Economia & Mercado 142

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JULHO 2016 ANO 19 Nº 142 PREÇO 800Kz n

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MEDICAMENTOS

EM RISCO DE RUPTURA MERCADO AUTOMÓVEL

SISTEMA FINANCEIRO

Negócio em desaceleração

Medidas que pecam por tardias

EM FOCO

ENTREVISTA

OPINIÃO

Cooperativismo: Um Reforço à Sustentabilidade Económica

Pombal Mayembe, Chefe de Departamento da DNME

Justino Pinto de Andrade Milton Delo


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JULHO 2016 WWW.ECONOMIAEMERCADO.SAPO.AO

RADAR

16 NEGÓCIO EM DESACELERAÇÃO O ritmo de crescimento do mercado automóvel nacional desacelerou muito, com os números a revelarem uma quebra na importação de viaturas na ordem dos 91% no primeiro trimestre de 2016, quando comparado ao período homólogo de 2015. O sector, que em 2014 já equivalia a cerca de 2% do PIB, está a ressentir-se com as dificuldades em conseguir divisas para continuar a importar. Em decorrência dessa situação, as concessionárias aumentaram os preços dos automóveis em stock, numa altura em que a desvalorização da moeda nacional retira aos clientes a capacidade de compra. Diante deste cenário, algumas concessionárias estão a encontrar no serviço pós-venda a solução para manter o seu negócio.

46 ESPECIAL DIVERSIFICAÇÃO: TELECOMUNICAÇÕES O sector das telecomunicações é um dos mais dinâmicos da economia angolana, embora, a nível do desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, ainda tenha um longo percurso a percorrer no país. Entretanto, segmentos como a telefonia móvel, actualmente dominada pela Unitel e a Movicel, assim como a oferta de sinal de TV por satélite e de Internet, representam algum do dinamismo do sector. Nesta edição, quisemos destacar algumas das principais empresas pioneiras neste ramo, porém, por indisponibilidade dos responsáveis, a quem enviámos os respectivos pedidos de entrevista, não nos foi disponibilizada a informação solicitada.

8 CÂMARA LIVRE 9 CONTRAPONTO 11 IPSIS VERBIS

OPINIÃO 12 JUSTINO PINTO DE ANDRADE 14 LUÍS TODO BOM

MACRO 16 MERCADO AUTOMÓVEL 20 MERCADO DE EMPREGO

OPINIÃO 24 J. G. MATOS 25 NÚMEROS EM CONTA 26 EMPRESAS

CAPA 30 INDÚSTRIA FARMACÊUTICA 42 ENTREVISTA

68 MEDIDAS QUE PECAM POR TARDIAS

46 ESPECIAL DIVERSIFICAÇÃO

As medidas de reestruturação do sistema financeiro angolano, anunciadas em finais de Maio pelo governador do Banco Nacional de Angola, num encontro informal com os jornalistas, pecam por tardias e não dissipam as nuvens de dúvidas sobre o real impacto que as mesmas poderão ter na alteração do quadro actual, uma vez que, ao mesmo tempo que o Banco Central Europeu não reconhece o BNA como uma verdadeira entidade reguladora, no país ainda se questiona a independência do banco central angolano do poder Executivo e, por consequência, do poder político, que participa em grande percentagem da estrutura accionista dos principais bancos.

56 EM FOCO

LÁ FORA 64 ECONOMIA CHINESA

MERCADO E FINANÇAS 68 SISTEMA FINANCEIRO

SOCIEDADE 72 EDUCAÇÃO MUSICAL

30 UM REFLEXO DA FRACA APOSTA

76 FIGURA DO MÊS

NA SAÚDE PÚBLICA

LAZER

A epidemia de febre-amarela que assolou a capital do país destapou as debilidades da saúde pública em Angola, cujo estado actual é reflexo da fraca aposta governamental no sector. Dependentes das importações de fármacos a 100%, as unidades hospitalares públicas registaram uma ruptura no stock de medicamentos, cuja quantidade importada foi reduzida em função da carência de cambiais que o mercado registou. Essa situação deverá manter-se nos próximos anos – embora a importação de fármacos constitua uma das prioridades – considerando que não existe produção interna para contrabalançar a carência de importações, além de que, de acordo com informação a que a Economia & Mercado teve acesso, o método de distribuição dos medicamentos pelos postos de abastecimento provinciais e municipais é propenso a desvios, o que poderá ser uma das causas da ruptura registada, considerando que o mercado informal continua abastecido.

78 VINHOS 80 LAZER NOTÍCIAS 81 AO VOLANTE

REMATE 82 NUNO FERNANDES


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EDITORIAL | 5

www.economiaemercado.sapo.ao | Julho 2016

SÍNDROME DA IMPORTAÇÃO Quingila Hebo

A presente edição explica, em parte, o caos que se verificou em Luanda entre os meses de Abril e Maio, altura em que o país chegou a registar um total de 500 óbitos por dia, segundo noticiou o jornal O País. Os artigos que poderá ler da página 30 a 45 da presente edição espelham as consequências daquilo que baptizamos aqui como “síndrome da importação”, uma doença crónica da nossa economia com que nos debatemos há muitos anos. A conclusão do trabalho resume-se num pequeno exercício matemático (Febre-amarela + Falta de divisas = Caos) que, embora pareça simples, pelo desenrolar dos acontecimentos, ainda continuará a contribuir para os resultados negativos na pauta de quem define as políticas para o bem-estar da população. A página 20 traz à tona o drama do desemprego no país, algo que já se esperava que viria a acontecer. Na edição de Fevereiro, demos voz a vários especialistas que apelavam e apontavam medidas para que o Estado envidasse esforços para que o actual panorama económico não tivesse reflexos drásticos na vida das famílias. Pela evolução da situação, tudo indica que pouco está a ser feito para tal. As empresas, a grande maioria concebida à base da importação de matérias-primas, adicionando os atrasos de pagamento do Estado, principal cliente até das pequenas empresas, continuam a fechar as portas e a mandar o seu activo mais valioso, as pessoas, para casa.

A CONCLUSÃO DO TRABALHO RESUME-SE NUM PEQUENO EXERCÍCIO MATEMÁTICO (FEBRE-AMARELA + FALTA DE DIVISAS = CAOS) QUE, EMBORA PAREÇA SIMPLES, PELO DESENROLAR DOS ACONTECIMENTOS, AINDA CONTINUARÁ A CONTRIBUIR PARA OS RESULTADOS NEGATIVOS NA PAUTA DE QUEM DEFINE AS POLÍTICAS PARA O BEM-ESTAR DA POPULAÇÃO.

Caso a situação se mantenha até ao final do ano, 2016 pode ficar na história de Angola como o ano com o maior índice de despedimento após o alcance da paz. Entre outros assuntos não menos importantes, o destaque vai para o Especial Diversificação, que, se não fosse o receio em comunicar que impera no seio das empresas, estas poderiam ter nos elucidado bem melhor sobre o actual mercado das telecomunicações. Afinal, o principal objectivo é medir a pulsação de como as telecomunicações e as tecnologias de informação podem dar um grande contributo à diversificação da economia angolana, que clama cada vez mais por novas fontes de receita. &

Propriedade Edicenter Publicações, Lda Directora Editorial Ana Filipa Amaro Director Sebastião Vemba - sebastiao.vemba@economiaemercado.com Sub-Editor Quingila Hebo - quingila.hebo@economiaemercado.com Copy Desk Patrícia Pinto da Cruz - patricia.cruz@edicenter-angola.com Conselho Editorial Laurinda Hoygaard; Justino Pinto de Andrade; José Matos; Fernando Pacheco; José Severino Redacção António Piçarra - antonio.picarra@ edicenter-angola.com; Edjaíl dos Santos - edjail.santos@economiaemercado.com; Jacinto Malungo - jacinto.malungo@edicenter-angola.com; José Pedro Correia - josecorreia.edicenter@gmail.com Colaboradores Bruno Faria Lopes; José Matos; Justino Pinto de Andrade; Luís Todo Bom; Milton Delo; Nuno Fernandes; Sérgio Piçarra Fotografia Vasco Célio (Editor); Afonso Francisco - afonsofrancisco.edicenter@gmail.com; Carlos Aguiar - carlosdaguiar.edicenter@ gmail.com; Isidoro Felismina - isidorosuka@gmail.com Design Ana Nascimento – Executive Paginação Fernando Dias - fernandodias@edicenter-angola. com; Capa Executive Publicidade geral@edicenter-angola.com Secretariado Aida Chimene Redacção Smart Village Talatona - Zona CS1- Via AL 19A Talatona, Luanda - Angola Tel.: (244) 222 006 029 Fax: (244) 222 006 032, geral@economiaemercado.com Administração e Publicidade Smart Village Talatona - Zona CS1- Via AL 19A Talatona, Luanda - Angola Tel. (244) 222 011 866 / 867 Fax: (244) 222 006 032 edicenterlda@gmail.com Delegação em Lisboa Iona - Comunicação e Marketing, Lda R. Filipe Folque, 10 J - 2º Dir. - 1050-113 Lisboa Tel. (351) 213 813 566/7/8 Fax: (351) 213 813 569 iona@iona.pt Impressão e Acabamento Damer Gráfica, Luanda - Angola Distribuição Edicenter - Tel: (244) 222 011 866 / 867, Media Nova Distribuição, Greeline, Africana Tiragem 5.000 exemplares Angola - Registo Nº 249/B/99


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| RADAR

ANGOLA NO TOP 5 DO INVESTIMENTO CHINÊS NO ATLÂNTICO SUL

A região do Atlântico Sul, em que se inserem cinco países de língua portuguesa, tem sido privilegiada pelas principais empresas da China no seu esforço de globalização, e Angola e Brasil estão nos cinco primeiros lugares dos destinos do capital chinês na última década, afirma um estudo recente. Em “O Mapa de Risco da China no Atlântico Sul”, do German Marshall Fund dos Estados Unidos, o investigador Jonas Parello-Plesner estima, com base em dados do American Entreprise Institute, que, com 13,75 mil milhões de dólares, Angola surge na quinta posição, atrás da Nigéria (com 28,75 mil milhões de dólares), da Venezuela (22,11 mil milhões de dólares) e da Argentina (14,31 mil milhões de dólares) e fica à frente da África do Sul (com 9,55 mil milhões de dólares).

Na lista surge outro país membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a Guiné Equatorial, com 2,3 mil milhões de dólares, de acordo com um artigo sobre o estudo, divulgado pelo site Macauhub. Angola, onde o número de chineses residentes foi recentemente estimado em 200 mil, é um dos países destacados no estudo, que analisa a situação política dos países privilegiados pela China nos seus investimentos e das implicações para a segurança chinesa. A investigadora de relações sino-angolanas, Lucy Corkin, estimou em 14,5 mil milhões de dólares os empréstimos concedidos pela China a Angola, mas outras estimativas apontam para valores mais próximos dos 20 mil milhões de dólares, em grande parte garantidos pelo petróleo. Numa altura em que Angola enfrenta dificuldades para financiar a Linha de Crédito da China (LCC), utilizada para pagar 155 projectos públicos com 5,2 mil milhões de dólares, esta tem sido simultaneamente uma importante fonte de dinamização da economia, privilegiando o sector da Energia e Águas com 2,17 mil milhões de dólares para 34 projectos. Para 33 projectos no sector da Construção destinam-se 1,64 mil milhões de dólares e para a Educação 55 projectos, num investimento de 373,3 mil dólares, segundo dados recentemente divulgados pela LCC. As adjudicações de muitas destas obras têm vindo a ser publicadas no Jornal de Angola, nomeadamente, redes de abastecimento de água e reparação de estradas a serem realizadas nas províncias do Bengo, Bié, Huambo, Namibe, Kwanza Norte, Kwanza Sul, Malanje e Uíge, com um custo global de 550 milhões de dólares. &

PERMANENTES DESAFIOS DA ECONOMIA O Fundo Monetário Internacional (FMI) tornou a alertar que a situação económica e financeira em Angola continuará a ser desafiante em 2016, tendo em conta a permanente má perspectiva de recuperação do preço do petróleo. Após a última presença de uma delegação do FMI em Luanda, em Junho passado, a instituição financeira reafirmou que a alternativa é mesmo a diversificação da economia e aplicar “reformas estruturais ambiciosas” para garantir a "estabilidade macroeconómica e a sustentabilidade da dívida”. Em relação à dívida pública, o FMI prognostica que deverá aumentar até ao final do ano corrente para 57,4% do Produto Interno Bruto. No mesmo período, a inflação deverá atingir 14%, ultrapassando o objectivo do Executivo angolano, que a estimava entre 7% a 9%. O FMI já havia dito que a prioridade deveria ser “incrementar o investimento privado, melhorar o ambiente de negócios, reduzir a burocracia, melhorar as infra-estruturas físicas e o capital humano”. &


RADAR | 7

www.economiaemercado.sapo.ao | Julho 2016

FORTALEZA É A MAIS NOVA SEGURADORA NO MERCADO A Fortaleza Seguros é mais nova seguradora no mercado angolano e chega para se afirmar como uma referência no mercado segurador em qualidade, excelência e inovação no serviço prestado aos seus clientes. A seguradora trabalha com clientes particulares e empresas, tem uma forte presença em todos os principais sectores da economia e apresenta uma vasta gama de produtos, desde o Seguro Automóvel, de Viagem, de Acidentes de Trabalho e Multi-riscos, assim como gestão de Fundos de Pensões, entre outros produtos seguradores. “Proteger as conquistas significa também proteger o empenho, a ousadia e a integridade, numa relação próxima com as pessoas que deriva de um compromisso para liderar o investimento social e a literacia seguradora, instruindo as pessoas quanto à importância, aos benefícios e às responsabilidades de proteger o que conquistam”, destaca o comunicado da seguradora. A Fortaleza Seguros estará presente em todas as províncias com mais de 150 pontos de atendimento. Brevemente, passará a funcionar através de canais físicos e digitais próprios e através de mediadores. &

BIOCOM PROMETE AUMENTAR PRODUÇÃO A Biocom apresentou, em finais de Junho passado, os números que pretende alcançar na safra 2016/2017. Segundo um comunicado da empresa, prevê-se, no período em referência, ultrapassar os números da safra anterior, produzindo 47 mil toneladas de açúcar, 16 mil metros cúbicos de etanol e 155 mil megawatts de energia eléctrica. Entretanto, na safra 2015/2016, a Biocom produziu 24 770 toneladas de açúcar, 10 243 metros cúbicos de etanol e gerou 42 mil megawatts de energia eléctrica. Contudo, estes resultados são inferiores em relação aos da safra de 2014, altura em que produziu 28 mil toneladas de açúcar, 14 mil metros cúbicos de etanol e 68 mil megawatts de energia. Para a Safra 2016/2017, a companhia sucroenergética avançou que o açúcar produzido será destinado ao consumo do mercado interno, enquanto a energia eléctrica será comercializada junto da Rede Nacional de Transporte de Energia (RNT). Por sua vez, o etanol hidratado atenderá à demanda da indústria nacional de produtos de limpeza e de bebidas espirituosas. &

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| CONTRAPONTO

CÂMARA LIVRE VASCO CÉLIO

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CONTRAPONTO | 9

www.economiaemercado.sapo.ao | Julho 2016

“DESPARTIDARIZAR” O PAÍS INFELIZMENTE, OS ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS QUE ENVOLVERAM MILITANTES DA UNITA E DO MPLA NA PROVÍNCIA DE BENGUELA – EM QUE UMA COMITIVA DE APOIANTES DO PRIMEIRO PARTIDO FOI ATACADA POR MEMBROS DO SEGUNDO, RESULTANDO EM TRÊS MORTOS E VÁRIOS FERIDOS – TROUXERAM-NOS AS PIORES REFERÊNCIAS PARA A PAZ QUE O PAÍS AINDA ESTÁ A CONSTRUIR, SENDO QUE ESSA NÃO SE ALCANÇA COM A SOBREVALORIZAÇÃO DOS INTERESSES PARTIDÁRIOS AOS NACIONAIS.

Sebastião Vemba

A pluralidade de ideias, uma das características das sociedades democráticas, constitui um pressuposto de defesa do interesse público, na medida em que os debates livres não servem para que se adoptem as melhores ideias – aparentemente –, mas sim para que se evite, ao máximo, os erros e se preservem os direitos colectivos, através de consensos. Em Angola, onde se vive uma história recente de multipartidarismo, e com um longo período de guerra que opôs as duas maiores forças partidárias – com o MPLA (o Governo), de um lado, e a UNITA, do outro –, infelizmente discordar das políticas governamentais significa ser do contra, correndo-se o risco de, dependendo da forma como se defende a tese, ser considerado um homem antipatriótico. Mas o contrário também acontece. Ou seja, concordar com as políticas governamentais ou emitir uma opinião a favor de um acto político-administrativo, como a nomeação de Isabel dos Santos para PCA da Sonangol, por mais isento de intensões partidárias que seja o seu emissor, este acaba por ser conotado como um bajulador, o dito “bajú” que Paulo Flores musicou no seu mais recente “Bolo de Aniversário”, um álbum não muito bem recebido por um grupo de abençoados que vive numa “Angola festiva” em que tudo corre bem, e quem acha o contrário é um invejoso. Infelizmente, os últimos acontecimentos que envolveram militantes da UNITA e do MPLA na província de Benguela – em que

uma comitiva de apoiantes do primeiro partido foi atacada por membros do segundo, resultando em três mortos e vários feridos – trouxeram-nos as piores referências para a paz que o país ainda está a construir, sendo que essa não se alcança com a sobrevalorização dos interesses partidários aos nacionais. Curiosamente, e apesar de não ter merecido o devido tratamento nos meios de comunicação social, assinalou-se o 25º Aniversário dos Acordos de Bicesse, também conhecidos por Acordos de paz, do qual devemos tirar lições sobre a nossa história recente e sobre o valor de uma Paz efectiva no país. Esses acontecimentos, em suma, vêm-nos lembrar da necessidade de os líderes dos partidos políticos serem os principais promotores da paz, através da adopção de um discurso pacífico e conciliador. A par disso, como defenderam entidades ligadas à promoção e defesa dos direitos humanos, faz sentido criar-se painéis de resolução de conflitos partidários para solucionar situações que possam ocorrer durante a fase de pré-campanha e de campanha eleitoral, tendo em vista as eleições de 2017. Mas faz também sentido aprendermos a “despartidarizar” o nosso discurso e promovermos, mesmo no seio das organizações partidárias, a liberdade de pensamento. Infelizmente, a própria sociedade civil não está preparada para pensar de forma “despartidarizada”, ao ponto de considerar “revú” quem critica as políticas do Governo e “bajú” quem as apoia… &


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| RADAR

CARTOON SÉRGIO PIÇARRA


RADAR | 11

www.economiaemercado.sapo.ao | Julho 2016

IPSIS VERBIS RICARDO VELLOSO, CHEFE DA MISSÃO DO FMI EM ANGOLA, IN EXPANSÃO

Cupão de assinatura E&M.pdf

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“ANGOLA TEM DE APRENDER A VIVER COM MENOS DISPONIBILIDADE DE DIVISAS”.

13/11/15

16:25


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| OPINIÃO

A PRESENTE PERDA DE RELEVÂNCIA DA NOSSA ECONOMIA Num debate promovido recentemente por um canal televisivo português, quando chamado a opinar sobre o momento económico que o seu país atravessa, um empresário referiu, sem hesitação, o impacto da relação especial mantida com dois países: Angola e China. Disse ele que, pelo menos em parte, a queda das exportações portuguesas terá sido consequência do atrofiamento do mercado importador angolano e também da China. PODEMOS ESTAR A EXPORTAR AS MESMAS QUANTIDADES DE UM DETERMINADO PRODUTO – NESTE CASO, O PETRÓLEO – MAS PERDEMOS RELEVÂNCIA ECONÓMICA, DADO QUE A BALANÇA COMERCIAL SE CALCULA EM VALOR E NÃO NO VOLUME DOS BENS EXPORTADOS, COMO É LÓGICO.

