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M eritocracia e ascensão social
propôs na investigação. De azul, sublinhe outro conjunto parecido de questões, e assim sucessivamente. Essa organização vai ajudá-lo a olhar o material de outra forma, pois assim você já conseguirá destacar quais foram as informações mais relevantes de seu trabalho de campo.
Depois, é o momento de ouvir também dos colegas de turma as prévias das pesquisas deles para, então, compararem os resultados que obtiveram até aqui. Mantendo o anonimato de seus interlocutores, fale sobre o que você encontrou em campo, o que lhe chamou atenção e quais informações coletadas podem responder melhor às indagações relativas à pesquisa. Após todos falarem sobre os próprios resultados, busque então anotar no diário de campo o que você percebeu ser diferente e semelhante em sua pesquisa em comparação com as dos colegas. O que parece ser uma convenção em relação ao cuidado, algo que apareceu nas diferentes observações feitas pela turma? O que parece ser específico do seu campo de pesquisa? O que é possível comparar entre a sua pesquisa e as de Natália Fazzioni no Complexo do Alemão, Denise Pimenta em Serra Leoa ou Margaret Mead na Oceania? Essa reflexão será fundamental para começar a esboçar as primeiras análises do seu material.
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Por fim, nesta etapa intermediária de pesquisa, é importante que seus dados mantenham diálogo com análises de trabalho já finalizadas sobre o tema. Atentando para as questões que surgiram em sua pesquisa e destacando aquelas que você notou serem mais cruciais em seu campo, recorra a plataformas de pesquisa e procure textos que tenham relação com seu objeto de investigação. Com a leitura desses textos, você vai abastecer sua pesquisa de referenciais bibliográficos e encontrar pontes interessantes de análise que poderão ajudá-lo a compreender melhor o que o seu material diz sobre as questões com que estamos trabalhando.
Pelo endereço http://www.scielo.br/ (acesso em: 5 jul. 2020) é possível encontrar artigos científicos de todas as áreas de pesquisa, publicados em revistas nacionais e internacionais. Acessando o site, clique na opção de página em português; depois, clique em “pesquisa de artigos”. Na página seguinte, preencha as caixas de texto com as palavras mais importantes e gerais que fazem parte de sua pesquisa. Acionando o botão “pesquisa”, aparecerá uma lista de textos que contêm as palavras-chave buscadas. Você pode acessar os artigos e respectivos resumos gratuitamente e em quantidade ilimitada.
Há também a plataforma disponível em: https://www.nexojornal.com.br/academico/ (acesso em: 5 jul. 2020), em que você pode encontrar um resumo qualificado de diversas pesquisas realizadas por pesquisadores de ciências humanas no Brasil, e a disponível em: https://www.nexojornal.com.br/edu/ (acesso em: 5 jul. 2020), na qual um conjunto de textos e vídeos aprofunda o debate em diversos assuntos.
Enquanto estiver lendo os textos que lhe pareceram mais interessantes, anote suas observações sobre eles em seu diário de campo, descrevendo quem foi a pessoa que o publicou e onde ele foi publicado.
MERITOCRACIA E ASCENSÃO SOCIAL
No texto a seguir, acompanhamos a controvérsia em torno da inclusão, pela Revista Forbes, da celebridade Kylie Jenner na lista de bilionários que enriqueceram “por conta própria”.
É comum nos Estados Unidos, e em muitos outros países, como o Brasil, que pessoas que enriqueceram com os próprios esforços sejam socialmente reconhecidas, valorizadas e exaltadas. Há muito valor moral em “começar do zero” e alcançar fortuna, e há pessoas que passam a vida toda tentando conquistar tanto esse poder financeiro quanto reconhecimento. A lista divulgada anualmente pela Revista Forbes, por exemplo, é um dos principais canais mundiais de demonstração desse reconhecimento para os que atingem cifras acima dos milhões. Mas há diversos outros mecanismos sociais de atribuição de prestígio e exaltação de indivíduos que alçaram patamares de distinção em seu grupo. Tais mecanismos, no geral, são derivações diretas de uma ideologia meritocrática, ou seja, um sistema que busca classificar e hierarquizar os indivíduos com base naquilo que se julga que eles mereçam devido a seus esforços. Após a leitura do texto, assista ao vídeo Meritocracia, produzido pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp).
