LEVÍTICO
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Jéssica de Almeida – CRB 7/6858 A474l
Alves, Fernando Luis Viana, 1954 CroLevítico / Fernando Luis Viana Alves. – Rio de Janeiro: Betel, 2017. Cro192 p. ; 21 cm. CroISBN: 978-85-8244-064-3 Cro1. Bíblia – Antigo Testamento. 2. Santidade. 3. Palavra de Deus. 4. Leis. 5. Igreja. I. Título.
CDD: 221
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LEVÍTICO Instruções para vivermos em santidade e comunhão com DEUS
Rio de Janeiro Editora Betel 2017
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Revisão: Felipe Gomes Capa e Projeto Gráfico: Anderson Rocha Diagramação: Jeffrey Gonçalves Categoria: Pentateuco ISBN: 978-85-8244-064-3 1ª Edição: Novembro/2017
Editora Betel Rua Carvalho de Souza, 20, Madureira 21350-180, Rio de Janeiro, RJ Telefone: (21) 3575-8900 www.editorabetel.com.br facebook.com/editorabetel youtube.com/editorabetel instagram.com/editorabetel
Apresentação
O livro de Levítico apresenta as instruções de Deus para o povo de Israel sobre como deveria se aproximar dEle, ter comunhão com Ele, cultuá-Lo e viver na Terra Prometida. Constitui-se na primeira revelação detalhada acerca do vigoroso tema da Bíblia como um todo, isto é, o modo pelo qual Deus restaura a Si mesmo os homens perdidos. A mensagem central de Levítico é santidade: “Santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo” (Lv 19.2). O terceiro livro do Pentateuco trata de assuntos que são totalmente relevantes também para a Igreja: redenção pelo sangue; ofertas; relacionamentos interpessoais; dízimo; ministério; bens materiais; ações de graças; entre outros. É um livro que aponta diretamente para Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, e Seu sacrifício na cruz. Nesse contexto, é com grande satisfação que tenho a alegria de apresentar o livro Levítico: instruções para vivermos em santidade e
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comunhão com Deus, do estimado irmão em Cristo, Pastor Fernando Luiz Viana Alves, presidente da CONEMAD-PAN; presidente da Assembleia de Deus, Ministério de Madureira em Belém do Pará; Engenheiro Civil; Bacharel em Teologia; Escritor e Conferencista Internacional. Com singularidade, o autor nos fornece uma visão panorâmica sobre os diferentes assuntos abordados no livro de Levítico. Em treze capítulos, o pastor Fernando Luiz Viana Alves disserta sobre os sacrifícios e ofertas, as festas, o dia da expiação e o ano do jubileu, entre outros, sempre relacionando com a Igreja nos dias atuais. Este livro é uma viagem ao tempo do Antigo Testamento, que nos serve de muito aprendizado e aconselhamento. Que o Espírito Santo te conduza na leitura desta obra, a fim de que contribua para sua vivência em santidade e comunhão com Deus. Que Deus te abençoe e te guarde!
P r . Marcos Sant’Anna Escritor e Conferencista
Introdução
Levítico é o livro da lei de Deus e apresenta os preceitos que Israel teria que cumprir para viver segundo o padrão de santidade exigido por Deus. As normas deveriam ser obedecidas nos rituais dos sacrifícios, nas leis desses sacrifícios, na ordenação e consagração dos sacerdotes, na pureza cerimonial, no convívio social entre eles e até mesmo na prevenção de doenças e o cuidado para que o arraial permanecesse sadio. O Senhor Deus também orienta a respeito da família, da união conjugal, do serviço no santuário, da vida sentimental dos sacerdotes, de como proceder com o próximo, das festas em Israel e suas datas comemorativas, das bênçãos pela obediência e o castigo quando desobedecessem, como também dos votos e dízimos. É importante que o cristão entenda os sacrifícios e como eles se cumpriram no nascimento, ministério, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
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Deus no Novo Testamento, através da morte e ressurreição do Seu Filho, Jesus Cristo, revela o Seu propósito eterno de habitar no homem. No Evangelho de João, Jesus se expressa: “(...) Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.” (Jo 14.23). Este propósito é alcançado com a morte e ressurreição de Jesus e o derramamento do Espírito Santo. Nos sacrifícios do livro de Levítico e todos os demais ensinamentos, encontramos vários aspectos da obra de Jesus e de como o homem deve se conduzir neste mundo de modo que agrade a Deus. Temos que nos prostrar humildemente perante o Senhor e elevar a nossa voz em exaltação pela Sua sabedoria, que, através dos tipos, nos ensina a grandiosidade da obra realizada por Jesus para glorificar a Deus e salvar o homem. Este livro tem o propósito de ajudar aqueles que amam a bendita Palavra de Deus.
