REVISTA PODER | EDIÇÃO 156

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PROPÓSITO, INCLUSÃO E ESPERANÇA

JOGO DE DAMAS

SIMONE TEBET, MARINA SILVA, JANJA e as outras mulheres que ajudaram a alavancar a eleição de Lula

BLACK-TIE

A saga de EDMOND SAFRA, o banqueiro dos banqueiros, – sua vida e suas histórias –agora contada em livro

MUDANÇA DE HÁBITO

JOÃO PAULO PACIFICO, o empresário que trocou a Faria Lima por projetos de impacto social

BÊ-Á-BÁ

DANILO COSTA faz da inadimplência escolar fonte de renda para sua startup Educbank e, de quebra, injeta recursos em um setor que necessita tanto

SANGUE QUENTE

Os números crescentes –e preocupantes – da hipertensão arterial

E MAIS

As novas pesquisas sobre o impacto das redes sociais e dos games no cérebro; RYAN HOLIDAY e a filosofia clássica em Wall Street; o biólogo brasileiro que comanda KEW GARDENS, os jardins reais de Londres; as boas causas de ENZO CELULARI; MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA e ARPAD SZENES, sintonia no amor e na arte; gadgets para relaxar e o mar superazul de Anguilla

N.156
R$ 26,90 ISSN 1982-9469 9 771982 946006 00156
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Saiba mais: VISITE O STAND DE VENDAS: RUA LEOPOLDO 4 355 O Memorial de Incorporação do empreendimento de natureza residencial a ser desenvolvido à Rua Leopoldo Couto de Magalhães Jr. encontra-se registrado sob a Matrícula no 201.637, no 4o Oficial – Secovi 1.191. www.coelhodafonseca.com.br. HB Brokers Gestão Imobiliária Ltda. – Av. Vereador Narciso Yague Guimarães, 1.145 – 15o andar – Mogi das Cruzes-SP – CNPJ 02.967.401/0001constantes no Memorial de Incorporação e nos futuros Instrumentos de Compra e Venda prevalecerão sobre as divulgadas neste material. A imagem é meramente ilustrativa. As tonalidades das OBRASINICIADAS Projeto de Arquitetura:
Altíssimo padrão no ponto mais nobre do Itaim. COUTO DE MAGALHÃES JÚNIOR, 1.142 PERSPECTIVA ARTÍSTICA DO LIVING de Registro de Imóveis da Capital – São Paulo-SP – Incorporação R. 02/201.637, datada de 23 de dezembro de 2021. Planejamento e Intermediação: Coelho da Fonseca Empreend. Imobiliários Ltda. – Av. Brasil, 1.064 – Tel.: 3888-3000 Creci J-961 40 – Creci 016797-j. Tel.: (11) 3674-5500. Be Home – Av. dos Parques, 45 – Alphaville Tamboré – Salas 107 a 111, Santana de Parnaíba-SP – CEP 06544-300 – CNPJ: 02.093.253/0001-82 – CRECI 23.926-J. Tel.: (11) 3181-4138. As informações cores, formas e texturas podem sofrer alterações. A vegetação exposta é meramente ilustrativa, apresenta o porte adulto de referência e será entregue de acordo com o Projeto Paisagístico, podendo apresentar diferenças de tamanho e porte. www.figueiraleopoldo.com.br 11 4580- 1556 REALIZAÇÃO E VENDAS: INTERMEDIAÇÃO:

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NOVEMBRO 2022

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SUMÁRIO

COLUNA DA JOYCE

RECURSO HUMANO

O Educbank de Danilo Costa inova ao combater a inadimplência na educação, setor em que falta dinheiro 24

O BANQUEIRO

DOS BANQUEIROS

Livro conta detalhes da vida de Edmond Safra, um dos maiores gênios financeiros do século 20

OPINIÃO

27

Vivian Rio Stella, doutora em linguística, e a importância da boa comunicação

28

32

ESTRANHO NO NINHO

João Paulo Pacifico deixou o setor financeiro para se dedicar a projetos de impacto social

MAIS UMA VEZ, ELAS TÊM A FORÇA

As mulheres que ajudaram a alavancar a vitória de Lula

38

42

44

CURTO-CIRCUITO

Como a hiperconectividade afeta o cérebro

RESPIRO

O FILÓSOFO DE WALL STREET

Ryan Holiday e os conceitos filosóficos que podem ser usados no dia a dia

OPINIÃO

47

Por que ESG e propriedade intelectual têm tudo a ver, segundo a advogada Karina Haidar Müller

A hipertensão arterial atinge bilhões de pessoas no mundo 51 O JARDINEIRO REAL Alexandre Antonelli, o brasileiro que dirige Kew Gardens 52

PROFISSÃO: ENGAJADO Enzo Celulari faz seu nome no empreendedorismo do terceiro setor 57 SONHANDO ACORDADO

FOTOS MAURICIO NAHAS; GETTY IMAGES; LUÍS COSTA; DIVULGAÇÃO
10 EDITORIAL 12
48 SOB PRESSÃO
O
da
58 A
60
63
64 SOB
66 HIGH-TECH 70 PODER
72 TUDO
76
79
80
/Poder.JoycePascowitch NA REDE: @revistapoder /revista-poder-joyce-pascowitch @_PoderOnline AGENDA PODER BRUNELLO CUCINELLI + brunellocucinelli.com CARTIER + cartier.com.br CHRISTIAN DIOR + dior.com FENDI + fendi.com GALUCCI + galucci.co MISCI + misci.co PRADA + prada.com DANILO COSTA POR ROBERTO SETTON 52 72 58 48
novo jato
Bombardier
POESIA DA COR Walter Firmo, mestre em registros de tons vibrantes
EM TOTAL SINTONIA Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes: juntos no amor e na arte
ABRE-ALAS Marienne Coutinho luta pela diversidade nas empresas
MEDIDA
VIAJA
AZUL Sombra e água fresca em um paraíso chamado Anguilla
CULTURA
FAMÍLIA S.A. Karina Sato, uma agente artísticas de muito sucesso
ÚLTIMA PÁGINA

Cada vez mais brasileiros estão deixando carreiras de destaque em setores tradicionais do mercado para tentar injetar algum propósito na sociedade e na própria vida. O jovem Danilo Costa, fundador do Educbank, reconhecido pelo MIT como um dos cinco brasileiros mais inovadores com menos de 35 anos, fez exatamente isso ao trocar o mercado financeiro para empreender no setor de educação. Ele começou com uma escola integral de baixo custo e, depois, fundou uma fintech que resolve um grave e histórico problema do segmento: a inadimplência. Sua solução pioneira revelou-se bem-sucedida e a startup caiu nas graças –e no capital – do maior grupo educacional do Brasil, o Cogna. Já João Paulo Pacifico, outro destaque desta edição, fez um caminho semelhante, trocando a Faria Lima por tocar projetos com impacto social. Até o MST entrou na roda com um programa de financiamento de agricultura familiar criado por ele. Enquanto isso, a democracia não acabou no Brasil, como profetizaram os mais apocalípticos, e uma das razões para isso, assumindo que a vitória de Lula é um triunfo da institucionalidade, foi a participação feminina. Simone Tebet, Marina Silva e a própria Janja, mulher do presidente eleito, tiveram protagonismo na campanha e outras tantas prometem brilhar num segundo momento, no governo de transição. Enquanto isso, em Wall Street, é o estoicismo, corrente filosófica da Antiguidade, que vem fazendo a cabeça de empresários e traders, graças ao autor best-seller Ryan Holiday. Para ele, a quietude é a chave, receita que também vale para que a gente consiga ter uma relação melhor e mais equilibrada com a hiperconectividade, outro de nossos assuntos. Por aqui também estão o bom-mocismo do jovem empreendedor social Enzo Celulari; a importância de se comunicar claramente e a relevância das patentes verdes segundo duas colaboradoras desta edição, Vivian Rio Stella e Karina Haidar Müller; e os riscos silenciosos da hipertensão, um problema de saúde global. Calma que ainda não terminou: tem também a curadoria de boa vida de PODER com uma seleção de gadgets para relaxar e as melhores praias de Anguilla, no Caribe. Para fechar, uma homenagem a Gal Costa, de quem já estamos com imensa saudade. Em dezembro a gente se encontra de novo.

PODER
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NO TOM

Quem conhece os bastidores da campanha de Lula garante que o elogiado discurso da vitória teve a caneta – e bem mais do que isso – de CELSO AMORIM. O ex-ministro das Relações Exteriores é o principal conselheiro do presidente eleito para questões relacionadas à política externa.

NOVOS TEMPOS

TARCÍSIO DE FREITAS está cada vez mais próximo de GILBERTO KASSAB, presidente do PSD. A recíproca também é verdadeira. Toda essa movimentação leva a crer que o novo governador de São Paulo quer ficar cada vez mais distante da família Bolsonaro. Quer dissociar seu nome do governo atual.

BALCÃO

Um dos melhores bares da Ásia fica em Tóquio e tem dono brasileiro. Trata-se de ROGERIO IGARASHI VAZ, que, além de sócio-proprietário, é chef bartender do Trench, 25º no ranking Asia’s 50 Best Bars deste ano. Igarashi, um paulistano de 47 anos que cresceu no Jabaquara, bairro da zona sul de São Paulo, mora no Japão desde a década de 1990 e fundou o Trench em 2009. Igarashi esteve em São Paulo no fim do mês passado em uma masterclass sobre awamori, tradicional destilado japonês.

SANTO FORTE

O entorno do comando do PT estava na torcida para que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) RICARDO LEWANDOWSKI fosse convidado para o próximo governo. Parece que deu certo, pois ele está sendo cotado para assumir a pasta da Defesa.  Em maio, Lewandowski faz 75 anos, prazo de sua aposentadoria compulsória. Mas, quando alguém toca no assunto, ele desconversa. É que não gostaria de ser comparado a Sergio Moro, que virou ministro de Bolsonaro depois da Lava Jato; nem com Francisco Rezek, que comandou as eleições em que Collor se tornou presidente e, na sequência, foi nomeado chanceler do governo – cargo que abandonou antes do navio fazer água para voltar para o STF.

PLUS

PÉ NO JATO

O mercado de jatos executivos não para de se reinventar. Fundada ano passado, a International Jet Management (IJM) faz gerenciamento de aeronaves e vende pacotes de horas de voo. A VistaJet, que é dona da frota, disponibilizou cerca de 100 jatos Bombardier para essa finalidade. A IJM, que tem como sócios Luiz Sandler, Luiz Gustavo Ribeiro e Philippe Winter, é a embaixadora da empresa no Brasil.

