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C o m p etên cias g erais: 1, 2, 3 , 4 , 7 , 8 , 9 , 10
O texto de Fazzioni traz uma história real e foi produzido com base no trabalho de campo da pesquisadora no conjunto de comunidades do Complexo do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro. Convivendo com os moradores locais e acompanhando médicos e agentes de saúde em atendimentos na região, a antropóloga observou o modo como as pessoas se relacionavam e, depois, produziu uma tese analisando os impasses sociais e individuais gerados pela falta de políticas públicas de saúde naquele contexto. No trecho que acabamos de ler, conhecemos a história de Josefa, uma idosa que trabalhava como cuidadora de idosos e que, no entanto, tinha ficado sem cuidados ao adoecer. Conhecemos igualmente a história de sua irmã, Dulce, também idosa, que, mesmo já sendo responsável pelo cuidado dos três netos, foi a única pessoa que acolheu a irmã vulnerável. 1. Quais são as tarefas de cuidado apresentadas no texto?
2. De quais tipos de cuidado todos nós dependemos no início e no fim da vida?
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3. Em sua experiência pessoal, quem são as pessoas cuidadas? E quem cuida delas? 4. A quem a sociedade atribui a responsabilidade de cuidar do outro? 5. É possível dizer que somos indivíduos autônomos e nos construímos como seres humanos independentemente dos outros?
SOMOS UM, SOMOS MULTIDÃO
Ninguém é igual a ninguém. Nem mesmo gêmeos idênticos, nascidos do mesmo ventre, são réplicas totais um do outro. Quando crianças, não demora muito para que nossos cuidadores percebam os primeiros traços de nossa personalidade.
Ao longo da história humana há inúmeros casos de indivíduos ímpares, cujas criações ninguém conseguiu igualar. Não podemos negar a astúcia de Van Gogh, por exemplo, ao romper com os padrões de pinceladas da tinta a óleo que fundaram a arte moderna, ou o brilhantismo dos estudos de Marie Curie sobre radioatividade, que a tornaram a primeira pessoa a receber dois prêmios Nobel: um de Física (1903) e outro de Química (1911).
Cada pessoa é um conjunto único de combinações e experiências e traça uma trajetória específica de existência no mundo. Mas, ainda que sejamos tão únicos como indivíduos, cada um com sua história de vida e acúmulo de experiências, será que somos tão diferentes daqueles que nos cercam?
Everett Collection/Shutterstock
Autorretrato de 1889 de Vincent van Gogh (1853-1890), pintor holandês. Seu estilo expressionista é considerado um dos pilares da arte moderna. Os cientistas Pierre Curie e Marie Curie, c. 1903. Nesse ano, eles foram agraciados com o prêmio Nobel de Física.
LER E IMAGINAR
HABILIDADE EM13CHS501
BNCC
Vamos agora fazer um exercício de imaginação. Suponha que você estivesse um dia navegando em alto-mar, longe da costa, e, por acidente, seu barco naufragasse. Não sobrou mais ninguém além de você e, horas depois da tragédia, você se percebe boiando e se aproximando de uma ilha. Em terra firme, a primeira coisa que faz é verificar se existe alguém por lá. Você percorre todo o pequeno conjunto de terra a pé, em menos de um dia, e constata que não há mais ninguém. Chegou o momento de ter que sobreviver sozinho. Como você fará isso?
Com base nessa situação imaginária, siga as orientações abaixo.
Roteiro de trabalho
1. Em uma folha de caderno, desenhe uma linha dividindo o papel ao meio, em duas colunas. Na coluna da esquerda, escreva primeiro três coisas que você mais gostaria de encontrar em seu bolso. Depois, ainda na mesma coluna, escreva três coisas que não queria ou não precisaria ter levado à ilha deserta. 2. Em seguida, na coluna da direita, escreva o que você teria de fazer para sobreviver sozinho na ilha durante os próximos dias, até que chegasse o resgate: O que procuraria para comer? Como prepararia seu alimento? Como faria para dormir e onde dormiria? E se sentisse frio, o que faria? Se tivesse se machucado durante o naufrágio, como cuidaria dos ferimentos? O que faria para tentar ser encontrado? 3. Depois dessa atividade individual, é hora de conhecer melhor os colegas de turma, compartilhando seu trabalho. Juntos, formem um círculo com as cadeiras. Cada um de vocês deve ler as respostas às perguntas acima e ouvir as dos demais estudantes da sala. 4. Por último, debatam sobre as questões apresentadas a seguir. Se preferirem, anotem as conclusões na lousa. • Qual foi a resposta mais surpreendente? • Quais foram as ações mais criativas? • Quais ações vocês acham que não dariam certo? Por quê? • Quais ações a maioria realizaria? • Quais coisas, na opinião da turma, seriam mais necessárias nessa situação imaginária? • Como a maioria faria para se alimentar? E para dormir; para se proteger do frio; para se curar de um possível ferimento; para tentar ser encontrado?
Quais respostas foram comuns ou mais semelhantes entre os colegas?
Na atividade acima, certamente vocês depararam com respostas diferentes e até inusitadas, que mostraram a personalidade única de cada colega da turma. Mas provavelmente encontraram também coisas em comum entre vocês. Tais semelhanças seriam apenas coincidência?
A necessidade de nos alimentarmos é biológica, uma dependência da qual não podemos fugir. Mas nossa composição biológica não determina o que preferimos como alimento e, muito menos, como o preparamos. Tais determinações são sempre variáveis entre os diferentes povos, que, historicamente, elegem seus pratos favoritos e desenvolvem técnicas ou receitas para prepará-los. Aliás, se vocês se imaginaram acendendo alguma fogueira para poder preparar os alimentos encontrados na ilha deserta, é porque fazem parte de uma sociedade para cujo desenvolvimento dos hábitos alimentares o fogo foi socialmente imprescindível.
E para tentar ser encontrado? Algum estudante pensou em escrever os termos “Socorro”, “Help” ou “SOS” na areia? Bem, se alguém imaginou isso, é porque sabe que tais expressões linguísticas são códigos socialmente compartilhados de pedido de ajuda. Se tais palavras podem ser usadas por um indivíduo para pedir ajuda a outros, é porque entre esses indivíduos há comum acordo de que tais letras e códigos escritos, quando acionados, representam um pedido de socorro. Eles só fazem sentido e só podem funcionar como um sinal de resgate se todos os envolvidos na produção e na recepção da mensagem estiverem minimamente de acordo sobre o que ela significa.
Cada indivíduo é um universo único, mas ninguém pode viver apenas com aquilo em que acredita ou que produz sozinho. Vivemos uma existência individual dentro de uma estrutura compartilhada de símbolos, significados, valores, crenças, hábitos e comportamentos comuns a várias outras pessoas. Qualquer indivíduo é, também, membro de uma sociedade. E, se um dia naufragarmos e formos parar em uma ilha deserta, com certeza levaremos para lá comportamentos, hábitos e aprendizados que a sociedade à qual pertencemos nos ensinou.