicas? AG - Angola tem parcerias económicas com países com realidades muito distintas. Vivemos actualmente numa

diferença a todos os níveis. E&M - Como avalia o ensino da área jurídica em Angola? AG - Estamos na incontornável fase da quantidade. Existem inúmeras universidades a ensinar o curso de Direito com níveis de qualidade diferentes. Há duas ou três que claramente se destacam, sendo que o esforço individual de cada aluno poderá suplantar as eventuais deverão, no entanto, ser futuramente ajustados, de forma a abranger matérias que tradicionalmente não como a Arbitragem (método alternativo aos tribunais judiciais para a resolução de litígios) e o Direito do Petróleo e Gás, apenas para citar alguns exemplos.

Não estamos, por isso, a nível regional e internacional, numa situação muito favorável, quando comparados a países economicamente estáveis. muitas áreas por desenvolver, certo é que o futuro do dos bens. Há, portanto, que importar as boas práticas vigentes em países mais desenvolvidos e adaptá-las à nossa realidade, de forma a diminuir as discrepâncias que possam afectar parcerias económicas saudáveis. Como referi, tal só será possível, em primeira mão, com a aposta na capacitação do capital humano, de forma a garantir o desenvolvimento sustentável do país.


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| LAZER

VINHOS

ANGOLANOS VOLTAM A PROVAR O MELHOR DE SETÚBAL Depois de se terem apresentado ao mercado angolano em 2014, na segunda edição do Angola Wine Festival, os vinhos da Península de Setúbal continuam a conquistar os angolanos. No princípio de Abril, a Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS), entidade responsável pela sua promoção, realizou uma prova de vinhos e uma Wine Party, por ocasião dos 25 anos da sua existência. Esse evento teve lugar no Hotel Epic

Sana, em Luanda. Mas a CVRPS não experiência às cidades de Benguela e do Lubango. Sendo Angola um mercado primordial para a CVRPS, a acção demonstra na prática a importância desta relação, assim como permitiu fazer um balanço do passado, “com olhos postos no futuro”. Estiveram em Angola os representantes da Adega de Palmela, Casa Ermelinda Freitas, Adega de

Pegões, SIVIPA e Quinta do Piloto, Venâncio da Costa Lima e Bacalhôa Vinhos de Portugal, que expuseram os seus produtos e permitiram um reencontro entre os angolanos e o melhor vinho de Setúbal. A Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal tem como missão garantir a origem, a qualidade e a genuinidade dos vinhos, bem como a sua promoção e do património vitivinícola da região. &


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VINHOS

CHÂTEAU HAUT-BRION, UMA RARIDADE FRANCESA

a qualidade do vinho. No entanto, os melhores vinhos, porque geralmente são raros, não são baratos. Em princípio, os caros são produzidos com ingredientes de altíssima qualidade, em pouca quantidade, a partir de processos maior resistência ao tempo. É claro que a opinião da crítica, assim como o nome do produtor, contribui para o seu reconhecimento. Recentemente, a revista brasileira “Adega” elaborou uma lista dos vinhos mais caros, na qual os franceses ocupam o top 10, sendo que Château Haut-Brion aparece em primeiro lugar. No Brasil, este vinho é comercializado a partir dos 1 800 dólares, quase 300 mil kwanzas. Haut-Brion é uma das mais antigas vinícolas de Bordeaux, com as primeiras

referências a datarem de 1423. É o único vinho fora da região de Médoc (em Graves, no sul de França), atribuída aos vinhos franceses. Para os críticos, elegância é a palavra que melhor descreve Haut-Brion, de cor “vermelha muito profunda. O nariz, a princípio reservado, abre-se suave e lentamente. Notas de minerais são seguidas por frutas vermelhas, um aroma de terra dominada por frescor e café. A boca é sedosa. Os taninos especiais e suaves”. Composto por Cabernet Sauvignon (45%), Merlot (37), Cabernet Franc (18%) e Al (13%), Haut-Brion 2006 estagiou 22 meses em barricas e pode ser guardado por 30 anos depois de engarrafado. &


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| LAZER OPINIÃO

MAKE IT POSSIBLE Marvin Chen Mengchun Directo de Marketing da Huawei

Desde Março que Lionel Messi, vencedor da Bola de Ouro por cinco vezes, tornou-se embaixador da marca Huawei no mundo. A parceria com Lionel Messi mostra o alinhamento da Huawei com pessoas e marcas que demonstram o seu valor, perseverança e grandeza na conquista de objectivos, como é o exemplo do jogador do Futebol Clube de Barcelona. “Porque Messi e a Huawei são grandes sonhadores e partilham do mesmo espírito: make it possible”, explicou Daniel Tong Xiaodong, CEO da Hauwei Devices Angola, acrescentando que Lionel Messi nasceu numa familia muito pobre, era muito inteligente e tinha um sonho: ser jogador de futebol. Para o concretizar, Messi deixou para trás a sua família, a sua casa e o seu país para, depois de muito sofrimento, tornar-se no rei do futebol. A Huawei também nasceu como um pequeno negócio na

China, sofreu muito para conquistar o estatuto que tem hoje: uma empresa que desenvolve a mais avançada tecnologia para telemóveis a nível mundial. Em 2015, foram vendidos mais de 100 milhões de telemóveis da Huawei no mundo inteiro e a marca tornou-se no terceiro maior fabricante de telemóveis. Desde a segunda metade de 2015 que a economia angolana vive tempos muito difíceis, mas a Huawei não desiste. Pelo contrário, garante continuar a investir no país, como manifestou Daniel Tong Xiaodong: “É um investimento a longo prazo e, Para tornar a decisão cada vez mais possível em Angola, a Huawei reforçou o investimento no país, enquanto os principais concorrentes reduziram. Em Fevereio de 2016, a Huawei criou uma linha telefónica, disponível das 9 às 18 horas, de Segunda a Sexta-Feira, e um e-mail de apoio, de modo a ter maior proximidade com os consumidores: “Porque acreditamos que juntos podemos tornar o sonho possível”. &