O autor
Sumário CAPÍTULO 1 O livro de Levítico......................................................... 11 CAPÍTULO 2 O sacrifício da expiação................................................. 23 CAPÍTULO 3 A oferta de manjares.................................................... 37 CAPÍTULO 4 O sacrifício pacífico....................................................... 53 CAPÍTULO 5 O sacrifício pelo pecado................................................ 63 CAPÍTULO 6 O sacrifício pela culpa................................................... 75 CAPÍTULO 7 O altar sempre aceso...................................................... 85 CAPÍTULO 8 A consagração do sacerdote............................................ 95 CAPÍTULO 9 A purificação da lepra.................................................. 105 CAPÍTULO 10 O dia da expiação....................................................... 113 CAPÍTULO 11 Responsabilidades da nação de Israel........................... 127 CAPÍTULO 12 O Shabbath, as festas de Israel e o Ano do Jubileu........ 135 CAPÍTULO 13 Voto e dízimo............................................................. 181 Referências Bibliográficas............................................................. 189 9
CAPÍTULO 1
O livro de Levítico “Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum; mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, obrou em mim toda a concupiscência; porquanto, sem a lei, estava morto o pecado. E eu, em algum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri; e o mandamento que era para vida, achei eu que me era para morte. Porque o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, me enganou e, por ele, me matou. E, assim, a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom.”
Romanos 7.7-12
No livro de Levítico vemos que Deus quer conviver com o homem e que por essa razão provê meios para tal intento. Um dos propósitos da lei é revelar as condições para a comunhão do homem com Deus, pois, por causa do pecado, ela foi interrompida.
Levítico: manual de santidade
Levítico é o terceiro livro de Moisés e faz parte do Pentateuco, do grego “os cinco rolos”. A palavra “Pentateuco” vem de uma combinação da palavra grega penta, que significa “cinco”, e teuchos, 11
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que pode ser traduzida como “pergaminhos”. O livro apresenta basicamente um manual de leis e preceitos para a nação de Israel, para que a mesma viesse a ser um modelo de nação a ser seguido pelas demais nações. A importância do livro de Levítico reside no fato de conter princípios fundamentais sobre a salvação, a fé, a santidade e a comunhão com Deus. Neste livro temos as normas pelas quais os sacerdotes deveriam cuidar do santuário e os seus utensílios, de como deveriam se comportar por estarem na presença de Deus. É o livro que revela a sala do trono do grande Rei. O livro de Levítico apresenta as leis do Senhor e como o culto a Deus deveria ser oferecido. Também ensina como os sacerdotes deveriam ordenar esse culto, para que Deus fosse glorificado através das ofertas e sacrifícios, e as bênçãos viessem sobre o povo. Mostra como os sacerdotes deveriam cuidar da casa de Deus e também de como andar diante de Deus em sua casa. É um livro de valores espirituais, repletos de ensinamentos para os nossos dias e deve ser visto como um livro de estudo. É um livro que se deve demorar mais tempo em oração e meditação, para um maior aproveitamento, e não um livro para ser lido de maneira rápida e superficial. É um livro que mostra como o Grande Rei deseja ter relacionamento com o Seu povo. Deus estabelece no livro de Levítico a forma do culto e o comportamento dos sacerdotes através das normas e preceitos, ritos e ofertas. Assim também, no Novo Testamento, o Espírito Santo através dos apóstolos estabelece como o culto deve ser oferecido a Deus e o comportamento dos que se aproximam de Deus para cultuá-Lo. O apóstolo Paulo assim escreve: “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.” (1Co 14.26). Se o culto é para Deus, Ele tem o direito de exigir como deve ser realizado. A nossa responsabilidade como mi12
