D TR IV E A IN ERSSPEC N D IF IA SF Ú ICA L O ST ÇÃ RM R O I A A D O RA Nº146 Novembro 2016 Ano 19
NOVEMBRO 2016 • ANO 19 • Nº 146 • PREÇO • 800Kz
BANCA CRESCIMENTO EM TEMPO DE CRISE
BANCA
ENTREVISTA Com Amílcar Silva, Presidente da ABANC
FONTES DE FINANCIAMENTO Um olhar breve sobre as previsões do OGE
SATISFAÇÃO DO CLIENTE Conheça as principais características do consumidor angolano
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS É hora de acelerar a implementação do Acordo de Paris
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CRESCIMENTO EM TEMPO DE CRISE
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20 SOBRE OS FUNDOS SOBERANOS E A PROMOÇÃO DA CULTURA DE TRANSPARÊNCIA Os fundos soberanos são instrumentos financeiros instituídos por certos países como forma de aplicar e rentabilizar algumas das suas reservas financeiras e, indirectamente, acumular riqueza para as gerações futuras. Em determinados casos, são também instituídos para evitar o sobreaquecimento da economia, fruto do grande fluxo de divisas capaz de provocar a sobrevalorização da moeda local.
50 APESAR DAS ADVERSIDADES, TEMOS PRODUÇÃO NACIONAL O Programa Nacional de Desenvolvimento (PND) elegeu como prioritárias as indústrias de alimentos, bebidas, vestuário, calçado, materiais de construção, materiais metálicos e não metálicos, reciclagem e equipamentos de transportes. Alguns anos depois do lançamento da iniciativa do Executivo, a indústria transformadora angolana continua a apresentar índices de concentração excessiva na produção de bebidas e alimentação, representando mais de 70%, e tal deve-se aos grandes investimentos dos últimos sete anos. O sector chegou a crescer 3% ao ano e era responsável, em 2015, por mais de 15 mil postos directos de trabalho para uma capacidade de produção instalada de quatro milhões e 480 mil litros por dia, de acordo com a Associação das Indústrias de Bebidas de Angola (AIBA).
RADAR 6 CARTOON 10 CONTRAPONTO
OPINIÃO 12 JUSTINO PINTO DE ANDRADE 13 IPSIS VERBIS 14 LUÍS TODO BOM
MACRO 16 SATISFAÇÃO DO CLIENTE 20 ANÁLISE
OPINIÃO 24 J. G. MATOS 25 NÚMEROS EM CONTA
CAPA
66 UM OLHAR BREVE SOBRE AS PREVISÕES DO OGE Não obstante os sinais de abrandamento da nossa economia – já perceptíveis a partir do terceiro trimestre de 2014, com o início da queda do preço do petróleo – ainda assim, o OGE 2015 foi elaborado numa perspectiva optimista, denunciada no Relatório Económico de Angola 2015 elaborado pelo Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (CEIC). Essa perspectiva optimista manteve-se na elaboração do Orçamento Geral do Estado do ano corrente, mas o Governo foi obrigado a revê-lo duas vezes.
26 BANCA 44 ENTREVISTA 49 ESPECIAL INDÚSTRIA
TRANSFORMADORA LÁ FORA 60 ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
MERCADO E FINANÇAS 66 FONTES DE FINANCIAMENTO
SOCIEDADE
26 OBRIGAÇÕES DO ESTADO IMPULSIONAM CRESCIMENTO EM TEMPO DE CRISE Os lucros da banca angolana cresceram 28,4% em 2015, o equivalente a 131,9 mil milhões de kwanzas face ao exercício financeiro de 2014, em que o sector obteve lucros no valor de 102,7 mil milhões kwanzas, informou o jornal “Mercado”. Segundo fontes da Economia & Mercado, nos últimos dois anos, que foram difíceis para a economia tradicional, foi uma aposta fora do core business tradicional que proporcionou ao sector mais lucro, além do facto de, em função da crise actual, ter havido uma gestão mais cuidada dos recursos financeiros e aplicação em áreas mais rentáveis. Em acréscimo, os bancos cortaram “gorduras” em custos operacionais e investiram na qualificação dos recursos humanos.
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O CLIENTE EM PRIMEIRO LUGAR Sebastião Vemba
O sector da banca é o que mais tem registado reclamações de clientes, de acordo com a Associação Angolana dos Direitos do Consumidor (AADIC). Segundo os dados desta instituição, que em 2016 já registou mais de 400 denúncias de violações aos direitos do consumidor contra as 350 registadas no ano passado, desde 2015, os bancos lideram a lista das queixas de clientes, superando o sector da educação, sendo que a maioria das reclamações têm a ver com depósitos e levantamentos de valores monetários. Infelizmente, esta constatação é de todo contraditória com a modernização e eficiência na prestação de serviços e satisfação do cliente que os gestores bancários têm vindo a defender publicamente, sendo que, conforme verá no tema de capa desta edição da Economia & Mercado, a banca não só se modernizou, mas também fez crescer os seus lucros no exercício financeiro de 2015, ano em que cresceu 28,4% em relação a 2014. No entanto, alguns pecados no atendimento ao cliente continuam a ser cometidos pela banca, como também releva o estudo “Cliente Mistério” da Multimétrica, de acordo com o qual ainda se regista uma gritante “ausência de capacidade de venda por parte dos comerciais da banca e os atendimentos comerciais foram mais um prestar de informação, na maior parte dos casos insuficiente, sendo que os comerciais limitavam-se a informar taxas e prazos, não apresentavam outras características e/ou argumentos de venda dos produtos, não transmitiam vantagens competitivas, não aproveitavam a presença dos clientes para apresentar outros produtos do banco e até mesmo não referenciavam a instituição”. Ainda segundo o estudo, que também poderá ler na íntegra no tema de capa, dedicado ao sector bancário, “nota-se uma total
O CLIENTE ESTÁ EM PRIMEIRO LUGAR, MAS, INFELIZMENTE, AINDA POUCOS COMPREENDEM DE QUE FORMA PODEM PROPORCIONAR UMA BOA EXPERIÊNCIA AO CONSUMIDOR COM A MARCA QUE DETÊM, PRODUTO OU EMPRESA ausência de agressividade comercial, porém, bancos com a já referida diferenciação entre o atendimento geral e comercial, mostraram um melhor desempenho, embora a quantidade de clientes nos balcões condicione de forma sintomática a qualidade do atendimento”. O cliente está em primeiro lugar, mas, infelizmente, ainda poucos compreendem de que forma podem proporcionar uma boa experiência ao consumidor com a marca que detêm, produto ou empresa. Para gestores como Tony Dolton, William Boulter ou Rajesh Krishnaswamy, que abordaram a questão sobre a gestão do cliente na última Conferência Costumer Experience Angola, “a satisfação dos clientes é um pressuposto impreterível para o sucesso dos negócios, mas antes é necessário que se invista na qualificação e motivação dos empregados”. Em suma, acreditamos que é nestes dois últimos pressupostos que falta uma maior atenção e investimento financeiro, se necessário, pois um profissional qualificado, motivado e comprometido com o bom nome e sucesso da marca, produto ou empresa, põe a satisfação do cliente no topo da sua agenda, o que na verdade não significa nada mais do que fazer bem o seu trabalho. &
Propriedade Edicenter Publicações, Lda Directora Editorial Ana Filipa Amaro Director Sebastião Vemba - sebastiao.vemba@economiaemercado.com Copy Desk Octaviano Correia - octavianocorreia@gmail.com Conselho Editorial Laurinda Hoygaard; Justino Pinto de Andrade; José Matos; Fernando Pacheco; José Severino Redacção António Piçarra - antonio.picarra@edicenter-angola.com; Edjaíl dos Santos - edjail.santos@economiaemercado.com; José Pedro Correia - josecorreia.edicenter@gmail.com; Patrícia Pinto da Cruz - patricia.cruz@edicenter-angola.com Colaboradores Adão Gil; Gaspar João; João Galhardo; José Matos; Justino Pinto de Andrade; Luís Todo Bom; Nuno Fernandes; Sérgio Piçarra Fotografia Vasco Célio (Editor); Afonso Francisco - afonsofrancisco. edicenter@gmail.com; Carlos Aguiar - carlosdaguiar.edicenter@gmail.com; Isidoro Felismina - isidorosuka@gmail.com Design Ana Nascimento – Executive Paginação Pedro Soares Capa Executive Publicidade geral@edicenter-angola.com Secretariado Aida Chimene Redacção Smart Village Talatona - Zona CS1 - Via AL 19A Talatona, Luanda - Angola Tel.: (244) 222 006 029 Fax: (244) 222 006 032, geral@economiaemercado.com Administração e Publicidade Smart Village Talatona - Zona CS1- Via AL 19A Talatona, Luanda - Angola Tel. (244) 222 011 866 / 867 Fax: (244) 222 006 032 edicenterlda@gmail.com Delegação em Lisboa Iona - Comunicação e Marketing, Lda R. Filipe Folque, 10 J - 2º Dir. - 1050-113 Lisboa Tel. (351) 213 813 566/7/8 Fax: (351) 213 813 569 iona@iona. pt Impressão e Acabamento Damer Gráfica, Luanda - Angola Distribuição Edicenter - Tel: (244) 222 011 866 / 867, Media Nova Distribuição, Greeline, Africana Tiragem 5.000 exemplares Angola - Registo Nº 249/B/99
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O ESTADO DA ECONOMIA ANGOLANA (excertos do discurso do Presidente da República na Assembleia Nacional) “Angola sofre as consequências da crise económica e financeira internacional desde 2008. Mesmo assim, cumpriu mais de metade das metas estabelecidas pelas Nações Unidas nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio até 2015, no que diz respeito a sectores como o emprego formal, o abastecimento de energia e água potável, a saúde e o saneamento do meio, a educação e a formação profissional, entre outros”. “Apesar do agravamento da situação económica do país, provocado pela queda do preço do petróleo, Angola está a lidar com a crise melhor do que outros países. Exemplos disso são a baixa progressiva dos preços dos bens essenciais, da inflação e da taxa de juros, a recuperação da actividade das empresas e dos níveis de emprego”. “A economia não estagnou, apenas perdeu a pujança com que se vinha desenvolvendo por causa da crise actual. Um dos caminhos escolhidos para sairmos dessa crise é a diversificação da economia, que por sinal não é uma ideia nova. (…) Só que não havia condições objectivas no nosso país para avançarmos mais depressa”. “Angola registou também um crescimento apreciável do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do
seu povo, graças, em grande parte, às melhorias verificadas nos domínios sanitário e educacional. O IDH do povo angolano está, por exemplo, acima da média dos países da África Subsaariana”. “O objectivo a que o país aspira é o de pertencer, até 2025, ao Grupo dos Países de Desenvolvimento Humano Elevado. Por essa razão, o Combate à Pobreza é, de facto, uma prioridade do Governo, e tem sido positivo o ritmo da sua redução”. “Em consequência das medidas de regulação macroeconómica que se tem adoptado, verifica-se, nas últimas semanas, uma regressão no mercado informal dos
valores especulativos do dólar e do euro, graças à melhor coordenação da política fiscal, monetária, cambial e de rendimento e preços”. “Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística, a taxa de inflação mensal que, em Julho, estava em cerca de 4%, baixou em Agosto para cerca de 3% e em Setembro para 2,14%, verificando-se assim a baixa dos preços de bens de consumo no mercado e um apreciável aumento do poder de compra dos salários. A nossa meta é conseguir uma taxa de inflação mensal de 1% ou menos”. &
EXPLORAÇÃO DE OURO NA HUÍLA AGUARDA LICENÇA A exploração de ouro na Jamba, província da Huíla, com arranque previsto para 2018, aguarda ainda por uma licença do Governo, revelou à Angop o gestor da Empresa Nacional de Ferros de Angola (Ferrangol), Diamantino Azevedo. De acordo com o responsável, apenas após a obtenção da licença o projecto poderá captar financiamentos, encomendar equipamentos e iniciar a actividade mineira na região da Jamba. “Será uma mina de pequena dimensão”, referiu, mas estudos feitos na concessão indicam que o projecto
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pode evoluir, de forma paulatina, para uma mina de maior tamanho, tendo em conta que o preço dessa matéria-prima permanece estável no mercado internacional. A Empresa Nacional de Ferros de Angola tem como objectivos a prospecção, pesquisa, exploração, tratamento e comercialização de recursos minerais metálicos ferrosos, não ferrosos e preciosos, assim como outros que constituem matéria-prima para a produção de aço. &
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CONTRAPONTO
SEGURO AGRÍCOLA, FINALMENTE… As longas caminhadas começam sempre com um primeiro passo, mas exigem persistência e capacidade de superação para que não fiquemos pelo caminho a lamentar as agruras da vida, muitas delas causadas por nós mesmos. Esta reflexão vem a propósito do recém-criado seguro agrícola, que se afigura como um instrumento de fundamental importância, principalmente numa altura em que o discurso oficial aponta para a promoção da agricultura.
É NECESSÁRIO QUE SE CHAME TAMBÉM A ATENÇÃO PARA O FACTO DE, INFELIZMENTE, HAVER MUITO MAU APROVEITAMENTO DOS RECURSOS PÚBLICOS QUE SE DESTINAM A APOIAR O EMPRESARIADO E A ECONOMIA NACIONAL.
Sebastião Vemba
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Sendo assim, a criação do seguro agrícola vem trazer alguma esperança a quem investe esforços, físicos e financeiros, para que tenhamos alguma produção “Made in Angola”, embora ainda sejamos dependentes do exterior para adquirir sementes e fertilizantes que, devido à crise “que estamos com ela”, a determinada altura escasseiam e, como não há as tão desejadas divisas, deixamos de consumir o que é nosso, da nossa terra e feito com as nossas mãos. Entretanto, de acordo com uma notícia veiculada pelo Valor Económico, o seguro agrícola é para valer e já foram seleccionadas províncias e fazendas para integrar o projecto-piloto, nomeadamente a Huíla, Benguela, Kwanza Sul, Malange e Bié. Por agora, os seguros vão cobrir apenas três culturas, nomeadamente a batata, o milho e o feijão, mas poderá ser alargado nas próximas campanhas, segundo prometem os seus promotores. De resto, a cobertura de outras culturas agrícolas em próximas campanhas será fundamental, principalmente para o caso dos produtos mais consumidos no país, de modo a que se possa contrapor a importação dos mesmos com a produção nacional, mas na quantidade e qualidade exigidas. Sabe-se que nesta primeira fase estão envolvidas no programa-piloto a ENSA, a Confiança Seguros, a Mundial Seguros, a Nossa Seguros, a Global Seguros e a Saham Angola Seguros. Porém, chama-nos a atenção, mais uma vez, o facto de o Estado assumir 40%
dos riscos, sendo o resto da responsabilidade do produtor. Para Aguinaldo Jaime, “o seguro agrícola não dispensa a participação do Estado por conta dos grandes riscos que os agricultores enfrentam, como a seca, a desertificação e as pragas, o que torna as despesas exorbitantes”. Aliás, pelos vistos, esta garantia pública terá sido, para as seguradoras, uma condição inegociável para se juntarem à iniciativa. Segundo argumentam, ao contrário do que tem ocorrido com os seguros de saúde e automóvel, principalmente, o seguro agrícola não pode ser marginalizado, já que o país tem um plano de desenvolvimento com o qual se pretende diversificar a economia. Até aqui estamos de acordo. Entretanto, é necessário que se chame também a atenção para o facto de, infelizmente, haver muito mau aproveitamento dos recursos públicos que se destinam a apoiar o empresariado e a economia nacional. Temos o Angola Investe, projecto ao qual os bancos aderiram em função da bonificação das taxas de juro, mas foram cometidas muitas falhas e não tem faltado troca de farpas entre a banca e o empresariado nacional. Os segundos queixam-se da falta de financiamento e a primeira, por sua vez, afirma que os empresários nem sempre têm planos de negócio credíveis e consistentes. E assim andou a economia nacional nos últimos anos, que pouco se diversificou em termos sectoriais, nos discursos e na actuação de quem gere ou recebe dinheiro público (ou privado) para criar valor acrescentado. &
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DUAS FIGURAS MUITO POLÉMICAS Tenho centrado a minha atenção nos discursos e em outras intervenções públicas de algumas figuras que vão fazendo as principais manchetes na imprensa internacional. Com impactos mediáticos distintos, sobretudo pela importância global dos seus países, elas colocam-se sob olhares curiosos e incrédulos. Por economia de espaço, elejo duas figuras: no continente americano, Donald Trump, candidato republicano à presidência dos EUA; e na Ásia, Rodrigo Duterte, Presidente das Filipinas. COM A VISÃO DESFOCADA, TRUMP DESVALORIZOU A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES TRANSATLÂNTICAS, PROPONDO ALGUMA CONTENÇÃO NA ABERTURA DA AMÉRICA À EUROPA. POR FIM, ACENOU COM SORRISOS BENEVOLENTES PARA OS ESTADOS POR QUEM OS AMERICANOS NÃO NUTREM MUITA OU MESMO NENHUMA SIMPATIA: A RÚSSIA E A COREIA DO NORTE.
Justino Pinto de Andrade Economista
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O candidato republicano à presidência norte-americana fez questão de emergir no espaço mediático como o típico “antissistema”, desligado dos tráficos de influências que perpassam a sociedade política dos EUA. Ele será, pois, a figura do rico que se fez à custa da sua capacidade empreendedora, criador de riqueza, aproveitador das melhores oportunidades. Com a sua experiência pessoal, seria a pessoa adequada para criar as condições para que todos possam também ser ricos, bastando, para tal, espírito criativo e poder de iniciativa. Na sua estratégia mal desenhada, penso eu, decidiu eleger como “inimigos de estimação” os emigrantes latino-americanos, em especial, os provenientes do México. Esqueceu-se, porém, que hoje, para alguém ganhar as eleições norte-americanas tem que ter do seu lado uma boa parte do eleitorado branco, sem, porém, prescindir do apoio de uma larga fatia do eleitorado latino-americano, já com cerca de 17% do total. Donald Trump desvalorizou, igualmente, o peso específico do eleitorado afro-americano, pesando cerca de 12% do total. Opôs-se ainda ao alargamento do espaço económico do continente norte-americano, a NAFTA. Fechou-se na redoma de um nacionalismo estreito, incompatível com a mundialização em curso em todas as esferas da vida. Com a visão desfocada, Trump desvalorizou a importância das relações transatlânticas, propondo alguma contenção na abertura da América à Europa. Por fim, acenou com sorrisos benevolentes para os estados por quem os americanos não nutrem muita ou mesmo nenhuma simpatia: a Rússia e a Coreia do Norte.
Fica, assim, claro que se trata de um candidato imprevisível, sobretudo, porque deixou também transparecer que poderá fazer uso dos meios bélicos mais perigosos para fazer valer a sua vontade. Este é, pois, um candidato que pode fazer todos nós recuar a uma Era que não deixa saudades: de discriminação, exclusão social, sexismo na sua versão mais abjecta, pois mostrou desvalorizar a igualdade dos gêneros. Na Ásia, o actual Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, “faz as honras da casa”, contemplando o mundo com discursos cada vez mais aberrantes e pouco usuais na política internacional. Nas suas intervenções públicas, faz questão de fazer “tábua rasa” aos modernos preceitos dos direitos humanos e elege os EUA como o seu “inimigo de estimação”, socorrendo-se, inclusive, de linguagem inapropriada e mesmo até insultuosa contra o actual Presidente norte-americano. Desde que Rodrigo Duterte subiu ao poder, em meados deste ano, saldam-se já em mais de 3 000 as execuções extrajudiciais de indivíduos conotados com o tráfico de drogas. Diz, inclusive, que gostaria de “fazer desaparecer” os cerca de 3 milhões de drogados que existem no seu país. O exemplo que escolheu para “resolver o problema” foi ressuscitar a figura de Hitler na Alemanha nazi, de triste sina… Penso que Rodrigo Duterte, que tem forte apoio popular, vai ter que rever a sua lógica, sob pena de “matar” a democracia nas Filipinas. Não tenho dúvidas de que, se for necessário, usará métodos similares de “resolução do problema” com os seus adversários políticos. &
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IPSIS VERBIS ISMAEL MATEUS IN NOVO JORNAL
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“APESAR DE TODOS OS ALERTAS DOS ESPECIALISTAS, O GOVERNO CONTINUA NOS DIVERSOS SECTORES, E EM PARTICULAR NA AGRICULTURA, A TOMAR MEDIDAS PARA A TV. MAIS DO QUE PENSAR O PAÍS, O IMPORTANTE É PROJECTAR UMA IMAGEM DE LINDOS TRACTORES EM CAMPOS VERDES, LINDOS PIVOTS REGANDO O MILHO, LINDAS IMAGENS, TODAS DE PRODUTOS BONITOS, CAROS E MODERNOS À VENDA NO CANDANDO E NO KERO”.
