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Frida Risnic Rubin
Frida Risnic Rubin. Nasci em São Paulo; Cursei Fonoaudiologia na PUC SP. Cursei Processamento de Dados no Mackenzie SP . Trabalhei com computador de grande porte como Programadora de Computador e Analista de Sistemas em instituições da área financeira. Atualmente moro em Curitiba. Sou casada, tenho filhos e netos. Ao escrever, liberto um lado meu da gaiola e me entrego por inteiro.
AJUSTANDO OS PONTEIROS NO RELÓGIO DO TEMPO
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O dia na noite termina. E em cada amanhecer um milagre acontece; da escuridão se faz a luz e um novo dia renasce.
Nesse nasce, acaba, renasce os ponteiros do relógio giram para após percorrer 360 graus se encontrar no mesmo ponto. Os movimentos de rotação e translação da Terra bem como as viagens de ida e retorno da alma se processam simultaneamente.
Vai e volta. Um círculo não tem início, meio ou
fim.
Saudade é o resgate da presença e do instante que se foi, que ficou bem longe mas permaneceu no coração com gostinho de quero mais. O milagre de trazer para perto o que tão separado no tempo estava, de forma que o Passado e o Presente se encontrem no mesmo ponto exatamente acontece quando integrando a emoção com a lógica conseguimos deter na memória o que realmente importou.
Por vezes o que se passou em um minuto tem sentido infinitamente maior do que se passou em alguns meses ou anos.
Distantes no tempo, os acontecimentos vivenciados na minha primeira infância refluem nítidos para a memória pipocando em episódios e passagens.
Quando olho para trás me custa acreditar que já se passaram mais de sessenta anos desde então.
Deslumbrada ao conhecer um circo com toda sua magia e fascinação, gargalhava do palhaço com calça listrada, camisa estampada e gravata borboleta; lambuzada de algodão doce assistia encantada os cães adestrados e ao salto mortal do trapezista.
Me divertia com amigos, a correr, jogar bola, bambolê, pular corda, amarelinha, esconde-esconde.
Na praia, castelos suntuosos e bolos deliciosos de areia que com a onda do mar se desfaziam, e então começava a guerra de espirra-espirra.
Ingressei na escola por volta dos 6 anos, iniciando a alfabetização... bons tempos!
A gente cresce e a inocência e a proteção que recebíamos dão lugar aos novos desafios e responsabilidades.
Na arte de conquistar minha autonomia com sensibilidade passei por milhões de passos.
Certo dia, conheci um Homem que me despertou os sentimentos de pensar e enxergar mais do que um palmo na frente do nariz, além de um Presente comecei a vislumbrar um Futuro com ele carinhosamente incluído ao meu lado.
De figuras ímpares, à medida que nos conhecemos e apaixonamos passamos a formar um par.
Foi então que todo o conhecimento de Matemática que eu havia adquirido passou por uma revolução sem precedentes, tornando meus números poéticos com exponenciais de emoção.
Vou contar devagarinho o porque de quando a gente ama 1 +1 é maior que apenas 2, e também porque dois menos um é igual a zero.
EU E ELE
Sonhando com felicidade integral e diferencial traçamos planos para o futuro em coordenadas com linhas retas, curvas, senoidais,
No conjunto de sentimentos e vivências encontramos congruências e divergências.
Momentos reais, complexos, imaginários, fracionários, primos , derivados, finitos e infinitos.
Caminhamos por linhas paralelas, intersecções, tangentes, pontos oblíquos, obtusos, concomitâncias, pelo possível e impossível
Nesse percurso, somamos e multiplicamos esforços, nos fundimos e nos confundimos, perdemos os limites próprios e não nos achamos mais em um mesmo.
Progredimos geometricamente nos arranjos e matrizes da convivência, sempre olhando para o vetor que aponta na mesma direção, jogando no mesmo
time vivemos realizações, inseguranças e toda a segurança que a fortaleza binária pode dar.
Aprendemos a somar ao amor, a multiplicar dentro dele e a subtrair erros e extrair raízes do que não agrega.
Trabalhamos duramente para driblar as inumeráveis ciladas do dia a dia, superamos as sinuosas dificuldades, vencemos oportunidades disfarçadas de batalha.
Ao celebrar nossas diferenças vivemos tristezas e decepções quando descobrimos que só o amor não basta.
Perante os problemas considerando que tudo é relativo, e nada é absoluto aprendemos a desconsiderar, reconsiderar e considerar
Expandimos a nossa percepção para os nossos denominadores comuns, nossos máximos e mínimos.