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nistros de Deus é zelar para que na casa do Senhor tudo aconteça conforme a Sua Palavra; esse encargo pesa sobre os nossos ombros. No culto a Deus, o homem tem que se comportar como um adorador, pois isso agrada a Deus. O Senhor Deus procura verdadeiros adoradores: “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.” (Jo 4.23). Quando o homem adora a Deus, ele cumpre o propósito para o qual foi criado. Todas as demais obras que o homem realiza são ordenadas pelo próprio Deus: a pregação do Evangelho: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” (Mc 16.15); o louvor “Tudo quanto tem fôlego louve ao Senhor. Louvai ao Senhor.” (Sl 150.6); a santidade: “Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver.” (1Pe 1.15). No entanto, a adoração tem origem num coração voluntário; é o que Deus procura. Jesus em Seu ensino chama de servos de inúteis aqueles que só fazem o que lhes é ordenado. Quando o homem adora a Deus, ele sai dessa condição, pois Deus não deseja uma adoração por mandamento, mas por voluntariedade. Quando Jesus curou os dez leprosos, apenas um voltou para adorar e foi louvado pelo Senhor, pois os outros nove estava fazendo apenas o que Ele ordenou, que era se apresentar diante dos sacerdotes, como ordenava a lei. Porém, o que voltou deixou de ser inútil, pois, de coração grato, fez o que Deus quer dos Seus filhos: a adoração. Aprendemos, lendo os primeiros livros da Bíblia, como Deus vem em direção ao homem, pois, por causa do pecado, é impossível por si mesmo o homem ir em direção a Deus. Em Gênesis, após o homem cair em pecado, Deus vai ao seu encontro e o veste. No livro do Êxodo, Deus fala com o homem no monte Sinai, mas o mesmo deveria ficar longe (Êx 24.1-2). Já no primeiro capítulo do livro de Levítico, Deus está na tenda congregação chamando Moi13
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sés para falar com ele (Lv 1.1). É Deus descendo em busca do homem, um princípio exposto em toda as Escrituras Sagradas. Deus se aproxima do Seu povo para estabelecer o sistema de adoração. O termo “Levítico” é oriundo da versão grega Septuaginta. Nos escritos judaicos é designado pelo nome da primeira palavra: “Wayyiqra”, que significa “Ele chamou”. O Senhor Deus chamou Moisés para falar com ele e hoje continua a chamar o homem para com ele se comunicar. O Deus a quem servimos se comunica conosco de muitas maneiras, mas a principal é a Sua maravilhosa Palavra (Rm 7.7). O ser humano não tem condição de permanecer na presença de Deus, por isso o Senhor trabalha para que isto possa acontecer. A vontade de Deus é a santificação do homem e este ensino encontra-se de modo bem nítido no livro de Levítico: “Portanto, santificai-vos e sede santos, pois eu sou o Senhor, vosso Deus.” (Lv 20.7). Santificação é uma ordem imperativa e não uma opção de vida. Deus exige santidade e Sua vontade nos é revelada não apenas no livro de Levítico, mas em toda a Palavra de Deus. A vontade de Deus deve ter para nós a mesma importância que teve para Jesus quando se expressou para os Seus discípulos durante o Seu ministério (Jo 4.34). A vontade de Deus é de suma importância e podemos aferir a esse respeito, pois o próprio Deus chamou Moisés para lhe revelar o Seu querer. A Bíblia é perfeita e seus ensinos são bem explícitos: a santificação é vontade de Deus para o homem. Essa é uma doutrina fundamental da Palavra de Deus e a encontramos de modo bem claro nos ensinos apostólicos (1Ts 4.3; 5.23; Hb 12.14; 1Pe 1.16); um assunto vasto em todo o Novo Testamento. O apóstolo Paulo, escrevendo aos tessalonicenses, diz: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor 14
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Jesus Cristo.” (1Ts 5.23). Deus quer a santificação do homem e diz a ordem como ela acontece, de dentro para fora, o exterior reflete o que tem no interior; espírito, alma e corpo, essa é a ordem.
