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UM MUNDO LIGADO PELAS MERCADORIAS
Historicamente, as grandes navegações e a conquista da América possibilitaram às nações europeias a exploração de recursos naturais em proporções nunca vistas. Foi a partir da espoliação de minério pelo extrativismo e da produção agrícola baseada no trabalho escravo em larga escala no Novo Mundo que os principais países colonizadores acumularam as riquezas necessárias para fazer, no solo do velho continente, uma transformação profunda em seus meios de produção de mercadorias.
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Se até o século XVIII predominaram os métodos mais artesanais e de baixa escala na produção de bens manufaturados, no século seguinte, a Revolução Industrial transformou radicalmente a forma ocidental de produzir. A transição de um modo de produção para outro foi destacadamente marcada pelo desenvolvimento técnico no manejo do ferro, pela composição de grandes maquinários e pelo domínio da energia à base do vapor, gerada como resultado da combustão de carvão ou de outros combustíveis naturais.
A Inglaterra foi o epicentro dessa transformação , mas em poucas décadas a produção industrial se estendeu para outros países, proporcionando expansão econômica nos moldes capitalistas àqueles que são até hoje considerados os mais ricos e desenvolvidos.
Em 2015, em Vitória (ES), vagões vindos de Minas Gerais carregam minério de ferro até o porto de
Tubarão, também no Espírito
Santo, de onde será exportado.
Área de mineração em
Mariana (MG) em 2017, dois anos após o rompimento da
Barragem do Fundão, um dos maiores desastres ambientais do mundo ocorrido em 2015.
Na época, a lama de rejeitos deixou vítimas e alterou o ecossistema ao longo do rio Doce.
Ricardo Funari/Brazil Photos/LightRocket via Getty Images
Douglas Magno/AFP
Em 2013, em São Paulo (SP), prédio é construído sob bases metálicas, inserindo-se na paisagem da metropóle.
A Revolução Industrial foi um dos acontecimentos do planeta cujas transformações provocaram maior impacto na humanidade , elevando a níveis exponenciais a produção de mercadorias e, consequentemente, a exploração dos recursos. Além disso, ela acelerou a marcha de crescimento econômico das potências europeias que exploravam colônias em outros continentes. Essa concentração de poder só foi abalada pelas G ran d es G u erras M u n d iais , que afetaram fortemente os territórios europeus, destruindo parte da estrutura econômica desses países. Nesse cenário comercial que se formava, os Estados U nidos surgiram como nova potência , e o Ocidente se encaminhou para uma economia globalizada.
Desde o final da Segunda G uerra M undial, na metade do século X X , assistimos a um aumento vertiginoso na circulação de pessoas e mercadorias mundo afora, uma expansão econômica que marcou essa era como um período de aceleração. De lá para cá, coisas, empresas e pessoas – e, com elas, hábitos e costumes – passaram a se difundir em escala g lo b al , criando um cenário de intensa troca econômica e cultural.
Antes de chegar a uma casa brasileira, por exemplo, um brinquedo de plástico pode ter sido manufaturado dentro de uma fábrica que produz milhões de outros produtos idênticos, percorrido milhares de quilômetros e passado pelas mãos de pessoas de nacionalidades e línguas diferentes. E , a despeito de seu custo, provavelmente só garantirá a felicidade de uma criança por alguns meses, antes de ser descartado e substituído por um novo item mais especial. Em um mundo no qual todos estão ligados por mercadorias, não basta termos objetos que satisfaçam nossas necessidades. Na lógica cultural da sociedade à qual pertencemos, é preciso sempre ter mais. A abundância de mercadorias é um objetivo comum para o qual pessoas e países
Em foto de 1994, na Alemanha, garota brinca com bonecas de plástico de uma marca mundialmente famosa.
Em 2011, na C hina, veem-se bonecas de plástico no mesmo estilo que o da boneca com a qual a garota alemã brincava em décadas anteriores. No contexto de circulação global de mercadorias, gostos e produtos são padronizados, homogeneizando os consumidores ao redor do globo.
se inclinam, e o seu contrário, a falta e a escassez, é o que permite medir o impacto das desigualdades, como sugerem as imagens apresentadas a seguir, que comparam os níveis de consumo de famílias pelo mundo.