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PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS E CONCESSÕES COMO INSTRUMENTOS DE DESENVOLVIMENTO As parcerias público-privadas e as concessões constituem instrumentos de desenvolvimento económico dos países e são utilizadas em diferentes estádios de maturidade económica dos mesmos.
A GESTÃO PRIVADA DESTAS UNIDADES, SENDO EXERCIDA POR ENTIDADES INTERNACIONAIS COM GRANDE EXPERIÊNCIA E CONHECIMENTO DETALHADO DE GESTÃO DESTE TIPO DE UNIDADES, EM CADA SECTOR DE ACTIVIDADE, FUNCIONA COMO UMA ESCOLA DE GESTÃO PARA OS QUADROS NACIONAIS, QUE FICARÃO APTOS PARA AS GERIR COM EFICIÊNCIA E COMPETÊNCIA AO FIM DE ALGUNS ANOS.
Luís Todo Bom Professor Associado Convidado do ISCTE (Lisboa); Presidente do C.A. da Multitel (Angola)
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Nas parcerias público-privadas uma entidade pública e uma entidade privada associam-se para a construção, financiamento e operação de uma determinada infra-estrutura económica, competindo à entidade pública a garantia da qualidade do serviço prestado e do financiamento contraído, e à entidade privada, o projecto, negociação do financiamento, operação e gestão da unidade produtiva. Nas concessões, o Estado, directamente ou através de uma entidade pública, entrega, em regime de concessão, por um período de tempo determinado e com uma contrapartida financeira adequada, a exploração de um determinado serviço, revertendo para o Estado, no final da concessão, todos os activos ligados a esse empreendimento. Em Portugal, e em vários países europeus, existem inúmeras situações de parcerias público-privadas e de concessões, em domínios de actividade tão distintos como estradas, ferrovias, portos, aeroportos, hospitais, energia, telecomunicações, águas, resíduos e até museus. Acresça-se que alguns países da América Latina, em particular o Brasil, adoptaram também estes modelos de construção, financiamento e operação de várias infra-estruturas, essenciais para o desenvolvimento dos seus países. Na actual fase de desenvolvimento económico e empresarial de Angola, considero que estes instrumentos podem constituir uma alavanca importante para acelerar o crescimento e robustecimento técnico, económico e financeiro de alguns sectores essenciais para o desenvolvimento do país. Nas situações em que a remuneração pelos serviços prestados – Energia, Telecomunicações, Portos, Aeroportos, Águas, Resíduos, Rodovias e
Ferrovias – seja suficiente para fazer face à dívida bancária, é possível atrair capital estrangeiro para a sua implementação, reduzindo, desse modo, as necessidades de financiamento do próprio Estado. Com a enorme vantagem de o Estado continuar a ser o detentor de todo este património infra-estrutural, já que reverterá para a sua posse integral, no final do período de concessão ou de vigência da parceria. Recordo que em Portugal os TLP – Telefones de Lisboa e Porto nasceram como uma concessão de uma empresa inglesa, tendo transitado para o Estado só em 1968, data em que foi criada a Empresa Pública TLP, e constituído, a partir dessa data, a base para a criação e consolidação de um sector de telecomunicações português, evoluído e com capacidade tecnológica e de internacionalização. Acresce, ainda, que a gestão privada destas unidades, sendo exercida por entidades internacionais com grande experiência e conhecimento detalhado de gestão deste tipo de unidades, em cada sector de actividade, funciona como uma escola de gestão para os quadros nacionais, que ficarão aptos para as gerir com eficiência e competência ao fim de alguns anos. Ou seja, o sector empresarial privado angolano iniciaria, deste modo, uma aprendizagem das melhores práticas internacionais para a gestão de unidades complexas, podendo vir a substituir, no futuro, as empresas concessionárias estrangeiras. Espero sinceramente que as autoridades angolanas analisem estas alternativas de investimento e desenvolvimento económico, sem receios de ordem financeira ou política, já que podemos encontrar exemplos de sucesso destes modelos em diferentes regimes políticos. &
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ESTRELA DA FLORESTA BRILHA NO PLANALTO CENTRAL A empresa Estrela da Floresta, ligada ao sector florestal, deu início à comercialização de madeira proveniente das suas plantações de eucaliptos no Planalto Central, após a assinatura dos primeiros contratos com os seus clientes, no passado mês de Setembro. A Estrela da Floresta dispõe de mais de 80 mil hectares de plantações e uma área de terreno adicional naquela região, para desenvolver plantações de fibra de madeira em grande escala. Essas plantações poderão permitir o estabelecimento de indústrias de transformação de madeira na área,
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contribuir para a criação de empregos no sector industrial e de um cluster do sector florestal, segundo José Maria Evangelista, executivo da empresa. José Evangelista promete trabalhar em conjunto com parceiros locais, incluindo o Instituto de Desenvolvimento Florestal, no sentido de proporcionar às comunidades locais oportunidades de subsistência, melhorar os negócios dos parceiros comerciais, reduzir os resíduos de madeira e facilitar a disponibilidade da madeira para o mercado interno. A Estrela da Floresta lançou uma campanha de recrutamento de guardas
florestais para 50 postos de trabalho, assim como de três gestores (Gestor de Relação com a Comunidade, Gestor de Planeamento e Gestor Comercial) para gerir as suas operações no Huambo. Além da abertura oficial de um escritório no Huambo, a empresa pretende inaugurar um segundo escritório subsidiário no Lobito. A Estrela da Floresta pretende também ser certificada pelo Forest Stewardship Council (organização dedicada à promoção da boa gestão das florestas em todo o mundo). &
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SATISFAÇÃO DO CLIENTE
CONHEÇA AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO CONSUMIDOR ANGOLANO O consumidor angolano mudou. Ou melhor, não pára de mudar e de exigir mais e melhores serviços. Hoje, 63% dos angolanos acede à Internet, 60,3% ainda faz compras em mercado, mas 55,8% da população já visita os supermercados, de acordo com o mais recente estudo Customer Experience Angola (CEA), da Mira. O mesmo ainda avança que 58,4% das pessoas com acesso à Internet recorre a esta ferramenta com frequência. Conheça mais características do consumidor angolano.
Pouco mais de 21,4% da população angolana está desempregada, ao passo que 20,3% trabalha por conta de outrem e 29,5% é estudante ou trabalhador estudante, revela o estudo da Mira, empresa do grupo Ucall sobre o consumidor angolano, apresentado recentemente em Luanda. O estudo teve uma abrangência nacional, sendo que Luanda representa 44,1% da amostra, seguida de Benguela (8,7%), Huambo (5,4%), Huíla (4,9%) e Kwanza Sul, com 4,3% da amostra. Dos indivíduos contactados, 51,7% são mulheres, contra 48,3% indivíduos do sexo masculino. Do total de inquiridos, 19,3% tem idade compreendida entre os 15 e os 19 anos e 18,7% são indivíduos com mais de 45 anos. Entretanto, a população com idade entre os 20 e os 24 representa 16,9% dos entrevistados e Texto: Sebastião Vemba Fotografia: Carlos Aguiar
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EM LUANDA, A SHOPRITE É VISITADA POR
60,9%
DOS INQUIRIDOS, CONTRA 57,9% DA POPULAÇÃO QUE VISITA O KERO. A LOCALIZAÇÃO AINDA É O FACTOR QUE MAIS PESA NA ESCOLHA DO LOCAL DE COMPRAS, COM 44,3%, MAS LOGO A SEGUIR APARECEM FACTORES COMO O PREÇO BAIXO E A VARIEDADE DE PRODUTOS, COM 38% E 11,1%, RESPECTIVAMENTE.
os indivíduos com 25 a 29 representam 15,4% das pessoas contactadas pelos pesquisadores. Relativamente ao sector da distribuição, o estudo Customer Experience Angola 2016 revela que 60,3% dos consumidores angolanos ainda recorre ao mercado para fazer compras, mas 55,8% da população já faz compras nos supermercados, 23,2% recorre aos armazéns e 20,1% faz compras em cantinas. Quanto às superfícies comerciais mais visitadas, a Shoprite domina com 64,2%, seguida do Kero (41%), Nosso Super (30,5%), Maxi (14,7%) e Alimenta Angola (10,1%). Saliente-se ainda que, em Luanda, a Shoprite é visitada por 60,9% dos inquiridos, contra 57,9% da população que visita o Kero. A localização ainda é o factor que mais pesa na escolha do local de compras, com 44,3%, mas logo a seguir aparecem factores como o preço baixo e a variedade de produtos,
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SOBRE O ESTUDO CEA 2016 Contrariamente à primeira edição, apresentada no ano passado, o Customer Experience Angola 2016 é um estudo de âmbito nacional que visa conhecer alguns hábitos e opiniões dos angolanos. A pesquisa foi realizada através de contacto telefónico móvel pelo facto de, em Angola, a penetração da rede fixa ser praticamente inexistente, uma característica transversal em todo o continente africano, argumentam os pesquisadores. Os mesmos apontam, entretanto, a ubiquidade do telemóvel como uma vantagem usada a favor da pesquisa. No total, foram feitas 10 000 entrevistas telefónicas nas 18 províncias do país, em zonas urbanas, a indivíduos de 15 e mais anos de idade. O estudo é produzido pela Market Intelligence Research Angola (Mira), do grupo Ucall, dirigida por Filipa Oliveira, que traz uma vasta experiência em estudos de mercado e conhecimento sobre o consumidor angolano.
William Boulter, Administrador para a Área Comercial da TAAG
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Cláudio Macatrão, pesquisador da Mira
Tony Dolton, PCA da Unitel
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com 38% e 11,1%, respectivamente. Já a qualidade dos produtos pesa apenas 6,8% na escolha do local de compras e o 58,4% atendimento 6,1%.
INTERNET PENETRAÇÃO (N=10002) ACEDE À INTERNET
NÃO ACEDE ACEDE À INTERNET À INTERNET
63%
ACEDE FREQUENTEMENTE
36.9% ACEDE 63% FREQUENTEMENTE
58,4%
36.9%
NÃO ACEDE À INTERNET
ACEDE À INTERNET
63%
ACEDE FREQUENTEMENTE
58,4%
CONTEÚDO MAIS 36.9%USADO NO ACESSO À INTERNET NÃO ACEDE À INTERNET
64.9%
REDES SOCIAIS
50.1% 64.9%
PESQUISA REDES SOCIAIS TRABALHOS ESCOLARES/FACULDADE
33% 50.1% 22.2% 64.9% 33% 83% 50.1% 9.9% APLICAÇÕES DE CONVERSAÇÃO TRABALHOS ESCOLARES/FACULDADE 22.2% 33% DOWNLOADS 6% 83%33% APLICAÇÕES DE CONVERSAÇÃO 22.2% NOTÍCIAS 9.9% 83% NOTÍCIAS MÚSICAS 9.9% 4.8% DOWNLOADS 33%73% DOWNLOADS 33% 6%6% EMAIL 4.6% MÚSICAS 4.8% MÚSICAS 4.8% 73% 73% VÍDEOS/YOUTUBE 3.7% EMAIL 4.6% EMAIL 4.6% VÍDEOS/YOUTUBE 3.7%
PESQUISA APLICAÇÕES DE CONVERSAÇÃO REDES SOCIAIS TRABALHOS ESCOLARES/FACULDADE PESQUISA NOTÍCIAS
VÍDEOS/YOUTUBE
3.7%
DISPOSITIVO USADO PARA ACESSO À INTERNET
COMPUTADOR
14,3% SMARTPHONE
82,8%
COMPUTADOR
14,3% COMPUTADOR
SMARTPHONE Fonte: Estudo Costumer Experience Angola 2016
82,8% SMARTPHONE
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14,3%
TABLET
4,3%
CONSUMIDORES QUEREM MAIS QUALIDADE NAS TELECOMUNICAÇÕES 10,7% dos consumidores angolanos considera que a qualidade de atendimento da Movicel é muito má, ao passo que 28,6 classifica esse serviço da operadora como sendo mau. 41% acha que a qualidade de atendimento é boa e apenas 16,8% a considera muito boa. Em relação à Unitel, 0,6% dos consumidores considera muito má a qualidade do atendimento, 3,4% acha que é má, 57,4% considera boa e 38,2% classificou-a como muito boa. Quanto à televisão por satélite, o estudo revela que a Zap lidera com 80,2% e a DSTV é subscrita por 40,8% da população. No total, 79% da população tem TV paga, sendo Luanda e Benguela as cidades com mais assinantes. Na capital, 85,7% da população tem TV por satélite, enquanto em Benguela 79,3% dos inquiridos respondeu ter TV paga. A penetração da Internet no país também aumentou. Actualmente, 63% da população tem acesso à Internet, com a população mais jovem a representar a grande maioria, nomeadamente, 86% dos indivíduos com 15 a 19 anos, seguidos pelas pessoas com idade entre os 20 e 24 (83,7%). No entanto, apenas 28% das pessoas com mais de 45 anos têm acesso à Internet. Relativamente à cidade, Luanda tem 67,4% da sua população com acesso à Internet, seguida de Benguela com 64%. Actualmente, o call center ainda é o canal mais usado pelos consumidores para contactar as operadoras, com 46,5% para a Zap e 47% para a DSTV, mas os pesquisadores alertam que num TABLET
4,3% TABLET
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futuro próximo outros canais vão ganhar importância, nomeadamente o Facebook – hoje representa 3% dos canais de contacto da Zap e 3,6% dos canais de contacto da DSTV – e o WhatsApp. Além do call center, o recurso ao e-mail, SMS e às lojas físicas são outros dos canais mais usados pelos consumidores para contactar as operadoras. INVESTIR NOS EMPREGADOS PARA MELHOR SERVIR OS CLIENTES Os principais oradores da conferência CEA 2016 defenderam que a satisfação dos clientes é um pressuposto
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impreterível para o sucesso dos negócios, mas antes é necessário que se invista na qualificação e motivação dos empregados. Segundo Tony Dolton, PCA da Unitel, a satisfação do cliente não tem a ver com factos, mas, acima de tudo, com sentimentos, com aquilo que os clientes pensam da empresa em questão. Para o gestor, é fundamental que se acompanhe o percurso do cliente em relação à empresa. Na mesma linha de pensamento, Rajesh Krishnaswamy, director de Estratégia da Oracle para o Médio Oriente, afirmou que “não são as empresas mais fortes que sobrevivem,
nem as mais inteligentes, mas sim as que mais rapidamente respondem às mudanças de comportamento dos clientes”. Por sua vez, William Boulter, Administrador para a Área Comercial da TAAG - Linhas Aéreas Angolanas, reforçou a necessidade de se ouvir mais o cliente. “O comentário do cliente é conhecimento. Gosto das reclamações do cliente”, referiu durante a sua intervenção, onde relevou a experiência da empresa de vendas pelo call center, mas admitiu que a TAAG ainda tem um longo percurso a fazer no que diz respeito à satisfação do cliente. &
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ANÁLISE
SOBRE OS FUNDOS SOBERANOS E A PROMOÇÃO DA CULTURA DA TRANSPARÊNCIA Os fundos soberanos são instrumentos financeiros instituídos por certos países como forma de aplicar e rentabilizar algumas das suas reservas financeiras e, indirectamente, acumular riqueza para as gerações futuras. Em determinados casos, são também instituídos para evitar o sobreaquecimento da economia, fruto do grande fluxo de divisas capaz de provocar a sobrevalorização da moeda local.
Recentemente, passaram a “pairar algumas nuvens” sobre a gestão do Fundo Soberano de Angola, pondo em causa a actividade desenvolvida sob responsabilidade de José Filomeno dos Santos (Zenu), filho do Presidente da República. E as suspeitas adensam-se ainda mais, pois “Zenu” estará secundado por certas figuras do mundo dos negócios não muito confiáveis, um dos quais um indivíduo de nacionalidade suíça que, por sua vez, se articula com um alemão, Ernest Welteke, que já foi responsável do Banco Central alemão. De acordo com informações tornadas públicas – não confirmadas pelo Estado –, em 2013, através de uma off-shore denominada Renfin, sedeada Texto: Justino Pinto de Andrade Fotografia: DR e iStockphoto
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nas Caraíbas, nas Ilhas Virgens Britânicas, o Fundo Soberano de Angola terá feito várias transferências de dinheiro para obter participação no capital de um pequeno banco russo, o Banco Center-Invest, sendo aí representado precisamente por Ernest Welteke. A imagem internacional desse banco russo não é das mais favoráveis. De tal modo que a Moody´s, uma “agência internacional de rating”, atribui-lhe a cotação de “extremamente especulativo”, significando que, de um momento para o outro, o dinheiro aí colocado pode “voar”… Nos últimos dias, o rosto do nosso Fundo Soberano ficou ainda mais maculado, com a saída de uma notícia segundo a qual, nos dois
últimos anos, teria tido perdas financeiras estimadas em 486 milhões de dólares norte-americanos. Recordo que, na altura da sua instituição, terá sido cabimentado com 5 000 milhões de dólares, reforçados posteriormente com mais 46 milhões. Como forma de atenuar dúvidas e afastar “fantasmas”, o PCA do Fundo Soberano de Angola decidiu prestar esclarecimento público sobre os rumos do Fundo, através de uma nota de imprensa datada de 19 de Setembro deste ano, na qual refere que, nessa data, o valor dos activos do Fundo estariam avaliados em 4,56 mil milhões de dólares, explicando também a alocação desses activos, vindo assim a dar suporte à informação segundo a qual teriam “sumido” os tais
486 milhões de dólares. Sobressai na referida nota de imprensa o modo como estão a ser aplicados os seus recursos, assim como a ausência de dados definitivos, alegadamente porque o mesmo estará em processo de auditoria. De qualquer forma, parece demasiado arriscada a estratégia de aplicação de alguns dos seus recursos, em áreas de actividade de baixa rentabilidade e de alto risco, assim como a dissipação de outros recursos por esferas de acção e por países caracterizados por conhecida instabilidade política e social. Acresce-se a isso a pouco dissimulada intenção de, por via de alguns investimentos no exterior, sobretudo na África Subsaariana, estabelecerem-se “links” que venham a
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À esquerda, José Filomeno dos Santos, PCA do Fundo Soberano de Angola
Nos últimos dias, o rosto do nosso Fundo Soberano ficou ainda mais maculado, com a saída de uma notícia segundo a qual, nos dois últimos anos, teria tido perdas financeiras estimadas em 486 milhões de dólares. Recordo que, na altura da sua instituição, terá sido cabimentado com 5 000 milhões, reforçados posteriormente com mais 46 milhões. resultar na criação de mais “cumplicidades”, ou no reforço de outras já existentes. PORQUE NÃO SEGUIR AS MELHORES PRÁTICAS? Por norma, têm sido os países com excedentes financeiros provenientes da venda de recursos minerais, especialmente petróleo, ou de royalties directamente ligados a actividades decorrentes da exploração desses recursos, que optam por constituir
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fundos soberanos. Mas há também fundos soberanos alimentados pelos superávites na conta-corrente da balança de pagamentos, tal é o caso de fundos soberanos de alguns países asiáticos, tais como a China (com vários fundos soberanos, o maior dos quais o China Investment Corporation – não alimentado pelos ganhos do petróleo, uma vez que este país é um importador líquido de petróleo. É o China Investment Corporation que se encarrega da gestão de parte
das reservas cambiais do Banco Popular da China). Outros importantes fundos alimentados pelos excedentes da conta-corrente são o do Abu Dhabi e o da Singapura. Segundo o Sovereign Wealth Fund Institute, 18 dos 20 maiores fundos soberanos do mundo estão sediados precisamente nas regiões do Médio Oriente e Ásia-Pacífico, muitos dos quais são utilizados pelos seus detentores para a aquisição de participações em empresas
estrangeiras, geralmente com objectivos financeiros e também estratégicos. Este facto tem levado alguns países industrializados a baterem-se para que sejam aperfeiçoados os mecanismos de controlo dos fundos soberanos, por via do estabelecimento de um “código de boas práticas”, para os tornar mais transparentes e mais previsíveis. Foi precisamente o colapso do Lehmon Brothers e o estoiro da bolha imobiliária nos EUA, em 2008, que despoletou o alerta
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Até há pouco tempo, o Fundo Soberano da Noruega era o maior do mundo
sobre algumas das práticas incorrectas de certos fundos soberanos. O Fundo Soberano da Noruega foi até há pouco tempo o maior do mundo (e é tido como o que é gerido com maior transparência), seguido do Abu Dhabi, Singapura (com dois fundos), Arábia Saudita, Kuwait, China, Rússia, Canadá, Austrália, Catar, EUA (Alaska Permanent Fund). Porém, recentemente, a Arábia Saudita anunciou a intenção de constituir o maior Fundo Soberano do mundo, a partir dos resultados da venda de uma pequena parcela da sua petrolífera, ARAMCO, um fundo com activos 2,5 vezes superiores aos detidos pelo fundo soberano da Noruega. O volume de activos desse novo Fundo Soberano da Arábia Saudita é tão grande que, de acordo com palavras do príncipe-herdeiro do reino, Mohammad bin Salman –
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que preside o Conselho dos Assuntos Económicos, órgão que supervisiona a Saudi Aramco – “irá controlar mais de 10% da capacidade de investimento do mundo”, com o volume dos seus activos a representar 3% dos activos existentes. Pensa, assim, o reino saudita reduzir a presente dependência em relação ao petróleo, cifrada em 70%, um facto que, reconhecidamente, vem travando o desenvolvimento de outros sectores da sua economia. O Sovereign Wealth Fund Institute preocupa-se fundamentalmente com a questão da transparência na gestão dos fundos soberanos, tendo, para tal, definido um índice de transparência no qual atribui a nota máxima (10) precisamente ao Fundo Soberano da Noruega. O mesmo não sucede, porém, com o fundo do Abu Dhabi que, num intervalo de 1 a 10,
Segundo o Sovereign Wealth Fund Institute, 18 dos 20 maiores fundos soberanos do mundo estão sediados nas regiões do Médio Oriente e Ásia-Pacífico, muitos dos quais são utilizados pelos seus detentores para a aquisição de participações em empresas estrangeiras, geralmente com objectivos financeiros e também estratégicos. fica apenas com a cotação 6, a mesma cotação atribuída ao Kuwait Investment Authority, ou com o SAMA Foreign Hojdings, também da Arábia Saudita, classificado com nota 4. O rigor da transparência do Fundo Soberano da Noruega chega ao ponto de ter recentemente ameaçado retirar o seu capital da Petrobras, o gigante petrolífero brasileiro envolvido num enorme escândalo de corrupção. O Fundo norueguês detinha, em 2014, 0,61% do capital da Petrobras, na altura, equivalente a 297 milhões de dólares norte-americanos. O Fundo Soberano norueguês está também impedido, por norma, de se envolver com empresas culpadas de violação dos direitos humanos; que fabriquem armas “particularmente desumanas”; ou que produzam tabaco,
tais como a Philip Morris International, Boeing, AirBus Group ou a BAT – British American Tobaco. Criado há 18 anos, os seus ganhos financeiros anualizados foram de 5,7%. Porém, contabilizando os seus custos de gestão, bem como os impactos da inflação, então, os seus ganhos financeiros anualizados atingem os 3,6%. De um modo geral, os grandes fundos soberanos aplicam parte dos seus capitais em grandes empresas, estando, por isso, sujeitos às contingências ocorridas no mercado internacional. Por isso, e numa clara estratégia de diversificação do risco, o fundo da Noruega decidiu investir também em alguns dos chamados mercados pré-emergentes, ditos mercados fronteira, tais como o Quénia, o Paquistão, a Zâmbia, a Tunísia, a Nigéria, de maior risco, mas com potenciais retornos elevados. &
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| OPINIÃO
ÍNDICES DE PREÇOS Por vezes ouvem-se vozes a questionar o Índice de Preços no Consumidor (IPC) publicado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), alegando-se que o mesmo não traduz a realidade, o que denota alguma falta de conhecimento sobre como se mede a inflação. Num ano em que a inflação volta a atingir valores preocupantes, trago aqui o tema da medição da mesma para uma pequena reflexão.