A lei de Deus
Lei é um princípio, um preceito, uma norma, criada para estabelecer as regras que devem ser seguidas, é um ordenamento. Do latim “lex”, que significa “lei” - uma obrigação imposta. Desse modo, Deus nos deu a Sua lei para que viéssemos a cumpri-la e assim alcançássemos os objetivos por ela determinados. Essa lei é perfeita, como nos afirma a Sua Palavra: “E, assim, a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom.” (Rm 7.12). A lei moral é a expressão da natureza e vontade divina para o homem, estabelecendo absoluta conformidade com a Sua santidade, como condição normal para o homem. O homem a cumpre só quando o seu ser moral bem como o racional são à imagem de Deus. A lei moral de Deus está além dos argumentos humanos e deve ser obedecida. Essa lei não está sujeita a costumes de uma sociedade, mas, como lei que procede de um ser moralmente perfeito, que é Deus, é para ser aceita pelo homem, como são os dez mandamentos. A lei é perfeita, mas não foi dada como forma de salvação: “Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.” (Gálatas 2.16)
O homem foi criado sem pecado, mas após a queda tornou-se um ser moralmente imperfeito; é impossível para o mesmo o cumprimento da lei. O homem no seu estado de ignorância espiritual 15
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pensa ter a capacidade de poder se justificar diante de Deus pelas obras da lei, mas, com a revelação da verdade da Palavra de Deus, o homem tem o conhecimento que a salvação só pode ser obtida através da graça, por intermédio de Jesus Cristo: “Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.” (Jo 1.17). Só Jesus Cristo foi capaz de cumprir a lei: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir.” (Mt 5.17); e de agradar ao Pai: “E aquele que me enviou está comigo; o Pai não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada.” (Jo 8.29). Assim, agora Deus oferece ao homem a salvação, não como uma recompensa pelas boas obras, mas como um dom divino por meio da fé em Jesus Cristo. A lei moral é expressão da vontade de Deus. Para poder aplicar a lei aos Seus súditos na vida cotidiana, foi acrescentada a lei civil, que estabelece penalidades e instruções para a sua execução. Encontramos essas leis no livro do Êxodo (Êx 21-23). Elas tratam especialmente da proteção da vida humana e da propriedade. A lei civil era para regular o relacionamento com o próximo e a proteção dos bens. Aprendemos assim sobre a grandeza de Deus, que, sendo o Todo-Poderoso, se curva para julgar entre os homens a morte de um boi: “Se alguém der a seu próximo a guardar um jumento, ou boi, ou ovelha, ou algum animal, e morrer, ou for dilacerado, ou afugentado, ninguém o vendo, então haverá juramento do Senhor entre ambos, de que não meteu a sua mão na fazenda do seu próximo; e seu dono o aceitará, e o outro não o restituirá.” (Êxodo 22.10-11)
Ou ocupar-se com o vestuário de Suas criaturas: “Se tomares em penhor o vestido do teu próximo, lho restituirás antes do pôr do sol.” (Êx 22.26). 16
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Essas leis foram dadas ao homem para que ele tenha conhecimento do que é capaz de realizar. Por exemplo, quando a lei diz: “Não matarás.” (Êx 20.13), é porque o homem é capaz de matar o seu semelhante. Quando a lei diz: “Não furtarás.” (Êx 20.15), é porque o mesmo é capaz de furtar. Quando a lei diz: “Não adulterarás.” (Êx 20.14), é porque o homem é capaz de adulterar. Desse modo, aprendemos que a lei foi dada para que o homem tivesse conhecimento do pecado que ele pode praticar e o homem aprendeu que não é capaz de cumprir a lei de Deus, por causa do pecado que habita na carne. A lei foi dada ao povo de Israel para a situação social em que vivia. A lei não exigia que houvesse escravidão, mas, visto que existia, as leis regulamentares regeriam a manutenção das relações certas. Os princípios éticos da lei podem ser aplicados a qualquer tipo de sociedade. A lei não tem a capacidade de mudar a natureza humana, mas pode proteger a vida e a propriedade ao ditar as regras corretas de como o homem deve proceder para com o seu próximo. Mesmo sendo uma lei para o justo relacionamento entre a nação de Israel, temos em Êxodo 21.2-6 um texto que se cumpre na pessoa de Jesus Cristo, quando voluntariamente se oferece como servo (Fp 2.7). na passagem de Êxodo, o servo havia cumprido todas as exigências da lei, mas por amor abdicava de sua liberdade. A lei cerimonial é um conjunto de normas necessárias para a realização do culto judaico, que consistia de ofertas e sacrifícios, apresentados por um sacerdote, que serviam como base de adoração. Uma lei que dizia especificamente a adoração por parte de Israel ao Senhor (Lv 1.2). A Igreja não precisa se preocupar tanto com os detalhes dos sacrifícios, mas, sim, entender qual era o sentido dos sacrifícios e como eles apontam para Jesus Cristo e como foi cumprido nEle depois da Sua morte e ressurreição. Essas ordenanças dadas por Deus a Israel eram necessárias para a Sua pre17
