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Rita Patrício
VITORINO NEMÉSIO E A REVISTA DE PORTUGAL: A BUSCA DO CLÁSSICO
/ RITA PATRÍCIO
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Nas páginas do diário, ao acabar o último dia de 1936, Vitorino Nemésio fez um balanço e expressou um desejo: “Vida de espírito – quase estéril. A expectativa do concurso tem feito destes tempos os mais intimamente vazios da minha vida. Ando hipotecado. Mas não quero escrever 1937 sem uma tinta forte, como se entrasse num ano de fecundidade, sob muitos aspectos decisivo.” (NEMÉSIO, 2001, p. 104). O concurso em causa era o de professor auxiliar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e só viria a conhecer o seu desfecho em 1939, o que continuou a hipotecar-lhe a vida, levando-o a leccionar em universidades estrangeiras até essa data; mas o ano de 1937 foi decisivamente fecundo para Nemésio, e um dos aspectos dessa fecundidade foi a criação da Revista de Portugal, que fundou e dirigiu de outubro de 1937 a novembro de 1940. Esta revista, questionando a hegemonia presencista, pretendia marcar com “uma tinta forte” uma nova posição no panorama literário de então. Neste ensaio, pretendo, num primeiro momento, analisar o modo como Nemésio concebeu e formulou este projecto editorial como uma reacção à Presença. Essa leitura conduzirá, num segundo momento, a uma reflexão sobre o que seja o clássico para Nemésio, questão fundamental convocada logo na nota editorial que apresenta a revista e que será retomada no número de outubro de 1938 no ensaio “Um conceito de clássico”. Na poética implicada nesse conceito podemos ler Nemésio enquanto autor. Os anos durante os quais dirigiu a revista foram decisivos para o crítico, o poeta, o romancista: o presente estudo visa perscrutar esse ensaio, partindo, sobretudo, das considerações nemesianas sobre o valor em arte, sobre o que possa ser decisivo em arte e a que se reconheça a força da tinta, ou seja, sobre o que possa vir a tornar-se clássico.
A Revista de Portugal como Rosa dos Ventos
Nas notas autobiográficas redigidas em 1971, Nemésio descreveu a Revista de Portugal como “tácita reacção ao proselitismo e grupismo da Presença, mas contando com eles” (GARCIA, 1988, p. 31). Comecemos por pensar o modo tácito e reactivo da revista. Desde o momento em que Nemésio começou a esboçar o projecto, contou com os da Presença e contou-lhes os seus propósitos num tom entusiasmado e agregador. Em carta a Adolfo Casais Monteiro, datada de 20 de junho de 1937, Nemésio anunciava que não havia perdido “a mania da revista”, desejada precisamente como lugar de encontro e de vitalidade: “Aí nos juntaríamos todos, os de até 40 anos, reforçados uma vez por outra pelos mais velhos que se mantiveram decentes.” (NEMÉSIO, 2001, p. 180). E seguia-se, como “a melhor maneira de sugerir a qualidade”, o elenco dos novos (para além do destinatário, Régio, Simões, Torga, Carlos Queiroz, Serpa, Martins de Carvalho, Júlio, Nogueira, Guilherme de Castilho) e o dos mais velhos (Aquilino, Teixeira Gomes, Sérgio, Pascoais). Nessa carta, Nemésio concebia a revista cosmopolita e culta, pretendendo com ela causar impacto no meio literário:
Destêrro de toda e qualquer arqueologia ou erudição, estilo europeu, tendências modernas e vivas. E ser nisto tudo inflexível até ao snobismo! Uma gotinha de snobismo nas coisas dá muito resultado, principalmente num país de mangas de camisa. Não lhe parece? (NEMÉSIO, 2001, p. 181).