COLEÇÃO

Luís Ricardo Gubernati

Aizcorbe, o fundador da Corbe Toys, em Curitiba, não perdeu o timing e resolveu criar bonecos que satirizam pessoas e situações que caíram na boca do povo. Faria Limers e o Patriota do Caminhão são os primeiros lançamentos da série que, até o fim do ano, ganha mais dois integrantes: Santacecilier e Funcionário Fantasma.

O time de redes sociais da campanha de Lula contou com um reforço de peso para convencer os indecisos a virar o voto. Aqui, alguns que se destacaram no ativismo.

RENE SILVA

Editor-chefe do Voz das Comunidades, jornal comunitário independente do Rio de Janeiro, além de publicações em suas redes, conseguiu, via Janja, que Lula visitasse o Complexo do Alemão durante a campanha para o segundo turno.

FÁBIO PORCHAT

O humorista e apresentador usou suas redes para um bate-papo civilizado - e ao vivo - com eleitores que estavam em cima do muro. Mês passado, recebeu Simone Tebet em uma de suas lives.

PAULA LAVIGNE

A empresária fez barulho no Instagram e fora dele, organizando eventos para unir artistas e atores políticos que se afastaram do PT por divergências

o partido.

PAULO VIEIRA

O humorista e apresentador, que foi assistente de Fábio Porchat, não se cansava de dizer que, com ele, os indecisos não iriam votar errado. A quatro dias do segundo turno, entrevistou Lula no podcast Brasil Pod+.

PODER 13
FOTOS PSD; WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL; MARTIN HOLTKAMP/DIVULGAÇÃO; NELSON JR./ STF; FELLIPE SAMPAIO/STF; DIVULGAÇÃO; VILMA RIBEIRO/VOZ DA COMUNIDADE; LEONARDO ROSÁRIO/GLOBO; STF; PEDRO DIMITROW Pessoas próximas de Lula já ouviram o presidente eleito comentar que, mais do que ter notável saber jurídico, os indicados por ele ao STF também devem ser reconhecidamente comprometidos com a democracia e com as questões sociais. Por conta disso, alguns potenciais candidatos não devem ser considerados porque cumprem apenas o primeiro requisito.. com CAMPANHA PARALELA

Tempo livre sem estudo é morte –um túmulo para a pessoa viva.

3 PERGUNTAS PARA...

Coautora do livro ESG nas Relações de Consumo (Ed. Singular), a advogada FABÍOLA MEIRA DE ALMEIDA BRESEGHELLO tem entre seus clientes grandes empresas do mercado de luxo. Aqui, a sócia do escritório Meira Breseghello em São Paulo explica como trabalha com o conceito ESG junto a esse segmento.

um passo à frente, aprimorando o atendimento e adequando seus produtos e serviços às demandas de seus clientes.

ACONTECE NO MERCADO DE LUXO?

Sim. Hoje, o consumidor de produtos de luxo está muito mais atento a essas questões. Antes, as pessoas compravam casacos de pele natural sem pensar duas vezes e não se preocupavam com a poluição gerada no processo de fabricação de alguns produtos.

Da mesma forma, é cada vez mais comum que empresas que não respeitam o meio ambiente ou que usam trabalho análogo à escravidão, por exemplo, acumulem prejuízos. E ainda mais que as outras, empresas do segmento de luxo têm aversão a serem envolvidas em processos ou escândalos. Por isso, estão sempre

PODERIA DAR EXEMPLOS DE BOAS PRÁTICAS RELACIONADAS AO ESG NESSA INDÚSTRIA?

Certa marca de luxo passou a oferecer garantia vitalícia de alguns de seus produtos para incentivar o descarte adequado. Com isso, o cliente leva o item desgastado para a empresa, que se encarrega de fazer a destinação correta. Em alguns casos, essas peças passam por um processo de reciclagem e são vendidas, o que evita desperdício e reduz a agressão ao meio ambiente. Uma maneira de marcas de luxo se adequarem ao conceito ESG é considerar a inclusão e a diversidade em suas políticas de RH e de atendimento, e evitar fazer o chamado greenwashing, que é quando o discurso não corresponde à prática. Nesse

sentido, o trabalho conjunto do time de marketing e da área jurídica é muito importante para evitar multas e danos de reputação, por exemplo.

ALÉM DO PÚBLICO EXTERNO, TAMBÉM É IMPORTANTE QUE ESSAS MARCAS PENSEM NO TIME?

Sim. Não adianta a marca declarar que é inclusiva se, da porta para dentro, não está atenta às necessidades de seus colaboradores e não tem políticas de inclusão e desenvolvimento de carreira. Uma empresa que não considera o ESG em sua estratégia corre o risco de ver sua reputação manchada, o que, obviamente, é péssimo para os negócios.

ÁGUA FRESCA

Com mais de 200 mil seguidores no Instagram, LAUREN WENDY SÁNCHEZ, namorada de JEFF BEZOS, dono da Amazon e da Blue Origin, não tem medo de ser feliz nem de mostrar isso: ao lado de posts sobre a Bezos Earth Fund, que é voltada para projetos ambientais, e de eventos a que comparece com o namorado, Lauren também posta passeios de helicóptero e viagens mundo afora, bem no clima blogueirinha. E, sempre que pode, mostra que está em forma com roupas justas e decotes ousados.

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DE MANEIRA GERAL, OS CONSUMIDORES ESTÃO CADA VEZ MAIS CONSCIENTES E PREOCUPADOS EM ADQUIRIR PRODUTOS E SERVIÇOS QUE LEVAM EM CONTA AS QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS. ISSO TAMBÉM

DOMÍNIO

É um chef uruguaio a nova sensação da gastronomia de Nova York. IGNACIO MATTOS surgiu de mansinho, abriu um pequeno restaurante chamado Estela no SoHo, e dali em diante foi só alegria. Hoje, a Mattos Hospitality faz a gestão das quatro casas do chef na cidade: o recém-inaugurado Corner Bar; o Estela; o Altro Paradiso; e o Lodi. Em setembro, Paola Carosella chamou Mattos para renovar o cardápio do Arturito, em São Paulo. Os dois, que são amigos, trabalharam juntos em um dos restaurantes do chef argentino Francis Mallmann.

ESTE MÊS A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO...

CADERNINHO

Tem pelo menos um médico que continua sendo o preferido de políticos, autoridades e empresários brasileiros que visitam Nova York. É o doutor Albert Levy, médico de família e professor do Mount Sinai Medical Center que recebe, em sua clínica na Park Avenue, esses e outros tantos pacientes mundo afora. Levy nasceu no Congo e era adolescente quando se mudou com a família para o Rio de Janeiro, onde se formou em medicina na UFRJ.

Towles, que fala sobre o mito do sonho americano e já vendeu um milhão de cópias, saiu no Brasil pela Intrínseca

ONG para merecer seu olhar atento e contribuição

MARATONAR o saboroso documentário CEO em Fuga: A História de Carlos Ghosn, da Netflix, para descobrir como o brasileiro Carlos Ghosn passou de todo-poderoso da Nissan-Renault para fugitivo internacional

COLOCAR OS FONES para ouvir a terceira temporada do podcast Mano a Mano, de Mano Brown, no Spotify. Entre os entrevistados, padre Julio Lancellotti, Djavan e a ativista política Angela Davis, a primeira convidada internacional de Mano Brown

DESCOBRIR  se Barack Obama e Bill Gates têm mesmo razão quando disseram que A Estrada Lincoln foi um dos melhores livros que já leram. A história de Amor

RELER Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, que completaria 100 anos este mês. Também vale rever o filme de Fernando Meirelles

VIAJAR para o Rio só para ver o show Alcione 50 Anos de Música. A Marrom sobe ao palco do Vivo Rio no dia 16 de dezembro

GARANTIR seu ingresso para assistir à Noite das Estrelas, última apresentação do Mozarteum este ano. Dia 7 de dezembro na Sala São Paulo

PREPARAR uma playlist que pode e deve ser distribuída aos amigos com os hits que marcaram 2022 –algo bem pessoal e criativo

ESCOLHER uma instituição ou

SE CUIDAR bem para enfrentar as novas ondas de Covid que continuam a rolar

VOLTAR a treinar sério para não fazer feio nas férias   BUSCAR ferramentas para chegar são e salvo até dezembro

FAZER uma lista com todos os mais queridos para mandar um mimo de fim de ano: pode ser um vasinho de espada-de-são-jorge; uma vela aromática ou mesmo um bilhete bem pessoal

OUVIR os discos de Gal Costa

COM REPORTAGEM DE CAROLINE MARINO E MÁRCIA ROCHA

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RUBENS; DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL; DIVULGAÇÃO NETFLIX; GETTY IMAGES; MARCOS HERMES/DIVULGAÇÃO
FOTOS PETER PAUL

RECURSO HUMANO

Educbank, do jovem empreendedor Danilo Costa, inova ao adiantar pagamento de mensalidades de alunos de escolas em vários estados do Brasil, melhorando a vida de gestores e injetando capital em um setor historicamente carente dele

por paulo vieira fotos roberto setton

Quando procuram a dor que irão “curar”, fundadores de startups não costumam levar em conta, prioritariamente, o propósito. Querem achar algo rapidamente escalável, eventualmente inédito, mas não necessariamente melhor para a sociedade – ainda que esse conceito possa ser bastante relativizado. Danilo Costa, fundador do Educbank, empresa que oferece apoio financeiro a escolas particulares dos ensinos fundamental e médio, para que assim consigam lidar com a inadimplência de seus alunos, está muito longe de ser o sujeito que joga dinheiro do helicóptero, mas ele tem em relação a seu segmento de eleição, a educação básica, algo que pode ser chamado de afeto. Danilo é neto de professores – a avó paterna foi ainda presidente do Conselho Estadual de Educação do Mato Grosso do Sul – e ele, apesar de ter se formado em Direito pela FGV e encetado carreira no mercado financeiro, “largou tudo”, como diz, para empreender na educação.

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LOUSA

Primeiro, em 2017, com uma escola de turno integral “low cost”, que ele pretendia tornar também escalável, a Vereda. Com ela, Danilo tentou mudar a ideia bastante sedimentada no Brasil de que esse tipo de produto era exclusivo das classes mais privilegiadas; e, desde 2020, com o Educbank.

