HORUS CULTULITERARTE 2021

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HORUSCULTULITERARTE ANO 2021 EDIÇÕES HÓRUS ISSN: 2183-9204

O IMPACTO DA PANDEMIA COVID-19 NO SECTOR LIVREIRO E EDITORIAL PÁG. 8

POESIA RESENHAS CONTOS NOVIDADES LANÇAMENTOS DIVULGAÇÃO

ENTREVISTAS Mariana Gonçalves Nuno Libório

• A REVISTA DIGITAL DA CULTURA, LITERATURA E ARTE • • DISTRIBUIÇÃO GRATUITA •


ÍNDICE 32 O JARDIM AO LUAR

35 O OLHO DO COSMOS

38 A GARRAFA VÍTREA

5 EU, SER OU TER! 6 ESTÁ TUDO BEM 8 O IMPACTO DA PANDEMIA COVID-19 NO SECTOR LIVREIRO E EDITORIAL 10 RECOMEÇO 12 ESCOLHO/ENCONTRO 13 O REGRESSO 16 NÓTULA À KALIPHILIA 19 CARAMBA, É NATAL? 20 FECHOU-SE UMA JANELA 23 ENTREVISTA A... MARIANA GONÇALVES 26 MAD WORLD 28 ENTREVISTA A... NUNO LIBÓRIO 31 RETIROU-SE


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A mediunidade tem os mesmos perigos que qualquer potência de que se faça mau ou indevido uso. Acresce que com a mediunidade manuseiam-se potências inteligentes, as quais com a vontade polarizam o pensamento conforme o carácter quer têm. Sendo os médiuns pessoas como a média das demais bastante imperfeitas, é natural que nelas, pela abertura ao exterior inerente à mediunidade, faça ressonância a sintonia com frequências que vibram iguais imperfeições. É no consentimento da ressonância que reside o perigo, pois a amplitude da vibração pode produzir o rompimento do equilíbrio.


EU, SER OU TER! Por Manuela Martins

Divago por entre nuvens escuras, Desilusão? Não sei, talvez. Sei que quero mais, Será ter ou ser? O meu eu precisa de mudança, A tristeza fere a minha alma, Por alguém que partiu, Por alguém que ficou, Que sofre com a perda, Que sente o desapego, Que não quer largar, Deixar ir! E o meu tempo fica por ali!

Projectos, dinheiro, bem-estar, O que eu quero, sim É permitir-me ser, Esperar que o Universo, Me responda, se eu tiver que ter! Eu confio, acredito, espero e quero! Muito vou receber, Em retorno, do meu ser!

Sei que tenho de emergir, Deixar fluir! Pensar, sentir diferente, agir, A força invade meu corpo, Sinto o prazer de viver, Viver por si só, Na simplicidade, Na contemplação do belo, Na aceitação, Do que não posso mudar. Como a onda que dobra suavemente, Que transmite um som estridente, E acaba misturando-se no mar imenso, Assim eu tenho de continuar! Tenho tanto que agradecer, Tanto de bom em meu redor, Que a desilusão me impede de ver! Por isso é tempo de agir, Fazer, recomeçar, Renascer!

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ESTÁ TUDO BEM Por Alexandra Fernandes

Atravessaste a rua a passo largo e não mais teus dedos entrelaçaram os meus. Longe, não nos.distinguia enamorados. Teus cabelos dançaram aquela valsa amestrada, mas não dancei contigo. Fugias como selvagem foge. Perdias-te muda, tocando notas a meus surdos ouvidos. Ás vezes somos assim: almas deambulando na mesma paragem, partilhando o mesmo banco, apreciando as mesmas vistas, e então, soava o sinal. Saíamos juntos, sempre, mas por desalinho um seguia para a esquerda e o outro tropeçava no caminho. Outras vezes, voltávamo-nos a encontrar noutra paragem à média luz, num encanto de sombras que se movimentavam em plena harmonia, e me sufocavas os lábios. As ruas seguiram seu rumo abandonando-nos a meio. A porta abriu-se e entraste como quem fúnebre vem e o silêncio não se findou. Entraste sozinha e desceste até ao quarto, e eu, entrei sozinho e segui até á sala. Um sem o outro, um e outro. Não te ouvi chorar, beijar-te-ia se assim fosse. Não te ouvi gritar, abraçar-te-ia se assim fosse. Não ouvi o sangue escorrer, não me perdoaria se assim fosse. E ali ficamos, desencontrados. Não costumo parar. Nunca paramos até algo nos travar ou esmagar contra uma parede, ou uma martelada na nuca nos atingir, aí paramos porque em cacos ficamos. Parar a vida, o corpo, a mente. Ouvidos moucos, palavras ocas, imagens estáticas sem o constante ruído ou movimento a que estamos habituados. Sem ver ou ouvir ou falar de nada e do nada, porque o nada não costuma importar. O nada é nada, e o nada é vazio, e isso não interessa nada, mas o nosso silêncio é tudo, e o nosso silêncio é muito para mim, o teu silêncio é muito para mim. O silêncio não importa até importar. A nossa pena dói, desperta e aperta. Apertaste demais a minha ao ponto de não respirar, e hoje o silêncio importa. Quebrei esse e o afastamento, porque lhes imponho desprezo. Te vi e parei, naquela pose fetal, a figura contorcida procurando afeto num abraço que afetuoso tentava ser, que coberta na espuma tristeza tentavas encobrir em vão. Desentendi-te a dor, desinteressei-me das lágrimas misturadas nos lábios trémulos. Bloqueei palavras engolidas e mordidas, e exclamei: vai! Fugias, sempre fugias. Fugimos do que somos na humilhação de um beijo paternal. Fugimos de nós ao oprimir a nossa verdade. Lentamente, consumimos entranhas, sangue. Devoramos o coração e o ar que falta nos pulmões. Palavras são substituídas por lâminas e cicatrizadas na pele. Um dia, nem sangue nem coração nem pulmões saciam, e matamo-nos por dentro. Só escuridão fica, só escuridão desejamos. Renascer? Se houver razão. Se houver força, seremos gente. Se existir coragem, o orgulho que se dane, o outro que se lixe, e o mundo que desmorone a nossos pés. Aí renascemos. Não foste nessa tarde, ficaste nessa tarde, e confuso me deixaste na confusão que já me era conhecida como por ti criada, por mim classificada de mau génio. Minutos passaram e não vieste a mim porque nunca vinhas. Esperei-te como sempre esperava. Outros minutos, outras horas, noites e madrugadas e entre linhas insistimos num nós. As paredes de nosso quarto estudei, tive tempo: cada relevo, cada sombra, onde passamos demasiadas vezes o rolo de pintor e aquele cantinho que manchado ficou. E essa tarde de amor no cheiro nauseabundo a tinta fresca. O amor é assim como chocolate em dia de verão. Conta-se pelos dedos as vezes que o deixei derreter esperando-te, porque sempre to entreguei como um presente. Devagar, devagarinho, pensamentos destorcem palavras, minhas e tuas... Como uma música de rádio escutada em andamento, nosso amor flui. Não prestamos atenção à melodia ou à letra que é cantada porque vamos atentos á estrada pela frente. Ouve-se e canta-se sem pensar, e quando damos por nós, chegamos ao destino. Nosso amor é assim, uma música de fundo para algo maior á sua volta. Talvez resulte se aumentar o volume e a consigas ouvir a centenas de quilómetros, ou talvez se meu canto for maior, ou talvez nem assim... Porque palavras não são apenas palavras, e não havia melhor que tu, nunca houve, como pudeste pensar uma coisa dessas? Eu amo-te e repito-o centenas de vezes! Outros silêncios virão, eu sei, outras melodias em ré maior, e os chocolates derreterão em meus dedos. Mas insisto, de olhos bem abertos para nos ver, e se falhar, peço desculpa. Amor, está tudo bem, desculpa...