EM ANGOLA, A EXEMPLO DO QUE SE PRATICA EM OUTRAS GEOGRAFIAS, DEVÍAMOS TER AINDA UM OUTRO TIPO DE SEGREGAÇÃO DO IPC, DE MODO A PASSAR A DISPOR DE UM ÍNDICE DE PREÇOS REFERENTE À CESTA BÁSICA. ISSO PERMITIRIA LEITURAS DIFERENTES DA INFLAÇÃO E, SOBRETUDO, DAVA AO EXECUTIVO UM INSTRUMENTO MAIS RIGOROSO PARA MONITORIZAR AS POLÍTICAS SOCIAIS ORIENTADAS PARA A MITIGAÇÃO DO CUSTO DE VIDA DAS POPULAÇÕES MAIS CARENCIADAS.
José Gualberto Matos Engenheiro
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A medição da inflação é feita utilizando os chamados índices de preços. A construção dos índices de preços utiliza o conceito de número índice ou apenas índice, que é um instrumento que os estatísticos criaram para representar e estudar as variações sofridas por uma variável ou conjunto de variáveis. A ideia subjacente à lógica dos números índices é de que as variações representadas por um índice se tornam mais intuitivas e cómodas de examinar se forem referenciadas a uma mesma base. Quando tomamos como base o valor 100 para o mês zero de uma série de preços mensais de um produto, passamos a ter um índice dos preços desse produto. Por exemplo, no mês zero 100, no mês 1, 103, no mês 2, 104 e por aí em diante. Esta representação de base 100 permite-nos “ver” de uma forma rápida e intuitiva a variação percentual dos preços. Se num determinado mês o índice de preços é de 135, quer dizer que em relação ao mês zero, a variação percentual foi de 35%. Podemos ter índices de preços por produto tomados individualmente. Mas no geral torna-se necessário dispor de índices que por si só representem a evolução dos preços de vários produtos tomados em conjunto. Nesse caso, o índice designa-se por índice agregado. Para construir um índice agregado é necessário utilizar ponderadores. A disciplina de Estatística estuda os métodos de construção desses índices. O índice de preços é, pois, um número índice utilizado para medir a evolução geral dos preços, num dado mercado, de um produto
ou serviço, ou de um conjunto de produtos ou serviços considerados de forma agregada. Trata-se de um indicador de conjuntura que permite acompanhar a trajectória temporal dos preços de um conjunto de bens e serviços considerados representativos de uma estrutura de consumo, de um ou vários estratos populacionais numa determinada região. O Instituto Nacional de Estatística (INE) publica mensalmente o Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN) e a sua segregação por província. Publica ainda o Índice de Preços Grossista (IPG). Para o cálculo do IPC, o INE utiliza um cabaz de produtos e serviços com ponderações obtidas a partir do Inquérito Integrado sobre o Bem-estar da População (IBEP). Os índices publicados pelo INE reflectem, portanto, a evolução dos preços dos produtos e serviços considerados no cabaz de referência. Qualquer IPC é, deste modo, uma medida aproximada da inflação. Ou seja, diferentes composições e ponderações do cabaz de referência dão naturalmente diferentes resultados para o IPC. Como já tive a oportunidade de opinar aqui neste espaço, dada essa característica do IPC, em Angola, a exemplo do que se pratica em outras geografias, devíamos ter ainda um outro tipo de segregação do IPC, de modo a passar a dispor de um índice de preços referente à cesta básica (que se podia designar de IPCB). Isso permitiria leituras diferentes da inflação e, sobretudo, dava ao Executivo um instrumento mais rigoroso para monitorizar as políticas sociais orientadas para a mitigação do custo de vida das populações mais carenciadas. &
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DESMINAGEM EM NÚMEROS
2,4 MIL KM2 DE ÁREA ÚTIL
DESTINADA A RESERVAS FUNDIÁRIAS, PÓLOS DE DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA, INDÚSTRIA E EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS FORAM PREPARADOS DE 2005 A 2013.
NO MESMO PERÍODO FORAM DESMINADOS
105 198 km ESTRADAS
3 218 km
CAMINHOS-DE-FERRO
10 000 km LINHAS DE FIBRA ÓPTICA
6 482 km
LINHAS ENERGIA ELÉCTRICA
573 MIL
MILHÕES DE KWANZAS INVESTIDOS EM OITO ANOS PELO GOVERNO ANGOLANO. ESTA ACÇÃO PERMITIU A DESACTIVAÇÃO E DESTRUIÇÃO DE:
442 909
440 MORTOS E 615 FERIDOS Na sequência de rebentamentos de minas no período de 2003 a 2014, sendo que a primeira meta de conclusão do processo de desminagem no país foi já ultrapassada há quatro anos. 2017 é a nova meta, mas Angola ainda tem cerca de 14% do seu território ameaçado por minas.
MINAS ANTIPESSOAIS
24 776
MINAS ANTITANQUES
2,7 MILHÕES
EXPLOSIVOS NÃO DETONADOS
20 ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS ENTRE 2004 E 2009, trabalharam em Angola no processo de desminagem.
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MENOS 70%
DA CAPACIDADE DE TRABALHO A Halo Trust, organização britânica que continua a trabalhar em Angola no processo de desminagem, perdeu cerca de 70% da sua capacidade de trabalho. Por sua vez, a alemã MGM despediu o pessoal e fechou as portas, informou recentemente o jornal Nova Gazeta.
6 ORGANIZAÇÕES É O NÚMERO ACTUAL DE INSTITUIÇÕES que, em 2015, receberam do Fundo Europeu de Desenvolvimento para Acções de Desminagem mais de 25 milhões de dólares, considerados insuficientes para os altos custos do seu trabalho.
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BANCA
OBRIGAÇÕES DO ESTADO IMPULSIONAM CRESCIMENTO EM TEMPO DE CRISE Os lucros da banca angolana cresceram 28,4% em 2015, o equivalente a 131,9 mil milhões kwanzas face ao exercício financeiro de 2014, em que o sector obteve lucros no valor de 102,7 mil milhões de kwanzas, informou o jornal "Mercado". Segundo fontes da Economia & Mercado, nos últimos dois anos, que foram difíceis para a economia tradicional, foi uma aposta fora do core business tradicional que proporcionou ao sector mais lucro, além do facto de, em função da crise actual, ter havido uma gestão mais cuidada dos recursos financeiros e aplicação em áreas mais rentáveis. Em acréscimo, os bancos cortaram “gorduras” em custos operacionais e investiram na qualificação dos recursos humanos. Embora o crédito ainda continue a ser o produto bancário mais importante, a principal fonte de receitas da banca angolana foi, durante os dois últimos anos, proveniente das Obrigações do Estado (OE) indexadas ao dólar americano. Segundo a economista Judite Correia, é provável que, “não a concepção de crédito da banca clássica, mas a área ligada ao mercado e capitais, mais concretamente as Obrigações do Estado indexadas ao dólar americano, continue a ser a principal fonte de receitas, porque aí é praticada uma taxa de juro de 7% a 8%, à qual acresce a diferença cambial entre o câmbio da altura em que esses títulos foram comprados e o câmbio oficial praticado na data da sua venda, que pode ser substancial e é perfeitamente legal”. Esta informação é reforçada pelo Presidente do Conselho Executivo do Banco Keve, Arlindo Rangel, que, entretanto, afirmou que, apesar de os dados sobre a rentabilidade dos bancos serem animadores, Texto: Sebastião Vemba Fotografia: Cedida e Carlos Aguiar
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“é importante referir que parte deles deriva de reavaliações cambiais favoráveis, que beneficiaram de sobremaneira os bancos que tinham posições cambiais positivas e carteiras de activos indexados avultadas. É preciso igualmente referir que, no período em análise, observou-se um aumento das margens financeiras em resultado do aumento do gap entre taxas activas e passivas e ainda a extensão do comissionamento em serviços que não eram cobrados”, esclareceu a fonte em entrevista à Economia & Mercado. A dívida pública, que se divide em Bilhetes do Tesouro (BT) e Obrigações do Tesouro (OT), foi determinante para o crescimento do lucro do sector bancário. Judite Correia, também consultora do Banco Sol – mas que concedeu a entrevista em nome pessoal –, explica que os primeiros são valores mobiliários de curto prazo e financiam o consumo, e que “mesmo estes estão com taxas na ordem de quase 20%, muito superiores às que as pessoas conseguem nos depósitos a prazo normais”. Já as Obrigações do Tesouro, por sua vez,
são de médio prazo e servem para financiar investimentos, e nestas, dependendo da maturidade, conseguem-se taxas que por vezes compensam largamente a inflação. “Ainda acontece um terceiro fenómeno, que também pode aumentar bastante o lucro de alguns bancos, que é o facto de ter havido empresas que foram pagas com títulos do tesouro e que precisaram de liquidez antes da maturidade dos mesmos, pelo que os venderam aos bancos e estes fizeram os chamados hair cut, ou seja, um desconto que naturalmente também está relacionado com o nível de maturidade dos títulos e pode acrescer à percentagem no lucro que os bancos arrecadaram com estas OT indexadas”, explicou a especialista em finanças, tendo acrescentando que, “de resto, este foi a jóia da coroa da banca nestes últimos dois anos”. No entanto, Arlindo Rangel acrescenta que, não menos importante para os ganhos da banca nacional, foi a qualidade dos quadros, “decorrente da formação intensiva e de qualidade, com o objectivo de alcançar uma maior eficiência e eficácia na indústria
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bancária”. Ainda segundo o PCE do Banco Keve, “foi também determinante a gestão mais eficiente das organizações, quer do ponto de vista das receitas, quer do ponto de vista dos custos”, o que acabou por justificar o bom desempenho alcançado pelo sistema bancário. “Mas também não podemos deixar de considerar que, quanto ao sistema bancário angolano, apesar de extenso, cerca de 2/3 do mercado estão ainda concentrados em cinco bancos, o que poderá de alguma forma enviusar os dados agregados do sistema”, referiu. Na mesma linha de pensamento, Judite Correia acrescenta: “Se há um sector que nos últimos dois anos se
"O BANCO KEVE REGISTOU UM DECRÉSCIMO DOS RESULTADOS LÍQUIDOS NO ANO PASSADO, MAS MANTÉM A SUA ROBUSTEZ FINANCEIRA, SENDO QUE A INSTITUIÇÃO OBSERVOU “UM CRESCIMENTO SIGNIFICATIVO DO PRODUTO BANCÁRIO”, ASSEGUROU ARLINDO RANGEL.
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modernizou, preparou os seus quadros e se diversificou, com novos instrumentos financeiros, foi realmente a banca, que fez um esforço extraordinário, e continua a fazer, principalmente com a criação e o desenvolvimento de novos instrumentos financeiros bancários e não bancários”. CRÉDITO À ECONOMIA Para Arlindo Rangel, a banca tem sido o motor de revitalização dos sectores produtivos, canalizando recursos financeiros para a concretização de projectos de investimentos relacionados com a agricultura, pescas, indústria, serviços e comércio, o que “contribui activamente para o desenvolvimento do sector empresarial privado, promovendo a produção nacional, o alargamento da base tributária, a criação de emprego e a redução das importações”. Segundo o gestor, hoje, “graças a esta preciosa contribuição da banca angolana, já é possível encontrar nas prateleiras dos supermercados variadíssimos produtos com a designação ‘Feito em Angola’”. Contudo, ressalva: “Apesar dos avanços, temos que reconhecer que ainda há muito por fazer”. Já Judite Correia entende que o comércio e serviços, que têm um retorno muito mais rápido que a agricultura e a indústria, continua a ser o sector mais financiado. Entretanto, diz: “Outro sector onde creio que terá havido bastante crédito foi o imobiliário, que recebeu grandes empréstimos nos últimos anos, mas aí é preciso termos bastante cuidado, devido aos constantes problemas jurídicos relativos à titularidade dos terrenos e à veracidade do registo das propriedades”. Por outro lado, a consultora financeira defende que “deve haver um esforço de profissionalização e de consciência de que o dinheiro que se vai buscar à banca, às vezes com apoio do Estado, é para pagar”. “No caso do Angola Investe, o Estado bonifica as taxas de juro, com alguns critérios selectivos para sectores e regiões, mas acho que estes critérios podem ser ainda melhorados,
"NO CASO DO ANGOLA INVESTE, O ESTADO BONIFICA AS TAXAS DE JURO, COM ALGUNS CRITÉRIOS SELECTIVOS PARA SECTORES E REGIÕES, MAS ACHO QUE ESTES CRITÉRIOS PODEM SER AINDA MELHORADOS PARA HAVER UMA MAIOR CAPILARIDADE QUE PERMITA DESENVOLVER DETERMINADAS REGIÕES, BONIFICANDO MAIS AS RESPECTIVAS TAXAS DE JURO”, REFORÇA JUDITE CORREIA. para haver uma maior capilaridade, que permita desenvolver determinadas regiões, bonificando mais as respectivas taxas de juro”. Para a especialista, devem merecer mais atenção sectores e regiões prioritários, para que se possa criar pólos de desenvolvimento no interior do país. “Se formos para fora de Luanda, apercebemo-nos de que ainda há um esforço grande a fazer, mas há grandes potencialidades em várias áreas produtivas”, reforçou.
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69.3%
MASCULINO (INDIVÍDUOS COM 20 OU MAIS ANOS - BASE: N=8075)
53.8%
LUANDA SUL 28
TEM CONTA BANCÁRIA
72.4%
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56%
HUAMBO
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NÃO TEM CONTA BANCÁRIA
64.4%
LUANDA
I
BANCA / BANCOS (N=10002) TEM CONTA BANCÁRIA
63.3%
63.3%
ANGOLA
36.1%
NÃO TEM CONTA BANCÁRIA
57.7%
FEMININO
69.3%
MASCULINO (INDIVÍDUOS COM 20 OU MAIS ANOS - BASE: N=8075)
53.8%
LUANDA SUL TEM CONTA BANCÁRIA
72.4%
56%
HUAMBO
26.9%
NÃO TEM CONTA BANCÁRIA
64.4%
LUANDA
TOP 3 BANCOS POR PROVÍNCIA LUANDA (BASE: N=2841)
34%
40%
BENGUELA (BASE: N=544)
35%
41%
HUAMBO (BASE: N=301)
33% 24%
30%
44%
26% BPC
HUÍLA (BASE: N=314)
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31%
29%
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Fonte: Estudo Costumer Experience Angola 2016
Relativamente ao Banco Keve, Arlindo Rangel informou que a sua instituição, em particular, tem procurado sempre atender às demandas dos sectores mais relevantes da diversificação económica. “A nossa carteira de crédito à economia ascende já aos 60 mil milhões de kwanzas. Temos tido igualmente um papel activo no programa Angola Investe, tendo, até ao momento, financiado 10 projectos, num montante total de 3,7 mil milhões de kwanzas, o que proporcionou a criação de cerca de 250 novos postos de trabalho”. &
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Banco Keve mantém robustez O Banco Keve registou um decréscimo dos resultados líquidos no ano passado, mas mantém a sua robustez financeira, sendo que a instituição observou “um crescimento significativo do produto bancário”, assegurou Arlindo Rangel. De acordo com o PCE do Banco Keve, “esta redução ficou sobretudo a dever-se a um maior esforço de cobertura de provisões de crédito e à regularização TOP 3 BANCOS POR PROVÍNCIA de algumas inconsistências patrimoniais, reflectindo assim maior prudência face aos vários riscos inerentes à actividade bancária, LUANDA 34% 40% bem como uma maior solidez financeira”. (BASE: N=2841) Para o ano de 2016, prosseguiu o responsável, perspectiva-se uma BENGUELA evolução positiva em quase todos os indicadores económicos 35% N=544) e (BASE: financeiros. “Estes dados animadores resultam da 41% estratégia seguida, com particular incidência para a banca de retalho, que tem permitido o crescimento dos depósitos e a redução da sua HUAMBO 30% 44%da nossa estrutura de (BASE: N=301) concentração, assim como a redução custos HUÍLA (BASE: N=314)
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51%
31%
com impacto no rácio de eficiência cost to income”, informou Arlindo Rangel, tendo acrescentado que, em contraciclo económico, o Banco Keve tem levado adiante um plano de expansão que tem gerado novos postos de trabalho e tem permitido reforçar a posição competitiva do banco em termos de capilaridade. “Ao nível do capital humano, continuamos a desenvolver esforços no sentido de promovermos a sua capacitação técnica e comportamental, com vista a obtermos níveis de atendimento 33% o que temos noção de ser um caminho longo, mas de excelência, alcançável, com trabalho, persistência e formação”, afincou. Arlindo Rangel assegurou igualmente que o Banco Keve tem 24% “optimizar o custo de funding, melhorar a qualidade procurado da carteira de crédito, quer por via da renovação qualitativa do crédito, quer por via da elevação dos níveis de recuperação e 26% acompanhamento”. BPC
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BFA BIC
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BANCA
TAXAS DE JURO DIFICULTAM ACTIVIDADE ECONÓMICA O crédito bancário, principalmente o de consumo, deixou de ser apreciável devido à situação macroeconómica actual que forçou a alteração das taxas de juro da banca comercial, o que incidiu nas demais variáveis económicas. Esse quadro também resultou do facto de o BNA ter actualizado, várias vezes nos últimos meses, a sua taxa de referência, passando-a de 10% para 16%, levando os próprios bancos comerciais a ajustar as suas operações no mercado. Em resultado, houve uma redução significativa da procura de crédito, ainda o principal produto bancário, que se tornou mais caro para os clientes. Texto: Edjaíl dos Santos Fotografia: iStockPhoto e Afonso Francisco
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A posição financeira do crédito bancário em 2015, conforme publicado pela Associação Angolana de Bancos (ABANC), verificou apenas um aumento de 6% comparativamente a 2014, ano em que a taxa de crescimento anual dos créditos concedidos pela banca teve uma média de 33%, revelou à Economia & Mercado o analista financeiro Inocêncio das Neves. De acordo com o gestor, para 2016 é previsível que o mercado registe uma taxa de crescimento quase nula ou mesmo negativa, “associada ao facto de que o nível de crédito malparado esteja a crescer consideravelmente, o que fará com que este deixe de ser contabilizado como crédito, aumentando assim as imparidades e as provisões para créditos irrecuperáveis”. O também docente universitário explica que, de uma forma muito genérica, o aumento das taxas de juro da banca afectou a procura pelo crédito, uma vez que os juros representam um custo financeiro nas operações de financiamento, ou seja, o preço que se paga pela utilização de fundos alheios colocados à disposição dos clientes. “As alterações à taxa básica do BNA, de referência para as taxas praticadas pelas instituições financeiras no mercado monetário interbancário, influenciaram a taxa de juro para as operações de financiamento dos bancos aos seus clientes. Podemos constatar que, de 2013 a Junho de 2015, a taxa estava fixada entre os 9% e os 10%, mas subiu ligeiramente até aos 12%, entre Julho de 2015 e Maio de 2016.
