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Luciana di Leone
/ LUCIANA DI LEONE
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Não, Mulheres que Escrevem (MQE) não é uma revista. Nem de poesia nem de literatura em termos gerais. Menos ainda é uma revista de ou para mulheres. Não, não é. Como o cachimbo de Magritte, não é um cachimbo. Mas, como acontece com ele, a pergunta que aparece na afirmação da negação é: o que seria, então, Mulheres que escrevem? Certamente, teríamos que fazer antes outras perguntas: o que seria uma “revista de poesia”? Que entendemos hoje por esse dispositivo? Como seria, em um momento em que as categorias modernas que pautam os limites entre os gêneros estão sendo problematizadas, uma revista de poesia tal como as conhecêramos no século XX? Mesmo que de modos muito variados e irredutíveis a uma definição única, mesmo sabendo que – sim – ainda são publicadas revistas de poesia, são elas realmente possíveis? Qual disposição, legibilidade e circulação, precisa ter uma coleção de textos para que possa ser chamada de “revista de poesia”? Quando à literatura já não lhe interessa ser chamada de literatura, quando à poesia não lhe interessa esse nome distintivo, que revista poderia contemplá-las? Como não tenho essas respostas, talvez seja necessário começar mesmo assim, com um ponto de análise descabido, um exemplo que se sabe externo, mas em contato àquele nosso objeto final de interesse, esse aparelho cultural em xeque que são as revistas de poesia. Por isso, proponho olhar com atenção a iniciativa Mulheres que Escrevem que, como disse, não é uma revista de poesia.
Mulheres que escrevem surge em setembro de 2015 em uma newsletter1 enviada para vinte e seis endereços de correio eletrônico cadastrados previamente. A maioria dos destinatários eram conhecides ou amigues de Natasha Isis e Taís Bravo, ambas jovens escritoras, uma jornalista, outra estudante de História, que assumiam a proposta. O primeiro envio consistiu em duas cartas, assinadas por elas, endereçadas diretamente aes leitores. As cartas, e muitas das publicações que se seguiram da newsletter, giram em torno da angústia recorrente com o trabalho de escrita que se dá de forma singular entre as mulheres.2 Conta ali Taís Bravo que, depois de fazer um desabafo público, recebeu muitos comentários privados de outras mulheres que, embora escrevessem, têm “dificuldade de escrever”, e que compartilham seu incômodo frente aos problemas para serem publicadas ou editadas, além do sofrimento “com dúvidas, complexo de fraude e insegurança”. Diz a carta: “Poderia ser apenas uma confissão entre amigas, mas o problema parece coletivo. Essa Newsletter não pode nos salvar de nossas próprias angústias, mas é um movimento para que elas se tornem públicas” (Taís Bravo em MQE, newsletter, 4 de setembro de 2015). Poderia ser um problema individual, íntimo – de fato, assim é sentido –, mas é histórico, sociológico, cultural e político. Esse é o primeiro diagnóstico que se junta ao desabafo. Mas o que fazer com ele? Poderíamos dizer que as características marcantes dos textos encaminhados ao longo dos primeiros três meses, sejam de autoria das próprias organizadoras ou de escritoras convidadas, são: por um lado, a constatação e o desabafo da angústia, da insegurança, da autodesconfiança; e, por outro, a partilha como modo de reconhecimento (“encontrar em outras mulheres um alívio pela identificação”) e autofortalecimento mútuo, como “ajuda”, e como construção coletiva de uma identidade que precisa ser ainda imaginada,
1 A newsletter de Mulheres que escrevem foi encaminhada 94 vezes entre setembro de 2015 e janeiro de 2021. No entanto, a partir do final de 2017, a sua frequência é descontinuada como veículo de textos (que passa a ser feito na plataforma Medium, como analisaremos) e se torna mais um correio de avisos sobre eventos promovidos pelo grupo, reduzindo notavelmente a sua assiduidade. Ainda é possível, no entanto, se subscrever para receber a newsletter e acessar os envios antigos. Para citações vindas de publicações na newsletter, consigna-se do seguinte modo: (MQE, newsletter, data do envio). 2Cf., entre outros, “Suficientez e outros neologismos”, de Lorena Pimentel (MQE, newsletter, 18 de setembro, 2015); “Graduação em insegurança”, de Milena Martins (MQE, newsletter, 16 de outubro, 2015); “Canoas, 23 de outubro de 2015”, de Luisa Geisler (MQE, newsletter, 23 de outubro de 2015).