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BOOKISH FEATURE

O IMPACTO DA PANDEMIA COVID-19 NO SECTOR LIVREIRO E EDITORIAL Por Inês Nabais

Todos nós fomos apanhados de surpresa no início de 2020 com a pandemia da covid-19. O medo instalou-se em todo o mundo. Chegaram os confinamentos e o mundo parecia saído de um cenário pós-apocalíptico. Ruas vazias. Sem vivalma. Sem ninguém. Apenas um automóvel ou outro a passar. Com isto, as empresas fecharam. E quando digo empresas, refiro-me às editoras e aos seus fornecedores também. Em especial, as gráficas que nos produzem e imprimem os livros. Tivemos uma das gráficas que trabalhou connosco que tiveram casos de covid-19 e tiveram que fechar, atrasando ainda mais as produções. Hoje em dia ainda é possível acontecer, porque ainda viveremos a pandemia em 2022. As livrarias fecharam, os eventos organizados em todo o lado foram cancelados e não haviam livros novos a serem produzidos porque tudo fechou. Não existiram vendas. Apenas on-line e não foram suficientes. Recorremos como qualquer outra empresa ao lay-off em 2020. Em 2021, apesar de virem mais meses de confinamento no início do ano, conseguimos dar a volta por cima: Os eventos e o comércio começaram dar sinais de vida, embora com limitações. O ritmo cardíaco do nosso sector começou a voltar à vida: Novos autores mesmo com muitos atrasos desde 2020. As Gráficas atulhadas de obras para imprimir, nós com trabalho acumulado e novos trabalhos a chegarem. O que é muito, mas muito bom! E explicar estas situações às pessoas?

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Sem gráficas não há livros. Perdemos alguns fornecedores em 2020 e em 2021 por culpa da pandemia. Não resistiram ao impacto e à crise que esta trouxe com ela. Em 2021 ainda tínhamos obras de 2020 a serem impressas e já novas obras também. Tínhamos no final de 2021 mais de duas dezenas de obras em fila de produção. Ainda temos umas dezenas, mas a maioria já são obras de 2021. E explicar estas situações às pessoas? Não há cá desculpas esfarrapadas da nossa parte. Temos que ser realistas e transparentes. E muito diretos, porque o respeito e a compressão escassearam mesmo em tempos destes. E as pessoas, tal como nós, têm de ter paciência. Só quem vê as coisas por dentro e como elas são na realidade percebe o stress e ansiedade que estes atrasos nos causam também. Porque estes atrasos também significam prejuízo - A nós. E a todas as editoras. Se um dos fornecedores (como gráficas) pára, paramos todos. Se as livrarias fecham, não há vendas. Se não há eventos ou feiras do livro, não há vendas. Situações de "quase" burnout em dois anos devido ao stress extremo e trabalho em excesso que vai para lá do limite do que qualquer ser humano pode aguentar. Mas cá estamos para o que der e vier. Faremos tudo para manter a nossa marca, o nosso sector vivo e os nossos livros a saírem. Mas esta pandemia só nos trouxe a todos dores de cabeça - Um autêntico pesadelo. E é precisa (muita, mas muita) paciência para acabar com ela. Ou no mínimo, compreendê-la.

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RECOMEÇO Por Marisa Alves

Recomeço. Palavra tão apropriada naquele momento. A madrugada rompera e o frio que invadira aquela noite em que optara por viajar estava ainda visível nas árvores que ladeavam a estrada e que expunham o orvalho próprio de uma noite de primavera. A viagem parecia-lhe infindável, mas finalmente chegara ao fim. Gonçalo tinha vontade de ver o rio, de sentir o seu odor a peixe, a bogas e a barbos, e de ouvir os pássaros chilrearem pelas redondezas. Ao contemplar, ainda ao longe, aquela imensidão de manto líquido era impossível não sentir a saudade de tempos remotos. Estacionou o carro e ficou observando aquela paisagem lindíssima onde a serra beijava o rio. No silêncio soberbo que invadia aquele espaço, em que apenas se ouviam os pássaros que esvoaçavam e abanavam tenuemente as folhas das árvores, a sua mente encheu-se de memórias prazerosas da infância de quando amiúde se divertia por aquelas bandas com os amigos e mergulhava nas águas límpidas. Andou um pouco mais para junto do rio e encontrou algumas silvas na beira do caminho. As amoras silvestres já pintavam e não resistiu a colher uma mão delas, sacudindo-lhes suavemente o pó, como fazia antes. Deliciou-se com tamanha iguaria! Com a serra à retaguarda, reparava nos socalcos que belamente surgiam nas margens do rio, dignos de uma tela, pintada pelo pincel de um artista famoso. De matizes lindíssimos, aqueles socalcos tinham uma magia deslumbrante, quase um encantamento, impossível de explicar. A serra presenciara, séculos a fio, a História da terra, das gentes, e continuava ali, ano após ano, estação após estação, assistindo do cume a toda a transmutação sofrida pela paisagem, que pintava o redor do rio. Na beira do rio, com o olhar fixo no horizonte, Gonçalo perdia-se, almejando ser como aquela ave que voa para longe, sem ter mais preocupações do que a da procura do alimento. Sentia a vida a esvair-se-lhe pelos cinco dedos da mão, como se lhe puxassem um tapete e não conseguia evitar aquele sentimento de vazio, de perda... A partir daquele momento, viveria um dia de cada vez. Prometera a si mesmo que não faria planos a longo prazo. Aprendera com o tempo que devia aceitar que errava e que, apesar de nem sempre tomar as atitudes mais corretas, continuaria a acreditar nas segundas oportunidades. Algo nele mudara. Não era mais o de antes. Com o passar do tempo, percebera que, por vezes, as coisas não eram como queria que fossem. Aí, com as expetativas defraudadas, surgia nele um vazio que o consumia por dentro, deixando-lhe a alma exposta. Primeiro veio o amor. Depois o desamor. Agora o desapego. Tempos houve em que se pudesse dar o mundo àquela que fizera parte da sua vida durante dois anos não hesitaria um minuto, nem piscaria sequer os olhos e, com grande prontidão, dar-lho-ia… Mas não foi suficiente amar pelos dois. Perdê-la fora o mais doloroso dos sentimentos, qual pedaço de pele arrancado com força. Amá-la-ia para sempre, porém, ela não seria a mulher da sua vida. Já não acreditava no destino, nem que estariam predestinados a estar juntos. Naquele regresso à terra, pretendia retomar as rédeas da sua vida e ancorar. Ambicionava, mais do que tudo, poder escolher quem o amasse e o quisesse como era, com toda a bagagem de defeitos e virtudes que consigo acarretava. Ela seria eternamente o amor da sua vida, mas não era para ele. Dela guardaria sempre na lembrança o beijo, o toque, as palavras de carinho, até o tremelicar das pernas de cada vez que a ouvia e a sentia perto de si. Uma linda história de amor. Apenas isso. Nada mais. Tal como tantas outras, também a deles não estava talhada para ser vivida, apenas lembrada. E por ele sê-la-ia. Já por ela… Mas Gonçalo não queria mais viver na esperança de que um dia voltariam a estar juntos. Queria o amor sentido e vivido em toda a sua plenitude, com paixão, com desejo, mas principalmente com presença, com defeitos e virtudes, com beijos e carinhos intermináveis.

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O rio tinha uma grande influência em si, quase um efeito de metamorfose, e a paz de espírito que as suas águas lhe traziam era imensa. Os cheiros, os sons, a própria natureza circundante, tudo o transformava, praticamente de um modo catártico. Junto ao rio lembrava as palavras de Miguel Torga que tantas vezes lhe haviam servido de mote para a sua vida: “Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.” A vida ensinara-o de que o universo coloca tudo em ordem e aquela era a terra onde tinha de estar, junto ao rio e à natureza que tanta falta lhe fizera. Ali, daquele local do seu passado, faria o seu futuro e, apesar de lhe parecer tão incerto, tinha a certeza de que a vida correria melhor junto das águas cristalinas do rio.

“Faz-me falta escrever, como o ar que respiro. A escrita é em mim qual ave que voa sem parar, qual flor que desabrocha sem cessar. E pela mão da escrita, um dia, no fim da vida, terei sido apenas eu.” Marisa Luciana Alves nasceu em Vinhais, uma linda terratransmontana, no ano de 1976. É professora de profissão e escritora por vocação. Vencedora do 3.º concurso literário da Papel D’Arroz Editora (2014), Marisa é associada da Academia de Letras de Trás-os-Montes. Escreveu 6 livros e participou como coautora em 40 antologias/coletâneas, algumas das quais da Edições Hórus. Participa em revistas digitais com os seus textos (poemas, críticas, contos, recensões críticas). Escreveu, de 2002 a 2004, para a revista UNEARTA. Publicou: • Carlota, a menina canhota/A Mochila Sorridente (2020), Edições Toth; • O que Zeus mostrou aos Homens (2018), Edições Toth; • A tua receita, meu amor! (2015), Papel D’Arroz Editora; • O sono da Primavera e outros contos (2014), Edições Vieira da Silva; • De suplicar por mais…(2013), (Santa Casa da Misericórdia de Bragança); • Contando memórias… (2011), (Universidade Sénior de Borba).