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“AS AUTORIDADES, AO PREFERIREM A ESTABILIDADE, ESTÃO A COMPROMETER OS NÍVEIS DE CRESCIMENTO, POIS, COM POLÍTICAS RESTRITIVAS PARA MANTER OS PREÇOS MENOS INSTÁVEIS, NÃO HÁ FINANCIAMENTO. SEM FINANCIAMENTO, NÃO HÁ INCREMENTO NA ACTIVIDADE ECONÓMICA, LOGO, NÃO SE PODE PENSAR EM DIVERSIFICAÇÃO ECONÓMICA RÁPIDA”, ANALISA INOCÊNCIO DAS NEVES.
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“HÁ RELATOS DE EMPRESAS QUE CONSEGUIRAM CRÉDITOS, ATÉ BONIFICADOS, À TAXA DE 5%, COM MATURIDADE DE ATÉ SEIS ANOS, MAS ENTRETANTO DESDE 2014 QUE NÃO CONSEGUEM IMPORTAR OS EQUIPAMENTOS PORQUE OS BANCOS NÃO DISPÕEM DE DIVISAS, O QUE GERA GRANDES CONSTRANGIMENTOS NA IMPLEMENTAÇÃO DOS SEUS PROJECTOS”, ESCLARECEU VLADIMIR FERNANDES.
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Porém, desde Junho deste ano, o Comité de Política Monetária do BNA fixou-a em 16%”, detalha Inocêncio das Neves. Na mesma senda, o gestor financeiro Vladimir Fernandes aclara que a banca é gerida pela Política Monetária, sob controlo e supervisão dos bancos centrais, e Angola não foge à regra, por isso se verifica alterações nas demais variáveis económicas, desde a baixa na produção à redução do emprego, instabilidade dos preços (inflação) e redução da participação do país no comércio internacional. “Se compararmos o período de 2013 a 2016, podemos notar um crescente aumento no custo de cedência ao crédito, ou seja, houve aumento nas taxas activas e passivas das operações bancárias gerais, o que culminou com o ajuste da taxa de juros como rácio de análise de concepção de empréstimos bancários, tornando assim mais caros os investimentos que os bancos estão dispostos a fazer com empresas e famílias”, reforça Vladimir Fernandes. O especialista em finanças observa que a indexação do dólar aos créditos tem um reflexo enorme na taxa de juro visto que a economia angolana depende muito da moeda estrangeira e o kwanza está cada vez mais desvalorizado no mercado. Assim sendo, neste momento as empresas dependentes da importação de bens e serviços receiam obter empréstimos para investir, visto que não há garantia de fluidez das transacções. Por esta razão, acrescenta Vladimir Fernandes, “as empresas tornam-se tímidas e não se aventuram em obter estas facilidades, devido ao risco
de não conseguirem honrar os seus compromissos em termos de prestações de créditos”. Como exemplo, o gestor financeiro cita os créditos obtidos no âmbito do projecto Angola Investe. “Há relatos de empresas que conseguiram créditos, até bonificados, à taxa de 5%, com maturidade de até seis anos, mas entretanto desde 2014 que não conseguem importar os equipamentos porque os bancos não dispõem de divisas, o que gera grandes constrangimentos na implementação dos seus projectos”, esclareceu. Já Inocêncio das Neves, por sua vez, adianta que os indicadores financeiros mostram que o Banco Central tem levado a cabo uma política monetária restritiva, retirando liquidez ao mercado com o objectivo de manter a inflação controlada e minimizar a perda do poder de compra dos cidadãos perante um ambiente de pouca oferta de bens e serviços na economia real. Porém, alerta o interlocutor, o país está na presença do famoso dilema da economia em que se remete às autoridades governamentais e monetárias uma decisão de escolhas mutuamente exclusivas: crescimento ou estabilidade. “As autoridades, ao preferirem a estabilidade, estão a comprometer os níveis de crescimento, pois, com políticas restritivas para manter os preços menos instáveis, não há financiamento. Sem financiamento, não há incremento na actividade económica, logo, não se pode pensar em diversificação económica rápida”, analisa o economista. &
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BANCA
COM MENOS LIQUIDEZ, A ECONOMIA PERDEU A PUJANÇA A quebra acentuada do preço do petróleo no mercado internacional levou o Governo angolano a apresentar medidas extraordinárias para compensar as perdas de receita que se intensificaram a partir de finais do ano passado. Logo nos primeiros meses de 2016, o Ministério da Economia anunciava que tinha arrancado uma fase de avaliação de novas fontes de financiamento, nomeadamente com recurso a fundos de investimento, mercado de capitais e parcerias com privados. Entre as opções para mitigar as perdas de receita resultantes da queda do preço do petróleo, o Ministério da Economia criou uma “unidade de Parcerias Público-Privadas” com o objectivo de “construir a capacidade necessária” com a assistência da Corporação Financeira Internacional (IFC), que faz parte do Banco Mundial. Também se recorreu à figura o Projecto Bonds, um mecanismo financeiro que o Estado angolano pode utilizar para emitir obrigações em investidores nacionais e estrangeiros com a intenção de, por intermédio de Parcerias Público-Privadas, financiar investimentos em infra-estruturas públicas ligadas à energia, águas, saneamento e transportes. Ainda não foram identificados os projectos a executar nem os montantes envolvidos, mas o primeiro passo para o arranque deste mecanismo financeiro foi dado em Outubro passado com a assinatura, em Luanda, de um memorando de entendimento entre a Comissão de Mercado de Capitais (CMC), os bancos Económico, Millennium Atlântico e Standard Bank de Angola. Para acelerar a recuperação económica, o Governo conta também com financiamentos disponibilizados Texto: Pedro Correia Fotografia: Afonso Francisco
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pelo Fundo de Investimento Soberano e fundos de investimento da diáspora, além de obrigações ligadas aos preços das matérias-primas negociados no “mercado de futuros”. Em Agosto passado, a Assembleia Nacional debateu a proposta do Orçamento Geral do Estado 2016 revisto que consagra um fluxo total de financiamento no montante de 6 959,73 mil milhões de kwanzas, o
que corresponde a um aumento na ordem dos 8,3% face à previsão inicial aprovada em Dezembro de 2015. Para conseguir este aumento, o Estado prevê arrecadar mais receitas das chamadas fontes fiscais, parafiscais, patrimoniais e de endividamento público. Na proposta rectificativa já aprovada do Orçamento de Estado para 2016, o sector social continua a ter um peso significativo, representando 40,6% da despesa fiscal.
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NA ECONOMIA REAL AS DIFICULDADES CONTINUAM A verdade é que, no domínio da economia “de campo”, as dificuldades continuam a criar obstáculos ao financiamento de projectos considerados essenciais à engrenagem económica do país. Por exemplo, o programa Angola Investe, de apoio às micro, pequenas e médias empresas, tem revelado resultados muito abaixo dos que se esperava. Os programas de fomento da actividade empresarial e do empreendedorismo foram reformulados por não conseguirem atingir os objectivos, como é o caso das metas fixadas para a criação de empregos, cujos números estavam fixados nos 200 mil mas que não foram além dos 50 mil, portanto, apenas um quarto do
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previsto. As razões apontadas para este insucesso têm a ver com uma suposta insensibilidade e falta de competência do sistema bancário em acompanhar projectos no sector produtivo, nomeadamente, na agricultura, nas pescas e na pecuária. O RECURSO AO BDA O Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), não sendo um banco comercial, tem-se revelado como uma das principais instituições financeiras de desenvolvimento e uma das principais fontes de financiamento de médio e longo prazos para investimentos privados no sector não petrolífero. Em Outubro passado, o BDA assinou um protocolo com a Comunidade
de Empresas Exportadoras e Internacionalizadas de Angola (CEEIA), uma instituição que decidiu apostar na exportação de café, madeira, materiais para a construção civil, bebidas, bens e serviços, em alternativa ao petróleo e aos diamantes. Com o protocolo, a CEEIA vai receber apoio do Estado, através do BDA, no sentido de reduzir os constrangimentos que enfrentam as empresas exportadoras que integram a CEEIA na captação de divisas. Nos últimos anos, e desde 2007, o Banco de Desenvolvimento de Angola concedeu créditos para a execução de quase mil projectos de desenvolvimento nas áreas da agricultura, pecuária, indústria e do comércio e serviços, num total de 1 355,6 mil milhões de dólares. &
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BANCA
PAGAMENTOS ELECTRÓNICOS PODERÃO CRESCER NA ORDEM DE 10% Texto: Sebastião Vemba Fotografia: Afonso Francisco
De Janeiro a Setembro deste ano, a EMIS registou mais de 162 milhões de transacções em ATM, com levantamentos de notas, consultas de saldo e recargas telefónicas a representarem o maior número de operações. Em termos de valores movimentados, foram levantados em ATM um total de 992 669 milhões de kwanzas, tendo sido registado um maior crescimento dos valores nos meses de Julho, Agosto e Setembro. Entretanto, comparativamente a 2015, este ano o crescimento global da rede de multicaixa poderá situar-se apenas na ordem dos 10%, contra os 23% registados em ATM e 40% em POS. O impacto da crise que o país vive afectou apenas o volume de pagamentos electrónicos, mas não a parte operacional da rede, informou recentemente o administrador executivo da Empresa Interbancária de Serviços (EMIS), Edgar Costa, em entrevista ao jornal “Mercado”. “Tratando-se de uma crise financeira, foram tomadas algumas medidas de carácter financeiro a nível operacional. Ou seja, os custos com os fornecedores externos estão a ser mais controlados”, informou o responsável, tendo garantido que, em termos operacionais, as transacções aumentaram.
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Entretanto, comparativamente aos anos anteriores, nomeadamente 2014 e 2015, Edgar Costa admitiu que houve um recuo no crescimento. “Houve, de facto, uma redução no crescimento. O nosso crescimento, em vez de se situar na ordem dos 23% em ATM e 40% em POS, como foi até agora, este ano vai ser menor. Mas continuaremos a crescer. Não temos prejuízos a nível operacional”, insistiu. Questionado sobre as perspectivas de crescimento para o próximo ano, o responsável considerou que ainda é relativamente prematuro avançar dados. “Estamos ainda no mês de Outubro, mas
os principais meses de grande movimento da rede são Novembro e Dezembro, devido ao décimo terceiro, nessa altura normalmente a rede tem um boom”, retorquiu, informando que para 2016 estima-se um crescimento na ordem dos 10% nos ATM. De acordo com um relatório da EMIS, a que a E&M teve acesso, os serviços de televisão dominam os pagamentos em ATM, com um total de 1 330 920 operações registadas nos meses de Janeiro a Setembro deste ano. A seguir, o serviços de telefone, bilhetes de passagem e propinas escolares aparecem com 53 454,
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35 233 e 3 305 operações, nos primeiros nove meses do ano, respectivamente. Entretanto, quanto à distribuição das recargas por tipo de serviço, os telefones aparecem à frente com pouco menos de 8,5 milhões de operações, seguidos da venda de recargas de televisão e Internet, com 1 013 660 e 15 966 operações, respectivamente. Em termos de montante dos pagamentos de serviços, foram movimentados 91 269,39 milhões de de kwanzas, sendo os meses de Junho a Setembro os mais significativos, com valores acima dos 10 200 milhões de kwanzas. PAGAMENTOS VIA INTERNET NA FORJA Como operadora da câmara de compensação automatizada de Angola, a EMIS dispõe, actualmente, de três subsistemas, nomeadamente, o sistema de cartões, que inclui o multicaixa e outros cartões, o sistema de transferência a crédito, que permite as transferências interbancárias, e também opera o sistema
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de compensação de cheques, ou seja, a compensação electrónica de cheques. Entretanto, ainda para este ano, como funcionalidade nova, nestes subsistemas, a empresa vai introduzir uma gateway de pagamento via Internet. “Por esta via, os pagamentos podem ser feitos de forma automática nos TPA ou POS. Ou seja, se alguma entidade tiver os seus serviços na Internet e quiser que os seus pagamentos sejam feitos para um cliente por esta via, este serviço poderá estar disponível. Este é um dos serviços que faltava para estarmos adequados e equiparados aos outros processadores internacionais”, informou Edgar Costa. Em relação aos débitos directos, o responsável informou que estes são também um subsistema do sistema de pagamentos da câmara de compensação. No entanto, é um subsistema regulado pelo BNA, que está a realizar estudos neste sentido. “Acreditamos que até ao final do ano estes serviços vão estar em funcionamento”, garantiu. &
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A CAPTAÇÃO DE RECURSOS ATRAVÉS DO “CULTO AO CLIENTE” A generalidade dos bancos comerciais tem necessidades prementes de captação de recursos, vulgo depósitos à ordem e a prazo, quer pelas crescentes exigências da regulação no volume de reservas obrigatórias e rácios de solvabilidade, quer pela sustentabilidade do negócio a médio e longo prazo, num mercado dinâmico e de concorrência aberta. Nessa perspectiva, e face à actual conjuntura económica internacional, com efeitos significativos nos grandes investimentos públicos e privados, os bancos têm vindo a olhar para o sector das pequenas e médias empresas e particulares como fonte prioritária de captação de novos recursos. A angariação de novos clientes e a fidelização dos clientes existentes são, cada vez mais, uma preocupação de todas as instituições, dada a crescente competitividade dos mercados e a agressividade comercial como prática corrente. Assim, é necessário assegurar níveis de qualidade no atendimento, por forma a evitar que os concorrentes ganhem vantagem (e nos tirem clientes) por esta via. A avaliação sistemática da qualidade do serviço prestado pelo canal “Agências” é uma ferramenta indispensável à base de sustentação da banca em geral. A forma mais eficaz de controlar a qualidade do atendimento ao cliente é através da utilização da metodologia “Cliente mistério”. Este método constitui um elo fundamental de ligação do procedimento no balcão com a gestão. Esta ferramenta assume ainda mais importância e credibilidade na medida em que inquéritos de satisfação são falaciosos, pois se os clientes estão satisfeitos dizem a Texto: João Galhardo* Fotografia: iStockphoto
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OS BANCOS QUE ABORDAREM O TEMA DA QUALIDADE COM ALGUMA PRIORIDADE, FACILMENTE IRÃO TOMAR A DIANTEIRA E DISTANCIAR-SE DOS OUTROS, PORQUE TODO O CLIENTE GOSTA DE SER BEM ATENDIDO E SENTIR QUE TEM ALGUÉM NO SEU BANCO QUE O TRATA BEM. tudo que sim e se não o estão dizem a tudo que não. A Multimétrica efectuou em Angola uma experiência piloto para “afinação de critérios” em 2014; em 2015 fez uma vaga completa de visitas a todos os balcões de todos os bancos na província de Luanda e nas cidades de Lobito, Benguela, Lubango, Huambo, Porto Amboim, Sumbe, Cabinda, Malange; e em 2016 efectuou
uma vaga de visitas à totalidade dos balcões de todos os bancos em Angola. Dada a infinidade de relatórios que se podem extrair da plataforma da Multimétrica, apenas foram seleccionados alguns que poderão ter maior interesse, dos quais se destacam “Aspectos Físicos”, em que são avaliados o “Aspecto Exterior”, nomeadamente a visibilidade, o aspecto geral, montras e cartazes; Multicaixa (limpeza, levantamento disponível, disponibilidade de talões e aspecto geral). A seguir vem o “Aspecto Interior”, em que são avaliados pormenores como o aspecto geral, a organização do espaço, limpeza, arrumação e folhetos. No geral, encontram-se em Angola dois conceitos diferentes de layout nos balcões, nomeadamente balcões onde há uma perfeita diferenciação entre as zonas de caixa e atendimento comercial e onde o cliente que faz uma operação de caixa é atendido na caixa e o que pretende uma informação ou operação comercial é comodamente atendido numa secretária de atendimento e com maior privacidade. É o caso de bancos como
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A MULTIMÉTRICA EFECTUOU EM ANGOLA UMA EXPERIÊNCIA PILOTO PARA “AFINAÇÃO DE CRITÉRIOS” EM 2014; EM 2015 FEZ UMA VAGA COMPLETA DE VISITAS A TODOS OS BALCÕES DE TODOS OS BANCOS NA PROVÍNCIA DE LUANDA E NAS CIDADES DE LOBITO, BENGUELA, LUBANGO, HUAMBO, PORTO AMBOIM, SUMBE, CABINDA, MALANGE; E EM 2016 EFECTUOU UMA VAGA DE VISITAS À TOTALIDADE DOS BALCÕES DE TODOS OS BANCOS EM ANGOLA.