conquistada ou, melhor, simplesmente exercida (voltaremos sobre isso), a da “escritora”. Ou seja, são recorrentes os lamentos, mas eles funcionam como ponto de partida para uma reivindicação ou afirmação de um “ser escritora”, contra os grandes e seguros nomes (os “dinossauros”) da literatura, aqueles a quem que foi dada a possibilidade de não duvidar de si.3 A procura de uma identidade de escritora, no entanto, não é pacífica, não se dá nos moldes de uma reivindicação ou do engrandecimento via genialidade artística. É, pelo contrário, a constatação da fraqueza, de fragilidade e de insuficiência como lugares de enunciação produtivos e éticos, que denunciam o autoritarismo discursivo da ideia de “suficientez” ou de sucesso. Trata-se mais de uma procura de uma subjetividade aberta, aberta aos encontros com outras, vulnerável, afetada e afetante. Não imune, para convocar a terminologia de Roberto Esposito (2007). Nesse sentido, se o tom de alguns dos textos pode nos fazer pensar, em um primeiro momento, em uma escrita vinculada com a autoajuda e a procura de uma identidade “bem-sucedida”, fechada e imediata, são muitos os elementos que nos obrigam a repensar essa “autoajuda”, não para negá-la, mas para enriquecê-la numa vinculação com uma preocupação comunitária, uma preocupação com o cuidado.4 Os chamados “trabalhos de cuidado” são, mais do que uma série de atividades concretas, uma categoria analítica, política, econômica, sociológica, que tem permitido visibilizar e problematizar a base da produção de bens e de subjetividades de modo geral (ESQUIVEL, 2015) e, também, da produção de saber. Quando falamos da necessidade de levar em conta uma perspectiva analítica que contemple os “trabalhos de cuidado”, não se trata tanto de mapear quem cuida e quem não, mas de tornar perceptíveis os trabalhos que se ocultam nos produtos finais, assim como as opressões e as vulnerações que estão nele. Essa perspectiva, que visibiliza o trabalho necessário e silenciado para poder garantir, neste caso, a produção de textos, pretende ser uma ferramenta, além de analítica, política, que problematize as desigualdades em relação à produção e consumo da literatura, também.
3 Cf., entre outros, “Afirmações sobre ser escritora”, de Paula Gicovate (MQE, Newsletter, 06 de novembro de 2015); “Eu morro de medo de ficção”, de Brena O’Dwyer (MQE, Newsletter, 11 de dezembro de 2015); “A trégua ou a importância da voz da mulher”, de Natasha Silva (MQE, Newsletter, 18 de dezembro de 2015). 4“A vergonha em aceitar livros como ajuda”, de Carla Soares (MQE, Medium, 15 de março de 2017. Disponível em: https://medium.com/mulheres-que-escrevem/o-embara%C3%A7o-em-aceitar-livros-como-ajuda35400213129e).
Tradicionalmente, a chamada literatura de autoajuda – de fato, muito heterogênea enquanto categoria – foi analisada pela crítica acadêmica como uma textualidade marcada pela cultura de massa e por uma lógica capitalista de acesso ao sucesso individual através da “conquista de um ‘eu’” sólido (RÜDIGER, 2010). Essas características evidentemente nos obrigam a afastar muitos desses textos de uma literatura “honesta” (para usar o termo de Walter Benjamin em “Experiência e pobreza”) com o seu tempo, com a sociedade fragmentada com a qual dialoga. A literatura de autoajuda é uma literatura, de certo modo, domesticadora e apaziguadora dos traumas. Mas talvez seja interessante observar que, mesmo com um objetivo de suficiência e sucesso no que se propuser – emagrecer, ganhar dinheiro, fazer dormir bebês, arrumar a casa, ser feliz... –, os textos se apresentam como “insuficientes” em sua condição de literatura. Ou seja, é uma literatura que assume para si uma função prática, instrumental, um desejo de ser “fora de si”, de intervir no mundo. A literatura de autoajuda nunca pretendeu ser uma literatura autônoma, e também por isso, entre outras coisas, não chegar a ser considerada “literatura”. Se, evidentemente, podemos problematizar e criticar a ideia de “sucesso” e os objetivos que estão por trás da maioria dos livros comercializados chamados de autoajuda, me interessa, na aproximação com a ideia de “trabalhos de cuidado”, e na observação de que é um texto ao qual não lhe interessa ser apenas texto, chamar a atenção para uma posição enunciativa importante para propiciar contatos comunitários e abandonar (o que muita da autoajuda vem abonar, sabemos) a construção de grandes autores, de nomes de sucesso, de lógicas exclusivistas de originalidade.5 Voltemos com essa perspectiva ao primeiro envio das Mulheres que escrevem para sublinhar que já ali se enunciava claramente, em um pequeno adendo às cartas, a proposta de abertura, coletividade e cuidado:
5 Francisco Rüdiger aponta, nas conclusões do seu estudo Literatura de autoajuda e individualismo (2010), que é necessário analisar a literatura de autoajuda não apenas como uma forma de exploração ideológica, de imposição da ideologia dominante, mas como uma “estrutura mediadora” entre os leitores individuais e os valores sociais. No entanto, preciso sublinhar que a minha aproximação da literatura de autoajuda da lógica dos trabalhos de cuidado permite, espero, uma problematização tanto da lógica da literatura autônoma, quanto da lógica da literatura como mediadora, colocando-a como um trabalho em si mesma, como uma posição ética, e não ideológica. Isto, sem dúvida, implica suspender a forte carga prescritiva que se encena na literatura de autoajuda.
