Revista PODER | Edição 144

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ISSN 1982-9469

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R$ 19,50

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MAIO 2021 N.14 4

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PROPÓSITO, INCLUSÃO E ESPERANÇA

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O movimento que preserva, alimenta, regenera e faz o verde crescer

QUESTÃO DE QUÍMICA Resiliência na pandemia e a condução precisa de

FRANK GEYER ABUBAKIR

fazem a Unipar crescer e lembrar os tempos pioneiros da empresa DE PROPÓSITO

Os executivos e empreendedores que levam a sério o legado de seus negócios para a sociedade e para o planeta

VOZ PASSIVA

O senador TASSO JEREISSATI se afirma como liderança nacional, vira presidenciável e já é chamado de Biden brasileiro

NO ALVO

Ativista digital, PABLO LOBO cria soluções na área da saúde e faz o dinheiro chegar aonde tem de chegar em tempos de Covid-19

E MAIS

O estilo de CHAY SUEDE; ANA FONTES e o poder feminino, o design democrático de CHARLOTTE PERRIAND e os equipamentos para manter o treino motivado



Mãe,e a primeira palavra Política, economia negócios. A principal que a gente entende. fonte de informação Amore de mãe, o primeiro de grandes líderes formadores de opinião que a gente sente. sentimento em um novo site


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SUMÁRIO EDITORIAL COLUNA DA JOYCE DEU QUÍMICA

Crescimento notável na pandemia coroa a Unipar e seu chairman, Frank Geyer Abubakir 18

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OPINIÃO

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Como a pandemia está impactando a carreira de muitas mulheres? Por Liliane Rocha 23

MULHERES QUE AMAMOS

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PROPÓSITO COM PROPÓSITO

O que há de verdade na conversão de empresas e executivos ao mantra do século 21

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OPINIÃO

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EFEITO ZOOM

Videoconferência faz aumentar procura por produtos de beleza para homens

MULHER QUE APOIA MULHER

Um papo com Ana Fontes, uma das figuras mais reconhecidas no empreendedorismo brasileiro EDIÇÃO ESPECIAL

Os livros que têm feito a nossa cabeça em tempos de quarentena

Não é preciso ter sucesso para ser feliz, mas o oposto é fundamental. Por Maristela Mafei 29

ENSAIO

O estilo de Chay Suede, um dos melhores – e o mais belo – atores de sua geração

A coreógrafa alemã Pina Bausch e o conceito de dança-teatro 24

ESPECIAL VERDE

Como o agronegócio brasileiro quadruplicou a produção poupando terra para florescer e um movimento empresarial pela biodiversidade: Visão 2050

O CAMINHO DO MEIO

Assim como foi com Lula e Dilma, senador Tasso Jereissati se torna a referência da oposição ao presidente Jair Bolsonaro 22

ATIVISMO EM REDE

O ativista digital Pablo Lobo e a Viralcure, plataforma que reuniu R$ 32 milhões em arrecadação para o Hospital das Clínicas de SP

OPINIÃO

Os bastidores da briga de cachorro grande entre Pão de Açúcar e Casino. Por Ney Figueiredo 66

ELEGANTE, SOFISTICADO, DEMOCRÁTICO

O design para todos da francesa Charlotte Perriand

ALEXANDRE WON + alexandrewon.com.br BALMAIN + balmain.com PANERAI + panerai.com.br W. BUSCATTI + wbuscatti.com.br

FOTOS ROBERTO SETTON; PEDRO DIMITROW; GETTY IMAGES; REPRODUÇÃO

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PODER VIAJA SOB MEDIDA HIGH-TECH CULTURA INC. OPINIÃO

A realidade do futebolempresa no Brasil. Por Amir Somoggi 80

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PODER EDITORIAL

E

xperiência: não foi exatamente atrás dela que os brasileiros votaram nas duas últimas eleições. Além da vitória de Jair Bolsonaro, chegaram aos governos estaduais e aos parlamentos diversos novatos na política, muitos deles empurrados pelas mídias sociais. Mas o tempo parece pedir por experiência, e não somente na vida pública. Frank Geyer Abubakir, chairman da Unipar, mesmo aos 48 anos, viveu situações muito diferentes na condução da empresa fundada por seu bisavô ainda como refinaria de petróleo. A necessidade de capital intensivo, a competição especialmente agressiva, crises dentro da família, o acordo na Lava Jato, tudo isso acabou por criar um conhecimento valioso que orienta suas decisões à frente do board. Em Brasília, o senador do PSDB Tasso Jereissati há anos se destaca na oposição por sua capacidade de liderança, a boa entrada entre progressistas e conservadores e, claro, por sua experiência. E é um pouco dela que ele transmite em entrevista aos editores Dado Abreu e Paulo Vieira. Experiência é fundamental, até para entender a hora de mudar – ou abrir espaço para os mais jovens. Saber o que deixar como legado para todos os impactados por um negócio é um dos assuntos do momento e nossa reportagem mostra o que alguns brasileiros cheios de propósito estão fazendo nessa direção. Mas a experiência não é necessariamente inimiga da juventude – que o digam Pablo Lobo, que, aos 43 anos, vem criando modelos ousados de financiamento para o Hospital das Clínicas de São Paulo num dos momentos mais desafiadores da história da instituição, e Ana Fontes, uma das figuras mais importantes no empreendedorismo brasileiro que se transformou em uma espécie de Sebrae para mudar a vida de milhares de mulheres. Lá fora, a Cúpula do Clima convocada por Joe Biden colocou em evidência a necessidade de reduzir drasticamente as emissões globais de carbono, e o agro brasileiro tem algo a dizer sobre isso. É o que mostramos no especial Poder Verde, com reportagem apuradíssima explicando como a nossa produção agrícola quadruplicou nas últimas décadas poupando terra para florescer. E tem mais ingrediente no caldo verde: o que diz o Visão 2050, o movimento empresarial pela biodiversidade que oferece um roteiro para que os negócios façam frente às transformações de que o mundo necessita. Por aqui também temos o Ensaio de PODER com Chay Suede, um dos melhores – e o mais belo – atores de sua geração, a história do design democrático de Charlotte Perriand, o multifacetado Nelson Motta e suas predileções, a estreia da empreendedora Maristela Mafei em artigo sobre sucesso e felicidade, o novo projeto do fotógrafo João Wainer e muito mais. Ufa! Então, boa leitura. A experiência de PODER está só começando.

R E V I S TA P O D ER . U O L . C O M. BR


PRATA DA CASA

Uma das estratégias políticas ventiladas – em tom baixo, a bem da verdade – por alguns assessores do PT de olho em 2022 é convencer LULA a repetir o que Cristina Kirchner fez na Argentina. Presidente do país de 2007 até 2015, ela venceu a forte rejeição ao seu nome em 2019 sendo vice na chapa do atual presidente, Alberto Fernández. Por aqui, na eventual possibilidade, o ex-governador JAQUES WAGNER é visto no partido como uma boa alternativa para compor o quadro petista. A avaliação é a de que uma chapa puro sangue teria mais prós do que contras.

SOB CUIDADOS

AQUI SE FAZ...

O primeiro quadrimestre de 2021 deve fechar com um recorde de IPOs: caso todas as ofertas se concretizem, o período terminará com 29 novas companhias listadas e um volume de R$ 45,8 bilhões. Apesar do aquecimento, especialistas em investimentos afirmam que a bolsa e as empresas seguem com futuro ameaçado por incertezas diante dos riscos da pandemia e da dificuldade para a retomada da economia, o que deve diminuir o ritmo de novas empresas abrindo capital. Os sinais disso já podem ser sentidos: cerca de 20 companhias desistiram de realizar seus IPOs em 2021...

...AQUI SE PAGA

Aos 80 anos o ex-vicepresidente MARCO MACIEL venceu a Covid-19. Ele chegou a ser levado para o hospital DF Star após apresentar sintomas, mas se recuperou discretamente em casa, em Brasília, onde mora com sua mulher, Anna Maria. Marco Maciel sofre de Alzheimer desde 2014.

...Não é o caso da rede Pernambucanas. O plano de IPO havia sido temporariamente paralisado por causa da Covid-19, mas o apetite do mercado por papéis do setor de varejo animou a empresa que decidiu seguir em frente. Para conciliar os interesses dos dois grupos familiares que estão no comando – e protagonizam uma das mais acirradas disputas societárias de que se tem notícia no capitalismo brasileiro – foram chamados os advogados Renato Ochman e Francisco Müssnich. Eles vão desenhar a estrutura jurídica do negócio. A Olimpia Partners ficará responsável pela estrutura financeira.

NUVEM DE LÁGRIMAS

A escolha do senador RENAN CALHEIROS como relator da CPI da Covid foi um duro golpe para o presidente JAIR BOLSONARO. Se o perdão é a marca da grandeza, como dizia Juscelino Kubitschek, ele não faz parte da relação entre os dois. A mágoa vem da eleição para a presidência do Senado em 2019. Naquele ano, na véspera do pleito, Bolsonaro ligou para Renan confirmando o seu apoio na disputa contra Davi Alcolumbre, porém não foi o que aconteceu. O Planalto não apenas abraçou Alcolumbre como o próprio filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro votou contra Renan na eleição. Agora a conta chegou. E vem com juros: além do sentimento de traição, Renan Calheiros goza de boa amizade com o ex-presidente Lula.

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ESPORTE COLETIVO

LUIZA HELENA TRAJANO voltou a praticar exercícios. Ela tem feito isso duas

vezes por semana, às 6 da manhã, para tentar equilibrar a agenda agitada, mas confessa que embora esteja se sentindo melhor, não foi e nem será picada por aquele mosquitinho que faz a gente gostar de exercícios todos os dias. Ela, inclusive, já deixou claro: o que gosta mesmo de praticar é política coletiva. Luiza está gestando um projeto que trouxe do Japão, onde esteve em 2015 com a amiga, a empresária Chieko Aoki, baseado no planejamento estratégico do governo japonês. A partir de setembro pretende reunir uma força de trabalho com grandes nomes da sociedade civil para estruturar um programa de metas de médio e longo prazos, para o Brasil, em áreas chave como habitação, saúde, emprego e educação.

DUPLA JORNADA

FOTOS GETTY IMAGES; FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL; JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL; MARCELO CAMARGO/ AGÊNCIA BRASIL; VANESSA DE CARVALHO/FOLHAPRESS; BOB WOLFENSON; PATRICIA STAVIS/FOLHAPRESS; DIVULGAÇÃO

Com o agravamento da crise sanitária provocada pelo coronavírus, advogados de família responsáveis por sucessões e testamentos estão tendo trabalho redobrado. E agora muito mais do que no ano passado. Os muito ricos, grande parte deles pertencentes aos grupos de risco, estão preocupados com a situação e querendo rever seus testamentos.

A comunidade alternativa de São Francisco Xavier, paraíso hippie chic no interior de São Paulo, comemora a chegada do mais novo milionário – bilionário, no caso – do pedaço. Os comentários por lá garantem que a famosa e premiada Casa Grelha, projetada pelo FGMF Arquitetos e fincada em um terreno deslumbrante de 22 alqueires na Serra da Mantiqueira, acaba de passar para as mãos de PEDRO DE GODOY BUENO, herdeiro e presidente da Dasa, maior grupo de medicina diagnóstica do país. Estima-se que ele tenha desembolsado cerca de duas dezenas de milhões de reais pela propriedade.

CESTA NADA BÁSICA

São Paulo é a cidade mais cara do mundo para comprar alguns itens de luxo como joias, relógios, artigos de informática e bicicletas de última geração. É o que mostra o novo levantamento Global Wealth and Lifestyle Report. A pesquisa feita pelo banco suíço Julius Baer hierarquizou 25 cidades do planeta a partir dos preços de produtos e serviços de seu mercado de luxo e colocou a capital paulista na 21ª colocação do ranking geral. No pódio das cidades mais caras estão três asiáticas: Xangai, Tóquio e Hong Kong.

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A oposição produz a concórdia. Da discórdia surge a mais bela harmonia HERÁCLITO

3 PERGUNTAS PARA... O futurismo trabalha com olhar de horizontes futuros. Tem a curto prazo, de zero a cinco anos, pautado no comportamento das pessoas, e o futuro a longo prazo, de cinco a 50 anos, que é o tal do futurismo, pautado principalmente na tecnologia. A longo prazo, nós conseguimos prever como a tecnologia vai mudar a vida das pessoas, produtos, mercados, empresas, indústrias e o mundo. Ainda que muitas companhias olhem só o futuro para as pessoas, e outras só para a tecnologia, eu misturo os dois, traçando cenários possíveis a partir de evidências. Criamos cenários negativos, positivos e neutros, para que as empresas estejam preparadas para tudo que possa acontecer, porque futuro a gente não desenha, a gente especula.

Tudo estava previsto. Até a pandemia, por mais que não soubéssemos quando. No futuro do trabalho também: trabalho remoto, nomadismo digital. Não faz mais sentido as pessoas trabalharem das 9h às 18h, elas querem flexibilidade de horário, de lugar. Quando falamos de varejo, a mesma coisa, porque as lojas estão sendo ressignificadas para além da compra.

Um dos principais pontos é estarmos mais isolados, sozinhos, e teremos consequências em relação a isso. Outro é a saúde mental. Saímos de uma vida racional para entrar em um modelo mais emocional, isso tem a ver com as dores que estamos passando, com pessoas com altíssimo grau de

SEGUNDA ONDA

Você já ouviu falar em Yolo? O acrônimo para “You Only Live Once” (ou, em português, “Você só vive uma vez”) é uma tendência comportamental que está mexendo com os jovens nos Estados Unidos – e por aqui também, por que não? Embora nem todo mundo possa se dar ao luxo de pedir as contas, um número cada vez maior de pessoas insatisfeitas com os seus empregos tem trocado bons salários em busca de aventuras pós-pandêmicas e projetos pessoais. Do tipo: a pandemia mudou minhas prioridades e eu não quero mais viver assim. Yolo é o novo carpe diem.

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depressão, números de suicídio subindo. Outro fator interessante diz respeito aos rituais, perdemos muitos deles e deixamos de comemorar. Aniversários, Natal... Será que os rituais que fazíamos terão a mesma importância ou vamos dar lugar a novos? Ritual porque estou respirando, porque estou com saúde. E algo que já estava previsto e vai mudar é a vida nas cidades, com o êxodo urbano e as pessoas entrando em contato com a natureza. Se até pouco tempo luxo era ter tempo, agora luxo é ter tempo e espaço. Espaço para ver o céu, para respirar natureza.

FOTOS GETTY IMAGES; REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO; IGOR TRIPOLLI/TV GLOBO

, futurista e especialista em comportamento do consumidor formada no Transdiciplinary Innovation Program da Universidade de Jerusalém


FEMININO

Um estudo conduzido por psicólogos evolucionistas do Instituto de Psicologia da USP e da University of Auckland, na Nova Zelândia, mostrou porque países governados por mulheres tiveram respostas mais eficazes no combate à pandemia do que os liderados por homens. Segundo a pesquisa, as líderes de países como Alemanha, Nova Zelândia, Taiwan e Noruega reagiram de forma rápida e estiveram mais focadas em minimizar o sofrimento humano causado pelo vírus, implementando medidas restritivas, campanhas de orientação à população e foram mais empáticas em seus pronunciamentos, enquanto governantes masculinos se preocuparam mais em criar políticas que impactassem menos a atividade econômica.

ESTE MÊS A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO... DESCOBRIR as características e oportunidades que criam o grande líder segundo uma das headhunters mais prestigiadas do Brasil. O que Faz a Diferença? (ed. Cia das Letras), de Fátima Zorzato

BAIXAR as 11 ideias do Fronteiras do Pensamento para compreender o mundo atual, e-book gratuito com trechos das conferências de grandes autores como Mario Vargas Llosa, Zygmunt Bauman, Alain de Botton, entre outros

DESVENDAR a

OUVIR o mais recente EP de Ringo Starr. Em Zoom In o beatle contou com a ajuda de amigos como Paul McCartney, Ben Harper, Joe Walsh e Lenny Kravitz ACOMPANHAR o torneio de Roland-

maior fraude do mercado das artes no documentário Fake Art. Sobre a história de quadros falsificados que circularam na alta sociedade de Nova York no início dos anos 2000. Netflix CELEBRAR os 50 anos de carreira de Bob

Wolfenson com a publicação Desnorte, da Galeria Millan. Retratos, fotos de moda, polaroides, anotações fotográficas e outros temas da multifacetada trajetória do fotógrafo e artista DESCOBRIR os mistérios do

inconsciente no curso on-line Sonhar: Por Que e Para Quê?. Ministrado pelo neurocientista Sidarta Ribeiro no site da Casa do Saber

ESQUENTAR o clima olímpico a menos

de 100 dias dos Jogos de Tóquio com a 7ª temporada do podcast jornalístico 30 For 30, da ESPN. Heavy Medals revela detalhes de alguns dos momentos marcantes – para o bem e para o mal – das Olimpíadas ASSISTIR ao documentário Glória à Rainha, dirigido pelas cineastas Tatia Skhirtladze e Anna Khazaradze, que conta a história de quatro das maiores enxadristas do mundo, todas elas georgianas e contemporâneas PRATICAR a solideriedade através de apps como o Ribon e o Joyz que facilitam doações para instituições de caridade no Brasil e no mundo DESEJAR os novos modelos dos

óculos Persol inspirados no ator Steve McQueen – não à toa apelidado The King of Cool

Garros, o segundo Grand Slam da temporada de tênis. Rafael Nadal e Iga Swiatek defendem o título nas chaves de simples MARATONAR Os Filho de Sam. A série documental da Netflix aborda uma nova teoria sobre David Berkowitz, o famoso serial killer que chocou Nova York nos anos 1970 CONFERIR o especial Falas da Terra, no Globo Play. O programa mostra a riqueza cultural dos mais de 300 povos indígenas existentes no Brasil LER Correspondência Intelectual (ed.

Cia das Letras), uma seleção inédita de cartas deixadas pelo economista Celso Furtado, diálogo efervescente de ideias com outras figuras de proa como Antonio Candido, Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes

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ÁTOMO

DEU QUÍMICA

Pioneira da indústria petroquímica nacional, Unipar vive história de enredo romanesco, em nada a dever àquela protagonizada por seu próprio chairman e acionista, Frank Geyer, e multiplica seus ativos na pandemia POR PAULO VIEIRA

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FOTOS PICO GARCEZ

ocê não vê, mas nós estamos aí. O velho slogan da empresa Persico Pizzamiglio, que chegou a ser relevante na fabricação de tubos de aço no Brasil, poderia funcionar para a Unipar Carbocloro, a um dia refinaria de petróleo que hoje produz cloro, soda e PVC – este último ironicamente o material plástico, ou polímero, para ser mais preciso, que desbancou o aço dos encanamentos e ajudou a jogar uma pá de cal na Pizzamiglio. Com essas três commodities duras, digamos, a empresa teve uma performance histórica em 2020, o (primeiro) ano em que vivemos em perigo, a despeito de uma queda preocupante de pedidos de PVC no primeiro semestre do ano passado, quando a pandemia começou. No fim, 2020 representou para empresa um crescimento de 26,9% da receita bruta em relação a 2019, além de aumento de 5% de utilização de capacidade instalada nas operações de cloro e soda cáustica nas três unidades fabris da Unipar, Santo André e Cubatão, ambas em São Paulo, e Bahia Blanca, na Argentina. Essas informações até não fariam feio num relatório setorial da indústria pesada brasileira, mas soam um tanto extravagantes aqui. Notadamente porque tudo com o que lida a Unipar tem glamour tendendo a zero: para fazer o cloro e a soda, bastam água, sal e eletricidade para realizar a reação química, a eletrólise, dos componentes; no caso do PVC, entra ainda etileno, um hidrocarboneto extraído do petróleo. Trata-se de uma aula de cursinho de química básica em escala literalmente industrial.