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EXPERIÊNCIA PILOTO (2014)
VAGA 2015
VAGA 2016
Atlântico
4
28
31
BAI
12
65
91
BANC
3
10
15
20
99
122
5
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53
BANCO
Banco BIC BNI Keve
5
15
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Sol
6
44
70
BCA
1
13
19
BCI
7
33
49
BE (BESA)
9
45
63
BFA
12
113
131
BPC
8
58
126
Caixa Angola (Caixa Totta)
7
24
33
Finibanco
6
15
15
Millennium Angola
13
79
98
Standard Bank
6
21
23
123
696
966
Totais
GERAL
ASPECTOS FÍSICOS
CAIXA
ATENDIMENTO
Portugal
84,01%
94,30%
93,55%
66,35%
Alemanha
74,24%
89,19%
84,69%
55,55%
Espanha
72,64%
88,00%
81,64%
48,74%
Brasil
70,21%
95,51%
63,62%
50,87%
Angola
69,79%
85,89%
85,43%
32,60%
Suíça
69,39%
95,74%
66,91%
44,97%
o Económico, Caixa Totta, Standard, entre outros. Entretanto, depois temos os bancos onde praticamente não existe uma zona comercial “cómoda” e em que os clientes são atendidos de pé, sendo que os layouts são apenas balcões corridos e o atendimento é “à vez”. É o caso de bancos como o BPC, BIC, BAI, entre outros. Ainda assim, estes bancos do segundo grupo têm zonas de atendimento com maior privacidade, mas constatou-se que alguns deles têm balcões bastante obsoletos e degradados. O Caixa Totta tem vindo a remodelar os seus balcões, apresentando alguns uma imagem e layout muito bons, como é caso do balcão da Sagrada Família. Por sua vez, bancos como o Standard ou o Económico
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apresentam condições perfeitas para prestarem um atendimento confortável aos seus clientes. CAIXAS E ATENDIMENTO COMERCIAL Relativamente ao elemento “Caixa”, em que são avaliados “Aspectos físicos” (aspecto geral, limpeza, arrumação e folhetos na caixa); “Fila de espera” (medição de tempos); “Desempenho na caixa” (desempenho, simpatia, profissionalismo e rapidez) e “Encaminhamento para o comercial”; também foram verificadas enormes diferenças de banco para banco, pois temos bancos, como o Económico, com poucas pessoas nos balcões, em contraste
OS RELATÓRIOS DA MULTIMÉTRICA IDENTIFICAM DE FORMA QUANTITATIVA E QUALITATIVA TODOS OS PROBLEMAS DETECTADOS EM CADA VISITA E PERMITEM À GESTÃO ACTUAR POR FORMA A CORRIGIR E MELHORAR AS METODOLOGIAS ADOPTADAS NOS BALCÕES. com bancos, como o BPC ou o BAI, com grandes afluxos de pessoas. Visitámos balcões do BPC com mais de 70 pessoas para atender. Esta variável condiciona o desempenho no banco de forma decisiva, mas também a organização banco a banco condiciona toda a presença do cliente no balcão e a sua satisfação. Nas instituições bancárias, onde há uma perfeita distinção entre o atendimento geral e o atendimento comercial, a visita ao balcão torna-se muito mais agradável porque o cliente pode ser encaminhado. Já relativamente ao atendimento comercial, a Multimétrica avalia a “Espera no comercial” (medição de tempos); “Postura” (postura, sorrisos nos momentos-chave, contacto visual, simpatia, tom de voz, proactividade e empatia); “Avaliação atendimento” (cumprimentou, identificouse, identificou o cliente, identificou o perfil do cliente, ritmo, qualidade da informação, documentação de apoio, argumentação, utilização de exemplos, resumiu, fecho da venda, respeito e certificou-se que o cliente ficou esclarecido); “Gestão de interrupções”; “Reacção a situações de concorrência desfavoráveis”; “Cross selling”; “Referência à instituição”; “Seguimento” (preocupação com seguimento, deu e pediu contacto e procurou definir um próximo passo). Na avaliação deste conjunto de questões, constata-se a ausência do “Culto
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| CAPA
RANK
PROVÍNCIA
DESEMPENHO DO MERCADO
1
Moxico
68,33
2
Huíla
68,01
3
Lunda Norte
67,16
4
Cabinda
66,39
5
Luanda
66,10
6
Cunene
66,02
7
Uíge
65,97
8
Kuado Kubango
65,70
9
Zaire
65,46
10
Huambo
64,27
11
Bengo
64,13
12
Namibe
64,13
13
Kwanza Norte
63,58
14
Lunda Sul
62,35
15
Bié
61,80
16
Benguela
61,76
17
Kwanza Sul
60,32
18
Malange
59,23
do Cliente” na Banca em Angola. O banco melhor posicionado apresenta um desempenho de apenas 51,71% e o pior de 22,92%. DOIS ANOS DE RESULTADOS POUCO SATISFATÓRIOS Na prática, os auditores da Multimétrica sentiram a ausência de capacidade de venda por parte dos comerciais da banca e os atendimentos comerciais foram mais um prestar de informação, na maior parte dos casos insuficiente, sendo que os comerciais limitavam-se a informar taxas e prazos, não apresentavam outras características e/ou argumentos de venda dos produtos, não transmitiam vantagens competitivas, não aproveitavam a presença dos clientes para apresentar outros produtos do banco e, até mesmo, não referenciavam a instituição. De resto, nota-se uma total ausência de agressividade comercial, porém, bancos com a já referida diferenciação entre o atendimento geral e comercial mostraram um melhor desempenho, embora a quantidade de clientes nos balcões condicione de forma sintomática a qualidade do atendimento.
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METODOLOGIA A Multimétrica, com mais de 20 anos de experiência em vários mercados (Portugal, Espanha, Brasil, Alemanha e Angola), desenvolveu nos diversos países onde opera, uma metodologia em que avalia todos os bancos que operam em cada mercado. Desta forma, consegue medir o desempenho em cada banco e compará-lo com todos os seus concorrentes. De nada serve ter uma boa nota se os outros têm melhor. Os relatórios da Multimétrica identificam de forma quantitativa e qualitativa todos os problemas detectados em cada visita e permitem à gestão actuar por forma a corrigir e melhorar as metodologias adoptadas nos balcões. Acresça-se que a metodologia da Multimétrica passa por visitar e avaliar pessoalmente todos os balcões de todos os bancos nos mercados onde actua, sendo que os auditores encarregues desta tarefa são devidamente treinados e a sua actuação adapta-se a cada mercado. Ao visitarem os balcões dos bancos, apresentam-se como potenciais clientes, que pretendem efectuar uma aplicação financeira por forma a rentabilizarem o valor que têm disponível. Normalmente, pedem taxas para montantes de 1 000 000, 5 000 000 e 10 000 000 de kwanzas; fazem uma avaliação do aspecto físico do balcão (aspecto exterior, interior e
Os resultados das operações da Multimétrica em Angola em 2015 e 2016 mostraram-se pouco satisfatórios e a principal conclusão é que a cultura do cliente não existe. Sendo assim, entendemos que de nada serve fazer campanhas dispendiosas de produtos para levar os clientes aos balcões, se quando lá chegamos somos mal atendidos. Os auditores presenciaram muitos casos em que pediram taxas para a aplicação de 10 000 000 kwanzas e os comerciais mandavam consultar o preçário em cima do balcão da caixa.
Multicaixa), da caixa (aspecto físico, fila de espera, desempenho na caixa, encaminhamento para o comercial e forma de encaminhamento) e atendimento comercial (espera no comercial, postura, atendimento técnico, interrupções, reacção a situações de concorrência desfavoráveis, cross selling, instituição, seguimento e documentação entregue). Acresça-se ainda que a grelha da Multimétrica foi desenhada e aperfeiçoada ao longo de 20 anos de actividade, por forma a ser transversal aos diversos bancos, diversos mercados, diversos tipos de produtos, diversas localizações e diferentes conjunturas. Durante e após cada visita, o auditor da Multimétrica vai registando o relatório através de uma aplicação e, após a visita, o relatório entra no sistema, é verificado e validado em back office e fica disponível para consulta. Outra referência importante é que os relatórios identificam balcão, dia, hora, geolocalização e quem atendeu. Após entrarem em sistema, originam um inúmero conjunto de relatórios que permitem identificar problemas transversais e pontuais, geram rankings de mercado globais e, por questão, comparam o balcão com o banco e com o mercado e permitem a comparação por províncias e municípios.
Os bancos que abordarem o tema da qualidade com alguma prioridade, facilmente irão tomar a dianteira e distanciar-se dos outros, porque todo o cliente gosta de ser bem atendido e sentir que tem alguém no seu banco que o trata bem. A experiência da forma como este tema foi abordado noutros mercados ao longo dos últimos 20 anos comprova-o. São experiências testadas e tratadas com enorme sucesso. & * Director-geral da Multimétrica
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ENTREVISTA AMÍLCAR SILVA, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO ANGOLANA DE BANCOS
“A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA PASSA POR UM PROCESSO DE INVESTIMENTO EM LARGA ESCALA” O crédito ainda é a maior componente das operações activas na banca angolana, sendo também a principal fonte de rendimentos dos bancos. Neste sentido, o presidente da Associação Angolana de Bancos defende que a diversificação da economia nacional passa por um processo de investimento em larga escala, pelo que é crucial o contributo do crédito bancário. Entretanto, Amílcar Silva chama a atenção de que, para que haja liquidez, é necessário muito rigor e disciplina, “pois o retorno dos créditos concedidos é uma imposição para que haja eficiência na rotação dos recursos”. Apesar da actual crise que Angola vive, o responsável atesta que, através de uma gestão rigorosa dos recursos, os bancos souberam aplicar os activos com eficiência em operações rentáveis, suprimindo gastos desnecessários.
Economia & Mercado (E&M) - Os últimos dois anos não têm sido fáceis para a economia angolana. Porém, de acordo com uma notícia recentemente veiculada, a banca nacional registou, em 2015, um crescimento de 28,4% em relação ao ano anterior. Como é que avalia este comportamento do sector, apesar da situação económica que o país está a viver? Amílcar Silva (AS) - Se o estudo da Deloitte apresentou esse número como crescimento do sistema, temos fé nele, dado o rigor com que é sempre feito esse estudo. Tal facto diz bem da capacidade dos bancos, na sua generalidade, em enfrentar situações como as vividas no período em questão, ajustados por políticas Texto: Sebastião Vemba Fotografia: Carlos Aguiar
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OS BANCOS TIVERAM CAPACIDADE E SOUBERAM CRIAR CONDIÇÕES NECESSÁRIAS PARA, EMBORA GERINDO OS RECURSOS DE FORMA RIGOROSA, CONSEGUIR APLICÁ-LOS COM EFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES RENTÁVEIS E, AO MESMO TEMPO, SUPRIMINDO GASTOS DESNECESSÁRIOS, UMA EXIGÊNCIA GENERALIZADA.
restritivas, respondendo a um contexto macroeconómico adverso em constante mutação que exigiu bastante dos gestores e quadros bancários. E&M - Este comportamento positivo terá sido motivado por alguma mudança do core business dos players? AS - Naturalmente que sim. Os bancos tiveram capacidade e souberam criar condições necessárias para, embora gerindo os recursos de forma rigorosa, conseguir aplicá-los com eficiência em operações rentáveis e, ao mesmo tempo, suprimindo gastos desnecessários, uma exigência generalizada. E&M - Qual é a avaliação que faz da posição no ranking dos bancos que mais lucros tiveram nos últimos dois anos?
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Que desafios representa esta situação para as instituições bancárias? AS - O sistema bancário ainda é caracterizado por uma grande concentração no que respeita ao volume de negócios, não obstante nos últimos anos a quota de mercado agenciada por esses mesmos bancos estar a diminuir, face à subida de um outro lote de instituições, cujos indicadores têm chamado a atenção, sendo promissores e augurando excelentes perspectivas futuras. Como acontece em todo o mundo, há bancos mais fortes e bancos menos fortes em termos de lucratividade e nós não somos excepção. E&M - Recentemente assistiu-se no país a uma fusão de duas instituições bancárias. De acordo com quadros seniores do sector, há possibilidades de ocorrerem outros processos de fusão no médio/longo prazo, numa lógica influenciada pela estrutura accionista dos bancos. Qual é o seu entendimento sobre este assunto? AS - As fusões são opções estratégicas tomadas pelos gestores que estão preocupados com a quota de mercado da sua instituição e dos bancos concorrentes. Precisam de crescer, e por vezes rapidamente, recorrem, então, a processos desta natureza. É natural que outras fusões possam vir a acontecer, o mercado o dirá. No entanto, estas são operações financeiras complexas e devem ser precedidas de estudos especializados que tratam das cautelas a tomar para que haja sucesso, mormente o aumento da robustez dos bancos envolvidos, transformando-os em bancos mais capacitados para o apoio e suporte do crescimento e o desenvolvimento das economias. E&M - Até que ponto a banca angolana tem sido determinante no processo de diversificação da economia? AS - A diversificação da economia passa por um processo de investimento
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em larga escala, pelo que é crucial o contributo do crédito bancário, cuja dação, em tempo de concentração de liquidez, exige muito rigor e disciplina, pois o retorno dos créditos concedidos é uma imposição para que haja eficiência na rotação dos recursos. O crédito é a maior componente das operações activas, constituindo a sua principal fonte de rendimentos. Daí que os bancos sejam financiadores actuantes do crescimento económico e estejam sempre disponíveis na medida em que as empresas mutuárias se apresentem bem estruturadas e capitalizadas e os seus gestores dominem as particularidades dos negócios. E&M - Até ao ano passado, os estudos sobre o sector bancário referentes ao ano de 2014 apresentavam um índice de crédito malparado à volta dos 14%. O que é que tem contribuído para estes índices? Até que ponto essa situação pode reduzir o nível de crédito à economia e às empresas em particular? AS - Além de um equilíbrio que tem de haver entre as reais necessidades dos peticionários e a concessão do crédito pelos bancos, que não podem fugir da oferta e da procura existentes nos mercados, há outros factores que concorrem para a existência de crédito malparado nas carteiras dos bancos, em regra, provenientes de negócios excessivamente dimensionados pelas empresas, em todas as suas vertentes, com forte influência nos preços praticados que repelem o consumidor. Há muito a fazer a nível empresarial para que haja maior credibilidade e respeito pelos compromissos que assumem. E&M - A modernização da banca, não só em meios técnicos e tecnológicos, mas sobretudo com recursos humanos capacitados e a criação de produtos ajustados às necessidades do mercado tem sido apontada como um dos principais desafios do sector. Qual
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A modernização do sistema bancário conhece, desde há anos, um forte incremento, com o surgimento de novas práticas que vão sendo introduzidas nos mercados internacionais, de que fazemos parte. Estas obrigam-nos a esforços de investimentos exigentes, sobretudo no domínio do Compliance, do combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento ao terrorismo. é a sua visão sobre este assunto em particular? AS - O sistema bancário, ao longo dos anos, tem-se desenvolvido bastante e a qualidade dos seus quadros técnicos ganha, de dia para dia, maior responsabilidade e agressividade. A formação é uma preocupação transversal a todos os bancos, de modo a poderem desenvolver a sua actividade, de acordo com os preceitos que vão sendo estabelecidos, e a fazerem face à concorrência, sempre crescente. Como se sabe, existe um Instituto de Formação Bancária detido por 20 bancos e há, ainda, duas academias em pleno funcionamento.
E&M - Os seguros e os fundos de pensões têm sido dos sectores financeiros não bancários com maior crescimento no país. Pode-se aguardar por mais novidades neste domínio? AS - Neste domínio há uma generalidade de produtos e serviços ainda por explorar e que vão aparecendo de acordo com o desenvolvimento do país. Há bancos que já trabalham produtos de seguradoras, são seus accionistas, e também há seguradoras accionistas de bancos. E&M - Que outros desafios enfrenta a banca ou poderá enfrentar no curto/ médio prazo? AS - Naturalmente que os empreendimentos relativos à diversificação da economia, onde, como já disse, os bancos são parte essencial, merecerão, nos próximos anos, atenção redobrada e ajustamentos permanentes na nossa actuação, a fim de conseguirmos criar emprego, consumir e crescer. E&M - As novas regras de Compliance são hoje tema do dia na banca angolana. Até que ponto o cumprimento dos pressupostos de combate ao branqueamento de capitais e ao terrorismo tem devolvido credibilidade ao sector bancário no país? AS - A modernização do sistema bancário conhece, desde há anos, um forte incremento, com o surgimento de novas práticas que vão sendo introduzidas nos mercados internacionais, de que fazemos parte. Estas obrigam-nos a esforços de investimentos exigentes, sobretudo no domínio do Compliance, do combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento ao terrorismo, onde ainda há muito a apreender e a fazer para conseguirmos interagir com os bancos de outras geografias, numa actividade contínua e em permanente mutação. &
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APESAR DAS ADVERSIDADES, TEMOS PRODUÇÃO NACIONAL O Programa Nacional de Desenvolvimento (PND) elegeu como prioritárias as indústrias de alimentos, bebidas, vestuário, calçado, materiais de construção, materiais metálicos e não metálicos, reciclagem e equipamentos de transportes. Alguns anos depois do lançamento da iniciativa do Executivo, a indústria transformadora angolana continua a apresentar índices de concentração excessiva na produção de bebidas e alimentação, representando mais de 70%, e tal deve-se aos grandes investimentos dos últimos sete anos. O sector chegou a crescer três por cento ao ano e era responsável, em 2015, por mais de 15 mil postos directos de trabalho para uma capacidade de produção instalada de quatro milhões e 480 mil litros por dia, de acordo com a Associação das Indústrias de Bebidas de Angola (AIBA). Contam-se já 41 empresas de bebidas, entre cerveja, água e refrigerantes. Entretanto, agora, com a crise cambial, o sector é um dos mais afectados. É o caso da maior empresa de refrigerantes, Refriango, proprietária de uma fábrica em Luanda e outra no Huambo, ambas a enfrentarem problemas de abastecimento para garantir o seu normal funcionamento. Segundo o administrador da Refriango, Estêvão Daniel, que falou por telefone com a E&M, a falta de divisas no mercado nacional tem sido um constrangimento para as indústrias de bebidas nacionais. Em causa está a importação da maior parte da matéria-prima para a produção de sumos e refrigerantes, por entender que os agricultores nacionais ainda não produzem em quantidades consideráveis para cobrir as necessidades das indústrias de bebidas. Entretanto, a ministra da Indústria, Bernarda Martins, que falava recentemente numa conferência sobre o investimento privado na indústria transformadora, reconheceu que o sector se encontra abaixo da sua capacidade instalada de produção e algumas unidades estão paralisadas ou próximas de paralisar por dificuldades de importação de matérias-primas e de peças de reposição. “Novos investimentos aguardam disponibilidade de moeda estrangeira para Texto: Gaspar João Fotografia: Vasco Célio
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EM 2015, ANGOLA JÁ CONTAVA COM
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trabalhadores A DEDICAR-SE AO SECTOR, CORRESPONDENDO A 0,6% DA POPULAÇÃO ACTIVA. que possam avançar na sua materialização, mas tenho confiança na capacidade criativa, de inovação e mesmo de resistência às circunstâncias menos favoráveis do contexto global e específico angolano dos industriais que operam no nosso país”, afirmou Bernarda Martins. Apesar de o Ministério da Indústria garantir que tem estado a apoiar as empresas industriais do país a superarem as dificuldades na importação de matéria-prima resultantes da escassez de divisas, as dificuldades que o sector atravessa já levaram à saída de trabalhadores estrangeiros e, com isso, a uma redução de produção industrial no primeiro semestre de 2016. Por exemplo, segundo o relatório de fundamentação da proposta de revisão do Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2016, devido à quebra nas receitas
com a exportação de petróleo, que agravou a crise económica, financeira e cambial do país, o sector da Indústria Transformadora angolana deverá fechar o ano com um desempenho negativo em 3,9% comparando com 2015. Angola falha assim a sua meta, que era chegar a 2017 com uma quota do sector da Indústria Transformadora no Produto Interno Bruto de dez pontos percentuais. De acordo com o documento que a E&M teve acesso, sobre o suporte à estratégia do Governo angolano para ultrapassar a crise financeira provocada pela quebra nas receitas do petróleo, esta redução é justificada com os dados do primeiro semestre e “uma elevada ociosidade da capacidade produtiva”, provocada “pela redução da força de trabalho expatriada”. Este é um documento que visa ainda reduzir a dependência das receitas com as exportações de crude com a auto-suficiência alimentar. MAIS EMPREGO E PRODUÇÃO NACIONAL Entretanto, a construção de pólos industriais constituiu uma das saídas para o início do processo de industrialização do país, constando, assim, do plano de desenvolvimento da indústria transformadora. Como primeiro resultado, 12 554 novos postos de trabalho foram criados pelos Pólos de Desenvolvimento
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Industrial (PDI) instalados no país desde 2002. E em 2015, Angola já contava com 45 100 trabalhadores a dedicar-se ao sector, correspondendo a 0,6% da população activa. A meta do Executivo angolano é criar 22 Pólos de Desenvolvimento Industrial num espaço de 36 mil hectares em todo o país, numa margem de 12 mil hectares nos próximos 10 anos. Espera-se que Angola tenha pelo menos um pólo industrial em cada província e dois naquelas que o justifiquem. O objectivo é a reposição dos níveis de capacidade produtiva. Para algumas províncias, como é o caso de Luanda e Benguela, a implementação destas infra-estruturas já é uma realidade com os Pólos de Desenvolvimento de Viana e de Catumbela, cujo investimento rondou os 10 mil milhões de dólares. Com uma área de 2 700 hectares divididos em três zonas, o PDI de Viana, o maior do país, tem instaladas 871 empresas, enquanto o de Catumbela (Benguela) conta com cerca de 408 empresas, que empregaram maior número de trabalhadores (6 804 novos trabalhadores ao nível dos dois pólos). No município de Negage, província do Uíge, 17 empresas começaram já a ser instaladas no pólo industrial local. Algumas dessas unidades já funcionam, sendo de destacar as fábricas de colchões de esponja, de tijolos e a de água de mesa. Enquanto isso, na Caála, Huambo, 22 empresas também já receberam os seus títulos de ocupação. Dados do Ministério da Indústria a que a E&M teve acesso apontam também a existência de um Pólo de Desenvolvimento Industrial em Menongue, Kuando Kubango, que alberga, até ao momento, duas indústrias de móveis e de transformação de madeira, com 14 postos de trabalho criados e um investimento na ordem dos 15 milhões de dólares. Para dinamizar a indústria transformadora, prevê-se ainda a criação de infra-estruturas para a instalação de unidades fabris em seis Pólos de Desenvolvimento, nomeadamente os da
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Caála (Huambo), Soyo (Zaire), Negage (Uige), Malange (Malange), Lucala (Kwanza Norte) e Porto Amboim (Kwanza Sul). O investimento previsto é de 1,6 mil milhões de dólares no quadro do Programa de Investimentos Públicos (PIP). Entretanto, os desafios para a dinamização do sector não são poucos, como reconheceu à E&M o directorgeral do Instituto de Desenvolvimento Industrial de Angola (IDIA), Marco Patrice Victor, para quem “a necessidade de provimento de recursos com vista a assegurar a construção e manutenção de infra-estruturas para o fornecimento de água potável, de energia eléctrica, de redes de telecomunicações, bem como de infra-estruturas de apoio à logística exigem dos governos esforços financeiros muito
altos para garantir a existência desses recursos essenciais para o exercício das actividades económicas e, particularmente, a industrial”. Enquanto se espera pelo impacto destes “esforços financeiros muito altos” na criação de infra-estruturas, a Economia & Mercado ouviu vários gestores de projectos que continuam a dar o seu melhor para mostrar que o investimento privado na indústria transformadora é fundamental para o desenvolvimento equilibrado da economia e para o crescimento do emprego em Angola. Veja a seguir cada uma destas iniciativas que ultrapassam as dificuldades que vão desde a escassez de divisas à exiguidade de matérias-primas. E não param de acreditar no potencial da indústria transformadora. &
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UM PARCEIRO INDISPENSÁVEL DA INDÚSTRIA DE BEBIDAS O crescimento do subsector de bebidas na indústria transformadora pressionou o surgimento de várias outras fábricas no país, em especial no Pólo Industrial de Viana, motivando assim a entrada, em 2011, da Nampak, maior grupo africano do sector das embalagens.
