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CAPITULO XIII - A CAMPANHA GANHA 67/76
CAPITULO XIII A CAMPANHA GANHA
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Raymundo está scismado: agora pensa entrar para a politica. Despista accerca do partido a ter em vista, mas temo, de cabeça, a dor immensa. -- Você ja tem a mente um tanto tensa, lhe digo, não precisa duma lista mais longa de problemas! Humanista se achando, a falcatrua não compensa. Não pensa em disputar cargo electivo? Então, o que pretende? Um assessor tornar-se? Um secretario? Um membro activo? Bobão, acha Raymundo que, si for a um cargo nomeado... Eu? Si incentivo bobagens dessas? Nada! É um dissabor!
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Um membro do Partido Popular Paulista, o "Pepepê", que visitara Raymundo, umas minhocas lhe plantara no espirito, e elle andava a divagar. Tentava um gabinete simular, um typico escriptorio, em nossa clara, solar bibliotheca, de obra rara repleta, e collecção particular. "Até que despachar aqui podia um vice-presidente, um deputado, não achas? Inclusive eu mesmo, um dia..." Discordo, desconverso, e estar zangado demonstro... mas Raymundo, que abbrevia o pappo, teima: está determinado!
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Eu ouço o telephone. Martha attende e chama por Raymundo, que até corre, sollicito: "Alô? Prompto!" Tomei porre, ja, dessas ligações! E o pappo rende! "E então? O companheiro não entende assim? O candidato que concorre comnosco é o peor quadro! Elle que torre o fundo partidario! Elle se vende! Não! Fora de questão, meu companheiro! O caixa dois é Oscar quem arrecada! Entendo... Então precisas do dinheiro... Farei o que é possivel... A bancada está compromettida? Ora, eu me inteiro de tudo! E a convenção? Ja foi marcada?"
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Que sacco! O tal de Oscar Raposo Pires nos vive pressionando e, quando não requer pessoalmente, a ligação quem disca é o Vaz de Lyra, ou é o Ramires! "Sim! Sim! (Raymundo insiste) Si pedires dinheiro p'ra campanha, a commissão não pode recusar! De tanto, então, precisas tu? Faz falta até aos emires!" O caso é que Raymundo collabora alem da compta e banca alguma excusa e espuria transacção... A qualquer hora, extoura, emfim, o escandalo! Ja accusa seus correligionarios quem, agora, virou casaca: a nossa mãe inclusa.
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Tá vendo? Não fallei? Você não tinha nadinha que emprestar a nossa grana ao perfido do Oscar, esse sacana! E agora? A commissão nos exquadrinha! Raymundo, deprimido, se apporrinha, temendo responder e pegar canna por causa do partido. Mas se enganna quem acha que com isso nos definha! Tractemos de excappar, antes que o caso se aggrave! Na Argentina conhescemos alguem que nos asyle a curto prazo! "A quem tu te referes?" Ora, ao Lemos! "Mas claro! O Astolpho Lemos! O Parnaso ainda la funcciona? Pois iremos!"
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Aquelle escriptor cego, que me poz com Lemos em contacto, foi legal commigo, introduzindo-me no tal Parnaso Masochista, que propoz. No clube, quem compõe pheijão co'arroz não entra, só quem transa bacchanal poetica, debocha e verso egual escreve ao dos auctores mais pornôs. Assim, nós, que Bocage e Sade lemos, ficamos conhescendo outros collegas de officio: por exemplo, Astolpho Lemos. "Então achas que dessas taes refregas politicas estamos e estaremos a salvo, hem? Que és experto tu não negas!"
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Façamos pouca mala, que attenção melhor é não chamar! Martha aqui fica com Chicho e toma compta desta rica mansão, que põe saudoso um coração. O hinverno, em Buenos Aires, é estação mais fria que a daqui. Seguindo a dica do Lemos, que la vive e la publica, eu acho o appartamento mais à mão. Pertinho do metrô, longe não dista dos bosques de Palermo. O predio tem até mansarda, e faz-me saudosista. Alli nos installamos, e "muy bien", segundo affirma o Lemos, que despista qualquer correspondencia que nos vem.
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Raymundo, que ja estava accostumado com sallas espaçosas, tem agora que atter-se a poucos metros. Quasi chora, pensando no cachorro, no gramado. O Lemos me assegura: eu não invado o clube si apparesço, a qualquer hora, e faço alguns clientes. Quem adora lamber a minha bota é Pablo Hurtado. Poeta retifista, elle desmente: Partido Nacional ou Socialista o clube nunca fora, antigamente! A sigla mais se allinha e mais se allista na praia de Sodoma e na corrente satanica, de cor surrealista.
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Medina e Lamborghini agora leio, attento aos delinquentes juvenis que, sadicos, me inspiram. Tambem fiz contacto com poetas desse meio. Accabo publicando um conto cheio de scenas bem podolatras, pois quiz o Pablo que eu fizesse algo. Feliz estou! Raymundo o leu: "Não fazes feio!" Noticias do Brazil chegam, e más: rastreiam o Raymundo! Martha está depondo a seu favor... Pobre rapaz! Tão cedo não regressa, então! Será? Dá voltas a politica, que traz de volta o Pepepê, sem bafafá.
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Raymundo signal verde espera para a Sampa retornar! E logo agora, que a gente na Argentina bem ja mora, teremos que sahir? Ah! Quem sonhara? Despeço-me de Pablo, que declara eterno amor à minha bota: chora, implora que eu portenho vire e embora não venha, que me compra outra mais cara. E aqui de novo estamos, ja que em canna Raymundo não se arrisca a ser levado. Metropole saudosa, a paulistana! Paresce até mentira! No sobrado se expalha a trepadeira (Que bacchana!), cobrindo-lhe a fachada, até o telhado!