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MEDITAÇÃO PARA HOJE / MEDITAÇÃO DE NATAL ESCOLHO / ENCONTRO - TERESA FARIA Às vezes Encontro.................. Às vezes Escolho................. Às vezes Nem sempre Encontro o que escolho Às vezes Nem sempre Escolho o que encontro Encontro rosas no meu caminho. Frequentemente. São múltiplas as pétalas. Maravilho-me. Surpreendem-me alguns espinhos. Previno-me. Esquivo-me. Não posso fugir de todos. Pico-me. Não consigo escapar a alguns. Tenho essa consciência. Não tenho tanto poder. Mordo um lamento. Dos meus olhos Cai uma gota de sal Outras se lhe seguem Também de sangue De um coração trespassado Encontro pessoas no meu caminho. Umas são Rosas Outras só são espinhos Outras são Túlipas Outras são Manhãs de Páscoa Outras são Amores Perfeitos Mas, não são pra mim Outras são Malmequeres E tem hora que são Bem me Queres Qualquer roseira tem espinhos É natural Só não gosto de magoar-me Ninguém gosta Só os masoquistas... Cada dia uma aprendizagem Às vezes, não sei quantas, sufoco Corro em busca de uma aragem... Às vezes Não encontro.................... Às vezes Não escolho......................

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O REGRESSO Por Nuno Libório Razões deste regresso Acordei numa manhã de Agosto e deixei-me ficar na cama a pensar. Conclui que não receei o suficiente pelas minhas opções. Aos quarenta e cinco anos custou-me horrores percepcionar que não empreendi a totalidade das minhas forças. Sofri com isso. or convicção e prática dos meus progenitores cresci num meio de honestidade e de classe de que muito me orgulho. Notei, assim, o sentido dos outros, como, por exemplo, o ficar debaixo de um manto de injustiças. Mas, como outros tantos, sonhei, além de resistir. Gostei desses sonhos, alguns dos quais arrecadados em silêncio. Como muitos, preparei um trajecto com significado. Mas nunca me senti preparado para as dimensões e para as práticas que encontrei nesses diários. Concretizei-as em diferentes espaços e pessoas, mas num modo demasiado rápido. Fugi sempre dessa sucessão de momentos. Fiz do máximo os mínimos, esquecendo-me do tempo. As épocas passaram por mim, mas sem o devido reconhecimento e registo. Não lhes atribui o devido valor, como não soube abraçar todos os que me acarinharam. Com quarenta e cinco anos percebi que estou numa posição diferente, para compreender esse tempo, e que não quero fora o que me sobrou dele. Ganhei a necessidade de querer perceber esse sucedido, assim como as relações e as práticas que estabeleci nesses lugares. E saber também dos seus intervenientes principais, as pessoas que, olhando para a matéria, se influenciaram mutuamente. Fui, e nesse regresso confirmei a perda de sentido de muitas delas. O tempo não esperou por mim, porque também o maltratei e com isso separei-me de pessoas e afastei-me de espaços e de objectos. Regressei com mais simplicidade, para dar mais importância a tudo e a todos. Tentei que me encontrassem, evitando usos indevidos e significados fúteis. Confiei utilidade ao que me restou da vida. E fi-lo com outra convicção e outro amor, porque aprendi a saborear o tempo e, acima de tudo, a valorizar as acções, as vozes e os espaços de muitas dessas pessoas, mesmo que nas formas de memória. Nesse regresso confirmei que não sou o mesmo, pois o tempo massacrou muitas das minhas expectativas. E não quero viver mais apenas de memórias, quero sentir novamente o toque das pessoas, bem como os lugares dessas vidas. Regressei para confirmar se esses lugares ainda existem, assim como para confirmar que as pessoas que neles viveram ficaram registadas com o devido respeito.

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Estava certo: encontrei-os sem o devido registo. Prometi-lhes outra atenção. Neste regresso, após anos de ausência, não tive motivos para julgamentos, nem para críticas. Porque foram anos e mais anos, a não dar o devido relevo aos contextos ou às pessoas que, mesmo cabendo em poucas palavras, não tiveram o meu registo mais correcto. O regresso foi para me reparar dessas ausências e desvalorizações. Não soube se disponha desse tempo, mas tentei.

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NÓTULA À KALIPHILIA Por Sílvia Catarina Pereira Diogo Kaliphilia, também podendo ser aportuguesada para califilia, é uma palavra grega composta que resulta da união singular do nome kalós (κάλλος), que significa beleza, com philia (φιλία), substantivo para amizade, e que designa amor ou amizade pela Beleza ou Belo. O termo em causa ombreia com outros do mesmo género, avizinhando-se do bem e da justiça. Na penumbra da associação do bem com o belo e a justiça, ele procura a definição das virtudes no indivíduo da Grécia Antiga. O dilucidar de um ideal ou de virtudes cardeais com expressão filosófica e a sua projecção simbólica, social e religiosa no homem grego podem ser entrevistos a partir dos epítetos que daquela palavra (kalós) se amalgamam– como Kalos k’agathos, Kalos te kai agathos, kalokagathia, apenas para numerar alguns – e que têm no prefixo a beleza, para se aproximarem, enfim, de outras expressões que podem derivar para ela, como Cháris (Χάρις) e Sophrosyne (σωφροσύνη). Kalos te kai agathos significa, muito resumidamente, belo e bom, donde se associa a beleza física à da alma. Teógnis de Mégara, que viveu no século VI a.C., reproduz um verso que, segundo o autor, as Musas cantaram a Cadmo no dia do seu casamento, muito elucidativo, aliás, do que a beleza pode significar: “Lo que es bello es amado, y lo que no es bello no es amado” (Thgn. 15-18 apud. Tatarkiewicz 1991, 38 e 46). Frederico Lourenço chama a atenção para que naquele tempo de Teógnis os áristoi eram, “(...) à letra, os ‹‹melhores››. Aristocratas, por outras palavras, detentores daquela qualidade ‹‹pessoal e intransmissível›› que, no ideário grego, lhes determinava à nascença não só a superioridade social como a própria beleza física: a aretê (termo de que traduções portuguesas como ‹‹excelência››, ‹‹mérito››, ‹‹êxito›› e ‹‹virtude›› só de longe se aproximam).” (Lourenço 2020, 129-130). O mesmo autor acrescenta que “Já na Ilíada, a fealdade é indissociável da baixa condição social, ao passo que a beleza é apanágio do fidalgo.” (Lourenço 2020, 129130). Ora, a pessoa de Aquiles, na Ilíada, veste singularmente as virtudes alegorizadas pela expressão Kalos k’agathos, sendo ela, por isso, “a incarnação dos mais altos ideais” (Rocha Pereira 2014, 115) da época a que nos reportamos. Páris era outro indivíduo que incorporava a valentia e a ἀρετή (aretê), tal como a conhecemos encabeçada pelo temerário Aquiles. Era, como poetava Homero, “de aspecto divino” (Hom. Il. 450 apud. Rocha Pereira 2014, 124), e, portanto, “‹‹semelhante aos deuses›› - é este um dos seus epítetos habituais, destinado a realçar a sua beleza física (...).” (Rocha Pereira 2014, 124). Nos finais do século V a.C., ao que consta, “quem quisesse ser homem de bem devia aprender os Poemas Homéricos” (Rocha Pereira 2014, 298), levando consigo os ensinamentos de figuras tais como as de Aquiles, Ájax, Nestor e Ulisses para nelas depositar a sua aprendizagem e imitá-las da melhor forma (Xen. Smp. 4.6 apud Rocha Pereira 2014, 299). Um filho de Pisístrato, como nos informa Maria Helena da Rocha Pereira, precipita-se a essa imitação, para o que se abona dos Poemas Homéricos (Rocha Pereira 2014, 299), “‹‹(...) a fim de mandar num povo superior, entendendo, na sua qualidade de homem perfeito, que a sabedoria não devia negar-se a ninguém››” (Pl. Hipparch. 228bc). E, com efeito, essa imitação propulsionada pela leitura de Homero, e que segue no encalce de tais figuras venerandas, parece depositá-lo na geometria do homem perfeito, e, por extensão, agrilhoá-lo ao cognato Kalos k’agathos. Porém, de acordo com William A. P. Childs (2018), o século IV a.C. parece ter amortecido a expressão Kalos te kai agathos em favor de uma distinção clara entre a beleza física e a beleza moral. Onde Isócrates“(…) appears to make a distinction between character and physical appearance at the end of his encomium on Evagoras (73–76) (…)”, também Aristóteles parece apontar para uma “ (…) distinction of character and appearance as different things, which indicates that the old association of beautiful body and noble character (kalos k’agathos) was dead.” (Childs 2018, 303). Isócrates, com efeito, recomendava aos reis que se não resignassem a deixar na terra a sua representação sob a forma de uma efígie, como mero recipiente de atributos físicos, mas que, para lá da parca representação formal, fizessem depor nas imagens que lhes davam o aspecto para a Neternidade uma série de retratos de “character rather than of your [their] body” (Isoc. 2. 36).