A subsidiária nacional da Nampak, Angolata, logo a completar um ano de actividade em Angola, em 2012, ajudou a Coca-Cola Bottling a estancar a importação de mais de 360 milhões de latas vazias por ano. Actualmente, a sua capacidade de fabrico de dois mil milhões de latas abastece também outras grandes empresas do sector de bebidas, como a Cuca BGI e a Refriango, esta última, até então, a maior importadora de latas. Além de passar para 2 400 milhões de latas por ano, o plano estratégico da Angolata passa também por converter a linha de aço para alumínio, com vista a
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dar resposta às necessidades dos mercados nacional e externo. O investimento na modernização e ampliação da linha de transformação do aço em alumínio está avaliado em mais de 20 milhões de dólares. Em resultado desta oferta da Angolata, desde o ano passado que bebidas como a Cuca são enlatadas em recipientes de alumínio, seguindo uma tendência da indústria a nível mundial. E a Angolata tem estado a abastecer as empresas locais. É por esta razão que o seu director-geral, Peter Mashangu, revela que a conversão da linha de aço necessita agora de um investimento adicional superior a 20
milhões de dólares, resultantes de fundos próprios, sendo imperativo o apoio do Ministério da Indústria junto do Banco Nacional de Angola para a obtenção de divisas para importação de equipamento. A ministra da Indústria, Fátima Bernarda Martins, já visitou, em meados de Setembro, a unidade fabril na companhia do seu homólogo do Comércio de Moçambique, Ernesto Tonela. Na ocasião, a governante inteirou-se das necessidades e garantiu que “as empresas industriais estão a ser apoiadas para terem disponíveis divisas para a importação de matérias-primas”.
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Com mais de 200 funcionários, a Angolata é o único fabricante de latas de bebida no país, sendo que a unidade fabril conta com duas linhas de fabrico que operam desde Julho de 2015. Com a introdução de uma terceira linha, como a que a empresa prevê, a subsidiária da Nampak ficará capaz de fornecer 100% das necessidades do mercado, superando assim os actuais 60% e dispondo ainda de capacidade para exportar e captar divisas para o país. No fundo, a dificuldade na obtenção de divisas criou essa oportunidade à empresa, pois tornou-se mais atractiva a compra de latas no país do que a sua importação. Peter Mashangu explica que a empresa prepara-se para atender o sector de bebidas, sobretudo para quando a economia angolana ultrapassar a actual crise, pois a capacidade poderá não ser suficiente para satisfazer a procura do mercado. Aliás, esta aposta resulta do facto de, de acordo com previsões internacionais, as indústrias voltadas ao consumidor em África poderem crescer em mais de 400 mil milhões de dólares, sendo que ao todo o grupo deverá beneficiar desta tendência com o aumento
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COM MAIS DE
200
funcionários, A ANGOLATA É O ÚNICO FABRICANTE DE LATAS DE BEBIDA NO PAÍS, SENDO QUE A UNIDADE FABRIL CONTA COM DUAS LINHAS DE FABRICO QUE OPERAM DESDE JULHO DE 2015. da procura por bens enlatados e embalados. No entanto, a empresa enfrenta também algumas dificuldades na produção devido a problemas de fornecimento de energia, água e gás, assim como por causa da falta de capacitação de recursos humanos para a área técnica. A empresa enfrenta ainda dificuldades em repatriar dividendos devido a restrições cambiais graves. A Economia & Mercado apurou que em Angola e na Nigéria, a Nampak tinha, até Junho, o equivalente a mais de 96 milhões de dólares em dinheiro local, que foi
incapaz de converter em dólares norte-americanos, como resultado da escassez de moeda estrangeira nos dois mercados, onde o maior fabricante de embalagens em África apenas pôde pagar 60% das facturas de fornecedores estrangeiros. Apesar das dificuldades, o director executivo da Nampak Ltd, Andre de Ruyter, confirmou recentemente à Bloomberg que a sua subsidiária teria uma terceira linha para a produção de latas de alumínio em Angola e dobraria a capacidade da Nigéria. E como prova de que não desiste da indústria transformadora em Angola, Andre de Ruyter revelou ainda que o grupo tem planos para uma fábrica de garrafas de vidro no país, depois de ter anunciado o acordo com os parceiros nigerianos para a construção de uma unidade fabril naquele país, com o objectivo de tirar proveito da crescente demanda por bens de consumo embalados e bebidas engarrafadas nos dois países. Mas em Angola ainda é “muito cedo”, diz o director executivo da Nampak. & Texto: Gaspar João Fotografia: Afonso Francisco
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CIMENTEIRAS INVESTEM NO CLÍNQUER NACIONAL A produção cimenteira é, a par da de bebidas, a que mais pressionou o crescimento da indústria transformadora nacional. Nos últimos anos, o sector teve o seu maior investimento realizado pela China Internacional Fund Angola (CIF), com a instalação na localidade de Bom Jesus, em Luanda, de uma fábrica com duas linhas de produção, uma de clínquer e outra de cimento.
O segundo maior investimento na indústria cimenteira foi feito pela Nova Cimangola, também em Luanda, dispondo, em conjunto com a CIF, de uma capacidade de produção instalada de mais de cinco milhões de toneladas, de acordo com dados do Ministério da Indústria. Já a Fábrica de Cimento do Kwanza Sul (FCKS), com uma capacidade instalada para produzir 1,33 milhões de toneladas de clínquer e 1,4 milhões de cimento anuais, também entra nas contas dos grandes investimentos efectuados no sector. Entretanto, a pioneira na indústria cimenteira angolana é a Secil Lobito, que entrou em funcionamento em 1952, com a denominação de Companhia de Texto: Gaspar João Fotografia: Afonso Francisco
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Cimentos de Angola, tendo passado, ao longo do tempo, por várias transformações. Detida actualmente em 49% pelo Estado angolano, está equipada com equipamentos modernos, com excepção das linhas de enchimento, onde o trabalho ainda é manufacturado. De acordo com o Ministério da Indústria, em 2014, assim como em 2015, a Nova Cimangola, a FCKS, a Cimenfort Industrial, a CIF e a Secil Lobito, as cinco cimenteiras em actividade no país, tinham, em conjunto, uma capacidade de produção instalada de 8 030 000 toneladas de cimento anuais, valor que está acima das necessidades actuais do país, que andam à volta dos seis milhões de toneladas por ano. No geral, até ao ano passado, o sector conservou 2 255 postos de
trabalho, preenchidos maioritariamente por angolanos. Com efeito, a retracção no sector da construção levou as empresas a adequarem a sua produção à procura. A Secil Lobito, por exemplo, passou de 17 mil toneladas por mês, em 2015, para 12 mil toneladas mensais este ano. Ainda assim, desprovida de capacidade técnica para a produção de clínquer, uma das matérias-primas indispensáveis no fabrico de cimento, a fábrica, que durante anos recorria à importação do produto, trocou o mercado externo pelo nacional, contornando assim a escassez de cambiais. “Resolvemos o problema do clínquer sem dispêndio de divisas”, revelou recentemente ao Jornal de Angola o administrador delegado, Augusto Miragaia, antes de revelar que há dois meses a Secil Lobito fez uma parceria com a Fábrica de Cimento do Kwanza Sul, que lhe fornece actualmente o produto, pago em kwanzas. A Economia & Mercado tentou saber do director-geral da Genea Angola, Paul Ang, proprietária da Cimenfort Industrial, que também não produz clínquer, se a empresa já deixou de importar o produto, pois, há alguns anos, tinha apenas uma moagem onde se processava o mesmo e previa a montagem de um forno próprio que lhe permitiria deixar de importar e passar a utilizar o calcário extraído da Catumbela. Não obtivemos resposta até ao fecho desta edição, pois o gestor, que se encontrava fora do país, não respondeu às questões que anuiu esclarecer por e-mail atempadamente.
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Entretanto, segundo apurou a E&M, a unidade fabril do grupo Genea Angola, que ostenta um volume de negócio de 400 milhões de dólares em vários sectores, mantém a sua capacidade de produção de um milhão e 400 mil toneladas de cimento por ano desde Janeiro, sendo que os custos da contínua modernização, expansão e sustentabilidade da fábrica de cimento vão atingir os 300 milhões de dólares em 2018, data da sua conclusão total. A soma de mais de 200 milhões de dólares, que está a ser aplicada nas duas fases seguintes, vai repercutir-se na expansão da produção e na sua sustentabilidade, bem como na compra e montagem de um forno eléctrico que permitirá uma produção superior a partir de 2018. Com 150 trabalhadores ligados às diversas áreas de actividades, a empresa espera atingir os 400 postos de trabalho em 1-2 PAGINA_22x14.pdf 1 11/18/15 12:39 PM 2018.
NUMA ALTURA EM QUE A SUBSTITUIÇÃO DAS IMPORTAÇÕES PELA PRODUÇÃO NACIONAL MOBILIZA OS INVESTIMENTOS PÚBLICOS, O MINISTÉRIO DA INDÚSTRIA REVELA QUE DECORREM INVESTIMENTOS NO SECTOR QUE VÃO ELEVAR, A BREVE TRECHO, A CAPACIDADE INSTALADA DE PRODUÇÃO DE CLÍNQUER NO PAÍS DE 4,8 MILHÕES DE TONELADAS PARA 7,9 MILHÕES DE TONELADAS ANUAIS.
Entretanto, numa altura em que a substituição das importações pela produção nacional mobiliza os investimentos públicos, o Ministério da Indústria revela que decorrem investimentos no sector que vão elevar, a breve trecho, a capacidade instalada de produção de clínquer no país de 4,8 milhões para 7,9 milhões de toneladas anuais. Os investimentos, que prometem satisfazer as necessidades internas de clínquer, estão a ser feitos pela Cimenfort Industrial e pela Nova Cimangola. As duas unidades fabris, juntas, vão produzir cerca de 3,1 milhões de toneladas anuais de clínquer, que se vão juntar aos 4,8 milhões de toneladas produzidas actualmente pela Fábrica de Cimento do Kwanza Sul, com capacidade para 1 330 000 toneladas de clínquer por ano, e pela China Internacional Fund, que produz 3,6 milhões de toneladas de clínquer por ano. &
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CAFÉ CAZENGO CHEGA AOS EUA E PROMETE CONQUISTAR OUTROS MERCADOS Angola ocupava o quarto lugar na lista dos maiores produtores de café no mundo em 1974, com cerca de 250 mil toneladas anuais. Esta reputação terminou bruscamente naquele mesmo ano devido ao conflito armado. Com as infra-estruturas do país a serem gradualmente reconstruídas, já se produz anualmente 15 mil toneladas de café, mas a perspectiva é duplicar essa produção nos próximos dois anos, de acordo com o Instituto Nacional de Café (INCA), que avança dados de 2015, altura em que a exportação deste produto rendeu a Angola mais de dois milhões de dólares.
Texto: Adão Gil Fotografia: Vasco Célio e Afonso Francisco
A empresa Triases leva o nome de uma das famílias com tradição no cultivo do café que remonta ao tempo colonial, onde os seus antepassados contribuíram para que o país se tornasse num dos principais exportadores de café no mundo. Dona da marca angolana Café Cazengo, a empresa prepara-se para exportar, neste mês de Novembro, um novo contentor de 11 toneladas de café torrado para os Estados Unidos da América, depois de já o ter feito em Setembro passado. Ao fim de mais de 40 anos de ausência, o café produzido em Angola voltou a estar disponível no mercado norte-americano, cujo carregamento de 11 toneladas chegou ao porto de Baltimore, Marylan. Os compradores estão distribuídos por Nova Iorque, Detroit (Michigan), Miami, Flórida, Atlanta (Geórgia) e em Houston, no Texas. E a estratégia de penetração no mercado norte-americano inclui eventos dedicados à apresentação do produto. O administrador da empresa, José Gonçalves, explica à E&M que têm ainda em vista a exportação para Portugal e para a China, havendo igualmente solicitações e negociações em curso com empresários de
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JOSÉ GONÇALVES REVELA QUE, ALÉM DE TER OS OLHOS VIRADOS PARA A EXPORTAÇÃO, O CAFÉ CAZENGO CONTINUA A SER COMERCIALIZADO EM SUPERMERCADOS DA CAPITAL, AO LADO DAS GRANDES MARCAS ANGOLANAS. ASSEGURA AINDA QUE A EMPRESA PLANEIA CONTINUAR A INOVAR E A INDUSTRIALIZAR O CAFÉ, APOSTANDO NA PRODUÇÃO DE CÁPSULAS, REBUÇADOS E OUTROS PRODUTOS. Espanha, de Itália e de Singapura, países para os quais foram já enviadas amostras do produto. “Já temos exportado pequenas quantidades para Portugal e para a China. Esta é a primeira vez que exportamos um contentor”, nota o gestor da empresa. Desenvolvido no município de Quiculungo, província do Kwanza Norte, e lançado em 2010, o projecto da Triases tem uma unidade de torrefacção que incorpora grupos de pequenos produtores da cooperativa que leva o nome da região. Com um investimento que supera os 100 milhões de kwanzas, recorrendo exclusivamente a fundos próprios, a fábrica produz actualmente 3,5 toneladas de café torrado por dia graças a alguns dos equipamentos mais modernos adquiridos
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em países como o Brasil, a China e a África do Sul. A produção tem lugar na Fazenda Pinto Lufua, instalada numa área de 680 hectares. José Gonçalves revela que, além de ter os olhos virados para a exportação, o Café Cazengo continua a ser comercializado em supermercados da capital, ao lado das grandes marcas angolanas. Assegura ainda que a empresa planeia continuar a inovar e a industrializar o café, apostando na produção de cápsulas, rebuçados e outros produtos. Apesar do sucesso, a empresa enfrenta grandes desafios. Os acessos à fazenda são ainda um problema, mas também falta energia eléctrica no Quiculungo, um município que se desenvolveu ao longo de
José Gonçalves, Administrador da Triases.
décadas de cafeicultura. “Samba Caju tem energia da rede pública, mas Quiculungo não tem, apesar de ter potencial”, lamenta o administrador da Triases, que adianta que a sua empresa chega a consumir dois mil litros de combustível por mês a fim de suportar a unidade fabril. Além da energia, há ainda dificuldades em obter financiamento, pois, segundo o gestor, a empresa está actualmente a comercializar café proveniente de cafeicultores familiares, o que não satisfaz totalmente as suas necessidades futuras. “Tentámos negociar com a banca para ver se nos financiava para investirmos fortemente na nossa fazenda, a fim de aumentarmos a produção”, afirma José Gonçalves, adiantando que não teve sucesso nesta tentativa junto da banca. Questionado sobre a facturação para este ano, o administrador prefere não avançar valores, mas garante que a empresa está no bom caminho. O grupo suporta-se numa cooperativa de cerca de 900 cafeicultores e dispõe de áreas de produção, descasque, torrefacção e moagem, onde emprega 25 pessoas. A cooperativa abrange os municípios do Gulungo Alto, Banga, Bolongongo, Ikulungo, Ambaca, Cazengo e a comuna da Aldeia Nova, na província do Kwanza Norte. &
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| ESPECIAL INDÚSTRIA TRANSFORMADORA
MENDES GONÇALVES ANGOLA
OS TEMPEROS QUE ALIMENTAM A INDÚSTRIA A portuguesa Mendes Gonçalves, que se dedica à produção de vinagres e temperos, estabeleceu uma parceria com a empresa angolana de distribuição alimentar Angoalissar, da qual resultou uma fábrica de vinagre com capacidade para produzir 50 400 garrafas de 330 mililitros por dia, com um investimento de quatro milhões de dólares. Os dois grupos empresariais, que celebram 25 anos de parceria, pretendem desenvolver uma componente agro-industrial para suprir a procura nacional e reduzir a dependência das importações através da produção de vinagre na fábrica Mendes Gonçalves Angola, que ocupa uma área de um hectare no Pólo Industrial de Viana, em Luanda, e cuja finalização ocorrerá em duas fases. A primeira fase, em que foram empregues quatro milhões de dólares, consistiu na construção e no equipamento da fábrica, cuja tecnologia, de ponta, iguala a que é utilizada na Europa e foi importada de países como Alemanha e Portugal. Da sua força de trabalho inicial constam 25 trabalhadores angolanos e um estrangeiro. “A fábrica Texto: Adão Gil Fotografia: Afonso Francisco
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tem estado a trabalhar em contínuo, já muito perto dos seus níveis máximos de produção. Felizmente, a receptividade do consumidor angolano a um vinagre produzido em Angola tem sido excelente e isso tem permitido que a fábrica, além de estar a trabalhar em contínuo, com altos níveis de produção, já tenha nesta altura atingido quase 90% dos objectivos do ano”, explica o administrador da Mendes Gonçalves Angola (MGA), Carlos Gonçalves. Embora esteja quase a atingir os objectivos desta primeira fase, o gestor revelou que a unidade fabril está a ressentir-se com a actual crise cambial, pois, como todas as empresas a laborar em Angola, a MGA também está obrigada a depender do exterior para adquirir os equipamentos de produção e as matérias-primas essenciais. “Também nos temos ressentido com a situação cambial e de divisas em Angola. No entanto, como sempre afirmámos, acreditamos no futuro do país e desenhámos a MGA para ser um projecto de longo prazo”, garante Carlos Gonçalves, acrescentando que, com base neste pressuposto, os sócios têm feito um esforço extraordinário junto dos seus fornecedores para não interromperem a cadeia de abastecimento, o que tem implicado o recurso crescente a capitais próprios, dada a dificuldade em transferir divisas para proceder a todos os pagamentos. A segunda fase do projecto, que terá início em 2017, incidirá na adaptação e ampliação da linha de produção para a confecção de molhos da marca “Paladin”. Com esta aposta, todos os molhos e condimentos da marca comercializados em Angola serão produzidos nesta fábrica. Questionado sobre esta previsão, Carlos Gonçalves revela que a intenção mantém-se e os estudos estão a decorrer sem qualquer interrupção nesse sentido, mas não
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SE TUDO CORRER COMO PREVISTO, AO TODO, SERÃO ABERTAS, EM 2017, QUATRO LINHAS DE PRODUÇÃO DE MOLHOS E CONDIMENTOS COMO MAYONESE, MOSTARDA E KETCHUP, NUM INVESTIMENTO ADICIONAL DE 10 MILHÕES DE DÓLARES, QUE INCLUIRÁ IGUALMENTE A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS A SEREM UTILIZADOS PARA O EFEITO.
esconde que neste ponto, a situação cambial terá um forte peso no timing da decisão, “pois a necessidade de recursos financeiros de uma fábrica deste tipo é muito mais elevada do que a de vinagre”, explica. Ainda assim, se tudo correr como previsto, ao todo, serão abertas, em 2017, quatro linhas de produção de molhos e condimentos como mayonese, mostarda e ketchup, num investimento adicional de 10 milhões de dólares norte-americanos, que incluirá igualmente a produção de alimentos a serem utilizados para o efeito. “Temos um plano estratégico delineado que preferimos não revelar, como deverá compreender. Mas posso garantir-lhe que estamos para ficar e para fazer muito mais em Angola”, explica o responsável da Mendes Gonçalves, para quem a indústria transformadora nacional ainda não consegue dar resposta às solicitações da empresa. Segundo o gestor, a unidade fabril perspectivava incorporar matérias-primas angolanas nos seus produtos, mas não tem tido bons resultados. “A Mendes Gonçalves Angola tem feito um esforço permanente para que essa incorporação se verifique e está a aumentar gradualmente. No entanto, ainda está em níveis baixos, pois o tipo de materiais e de ingredientes de que necessitamos não estão, em muitos casos, a ser produzidos pela indústria transformadora angolana”, explica. A E&M sabe que a empresa prevê investir na produção agrícola para suprir as suas necessidades de matéria-prima, mas a questão ainda está em discussão, sem nada de concreto. Enquadrada na estratégia de internacionalização da Mendes Gonçalves (Portugal), a fábrica de vinagre e temperos vai produzir em Angola toda a sua gama de produtos que já faz em Portugal, a partir do próximo ano. &
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ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
É HORA DE ACELERAR A IMPLEMENTAÇÃO DO ACORDO DE PARIS A 22ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) será realizada em Marraquexe, Marrocos, de 7 a 18 de Novembro, tendo como principal foco a implementação de acções para alcançar as prioridades do Acordo de Paris, recentemente ratificado pela China e pelos Estados Unidos. Com esta iniciativa, pretende-se desenvolver os “Planos Nacionais de Adaptação” ou “Contribuições Determinadas a Nível Nacional” para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e melhorar as medidas de capacitação e transferência de tecnologia para ajudar os países mais vulneráveis, nomeadamente os considerados Pequenos Estados Insulares em desenvolvimento.