Justino Pinto de Andrade Economista

São dois impactos similares, embora por circunstâncias não coincidentes: porque Angola vive uma profunda crise económica e financeira e porque a China tem vindo a reduzir o seu crescimento económico, fruto, em grande medida, do processo de modernização da sua indústria, a ser despoluída e automatizada para, no futuro, se tornar mais competitiva. Nos últimos anos, Portugal desenvolveu muito as suas trocas comerciais com Angola e com a China, resultado do aumento vertiginoso das suas capacidades importadoras. Além disso, Angola passou também a ser um porto de abrigo para milhares de cidadãos portugueses. A China tornou-se igualmente uma espécie de "El Dorado" para as exportações de Portugal. Mas, nos últimos tempos, a situação agravou-se em relação aos dois países. O Instituto Nacional de Estatística (INE) de Portugal veio agora clarificar e ilustrar com números a presente situação. Por exemplo, no mês de Abril, houve uma quebra de 2,5% das exportações portuguesas globais. Para Angola, a quebra das exportações portuguesas atingiu a cifra de 48,6%, fazendo-nos perder o sexto lugar enquanto destino das exportações portuguesas. Estamos relegados para uma modesta décima posição. Numa recente intervenção pública, o Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou utópico perspectivar para breve um desenvolvimento mais favorável nas relações comerciais entre os nossos dois países, não se vislumbrando, no curto prazo, uma significativa viragem na actual tendência. No mesmo período, a quebra das exportações portuguesas para a

China foi ainda mais acentuada: 60,9%, fruto do arrefecimento da economia do país asiático. Mas se é verdade que Portugal perdeu uma boa percentagem das suas exportações, pelo mau momento económico vivido por Angola e pelo arrefecimento da economia da China, a participação da Europa como destino das exportações de Portugal cresceu, com especial destaque para o Reino Unido, a França e a Espanha. Mas, no que a nós mais diz respeito, vale a pena olhar também para o outro lado da balança comercial. A baixa do preço do petróleo originou uma quebra significativa no valor das nossas exportações, quer para Portugal, quer para outros países. Podemos estar a exportar as mesmas quantidades de um determinado produto – neste caso, o petróleo – mas perdemos relevância económica, dado que a Balança Comercial se calcula em valor e não no volume dos bens exportados, como é lógico. Em resumo, a presente perda da importância económica de Angola face a terceiros advém, pois, e especialmente, dos constrangimentos dos dois lados da Balança Comercial: do lado das nossas importações (as exportações dos outros) e do lado das nossas exportações (as importações dos outros). Mesmo que se assista a repetidos apelos à necessidade de diversificação da nossa economia, a saída desta conjuntura menos boa dependerá ainda, e por muito tempo, de um factor que não dominamos – o preço do petróleo no mercado internacional –, sem esquecer a nossa capacidade (ou incapacidade) de diversificarmos, rápida e eficazmente, a nossa economia. &


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www.economiaemercado.sapo.ao | Julho 2016

AIR NAMÍBIA COM MAIS VOOS PARA ANGOLA A companhia aérea namibiana, Air Namíbia, firmou um acordo com a TAAG que permite à companhia de bandeira namibiana, que já voa para Angola há 25 anos, aumentar o número de voos semanais. Com este acordo, a Air Namíbia aumenta para 10 o número de voos semanais para Angola. De acordo com a empresa, e, atendendo à crise que o país atravessa, a medida não entra imediatamente em vigor, continuando, por enquanto, com os actuais sete voos semanais. &

GA ANGOLA SEGUROS MUDA DE MARCA

A seguradora GA Angola Seguros, pertencente à SAHAM Finances, mudou de marca para SAHAM Angola Seguros. A mudança faz parte de uma

estratégia do grupo com o objectivo de consolidar o sector dos Seguros como core business do grupo; introduzir marcas fortes de dimensão internacional em cada país onde está presente e fortalecer a visibilidade das marcas do grupo. Em 2014, a SAHAM Finances, a subsidiária do grupo SAHAM para a área dos Seguros, consolidou as suas marcas de seguros e de assistência em 13 países sob três marcas: SAHAM Assurance, SAHAM Insurance e SAHAM Assistance.

CRISE ECONÓMICA AGRAVA FOME A crise económica e financeira que assola Angola tem vindo a agravar o problema da fome, em particular no Sul do país, onde se regista um período de seca. A situação é mais visível na província do Cunene e em parte da Huíla, na região dos Gambos, onde a população está a abandonar os seus lares, à procura de terras mais férteis. Os agricultores dos Gambos desistiram de praticar a agricultura para sua própria subsistência, de acordo com o sacerdote Pio Wakussanga, da Associação Construindo Comunidades. Também se verifica a movimentação dos habitantes das regiões do Kuvale, Hakavona, Mhambue e Mwila para localidades que oferecem melhores condições. De acordo com o sacerdote, a questão da fome é particularmente penosa para as crianças, mulheres e idosos, obrigando a população a recorrer a frutos silvestres para se alimentar. A seu ver, além de causar desnutrição, doenças e outras anomalias às pessoas, a fome é também susceptível de criar fricções e conflitos entre os grupos étnicos. &

A SAHAM Assurance, SAHAM Insurance e SAHAM Angola Seguros formam uma única marca pan-africana para todas as actividades de seguros do grupo. A SAHAM detém uma rede de 700 filiais de distribuição em África. A SAHAM Finances registou um volume de negócios de mais de um bilião de dólares norte-americanos em 2015, estando a implementar uma estratégia de crescimento, tanto em África, como no Médio Oriente. &

FILDA COM REGRESSO MAIS DINÂMICO A Feira Internacional de Luanda, FILDA, uma das mais importantes do país, está de regresso, com a sua 33ª edição, de 19 a 24 de Julho. O lema escolhido para a feira é significativo: “Dinamismo, criatividade e competência na produção nacional: um pressuposto para a diversificação e industrialização da economia angolana e um desafio para a juventude empreendedora”. A FILDA tem sido uma amostra do potencial económico angolano e das propostas internacionais nas mais variadas áreas, com uma presença de cerca de 1 000 empresas expositoras por edição, numa área superior a 50 mil metros quadrados. &


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| OPINIÃO

MERCADO DE CAPITAIS E CORPORATE GOVERNANCE Todas as economias desenvolvidas têm um mercado de capitais com dimensão e capacidade de actuação que permita o financiamento da economia através de instrumentos financeiros variados, diferentes das fontes de financiamento bancário tradicionais. Não é, assim, de estranhar que Angola ambicione deter um mercado de capitais com estas características e que esteja a desenvolver os necessários esforços para alcançar esse objectivo.

Luís Todo Bom Professor Associado Convidado do ISCTE-IUL (Portugal) Presidente do CA da Multitel e Administrador da Inotec (Angola)

O crescimento e a internacionalização das empresas angolanas dependem muito do funcionamento e da capacidade de actuação desse mercado de capitais e da sua interligação com outras bolsas de países com os quais as empresas angolanas interagem, em particular, com a Bolsa de Lisboa. Um mercado de capitais actuante deve contemplar uma adequada variedade de produtos financeiros que transacciona – acções, obrigações, títulos do tesouro, títulos de fundos de investimento e de fundos de pensões –, além de um número mínimo de empresas cotadas e de liquidez nas respectivas transacções. O desenvolvimento de um mercado de capitais deve ocorrer por fases, iniciando-se com produtos de baixo risco – títulos de participação e obrigações –, evoluindo para o mercado accionista quando a primeira fase estiver consolidada e existir uma massa crítica de empresas com possibilidade de integrarem este mercado. A aceitação de empresas na Bolsa é um processo muito exigente, requerendo que as mesmas preencham um conjunto de obrigações, nomeadamente a existência de relatórios e contas auditadas dos três últimos exercícios e modelos de corporate governance que transmitam confiança aos investidores, compradores e detentores de acções e obrigações. Este último aspecto é particularmente relevante no caso das empresas angolanas, sendo essencial a publicação e o acompanhamento de um código de corporate governance que estabeleça o modelo de funcionamento e de governo das empresas angolanas. Este modelo de corporate governance deverá referir e caracterizar os órgãos de gestão da empresa, a sua interligação e funcionamento, os direitos e

responsabilidades dos gestores, os mecanismos de compliance e risco das respectivas organizações e a relação entre accionistas e órgãos de gestão. Em termos de regras de funcionamento, é essencial caracterizar detalhadamente o modo de organização e de actuação da Assembleia Geral, do Conselho de Administração e do Conselho Fiscal, para que os potenciais investidores possam saber quais os seus direitos e deveres, assim como os risco que eventualmente correm. No âmbito do Conselho de Administração, importa referir, de modo detalhado, a relação entre o Conselho de Administração e a Comissão Executiva, a composição destes dois órgãos, a distribuição entre Administradores Executivos e Não-Executivos e, dentro destes, os Independentes e os Não-Independentes, as formas de votação, as delegações de competência e as comissões especializadas de auditoria, compliance e risco com as respectivas presidências. Nenhum fundo de investimento internacional investe, neste momento, sem uma auditoria completa, não só às contas da empresa, mas também ao seu modelo de governance. Os bons modelos de governance tornaram-se, assim, uma condição necessária para o investimento em empresas cotadas, tanto na aquisição de acções, como de obrigações. Do conhecimento que detenho sobre as grandes empresas angolanas que poderão ambicionar virem a ser cotadas na Bolsa, logo na primeira fase, considero que têm ainda um longo caminho a percorrer no âmbito do seu processo de corporate governance. Quanto mais depressa iniciarem esse percurso de consolidação deste processo, melhor. &


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| MACRO

MERCADO AUTOMÓVEL

NEGÓCIO EM DESACELERAÇÃO Texto: Jacinto Malungo Fotografia: Carlos Aguiar

O ritmo de crescimento do mercado automóvel nacional desacelerou muito, com os números a revelarem uma quebra na importação de viaturas na ordem dos 91% no primeiro trimestre de 2016, quando comparado ao período homólogo de 2015. O sector, que em 2014 já equivalia a cerca de 2% do PIB, está a ressentir-se com as dificuldades em conseguir divisas para continuar a importar. Em decorrência dessa situação, as concessionárias aumentaram os preços dos automóveis em stock, numa altura em que a desvalorização da moeda nacional retira aos clientes a capacidade de compra. Diante deste cenário, algumas concessionárias estão a encontrar no serviço pós-venda a solução para manter o seu negócio.


MACRO | 17

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Entretanto, a situação não era tão crítica como actualmente. De acordo com o Conselho Nacional de Carregadores, no primeiro trimestre de 2016, a queda foi acima dos 91% em relação ao mesmo período de 2015. Ou seja, no primeiro trimestre deste ano apenas entraram 2 059 viaturas no país, contra as 23 615 unidades que foram importadas em igual período do ano passado. A Associação dos Concessionários de Equipamentos de Transportes Rodoviários (ACETRO) prevê para este ano uma quebra nas vendas de 40% em relação ao

ano passado. No entanto, as concessionárias e outros dealers já alteraram os preços em kwanzas das viaturas. Os carros que em Dezembro de 2015 custavam milhão e meio de kwanzas, hoje estão custar o dobro, o que é justificável, segundo o presidente da ACETRO, Nuno Borges, em declarações ao Jornal de Angola, porque “os preços das viaturas acompanham a desvalorização da moeda nacional”. O responsável acrescentou que a falta de divisas, não só impede as concessionárias de honrar os compromissos com os fornecedores, como restringe a reposição dos stocks.

O presidente da ACETRO afirmou ainda que “as empresas que importavam viaturas estão paradas. Com o atraso de pagamento, suspenderam a actividade e as que compravam no mercado interno, com o aumento dos preços, suspenderam as compras”. Numa ronda feita pela E&M, conseguiu-se apurar que existem vendedores que já não importam há um ano, como é o caso da Angolauto, que tem apenas automóveis para exposição porque esgotou o seu stock e já não consegue importar. O stand da Angolauto está inoperante e recebe os clientes Afonso Francisco

Dados do Conselho Nacional de Carregadores (CNC) revelam que, no primeiro trimestre de 2016, o país importou, em média, 23 carros por dia, cifra muito inferior à média diária de 262 automóveis que eram importados diariamente em 2015. O mercado automóvel já se ressentia desde 2015, quando, no cômputo geral, as importações caíram 70% face ao ano anterior, sendo que em 2014, ano em que o sector representava cerca de 2% do PIB nacional, entraram no país 133 876 viaturas contra os 39 026 do ano passado.

Parque da Organizações Chana


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DE ACORDO COM O CONSELHO NACIONAL DE CARREGADORES, NO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2016, A QUEDA FOI ACIMA DOS

91% EM RELAÇÃO AO MESMO PERÍODO DE 2015. OU SEJA, NO PRIMEIRO TRIMESTRE DESTE ANO APENAS ENTRARAM 2 059 VIATURAS, CONTRA AS 23 615 UNIDADES QUE FORAM IMPORTADAS EM IGUAL PERÍODO DO ANO PASSADO.

Gabriel Almeida, Administrador Delegado da Robert Hudson

apenas para manutenção dos veículos ou venda de peças na oficina ao lado. Está em situação parecida a TDA, que concentra uma quota de mercado de 20%, e não importa há mais de um ano. Entretanto, o facto de ser uma multinacional e receber o suporte da TDA Portugal torna a situação actual mais suportável para a firma. Segundo uma fonte da empresa, as importações eram feitas de oito

em oito meses, mas até agora ainda não voltou a importar, o que levou ao fecho dos stands de venda da Mutamba, sendo que as marcas Renault e Nissan agora só se encontram disponíveis em Talatona, onde a firma tem escritórios, outra oficina e mais um stand de vendas. Na Mutamba, fica apenas a oficina da TDA que recebe cerca de 400 carros por mês para reparações. No local, a

E&M apurou ainda que a TDA importava entre dois a três contentores de peças por mês, o que actualmente já não é possível. De acordo com o jornal português Expresso, a TDA e o Grupo Salvador Caetano, que representa a Ford pela Robert Hudson, perderam mais de 160 milhões de kwanzas de receitas em 2015. DIFÍCIL, MAS SUPORTÁVEL Apesar das perdas, o administrador delegado da Robert Hudson, Gabriel Almeida, adianta à E&M que a

sua quota de mercado cersceu. “De Janeiro a Abril, vendemos 423 unidades, o que nos permitiu, em termos de quota de mercado, crescer face a igual período de 2015. Estamos com uma quota próxima dos 11%. No meio de tudo isto, esse é um aspecto positivo”, analisa. Sem adiantar números, Gabriel Almeida revelou que a Robert Hudson continua a importar, porém esclarece que o “processo tem sido muito ponderado e criterioso”, porque a empresa já não importa toda a gama da Ford, que comporta 21 modelos”. “(Agora) seleccionamos os modelos que entendemos serem mais necessários para o mercado e fáceis de vender. No passado, todas as marcas vendiam-se muito, neste momento, vendem-se menos e temos necessidade de importar menos também”, informa. O administrador delegado da Robert Hudson acredita que não vai ficar sem stock porque “há uma gestão de mix e de quantidade no que toca à importação”. O responsável declarou que esta decisão, de só importar aquilo de que o mercado necessita, levou-os a importar mais pick-ups do modelo Ford Ranger, que é o mais vendável no mercado nacional, assim como o Ford Transit, o segundo mais importante para a empresa, bem como o Ecosport. Para a conjuntura económica actual, a Robert Hudson considera que está a ter um bom desempenho. De acordo com o responsável, é a empresa que mais compra automóveis, sobretudo as viaturas que


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respondem às necessidades imediatas. Sobre o serviço pós-venda, o administrador delegado da Robert Hudson salienta que sempre foi estratégico para empresa, porque é o factor mais importante de fidelização de um cliente à marca Ford. “Pretendemos, com os serviços pós-venda, aumentar a probabilidade de o cliente voltar a adquirir Ford, oferecendo uma variada gama de serviços, e criar o conceito de que tudo aquilo de que o cliente precisa para à sua viatura pode encontrar na Robert Hudson”, afirmou Gabriel Almeida, que relevou, entretanto,

que boa parte dos serviços pós-venda são feitos sem grandes recursos à importação, apesar de reconhecer ser mais fácil importar peças do que automóveis. Assim sucede com a montagem do sistema GPS, que é feita em parceria com uma empresa especializada, sendo que o mesmo acontece com as alterações que o cliente queira fazer a um automóvel para fins comerciais. Apesar disso, o responsável não deixa de apelar que se disponibilizem mais divisas para que se mantenha, pelo menos, a frota actual. &


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EMPREGO

ONDA DE DESPEDIMENTOS EM RESPOSTA À CRISE Texto: Edjaíl dos Santos Fotografia: Afonso Francisco

Os tempos de crise normalmente servem para “limpar a casa” nas empresas, reestruturá-las, tornando-as mais leves e, ao mesmo tempo, sólidas, de modo a renderem o máximo possível. É neste cenário difícil que o presidente da Associação Industrial de Angola, José Severino, anunciou que mais de 60 mil trabalhadores foram despedidos em 2015 devido ao aperto financeiro das empresas. Por sua vez, à E&M, o especialista em Direito e Gestão de Petróleo e Gás, Inocêncio das Neves, adianta que o despedimento de funcionários é a primeira reacção das empresas em períodos de crise, particularmente as que actuam no mercado financeiro, que tendem a fazer downsizing, redução de pessoal, por representarem em média entre 30 a 40% dos custos de estrutura.

A onda de despedimentos em massa e de empresas a fechar é uma situação que compromete a estabilidade social que o país vinha verificando ao longo dos últimos 14 anos de paz, afirma o gestor Inocêncio das Neves, para quem, entretanto, “é necessário que se olhe para esta crise com a seriedade que se impõe para que as lições sejam realmente aprendidas”. De acordo com o também docente universitário, o mercado de trabalho em tempo de crise é o “mais vulnerável”, sobretudo quando se trata de uma crise estrutural, como é o caso da que Angola enfrenta, e, particularmente, quando há uma forte dependência na produção e exportação de uma única commodity, no caso, o petróleo. “O despedimento de funcionários é a primeira reacção das empresas em períodos de crise, particularmente as que actuam no mercado financeiro, tais como a banca, os seguros, o mercado de capitais e os valores mobiliários, que tendem a fazer downsizing do seu pessoal por este representar em média entre 30 a 40% dos custos de estrutura”, observa Inocêncio das Neves. Numa recente entrevista à E&M, Luís

EM RELAÇÃO À REDUÇÃO DE PROFISSIONAIS ESTRANGEIROS NO SECTOR BANCÁRIO, LUÍS VERDEJA ADIANTA QUE “HÁ UM ESFORÇO NOTÓRIO” DA PARTE DOS BANCOS EM EMPREGAR MÃO-DE-OBRA NACIONAL, EMBORA HAJA AINDA LUGARES MAIS ESPECÍFICOS OCUPADOS POR ESTRANGEIROS. CONTUDO, DE FORMA GERAL, RECONHECE QUE AS EMPRESAS TÊM CADA VEZ MAIS TRABALHADORES NACIONAIS.