No porta-retrato Alberto Soares de Sampaio, que fundou a Refinaria União e deu início à saga da Unipar, que tem agora o bisneto como chair

Mas as histórias da Unipar, fundada em 1969, e a de seus controladores são bem mais atraentes do que isso. Romanescas, pode-se dizer. Envolvem pioneirismo industrial, conflitos familiares, delação na Lava Jato, exílio voluntário, sócios que deixaram de se falar e recuperação econômica. Atual presidente do conselho, Frank Geyer Abubakir, de 48 anos, é bisneto de Alberto Soares de Sampaio, que fundou a Refinaria União (gênese da Unipar) e um condomínio de outras indústrias. Quando Alberto morreu, em 1977, havia 14 delas, segundo o jornal O Globo, que cobriu seu sepultamento. Ao tataravô de Frank, o engenheiro João Teixeira Soares, são creditados os projetos da ferrovia Vitória-Minas e o da arrojadíssima Curitiba-Paranaguá. Com essas credenciais familiares, não é difícil imaginar o peso herdado por Frank ao começar sua caminhada na Unipar, que desde sua pré-história, nos tempos da Refinaria União, em 1951, já tinha capital aberto na bolsa. É apenas depois da morte de seu avô, Paulo Geyer, genro e sócio de Alberto na União, no fim de 2004, que Frank passa a deter uma cadeira no conselho, representando o grupo dos herdeiros, inicialmente como vice-presidente do board. Em 2008, ele se torna chairman e conduz a empresa na direção

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de uma virada dramática, que mudaria também sua própria vida: a fusão com a Petrobras para dar luz à Quattor, a segunda maior petroquímica da América Latina. Num evento pomposo de lançamento da Quattor no MAM Rio, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, abrilhantado por figuras que futuramente saíram de cena como o então governador fluminense Sérgio Cabral e o diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, Frank justificou a aposta na empresa nascente, uma das 20 maiores do Brasil à época, como “um processo necessário de sobrevivência”. Embora dez entre dez empresários brasileiros sejam eloquentes na defesa do livre mercado,

CAPELA SISTINA DO COSME VELHO

Aos pés do Cristo Redentor e tendo como vizinha a residência carioca onde Roberto Marinho recebia conconvidados para discutir os próximos passos do país, a cacasa Geyer, de terreno de 14 mil metros quadrados, é um lugar onde muita gente gostaria de passar alguns anos de sua vida. Frank Geyer viveu ali por cerca de dez anos, com seus avós Paulo e Maria Cecília e a mãe, Cecília. Além deles, a casa era ocupada por uma coleção de mais de 4 mil pinturas, boa parte delas retratando o Rio de Janeiro e o Brasil do século 19, feitas por artistas euroeuropeus que vieram aos trópicos nas missões artísticas e científicas da época imperial, como Rugendas, Taunay e Ender. Tratava-se, aliás, do mais importante conjunto iconográfico do Brasil do século 19 em mãos particulaparticulares. Todo o acervo, além da própria casa, foram então doados para o Museu Imperial, de Petrópolis, em 2014, cumprindo desejo verbalizado ainda em 1999 por Paulo e Maria Cecília. Em 2022, o público finalmente vai poder conhecê-la. O lugar, apelidado de Capela Sistina, tem quadros pendurados no teto, daí à lembrança da capela do Vaticano, e para contemplá-los é preciso olhar para cima. Há uma disputa judicial com o museu em torno de algumas peças do acervo, que Maria Cecília considerava de interesse exclusivamente privado, mas que o diretor do Museu Imperial, Maurício Vicente Ferreira, discorda em alguns casos, como uma valiosa vista do Botafogo, por Thomas Ender.


o instinto de sobrevivência costuma falar alto – e o discurso pode passar então a não necessariamente corresponder aos fatos. Daí que a palavra “sobrevivência” usada por Frank no MAM foi bastante adequada. Tratou-se, talvez, de uma demonstração cabal, quem sabe excessiva, de sinceridade. Ainda que minoritária na Quattor, a sócia Petrobras era monstruosa, e voltava a mostrar seu apetite por um bom naco da indústria química. Na verdade, esse setor, como vários outros, só pode se desenvolver com aporte estatal, dada a necessidade de capital intensivo, e no caso brasileiro foi dominado pela Petroquisa, cujo controle acabaria sendo diluído com o Plano Nacional de Desestatização do governo Itamar Franco, nos anos 1990. Enfim, sete anos e alguns meses depois do evento no MAM, Frank contava em delação premiada aos promotores do Ministério Público Federal lotados na Operação Lava Jato que havia acertado a venda da Quattor para a rival Braskem, empresa controlada pela Odebrecht, mas com 47% das ações preferenciais (com direito a voto) nas mãos da Petrobras, um negócio que envolvia pagamento de propinas a dois deputados federais do PP, um já falecido e outro que chegou a ser ministro de Dilma. Além disso, a Braskem transferia, por intermédio de uma instituição de Andorra, R$ 150 milhões para uma conta bancária na Suíça. Um terço disso ficaria com o próprio Frank. Em entrevista por videoconferência, Frank disse a PODER que a situação à época foi “muito obscura”, de “muita pressão e medo”, e hoje até lê com simpatia o título de uma reportagem que o chama de “sócio enrolado” da Petrobras, avaliando o adjetivo agora como “positivo”, como que a atribuir a ele e aos demais acionistas da família na Quattor uma estranheza aquele mundo. “Não era o nosso ambiente.” OLHO DO FURACÃO Para seguir adiante, os políticos costumam ignorar o que fizeram ou deixaram de fazer no dia anterior, mas com a classe empresarial pode não ser assim. Ter vivido o olho do furacão trouxe dificuldades imediatas para Frank, que preferiu se distanciar do controle da Unipar enquanto colaborava com a Lava Jato. Foi quando entrou em cena outro protagonista na história da Unipar, Pércio de Souza, o engenheiro paranaense que com sua Estáter se especializou em M&A, a sigla em inglês para fusões e aquisições,

Não era hora de ter a conta de lucro como principal, era a de enfrentar uma crise seriíssima. Seguir princípios vale a pena responsável por acordos dificílimos como os que envolveram o Pão de Açúcar (com Casas Bahia e com o grupo francês Casino), o grupo Ultra, e a própria Unipar, quando da aquisição dos restantes 50% das ações da Carbocloro junto à americana Occidental Petroleum Corp, sócia da brasileira desde os anos 1960. Pércio recebeu de Frank o controle do dia a dia da Unipar e pode celebrar, por US$ 202 mi, a aquisição que multiplicaria o faturamento da companhia, o controle de 100% da operação argentina da belga PODER JOYCE PASCOWITCH 13


Solvay. Tempos depois, Pércio acabou por ser excluído da gestão da Unipar por meio de um dispositivo contratual. Mesmo tendo enfrentado uma perda significativa de pedidos nos primeiros meses da pandemia, a Unipar não recorreu às demissões. Embora a soda cáustica e o cloro, usados para limpeza e purificação de sistemas de abastecimento de água, não tivessem sofrido qualquer impacto, os pedidos de PVC – o policloreto de vinila – pararam. E esse composto (ou polímero, uma cadeia de monômeros, em química) tem 57% de cloro. “Fiquei algumas noites sem dormir, pois havia uma superdemanda para soda e cloro e nenhuma para PVC. Tinha estoques lotados, mas não era hora de ter a conta de lucro como principal, ali era o momento de enfrentar uma crise seríssima. Não é querer ser bonzinho, mas dizer que seguir princípios vale a pena”, diz o chairman. Diferentemente do setor de tecnologia ou de consumo, a competição na indústria química não se distingue por criação de produtos, agregação de valor ou sacadas de gestão, mas por confiabilidade – que se traduz por entregas nas quantidades e prazos estipulados – e no rigor dos processos produtivos. Por isso, seria mesmo complicado, nas palavras de Frank, “cair em tentação” e eventualmente adotar uma estratégia de downsizing. Foi então com “paciência e seriedade” que a Unipar conseguiu atravessar o cabo tormentoso. Também ajudou, e muito, a deterioração da moeda brasileira, o que torna o PVC da Unipar competitivo mesmo diante do grande concorrente chinês que, segundo Frank, é produzido a partir de uma matriz energética suja, o carvão. NARRATIVA O Brasil sob Jair Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, manifesta dúvida sobre o aquecimento global, e os exportadores daqui vêm sendo cobrados lá fora por práticas ambientalmente corretas. Estrategicamente, para Frank, isso não muda muito as coisas, já que as commodities com que trabalha a Unipar são vendidas na América do Sul, onde são produzidas. De qualquer maneira, ele informa que as regras ambientais brasileiras são severas e levadas a sério, ao passo que o modelo “extremamente poluente” chinês, mais barato, é desleal com quem adota princípios de sustentabilidade. Para Frank, acredita-se na “narrativa” da propalada

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transformação verde chinesa. “Uma coisa é dizer que em 2060 você vai produzir com [emissão de] carbono zero, outra é saber o que a gente [no Brasil] faz nesses 40 anos até lá. Vamos perder indústrias?” Entre as metas divulgadas pelas autoridades chinesas para seu “green deal” particular está o uso maior de energia limpa, que subiria de 15,9% de 2020 para 20% em 2025. Talvez seja uma ambição realmente modesta para um país hoje responsável por 27,9% das emissões de dióxido de carbono (CO 2) mundiais – os Estados Unidos contribuem com 14,5% e o Brasil, com 3%, segundo as principais estimativas. CLIMA POSITIVO A Unipar adotou um slogan simpático – é a empresa que “faz a química acontecer” – e em seu segmento o controle estrito de segurança é fundamental não apenas para evitar acidentes ambientais como para manter a saúde financeira do negócio, que é muito suscetível a esses eventos. O gráfico recente da cotação das ações da Unipar na B3 é francamente positivo, com o papel triplicando de valor desde o momento mais crítico da pandemia, em março de 2020. Isso de alguma forma está refletido na carta aos investidores que celebra a “estratégia de crescimento” que teria levado aos bons resultados de 2020, estratégia que se alicerça, segundo o documento, por exemplo, em “pessoas” e “sustentabilidade”. Fala-se ali em “clima positivo”, “orgulho de pertencer à empresa” e “aumento de investimento em desenvolvimento profissional” mesmo “em período tão adverso”. O clima positivo estaria dado por alguns fatores que Frank sintetiza numa frase dita ao repórter em inglês: “It’s about money, but not just about money” [É sobre dinheiro, mas não só]. “Há a previsibilidade, há gratificações além do plano econômico, o ambiente agradável que é a nossa reserva de floresta”, diz. Segundo Frank, a população de Cubatão, onde está uma das fábricas, deseja trabalhar na Unipar. “A indústria petroquímica brasileira tem um nível de remuneração alto, e eu vejo que minha turma tem qualidade de vida, às vezes acompanho até pelo Instagram deles. Temos aqui limites de segurança, de carga horária, não se trata do tempo da Revolução Industrial”. O que não há ainda é diversidade, ao menos nos níveis diretivos. Dizendo que a Unipar reconhece a competência – o que Frank considera “justo” –, não há ações afirmativas entre


Uma coisa é dizer que em 2060 você produz com carbono zero, outra, o que a gente faz. Vamos perder indústrias? as políticas de recrutamento. Não se veem mulheres, por exemplo, no conselho administrativo. Curiosamente, a avó de Frank, Maria Cecília, foi chairwoman da Unipar e mereceu uma homenagem do neto no último Dia Internacional da Mulher. Em seu Instagram, Frank anotou: “Muito orgulho de estar sentado na cadeira que ela ocupou no conselho – aliás, acho que durante alguns anos estive em um dos boards mais femininos de que eu já tive notícia!”. A química não para de acontecer na Unipar, mas alguns processos podem ser mais lentos do que outros. n PODER JOYCE PASCOWITCH 15


VIDAS NO

CENTRO

Projeto no centro de São Paulo conta com cinco estações de banho, sanitários e lavanderia para uso gratuito da população em vulnerabilidade social 16 PODER JOYCE PASCOWITCH

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no passado, ainda no início da pandemia, a prefeitura de São Paulo, por meio das secretarias municipais de Turismo e de Assistência e Desenvolvimento Social, lançou a ação Vidas no Centro. Com intuito de proporcionar condições básicas de higiene pessoal aos cidadãos em situação de vulnerabilidade social

na região central e combater a proliferação do coronavírus, cinco estações foram montadas com cabines de banho, sanitários e lavanderia, sem qualquer custo aos usuários. A produção e infraestrutura é da São Paulo Turismo (SPTuris), que trouxe sua expertise de grandes eventos com uma equipe diversificada para o atendimento ao público – são mais de 200 profissionais co-


FOTOS DANIELA BERZUINI/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

FLUXO DE A T

mo agentes de limpeza, bombeiros, seguranças, agentes de manutenção, coordenadores e produtores – em esquema de revezamento para que esteja tudo em plena atividade durante 12 horas diárias, das 7h às 19h. A ação é inédita e marca o avanço no que se refere a políticas públicas no Brasil. São três superestações, localizadas na Praça da Sé, Praça da República e Praça Cívica Ulisses Guimarães (Parque D. Pedro II), com capacidade de atendimento para até 3 mil pessoas por dia; duas estações padrão no Largo do Paissandu e Praça Ouvidor Pacheco e Silva, para atender 1.500 pessoas por dia; e outras duas estações de sanitários, sem banho, no Pateo do Collegio e Largo General Osório. Segundo a pesquisa censitária da população em situação de rua realizada em 2019, há 24.344 pessoas nessa condição na cidade, sendo a maior concentração e circulação na região central, abrangida pela Subprefeitura da Sé. Especificamente, essa área soma 11.048 pessoas em situação de rua, sendo 3.455 delas acolhidas e 7.593 vivendo nas ruas.

ENDIMENTO 1. Ao chegar : em uma esta ção do Vidas Centro, o usuá no rio aguarda o atendimento uma fila exte em rna, com dist an ci amento social 2. Em sua ve ; z, é convidad o a entrar e passar por um a triagem, na qual inform o seu nome, a o tipo de at endimento qu necessita (b e anho, sanitá rio, lavander ia) e recebe uma id en ti ficação; 3. O usuário guarda seus objetos pess um armário nu oais em merado e rece be um kit banh (sabonete líq o uido, xampu e toalha higien zada) e ou pa ipel higiênico, podendo assi utilizar todas m as instalaçõe s da estação; 4. Após a utili zação, os boxe s/sanitários/m quinas de lava ár e secar são higienizados.

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XADREZ

O

retorno de Lula ao tabuleiro político, com a anulação da sentença que o tornou fichasuja no Supremo Tribunal Federal esquentou as discussões nos partidos que querem uma terceira via à provável polarização entre PT e o presidente Jair Bolsonaro. Neste contexto, o senador e ex-governador Tasso Jereissati (PSDB-CE), voz ativa há tempos na oposição, despontou como um possível nome de centro – enquanto a concorrência não veste a carapuça – nas eleições presidenciais em 2022. “Devemos nos concentrar no candidato que tenha as melhores chances de ganhar e que seja um bom presidente para o país”, afirmou ele, que vem sendo chamado pelos colegas de “Biden brasileiro” em referência ao presidente americano e à idade avançada. Contrário à abertura, neste momento, de processo de impeachment contra o presidente Bolsonaro, para ele o principal responsável pela maior tragédia da história do Brasil, Jereissati não descarta tal possibilidade, mas advoga em favor da CPI da Covid-19 como forma de mostrar os desmandos do Executivo, ao menos na condução da crise sanitária. Nesta entrevista, concedida a PODER por videoconferência, o senador tucano fala sobre antagonismos em períodos extremos, analisa as possibilidades eleitorais, reconhece os erros do PSDB e repudia os saudosos da ditadura. “Achei que isso tinha morrido no Brasil.”

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Incentivado a entrar na disputa em 2022, senador Tasso Jereissati ganha apelido de “Biden brasileiro” na construção de uma terceira via frente a polarização entre esquerda e direita POR DADO ABREU E PAULO VIEIRA



“As redes sociais trouxeram à tona algo que não tinha aparecido no Brasil, o extremismo de direta”

considero que tenha sido um ferrenho opositor, pelo contrário. Em alguns pontos nós discordávamos, mas principalmente na política econômica tivemos uma atuação de apoio, sobretudo na época em que o [Antonio] Palocci era o ministro da Fazenda e tinha como seu formulador de política econômica o Marcos Lisboa. Como oposição, acho que contribuí bastante para o governo naquele momento. E devo dizer que foi um bom primeiro governo. A nossa diferença coincidiu com a queda do Palocci, à medida que uma série de escândalos foram aparecendo e ele foi trocado pelo Guido Mantega. Daí veio o mensalão e a distância foi só aumentando, gradativamente, até que no governo Dilma nossas posições já eram totalmente opostas. Não apenas por uma condução econômica desastrosa, mas também toda uma cadeia de corrupção montada. PODER: E COM RELAÇÃO AO GOVERNO BOLSONARO? TJ: Hoje é um momento de diferença quase integral. Particu-

larmente não tinha expectativas neste governo, o Bolsonaro que nós acompanhávamos como deputado, com seu comportamento e suas opiniões, se confirmou como presidente e tornou-se um dos governos mais desastrosos da história

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do Brasil, em todos os sentidos. Fui do PSDB a minha vida inteira e sempre me dei bem com as maiores lideranças do PT. Discordávamos, discutíamos, mas nunca nasceu ódio. Já hoje vemos essa questão com as redes sociais, e o ódio dos extremos se manifestando através delas. PODER: O SENHOR ERA CONTRA O IMPEACHMENT DE BOLSONARO. MUDOU DE OPINIÃO? TJ: Continuo contra o impeachment, mas receio que isso

possa não ser descartado. Se ele [Bolsonaro] continuar radicalizando, atrapalhando, além de não fazer nada, aí não terá como. Mas eu espero não chegar lá.

PODER: O SENADO TEM TIDO PAPEL DE PROTAGONISTA NO COMBATE À PANDEMIA, ARTICULANDO COM GOVERNADORES, FORMANDO COMITÊ. QUAL A SUA AVALIAÇÃO SOBRE ISSO? TJ: Com Bolsonaro na Presidência não virá nada do Executi-

vo. E se não vem nada do Executivo, que evidentemente era de se esperar que fosse o responsável por uma grande coordenação nacional, como é no mundo inteiro, então há uma legítima tentativa dos presidentes da Câmara e do Senado, especialmente do presidente Rodrigo Pacheco, de ocupar esse espaço. Contudo, tenho pouca esperança de que isso dê resultado, porque é uma construção esquisita do quadro institucional, não vejo como o Congresso instituir um abrangente plano de combate à pandemia sem uma participação concreta do Executivo. Seria algo excepcional.

FOTO MOREIRA MARIZ/AGÊNCIA SENADO

PODER: ASSIM COMO OCORREU NOS GOVERNOS LULA E DILMA, O SENHOR É HOJE REFERÊNCIA DA OPOSIÇÃO NO SENADO. QUAL A DIFERENÇA EM SER ANTAGONISTA AO PT E ATUALMENTE COM BOLSONARO? TASSO JEREISSATI: Nos dois primeiros anos do Lula eu não


PODER: O QUE PODEMOS ESPERAR DA CPI? TJ: Não temos tempo a perder, cada dia que passa são 3 mil

óbitos, 4 mil óbitos. Precisamos de uma atitude de controle e a CPI vem não apenas para apurar os culpados, mas também para controlar as medidas do Executivo, do presidente principalmente, que por vezes parece estar fora de controle. Cito também o exemplo do ex-ministro [Eduardo] Pazuello, que em março, em audiência no Senado, falou em 40 milhões de doses de vacina quando nós tivemos algo em torno de 22 milhões. Ele estava claramente mentindo, cada hora falando uma coisa. Em uma CPI você não mente e tudo bem. Você está sob juramento, se mentir terá sanções sérias, pode até ser preso. E também não vai como convidado, é obrigado. Por isso, acredito que a CPI muda o controle que nós temos, não só sobre o presidente como dos seus ministros.