Na nota editorial que encerra o primeiro número, Nemésio começa programaticamente por anunciar que “Não vamos traçar nenhum programa” (1937d, p. 151), recusando, assim, proselitismos e grupismos. O desígnio do projecto seria a realização de toda uma geração enquanto parte de uma tradição já imaginada no futuro: “O nosso melhor programa seriam vinte ou trinta anos de vida e de realizações de cultura universal e portuguesa. E, envelhecidos, passar o facho adiante, em vez de deixá-lo apagar por fraqueza ou egoísmo de geração.” (1937d, p. 151). O conceito cronológico de geração – “um núcleo de pessoas, da roda dos trinta anos, crescidas em solo português e ligadas umas às outras pelas mesmas vicissitudes e circunstâncias de formação espiritual” (1937d, p. 151) – é fundamental neste propósito, pois é a partir dele que Nemésio concebe a possibilidade de a revista, ao agregar aqueles que se inscrevem num determinado tempo, representar um estado da vida artística
colectiva. A partir do conceito de geração como agregador de individualidades diferenciadas, Nemésio situava a revista no seu tempo histórico-literário, sendo dele sinal, posicionando-a como a superação de facções que seriam partes de um colectivo mais abrangente: “Questão de cidade espiritual: atrevemo-nos a dizer: algumas pedras de um período da história do espírito de língua portuguesa, principalmente no campo da arte, da crítica e da ficção.” (1937d, p. 151). O direito a esta cidadania não era só aferido pela idade, garantindo-se também por “um certo denominador comum de espírito” e “certo modo de inquietude, certa predisposição íntima” próprios de uma época: “uma certa maneira de ver o fenómeno literário, uma espécie de mesmo estilo na valorização e no gôsto, vocabulário crítico reconhecível – em suma, um clima próprio de inspiração e de formas.” (1937d, p. 152). Para além da representatividade de um momento, Nemésio vê nessa geração uma identidade crítico-literária, que resultaria de uma idêntica aprendizagem da experiência literária moderna e europeia: “Encorporámos a experiência da arte e da literatura europeias do princípio do século para cá” (1937d, p. 152). Nemésio, inscrevendo nesta tradição a geração a que queria dar voz, apresentou-a como herdeira e inovadora, ou seja, como “clássica”, entendendo o termo na sua acepção baudelairinana. O conceito de clássico merece a Nemésio uma particular atenção nesta apresentação editorial. A familiaridade com a arte moderna determinava uma linhagem e corrigia o entendimento vulgar do termo: “Criámo-nos com os clássicos portugueses e com os clássicos de toda a parte, mas a nossa noção de ‘clássico’ não é a de arqueólogos e gramáticos: o clássico, para nós, é o eterno, o novo no permanente, o original no castiço, e, acima de tudo, aquilo que ao ler-se sabe a vivo.” (1937d, p. 152). Ao conceito de clássico em Nemésio voltarei depois, mas gostaria de sublinhar, nesta apresentação, a tensão expressa entre a nacionalidade e universalidade do literário. Se a formação filológica de Nemésio, assim como a sua convivência com os autores e as letras românticas, lhe impunham uma moldura nacional para o entendimento da literatura (que se espelhará na organização interna da revista), os modernismos de que se reconhecia herdeiro apontavam para supressão dessas fronteiras e para uma perscrutação de valores que não seriam nacionalizáveis: “Clássicos portugueses sim, mas clássicos do humano, e sobretudo portugueses só porque esse é o nosso revestimento étnico, o nosso modo e tipo de expressão. No mais, europeus e atlânticos – o que quer dizer: gente muito antiga no espírito, gente que gosta de ampliar-se. Pessoas inquietas.” (1937d, p. 152). Na imagem
que diz essa inquietude podemos ler uma pessoalíssima figura do poeta e antever uma poderosa descrição da poética nemesiana: “E a Rosa dos Ventos dentro de nós, voltada a todos os lados e para tôdas as maneiras limpas de ser…” (1937d, p. 152). Mas podemos ler também o projecto nemesiano para a Revista de Portugal: um espaço que permitisse o mapeamento de diferentes orientações e movimentos estéticos modernos. A imagem vem, aliás, retomar e alargar a definição de geração que encontramos no início do texto, que a apresentava como um núcleo de pessoas com o “mesmo norte de onde vêm estas forças: liberdade íntima, autenticidade na sua expressão, humanidade e beleza nos seus fins” (1937d, p. 151). De facto, a revista foi essa rosa dos ventos do momento, reunindo autores muito variados, de diferentes espaços (o Brasil foi presença assídua), alguns em tradução, com entendimentos divergentes sobre a coisa literária; convocou também o passado, como se torna evidente na publicação de autores não contemporâneos, em lugar de destaque (e essa disposição privilegiada reaparece na secção crítica, com a recensão reiterada a edições de autores antigos, valorizando-se a tradição como legado vivo). Na tentativa de afirmação da nova geração, Nemésio convocou “alguns nomes dos mais velhos e respeitados por nós” – que aí não nomeia –, que trariam um acréscimo de autoridade, para além de assegurarem uma passagem de testemunho, entendendo a tradição como processo incessante. Mas não seriam esses “mais velhos” a conferir um estatuto canónico a esta nova geração: o título da revista não é inocente. Nemésio começa por dá-lo como coincidência “a quem nos censurar por termos ressuscitado um título de Revista que Eça de Queiroz e a sua geração carregam de responsabilidades, diremos que a nossa primeira intenção foi pôr ao abrigo de um letreiro simples, sem simbolismo nenhum – mera etiqueta de um conteúdo literário nacional – aquilo que aqui escrevêssemos” (1937d, p. 152). A insistência no esvaziamento de um qualquer simbolismo é suspeita e deixaria imediatamente desconfiado o leitor que tivesse presente a familiaridade de Nemésio com a história da literatura portuguesa (esse é, aliás, o título pensado por Carlos da Maia e João da Ega para uma revista revolucionária). A afirmação seguinte implica, contudo, a reivindicação da “coincidência” como sinal de uma procura de identificação: “Quando reparámos na coincidência ambiciosa, deixámos correr. Gente sem ambições não é gente nossa” (1937d, p. 152-153). A ambição podia ler-se no fecho da nota editorial. Depois da assunção de uma diferença de valor relativamente a essa geração canónica (“que culpa temos se a grandeza da geração de 1870 não é a nossa medida?” (1937d, p. 153)), o texto termina com
