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Ana Roque
Ana Roque. Sou natural de Lisboa, tenho 64 anos. Formação inicial em Secretariado e Relações Pública,.aos cinquenta anos e por gostar de pessosas, tirei o Mestrado em Psicologia Clinica no ISPA. Trabalhei vinte cinco anos em moda, e doze em Turismo. Sempre gostei de escrever, e neste momento reformada por força da pandemia, dedico-me à leitura e à escrita. Frequentei o Curso de Escrita Criativa, de Analita Alves dos Santos, segui para o Livro em Ação, onde faço parte da coletânia de contos que neste momento está a ser terminada. Faço parte do Clube dos Writers onde participo em desafios de escrita assim como Masterclasses. anacom variados escritores. Sou apaixonada pela natureza, pelo mar e bem-estar fisico e mental, fiz desporto desde sempre. Acredito que com todas as histórias que tenho em mente e no papel, um dia irei escrever e publicar um livro. @ana.m.roque.73 (instagram) Ana Maria Roque (Facebook) Ana.costa.r@hotmail.com
Mulher e Mãe
Joana era mãe de primeira viagem. Embora sempre tivesse sonhado com a gravidez, esta veio de surpresa. Casada há pouco mais de três anos, sabia que a sua relação já tivera melhores dias. Recordava o terceiro aniversário de casamento em que, empolgada, preparara um jantar romântico. José (marido) nem lhe tinha dado os parabéns e ligara perto da hora habitual de chegar a casa, a prevenir para não esperar por ele, pois tinha de trabalhar até mais tarde. Quando confrontado no dia seguinte com a situação, deu uma desculpa serôdia, nada abonando a seu favor e não assumindo a sua falha. Uns meses mais tarde e após várias discussões sobre o tema casamento/divórcio e sem chegarem a bom porto, Joana está esgotada e continua a não ter grande apoio da parte de José, vê-se a braços com o dar conta do seu esforço para ser mãe com um filho de quase um ano e o
seu emprego de responsabilidade. E é neste registo que resolve pôr ponto final no que já não faz sentido e resolve escrever uma carta ao marido: “ Olá José! Escrevo-te após o nosso impasse na relação e de me sentir sem coragem para sobreviver em vez de viver. Não estranhes a minha ausência quando chegares a casa, onde já me sentia sozinha, tendo apenas como motivação, o nosso filho. Estive a pensar em nós e nas vezes em que te abordei, no último episódio, o teu argumento no terceiro aniversário do nosso casamento, em que me disseste “só querias ver como eu reagia”, Nesse dia confesso que ri de nervos para evitar chorar, da tua desculpa preventiva. Pelo teu comportamento distante, percebo que não queres viver comigo, o teu esforço está a ser notório, nem sei se irás sentir falta do teu filho, julgo que o amas. Tenho-me esforçado para transcender possíveis choques emocionais, para que haja efeito pacificador de uma relação futura sincera e amistosa. De ti guardo a melhor recordação, o nosso Afonso, na verdade a culpa não é tua, é nossa. Agi de forma imatura quando me apaixonei por ti. Deixei que os teus atributos charmosos tolhessem as minhas capacidades perceptivas. Não vou para longe, por agora estarei em casa da minha irmã até me organizar. Podes estar com o teu
filho sempre que quiseres. Entretanto vamos tratar da parte burocrática do divórcio para que tudo se possa encaixar e cada um seguir a sua vida. ” Joana *** Um novo desafio surge na vida de Joana, continuar a ser Mulher e Mãe, conciliar o seu trabalho, e conseguir vir a ter, um dia, uma casa para si e seu filho. O divórcio desenrolou-se normalmente, não deixando de haver dificuldades com o que ficava para quem. Joana encarou e assumiu o seu novo papel com coragem e amor, tinha por quem lutar. Apesar da certeza da decisão, a dor não deixava de ser inevitável, era um sensação de fracasso. Passava a ser a protagonista da sua própria vida. Reconhece ter algum medo, o primeiro passo tinha sido dado. José, depois de regulado o poder paternal, poderia ficar com o filho fins de semana de quinze em quinze dias e, durante a semana, sempre que quisesse poderia buscar o menino ao infantário, desde que avisasse a mãe. Tinha tudo para dar certo! Nos primeiros meses, todos os deveres eram cumpridos com algum normalidade, no entanto, com o passar do tempo, as visitas começaram a ser escassas e as desculpas tornaram-se realidade. Cada vez passava menos tempo com o filho, que questionava a mãe sobre o pai que não chegava.