PODER: BOLSONARO TEM SE COLOCADO COMO CANDIDATO À REELEIÇÃO E LULA RETOMOU OS DIREITOS POLÍTICOS. O QUE FALTA PARA O CENTRO DEFINIR SEU CANDIDATO? TJ: Primeiro é preciso decidir o projeto de centro. O que os

presidenciáveis planejam e quais os pontos que podem os unir. Com certeza enfrentar os extremismos, tanto de direita quanto de esquerda, será um desses pontos. E o que mais? O que se propõe que seja diferente desses extremos? Isso ainda está começando a ser costurado. PODER: DE OLHO EM UMA FRENTE AMPLA O PSDB ABRIRIA MÃO DE TER UM CANDIDATO? TJ: Eu não posso falar pelo PSDB, mas minha opinião é que

devemos encontrar um candidato que tenha as melhores chances de ganhar e que seja um bom presidente para o país. E aí quem quer ser apoiado tem que se propor a apoiar quando se vai para uma negociação. Quando defendo uma união, não acho que deva ser só dentro do PSDB. Está na hora de pensar, pelo menos, em um governo de transição, que volte para a normalidade da vida partidária brasileira.

PODER: DESDE A DERROTA DE AÉCIO NEVES NA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 2014 O PSDB DEIXOU DE SER PROTAGONISTA NO CENÁRIO POLÍTICO. TER CONTESTADO AQUELA VOTAÇÃO FOI UM ERRO? TJ: Sim. Acredito que começamos a errar a partir daquele

momento, quando passamos a fazer o que a nossa oposição fazia, desafiando as instituições. Temos que reconhecer, e vieram uma série de erros depois disso. O que eu tenho tentado fazer agora é um mea-culpa e retomar nossos princípios e nossas origens.

PODER: QUAL O IMPACTO POLÍTICO DO RETORNO DO EX-PRESIDENTE LULA AO JOGO? TJ: É uma grande liderança de esquerda, já foi presidente du-

as vezes. Teve um primeiro governo bom e um segundo go-

verno ruim. A meu ver, fortalece o PT, e apesar do tom do discurso atual, acho que fortalece uma esquerda mais moderada. PODER: SEU ESTADO, O CEARÁ, É UM DOS POUCOS NO BRASIL COM UMA POLÍTICA EDUCACIONAL, DIGAMOS, BEM-SUCEDIDA. TE PREOCUPA O LEGADO DESSA PANDEMIA, COM RELAÇÃO AO DÉFICIT EDUCACIONAL E A DISCREPÂNCIA ENTRE QUEM PODE E QUEM NÃO PODE ESTUDAR A DISTÂNCIA? TJ: Tem um problema mais profundo que decorre das

nossas desigualdades sociais. Essas discrepâncias já existiam e evidentemente com a pandemia tendem a aumentar. Mas é um ciclo vicioso, porque a discrepância começa não só com renda, mas também com educação. Outro ponto que não podemos esquecer é que não tivemos nenhum ministro da Educação, neste governo, que se impôs, que trouxe uma proposta clara para educação pública. Não nos esqueçamos que até pouco tempo era o desastrado do Abraham Weintraub. Estamos vivendo com esse governo um desastre em todos os setores, com raras e honrosas exceções como a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. PODER: O SENHOR É UM DOS POUCOS REPRESENTANTES NO CONGRESSO DA SUA GERAÇÃO. O PRÓPRIO PRESIDENTE DO SENADO, RODRIGO PACHECO, TEM POUCO MAIS DE SETE ANOS DE VIDA PÚBLICA. MUDOU MUITO A FORMA DE FAZER POLÍTICA? TJ: Mudou, estamos vivendo um período de retrocesso

com a destruição da vida partidária. Veja o que aconteceu nas eleições na Câmara e no Senado. Foi uma captura de votos individual, passando por cima de partidos, sem negociação, uma trituração partidária. Não existe um parlamento democrático sem partidos que tenham e defendam os seus programas, as suas ideologias. A consequência é essa bagunça, com uma crise a cada dois anos. Por isso, no extremo, advogo pelo parlamentarismo. Dentro das condições brasileiras, com reforma eleitoral e política.

PODER: DESDE A ELEIÇÃO DE DONALD TRUMP NÓS VIMOS UM NOVO MODO DE FAZER POLÍTICA EM QUE OS FINS JUSTIFICAM CADA VEZ MAIS OS MEIOS. MÁQUINAS DE ÓDIO, FAKE NEWS. COMO LIDAR COM ESSE NOVO MODO? TJ: As redes sociais são um fenômeno novo. Elas se trans-

formaram em uma linha de transmissão de ódio e intolerância e, no Brasil, trouxe à tona algo que não tinha aparecido com tanta clareza, o extremismo de direita. Depois do período militar isso parecia algo morto, mas agora vemos essa saudade da ditadura, inclusive de membros do governo e dos próprios filhos do presidente. Pensei que no Brasil isso não existia mais. n PODER JOYCE PASCOWITCH 21


COMO A PANDEMIA ESTÁ IMPACTANDO A SUA CARREIRA? POR LILIANE ROCHA

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resposta para essa pergunta irá variar se você for homem ou mulher. Segundo o estudo “Mercado de Trabalho e Pandemia da Covid-19: Ampliação de Desigualdades Já Existentes?” realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a participação de mulheres no mercado de trabalho caiu 50% durante a pandemia, voltando aos patamares observados em 1990. Mas por que em plena crise pandêmica notamos um retrocesso específico para alguns grupos sociais? Muito se tem falado sobre ESG, que refere-se à perenidade empre-

sarial e que tem movimentado e engajado empresas e seus executivos a compreenderem como questões ambientais, sociais e de diversidade devem ser, para além do atendimento de uma demanda urgente da sociedade brasileira por mais justiça social, também uma forma estratégica de pensar e fazer negócios. Recentemente, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a International Financial Corporation (IFC) e a bolsa de valores oficial do Brasil, B3, lançaram uma carta aberta com a finalidade de promover a ampliação da representatividade de diversidade nos conselhos de administração. A carta enviada para investidores, tomadores de decisão e conselheiros fala, entre outros assuntos, sobre a importância das empresas considerarem a equidade de gênero e, portanto, a inclusão das mulheres em todos os níveis hierárquicos, inclusive nos mais altos. Esse documento aberto e público reforçou que apenas 11,5% das posições de conselhos administrativos são ocupadas por mulheres. Ou seja, parece que vivemos em dois contextos distintos de sociedade. Em um deles está um empresariado de vanguarda que impulsiona a sociedade para frente, falando sobre a importância da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Em outro, ao analisarmos os impactos da pandemia, notamos que as mulheres seguem sendo as mais afetadas pelo desemprego – o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) reforçou esse ponto ao mostrar que, com ou sem filhos, o nível da ocupação dos homens é maior do

que o das mulheres; e das mulheres brancas, superior ao das mulheres negras. Então, o que causa esse cenário? Temos algumas indicações que vão desde os vieses inconscientes de gênero até a grande diferença de responsabilização persistente das mulheres em tarefas domésticas, afinal o estudo do IBGE mostra que, em 2019, as mulheres dedicaram, em média, 21,4 horas semanais aos cuidados de familiares e afazeres domésticos contra 11 horas dos homens. O mais importante aqui é sabermos que, para não aumentar esse abismo, é preciso realizar ações focadas e coordenadas para a equidade de gênero, seja no poder público ou nas empresas privadas. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) nos trouxe outro dado muito importante que merece análise: no ano passado foram criadas 317,8 mil vagas de emprego, sendo 230,3 mil destinadas ao público masculino e 87,6 mil para o público feminino. Quando falamos de governança e ESG é justamente essa conversa que estamos trazendo para o centro das discussões empresariais. Nos processos de demissão, será que há um viés ou tendência a demitir mais mulheres do que homens? E quando contratamos, quais são os caminhos da tomada de decisão? A pandemia nos coloca de frente com o dilema de quais padrões civilizatórios queremos seguir haja o que houver. Queremos, como diria Cazuza, ver o futuro repetir o passado em um museu de grandes novidades ou seguir adiante na marcha civilizatória? n Liliane Rocha é CEO e fundadora da Gestão Kairós e autora de Como Ser um Líder Inclusivo. Foi eleita por três anos consecutivos como uma das 101 lideranças globais de diversidade pelo World HRD Congress

ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES

OPINIÃO


MULHERES QUE AMAMOS

FOTO GETTY IMAGES

PINA BAUSCH

Quem pôde conviver com Pina Bausch diz que a coreógrafa alemã era de poucas palavras – os movimentos falavam por ela. Em seus espetáculos, conseguia expressar sentimentos universais em coreografias criadas a partir de suas memórias e das de seus bailarinos. Em 1973, fundou a companhia Tanztheater Wuppertal e reinventou o conceito de dança-teatro em apresentações que eliminavam a distinção entre os dois campos da arte, mostrando que o mais cotidiano dos gestos pode ser tão artificial quanto o de uma apresentação cênica. “Sempre percebi a Pina como alguém muito peculiar, que flutuava num outro tempo, num outro ritmo”, disse em uma entrevista a bailarina brasileira Morena Nascimento, da Tanztheater Wuppertal de 2007 a 2010. E esse tempo, esse ritmo, continuam flutuando nas coreografias de Pina mesmo depois de sua morte, em 2009, cinco dias após a descoberta de um câncer.


ZEITGEIST

PROPÓSITO COM Há mesmo verdade na conversão de empresas e executivos ao mantra do século 21? Para alguns profissionais, não resta dúvida

FOTO FREEPIK

POR PAULO VIEIRA


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e houvesse um dicionário com vocábulos do mundo corporativo do século 21, ele poderia ter apenas cinco entradas – legado, propósito, stakeholder, diversidade e, correndo por fora, equidade. Falar de lucro e competição parece ter virado algo bastante démodé, quando não francamente desagradável, embora sejam esses desde sempre os motores do sistema capitalista em que o mundo segue inserido. Assim, uma pergunta se impõe: quanto de verdade há no anúncio de que uma empresa ou um profissional age com propósito?

uma mancha considerável na reputação da empresa – o que não impediu, contudo, que a montadora celebrasse em 2017 um recorde mundial de vendas. Em 2018, a Volks lançou um programa global de “mudança cultural”, o Together4Integrity, visando criar uma cultura de “sempre agir com integridade e auxiliar na disseminação, compreensão, importância e eficácia deste tema [integridade]” entre os colaboradores da empresa. Mas talvez o caso da montadora seja incomum, a julgar pela maneira como a produtividade geral de uma companhia é impactada pelo propósito. No livro Felicidade S.A., o autor,

Certamente havia menos interesse na saúde dos consumidores e das pessoas impactadas pela poluição dos carros do que nos resultados quando a Volkswagen decidiu desenvolver um software capaz de “perceber” o momento exato em que seus modelos passam por testes de emissão. Nessa hora, e só nessa hora, carros como o Amarok e mesmo o New Beetle poderiam emitir gases em níveis adequados para não tomar pau da vigilância ambiental. Descoberto em 2015, o escândalo apelidado de “dieselgate” custou US$ 30 bi de prejuízos à Volks somente nos Estados Unidos, prisão de executivos e

o jornalista especializado Alexandre Teixeira, apresenta dados que sustentam que o custo de uma certa “crise de desengajamento” nas empresas americanas já significou perdas de performance equivalentes a US$ 300 bi anuais. Para o ex-CEO da Nextel e hoje coach Sérgio Chaia, o tema vem ficando “evidente” nas preocupações dos executivos, tanto porque “pessoas com propósito claro são mais felizes e mais engajadas


‘‘Agora é muito menos o ‘eu mando, você obedece’. O líder de hoje faz o time pensar a construção do negócio, não simplesmente executar uma determinada tarefa” Paulo Sérgio Silva, RockOn Advisors no trabalho e, portanto, têm melhor performance”, como pelo fato de que “pensar nisso é uma espécie de inclinação natural em certo momento da carreira do CEO”. “Ele entra numa fase da vida que já conquistou muita coisa, está bem estabelecido, tem reconhecimento, então começa a pensar no próximo passo, no fechamento de ciclo”, disse Chaia a PODER. O consultor, que hoje sugere esse passo a seus clientes, revela que aqueles a quem assessora nesses ganhos de capital “intelectual e espiritual” têm de 42 a 52 anos, faixa de idade em que um profissional entende que dificilmente vai se “perenizar como CEO”. De 2014 a 2018, o consultor e membro de conselhos Paulo Sérgio Silva, o Paulão, foi CEO da Walmart.com do Brasil, cabendo a ele implantar a estratégia digital do gigante do varejo e fazer a integração também com a seção off-line. Pioneiro da internet no país no site Terra, ele diz que, “por decisão pessoal”, optou por reduzir o ritmo de trabalho – com direito a eventuais sextas-feiras livres – e se aproximar das startups, ao mesmo tempo em que, como consultor, ajudava empresas familiares a “navegar a transformação digital”. “O e-commerce se tornou a prioridade número 1 para o varejo, mas para a indústria a transformação digital entra em todas as áreas. Um de seus objetivos é tornar as empresas mais transparentes.” O propósito, para Paulão, está bastante inserido aí, já que o novo consumidor quer uma “vida mais saudável” e um respeito maior ao

Em sentido horário: Paulo Sérgio Silva, ex-CEO da Walmart.com que ajuda novos executivos a fazer a transição digital, Sérgio Chaia, que prepara CEOs para o “próximo passo”, Marcel Fukayama, do Sistema B, que visa redefinir sucesso e Pedro Vilela, da Rise, que injeta capital e gestão por impacto

“planeta” – e isso é levado em conta na decisão de compra. Paulão, que tem confeccionadas algumas palestras sobre liderança, acredita que o propósito moldou um novo tipo de liderança, muito mais inspiradora. “Agora é muito menos o ‘eu mando, você obedece’. O líder de hoje é o cara que faz o time pensar a construção do negócio, não simplesmente executar uma determinada tarefa.”

NOVO GRAAL

Se melhor performa quem tem propósito, é lícito acreditar que algumas empresas estejam numa busca algo artificial por esse novo graal – mantendo válido assim o famoso dístico de Frank Zappa, “we’re only in it for the money”. Mas como na explosão brasileira do ESG em 2020, o custo do greenwashing de alguns talvez compense a conversão


para padrões mais éticos e de maior respeito socioambiental de vários. Uma área em que o propósito parece ser bastante genuíno, digamos, é o de capital de impacto, em que figuras do mercado financeiro estruturam fundos de investimento para alavancar empresas selecionadas por critérios mais altruístas. Pedro Vilela passou pelo Pátria antes de cofundar a Rise Ventures e assim define sua “conversão”: trata-se de um “velho sonho de promover viabilidade financeira e crescimento para companhias que entreguem retorno financeiro e impacto positivo para o mundo”. Para ele, esse “sonho” não implica arrependimento pelas eta-

baratas para fundos de equity”. Uma empresa de escopo internacional tem atuado no Brasil para ajudar a injetar propósito, ou ao menos qualificar e certificar os caminhos que outras companhias vêm adotando nessa tarefa. A Sistema B certificou 202 empresas no Brasil (5,2% de todas as companhias “B” do mundo), mas parte esmagadora delas é de porte bastante reduzido. Natura, Movida e alguns grupos educacionais, como o Anhembi Morumbi, se destacam em busca dessa “redefinição de sucesso”, expressão cara à B, que pode ser traduzida por “contribuir para um sistema econômico mais inclusivo, equitativo e re-

nem soubesse do que se tratava essa expressão na CDI, ONG vanguardista e atuante em 15 países da América Latina. Mais recentemente cofundou a Din4mo, uma “venture builder”, empresa que constrói startups – não apenas as acelera –, compartilhando capital, mas também estruturas de marketing, jurídica, contábil etc. A ideia é formatar empresas que atuem para atender os auspiciosos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU nas áreas de educação, cidades sustentáveis, saúde e bem-estar. Uma das companhias que a Din4mo forjou é a Vivenda, que reforma casas em favelas e comunidades. “Era li-

‘‘Vem ficando evidente que pessoas com propósito claro são mais felizes e mais engajadas no trabalho e, portanto, têm melhor performance”

FOTOS ARQUIVO PESSOAL; DIVULGAÇÃO

Sérgio Chaia, consultor pas vividas em empresas sem tanto (ou nenhum) propósito, mas um “redirecionamento para carreiras de mais sentido”. O modelo da Rise e das empresas de capital de impacto de modo geral envolve não apenas a estruturação e viabilização dos investimentos que irão alavancar os favorecidos, mas a entrada de seus executivos na gestão dessas companhias. A Rise é acionista de três empresas de áreas de meio ambiente e alimentação saudável e pretende triplicar o portfólio em mais quatro anos. O nicho em que atua, segundo Pedro, é de empresas que faturam de R$ 5 milhões a R$ 100 milhões, “muito caras e grandes para investidores-anjo, mas ainda pequenas e

generativo para as pessoas e para o planeta”. Ao se tornarem B, as empresas assumem o compromisso de “melhora contínua” em governança, meio ambiente, clientes, trabalhadores e comunidade – enfim, a definição já clássica de stakeholder – e a certificação é concedida mediante o atendimento de parâmetros rígidos. A julgar pelo currículo de Marcel Fukayama, diretor executivo e cofundador do braço brasileiro do Sistema B, as empresas que entram na rede estão em boas mãos. Aos 17, ele fundou um cybercafé pioneiro em São Paulo, e seis anos depois renunciou ao “patamar de remuneração dos meus colegas de MBA” para levar inclusão digital a quem talvez

teralmente um slide de PowerPoint que se transformou numa empresa que em sete anos já fez 1.500 reformas”, diz Marcel. O empreendedor destaca o “modelo de financiamento inovador” utilizado pela Vivenda. Trata-se do que ficou conhecido como primeiro título de dívida (debênture) de impacto do Brasil, de valor de R$ 5 milhões, distribuído pelo Itaú a investidores profissionais, valor que se tornou crédito para famílias de baixa renda reformarem seus cafofos. Para os investidores, o título, ao ser lançado, em 2018, pagava 7% ao ano – 0,5% acima da taxa Selic de então. n


SUCESSO E FELICIDADE SÃO ASSUNTOS PARA DISCUTIR NA PANDEMIA? POR MARISTEL A MAFEI

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ocê não precisa ter sucesso para ser feliz, mas precisa ser feliz para ter sucesso. A felicidade existe para extrairmos dela benefícios que melhorem nosso desempenho e potencial. Estudantes e executivos otimistas são mais bem-sucedidos do que os que passam horas estudando ou aprimorando o currículo. Essa conversa faz sentido na atualidade, numa pandemia avassaladora que nos afeta e a todos ao redor? Não? Como explicar então o sucesso do livro O Jeito Harvard de Ser Feliz: O Curso Mais Concorrido de Uma das Melhores Universidades do Mundo, de Shawn Achor, em sua 23ª edição, mais de uma década depois de ter sido lançado? Para começo de conversa, Achor é um dos maiores especialistas na relação entre felicidade e sucesso. Foi professor no curso de psicologia positiva, o mais popular de Harvard; suas palestras são requisitadas em instituições como o Pentágono e a Casa Branca, e o seu talk no TED tem mais de 23 milhões de visualizações. Fundou e comanda a GoodThink, que se propõe a levar a felicidade a empresas e pessoas por intermédio do programa O Benefício da Felicidade, considerado um dos mais bem-sucedidos treinamentos corporativos do mundo. Com essas credenciais, ele procura provar em O Jeito Harvard de Ser

