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Transformação digital na pandemia
Por Carlos Zilli, co-autor do livro “A Jornada da Transformação Digital” e membro do conselho na Fuel Eyewear Company
Amaioria das organizações não estava preparada para este período de incertezas. Observamos grandes mudanças no perfil de consumo, com consumidores mudando drasticamente seus perfis de consumo e aumentando significativamente as compras por canais on-line e delivery.
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O consumo de produtos para bem-estar e a valorização do tempo como um bem precioso farão com que o e-commerce e as vendas on-line em geral tenham seu grande momento de consolidação no Brasil. A realidade é que essa mudança não tem volta. Para que empresas e marcas sobrevivam, o canal on-line terá de ser uma realidade para os negócios. Teremos, como consequência, um novo modelo de varejo, e o canal tradicional terá obrigatoriamente de se reinventar. O consumidor digital incorporou em suas expectativas questões catalisadas pelas ferramentas digitais, como instantaneidade, redução de burocracia, quebra de barreiras geográficas, autonomia e transparência. Nasce aqui o verdadeiro consumidor empoderado.
As organizações de hoje foram projetadas para a estabilidade. A empresa da próxima década, porém, deve entender e acomodar a mudança e a incerteza como parte de sua rotina diária. Para isso, precisa acelerar seu aprendizado, combinando pessoas e máquinas, para evoluir.
A tecnologia promete desempenhar um papel fundamental: a Inteligência Artificial pode, por exemplo, detectar padrões em conjuntos de dados complexos com extrema velocidade e escala. Isso
permitirá que as organizações se adaptem constantemente às mudanças e revelem novas oportunidades.
A maior falha que temos visto está no lado cultural da transformação. Vemos muita facilidade em investir naquilo que é obvio, tangível, e não necessariamente preparando os modelos mentais associados. Empresas com um mindset antigo que utilizam tecnologias digitais acabam obtendo resultados pífios. E preciso ir além do óbvio.
O início da transformação digital é a adoção dos conceitos ágeis. Além disso, essa é uma jornada: processo de inovação intensiva, constante e de alto impacto. Uma transformação assim pode demorar de três a cinco anos e, apesar de não ser linear, pode significar a diferença entre a vida e o declínio organizacional.
É preciso realizar uma mudança cultural para permitir que essa inovação intensiva e de alto impacto permeie toda a empresa e valorize as novas ideias. É preciso quebrar as hierarquias e dar mais autonomia as pessoas. Fala-se muito em senso de propriedade ou “dor de dono”, mas a conquista desse nível de comprometimento e engajamento da equipe só acontece quando as pessoas adquirem um senso de propósito, autonomia e responsabilidade pelos resultados.
CRIE UMA RUPTURA CULTURAL
Desde que o ritmo das transformações tecnológicas intensificou a digitalização em todas as esferas, as empresas passaram a experimentar mudanças cada vez mais significativas e frequentes em seus modelos de negócios. Competir num mercado em “ruptura digital” tem sido uma questão crucial para o sucesso na execução das estratégias.
Quando pessoas de diferentes áreas da organização discursam sobre o “digital”, em geral estão se referindo a um conjunto heterogêneo de forças: o crescimento do e-commerce, a influência das mídias sociais, a promessa do Big Data, a proliferação de dispositivos móveis, a nova realidade da segurança cibernética e o potencial da nuvem em termos de processamento e armazenamento. A falta de um vocabulário comum entre os principais players em uma organização é muitas vezes um obstáculo para encontrar soluções e definir uma estratégia, prioridades e planos.
Passar para uma arquitetura organizacional digital normalmente não é intuitivo. O fato é que não há mais uma única resposta: a abordagem correta será sempre específica para cada negócio, levando em conta as plataformas digitais que devem ser priorizadas, o nível de prontidão para a mudança e a estratégia que norteia o progresso digital do negócio. O World Economic Forum listou um conjunto de capacidades fundamentais:
01 Perceba e traduza a disrupção: olhe além do seu próprio mercado ou segmento. Esteja preparado para deixar mais indistintas as linhas entre os mundos físico e digital.
02 Tente desenvolver e lançar ideias
mais rapidamente: pare de pensar só em inovação e procure, em vez disso, resolver os problemas dos clientes/ consumidores. Desenvolva plataformas para experimentações rápidas e mais baratas.
Descubra ou crie o empreendimento que mais poderia causar ruptura à sua empresa.
03 Compreenda e potencialize dados:
organize eventos de dados. Encontre novas formas de rentabilizar dados. Crie uma equipe de análise. Pense além do Big Data para considerar diferentes tipos de informações.
04 Crie e mantenha uma equipe com alto quociente digital:
seja honesto sobre quão digitalmente “letrados” são os líderes e a força de trabalho da empresa. Crie ambientes digitais de aprendizagem para renovar as habilidades dos colaboradores.
05 Busque parcerias (e invista) para todas as atividades não
essenciais: uma das características de líderes digitais eficazes é sua compreensão intuitiva de que essa jornada não deve ser feita isoladamente.
06 Organize-se para a velocidade: garanta o apoio da alta liderança e o comprometimento de toda a empresa para conduzir o crescimento digital, com o respaldo de colaboradores digitalmente capacitados.