A controvérsia sobre “Kylie Jenner, bilionária por esforço próprio”
(Publicada em Vox, 15 de julho de 2018 – Trecho traduzido pelos autores.)
Ser bilionário é como estar grávida: você está ou não está. Ou você tem um bilhão de dólares ou não tem um bilhão de dólares. Isso parecia ser um fato fixo, até que Forbes e Kylie Jenner o questionaram.
No início desta semana, a Forbes publicou uma matéria, “Mulheres bilionárias da América”, e fez de Jenner sua capa, divulgando-a como uma pessoa rica “por esforço próprio” . “Aos 21 anos, ela deve ser a bilionária que começou do zero mais jovem de todos os tempos”, escreveu Forbes. “Bem-vindo à era da alavancagem extrema da fama.”
Jenner, de acordo com a avaliação estimada pela Forbes em torno de sua empresa de cosméticos, seu reality show e vários patrocínios, possui um império de US$ 900 milhões que em breve chegará à marca de US$ 1 bilhão. Seu iminente status de bilionária não está em questão. Mas o que foi questionado é como a Forbes classificou esse status, dizendo que Jenner tinha se tornado Reprodução/UNIVESP rica “por conta própria” e a incluído em um grupo de “#SelfMadeWomen”, que atraiu críticas e lamentos dos críticos de Jenner.
“Não dá para esconder que Kylie Jenner não ‘começou do zero’. Ela cresceu em uma família rica e famosa. Seu sucesso é louvável, Vídeo Meritocracia, da Univesp. Disponível em: mas é resultante de seu privilégio. As palavras têm significados e https://www.youtube.com/watch?v=be6ZiM_cTF8. cabe a um dicionário nos lembrar disso” (escreveu @rgay em uma Acesso em: 20 jun. 2020. rede social).
E o debate que se seguiu deu início a uma discussão maior sobre nossas percepções de como as pessoas ganham dinheiro, como valorizamos as Kardashians e se isso é justo.
A principal queixa sobre os elogios da Forbes ao reconhecimento financeiro de Jenner foi o uso da frase “por conta própria”, sem mencionar a famosa família da jovem.
Jenner, como uma ninfa nascida quando Zeus jogou uma faixa de extensões de cabelo em um oceano efervescente, faz parte do inescapável e inevitável clã Kardashian, que dominou a televisão e a cultura pop na última década.
Essa dominação foi motivada em grande parte por Kim Kardashian West, primeiro se tornando notícia de tabloide e depois realmente uma estrela. O reality show de TV que agora completa 11 anos, chamado originalmente de Keeping Up with the Kardashians, com seus vários produtos derivados, transformou a fama de Kim em um império familiar.
Os vários negócios da família Kardashian se apoiaram ou se originaram da fama de Kim de uma maneira ou de outra. Suas duas irmãs Kourtney e Khloe se tornaram igualmente celebridades por direito. As três mulheres lançaram vários projetos da marca Kardashian, desde linhas de roupas e maquiagem até lojas de varejo. Kim também tem um jogo de videogame extremamente bem-sucedido e lucrativo. Kris Jenner, a matriarca, apoiou-se totalmente em sua persona como a mais bem-sucedida ”mãe-gerente” dos Estados Unidos. E as filhas mais novas de Kris Jenner, Kendall Jenner e Kylie Jenner, também entraram em ação. A carreira de modelo de Kendall decolou. E Kylie, em 2016, lançou sua empresa de cosméticos, a Kylie Cosmetics, que se tornou um enorme sucesso.
O modelo de negócios para os vários empreendimentos da família se baseia na própria fama da família. Os fãs querem um pedaço das irmãs. As empresas querem tirar proveito de sua enorme base de fãs, que se estende a milhões em várias plataformas de mídia social. E produtos como os criados pela Kylie Cosmetics proporcionam isso tudo.