Joana apenas podia contar com o apoio da mãe e da irmã e desdobrava-se em duas para conseguir que nada faltasse ao filho. A rotina diária, a jornada entre emprego, casa e cuidados com o seu pequeno não lhe deixavam muito tempo para “respirar”. Sabia que ser mãe era crescer e amadurecer, era entender o propósito de vida, do amor e do sentimento pelo filho. Conciliar o papel de mulher e mãe não lhe dava espaço para si, não se lembrava a última vez que tinha feito uma saída com amigas. Um dos dias deixou o Afonso com os pais para poder ir ao jantar de aniversário de uma amiga, mas não conseguiu afastar da cabeça o seu sentimento de culpa por não estar com o pequeno. A sua herança cultural e processos familiares vividos teimavam para que não fosse fácil. Aos poucos e com o passar do tempo, tudo começara a mudar e a seguir o rumo da normalidade. Afonso fazia cinco anos e Joana tinha começado a frequentar o ginásio e a seguir um plano de dieta, já tinha perdido cinco dos dez quilos que seriam o seu objetivo. Melhorar a sua autoestima fazia com que se sentisse feliz e isso notava-se tanto a nível familiar como no emprego. Entretanto José pedira transferência para Angola, onde a sua empresa também tinha negócios. Casara e soube
que vinha um filho a caminho. Só via Afonso nas escassas vindas a Portugal e as referências iam-se perdendo à medida que os anos passavam. Afonso parecia um menino feliz, cada vez estava mais ligado à mãe. Foi deixando de estranhar as ausências do pai, a mãe conversava bastante com ele, explicando que o pai estava a trabalhar longe. A cumplicidade era grande e, assim, foi crescendo alegre e saudável, rodeado de amor da família que o acolhia, mimava e educava. Hoje Joana se sente orgulhosa de tudo o que conseguiu, a sua casa pequena mas acolhedora, que comprou com a ajuda dos pais, o namorado atual e a aceitação e a amizade deste com o seu filho. A que absorvesse valores e que o levassem a ser um adulto íntegro.
Ser mãe, mulher, esposa, ter emprego, dona de casa, filha… não é tarefa fácil, mas tudo se consegue. Aprendemos, evoluímos e acreditamos no nosso poder.
NOTA: O texto original foi apresentado em 3 páginas, conforme o edital. No entanto, após a diagramação da revista, fez-se necessária a alteração em virtude do programa usado.
Augusto Filipe Gonçalves, tem 37 anos, é jurista, licenciado em direito, pós graduado em ciências forenses, investigação criminal e comportamento desviante e mestre em ciências jurídicas, internacionais e europeias. Co autor em diversas em diversos números da revista web Ecos da Palavra, bem como em diversas antologias em Portugal e no Brasil.
MULHER E MÃE Mulher pode ser, Quem a natureza vier a querer, Mas mãe é diferente, É um ato bem mais exigente, É pressuposto, Que seja ato exigente, E quem o cumpra, Seja diligente, Bastante competente, Assuma o compromisso, Cumpra com orgulho e vaidade, Pois não é tarefa com facilidade, Daí ficar contente.
Sim, mãe não é só biologia, Não é só ato de parto, Vai muito mais além, Tem um maior bem, É acompanhar, É seu testemunho, Com orgulho acompanhar, De forma constante e permanente, E dizer de cara alegre, presente.
Carmencita Barbosa Frederico Facebook: Carmencita Galina barbosa157@hotmail.com Escrever é despir a alma sem a deixar nua.
Mulheres e Mães de A a Z
Mulheres no amor e na arte Mães bonitas sem batom ou sem buquê Mulheres da cabana ou da cidade Mães divas do seu destino Mulheres com ou sem estudo Mães acima de tudo felizes Mulheres de gabarito e que não cabem numa gaiola Mães que fazem história Mulheres que inspiram Mães, nossas joias, nosso jardim Mulheres do Karaokê Mães da lida e do lar Mulheres, a mãe do mundo Mães, o ninho da natureza Mulheres ousadas Mães, poesia, prosa, ‘paus pra toda obra’ Mulheres de qualidade Mães de respeito Mulheres de sucesso, sal e sol Mães, o tesouro para lá do tempo Mulheres, o umbigo que une Mães, o valor da vida Mulheres? Waw! Mães? Xiuuuu! Mulheres: yin-yang Mães ou não: mulheres sem zigue-zagues!
FENECER Cesar L. Theis
Ando ocasional, inconexo, efêmero, alheio ao mundo. Tantos “eus” em mim. Vazios do concreto. Vazios de abstrações. Ao que o mundo só produz metástases, e blasé, nada me comove. Persisto a fazer resumos, sínteses de dias cinzas. Enquanto insólito me horizontalizo no tempo. Mas, não se incomode com este meu esvaecer. Meus sussurros são percebidos pelo vento, e por ouvidos atentos. E sei, haverá um tempo futuro sem nenhum eu e também... sem você.