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Em suma, para Isócrates, “(...) while effigies of the body are fine memorials, yet likenesses of deeds and of the character are of far greater value, and these are to be observed only in discourses composed according to the rules of art.” (Isoc. 9. 73 apud. Childs 2018, 303). Para o mesmo efeito contribuiu o advento da polimatia, de que os sofistas são o estandarte perfilhado por Protágoras na máxima “o homem é a medida para todas as coisas”. O sofista conspira pois para o mesmo intuito de separar a beleza física da moral. A propósito, William A. P. Childs expressa-se a favor desta premissa: “Quite obviously, Protagoras had discovered the realm of value judgments that propagated the private, subjective evaluation of experience and particularly visual perception. Not only were the days of the kalos k’agathos numbered, but its formal expression in the High Classic’s archaic idealism was equally without foundation.” (Childs 2018, 306). de “character rather than of your [their] body” (Isoc. 2. 36). Não nos parece inusitado dizer que a expressão filosófica Kalos te kai agathos se tenha esboroado pouco a pouco com a degradação dos hábitos e a diluição do seu significado, trazida a cabo com as práticas filosóficas, sobretudo sofistas, do século IV a.C. Pede-se no entanto prudência para uma leitura deste tipo, em que à partida há um desfasamento acentuado entre carácter e aspecto. Saliente-se, com isso, que o abismo entre uma coisa e outra pode não ser assim tão grande. E não pretendemos, todavia, afirmar que os séculos que precederam o IV se votaram para o culto invertebrado de uma imagem a todo o custo pulcra em que a beleza física dominava a moral. Mas também não estamos certos de que a pulcritude não prevalecesse sobre muitas coisas, até porque nos Poemas Homéricos a beleza se destaca em massa especialmente nos epítetos, mas com simplicidade. E não pretendemos decerto trazer à colacção o conceito moderno de καλοψία (kalopsia), que não encontra identificação na Antiguidade Grega, porque o olhar romanceado que vê beleza em toda a parte e se amordaça a esse destino poético da vida não vinga nem até nos meandros mais obscuros da tradição helénica. A prudência encontrada na Grécia Antiga é singular e não deixa de impressionar pela simplicidade essencial à sua mundividência.

Referências Bibliográficas Childs, A. P. Childs. Greek Art and Aesthetics in the Fourth Century B.C. 2018, Princeton: Princeton Univeristy Press. Lourenço, Frederico. Poesia Grega. De Hesíodo a Teócrito. 2020, Lisboa: Quetzal Editores. Rocha Pereira, Maria Helena da. Estudos Sobre a Grécia Antiga. Artigos. 2014, Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. Tatarkiewicz, Wladyslaw. Kurzyca, D. (trad.). Historia de la Estética. 1. La Estetica Antigua. 1991, Madrid: Akal Editores.

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Prepare-se para uma história envolvente, uma mistura de romance de época e de aventuras em ambiente palaciano onde personagens fortes e tramas surpreendentes prendem o leitor a cada momento. Leónia Lencastre, inteligente e corajosa neta bastarda do rei, e Alexandre Toledo destemido Cavaleiro da Ordem e defensor do Reino, são protagonistas de um intrincado enredo onde ódios, lutas e traições polarizam toda a acção. Conseguirá o amor vencer as duras batalhas que têm que enfrentar?

Depois de “Inverno” a ficção volta em “Primavera”, obra fascinante em que Mónica Guerra dá vida a electrizantes tramas de espionagem e onde não faltam personagens inesquecíveis, grandes doses de emoção e suspense, aventura, crime e paixão. A acção começa em 1887, em São Petersburgo, numa encruzilhada de conspirações e espiões internacionais em busca do derradeiro tesouro dos Templários, por cuja posse importantes e misteriosas Organizações não hesitam em matar... tal como Luzia, uma agente sedutora e perigosa a quem o intrépido Comandante Filipe não resiste.

PVP: 15€/Livro Mónica Guerra nasceu em Lisboa, mas considera-se ribatejana. É licenciada em Sociologia, curiosa e observadora. Aprendeu a ler e a escrever ainda antes de entrar para a escola primária e ler sempre foi uma das suas paixões. Sempre gostou de escrever, começando por pequenos textos e publicando as suas primeiras histórias nos jornais escolares e no DN Jovem. Publicou o seu primeiro livro “De manhã já te esqueci” em 2007, baseado na sua tese de licenciatura, com o conto “A Prometida” em 2015, estreou-se nos romances de época, registo que mantem até hoje. Com a Emporium Editora lançou “Inverno” em 2018 e “Primavera” em 2020, em 2021 será lançado “Verão”, o terceiro volume de uma colecção de romances de época e aventura.

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Caramba, é Natal?! - TERESA FARIA No degrau da escada É que eu quero ficar O papá e a mamã Estão outra vez A brigar Porque motivo Não se querem Separar? No degrau da escada É que eu quero ficar Estão no quarto Porque não falam mais baixo?! O certo seria dialogar A mãe ainda fala um pouco baixo Mas, o pai mal a ouve com aquele vozeirão Ela vai acabar a chorar E ele a pedir perdão Quando ele não amuar E sem jantar for dormir Às vezes apetecia-me fugir... Como é que ele pode?! Como é que ela pode?! Quem está bem é a Mariana Que está no desporto E na explicação Todo o dia! Embora não veja no rosto dela Muita alegria! Se eles não conseguem Se entender Porquê insistir e tanto sofrer?! Vejam-se ao espelho Percebam o que tem vindo a acontecer A vida muda As coisas mudam No degrau da escada É que eu quero ficar Prefiro ver a mamã e o papá Sorridentes e felizes E se tiverem de separar-se Ficarei um pouco triste Mas, depois Acabarei por me habituar Só quero ter a certeza De que vão continuar A me amar! Adoro-vos... (A propósito de uma notícia de mais um duplo homicídio devido a violência doméstica)

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FECHOU-SE UMA JANELA Por Nuno Libório Entrou-me pela casa como se estivesse com pressa. Vi-o esbaforido. Estranhei a sua ausência nos últimos dias. “Algo se passou com essa importância” - supus. “Mudou-se, e nada me disse. E não sei onde viverá.” – disse-mo ofendido. Com a voz pouco nítida ainda lhe sobrou tempo para me expor: “Perdi-a para parte incerta, talvez de uma vez por todas.” Foi uma forma terrível para esquecer-se dela. Falo obviamente da pessoa que o acompanhou numa jornada de afetos com mais de uma década, que o fez sorrir e, ao mesmo tempo, pertencer a um lugar, onde fundou uma história e representou sucessivas ações simbólicas. Foi, segundo ele, a pessoa quem mais amou, além dos seus descendentes. O destino encarregou-se que esta fosse uma eventual forma de esquecimento. Ela, sem comunicar previamente, mudou-se, resignou ao seu lugar de sempre. Primeiro destituindo-o de categoria de companheiro para a vida, para depois abandonar o território que ambos abrigaram, contra interesses alheios e invejas desmedidas. Creio que nem teve tempo para recolher todos os seus bens, bem como despedir-se dela. Partiu para parte incerta, pura e simplesmente. À volta de um queijo e de garrafa de vinho sem rótulo travámos a ansiedade daquele momento. Como se tratasse de uma lição para a vida, entendemo-nos, naquela noite, na perfeição. Os instantes passaram a momentos menos eminentes. Afinal ficámos com uma noite por nossa conta. Tentámos saborear o gosto por aquele presente, mesmo sem a presença dela. Foi difícil para ele, como para mim próprio aguentar aquele confronto. Depois de abandonado por quem mais jurou perdeu a territorialidade. Fiz-me de personagem dele. Ofereci-me. Tentei que ele percebesse a necessidade do esquecimento. Como resposta chorou de forma copiosa. Ficou em mais mau estado do que as janelas dessa casa que, há muito, pediam uma ação curativa e de restauro. Janelas que, depois de fechadas, encerraram um ciclo. Ela não podia ser mais direta, além de determinada. Como sendo o seu melhor amigo, senti necessidade de a confrontar com uma experiência semelhante, de avançar à sua procura.