O principal argumento dos críticos contra a história da Forbes é o fato de que seria irresponsável a revista não abordar como a fama da família de Jenner a ajudou a acumular sua fortuna.
Chamar Kylie Jenner de self-made conota um senso de empoderamento e uma narrativa de que ela se levantou com os próprios pés. Mas muitos observadores foram rápidos em argumentar que sua empresa de sucesso não é resultado apenas de seu esforço próprio, mas uma extensão do império já bem-sucedido que é impulsionado pelas irmãs. Se Kylie não fosse Jenner e não tivesse Kim Kardashian como meia-irmã, apontam os críticos, seu sucesso teria sido muito mais difícil de alcançar. “É ingênuo e preguiçoso pensar que uma mulher branca nascida na fama em meio às classes altas – uma mulher com sobrenome famoso, cachê de marca, uma quantidade aparentemente infinita de capital de investimento para poder brincar, redes de segurança e acesso a uma infinidade de recursos – seja um modelo para uma história de sucesso ’de quem começou do nada’ que, para muitos, representa o sonho americano", escreveu Emerald Pellot na Revista Cosmopolitan. Há outra ruga na história. Kylie Jenner nasceu em privilégio. Mas esse é o caso da maioria dos bilionários.
Matéria completa em inglês disponível em: https://bit.ly/3afZDMS. Acesso em: 10 abr. 2021.
Na foto, a influenciadora digital e empresária Kylie Jenner, caçula da família Kardashian (clã famoso por protagonizar polêmicas e séries de TV nos Estados Unidos). Chegada ao
Billboard Music Awards de 2015, em Las Vegas (EUA).
Na lógica meritocrática, o pressuposto é de que todos os indivíduos sejam iguais entre si e, portanto, tenham a mesma capacidade para prosperar . Assim, aqueles que alcançam certo destaque “merecem” o reconhecimento , pois se supõe que se esforçaram individualmente mais do que os outros.
Essa visão de mundo parte da concepção de que é o indivíduo quem tem mais poder no jogo de forças contra a sociedade, que todas as pessoas são igualmente livres para conquistarem o que desejam e que, portanto, a sociedade (na figura do Estado ou da família) não precisa ter nenhuma responsabilidade sobre ele.
Tal argumento geral aproxima-se daquilo que Margaret Thatcher, primeira-ministra do Reino Unido na década de 1980 e expoente mundial da visão econômica liberalista, defendia: “Essa coisa de sociedade não existe, o que existe são homens, mulheres, indivíduos”.
No entanto, a meritocracia ignora que as pessoas nascem em condições sociais distintas e que sua socialização depende das oportunidades dadas por essa condição. A vida social, como vimos neste capítulo, define inúmeros aspectos de nossas práticas culturais e também constrange determinados papéis sociais. Assim, embora existam indivíduos que escapam eventualmente desses constrangimentos, a maioria terá uma trajetória delimitada pela sociedade, e não por suas capacidades individuais.
PARE e PENSE
1. Defi na, com suas palavras, o que é meritocracia . 2. Por que a ideia de meritocracia supõe que o indivíduo tem mais força que a vida social?