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AO VOLANTE

FORÇA E CONFORTO PARA GRANDES AVENTURAS Pedro Correia

Em 1992 surgiu um dos ícones da Nissan todo-o-terreno: o Nissan Patrol Safari, com variações em vários países. O TD42 Diesel ou GR 4.2 Station Wagon Safari tem uma carroçaria do tipo familiar, com sete lugares, cinco portas, tracção às quatro rodas/tracção total e caixa de cinco velocidades. O sistema de travagem dianteira utiliza travões de discos ventilados e as rodas traseiras estão equipadas com travões de discos. Tem um motor poderoso de 4 169 cc, com seis cilindros em linha, debitando 173 cavalos às quatro mil rotações por minuto. A ampla aceleração, depois da segunda velocidade, confere ao Nissan Patrol Safari

uma rapidez fora do comum em viaturas do género. Para um todo-o-terreno, a comodidade tem um nível elevado. Preparado para transportar sete pessoas, tem bancos rebatíveis à frente e atrás (o último assento traseiro pode ser removido para dar lugar a uma ampla bagageira). Os assentos estão revestidos de tecido aveludado, o que lhes confere uma sensação especial de conforto. Uma viatura que pode já ser considerada uma “relíquia do mundo automóvel” e que dá gosto conduzir, tanto em asfalto como em aventuras todo-o-terreno, para as quais está especialmente preparado.

A geração Patrol, da Nissan, tem origem nos anos 50 do século XX. Foi em Setembro de 1951 que a marca introduziu no mercado o primeiro modelo Patrol 4W60, inspirado no prático Jeep Willys desde a I Grande Guerra (1914/1918). Aliás, o primeiro carro japonês da geração Nissan Patrol era muito parecido com o seu par americano. Desde 1951, a Nissan fabricou e lançou várias gerações de “patrulhas” cada vez mais modernos e adequados às necessidades do mercado, sem nunca abandonar dois dos princípios gerais deste tipo de viaturas: força e conforto. &


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| REMATE

O MENOS MAU O recurso pelo Governo angolano ao FMI para um Programa de Financiamento Ampliado é, a meu ver, uma boa decisão, pecando apenas por tardia. Acho que, independentemente da situação de crise que vivemos, já o devíamos ter feito há mais anos. E é uma boa decisão porque pode evitar, se assumido seriamente, a situação de resgate com consequências de ordem social muito difíceis.

DURANTE MUITOS ANOS, O PAÍS VIVEU SOBRETUDO DE TRADING. GANHÁMOS RIOS DE DINHEIRO COM O PETRÓLEO E NÃO O APLICÁMOS DE FORMA A CRIARMOS PRODUÇÃO E CONSUMO INTERNO ESTRUTURADOS. ELABORÁMOS LEIS SUPER PROTECCIONISTAS QUE AFASTARAM OS INVESTIDORES QUE NOS PODIAM AJUDAR NESSE DESIDERATO. POR OUTRO LADO, ABRIMOS AS PORTAS A PUROS MERCADORES QUE PROPICIARAM RIQUEZAS QUESTIONÁVEIS COMPLETAMENTE EXPORTADAS PARA FORA DO PAÍS.

É facto que a actual situação resultou de do preço do petróleo (nossa quase única fonte de exportação) deixou-nos descalços. Temos também responsabilidades internas e muitas relacionadas com opções políticas e económicas sobre o nosso crescimento. Durante muitos anos, o país viveu sobretudo de trading. Ganhámos rios de dinheiro com o petróleo e não o aplicámos de forma a criármos produção e consumo interno estruturados. Elaborámos leis super proteccionistas que afastaram os investidores mercadores que propiciaram riquezas questionáveis completamente exportadas para do petróleo não foram canalizados para a produção interna e para a transformação.

empréstimo de 1,4 mil milhões de dólares norte-americanos através de um acordo de crédito contingente para um período de três anos. Este será de dez anos, essencialmente focado, segundo as autoridades, em reformas estruturais apontadas para o levantamento de uma economia não petrolífera assente não apenas na arrecadação de receitas de indústria, de serviços, de consumo e

oportunidade que é para o nosso futuro, o futuro das nossas gerações, o ter petróleo, adequando o nosso orçamento a uma parte das suas receitas, guardando outras duas para situações de contingência e para a criação de uma economia reprodutiva. A África do Sul está com problemas económicos causados pela baixa dos preços de matérias-primas, mas tem aquilo que nós não temos: produção, indústria, serviços e consumo interno. E exporta, exporta

que, reconheça-se não foram poucas, esses moeda. o valor investido. Há um rol de obras absolutamente questionáveis do ponto de de pura maquilhagem, mas sem substância. São, sobretudo, pouco ou quase nada

uma oportunidade para arrumarmos a casa e fazermos deste país uma nação de bem-estar para todos. Estamos a exigir muito, mas mesmo muito do nosso povo. Temos de assumir

sem retorno, riqueza nacional. Nuno Fernandes Jornalista Presidente do Conselho Executivo Grupo Executive

escolhas e que é o tempo de corrigirmos. Não o fazer é conduzir a uma situação de risco muito complicada. &



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