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sença no arraial do povo israelita, mas a Igreja não precisa cumprir esse ritual, pois a lei é sombra dos bens futuros: “Porque, tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam.” (Hb 10.1). Todo o sistema cerimonial teve a sua utilidade e foi necessário à nação de Israel para que pudesse prestar o seu culto em adoração a Deus, mas, com a vinda de Jesus, a Igreja hoje apresenta a Deus um culto não com aparência externa, mas um culto com expressão que brota de um interior em completo quebrantamento e contrição, pois é o culto que agrada a Deus. Para que isso viesse a acontecer, Deus enviou o Seu Espírito para habitar e estar na Igreja (Jo 14.17). Todo o rito cerimonial era para que o culto tivesse a presença de Deus no arraial. Hoje a Igreja apresenta um culto a Deus em espírito e em verdade (Jo 4.23)
Objetivos da lei
Deus sempre alcança os Seus objetivos e os alcançou em dar a lei para Israel: “Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum; mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás.” (Rm 7.7). Se o homem não tivesse recebido a lei de Deus, certamente teria um conceito errado acerca do pecado e também de si mesmo. Também descansaria sobre os seus próprios pensamentos, nos seus sentimentos, ou na própria experiência, a respeito do que é certo ou do que é errado, de como agradar e servir a Deus. O homem nunca alcançaria a paz, pois o fundamento dessa paz seria o próprio conceito humano, que é frágil e oscilante, conforme as circunstâncias em que o homem se encontra. Karl Marx, filósofo, economista e cientista alemão, disse: “O ser humano é produto do meio”. 18
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A lei serviu para o homem aprender a sua impossibilidade em cumpri-la e aceitar o dom de Deus chamado “graça”. Agora Deus pode falar com Moisés da tenda (Lv 1.1), pois o chama para lhe dar as ordenanças e ritos que os sacerdotes teriam de cumprir com relação a si mesmos e também com relação às ofertas e os sacrifícios que seriam trazidos pelo povo até ao altar do Senhor. Essas normas também incluiriam a responsabilidade do povo em como se apresentar diante de Deus e como e quais as características dessas ofertas que seriam trazidas perante o Senhor. Assim Deus estaria no meio do Seu povo, que resgatou da escravidão do Egito para por eles ser adorado e também prover todas as bênçãos necessárias para o seu crescimento. A maior riqueza que Israel poderia possuir era a presença de Deus, pois Sua presença traz toda a felicidade que um povo pode desejar: “Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que ele escolheu para sua herança.” (Sl 33.12). Deus escolheu a nação de Israel para fazer dela uma propriedade peculiar, um reino sacerdotal, um povo santo (Êx 19.5-6). Ele escolheu Israel para ser um povo santo e habitar entre eles. Para que essa presença fosse constante, era necessário que Israel vivesse o padrão de santidade exigido por Deus: “Porque és povo santo ao Senhor, teu Deus, e o Senhor te escolheu, de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe seres o seu povo próprio.” (Dt 14.2). O ser humano em sua natureza caída procura mostrar uma aparência de piedade, mas o seu interior está completamente corrompido e a lei tem essa funcionalidade de mostrar o interior do homem, funcionando como um espelho que reflete o interior: “Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum; mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás.” (Rm 7.7). O apóstolo Paulo usa o último mandamento (a cobiça) no sentido de que é uma atitude interior diferente de matar, roubar e adulterar, que são atos refle19
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tidos externamente. Mas, cobiçar é uma atitude interior, que a lei revela estar no homem. A cobiça pode até ser disfarçada diante dos olhos humanos, mas não da lei de Deus. Jesus duramente combateu os escribas e fariseus, lhes chamando de hipócritas, pois ensinavam a lei, mas o seu interior estava cheio de iniquidade (Mt 23.25). Eles tinham um bonito discurso, mas a vida era completamente desordenada. Infelizmente, isso acontece nos nossos dias, nos quais prega-se um evangelho sem nenhum compromisso com a verdade que liberta o homem. A mensagem apresentada tem apenas estes objetivos: oferecer vantagens passageiras, levantar recursos por meios inescrupulosos e enganar os incautos e inconstantes. Assim como Jesus condenou os