PESQUISA
HABILIDADE EM13CHS103
BNCC
HABILIDADE EM13CHS502
BNCC
Etapa 3
Chegamos à etapa de finalização da pesquisa de observação participante. O momento agora é de reunir as informações mais importantes do seu estudo e organizá-las para apresentar os resultados. Com a turma, combine o formato de debate das conclusões das pesquisas. É possível que escolham apresentar o fechamento das pesquisas na forma de um texto escrito, um seminário, um podcast, um vídeo, um painel feito com cartolina, etc. Nessas apresentações, preparem-se para responder às seguintes questões: • Qual é o objetivo da pesquisa? • O que você queria compreender? • Como foi feita sua pesquisa de campo? • Quais foram os dados que você levantou? • O que esses dados revelaram? • Quais perguntas pareceram mais interessantes ? Quais você percebeu que precisaria fazer no meio do caminho? • Quais exemplos de situações que você observou em campo são importantes para explicar as respostas que sua pesquisa encontrou? • Como os dados de sua pesquisa se relacionam com os de outras ? Quais comparações podem ser feitas? • Os referenciais bibliográficos que você encontrou e os autores trabalhados neste capítulo o ajudaram a refletir sobre seus dados? De que maneira? • O que você ainda não sabia e a pesquisa o ajudou a descobrir? Nas apresentações, é importante reservar um momento generoso para o debate entre os pesquisadores. Após explicarem os resultados das pesquisas individuais, reservem um tempo para compartilhar a experiência de realização da pesquisa . Tentem também identificar as dificuldades que foram mais comuns, bem como os passos que mais gostaram de seguir nesse processo. Depois de finalizada a rodada de compartilhamento da experiência, vocês podem refletir: Quais novos temas mereceriam outra pesquisa de observação participante?
RELEITURA
HABILIDADE EM13CHS101
BNCC
HABILIDADE EM13CHS501
BNCC
Há tempos, as ciências sociais têm reforçado a importância de questionarmos a ideologia do sujeito liberal, marcada por uma noção de liberdade caracterizada por uma sensação de autonomia totalmente ilusória. Ao olharmos para o cuidado, cientes de nossa vulnerabilidade, entendemos que ele não é marcado por uma lógica de dependência versus autonomia, mas sim de interdependência e reciprocidade, como sugere [a autora] Joan Tronto. Precisamos ser cuidados em algum momento de nossas vidas, oferecer cuidado em outras, cuidar de si sempre: sem isso não nos sustentamos enquanto indivíduos, mas igualmente enquanto sociedade.
FAZZIONI, Natália. O que podemos aprender sobre “cuidado” com a epidemia de coronavírus. In: Blog do Laboratório de etnografias e interfaces do conhecimento – LEIC. Disponível em: https://leicufrj.wordpress.com/2020/04/05/ o-que-podemos-aprender-sobre-cuidado-com-a-epidemia-de-corona-virus-por-natalia-fazzioni/. Acesso em: 5 jul. 2020.
Pelo texto acima, lembramos o principal percurso trilhado durante este capítulo: pensamos sobre as práticas de cuidado como forma de nos aproximar das questões que envolvem a complexa relação entre indivíduo e sociedade. Pela observação participante durante o trabalho de campo, pudemos levantar dados que agora fornecem materialidade, exemplos e proximidade às questões tão debatidas entre os autores clássicos das ciências humanas: É o indivíduo que influencia a sociedade ou a sociedade que molda o indivíduo?
Trata-se de uma questão difícil de responder e talvez ela não tenha uma única e definitiva resposta. Mas, para finalizarmos o caminho que percorremos aqui, com a turma organizada em círculo, assistam ao vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PnEa-U4P06E, acesso: em 2 jul. 2020.
Escolhida para receber um prêmio por sua atuação na luta pelos direitos das mulheres negras, a filósofa e educadora
Sueli Carneiro fala sobre seus ideais e relembra suas ações na sociedade brasileira. Foto de 2011.
Levi Bianco/Futura Press
Roteiro de trabalho
1. Pelas experiências das pesquisas que realizaram, vocês diriam que os indivíduos podem se constituir por si próprios, sem a interferência da sociedade? Por quê? 2. Qual é a diferença entre o reconhecimento individual conquistado pela empresária Kylie Jenner, que vimos na seção Meritocracia e ascensão social, e o reconhecimento individual conquistado pela educadora e filósofa Sueli Carneiro, de acordo com o vídeo a que vocês assistiram? 3. Em relação à sociedade, vocês acham que ela pode ser mudada pelos indivíduos? 4. Quais exemplos vocês indicariam para justificar a resposta à pergunta anterior?