“A educação básica é um mundo à parte, tem sazonalidades diferentes, stakeholders diferentes, a gente precisou se debruçar sobre ela com olhar de nicho, com olhar de especialista. Por isso somos Educbank, não ‘BankEduc’”, disse Danilo a PODER, no escritório compartilhado da empresa, um “We Work” com direito à mesa de pingue-pongue no Itaim Bibi, em São Paulo. “A gente não analisa nenhum outro setor, não olha

turismo, não olha o varejo, a gente respira educação sete dias por semana”, completa.

A justificativa pode soar algo messiânica, mas Danilo, aos 34 anos e já em seu segundo negócio, não se incomoda em parecer grandiloquente. É a educação, afinal, o substrato para o desenvolvimento econômico das nações e, talvez mais importante, para o aprimora -

18 PODER

educação básica

mento das sociedades. Em países socialmente injustos como o Brasil, é ela o principal vetor de correção da desigualdade socioeconômica. Ainda que lide com um universo de menos de 10 milhões de alunos em todo o país, muito inferior ao contingente de matriculados em instituições públicas, as escolas privadas colaboram, quando menos, ao não inchar e onerar ainda mais a rede pública.

O Educbank foi pioneiro em levar crédito para um setor que, segundo ele, jamais foi contemplado com programas de incentivo econômico, fomentos, desonerações, programas de formação de “campeãs nacionais”, diferentemente, Danilo mesmo exemplifica, de “frigoríficos e postos de gasolina”. Trata-se de uma “nota de rodapé” na agenda governamental, que

prefere injetar capital ou oferecer crédito subsidiado para segmentos de “menor externalidade” do que a educação básica – ou seja, que geram menos impactos positivos para a sociedade como um todo e para os demais setores econômicos. Com tudo isso, o atual alcance da empresa – 200 escolas particulares em 17 estados brasileiros – lembra a proverbial gota no oceano. Existem,

PODER 19
A
é um mundo à parte, tem sazonalidades diferentes, stakeholders diferentes, a gente precisou se debruçar sobre ela com olhar de nicho. Por isso somos Educbank, não ‘BankEduc’

informa Danilo, 42 mil escolas privadas no país e parte substancial delas, dada a vocação “agnóstica” do Educbank, são elegíveis para receberem créditos. A meta de curto prazo, o fim de 2023, é quintuplicar o atual alcance. O Educbank trabalha com escolas de “bairro”, como Danilo gosta de dizer, com mensalidade média de R$ 1 mil, consideradas aí todas as discrepâncias regionais. O agnosticismo da empresa se manifesta na falta de “preconceitos” em relação às mensalidades cobradas pelos clientes. Danilo diz que trabalha com escolas que cobram de seus alunos valores que vão de R$ 250 a R$ 5 mil.

RECONHECIMENTO

O pioneirismo do sul-mato-grossense tem sido reconhecido internacionalmente. Danilo foi uma das atrações brasileiras da Web Summit, que vem se afirmando como o principal festival de tecnologia do mundo, e que ocorreu em Lisboa, no começo de novembro; também está entre os cinco únicos brasileiros da mais recente lista dos inovadores da América Latina com menos de 35 anos do MIT, o venerável Massachusetts Institute of Technology; ele é ainda embaixador para inovação da London School of Economics. Um novo prêmio, esse a ser dado por uma das quatro “big consulting”, as maiores consultorias mundiais, também será logo “endereçado” ao Educbank. Dá para assumir que essas organizações entenderam o impacto da tese do Educbank, que Danilo explica diligentemente ao interlocutor quantas vezes forem necessárias. Para ele, quando o mantenedor de uma escola – em geral seu próprio diretor – é obrigado a lidar com a inadimplência de seus alunos, ele deixa de se dedicar a assuntos essencialmente pedagógicos ou que terão efeito sobre a qualidade dos serviços da escola, como a formação continuada dos professores, a ampliação de uma biblioteca, a construção de um ginásio e até uma hipotética expansão da rede. A inadimplência na educação básica, ao contrário de muitos setores, é mato. E por uma razão de ordem legal. No Brasil, as instituições de ensino não podem cobrar de quem paga em atraso mais de 1% de juros ao mês, além da correção inflacionária. Por isso, muitos pais optam, deliberadamente, por não quitar as mensalidades escolares de seus filhos até o fim do ano, quando a matrícula para o próximo período assim o exige. “Os pais usam as escolas como instrumento de alavancagem financeira, faz muito sentido para eles suavizarem desse jeito o orçamento familiar”, diz Danilo.

Ao fechar contrato com as escolas, o Educbank adianta os valores das

mensalidades e assume o risco da inadimplência dos pais, que se tornam devedores exclusivos da startup. É de se imaginar, assim, que o risco que o Educbank passa então a correr é muito alto, mas, a taxa de inadimplência, segundo Danilo, é administrável – a perda efetiva de carteira é de um “dígito muito baixo”, conta. O modelo lembra o do Quinto Andar, “inspiração”, segundo o fundador, que também assume o risco de inadimplência dos inquilinos ao se tornar fiador perante os proprietários. O recurso que efetivamente remunera o Edu-

20 PODER
Quando chega o dia 4, véspera do pagamento de professores e funcionários, e as mensalidades não entraram, é desesperador, você não sabe o que faz

cbank é uma taxa, cobrada das escolas, muito inferior, de acordo com Danilo, ao preço do crédito oferecido pelo mercado.

Danilo diz que, de fato, no começo, ouviu de interlocutores que a empresa que pretendia colocar de pé era “loucura”, e que, se a ideia fosse mesmo viável, “as instituições financeiras já a teriam implementado”. O empreendedor gosta de falar em “tabu”, que ele acredita ter ajudado a quebrar, ao mostrar, “com evidências”, que é “possível acreditar na educação básica”, isso é, nela aportar capital. Para ele, as escolas fazem parte de um setor que “aguenta desaforo”, ao, por exemplo, conseguir repassar a inflação para o preço das novas anuidades, mas que mina de seus gestores “o emocional, a autoconfiança e o otimismo”. “Quando chega o dia 4, vés-

pera do pagamento de professores e funcionários, e as mensalidades não entraram, é desesperador, você não sabe o que faz.”

GRANA NO INVERNO

Em pleno inverno das startups, com empresas do ecossistema sendo obrigadas a demitir industrialmente (veja boxe na pág. 22), é notável que o Educbank tenha acabado de celebrar o grande negócio de sua tenra história. O grupo recebeu da Vasta, braço de educação básica da Cogna, maior corporação educacional do país, uma injeção de R$ 158 milhões, oferecendo em troca 47,7% de participação para a detentora de marcas como Anglo, Pitágoras e as editoras Ática, Saraiva e Scipione. O deal, diz Danilo, não impõe restrições ou exclusividades, ainda que um cross selling com a rede de escolas da Vasta colocasse à disposição do Educbank 4,2 mil instituições, 42% do “sonho grande” do empreendedor, que é ter 10 mil escolas como clientes. Danilo celebra a entrada do dinheiro, mas também de “cabeças brancas” no Educbank. Para ele, Mario Ghio, diretor-presidente da Somos Educação, holding de educação básica da Vasta, é um dos melhores profissionais do setor do país e tê-lo como mentor, “um privilégio”. Sócio da F5 Business Growth, professor do Insper e mentor da Endeavor Brasil, o consultor Renato Mendes diz que o fundador do Educbank “foi muito inteligente ao atacar o problema da inadimplência escolar”, remunerando-se com uma taxa pelo serviço. E agora, com o que chama de “dinheiro infinito” da Cogna, não há, segundo ele, qualquer cenário de insolvência no horizonte.

Ao adiantar o capital e, com ele, trazer foco, tempo e estabilidade emocional para diretores e gestores

PODER 21

de escolas poderem pensar em algo que não as dívidas de curto prazo, o Educbank abre, de quebra, um campo de possibilidades para atender novas demandas desses profissionais. A empresa, de fato, tem o que Danilo chama de “cinturão do Batman”, conjunto de ferramentas como softwares de gestão (ERPs), pacotes de soluções de marketing e até placas solares, que o empreendedor oferece aos clientes dentro de uma espécie de marketplace, permitindo que as empresas que comercializam esses produtos utilizem uma plataforma comum.

Tendo fundado a Vereda Educação, hoje com três unidades em São Paulo e ABC, Danilo tem o tal lugar de fala para entender com propriedade as dores de seus clientes, e, com isso, saber que a análise de risco e a anamnese que precisa fazer antes de fechar contratos é a pedra de toque de seu negócio. As coisas se complicam um pouco pela governança ruim das escolas – menos de 1% delas, segundo ele, tem balanço patrimonial auditado – e pela própria pulverização do sistema. Mas são justamente essas duas características do setor, pulverização e má governança, que repelem a concorrência e inibem uma possível concentração do segmento, dificultando a aquisição, por parte de grandes players, de market share relevante.

Seja como for, mesmo em cenário aparentemente hostil, Danilo tem ao menos um rival peso pesado, o isaac, que surgiu também em 2020 e tem 800 escolas como clientes. O grupo educacional Arco, outro entre os maiores do Brasil, detinha 25% do isaac, mas triplicou

LUCRO E AMBIÇÃO

Danilo Costa enxerga o famoso inverno das startups pelo lado do copo cheio. Para ele, o excesso de liquidez que irrigou o ecossistema gerou distorções, a ponto de haver “ambientes em que falar de lucro parecia falta de ambição”. O Educbank, segundo ele, nasceu sob ótica muito mais austera, porque é “pouco intensivo em gente”, tem “estrutura de custos razoavelmente endereçada” e “potencial de crescimento enorme”. Mais importante, diz o fundador, ele surgiu com capital próprio, o que exigiu dos gestores uma diligência “absolutamente diferenciada”. Com base numa pesquisa da EY-Parthenon, que mostra que 33% dos pais de alunos não conseguem pagar as mensalidades e 45% reportam dificuldades, Raquel Teixeira, sócia da EY Private, realça a importância de companhias como o Educbank para o setor educacional. “Elas trazem agilidade e possibilidade de novas iniciativas, como o próprio adiantamento de receita. Contar com parcerias de empresas privadas pode melhorar a qualidade do ensino e diminuir custos.”

a aposta em outubro, assumindo controle total do negócio e colocando pressão na concorrência. Isso parece não preocupar Danilo, que diz ter perdido apenas um único cliente desde que entrou no mercado.