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Não o fiz, nem farei. Perdoei-os, mesmo não os ouvindo em simultâneo ou sabendo das razões que assistiram a cada um deles. Não quis ser mais egocêntrico que aquilo que, por defeito ou inconsciência, represento nas minhas relações. Acabei, no entanto, por confrontar-me, no dia seguinte, com a referida janela. Vi-a efetivamente fechada. Como também conclui que nunca mais poderia declinar ajuda a quem quisesse recomeçar.

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ENTREVISTA A... MARIANA GONÇALVES 1- Sabemos que vai lançar um novo livro - O primeiro. Será que pode levantar uma pontinha do véu? Posso dizer que é diferente, é algo para diminuir o preconceito e taboo sobre a saúde mental, também sobre as ideias erradas que a nossa sociedade faz-nos acreditar e pressiona-nos. Fala sobre crescer, as pressões de tal, desgosto e dor emotional. Expressa o que é sentir-se desamparado, confuso e inseguro. Sobre o amor que sinto pela minha família. Este livro foi, principalmente, um processo de auto-conhecimento e espero que ajude a quem o ler conseguir realizar o mesmo. 2- Qual foi o seu maior desafio ao escrever? Expressar, exatamente, o que sentia. A dor e o alívio de desabafar nas páginas tudo que me consumia. 3- Qual é o seu universo literário? Nenhum, ironicamente não gosto de ler. Mas tenho um livro favorito, "Somos todos estranhos", de António Raminhos. Foi o único livro que li, em que senti uma grande conexão. Pois fala da saúde mental, ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo, algo com que eu lido diariamente. Um livro muito interessante, honesto e extremamente engraçado. Aconselho a ler este livro a quem sofre de tais problemas ou tem alguém próximo que sofra dos mesmos. 4 - O que a motivou a escrever? Qual é a origem primordial da obra? Este livro foi uma espécie de diário, um confidente mas principalmente um desabafo. Foi a melhor maneira que arranjei para explicar o que senti e o que atualmente ainda sinto. O que me motivou foi uma série de sentimentos, que eu descreveria como desespero, mágoa, raiva, tristeza, insegurança, sinceridade, auto-crescimento e por último auto-conhecimento. A origem do livro surgiu após mais ou menos 10 anos de dor psicológica, esgotamento mental, onde durante esse tempo todo a minha mente controlava-me e não vice-versa, como deveria ser. Mas o momento exato em que comecei a escrever foi depois de ter pedido ajuda pela primeira vez na vida. Algo que era e ainda é extremamente difícil.

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ENTREVISTA A... MARIANA GONÇALVES

5- Já temos um próximo livro pensado? Sim. Algo totalmente diferente, igualmente pessoal. Com um tema extremamente interessante. Também estou muito entusiasmada com esses trabalhos.

6- Qual o sentimento que espera despertar nos leitores ao finalizarem a leitura do seu livro? O sentimento de compreensão, a diminuição de solidão e sinceridade sobre o mundo em que vivemos e como não nos deixar deitar a baixo. Não importa o que os outros pensam, mas sim o que nós próprios sentimos. O objetivo deste livro é que as suas páginas e frases se tornem um confidente. Um confidente que não julga. Compreende, diz aquilo que o leitor precisa de ouvir e dizer, quando o mesmo não consegue. É algo que pode levar sempre consigo e ler, sempre que necessita, não falha. Até se pode tornar um companheiro, se o leitor não tiver quem o ajude ou compreenda.

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Mad world - MARIANA GONÇALVES What do you think they are thinking? Are they happy? Or are they drowned in sadness? Waking up early To start the same rotine Exhausted But the world keeps on going. Drinking their large cup of coffee To give extra strength To make it through the rest of the day. Leaving home Working for that underpaid income They still work to the bone. For the big guys Who spend the day With their feet on the desk All comfortable. Anxious for the next pay To buy that expensive watch They been craving since the day before While your concerns are If you are able to Pay the rent this month. All humans beings So similar Yet so different. Life's being lived In opposite sides What a mad world A mad world. Same pain Different sources Reasons nothing alike. Some can have the day of their lives Others live through the worst pain They ever felt Nothing stops for those. It's a mad world Can't be explained Blessed by riches Or… Haunted by ghosts Same world, what it seems like.

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Same hallways Same school Seen by categories Popular Weird Loner. Some teachers see past the silent ones Playing the card of “there aren’t any favorites“ The ones who don't catch their attention Are or will never be seen. Just shadows, names without faces The big question Which of those will have a future? Most of them have been through so much Why are there people who bully And others who are bullied? Aren't we all the same? Don't we have the same biology? We're born the same way We breath the same air Shoudn’t we all think as one?

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ENTREVISTA A... NUNO LIBÓRIO 1- Sabemos que vai lançar um novo livro - O primeiro. Será que pode levantar uma pontinha do véu? Posso, sim. Trata-se de um conjunto de textos, na forma de crónicas, que abordam as formas concretas da vida de alguém que se ausentou um par de anos, e que se desligou de forma preconceituosa dos que lhe deram a mão e ensinaram a ser homem. E que, após um regresso não previsto, constata que esteve errado, que não correspondeu nos afetos principais e que agora tenta, a todo o custo, reconstruir-se a ele próprio, usando da estratégia de ouvir e de registar diálogos, desabafos e confidências que lhe confiam.

2- Qual foi o seu maior desafio ao escrever? O maior desafio que enfrentei foi o de assumir que afinal também padeço de erros comuns, e que trilhei percursos errados. Este livro reúne um conjunto de textos que nos convidam a regressar a nós próprios, incluindo na intimidade com pessoas, com objetos e com espaços.

3- Qual é o seu universo literário? O meu universo literário é vasto, mas prefiro a abordagem aos temas da materialidade dos territórios e das construções e relações sociais que neles se fundem.

4 - O que o motivou a escrever? Qual é a origem primordial da obra? O escrever de forma mais disciplinada e orientada foi uma promessa que adiei por muitos anos. Foi necessário passar por um problema de saúde grave para me consciencializar do muito que ainda tinha por fazer. E aqui estou eu, a escrever quase diariamente, com imensa pulsão e emoção.

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5 - Já temos um próximo livro pensado? Penso nisso todos os dias. Gostava imenso de voltar a retratar os que ainda resistem na arte e ofício da pesca artesanal, na minha área de residência, Vila Franca de Xira.

6. Qual o sentimento que espera despertar nos leitores ao finalizarem a leitura do seu livro? Espero um pouco de tudo, para lhe ser franco. Mas gostava muito que, a partir da leitura das minhas crónicas, nos centrássemos na importância de cada momento e nas pessoas que conhecemos, que por uma razão ou outra, nos poderão ser os exemplos de vidas humildes, de percursos trabalhados com honestidade e, acima de tudo, com amor e respeito pelo próximo. E enquanto o livro não sai, podem ler as minhas crónicas na minha página do Facebook: Facebook.com/cronicas-narrativas-Nuno-Libório.