escribas e fariseus, do mesmo modo serão julgados os que assim fazem atualmente, se não se arrependerem de seus atos malignos. O homem após a queda passou a ter uma natureza independente de Deus. Isso o afastou de Deus e, de maneira completamente equivocada, ele tenta se aproximar de Deus pelos seus próprios meios. Isto aconteceu no jardim do Éden, quando cozeram folhas de árvore para se cobrir, mas descobriram que não podiam se aproximar de Deus e se esconderam. Hoje de maneira acentuada procuram apresentar ao homem que o mesmo tem condição de alcançar a salvação por seus méritos. A Reforma Protestante combateu esses erros da cristandade da época, mas o mal torna a repetir-se, com as vendas de apetrechos ou promessas, quando dizem que tais bugigangas têm o poder de trazer alguma bênção ou proteção para o seu possuidor. Urge que os homens de Deus com eloquência e voz veemente condenem tais práticas, que só afastam o homem da presença de Deus. Deus proveu as vestes para o casal no jardim do Éden e eles tiveram apenas que aceitar a oferta divina. Na cruz, Deus entregou o Seu Filho para morrer pela humanidade e ao homem cabe apenas aceitar a oferta de Deus pela fé. 20
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O apóstolo Paulo escreveu: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem.” (Rm 7.18). Quando afirma que não consegue realizar o bem, Paulo demonstra toda a incapacidade e fragilidade do homem diante da lei. Saber o que é correto, mas ser incapaz de realizar; triste sina. A lei me traz o que é correto, mas sou incapaz de alcançar. É correr sabendo que nunca vai alcançar o fim. É descobrir que o homem não pode controlar-se a si mesmo e, assim, torna-se escravo do pecado. Mesmo quando pensamos que estamos fazendo o que é correto o pecado continua presente (Rm 7.17). Jesus veio para trazer a libertação do pecado. Quem O aceita está livre da lei do pecado e da morte, porque onde há pecado o salário aplicado é a morte (Rm 6.23). O escritor aos Hebreus afirma que Jesus aniquilou o que tinha o império da morte (Hb 2.14), isto é, o diabo, quando morreu e ressuscitou, nos concedendo a liberdade: “E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão.” (Hb 2.15). Uma lei funciona até que outra lei mais forte entre em ação. Qualquer objeto lançado para cima, volta para a terra por causa da lei da gravidade, mas, se alguém estiver segurando, por exemplo, um copo, a lei da gravidade continua, mas o copo estará na mão da pessoa que o segura. Assim, a lei do Espírito de vida nos livrou (Rm 8.2), pois é mais forte do que a lei do pecado. Em Cristo passamos para uma esfera de existência completamente distinta, pois a lei do pecado e da morte não tem mais nenhuma jurisdição sobre aquele que se coloca debaixo da lei de Cristo, a lei do Espírito de vida. A lei só pode ser cumprida onde não existe pecado. Desde o momento em que um pecado é cometido, a morte do pecador é necessária para que o pecado seja expiado. O homem herdou a natureza pecaminosa de Adão. O salmista Davi se expressa dizendo: “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.” (Sl 51.5). 21
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O apóstolo Paulo doutrina a igreja em Roma ensinando que um homem pecou e o pecado passou a toda geração humana: “Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram.” (Rm 5.12). Sendo assim, o homem realizará o que a sua natureza caída sabe fazer, que é pecar. Logo, o homem é primeiro pecador e como pecador ele peca. Não é como ensinam as demais religiões: que o homem se torna pecador após cometer o primeiro pecado. Dessa forma, o homem passou a estar sob o reino da morte, que a Palavra de Deus bem define: “No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir.” (Rm 5.14). Quando Paulo afirma que a morte reinou desde Adão até Moisés, ele está afirmando que, enquanto o homem viveu debaixo das dispensações anteriores à dispensação da graça, ele estava debaixo do reino da morte. Hoje podemos ser transportados para o reino da vida pela fé na obra realizada por Jesus, pois Ele anulou o império da morte. Assim, somos transportados para o Reino de Cristo, pois outrora pertencíamos ao reino das potestades das trevas: “O qual nos tirou da potestade das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor.” (Cl 1.13). Com o novo nascimento, o homem passa a ter a natureza de Deus e os seus membros passam a ser como instrumentos de justiça (Rm 6.13).
A lei não pode conceder ao homem uma vida justa, pois ela só é útil para aquele que nunca pecou e para quem pecou ela não tem nenhuma solução. Porém, Jesus Cristo, vindo a este mundo, cumpriu a lei e nos trouxe a Sua graça, pela qual todo homem que a aceita é justificado diante de Deus. 22