Enquanto ele estiver à frente da empresa que fundou, sua missão seguirá a ser “colocar turbinas nas asas das escolas” e, dessa forma, para usar de novo a metáfora, turbinar institucionalmente a educação brasileira. n

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Os pais usam as escolas como instrumento de alavancagem financeira, faz muito sentido para eles suavizarem desse jeito o orçamento familiar
PODER 23

O BANQUEIRO DOS

vesso a entrevistas, o libanês naturalizado brasileiro Edmond Jacob Safra, nunca gostou de chamar a atenção, e, na medida do possível, manteve uma vida discreta – sem a extravagância típica de bilionários de seu quilate. O pouco que se sabe sobre o homem por trás de quatro grandes bancos – Banco Safra, em São Paulo; Republic National Bank, em Nova York; Trade Development Bank (TDB), em Genebra; e Safra Republic Holdings, em Luxemburgo – vive na memória de seus poucos amigos. Parte desses relatos está na recém-lançada biografia A Banker’s Journey – How Edmond J. Safra Built a Global Financial Empire (A Jornada de um Banqueiro – Como Edmond J. Safra Construiu um Império Financeiro Global , em tradução livre) do jornalista americano Daniel Gross. Para escrever o livro, processo que levou cinco anos, Gross conseguiu entrevistar a viúva, Lily Safra (falecida em julho deste ano), que cedeu fotos de seu arquivo e leu o manuscrito final. Além disso, teve

acesso a dezenas de áudios, documentos e histórias coletadas pela Fundação Edmond J. Safra pouco depois da morte dele, em 1999. No livro, é possível saber mais detalhes de sua trajetória. Por exemplo: a campanha de difamação que sofreu quando estava negociando a venda de um dos braços do Republic para a American Express, que foi um dos piores momentos vividos por ele. Mas Edmond reverteu a situação com sua perspicácia e inteligência. Ao notar que havia algo estranho na situação, contratou profissionais para investigar e descobriu que tudo não passava de manobra para desvalorizar seus ativos. Processou a Amex e venceu. Além de limpar sua imagem, ele recebeu uma indenização de US$ 250 milhões.

O livro traz, ainda, um capítulo sobre o período em que Edmond viveu no Brasil e se aproximou de importantes empresários do país. Leia-se: Roberto Marinho, do Grupo Globo, o editor Adolpho Bloch e o também banqueiro Walter Moreira Salles, entre outros.

Edmond era conhecido por doar na mesma proporção em que ganhava. Até sua morte, estima-

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CAIXA-FORTE
Biografia de Edmond Safra revela detalhes da trajetória de um dos maiores gênios financeiros do século 20 e figura emblemática do grand monde internacional
Edmond Safra e a recémlançada biografia de um dos maiores banqueiros que o mundo já viu

se que tenha doado em torno de US$ 1 bilhão. Parte de sua fortuna, avaliada em US$ 12,5 bilhões, foi destinada à caridade e à fundação filantrópica que leva seu nome. A contracapa do livro, aliás, traz um “beneficiado” famoso: Elton John, que era amigo do banqueiro e recebeu milhões de dólares para a Elton John Aids Foundation.

SEMPRE NO CONTROLE

Casado com a brasileira Lily Safra, socialite que circulava pelos melhores salões do mundo, o empresário não tinha filhos e trabalhou até o fim de sua vida. Isso porque sempre resistiu em contratar um CEO para transferir o controle de seus negócios. Em 1990, foi diagnosticado com doença de Parkinson e, com o tempo, já não conseguia tocar as empresas da mesma forma. Na ocasião, comentava-se

que seus irmãos se envolveriam nos negócios, mas, pouco antes de morrer, Edmond resolveu vender “seus filhos”, como chamava os bancos. Foi uma forma de não precisar pensar em sucessão – decisão que não causou estranheza naqueles que o conheceram. Afinal, as empresas eram parte de sua vida e ele guardava na memória o tempo em que recebia CEOs de bancos concorrentes que confiavam a ele a missão de guardar parte de seus estoques de ouro nos cofres do Republic, que eram considerados impenetráveis. Pelos clientes poderosos que atraía, Edmond ganhou o apelido “o banqueiro dos banqueiros”.

Filho de Jacob Eilahou Safra, Edmond, o mais velho de nove irmãos, teve a quem puxar. Seu pai era dono de uma empresa que operava como casa bancária em Alepo, na Síria. Nos anos 1950, a família que nessa época morava em Beirute, no Líbano, teve o apartamento saqueado. O Brasil, então, se tornou o destino do clã, por ser mais acolhedor com imigrantes e pelas oportunidades que oferecia por conta da fase desenvolvimentista daquela década.

GOLPE DO DESTINO

Os Safra desembarcaram no Rio de Janeiro em 1954. No ano seguinte, Jacob fundou o Banco Safra com três de seus filhos, Edmond, Joseph e Moise. Na época, Edmond tinha pouco mais de 20 anos e mal falava português. No início, ele achou o mercado brasileiro fechado e muito controlado. Começou a vender café para os Estados Unidos e, em seguida, para outros países. Em pouco tempo, criou uma operação totalmente à parte da empresa familiar. Sempre em busca do melhor lugar para os seus negócios, Edmond decidiu se mudar para os Estados Unidos, já que a economia daquele país era livre. Foi lá que se consagrou como gênio das finanças. Falava sete idiomas e não havia transação que não conseguisse fechar.

Em 1999, uma cilada tirou sua vida. Tentando se passar por herói, um de seus enfermeiros inventou que o apartamento onde o banqueiro morava em Mônaco estava sendo invadido por criminosos. O intuito era “salvar” o patrão e ser regiamente recompensado por isso. Mas a encenação saiu do controle quando o fogo ateado em uma lata de lixo para aumentar o drama atingiu as cortinas do apartamento. Edmond, que sempre teve pavor de ser sequestrado e andava com seguranças que eram exagentes do Mossad, trancou-se no banheiro com uma enfermeira. Os dois morreram asfixiados. n

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No sentido horário: Edmond Safra e Lily com os sobrinhos; casal em evento beneficente em Nova York; o empresário com o Yitzhak Rabin, ex-primeiroministro israelense, e Leah Rabin no Republic National Bank

OPINIÃO

A IMPORTÂNCIA DA BOA COMUNICAÇÃO

Notificações que não param, mensagens em diversos canais e uma (auto)cobrança de dar conta de tudo e rápido. E eis que parece que você está disponível 24 horas – e se comunicando – quando, na verdade, está menos presente em cada interação, o que prejudica a qualidade do diálogo e do trabalho. As cinco práticas abaixo deixam a comunicação profissional mais eficiente.

1. Use apps de comunicação rápida para assuntos urgentes e trocas espontâneas – Para assuntos urgentes, necessidade de respostas imediatas e interações mais espontâneas, o WhatsApp e o chat da plataforma da empresa são ótimas opções. Mas lembre-se que estar on-line não é estar disponível o tempo todo. Além disso, mensagens longas são ineficazes, assim como áudios sem objetividade e mensagens muito fragmentadas que podem gerar ruídos e perda do histórico.

2. Confie no canal escolhido e evite sobreposições – Há quem mande, ao mesmo tempo, a mesma mensagem por e-mail e WhatsApp, o que significa sobreposição de canal de comunicação e pode soar como falta de confiança, pressão desnecessária e senso de urgência que nem sempre condizem com o contexto. O contexto é diferente se você liga primeiro e, em seguida, formaliza o que foi acordado por e-mail ou WhatsApp, ou manda um e-mail e, depois de alguns dias, envia uma mensagem no WhatsApp para checar se a pessoa recebeu. Por isso, ao avaliar o cenário e escolher um canal de comunicação, confie nele,

elabore a mensagem com objetividade, consistência e aguarde resposta.

3. Prefira e-mails para formalizar acordos e falar sobre assuntos estratégicos – Mesmo com tantos canais de comunicação, muitas empresas consideram o e-mail mais efetivo. Use-o para formalizar acordos, enviar orientações, informar status de ações e projetos, mandar arquivos e formulários e aproximar equipes distantes geograficamente. O que é enviado por e-mail tem caráter documental e fica registrado no servidor da companhia.

4. Avalie a linguagem e a abordagem para atender as expectativas e o objetivo comunicativo – Analise criteriosamente o tipo e a quantidade de conteúdo presente na mensagem, quem deve recebê-la, a linguagem para solicitar ou negociar algo e quantas idas e vindas de mensagens favorecem a comunicação. Existem casos em que a diretoria é copiada sem necessidade só para exercer influência pela autoridade; outras pessoas detalham informações que não serão lidas e que poderiam ser explicadas de forma sintética ou pessoalmente. Além disso, lembre-se que imperativos e meias palavras só geram mais conflitos.

5. Em situações delicadas, lembre-se: “textos não têm sobrancelha” – Uma pessoa exaltada tende a revelar indignação ou raiva pela escolha das palavras. Se já é arriscado expressar esses sentimentos pes-

soalmente, imagine fazer isso por escrito, em que a leitura é feita em outro contexto da produção da mensagem e sem entonação, olhar e expressões faciais. Um participante dos meus cursos disse: “Textos não têm sobrancelha”. Por isso, situações delicadas pedem canais com interação imediata, como uma reunião presencial ou on-line. Se não for possível, ao gravar um áudio ou escrever algo enfatize os fatos, sua forma de interpretá-los, o pedido ou a proposta de solução, em vez de culpabilizar ou inflamar ainda mais os ânimos.

Essas boas práticas são pilares para mandar mensagens alinhadas com a sua reputação e a da empresa em que atua. Tudo o que você precisa é desacelerar para sair do modo automático e perceber o que está ocorrendo no aqui e agora da comunicação. n

Vivian Rio Stella é doutora em linguística pela Unicamp, com pós-doutorado pela PUC-SP. Idealizadora, professora e curadora da VRS Academy

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ESTRANHO NO NINHO

Fundador do Grupo Gaia, João Paulo Pacifico faz parte de uma geração que coloca o sucesso profissional em segundo plano. O primeiro passo foi doar o dinheiro da venda de sua empresa para uma ONG voltada para projetos de alto impacto social

“Tenho total consciência do meu privilégio de homem branco, heterossexual e que nasceu em uma família de classe média. Por isso, meu papel é ajudar quem não teve os mesmos privilégios.” Foi assim que João Paulo Pacifico iniciou a entrevista que concedeu a PODER. Nascido em São Paulo e o mais velho de três irmãos, ele defende bandeiras sociais e, por causa disso, é uma figura um tanto controversa no meio empresarial. Isso porque, há alguns anos, João trata a felicidade como pilar da gestão e bate de frente com nomes que considera que vão no sentido oposto do que acredita. Caso de Guilherme Benchimol, fundador da XP, e Jorge Paulo Lemann. “Trabalhei no mercado financeiro. Sei como funciona a estrutura e não quero isso para mim”, afirma o empresário.