Nosso desejo é que essa newsletter seja uma troca de cartas entre mulheres que escrevem e escrevem os mais diferentes tipos de textos. Queremos expor nossas dúvidas e inseguranças, acreditando na confissão como um meio de se libertar. Mas também gostamos da ideia de compartilhar nossos processos criativos, ensaios, contos, relatos inventados ou reais. Principalmente, pedimos que vocês escrevam junto com a gente. Vamos? (MQE, newsletter, 4 de setembro de 2015).
O adendo não é, evidentemente, um manifesto. Mas marca uma posição e, de certa forma, nos permite ler – mesmo que retrospectivamente – sob o signo do “vamos?” todas as publicações e ações posteriores das Mulheres que Escrevem. De fato, hoje Mulheres que escrevem já não se veicula pela newsletter, e já não pretende expor dúvidas e inseguranças, porém mantém desse texto “inaugural” dois posicionamentos centrais: a escrita como processo – e não tanto como resultado – e a necessidade de partilha – sublinhada pelo convite final. Ou seja, o primeiro envio da newsletter não é um manifesto, mas as funções que Raúl Antelo define, em “As revistas literárias brasileiras” (1997), como próprias de um manifesto parecem ressoar aqui:
Em função da gradativa autonomização da literatura, as revistas literárias [a partir do século XX] adquirem relevância por suas declarações (manifestos, prefácios) que tentam criar vínculos específicos e solidariedade mais duradoura na luta por novos valores. O manifesto de um periódico funciona assim como arqui-prefácio, isto é, como reflexão meta-textual múltipla, condensando derivas que outras obras hão de concretizar no futuro. Ora em vertente ética ou estética, ora em função de prioridades práticas ou programáticas, as revistas literárias traçam, a partir do modernismo, uma dupla delimitação. Preservam cumplicidades compartilhadas aquém dessa linha de fratura que é o manifesto enquanto, além dela, recuam as posições residuais do campo literário. (ANTELO, 1997, s.p.).
Vamos? Esse pequeno adendo da primeira publicação das Mulheres que escrevem poderia ser considerado um manifesto de revista em sentido tradicional já que, se nele não se definem opções estéticas, manifesta-se, sim, uma posição ética. Porém, essa posição não é enunciada, como um princípio declarado. A posição ética é, antes, um modo de enunciação, um modo de se dar a ler. A função ética prevalece aqui sobre o “julgamento artístico”, como diria Raúl Antelo lendo as revistas literárias oitocentistas, mas já não como naquele caso para firmar “um sujeito universal de enunciação” que viria a consolidar
uma aura de heroicidade cultural (1997, p. 5), senão para dar uma sobrevida a um sujeito – umas sujeitas? – sem pretensão nenhuma de universalidade, embora com uma forte pretensão de criação de laços comunitários, minando a ideia de um sujeito universal de enunciação. Esse vamos? se alinha com uma vontade performativa que está no endereçamento da newsletter, da carta. Se, em um primeiro momento, esse endereçamento parece estar restrito a participantes identificáveis, rapidamente o número de subscritos aumenta e o endereçamento mostra a sua proporção desestabilizadora dos polos do emissor e receptor, do eu e do tu, que se abrem aes leitores que, por sua vez, são convocados a “escrever”. Já que, mesmo havendo momentos de ancoragem nas assinaturas, de identificação simples com uma interioridade que expressa os “seus” sentimentos, “o endereçamento pode servir para pensar a relação com a alteridade de um modo que desestabiliza padrões identitários associados a demandas sociológicas ou psicológicas” (ANDRADE et al., 2018, p. 116). O endereçamento é um motor, um posicionamento ético que não tem um lugar fixo. Ainda, seguindo Antelo, o adendo (“vamos?”), assim como a definição permanente da Mulheres que escrevem como uma “conversa entre escritoras”, quando uma conversa é um ato e não um tipo de discurso,6 funcionam como um arquiprefácio para as publicações que se seguiram, seja na newsletter, seja nos outros suportes. O convite “vamos?” é, em outras palavras, um miniarquiprefácio às ações propostas posteriormente. Um miniarquiprefácio inclusive para os textos que, não tutelados pela iniciativa Mulheres que escrevem, procuraram, ao longo do tempo, se vincular a ela. Porque é nesse miniarquiprefácio que leio na “conversa” e no “vamos?” se marcam as características centrais da iniciativa: o seu gesto de endereçamento, a vontade coletivizante, a escrita como processo e movimento, a subjetividade da escritora como algo que se dá nesse processo de cuidado mútuo. Pois bem, já temos os princípios, mas ainda não temos a revista de poesia que queremos interrogar.