a subscrição dos princípios da revista queirosiana e com a remissão explícita para as palavras que a apresentavam: “O principal é manter pura a tenção que Eça de Queirós arvorou na sua Revista de Portugal, para que a nossa não manche essas palavras. O resto é questão de autenticidade e tempo.” (1937d, p. 153). Remetendo para as palavras de Eça, o projecto de Nemésio ficou também tutelado por elas, inscrevendo-se assim numa tradição maior, e numa relação de assumida fidelidade para com essa geração. E, de facto, no “Programa” queirosiano – ainda que plasmado por pedagógicos ímpetos de uma enciclopédica reforma civilizacional já desusada em 1937 – podemos reconhecer uma matriz para a Revista de Portugal de Nemésio, na urgência de uma publicação que suprisse um lugar vazio no panorama coevo, que fosse a expressão de uma geração, que acolhesse arte e crítica, que agregasse manifestações culturais diversas, que unisse Portugal ao Brasil e à Europa (cf. QUEIRÓS, 1995, p. 109-116). O grafismo da capa da revista de Nemésio, aliás, mostrava o desígnio de recuperar esse projecto. Na nota de Nemésio, a frase final dava conta da ambição dessa equiparação e da consciência de que o reconhecimento dessa grandeza dependeria tanto da natureza da realização do que então se iniciava (a “autenticidade”, termo caro ao autor) como da necessidade de o valor se medir e se dar a ver como processo histórico (o “tempo”). José Régio elogiou este primeiro número, dizendo reconhecer-lhe uma ampla representatividade literária: “Posta de pé uma fábrica literária de tais proporções (…) depois da primeira R. de P. esta é revista em Portugal que aparece com mais largura” (RÉGIO, 2007, p. 47-48). Na resposta, Nemésio, feliz com “tanta coesão, tamanha consciência da amplitude do grupo natural que formamos”, corrigiu a imagem: a revista seria antes “misto de fábrica e de navio”, convocando uma das suas metáforas mais fecundas, e com ela dando conta da esperança desse movimento futuro e da possibilidade de acolher nela os que se apresentavam mais irredutíveis a grupos, pensando sobretudo em Miguel Torga, que rompera com a Presença anos antes: “Peço-lhe e peço-me que não deixemos mais este fio que agora nos une, o estendamos a todos os rapazes e sobretudo àqueles que estão em condições de o receber como náufragos.” (RÉGIO, 2007, p. 51).1 Nemésio, antevendo o refluxo de “cada um ao seu
1 Os termos em que Adolfo Rocha, Branquinho da Fonseca e Edmundo Bettencourt haviam proclamado a sua dissidência relativamente à Presença são muito relevantes não só para ler esta carta, que assim se reveste de ironia, de Nemésio a Régio, mas também para o próprio anúncio da revista enquanto rosa dos ventos: “Aqui não se trata de um naufrágio: trata-se de uma barca que não vai com os nossos rumos nem
próprio canto, lá na rocha individual onde passam os ventos puros”, apelava à celebração desse encontro, dizendo-o sinal da vitalidade e da intensidade do presente: “Nós encontrámo-nos de repente com esta bela solidariedade, vimonos metidos nela por espontaneidade de todos, por um destes movimentos vitais e irresistíveis de uma cultura nacional que se adensa; podemos deixar um minuto para beber o vinho.” (RÉGIO, 2007, p. 50). O encontro foi fugaz e a ruptura entre os da Presença e Nemésio aconteceu pouco depois. Com esse dissídio, e a consequente saída de Alberto de Serpa de secretário da revista, o projecto fica materialmente comprometido: o director estava no estrangeiro, as dificuldades no cumprimento de prazos de publicação tornaramse evidentes. Os “vinte ou trinta anos de vida e de realizações” resumiram-se a 10 números, publicados até 1940. Mas esse rompimento com os da Presença foi a pedra decisiva na “cidade espiritual” que a revista anunciava: a que, assumindo a separação dos presencistas, concebia e iniciava um período da história da literatura portuguesa para além dessa tutela ou companhia2. Tida na tradição crítica como um marco incontornável na superação do presencismo que até então dominava o campo literário português (veja-se GUIMARÃES, 1997), a Revista de Portugal cumpriu, no ecletismo dos seus colaboradores, o desígnio expresso nessa apresentação: a evidência da sua relevância estética e histórica enquanto rosa dos ventos do futuro imediato da literatura portuguesa. No anúncio e na consumação desse trânsito histórico-literário, o proselitismo e grupismo presencistas ficavam para trás. Na variedade das vozes a que a Revista de Portugal deu voz e na convocação do magistério queirosiano, cumpriu-se essa rosa dos ventos moderna e de ecos sensacionistas, “voltada a todos os lados e para tôdas as maneiras limpas de ser...”, e a revista inscrevia-se como manifestação da procura do clássico: “o clássico, para nós, é o eterno, o novo no permanente, o original no castiço, e, acima de tudo, aquilo que ao ler-se sabe a vivo”.