Verdeja, director da Jobartis, empresa especializada no recrutamento de trabalhadores, afirmou que a crise afectou a banca, embora não tanto como os outros

sectores, e os recursos humanos sofreram com a conjuntura económica que o país atravessa. “Este momento é uma fase de reestruturação e consolidação das estruturas depois de um período de crescimento”, observou o responsável, que considerou, no entanto, ser esta uma boa altura para encontrar as pessoas certas. Em relação à redução de profissionais estrangeiros no sector bancário, Luís Verdeja adianta que “há um esforço notório” da parte dos bancos em empregar mão-de-obra nacional, embora haja ainda lugares mais específicos ocupados por estrangeiros. Contudo, de forma geral, reconhece que as empresas têm cada vez mais trabalhadores nacionais. Inocêncio das Neves, especialista em Direito e Gestão de Negócios de Petróleo e Gás, analisa que o impacto da queda do barril de petróleo desde 2014 fica em torno dos 60%, sendo que a este ritmo é inevitável que as empresas continuem a despedir, directa ou indirectamente. “Despedimentos directos, não creio que continuaremos a verificar em grande escala, pois a intervenção dos órgãos sindicais e do próprio Estado veio amenizar os níveis


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Inocêncio das Neves, Gestor

Luís Verdeja, Director da Jobartis

O nosso sistema de educação vigente ainda não dá respostas às necessidades actuais e futuras de Angola para os próximos 20 anos, quer em termos de qualidade, quer em termos de quantidade. Infelizmente, continuaremos a importar mão-de-obra estrangeira em detrimento da nacional”, critica Inocêncio das Neves. de tensão existentes há dois anos. Porém, as firmas poderão criar situações propícias para despedimentos indirectos, mais facilitados pela nova Lei Geral de Trabalho, que é flexível em relação ao que chamam de ‘princípio da mobilidade da mão-de-obra’, sobrecarregando os trabalhadores ao ponto de estes tomarem a iniciativa de rescindir os contratos de trabalho”, sustenta. O gestor afirma que nesta altura as empresas petrolíferas procuram trabalhadores multivalentes e que sejam capazes de dar resposta a tarefas diversificadas, que nos tempos de preços altos do crude costumavam ser distribuídas por mais de duas pessoas dentro da mesma categoria funcional. Segundo

Inocêncio das Neves, a constante busca pela eficiência operacional a que se tem assistido ultimamente é um processo já em curso desde antes da crise actual em várias operadoras neste sector. “Conhecimento amplo do negócio, habilidades comunicacionais e, por último, a mais importante, ser bastante inovador, empreendedor e ter uma certificação ou diploma profissional de uma entidade de alcance internacional, além do diploma académico”, detalha o gestor. Já os bancos, de acordo com Luís Verdeja, procuram jovens com idades que variam entre os 28 e os 32 anos, que tenham uma licenciatura, preferivelmente em gestão, em economia ou numa área específica da banca. Os quadros mais

procurados são, normalmente, pessoas com experiência no sector ou uma pós-graduação em áreas importantes para o ramo. A língua inglesa também costuma ser um requisito, informa, embora não seja uma obrigatoriedade. “No recrutamento de quadros nacionais os bancos lutam por ter pessoas mais especializadas. Antigamente, os profissionais com formação em economia e gestão eram os principais candidatos. Hoje, o sector procura profissionais com formação mais específica como, por exemplo, técnicos de crédito, estatística, marketing bancário, entre outros”, esclarece. No espaço de dez anos, nomeadamente de 2005 a 2014, segundo a Deloitte, a banca nacional aumentou o número de colaboradores de 4 300 para 19 mil pessoas. Porém, a reestruturação pela qual o sector está a passar face à crise também afectou a contratação de recursos humanos. De acordo com a Jobartis, a banca, face ao momento de reestruturação e aos ajustamentos que vive, diminuiu a procura de quadros. “A procura tem diminuído, mas nós, como empresa de recrutamento de quadros, diversificámos a nossa carteira de clientes”, revela Luís Verdeja, que aconselha os bancos a não deixarem de contratar, mas a fazê-lo dentro das suas possibilidades, com olhos no crescimento e em quadros que ajudem a sair deste aperto financeiro. “Lembramos que nas crises aparecem bons quadros. Penso que a banca tem feito um bom trabalho na nacionalização dos seus profissionais, mas devia apostar mais em jovens sem muita experiência, sem vícios e com vontade de aprender, dando-lhes formação interna de acordo com os objectivos do banco”, argumenta. O portal da Jobartis, segundo Luis Verdeja, é visto em todo o mundo e tem recebido candidaturas de profissionais que procuram vagas em sectores como o petrolífero, a banca e as telecomunicações. “Em dois anos a operar no mercado angolano, colocámos no sector bancário cerca de 500 trabalhadores”, sintetiza. Por seu turno, Inocêncio das Neves realça que os candidatos a uma vaga de emprego


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devem sempre adaptar-se ao máximo aos requisitos solicitados, sendo que as informações podem ser encontradas usando um conjunto de ferramentas e plataformas diversificadas. Além dos anúncios nos jornais, deve-se ir vendo regularmente os sites das firmas, das agências de recrutamento e as suas páginas nas redes sociais, com destaque para o Linkedin e Facebook. A importância da capacidade dos empreendedores para contribuir, de forma proactiva, para o crescimento da economia nacional, não pode ser ignorada. Inocêncio das Neves defende que o empreendedorismo não é uma opção, mas sim uma solução. Porém, ressalva, “infelizmente, empreender depende de um conjunto de factores que levam tempo para se consolidarem: o sistema de educação, a cultura de inovação e apetência ao risco calculado, a liberdade de iniciativa privada,

a competitividade, entre outros”, enumera o gestor, para quem estes valores não foram, durante muito tempo, incentivados em Angola. Como consequência, aponta: “Hoje temos uma juventude que aprendeu a esperar do Estado. Compreende-se que existiram razões para tal, mas não se compreende que se continue na mesma senda. O Estado hoje vê-se sobrecarregado em termos de despesas, quando na verdade não tem recursos financeiros para tal. É mau manter despesas por muito tempo recorrendo a dinheiro emprestado. É insustentável”, replica o especialista. Já em relação às oportunidades no ramo da educação, um estudo intitulado “As transições do mercado de trabalho africano para os jovens na África Subsaariana”, feito pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), refere que a educação lidera a lista dos principais condutores de criação de emprego jovem nos próximos

cinco anos, até 2020, e é vista também como o sector que mais irá criar empregos para os jovens e para a maior parte dos empreendedores no período em referência. Em Angola, só no ensino público, a educação emprega 203 877 funcionários, num total de 375 889 trabalhadores que compõem a folha salarial do Estado. O docente universitário subscreve em absoluto o estudo da OIT, adiantando que, se nos perguntarmos qual tem sido o segredo das nações bem-sucedidas económica e socialmente, a primeira resposta será sempre a educação. “O nosso sistema de educação vigente ainda não dá respostas às necessidades actuais e futuras de Angola para os próximos 20 anos, quer em termos de qualidade, quer em termos de quantidade. Infelizmente, continuaremos a importar mão-de-obra estrangeira em detrimento da nacional”, critica Inocêncio das Neves. &



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IMOBILIÁRIO

TRADIÇÃO E MODERNIDADE NO CENTRO DE LUANDA Texto: Sebastião Vemba Fotografia: Carlos Aguiar e Cedidas

As chapas que cercam a antiga Praça do Kinaxixi – e que sinalizam a existência de obras de construção civil – não escondem a imponência de um dos maiores projectos imobiliários que se erguem numa das zonas mais centrais e emblemáticas de Luanda. Trata-se do Kinaxixi Center, um empreendimento que junta requinte, modernidade, tradição e cultura. Ao mesmo tempo que nascem torres luxuosas que oferecem a melhor vista de uma Luanda cosmopolita, ressurgem a tradicional Praça do Kinaxixi, que será devolvida aos moradores com espaços verdes e de lazer, preparada também para eventos culturais, e a estátua da Rainha Ginga, que recupera o seu lugar, mas mais sublime e “majestosa”, conforme definiu o administrador do projecto, Mário Lourenço.

Até ao segundo semestre de 2017, o Shopping Kinaxixi poderá abrir as portas ao público, avança Mário Lourenço, que aponta este horizonte temporal devido às condições actuais da economia angolana, que determinaram a fixação desta data, uma vez que existem variáveis que fogem ao controlo dos gestores. Mais do que um projecto emblemático, o gestor afirma que o Kinaxixi Center trará uma nova dinâmica, não só ao espaço que anteriormente

pertencia ao mercado, mas também à cidade de Luanda de forma mais abrangente. O responsável, que lembra que as cidades são desafiadas a evoluir para oferecer o melhor de si aos seus moradores, afirma que Luanda tem vindo a acompanhar a evolução das principais cidades do mundo e da África Austral em particular, sendo que projectos como o Kinaxixi Center vêm contribuir para oferecer à capital angolana a mobilidade urbana que exigem as grandes metrópoles.

Questionado sobre se a abertura do empreendimento poderá provocar uma nova centralização da vida económica e social de Luanda, contrariando a tendência actual de descentralização dos serviços, o responsável retorquiu que este processo não depende apenas do Empreendimento Kinaxixi, mas o projecto, entretanto, virá dar uma nova vida económica e cultural à cidade, particularmente na zona circunvizinha.


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O RESPONSÁVEL, QUE LEMBRA QUE AS CIDADES SÃO DESAFIADAS A EVOLUIR PARA OFERECER O MELHOR DE SI AOS SEUS MORADORES, AFIRMA QUE LUANDA TEM VINDO A ACOMPANHAR A EVOLUÇÃO DAS PRINCIPAIS CIDADES DO MUNDO E DA ÁFRICA AUSTRAL EM PARTICULAR, SENDO QUE PROJECTOS COMO O KINAXIXI CENTER VÊM CONTRIBUIR PARA OFERECER À CAPITAL ANGOLANA A MOBILIDADE URBANA QUE EXIGEM AS GRANDES METRÓPOLES.


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CRONOLOGIA DA OBRA 2007 – Apresentação da ideia do projecto ao Gabinete Internacional de Arquitectos Space Group; 2008 – Começo da demolição do mercado do Kinaxixi e intervenções nas infra-estruturas circundantes, bem como o desvio do tráfego (provisório até à conclusão da obra); 2009 – Início dos trabalhos de limpeza, remoção de entulho, retirada das árvores e do equipamento urbano da praça. Estátua da Rainha Ginga é retirada e colocada no Museu da Fortaleza de São Miguel de Luanda, onde aguarda o seu regresso à futura Praça do Kinaxixi, devidamente requalificada. Nesse ano, ainda foram realizadas várias obras de reforço das infra-estruturas; 2010 – Escavações e contenções periféricas que permitiram a construção de cinco pisos enterrados, com áreas técnicas e parque de estacionamento com seis acessos; 2011 – Início das fundações e construção da superestrutura. O projecto transita para um outro escritório: SAMOO Architects and Engineers (Divisão de Projectos do Grupo SAMSUNG) e ATKINS: Depois desta mudança, e tendo em conta uma nova análise efectuada ao mercado, constatou-se que Luanda apresentava uma procura superior à oferta de espaços comerciais e de escritórios em planeamento, o que levou o projecto Kinaxixi a assumir um alargamento em dimensão; 2012 – Desde então, o empreendimento encontra-se em construção; 2014/2015 – Conclusão das estruturas da torre residencial e da primeira torre de escritórios, dando-se início à fase de acabamentos e de tosco, que continua em execução; 2015 – Início dos trabalhos da Torre C.

Fonte: Kinaxixi Empreendimentos Imobiliários

Mário Lourenço, Administrador do Kinaxixi Empreendimento

“NÃO PARÁMOS, PORQUE ANGOLA NÃO PAROU” Surgida um ano antes da crise económica e financeira internacional, cujo impacto não se sentiu de forma contundente na economia angolana, o projecto Kinaxixi Center foi apresentado ao Gabinete Internacional de Arquitectos Space Group em 2007, mas só em 2008 se realizou a demolição do mercado do Kinaxixi, ao mesmo tempo que começaram as intervenções nas infra-estruturas circundantes e o desvio do tráfego, cujo curso

normal será retomado após a conclusão da obra. Mário Lourenço esclarece que, apesar das oscilações que a economia mundial e angolana registaram ao longo dos últimos nove anos, o projecto não parou porque foi pensado para singrar. “Nós começámos o Empreendimento Kinaxixi para o levarmos a cabo. Leva algum tempo, mas temos que levar em consideração a dimensão do projecto em si, sendo que investimos muito tempo na parte da projecção, na análise do impacto


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CRIATIVIDADE PARA RENTABILIZAR OS RECURSOS À frente do Kinaxixi Empreendimentos Imobiliários há dois anos, Mário Lourenço é um gestor angolano disposto a encarar grandes desafios. “Fazer a gestão de recursos para um projecto como o Kinaxixi é uma satisfação enorme”, disse, justificando que este sentimento resulta do impacto económico e social do projecto. A propósito do clima económico actual que Angola vive, Mário Lourenço, formado em Gestão e Administração de Empresas, defende criatividade para a rentabilização dos recursos disponíveis. “Às vezes, podemos tirar valor dos poucos recursos de que dispomos se soubermos usá-los com criatividade”, defendeu.

praça, de resto, será dotada de anfiteatro ao ar livre, de casas de banho públicas, com áreas de sombra e mobiliário urbano, de acordo com informação técnica sobre o projecto.

ambiental, económico e social do empreendimento na zona em que está localizado, e hoje já vamos a mais de metade da conclusão da obra. Ou seja, estamos a entrar na fase de acabamentos”, esclareceu, acrescentando que “desde 2008, as condições económicas alteraram-se e que hoje se vive num clima completamente diferente”. “Mas ainda assim não parámos porque Angola também não parou”. Com um fundo global de 1 040 milhões de dólares, de acordo com o responsável, o projecto continua dentro dos limites orçamentais e o desafio é fazer a entrega da obra sem investimentos adicionais. O Kinaxixi Center está a

ser construído num espaço total de 320 000 m2, dividido em estacionamento, torre residencial (o Kinaxixi Residence), duas torres de escritórios (Kinaxixi Business) e o Shopping Kinaxixi, a primeira área a ser concluída e que trará dentro de si a Praça do Kinaxixi, com o conceito de mercado tradicional, com pequenas tendas, onde haverá comércio rotativo, num lógica de feiras temáticas. Os gestores afirmam que este será um mercado mais moderno e qualificado, mas garantem que respeitará as “antigas culturas”, sendo que a praça “será devolvida na sua totalidade aos moradores, como espaço verde e de lazer”. A

MAIS DE 400 POSTOS DE TRABALHOS DIRECTOS O projecto emprega actualmente uma média de 400 trabalhadores diariamente, dos quais 90% são nacionais, mas prevê-se que este número ascenda para os 1 200 técnicos na fase de acabamentos. “Trata-se apenas da força de trabalho directa, mas não nos podemos esquecer do efeito multiplicador da obra”, referiu Mário Lourenço, tendo informado que se perspectiva que cerca de cinco mil usuários, entre moradores, clientes e funcionários das empresas, beneficiem do projecto diariamente. Promovida pelo Kinaxixi Empreendimentos, um grupo detido por empresários

angolanos de várias áreas de negócio, a obra foi adjudicada a várias empresas do sector da construção e infra-estruturas, sendo a Somague a empreiteira geral. Entretanto, intervêm também parceiros como KIM Real State, Sigma Group, Burohappold, Samoo e Atkins, esta última empresa inglesa com referência mundial na prestação de serviços de consultoria, design e gestão de projectos. Relativamente à possível existência de um lençol de água no local da obra, que terá provocado um atrasado na empreitada, Mário Lourenço informou que, na fase das escavações para a construção das torres, constatou-se que o nível da água nessa zona era igual ao do mar, mas isso não representou qualquer obstáculo para os empreiteiros. “Ou seja, não encontrámos nenhum lençol de água, sendo que o trabalho de escavação foi desenvolvido sem qualquer problema de inundação”, assegurou. &


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INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

UM REFLEXO DA FRACA APOSTA NA SAÚDE PÚBLICA Sebastião Vemba

A epidemia de febre-amarela que assolou a capital do país destapou as debilidades da saúde pública em Angola, cujo estado actual é reflexo da fraca aposta governamental no sector. Dependentes das importações de fármacos a 100%, as unidades hospitalares públicas registaram uma ruptura no stock de medicamentos, cuja quantidade importada foi reduzida em função da carência de cambiais que o mercado registou. Essa situação deverá manter-se nos próximos anos – embora a importação de fármacos constitua uma das prioridades – considerando que não existe produção interna para contrabalançar a carência de importações, além de que, de acordo com informação a que a Economia & Mercado teve acesso, o método de distribuição dos medicamentos pelos postos de abastecimento provinciais e municipais é propenso a desvios, o que poderá ser uma das causas da ruptura registada, considerando que o mercado informal continua abastecido.

A ausência de uma indústria farmacêutica no país é reflexo dos investimentos que o sector da saúde tem registado ao longo dos últimos anos, apesar de a baixa qualidade de vida e o índice de doenças justificarem uma aposta, não só em infra-estruturas hospitalares, mas também de produção de fármacos, argumentou uma fonte do sector industrial contactada pela Economia & Mercado. Este argumento está em linha com as conclusões do XI Congresso Mundial dos Farmacêuticos de Língua Portuguesa, realizado em Março de 2015, que defende “uma maior intervenção dos governos na definição de políticas e investimento, público e privado, na produção local de medicamentos e de produtos de saúde nos respectivos países, como forma de contribuir para a melhoria do

acesso ao medicamento, na promoção do conhecimento e competências farmacêuticas, no emprego qualificado e na transferência de tecnologia”. Em Angola, já existem intenções de investimento no sector farmacêutico, de acordo com o chefe do Departamento da Direcção Nacional de Medicamentos, Pombal Mayembe, mas ainda sem data de implementação, sendo que, até ao momento, a única actividade que se conhece é a da Nova Angomédica, que hoje só se dedica ao empacotamento. Entretanto, em 2013, aquando da sua inauguração pelo então ministro da Saúde José Van-Dúnem, informou-se que a fábrica regressava à produção, distribuição e comercialização de produtos farmacêuticos para o mercado nacional e internacional, reduzindo as importações.

Na altura, soube-se que a Nova Angomédica, que resultou de uma iniciativa do grupo empresarial Suninvest em parceria com o Ministério da Saúde e investidores externos, com o objectivo de responder às exigências do Governo na melhoria da assistência médica às populações, produziria 20 milhões de comprimidos por mês e, em 2017, começaria a produzir medicamentos contra a SIDA. Em Maio, através de um decreto conjunto dos ministérios da Economia e da Saúde, o Governo angolano aprovou a privatização da empresa por ajuste directo ao grupo Suninvest, alegando a necessidade de expandir a participação do sector privado no sector da Saúde Pública no país. Projectada para três fases, a primeira


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DADOS DO SECTOR FARMACÊUTICO ABRIL DE 2016 PREDOMINÂNCIA: PROVÍNCIA DE LUANDA IMPORTADORES / DISTRIBUIDORES DE MEDICAMENTOS (DEPÓSITOS)

FARMÁCIAS DE OFICINA (COMUNITÁRIAS)

198

1 268

FARMÁCIAS HOSPITALARES PÚBLICAS

ARMAZÉNS CENTRAIS PÚBLICOS

198

2

ARMAZÉNS REGIONAIS PÚBLICOS

ARMAZÉNS PROVINCIAIS PÚBLICOS

3

25

UNIDADES DE PRODUÇÃO DE MEDICAMENTOS EM REACTIVAÇÃO

2 ESCOLAS DE FORMAÇÃO SUPERIOR DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS (1 PÚBLICA: ISCISA/UAN)

5 FARMACÊUTICOS

509

TÉCNICOS (MÉDIOS)

631

PROJECTOS DE PRODUÇÃO DE MEDICAMENTOS EM IMPLANTAÇÃO

4 ESCOLAS DE FORMAÇÃO DE TÉCNICOS DE SAÚDE

13 AUXILIARES (BÁSICOS)

597

PARA JÁ, FACTORES COMO A CRESCENTE URBANIZAÇÃO REGISTADA EM ÁFRICA, A MELHORIA DO AMBIENTE DE NEGÓCIO INTERNO, ASSIM COMO O DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS EFICIENTES DE SAÚDE PÚBLICA, SÃO APONTADOS COMO OS PRINCIPAIS MOTORES DE CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA NO CONTINENTE AFRICANO.