6 Na plaquete Caderno #3 Mulheres que escrevem, da série organizada por Luiz Guilherme Barbosa e Jéssica di Chiara, que aborda alguns coletivos atuantes no Rio de Janeiro, há o texto “Um diário de afetos ou como vive Mulheres que escrevem”, texto composto por correspondências datadas entre as integrantes da iniciativa.
Constelação de ações, constelações de textos: um traço de revista
Não chama a atenção, chegados neste ponto, que Mulheres que escrevem seja definida com a palavra “iniciativa”, nem que a grande variedade de ações propostas possa ser lida sob esta impronta ética, como elas mesmas fazem na sua apresentação:
A Mulheres que Escrevem nasceu como uma newsletter em setembro de 2015. A ideia veio através de conversas entre duas amigas, Taís Bravo e Natasha R. Silva, ao perceberem que muitas de suas angústias e inseguranças, relacionadas à escrita, não eram um problema individual, mas uma consequência de discursos e estruturas sociais construídas ao longo de séculos de opressão.
Assim, surgiu o desejo de trazer outras mulheres que se dedicam ao ofício da escrita para essa conversa. Aos poucos, conseguimos construir um espaço de segurança e mobilização para descobrir e debater novas possibilidades de produção cultural e literária, focadas na escrita de mulheres.
Com o tempo, surgiu a necessidade de expandir, criando também uma página no Facebook e perfis no Twitter e no Instagram. Depois de muitos sonhos e alguns ensaios, decidimos ser a hora de nossas conversas ultrapassarem os limites virtuais. Já não nos bastava o espaço virtual. Foi assim que nasceram as ideias dos ciclos de encontros e eventos abertos, que nos ajudam a estar mais perto de pessoas que desejamos alcançar e conhecer outras mulheres que escrevem.7
Além da newsletter, então, podemos mencionar como “ações” a organização de rodas de leitura, as apresentações de livros, os ciclos de debate e as oficinas que se organizam de forma regular, de escrita criativa, poética ou acadêmica.8 Há encontros e conversas textuais e outros que extrapolam os
7 “O que é a iniciativa Mulheres que Escrevem? Quem somos e o que fazemos”, disponível em https://medium. com/mulheres-que-escrevem/o-que-%C3%A9-a-iniciativa-mulheres-que-escrevem-ac29282aa82. 8 Alguns exemplos, vários dos encontros de debate mencionados foram realizados na livraria Blooks, no
Rio de Janeiro, ao longo de 2017-2018. Ali se encontravam, ao redor de um tema; em 2018-2019, foram realizadas duas residências de leitura, debate e produção de textos no espaço do Laboratório da Palavra da
Universidade Federal de Rio de Janeiro; em 2020, houve oficinas de escrita de poesia online, combinando sincronia e virtualidade. Nesse tempo, também se estabeleceram parcerias acadêmicas, representadas na realização de eventos conjuntos com o Laboratório de Teorias e Práticas Feministas, também da UFRJ.