para o Norte de cada um… Por isso saímos dela (…) E à aventura, sem rei nem roque, pelo mundo de todas as latitudes e longitudes, cá vão os vossos amigos.” (BETTENCOURT; FONSECA; ROCHA, 1930 apud SIMÕES, 1958, p. 47). 2 Veja-se a carta de Nemésio a Torga, em que comenta com ironia o editorial nº. 1 da série II de Presença, de 1939, precisamente intitulado “Presença reaparece”, em que Régio apelava a um ressurgimento da revista em nome de um ânimo agregador (Cf. SOUSA, 2020, p. 355). Nesse editorial, Régio reivindicava o estatuto pioneiro da revista enquanto defensora de uma “arte do humano”: “Orgulha-se Presença de quási ter ensinado esta expressão aos rapazes portugueses. Simplesmente esta arte humana pela qual Presença lutou e lutará – não tem o significado ridículo que lhe dão os que só a si próprios e às suas opiniões julgam humanos” (RÉGIO, 1939, p. 3). A Presença terminou também em 1940.
Nemésio nas páginas da Revista de Portugal
Uma “Rosa dos Ventos dentro de nós, voltada a todos os lados e para tôdas as maneiras limpas de ser…” pode ser também a imagem de Nemésio nas páginas da Revista de Portugal: poeta, ficcionista, crítico (de poesia, de ficção, de crítica literária, de pintura, de ensaios políticos e históricos…), o autor experimenta-se nessas diferentes modalidades de actividade literária e nesses múltiplos ensaios podemos ler a singularidade (“a tinta forte”) com que talhava a sua obra literária. Tendo publicado La Voyelle Promise em 1935, Nemésio anunciou no primeiro número a publicação de O bicho harmonioso como a primeira edição firmada pela Revista (que publica “Balada para embalar a menina” e “Canto à boa esperança” no número seguinte) e no último número antecipou vários poemas de Eu, comovido a oeste. A novela A Casa Fechada aguardava publicação por esta altura. Nas páginas da Revista de Portugal, Nemésio publicou os contos “O espelho da morte” e “I’m very well, thank you”, que integraram depois O Mistério do Paço do Milhafre (1949); e, no número 7, “Um ciclone nas ilhas”, uma primeira versão do primeiro capítulo de Mau Tempo no Canal,romance que publicou em 1944. Em 1935, Nemésio publicara na Seara Nova “Parágrafos paracríticos”, em que explicitava as suas preocupações metacríticas; manteve uma forte e constante actividade crítica nas páginas da Revista de Portugal, e alguns dos ensaios críticos publicados nesta revista serão republicados em Conhecimento de Poesia (1956), súmula da crítica poética de Nemésio, em cuja estrutura interna podemos ler ainda as preocupações filológico-nacionalistas do autor. Os anos durante os quais dirigiu a revista foram, assim, decisivos para Nemésio enquanto poeta, ficcionista e crítico e nas suas colaborações podemos ler algumas das questões mais relevantes para o autor durante este período. A este respeito, as contribuições ensaísticas de Nemésio são particularmente interessantes, pois permitem acompanhar as suas preocupações estéticas. Logo no número inicial, Nemésio deixava um conselho, que continha uma lição metacrítica: “que êste país de poetas aprenda em Cassou a pensar e a pesar a poesia: a fazer pensamento do irracional e peso do imponderável; a combinar a apreensilidade inteligente com a captação instintiva, alternando subtilmente os instrumentos de compreensão do fenómeno poético e dos seus vasos.” (NEMÉSIO, 1937c, p. 141). Nos seus textos críticos, assistimos a esse pensamento e a essa ponderação; e no escrutínio dos outros, o autor
vai dando sinais do modo como se vai construindo. Assim, partirei da sua discussão para pensar de que modo Nemésio equacionava a possibilidade de a arte nova (que era a sua…) ser clássica, ou seja, de poder resistir ao tempo. O conceito de clássico será central num ensaio publicado no número 5, de 1938, a propósito do primeiro volume dos Anais de D. João III, de Fr. Luiz de Sousa, numa edição de Rodrigues Lapa (a recensão ao volume ficaria adiada para a publicação do segundo volume). Também aqui Nemésio partiu da rejeição do termo segundo “arqueólogos e gramáticos”: escolarmente, clássico seria “o escritor que foi objecto de classificação, o escritor falado. Vem depois a classe, com o senhor professor, os bancos, as cólicas” (NEMÉSIO, 1938d, p. 99). Rejeitou igualmente a concepção periodológica, na oposição entre clássicos e românticos: “Clássico será, pois, uma maneira de não ser romântico, como romântico um modo de nunca ser clássico”. Nemésio avançou