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ATÉ ANTES DA CRISE CAMBIAL, QUE CAUSOU FORTES LIMITAÇÕES NA IMPORTAÇÃO DE MEDICAMENTOS NO PAÍS, O GOVERNO ANGOLANO GASTAVA CERCA DE

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MILHÕES DE DÓLARES NA COMPRA DE FÁRMACOS NO MERCADO INTERNACIONAL.

contemplou uma unidade fabril em Luanda com um investimento de 17 milhões de dólares. A segunda fase arrancaria com a produção de soros e a terceira com a construção do Pólo Industrial Farmacêutico de Benguela, mas desconhece-se a evolução do projecto nas duas últimas etapas. Até antes da crise cambial, que causou fortes limitações na importação de medicamentos no país, o Governo angolano gastava cerca de 80 milhões de dólares na compra de fármacos no mercado internacional. PREVENIR EM VEZ DE REMEDIAR A Associação dos Farmacêuticos dos Países de Língua Portuguesa defende que o sector evolua para um conceito de “Centro de Prevenção e Terapêutica”, através do desenvolvimento de serviços de apoio aos doentes, além da dispensa de medicamentos e outros produtos de

saúde. O órgão, que aposta no reforço da cooperação institucional entre os estados da lusofonia com o objectivo de melhorar os mecanismos de circulação dos medicamentos e produtos de saúde dentro dessa comunidade linguística, desafia os governos a promover uma regulação mais forte, harmonizada, mais eficiente e mais igualitária. De acordo com um estudo internacional da Deloitte, sobre as principais tendências da indústria farmacêutica de 2015, espera-se que os governos, assim como outros stakeholders, desenvolvam acções para envolver os consumidores em programas de prevenção de doenças e bem-estar. Já o empresário industrial contactado pela Economia & Mercado é da opinião de que o investimento numa indústria farmacêutica não deve estar dissociado da melhoria das condições

de saneamento básico, o que, por si só, representa um contenção de custos no tratamento e combate das grandes endemias provocadas pela ausência de condições sanitárias saudáveis. GASTOS COM A SAÚDE EM ASCENSÃO A revista The Economist Intelligence Unit prevê que o gasto global dos países com cuidados de saúde cresça a uma média de 5,2% até 2018, ao ritmo da recuperação das economias, mas também estima que, até ao mesmo ano, o peso do sector no PIB registe um ligeiro declínio, comparativamente a 2013, passando de 10,6 para 10,3%. Em termos regionais, o órgão prevê que, de 2014 a 2018, as despesas com cuidados de saúde na América do Norte aumentem a uma média de 4,9% entre


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2014 e 2018, sendo o crescimento impulsionado, em parte, pelo acesso do consumidor aos cuidados de saúde através do programa Affordable Care Act (ACA). Já na Europa Ocidental, o crescimento deverá manter-se lento, em 2,4% ao ano, atendendo à lenta recuperação de alguns países desta região da crise que enfrentaram nos últimos anos. A América Latina, por sua vez, deverá registar um aumento dos gastos com cuidados de saúde a uma média de 4,6% por ano até 2018, atendendo que vários governos dessa região estão apostados na melhoria dos sistemas de saúde pública. A mesma tendência de crescimento também deverá ser verificada na Ásia e na Austrália, com a implantação de programas de saúde pública combinados com a crescente riqueza dos consumidores, mas a uma média maior,

20160610_GLOBAL_SEGUROAUTOMOVEL_AF_EM_meia.pdf

de 8,1%, embora o ritmo de crescimento mais rápido seja esperado no Médio Oriente e em África, 8,7% anualmente, devido, em parte, ao crescimento da população e aos esforços para expandir o acesso aos cuidados de saúde.

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OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA ÁFRICA Até 2020, a indústria farmacêutica em África estará avaliada em 40 a 60 mil milhões de dólares, aponta um estudo assinado por Tania Holt, Mehdi Lahrichi e Jorge Santos da Silva, da MacKinsey’s. De acordo com o documento, África pode ser o único mercado farmacêutico onde ainda é possível alcançar-se um crescimento acentuado, sendo que, em 2013, o sector passou a valer pouco mais de 20 mil milhões de dólares contra os 4,7 de uma década antes. Os pesquisadores 6/10/16

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consideram ser esta uma boa notícia para as indústrias farmacêuticas, na medida em que as multinacionais procuram novas fontes de crescimento, em resposta à estagnação registada nos mercados desenvolvidos. No entanto, o estudo indica que a aposta no continente africano exige um conhecimento dos principais desafios que os investidores poderão enfrentar, como o trabalho em colaboração com os sistemas de saúde para ultrapassar o actual ambiente que África ainda vive. Para já, factores como a crescente urbanização registada em África, a melhoria do ambiente de negócio interno, assim como o desenvolvimento de sistemas eficientes de saúde pública, são apontados como os principais motores de crescimento da indústria farmacêutica no continente africano. &


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INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

PARCERIAS INTERNACIONAIS PODEM SER UMA SAÍDA

Texto: Quingila Hebo Fotografia: Vasco Célio

Angola não conta com nenhuma indústria que se dedique à produção de fármacos para fazer face à elevada necessidade de medicamentos nos hospitais nacionais, principalmente os utilizados para o tratamento da malária e da febre-amarela — que são as doenças mais endémicas do país — e cuja importação exerce uma forte pressão sobre os cambiais. Entretanto, diante da pouca disponibilidade de divisas, os técnicos ligados à venda de medicamentos apontam a produção interna como a solução para se garantir maior resposta às necessidades. Os especialistas entendem que as parcerias internacionais podem ajudar a trilhar o caminho certo para que possamos desenvolver uma indústria farmacêutica interna de qualidade e capaz de garantir o abastecimento do mercado no médio prazo.


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Filipa Abreu, Directora-Geral do Grupo Farmácias de Angola

O director-geral do grupo Moniz Silva, que responde pelo mesmo nome, indica que existem muitos parceiros internacionais que ajudariam Angola a desenvolver a sua indústria farmacêutica. De acordo com Moniz Silva, o modelo mais exequível seria o das parcerias público-privadas, ou, em alternativa, a concessão, por parte do Estado angolano, de medidas proteccionistas de compra de produtos fabricados em Angola e com benefícios fiscais a quem apostar na produção interna. “Penso que os parceiros certos seriam europeus, com know-how na construção de fábricas e na produção de medicamentos.

Mas só faria sentido se fossem empresários angolanos a criar a parceria público-privada, grupos sólidos que pudessem integrar verticalmente o ciclo de produção. Assim, dinamizaríamos a indústria nacional num segmento de alta tecnologia e com possibilidade de exportação para outros mercados de África. Os grupos internacionais serviriam como prestadores de serviços e consultores da execução do mesmo”, analisa Moniz Silva. Já Filipa Abreu, directora-geral do grupo Farmácias de Angola, entende que a indústria farmacêutica é um mercado complexo, cheio de normas, validações e regras que exigem,

não só capital, mas também um conhecimento muito profundo de produção. “Para, a curto prazo, produzirmos os fármacos mais vendidos, como os antibióticos, os antiparasitários e os analgésicos, no mercado nacional, primeiro o país tem de criar um ambiente propício ao investimento para atrair parceiros internacionais. As grandes marcas são bastante rigorosas nos procedimentos e, sem mão-de-obra especializada, entre outros recursos difíceis de encontrar neste momento em Angola, será quase impossível alcançarmos esse objectivo nos próximos tempos, porque a lei do sector farmacêutico também

ainda apresenta algumas lacunas”, analisa Filipa Abreu. Para a responsável, depois de criadas as condições, os parceiros internacionais devem ser, no seu entender, os grandes laboratórios, ou mesmo empresas na área dos genéricos. “Teriam de ser encontrados recursos e incentivos para um ambiente de negócio favorável nesta área”, insiste. NEGÓCIO APANHOU UMA PEQUENA “FEBRE” A conjuntura económica actual não está a poupar sectores cruciais como o da saúde e do bem-estar que, aliás, é onde se notam as consequências mais visíveis da crise. Filipa Abreu,


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“PARA, A CURTO PRAZO, PRODUZIRMOS OS FÁRMACOS MAIS VENDIDOS, COMO OS ANTIBIÓTICOS, OS ANTIPARASITÁRIOS E OS ANALGÉSICOS, NO MERCADO NACIONAL, PRIMEIRO O PAÍS TEM QUE CRIAR UM AMBIENTE PROPÍCIO AO INVESTIMENTO PARA ATRAIR PARCEIROS INTERNACIONAIS”, ANALISA FILIPA ABREU. embora esteja certa de que as Farmácias de Angola pertençam a um grupo consolidado e preparado para responder aos desafios económicos do país, reconhece que, como o sector depende de alguns fornecedores nacionais que importam de outros países, com a escassez de divisas e consequentemente de produtos, existem rupturas constantes do stock de medicamentos. “É uma situação que transporta irregularidades de abastecimento. São desafios diários e que nos obrigam a uma adaptação para os conseguir ultrapassar. Estamos certos de que é uma fase transitória. Juntos, Governo e privados, saberemos encontrar boas soluções para um futuro melhor”, augura a responsável. Por sua vez, Moniz Silva

também avança que, apesar de a empresa ter uma situação financeira e económica sólida, atravessa um momento de crise, tal como todo o tecido empresarial angolano. “A dificuldade de pagamento no estrangeiro, com a cativação do valor em factura no momento do pedido de pagamento e a libertação do mesmo alguns meses depois a uma taxa de câmbio totalmente desfavorável, prejudica, claramente, os nossos interesses e dos cidadãos, já que, afinal, são eles que pagam este risco acrescido de negócio no preço final dos medicamentos”, calcula Moniz Silva. O responsável avança que, à conta desta situação, a imagem de Angola no mercado internacional tem vindo a sofrer, o que prejudica a relação de

confiança com os parceiros internacionais, aumentando substancialmente o risco de default. Por outro lado, continua, verificou-se uma contracção da procura e do consumo de produtos não essenciais como os ligados à dermo-cosmética. Apesar destes constrangimentos, Moniz Silva assegura que o seu grupo já estava preparado para este momento e conseguiu, inclusive, aumentar as vendas no ano passado, bem como o resultado líquido, visto ser um grupo sólido, com parceiros internacionais de longa data que confiam na empresa, ter processos bem definidos a nível interno, recursos humanos angolanos bem qualificados e estar assente, sobretudo, numa estrutura accionista de cariz

familiar que permite decisões rápidas e eficientes. “Acredito que muitos operadores estejam a sair do mercado porque não tinham o nosso perfil. Isso vai criar um mercado de oportunidades, o que penso que já esteja a acontecer. Também acredito que o Estado angolano possa ajudar através de mecanismos financeiros internacionais que permitam aos grupos sólidos poderem continuar a sua operação regularmente e proporcionar aos cidadãos os medicamentos de que tanto precisam com qualidade, baixo preço e de forma regular”, conclui Moniz Silva, cujo grupo conta com 12 farmácias espalhadas entre Luanda e Huambo. De acordo com o seu director-geral, os fármacos mais vendidos são os oriundos de empresas europeias e americanas. “Queremos, acima de tudo, continuar a disponibilizar produtos de qualidade, e preferencialmente soluções tecnológicas de saúde inovadoras, a um preço acessível. As classes terapêuticas que mais comercializamos são as ligadas ao segmento das grandes epidemias (como a malária), da pediatria, antibioterapia, dor e analgesia, bem como o segmento da dermo-cosmética e perfumaria”, revela o responsável. Por seu turno, o Grupo Farmácias de Angola é detentor da maior farmácia do país, situada no empreendimento Gika, Alvalade. Avaliado em 100 milhões de kwanzas, o estabelecimento abarca toda a variedade de fármacos. As Farmácias de Angola foram pioneiras na inserção dos testes rápidos de paludismo, dengue, febre tifóide, HIV e Hepatite C. &


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INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

PREÇOS DOS MEDICAMENTOS SUBIRAM QUASE 150% Edjaíl dos Santos e Quingila Hebo

O ex-ministro da Saúde, José Van-Dúnem, em declarações à imprensa, reconheceu várias vezes que os preços dos medicamentos praticados no país são os mais altos da África Austral, sendo necessário saber as causas e tomar medidas. Porém, com a falta de uma indústria interna e com as dificuldades de importação, a situação prevalece e tende a piorar. Numa pesquisa realizada pela E&M, constata-se que os preços dos fármacos têm vindo a subir cada vez mais, tendo atingido um agravamento de 147% comparativamente aos praticados no ano passado. A Associação Angolana dos Direitos dos Consumidores pede maior actuação das autoridades reguladoras, que, segundo adianta o seu vice-presidente, está a fiscalizar os vendedores de forma tímida e prudencial, quando podia ter uma acção mais comportamental.

A ruptura do stock nacional de medicamentos tem provocado um aumento elevado dos preços dos fármacos, principalmente nas farmácias mais próximas das unidades hospitalares, que recebem constantemente receitas médicas dos hospitais públicos e privados. Como resultado, por exemplo, a caixa de 10 xaropes de Paracetamol infantil, que no ano passado era vendida a 700 kwanzas, actualmente custa sete mil kwanzas. A caixa de Quarten que custava quatro mil kwanzas agora custa 45 mil. Já a de Quinino, que era vendida a três mil kwanzas, agora custa o triplo, isto é, nove mil kwanzas. Só no mês de Maio, de

SÓ NO MÊS DE MAIO, DE ACORDO COM O INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA, OS PREÇOS DOS BENS E SERVIÇOS LIGADOS AO SECTOR DA SAÚDE REGISTARAM UM ACRÉSCIMO DE

3,33%. QUANDO COMPARADA AO MESMO PERÍODO DO ANO ANTERIOR, A SUBIDA GENERALIZADA DE PREÇOS ATINGIU OS 20,37 PONTOS PERCENTUAIS, FIGURANDO NA LISTA DAS SUBIDAS MAIS ALTAS REGISTADAS NO SECTOR.

acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), os preços dos bens e serviços ligados ao sector da saúde registaram um acréscimo de 3,33%. De acordo com o INE, de uma forma geral, quando comparada ao mesmo período do ano anterior, a subida generalizada de preços atingiu os 20,37 pontos percentuais, figurando na lista das subidas mais altas registadas da taxa de inflação. A Associação Angolana dos Direitos do Consumidor (AADIC) revela que tem recebido várias reclamações em relação aos preços dos medicamentos, uma situação que, segundo a organização, agudiza-se por estarmos numa economia de mercado, uma


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Vasco Célio

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vez que a actividade comercial cai em tentação de estipular preços irreais para os produtos e serviços. “A nível da farmacologia, a maior parte dos produtos são importados, entretanto, a importação dos medicamentos é apontada como o factor do encarecimento dos fármacos”, adianta o vice-presidente da AADIC, Lourenço Texe. Texe adianta que a AADIC não pode fazer muito mais do que tem feito, por isso encaminha as reclamações dos consumidores à Inspecção

Geral da Saúde para que este órgão, afecto ao Ministério da Saúde, fiscalize os comerciantes e regule as actividades dos revendedores. Contudo, a inspecção tem um cronograma de trabalho que não é constante. “Nós não sancionamos, cabe-nos apenas informar as instituições de que existem mecanismos sancionatórios. Achamos que a inspecção deve actuar de maneira comportamental e não prudencial, como é hábito. O trabalho deve ser feito

diariamente, principalmente nas instituições de saúde, uma vez que as clínicas privadas são responsáveis por grande parte das reclamações que recebemos”, avança o vice-presidente da AADIC. A Associação Angolana dos Direitos do Consumidor confidencia que recentemente fez também chegar à Inspecção Geral da Saúde e ao Instituto Nacional de Defesa do Consumidor uma denúncia formal dando conta de que algumas farmácias de clínicas privadas receitam

medicamentos contrafeitos e com rotulagem em língua estrangeira, mas não obtiveram nenhuma resposta. Lourenço Texe aclara que a lei define que os preços dos serviços e produtos essenciais, como é o caso da saúde, devem ser vigiados, sendo que os preços controlados, segundo explica, não podem ser alterados pelos agentes comerciais sem uma coordenação entre as autoridades e outras entidades envolvidas, como o Ministério da Saúde e das Finanças, que


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PREÇOS DE ALGUNS FÁRMACOS ESTABELECIMENTO POR MUNICÍPIO FAROEL / VIANA

PREÇO

QUANTIDADE

FÁRMACO

ACTUAL

ANTERIOR

Ampicilina

Caixa de 10 Lâminas

2 800,00 Kzs

300,00 Kzs

Caixa de 10 Frascos

7 000,00 Kzs

700,00 Kzs

Paracetamol

Caixa de 25 Lâminas

2 500,00 Kzs

1 000,00 Kzs

MÉDIA FARMA / K. KIAXI

Bromexina

Caixa de 10 Frascos

7 000,00 Kzs

700,00 Kzs

LUA / K. KIAXI

Quinino

Caixa de 100 Frascos

9 000,00 Kzs

3 000,00 Kzs

SHANILA / CACUACO

Artimeter

60 Ampolas

15 000,00 Kzs

3 000,00 Kzs

ALISON / CACUACO

Quarten

Caixa de 25 Lâminas

45 000,00 Kzs

4 000,00 Kzs

MT / CACUACO

Confrix / Xarope

Caixa de 12 Frascos

8 400,00 Kzs

1 800,00 Kzs

KUABA / CACUACO

Bisolvon / Xarope

Unidade

4 000,00 Kzs

800,00 Kzs

Carlos Aguiar

Paracetamol / Xarope Infantil

PRINE FARMA / K. KIAXI

Lourenço Texe, Vice-Presidente da AADIC

regulam o sector através de diplomas. “Quem importa e comercializa medicamentos justifica o aumento dos preços com a falta de divisas para a importação de fármacos, sendo certo que o país não tem ainda uma indústria farmacêutica que forneça o produto às farmácias, uma situação que também abre portas para a comercialização de bens contrafeitos ou sem a qualidade recomendada”, alerta o vice-presidente da AADIC. DEPENDE DA COMISSÃO REGULADORA O chefe de departamento da Direcção Nacional de Medicamentos e Equipamentos, Pombal Mayembe, esclarece que a fiscalização dos preços cabe à Inspecção Geral da Saúde, que conta com um departamento para a inspecção farmacêutica. “Este

departamento é que zela pelo cumprimento das normas elaboradas pela Direcção Nacional de Medicamentos e Equipamentos”, responde. Segundo o responsável, a problemática dos preços é uma matéria sobre a qual ainda se deve trabalhar muito, porque é necessário criar uma comissão para poder regular os preços dos medicamentos, um projecto que a E&M apurou estar na forja desde 2010, mas sem resultados aparentes. Pombal Mayembe justifica ainda que, de momento, cada entidade que vende medicamentos pratica o seu preço com base na margem de lucros definida pelo Ministério do Comércio, reafirmando apenas que, segundo o estabelecido nos diplomas, é tarefa da Direcção Nacional de Medicamentos e Equipamentos regular os preços de venda dos fármacos. &



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ENTREVISTA COM POMBAL MAYEMBE, CHEFE DE DEPARTAMENTO DA DNME

“A FALHA ESTÁ NAS QUANTIDADES QUE ESTAMOS A IMPORTAR” Texto: Quingila Hebo Fotografia: Carlos Aguiar

O anúncio da ruptura no stock de medicamentos dos hospitais públicos provocou o pânico no país, tudo porque todos os fármacos e equipamentos hospitalares são importados e, com a crise cambial, tornou-se difícil abastecer os depósitos com as mesmas quantidades e regularidade habituais. Entretanto, embora ainda não haja acções concretas, entre outros projectos, o chefe de departamento da Direcção Nacional de Medicamentos e Equipamentos, Pombal Mayembe, avança que estão em curso quatro iniciativas industriais ligadas à produção de fármacos, porém a sua implementação ainda não tem data definida.