textos. Em setembro de 2016 é anunciado o “1º ciclo de encontros da Mulheres que Escrevem”9 como uma “saída para a vida real” do projeto que, nesse momento, completava um ano. Me interessa essa “saída”, não tanto pela sua definição enquanto “vida real” – não eram vidas reais os textos anteriores, por acaso? –, mas como uma radicalização da abertura que já era proposta. A conversa continua sendo a matriz mas, desta vez, sem ser mediada apenas pelo texto escrito e a sua temporalidade, mas pelos corpos.10 De fato, nesse “Quem somos?” ou “Sobre nós”, não há uma definição identitária, mas uma série de ações que são apresentadas a partir das suas redes ético-políticas, como “tarefas” em um sentido abrangente do termo, e não como produtos finais. Desse modo, Mulheres que escrevem pode ser descrita como uma constelação de ações que se dão em diferentes plataformas, às vezes simultaneamente e outras de forma diferida (FUENTES, 2020). Escrita individual, coletiva ou curatorial, virtual ou presencial, textos impressos ou digitais, com participação nas redes, no mercado, mas também no diálogo com instituições. Essa combinação de plataformas, suportes e linguagens, essa combinação de espaços de circulação e de alianças com interlocutores diversos, nos permite pensar que a escrita que essas mulheres propõem não tem por foco chegar em uma definição de literatura, mas encenar um fazer diverso, expansivo, descentralizado, numa contestação da centralidade autoral tão cara à literatura. Inclusive, no próprio nome não há um produto como foco, não se define “o que” elas escrevem, mas o fato de fazê-lo e serem várias sujeitas. Nem o texto final nem o autor. O foco se coloca na articulação de uma “iniciativa”, um motor, um empurrão, que se traduz em uma constelação de ações ou “performances tecno-políticas” – como as chama Marcela Fuentes em Activismos tecnopolíticos. Constelaciones de performance (2020) –, onde se deixa ver uma dimensão ativista no marco do campo literário e cultural, que, “desnaturalizando a construção social coloca em andamento as possibilidades para a transformação do mundo” (FUENTES, 2020, p. 39), agindo sobre as
9Os encontros propostos eram: 16/09:A história das Mulheres que escrevem, com Taís Bravo; 23/09: Mulheres negras, escritas e resistências na literatura e no mercado editorial, com Daiane Cardoso; 30/09: Mulheres na poesia contemporânea brasileira, com Danielle Magalhães e Maíra Ferreira, da revista Oceânica; 07/10:
Escrevendo sobre amor livre na internet, com Laura Pires; 14/10:Oficina de Zine, com Sofia_Viaja, do coletivo Drunken Butterfly. 10Para se ter uma ideia das diversas frentes é interessante ler o texto “Retrospectiva 2016” (https://medium. com/mulheres-que-escrevem/mulheres-que-escrevem-retrospectiva-2016-8a040f72adef), onde Taís Bravo elenca e comenta todas as ações realizadas ao longo daquele ano, de publicações, organizações de encontros presenciais, aplicação em editais de fomento e a participação em eventos culturais ou férias literárias.
situações dadas e não apenas representando-as. Assim, na prática, Mulheres que escrevem se trata de um coletivo que propõe ações, e o objetivo não é se definir identitária ou ontologicamente, mas se mostrar como uma intervenção direta no campo literário para estimular, acolher e pensar a escrita feita por mulheres. Estabelecendo, assim, uma disputa, “cansativa” – como diz Estela Rosa em entrevista (apud BARBOSA, 2018, s.p.) – pelo lugar de enunciação. Cansativa, mas em companhia. Sublinhemos, então, para poder nos deter em uma publicação em particular: a companhia é das sujeitas, mas também dos textos. Em paralelo à diversificação de ações, ampliou-se a diversidade de autores convidades (que nos começos da newsletter tinha uma presença marcada de mulheres editoras de revistas online), passando a publicar muitas escritoras de poesia e ficção, além de críticas. Aprofunda-se, assim, ou ganha força o viés curatorial e conversacional da publicação, sublinhado, ainda, pela mudança de suporte, já que se abandona paulatinamente a newsletter para se dedicar a uma página na plataforma Medium11, esta sim – quase – uma revista. Pensemos quais são as particularidades da leitura dadas por um jornal ou uma revista? Por um lado, a relação espacial proposta por contiguidade, um texto convive – geralmente no mesmo golpe de vista – com outros textos, com imagens, com anúncios. Convive também com uma data, um vínculo temporal, não fixo, já que poderá ser lido em várias datas e as datas se ressignificam em cada leitura, mas configurante. É um modo de visibilidade e de leitura inevitavelmente contaminado. Além da contiguidade, a leitura de revistas tem a fragmentariedade como efeito. As revistas ou jornais nunca se pensam como uma totalidade (uma antologia, em contraposição, às vezes, sim, pretende fazêlo, mesmo que sempre falhe em consegui-lo), mas como fragmentos espaciais, temporais e semânticos.12 A proposta de leitura fragmentada ou fragmentante (não fragmentária) é uma leitura dialogante, que nos reenvia – mesmo sem
11Medium é uma plataforma aberta de publicação de conteúdo, principalmente de texto. Permite a realização de atualizações de conteúdo com facilidade, utilizando diversas categorias ou seções. Permite, ainda, que o leitor cadastrado “sublinhe” ou destaque um trecho do texto, e que esse destaque apareça para outros leitores, permite ainda a possibilidade de realizar comentários e “reagir” ao texto. Assim como permite aos administradores, colocar hiperlinks em palavras ou frases. A partir daqui, todos os textos referidos entre parêntesis (nome de autor, médium, data), se referem a publicações feitas na página médium das
Mulheres que escrevem. 12Mesmo que textos publicados originalmente em revistas tenham se tornado leituras unas, monumentais, totais, ao olhar da crítica (pensemos em muitos dos textos de Derrida ou Agamben, nos contos de Guimarães
Rosa), eles não estavam sozinhos na sua primeira publicação.
