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Adenilda Silva Souza

A LUTA PARA SER EU Adenilda Silva Souza

Às vezes, é difícil dizer o que é real ou mera expectativa que criamos sem avaliar os riscos da ilusão. Por vezes, sinto-me perdida e sem saber para onde ir. Reflito por algum tempo, escrevo e mudo de ideia, eu sempre estou mudando, isso porque não sei escrever se não estiver sentindo o que está em minhas linhas no papel ou tela.

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Uma garota assim pode receber vários títulos, creio que nenhum seja agradável, sou a que faz drama e ama demais, mas também admito, sufoco; não por maldade de querer fazer sofrer, eu espero muito de mim e de quem tenho apreço. Sei que há momentos que tenho a razão, talvez quase sempre, mas não dá para crucificar e matar quem anda comigo. Mesmo que ainda falte muito para o lugar em que me encontro ser acolhedor.

Eu me despeço a cada dia de quem fui ontem, parece esquisito mas todo dia sou uma nova pessoa. Por vezes, olho-me no espelho tentando saber o que sou, porém isso me escapa. Quando penso nas pessoas com quem convivo chego a cogitar a ideia de que sou a errada, a que não apoia e dá suporte suficiente, no entanto, eu sei que não é verdade.

Eu costumo exagerar, mas há verdade nesse excesso, há tudo nesse ser Eu fora de controle, parece

ruim e sei que não é a melhor versão de alguém. Só que necessitamos ser algo, só não é necessário um esforço para provar e mostrar tal fato para a sociedade. Mulheres amam demais! Mulheres são demais para caberem num lugar tão pequeno que as diminua.

A liberdade é mais do que apenas poder ser o que quiser, é ser aquilo que é sem medo de julgamentos. Se não sou a perfeição que esperam por que devo pagar por tal atitude? Sou apenas Eu, um ser querendo mudança e saber quem realmente sou e o que posso fazer por mim. Desejo que todas possam comandar suas vidas sem a sombra da dúvida de ser uma péssima pessoa, pois é como sempre nos fazem sentir; independente do quanto se sacrifique sempre há um erro que os outros apontam para te definir. Mulheres merecem mais!

A mudança é interna, se reconhecer por completa, somos mais que um rótulo. Não devo ser definida pelas coisas que tenho e faço, essas foram colocadas a meu serviço para viver a plenitude que ser Eu representa. Talvez nos digam para adiar a maternidade e não ser mãe, pois assim aproveitaremos mais, eu vejo diferente e cada pensamento merece respeito. Ter um filho não é problema, problema é não se conhecer antes de tais escolhas; isso é liberdade, liberdade que grito para que todas tenham, não menosprezem a voz interior de vocês. Ela é a sua verdade. Seja o que é, não espere por ajuda e reconhecimento, reconheça-se e seja sua fortaleza.

Eu me chamo Alysson Reis, tenho dezenove anos, moro em Recife, sou estudante de Políticas Públicas, ativista socioambiental, escritor e professor de inglês. Escrevo poemas, cordéis, contos, crônicas, ensaios e outros textos. E quero te convidar a me conhecer um pouco mais: @alyssonreisgb

EDNEUSA 07/11/2021

Um diagnóstico tão difícil de receber quanto ler a letra do médico. Uma nova rotina cheia dos mesmos sufixos: oncologia, quimioterapia, radioterapia, cirurgia, mastectomia, fisioterapia. Meus olhos assustados e minhas mãos trêmulas, mas a tua calma me convenceu, a tua força de mulher, a tua proteção de mãe. E o teu desejo infantil e belo por um radinho AM/FM, quando o meu desejo era apenas a tua cura. Eu reclamando pelos cantos, e tu agradecendo por cada momento.

Uma notícia boa. Um embrulho que despertou teu sorriso. Aquele radinho foi um presente sensível de uma amiga das antigas - ela acertou o teu desejo de ouvir a Nova Brasil de manhã cedo. E ele toca, arrasta a tarde e a noite ao som da música popular. Ao teu lado, pela janela da cozinha, vejo a lua sorrindo a nos espiar. Rouba a cena com sua palidez e brilho. E você deita sobre o lençol amarelo, tenta revirar e não consegue, depois levanta e vai ao banheiro, depois me pede um favor, depois volta para o quarto, depois cochila. Sorrio de volta para a lua, peço ao seu criador que te deixe aqui comigo, que não te leve jamais. E desmorono sem querer.

Percebo que eu te tenho hoje, e decido construir no presente a nossa eternidade. Te amo, Edneusa.