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O PRESIDENTE DA COP22 REAFIRMOU A CREDIBILIDADE DE MARROCOS QUE, SEGUNDO ELE, CONTINUA COMPROMETIDO COM A LUTA CONTRA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS DESDE AS CIMEIRAS ANTERIORES. “TEMO-NOS EMPENHADO NESTA LUTA E A CRIAÇÃO DA MAIOR PLANTA SOLAR DO MUNDO, EM OUARZAZATE, É PROVA DISSO”, AFIRMOU O MINISTRO.
Salaheddine Mezouar, Ministro dos Negócios Estrangeiros de Marrocos e Presidente da COP22
O continente africano é um dos mais afectados pelas alterações climáticas. A escassez de água e as condições meteorológicas extremas (inundações e secas, por exemplo) são algumas das consequências já numerosas e visíveis. A manter-se este quadro, África apenas será capaz de suprir 13% das suas necessidades em termos de alimentos até 2050. Entretanto, enquanto o continente representa apenas 3% das emissões de gases de efeito estufa, este só recebe, até agora, 4% do financiamento climático global. No entanto, o evento que terá início no dia 7 de Novembro em Marraquexe é encarado como o início de uma nova fase de conferências das partes, focadas em acções para implementar o Acordo de Paris. A 22ª Conferência das Partes (COP22) é de capital importância para África e os líderes regionais e investidores vão testemunhar em primeira mão os riscos e as oportunidades de adoptar medidas a nível nacional e internacional e de serem capazes de sinalizar a sua solidariedade com os governos e os cidadãos do continente. Em Setembro último, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Marrocos e Presidente da COP22, Salaheddine Mezouar, e outros representantes de 59 Texto: Edjaíl dos Santos, em Marrocos Fotografia: iStockphoto e Arquivo
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países juntaram-se para depositarem os seus instrumentos de ratificação do Acordo de Paris numa cerimónia especial das Nações Unidas, com a presença do Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Na ocasião, o responsável da conferência afirmou o compromisso do seu país com o Acordo do Paris. “O facto de mais de 55 países terem assinado o Acordo, antes da realização da COP22, é uma mensagem muito importante para a comunidade internacional. Marrocos está decidido a cumprir o Acordo de Paris, que será posto em prática na conferência em Marraquexe”, afirmou Salaheddine Mezouar, que lia a mensagem do rei Mohammed VI na sede das Nações Unidas. Aos jornalistas africanos, semanas antes, o ministro Mezouar destacou ainda algumas das prioridades da conferência de Marraquexe, nomeadamente, o desenvolvimento de capacidades, um quadro de referência de 100 mil milhões de dólares de fundo verde – destinados a mitigar as consequências dos problemas climáticos – e a disponibilização de tecnologia aos países. “A cimeira de Marraquexe deve centrar-se na implementação do Acordo de Paris, particularmente para os países mais vulneráveis”, frisou. Em resposta a várias perguntas da imprensa sobre a importância de celebrar a
COP22 no continente africano, o ministro marroquino recordou que Marrocos nunca abandonou África. “Temos um papel importante, o de reforçar a cooperação Sul-Sul e de implementar um plano de desenvolvimento continental que inclua a luta contra as alterações climáticas”, afincou. O Presidente da COP22 reafirmou a credibilidade de Marrocos que, segundo ele, continua comprometido com a luta contra as mudanças climáticas desde as cimeiras anteriores. “Temo-nos empenhado nesta luta e a criação da maior planta solar do mundo, em Ouarzazate, é prova disso”, afirmou o ministro. Recorde-se que Marrocos tem o ambicioso objectivo de conseguir que 52% da sua energia seja proveniente de fontes renováveis a partir 2030. FRANÇA E MARROCOS NA LINHA DA FRENTE Os responsáveis pela organização do evento fazem crer que as perspectivas de sucesso são grandes, uma vez que o envolvimento das partes interessadas é forte, de Leste a Oeste e de Norte a Sul, juntando a isso a adopção histórica do Acordo de Paris por 195 países e a apresentação da Contribuição Determinada Destinada a Nível Nacional (INDC).
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ÁFRICA COMPROMETE-SE A REDUZIR VULNERABILIDADES NA AGRICULTURA Antes da 22ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, um total de 20 ministros africanos, juntamente com os representantes de organizações internacionais e outros especialistas, comprometeram-se a reduzir a vulnerabilidade da agricultura face às alterações climáticas, em Marraquexe, Marrocos, numa reunião para a criação de coligações de apoio à Iniciativa para a Adaptação da Agricultura Africana às Alterações Climáticas. O objectivo da Reunião de Alto Nível foi congregar todas as partes interessadas – seja na área de desenvolvimento agrícola ou no movimento contra as alterações climáticas – em torno da Iniciativa AAA. Ao todo, cerca de 30 países estiveram representados e partilharam soluções agrícolas e boas práticas, que podem ser aplicadas em todo o continente africano. A Iniciativa AAA adopta uma abordagem baseada em vários projectos, que representa formas concretas de financiamento.
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A reunião assinalou também o lançamento da campanha #weAAAre, focada na sensibilização do público e mobilização da comunidade internacional, para agir em favor da AAA. O evento, de resto, serviu para posicionar, a nível negocial, a Adaptação da Agricultura Africana no centro das questões e dos desafios da COP, obtendo uma distribuição equilibrada dos fundos climáticos para a adaptação e moderação. Quanto às soluções, pretende-se promover a implementação de projectos concretos e inovadores em termos de gestão do solo, de utilização da água na agricultura, de gestão dos riscos climáticos e da capacidade de atingir soluções construtivas. Lançada em Abril de 2016 e impulsionada por Marrocos, a Iniciativa para a Adaptação da Agricultura Africana às Alterações Climáticas teve origem na observação de que África, a sua agricultura e adaptação são apenas marginalmente tidas em conta nas negociações internacionais e na disponibilização de fundos para projectos climáticos.
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20 ANOS A SONHAR
CONSIGO
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Os Estados Unidos da América, COM CERCA DE 13% DAS EMISSÕES DE GASES POLUENTES, E
a China, COM
24%, SÃO OS MAIORES POLUIDORES DO MUNDO, SENDO O SUCESSO DA IMPLEMENTAÇÃO DOS ACORDOS DE PARIS MUITO DEPENDENTES DA SUA BOA VONTADE, UMA VEZ QUE NÃO EXISTE NENHUMA OBRIGAÇÃO LEGAL QUE OS OBRIGUE A CUMPRIR O QUE RATIFICARAM.
Muitos actores não-estatais, organizações da sociedade civil, empreendedores, investidores e empresas vão juntar-se às discussões, através de compromissos individuais ou de iniciativas de cooperação, muitos dos quais estão referenciados na plataforma NAZCA (12 mil compromissos e 77 iniciativas de colaboração). França e Marrocos, considerados os campeões das mudanças climáticas globais, pelos avanços internos conseguidos, propuseram a Agenda de Acção Global pelo Clima para impulsionar acções de cooperação entre os governos e os intervenientes não estatais, a fim de apoiar e catalisar a
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implementação rápida e eficaz do Acordo de Paris. No entanto, o trabalho está apenas a começar e tem muitos desafios pela frente. As promessas feitas não vão limitar o aquecimento global a 2°C. As consequências do aquecimento global serão terríveis para a agricultura e o abastecimento de água ameaça as regiões mais vulneráveis e as suas populações. Entre os compromissos, os governos devem aumentar as suas INDCs e desenvolver planos realistas e concretos para apoiar as suas promessas nacionais. É ainda urgente que os países transformem as suas INDCs em programas de investimento, através de
um maior acesso ao financiamento, adaptação das estruturas políticas e de um melhor planeamento do projecto. O envolvimento de actores não-estatais poderia ser reforçado, especialmente em investimentos, desenvolvimento de capacidades e transferência de tecnologia, defendem os especialistas. Os Estados Unidos da América, com cerca de 13% das emissões de gases poluentes, e a China, com 24%, são os maiores poluidores do mundo, estando o sucesso da implementação do Acordo de Paris muito dependente da sua boa vontade, uma vez que não existe nenhuma obrigação legal que os obrigue a cumprir o que ratificaram. &
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FONTES DE FINANCIAMENTO
UM OLHAR BREVE SOBRE AS PREVISÕES DO OGE Não obstante os sinais de abrandamento da nossa economia – já perceptíveis a partir do terceiro trimestre de 2014, com o início da queda do preço do petróleo – ainda assim, o OGE 2015 foi elaborado numa perspectiva optimista, denunciada no Relatório Económico de Angola 2015 elaborado pelo Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (CEIC). Essa perspectiva optimista manteve-se na elaboração do Orçamento Geral do Estado do ano corrente, mas o Governo foi obrigado a revê-lo duas vezes.
Texto: Justino Pinto de Andrade Fotografia: Arquivo
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O OGE 2016 foi elaborado com base nos pressupostos do OGE 2015. Como se vê no quadro da página 68, a taxa de inflação anualizada de 11%, prevista para 2016, foi muito ultrapassada, de tal modo que o OGE 2016 revisto já aponta para uma taxa de inflação acima dos 38%. Prevê-se, agora, para 2016, um aumento da produção de petróleo, mas uma taxa de variação do PIB petrolífero de 0,8%, precisamente por causa da baixa do preço médio do petróleo nos mercados internacionais. O mesmo vem a suceder com a taxa de crescimento do PIB global e com a taxa de crescimento do PIB não petrolífero. Numa recente intervenção, aquando da Conferência sobre o financiamento de infra-estruturas na África ao Sul do Sahara, realizada em Londres, no início do presente ano, sob os auspícios do Instituto Real de Relações Internacionais/ Chatham House, o então ministro das Finanças de
Angola, Armando Manuel, disse que, devido ao gorar de algumas expectativas, pelo facto de o preço do petróleo ter baixado consideravelmente nos mercados internacionais, o alcance de alguns dos objectivos preconizados obrigaria ao alargamento de opções por via de mais “soluções criativas”. O ministro Armando Manuel avançou mesmo com algumas propostas concretas: I) Implementação de “Parcerias Público-Privadas”, pelo que teria sido criada uma unidade no seio do Ministério da Economia encarregue de elaborar o “quadro jurídico e regulatório capaz de construir o ambiente e a capacidade necessária” para a sua materialização, contando com a ajuda da Corporação Financeira Internacional (IFC), uma instituição pertencente ao Grupo do Banco Mundial; II) Emissão doméstica de obrigações para o financiamento de infra-estruturas, dependente do reforço e aprofundamento do
mercado de capitais nacional; III) Fundos de Investimentos Soberanos, fundos de investimentos da diáspora e obrigações ligadas ao preço das matérias-primas negociadas nos mercados de futuros; Fundos de Investimentos Privados e Fundos de Pensões Privados, entre outras opções. Devido à queda acentuada do preço do petróleo, o objectivo do Governo seria de proteger um “núcleo de infra-estruturas tidas como prioritárias”, nomeadamente, a construção de cinco barragens hidroeléctricas. No dia 15 de Agosto deste ano, a Assembleia Nacional aprovou, na generalidade, a Proposta de OGE 2016 revisto, consagrando um fluxo global de financiamento no montante de 6 959,73 mil milhões de kwanzas, 8,3% acima do fluxo de financiamento previsto e aprovado em Dezembro de 2015 (6 429,29 mil milhões de kwanzas). O OGE 2016 revisto prevê uma quebra global nos impostos, na ordem de 4,4%,
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É inegável a degradação da nossa economia no ano 2015, que se deveu também à enorme carência de divisas, que, por sua vez, se reflectiu sobre a taxa de câmbio (30% no mercado formal e acima de 100% no mercado informal, até Dezembro de 2015), sobre as importações e sobre o investimento privado. sendo de 9,1% nas receitas fiscais petrolíferas (passando de 1 689,73 mil milhões de kwanzas para 1 535,50 mil milhões), e de um ligeiro aumento de 0,7% na receita fiscal não petrolífera (passando de 1 545,38 mil milhões de kwanzas, na previsão inicial, para 1 556,54 mil milhões, no OGE revisto). Prevê ainda um aumento substancial do
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endividamento do Estado, na ordem de 19,2%, sendo que o endividamento interno aumentará em 49,8%. A DEGRADAÇÃO DA ECONOMIA EM 2015 A alteração do preço médio do barril do petróleo (de 81 USD/ barril para 40 USD/barril) impactou significativamente os restantes indicadores macro-
económicos, provocando uma redução em 35,7% na previsão de arrecadação de receitas (de 4 184,9 para 2 692,6 mil milhões de kwanzas) e um corte de 33% na previsão da despesa (de 5 215,8 para 3 499,1 mil milhões de kwanzas). Todavia, dado que houve um corte significativo na despesa, ligeiramente abaixo da redução prevista na arrecadação de receitas, o impacto sobre
o défice foi também bastante reduzido (0,6%). Os principais pressupostos que nortearam a elaboração do OGE 2015 sofreram, pois, enormes alterações, ao ponto de se ter procedido à sua revisão, de que se destacam os seguintes dados, retirados do Relatório Económico de Angola 2015, produzido pelo CEIC: houve uma revisão em baixa das taxas
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| MERCADO E FINANÇAS
PRESSUPOSTOS MACROECONÓMICOS DO OGE-2016 OGE - 2015
OGE - 2016 INICIAL
REVISTO
Taxa de Inflação (%)
14,47
11
38,5
Produção Petrolífera Anual (milhões de barris)
651,525
675,250
675,250
Média diária (bbl/dia)
1 785
1 850
1 850
PREÇO MÉDIO DE EXPORTAÇÃO DO PETRÓLEO (USD/BARRIL)
52,4
45
40,9
Valor Nominal (mil milhões de Kz)
12 745,6
14 218,1
16 879,6
Taxa de crescimento real (%)
2,8
3,3
1,1
Sector Petrolífero
9,8
4,8
0,8
Sector não Petrolífero (NP)
1,3
5,5
1,2
PRODUTO INTERNO BRUTO
”
Prevê-se, agora, para 2016, um aumento da produção de petróleo, mas uma taxa de variação do PIB petrolífero de 0,8%, precisamente por causa da baixa do preço médio do petróleo nos mercados internacionais. O mesmo vem a suceder com a taxa de crescimento do PIB global e com a taxa de crescimento do PIB não petrolífero. de crescimento de quase todos os sectores da economia, como, por exemplo, a agricultura (de 12,3% para 7,9%), a indústria transformadora (de 11,2% para 6,8%), a construção (de 10,5% para 6%) e os serviços (de 9% para 4%). Contudo, o preço médio do barril de petróleo em 2015 (52,4 USD) situou-se cerca de 31% acima do que estava previsto no OGE revisto (40 USD). A previsão do crescimento da economia no OGE 2015 revisto (6,6%) ficou muito aquém do realizado (2,8%), com o sector não petrolífero a crescer somente 1,3%, muito distante
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dos 5,3% do OGE revisto e a uma distância abismal dos 9,2% do OGE 2015 original. A indústria transformadora teve, inclusive, um crescimento negativo (-4%), contrariando flagrantemente, quer a taxa de crescimento avançada no OGE 2015 revisto (6,8%), quer a taxa inserida no OGE 2015 original. É inegável a degradação da nossa economia no ano 2015, que se deveu também à enorme carência de divisas, que, por sua vez, se reflectiu sobre a taxa de câmbio (30% no mercado formal e acima de 100% no mercado informal, até Dezembro de 2015), sobre as importações e
sobre o investimento privado. Assistiu-se ainda à retoma da taxa de inflação ao nível dos dois dígitos (a inflação acumulada em 2015 foi de 14,3%, contrariando a visão ainda optimista dos 9% inseridos no OGE 2015 revisto), condicionando o acesso ao crédito, por causa da subida das taxas de juro. O OGE 2015 inicial previa um défice de 1 031 mil milhões de kwanzas, porém, o OGE 2015 revisto apontou para a sua redução para 806,5 mil milhões de kwanzas, num plano de endividamento repartido em 60% com recurso ao mercado interno e 40% com
recurso ao mercado externo. A linha de crédito da China manteve-se como principal fonte de financiamento externo, sendo os restantes créditos provenientes do Banco Mundial (este condicionado à execução de um conjunto de reformas nas áreas da finanças públicas e implementação e execução de projectos de investimentos públicos), também a financiamentos do BBVA, Societé Generale, Goldman Sachs e Gemcorp Capital. Emitiram-se Eurobonds a dez anos no valor de 1 500 milhões a uma taxa de juros anual de 9,5%. &
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22 prémios internacionais em Angola. O banco certo Mais de 150 anos de experiência. para dar o salto EMEA Finance 2016 Melhor Banco de Investimento em Angola Global Finance 2016 Melhor Banco de Investimento em Angola Global Finance 2016 Melhor Provedor de Operações Cambiais em Angola Global Finance 2016 Melhor Provedor de Tesouraria e Gestão de Caixa em Angola
6 Melhor Banco de Investimento em Angola 2016
Na hora de dar o salto, faça-o em plena liberdade com o Standard Bank. Não apenas pelo reconhecimento internacional que os prémios conferem, mas também pela segurança, conhecimento e experiência acumulados em mais de 150 anos. Prepare-se para grandes vôos com o maior banco de África. Estamos à sua espera.
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Seguindo em Frente
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| SOCIEDADE
AQUICULTURA
ÚLUA “ANIMADA” COM O INÍCIO DA PRODUÇÃO DE TILÁPIA A localidade do Úlua, província do Bengo, está localizada, aproximadamente, a 40 quilómetros da capital Caxito, uma zona de difícil acesso, que tem como principal atracção uma lagoa que agora alberga 15 gaiolas para produção de tilápia, que pode atingir até 13 toneladas de peixe cacusso por ano. O projecto emprega 30 ex-militares e cidadãos locais e veio devolver alguma esperança à comunidade, que dentro de dois meses espera ter a primeira safra.
Texto: Edjaíl dos Santos Fotografia: Afonso Francisco
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SOCIEDADE | 71
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O PROJECTO COMPORTA 15 GAIOLAS DISTRIBUÍDAS POR CINCO COOPERATIVAS DE SEIS PISCICULTORES CADA E É ESPERADA UMA PRODUÇÃO ANUAL DE TREZE TONELADAS DE TILÁPIA (PEIXE CACUSSO) QUE, NÃO SÓ VAI PERMITIR CRIAR RENDA JUNTO DOS BENEFICIÁRIOS, MAS TAMBÉM MELHORAR A DIETA ALIMENTAR DAS COMUNIDADES.