querer – ao texto contíguo, e à revista como um conjunto textual. A leitura da revista se dá em relação. Quem não ler assim, não está lendo uma revista, mesmo que a revista esteja ali. Certamente, não podemos falar na mesma materialidade quando estamos frente a uma página como a da plataforma Medium. A página na tela não nos permite a relação feita a “golpe de olho” nas páginas. Porém, se não há contiguidade, existem outras “ferramentas” que podem estabelecer relações: a exploração dos hiperlinks, que enviam em um “golpe de dedo” a outro texto, dentro do próprio Medium, mas também fora dele. Em aberturas menos imediatas ou previsíveis do que os detratores da leitura na web costumam reconhecer. Um hiperlink, uma palavra sublinhada na qual, ao passar a “ponta” do mouse, nossos dedos digitais, por cima, se abrem, em profundidade, buracos imediatos para outros textos. Outra das diferenças em relação ao modo de leitura que se ofereceria em uma revista de poesia é a “periodicidade” e, em consonância, a ideia de ter um “número”. Na plataforma Medium, as atualizações são periódicas, mas sem um prazo fixo, e não se montam números que nucleiem vários textos. Poderíamos dizer que há um modo diferente de lidar com o tempo. Cada texto se relaciona a uma data específica de publicação e vai se vincular com outros por proximidades cronológicas – de fato, os textos cronologicamente próximos são oferecidos de forma contígua à leitura. Por outro lado, as “últimas atualizações” são sempre as primeiras visíveis. É como se o leitor, sempre tivesse o “número” mais recente nas suas mãos. Mas há outro modo de “visualizar” as publicações menos marcado pelo tempo. A página das Mulheres que escrevem no Medium se organiza por colunas – “ficção”, “poesia”, “ensaio”, “resenha”, “tradução”, “entrevista” –, embora um mesmo texto possa se vincular, pelas possibilidades abertas pela plataforma, com mais de uma coluna. Isto, de fato, é muito pouco comum em revistas em papel, o pertencimento de um mesmo texto a mais de uma “seção”. Cada entrada, por sua vez, tem uma imagem, uma foto da autora ou do livro onde se encontra o texto publicado, ou desenhos, muitos deles especialmente encomendados. Geralmente, também, há, no final do texto, uma pequena biografia da pessoa que o escreveu. Desse modo, o texto se dá a ver – mais uma vez – no marco desse regime de leitura relacional próprio das revistas.
Em outras palavras, o modo em que Mulheres que escrevem se dá a ver através da plataforma Medium é um modo propiciado pela interação da vontade editorial com as possibilitados do suporte. Isto, evidentemente, acontece em relação a qualquer publicação, não apenas às digitais, sempre se trata de uma interação (muitas vezes experimental, claro!) entre proposta ética e estética, e condições de possibilidade. Se é importante falar do suporte, para contemplar a heterogeneidade de uma discussão que ultrapassa a linguagem discursiva, ainda é importante ver o principal motivo que nos leva a falar de Mulheres que escrevem como uma revista de poesia. No Medium, uma das características curatoriais que aparecia na newsletter se intensifica: é a partir da metade de 2016 (que coincide com a incorporação de Estela Rosa na equipe) que vai se dando mais e mais espaço à publicação de poesia escrita por mulheres, na sua maioria contemporâneas e brasileiras, mas não só. Sozinhas ou em miniantologias. Com poemas, com resenhas, com ensaios críticos, ou com entrevistas. A poesia contemporânea escrita por mulheres vai ganhando espaço e recorrência. O projeto de mudança da relação de forças e das possibilidades de enunciação vai ganhando novos contornos, e se torna eficaz na sua vontade de “transformar esse buraco negro que às vezes parece ser o mercado editorial” (MQE apud BARBOSA, 2018, s.p). Sim, insisto, a quantidade de publicações é enorme, e os nomes são muitos. Isto é identificável à simples vista – golpe de olho – assim que entramos na página. Além das poetas mencionadas por Estela Rosa, há miniantologias de – só mencionando algumas brasileiras – Ana Carolina Assis, Valeska Torres, Carla Diacov, Danielle Magalhães, Aline Miranda, Rafaela Miranda, Janaina Abílio, Juliana de Moraes Monteiro, Luiza Machado, Nina Rizzi, Cristiane Sobral, Marília Floôr Kosby, Mel Duarte, Bianca Zampier, etc. Em 20 de maio de 2017, Estela Rosa escreve um texto em que reflete sobre seu próprio encontro com algumas poetas: “Mulheres que escrevem poesia: lendo mulheres vivas – A vontade de ler a musa com arroz e feijão”, recupera os nomes – além de um poema de cada uma – de Jarid Arraes, Adelaide Ivánova, Bruna Mitrano, Ledusha, Marília Garcia, Natasha Felix, Rita Isadora Pessoa, Simone Brantes e Taís Bravo. O texto, exemplar de muitas outras publicações que serão feitas posteriormente, funciona ao mesmo tempo como uma apresentação despretensiosa, como um convite, e como uma posição política. É assim que se lê: por contato, cotidianamente e vorazmente, em quantidade.