Amélia Luz – nasceu em Pirapetinga/MG em 30 de março de 1945. Formou-se em Pedagogia – Administração Escolar e Magistério – Orientação Educacional –Comunicação e Expressão em Língua Portuguesa com Pós Graduação em Psicopedagogia na Escola e Planejamento Educacional. Participou do Curso Ler e Contar – Contar e Ler – PROLER – Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro/RJ. Exerceu a missão de professor– SEE/MG e SEE/RJ tendo como seu primeiro objetivo na Regência de Turma o de despertar em seus alunos o gosto e o interesse pela leitura e pela escrita. Com criatividade desenvolvia trabalhos variados buscando levar o aluno a ler, interpretar e produzir textos. •Sua obra foi objeto de estudo pela Mestra Professora Mônica da Silva Mota Pimenta – Mestrado em Letras – Stritu Sensu - Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora/MG – CES/JF – Dissertação de Mestrado - Trabalho: Memória e Literatura, oArquivo Pessoal deAmélia Marcionila – Juiz de Fora – 2010. É Membro Efetivo da APLAC – Academia Paduana de Letras, Artes e Ciências –Santo Antônio de Pádua/RJ, Membro Correspondente da Academia Rio – Cidade Maravilhosa – Rio de Janeiro, Membro Correspondente Friburguense de Letras,–da Academia Artes e Ciências do Brasil – Mariana/MG, da SBPA – Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas – Ex-AldraviLIBRIS – Patronesse de Flávia Rohdt Academia Internacional de Aldravias Andreia Donadon Leal -Mariana/MG, Membro do InBrasCi – Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais –Mariana/MG, Membro da Academia Brasileira de Poesia – Casa Raul de Leoni –Petrópolis/RJ, Membro da AFL – Academia Ferroviária de Letras – Rio de Janeiro/RJ, Membro Correspondente de APALA – Academia Pan Americana de Letras eArtes, Rio de Janeiro e outras associações literárias no Brasil e exterior. Trabalha a palavra todos os dias na sua oficina de versos. Ama a liberdade construindo textos em prosa e verso. Incansável garimpa no baú de Camões acreditando sempre no amanhã apostando na palavra viva.

MULHERES RIBEIRINHAS

Mulheres ribeirinhas, mulheres rainhas. O rio é o caminho, o casco, o remo a canoa o burburinho das águas sagradas, rio acima ou rio abaixo. Tareando as canoas vão correndo atrás da pesca ou utilizando do transporte indo para o povoado, para as igrejas, para as escolas, para festas diversas de casamento aniversário ou batizado.

Domingo é dia diferente, óleo de coco nos cabelos lisos ou frisados, restos de esmaltes nas unhas cansadas do trabalho e um “batom” bem vermelho além das maçãs do rosto avermelhadas de “rouge” pela vaidade, com produtos caseiros vindos da mata. Mulheres índias, caboclas, mulheres da selva, mulheres corajosas do parto de cócoras, dos chás, dos remédios dos caciques e pajés, das macumbeiras, das ervas milagrosas das rezas benfazejas.

Ribeirinhas, mulheres rainhas, a paisagem é bela, as correntezas, o verde das matas, as casas em palafitas aparecendo aqui e ali e as pontes rústicas de madeira para atracar os barcos e canoas.

O Tocantins imponente que tudo lhes dá de presente vai levando todos os moradores no seu leito acolhedor. Crianças, moças, velhas, parteiras, benzedeiras a caminho do arraial. O padre, a professora vão também seguindo na mesma corrente numa vida missionária de doação aos necessitados da fé e das letras.

A integração regional de um outro Brasil, de uma grande Amazônia de muitas riquezas desconhecidas exploradas por estrangeiros inescrupulosos que tudo levam diante de um povo humilde que se cala na ignorância.

Brasil da floresta, bordado por seculares aninguais, aturiazeiros e imensas cajaranas nas novas terras da América Pindorama. Mulheres do trabalho

extraem da natureza o necessário para viverem perpetuando a natureza/mãe/útero/vida. As palmeiras, açaís, muritis, andirobas, mucubeiras, mangueiras, ameixeiras, goiabeiras, castanheiras e muita borracha nas seringueiras abundantes, entre jaborandis e babaçus.

Ribeirinhas, mulheres rainhas, temerosas ao ouvirem as serras traiçoeiras ao longe e o gemer das árvores que caem alimentando de seiva pura a ganância do homem da cidade grande. Aterrorizando velozmente, vai engolindo a mata a cada palmo de terra, destruindo esse próprio homem chamado civilizado.

Silenciosa e ameaçada, a floresta chora. O comércio ilegal devasta tudo na ambição, num gesto de maldade contra o homem, tomando o pulmão do mundo para jogar ali rebanhos de nelore trazidos para a engorda com a finalidade de saciar o mundo de carne bovina nos frigoríficos distantes a receber a carga da boiada no ponto de abate.

Punição? Fiscalização? Preservação das áreas indígenas? Respeito às poucas comunidades que restaram? Só o futuro dirá! Os olhos cegos do Planalto preferem não enxergar tamanha agressão em terras de ninguém, sem leis, sem proteção. O que Deus nos deu de verdade precisa ser cuidado antes que a última árvore tombe e tudo vire um grande deserto, fruto do criminoso desmatamento.