Biografia Nuno Libório nasceu em 1976 Ribatejano, filho de operários, apaixonado por leitura, escrita e fotografia. Licenciado em Antropologia, com mestrado em ciências antropológicas, sempre foi curioso e observador do mundo que o rodeia. Sempre gostou de escrever, sonhou escrever um livro, mas adiou esse sonho. No Verão de 2021, decidiu votar a sonhar e começou por escrever pequenos textos e crónicas que depois de publicados na sua página pessoal de uma rede social rapidamente chamaram a atenção e transformaram-se numa vivência que originou uma página de escrita em nome próprio e convites de várias editoras para os passar ao papel. Sonho que em breve se tornará realidade. Até lá podem acompanhar as suas crónicas narrativas em: Facebook.com/cronicas-narrativas-Nuno-Libório.

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RETIROU-SE Por Nuno Libório

Nunca me imaginei numa posição que, mesmo à distância, me servisse de segunda oportunidade para olhar para mim próprio. Pediu-me que o voltasse a ouvir. Citou-me frases que aparentemente não tinham sentido para as minhas causas. Ofereceu-me palavras que, se me colocasse afastado, nunca as alcançaria. Repetiu-me uma história de vida, assim como uma sucessão de empreendimentos e de causas que ficaram sustidas momentaneamente no ar. Como o envolvi com todas as minhas forças, conheci as partes estruturantes de uma vida desenvolvida em tempos imperfeitos. “Nunca me imaginei assim! Nas pessoas em quem mais acreditei tive o maior dos desenganos.” – destapou-me. Pensei nestas palavras horas a fio. Ainda me contou mais: “Voltou a afastar-se para sítio que não consegui determinar. Fiquei sem testemunhas da forma como a amei.” Constatei que ela partiu para um contexto de sobre-modernidade. Que ousou em ser feliz, mesmo não tendo garantia dessa felicidade. Ainda o acompanhei no dia seguinte. Para perceber se se consumou essa separação mais física do que afetuosa. Entrei, portanto, no seu território com o objetivo de o ajudar a escapar a uma agressão que lhe retirou movimentos no espaço. Senti que, no máximo, sobrevoei a sua extensão de sítios e lugares. Que, mesmo sabendo onde estive e com quem estive, nunca o poderei ajudar nessa aflição. Correspondi com o melhor de mim. Abracei-o. Disse-lhe que nunca parti deste sítio como nunca me neguei a darlhe a mão se precisasse. Que este nunca será um não lugar entre nós. Que me pedisse de forma insistente se estivesse distraído. Que perdoe se tiver oportunidade. Para reencontrar a liberdade que se escapou desse seu espaço.

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O JARDIM AO LUAR Por Ej’Deha | Conto

Entre um recôndito e tenaz vazio, sinto a escuridão a perfurar o meu espírito, consoante vou decaindo entre as mais obnóxias trevas, agarrada entre tentáculos transcendentais, sufocada violentamente e desalmadamente, ofuscada da luminosidade que outrora me encadeou, concebeu-me benções irrecusáveis e fortunas invejadas. E, no entanto, penso não ter sido o suficiente para apaziguar os meus, mais loucos desejos mortais, procurando desde a carne até há mais inútil moeda. Como eu presenciei, senti e deliciei-me perante tais benções, presentes que só a humanidade poderia conceber e ofertar; apesar de muitas terem aparentado como meros rebuços, encalhes afim de nos aprisionar, carcomer os espíritos face há oportunidade de nos converterem em meras máquinas, pouco me importara, vislumbrando apenas a sua ostentação, eventualmente, virara o que outrora jamais imaginei; uma mulher jactante, toxicodependente e narcisista. Vejam só a iminência de um destino já caligrafado, uma premonição perene, sabida, no entanto, concretizada, ofuscante das boas memórias, dos sentimentos subtis, agradáveis, em outro tempo, soberanos da minha ideologia, atualmente, meros conceitos prescindíveis. Oh, que vida eu vivi e agora, não sei onde me encontro. Um escuro integrante redondeia-me, os meus olhos não piscam e as cores exteriores, da visão são interditadas. Subitamente, pisquei as pálpebras, visionando um céu acinzentado. Pasmei-me, empertigando-me, vociferando num tom áspero e cru consoante focara os olhos vidrados na vertical, apercebendo-me de um vermelho nítido; por segundos, aquele pigmento indagou-me, e face àquela observação, presumi que era sangue, todavia, não era de todo; em facto, aquele solo mostrava-se atulhado de rosas, tão venustas e majestosas, cujo final não tinha limites. Obviamente, demonstrei-me estupefacta, conforme mantinha um fôlego ofegante, lentamente controlando cada inspiração e respiração, até que, finalmente pudesse cheirar deliberadamente o aroma daquela flor. E que cheiro! Há mesma, estava incrédula, não me contentava com aquela visão enigmática, face ao cenário a que acordara há minutos; insondável, com um ar pesado e d’uma aura espiritual intermediária entre a luz e a escuridão. Que estranho, e eis que consoante àquela estranheza, dei de caras com um longo vestido branco que trajava, sórdido de sangue no peito e cintura. Como assim? Desde quando eu vestia a cor imaculada? Lembrai-me perfeitamente das cores frequentemente ostendas na minha estética; preto, rosa, azul, roxo e amarelo. Sempre desdenhei o branco. Um pigmento frequentemente associado há pureza e há paz, virtudes jamais presenciadas pela minha pessoa. Ainda assim, ver-me com aquela cor, estranhamente, acalmava o meu espírito e suavizava os longos batimentos cardíacos, apesar de indagar d’onde surgira aqueles fluidos corporais. Ora, quando tateei o pescoço, senti um calafrio, ululei e cai perante aquele jardim. Um corte profundo e sujo tomava a traqueia, um fenómeno hediondo face ao facto de encontrar-me viva e indolente, mistérios de inúmeras perguntas com nenhuma resposta, e isso jamais me apaziguava. Pude sentircada detalhe do corte, óbvio que a curiosidade durou meros segundos, contudo, não me atrevi a apalpá-lo. Pelo contrário, rasguei uma porção da manga, e desse tecido, cobri a garganta; de súbito, aquele tecido imaculado, apesar de cobrir o ferimento, não foi manchado, tomando uma titânica curiosidade; onde me encontrava e o que me acontecera? Muito cismava, nada enxergava. Levantei-me, erguendo a cabeça e daquele céu acinzentado, presenciei uma lua cheia, venusta e recôndita do jardim. Supostamente, imaginava que naquele local, estaria uma iminente saída, por tal, palmilhei linearmente, sem perder a orientação.

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Fui errante por meia hora, vagueei e caminhei, só que aquele jardim não acabava! Que localidade infindável! Onde é que eu estou? Eu preciso…não…eu exijo uma resposta imediatamente! Parei de imediato e gritei prolongadamente, embora o que sentisse fosse exíguo, assim como a minha pessoa; pela primeira vez, era insignificante conforme um novo cenário, entre circunstâncias ambíguas que interditavam a busca da verdade. Foi quando visionei a lua, foi quando olhara para aquela silhueta, aquela presença transcendental, só pela sua imagem, manipulara o meu corpo, paralisando-o; estava estática e obviamente com medo. A silhueta lentamente descendia; grotesca, porém majestosa, amedrontadora, no entanto, subtil, suas expressões demonstravam melancolia, eterno sofrimento. Eu queria fugir! Mas a criatura imobilizara o meu corpo com algum tipo de magia, forças desconhecidas ao conhecimento humano. Tremia, conforme a criatura aproximava-se, levitando, tocando no meu rosto suavemente, pelas mãos estiradas. Estava de olhos arregalados, imaginando o pior; seria trucidada e degolada? Ou talvez a minha carne saciaria a fome daquela besta indomável, teria o meu sangue como bebida, será que dar-lhe-ia satisfação? Estou com medo. Minuciava o meu semblante com cuidado, era bastante meticuloso, jamais silabou, somente soltara alguns grunhidos ásperos e horríveis que, sinceramente, repercutiam como o sofrimento de mil vozes em uníssono. Desejava não ter ouvido. A criatura, cuja aparência jamais me atrevera a descrever, inclinou a cabeça para a direita, terminando a sua morosa examinação. A entidade abraçou-me, um calor emanou dos corpos. A cada pressão, memórias ressurgiam, lembranças vividas que finalmente, abençoaram-me com respostas que implorava freneticamente. Numa noite, fui roubada e sequentemente, violentamente estrupada; o assaltante, preocupado com a ocultação da sua identidade, puxou de uma navalha e cortou-me o pescoço, esguichando o sangue pelo peito consoante as minhas mãos, sórdidas do sangue da violação, incessantemente tateavam a cintura. Foi assim que morri. As dores voltavam e o vestido queimara, sem prejudicar o meu físico, o sofrimento seria prolongado e inequívoco; somente teria que aceitar o meu destino e nada mais. Tomei aquela entidade como uma divindade associada há purificação e este jardim ao purgatório. Pensei nisso sim. Levar-me-ia há purificação através da dor, posteriormente conduzindo-me ao Paraíso, cujo prólogo apresentar-se-ia de bom agrado. No entanto, e se este acontecimento não passasse de uma mera ilusão minha? E se este local e este monstro, ao contrário do que cismei, não seriam o limiar do paraíso e sim do inferno? Oh Deus! Estou perturbada com este pensamento e só pelo fato de ter vivido uma vida arrogante de megalomanias, condicionavam absurdamente a minha teoria. Queima!!!! Queima intensamente!!!!! O meu corpo foi reduzido em cinzas pela criatura e finalizando a sua tarefa, esta ascendeu, retornando há lua, e desse satélite, visionava-me; agora eu era mais uma rosa, mais uma flor daquele jardim. Mais uma rosa, do Jardim Ao Luar.