Recentemente, ele assumiu uma postura ainda mais radical e está nos holofotes por desistir de receber o dinheiro da venda do Grupo Gaia, empresa que fundou há 13 anos e é uma das maiores securitizadoras (negócio que transforma dívidas em ativos) do mercado brasileiro, para usar o montante em causas sociais. Vendeu a parte puramente financeira do grupo, sob o nome Planeta, para uma de suas concorrentes, a Opea (antiga RB Securitizadora), que é controlada pelo fundo Jaguar Growth Partners. Agora, João Paulo se dedica à

nova fase da Gaia. Os recursos da venda e as ações foram doados para a ONG que criou com o objetivo de fazer investimentos de impacto social, que manteve o nome Gaia. “Pensei muito sobre o que fazer com o dinheiro e, para mim, seria hipocrisia não colocá-lo a serviço de algo maior. Além disso, seria injusto com minhas filhas que eu definisse o futuro delas. Vou oferecer todo o suporte, claro, mas quero dar a elas a oportunidade de construírem algo”, diz o empresário, sem negar que tem uma condição financeira confortável, apesar de ter doado o dinheiro da venda da empresa. Em um primeiro momento, essa decisão pode soar estranha, mas olhar a trajetória de João Paulo – desde a infância – ajuda a entender um pouco por que ele resolveu abrir mão de parte de seu patrimônio em prol de uma causa.

TREINOS E FILANTROPIA

Formado em engenharia, pai de duas meninas e casado com uma juíza, João teve uma infância feliz. Sua personalidade foi moldada em meio aos treinos de natação que garantiram medalhas em competições estaduais e nacionais, e o ajudaram a desenvolver a perseverança. Fora isso, nas férias era monitor de crianças no acampamento da mãe e trabalhava como voluntário em ONGs. “Aprendi a ver a vida de forma mais leve e lúdica.”

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daquele momento decidi que não queria mais trabalhar daquela forma. Queria abrir um negócio em que as pessoas realmente fossem importantes”, diz.

É nesse ponto que a Gaia entrou em cena, uma oportunidade do universo como ele diz. “Decidi criar uma securitizadora para atender uma demanda de clientes, que depois não fecharam o negócio e descobri que eram pilantras. A parte positiva é que eu segui em frente”, revela. E o curioso é que João Paulo precisou comprar um CNPJ que estava inativo para atender rapidamente os futuros clientes – e a empresa já tinha esse nome. “Na mitologia grega, Gaia significa mãe terra. Eu nem pensei em mudar o nome porque achei que fazia todo sentido seguir assim”, lembra. Apesar do começo difícil, a Gaia prosperou. Virou uma das maiores securitizadoras do país e – antes mesmo que o mercado corporativo começasse a falar em propósito,

“Quero fazer o investimento de impacto social mudar de patamar e mostrar que é possível saber como o seu dinheiro está sendo aplicado, se ele está ajudando na reconstrução do país”

Mas, profissionalmente, mesmo estando na faculdade, não sabia muito bem o que faria. No terceiro ano começou a procurar estágio e depois de meses e de dezenas de entrevistas, conseguiu o primeiro emprego. “Fui privilegiado, mais uma vez, já que um amigo do meu pai me chamou para uma conversa. Eram dois banqueiros que abririam uma empresa de investimentos, que ainda não tinha nome”, conta. Tratava-se da Rio Bravo, gestora que hoje administra um patrimônio de aproximadamente R$ 310,5 bilhões. “Quando vi, já estava dentro do mercado financeiro.”

A trajetória de João Paulo na Rio Bravo durou sete anos e foi essencial para a sua formação na área financeira. Ele saiu de lá como diretor para trabalhar em um banco sulafricano, onde ficou pouco mais de um mês, quando foi convidado para o Banco Matone, que, em 2011, se fundiu com o Banco JBS, formando o Banco Original. Porém, a crise econômica de 2008 atrapalhou os planos e ele precisou demitir muita gente de sua equipe. “A partir

o empresário criou valores e causas que prezavam a qualidade de vida dos funcionários e o impacto social. A empresa teve braços no esporte (como organizadora de corridas) e vestuário (fabricando camisetas para corridas), mas foi no agronegócio que deu uma guinada e se consolidou no mercado.

EMPRESÁRIO E APOIADOR DO MST

Em 2013, João Paulo começou a estudar psicologia positiva para usar os conceitos na gestão de sua empresa. Desde então, o tema felicidade passou a ser uma espécie de marca pessoal e virou tema de um livro que ele escreveu. Depois de fazer uma palestra em um evento do LinkedIn, ao lado de nomes da Unilever e da XP, o empresário foi ovacionado e passou a ser convidado para falar sobre o assunto em empresas. “Pensei: ‘Por que não cobrar por elas e ajudar quem precisa?’. Fiz quase 60 palestras corporativas em 2019 e tudo foi revertido para a Gaia+, ONG de acolhimento de crianças que criamos em 2014”,

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diz. Nessa época, ele viu aflorar seu lado comunicador. Participou de alguns podcasts e chegou a apresentar um programa sobre felicidade na Rádio Globo, além de ser colunista em jornais e revistas.

“Isso me ajudou a conhecer boas pessoas e foi assim que tive contato com o pessoal da Vivenda”, conta, referindose à startup fundada em 2014 para reformar moradias da periferia e de comunidades que se tornou um case de negócio de impacto social. Marco Gorini, cofundador da consultoria Din4mo, já havia batido em muitas portas na Faria Lima a fim de emplacar uma debênture para dar crédito a clientes da Vivenda, mas foi só quando conheceu João Paulo que o negócio começou a andar. É que o empresário se encantou com a causa e fez a operação sair do papel e ser vendida para clientes do private bank do Itaú, em uma transação que se tornou referência de investimentos com impacto social.

A partir daí, como ele mesmo diz, a chave virou. Há pouco mais de dois anos, ele recebeu João Pedro Stédile, líder do MST, em seu escritório. Pouco tempo depois, ao visitar vários assentamentos, decidiu ajudar a financiar a agricultura familiar via instrumentos financeiros. A estreia do MST no mercado de capitais aconteceu em maio de 2020. “O MST me ajudou a sair da bolha de desigualdade

que é a Faria Lima. Percebi que essa era minha vocação e até notei incoerência em tudo o que havia feito. Meu negócio cresceu com base no agronegócio e entendi que a agricultura familiar era a frente que deveria ser alavancada. Ajudar a gerar impacto virou meu objetivo de vida”, afirma.

O novo negócio social tem a agricultura familiar como um dos cinco setores prioritários, ao lado de habitação, geração de renda, energias renováveis e educação. Em cada uma delas há operações em estruturação – inclusive novas emissões do MST. “Hoje, conto nos dedos os meus amigos no mercado financeiro. Recebo mensagens de ódio e de pessoas me chamando de comunista, mas não tenho medo de me posicionar. É maior do que eu, não consigo deixar de lutar pelo que acredito”, diz.

Aos 44 anos, vegetariano e membro do conselho fiscal do Greenpeace Brasil, tem uma missão: “Vou me dedicar a fazer o investimento de impacto mudar de patamar. Quero mostrar que é possível ter consciência de como o seu dinheiro está sendo aplicado, se está financiando armas e desmatamento ou se está ajudando na reconstrução do país. Não é simples, mas vou lutar por isso”, revela João Paulo, que agora é diretor da Gaia, recebe salário e se orgulha em dizer que todo lucro vai ser investido em projetos de impacto social e ambiental. n

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LULA SIMONE TEBET ELEITORAS BRASILEIRAS MARINA SILVA GLEISI HOFFMANN ELIZIANE GAMA FÁTIMA BEZERRA BELA GIL ANIELLE FRANCO ANA MOSER NECA SETUBAL PRISCILA CRUZ PRETA FERREIRA LU ALCKMIN JANJA

ELAS TÊM A FORÇA MAIS UMA VEZ,

Em outro capítulo da ascensão feminina na política, campanha e vitória de Lula têm as digitais de Simone Tebet, Marina Silva, Janja e diversas outras mulheres

Apesar da onda que elegeu dezenas de deputados e senadores irmanados no mais estrito conservadorismo, o grande vencedor das eleições de outubro é Lula. No Brasil, o poder Executivo possui força desmedida e dita a pauta institucional, ainda que o presidente tenha de fazer concessões – aparentemente cada vez maiores – para o Legislativo.

Lula não venceria, por sua vez, sem o apoio que teve das mulheres. Das mulheres brasileiras, de modo geral, e de algumas delas, em particular. No primeiro caso, é possível inferir, lançando-se mão de dez entre dez pesquisas de intenção de votos feitas antes e ao longo da campanha eleitoral, que o petista manteve-se sempre à frente na preferência do eleitorado feminino. É bastante sintomático que, no lado do adversário, a campanha bolsonarista tenha trazido para o palco a primeira-dama Michele Bolsonaro, uma tentativa de undécima hora de tentar diminuir a rejeição nesse público.

Seria exercício de especulação tentar quantificar as contribuições da senadora Simone Tebet (MDB-MS), da deputada eleita Marina Silva (Rede-SP) e até mesmo da socióloga Janja, mulher de Lula, na vitória do líder petista. Mas é certo que o empenho das três foi decisivo, assim como o foram, a sua maneira, o de outras figuras, entre elas a senadora maranhense Eliziane Gama, do Cidadania, a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, a governadora reeleita do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, e Lu Alckmin, mulher do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (no infográfico da página ao

lado, inspirado no PowerPoint do ex-coordenador da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, estão os nomes de algumas mulheres que participaram decisivamente da vitória eleitoral e de outras que agora atuam no governo de transição).