07 Projete uma experiencia digital prazerosa: a experiencia do usuário impulsiona arquiteturas de TI, e não o contrário. O sucesso em adotar novas tecnologias e integrá-las às operações de uma empresa tem o potencial de trazer ganhos de eficiência.
Nessa evolução para a criação de centros de engajamento, o “pensar diferente” significa saber encontrar os serviços certos, que agregam valor ao seu negócio, sem se preocupar com fronteiras e limites. São melhores decisões a custos mais baixos.
REVEJA A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
Você já sabe que a Transformação Digital das empresas e só uma questão de tempo e que, se a sua organização não acompanhar as mudanças, ela pode deixar de existir. Mas inserir a Transformação Digital na cultura organizacional pode se tornar um desafio e tanto.
As deficiências na cultura organizacional são algumas das principais barreiras ao sucesso das empresas. O principal gargalo é a falta de uma cultura forte e unificada. Os maiores desafios são uma cultura avessa ao risco e à experimentação e a falta de uma compreensão comum da cultura da empresa.
As empresas que amadurecem digitalmente integram sua estratégia digital ao planejamento estratégico da empresa. Elas têm culturas organizacionais que compartilham características comuns. Esses recursos aparecem de forma consistente em empresas que se transformam digitalmente em diferentes setores industriais.
Você deve estar se perguntando: como fazer para alinhar a cultura organizacional à estratégia digital? Esteja atento a estes pontos:
01. Liderança ativa
Uma Transformação Digital completa precisa de um suporte ativo das altas lideranças ao longo da jornada. Esse suporte, no entanto, tem que ir além do executivo-chefe. Uma solução seria começar colocando um diretor digital, responsável pela agenda digital completa, com a incumbência de treinar e orientar as demais lideranças.
A mudança de cultura exige um suporte para um fluxo de reinvenção digital, por meio da hierarquia de gestão, até todos os funcionários da linha de frente. Todos os líderes precisam mudar o seu estilo de tomada de decisões “de cima para baixo” para se tornarem treinadores.
02. Integração entre todas as áreas
As organizações digitais removem os silos entre departamentos, funções e linhas de relatórios, criando equipes multifuncionais auto-organizadas, não-hierárquicas e habilitadas para executar projetos do início ao fim. Os transformadores digitais criam as chamadas equipes de “esquadrão”, flexivelmente implantadas em toda a organização e focadas em atendimento de ponta a ponta, em vez de serem trancadas em um único departamento ou função.
03. Riscos calculados
Em um mundo digital, um dos maiores riscos está em não correr riscos. As empresas que ficam paradas são as que mais sofrem com a disrupcão. Organizações que têm altos níveis de maturidade digital tendem a recrutar líderes abertos a iniciativas arrojadas e, portanto, arriscadas.
Tomar riscos não significa correr qualquer risco. O digital abre a porta para executar múltiplas experiencias em pequena escala que implicam um custo limitado em caso de falha, mas podem produzir descobertas altamente valiosas.
04. Dê ouvidos aos seus colaboradores
Por mais comum que parece a palavra “oportunidade”, nela estão inseridas “confiança”, “autonomia”, “espaço” e tantas outras palavras que têm de fazer parte do que você oferece aos seus colaboradores. Sabendo utilizar a vontade que eles têm, as mudanças não serão apenas uma meta intangível: elas serão palpáveis no dia a dia e farão com que as equipes se engajem cada vez mais na evolução da sua empresa. Organizações que não oferecem oportunidades de mudança na era digital, ou mesmo que não escutam seus colaboradores, costumam ter alta rotatividade de funcionários e isso é um indicador de que algo está errado.
05. Dê voz ativa aos seus colaboradores
Os comportamentos e valores dos colaboradores também estão evoluindo e inspirando-os a ir mais longe, mas toda essa evolução pode ir por água abaixo se a cultura organizacional não favorecer tais expectativas.
As principais características de uma cultura digital podem variar de acordo com o estágio digital em que a empresa se encontra, mas em geral incluem o “apetite” pelos riscos desta nova era; a experimentação e implementação rápida de novos processos; o investimento pesado em talentos emergentes dentro da companhia; e o desenvolvimento de líderes.
Empresas digitais fazem com que a necessidade de crescimento de seus funcionários vá ao encontro da oportunidade de se destacar no mundo digital, oferecendo ferramentas e desenvolvendo habilidades para o funcionário e a empresa possam crescer. Não se esqueça do foco na liderança. Uma equipe com hierarquia horizontal faz com que cada colaborador tenha seu papel na transformação e possa evoluir não só a empresa, mas a si próprio. Tecnologia é uma ferramenta incrível e capacitadora, mas, no fim das contas, são pessoas que trazem visão, criatividade, inovação e mudanças.
As empresas tradicionais não se reinventam facilmente como inovadoras. Muitas rotinas fixas e fatores culturais podem atrapalhar. A excelência em inovação é construída com o esforço de vários anos. Qualquer empresa que queira fazer essa jornada irá maximizar sua probabilidade de sucesso, estudando de perto e assimilando apropriadamente as principais práticas. Juntas, elas formam um sistema operacional essencial para a inovação dentro da estrutura organizacional e da cultura de uma empresa.