O programa de fomento da aquicultura comunal chegou ao Úlua, Bengo, com um projecto orçamentado em mais de oito milhões de kwanzas, suportados pelo Fundo de Apoio ao Desenvolvimento da Pesca. O projecto comporta 15 gaiolas distribuídas por cinco cooperativas de seis piscicultores cada e é esperada uma produção anual de treze toneladas de tilápia (peixe cacusso) que, não só vai permitir criar renda junto dos beneficiários, mas também melhorar a dieta alimentar das comunidades. Os associados tiveram uma formação especializada na empresa LN2, do Bengo, que prestou apoio técnico e irá ainda garantir a manutenção das gaiolas, sendo que, para evitar constrangimentos no escoamento da produção, a
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comercialização do pescado estará a cargo da empresa estatal EDIPESCA, de Luanda. O vice-governador para a Área Técnica e Infra-estruturas do Bengo, José Major, acredita que a reprodução de peixe em gaiolas na lagoa do Úlua permitirá o fomento da piscicultura, assim como incentivará o associativismo e o cooperativismo. “Acreditamos que a inauguração deste projecto irá contribuir para o alcance da meta de 60 mil toneladas previstas no Plano Nacional de Desenvolvimento 2013/2017”, referiu. O governante defende que ensinar como preparar o alimento alternativo com base na matéria-prima local e a capacitação para a melhoria das infra-estruturas de reprodução são os grandes desafios que a piscicultura enfrenta em Angola.
Já a secretária de Estado das Pescas, Antónia Nelumba, no seu discurso, frisou que o Executivo estabelece políticas para o aumento da disponibilidade de alimentos e para garantir a segurança alimentar no país, principalmente com a produção de proteína animal, o que está preconizado nos programas de intervenção nas comunidades, empresas e entidades interessadas na aquicultura. “Fomentar a aquicultura para aumentar e diversificar a produção pesqueira é um dos nossos desafios. Por isso, através do programa dirigido para o aumento da produção de pescado, aprovado pelo Executivo, estamos a apoiar, não só o empresariado de âmbito comercial, mas também a implementar projectos aquícolas na modalidade de
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Nelson Cardoso, Responsável do Projecto de Aquicultura LN2
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gaiolas ou tanques escavados”, afirmou Antónia Nelumba. ESCASSEZ DE RAÇÃO ATRAPALHA O responsável do projecto da aquicultura LN2, Nelson Cardoso, reforçou a importância da ração animal na actividade aquícola e lamentou estarem a enfrentar dificuldades em adquirir este bem. “Temos dificuldade em conseguir ração, mas em cooperativa pode ser mais fácil comprar e a um bom preço”, informou, embora tenha admitido que há insuficiência de ração animal no país. “Esse é o principal problema. Entretanto, com disponibilidade de ração, esta actividade vai crescer muito mais e vai empregar muito mais gente”, explica, esperançoso, o responsável pela formação dos produtores. Por outro lado, Nelson Cardoso relembra que a actividade artesanal de aquicultura cria emprego, aumenta a renda e as condições de vida, “porque quando bem-feita todos podem operar
"ACREDITAMOS QUE A INAUGURAÇÃO DESTE PROJECTO IRÁ CONTRIBUIR PARA O ALCANCE DA META DE 60 MIL TONELADAS PREVISTAS NO PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO 2013/2017”, REFERIU O VICE-GOVERNADOR PARA A ÁREA TÉCNICA E INFRA-ESTRUTURAS DO BENGO, JOSÉ MAJOR. nela, sendo necessárias apenas instituições sérias que façam o controlo da produção”. “Os maiores produtores de aquicultura têm algumas indústrias grandes do sector, mas a produção artesanal é bem maior. Estamos a dar os primeiros passos com a formação para que os piscicultores aprendam as melhores práticas da actividade”, aclara. Já Francisco Domingos, coordenador da Comissão de Moradores do Úlua, também está optimista no que ao
funcionamento da iniciativa diz respeito, e acredita que esta traga ganhos à comunidade que dirige. O responsável estima que dentro de dois a três meses será possível vender a primeira produção. Entretanto, nem tudo é um mar de rosas na comuna do Úlua. Na altura da nossa visita à localidade, constatámos que a escola do Iº Ciclo do Ensino Primário, com mais de dez anos, se encontra em estado avançado de degradação, sendo que é possível vislumbrar tectos esburacados e portas e janelas com fissuras. Ainda assim, a população não perde a esperança de que a mesma venha a ser reabilitada dentro em breve, à semelhança do posto de saúde que mereceu um restauro. “A comunidade é abastecida por cisternas e tem um tanque que serve como reservatório local, mas a energia eléctrica ainda não é uma realidade, sendo que muitas fazendas à volta da localidade reclamam do mesmo problema”, lamentou o coordenador da comunidade, Francisco Domingos. &
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FLÁVIO CARDOSO Presidente da Associação Angolana de Jiu-Jitsu
O JIU-JITSU É O MELHOR DESPORTO DO MUNDO”
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Economia & Mercado (E&M) – Qual é a receita para se ser um bom gestor desportivo, principalmente na conjuntura em que nos encontramos? Flávio Cardoso (FC) - O gestor desportivo deve levar para o desporto elementos fundamentais para o seu melhor desenvolvimento, tais como o marketing, o planeamento estratégico, a gestão de pessoas, de projectos e financeira. Colocar os elementos da lógica económica ao serviço do desporto e manter o mesmo ao serviço do homem, nunca inverter esses valores, as crises são temporárias mas os valores são eternos. O desporto está em constante mutação e os gestores desportivos tem a missão de fazer com que este sobreviva num cenário desfavorável como o que vivemos na conjuntura actual. A formação e a constante actualização sobre novos métodos de gestão desportiva são elementos fundamentais de ajuda ao gestor nas suas tomadas de decisão. E por último, mas aquela que considero ser a essência fundamental do sucesso de uma organização, é a capacidade de um gestor desportivo de tornar harmonioso o ambiente de trabalho com vários indivíduos de diferentes personalidades. Um gestor tem de ser um líder exemplar dentro e fora da sua organização. E&M - Como gestor desportivo, que grandes desafios tem pela frente? FC - Actualmente, o meu maior desafio é conseguir manter a
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Associação Angolana de Jiu-Jitsu, uma organização de artes marciais com prestígio nacional e internacional. Apesar dos grandes resultados conquistados a nível internacional pelos nossos atletas, ainda temos de trabalhar muito para conquistarmos o nosso espaço. Não podemos perder o nosso grande foco que é a massificação do Jiu-Jitsu e torná-lo num dos desportos mais praticados em Angola. E&M - Que importância tem o desporto, em particular o Jiu-Jitsu, para o país? FC - O Jiu-Jitsu, sem menosprezar as demais modalidades, é o melhor desporto do mundo. Quando alguém me pergunta sobre as razões por que deve treinar Jiu-Jitsu, respondo sempre explicando os valores que as artes marciais trazem como parte do processo de treino de um indivíduo: o respeito pelos colegas, pela hierarquia, pela educação, a capacidade de superar as diferentes adversidades da vida, de lidar com as vitórias e com as derrotas, a responsabilidade pelos actos que praticamos. Só as artes marciais nos podem dar esses valores de uma forma constante e diária, e é com esses valores que estamos a contribuír para a criação de futuros líderes para o nosso país. Os Emirados Árabes Unidos são um dos países que mais crescem economicamente, e o Jiu-Jitsu é, actualmente, um desporto escolar
que o Governo dos Emirados institucionalizou como obrigatório. E&M - Qual é a estratégia para aumentar a prática do Jiu-Jitsu em Angola e que aspectos distinguem, de outros países, a actividade praticada em Angola, em termos de condições e eventos? FC - A boa relação humana é meio caminho para o sucesso na implementação de qualquer estratégia. As pessoas devem ter confiança no produto que oferecemos, seja o pai que vai levar o seu filho a uma escola de Jiu-Jitsu, o órgão de comunicação social que vai divulgar o Jiu-Jitsu, o patrocinador que vai apoiar as nossas actividades, ou o próprio Governo, que tem o papel de incentivar e regular a prática desportiva no país. A nível de organização de eventos desportivos, a Associação Angolana de Jiu-Jitsu é a melhor em África e, sem sombra de dúvida, está entre as melhores do mundo. A qualidade dos nossos eventos mereceu algumas distinções a nível nacional e internacional. Actualmente, organizamos eventos que fazem parte do circuito internacional de provas com cotação para o raking mundial, como são os casos do “Luanda International Pro”, que acontecerá em Dezembro do corrente ano, e do “Angola National Pro”, em Fevereiro de 2017, que vai qualificar os melhores atletas de África para o campeonato do mundo que acontece anualmente em Abu Dhabi.
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RESPONSABILIDADES Gerir, promover e divulgar o Jiu-Jitsu como uma modalidade que promova a saúde, o bem-estar e a inclusão social e como sendo uma solução para o combate ao stress, sedentarismo, à obesidade e ao bullying.
MÁXIMA DE GESTÃO “Ser o primeiro a chegar e o último a sair”.
CARREIRA / CURRICULUM VITAE Flávio Cardoso é licenciado em Gestão de Empresas pela Universidade Lusíada de Angola. Em 2012, integra a equipa de trabalhadores efectivos da multinacional petrolífera Esso Angola, no departamento de Logística. Um ano depois, em 2013, é eleito Presidente da Associação Angolana de Jiu-Jitsu Brasileiro (AAJJB). Em 2015, recebeu da mão do CEO da Federação dos Emirados Árabes Unidos, Fahad Ali, um prémio de distinção pela massificação do Jiu-Jitsu em África, o que culminou com a realização do primeiro campeonato internacional de Jiu-Jitsu em Angola com cotação para o ranking mundial, o “Angola National Pro Jiu-Jitsu Championship”, que contou com a participação de 115 atletas de todo o mundo. Tem o curso intensivo de Marketing Desportivo, organizado pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional e Internacional de Angola, ministrado pelo professor Renato D’Avila, membro do Comité Olímpico Brasileiro.
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BARCA VELHA 2008
VALE A PENA ESPERAR UMA “ETERNIDADE” POR UM VINHO MÍTICO
A pressa é inimiga da perfeição. Pode parecer mais um cliché, mas esta frase ganha sentido quando temos diante de nós uma obra de arte de elevada qualidade, que só foi alcançada porque lhe dedicamos (à obra) mais do que o nosso tempo, a nossa alma. Aliás, não há arte sem alma, sem aquele toque indescritível que nos mexe emocionalmente. E é também com as nossas emoções que o recém-lançado Barca Velha 2008 mexe, depois de o termos aguardado por precisamente oito anos. Mas o Barca Velha é mesmo mítico e não uma “criança” de apenas oito anos, por quem tivemos de esperar para que ganhasse alguma consciência da vida ao longo desse tempo, pois a marca vem sendo aperfeiçoada desde que ganhou vida pelas mãos do mestre Fernando Nicolau de Almeida, em 1952. É essa tradição de mais de meio século que a equipa de enologia da Casa Ferreirinha, liderada por Luís Sottomayor desde 2008, respeita, ao decidir lançar um novo Barca Velha que premeia os oito anos de cuidado e trabalho emotivo, “sempre em busca das provas irrefutáveis das valências de equilíbrio, elegância, delicadeza e complexidade
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que fazem deste vinho um verdadeiro ícone”. Foi uma decisão tomada sem pressas, reforçam os produtores, pois trata-se de um vinho mítico, cuja 18ª edição chega ao mercado este mês em 18 000 garrafas numeradas e devidamente autenticadas. O Barca Velha 2008 mantém a cor rubi de alta profundidade, “um aroma intenso de excelente complexidade, com saliência para os frutos vermelhos vivos e especiarias, como pimenta e cravinho, mas revela também um aroma balsâmico e a cedro, bem como resina e caixa de tabaco”, lê-se numa nota de imprensa partilhada pela Casa Ferreirinha. Entretanto, outra nota importante é a madeira, classificada como de excelente qualidade e que se harmoniza com o conjunto de aromas. Na boca, o Barca Velha 2008 “mostra um excelente volume, acidez viva e taninos intensos, revelando notas de frutos vermelhos, pimenta, cravinho e gengibre. O seu final é extraordinariamente longo, elegante e harmonioso”, descreve a marca, deixando-nos ansiosos para o experimentar. & Texto: Sebastião Vemba Fotografia: Cedida pela marca
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SAMSUNG EM CHAMAS Quando vários Samsung Galaxy Note 7 explodiram ou entraram em combustão espontânea, a empresa da Coreia do Sul imediatamente colocou centenas de trabalhadores a investigarem a causa do problema. Nenhum foi capaz de replicar a explosão, independentemente das tentativas, acabando por concluir que o defeito estava nas baterias. Foi então que a Samsung anunciou a primeira recolha destes telemóveis, substituindo-os por outros iguais mas com baterias diferentes. A solução falhou. Os novos Note 7 também explodiam sem razão aparente. Os técnicos voltaram aos laboratórios para perceberem de onde vinha o problema, já que claramente não era das baterias, mas entretanto já era tarde demais. No início de Outubro, a Samsung anunciou que ia “matar” o Galaxy Note 7 definitivamente, uma jogada drástica na indústria da tecnologia. O resultado foi uma queda a pique da empresa sul-coreana, ainda pior por tudo ter acontecido ao mesmo tempo que a Apple lançava o iPhone 7. As consequências do maior fiasco da história dos telemóveis foram desastrosas para a Samsung. As suas acções caíram cerca de 9% por dia, a maior queda de sempre para a empresa, e a sua quota de mercado caiu em mais de 17 mil milhões de dólares só nos primeiros dois meses. É difícil prever quanto tempo a Samsung vai demorar a recuperar desta crise, já que a confiança dos consumidores é algo que não se mede em dinheiro. &
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NOVO DISCO DE ANSELMO RALPH SAI ESTE MÊS
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Após vários meses de preparação, Anselmo Ralph já anunciou que o lançamento do seu novo álbum será mesmo em Novembro. “Amor é cego” é composto por 15 músicas cujas letras falam de relações amorosas cheias de paixão, traição, encontros e perdão. “Todo teu” foi a primeira música desta obra a ficar conhecida e a circular pelas rádios do país. Para assinalar o lançamento do seu mais recente trabalho discográfico, o cantor já está a preparar dois concertos de Natal, em Lisboa e em Luanda. O primeiro vai ser no dia 9 de Dezembro, no Campo Pequeno, enquanto que o segundo está marcado para dia 16 do mesmo mês, no Dream Space. &
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OS CARROS COM MAIS ACELERAÇÃO DO MUNDO
Tesla S P100D
Mesmo que não tenhamos a intenção de comprar um carro novo, todos gostamos, nem que seja por curiosidade, de saber quais são considerados os melhores do mundo, ou os piores, ou os mais seguros, ou os mais confortáveis, ou, neste caso, os mais rápidos. Recentemente, o portal de notícias MSN fez a lista dos 30 carros de linha mais acelerados de 2016 (que vão dos 0 aos 100 km/h em menos tempo) e, claro, a E&M foi logo investigar os vencedores para os apresentar aqui, na secção dedicada aos amantes de automóveis. Para espanto de todos, aquele que tem sido descrito como o “carro de linha mais rápido” do mundo é o S P100D da Tesla Texto: Patrícia Pinto da Cruz Fotografia: Cedida pela marca
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(na foto), capaz de chegar aos 100 km/h em 2,5 segundos. Diz-se “para espanto de todos” porque esta é uma aceleração extraordinária para um sedã, mas torna-se ainda mais extraordinária por estarmos a falar de um carro eléctrico. O Tesla é o mais surpreendente, mas o verdadeiro campeão é, sem grandes surpresas, o Bugatti Chiron. O carro mais rápido e potente do mundo vai dos 0 aos 100 km/h em 2,3 segundos e dos 0 aos 300 nuns vertiginosos 15 segundos. Para utilização em estrada, a fabricante decidiu limitar a velocidade máxima a 420 km/h. O supercarro de desporto já foi apresentado mas só vai ser lançado no próximo ano e, apesar de o seu preço rondar os 2,5 milhões de euros, a Bugatti já tem mais de 200 encomendas feitas.
Infelizmente, a marca apenas vai lançar 500 automóveis deste modelo em todo o mundo. Depois vem, empatada, a santa trindade de supercarros híbridos: Porsche 918, LaFerrari e McLaren P1, que vão dos 0 aos 100 em menos de 2,5 segundos. Sendo híbridos, estes automóveis têm um motor de combustão e um motor eléctrico – excepto o 918, que tem um motor de combustão e, não um, mas dois motores eléctricos. A coisa mais extraordinária nestes três hipercarros não é o seu preço nem a sua performance-foguetão, mas como são tão equiparáveis apesar das abordagens completamente diferentes dos seus fabricantes – e cada um deles acredita que criou o carro de linha mais rápido, avançado e aerodinâmico do mundo. &
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POR UM DISCURSO DE QUALIDADE A um ano das eleições gerais no país, era legítimo termos de todas as forças políticas concorrentes programas de governação que nos permitissem, a nós cidadãos, ter uma ideia daquilo a que se propõem fazer no caso de virem a ser governo. Os cidadãos devem e querem ter uma ideia sobre a sua vida futura e, em democracia, cabe aos partidos políticos apresentar com detalhe as suas ideias.
NÃO É A DIFERENÇA DE PONTOS DE VISTA QUE NOS SEPARARÁ. É A AUSÊNCIA DE FUTURO. DE PROJECTOS, DE ACÇÕES CONCRETAS QUE AGREGUEM E CONDUZAM AO CRESCIMENTO, AO DESENVOLVIMENTO E AO BEM-ESTAR.
Nuno Fernandes Jornalista Presidente do Conselho Executivo Grupo Executive
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Tirando o partido que governa o país, decorrente do voto popular maioritariamente expresso em 2012, e que tem um programa de Governo que pode e deve ser escrutinado relativamente a resultados concretos, a verdade é que dos demais pouco ou nada se conhece a não ser a vontade de virem a ser poder. Percebemos hoje uma maior presença de partidos da oposição em espaços nobres da imprensa, especialmente de televisão, mas pouco aproveitados para o fornecimento de ideias concretas para alterar, para melhor, a situação que o país vive. Na generalidade, esses espaços têm sido usados para se pôr em causa a qualidade da governação actual mas sem que se ofereça, também em termos qualitativos, melhores alternativas. Para quem assiste às entrevistas, é perceptível, regra geral, a má preparação de muitos representantes da oposição e nem sempre a melhor postura de quem tem a responsabilidade de moderar. Queremos todos saber qual o compromisso perante o eleitorado relativamente à política de investimentos. Que medidas concretas se oferecem no sentido de se incentivar o investimento estrangeiro? O país precisa necessariamente desse recurso. Mas como criar o melhor ambiente de negócios que o possa tornar atractivo? Como utilizar o investimento público para provocar crescimento e em que medida o endividamento, quer interno quer externo, pode ser usado? Quais os riscos e quais os limites?
Que política concreta para a educação, para a saúde, para a energia, para os transportes, para a distribuição de água, para a habitação? Se há melhores alternativas às empreendidas pelo actual Governo, então devem ser dadas a conhecer, sendo estas as questões que os partidos políticos devem trazer aos cidadãos sob propostas claras de governação. Depois de duas legislaturas, já é hora de as forças que congregam a oposição no país terem planos de acção concretos. Sobretudo ideias claras. O discurso da rejeição pela rejeição é cansativo e não mobiliza simpatias. A actual conjuntura internacional e regional obriga-nos a opções sérias para que a situação do país não resvale para aquelas que conhecemos em várias partes do continente e na nossa região em concreto. Política sem bem público, ou melhor dizendo, do poder pelo poder, levar-nos-á ao vazio e ao risco da confrontação. Não é a diferença de pontos de vista que nos separará. É a ausência de futuro. De projectos, de acções concretas que agreguem e conduzam ao crescimento, ao desenvolvimento e ao bem-estar. A um ano das eleições gerais, seria bom os partidos políticos oferecerem aos cidadãos planos concretos de governo. Queremos ouvir o que preconizam e como podem melhorar a nossa vida. Se será isso determinante para se ganhar as próximas eleições, não o sei dizer. Mas é determinante para o nosso futuro. E as forças responsáveis devem fazê-lo. O resto caberá aos eleitores decidir. &
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