O caso de Simone Tebet merece destaque, pois era a senadora, terceiro lugar entre os presidenciáveis no primeiro turno, a única que tinha um capital eleitoral apreciável em disputa. Seus 4,9 milhões de votos, 4,16% do total apurado, seriam fundamentais para as pretensões de vitória dos finalistas na rodada decisiva. É impossível saber quantos votos Simone converteu para Lula, mas a senadora, adiantando-se à lentidão natural de seu partido, engajou-se decisivamente na campanha, fez diversas viagens com o ex-presidente e, de quebra, injetou na pauta do candidato temas e demandas relativas às mulheres. “Entrei na campanha inteira, com sentimento de paz por estar do lado certo da história. Trabalhei no segundo turno como trabalhei para minha candidatura, sem descanso. Cumpri missões onde a campanha de Lula avaliou que minha presença e palavra poderiam ser úteis, como em Brasília e nos três maiores colégios eleitorais do Brasil, Minas, Rio e São Paulo”, disse, por mensagem de texto, a senadora a PODER. Sobre a incorporação de pautas próprias no programa do presidente eleito, Simone lembrou que Lula já havia aderido, no começo de outubro, a “todas as cinco propostas” que a senadora havia apresentado em sua campanha. Mas sublinhou, em relação ao eleitorado feminino, que Lula “comprometeu-se em sancionar a lei que iguala salários entre homens e mulhe -

ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES
URNA
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res que exerçam a mesma função”. Além disso, outra ideia de Simone acatada pelo petista é a formação de um “ministério plural”, com, segundo a senadora, “mais mulheres, negros e pessoas com deficiência”.

Professora de direito constitucional da FGV-SP e estudiosa da participação feminina na política, notadamente em cargos legislativos, Luciana Ramos disse a PODER que o eleitorado feminino, particularmente aquele formado pelas mulheres mais pobres, periféricas e chefes de família, “veem como muito significativo para suas vidas a entrada de um filho numa universidade pública”, e, isso, que “afeta a dinâmica familiar e eventualmente muda as condições socioeconômicas da família como um todo” é um fenômeno comumentemente atribuído aos governos de Lula. No caso das “mulheres de Lula”, aquelas que se incorporaram à campanha petista, Simone Tebet tem, para Luciana, participação especialmente importante para o debate que deve se seguir nas próximas semanas, sobre temas como representativida -

PAÍS EM TRANSIÇÃO

de dos ministérios. Para a professora, haverá ainda claras demandas de “vozes plurais” e dos movimentos sociais, e um possível não endereçamento disso “seria um problema” para o novo governo. “Acho que os nomes do governo de transição já têm conseguido atender essas demandas, especialmente no caso das lideranças negras, que são fortíssimas” (leia mais sobre o governo de transição no boxe abaixo).

Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente de Lula que, em 2014, seria vítima de campanha hostil do PT, quando disputou a presidência com Dilma Rousseff e Aécio Neves (PSDB), reaproximou-se da sigla e de Lula neste 2022. Ela justificou algumas vezes essa decisão por ver em jogo, especialmente no segundo turno, um embate “entre a democracia e o fim da democracia” e entre a “integridade e a destruição da Amazônia”. Como Simone, Marina também subiu a palanques nos momentos cruciais da campanha e, em meados de novembro, fez-se acompanhar de Lula em Sharm el-Sheikh, no Egito, na edição 2022 da

Estar nos grupos do governo de transição não habilita necessariamente seus integrantes a participar de ministérios a partir de 2023, mas, se os nomes já postos indicam algo, é que os temas de equidade e diversidade – e até, forçando um pouco a barra, ortodoxia econômica – são alguns que podem vir a ser contemplados na hora h. Os diversos grupos de trabalho que vêm sendo anunciados pelo vice-presidente eleito e coordenador da transição, Geraldo Alckmin, incluem figuras muito representativas desses e de outros setores, casos de Persio Arida e André Lara Resende (economia), Preta Ferreira e Douglas Belchior (igualdade racial), Silvio Almeida (direitos humanos), Bela Gil e a própria Simone Tebet (Assistência Social), Priscila Cruz e Neca Setubal (Educação), Guilherme Boulos e Nabil Bonduki (Cidades), Raí e Ana Moser (Esportes) e Anielle Franco, a irmã da ex-vereadora Marielle Franco (Mulher). Com tudo isso, e a despeito de nomes praticamente intocáveis, como os do grupo de educação, é a economia que ainda desperta, para o bem e para o mal, os humores políticos e midiáticos. A cobrança do nome do futuro ministro da Economia tem liderado as discussões, como se essa figura aparentemente iluminada fosse desvendar, de uma só vez, tudo o que há por desvendar de Lula 3. A verdade é que, se há algo desse futuro ministro que hoje se pode afirmar com certeza, é que ele não será exatamente um posto Ipiranga.

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FOTOS ROQUE DE SÁ/AGÊNCIA SENADO; FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL; RICARDO STUCKERT/INSTITUTO LULA; EDUARDO OGATA; PT

na campanha [de Lula] inteira, com sentimento de paz por estar do lado certo da história. Trabalhei no segundo turno como trabalhei para minha candidatura, sem descanso”

Conferência do Clima, a COP27. A presença dos dois ali, com intensa agenda internacional especialmente por parte de Lula, deixou clara a importância que a pauta ambiental deve vir a ter no governo do presidente eleito, imperativo hoje para o reposicionamento do Brasil como player global.

Quanto a Janja, seria necessário ter uma bola de cristal para mensurar sua importância na vitória do marido. Mas Lula, muito antes do início do calendário eleitoral, reputava à socióloga boa parte de sua vontade de concorrer a um terceiro termo. Em entrevista em meados de novembro ao programa Fantástico , da TV Globo, um reconhecimento tácito da emissora da força da futura primeira-dama, Janja disse que não teve qualquer papel de articulação política na campanha, mas confirmou ter sido a pessoa que acabou por fazer a ligação telefônica que colocou Simone em contato com Lula. “Era importante conversar com ela (...) Foi uma campanha significativa do ponto de olhar feminino, [Simone] trouxe essa importância da participação feminina. Ele teve um papel importantíssimo no segundo turno [para a campanha de Lula] e eu tinha certeza que seria assim”, disse. n

No alto, Simone Tebet, Janja e Marina Silva, as três mais ativas companheiras de Lula no segundo turno; Lu Alckmin com o marido, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, e, acima, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, com Lula; na pág.ina ao lado, a senadora Eliziane Gama, do Cidadania, que também se engajou na campanha e o presidente eleito com militante após o triunfo

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“Entrei
Senadora Simone Tebet (MDB-MS)

RUMO AO CARBONO

O Brasil está avançando para fazer com que os veículos a combustão fiquem para trás. Ainda temos um longo caminho a percorrer e a iniciativa privada não tem medido esforços para descarbonizar a frota nacional

Aqueima de combustíveis fósseis (derivados de petróleo, carvão mineral e gás natural) está entre as atividades humanas que mais contribuem para o aquecimento global. E, nesse sentido, veículos com motores de combustão têm um papel importante no aumento da emissão de gases de efeito estufa. Felizmente, existe um movimento mundial, apoiado em regulações cada vez mais rígidas, para reduzir a dependência desse tipo de transporte.

Os números mostram isso. Segundo a Agência Internacional de Energia

(IEA na sigla em inglês), o crescimento das vendas de veículos elétricos e híbridos plug-in está ganhando velocidade. Em 2019, foram comercializados 2,2 milhões de carros eletrificados no mundo, número que ultrapassou os 6 milhões em 2021. O Brasil também está nessa corrida e, este ano, atingiu a marca de 100 mil veículos eletrificados. O dado é da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (Abve), entidade que atua junto às autoridades e às empresas relacionadas ao setor automotivo para incentivar o desenvolvimento e a utilização dos veículos elétricos (VEs).

Grandes montadoras como Nissan, Volkswagen e Volvo, só para citar três exemplos, já aderiram ao movimento de descarbonização dos veículos. Companhias de outros setores também vêm fazendo a sua parte. É o caso da JBS, a maior empresa de alimentos do mundo, que está empenhada em promover a eletrificação de suas frotas como parte de seu compromisso para se tornar Net Zero até 2040 – o que significa zerar o balanço líquido das emissões de gases causadores do efeito estufa em toda a sua cadeia de valor.

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GETTY IMAGES; RICARDO CARDOSO/DIVULGAÇÃO
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Uma das iniciativas mais importantes nesse sentido é a criação da No Carbon, empresa da JBS Novos Negócios especializada na locação de caminhões frigoríficos 100% elétricos que, inicialmente, vai atuar nas operações logísticas da companhia, distribuindo produtos Friboi, Seara e Swift. “Com a No Carbon, a JBS cria um negócio de locação de caminhões elétricos que irá trazer escala à utilização desses veículos no transporte de cargas no Brasil, um país com elevada dependência do modal rodoviário na área logística”, afirma Susana Martins Carvalho, diretora executiva na JBS Novos Negócios. Segundo ela, a nova frente representa a abertura de um campo com grande potencial de crescimento e colabora com o objetivo da empresa de trabalhar de maneira cada vez mais sustentável.

A Friboi, que é líder no segmento da carne bovina e uma das empresas da JBS, vai ampliar sua frota de caminhões elétricos refrigerados de dez para 53 veículos até janeiro do ano que vem. Os veículos da empresa irão rodar no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Goiás, Ceará, Pernambuco, Bahia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal. Sistemas de recarregamento estão sendo instalados nos Centros de Distribuição da Friboi nesses locais. “A expansão da frota de veículos refrigerados eletrificados representa mais um importante passo na transformação de nossas operações logísticas em um modelo de baixo carbono. A evolução da tecnologia e o consequente aumento da autonomia dos

veículos nos permitirá, no médio e longo prazos, a ampliação gradual de nossa frota eletrificada”, destaca Gilmar Schumacher, diretor de logística da Friboi.

Reconhecida pela liderança e inovação em diversos setores do merca-

O FUTURO É ELÉTRICO

Com cerca de 150 km de autonomia, os caminhões da No Carbon têm capacidade para transportar até 4 toneladas de carga e são equipados com baús frigoríficos que levam simultaneamente produtos resfriados e congelados. Cada um desses veículos evita o lançamento anual de 30 toneladas de gás carbônico (CO2) equivalente na atmosfera. Além de contribuir para a preservação do meio ambiente, os caminhões elétricos têm baixo custo de operação e de manutenção. Ao contrário dos modelos convencionais, não possuem filtro de óleo, de ar e de combustível, bomba injetora, sistema de escapamento e outros itens que tornam a manutenção de um modelo tradicional até seis vezes mais cara que a de seu similar elétrico.

do de alimentos, a Seara, outra empresa da JBS, também está fazendo mudanças importantes em sua operação logística. Atualmente, a Seara está expandindo o número de caminhões 100% elétricos em sua frota de transporte, que passará a contar com 200 veículos desse tipo até janeiro do ano que vem. “Nosso objetivo é ampliar cada vez mais o alcance de soluções logísticas sustentáveis e de baixo carbono. Por isso, temos como meta ter veículos elétricos em todas as regiões metropolitanas com Centro de Distribuição da Seara”, destaca o diretor de logística da empresa Fabio Artifon.