Imagem noturna do globo, em que se percebe a correlação entre industrialização e maior incidência de eletricidade. Foto de 1994.
Nasa/GFSC
Gabriele Galimberti
Brinquedos de Bethsaida, de 6 anos, moradora de
Porto Príncipe, no Haiti. Foto de 2011. Brinquedo de Taha, de 4 anos, morador de
Beirute, no Líbano. Foto de 2011.
Gabriele Galimberti
Gabriele Galimberti
Brinquedos de Zi Yi, 3 anos, moradora de
Chongquing, na China. Foto de 2012. Brinquedos de Luc, 3 anos, morador de
São Paulo, Brasil. Foto de 2013.
Gabriele Galimberti
Peter Menzel
Alimentos para o consumo de uma família de seis pessoas durante uma semana, em Istambul, na Turquia. Foto de 2013.
Alimentos para o consumo de uma família de seis pessoas, durante uma semana, em um campo de refugiados na província de Darfur, no Sudão.
Foto de 2013.
Alimentos para o consumo de uma família de cinco pessoas, durante uma semana, em Bargteheide, na
Alemanha. Foto de 2013.
Peter Menzel
Peter Menzel
PARE e PENSE
1. Que mudanças foram provocadas pela Revolução Industrial? 2. Explique por que, na atualidade, os mesmos produtos industrializados podem ser encontrados em países tão distantes uns dos outros.
LER CANÇÃO
HABILIDADE EM13CHS105
BNCC
HABILIDADE EM13CHS106
BNCC
HABILIDADE EM13CHS303
BNCC
Reúna-se com o seu grupo de trabalho. Encontrem na internet a canção “Hoje”, da banda capixaba Dead Fish, e a escutem com a ajuda da letra transcrita abaixo. Depois, sigam as atividades propostas.
Hoje
Pros que pensam que estão no auge dos tempos E a arrogância faz seu sangue mudar de cor. Com a insensibilidade de um colonizador Fizeram tudo mudar e não conseguem perceber Que ser cidadão é consumir, uma imagem vale mais que mil caráteres. O príncipe presidente ser tornou, “laissez-faire, laissez-passer”!! Hoje, vamos pagar!! Estamos fingindo! Vamos sofrer! Casas vazias!! Terceiro mundo!! Vamos Pois a fraternidade se tornou uma gangue A felicidade agora é Ter. A liberdade vem embalada em plástico, é colorida e tem gosto de isopor Personalidade agora é criticar A economia continua para alguns e a honestidade contém CFC, devo sorrir!! Eu tenho e você não!! Hoje!! Vamos pagar!! Estamos fingindo!! Vamos sofrer!! Elitização!! Terceiro mundo!! Vamos sofrer! Ser racional é Ter um ego enorme, progresso significa tecnologia. Se estamos no auge dos tempos, por que tanta angústia? Mantenha seu orgulho e vamos cantar, já estamos condenados e pra que se preocupar? Pois nossa atitude é biodegradável, a história não poupará em nos condenar.
DEAD FISH. Hoje. In: . Sonho médio. Rio de Janeiro: Deck, 1999. 1 CD. Faixa 9.
Roteiro de trabalho
1. Que conexões vocês encontraram entre a música “Hoje” e as discussões feitas até aqui envolvendo os assuntos deste capítulo? 2. Quais são as mercadorias tidas como principais objetos de desejo entre seus amigos e familiares? 3. Quais objetos as pessoas que vocês conhecem mais usam para se valorizar e se comparar? 4. Por que a letra da música relaciona o consumo com o fato de as pessoas acharem que “estão no auge dos tempos”? 5. Que relações vocês poderiam estabelecer entre a letra da música acima e o texto do pensador indígena Davi
Kopenawa Yanomami? Compare essa letra com o seguinte trecho : “Mas os brancos são gente diferente de nós. Devem se achar muito espertos porque sabem fabricar multidões de coisas sem parar. Cansaram de andar e, para ir mais depressa, inventaram a bicicleta. Depois acharam que ainda era lento demais. Então inventaram as motos e depois os carros. Aí acharam que ainda não estava rápido o bastante e inventaram o avião. Agora eles têm muitas e muitas máquinas e fábricas. Mas nem isso é o bastante para eles. Seu pensamento está concentrado em seus objetos o tempo todo. Não param de fabricar, sempre querem coisas novas.”.