Divulgação
LER, ASSISTIR, NAVEGAR
WHYTE, William Foote . Sociedade de esquina. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005. Neste livro, o pesquisador estadunidense apresenta uma etnografia baseada em sua observação participante e em entrevistas durante o trabalho de campo em um bairro comandado pela máfia italiana em Boston, nos Estados Unidos. Pelo livro, compreendemos como as relações eram organizadas entre as pessoas e quais vínculos as uniam, e também acompanhamos os conflitos diante das disputas sobre as regras daquela sociedade.
RACIONAIS Mc’s. Sobrevivendo no inferno. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. Este é um livro composto das canções do disco homônimo do grupo paulistano de rap, considerado um marco histórico na produção cultural da juventude negra e da periferia. Pelas letras, acompanhamos o mundo com base em experiências vivenciadas nas grandes cidades, percebendo os dilemas dos indivíduos que enfrentam as desigualdades da sociedade.
QUANDO O SKATE foi proibido em São Paulo. Disponível no canal do Youtube da TV FOLHA, disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=gEcFyQ1068E. Acesso em: 24 maio 2020. O que acontece quando um governante tenta proibir as práticas culturais dos indivíduos? Neste vídeo, vemos a história de como os skatistas de São Paulo se organizaram para se contrapor à lei de Jânio Quadros em 1988, que proibia essa prática esportiva na cidade.
O ENIGMA de Kaspar Hauser. Direção de Werner Herzog. Alemanha, 1974. 1h50 . Nesse filme acompanhamos a história de um jovem que foi mantido em cativeiro durante toda a infância e cresceu longe de qualquer contato social. Mais velho, é encontrado por moradores de uma pequena cidade. São eles os responsáveis por ensinar como o menino-selvagem deve se comportar no meio social. Ao assistir, atente às situações provocadas pela falta de socialização de Kaspar Hauser e pondere sobre os aprendizados pelos quais você também passou ao longo da vida.
CAFÉ COM SOCIOLOGIA. Disponível em: https://cafecomsociologia.com/ . Acesso em: 5 jul. 2020. Pelo endereço eletrônico do Café com Sociologia você pode ter acesso a um enorme conjunto de reportagens, informações, podcasts e indicações de livros especialmente voltados ao debate sobre a sociedade, além de toda a contribuição da Sociologia para as ciências humanas.
MUNDARÉU. Disponível em: https://mundareu.labjor.unicamp.br/. Acesso em: 5 jul. 2020. Acompanhando os episódios do podcast Mundaréu, você poderá ouvir diferentes vozes comentando o que significa estar no mundo como indivíduo, ou como parte da sociedade. Produzido por pesquisadores de diferentes universidades brasileiras, os episódios de Mundaréu mesclam informações sobre novas pesquisas sociais com relatos de vida de pessoas comuns, compondo um cenário repleto de novidades para você acompanhar e se atualizar.
Divulgação
Reprodução
ENEM
1. Um volume imenso de pesquisas tem sido produzido para tentar avaliar os efeitos dos programas de televisão. A maioria desses estudos diz respeito às crianças – o que é bastante compreensível pela quantidade de tempo que elas passam em frente ao aparelho e pelas possíveis implicações desse comportamento para a socialização. Dois dos tópicos mais pesquisados são o impacto da televisão no âmbito do crime e da violência e a natureza das notícias exibidas na televisão.
GIDDENS, A. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.
O texto indica que existe uma significativa produção científica sobre os impactos socioculturais da televisão na vida do ser humano. E as crianças, em particular, são as mais vulneráveis a essas influências, porque a. codificam informações transmitidas nos programas infantis por meio da observação. b. adquirem conhecimentos variados que incentivam o processo de internação social. c. interiorizam padrões de comportamento e papéis sociais com menor visão crítica. d. observam formas de convivência social baseadas na tolerância e no respeito. e. apreendem modelos de sociedade pautados na observância das leis.
2. Nossa cultura lipofóbica muito contribui para a distorção da imagem corporal, gerando gordos que se veem magros e magros que se veem gordos, numa quase unanimidade de que todos se sentem ou se veem “distorcidos”. Engordamos quando somos gulosos. É o pecado da gula que controla a relação do homem com a balança. Todo obeso declarou, um dia, guerra à balança. Para emagrecer é preciso fazer as pazes com a dita-cuja, visando adequar-se às necessidades para as quais ela aponta.