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Feliz que é um erro condicionar a felicidade ao sucesso de algum objetivo, como conseguir uma promoção ou perder peso, até porque o sentimento é breve e se esvai quando mudamos o foco. Para o autor, é a felicidade que traz o sucesso. Se conseguimos que alguém mantenha seu nível de otimismo, ou aprofunde sua conexão social, todos os resultados de negócios e desempenho acadêmico aumentarão, diz Achor. Ele reforça sua tese com o case da seguradora Metlife, que decidiu contratar parte de seus funcionários pelo nível de otimismo que apresentavam, mesmo que fossem mal no teste de aptidão. Após um ano, os contratados por seu otimismo superaram em 19% as vendas do grupo escolhido pelos métodos convencionais, e no fim do segundo ano, em 57%. A explicação, segundo Shawn Achor, é que só dá para prever 25% do sucesso de um funcionário por sua inteligência e habilidades técnicas. Os outros 75% são previstos por três outras características: o otimismo, as conexões pessoais e a maneira como lida com o estresse. Para ser feliz e otimista e assim atingir o sucesso, o livro aponta sete princípios que condensamos aqui em quadro recomendações. A primeira, criar hábitos positivos que moldem seu cérebro para enxergar o mundo positivamente – praticar gratidão, meditação e exercícios físicos estão entre eles. A segunda, ver os problemas como desafios a superá-los com força total em vez de desistir. A terceira, jamais abandonar os amigos, mesmo que esteja atolado de trabalho. Caso falte o impulso inicial para superar os desafios e investir nas conexões sociais, parta para a quarta recomendação: pratique a regra dos 20 segundos, facilitando nesse tempo o início de um hábito positivo – Achor conta que dormia com as roupas da academia e deixava os tênis ao lado da

cama para assegurar que iria se exercitar logo ao acordar. A proposta é boa, mas a execução é complicada atualmente. O livro foi lançado quase simultaneamente com o WhatsApp e o Instagram, e hoje o conjunto das redes sociais consome a atenção das pessoas em celulares onipresentes. E ainda vivemos tempos de crise sanitária mundial, em que o grande objetivo de sucesso é continuar vivo. Sim, podemos ter gratidão pela vacina, treinar o cérebro para ser otimista com a blindagem de uma boa máscara no rosto e fortalecer virtualmente nossas conexões sociais e isso talvez explique o sucesso que o livro continua fazendo mesmo em épocas tão obscuras. Mas, ser feliz mesmo, só fazendo alguma coisa para ajudar as pessoas mais vulneráveis a sobreviver com alguma dignidade na pandemia. n

Maristela Mafei é empreendedora Endeavor e fundadora da Máquina Notícia (atual Maquina Cohn&Wolfe)

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OPINIÃO


RETRATO

O T I EFE

M O ZO Videoconferência faz homens correrem para as lojas em busca de maquiagens e itens de cuidados pessoais

ILUSTRAÇÕES GETTY IMAGES

POR ANDERSON ANTUNES

A

costumado a estar sempre bem apresentável para receber seus clientes, o corretor de imóveis americano Ben Dixon teve um susto logo no começo da pandemia quando participou de uma reunião virtual pelo Zoom e teve a chance de conferir a própria aparência sob o ponto de vista alheio. “Imediatamente pensei: ‘Você pode fazer uma forcinha para melhorar isso’”, brincou Dixon, de 42 anos, em entrevista ao New York Post, na qual revelou que sua nova percepção de si mesmo resultante do uso cada vez mais frequente das videoconferências o tornou consumidor de produtos de beleza masculinos. E ele não está sozinho.

De acordo com um levantamento recente, somente em Nova York o aumento das vendas de produtos do tipo para homens foi de mais de 60% no último ano. E tal boom teve reflexo também nas buscas on-line: no Google, as pesquisas pelo assunto dispararam mais de 80% desde março de 2020. Não é de hoje que os homens têm cuidado da beleza, e no mundo inteiro as grandes marcas que atuam na área investem cada vez mais na conquista deles como clientes, em busca de uma freguesia que movimenta perto de US$ 50 bilhões por ano. A novidade trazida pela crise causada pela Covid-19, no entanto, é que certos tabus caíram por terra com o advento do Zoom. Um exemplo disso é o grande número de marcas de maquiagem masculinas que estão surgindo. Nos EUA, por exemplo, a gigante das redes de farmárcias CVS incluiu uma dessas marcas em seu portfólio, a Stryx, cujo slogan é “não há nada de errado em ser lindo”. Disponível em 2 mil das quase dez mil lojas da rede no país, a Stryx, que nasceu em 2017, viu suas receitas saltarem de aproximadamente US$ 20 milhões em 2019 para mais de US$ 60 milhões no ano passado. E concorrentes não lhe faltam no disputado mercado americano, que costuma ditar as regras para o resto do mundo. Outro fator que chama atenção no “efeito Zoom” tem a ver com a idade dos rapazes, que varia dos 20 e poucos anos aos 70. Alguns homens mais maduros, aliás, estão nessa moda há muito tempo, mas agora finalmente têm a chance de encontrar nas prateleiras produtos feitos exclusivamente para eles. Mais do que estar bem consigo e gostar da imagem refletida no espelho, um rosto em dia também é sinônimo de bons negócios. E que o diga Dixon, que agora não sai de casa sem base. “Não sei se foi por acaso, mas logo na primeira vez que usei maquiagem consegui vender um apartamento de US$ 30 milhões. Esse é o novo equivalente do terno de luxo, só que mais barato”, finalizou o corretor vaidoso. n PODER JOYCE PASCOWITCH 29


INOVAÇÃO

Após ter o filho diagnosticado com encefalite herpética, o empreendedor e ativista digital Pablo Lobo largou a produtora audiovisual que tocava para se dedicar a soluções na área de saúde, como a plataforma ViralCure, que já reuniu 32 milhões em arrecadação para o Hospital das Clínicas de SP POR NINA RAHE

FOTOS ROBERTO SETTON

al a Covid-19 tinha chegado ao Brasil, no fim de fevereiro de 2020, e o empreendedor e ativista digital Pablo Lobo recebeu uma ligação do infectologista Esper Kallás, preocupado com a saúde financeira do Hospital das Clínicas de São Paulo em meio ao caos que poderia se instalar. Na conversa, Lobo ponderou que, em um momento de pandemia, com crowdfundings vivendo uma hipercompetição, os dois não conseguiriam chegar a uma solução sozinhos, mas vislumbrou ali uma oportunidade de criar uma forma alternativa de marketing ao lado do HC. “Se o hospital estiver aberto a fazer uma plataforma para ir atrás de dinheiro de marketing [de outras empresas], acho que a gente consegue vencer”, concluiu Lobo na ocasião. Desde então, os diretores e médicos do Hospital das Clínicas passaram a ter em sua equipe uma figura inusitada dentro do ambiente hospitalar. “Cheguei lá cabeludo, todo tatuado, fazendo uma proposta de campanha e todos abraçaram a causa”, relembra o ativista digital, que conseguiu, por meio da plataforma ViralCure, reunir 32 milhões em arrecadação para o hospital – este número, segundo ele, é resultado apenas das doações on-line, mas chegou a 70 milhões com transações para além do canal. “Tenho certeza que o HC ainda vai valer muito mais do que a chuteira do Cristiano Ronaldo”, brinca. “Essa pandemia, com todos os pesares, mostra a inauguração de uma nova era. Por que não fazer marketing de outra forma? O bonito agora é investir em vacinas, em saúde.” Mas a história de Pablo Lobo com o médico Esper Kallás é anterior à Covid-19. Em 2011, o infectologista foi o responsável pelo tratamento de seu filho, Theo, diagnosticado na época com encefalite herpética. Por causa da infecção, que o acometeu com 1 ano e 8 meses, ele perdeu cerca de 85% do lobo tempo-

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ral direito e precisou reaprender a falar e a andar. Logo no início desse processo, que resultou em uma internação de quase sete meses, Lobo fez contato com Kallás após sua irmã ter visto uma entrevista do médico na TV. Depois de uma ligação telefônica que se deu às 4 da manhã, o infectologista se dispôs prontamente a atender seu filho. Também devolveu, findo o tratamento, todos os cheques que recebeu como pagamento pelo seu trabalho. “Nem ele nem a equipe aceitaram nada. Quando o Theo saiu do hospital, Esper me devolveu mais de R$ 100 mil”, lembra Lobo. “Ele viu que eu estava falido. Realmente quebrei naquela época, fiquei devendo muito dinheiro.” O atendimento profissional acabou se transformando não só em amizade, mas também em uma série de projetos nos quais o ativista entrou com sua expertise à cargo da medicina, ajudando Kallás na criação e no financiamento da biotech Mabloc, com foco no investimento em patentes médicas e pesquisas para o desenvolvimento de anticorpos monoclonais para proteger e tratar doenças como SARS-COv-2, zika, dengue, febre amarela e Aids. E no HC, os recursos oriundos da parceria não só ajudaram na infraestrutura do hospital, mas também incentivaram várias linhas de pesquisa que foram implementadas e que permitiram contribuir de diferentes naturezas para o conhecimento de combate à pandemia de Covid-19 no Brasil. “O Pablo é uma pessoa de inteligência, dedicação, tenacidade e entusiasmo invejáveis”, elogia Kallás. “Ele conseguiu fazer as pessoas que trabalham dentro do HC entenderem a importância que o hospital tem para a sociedade, não só para

Sthorm: soluções digitais para problemas reais

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o município, como para o estado e o Brasil como um todo.” A experiência traumática com a saúde do filho resultou ainda em uma mudança de direcionamento na carreira de Pablo Lobo, que precisou se reinventar profissionalmente após o período. Desde 1999 ele atuava na área artística. Quando seu filho adoeceu, estava envolvido na produção executiva do longa-metragem O Tempo e o Vento, do diretor Jayme Monjardim, e de um filme que teria como locação a ilha de Alcatraz, em São Francisco, projeto que acabou interrompido. “Foi uma época complexa, vendi a produtora e me desliguei de tudo relacionado à arte”, diz. “Perdi muito dinheiro por conta da minha incapacidade de lidar com o trabalho e meu problema pessoal.” O ativismo digital, nessa época, era apenas um hobby, elencado por ele junto a sua paixão por paraquedismo. “Faço programação desde os 11 anos, me envolvi muito cedo com a tecnologia. Até 2001, minha vida era pular de paraquedas e fazer ativismo digital”, conta Pablo Lobo, que durante muito tempo utilizou da tecnologia para denunciar fraudes em bancos e na indústria farmacêutica. Sobre essa fase, no entanto, hoje ele se esquiva: “Não existia muita lei nessa época, mas percebi que você gasta mais tempo fazendo guerra do que para construir algo novo”, resume. “Eu já investia em movimentos digitais, mas quando o Theo começou a melhorar, resolvi focar realmente nessa história e mudar o approach, deixando de expor os problemas do mundo, mas propondo soluções.” O primeiro projeto neste sentido foi o Wemion, um game de filantropia com funcionamento similar ao Pokémon, que tinha como ideia central transformar a interação virtual em impacto no mundo real e no qual os jogadores ganhavam pontos por seu altruísmo, generosidade e conhecimento. Apesar de ter se desligado da iniciativa, Lobo seguiu sua premissa e fundou, em 2017, a Sthorm. A empresa, formada hoje por cerca de 60 funcionários, tem sua sede em uma casa de 500 metros quadrados no bairro de Alto de Pinheiros, em São Paulo, que serve também de moradia para ele e outras cinco pessoas. Seu filho Theo, que está ho-


“Essa pandemia mostra a inauguração de uma nova era. O bonito agora é investir em vacinas, em saúde”

je com 12 anos e sonha em ser astronauta, meteorologista – tudo ao mesmo tempo –, mora com a mãe, e ex-mulher de Lobo, em Barcelona. Desde 2017 sem conseguir visitá-los por um problema na imigração, ele pôde matar a saudade em 2020, ano em que realizou três viagens para a Espanha. Entre projetos futuros, o mais simples é procurar um lugar para chamar de seu, com uma rotina que não seja dormir e acordar dentro do escritório. Fora isso, vê pela frente a necessidade de trazer recursos para o próprio negócio, cujo custo mensal estima em US$ 80 mil, e encara os desafios para apresentar uma nova versão da plataforma ViralCure, que traria a possibilidade de qualquer um investir nos no HC, além de transformar o canal em plataforma de conteúdo educativo para a população – o lançamento deve ocorrer entre julho e agosto. Paralelo a isso tudo, Pablo Lobo desenvolve, na startup Blok BioScience, um sistema para a criação de uma identidade digital para cada indivíduo, que reunirá dados como vacinação, testagem e expo-

sição a situações de risco, com a ideia de ajudar a prevenir epidemias. Também deve lançar, até agosto, o Global Pandemic Shield, que define como uma mistura de marketing place com Nasdaq, em que os ativos serão todos voltados para a ciência e a saúde. “Não posso abrir muito, mas 50% dos nossos esforços estão nesse projeto”, diz. A paixão pelo cinema, seu antigo ofício, também não ficou de fora da Sthorm, onde o ativista conta com uma pequena produtora que dá conta de todo o material promocional da empresa. No que se refere ao Hospital das Clínicas, está em curso um documentário que deve retratar a rotina da instituição. “Queremos usar esse material para mostrar o que é o HC de verdade. O hospital é muito mais do que um pronto-socorro, é a base da ciência nacional, pedra fundamental e mais importante da ciência na América Latina e essa estrutura não pode sofrer com faltas de recursos”, resume. “Temos o dever de trazer saúde financeira para o hospital.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 33


UM NOVO

COMPORTAMENTO POR CAROL SGANZERL A

É

fato que nenhuma empresa ficou imune às mudanças causadas pela pandemia da Covid-19, seja nos modelos de negócio, nos planos de expansão, na rotina de trabalho, na gestão de equipes pelos líderes; não houve companhia que não precisou se adaptar, testar formatos, adiar planos. Há mais de um ano vivendo as incertezas trazidas pelo momento, novos desafios se impõem aos executivos a toda hora. A Movida, empresa de aluguel de carros, por exemplo, acabou antecipando alguns projetos digitais que estavam estruturados para acontecer a longo prazo. “Tivemos que investir em sistemas e metodologias on-line que se adaptassem ao novo jeito de interagir para continuarmos próximos dos clientes e parceiros. Nossa estratégia de negócios focada em tecnologia e sustentabilidade fez com que as mudanças se tornassem mais rápidas”, conta o CEO Renato Franklin. Dentre os projetos de transformação digital, foi implementado um aplicativo de vendas de seminovos no atacado, possibilitando aos lojistas consultar preços, estoque, negociar e fechar transações. “As vendas por delivery também foram aceleradas, o que engloba entrega, garantia, relacionamento e pós-venda, gerando maior confiança para quem está comprando. Investimos na digitalização da jornada do cliente, como no caso do web check-in, processo do aluguel, checagem de documentos e avaliação de crédito, tudo feito pelo aplicativo, reduzindo para poucos minutos a estadia na loja.” Segundo Franklin, o modelo de gestão também sofreu transformações e trouxe benefícios. “As reuniões por

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“Investimos em metodologias on-line que se adaptassem ao novo jeito de interagir para continuarmos próximos dos clientes” Renato Franklin, CEO da Movida


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videoconferência com os gerentes agora são mais frequentes e dinâmicas, o que permite avaliar os indicadores com mais detalhes. Práticas como essa devem continuar”, pontua. Empresa especialista em produtos e serviços de videoconferência e líder de mercado, a NetGlobe, que duas décadas atrás inovou no meio oferecendo locação de equipamentos e suporte às reuniões virtuais, viu muitos clientes se desfazendo de seus escritórios e optando por soluções mais simples, buscando redução de custos. O fundador e CEO, Renato Batista, conta que, por outro lado, a companhia cresceu exponencialmente com as entregas de ambientes digitais, que integram plataformas como Zoom, Microsoft Teams, Webex, entre outras, com os mais diversos dispositivos de vídeo. Além disso, a empresa viu um crescimento nas demandas por eventos on-line (como lives e webinars), bem como nos serviços voltados aos novos ambientes de trabalho, que já pensam em conectar o físico com o remoto, resultando na experiência híbrida. “Ganhamos muito com a ferramenta de comunicação por vídeo, mas ainda vemos empresas operando de forma improvisada. O híbrido é necessário para o convívio humano, mas as tecnologias têm que estar calibradas para fazer sentido. Uma reunião virtual bem-feita exige material. É importante que os executivos tenham responsabilidade digital, apoiem o desenvolvimento e cuidem para que as relações híbridas sejam pautadas em segurança, qualidade e conforto”, diz Batista. “É preciso aju-

“É importante que os executivos tenham responsabilidade digital e cuidem para que as relações híbridas sejam pautadas em segurança e qualidade” Renato Batista, CEO da NetGlobe PODER JOYCE PASCOWITCH 35


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“Tem sido um exercício de adaptação, de empatia, de se colocar no lugar do outro, o que é difícil fazer pela tela” dando do negócio, muitas vezes parte importante da vida delas. Existe uma relação emocional e numa sessão de Zoom você não consegue sentir a temperatura. Tem sido um exercício de adaptação muito grande, de empatia, de se colocar no lugar do outro, o que é difícil fazer pela tela”, diz o CEO, apesar do volume de transações ter aumentado muito nos últimos doze meses. Além da impessoalidade do contato entre telas, outros fatores podem comprometer o sucesso dos encontros on-line. “Sinto muitas vezes as pessoas mais irritadas. Outro dia, começamos uma videoconferência, mas o cliente não dominava a tecnologia e levou mais de 20 minutos para conseguir conectar o som”, conta. “Ao mesmo tempo, para esse pessoal, estamos observando que conforme são vacinados, chegam com mais tranquilidade. Antes, perguntávamos se o cliente gostava de vinho e hoje se já foi vacinado”, diz. “O nos-

Flávio Batel, CEO da Solstic Advisors so negócio é muito por recomendação. Se o cliente teve uma boa experiência, ele recomenda. Então, os almoços, as conversas, os eventos, aquele movimento de alguém puxar você pelo braço e apresentar uma pessoa faz falta”, pontua Flávio, que acredita no funcionamento do modelo de trabalho híbrido na volta às atividades. Renato Franklin, da Movida, segue esse pensamento. “Antes da pandemia, eu já era muito digital, o que facilitou a adaptação ao home office. Por outro lado, acredito que o escritório traz uma contribuição significativa para o desenvolvimento profissional. Acredito em um modo de trabalho híbrido, mas muito bem selecionado”, pontua. “A pandemia fechou algumas portas, mudou o jeito de interagir, mas criou uma espaçosa avenida de oportunidades.”