para o conceito de clássico que lhe importava, sobretudo de dimensão valorativa: “O verdadeiro classicismo é o conjunto de valores que levam o escritor a uma significação permanente”. O autor retomava assim o que fora adiantado um ano antes na nota editorial que apresentava a revista, em que o clássico era “o eterno, o novo no permanente”, mas “acima de tudo, aquilo que ao ler-se sabe a vivo” (1937d, p. 152). No ensaio de 1938, classicismo é equivalente a excelência poética, como se torna depois muito evidente: “O que dá classe ao escritor é a dificuldade com que descobriu a sua veia íntima” (1938d, p. 101). Esse conceito torna-se, pois, relevante para aferir o valor da arte dos novos. Nemésio defende a autenticidade poética como resultante de um esforço deliberado e consciente a ser exercido sobre uma autognose expressiva. Partindo de uma imagem romântica, em que podemos ler a lira de Shelley como metáfora do poeta, essa coisa a exprimir é definida como “uma espécie de corda que se retrai, que não vibra senão à tensão máxima e ao mais puro esforço de ajustamento” (1938d, p. 101). Nemésio aponta o clássico como o que atingiu o apuramento verbal capaz de produzir esse efeito vivificador: “Pode a despótica e fatigante ordem ser a mesma em todos: basta o calor individual para a fazer correr de um modo individual” (1938d, p. 100). O clássico estaria, pois, nesta capacidade de inscrição do indivíduo na linguagem: “a voz pessoal do escritor impõe-se a essa espécie de boa educação que é o escrever sem singularidades de forma, aquece tudo, dá sinal e testemunho de si por tôda a parte” (1938d, p. 100). Essa inscrição, a obtenção de um estilo, dependeria de um exigente trabalho sobre a linguagem, tornado assim condição imprescindível para a expressividade: “Todo o apuro verbal que não seja expressão necessária é
uma questão de toilette. Por ‘expressão’ entendo eu, que procuro saber que sentido está nas palavras, a própria ‘pressão’ que o autor tem de comunicar, a sua libertação íntima. Só ela sabe escolher a palavra justa, o discurso certo.” (1938d, p. 100). A partir desse credo crítico, compreende-se que Nemésio valorize precisamente essa atenção dada à justeza da expressão enquanto qualidade decorrente de um trabalho verbal. Veja-se, por exemplo, a apreciação a Outono havias de vir, livro de um dos novos: “As palavras têm para Falco uma densidade e uma transparência. O sentido de cada uma não é o semantema do dicionário, mas uma reacção viva que se passa à vista do leitor entre ela e a palavra que se segue, entre ela e a palavra antecedente; talvez entre essas duas mutuamente e depois entre o resultado delas e a palavra que ladeiam.” (1938a, p. 126); ou a um autor mais velho que soube renovar-se: “António de Sousa é autenticamente um artista. Poucos como ele conhecem o contorno das palavras, o seu poder impressivo, a sua cor, e as leis e práticas essenciais do som.” (1938b, p. 128). É essa forma artística autêntica – que se manifestaria na atenção a um cuidadoso trabalho sobre a palavra, a traduzir a vibração de uma “veia íntima” – que poderia tornar um poeta clássico. Mas conseguir esta autenticidade implica que a coisa feita apague as marcas da sua realização e apareça como espontânea e negligente aos leitores: “Espontaneidade! E, ainda por cima de espontaneidade, negligência! Conhece-se esse estado de expressão nervosa, rápida, em que cai o puro escritor quando fila o seu tema. A isso este crítico chamará espontaneidade.” (1938d, p. 101). E chamará negligência “àquele excesso vocabular, àquele arranco em que os lances do que se vai escrevendo se atropelam, mas organicamente, porque a própria coisa contada é sôfrega assim. Mas esta negligência não é a do escritor, é a da vida” (1938d, p. 101), ou seja, a uma energia criativa descomedida, que torna a linguagem a primordial agente da criação literária. E a negligência assim sublinhada distingue-se da “outra negligência, a atitude deliberadamente relaxada para não sei que efeitos de uma vitalidade pela qual só estes negligentes dão, essa paga-se cara” (1938d, p. 101). Por isso, a definição do acto de escrever proposta diz essa passividade inicial do clássico como condição da escrita: “Escrever é tender-se como um arco, e esperar” (1938d, p. 101). Este breve ensaio termina colocando o clássico enquanto expressão de uma humanidade universal: “Mas a essência do clássico ainda é o humano, e para falar do humano …” (1938d, p. 101). A suspensão da frase dá a ver a dificuldade de discorrer sobre esse traço sublinhado. Esse embaraço é resolvido