Evidentemente, no entanto, a vontade de contrabalancear as publicações feitas por homens e sua visibilidade em termos quantitativos não é uma perspectiva suficiente se pensamos que – como dissemos – a prerrogativa da iniciativa não é centrada em reivindicações estéticas ou formais, mas, sim, em uma posição ética. Cabe, então, a pergunta: há algum traço que possa ser marcado nos poemas editados além de um impulso visibilizador e volumétrico das poetas contemporâneas? Por um lado, essas poetas não são reivindicadas como “grandes” poetas, mas como poetas que importam em um sentido mais pedestre e mais vital: são musas “arroz e feijão”, ou como se diz em outra ocasião: “poesia é faca, pão, manteiga e dentes” (MQE, Medium, 8 de maio de 2017). São poetas e leituras que “acontecem” todo dia, e são da ordem do sustento nutricional, propiciadoras de uma vida não abstrata ou universal, mas de uma vida singular e, podemos dizer, muito concreta nas suas relações de produção e distribuição. Por outro, mas também na associação da poesia como uma experiência propiciadora de (sobre)vida, podemos ver outra entrada significativa, feita um ano antes que a da assinada por Estela Rosa. Em 13 maio de 2016, Taís Bravo faz uma pequena “antologia” que talvez nos permita observar a escolha das poetas a serem republicadas a partir do princípio ético, do arquiprefácio do “vamos?”: “Mulheres que escrevem a resistência”, reúne poemas de Helena Zelic, Ana Luiza Terra, Yasmin Nigri, Fernanda Kalianny, Gabriela Graciosa, Brena O’Dwyer e da própria Taís. Os poemas são, abertamente, poemas políticos. Políticos em relação à poesia e à linguagem, mas também “diretamente” políticos, já que trabalham com um evento em particular da história política nacional, o golpe institucional que derrocara a presidenta Dilma Rouseff.13 Abre a publicação o poema de Helena Zelic: “a história ainda vai dizer o quanto de violência contra a mulher tem nesse golpe,/ disse ela, a própria./ a última noite de democracia/ e nós mal temos a noite.” (MQE, Medium, 13 de maio 2020). Com essa publicação preparada por Taís Bravo, além de se apontar um caminho mais constante na publicação de poesia contemporânea, fica evidente um posicionamento político que passa pela ideia de sobrevivência, agora com seu viés público e coletivo marcado de forma indelével. Se a relação direta com os acontecimentos políticos não será a principal marca dos poemas publicados
13 A votação pela abertura do processo de impeachment teve lugar no dia 17 de abril, na Câmara dos deputados, e no dia 12 de maio, no Senado. Na justificativa dos seus votos, os deputados principalmente, expressaram discursos explicitamente misóginos contra a presidenta.
ao longo do tempo, a existência de uma posição ético-política, que presta atenção à sobrevivência, e as ações necessárias para garantir essa sobrevivência, pode, sim, ser vista desse modo. Temos publicados nessa “revista”, entre muitos exemplos, que tentar recuperar aqui seria improducente, poemas que falam de cura (“eu encontrei falhas/ e/ elas eram lindas”, Nayyirah Waheed, 4 de abril de 2017); de receitas para não morrer nem se matar (Janaina Abílio, 10 de junho de 2020), dedicas para atravessar terremotos,
procedimento básico
durante um temblor imite os nativos, eles disseram. se correrem, corra. se pararem, pare. se seguirem, siga.