FOTO FERNANDO TORRES

dar a tracionar a tecnologia, é o que vai levar você, seu colaborador e a empresa para o outro patamar.” Renato acredita que é hora de os líderes investirem no treinamento das equipes, mostrando todas as funcionalidades das ferramentas digitais disponíveis, e também na utilização de dispositivos que levem até o usuário uma experiência mais completa. “Além disso, precisamos saber o equilíbrio das coisas. Se eu ficar no contato virtual das 8h às 18h, será um extremo em todos os sentidos. Na retomada, vamos valorizar como nunca as relações presenciais, vamos dar ainda mais valor ao estar juntos. Antes, estava banalizado, perdíamos tempo, não era eficiente.” Parte fundamental da dinâmica de trabalho na área de fusões e aquisições (M&A), os encontros presenciais, almoços e reuniões, essenciais para o relacionamento com os clientes em negociações que envolvem a venda e compra de empresas, foram impactados pelo distanciamento social imposto pela nova realidade. Uma mudança e tanto para Flávio Batel, sócio-fundador e CEO da butique de M&A Solstic Advisors. “Em M&A, as pessoas querem falar presencialmente, olhar nos olhos de quem está cui-


ESPECIAL

VERDE Saiba como o agronegócio brasileiro quadruplicou a produção poupando terra para florescer e conheça o movimento empresarial pela biodiversidade que oferece um roteiro para que os negócios façam frente às transformações de que o mundo precisa


SOLO FÉRTIL

REVOLUÇÃO AGRÍCOLA Nas últimas quatro décadas o agronegócio brasileiro quadruplicou a produção poupando terra para florescer – salto de 390% na safra de grãos ocorreu com aumento substancialmente menor da área plantada

FOTO GETTY IMAGES

POR NIVALDO SOUZA


S

e a França quiser disputar o mercado de soja em pé de igualdade com o Brasil, como sugeriu o presidente Emmanuel Macron, independentemente da área plantada o país europeu precisará elevar a sua produtividade por hectare em mais de 25% – das atuais 2,7 mil toneladas para as 3,4 mil toneladas produzidas em solo brasilei-

ro. O desafio é ainda maior pois os franceses terão também de colher, na entressafra, mais algumas toneladas de milho no mesmo terreno onde a soja for colhida. Por isso, se Macron tinha a intenção de criticar os inegáveis problemas ambientais brasileiros, o desafio não passou de bravata. A explicação é do engenheiro agrônomo Marcos Jank, coordenador do centro de pesquisa Insper Agro Global e um dos principais especialistas do setor no Brasil. Ele diz que os elevados níveis de produtividade nacional foram atingidos de maneira sustentável a partir de uma revolução técnica iniciada nos anos 1970, com suporte da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). “Temos um agronegócio sustentável porque o Brasil foi berço de uma revolução agrícola. Não só a produtividade aumentou muito, como desenvolvemos di-

versas técnicas que nenhum outro país tem. Fazemos duas safras anuais, por exemplo, produzindo soja e milho ou soja e algodão na mesma área”, compara. A rotatividade de culturas agrícolas e métodos de produtividade adaptados à realidade climática de cada região, desenvolvidos ao longo de 40 anos, colocaram o Brasil à frente da maioria de seus competidores. São fatores que explicam o salto de 390% na colheita de grãos a partir de 1980, atingindo o total de 257,8 milhões de toneladas no ano safra 2019/20 – a Embrapa registra aumento exponencial no rendimento médio (quilos por hectare) com destaque para o trigo (346%), o arroz (314%), o milho (270%), o feijão (119%) e a soja (92,45%). Há quatro décadas, a produção de arroz era de 1,5 tonelada por hectare. Hoje, a média é de 6,2 toneladas no mesmo espaço de 10 mil metros quadrados. O economista Felippe Serigati, coordenador do mestrado profissional em agronegócio da FGV (Fundação Getulio Vargas), afirma que o Brasil conseguiu produzir mais alimentos gerando o que ele denomina como “efeito poupa terra”. Ou seja, a área plantada cresceu em menor proporção: 60% entre 1980 e 2020, alcançando o total de 65 milhões de hectares. “O Brasil conseguiu produzir uma quantidade brutal de alimentos demandando cada vez menos terra”, afirma. O movimento ocorreu, segundo Serigati, com a


‘‘Temos de fazer valer a lei, aplicando o Código Florestal. Se não fizermos isso o mundo vai continuar achando que não somos sustentáveis”

Marcos Jank, coordenador do centro de pesquisa Insper Agro Global preservação de um “estoque de florestas” equivalente a cerca de 65% do território nacional, na forma de parques nacionais, reservas indígenas ou legais. “O Brasil é o país com a maior área florestada, como mostrou o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)”, explica, tomando como referência um documento do organismo científico das Nações Unidas publicado em 2019.

CARNE X DESMATAMENTO A proteína animal é um bom exemplo. A produção de carne de frango voou 6.000% em algumas décadas. Em 2019, o país produziu 13,2 milhões de toneladas de carne da ave, segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), contra 217 mil toneladas registradas pela Embrapa em meados dos anos 1970. O crescimento alçou o país à posição de maior exportador de carne de frango do globo, com 4,2 milhões de toneladas comercializadas. Com relação à carne suína o aumento foi de 464%, saindo de 705 mil para cerca de 4 milhões de toneladas. No mesmo período o rebanho bovino transformou o país no maior exportador e segundo 40 PODER JOYCE PASCOWITCH

O agronegócio atualmente corresponde a mais de 20% do PIB brasileiro

maior produtor global de carne bovina – passou de cerca de 30 milhões de cabeças de gado para 214,7 milhões. Mas essa expansão, em contrapartida, se deu ao custo de muita terra. O rebanho ocupa 170 milhões de hectares, sendo 25% considerados degradados pelo Ministério da Agricultura. Além disso, a produtividade média de cinco arrobas por hectare ainda é considerada baixa. “Avaliamos que cabe mais boi por hectare”, observa Serigati. Os números da pecuária expõem o calcanhar de Aquiles do agronegócio: o desmatamento, geralmente acompanhado pela ocupação por pastagens como

forma de domínio ilegal da terra. O IBGE calcula que, entre 2000 e 2018, os biomas brasileiros perderam 50 milhões de hectares. Somente a Amazônia perdeu 8% de sua cobertura vegetal: 26,9 milhões de hectares – o equivalente a mais de um terço do território da França de Macron. Contra o desmatamento, Jank sugere uma estratégia de Estado mais objetiva. “Temos de fazer valer a lei, aplicando o Código Florestal, fazendo a regularização fundiária, mais controle e fiscalização. Se não fizermos isso o mundo vai continuar achando que não somos sustentáveis. Mas temos de entender que esse não é o centro


FOTOS GETTY IMAGES; VINÍCIUS MENDONÇA/IBAMA; FREEPIK; DIVULGAÇÃO

O desmatamento, geralmente acompanhado pela ocupação por pastagens como forma de domínio ilegal da terra, ainda é o calcanhar de Aquiles do agro

‘‘É preciso transferir mais tecnologia para os produtores menos eficientes, especialmente para os pequenos, cuja chave para melhorar a produtividade é a tecnologia” Felippe Serigati, coordenador do mestrado profissional em agronegócio da FGV

da agricultura, que não está exposto ao desmatamento.” Além disso, o professor do Insper sugere maior efetividade na comunicação do agronegócio para explicar ao mundo que o desmatamento é ilegal e praticado por produtores criminosos. “Não dá para o agronegócio ficar apenas falando ‘a gente tem mais estoque de floresta do que a Europa e os Estados Unidos’. Isso é verdade. Mas o nosso problema é o fluxo de desmatamento, que hoje é em média de 1 milhão de hectares por ano [a partir de 2016]. É isso que assusta [o mundo]”, afirma.

INTEGRAÇÃO DE CULTURAS Uma das apostas do agronegócio para recuperar áreas degradadas e ampliar produtividade sem precisar de mais terra é a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Como o nome sugere, a metodologia combina diferentes culturas, como a criação bovina e o plantio de florestas para produção de celulose ou extração de madeira legal. Pode ser também a combinação de pasto com milho, sorgo ou algodão. Há possibilidade de convívio de até cinco culturas diferentes na mesma área mesclando PODER JOYCE PASCOWITCH 41


‘‘[Com a Integração LavouraPecuária-Floresta] Chegamos a multiplicar por sete a produção de uma fazenda que produzia cinco arrobas de carne por hectare” Renato Rodrigues, presidente da Rede ILPF

agricultura e pecuária de corte. A ideia é que cada sistema produtivo se beneficia preservando água no solo e emitindo menos poluentes. A Rede ILPF, organização criada pelo Bradesco, a Embrapa e outras empresas privadas, diz que já foram recuperados cerca de 18 milhões de hectares. A meta é chegar a 35 milhões até 2030. Renato Rodrigues, presidente da Rede ILPF, explica que o modelo de integração tem como principal objetivo evitar a abertura de áreas para plantio ou gado. O agricultor teria como contrapartida um maior rendimento da propriedade. “Chegamos a multiplicar até por sete a produção de uma fazenda que produzia cinco arrobas de carne por hectare e hoje está em 35 arrobas”, conta. Já são 35 fazendas contempladas pela Rede ILPF. Entre elas a Fazenda Laço de Ouro, localizada no município de Almas (TO), onde a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta começou a ser adotada na safra 2013/14. Na época, a propriedade do casal Neiçon e Neiva Gomes perdia muito pasto e, consequen-

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Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF): uma das apostas do agronegócio para recuperar áreas degradadas e ampliar a produtividade sem precisar de mais terra

temente, oferecia menos alimento para o rebanho bovino. Optou-se por plantar milho junto ao capim, depois chegou o sorgo forrageiro e o eucalipto. O resultado foi a recuperação de 60% da pastagem, que permitiu triplicar a quantidade de gado na mesma área. “Aquela his-

tória dos nossos avós de colocar o boi na sombra é verdadeira. O ganho [para a pecuária] com a árvore é maior porque o animal fica na sombra dela e o processo digestivo é modificado. O animal consegue processar melhor o alimento”, explica Rodrigues.


FOTOS GETTY IMAGES; REPRODUÇÃO FACEBOOK; CARLOS DIAS/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

AgTech Garage: hub tecnológico criado em Piracicaba reúne mais de 700 startups voltadas para o agronegócio

CAMPO DIGITAL Com tantos recursos, a tecnologia é cada vez mais presente no campo e a tendência é de aumento como mostra a pesquisa “A mente do agricultor brasileiro na era digital”, da consultoria McKinsey & Company. O levantamento indica que 40% dos agricultores do país reinvestem parte dos lucros em novas máquinas e tecnologia. Essa tendência explica o surgimento do AgTech Garage, um hub tecnológico criado em Piracicaba, onde mais de 700 startups voltadas para o agronegócio estão instaladas – a cidade no interior de São Paulo é um dos maiores polos mundiais de inovação agropecuária. É comum gigantes como a Usina Açucareira São Manoel, uma das maiores produtoras de açúcar e etanol do país, buscarem soluções no AgTech. Neste momento, a usina seleciona startups que apresentem soluções para reduzir o gasto com combustíveis e os pneus das máquinas usadas na colheita de cana. O avanço da tecnologia, porém, é desigual, exigindo maior empenho do setor para levá-la aos pequenos agricultores (leia o box ao lado) como alerta Serigati. “É preciso transferir mais tecnologia para os produtores menos eficientes, especialmente para os pequenos produtores, cuja chave para melhorar a produtividade é a tecnologia”, diz. Tecnologias de baixo carbono desenvolvidas no Brasil confirmam o compromisso do agronegócio com a sustentabilidade: etanol, biodiesel, adição de álcool na gasolina, geração de energia por biomassa e o carro flex. Temos muitos bons exemplos. n

O TOMATE É TECH

Tecnologia nem sempre se traduz em maquinários. Na maioria das vezes, chega como técnica de plantio. Em 1995, a Embrapa Solos decidiu ajudar pequenos produtores de tomate da região serrana do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense com o programa Tomatec, que já auxiliou 19 pequenos agricultores. O projeto desenvolveu técnicas que podem parecer simples, mas mudaram a forma como o tomatomate é plantado e colhido. A equipe dedesenvolveu um modelo de fertirrigação por gotejamento para reduzir o uso de água e agrotóxicos, e o ensacamento dos frutos para evitar efeito de intemintempéries, entre outras técnicas. O uso de produtos químicos para combater pragas caiu de 50 para 10 aplicações ao longo do ciclo de desenvolvimento do tomate, que é de 150 dias. O resulresultado foi uma produção com tomates maiores e mais saudáveis. Em 2017, o selo Tomatec ganhou as gôndolas de uma rede de supermercado de alto padrão na zona sul do Rio, que firmou parceria de exclusividade. Hoje, além da venda in natura no supermercado, alguns agricultores começaram a proproduzir polpa de tomate, cujo valor de venda é maior, e estão comercializancomercializando por conta própria.

A soja é um dos principais itens da produção agrícola no Brasil, o segundo maior produtor mundial do alimento

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NET ZERO A

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descarbonização da economia é uma etapa fundamental para que o mundo consiga cumprir as metas previstas no Acordo de Paris, compromisso entre 195 países para redução das emissões de gases de efeito estufa. Para que o aumento da temperatura da Terra não ultrapasse 2° C, com esforços para limitá-lo até 1,5° C acima dos níveis pré-industriais, as próximas décadas devem ser voltadas à implementação de soluções. No Pacto Global das Nações Unidas, o compromisso estabelecido foi o de atingir a emissão zero até 2050 e, até como forma de incentivar outras companhias na mesma direção, a JBS se propôs a alcançar a meta dez anos antes da ambição global. A segunda maior empresa de alimentos do mundo e líder no setor de proteína deve se tornar Net Zero até 2040, o que significa zerar o balanço de suas emissões de gases causadores de efeito estufa, reduzindo a intensidade de emissões diretas e indiretas e compensando toda a emissão residual. A meta inclui as operações globais da empresa, que conta com um time de 250 mil colaboradores ao redor do mundo, em um compromisso que engloba de produtores agrícolas e fornecedores

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a clientes, e cadeias de valor na América do Sul, América do Norte, Europa, Austrália e Nova Zelândia – na América do Norte, inclusive, desde 2015, a JBS já reduziu em cerca de 20% suas emissões. “A agropecuária pode e deve ser parte da solução climática. E a JBS, por estar na intersecção entre o agricultor e o consumidor, tem a responsabilidade de promover a transformação para uma economia de baixo carbono”, afirma Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS. “As mudanças climáticas são o grande desafio do nosso tempo e devemos agir com urgência para combater seus efeitos negativos.” Primeira empresa global do setor de proteína a estabelecer uma meta Net Zero, com compromisso formalizado em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a JBS prevê diversas estratégias para cumprir sua missão. Entre elas está a redução em pelo menos 30% (em comparação com o ano de 2019) das emissões oriundas de fontes controladas pela companhia como também provenientes da geração de eletricidade para a empresa. Além disso, a empresa pretende alcançar uma cadeira de fornecedores de gado livre de desmatamento ilegal na Amazônia e nos demais biomas brasileiros até 2035 – com ações de reflorestamento e restauração florestal – e o uso de 100% de energia elétrica de fonte renovável em todas as unidades até 2040. Prevê também o investimento de US$ 1 bilhão na próxima década para a redução de emissões de carbono em suas operações, com pesquisas voltadas para a melhoria nas práticas agrícolas regenerativas, os projetos de intensificação de sequestro de carbono no solo e tecnologias aplicadas nas fazendas dos fornecedores. Todas essas ações são baseadas em critérios científicos estabelecidos pela iniciativa Science-Based Targets (SBT) e serão acompanhadas de prestação de contas, com atualizações anuais para garantir transparência e incentivos, como a remuneração de altos executivos atrelada às metas de mudança climática.

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O caminho a ser trilhado nos próximos anos não é algo inédito dentro da JBS. Os esforços da empresa vêm sendo feitos há mais de uma década e resultaram em um dos maiores sistemas de monitoramento socioambiental de fornecedores de bovinos do mundo, para os produtores rurais que vendem animais para processamento nas unidades da companhia. Mais recentemente, foi desenvolvida a plataforma Pecuária Transparente, ferramenta com tecnologia blockchain que vai propiciar estender o monitoramento aos fornecedores dos fornecedores da companhia. A JBS também conseguiu reutilizar 121,7 mil toneladas de resíduos para geração de energia nas operações globais e investiu na construção de uma fábrica em Guaiçara (SP) para produção de fertilizantes a partir de resíduos orgânicos. Com foco na economia circular, que permitiu o reaproveitamento de 1 milhão de toneladas de resíduos no mundo, a empresa desenvolveu, após dois anos de estudo, um processo que permite transformar o

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Ana Paula De Estácio, supervisora de produção da JBS Biodiesel em Lins (SP); há outra fábrica do biocombustível em Campo Verde (MT) e uma terceira em construção em Mafra (SC)


“As mudanças climáticas são o grande desafio do nosso tempo e devemos agir com urgência para combater seus efeitos negativos” Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS

A JBS desenvolveu um processo que permite transformar o plástico de produtos in natura embalados a vácuo em pisos intertravados

plástico de produtos in natura embalados a vácuo em pisos intertravados, próprios para aplicação em ambientes externos como pavimentação de pátios, em um resultado que oferece a mesma resistência que um material feito 100% de concreto – a ideia é que o piso verde passe a ser utilizado na pavimentação de obras da própria JBS em todo o país. Além disso, com duas fábricas, localizadas em Campo Verde (MT) e Lins (SP), a companhia se tornou a maior produtora mundial verticalizada de biodiesel a partir de sebo bovino – são 217 mil toneladas de biodiesel produzidas a partir de sebo bovino e óleo de cozinha usado. Criado em setembro de 2020, o Fundo JBS pela Amazônia também tem o objetivo de fomentar o desenvolvimento sustentável do bioma. A ideia é não só promover a melhoria da qualidade de vida da população local como o desenvolvimento de novas tecnologias para a conservação do meio ambiente. Nos primeiros cinco anos, o compromisso é investir R$ 250 milhões em iniciativas que desenvolvam a bioeconomia, o reflorestamento e o desenvolvimento tecnológico na região. “Como uma das mais diversificadas empresas globais de alimentos, temos a oportunidade de usar nossa escala e influência para ajudar a liderar uma transformação sustentável dos mercados agropecuários que empodere produtores, fornecedores, clientes e consumidores”, afirma Tomazoni. n PODER JOYCE PASCOWITCH 47


ALMA VERDE

U T R U O F

É

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POR MARINA GROSSI

FOTO FREEPIK

REGENERATIVO 48 PODER JOYCE PASCOWITCH


Visão 2050, movimento empresarial pela biodiversidade, oferece roteiro para que negócios façam frente às transformações de que o mundo necessita

O

s negócios precisam de um novo olhar. O ano passado foi marcado pela pandemia de Covid-19 e as diversas crises que a doença deflagrou seguem em 2021. O impacto global causado pelo novo coronavírus explicitou nossa dependência de um ambiente ecologicamente equilibrado, revelando a interdependência entre biodiversidade, clima e saúde. A desigualdade social agrava ainda mais o problema, de modo que a busca por soluções é tarefa de todos. Ao mesmo tempo, três letras ganharam holofotes como nunca: ESG – a sigla em inglês para a adoção de critérios ambientais, sociais e de governança por investidores na hora de aportar seus recursos. O tema não é novo, mas vem ganhando força nos últimos dois anos, com gestoras de fundos internacionais se posicionando de modo mais contundente sobre o tema, o que traz reflexos para todos os negócios. É imperativo fazer mudanças profundas no nosso estilo de vida e na forma como se produz e consome. Em 2012, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), que faz parte de uma rede global de conselhos empresariais voltados ao tema, desenvolveu a Visão 2050. O documento trouxe um roteiro inédito para que os negócios se localizassem frente às demandas por maior equidade social, equilíbrio ambiental e transparência. Mas o mundo vem se transforman-

do rapidamente. A pandemia acelerou várias situações que já estavam sendo colocadas como riscos globais: a perda da biodiversidade tem levado ao surgimento de novos males, que se agravam num contexto de emergência climática e de desigualdade social. Esses riscos já vinham sendo descritos anualmente no relatório que todos os anos é elaborado pelo Fórum Econômico Mundial. Não à toa, as duas palavras de ordem que já ecoam no universo dos negócios afinados com o conceito de sustentabilidade são o impacto positivo e a economia regenerativa. É sobre esses pilares que trata a Visão 2050, de modo que o documento contemple esses novos desafios e se torne um norteador para que as empresas planejem seu futuro de forma mais sustentável, em conso-

sam estar inseridos e ativos na proposição de soluções. Entendemos que estamos no fim da era do chamado capitalismo de shareholder, baseado no binômio risco-retorno, cujo objetivo central é gerar retorno financeiro ao acionista. O clamor agora é para o capitalismo de stakeholder, das partes interessadas, no qual as empresas dialogam efetivamente com seus diferentes públicos e buscam atuar no trinômio risco-retorno-impacto. É na construção dessa transição que estamos trabalhando, e a Visão 2050 traz olhares e princípios para que as empresas possam atuar. O documento também aponta as incontáveis oportunidades que o Brasil terá nessa caminhada. Somos reconhecidos por ser um país com uma matriz de energia