O PLANETA
AGRADECE
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CURTOCIRCUITO

Que a vida sem tecnologia é impensável, ninguém discute. Mas o que pouca gente sabe é que já existem estudos científicos sobre os efeitos – nem sempre positivos – da hiperconectividade no cérebro

Imaginar como seria a vida sem internet é praticamente impossível. Mesmo quem nasceu antes do advento da rede sente dificuldade para lembrar como era viver e trabalhar de um jeito analógico. Não é para menos – afinal, já faz algumas décadas que a tecnologia está presente em praticamente tudo o que fazemos. No trabalho, para buscar informações, aprimorar o conhecimento, realizar reuniões, falar com as pessoas por meio de e-mails e de aplicativos de mensagens, e reforçar o networking e os relacionamentos via redes sociais. E depois do expediente não é diferente, já que a tecnologia está por trás dos serviços de streaming e dos videogames, só para citar dois exemplos. Um levantamento feito pelo NordVPN, consultoria especializada em cibersegurança, mostra que as pessoas passam, em média, quatro dias por semana totalmente conectadas, o que equivale a 197 dias por ano ou mais de dez anos se considerarmos que alguém fez isso durante duas décadas. A

pesquisa aponta, ainda, que as pessoas costumam se conectar por volta das 8 da manhã e só saem do computador e do celular quando passa das 22 horas.

Ou seja, estamos trilhando um caminho sem volta. O mundo contemporâneo é conectado e não dá para escapar disso. Porém, de uns tempos para cá, especialistas têm se debruçado sobre os efeitos da internet em nosso cérebro. Segundo um estudo realizado por cinco universidades – Sydney University, Harvard, King's College, Oxford e University of Manchester –, a internet produz alterações agudas em áreas específicas do cérebro que impactam atenção, memória e interações sociais. Basta pensar em quantas vezes por dia você é “interrompido” em meio a um relatório importante com o toque das notificações do WhatsApp ou para tudo o que está fazendo e vai dar uma olhada nas últimas publicações do Instagram. Quer outro exemplo? Você se lembra “de cabeça” de números de celular e de outras informações ou precisa recorrer ao Google e à agenda do celular?

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SINAPSE
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o que queremos para nossa vida. inevitável, mas não pode estar no controle. Deve ser nossa escrava –não nossa mestra"

A cientista inglesa Susan Greenfield, pesquisadora da Universidade de Oxford, no Reino Unido, tem uma explicação para isso. Segundo ela, o cérebro vai se moldando para se adaptar às situações. E as tecnologias digitais o afetam como qualquer elemento de interação que faça parte de nosso cotidiano. O sinal de alerta, na visão da especialista, é que a vida em rede está mudando a formação de nossa identidade, tornando-a dependente da percepção que outras pessoas têm sobre nós e, consequentemente, alterando nossos relacionamentos. Em um vídeo no canal do YouTube do projeto Fronteiras do Pensamento, que reúne pensadores influentes em várias áreas, Susan explica que pode acontecer, por exemplo, de pessoas adeptas de videogames desenvolverem uma coordenação sensorial e motora muito boas, mas não se sentirem confortáveis em se comunicar e em manter relacionamentos estáveis ao vivo e em cores. “O que precisamos é decidir o que queremos para nossa vida. A tecnologia é inevitável, mas não pode estar no controle – deve ser nossa escrava, não nossa mestra”, diz ela.

Susan Greenfield , pesquisadora da Universidade de Oxford FOTOS GETTY IMAGES

Um lado bom e outro nem tanto

Alguns estudos mostram que os videogames aumentam áreas do cérebro que liberam dopamina, um dos neurotransmissores que produz sensação de bem-estar e felicidade e que estimula a criatividade. O caso é que ficar horas jogando pode provocar alterações que são detectadas em exames cerebrais. Uma pesquisa feita pela Universitat Oberta de Catalunya (UOC), da Espanha, mostra que jogar videogames não apenas altera o desempenho do cérebro, mas também sua estrutura. De um lado, pode gerar benefícios relacionados a diferentes tipos de atenção, à capacidade de orientação espacial e, até mesmo, ao desenvolvimento de habilidades cognitivas e motoras. De outro, com o uso excessivo, os jogos eletrônicos podem deixar as pessoas emocionalmente vulneráveis e provocar baixa tolerância à frustração, ansiedade social e até mesmo problemas relacionados à autoestima. “Para algumas pessoas, esses recursos eletrônicos podem se tornar uma maneira de diminuir o estresse e receio que sentem da vida

real. Elas acabam se refugiando no mundo virtual, que é onde encontram mais satisfação”, explica o psiquiatra Renato Silva, especializado em bipolaridade e depressão, e apresentador do podcast Voo Bipolar, que é focado na patologia.

O uso excessivo de redes sociais e videogames pode trazer prejuízos, principalmente quando a pessoa sacrifica ou mesmo para de fazer atividades importantes para manter a saúde física e mental. Tem gente que deixa de se alimentar, dormir, estudar, trabalhar ou mesmo de socializar para ficar nas redes sociais ou jogando videogame, como explica Renato. “Nesse contexto, é necessário avaliar não somente o tempo gasto na internet, mas o padrão desadaptativo do uso”, completa.

Pode viciar?

Estudos realizados no Brasil, caso do que foi feito por Cristiano Nabuco, coordenador do programa de dependência de internet do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq/HCFMUSP), apontam uma possível relação entre a dependên-

cia da internet e transtornos mentais como depressão, bipolaridade, déficit de atenção e hiperatividade. Na visão da psiquiatra Fabiana Nery, professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba), características pessoais como traços de personalidade ou patologias preexistentes podem influenciar diretamente nos efeitos que o uso dessas tecnologias provoca no cérebro, no comportamento e nas emoções. “Para algumas pessoas, as redes sociais podem proporcionar um senso de conexão e de pertencimento que pode ser positivo. Para indivíduos já fragilizados os efeitos incluem ansiedade e rebaixamento de humor gerados por comparações irreais”, diz. De acordo com Fabiana, em pessoas com perfil mais frágil ou comportamento disfuncional, o uso excessivo de mídias sociais pode levar a prejuízos como sintomas ansiosos e depressivos, dependência emocional e digital. “O uso contínuo do celular pode causar um tipo de comportamento muito parecido com o de pessoas viciadas em drogas. Ansiedade, vazio existencial, solidão e até sintomas físicos”, finaliza. n

A VIDA É UM POST

Susan Greenfield, pesquisadora da Universidade de Oxford, conta que certa vez assistiu a um filme em que uma das cenas mostrava duas meninas conversando em um carro, quando uma delas pergunta: “Como você se sente dentro desse ”. A amiga não responde algo como estou triste ou feliz ou animada. A resposta é: “Esse é um carro digno de um post no Instagram”. Na visão de Susan, algumas pessoas estão construindo uma identidade no ambiente digital que, em boa parte, é formada pela percepção que os outros têm sobre nós. Um site chamado Klout, por exemplo, mede a importância de seus usuários por meio de pontos – o Klout Score. E as pessoas pagam não só para ver quantos pontos têm, mas também para aumentar sua pontuação. Agora, responda: parece ou não uma cena típica de Black Mirror?

FOTO GETTY IMAGES RESPIRO

O SAMURAI DA BATUTA

Chinês de nascimento e cidadão japonês, SEIJI OZAWA, que hoje tem 87 anos, começou a estudar piano ainda adolescente – era aluno de Noboru Toyomasu, conhecido por sua expertise em tocar as peças de Bach. Foi uma lesão no dedo sofrida durante uma partida de rugby que fez Ozawa passar de pianista a maestro. Por volta dos 25 anos, ele chamou a atenção de Hebert von Karajan, da Orquestra Filarmônica de Berlim, e ganhou uma bolsa de estudos para completar sua formação na Alemanha. O maestro americano Leonard Bernstein, diretor da Filarmônica de Nova York, também se impressionou com o talento de Ozawa, que se tornou seu assistente durante as temporadas de 1961/1962 e 1964/1965. A técnica notável de Ozawa lhe rendeu muitos prêmios mundo afora, inclusive dois Emmys. Ele foi diretor de grandes orquestras, como a Sinfônica de Toronto, a de São Francisco e a de Boston, entre outras. Ozawa ocupa um lugar de destaque entre os maiores maestros do século 20 como Von Karajan, Bernstein e o indiano Zubin Mehta, que, em 2016, o chamou para regerem juntos a Filarmônica de Viena durante o concerto de gala em comemoração aos 30 anos do Suntory Hall, em Tóquio, uma das mais prestigiadas salas do mundo. Foi uma noite memorável com Mehta e Ozawa se revezando com a batuta, os músicos se divertindo e a plateia batendo palmas para acompanhar a música.

STREET

Em um mundo acelerado em que as respostas são sempre para ontem, os prazos praticamente impossíveis e é preciso perseguir o sucesso o tempo todo, não é de se admirar que os números de gente com ansiedade, depressão e síndrome de burnout estejam explodindo. É para essas pessoas que Ryan Holiday escreve – e ele sabe do que está falando, já que antes de se tornar um autor best-seller, também pagou seus pecados no mundo corporativo. Segundo Holiday, um americano de 35 anos, desacelerar é a arma secreta daqueles que avançam. “Grandes líderes evitam distrações, têm insights e alcançam a felicidade por meio da quietude”, diz. E isso, para ele, está muito ligado à autonomia. “Vejo pessoas muito bem-sucedidas, mas que não têm nenhuma liberdade na vida porque

o sucesso invade quem elas deveriam ser. Para mim, sucesso tem a ver com controlar o seu dia, o que requer certa liberdade financeira, claro, mas está relacionado, principalmente, com tomar as próprias decisões, viver a vida do jeito que você quer e estar no controle de sua carreira”, afirma.

