CONEXÃO
MULHER QUE APOIA MULHER
Ana Fontes é uma das figuras mais reconhecidas no empreendedorismo brasileiro. Sábia de origem extremamente humilde, ela fundou a Rede Mulher Empreendedora (RME) e com apoio internacional se transformou em uma espécie de Sebrae para ajudar a mudar a vida de milhares de mulheres, com empatia e know-how. “Nossa construção social ainda diz que o território do dinheiro é masculino. Não! É de quem quiser”
ascida no sertão de Alagoas em uma família de dez irmãos e pais semianalfabetos, Ana Fontes precisou se desdobrar inúmeras vezes na vida para chegar aonde chegou. Fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME), maior plataforma de apoio ao empreendedorismo feminino do Brasil, ela já fez faxina, trabalhou em chão de fábrica e contou com a ajuda de vizinhos para entrar na faculdade de publicidade e propaganda. Depois de ingressar na área em uma multinacional automotiva, Ana investiu no que acredita ser o ponto chave para toda transformação, a educação. Fez pós-graduação em marketing na ESPM e em relações internacionais pela USP, além de passar uma temporada na Inglaterra estudando e trabalhando. Após se tornar mãe, começou a questionar o ambiente corporativo e, em 2010, criou a Rede Mulher Empreendedora. Por meio da rede, Ana já ajudou a transformar a vida de milhares de mulheres no Brasil e no mundo, e exerce papel fundamental no seio de uma sociedade ainda tão patriarcal e machista: dá voz ao empreendedorismo feminino, emancipa financeiramente mulheres em situação de vulnerabilidade e resgata sua autoestima. PODER: COMO NASCEU A REDE MULHER EMPREENDEDORA? ANA FONTES: No Brasil, quase metade dos pequenos
negócios são tocados por mulheres. Fundei a rede há 11 anos muito pelo fato de não identificar mulheres como eu no ambiente empreendedor. Fui executiva em
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multinacional do segmento automotivo por 18 anos, até 2007. Tive uma plataforma de recomendações positivas e um espaço de coworking. A rede veio na sequência e começou como um movimento para ajudar mulheres. Fui selecionada para um curso da FGV. No primeiro dia, ouvi dos coordenadores: “Vocês são as 35 privilegiadas em mais de mil inscrições”. Fiquei triste. Pensei: “E as outras que se inscreveram?”. Anotava tudo nas aulas. PODER: PASSOU ENTÃO A DIVIDIR O SEU CONHECIMENTO… AF: Exato. Na época, ninguém falava sobre mulher e
empreendedorismo. Em 2010, criei um blog e em um ano ganhei 100 mil seguidoras. Elas pediam informações até que não dei mais conta, porque fazia esse trabalho nos fins de semana, mas tinha que tocar os meus negócios, que pagavam as contas. Com o tempo, deixou de ser um movimento e passou a ser um negócio social. PODER: O FOCO DO TRABALHO SEMPRE FOI AS MULHERES? AF: Foi orgânico. Elas pediam encontros com outras
mulheres e criei o Café com Empreendedoras. Na época, o Sebrae acreditava que empreender era igual para homens e mulheres. Eu dizia que não. A motivação, o tipo de negócio e o modelo de gestão são diferentes, além dos desafios, que são outros. Anos depois, o Sebrae me ofereceu ajuda e passei a utilizar o espaço deles para os encontros. E fui construindo as coisas não como nos livros, porque toda boa teoria foi baseada numa prática. Você tem que tentar primeiro e, a partir daí, construir a sua história.
FOTO CLAUDIO GATTI/DIVULGAÇÃO
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POR JOYCE PASCOWITCH