“É imperativo fazer mudanças profundas no nosso estilo de vida e na forma como se produz e consome ” nância com o ESG agora tão solicitado pelo mercado. Essa visão de futuro, lançada no fim de março, foi construída de forma coletiva, com mais de 4 mil especialistas de diversas áreas e backgrounds, a partir de uma abordagem sistêmica, que reflete o entendimento comum das transformações necessárias e urgentes das quais o mundo precisa. Foram definidos oito temas prioritários – Pessoas, Cidades, Economia Circular, Água e Saneamento, Biodiversidade, Alimentos, Energia e Finanças. Todos eles dialogam com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, grande esforço coletivo no qual os negócios da atualidade preci-

limpa, riquíssimos em biodiversidade e com o potencial de produzir comida e gerar segurança alimentar para o mundo, em consonância com a proteção ambiental. Essas características precisam ser transformadas em vantagens competitivas e colocar o Brasil no centro e na liderança da nova geopolítica de uma economia circular, de baixo carbono, regenerativa e inclusiva. Esse é o caminho que propomos, com as empresas brasileiras como importantes atores desse cenário. A hora de construir esse futuro é agora. n Marina Grossi é economista e presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds)

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RANGER BLACK:

URBANA, SOFISTICADA & ROBUSTA – TUDO AO MESMO TEMPO E AGORA

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A

Ford acaba de lançar a Ranger Black, principal novidade da linha 2022, que oferece uma combinação exclusiva de estilo, desempenho, equipamentos, tecnologia e conectividade. Robusta e imponente, é o tipo de picape que não precisa subir às pirambeiras dos Andes – ou da Mantiqueira – para que se sinta sua força, segurança e sofisticação. Você consegue perceber essas características no uso urbano. A linha Ranger 2022, que é conectada e já conta com as versões Storm e Limited, veio para fazer bonito – e bota bonito nisso – na cidade também. No campo, por sua robustez, conforto, tecnologia, performance off-road e funcionalidade, a linha Ranger construiu a reputação de Raça Forte, que também se reflete em seus ótimos resultados de vendas. Em março, a picape registrou um novo recorde histórico de participação de mercado e tornou-se a vice-líder das picapes médias, tanto no mês como no acumulado de 2021. O sucesso de vendas veio acompanhado de importantes reconhecimentos por parte dos clientes e da mídia especializada E agora, a versão Black traz tudo isso para a vida urbana. De porte imponente e visual sofisticado, foi desenvolvida pensando em quem busca agilidade no trânsito e o conforto de um SUV grande, com a versatilidade que só uma picape de verdade pode oferecer. E como o nome revela, o visual monocromático preto tanto no exterior como na cabine, com detalhes foscos e brilhantes e bancos de couro, traz mais um toque de sofisticação ao modelo. A Ranger Black também é tecnológica e tem funcionalidades que impressionam. Com o app FordPass™️ Connect, presente em toda linha, o motorista pode, pelo celular, travar e destravar o carro, dar partida remota com ativação de ar-condicionado, rastrear o veículo, monitorar a pressão dos pneus e o nível de combustível, entre outras facilidades. Trata-se de um monitoramento de mais de 3 mil parâmetros, orientando o motorista quando é preciso fazer algo diferente. A bordo, a picape traz ainda mais tecnologia, com central multimídia completa com SYNC 3, tela touch de 8 polegadas, comandos de voz e acesso a Apple CarPlay e Android Auto. Já por fora, tem santantônio, rack de teto, estribo lateral, faróis com máscara negra, grade dianteira escurecida e rodas de liga leve com design exclusivo de 18 polegadas. E para quem preza por segurança acima de tudo, são sete airbags, piloto automático, controle de tração e estabilidade, sistema anticapotamento e assistente de partida em rampa. A capacidade de imersão (em água) da linha é de 800 mm, sendo a maior da categoria. Com tantos atributos, o modelo Black chega ao mercado com preço de R$ 183.490. “A Ranger Black foi criada para atender a um consumidor que não tinha opção similar no segmento”, diz Antonio Freitas, gerente de Marketing de Picapes da Ford. “É uma picape de uso urbano que oferece excelente dirigibilidade e conectividade, e sua velocidade de vendas representa um início muito promissor, mostrando que ela é o produto certo com o posicionamento correto. Os clientes reconheceram que ela tem um conteúdo atraente e excelente custo-benefício para atender quem procura uma picape de uso urbano”, completa o executivo. A linha Ranger foi a primeira a introduzir tecnologias inéditas no segmento, incluindo assistência de frenagem autônoma com detecção de pedestres e reconhecimento de sinais de trânsito. É também a única picape média a oferecer duas opções de motores a diesel – os Duratorq 2.2 e 3.2.

+ FORD.COM.BR

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ENSAIO

A HORA DA

ESTRELA Chay Suede já provou que tem talento para atuar e acaba de interpretar um de seus melhores personagens, na novela Amor de Mãe. Mas o papel mais transformador é o de pai e ele prevê muito trabalho nos próximos meses. Aos 28 anos, aguarda a chegada do segundo filho e de projetos geridos durante a quarentena por carol sganzerla fotos pedro dimitrow styling alexandre won


Blazer e camisa Alexandre Won, pulseiras W.Buscatti


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ara um homem que não costuma traçar grandes planos na vida, Chay Suede vai muito bem, obrigado. Ele acaba de interpretar o personagem mais querido do público depois da protagonista de Amor de Mãe – Danilo, o filho que Lurdes, vivida por Regina Casé, passa a trama procurando; voltou ao horário nobre com a reprise de Império, sucesso de 2014 que o projetou nacionalmente, espera o segundo filho de sua mulher, a atriz Laura Neiva, com quem tem Maria, de 1 ano e cinco meses e, redundante dizer, carrega um dos rostos mais bonitos da televisão e o talento que faz dele um dos melhores atores de sua geração. Especula-se agora que Chay interpretará Ayrton Senna na série da Netflix, a qual o ator não confirma, mas assume ser fã do piloto desde menino. “Eu tenho muito amor pelo Senna. Ele carregou a bandeira do Brasil em um momento muito frágil do país, era quase um padroeiro. Eu, com 2 anos, lembro quando ele morreu. Era um domingo [GP de Ímola, na Itália, em 1994] e minha prima chorava muito, nunca tinha visto ela chorar daquele jeito. Ela era mais velha, me pegou no colo e falou, ‘estou chorando porque o Senna morreu.’ E eu sabia de quem ela estava falando. Muita gente dizia que meu pai era parecido com ele, por causa do cabelo enrolado, do boné que usava”, relembra. Domingo não só era dia de acompanhar a Fórmula 1 como também o culto em Vitória, sua cidade natal. Nascido em uma família cristã presbiteriana – seu avô era pastor –, Chay cresceu seguindo os pais em apresentações musicais da congregação. “O ambiente cristão trouxe para a minha criação muitos elementos artísticos, reflexivos, de leitura, de aprendizado. Meus pais eram dois jovens [tinham 19 anos quando o filho nasceu] que rodavam o Brasil com a banda Semear, eu tocava chocalho no palco. Meu pai escrevia, compunha as músicas”, diz o ator,

que toda segunda-feira participa de cultos on-line com amigos e familiares. Assim como o pai, o diretor e roteirista Roobertchay Rocha – mesmo nome de batismo do ator –, sempre foi natural para Chay escrever, de canções a crônicas. Tanto que entrou na faculdade de cinema em Vitória, mas a insistência do pai para participar do reality show Ídolos, da Record, em 2010, desviou seu caminho e o programa acabou virando porta de entrada para a dramaturgia – primeiro, a novela Rebelde, depois a estreia na Globo e no cinema. O hábito de escrever voltou durante o período de isolamento social e Chay desenvolveu alguns projetos que devem sair do papel este ano. Para o segundo semestre, está previsto o lançamento do longa 4x4, filme de estreia do fotojornalista João Wainer (leia matéria na pág. 76), rodado em 2018. Para manter a forma, o ator de 28 anos intensificou a rotina de exercícios na casa que divide com Laura, em São Paulo, desde 2019 – ano em que se casaram no jardim – e sua filha. “A paternidade validou uma certeza sobre o que é o amor. Até ser pai, a gente conhece lascas de amor. A confirmação da força do amor vem com filho. Você repensa sua vida inteira: o seu olhar sobre o mundo, sobre o outro, e de uma maneira mais amorosa porque vem com essa lupa do amor. Toda minha vida se ressignificou através dessa lupa amorosa que se chama Maria”, diz. Além de Maria, o que brilha seus olhos é a perfumaria. “Sou alucinado por cheiro, cheiro de madeira, de couro, sempre tive uma memória olfativa boa e ela sempre me leva para um lugar. Tenho feito curso de perfumista. Já já vou começar a trabalhar com isso, estou com algumas ideias”, conta o rapaz que abraça aos poucos seus novos projetos. “Tenho dificuldade de querer as coisas que estão lá na frente, vou vivendo as delícias e as tristezas do dia a dia. Não planejo tanto, a própria vida tem sido mais interessante do que os meus melhores sonhos.” n

“Minha vida se ressignificou através dessa lupa amorosa que se chama Maria”


Costume e camisa Alexandre Won, pulseira W.Buscatti, anéis acervo pessoal


“Não planejo tanto, a vida tem sido mais interessante do que os meus melhores sonhos”


Blusa e calça Alexandre Won, pulseira W.Buscatti, relógio Panerai, colares acervo pessoal. Na pág. anterior, costume, camisa e sapato Alexandre Won, pulseira W.Buscatti, relógio Panerai, anéis acervo pessoal Arte: David Nefussi Produção executiva: Ana Elisa Meyer e Meire Marino Assistente de foto: Adrian Ikematsu Tratamento de imagem: RG Imagem


CONEXÃO

MULHER QUE APOIA MULHER

Ana Fontes é uma das figuras mais reconhecidas no empreendedorismo brasileiro. Sábia de origem extremamente humilde, ela fundou a Rede Mulher Empreendedora (RME) e com apoio internacional se transformou em uma espécie de Sebrae para ajudar a mudar a vida de milhares de mulheres, com empatia e know-how. “Nossa construção social ainda diz que o território do dinheiro é masculino. Não! É de quem quiser”

ascida no sertão de Alagoas em uma família de dez irmãos e pais semianalfabetos, Ana Fontes precisou se desdobrar inúmeras vezes na vida para chegar aonde chegou. Fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME), maior plataforma de apoio ao empreendedorismo feminino do Brasil, ela já fez faxina, trabalhou em chão de fábrica e contou com a ajuda de vizinhos para entrar na faculdade de publicidade e propaganda. Depois de ingressar na área em uma multinacional automotiva, Ana investiu no que acredita ser o ponto chave para toda transformação, a educação. Fez pós-graduação em marketing na ESPM e em relações internacionais pela USP, além de passar uma temporada na Inglaterra estudando e trabalhando. Após se tornar mãe, começou a questionar o ambiente corporativo e, em 2010, criou a Rede Mulher Empreendedora. Por meio da rede, Ana já ajudou a transformar a vida de milhares de mulheres no Brasil e no mundo, e exerce papel fundamental no seio de uma sociedade ainda tão patriarcal e machista: dá voz ao empreendedorismo feminino, emancipa financeiramente mulheres em situação de vulnerabilidade e resgata sua autoestima. PODER: COMO NASCEU A REDE MULHER EMPREENDEDORA? ANA FONTES: No Brasil, quase metade dos pequenos

negócios são tocados por mulheres. Fundei a rede há 11 anos muito pelo fato de não identificar mulheres como eu no ambiente empreendedor. Fui executiva em

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multinacional do segmento automotivo por 18 anos, até 2007. Tive uma plataforma de recomendações positivas e um espaço de coworking. A rede veio na sequência e começou como um movimento para ajudar mulheres. Fui selecionada para um curso da FGV. No primeiro dia, ouvi dos coordenadores: “Vocês são as 35 privilegiadas em mais de mil inscrições”. Fiquei triste. Pensei: “E as outras que se inscreveram?”. Anotava tudo nas aulas. PODER: PASSOU ENTÃO A DIVIDIR O SEU CONHECIMENTO… AF: Exato. Na época, ninguém falava sobre mulher e

empreendedorismo. Em 2010, criei um blog e em um ano ganhei 100 mil seguidoras. Elas pediam informações até que não dei mais conta, porque fazia esse trabalho nos fins de semana, mas tinha que tocar os meus negócios, que pagavam as contas. Com o tempo, deixou de ser um movimento e passou a ser um negócio social. PODER: O FOCO DO TRABALHO SEMPRE FOI AS MULHERES? AF: Foi orgânico. Elas pediam encontros com outras

mulheres e criei o Café com Empreendedoras. Na época, o Sebrae acreditava que empreender era igual para homens e mulheres. Eu dizia que não. A motivação, o tipo de negócio e o modelo de gestão são diferentes, além dos desafios, que são outros. Anos depois, o Sebrae me ofereceu ajuda e passei a utilizar o espaço deles para os encontros. E fui construindo as coisas não como nos livros, porque toda boa teoria foi baseada numa prática. Você tem que tentar primeiro e, a partir daí, construir a sua história.

FOTO CLAUDIO GATTI/DIVULGAÇÃO

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POR JOYCE PASCOWITCH


PODER: COMO PODEMOS CONTRIBUIR PARA MOVIMENTAR O EMPREENDEDORISMO FEMININO? AF: A melhor forma de ajudar uma empreendedora é

comprando dos pequenos negócios. Quando compra dessa mulher, está ajudando a sua família, a educação dos seus filhos. Quando uma mulher é dona do próprio dinheiro, ela muda a realidade. Consegue sair, inclusive, de situações de violência doméstica porque não depende do companheiro. Isso é muito importante. Nossa construção social ainda diz que o território do dinheiro é masculino. Não, o território do dinheiro é de quem quiser.

PODER: QUAL O TRAÇO MAIS COMUM DAS MULHERES QUE CHEGAM NA REDE? AF: Elas saíram do ambiente corporativo e empreender

vira uma saída. Fizemos uma pesquisa em 2020 com 2 mil homens e mulheres para saber como estavam se resolvendo na pandemia. Eles responderam igual em relação a organizar a dívida e diminuir as despesas. Já elas falaram em inovar, fazer transformação digital e se capacitar. Os homens acham que capacitar é uma fraqueza. PODER: O QUE LEVOU DO AMBIENTE CORPORATIVO PARA O EMPREENDEDORISMO? AF: Os 18 anos de mundo corporativo me iludiram,

mas me protegeram de algumas coisas. Se tem um problema legal no ambiente corporativo, você chama o jurídico da empresa, se tem um problema de falta de pessoal, o RH. Você não precisa ser especialista em tudo. No começo, tinha e-mails com nomes diferentes, juridico@rede, comercial@rede, mas todos caíam em mim.

PODER: COMO A REDE SOBREVIVE, RECEBE DOAÇÕES DE EMPRESAS? AF: Temos vários modelos de negócio, a rede e o Instituto

Rede Mulher Empreendedora. Neste, focamos nas mulheres em vulnerabilidade social – indígenas, trans, refugiadas, negras e egressas do sistema prisional – e vivemos de doações de organizações internacionais. A Google Foundation doou, em 2018, US$ 1 milhão e, ano passado, US$ 1,5 milhão. PODER: EXISTE ALGUM PERFIL ESPECÍFICO PARA EMPREENDER? AF: A maioria das mulheres empreende para sustentar a

família. Cerca de 60% delas em segmentos chamados de conforto da mulher: moda, beleza, alimentação, serviços e estética. A melhor combinação é usar suas habilidades com propósito e o maior desafio: ter mercado. Lembra das paletas mexicanas e das lojas de cupcakes? Cuidado com o efeito manada. Se todo mundo for para o mesmo modelo, não vai sobrar oportunidade.

PODER: QUAIS CONSELHOS DARIA PARA UMA MULHER QUE QUER EMPREENDER, MAS TEM MUITAS INSEGURANÇAS E SÓ ENXERGA OBSTÁCULOS? AF: Primeiro, invista tempo no tipo de negócio que quer

abrir. Tem que ter propósito, ser uma coisa que você saiba, goste de fazer e que tenha mercado. Os melhores negócios estão onde não tem outros acontecendo, ou onde tem problemas. Onde várias pessoas têm o mesmo problema existe uma oportunidade. A segunda dica é procurar ajuda de alguém que tenha experiência. A terceira, faça parte de redes. Empreender é solitário e estar em grupos ajuda. Por último, autoconhecimento – saber seus pontos fortes e suas fraquezas é o que faz a gente se movimentar – e autocuidado. Reserve um tempo do dia para cuidar da saúde física e emocional. Empreender é duro e ser mulher nesta sociedade também. n

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TECNOLOGIA

A SERVIÇO

DA ESTÉTICA Há dois anos, Eduardo Ferraz e Odete Manor, sócios da LBT LASERS, uma das mais conceituadas distribuidoras de equipamentos médicos dermatológicos do país, se depararam em uma feira internacional com o Power 2. Na área desde 2004, ao ver o aparelho, eles entenderam imediatamente que o produto era diferente de tudo o que já haviam visto, pois apresentava, de modo inédito, quatro tecnologias integradas para o combate da celulite, além de ser muito eficaz na remodelação corporal e em tratamentos faciais. “Essas terapias existem individualmente e foi muito inovador ver um só aparelho capaz de associá-las para tratar uma das maiores necessidades estéticas femininas que é a celulite”, conta Ferraz. O Power 2, que chega agora ao Brasil, combina endermologia, vácuo, radiofrequência (RF) multipolar e LED (luz de 658nm) para tratar de forma avançada a celulite, reduzir a gordura localizada e atenuar a flacidez, esculpir contornos e ainda promover rejuvenescimento facial. A composição inovadora do aplicador endermológico com vácuo associado ao LED e aos rolos que emitem RF é o grande trunfo do Power 2 no tratamento da celulite. A ação acontece quando o vácuo suga a pele com força suficiente para romper os septos que circundam a celulite e a RF, em conjunto com o LED, esquenta a região, esvaziando os nódulos de gordura e estimulando a produção natural de colágeno. O resultado é uma pele com textura uniforme, aparência firme e menos flacidez corporal.