Ana Ely é uma advogada gaúcha de 25 anos, amante do terror e do caricato. Seu humor seco e suas histórias de fantasmas são o que a definem, apesar da sua carreira jurídica consolidada. Seu hobby sempre foi inventar monstros e colocálos no papel para que outros possam os imaginar no meio da noite. Hoje escreve por lazer, intercalando a vida de empreendedora com uma dose de imaginação.

AS MULHERES E O TEMPO

Não conheci dona Joana por muito tempo. Quando nasci, a velha já estava meio caduca, xingando qualquer pessoa que passasse em sua frente com termos racistas ou preconceituosos. Não aceitava ajuda e, por pouco, a família não a internou à força. Não deu tempo: a morte chegou antes para ela, como uma velha amiga – ou inimiga, já que não existia amizade para ela nesse mundo.

Me contaram, anos depois de sua morte, como ela era em vida. Uma mulher rancorosa, que perdera o marido cedo, para bebida e droga. Mas minha bisavó já era ruim antes de ser viúva, me falaram. Não gostava de visita e queria a todo custo deixar seu dinheiro bem escondido. De tão sovina, não fez questão de ter plano de saúde ou de fazer visitas ao médico. Dizia aos filhos que estava bem e não iria sucumbir tão cedo, que não poderia apoiar um sistema de venda de remédio para quem não precisava tomar coisa alguma.

Com 73 anos, a velha morre sozinha na própria casa, de uma doença no pulmão que ninguém sabia que ela tinha. Se foi sentada na poltrona da sala, de

frente a um relógio velho de parede, como se esperando o dia passar, sem um passatempo sequer para ocupar a mente. Seu velório foi pequeno e vazio, exceto pelas filhas, netas e eu, a única bisneta.

Já minha avó Graça fazia jus ao nome – era um doce. Talvez por observar a mãe falar barbaridades e esperar fazer a diferença no mundo. Tentava abraçar o problema dos outros como se fosse seu e nunca dizia não.

Lembro-me de ouvir sua voz ao telefone, concordando com uma visita para ajudar a limpar algo, ou costurar alguma coisa, ou ser o ombro amigo de alguém.

De mãos calejadas e pés cansados, ela sempre fez o que pôde pela família. Meu avô não a tratava bem, mas não havia um momento sequer em que fosse possível ouvi-la reclamando. Era muito amada pelas filhas e eu posso dizer que aproveitei muito a sua companhia na minha vida. Até hoje posso sentir o aroma do bolo de laranja que assava sempre que ia passar um final de semana em sua casa.

Logo após se mudar para a casa onde minha bisavó faleceu, ficamos sabendo que Graça estava com uma doença terminal. Em poucos meses, a vimos sumir cada vez um pouco mais na nossa frente. Essa semana, apesar de vários tratamentos e até curas espirituais que buscamos para salvá-la, minha avó amanheceu imóvel em sua cama; a face calma, como

de recepção ao seu destino. E desse jeito, nunca mais se levantou.

Minha mãe, Raquel, era um mistério. Sempre foi muito fechada e não falava nada, exceto o básico para os outros, isso incluindo a mim mesma, sua única filha. Eu não sabia o que gostava de fazer ou o que queria para sua vida. Não me leve a mal, foi uma mulher amorosa como sabia, do seu próprio jeito. Mas além de saber seu nome e conhecer sua família, eu não poderia te contar algo interessante sobre ela que tivesse saído de sua boca.

Minha avó enquanto viva contava histórias de seus filhos, o que fazia minha mãe corar e virar o rosto, constrangida de ter uma parte de si liberta ao mundo.

Vez ou outra, a vi balançar levemente a cabeça ao som de bossa nova. Aí então decidi tocar violão perto dela e comprei um piano, esperando que fosse despertar interesse. Nunca a vi tocar, mas respirava aliviada ao ver seu sorriso nas noites de domingo, quando eu sentava e tocava algo suave para ela.

E, bem, foi minha mãe que achou minha avó na cama naquele dia. Foi tonta à sala após medir o pulso já inexistente e pálido da velha, falou para meu avô que não se sentia bem e caiu ali mesmo no chão. Não conseguimos acordá-la e ninguém conseguiu nos informar o motivo. Como sua vida, a morte veio em mistério.

Hoje é o funeral das duas. O salão estava lotado, e eu não consigo pensar em meio aos pedidos de pêsames e abraços de estranhos.

Agora, na casa de minha avó, as pessoas começam a se despedir, levando consigo os restos de comida que oferecemos. Sento-me na poltrona da sala, e, com olhos cansados e ainda cobertos pela névoa do luto, olho para o pequeno relógio na parede.

Aquele relógio, que de tão fraco nem mais fazia barulho de tic-tac, matou três mulheres nessa casa. Parece me dizer que, de hora em hora, minuto em minuto, eu chego mais perto desse destino também.

O tempo passa e esse relógio teve a certeza de me dizer isso.

NOTA: O texto original foi apresentado em 3 páginas, conforme o edital. No entanto, após a diagramação da revista, fez-se necessária a alteração em virtude do programa usado.

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