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O OLHO DO COSMOS Por Ej’Deha | Conto

Eu quero que a dor incessante termine, jamais perdurei um caminho reluzente e reto. Quem eu sou? Qual razão de uma gênese, ainda que, maravilhada como uma promissora prole, seja morosamente construída como um mecanismo? Porque somos escravos diante de uma obnóxia e orexia sociedade? Porque são erguidos padrões ilusórios? Lastimáveis doenças viciosas que facultam o crescimento da arrogância, da vaidade e da jactância, interditando-os de virtudes como humildade ou a benevolência. Não entendo de todo a que ponto chegámos, sinto-me sozinho, ainda que mantenha a minha honra ou zelo, a inexistência de um carinho ou entendimento de um condiscípulo condiciona os meus pensamentos em hediondas ideias, grotescas maneiras coincidentes com o meu desejo dilatado do eterno descanso. Porém, pergunto-me como seria o presenciar da minha última visão, o pronunciar da minha última sílaba e o cheiro o último aroma do meu perfume. Deveria cismar incessantemente sobre o lugar a qual deveria efetuar o processo, ou simplesmente consuma-lo presentemente? Ainda que o subtil desejo seja de todo tentador, não me sinto capaz ainda do seu realizar, no entanto, clamando pela interdição dos sentimentos e pensamentos nocivos, suspirei consoantemente o cintilo do instrumento mortal desvanecia dos meus olhos, o batimento sistemático da sua aflição auditiva, enquanto a colisão com o chão se sucedia. Senteime na cama, elevei as mãos ao meu semblante e quatro vezes neguei com a cabeça, o sucedido. Lágrimas dissipavam-se e a respiração, lentamente retomava ao normal. Terei eu feito a melhor escolha? O quão enigmático e transtornado sou. Foi então que, de olhos semiabertos, apercebi-me de uma singularidade. Um brilho avermelhado-sangue, emitido fora do apartamento, ampliado pela rua, ofuscando as então cores originais do espaço urbano. Que pigmento incessante! Tão brilhante e avassalador, mas inócuo ao olho, condicionado o estímulo da ascensão da minha diligência. O mistério perdurou, e há medida que palmilhava até há janela, toda à comunidade aglomerou-se, inclinando os semblantes ao céu, apercebendo-me imediatamente da perplexidade visionada nos seus rostos. A curiosidade aguçou-se, porém, ainda que a minha sociabilidade fosse estagnada, eventualmente, tomei coragem afim de investigar mais aquele sucedido. Empertiguei-me da janela, palmilhando até há porta do meu quarto. Abri-a lentamente, fechando com certa subtileza. Descendo as escadas, foi soado, exteriormente, inúmeros gritos tétricos; a curiosidade formou um pináculo de perguntas nos mais assomados pensamentos que me ocorreram na altura, alongando o meu passo a cada voz displicente. Ao sentir a brisa de um vento pesado, pude notar em coincidência com aquele brilho insondável, a ascensão de uma anarquia; famílias desgastadas caiam de tanto correr, certos devotados ajoelhavam-se e pediam misericórdia, ecoando no meu ouvido certos avés-marias e outros abraçavam-se, não euforicamente, contudo, envoltos de um sentimento atemorizador. Os cães ululavam intensamente, os felinos entravam num transe bélico, abalroando e findando outros gatos, esguichando litros de sangue. Com os olhos arregalados, não acreditara nos acontecimentos perante mim. Aquele brilho enigmático, a cada segundo, demonstrava uma aproximação deífica consoantemente uma emoção caliginosa, porém, ainda não era visível o catalisador da emissão. OH MEU DEUS! Contemplei o céu avermelhado, da nossa exosfera, uma criatura ciclópea, grotesca, hedionda, composta de inúmeros tentáculos adejava o espaço, tomando o seu foco no planeta. Aquele titânico olho vermelho jamais piscava, focado estava perante um telúrico que possivelmente, para á monstruosidade, era nada mais, nada menos que um corpo celeste juvenil. O meu semblante, ao invés de manifestar-se em puro horror, concebeu-se eufórico; contemplei aquela visão minuciosamente, relembrando-me das obras literárias de H.P Lovecraft. O Terror Cósmico, enigmático e imensurável auxiliou-me nos momentos mais adversos na minha vida, especialmente quando fui captado sobre leituras icónicas como “O Chamado de Cthulhu” ou “O Horror de Dunwich”.

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Ah, foi tão bom folhear cada página, soletrar cada palavra e contos, colidiu com a ambígua teoria de uma existência transcendental e cósmica, que de fato, não estávamos sozinhos neste Cosmos. Apesar de ser um exultante fã da escrita de Lovecraft, era só uma breve pujança da minha saúde mental, rapidamente dissolvendo aquele vigor e euforia numa veemente agrura condicionante duma detestável e grotesca sociedade; por tal, a par dos acontecimentos decorrentes, desinteressado demonstrei-me. Fartei-me de ser cordial quando em troca recebia humilhação, fartei-me de auxiliar quando em troca ofertavam-me traição, fartei-me deles todos! Eles não merecem a minha cordialidade, eles não merecem a minha humildade, eles não merecem a minha virtude! Vivi durante duas décadas na penumbra, já aceitei a solidão como cônjuge e a depressão como melhor amiga. Será um sinal o aparecimento desta entidade? Finalmente, soltei um sorriso insólito, fechei os olhos conforme erguia os braços, visionando um condensamento na íris do monstro; premeditei um raio energético que emitir-se-ia em instantes. Ao invés de correr pela minha vida, decidi manter-me estático. O mundo finalmente abraçaria o seu iminente destino e a comunidade não aceitava este final fortuito, porém, pouco me importava. Entreolhei-me com a criatura “Lovecraftiana”. A energia dissipou-se e consoante com a colisão, decidi expressar quatro palavras que já há muito, sentira a vontade de soltá-las.