Embora o tratamento seja indicado principalmente para celulite, contorno corporal e redução circunferencial, também pode ser utilizado para procedimentos de rejuvenescimento facial. A recomendação, que pode variar de acordo com cada paciente, é começar com três sessões, com intervalo de 15 dias entre elas, considerando que especificamente para celulite esse período pode ser menor. “Nós revisamos a literatura de acordo com cada comprimento de onda, tecnologia de radiofrequência e percebemos que o Power 2 tem uma potência maior”, explica Odete Manor. “Também fizemos testes com pacientes modelos e vimos que o resultado é muito superior e a percepção de melhora é quase imediata.” Antes de trazer o Power 2 ao Brasil, a LBT Lasers já estava trabalhando com o Focus Dual, aparelho com foco no rejuvenescimento facial e na redução de gordura localizada que é também da empresa sulcoreana Eunsung, reconhecida por equipamentos médicos estéticos de alta tecnologia, com representação em mais de 70 países. Para além dos dois, a companhia também é representante de nove equipamentos da Alma Lasers no Brasil, empresa israelense que aparece entre as cinco mais conceituadas do ramo globalmente. “Quando éramos novos no mercado, os concorrentes perguntavam o que um advogado, uma dentista e dois engenheiros iriam conseguir vender e, em apenas dois anos, nos

tornamos líderes do mercado no nosso setor”, relembra Eduardo Ferraz. Inicialmente, a LBT Lasers era composta por quatro sócios (Eduardo Ferraz, administrador e advogado; Odete Manor, dentista; Yosef Manor e Alexandre Ferraz, ambos engenheiros). Na época, com apenas dois funcionários, a estratégia adotada pela equipe foi dividir o Brasil em quatro regiões, nas quais cada um dos diretores ficava responsável pela divulgação dos equipamentos para os médicos dermatologistas, vasculares, plásticos e de medicina estética. Hoje, após mais de 15 anos de atuação, estão à frente da empresa Eduardo Ferraz, Odete e Yosef Manor. Junto a eles, são mais de 30 funcionários, uma vez que, além dos equipamentos de alta tecnologia, a LBT Lasers oferece cursos e treinamentos, bem como manutenção e suporte técnico que garantem o funcionamento correto das multiplataformas. A estratégia de negócio da empresa envolve consultoria completa para novos clientes e investidores do setor; certificação técnica e apoio clínico, para que os médicos e os profissionais das clínicas potencializem o seu trabalho com o uso correto das tecnologias; manutenção preventiva e suporte técnico, responsáveis pelo bom funcionamento dos equipamentos e também pelas atualizações. O segredo para a trajetória de sucesso da empresa, segundo os sócios, é sua postura ética e de confiança. “O compromisso com os nossos clientes é forte, é praticamente um casamento. Quando vendemos um equipamento, sabemos que estaremos com esse cliente durante anos”, conclui Odete. Os procedimentos com o Power 2 já estão disponíveis na Clínica Dome (Av. Angélica, 2163, cj. 133, São Paulo) com agendamento pelo WhatsApp (11) 94547-1428. +LBTLASERS.COM.BR


PODER

FOTO PAULO FREITAS

INDICA

“ O compromisso com nossos clientes é forte, é praticamente um casamento. Quando vendemos um equipamento, sabemos que estaremos com esse cliente durante anos” Odete Manor, sócia da LBT Lasers


ESTANTE

EDIÇÃO

ESPECIAL Em tempos de isolamento social, separamos os livros que têm feito a nossa cabeça nestes longos dias de quarentena. Entre os selecionados há clássicos, lançamentos e títulos sobre o momento conturbado em que vivemos. Boa leitura POR DADO ABREU

BILLION DOLLAR LOSER - THE EPIC RISE AND SPECTACULAR FALL OF ADAM NEUMANN AND WEWORK Reeves Wiedeman Little, Brown and Company

Na lista dos best-sellers do Wall Street Journal, conta a história da WeWork e seu CEO, Adam Neumann, que juntos representaram uma das mais audaciosas e improváveis ascensões e quedas no mundo dos negócios americanos (em inglês).

A FAMÍLIA MANDIBLE: 2029-2047 Lionel Shriver Intrínseca

Em meio à contundente queda do PIB dos países causada pela pandemia, a autora de Precisamos Falar Sobre o Kevin cria neste romance distópico uma sátira sobre o fim da hegemonia dos EUA. Em 2029, a China enfim é alçada ao posto de maior potência econômica mundial e, da noite para o dia, o dólar despenca. COMO AS DEMOCRACIAS MORREM Steven Levitsky, Daniel Ziblatt Zahar

Uma análise perturbadora das ameaças às democracias em todo o mundo por dois dos mais conceituados professores de Harvard. Sucesso mundial de público e de crítica, é uma obra fundamental para este momento atual de pandemia.

O ESPLÊNDIDO E O VIL Erik Larson Intrínseca

Os bastidores de como o ex-primeiro-ministro Winston Churchill uniu o Reino Unido durante o pior momento da Segunda Guerra. O livro foi indicado por Bill Gates em seu blog.

COMO EVITAR UM DESASTRE CLIMÁTICO AS SOLUÇÕES QUE TEMOS E AS INOVAÇÕES NECESSÁRIAS

Bill Gates Companhia das Letras

O magnata da Microsoft propõe um plano abrangente, prático e acessível para zerar a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e evitar uma catástrofe climática.


THINK AGAIN: THE POWER OF KNOWING WHAT YOU DON’T KNOW Adam Grant Viking

Um dos palestrantes mais populares do TED Talks e autor do best-seller Originais – Como os Inconformistas Mudam o Mundo, o psicólogo examina a arte crítica de repensar: aprender a questionar suas opiniões e abrir a mente, o que pode trazer performance no trabalho e sabedoria na vida (em inglês). A REGRA É NÃO TER REGRAS: A NETFLIX E A CULTURA DA REINVENÇÃO

UM DIA CHEGAREI A SAGRES

Reed Hastings Intrínseca

Nélida Piñon Record

Por si só, o novo romance da imortal é um evento literário já que ela não publicava desde 2004. A obra retrata, por meio da ficção, o transcurso histórico de Portugal a partir do século 15.

Primeiro livro escrito pelo CEO da Netflix conta os bastidores da cultura da empresa. De um serviço de locação de DVDs por correio a uma superpotência de streaming.

MÉRITO

NÓS, MULHERES Rachel Cusk Todavia

Ao reproduzir tramas alheias e instigar reflexões, o terceiro e último volume da aclamada trilogia de Cusk consegue intensificar o impressionante controle narrativo que marca a série da protagonista Faye e consolida a escritora como uma das mais importantes da atualidade. DEZ LIÇÕES PARA O MUNDO PÓS-PANDEMIA

Rosa Montero Todavia

Uma viagem pela história das mulheres que marcaram o mundo. Agatha Christie, Simone de Beauvoir e Frida Kahlo, mas também figuras menos conhecidas como Mary Anning, primeira paleontóloga da história, e Juana Azurduy, que liderou exércitos contra os espanhóis.

Fareed Zakaria Intrínseca

UM DEFEITO DE COR

O apresentador da CNN convida o leitor a compreender melhor a natureza de consequências políticas, sociais, tecnológicas e econômicas que em outras circunstâncias levariam anos para ocorrer.

Ana Maria Gonçalves Record

Romance premiado sobre a história de uma mulher vendida como escrava quando criança. “Entre os melhores livros que li nesta língua eslava”, escreve Millôr Fernandes no prefácio.

26 POETAS HOJE Heloisa Buarque de Hollanda Companhia das Letras

FOTOS FREEPIK; DIVULGAÇÃO

Publicado em 1976 como resposta dos jovens aos anos de chumbo, a reedição de uma das mais importantes antologias da poesia brasileira tem organização da acadêmica e ensaísta e traz textos de Ana Cristina Cesar, Torquato Neto, Zulmira Ribeiro Tavares, Chacal, entre outros. TORTO ARADO Itamar Vieira Junior Todavia

No sertão baiano, duas irmãs encontram uma misteriosa faca em uma mala guardada sob a cama da avó. Ocorre então um acidente e para sempre a vida delas estará ligada. Vencedor do Jabuti 2020.

MASTODONTES Joshua B. Freeman Todavia

A história da fábrica e a construção do mundo moderno. A partir das primeiras instalações no Velho Mundo, depois nos Estados Unidos e nas outras nações, tudo se transformou, da economia à expectativa de vida, da maneira como as cidades se organizam à nossa relação com o mundo natural.


ESPELHO

PONTE DE

COMUNICAÇÃO

JOYCE PASCOWITCH

FOTO SAMUEL CHAVES/DIVULGAÇÃO

A

pós uma temporada em Portugal, onde realizou projetos com clientes importantes e sofisticados como a rede de hotéis e resorts Martinhal, a publicitária Thaya Marcondes está de volta ao Brasil com sua expertise no mercado de comunicação para lançar a LBN Hub, um pool de inteligência com a essência de sua consagrada agência butique, a LBN, porém com um olhar ainda mais moderno. “Analisamos a situação atual da empresa, montamos o planejamento e orientamos o cliente desde a criação da personalidade da marca até o seu posicionamento de mercado. Assim, atendemos de forma completa com todas as áreas integradas, pois cada profissional nosso é expert em seu segmento e está sempre próximo do cliente e de seu público”, explica Thaya. “Do plano de mídia a relações públicas, de redes sociais à propaganda e evento, a LBN Hub investiga, analisa e propõe a estratégia criativa de comunicação independentemente da ferramenta a ser utilizada para comunicar.” Diante de um mercado extremamente competitivo, o hub se destaca por acompanhar a revolução contínua de um mundo transformado pela pandemia e vivendo em modo remoto. Por isso a nova agência não tem escritório fixo e ponto físico. “Estamos onde nossos clientes e o consumidor estão. Para cada projeto criamos um time sob medida e diminuímos custos fixos, o que nos permite ter remunerações mais acessíveis e os melhores profissionais do mercado”, resume. Ostentando uma cartela de clientes invejável – IWC, Piaget, Montblanc, Under Armour, Baume & Mercier, Nvidia, Kroon, entre outros – Thaya Marcondes atua há mais de 30 anos no mundo publicitário. Passou pelas principais agências do Brasil, EUA e Europa antes de partir em voo solo com a LBN em 2007. Desde então, tornou-se referência no mercado de comunicação. “Conectar marcas e pessoas é uma alegria que tenho a sorte de fazer muito bem. Desenvolver estratégias e implantar as suas ações é um dom e algo que amo concretizar com meus clientes e parceiros de negócios”, finaliza. n


OPINIÃO

BRIGA DE

CACHORRO

GRANDE POR NEY FIGUEIREDO

ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES

E

m 2011 eu estava em Paris passando férias, como fazia todos os anos, e lendo o Figaro tomei conhecimento das primeiras escaramuças entre o empresário Abilio Diniz e o poderoso grupo varejista francês Casino. Em jogo estava o controle do Pão de Açúcar. Havia acabado de comentar com minha mulher que se tratava de uma briga de cachorro grande quando recebi um telefonema de um cliente do mercado financeiro internacional indagando-me se teria tempo e disposição para entrar nessa parada. De volta ao Brasil, encontrei-me no Hotel Emiliano com um alto executivo do Grupo Casino, que me inteirou do que estava acontecendo. Em síntese: quando o Pão de Açúcar estava em dificuldades, em 2005, Diniz havia negociado o controle da sua rede de supermercados com Jean-Charles Naouri, presidente do grupo francês, e estava chegando a hora de cumprir o acordado. Porém, Diniz relutava em passar o comando. De imediato expliquei que não tinha dúvidas sobre a documentação que me foi exibida, mas que o problema não era só legal. Conhecia Abilio Diniz de longa

data, havia sido seu colega no Conselho Superior de Política da Fiesp. Tinha fama de ser bom de briga, colecionava uma série de conflitos na vida empresarial com a própria família e com inúmeros parceiros: Sendas, Casas Bahia e Ponto Frio. Na época, a sua proximidade com o governo Lula e a nomeação para a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade da Presidência da República no governo Dilma revelavam que seria um adversário de peso. Alertei que não seria fácil derrotá-lo no campo político e lembrei que Naouri era um empresário estrangeiro, pouco conhecido no Brasil e sem nenhuma ligação política. Bem antes do vencimento do contrato, Diniz havia feito meticulosa articulação para impor ao Grupo Casino um fato consumado: a fusão do Pão de Açúcar com o Grupo Carrefour, mediante aval do governo brasileiro por meio do BNDES. Na opinião do empresário, tal negócio era impossível de ser recusado pois “tratava-se de uma questão de Estado”, já que surgiria a maior empresa de varejo da América Latina, enquadrando-se na política

dos “Campeões Nacionais”. Tal fusão chegou a ser anunciada com estardalhaço pelo BNDES. Mas por que não deu certo? Onde Diniz errou? A repulsa pública traduzida em inúmeros editoriais provocou um

efeito cascata. Os principais jornalistas e veículos de comunicação do Brasil e do mundo, municiados com documentos claros e objetivos, compraram a briga de Naouri. Ajudou muito a má imagem de Abilio Diniz quanto aos negócios. Nenhuma entidade empresarial importante, ou empresário de porte, veio em seu socorro. Ao contrário, quando indagados em off defendiam que o negócio havia sido lícito e que Diniz teria que honrar o que tinha assinado. A posição irredutível de Naouri de não negociar e não aceitar que seu patrimônio sofresse uma expropriação foi fundamental. A presidente Dilma, após ser inteirada da negociação, condicionou a realização da operação, com aporte de recursos do BNDES, a inteira concordância do Grupo Casino. Dois ministros, Fernando Pimentel e Gilberto Carvalho, ainda fizeram gestões a favor de Diniz, mas diante da firme posição da presidente bateram em retirada. Fui uma figura menor na disputa, que contou com talentosos profissionais dos dois lados, mas pude acompanhar de perto um grande embate do mundo corporativo. n

Ney Figueiredo é consultor político e cientista social. Escreveu diversos livros, entre eles Diálogos com o Poder (ed. Cultura).

PODER JOYCE PASCOWITCH 65


UTILITARISMO

ELEGANTE, SOFISTICADO, DEMOCRÁTICO

Defendendo a ideia de que o bom design é para todos, a francesa Charlotte Perriand ocupou um lugar de destaque, sobretudo na concepção da “nova casa modernista”, e se tornou uma referência que permanece presente até hoje POR ANA ELISA MEYER

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Charlotte Perriand fotografada por Pierre Jeanneret na Chaise Longue Basculante, 1929

A

rquiteta de formação e responsável por consagradas obras de design mobiliário, Charlotte Perriand foi algumas vezes ofuscada, ao longo de sua produtiva carreira, por seus companheiros de trabalho, sobretudo pelo renomado Le Corbusier. Nascida em 1903, em Paris, filha de um alfaiate e uma modista, aos 17 anos Charlotte ingressou como bolsista na École de l’Union Centrale des Arts Décoratifs, onde estudou desenho de mobiliário por quatro anos. Para complementar a formação, teve aulas nos ateliês de pintura de Bernard Boulet de Montvel e de André Lhote, e frequentou os cursos de Maurice Dufrêne nas Galeries Lafayette e de Paul Follot no Le Bon Marché – duas grandes lojas de departamento francesas que instituíram seus próprios estúdios de design após a Primeira Guerra Mundial. Ali eram oferecidas atividades mais práticas do que nas escolas de perfil acadêmico. Em 1926, financiada por seus pais, apresentou a composição intitulada Coin de Salon no Salão Anual da Societé des Artistes Décorateurs de Paris. Sua ousadia ao mesclar na obra elementos de madeira e vidro foi vista como uma atitude pueril. Por outro lado, o trabalho agradou o comerciante de tecidos Percy Scholefield, um inglês amigo da família, que adquiriu a peça para mobiliar seu próprio apartamento. Mais tarde, enfrentando a opinião familiar contrária, Charlotte casou-se com Percy, 20 anos mais velho do que ela.

FOTOS REPRODUÇÃO

AFINIDADE COM LE CORBUSIER

Charlotte Perriand acreditava que a arquitetura deveria atender às necessidades humanas e desde o início projetou espaços interiores amplos, de plano aberto, buscando garantir que as mulheres não se sentissem presas ou excluídas do convívio em suas casas. Essas ideias estão bem representadas no projeto Bar sous le Toit, uma recriação de uma dependência de seu próprio apartamento, que ela apresentou no Salon d’Automne em 1927. A composição chamou a atenção do já então prestigiado arquiteto naturalizado francês Le Corbusier. Ele precisou rever sua opinião diante do desempenho excepcional da jovem que meses antes, ao buscar uma vaga em seu escritório, tinha sido rejeitada com um grosseiro “nós não bordamos almofadas aqui”. A obra Bar sous le Toit o obrigou a rever seu julgamento e convidar Charlotte para trabalhar em seu ateliê com o status de associada e como designer de mobiliário de seus projetos, que até então eram mobiliados com objetos que não eram de autoria de seu próprio ateliê. PODER JOYCE PASCOWITCH 67


A COZINHA FUNCIONAL

Com a necessidade de dispor difediferentes produtos na cozinha, o armazearmazenamento tornou-se uma das grandes preocupações para o design de interiointeriores do pós-guerra. Charlotte Perriand foi pioneira nessa questão; desenhou e conconcebeu a “cozinha aberta” para os aparapartamentos da Unité d’Habitation, projeto de Le Corbusier edificado em MarselMarselha entre 1947 e 1952 e que representou uma revolução na concepção da vida familiar. Para criar tal conceito, CharloCharlotte basicamente dispôs os armários de forma a auxiliar a organização do próprio espaço arquitetônico. Para ela, a dona de casa precisava ganhar liberdade, se mover e alcançar os produtos e utensílios com facilidade. E com a nova cozinha, a família e os amigos penetravam o espaço do trabalho dodoméstico. Foi assim que nasceu a cocozinha funciofuncional como um espaço de convivência.

Acima a estação de ski Les Arcs, em Savoie, França, 1967, e abaixo a reprodução da casa de chá encomendada pela Unesco, 1993

Nos anos que se seguiram, a estreita colaboração entre Charlotte, Corbusier e Pierre Jeanneret, primo do arquiteto, fez com que os espaços internos dos projetos se qualificassem e se tornassem ainda mais nitidamente funcionais. A combinação entre as claras funções do es-

68 PODER JOYCE PASCOWITCH

paço interno e o mobiliário desenhado dentro da mesma concepção arquitetônica radicalizaram de forma ainda mais precisa o conceito da “casa como máquina de morar”. As peças, sempre marcadas com a designação LC Collection, passaram a refletir o caráter de seu tempo, tomando emprestadas as ideias da indústria automobilística e aeronáutica, resultando em objetos icônicos do século 20. A poltrona Grand Confort, em forma de cubo, a Chaise Longue Basculante e a cadeira giratória de couro entraram para a galeria dos móveis representativos do pensamento modernista. Os dois tiveram uma relação profissional intensa, porém um tanto quanto eclipsada pela notoriedade de Corbusier. Em 1937, Charlotte deixou o ateliê do mestre e, numa reviravolta interessante, passou a observar de forma intensa a natureza em busca de inspiração. Focou seu trabalho em interesses sociais, em projetos igualitários e populares. No fundo o funcionalismo, no caso de Charlotte, sempre almejou a democratização da organização dos espaços domésticos.

CARREIRA SOLO

Comunista entusiasmada e influenciada pelos anos que passou no Japão, Charlotte voltou a França em 1940


determinada a projetar móveis de baixo custo para produção em massa. Revolucionou o ambiente doméstico por acreditar que uma casa deveria ser bela, mas funcionar bem. Propôs substituir o velho conceito de “decoração de interiores” por um outro, novo e baseado em uma organização da casa e da vida cotidiana que conjugasse função e beleza. Passou a substituir o cromo, material caro na época, por materiais tais como madeira e bambu, matérias-primas inovadoras e que havia aprendido a manusear no Japão. Fez uso de técnicas de construção manufaturada tendo em vista móveis e objetos arquitetônicos acessíveis e atraentes para a crescente presença da classe trabalhadora. Para ela, não havia método ou estilo prescrito: “Nem metal nem madeira, indústria nem artesanato devem dominar”, disse ela, porque “usamos cada um em seu lugar ideal”. Adepta prematura da reciclagem, Charlotte Perriand sempre que possível utilizava os restos de madeira e pedras como esculturas a serem exibidas em uma casa. Outra convicção da arquiteta e designer era a de que obras de arte eram elementos essenciais e que deveriam fazer parte da vida cotidiana – outro importante aprendizado da cultura japonesa. Das suas colaborações com artistas, se destacou uma obra de Fernand Léger encomendada para um espaço criado em 1935, e impressões de desenhos de Pablo Picasso, que foram usadas em um projeto de habitação popular.