com a apresentação de um cânone: “Para clássicos do humano: Gil Vicente, Camões, Garrett, Antero, e – embora deshumanizado pelo abuso do próprio classicismo – Fernando Pessoa.” (1938d, p. 101). O reconhecimento de Pessoa, em 1938, como representante moderno deste tipo de clássico não deixa de ser assinalável. Este cânone, disposto cronologicamente, no momento em que apresenta uma sucessão de clássicos, atemporaliza-os à medida que a representação do humano que lhes confere esse estatuto garante essa libertação de uma época específica. Esta é a tradição em que Nemésio se quer inscrever. A rasura de outros nomes, como os dos presencistas, relativiza o seu valor. Pensar como Nemésio se relaciona com Pessoa é um propósito que não cabe neste ensaio. Na Revista de Portugal, que publica poemas pessoanos, Nemésio mantém-se tácito sobre o autor. Se sobre Pessoa, o clássico moderno – um clássico excessivo, em que o humano de dava a ver desumanizado, retomando os termos de Ortega e Gasset –, Nemésio não se pronuncia, identifica, contudo, o herdeiro da sua posição canónica. Numa recensão a Desenhos Animados. Realidade Imaginada, publicada no número 6, em janeiro de 1939, escreveu: “Almada é hoje talvez, morto Fernando Pessoa, o nosso mais original pensador de arte.” (1939, p. 273). As razões dessa originalidade estariam no reconhecimento do esforço de ter uma “veia própria” e a capacidade de a pensar criticamente, ou seja, as condições do clássico: ele seria “o que me parece preocupar-se mais e melhor com ter uma estética própria – ao mesmo tempo credo, norma de artista e tentativa de explicação com valor geral.” (1939, p. 273). Essa atitude escrutinadora é amplamente valorizada:
Pensa a arte no âmago dos problemas – na sua natureza e sobretudo nas suas relações; no modo como as artes respondem umas às outras; o que têm de comum e distintivo; questões de meio de expressão – enfim, tôda uma estética tal como a pode fazer um artista e não pròpriamente um pensador. (1939, p. 273).
Esta posição privilegiada de Almada decorreria do reconhecimento nele de um espírito geracional. A propósito de Nome de Guerra, no terceiro número da Revista de Portugal, em abril de 1938, Nemésio havia apresentado Almada como pertencente “à grande e apupada geração que para aí se chamou futurista, talvez pelo pressentimento popular de que o futuro era dela” (1938b, p. 451). Na descrição que se seguia, Almada era a rosa dos ventos dessa mesma geração, e o conceito de geração volta a ser determinante na crítica nemesiana:
No grupo de Orpheo e afins, ocupa sensivelmente o centro em temperamento e expressão: friamente poeta como Fernando Pessoa tomado no ponto de partida das suas diferentes mensagens líricas; prevalentemente intelectual como ele, de uma inteligência que esteve pelo menos um dia ao serviço do absurdo, tal como a de Mario Saa; decorativo e jongleur como Mário de Sá-Carneiro, dadaizante à Ângelo de Lima, revolucionário plástico com Amadeo de Sousa-Cardoso, encenador das próprias atitudes como Santa-Rita Pintor. (p. 451-452).
Este Almada a ser “todas as maneiras” dos de Orpheu podia, então, significar a consumação de um ideal clássico de arte, fazendo coincidir agente e coisa criada, sendo descrito como o “homem que é ao mesmo tempo o fiat e o fieri de si mesmo; deixem-me dizer o artificie e o artefacto” (1938b, p. 452). Tal como acontecia no caso de Pessoa, também aqui a demasia de qualidades compromete-as: “Tudo o que estas pessoas exprimem vem cheio de medida e de pulso, mas o próprio excesso de perfeição as dessangra um pouco” (1938b, p. 452). No caso de Almada, Nemésio entendia que esse esvaimento apontava um classicismo demasiadamente súbito: “A extrema pureza da matéria plástica e a mestria do golpe demiúrgico classicizam logo a obra, isto é, não lhe dão tempo a acabar de criar-se na vida e como a vida” (1938b, p. 452). Na explicação adiantada, Nemésio recupera Almada enquanto herdeiro vivo de Pessoa:
A razão desta virtuosidade integral (porque o caso de Almada não é a do virtuosismo da forma; a sua expressão, no desenho e na prosa, tem até uma elementaridade e uma negligência que cingem admiravelmente caracter espontâneo e sobretudo simples da vida) está no predomínio da inteligência sobre a sensibilidade. (1938b, p. 452).