Avida a dois é uma relação biunívoca.
Lado a lado juntos e solidários, um apoiando o outro, voltamos sempre para o mesmo ponto, evoluídos.
Com outra perspectiva, com outra percepção, outro olhar, novas soluções, mas num mesmo ponto. numa outra dimensão, sempre estando cientes que ainda temos a aprender construímos uma família unida.
A infância é uma criança, e eu sou o brinquedo dela, e mantendo o brilho no olhar, a minha criança
interior, o lúdico em mim renasce através das gerações que me sucedem.
Ao me tornar mãe descobri uma segunda infância, e curti novas sensações. Ficava rouca de tanto gritar torcendo pelos filhos que participavam dos campeonatos de futebol e judô.
Cuidava da prole com olhar atento enquanto estavam na folia da piscina, empinando pipa, subindo no escorregador, plantando bananeira, se equilibrando na gangorra e mais tarde na prancha de surf, sempre pronta a enxugar uma lágrima e assoprar os inevitáveis machucadinhos.
Nas estorinhas da hora de dormir voando com eles nas asas da imaginação. No raiar do dia, porém, já com os pés no chão empresto conhecimentos sólidos e rumo certo, dando os alicerces e ferramentas para enfrentar a vida.
Nas páginas amareladas do Livro Da Existência algumas tem cores suaves, outras escritas com tinta escura.
Voltei a ser uma criança desamparada quando meu pai faleceu.
Senti tanta falta dele que eu, muito além do vulnerável, entrei em pânico.
Com a vista embaçada em lágrimas palavras irrompiam como um cruel furacão de dor em minha cabeça, que velozmente passa e consigo arrasta e leva o que deveria ficar. Tentei segurá-lo, tentei alcançá-lo,
mas ele correu de mim e suas asas migraram depressa a lugares distantes que não percorri.
Sem dó vi meu chão se abrir. Desanimada as forças me faltaram e me pareceu ter perdido minhas referências.
Mais que o peito para chorar e dos braços amigos que estavam a me abrigar eu precisava de um consolo que não fosse tolo, que não fosse pouco, que não fosse um jogo. Eu precisava de um consolo que é um beijo sem pensamento, que é um verso que anda solto, que era um mundo, naquele momento.
Com o tempo, senhor da razão, o consolo foi chegando de mansinho, pois as saudades batendo forte me fizeram perceber que as lembranças de meu pai são eternas e nunca irão se evaporar, mesmo que esteja longe de seus olhos e do tempo desprendida.
Meu pai freou meus erros, deu potência a meus sonhos e foi, é e sempre será a bússola que soube me mostrar a mais bela direção da vida na sua forma positiva de encarar as coisas, honestidade, amor, senso de humor e solidariedade. Seu exemplo de vida é minha inspiração para no papel de mãe educar meus filhos.
Agora vieram os netos, e novamente acorda a criança cheia de alegria que habita em mim.
Sentada no chão, montando quebra cabeças, pintando o 7 e os ajudando a estimular a criatividade para compensar a falta de tempo em função das
intermináveis atividades extra curriculares e do uso excessivo de tecnologia como celular, TV, vídeo game de hoje em dia.
A qualidade da convivência no tempo que estamos juntos faz o pequeno momento se tornar grande.
E nessa troca afetiva eu rejuvenesço e nos nutrimos de amor.
Eu vim ao mundo muito curiosa; sempre tive muito apetite em minha vontade de conhecer e evoluir com consciência e comprometimento, porque sem isso não somos nada
Eu gerei belos frutos, venci obstáculos, enfrentei derrotas, provei o gosto salgado das lágrimas por dolorosas perdas, tive incríveis satisfações. No tempo que passei ao lado dos que amo conseguimos transformar as pedras do caminho em degraus, saboreei palavras de amor, gargalhadas e tantos outros momentos lindos.
Com o passar dos anos tento me tornar cada vez melhor.
Imagino que a nossa permanência nesse planeta represente uma mera etapa para outra mais evoluída. Mesmo que eu esteja equivocada e nada além das saudades pelas emoções que causamos exista após a nossa morte, na hora de eu levar meu cheque mate terei a intima satisfação de saber que em todas as etapas eu cada vez mais evoluída acertei os ponteiros do relógio biológico afinados no mesmo ponto, e por 124
maior que tenha sido a passagem do tempo tive sempre o privilégio de querer e poder vivenciar e reviver sob nova dimensão o que me foi tão bonito e especial.