FREIRE, D. S. Obesidade não pode ser pré-requisito. Disponível em: http//gnt.globo.com. Acesso em: 3 abr. 2012 (adaptado).
O texto apresenta um discurso de disciplinarização dos corpos, que tem como consequência a. a aplicação dos tratamentos médicos alternativos, reduzindo os gastos com remédios. b. a democratização do padrão de beleza, tornando-o acessível pelo esforço individual. c. o controle do consumo, impulsionando uma crise econômica na indústria de alimentos. d. a culpabilização individual, associando obesidade à fraqueza de caráter. e. o aumento da longevidade, resultando no crescimento populacional.
3. Na produção social que os homens realizam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade – fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social.
MARX, K. Prefácio à Crítica da economia política. In: MARX, K.; ENGELS, F. Textos 3. São Paulo: Edições Sociais, 1977 (adaptado).
Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida no sistema capitalista faz com que a. o proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia. b. o trabalho se constitua como o fundamento real da produção material. c. a consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano. d. a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico. e. a burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe.
4. Na sociedade contemporânea, onde as relações sociais tendem a reger-se por imagens midiáticas, a imagem de um indivíduo, principalmente na indústria do espetáculo, pode agregar valor econômico na medida de seu incremento técnico: amplitude do espelhamento e da atenção pública. Aparecer é então mais do que ser; o sujeito é famoso porque é falado.
Nesse âmbito, a lógica circulatória do mercado, ao mesmo tempo que acena democraticamente para as massas com supostos
“ganhos distributivos” (a informação ilimitada, a quebra das supostas hierarquias culturais), afeta a velha cultura disseminada na esfera pública. A participação nas redes sociais, a obsessão dos selfies, tanto falar e ser falado quanto ser visto são índices do desejo de ”espelhamento“.
SODRÉ, M. Disponível em: http://alias.estadao.com.br. Acesso em: 9 fev. 2015 (adaptado).
A crítica contida no texto sobre a sociedade contemporânea enfatiza a. a prática identitária autorreferente. b. a distância política democratizante. c. a produção instantânea de notícias. d. os processos difusores de informações. e. os mecanismos de convergência tecnológica.
5. A sociologia ainda não ultrapassou a era das construções e das sínteses filosóficas. Em vez de assumir a tarefa de lançar luz sobre uma parcela restrita do campo social, ela prefere buscar as brilhantes generalidades em que todas as questões são levantadas sem que nenhuma seja expressamente tratada. Não é com exames sumários e por meio de intuições rápidas que se pode chegar a descobrir as leis de uma realidade tão complexa. Sobretudo, generalizações às vezes tão amplas e tão apressadas não são suscetíveis de nenhum tipo de prova.
DURKHEIM, É. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
O texto expressa o esforço de Émile Durkheim em construir uma sociologia com base na a. vinculação com a fi losofi a como saber unifi cado. b. reunião de percepções intuitivas para demonstração. c. formulação de hipóteses subjetivas sobre a vida social. d. adesão aos padrões de investigação típicos das ciências naturais. e. incorporação de um conhecimento alimentado pelo engajamento político.
Estudante consulta a biblioteca da Escola Municipal Hildete Bahia de Souza. Salvador (BA), 2013.
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COM P E T ÊNCIAS ESPECÍFICAS DA ÁREA 1 BNCC
COM P E T ÊNCIAS ESPECÍFICAS DA ÁREA 2 BNCC
COM P E T ÊNCIAS ESPECÍFICAS DA ÁREA 3 BNCC
AS PAISAGENS E AS SOCIEDADES HUMANAS
Poço Encantado, na Chapada
Diamantina, Itaeté, Bahia, 2018.
Apaisagem retratada nestas páginas faz parte do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Localizado no estado da Bahia, o parque possui uma área equivalente à 150 mil campos de futebol e protege uma parcela da serra do Espinhaço. A Chapada Diamantina é conhecida por seu relevo exuberante, repleto de cachoeiras, e também por abrigar grande diversidade ecológica e ambiental distribuída em áreas que compõem três importantes biomas brasileiros: Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga.
