Revista PODER | Edição 144

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COMO A PANDEMIA ESTÁ IMPACTANDO A SUA CARREIRA? POR LILIANE ROCHA

A

resposta para essa pergunta irá variar se você for homem ou mulher. Segundo o estudo “Mercado de Trabalho e Pandemia da Covid-19: Ampliação de Desigualdades Já Existentes?” realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a participação de mulheres no mercado de trabalho caiu 50% durante a pandemia, voltando aos patamares observados em 1990. Mas por que em plena crise pandêmica notamos um retrocesso específico para alguns grupos sociais? Muito se tem falado sobre ESG, que refere-se à perenidade empre-

sarial e que tem movimentado e engajado empresas e seus executivos a compreenderem como questões ambientais, sociais e de diversidade devem ser, para além do atendimento de uma demanda urgente da sociedade brasileira por mais justiça social, também uma forma estratégica de pensar e fazer negócios. Recentemente, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a International Financial Corporation (IFC) e a bolsa de valores oficial do Brasil, B3, lançaram uma carta aberta com a finalidade de promover a ampliação da representatividade de diversidade nos conselhos de administração. A carta enviada para investidores, tomadores de decisão e conselheiros fala, entre outros assuntos, sobre a importância das empresas considerarem a equidade de gênero e, portanto, a inclusão das mulheres em todos os níveis hierárquicos, inclusive nos mais altos. Esse documento aberto e público reforçou que apenas 11,5% das posições de conselhos administrativos são ocupadas por mulheres. Ou seja, parece que vivemos em dois contextos distintos de sociedade. Em um deles está um empresariado de vanguarda que impulsiona a sociedade para frente, falando sobre a importância da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Em outro, ao analisarmos os impactos da pandemia, notamos que as mulheres seguem sendo as mais afetadas pelo desemprego – o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) reforçou esse ponto ao mostrar que, com ou sem filhos, o nível da ocupação dos homens é maior do

que o das mulheres; e das mulheres brancas, superior ao das mulheres negras. Então, o que causa esse cenário? Temos algumas indicações que vão desde os vieses inconscientes de gênero até a grande diferença de responsabilização persistente das mulheres em tarefas domésticas, afinal o estudo do IBGE mostra que, em 2019, as mulheres dedicaram, em média, 21,4 horas semanais aos cuidados de familiares e afazeres domésticos contra 11 horas dos homens. O mais importante aqui é sabermos que, para não aumentar esse abismo, é preciso realizar ações focadas e coordenadas para a equidade de gênero, seja no poder público ou nas empresas privadas. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) nos trouxe outro dado muito importante que merece análise: no ano passado foram criadas 317,8 mil vagas de emprego, sendo 230,3 mil destinadas ao público masculino e 87,6 mil para o público feminino. Quando falamos de governança e ESG é justamente essa conversa que estamos trazendo para o centro das discussões empresariais. Nos processos de demissão, será que há um viés ou tendência a demitir mais mulheres do que homens? E quando contratamos, quais são os caminhos da tomada de decisão? A pandemia nos coloca de frente com o dilema de quais padrões civilizatórios queremos seguir haja o que houver. Queremos, como diria Cazuza, ver o futuro repetir o passado em um museu de grandes novidades ou seguir adiante na marcha civilizatória? n Liliane Rocha é CEO e fundadora da Gestão Kairós e autora de Como Ser um Líder Inclusivo. Foi eleita por três anos consecutivos como uma das 101 lideranças globais de diversidade pelo World HRD Congress

ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES

OPINIÃO


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