Economia & Mercado (E&M) - Qual é a quantidade de medicamentos que importamos anualmente? Pombal Mayembe (PM) - Não sei dizer a quantidade exacta, mas em termos orçamentais, quando havia disponibilidade de divisas, o país gastava mais de 80 milhões de dólares por ano para a importação de medicamentos. Actualmente, com a pouca disponibilidade de divisas, houve também uma redução das importações, sendo que também não consigo precisar quanto é que o país gasta actualmente. E&M - E quais são os medicamentos mais importados? PM - Os mais importados são aqueles que servem para o combate de doenças mais ocorrentes na nossa região, como o paludismo, o HIV SIDA, a tuberculose, a lepra, os medicamentos utilizados na saúde reprodutiva e sexual e, de uma forma geral, os antibióticos. E&M - Destes medicamentos, quais é que teríamos condições de produzir se tivéssemos que apostar numa indústria farmacêutica nacional? PM - Estaríamos em condições de produzir os essenciais, mas é preciso que definamos a gama de produção, priorizando, por exemplo, os de combate

à malária e os soros. Os soros, por exemplo, são composições de água com açúcar que, misturados, resultam em dextrose ou glicose a 5%, e que misturados com sal dão cloreto de sódio a 0,9%. Em vez de estarmos a importar essa água, podíamos muito bem produzir internamente, até porque já temos experiência. A Angomédica já produziu cerca de 50 tipos de medicamentos. E&M - Mas continua a produzir? PM - Deixou de produzir em 2014, por razões que não interessa frisar, mas pretende retomar a produção de modo faseado. E&M - Além da Angomédica, que foi privatizada recentemente, existem outros projectos nacionais que estejam orientados para a produção de fármacos no país? PM - Sim, há dois projectos do Ministério da Saúde e dois de entidades privadas para a implantação de fábricas de medicamentos no país. Dos projectos privados, um é angolano e o outro é estrangeiro. E&M - Prevêem produzir que tipo de fármacos? PM - Segundo a informação que temos, um dos projectos vai fabricar material hospitalar gastável e outro vai apostar nos medicamentos. Ainda não


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estão definidas as gamas que serão fabricadas, mas acreditamos que serão os fármacos essenciais. E&M - Quais seriam os parceiros internacionais ideais para Angola implementar uma indústria farmacêutica de excelência? PM - Teriam que ser todas as entidades que primam pela excelência e que, de antemão, nos países de origem, são credenciados pela Organização Mundial da Saúde. No que toca à regulação, por exemplo, já temos parceria com a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (INFARMED), entidade portuguesa, e temos parceria também com a Autoridade Reguladora de Medicamentos dos Estados Unidos. Relativamente ao fabrico, sabemos que, a nível mundial, a Alemanha tem boas referências no domínio da produção de remédios. Mas, por uma questão de facilidade de língua, se calhar, deveríamos estabelecer parcerias com Portugal, Brasil e França. Na SADC, poderíamos conjugar esforços com a África do Sul e a Tanzânia, que já contam com bons laboratórios de fabrico e controlo de qualidade de fármacos. Poderíamos apostar em parcerias regionais para o lançamento da indústria farmacêutica e fortalecê-la, de modo a reduzirmos a importação de medicamentos e a pressão que esta exerce sobre os cambiais. PREÇOS, UMA MATÉRIA SOBRE A QUAL SE DEVE TRABALHAR E&M - Quantas farmácias existem no país? PM - Temos cerca de 1 200 farmácias privadas registadas e 190 importadores de medicamentos licenciados. E&M - A quem é que cabe a fiscalização das farmácias para se garantir que os medicamentos sejam de qualidade e que estejam a ser vendidos a preço justo? PM – Essa responsabilidade cabe à Inspecção Geral da Saúde, que conta com um departamento para a inspecção farmacêutica. Este departamento é que zela pelo cumprimento das normas elaboradas pela Direcção Nacional de Medicamentos e Equipamentos. Relativamente aos preços, é uma matéria sobre a qual ainda temos que trabalhar, porque é preciso que se crie uma comissão para poder regular os preços dos medicamentos. Neste momento, cada entidade pratica o seu preço com base na margem de lucros definida pelo Ministério do Comércio. E&M - Até que ponto os operadores privados têm sido parceiros do Governo para se evitar a quebra de stocks nos hospitais públicos como temos vindo a verificar?

PM - O Governo tem trabalhado em estreita colaboração com os operadores privados para garantir que não faltem os medicamentos essenciais. A Central de Compra de Angola (CECOMA), para comprar os medicamentos, já que não pode fazê-lo directamente, organiza concursos públicos por via dos quais as empresas licenciadas compram o caderno de encargos para a importação dos fármacos. Quando as compras chegam ao país, são apresentadas à CECOMA, que, por sua vez, cuida da distribuição. É a CECOMA que deve abastecer os depósitos provinciais e estes últimos abastecem os hospitais provinciais e municipais. E&M - Dentro desta cadeia, onde é que têm existido falhas? PM - Pensamos que actualmente o principal constrangimento existe no facto de ter havido uma redução nas quantidades de medicamentos importados. A redução de divisas pesou sobre a quantidade importada, por isso o Executivo inseriu a importação de medicamentos nos sectores prioritários para se evitar a ruptura. Se o Executivo não tivesse tomado essa medida, estaríamos a atravessar uma fase mais difícil.


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“O PROBLEMA DA CONTRAFACÇÃO DE MEDICAMENTOS NÃO É SÓ DE ANGOLA” E&M - Como é que entram no país os medicamentos contrafeitos e que medidas têm sido tomadas para combater esse fenómeno? PM - O problema da contrafacção de medicamentos não é só de Angola, mas uma preocupação do mundo inteiro. Em certos países entram menos medicamentos contrafeitos porque o sistema de controlo é mais eficiente, ao passo que nós, por termos uma fronteira muito extensa, temos mais dificuldades de fiscalização, porque não conseguimos supervisionar todos os pontos de entrada. Entretanto, apesar disso, temos desenvolvido várias campanhas para o combate aos medicamentos contrafeitos. Existe uma comissão interministerial que integra os Ministérios da Saúde e do Comércio e os Serviços de Investigação Criminal para travar a entrada de fármacos contrafeitos. No ano passado, por exemplo, realizámos em Junho a operação “Jibóia” para combater a contrafacção. Este ano, será realizada mais uma operação, mas essa também é uma responsabilidade que cabe a cada cidadão, pois todos devem estar atentos à qualidade dos produtos e denunciar qualquer indício de medicamento contrafeito.

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E&M - Que entidade licenciou e regula as indústrias que estão a produzir produtos de higiene e beleza? É o Ministério da Saúde ou da Indústria? PM - A produção de produtos de higiene pessoal e cosméticos é autorizada pelo Ministério da Saúde, através da Direcção Nacional de Medicamentos e Equipamentos, porque os cosméticos podem ter, na sua formulação, um princípio activo. Quando isso acontece, é mais um motivo para podermos controlar a produção destes produtos, porque podem provocar danos à saúde. E&M - Então há a garantia de que esses produtos de higiene e beleza são seguros? PM - Não posso afirmar categoricamente que são seguros, na medida em que, como disse anteriormente, o país ainda não conta com um laboratório de controlo de qualidade, que também faz parte da política nacional farmacêutica. Mas já existe um projecto para a implementação de tal laboratório. Neste momento, estamos a trabalhar com 10 mini-laboratórios, mas estes não substituem o laboratório de controlo de qualidade, pelo que precisamos de trabalhar no sentido de o país construir um espaço adequado o mais rápido possível. &


ESPECIAL DIVERSIFICAÇÃO

TELECOMUNICAÇÕES


PRINCIPAIS PROVEDORES DE INTERNET

Fonte: AAPSI – Associação Angolana de Provedores de Serviços de Internet

PROVEDORES DE TELEFONIA MÓVEL

PROVEDORES DE TV POR SATÉLITE

EVOLUÇÃO DA TELEDENSIDADE FIXA (%), 2000-2015 2015

1,15

2010

0,82 0,61

2005

0,52

2000 0

0,5

1

PROVEDOR DE TV POR CABO

1,5 Fonte: MTTI, Abril 2015

DADOS COMPARATIVOS DA EVOLUÇÃO DE TELEDENSIDADE FIXA (%) 2005-2015 2015

1,2 1,15

2010

1,5 0,8

2005

1,5 0,6 0

Angola

11,9

Países em desenvolvimento

19,1 5

10

15

PROVEDORES DE INTERNET POR FIBRA

África

14,5

20

25 Fonte: União Internacional de Telecomunicação (UIT)

EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE UTILIZADORES DE INTERNET (%)

EVOLUÇÃO DA TELEDENSIDADE MÓVEL (%), 2000-2015 2015 2010

53,55 0,16

2000 0

20

40

60

5,16

2010

10,35

2005

15,47

2015

57,44

2005

0,51

2000

0,11

80 0

Fonte: MTTI, Abril 2015

5

10

15

20

Fonte: MTTI, Abril 2015


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| DESTAQUE

UM MOTOR DA ECONOMIA Sebastião Vemba

O sector das telecomunicações é um dos mais dinâmicos da economia angolana, embora, ao nível do desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, ainda tenha um longo percurso a percorrer no país. Entretanto, segmentos como a telefonia móvel, actualmente dominada pela Unitel e a Movicel, assim como a oferta de sinal de TV por satélite e de Internet, representam algum do dinamismo do sector. Nesta edição, quisemos destacar algumas das principais empresas pioneiras neste ramo, porém, por indisponibilidade dos responsáveis, a quem enviámos os respectivos pedidos de entrevista, não nos foi disponibilizada a informação solicitada.


DESTAQUE | 49

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OS SERVIÇOS DE TELEFONIA MÓVEL SÃO DOS MAIS REPRESENTATIVOS DO SECTOR DAS TELECOMUNICAÇÕES EM ANGOLA, COM MAIS DE

14

MILHÕES DE UTILIZADORES, DISTRIBUÍDOS ENTRE A UNITEL E A MOVICEL.

Os serviços de telefonia móvel são dos mais representativos do sector das telecomunicações em Angola, com mais de 14 milhões de utilizadores, distribuídos entre a Unitel e a Movicel, ao passo que a Internet já é acedida por três milhões de utilizadores. Entretanto, estes dados, comparados com os actuais mais de 25 milhões de habitantes, representam uma larga margem do sector. Para perceber quais os planos de expansão das empresas, a Economia & Mercado contactou os respectivos departamentos de Comunicação e Marketing da Unitel e da Movicel, com quem partilhámos tópicos da entrevista que pretendíamos fazer, porém, à última hora, a primeira alegou indisponibilidade, ao passo que a segunda não nos respondeu. Entretanto, informações disponíveis

sobre a Unitel apontam que a empresa é actualmente responsável por mais de 2 000 postos de trabalho distribuídos pelo país, ao passo que a Movicel, até Setembro do ano passado, empregava 900 trabalhadores. No contacto com as duas empresas, procurámos apurar informação relativa ao seu volume de investimento, carteira de investimento e planos de expansão no país e outros territórios da SADC, considerando que a Unitel se assume como uma potência e elemento importante no desenvolvimento das telecomunicações na região, através de apostas mercados como Cabo Verde e São Tomé, mas não obtivemos respostas, conforme já referido. Numa recente entrevista ao VerAngola, Carla Carneiro, responsável de comunicação da Unitel, afirmou que a comunicação da operadora passa “necessariamente” por essa vertente muito “internacional, capaz de contribuir de forma significativa para o desenvolvimento do sector em África”. Por sua vez, o director de Transmissão e Core da Movicel, em entrevista à E&M em Setembro do ano passado, destacou a importância do sector das telecomunicações

no processo de desenvolvimento e diversificação da economia, tendo defendido que, para que as empresas se estabeleçam em determinado lugar, “precisam de infra-estruturas de telecomunicações. Portanto, os agentes que actuam neste sector têm o desafio de levar estes serviços às comunas e aldeias para que surjam empresas nestas zonas”. “Temos ainda um grande percurso pela frente. Hoje, o desafio que se coloca ao sector é garantir que tenhamos comunicações de qualidade e que atendam às necessidades dos clientes, quer particulares, quer corporativos”, defendeu. Ao nível de políticas para o sector, o Executivo angolano afirma estar a desenvolver uma estratégia que catapulte o país para a co-liderança das telecomunicações e tecnologias de informação em África. Também em entrevista à Economia & Mercado, o Secretário de Estado das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Aristides Safeca, afirmou que o sector em Angola não está dissociado do conjunto da dinâmica do próprio país. “Mas é claro que também depende substancialmente da evolução tecnológica mundial dos países que estão mais desenvolvidos neste domínio. Depois de ter alcançado a paz, Angola tem vindo a oferecer condições de crescimento que são muito diferentes das anteriores a este período e, neste contexto, o sector das Telecomunicações também beneficiou do crescimento geral que o país teve”, informou, tendo acrescentado que a capacidade de oferta do sector, “tanto de serviços móveis, como de serviços fixos, sejam eles de dados, voz ou, de uma forma mais indirecta, o serviço de multimédia, como a televisão por satélite, hoje é melhor e mais diversificada”. Por sua vez, o ministro José Carvalho da Rocha, à margem do Primeiro Fórum das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, ocorrido em 2015, argumentou que o sector dá suporte tecnológico ao programa do Executivo de diversificação da economia angolana. “As metas a serem alcançadas pelo sector em 2017 vão permitir que os serviços ligados às tecnologias de informação sejam cada vez mais acessíveis à população”, referiu o responsável. &


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| CASOS DE SUCESSO

TELECOMUNICAÇÕES

20 ANOS A POTENCIALIZAR AS EMPRESAS Quingila Hebo

A NCR, empresa líder de distribuição de tecnologias de informação e comunicação, é um dos grandes casos de sucesso no mercado angolano. Existe há 20 anos, acumula uma vasta experiência e uma rede de fornecedores dos melhores fabricantes de marcas de tecnologias de informação e comunicação reconhecidas mundialmente. Em Angola, a NCR conta com mais de 8 000 clientes corporates, mais de 300 funcionários, nove lojas e regista uma média mensal de 11% na evolução do seu volume de vendas.

Desde 1995, a NCR tem acompanhado o ritmo de desenvolvimento do mercado angolano, procurando dar respostas às necessidades cada vez mais exigentes das empresas, que se querem mais tecnológicas e modernas a cada dia que passa. “Se por um lado este desenvolvimento é possível através da diversificação do portfólio de produtos, por outro, a NCR tem apostado num plano de reestruturação e expansão com o objectivo de melhorar a forma como chega ao consumidor”, desvendou o director de Tecnologias de Informação da empresa angolana, Álvaro de Matos, numa recente entrevista à E&M. A empresa conta actualmente com uma rede de lojas próprias, vocacionadas para o segmento de consumo e uma unidade de negócio corporativa, totalmente dedicada ao segmento empresarial. A unidade de negócio corporativa da NCR Angola visa oferecer às empresas um conjunto adicional de Soluções ITSM (Information Tecnology Services Management) para que

o cliente se foque inteiramente no seu negócio, optimizando os recursos de tecnologias de informação. As soluções deste segmento são desenhadas e implementadas em função das necessidades reais do cliente, num processo que tem início com a auscultação do cliente, seguido da selecção da tecnologia e completado pelo desenho de serviços para a solução pretendida. “As empresas e organizações dispõem de contactos directos e personalizados, operacionalizados por um consultor e um gestor de conta dedicados. No capítulo empresarial, a NCR tem como principais clientes a banca, as petrolíferas e o Estado”, revela. No retalho, a NCR Angola disponibiliza uma vasta gama de marcas de produtos informáticos de fabricantes mundialmente conhecidos a preços competitivos e conta com uma rede de nove lojas em Luanda e onde a comunidade estudantil, principalmente, encontra produtos informáticos de qualidade a um preço equiparado. &


CASOS DE SUCESSO | 51

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TELECOMUNICAÇÕES

O ARAUTO DO TRIPLE-PLAY Quingila Hebo

A TV CABO é pioneira em juntar três serviços, cada vez mais conexos, num só pacote, nomeadamente Internet, telefone e televisão. No ano passado, a empresa foi eleita a melhor provedora de Internet do país na maior montra de tecnologias de informação e comunicação, a Expo TIC, que decorreu na Feira Internacional de Luanda.

Em 2015, a TV CABO alcançou um volume de negócios superior a 10 mil milhões de kwanzas, o que representou um acréscimo de cerca de 20% em relação a 2014. Para o corrente ano, tendo em conta a adversidade económica, a empresa perspectiva um crescimento de 2% em relação ao ano passado. “Este aumento sustentado é o reflexo da diversificação dos produtos e serviços, da aposta na qualidade e do investimento efectuado”, observa Francisco Ferreira. O responsável acrescenta que o resultado operacional amentou 29,2% face a 2014, atingindo os 2,4 mil milhões de kwanzas, espelhando o excelente desempenho da empresa nessa

vertente. “O aumento da actividade da empresa reflectiu-se no aumento das vendas que alcançaram números superiores a 74 milhões de kwanzas”. A TV CABO revela-se uma empresa sólida e pronta a prestar um grande contributo ao desenvolvimento do tecido empresarial e consequentemente do país. Em 2015, a TV CABO apostou na ampliação das áreas limítrofes da sua infra-estrutura existente para as redes construídas em Luanda e Lobito/Benguela. As zonas eleitas para expansão em Luanda foram o Kilamba Kiaxi, Benfica/Patriota, Camama, Corimba, Viana Sul e Cacuaco. A expansão no ano passado chegou também a Benguela

e Lobito. 2015 foi também o ano eleito para o início das actividades na província da Huíla e consequente expansão da rede FTTH (Fiber-to-the-Home) no centro da cidade do Lubango, embora condicionantes de natureza macroeconómica e financeira não tenham permitido a prossecução do investimento ao ritmo previsto. Manteve-se, igualmente, o processo de expansão da rede de fibra óptica para zonas onde existia rede de eixos coligados de forma a dar resposta adequada ao nível de exigência do mercado empresarial. A TV CABO assumiu como factores de sucesso a qualidade, a inovação, a proximidade e a aposta no desenvolvimento da sua área de cobertura. Para tudo isso, a empresa investiu uma verba superior a 1,7 mil milhões de kwanzas. Apesar da conjuntura económica existente no país, em 2016, a TV CABO continua a registar um incremento relativo ao número de subscrições activas e pretende manter os postos de trabalho. Em 2015, fruto da ampliação da sua rede de lojas, a TV CABO aumentou de forma significativa o número de postos de emprego, contando com 348

colaboradores, mais 47 do que em 2014. A TV CABO tem mantido a aposta no projecto de formação contínua de colaboradores através da Academia TV CABO. “A capacitação dos colaboradores é um dos pilares estratégicos da empresa, contribuindo directamente para a confiança, motivação e satisfação, a superação das necessidades funcionais e pessoais para o desenvolvimento profissional, o incremento da performance individual e da equipa, o desenvolvimento de uma comunicação interna mais eficaz e eficiente, a melhoria da eficiência das respostas ao cliente, aumentando a sua satisfação com o serviço prestado”, destaca o director-geral da empresa, Francisco Ferreira. De acordo com Francisco Ferreira, embora a crise esteja a condicionar a perfeita implementação do plano estratégico da empresa, os principais desafios a enfrentar em 2016 passam pelo fortalecimento contínuo da qualidade do serviço prestado, a monitorização do grau de satisfação dos clientes e pela obtenção de acrescidos ganhos de produtividade que permitam manter a competitividade. &


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| OPINIÃO

OS DESAFIOS DA MASSIFICAÇÃO DAS TIC EM ANGOLA Embora se registem aumentos significativos nos investimentos em tecnologias de informação e comunicação (TIC), a baixa capacidade de absorção tecnológica por parte da sociedade continua a ser um dos maiores entraves ao processo de crescimento no contexto da diversificação da economia em Angola. Hoje, vivemos tempos de mudanças. De um lado temos uma população que se torna cada vez mais jovem e exigente, e do outro temos a apatia social à massificação do uso de novas tecnologias. Este desenvolvimento descomedido requer o enquadramento do antiquíssimo modelo socioeconómico, tradicionalmente concebido para as especificidades de sociedades condescendentes, às exigências dos tempos modernos.

