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Maria Inês Casado de Oliveira Alcaniz
Maria Inês Casado de Oliveira Alcaniz. Professora de História formada pela UNIFAI-PUC SP, especialista em Gestão de Patrimônio e Cultura pela mesma instituição e Arte, Arte Sacra e Bens Culturais pelo MAS (Museu de Arte Sacra de São Paulo) USP. Casada, mãe de 4 filhos e dois netos, atualmente afastada das salas de aula mas sempre e contato com a educação.
A saudade é um sentimento histórico, que permeia a humanidade desde sua m A verdade sobre a saudade é que ela é protagonista de poesias maravilhosas, de histórias contadas em todas as formas de comunicação, seja de forma romântica ou trágica, serena ou desesperada A saudade é um dos maiores sentimentos huais remota organização. Seja pela necessidade de sair em busca de outras moradas, seja pelo prazer de conhecer novos lugares e possibilidades, pelas escolhas pessoais ou perda definitiva de alguém que se ama, porque envolve nossa memória afetiva.
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Nesse sentido, sentir saudade é inerente à construção de nossas histórias pessoais. Lembrar de momentos especiais de nossas vidas, reviver experiências vividas faz com que nossa existência seja única e especial.
Quando crianças aprendemos que a separação faz parte do crescimento, e se perdemos alguém próximo, ou mesmo um bichinho de estimação teremos que conviver com a ausência e consequentemente com a saudades.
Conforme vamos crescendo e amadurecendo, estruturamos nossas lembranças, elaboramos nossas
memórias, separando cuidadosamente o que deve ser vivido e revivido muitas vezes. Para que isso seja possível, utilizamos uma enorme quantidade de tecnologias como fotos, filmes, vídeos, sons, músicas, objetos e até lugares especiais para armazenar tudo que nos permita manter uma lembrança.
Quando formamos nossas famílias, as tradições familiares passam a fazer sentido, e são retomadas e reformadas para seguir adiante, e ao transmiti-las para nossos filhos damos continuidade as memórias de nossos pais e avós.
Uma comida preparada de uma forma especial, uma toalha de mesa, pratos talheres, a colcha da cama, o brinquedo preferido, se transformam em objetos de memória e cada contato que temos com essas “coisas” nos permite viajar no tempo.
É nesse contexto que tempo e memória se fundem.
Temos uma compulsão por contar o tempo com precisão de milésimo de segundos para garantir que nada escapará de nosso controle e supervisão, no entanto, é justamente quando nos distraímos que o tempo se mostra soberano.
Ao olhar para o passado podemos perceber nossas vitórias e fracassos, nossas conquistas e realizações, nossas dores físicas e afetivas, com as quais convivemos e que nos transformaram. As rugas na face, as cicatrizes no corpo nos remetem a momentos
importantes, como o nascimento de um filho, um tombo na infância, uma distração com os amigos e assim por diante.
Aprendemos que fazer escolhas faz parte de tudo o que somos, de quem deve nos acompanhar, de quem efetivamente nos ajudou, esteve junto, amou, e de quem acompanhamos, estivemos juntos e amamos.
Assim como estivemos acompanhados em nossas vidas, por nossos parentes mais próximos, irmãos, pais, avós, tios e primos, aprendemos que nenhum deles estaria conosco eternamente, pelo menos não fisicamente, mas que poderíamos mantê-los vivos em nossas melhores lembranças, e com isso conviver com a saudade deixada por suas partidas, fossem elas temporárias ou definitivas.
Quantas vezes desejamos parar o tempo no primeiro passo de nossos filhos, ou na hora que abraçamos nossos pais na formatura, na viagem de férias na praia quando choveu e ficamos contando histórias e rindo todos juntos. Em outras vezes gostaríamos de poder acelerar o tempo para acabar com o sofrimento ou a dor de alguém importante para nós.
Mas, a verdade é que nunca conseguimos parar o tempo para aproveitar os bons momentos nem, muito menos, fazê-lo andar depressa nos difíceis.
Desta forma, quando envelhecemos e nos damos conta de que aquele olhar preocupado com a hora do
trabalho, de acordar, comer, vestir, sair e chegar, escapou entre os nossos dedos.
Assim é a saudade de tudo e todos, do nosso passado e presente que nos permite viajar no tempo, naquele que não volta mais, mas que está vivo em nossa trajetória de vida e quem sabe no legado que deixaremos. No relógio da vida o tempo vai e vem, mas nunca para.