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A GARRAFA VÍTREA Por Ej’Deha | Conto

Era um fator provável e iminente, porém, a fonte previsível jamais suscitaria nas mentes marginais dos Srs. Mendes, Sousa e Castelio. Mas como poderiam eles enxergar? Eram meros estrangeiros numa localidade remota de Portugal, palco de conterrâneos viscerais ás suas raízes, no entanto, não supersticiosos a estrangeiros ou a outras crenças. Ao norte da terra das serpentes, próximo do Campo do Gerês, situava-se a vila de Jeruzia, o destino que os Srs. Mendes, Sousa e Castelio escolheram para porem em prática, as suas proficiências. Ora, estes honestos e dotados senhores, virtudes deturpadas pelos próprios, chegaram a Jeruzia ao anoitecer, de Seat Ibiza, numa noite dominada por uma tempestade interminável, encobertando um céu enriquecido de estrelas, por nuvens imperiais e furiosas. Ponderaram injetar em suas mentes e corpos, um pouco de cafeina e uma caneca de cerveja. A viagem fora longa, e ansiavam por certos estímulos. Aquelas terras eram estranhas, sabiam que tinham de estudar pacientemente, os habitantes, do mais pobre ao mais opulento, do casebre há mansão, sé é que houvesse tal magnificência numa vila pequena, trivial ás demais. Mas, eles, com os seus longos anos de experiência, cismavam que nem todo lugar demonstrava ser o que os olhos visionavam, e por tal, os Srs. Mendes, Sousa e Castelio personificaram a ansiedade, o interesse e o resoluto quando alcançaram Jeruzia, compreendendo que a passagem seria transiente. A taverna estaria deserta se não fosse pelas presenças dos Srs. Mendes, Sousa e Castelio, ao lado do empregado atrás do balcão, mundificando os copos sórdidos dos lábios de bêbados e do tato de fumadores que lá pousavam frequentemente. Sobre a dominação da tempestade, seria de se esperar a falta presencial dos clientes. Ora, os três senhores, sentados na mesa mais arredada, falavam entre si, murmúrios sobre as memórias passadas, aventuras peculiares, outras acerca das suas infâncias, entre inúmeras discussões comuns. Fora então, que as pupilas do trio, dilataram-se, ao vislumbrarem a entrada de uma figura alta, venusta e voluptuosa, de longos cabelos loiros, pele pálida, lábios finos e olhos brilhantes azulados, um corante sublime. Ela estava séria, em passo leve, assentara-se no banco central do balcão. Entreolhou-se com o empregado, amedrontado pela presença feminina, no entanto, o semblante dela demonstrou-lhe uma certa eloquência. Ele sabia o motivo da sua presença insondável. Diariamente, há mesma hora, a mulher dirigia-se até ao senhor de certa idade, em busca de algo. Os Srs. Mendes, Sousa e Castelio olhavam-na intensamente, pasmados por tal beleza, atraídos pela sua figura erótica, escondida sob as calças de ganga largas, o longo blusão e sobre tal peça, um casaco de couro preto. Do bolso, retirou um maço de tabaco Chesterfield Blue, acendera o cigarro e face à sua figura, duplamente intensificou as imagens eróticas dos senhores daquela jovem mulher, fumando prazerosamente. Cismava. Que tais pensamentos ofuscavam temporariamente a sua realidade? Minutos após a espera, o empregado surgiu dos fundos com uma grade de garrafas de vidro vazias, limpas e cintilantes. A mulher sorriu, acenando como forma de agradecimento enquanto pegara na grade, sendo retorquida pelo conterrâneo. Antes de sair, deu um breve olhar nos Srs. Mendes, Sousa e Castelio. Não foi de todo um olhar amistoso, pelo contrário, aqueles olhos azulados demonstravam soturnidade, uma certa peculiaridade. Era como se o seu olharpermeasse o anímico maculado dos “honestos” trabalhadores. Consoante ficaram corados, os corpos por breves segundos, padeceram de trêmulos, e a silhueta desvaneceu-se num ápice. A imagem dela flutuava constantemente os pensamentos dos Srs. Mendes, Sousa e Castelio, mas sobre aquela figura tigrina, priorizaram os possíveis valores da loira. Geralmente demoram dias, na localização de uma vítima e dos seus pertences, porém, como se o destino os favorecesse, deram de caras com o iminente alvo, uma oportunidade que não deixariam de escapar de todo. Não só podiam ter para os senhores os valores de outrem, bem como, divertirem-se ao relento, com a loira tão bela e voluptuosa. Só tais pensamentos eróticos latejavam os corações humanos, erotizavam possíveis prazeres ás suas disposições. Oh, o quão doce seria! Matutaram babados.

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Os Srs. Mendes, Sousa e Castelio dirigiram-se ao empregado, curiosos acerca da figura misteriosa. Atingiramno com perguntas, de forma casual e amistosa, curiosos e sérios. Envergavam naquele momento, formas enamoradas, perdidas por uma mulher, tão deslumbrante, todavia, tão misteriosa. O empregado murmurou para si mesmo, seguidamente, decidiu responder as perguntas com profissionalismo. Viu naquele trio indivíduos obstinados, notara que permaneceriam estáticos enquanto suas perguntas não tomassem respostas. O empregado respondeu, afirmando que a loira era uma presença insondável em Jeruzia, vivendo como uma eremita ao oeste da vila, num casebre de madeira, interditado ás visitas. Subsequentemente, disse que a loira desde há muito que perambula até ao bar em busca de garrafas vítreas, porém, jamais divulgando os propósitos para tal. A cada pergunta, a diligência intensificava-se nos Srs. Mendes, Sousa e Castelio. O empregado sentiu-se incomodado, quando divulgou que diariamente, em seus vinte anos de trabalho, enquanto entregava o desejado há misteriosa, a mesma nunca apresentou um rosto encarquilhado ou qualquer característica macróbia. Por vezes, cismou se não seria uma bruxa, mas dissolveu essas teorias de conspiração; talvez seria algum creme ou possivelmente, bases que encobriam o verdadeiro rosto da loira. Os Srs. Mendes, Sousa e Castelio, com o recente conhecimento, decidiram atacar a mulher ainda naquela noite. Retornaram há mesa, e rapidamente preponderaram um plano rápido e efetivo. Não almejavam somente as suas relíquias, queriam-na num ardor fulgurante. Sem compadecimento. Exclusivamente frieza e tenacidade. Os Srs. Mendes, Sousa e Castelio eram repungentes e sórdidos, parte de uma geração homogénea de homens e mulheres, dotados de capacidades em ofícios poucos modestos e violentos. Por fora, camuflavam-se com cascas humanas, no entanto, no interior, nada mais do que meros animais em liberdade. Seguindo a informação, divagaram até ao oeste de Jeruzia, sob aquela tempestade, e viram um casebre de madeira, iluminado por dentro. Conjeturaram a estrutura, como o possível aprisco da loira. No Ibiza, reviraram o plano novamente. Enquanto que o Sr. Sousa se apresentasse há mulher, procurando por abrigo, os Srs. Mendes e Castelio, adentrariam bruscamente, segurando o corpo presumidamente vulnerável da loira. O que se seguiria após, deixá-los-ia regozijados por algum tempo. Um ato cruel, desumano e horripilante. Saíram do automóvel e partiram ao destino. O Sr. Sousa estava ereto, o Sr. Castelio babado e o Sr. Mendes prudente, preferindo sonhar o prazer no momento em que pudesse iniciar a iminente penetração, logrando-se vitoriosamente. Apresentavam-se na dianteira da porta de madeira e bateram três vezes. Esperaram, mas não obtiveram qualquer resposta. Reiteraram o processo. Esperaram impacientesdurante dois minutos, contudo, sem qualquer resposta ou barulho providente do interior. Era estranho de fato. Será que a loira não estaria de todo no seu domínio? Então, por meio de um assobio agudo, numa melodia melancólica e assombrada, que os Srs. Mendes, Sousa e Castelio volveram-se, entreolhando-se com os olhos demoníacos da loira, a qual aquela cor azulada já não se presenciava mais. Somente, olhos amarelos como o mijo, vivos com as pupilas dilatadas, sorrindo maliciosamente, consoante segurava três garrafas vítreas. Obviamente, o bando assustara-se e recuaram um passo atrás, chocando com a porta. Franzindo a sobrancelha, ela monologou sardonicamente: “- Uma noite bela para transfusões, não estou certa rapazes?” Sua voz transmitia doçura, um doce disfarçado d’uma comoção áspera e abissal. Posteriormente, gritos agónicos, entre loucuras e frases indizíveis foram sonantes, sem qualquer auxílio para os vitimizados. No casebre, a loira sentara-se na mesa. Olhou as garrafas, agora condensadas com um fluido branco, carcomido por partículas negras. Uma luz fosforescente intensa seguiu-se, quando numa estante, a misteriosa minuciava muitas garrafas vítreas, algumas com tal essência do pigmento negro, outras puras, imaculadas do tingimento pecaminoso. Ela riu perversamente, contente por mais um triunfo, por mais um alimento e bênção há sua juventude. Ela era solitária e ao mesmo tempo acompanhada, ela era tão jovem e concomitante, tão velha. O que ela foi outrora, era no momento. Sozinha encontrava-se, porém, consigo, uma coleção de garrafas vítreas, abundantes das formas anímicas do ser perverso e traidor, da matéria orgânica a que se chama o Homem.

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