E eis Almada como emblema anti-Presença: na apologia destes valores clássicos, Nemésio, retomando o fio da primeira geração modernista, presentifica-a, tornando-a assim ainda em progressão. Nesta medida, torna-se muito interessante ler o que escreveu Nemésio sobre a estreia de Almada “‘em ponto grande’, como ele talvez dissesse na qualidade de romancista” (1938b, p. 451). O minucioso ensaio nemesiano pretendeu demonstrar o valor de Nome de Guerra e do seu autor(“Fiz toda esta embaraçosa casuística para provar que há em Almada, um pouco avulsamente, os principais grandes dons do autêntico romancista.” [1938b, p.455]), gesto crítico tão mais necessário quanto Almada não tivesse este reconhecimento público: tratava-se de um autor que, no momento, “o português médio considera
meramente um artista e que muito clerc nacional julgará de uma cultura corrente (um homem da Brasileira do Chiado!)” (1938b, p. 455-456). Neste “autêntico romancista”, Nemésio identificou os sinais de valor, seja no domínio técnico sobre o material verbal, seja no tratamento das personagens, que o tornariam singular: “Almada dispõe de uma psicologia de afino tal que, sem perder em intuição, se exprime com um rigor de tratado, que não conheço em nenhum romancista português” (1938b, p. 455). Mas neste olhar, importa sobretudo atender às razões da resistência crítica. Começando, por exemplo, por reconhecer qualidades artísticas ao autor criticado (“Ele vai às palavras, desinfecta-as, urde-as de novo. A composição resulta de uma naturalidade de fala corrente” [1938b, p. 453]), o crítico logo aponta uma falência: “mas como o esfôrço foi grande, a fala ficou às vezes infantil, e quando vai a exprimir coisas do mundo do adulto, dá-nos um pouco a impressão de um Rousseau-aduaneiro da prosa, e um não sei o quê se recusa em nós a receber aquele discurso como linguagem novelística” (1938b, p. 453). A principal falha que Nemésio identifica em Nome de Guerra é a da construção romanesca: “A vida que nêle pulsa, e é considerável, não se ‘representa sempre’, não está revitalizada segundo as leis do género” (1938b, p. 453). Essa imperfeição da representação é explicitada da seguinte forma: “Em vez de deixar desenrolar-se inteiramente aos olhos do leitor a história de Antunes e Judite, Almada preferiu dar-lhe um mínimo de tópicos e recobri-los da refracção psicológica que a vida produz no Antunes” (1938b, p. 453). No texto, Nemésio vê a representação da acção a partir de alguns pontos, mas estes não estariam suficientemente interligados e assim a vitalidade necessária ao verdadeiro clássico não se alcança: “Os actos, se não estão ausentes, estão esquematizados – é certo que quási sempre de uma maneira psicològicamente precisa, mas a que falta a progressão lenta e natural do acontecer” (1938b, p. 453). É nessa falta que Nemésio insiste: “Era a esta técnica envolvente do romance que eu queria ver Almada chegar com os seus raros dons” (1938b, p. 453). E acrescenta que não estava atingida “aquela atitude um pouco mais ‘sábia’, mais ‘profissional’ no lançamento geral da intriga, verdadeira efabulação escolhida num meio social e num ambiente físico amplamente caracterizado, largamente ‘deixados ver’, e que Almada, em vez de desenhar ou pintar, discursivamente comprime” (1938b, p. 453). Em Nome de Guerra, Nemésio vê a “falta – essa a meu ver muito sensível – da arte das transições, do ‘tempo’ de crescimento da intriga, sua complexidade e nuances” (1938b, p. 456).