(Helena Zelic, 29 de novembro de 2018)
de instruções para o cuidado de si e dos outros, para cuidar ou fazer uma casa:
bem-vinda em uma casa desconhecida é preciso observar os movimentos das coisas: o gás se vem da rua ou botijão as árduas relações entre tomadas e eletrodomésticos botões de liga e desliga a política da limpeza se toda sujeira é política
(Helena Zelic, 29 de novembro de 2018)
Textos sobre como viver junto (“trato tua terra com patas largas/ que me dão caroços”, Ana Carolina Assis, 21 de março de 2017); como dormir junto, como cozinhar junto,
em noites mais quentes fazemos chás da primeira mansidão da noite quente chás ou então sopas das folhas imóveis das pedras agitadas mentira
(Carla Diacov, 20 de abril 2017)
Textos sobre a criação dos filhos, sobre a perda dos filhos. Sobre como se escreve e como se escreve junto para poder continuar:
SEMENTE um poema pra tatiana nascimento (a partir de “o cuíerlombo da palavra”)
pus tuas palavras no chão adubei fofa a terra reguei com água de soro p/ conter nossa desidratação
espero a mudinha despontar
(Rafaela Miranda, 8 de agosto de 2019)
Sobre como continuar ouvindo,
eu quero ouvir sobre as pequenas vidas os pequenos instantes de vida que ainda resistem aí
(Jarid Arraes, 13 de setembro de 2018)
É constante, repito, a marca dos poemas que encenam a pergunta sobre como viver ou sobreviver, sem dar respostas afirmativas. Poemas falam de e se pensam como um trabalho de cuidado, uma ocupação com o outro.
Ocupação: outro modo de dar a ver e partilhar a poesia
Mulheres que escrevem se define, segundo as próprias coordenadoras, com a palavra “iniciativa”, iniciativa que se propõe que as mulheres escrevam. Mas olhemos de novo o nome: à simples vista parece um pleonasmo ou uma tautologia, mas alguma coisa intensa e da ordem da divergência acontece nele. Uma tensão em relação à definição do sujeito mulher, e outra na definição da atividade de escrever. Por um lado, “mulheres que escrevem” tira a definição desse sujeito de qualquer essencialismo: é uma apresentação de si a partir do que se faz e não de uma relação ou procura de uma definição do “feminino” ou da ideia de “mulher”, do que elas seriam, de uma identidade. Não são mulheres escritoras procurando um lugar no sol ou o reconhecimento como se fosse um concurso de celebridades, mas mulheres que escrevem exercendo sua escrita enquanto gesto político e estético (“tem uns poetas que são grandes/ grandes poetas/ enormes/ enormíssimos, li outro dia/ eu quero ser pequena/ minúscula/ nanopoeta/ entrar e sair por todos os buracos”, Janaína Abílio, 10 de junho de 2020). Por outro, com o nome que afirma que as mulheres escrevem, a iniciativa se situa em relação ao lugar privado e doméstico no qual a escrita das mulheres foi capturada, salvo exceções, ao longo de séculos. Diz Rancière: “a partilha do sensível faz ver quem pode tomar parte no comum em função daquilo que faz, do tempo e do espaço em que essa atividade se exerce. Assim, ter esta ou aquela ‘ocupação’ define competências ou incompetências para o comum” (2005, p. 16). Continuando a afirmação, mas agora com uma perspectiva de gênero, sabemos que a “ocupação” das mulheres – já que ninguém, durante anos, duvidou de qual seria a sua “ocupação”14 – foi paradoxalmente afastada do espaço do comum/político, sendo a base de todo comum, as garantes da reprodução da vida mesma. Podemos pensar, então, que Mulheres que Escrevem e sua “revista de poesia” procuram um modo de disputar outra partilha do sensível e do visível, uma partilha onde a ocupação seja inseparável do que se dá a ver, e não determinante da possibilidade de sua chegada ao sensível. Ou seja, que mulheres escrevam que as mulheres escrevem é uma declaração de tomada não apenas da palavra, mas também de uma ocupação não dada a
14 A “ocupação” das mulheres ao longo da história não pode ser aferida de forma homogênea. Se, para as mulheres brancas de classe média, a modernidade deu como “ocupação” as tarefas domésticas, para as mulheres negras essa “ocupação” era a do trabalho escravo nas plantações ou nas casas aristocráticas. Nos dois casos, no entanto, pode se pensar que há uma assimilação da condição “mulher” com uma “ocupação”, o que não estaria no horizonte de Ranciére, que pensa em tipos de “fazedores”.
elas. Assim, no pleonasmo, assistimos a tomada de uma tarefa por assalto. A tarefa do poema é tomada e, não satisfeita, virada do avesso, para mostrá-lo não como produto final, mas como marca de tudo o que tivemos que fazer para chegar aqui. Uma revista do que não se vê.
Referências
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FUENTES, Marcela. Activismos tecnopolíticos. Constelaciones de performance (trad. Mariano López Seoane). Ciudad Autonoma Buenos Aires: 2020.
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MULHERES QUE ESCREVEM. Newsletter. Disponível em: https://tinyletter.com/ mulheresqueescrevem/archive.
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