Milton Delo Economista

Em conformidade com os resultados do Censo da População e Habitação de Angola, realizado em 2014, cerca de 47,3% da população tem idade inferior a 15 anos, o que em termos teóricos faria de Angola um mercado fértil para a massificação do uso das TIC, posto que estas servem de suporte às actividades comerciais. Apesar do potencial para a expansão do acesso aos benefícios oferecidos pelas TIC, a análise qualitativa dos aspectos demográficos de Angola permite antever a necessidade de uma visão integrada de modo a maximizar as vantagens desta ferramenta como um motor de crescimento da economia. Entretanto, uma análise mais profunda permite perceber que o potencial de uso de tecnologia relativamente moderna é muito baixo, em decorrência de diversos factores fundamentais, entre os quais merecem enfoque particular os seguintes: Educação: a taxa de literacia é bastante humilde, já que a percentagem da população com 18 ou mais anos que concluiu o II ciclo do ensino secundário é de apenas 13%. Por outro lado, a proporção da população com 18 ou mais anos que nunca frequentou a escola ou não concluiu a 6ª classe é de 48%. Em termos práticos, isso significa que o investimento em meios de comunicação como o computador acabaria por ser uma irracionalidade económica, no sentido em que a taxa de utilizadores capacitados para maximizarem as vantagens deste meio de processamento da informação seria muito inferior ao desejável. Línguas faladas: 71% da população fala português, no entanto, nas zonas rurais, mais de metade (51%) da população não é falante da língua portuguesa. Desta feita, a massificação do acesso à informação e ao conhecimento teria de passar necessariamente pelo investimento de tempo e recursos (humanos e

tecnológicos) de modo a proporcionar o acesso em línguas bantu. Acesso a electricidade: um lapso comummente associado à análise do uso das TIC consiste na omissão de um factor aparentemente simples, mas que acaba por fazer a diferença e ditar o uso ou não uso de TIC digitais: o acesso à energia eléctrica. Em Angola, apenas 31,9% da população tem acesso à energia eléctrica da rede pública (50,9% nas áreas urbanas e apenas 2,2% nas zonas rurais). Este factor, por si só, resulta na exclusão automática de uma larga fatia dos habitantes no que concerne ao uso de dispositivos electrónicos que funcionam com energia eléctrica. A congregação dos factores referidos acima permite concluir que a massificação do uso e acesso às TIC só trará benefícios à medida da sua adequação ao grau de preparação da população. Devido às especificidades dos grupos sociais distribuídos por Angola, o incentivo ao uso das TIC deverá ser feito de modo ajustado às características intrínsecas de cada nicho da população. Além da tipologia de comunicação a ser utilizada, o conteúdo dos conhecimentos a serem transferidos também deverá acompanhar as particularidades das regiões e agregados populacionais, devendo, para tal, priorizar-se temáticas com valor agregado no que toca à utilização prática. Por fim, para os tecidos populacionais em que a taxa de utilização das TIC mais modernas já é uma constante, o investimento deve ser feito no sentido de incentivar o espírito crítico em relação à informação disponível, a capacidade de discernir quais os conteúdos profícuos e realmente valiosos, susceptíveis de serem utilizados para a criação de conhecimento produzido por angolanos e para Angola. &



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| NEGÓCIOS

INTERNET TECHNOLOGIES ANGOLA

DR

APOSTADA EM DIVERSIFICAR OS SERVIÇOS

António Piçarra

A Internet Technologies Angola (ITA) nasceu em 2005 apenas como provedora de serviços de Internet, mas hoje oferece, não somente Internet, mas também serviços diversificados de telecomunicações. A empresa trabalha para cerca de 400 clientes dos mais diversos sectores de actividades, na maioria pertencentes à banca e ao ramo dos petróleos.


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DR

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Novo edifício da ITA, inaugurado em Fevereiro

Para acompanhar o ritmo da economia e responder à demanda dos serviços de telecomunicações registada no sector empresarial, a ITA alargou a sua oferta de serviços tecnológicos e de comunicação, apostando em soluções que permitem o acesso à informação, inclusive nas zonas mais longínquas, por via de satélites, “onde uma rede normal de telecomunicações não chega”, afirma Tânia Jardim, directora de Marketing da empresa. “Quando um cliente opta pelos serviços da ITA, mesmo num local remoto de uma província, significa que nós vamos oferecer-lhe uma ligação satélite cujo sistema garantidamente não vai cair, porque conseguimos fazer a multiplicidade de tecnologias Imax, fibra óptica e satélite de comunicações”, garantiu a responsável. É a parceria com o ITELnet / Comunicações & Serviços SA que permite à ITA fornecer a Angola os serviços de Internet

e de dados através das tecnologias wireless e via satélite. Mas a empresa também está autorizada a fornecer serviços de telefonia fixa através do uso do prefixo 225, uma vez que é uma operadora licenciada pelo ITELnet. A diversificação da oferta de serviços impulsionou a empresa a investir numa nova sede e em equipamentos modernos, para, segundo Tânia Jardim, “dar continuidade à herança da empresa e prepará-la para o futuro”. E, em termos de futuro, a empresa já está a investir em energia solar para diminuir a dependência dos combustíveis, aumentar a competitividade e diminuir o impacto ambiental. Está também prevista a abertura da nova sede no Huambo, o aumento do serviço e da cobertura no Kuito e em Cabinda. Importa recordar que, logo após a sua fundação, em 2005, a ITA desempenhou

um importante papel na instalação da primeira rede-base de Internet WIMAX em Angola, além de ter sido responsável pelo desenvolvimento do trabalho dos fornecedores de serviços de Internet. No seu novo edifício-sede, no valor de 12 milhões de dólares, inaugurado no mês de Fevereiro, a ITA instalou um Teleporto (porto de telecomunicações), com cinco antenas de estação terrestre, sala de transmissão e sala de energia. Com este investimento, esclarece Tânia Jardim, a ITA está particularmente focada na comercialização do seu Data Center, totalmente capacitado com bastidores ACP, três níveis de redundância e fiabilidade e com geradores de 700Kva’s. “Nós temos, em Angola, o melhor e mais fiável Data Center”, expõe a responsável de Marketing da Internet Technologies Angola, argumentando que, actualmente, as empresas já não precisam de alojar os seus conteúdos fora do país. &


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| EM FOCO


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COOPERATIVISMO

UM REFORÇO À SUSTENTABILIDADE ECONÓMICA Texto: Edicenter Fotografia: Carlos Aguiar

O cooperativismo é uma doutrina económica que preconiza a colaboração através da associação de pessoas ou grupos empresariais com os mesmos interesses e com o objectivo de obterem vantagens comuns nas suas actividades. “É a velha máxima de que a união faz a força”, definem os nossos entrevistados. Foi com este espírito que foi criada, em Agosto de 2015, a Cooperativa de Crédito dos Funcionários da Presidência da República (COCREFP), que tem, entre outros objectivos, a missão de contribuir para o empoderamento empresarial e a melhoria das condições socioeconómicas dos trabalhadores dos Órgãos Auxiliares do Presidente da República, assim como da Cooperativa de crédito do FAJE, que se afiguram como um novo formato de cooperativismo, ou seja, a formalização da tradicional “Kixikila”, muito conhecida entre os angolanos como uma forma de contornar a burocracia para se obter crédito. A Cooperativa de Crédito dos Funcionários da Presidência (COCREFP) surge como resposta aos sucessivos apelos do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, para a necessidade de haver cada vez mais solidariedade entre os cidadãos, de acordo com o assistente para a Auditoria Interna da Secretaria-geral da Presidência, Sousa João Bulo. Assim, para que houvesse interajuda entre os trabalhadores dos

diferentes órgãos ao serviço da presidência, foi criada a cooperativa de crédito. “Em vários pronunciamentos, o Presidente tem chamado a nossa atenção para sermos mais solidários. Aquando da nomeação do Secretário-geral da Presidência, Dr. Manuel da Cruz Neto, foi feito um diagnóstico sobre a prestação de serviços sociais aos funcionários dos órgãos auxiliares do Presidente, essencialmente aos trabalhadores da


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| EM FOCO

Secretaria-geral e da Casa de Segurança, e para dar respostas às necessidades sociais apresentadas pelos funcionários, tivemos a ideia de avançarmos com a criação de uma cooperativa de crédito”, conta Sousa João Bulo. A directora de Operações da COCREFP, Carla Pataca, avança que a cooperativa assenta nos princípios definidos pela Aliança Internacional de Cooperativas e pela União Mundial de Cooperativas de Crédito, que estabelecem sete princípios que norteiam as cooperativas. De acordo com estas instituições, as cooperativas, como entidades privadas, devem preocupar-se com o bem-estar das comunidades e interagir entre elas, estabelecendo sinergias

para ajudarem as comunidades a crescerem social, económica e culturalmente. Definem ainda que a governação das cooperativas de crédito deve ser feita pelos cooperados. Ou seja, diferente do que é prática nas instituições financeiras bancárias, em que os accionistas delegam à comissão não executiva os destinos da instituição, nas cooperativas de crédito quem determina o destino da cooperativa são os cooperados, por votação. Outro princípio, definido pela Aliança Internacional das Cooperativas e pela União Mundial das Cooperativas de Crédito, é que todas as pessoas na cooperativa devem ser tratadas de forma igual e têm direito ao voto. “Cada membro tem direito a um voto.

Isto obriga a que as pessoas se envolvam para determinarem os destinos da cooperativa. Ou seja, por intermédio do seu voto, será determinada a decisão final da instituição”, realça. Carla Pataca esclarece ainda que a COCREFP tem como missão construir e melhorar continuamente os activos da própria cooperativa. Esta ambiciona ser o principal instrumento dos funcionários dos órgãos auxiliares da presidência e das suas respectivas famílias para a obtenção de empréstimos, em prol da melhoria das suas condições socioeconómicas. “A cooperativa defende cinco valores, que consistem na execução das tarefas com celeridade, ter uma atitude

proactiva antecipando os eventos do mercado, ter sentido de bem comum e de missão pública e de bem servir, atingir os resultados com parcimónia e procurar de forma continua a qualidade dos resultados e a excelência operacional”, descreve a responsável. LIMITADA AOS FUNCIONÁRIOS DA PRESIDÊNCIA A COCREFP foi inaugurada em Agosto de 2015 com 100 membros fundadores, que fizeram parte da assembleia constituinte, mas tão logo muitos perceberam a sua importância e, de Agosto do ano passado para cá, já atingiu cerca de 800 cooperados. “Todos os dias temos novas inscrições e temos um potencial


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Sousa João Bulo, Assistente para a Auditoria Interna da Secretaria-geral da Presidência

Carla Pataca, Directora de Operações da COCREFP

de crescimento de até 20 mil associados”. A cooperativa atende apenas os trabalhadores dos Órgãos Auxiliares da Presidência da República, nomeadamente a Casa Civil, o Gabinete de Obras Especiais, a Casa de Segurança, o Secretariado do Conselho de Ministros e os da Secretaria-geral. Mas temos todo o interesse em apoiar e promover todas as instituições públicas e privadas que tenham a intenção de abraçar o conceito de cooperativa de crédito no seio dos seus funcionários”, revela Carla Pataca. Sousa João Bulo reforça que o cooperativismo revela-se a ferramenta mais eficaz para enfrentar a crise, para o incentivo ao fomento do pequeno negócio e,

a maior cooperativa de crédito que visitámos é dos funcionários da saúde. Visitámos também uma cooperativa de crédito dos polícias federais. Ou seja, até a polícia, além da caixa social, pode criar uma cooperativa de crédito que atenda apenas os efectivos com iniciativas de investimento”, observa Sousa João Bulo.

consequentemente, o empoderamento económico das famílias e a redução da fome e da pobreza. O auditor entende que é importante avançarmos para projectos de cooperativa. “Em Fortaleza, Brasil, por exemplo, conhecemos uma cooperativa dos taxistas. O trabalho que hoje é feito pelos nossos candongueiros, os famosos azuis e brancos, podia ser organizado em cooperativa. Seria também uma forma de minimizarmos a desordem que alguns taxistas fazem, melhorarmos as condições dos veículos e regular a conduta dos mesmos. É possível criar-se esse tipo de cooperativa, assim como pode avançar-se para uma cooperativa de crédito dos agricultores. No Brasil,

APOIO GARANTIDO As instituições que queiram avançar com a constituição de cooperativas de crédito terão o total apoio da COCREFP, segundo garantem os seus responsáveis. A COCREFP, Cooperativa de Crédito dos Funcionários da Presidência, é a pioneira no sector, mas recentemente foi criada também, com o apoio da

COCREFP, a Cooperativa de Crédito do FAJE, afecta ao Fórum Angolano da Juventude Empreendedora (FAJE). O Coordenador Nacional do FAJE, Alberto Mendes, diz que pouca gente ainda percebe a importância e as vantagens de uma cooperativa de crédito. “Uma das maiores dificuldades é o facto de que em Angola o conceito de cooperativa é algo desconhecido por grande parte da população, o que requer sensibilização por parte de quem anseia investir na criação da mesma. Contudo, é um desafio que encaramos com muito entusiasmo”, sublinha. Alberto Mendes acredita que, por as cooperativas serem, na maior parte dos países, uma das principais instituições financeiras ao


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Alberto Mendes, Coordenador Nacional do FAJE

Jorge Baptista, Presidente da Associação dos Empresários de Angola

serviço das comunidades, criar mais cooperativas de crédito em Angola pode trazer mais apoio aos empreendedores e contribuir para o desenvolvimento dos mesmos, bem como ajudá-los a desenvolver hábitos de poupança. O presidente da Associação dos Empresários de Angola, Jorge Baptista, reforça afirmando que as sociedades devem encontrar formas de financiamento e desenvolvimento económico através de vias alternativas lícitas e o cooperativismo

são inúmeras as vantagens e, por isso, deve apostar-se em mais cooperativas de crédito. “São inúmeros os contributos de uma cooperativa de crédito. Se o cidadão encontrar uma alternativa económica sustentável para obter rendimentos com regras claras e sérias, estaremos a contribuir para o desenvolvimento de que as famílias precisam para resolver os seus problemas e, consequentemente, os resultados económicos serão melhores para o país. Vamos criar oportunidades novas e alternativas de financiamento

afigura-se com uma delas. “Os bancos comerciais nem sempre estão preparados para financiarem as necessidades do mercado e, quando o fazem, visam essencialmente o lucro. Já nas cooperativas a visão é outra. O socorro pode abranger várias vertentes e estas podem ser o garante do desenvolvimento alternativo, pois as necessidades são muitas e as oportunidades idem, e uma cooperativa pode oferecer estes benefícios aos associados”. Jorge Baptista reforça ainda que as experiências de outras geografias demonstram que

com benefícios mais sociais”, apela Jorge Baptista. ATACAR O MERCADO COMO EQUIPA O director do gabinete para o Sector Empresarial Público do Ministério da Economia, Silvino Bento, assegura que as pessoas, colectivas ou individuais, quando organizadas em cooperativas, conseguem atacar o mercado mais eficazmente, tanto na obtenção de inputs, como no escoamento do produto final. Silvino Bento reforça a tese de Sousa João Bulo sobre a


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OS SETE PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM UMA COOPERATIVA 1º ADESÃO VOLUNTÁRIA E LIVRE PERMANÊNCIA DOS SEUS MEMBROS 2º GESTÃO E ADMINISTRAÇÃO DEMOCRÁTICA CONTROLADA EXCLUSIVAMENTE PELOS SEUS MEMBROS 3º PARTICIPAÇÃO ECONÓMICA DOS MEMBROS 4º AUTONOMIA E INDEPENDÊCIA 5º EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO E INFORMAÇÃO 6º SOLIDARIEDADE E INTER-COOPERAÇÃO 7º PREOCUPAÇÃO E INTERESSE PELA COMUNIDADE Silvino Bento, Director do Dpt. para o Sector Empresarial Público do Ministério da Economia

necessidade de as pessoas com faro empreendedor olharem mais para as vantagens do cooperativismo. “Quando as pessoas se unem e formam cooperativas torna-se mais fácil maximizar os resultados e minimizar os custos. A redução de custos, a obtenção de melhores condições de preços, tanto para os inputs, como para o produto acabado, são vantagens de uma cooperativa. É mais fácil negociar com uma superfície comercial a venda de um produto em grupo do que fazê-lo sozinho. Actuando como

grupo, também é mais fácil atender às necessidades, em termos das quantidades de que a grande ou pequena superfície necessita. A superfície comercial pode ter uma necessidade constante de ter o produto nas prateleiras e o fornecedor fazer uma distribuição sazonal. No caso de uma cooperativa, quando a produção de um não chegar para atender às quantidades solicitadas, pode-se juntar a produção de outros produtores para atender o cliente ao melhor preço”, explica exemplificando. Quanto à cooperativa de

DIPLOMAS LEGAIS PARA A CRIAÇÃO DE UMA COOPERATIVA • Lei das Cooperativas 23/2015 de 31 de Agosto • Lei de Base das Instituições Financeiras nº 12/2015 de 17 de Junho • Decreto presidencial nº 22/2011 de 19 de Janeiro • Aviso nº 8/2011 do BNA de 15 de Julho


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Cândido Pina, Chefe de Divisão do Dept. de Regulação e Organização do Sistema Financeiro

crédito, em particular, a outra grande vantagem, de acordo com Silvino Bento, é a gestão participativa e democrática controlada exclusivamente pelos membros. Os estatutos das cooperativas determinam que cada um dos membros, independentemente do capital que tiver na cooperativa, tem direito a um voto, contrariamente a uma sociedade por quotas, em que quem colocar mais capital tem maior poder de decisão.