Nestas ponderações podemos acompanhar as preocupações nemesianas quanto às qualidades de construção do romance; ganham, por isso, em ser lidas a par de outras considerações sobre outros romances. Veja-se, por exemplo, o que escreve Nemésio sobre A Criação do Mundo (Os Dois Primeiros Dias), de Miguel Torga, publicado no segundo número, de janeiro de 1938: “diríamos que lhe falta certo grau de complexidade psicológica, e até uma verdadeira intriga orgânica” (1938a, p. 307). Insistiu o crítico na importância da densidade psicológica e na composição romanesca. Quanto a esta, também em Torga Nemésio viu uma falta equiparável à de Almada: “Que, verbalmente poderoso, feito de vocábulos que são como pedra e flor quando exprimem pedra e flor, falta ao seu estilo o poder de involução próprio do romancista” (1938a, p. 307). Também aqui reconheceu o poder dos pontos (aqui os vocábulos) a partir dos quais se erguia a construção, mas também aqui reconheceu a imperfeição da sua ligação, pois faltava ao texto “a sintaxe demorada paralelamente ao tempo necessário ao crescimento natural das situações e das personagens, e aquele cuidado e técnica no levantamento de um edifício romanesco em que o protagonista não pareça um homem que escuta o próprio eco” (1938a, p. 307). Em Torga, Nemésio viu um possível clássico, mas sublinhou o que lhe faltava para atingir esse estatuto: “o calor humano que este livro irradia obriga-nos a um voto severo: que Miguel Torga aprofunde a sua sobriedade de escritor, alargando e domando o seu estilo, saindo mais de si e das suas recordações, para voltar com a riqueza do poderoso romancista que parece esperar dentro dele” (1938a, p. 308). No número 4, de julho de 1938, na recensão a Pedra Bonita, de José Lins do Rêgo, Nemésio considerou imprecisões no ritmo narrativo e elogiou “um admirável ambiente mixto de crime e de sonho” (1938c, p. 636). No número seguinte, de outubro de 1938, em Olhai os Lírios do Campo, de Erico Veríssimo, que havia sido apresentado a Nemésio como “uma das maiores revelações de romancista no Brasil”, o crítico confirmou esse valor quer no domínio sobre a psicologia das personagens, quer na justeza dessa expressão: “Há uma interpenetração profunda de meios verbais e psicológicos: entrase num ritmo ao mesmo tempo impressivo e expressivo, isto é, que vem da coisa contada e da maneira como se conta” (1938e, p. 115). Na pormenorizada análise da construção narrativa, Nemésio deteve-se no tratamento do tempo como categoria narrativa, dando especial atenção às estratégias narratológicas que correlacionam “o tempo imaginoso” com “o tempo real” e ao ritmo do discurso que permite a criação de um “belo ambiente de evocação demorada” (1938e, p. 116) em que surge Eugénio, a personagem principal. E veja-se ainda
a evocação de Júlio Dinis, publicada no número 9, de janeiro de 1940, em que, reconhecendo as limitações do romancista, Nemésio deixou um aviso: “Não devemos carregar no lado inestético da prosa de Júlio Denis. Há lá uma certa qualidade de elegância, que é a da sinceridade e da composição correntia.” (1940, p. 136). A comparação com o romancista clássico, Eça, vem aqui para sinalizar as coisas que a sua prosa não dá: “A sua notação é mais exterior à coisa mesma, precisa envolvê-la para a captar. Júlio Denis, embora com os movimentos presos pela sua pena de notário, às vezes entra directo numa situação emotiva e passá-lo-á quase sem a mediação das palavras.” (1940, p. 136). Com esta capacidade de sugestão, poderia ter sido um clássico: “Se tivesse tido um pouco de força e menos sentenças, menos mentiras convencionais, teria levado o romance português a uma verdade humana mais nossa que a de Camilo, (…); e muito mais nossa do que a de Eça” (1940, p. 135). O que aqui é denunciado em Eça é o não ter sido suficientemente o clássico da narrativa moderna: “Eça de Queiroz abusou do ritmo e do humor como instrumentos de uma narrativa moderna. Raras vezes chegou a êsse acto de à-vontade que, em estilo, cria a coisa e a dá ao mesmo tempo com a naturalidade e até a negligência do que já estava criado.” (1940, p. 135). O clássico, ou a perfeição no estilo, em Eça como em Almada, estaria no absoluto domínio do processo criativo, de tal modo que esse processo não fosse visível, e assim a negligência, traço distintivo do clássico no ensaio consagrado ao conceito, aparecia como elemento a ser tido em conta na caracterização de ambos os autores. Essa súmula criativa a que Eça não chegou era assim definida por Nemésio: “Digo essa posição, difícil entre todas, que em arte finge vida e se mostra vital no fingimento: que não deixa à mostra, como muita prosa de Eça, o que é habilidade de prosador.” (1940, p. 135) A dificuldade da posição dizia o fascínio que o Nemésio por ela teria. Esse fascínio, assim como todas as considerações aqui citadas, permitenos acompanhar as preocupações narratológicas e estéticas de Nemésio romancista ao longo destes anos. É que Mau Tempo no Canal estava a ser escrito durante estas leituras e estas ponderações. Nelas podemos ler o esboço de uma poética, apontamentos sobre a realização de um romance tomados enquanto o autor escrevia o seu romance. Este, aliás, nasceu com a revista e nas páginas do diário, a 18 de março de 1937, Nemésio deu conta da fecundidade criativa desse tempo, dizendo a coincidência de génese dos dois projectos: “Dias de grande fervor, de planos de trabalho, mesmo de invenção e composição mental sem seguimento, desde o romance ilhéu em que a figura de Januário
Cardoso já existe, até ao programa de uma espécie de campanha de inverno pelo livro português… O projecto de uma revista cada vez mais teimoso.” (2001, p. 115-116). O primeiro número sairia em Outubro. Depois, nas páginas da Revista de Portugal, Nemésio ensaiou a sua busca por um estilo próprio, pela força da sua tinta, ou seja, a sua perseguição do clássico como afirmação na modernidade.
Referências
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