FOTOS REPRODUÇÃO

PROJETOS ARQUITETÔNICOS

Em uma época na qual era ainda incomum a presença feminina na arquitetura e no design, a carreira de Charlotte inclui trabalhos icônicos dos quais participou enquanto atuava no escritório de Le Corbusier. Da sua parceria com o arquiteto, vale ressaltar as residências modernistas Villa Savoye e a Villa Church, e a Cité de Refuge de l’Armée du Salut, que hoje abriga a Fundação Le Corbusier. Porém, realizou outros projetos igualmente representativos e elaborados exclusivamente por ela e, dentre eles, a extensa estação de esqui de Les Arcs, na França de 1967, onde ao dispor os edifícios acompanhando a topografia da montanha, organizou os blocos de apartamentos em uma série de terraços escalonados descendo a encosta, garantindo assim que as vistas da montanha fossem preservadas e usufruídas. Posteriormente, foi adicionada a esse conjunto de obras uma casa de chá japonesa encomendada pela Unesco em 1993. Charlotte Perriand morreu em 1999, aos 96 anos, mas sua influência nos rumos do design, da arquitetura e da arte, sempre baseada nas suas ideias modernistas, permanece na maneira como vivemos ainda hoje, desde a presença de materiais como alumínio, aço e madeira, até sua crença de que bom design é para todos. n

De cima para baixo: Charlotte em seu estúdio, 1991; biblioteca modular para a La Maison du Mexique na Cité Internationale Universitaire de Paris, 1952; projeto Bar Sous le Toit, 1927


PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN

GUARDASOL

São apenas cinco suítes espalhadas por um coqueiral com vista para o mar paradisíaco de Alagoas. Localizado em Japaratinga, pertinho de São Miguel dos Milagres, o Pé na Areia é um novo hotel butique para quem anda sonhando com uma temporada de sombra e água fresca. Além de passar o dia na piscina embalada pela brisa, os hóspedes aproveitam passeios mágicos pela região – bicicletas, standups e caiaques estão à disposição –, que inclui piscinas naturais e praias absolutamente únicas. +PENAAREIABOUTIQUEHOTEL.COM.BR

ERA UMA VEZ

Brigitte Bardot, Audrey Hepburn e outros tantos da mesma importância não visitavam Capri sem garantir seu quarto no lendário La Palma. Pois eis que um dos hotéis mais antigos do destino, pertinho da famosa Piazzetta, será reaberto pelo grupo Oetker Collection – a.k.a Le Bristol Paris, e Eden Roc – St. Barths, Palácio Tangará e outros. Entre os destaques do projeto italiano estão o restaurante comandado por Gennaro Esposito, duas estrelas Michelin, a piscina deliciosa, o rooftop com vista para a cidade e o beach club do hotel, localizado na Marina Piccola. Com previsão de abertura para abril do próximo ano, o endereço promete se tornar ponto de encontro dos viajantes experientes, mas também dos locais. +OETKERCOLLECTION.COM

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LABIRINTO Clima colonial, ruelas de

paralelepípido, construções históricas e cantinhos cheios de bossa escondidos por toda parte: Barichara é um destino imperdível para os viajantes interessados em experiências nada óbvias na Colômbia. A boa notícia é que o vilarejo ganhou recentemente uma hospedagem à altura: a Yahri é uma coleção de villas privativas no charmoso bairro de La Loma. Além de uma curadoria de experiências especiais, como jantar na casa de um chef local, o grupo oferece guias e motoristas tarimbados para desbravar as inúmeras trilhas e raftings que marcam a região. +YAHRI.COM

COBERTURA EXTRA

São novos tempos e nada como tomar um cuidado extra nos próximos voos. Pensando nisso, a Lady and Butler lançou uma linha que promete virar hit entre os viajantes – a marca já assinou uniformes para uma série de empresas como Four Seasons, Equinox e Soho House. Batizada de Better off Alone, a coleção foi desenvolvida com uma tecnologia antimicróbio, que reduz a contaminação das superfícies com micro-organismos. Há desde kits viagem com máscara, cobertor, travesseiro e proteção de poltrona, mas também roupas feitas para encarar aviões, trens e afins.

FOTOS DIVULGAÇÃO

+BETTEROFFALONENEWYORK.COM

EXCELÊNCIA NAS ALTURAS

Se fosse apenas pela sensação de flutuar em meio ao mar de montanhas verdes do Vale do Quilombo, a ida ao CASTELO SAINT ANDREWS já valeria a pena. Mas a experiência de chegar ao mirante cercado pela natureza de Gramado, na Serra Gaúcha, é só o começo de uma estadia que se torna inesquecível pelos diferenciais e serviços personalizados que o hotel dispõe. A começar pela excelência gastronômica do restaurante Primrose, de clima intimista, cozinha contemporânea e dono de uma das melhores cartas de vinhos do mundo. Os festivais com safras raras de vinhos e champanhes acontecem ao longo do ano em parceria com as melhores marcas internacionais. A charmosa biblioteca, o cigar lounge, os gazebos, a sauna e a piscina coberta estão entre os atrativos dessa construção arquitetônica inspirada nos castelos escoceses – sem falar que o Saint Andrews é o único hotel de montanha do país membro da Relais & Châteaux, associação que reúne os melhores hotéis e restaurantes do mundo. +SAINTANDREWS.COM.BR

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SOB MEDIDA POR FERNANDA GRILO

NELSON MOTTA

Jornalista, escritor, roteirista, compositor, produtor musical, teatrólogo e letrista. Todas funções exercidas com maestria ao longo dos mais de 50 anos de carreira. A autobiografia De Cu pra Lua: Dramas, Comédias e Mistérios de um Rapaz de Sorte (ed. Estação Brasil) nem bem saiu do prelo e este frenético assumido já está imerso em outro livro.

Comida boa feita pela Mari há 30 anos. Ela é uma cozinheira genial. UMA INQUIETUDE: A finitude. NAMORADA DOS SONHOS: A atual, Drica. PESSOA QUE TE INSPIRA: Meu pai (Nelson Cândido Motta). FRASE: “Quem recebeu mais tem que dar mais”, do meu pai. SONHO DE INFÂNCIA: Crescer rápido. ÍDOLO: Não tenho mais idade para ter ídolos... (risos). VÍCIO: Tabagismo eletrônico. MANIA: Viver intensamente cada momento. SER BEM-SUCEDIDO É: Ser feliz. ONDE E QUANDO É MAIS FELIZ: Nas viagens. Seria aqui e agora se não fosse a pandemia. MEDO: Não de morrer, mas de sofrer. COM O QUE SE PREOCUPA: Com minha família, prioridade total. O QUE FARIA SE FICASSE INVISÍVEL POR UM MINUTO: Dava um susto nos

meus netos.

COMO SOBREVIVER À PANDEMIA?

Em casa.

ESTADO MENTAL NESTE MOMENTO?

Apreensivo naturalmente, mas sempre otimista.

O FIM DO MUNDO ESTÁ PERTO?

Estamos vivendo uma versão reduzida do fim do mundo. O mundo acabou para milhões e milhões de pessoas. DESEJO PARA O FUTURO: Sobreviver com saúde e lucidez.

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FOTOS RICARDO MORAES/FOLHAPRESS; GETTY IMAGES; TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL; VEECTEEZY; FREEPIK; REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO

NÃO PODE FALTAR NO CAFÉ DA MANHÃ: Café Nespresso. O QUE NUNCA FALTA NA SUA CASA:


PESSOA QUE TODOS DEVERIAM CONHECER:

O escritor Zuenir Ventura.

PECADO GASTRONÔMICO:

Tudo que é doce.

O DISCO DOS DISCOS:

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles.

OCUPAÇÃO PREFERIDA:

Escrever.

LIVRO: Gabriela, Cravo e Canela (1958), de Jorge Amado.

MELHOR HORA DO DIA:

Dez da manhã.

MOMENTO DE MAU HUMOR:

UM SOM: Das ondas do mar. Com gaivotas. O QUE FALTA REALIZAR:

Viver 100 anos.

Às vezes depois de dormir mal. Mas é raro.

MELHOR FILME:

O Grande Lebowski (1998), dos irmãos Coen [Joel e Ethan].

PEÇA DE ROUPA:

Camiseta. UM ARTISTA:

João Gilberto.

LUGAR PREFERIDO NO MUNDO:

Minha casa em Ipanema.


HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI

HOME FIT HOME Separamos uma coleção de aparelhos que vão ajudar a turbinar o seu treino e manter a motivação mesmo dentro de casa

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CULTURA INC.

A VIDA COMO ELA É

Com primeiro longa de ficção previsto para este ano, o jornalista João Wainer quer contar no cinema histórias que viveu em mais de duas décadas de jornalismo diário

POR LUÍS COSTA


J

oão Wainer tinha apenas 19 anos quando, já repórter da Folha de S.Paulo, ouviu do cineasta Cacá Diegues um conselho. “Queria fazer cinema e ele me recomendou ficar no jornalismo mais tempo, para ver o mundo como ele é de verdade”, lembra Wainer, hoje com 44. O rapaz seguiu a ideia e, mais de duas décadas após uma sólida carreira na imprensa, assina enfim o primeiro longa de ficção. Wainer acaba de entrar para o time da produtora TX, ao lado de Camila Villas Boas e do irmão Roberto T. Oliveira, com quem

dre Nero), que inicia um jogo de tortura psicológica. “O filme é sobre esse momento de ódio. Um cara cansado de ser roubado e que decide fazer justiça com as próprias mãos. Ele escolhe aleatoriamente um ladrão e resolve pôr para fora o ódio que sente de muitas coisas”, explica Wainer. O diretor trouxe das ruas para a ficção o olhar de duas décadas de jornalismo diário. “Eu viajei o mundo, vi tragédias, vitórias, pessoas morrendo, nascendo. Na hora de filmar, isso me serviu para construir os personagens”, diz. Wainer começou aos 16 anos no Jornal da Tarde, foi assistente do fotógrafo Bob Wolfenson, passou pelo sensacionalista Notícias Populares. Na Folha de S.Paulo, foi repórter fotográfico, editor de imagem e criador do projeto TV Folha. Ainda no jornal, começou a tocar os projetos pessoais, como o documentário Pixo (2009), que mostra o cotidiano de pichadores em São Paulo. Wainer deixou o jornal em 2015 e trabalhou com séries documentais, videoclipes e publicidade. Agora, com a bagagem de uma vida nas ruas, projeta novas ideias na ficção. “Há muita história que vivi e quero contar daqui pra frente”, diz o diretor. Entre elas, a da facção criminosa PCC (sobre a qual já filmou série documental para o UOL), histórias que conheceu no Carandiru e do extinto Notícias Populares. “Quero transformar em ficção uma parte considerável de experiências que vivi na linha de frente da notícia”, revela. n

FOTOS ALE RUARO/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

‘‘Quero transformar em ficção uma parte considerável de experiências que vivi na linha de frente da notícia” já fez dobradinha em documentários. O drama 4x4, filmado em 2018 e previsto para sair no segundo semestre, é também a primeira ficção da produtora. O filme é uma adaptação do roteiro do argentino Mariano Cohn, que rodou o longa no país vizinho em 2019. A premissa é a mesma: um ladrão (no Brasil, vivido por Chay Suede) arromba um carro, tenta levar o que encontra, mas quando vai sair percebe que está preso. Ele é pego por uma armadilha do dono do veículo (Alexan-

PODER É

TEATRO EM FÚRIA Uma personalidade destemida e uma audácia de fazer teatro no Brasil estão nas páginas de Ruth Escobar – Metade É Verdade (Sesc), biografia escrita pelo dramaturgo e pesquisador Alvaro Machado. No Brasil, Ruth Escobar (1935-2017) montou peças com escândalos morais e apostou em montagens de vanguarda e libertárias em meio à ditadura. “Ela captou dinheiro da burguesia, mas produziu ataques frontais tanto à moralidade católica quanto à censura”, conta o autor. Para Machado, ela contribuiu para arejar o ambiente teatral com a chegada de autores, diretores e a produção de festivais. “Ruth trouxe esse adubo cultural e intelectual ao teatro”, diz. AS RUAS POR ELAS Gulnara Samoilova, fotógrafa russa radicada em Nova York, publicou em livro um dos projetos a que mais tem se dedicado. Women Street Photographers (Prestel, US$ 35) reúne o trabalho autoral de 100 fotógrafas de rua de diversas partes do mundo. A publicação é um desdobramento do projeto homônimo que Gulnara criou em 2017 para fomentar a maior participação de mulheres na fotografia – sobretudo no chamado street photography, gênero em que a câmera capta pessoas, espaços e cenas das ruas. No Instagram @WomenStreetPhotographers, trabalhos são expostos diariamente. A iniciativa tem ainda um programa de residência artística em Nova York e exibição anual de fotografias.

PODER JOYCE PASCOWITCH 77


DOCUMENTÁRIO

COMIDA NA MESA

Série documental recupera clássico da alimentação no Brasil e investiga ingredientes, modos de preparo e hábitos que formaram a mesa cotidiana do brasileiro

U

ria da sociedade brasileira. Na série, ao lado dos cozinheiros, dos mestres artesãos, dos feirantes, antropólogos e sociólogos discutem os significados sociais e políticos da comida no Brasil. “Não é possível conceber a vida em sociedade sem olhar para a alimentação”, diz Puppo. A série registra técnicas que estão desaparecendo, hoje apenas mantidas pelas mãos de poucos, como a preparação artesanal do azeite de dendê. “Cascudo defende que a sabedoria dos preparos tradicionais seja preservada, no sentido de valorização de uma memória cultural coletiva”, afirma o diretor, que considera ainda mais importante garantir a variedade dos ingredientes e a preservação dos nutrientes e dos sabores naturais. “Isso passa por toda uma mudança de mentalidades, que só pode ser obtida com profundo conhecimento da própria história.”

SUL DA FRONTEIRA, OESTE DO SOL Haruki Murakami (Tradução: Rita Kohl) Alfaguara

Este romance curto de 1992 narra a educação sentimental, amorosa e principalmente sexual de um protagonista que tem tudo para ser alter-ego do escritor. BAIXO ESPLENDOR Marçal Aquino Companhia das Letras

O grande Marçal Aquino retorna ao romance numa trama sobre uma quadrilha de roubo de cargas tendo a ditadura brasileira como pano de fundo. Uma grande história para se deixar levar.

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As escolhas literárias do mês pelo editor Paulo Werneck CABEÇA BRANCA Allan de Abreu Record

O repórter da Piauí escreve sobre um dos maiores traficantes de cocaína do planeta, que herdou do pai rotas de contrabando de café no Paraná e passou décadas nas sombras, despistando a polícia e fornecendo drogas e logística para máfias internacionais.

SOB UM CÉU BRANCO Elizabeth Kolbert (Tradução: Maria de Fátima Oliva Do Coutto) Intrínseca

Não é de hoje que alteramos as feições do planeta, com danos graves para a vida e o clima. Mas como a geoengenharia e a ciência podem transformar a terra, as águas e a atmosfera para reverter a crise ambiental? Uma reportagem incrível de uma ganhadora do Pulitzer.

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FOTOS DIVULGAÇÃO

m clássico da literatura brasileira chega às telas. Escrito em 1967, História da Alimentação no Brasil, do antropólogo potiguar Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), virou uma série documental homônima, disponível na Amazon Prime Video. A equipe, comandada pelo diretor Eugenio Puppo, rodou por Brasil e Portugal para decifrar a mesa do brasileiro. Na pesquisa, centenas de documentos, entre cartas, anotações e fotografias do acervo de Cascudo, o mais importante folclorista brasileiro. “Não se trata apenas de um apanhado aleatório de visões sobre a alimentação, há sempre o fio condutor da narrativa desenvolvida pelo próprio Cascudo”, diz o diretor. O antropólogo via a alimentação brasileira como resultado da triangulação das influências de Portugal, da diáspora africana e da herança indígena. A história da alimentação é, portanto, também a histó-


OPINIÃO

GESTÃO ORGANIZAÇÃO LIDERANÇA POR AMIR SOMOGGI

ILUSTRAÇÃO GETTYIMAGES

O

esporte de alto rendimento exige a profissionalização de sua administração. As grandes ligas dos Estados Unidos como NFL e NBA e as europeias, como Premier League e LaLiga, tiveram há tempos um marco regulatório para a gestão dos times enquanto o Brasil, até hoje, não encontrou uma legislação que acelere a transformação dos clubes de futebol em companhias – desde 1993, e com mais intensidade a partir de 1998, já se fala sobre isso por aqui, mas sem nenhuma bola dentro. Na Europa, o início da década de 1990 mudou para sempre a gestão dos clubes. Se hoje as ligas e seus times são gigantescos economicamente, tudo se deve ao modelo empresarial da sua gestão no qual praticamente todos os clubes são empresas – é comum times terem ações negociadas em bolsa, como o Manchester United e a Juventus. A visão de um modelo empresarial foi colocada em prática com a profunda reestruturação vivida pelo futebol inglês e trouxe consequências diretas nos principais mercados europeus. Cada país criou leis adequadas ao que de mais moderno estava sendo vivido no mundo empresarial. As mudanças visaram adequar o esporte, que vivia uma gestão amadora, em algo profissional, nos moldes das grandes empresas. Raríssimas são as exceções, como os casos de Real Madrid e Barcelona, que se mantiveram como associações sem fins lucrativos e mesmo assim seguem em alta. Holdings multinacionais também

fazem parte. Segundo dados da Uefa, a associação europeia de futebol, 46% dos times são de proprietários de fora do continente, especialmente EUA, Ásia e Oriente Médio. O Fenway Sports Group, dos EUA, por exemplo, dono do Liverpool e do Boston Red Sox de beisebol da MLB, apresentou valuation de US$ 7,5 bilhões. Já o City Football Group, holding do Manchester City e mais nove times pelo mundo, foi avaliado recentemente em US$ 5 bilhões. Enquanto isso no Brasil os clubes são entidades sem fins lucrativos, com baixa capacidade de atrair investimento, especialmente recursos de investidores internacionais. Atualmente há dois projetos de lei que tratam dos clubes empresa no país. Nos dois casos as leis cometem as falhas de suas antecessoras (Timemania e Profut) e não resolvem a péssima gestão onde clubes devem quase R$ 10 bilhões – 40% para o governo federal. Devem também para jogadores, treinadores, bancos, fornecedores e uma lista gigantesca de credores. Mesmo assim é possível fazer seu valuation. Segundo estudo publicado pela Sports Value em dezembro de

2020, os Top 30 times do Brasil somados valiam R$ 25 bilhões, cerca de US$ 5 bilhões – Flamengo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Internacional encabeçam a lista dos mais bem avaliados economicamente. Os números modestos mostram claramente como a má gestão, falta de boas práticas de administração, ausência de compliance e ESG foram preponderantes para nosso fracasso administrativo. O marco regulatório do clube empresa no Brasil deve seguir pelo caminho do modelo de gestão saudável e eficiente, obrigando que as novas companhias sigam regras rígidas para não sofrerem punição esportiva severa, como rebaixamentos por má administração. E junto com o projeto de clube empresa, a criação da Liga Brasileira, com os 20 times da Série A e 20 times da Série B, independentes da CBF e federações estaduais. Uma potência empresarial, com 40 companhias bem geridas. A NBA é assim, a NFL e Premier League também. Por que não no país do futebol? n Amir Somoggi é administrador de empresas pós-graduado em marketing esportivo, sócio da Sports Value e profundo estudioso da Football Industry da Europa


Quando a convenção do Partido Democrata americano começou a decidir quem iria enfrentar Donald Trump em 2020, muitos jovens e progressistas se entusiasmaram com a plataforma da deputada Alexandria Ocasio-Cortez, que propôs um novo “New Deal”, que, muito diferentemente daquele de Roosevelt no pós-guerra, mirava na agenda ambiental. O “Green New Deal” de AOC prevê a substituição do combustível fóssil como matriz energética e a neutralidade das emissões de carbono pelos Estados Unidos já em 2030. Poucos imaginariam é que Joe Biden, uma vez eleito presidente, iria levar esses objetivos à frente, e mais, fazer deles um instrumento importante de liderança mundial. A cúpula dos líderes que ele convocou em abril foi uma demonstração de força – e a ela não faltaram Xi Jinping e Vladimir Putin, presidentes da China e da Rússia, com quem Biden vem antagonizando. Estados Unidos e China são os maiores emissores de carbono do mundo, e, sem o esforço concentrado desses países, as ações de outros países não revertem o aumento de temperatura da Terra. Só que a meta americana do carbono zero de AOC para 2030 ganhou mais 20 anos de lambuja. Assim, talvez até mesmo o Brasil consiga controlar o desmatamento ilegal, de fato, antes. Na cúpula, Bolsonaro comprometeu-se com esse objetivo para 2030. Colocado entre os últimos de uma longa fila de chefes de Estado, falou sem ser ouvido por Biden, que precisou se retirar por algumas horas durante o evento.

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