Carla Pataca acrescenta que a COCREFP, por exemplo, também se preocupa com a educação e formação dos seus associados. Além da análise da viabilidade do projecto e do financiamento, a COCREFP apoia, em termos de formação, o cooperado/cliente para que implemente o projecto com as melhores práticas que permitam a rentabilidade do investimento. “Faz parte da nossa estratégia desenvolver as capacidades dos cooperados,

Celso Almeida, Chefe de Sector do Departamento de Supervisão Prudencial das Instituições Financeiras

prestando uma espécie de consultoria para que façam bons investimentos”, revela Carla Pataca. SUJEITAS À SUPERVISÃO DO BNA De facto, as cooperativas de crédito revelam-se como as novas promotoras de serviços financeiros e as que mais se adequam às necessidades de financiamento aos pequenos empreendedores. Mas, para não colocarem em perigo o

sistema financeiro, estão sujeitas à supervisão do Banco Nacional de Angola (BNA) ao abrigo da Lei de Base das Instituições Financeiras Bancárias e não Bancárias. Ao abrigo da Lei n.º 12/15, de 17 de Junho - Lei de Base das Instituições Financeiras, as cooperativas de crédito enquadram-se no leque das instituições financeiras não bancárias sob a supervisão do BNA. A sua constituição carece, assim, da autorização prévia do


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QUANDO AS PESSOAS SE UNEM E FORMAM COOPERATIVAS TORNA-SE MAIS FÁCIL MAXIMIZAR OS RESULTADOS E MINIMIZAR OS CUSTOS. Banco Nacional de Angola. Além da Lei de Base das Instituições Financeiras, há ainda o Decreto Presidencial nº 22/2011, de 19 de Janeiro, que cria o regulamento das cooperativas de crédito. Por força deste decreto, o BNA regulamentou, através do Aviso nº 8/2011, de 15 de Julho, os requisitos para a constituição das cooperativas de crédito. “Ao abrigo deste instrutivo, as cooperativas de crédito devem ser lucrativas, porque captam depósitos dos seus associados para a concessão de créditos aos mesmos”, sublinha Cândido Pina, chefe do Departamento de Regulação e Organização do Sistema Financeiro. O aviso nº8 do BNA estabelece também que as cooperativas de crédito devem ter um capital social mínimo de cinco milhões de kwanzas e uma quota mínima de subscrição de 15 mil kwanzas por cooperado. Durante a sua constituição, o instrutivo estabelece ainda que a cooperativa de crédito deve ter, no mínimo, 25 associados com alguma ligação entre si. “Devem fazer parte da mesma instituição de trabalho ou ser um grupo de empresas”, diz Cândido Pina. Cândido Pina assegura que as cooperativas de crédito não vêm fazer concorrência à banca porque os bancos captam depósitos do público

em geral, sendo que as cooperativas são direccionadas a um grupo limitado. O único ponto de convergência é na definição das taxas de juros, em que ambas as instituições, obedecendo aos máximos e mínimos estabelecidos pelo BNA, determinam aquelas que permitem maior rentabilidade. Neste quesito, o assistente para a Auditoria Interna da Secretaria-geral do Presidente da República, Sousa João Bulo, avança que, quanto à determinação das taxas de juros, a diferença é que o banco visa o lucro, já a cooperativa só precisa de equilibrar as despesas e os proveitos no fim do exercício, de modo a manter a sustentabilidade da cooperativa. “Imagine que o mercado bancário esteja a aplicar uma taxa de juros de 15% a clientes a título individual. Se passarem a representar uma cooperativa de 50 pessoas, o banco poderá reduzir a taxa, porque a cooperativa terá capacidade de negociar para que a taxa seja inferior, chegando aos 5%, por exemplo. Quando a cooperativa conseguir o financiamento a uma taxa de 5%, pode repassá-la aos cooperados a uma taxa de 7%. Assim, os cooperados terão o valor de que precisam a uma taxa de 7% e não de 15%, como aconteceria se fossem eles mesmos a solicitar o crédito ao banco”, explica. Ainda sobre supervisão, o Chefe de Sector do

Departamento de Supervisão Prudencial das Instituições Financeiras, Celso Almeida, reforça que as cooperativas de crédito estão duplamente subordinadas. Estão subordinadas à Lei das Cooperativas de Crédito e à Lei das Instituições Financeiras porque devem cumprir com os limites, observar a questão do capital, se os cooperados preenchem os requisitos para obterem crédito ou não, e outros elementos a que as instituições financeiras em geral estão sujeitas. “Mas as cooperativas têm o seu próprio estatuto. No cumprimento das obrigações dos cooperados, o BNA, enquanto órgão regulador, não interfere. O BNA interfere do ponto de vista do cumprimento das normas de natureza mais genérica que, directa ou indirectamente, pode colocar em perigo o sistema financeiro. Se porventura um cooperado tem que fazer aporte de capital e não cumprir, estará em incumprimento perante a sua sociedade. Então, os demais membros têm o direito de cobrar por não cumprir com um parâmetro dos estatutos da cooperativa. O BNA apenas intervém quando o incumprimento, do aporte de capital, por exemplo, fizer com que o capital mínimo da sociedade esteja abaixo do mínimo legal”, reforça Celso Almeida. A directora de Operações da COCREFP, Carla Pataca, avança que a cooperativa actua como uma instituição financeira não bancária e tem disponíveis produtos financeiros à semelhança de outras ligadas

à actividade bancária. “Temos os serviços de depósitos, levantamentos, cartões de débito, transferências bancárias e abrimos recentemente a operação de crédito. Naturalmente, o processo para a concessão de crédito passa por uma análise criteriosa, como em qualquer instituição financeira, mas o grande objectivo é apoiar as iniciativas de investimento dos membros da cooperativa. Somos uma instituição sem fins lucrativos. No fim do exercício, sob decisão da assembleia da cooperativa, por voto maioritário dos cooperados, é decidido o que se deve fazer com qualquer excedente. Os membros é que decidem se deve ser distribuído pelos cooperados de forma equitativa, ou se deve ser reinvestido, para que faça parte do activo da cooperativa, sempre com o objectivo de beneficiar os cooperados”, esclarece a responsável. Carla Pataca avança que está na forja a aposta noutros produtos. “Como disse, a cooperativa de crédito é uma instituição sem fins lucrativos, mas deve adoptar mecanismo para fazer face aos custos operacionais e uma das estratégias que normalmente é usada é o estabelecimento de parcerias com entidades que possam fornecer um serviço de qualidade a baixo preço e que possam permitir que o cooperado, ao beneficiar do serviço, sinta a diferença apenas no preço, mantendo-se a qualidade do serviço, que deve sempre ser superior do que se fosse fazer uma abordagem a título individual a uma instituição financeira bancária”, conclui Carla Pataca. &


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ECONOMIA CHINESA

DÍVIDA DA CHINA É GRANDE, MAS PODE NÃO SER FATAL Texto: Bruno Faria Lopes Fotografia: iStockphoto

O agravamento da dívida total na segunda maior economia do mundo, para um nível próximo de 240% do PIB, é visto com receio por vários economistas. Na hipótese mais favorável, esta montanha de dívida será um peso na capacidade de crescimento da China. No cenário pior pode levar a uma crise financeira aguda. Para Angola, que tem em Pequim um parceiro incontornável, este é mais um risco – mas pode haver oportunidades.


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“O problema de dívida da China é maior do que se pensa”, “China tem um problema massivo de dívida”, “FMI soa o alarme sobre a dívida empresarial da China”, “China dirige-se para um colapso como o dos EUA em 2008”. Estes são apenas alguns exemplos de títulos de artigos publicados este ano sobre a segunda maior economia do mundo e parceiro crucial de Angola: sem olhar para números, e apenas fazendo uma pesquisa rápida na Internet, percebe-se pelo alarme da imprensa que a China tem um problema cada vez maior de endividamento. Mas estará esse problema a empurrar a economia para o abismo? E que impacto tem para Angola? Primeiro, o problema: no primeiro trimestre deste ano, a dívida total chinesa (pública e privada) subiu para 237% do Produto Interno Bruto (PIB), estima o jornal britânico Financial Times (a estimativa é relativamente próxima da publicada pelo Banco de Pagamentos Internacionais em Setembro de 2015, que apontava para 249% do PIB). O valor é comparável ao de grandes blocos económicos maduros – como a zona euro ou os Estados Unidos – mas os economistas (de instituições como o FMI ou da banca) concordam que é muito alto para uma economia ainda emergente como a da China. Tanto ou mais do que o nível da dívida, preocupa o ritmo do aumento: o FT (Financial Times) coloca a dívida da China em 148% do PIB em 2007, há menos de dez anos. Este aumento do endividamento – e a respectiva composição – levou o FMI a

colocar o assunto no centro da sua avaliação anual da economia da China, concluída no mês passado. O FMI olha para o bolo total e destaca a dívida empresarial, avaliada em 145% do PIB, como motivo de alerta. “A dívida empresarial continua a ser um problema sério – e crescente – que tem de ser abordado imediatamente e com vista a um número de reformas”, afirmou o vice-director do Fundo, David Lipton. “É uma linha-chave de fractura da economia chinesa”, juntou. À BEIRA DE UM COLAPSO FINANCEIRO? Desde 2009, na ressaca da crise mundial do subprime, que Pequim embarcou no maior programa de estímulo monetário na sua história, que levou a um aumento significativo do crédito, boa parte em sectores já saturados (como a construção) e em empresas pouco viáveis (como muitas das empresas públicas, que valem mais de metade da dívida empresarial). Durante este período, este crescimento económico chinês era encarado por vários economistas como um contrapeso muito importante numa fase de contracção global. Com o agravamento progressivo da dívida, as autoridades chinesas foram admitindo a necessidade de desestimular o sistema financeiro, mas o arrefecimento recente da economia levou a um curso de acção oposto, elevando mais os estímulos para suster o ritmo de crescimento (vital para criar emprego e manter estabilidade social). Estes estímulos não estão a impedir o agravamento da dívida face ao PIB, reflexo

do nulo (o negativo, sustentam vários economistas) retorno das vastas quantidades de dinheiro investido. A maior parte dos títulos da imprensa parece sugerir que a trajectória chinesa está a levar o país a um colapso financeiro via sistema bancário, sobrecarregado com imparidades de crédito e sob risco de perder acesso a financiamento – seria a versão chinesa da crise norte-americana que atingiu o zénite em 2008. Mas há economistas que apontam outro sentido

menos trágico: uma crise dessa natureza está ainda distante porque a dívida é sobretudo denominada na moeda local e o sistema financeiro chinês é não comercial (o grau de intervenção das autoridades é enorme podendo resgatar instituições); e porque o risco de insolvência dos devedores não é transversal a toda a malha empresarial. Mas há um reverso deste cenário aparentemente menos draconiano – mesmo sem uma crise aguda, o excesso de dívida tem impacto na capacidade de


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crescimento económico (como constataram os decisores de uma grande economia desenvolvida como o Japão ou estão agora a constatar os líderes de várias economias da zona euro). Os efeitos negativos são diversos, do aumento dos custos de financiamento à restrição do investimento por parte de empresas já muito endividadas, passando pelo efeito estrutural da fraca produtividade do dinheiro investido em projectos pouco viáveis. Seja qual for o cenário, o futuro apresenta um desafio económico extraordinário aos decisores chineses. Se mudarem de forma significativa a política económica – com medidas impopulares que implicam reestruturar ou fechar empresas públicas, subir impostos para reduzir a dependência pública face ao crédito – podem evitar que o problema de endividamento se agrave ainda mais. Mesmo que o consigam fazer – e o passado recente ilustra a dificuldade política (receio da instabilidade social) e económica (receio de fuga de capitais ou de arrefecimento muito abrupto; imaturidade de outras fontes de financiamento além da banca) chega para alimentar algum cepticismo sobre esta hipótese – sobra o peso na economia da dívida já contraída e do respectivo fraco retorno na produtividade. NÃO É “O” PROBLEMA DE ANGOLA A materialização de uma crise financeira grave na China seria, no papel, um cenário adverso para Angola, que tem na política de Pequim um dos principais investidores e maior importador

A MATERIALIZAÇÃO DE UMA CRISE FINANCEIRA GRAVE NA CHINA SERIA, NO PAPEL, UM CENÁRIO ADVERSO PARA ANGOLA, QUE TEM NA POLÍTICA DE PEQUIM UM DOS PRINCIPAIS INVESTIDORES E MAIOR IMPORTADOR DE PETRÓLEO. de petróleo. Mas com esse cenário de crise extrema ainda muito incerto, sobra para já o grande problema angolano: a queda abrupta do preço do barril de crude. Esta tendência do mercado está mais dependente de factores relacionados com o aumento da oferta nos Estados Unidos e no Irão do que com o arrefecimento económico da China, que deprimiu em parte a procura. E levou inclusivamente ao aumento da relevância da relação entre Angola e a China, com mais um empréstimo bilateral firmado no final do ano passado – a agência Reuters estima que a China já emprestou mais de 20 mil milhões de dólares a Angola nos últimos seis

anos (incluindo os 5 mil milhões do acordo em Dezembro do ano passado). Estes empréstimos – cujos termos de troca não são conhecidos – são feitos em troca do fornecimento de petróleo, consignando cada vez mais barris à China (e agravando o problema de receita da Sonangol e do Estado). Acabam por ser canalizados, também, para projectos de melhoria de infra-estruturas atribuídos a empresas e consórcios chineses – o mais recente empréstimo de 5,2 mil milhões de dólares será aplicado em 155 projectos, por exemplo. A conjugação entre saturação de alguns mercados na China com a necessidade de

diversificação económica em Angola pode levar ao aumento do investimento para além deste formato, argumentam alguns economistas. Uma compilação recente de estudos pelo South African Institute of International Affairs (“China-Africa: a maturing relationship?”) sugere novas oportunidades. “A capacidade de produção em excesso em países como a China em sectores de baixa tecnologia e materiais de construção pode levar a um processo de deslocalização para lugares de baixo custo”, escrevem dois dos autores, Carlos Oya e Terry McKinley, da Universidade de Londres, citados pelo site MacauHub. &


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SISTEMA FINANCEIRO

MEDIDAS QUE PECAM POR TARDIAS Sebastião Vemba

As medidas de reestruturação do sistema financeiro angolano, anunciadas em finais de Maio pelo governador do Banco Nacional de Angola, num encontro informal com os jornalistas, pecam por tardias e não dissipam as nuvens de dúvidas sobre o real impacto que as mesmas poderão ter na alteração do quadro actual, uma vez que, ao mesmo tempo que o Banco Central Europeu não reconhece o BNA como uma verdadeira entidade reguladora, no país ainda se questiona a independência do banco central angolano do poder Executivo e, por consequência, do poder político, que participa em grande percentagem da estrutura accionista dos principais bancos. Já antes da reunião com os jornalistas, em que fez declarações acusatórias que apontam que 70% das empresas a operar em Angola são detidas por imigrantes de origem duvidosa e que 90% das empresas alimentares são geridas por estrangeiros, Valter Filipe defendeu mais “ética e moral” na banca angolana.

Entretanto, passado um mês, o número um do banco central foi mais específico, afirmando que, na ausência de uma mudança de paradigma que adeqúe o sistema financeiro nacional ao internacional – que só se alcança com o cumprimento das principais regras prudenciais e de boa governança –, Angola corre o


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Arquivo

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AO BNA RESTA APENAS TRABALHAR PARA ELIMINAR A MÁ REPUTAÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E RECUPERAR O SEU RECONHECIMENTO INTERNACIONAL COMO UMA ENTIDADE REGULADORA CREDÍVEL E COMPETENTE. risco de ser posta à margem do sistema financeiro internacional ou mesmo, por exemplo, de voltar a ser posta na lista negra do Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI) contra o branqueamento de capital e financiamento do terrorismo. Não havendo outra alternativa, ao BNA resta apenas trabalhar para eliminar a má reputação do sistema financeiro nacional e recuperar o seu reconhecimento internacional como uma entidade reguladora credível e competente. Para Valter Filipe, diante da actual situação económica e financeira que o país atravessa – o responsável prefere não encará-la como uma crise –, “a última alternativa de Angola é o sistema financeiro”, mas este deve posicionar-se como um verdadeiro motor da economia, nomeadamente através da geração de financiamento, em vez de absorver o dinheiro para mitigar os seus problemas de liquidez. “Existem bancos que, se não comprarem divisas ao


A INSPIRAÇÃO PARA O SEU DIA-A-DIA

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O QUE SÃO AS NORMAS IAS/IFRS? As normas IAS/IFRS (Internacional Accounting Standards / Internacional Financial Reporting Standards, em inglês), ou Normas Internacionais de Informação Financeira, são um conjunto de padrões e exigências de contabilidade emitidas e revisadas pelo IASB (Internacional Accounting Standards Boards), que visam uniformizar os procedimentos de contabilidade e as políticas existentes entre os países, melhorando a estrutura conceitual e proporcionando a mesma interpretação das demonstrações financeiras. Desde o exercício financeiro de 2016, a banca angolana tem vindo a adoptar as normas IAS/IFRS, sob orientação do BNA, que deve fazer um acompanhamento adequado das várias fases do processo de adopção, para que possa analisar de forma sistematizada os desvios face aos objectivos inicialmente traçados e definir planos de acção com medidas correctivas. Este processo, de acordo com o Banco Central, deve ser concluído em Dezembro de 2016.

Não temos outra alternativa senão combater esta armadilha que facilita e promove as importações e compromete o desenvolvimento económico e a prosperidade das famílias angolanas”, defendeu o governador do BNA. BNA, não conseguem pagar salários”, revelou o governador do Banco Nacional de Angola, que prevê, a curto prazo, mais fusões no sector bancário, uma vez que estas podem evitar a falência de alguns operadores. Mas o responsável não deixou de parte a urgência em se reestruturar a banca comercial pública, nomeadamente o Banco de Poupança e Crédito (BPC) e o Banco de Comércio e Indústria (BCI), cuja má reputação afecta o bom nome do Estado e do BNA. “Precisamos de bancos robustos”, reforçou

Valter Filipe, tendo lamentado, entretanto, “que a maioria dos bancos comerciais tenha problemas de activos”. De acordo com dados da Deloitte sobre o sector bancário, em 2014, os resultados líquidos da banca foram de 48,3 mil milhões de kwanzas, inferior em 52,1% aos lucros de 2013, ano em que cresceram 15,8%. A queda naquele ano deveu-se ao aumento brutal do crédito vencido, que mais do que duplicou, passando de 327 mil milhões de kwanzas, em 2013, para 719 mil milhões de

kwanzas em 2014, uma subida de 120%. Segundo fontes contactadas pela Economia & Mercado, esta situação não terá sido alterada, a contar com o actual cenário de pouca animação económica no país, o que justifica a preocupação da entidade reguladora do sistema financeiro. SEM POUPANÇA NÃO HÁ INVESTIMENTO Valter Filipe, que considera o actual sistema financeiro angolano “uma armadilha”, na medida em que a moeda nacional não tem conversão

internacional, afirmou que no país os níveis de poupança são baixos, o que limita a capacidade da banca de financiar a economia. Para o responsável, é necessário que se aposte nas exportações, que se devem converter em entrada de divisas no país. “Não temos outra alternativa senão combater esta armadilha que facilita e promove as importações e compromete o desenvolvimento económico e a prosperidade das famílias angolanas”, defendeu o governador do BNA, que reconheceu a necessidade de se implementar uma melhor distribuição dos cambiais. Sobre essa última questão, José Severino, presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), afirmou, na edição de Junho da E&M, que a gestão actual dos cambiais não é a mais adequada para o desenvolvimento da economia real, uma vez que as decisões são todas concentradas no BNA. “A orientação de recursos a um determinado sector não pode levar-nos a esquecer que ele, para funcionar, precisa de interagir com o resto do mercado”, referiu o responsável. Entretanto, o governador do BNA reconheceu a necessidade de se reforçar as acções que visam punir os promotores do mercado cambial informal. De um modo geral, para regular o sistema financeiro, referiu, deverão ser promovidos esforços conjuntos entre o Ministério do Interior, a ProcuradoriaGeral da República, a Polícia Económica e o BNA através da sua Unidade de Informação Financeira (UIF). &


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EDUCAÇÃO MUSICAL

À PROCURA DA NOTA CERTA Texto: Jacinto Malungo Fotografia: Afonso Francisco

O ensino de música em Angola começou a ganhar forma com a criação, em 1959, da Escola Nacional de Música, em Luanda, que funcionou até ao ano de 2009. Mas foi em 2015 que surgiu o Complexo das Escolas de Arte CEARTE, uma infra-estrutura imponente, que colocou sob o mesmo edifício várias escolas de ensino artístico. Na mesma senda, vão surgindo, sobretudo na capital do país, escolas privadas de música, como a Mimbu e a Tehila, para dar resposta à crescente demanda. Entretanto, a melhoria da qualidade da formação musical está condicionada não só pela carência de professores como também pela dificuldade de aquisição dos instrumentos musicais.