Dependendo de como se interpretam as paisagens, é possível estabelecer critérios para classificá-las em diferentes tipos. É comum, por exemplo, classificar como paisagem natural a retratada nestas páginas de abertura, em que os elementos foram aparentemente pouco alterados pela atividade humana. Porém, mesmo nesses casos, os seres humanos podem ter realizado intervenções ou pelo menos tido influência indireta na paisagem. Que tipo de interferência humana pode ter ocorrido em uma paisagem natural como a observada aqui? Você acha que a evolução tecnológica ampliou a capacidade humana de transformar as paisagens? De que maneira as desigualdades sociais e as diferenças culturais podem ser consideradas fatores de diferenciação das paisagens?
O QUE
VAMOS
ESTUDAR
Neste capítulo, vamos investigar a diversidade de paisagens no planeta, produzidas pelas diferentes interações de sociedades humanas com a natureza. Em qualquer localidade, as sociedades humanas buscam os recursos necessários para a sobrevivência e o desenvolvimento econômico e cultural. No entanto, a relação com a natureza, específica em cada localidade, é definida pelo modo como os grupos sociais tecem a própria história, as tradições e as técnicas de produção.
NARRATIVAS
HABILIDADE EM13CHS101
BNCC
HABILIDADE EM13CHS104
BNCC
As paisagens nos dizem muito sobre os lugares. Com base nelas, podemos analisar as características do espaço geográfico e refletir a respeito das relações sociais que nele ocorrem. Sobre esse aspecto, leia a narrativa a seguir.
Domingo, na cidade de Hong Kong, na China, sobre a esplanada térrea de uma das edificações mais emblemáticas da cidade, a imensa torre do Bank of China, mas também por toda uma ampla área em torno dela, reúne-se uma grande quantidade de mulheres. Excepcionalmente, por ser um domingo, a área não se encontra densamente ocupada pela multidão, como de hábito. As ruas à volta estão relativamente vazias, poucas pessoas passam e a circulação de veículos não segue o ritmo atordoante dos outros dias da semana. Somente aquela concentração estranha de mulheres, sentadas em grupo, ocupando uma grande área, destoa da ocupação em torno. Elas riem, falam alto umas com as outras, parece que todas se conhecem; tiram pequenas porções de comidas de grandes sacolas plásticas, comem, bebem e oferecem e trocam alimentos e bebidas; algumas estão deitadas sonolentas, outras ouvem música. Ao perguntar sobre elas ficamos sabendo que são filipinas. Explicam-nos, com naturalidade, que são empregadas domésticas, aproveitando o dia de folga. Elas nunca são notadas nos outros dias, pois trabalham no interior das casas. As residências em Hong Kong são, em geral, muito pequenas, com minúsculos espaços para abrigar as empregadas, muitas vezes esses espaços se resumem ao tamanho de uma pequena cama. Assim, quando podem, elas saem. Por isso, só são vistas e percebidas no domingo, quando saem juntas e se aglomeram sobre o mesmo espaço público. Essa exposição não parece ter nenhum impacto sobre os residentes, que tratam o assunto com naturalidade e distância. [...]
GOMES, Paulo Cesar da Costa. No olho da rua – visibilidade e espaços públicos. In: O lugar do olhar – elementos para uma geografia da visibilidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013. p. 183-184.
Hong Kong é uma região administrativa especial da China. Vista do entorno do Bank of China, 2002.
Coloursinmylife/Shutterstock
Roteiro de trabalho
1. Conforme a narrativa, que mudanças ocorrem aos domingos na paisagem da região central de Hong Kong? 2. Quais marcas culturais podem ser percebidas na paisagem de domingo em Hong Kong? 3. No lugar em que você mora, as paisagens também se modificam com o passar dos dias da semana? Em especial aos domingos, você observa alguma mudança? 4. Quais marcas culturais você identifica nas paisagens que observa em seu dia a dia?