Compreendendo o papel da música enquanto meio incontornável de educação, por encerrar valores artísticos, estéticos, emocionais e cognitivos, o Ministério da Educação incluiu, no âmbito da Reforma Educativa, a educação musical obrigatória no sistema de ensino normal. Desde 2011, os mais pequenos aprendem na escola o bê-á-bá da música. Contudo, esta medida não foi acompanhada de um corpo docente qualificado, sendo que, no sistema de monodocência, o professor muitas vezes não tem as qualificações necessárias para ensinar esta disciplina. De acordo com Armando Zibungana, professor de música, este cenário pode dar a entender que todos podem ensinar música, mas, “como todas as outras áreas do saber, é necessário ter base para se poder transmitir”, disse, acrescendo que “pelo facto de as aulas de música

UMA DAS PRIMEIRAS DIFICULDADES SENTIDAS PELOS ALUNOS DO CEARTE É CHEGAR À PRÓPRIA INSTITUIÇÃO, QUE FICA A SENSIVELMENTE 40 MINUTOS A PÉ DA PARAGEM DE TÁXIS MAIS PRÓXIMA. A ZONA DE CAMAMA 2, ONDE O COMPLEXO ESTÁ LOCALIZADO, NÃO É UMA ROTA NORMAL DE TÁXIS, O QUE DIFICULTA BASTANTE A VIDA DE MUITOS ESTUDANTES QUE SAEM DE DIVERSOS PONTOS DA CAPITAL.

irem apenas até à 6ª classe, esses primeiros anos são uma boa altura para se dar bases sólidas aos alunos, independentemente de seguirem ou não a carreira musical”, defendeu. Neste sentido, estão a surgir institutos médios e superiores vocacionados na formação de artistas que amanhã vão ensinar. Um exemplo é o Complexo das Escolas de Arte, ou simplesmente CEARTE, localizado no município de Belas, zona de Camama, em Luanda. O CEARTE foi inaugurado pelo Vice-Presidente da República, Manuel Domingos Vicente, a 5 de Janeiro de 2015. O complexo resultou da unificação das escolas nacionais de música, teatro, dança e artes plásticas. No que diz respeito à Escola Nacional de Música, que no CEARTE foi transformada em Área da Música, os estudantes têm a prerrogativa de escolher especialidades que se resumem


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Sikakuisa Faustino, Professor de Música no CEARTE

a educação musical, que os permitirá dar aulas no futuro, ou a especialidade de intérprete de instrumentos musicais, onde podem escolher instrumentos como a guitarra, o piano, o violino, o violoncelo, o saxofone, a flauta transversal e também a voz para o canto lírico. Mas, sendo o ensino da música em Angola ainda embrionário, os testes de aptidão para o CEARTE não são muito rigorosos. Segundo o professor de teoria da música, David Canga, “a escola faz um esforço para poder, nos primeiros dois anos, do total de quatro, ambientar os alunos às notas musicais

e aos instrumentos, sendo que a maior parte dos discentes toma contacto com os mesmos pela primeira vez dentro do complexo. O objectivo é que todos que não saibam nada de música se enquadrem neste período”, esclareceu. No sector privado, a realidade é similar. Entretanto, o mais importante para estas escolas é a propensão natural do aluno para a música, como fez saber o professor da escola privada Tehila, Armando Zibungana. Para este jovem angolano, formado em Cuba na área da música, “não se ensina o talento”. “Na Tehila fazemos testes para orientar o aluno porque ele pode

querer aprender piano, mas ter dedos pequenos, o que não ajuda muito”. No que toca ao pessoal docente, há uma presença muito forte de professores cubanos. Na escola de música Mimbu, por exemplo, o corpo docente é totalmente cubano. A Mimbu exige que todos os professores sejam, no mínimo, licenciados em música e, geralmente, os cubanos cumprem este requisito. O Complexo das Escolas de Arte conta também com a cooperação de professores cubanos. São, no total, oito professores cubanos que trabalham com os nove nacionais. Entretanto,


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Complexo das Escolas de Arte (CEARTE)

o número de professores, quer nacionais quer estrangeiros, não é suficiente para a necessidade da escola e a metodologia padrão das escolas de música. Segundo explicou à E&M o professor de guitarra, Sikakuisa Faustino, cada aluno tem direito a 45 minutos de aulas práticas individuais. Funcionando o CEARTE apenas no período da manhã, é, de acordo com Sikakuisa Faustino, “desafiante para os professores e para os próprios alunos que, muitas vezes, têm de aguardar longos períodos para ter aulas práticas”. ENTRAVES AO SONHO Uma das primeiras dificuldades sentidas pelos alunos do CEARTE é a de chegar à própria instituição, que fica a sensivelmente 40 minutos a pé

David Canga, Professor de Teoria da Música no CEARTE


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Armando Zibungana, Professor de Música na Escola Tehila

da paragem de táxis mais próxima. A zona de Camama 2, onde o complexo está localizado, não é uma rota normal de táxis, o que dificulta bastante a vida de muitos estudantes que saem de diversos pontos da capital. Esta situação, segundo apurámos, origina muitas desistências. A escola conta com um internato, mas até ao momento não está a ser utilizado. Dispõe também de um refeitório, mas sem comida nem bebidas. Apenas cadeiras. Os estudantes são forçados a levar a própria água e alimentação. Entretanto, o constrangimento maior é mesmo a falta de instrumentos, que além de serem escassos não existe quem os repare quando se danificam ou precisam de uma simples afinação. De acordo com o professor de guitarra do CEARTE,

Miranda Augusto Domingos, “precisa-se de uma loja especializada na venda e reparação de instrumentos musicais”. “As lojas que temos são populares e não respondem à demanda”. No parecer de Miranda Augusto, as escolas deviam formar Luthiers por serem profissionais responsáveis pela reparação e fabricação de instrumentos musicais. Miranda Augusto entristece-se por existirem no Complexo das Escolas de Arte instrumentos em bom estado que não estão a ser utilizados apenas por não haver quem os afine. Por sua vez, David Canga pensa que a formação artística continua exígua pelos preços cobrados na compra dos instrumentos musicais, situação agravada pela falta de manutenção dos mesmos. &


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ADRIANA VIANNA DIAS, DIRECTORA EXECUTIVA DO IDEIA – INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL INTERNACIONAL DE ANGOLA

“NINGUÉM QUER FAZER ONDAS QUANDO O BARCO JÁ ESTÁ A NAVEGAR EM ÁGUAS TURBULENTAS” RESPONSABILIDADES Planeamento, organização, liderança e controlo das actividades do IDEIA. MÁXIMA DE GESTÃO “Planear é definir o futuro da empresa ou projecto, os recursos que serão utilizados, as pessoas que participarão do desenvolvimento do projecto e os caminhos para alcançar os objectivos com sucesso”.

CARREIRA / CURRICULUM VITAE Com experiência acumulada no sector da consultoria, educação e entretenimento, Adriana Dias sempre ocupou posições executivas em vários negócios e mercados onde trabalhou. Entre outros feitos, a gestora idealizou e coordenou a Escola de Economia Criativa da Universidade Positivo, no Brasil, e trabalhou para o SEBRAE, onde foi responsável pelo departamento de planeamento e estratégia.


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ECONOMIA & MERCADO (E&M) - Qual a receita para se ser uma boa gestora, principalmente na conjuntura económica em que nos encontramos? ADRIANA DIAS (AD) - Ter um bom gestor já é essencial para uma empresa quando a economia do país vai bem. Quando há uma crise nacional ela torna-se ainda mais necessária. Diante de um cenário como este que estamos a viver actualmente, o que se espera dos líderes e gestores é que eles possam tomar decisões assertivas e criativas. O melhor caminho é assumir riscos calculados e explorar novas possibilidades, caso contrário as vantagens competitivas serão perdidas rapidamente. E&M - Apesar das dificuldades, as crises são sempre uma oportunidade para os gestores e as empresas. Que lições a actual situação económica do país ensina ou poderá ensinar? AD - Ninguém quer fazer ondas quando o barco já está a navegar em águas turbulentas. Mas as perguntas mais difíceis precisam de ser feitas, particularmente diante de um clima económico desafiador. Elas podem acabar por contribuir para encontrar uma solução. Na área em que o IDEIA actua, que é a formação, é necessário pesquisar e compreender as necessidades dos alunos e do mercado sobre o que percebem como valor agregado, o que poderá ajudar-nos a adaptar melhor os nossos produtos e serviços aos novos tempos. E&M - Como gestora, quais são os grandes desafios que tem pela frente? AD - Ao ser convidada para ser directora de uma instituição de ensino em Angola, e após todas as experiências que adquiri noutros países ao longo dos 20 anos de carreira executiva, deparei-me com a oportunidade dos sonhos, de poder planear o nascimento de um instituto educacional comprometido com a inovação, detentor de uma metodologia moderna. Hoje, o meu maior desafio é comigo mesma, sendo que deixar um legado de formadores está entre uma das minhas maiores metas. Ciente de que as mudanças na educação só irão acontecer quando mudarmos os nossos métodos de aprendizagem, entendo que o meu grande desafio também está em identificar os possíveis limites para o uso de tecnologia na educação e o conteúdo mais apropriado para a formação nesse contexto.

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E&M - Que obstáculos encontra para alcançar essas metas e de que forma os contorna? AD - Existe uma frase que sempre repito: “O mundo já tem muitos hardwares, precisamos de os ocupar produzindo mais software”. Acredito que essa revolução educacional precisa de acontecer a partir de um movimento colaborativo dos recursos intelectuais e conteúdos académicos existentes dentro das instituições. Vejo a participação do IDEIA como uma peça importante dentro desse processo, pois, além de termos uma vasta experiência dentro dessa área, a minha vontade é que possamos ser uma plataforma de conteúdos colaborativos que una as instituições brasileiras e angolanas para a troca e construção de novos conhecimentos. E&M - Que aspectos distinguem o mercado angolano da realidade dos países com quem Angola tem parcerias económicas? AD - Quando falamos em educação no século XXI, procurar diferenças mercadológicas entre os países não passa a ser o grande foco, motivo ou razão para distinguir modelos, estágios ou condições educacionais. Obviamente que existem diferenças evolutivas e até qualitativas entre Angola e alguns de seus parceiros económicos, como Brasil e Portugal, mas talvez isso possa ser até uma vantagem no momento em que o mundo educacional clama por algumas mudanças. Pode ser um privilégio olhar para tudo o que já se fez no mundo e então desenvolver a partir dos melhores conceitos e exemplos. Na verdade, a maioria da população do mundo vive agora em países que acabaram de sair de conflitos armados, que ainda sofrem ou enfrentam grandes contingentes em pobreza extrema. Mesmo em muitos dos países mais ricos do mundo existem milhões de pessoas que vivem em situações de marginalização e violência. Perante estas realidades torna-se compreensível pensar que, para contribuir para a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas, é urgente a necessidade de investimento em programas focados em educação. Isto é certo. Mas é importante entender que uma educação de qualidade é aquela que permite que todos os que necessitam aprendam no momento certo da sua vida e da sociedade, ampliando a auto-estima do indivíduo e auxiliando-o na busca de um eterno crescimento.


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VINHOS

MOSCATEL DE SETÚBAL RESERVA Sebastião Vemba

Não é a quantidade de prémios recebidos que define a qualidade e menos ainda a personalidade de um vinho, mas um vinho com carácter forte e marcante merece dos apreciadores a maior atenção. O Moscatel de Setúbal Reserva da portuguesa Adega Venâncio da Costa Lima é um exemplo que se enquadra neste paradigma, sendo que não só atrai a atenção e o paladar dos bons apreciadores, mas também já conquistou meia dúzia de prémios pelo mundo, como o ouro do Concurso Muscats du Monde 2009. Proveniente de uvas criadas numa região com um terroir (ver caixa) único, o Moscatel de Setúbal Reserva nasce de uma das castas mais aromáticas do mundo, o Moscatel de Setúbal ou Alexandria, originária do Egipto e que se expandiu pelo Mediterrâneo a partir de Alexandria. Aromas à casca e flor de citrinos, a mel, tília, rosa, líchias, pêra, tâmaras e passa de uva são alguns dos mais notáveis e que proporcionam vinhos memoráveis como este Moscatel que estagiou em pipa de carvalho francês durante vários anos e ganhou aromas únicos, resultantes de um estágio prolongado de dois a cinco anos. Antes, este vinho passa por uma curta fermentação em contacto com as películas da uva, este processo é interrompido pela adição de aguardente vínica seleccionada. A seguir, inicia-se o período de maceração durante cinco a seis

O QUE É UM TERROIR? Sem nenhuma tradução ou palavra equivalente numa outra língua, este termo francês significa a relação mais íntima entre o solo e o micro-clima particular, que concebe o nascimento de um tipo de uva e expressa a sua qualidade, tipicidade e identidade num grande vinho. Os elementos que compõem o terroir, como o solo, a topografia da região vitivinícola e o clima, entre outros, desempenham um papel fundamental na produção do vinho, o que torna cada produto único, sem dispensar, entretanto, a intervenção humana que é determinante para uma combinação apropriada dos vários elementos.

meses, conseguindo-se uma extracção total de aromas e sabores. Com uma boca densa, macia, aromática e final de prova doce e prolongado, o Moscatel de Setúbal Reserva da Adega Venâncio da Costa Lima acompanha a doçaria tradicional e deve ser consumido a uma temperatura de 12 a 14ºC. Se o beber sozinho – melhor seria partilhá-lo porque o vinho promove a amizade e a camaradagem – pode consumi-lo em pequenas quantidades durante vários anos, que não se deteriora. &


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“INDEPENDÊNCIA” DE ANGOLA PREMIADA NOS CAMARÕES O documentário angolano “Independência” ganhou recentemente o prémio de “Melhor Documentário” no Festival Internacional de Filmes (Camiff) de 2016, realizado em Maio último nos Camarões. “Independência” é um documentário que aborda o período da luta de libertação de Angola na voz dos seus protagonistas. É uma produção da Associação Tchiweka Documentação (ATD) e da Geração 80 (G80), realizada por Mário Bastos e inserido no Projecto “Angola – Nos Trilhos da Independência”. O DVD “Independência” está actualmente disponível no mercado angolano ou nas instalações da Associação Tchiweka de Documentação ou da Geração 80. O documentário esteve também em concurso na 37ª edição do Festival de Filmes Internacionais de Durban, que decorreu de 16 a 26 de Junho passado. O DIFF (Durban Internacional Film Festival) acontece todos os anos e é palco de uma série de iniciativas de desenvolvimento da indústria cinematográfica. Em Abril deste ano, um ciclo de exibição do “Independência” passou em algumas universidades e outros espaços de Luanda. &

PAULO FLORES APRESENTA “BOLO DE ANIVERSÁRIO” O músico angolano Paulo Flores lançou, em meados de Junho, o seu 15º álbum de carreira intitulado “Bolo de Aniversário”, imperando, ao lado de “temas mais dançantes”, a crítica política e social ao regime de Luanda, cujo “endurecimento da repressão” o surpreende. Em declarações à agência portuguesa Lusa, em vésperas do lançamento do CD em Lisboa, Paulo Flores disse que a nova obra simboliza “o direito das pessoas a celebrarem, a continuarem a ter esperança apesar de todas as dificuldades”, pelo que é “mais festivo” e “mais dançante”. “Bolo de Aniversário” conta com 11 canções, com a participação de quase duas dezenas de músicos, entre angolanos, portugueses, brasileiros, cabo-verdianos e guineenses, e tem, segundo Paulo Flores, “muitas influências do que se tocava no final dos anos 80” vindas do Haiti, Cuba, Congo, algumas kizombas, semba e electro-afro. O músico angolano, natural do Cazenga, Luanda, onde nasceu a 01 de Julho de 1972, já lançou “Kapuete” (1988), “Sassasa” (1990), “Coração Farrapo e Cherry” (1991), “Brincadeira Tem Hora” (1993), “Inocente” (1995), “Perto do Fim” (1998), “Recompasso” (2001), “Quintal do Semba” (2002), “Xé Povo” (2003), “The Best” (2003), “Ao Vivo” (2004), “Excombatentes” (2009), “Ex-combatentes Remix” (2012) e “O País Que Nasceu Meu Pai” (2013). &


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www.economiaemercado.sapo.ao | Julho 2016

AO VOLANTE

O REGRESSO DA LENDA ITALIANA Depois de quase 50 anos desde o seu primeiro lançamento, o Fiat 124 Spider renasce mais atractivo e moderno, mas com vários elementos no design que homenageiam a versão antiga, como o conjunto óptico arredondado, as linhas horizontais que percorrem a carroçaria e a grade estreita. Contudo, e conforme se pode perceber no contacto com os dois modelos, as semelhanças param por aí, já que a geração 2016 do conversível da Fiat é produzida em parceria com a Mazda, tendo como base o chassi e o interior do carro MX-5, da marca japonesa. O modelo oriental emprestou ainda várias outras peças à novidade italiana, como a capota, o pára-brisas e até a central multimédia. E porque o motor é o coração do veículo, a construtora automóvel italiana preferiu ser ela mesma a desenvolvê-lo. Trata-se do propulsor MultiAir 1.4 turbo, que rende 140 CV de potência e 240 Nm (newton metro) de binário máximo, para prestações excelentes e um consumo reduzido. O desempenho pode variar de acordo com o mercado, já que o motor terá ajustes diferentes nas versões para os Estados Unidos e para a Europa. A tracção é traseira, favorecendo a estabilidade do carro, graças à boa distribuição de peso entre os eixos traseiro e dianteiro. Infelizmente, de acordo com a representante da Fiat em Angola, este modelo não será vendido no país.

No seu interior, o Fiat 124 Spider traz os controlos electrónicos de tracção e estabilidade, sistema de barras de segurança para protecção em caso de capotamento e central multimédia com tela de sete polegadas sensível ao toque. O veículo traz ainda sistema de Bluetooth, portas USB e entrada auxiliar.

Constam também da lista de extras do Fiat 124 Spider a câmara traseira, GPS, sistema de som premium, sensores de chuva e crepuscular, entre outros acessórios. O Fiat 124 Spider foi apresentado aos jornalistas em Junho, através de uma web press conference (conferência de imprensa via Internet). &


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| REMATE

MUDANÇA DE PARADIGMA Duas das maiores empresas públicas do país, no caso, a TAAG - Linhas Aéreas de Angola e a Sonangol, conheceram mudanças profundas na sua gestão.

Nuno Fernandes Jornalista Presidente do Conselho Executivo Grupo Executive

A primeira, há um ano, viu a sua gestão ser, na totalidade, entregue a executivos oriundos de um dos maiores colossos da aviação mundial, a companhia Emirates. Com prejuízos acumulados na ordem dos 100 milhões de dólares em 2014, a nova gestão da TAAG, liderada por Peter Hill, de nacionalidade britânica e fundador da Emirates, nomeado Presidente do Conselho de Administração da companhia aérea angolana, propôs-se reverter o quadro financeiro e operacional da empresa em cinco anos, apontando a possibilidade de esta chegar, entre 2019 e 2020, a 100 milhões de dólares positivos. É evidente que o cenário então traçado não conhecia os contornos da actual crise financeira. Foi desenhado numa perspectiva mais animadora, mas há factos que já são visíveis e que contribuirão, certamente, para os objectivos que se pretendem. Há esforços muito fortes na reorganização das contas da empresa e o sector operacional está a conhecer medidas de grande profundidade. Muito recentemente, a operadora angolana obteve o certificado da Operação de Terceiros Países (TCO) que lhe permite voar com todas as suas aeronaves para qualquer destino europeu. Esta certificação resultou de uma inspecção realizada no início do ano pela Agência de Segurança da União Europeia – EASA. A certificação em causa confere aos clientes da TAAG a garantia de que a empresa é gerida com os mais altos padrões de segurança possíveis e permite que figure na lista das companhias aprovadas entre muitas operadoras multinacionais. Foi uma inegável vitória da nova gestão. Por outro lado, na Sonangol, assistimos, no início de Junho, à nomeação de um novo

Conselho de Administração e à alteração substantiva do modelo operacional da maior empresa pública do país. São grandes objectivos a redução de custos e o aumento de lucros e da competitividade. Em última análise, tal como na TAAG, quer aumentar-se a rentabilidade da empresa, no caso, ganhar e gerar dividendos para o accionista. Para tal, quer assegurar-se a transparência na gestão e aplicar-se standards internacionais de report e governance. Ao Conselho de Administração da Sonangol foram chamadas três consultoras de reputação mundial, nomeadamente, a The Boston Consulting Group, a PWC e a Vieira de Almeida & Associados, que o ajudarão na boa execução do programa de reestruturação agora iniciado. Em ambas as empresas percebemos a preocupação em dotar as competentes administrações de capacidade e competência técnica ultrapassando velhos preconceitos que limitavam as nomeações exclusivamente a quadros nacionais. Percebendo o que acontece a nível mundial nas melhores organizações, que reúnem as melhores competências (veja-se o caso da Emirates), o Executivo angolano deverá ter como prioridade a existência de empresas capazes de gerar rentabilidade, e know-how, aliado a fortes critérios e políticas de gestão, é determinante. Só assim seremos capazes de enfrentar com êxito os actuais e futuros desafios. TAAG e Sonangol, empresas estratégicas do país, tinham forçosamente de mudar de rumo. Esperemos que tudo isto signifique uma mudança do paradigma da gestão das empresas públicas do país. Precisamos de boas empresas e não de estruturas para alojarmos interesses pessoais. &


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