Holiday sabe bem o que é assumir o comando da trajetória profissional. Largou a faculdade de ciências políticas e escrita criativa na Universidade da Califórnia aos 19 anos para trabalhar com seu mentor Robert Greene, autor dos bestsellers As 48 Leis do Poder e As Leis da Natureza Humana. Depois, foi diretor de marketing da varejista American Apparel e, como tal, sua principal missão era ficar de olho na opinião pública e no que saía na mídia. A intenção era divulgar apenas as mensagens favoráveis à marca. Uma carreira de su-

cesso, muitos dirão. Pois ele decidiu largar tudo para escrever. Lançado em 2012, seu primeiro livro, Acredite, Estou Mentindo, é baseado em sua experiência na American Apparel e revela algumas das táticas utilizadas

SABEDORIA
Ryan Holiday se tornou um best-seller ao ensinar como aplicar conceitos filosóficos que remontam à Antiguidade em situações corriqueiras do mundo contemporâneo – principalmente o corporativo
FOTOS DAWSON CARROLL/DIVULGAÇÃO; FREEPIK; PEXELS
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“Para mim, sucesso tem a ver com tomar as próprias decisões, viver a vida do jeito que se quer e estar no controle da própria carreira” Ryan Holiday

por ele para manipular as mídias. O objetivo? Fazer as pessoas abrirem os olhos para não serem manipuladas.

ESCRITO NAS ESTRELAS

Em 2014, Holiday resolveu se debruçar nos ensinamentos dos estoicos, uma das correntes filosóficas mais influentes da Antiguidade, cuja principal característica é o pensamento de que o cosmos é regido por uma harmonia que determina todos os acontecimentos. Um dos pilares do estoicismo é conseguir viver bem e ser feliz em um mundo imprevisível, em que parte do que acontece está totalmente fora de nosso controle. Além disso, Holiday completa seus textos com um pouco de psicologia comportamental e de neurociência, que, de certa forma, remetem ao estoicismo, pois analisam como as pessoas lidam com as paixões e as emoções em busca do bem-estar. Ou seja, questões típicas da vida moderna. A primeira publicação nessa linha foi O Obstáculo É o Caminho, que foi traduzido para 17 idiomas e conquistou donos de startups e o pessoal de Wall Street, e é venerado por técnicos de futebol e celebridades da TV.

PARA ATUALIZAR A BIBLIOTECA

Nesse livro, o escritor mostra como o estoicismo influenciou a trajetória de líderes políticos e empresariais, como George Washington, Thomas Edison, Barack Obama e Steve Jobs. De acordo com ele, é normal colocar a culpa nos chefes, na economia e nos políticos, nos vendo como fracassados ou considerando nossos objetivos impossíveis de alcançar quando, na verdade, apenas uma coisa está errada: nossas atitudes e abordagens. Holiday costuma dizer que o estoicismo pode ajudar em diversas fases da vida, principalmente naquelas em que tudo sai do planejado. Um bom exemplo é o que aconteceu na pandemia, que despertou em muitas pessoas um novo olhar para o trabalho, com mais equilíbrio entre carreira e vida pessoal, e mais ênfase ao propósito que deve estar por trás de tudo. A filosofia, explica, fornece ferramentas para enfrentar problemas como esse e enfatiza a importância de ser uma pessoa boa e equilibrada. De maneira prática, se o que você faz está destruindo algo, a recomendação dos estoicos é mudar a rota, já que reclamar ou colocar a culpa nos outros está totalmente fora de cogitação.

PERTO DA NATUREZA

Holiday se tornou um dos autores mais festejados do segmento de autoajuda, mas é preciso reconhecer que seus livros têm um toque cool e requintado que fala diretamente com o mundo corporativo. Além dos livros, já escreveu para publicações renomadas como Forbes, Fast Company, The Huffington Post, The Guardian e New York Observer. Atualmente, ele vive em um rancho próximo de Austin, nos Estados Unidos, com a esposa e os dois filhos, tem uma livraria, a The Painted Porch, e está à frente da Brass Check, agência de publicidade que atende empresas como o Google, e vários escritores de sucesso, como Timothy Ferriss, Tony Robbins e Vani Hari. Isso longe de muita tecnologia e burburinho. Ele não é do tipo que pega o celular antes mesmo de sair da cama. Nada disso, na primeira hora depois de acordar investe seu tempo no que acredita ser mais valioso: os livros e a vida pacata do campo com a família e um pequeno rebanho de vacas, burros e cabras. n

A Quietude É a Chave (Intrínseca)

O Obstáculo É o Caminho: A Arte de Transformar Provações em Triunfo (Intrínseca)

Diário Estoico: 366 Lições Sobre Sabedoria, Perseverança e a Arte de Viver (Intrínseca)

Acredite Estou Mentindo – Confissões de um Manipulador das Mídias (Companhia Editora Nacional)

A Vida dos Estoicos: A Arte de Viver, de Zenão a Marco Aurélio (Intrínseca)

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OPINIÃO

POR QUE ESG E PROPRIEDADE INTELECTUAL TÊM TUDO A VER

Não é de hoje que os ativos imateriais desempenham um papel fundamental no cenário econômico mundial. Na verdade, isso vem acontecendo desde o fim do século 19, época em que o comércio internacional se intensificou e em que surgiram os primeiros tratados entre países para estabelecer, em nível global, requisitos mínimos de proteção desses assets. Até por conta do enorme mercado que congrega, o Brasil sempre fez parte disso e, em 1809, promulgou a primeira lei que previa a proteção de patentes.

Os ativos imateriais integram o que se conhece como propriedade intelectual e são juridicamente tratados como bens móveis, abrangendo variados direitos aplicados. Alguns exemplos: sinais distintivos (marcas, nomes de domínio), invenções (patentes relacionadas a soluções técnicas para problemas técnicos), shapes ou designs 3D ou 2D (desenhos industriais), softwares, além de criações artísticas, musicais, científicas, interpretações, execuções (direitos autorais e conexos), entre outros.

A implementação de uma estratégia robusta de propriedade intelectual é uma das bases para estabelecer a governança de uma empresa. E não apenas para proteger adequadamente os ativos imateriais criados por meio de investimentos constantes em pesquisa e desenvolvimento, mas também para assegurar direitos exclusivos que possam servir como moeda de troca na transação desses ativos com terceiros e funcionar como pilar em medidas contra potenciais infratores. E não é só: a propriedade intelectual garante a liberdade de exploração daquilo que

é desenvolvido e evita frustrar o lançamento de soluções que even tualmente esbarrem em direitos de terceiros.

E, quando se trata da governança de um país, a situação é bem seme lhante ao que se passa no mundo corporativo. No Brasil, por exemplo, é o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), autarquia federal ligada ao Ministério da Economia, o órgão responsável pela concessão de registros e direitos sobre a maior parte dos ativos de propriedade intelectual.

Em uma economia em rápida transmutação como a atual, em que vivemos pressões urgentes para transformar processos produtivos em práticas mais sustentáveis, implementar tecnologias limpas e zerar as emissões de carbono, a propriedade intelectual desempenha papel único, pois permite que tais práticas sejam introduzidas não apenas de forma mais colaborativa (licenciamento em escala), mas também como um caminho para garantir a continuidade de investimentos destinados à pesquisa e ao desenvolvimento.

PLAYER GLOBAL

O Inpi tem implementado programas atrativos para aqueles que despendem esforços e recursos em tecnologias limpas. É o caso, por exemplo, do programa Patentes Verdes, que concede exame prioritário para pedidos de patentes que englobem tecnologias verdes, ou seja, que contribuem para combater mudanças climáticas globais e proteger o meio ambiente.

Somos um país que tradicionalmente adota tecnologias alternativas e limpas (etanol e biomassa vegetal são dois exemplos bem-sucedidos disso), além de sermos um mercado ativo em créditos de carbono. Mais ainda: o Brasil tem potencial para se estabelecer como protagonista mundial na geração de ativos imateriais relacionados às tecnologias limpas, além de ter condições de ocupar uma posição de destaque em acordos que regulem a transferência dessas tecnologias para outros países. Por isso, precisamos estar atentos a essas transformações e oportunidades para alavancar os negócios e garantir a continuidade sustentável dos processos produtivos e de outras soluções que venham a ser ofertadas no mercado. n

Karina Haidar Müller é sócia do escritório de advocacia Müller Mazzonetto, em São Paulo

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Doença crônica e silenciosa, daquelas que só provocam sintomas quando já está em estágio avançado, a hipertensão atinge uma boa fatia da população mundial. Má alimentação, sedentarismo e altos níveis de estresse, entre outros fatores, turbinaram os números da doença nas últimas três décadas: a incidência em adultos entre 30 e 79 anos passou de 650 milhões para 1,28 bilhão. Os dados são de um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) feito em parceria com o Imperial College London. O levantamento mostrou também que metade das pessoas que fez parte da pesquisa não tinha ideia de que era hipertensa. Quando não se faz o tratamento adequado, o grande risco da hipertensão é o aumento significativo de problemas cardíacos,

CHECK-UP
A hipertensão arterial atinge bilhões de pessoas ao redor do mundo e requer atenção porque chega sem avisar, é silenciosa
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POR CARLA JULIEN STAGNI

cerebrais e renais, o que a torna uma das principais causas de morte em todo o mundo. Nos últimos anos, algumas modalidades terapêuticas não convencionais têm sido sugeridas para controlar a doença, caso da musicoterapia ou mesmo da aproximação de questões ligadas à espiritualidade. Quem revela isso é Juliana Gil de Moraes, cardiologista especializada em hipertensão arterial do hospital Sírio-Libanês , em São Paulo. Aqui, a entrevista completa com a médica.

PODER: O QUE CAUSA HIPERTENSÃO?

JULIANA GIL DE MORAES: Estamos falando de uma condição multifatorial que depende de fatores genéticos, ambientais e sociais. A hipertensão pode ter causas essenciais, que são as hereditárias, ou secundárias, como obesidade, uso de certas medicações e doenças congênitas, da tireoide e renais, além de apneia do sono.

PODER: QUANDO A PRESSÃO É CONSIDERADA ALTA?

JGM: Ao fazer a aferição da pressão arterial, temos sempre dois números: o maior indica a pres -

são sistólica (relacionada à contração do coração) e o mais baixo à pressão diastólica, que é quando o músculo cardíaco entra na fase de relaxamento. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é caracterizada pela elevação persistente da pressão arterial (PA) e é diagnosticada quando a PA sistólica (PAS) é maior ou igual a 140 mmHg e/ou a PA diastólica (PAD) é maior ou igual a 90 mmHg. Lembrando que essa aferição deve ser feita com a técnica correta em pelo menos duas ocasiões diferentes.

PODER: EXISTE PRESSÃO IDEAL?

JGM: A meta é definida individualmente, de acordo com a idade e/ ou a presença de doenças associadas. O ideal é ter valores menores que 140/90 mmHg. Nos mais jovens, pode-se pensar em valores inferiores a 130/80 mmHg.

PODER: A HIPERTENSÃO TEM SINTOMAS?

JGM: Ela é silenciosa, mas sintomas como cefaleia, inchaço dos membros inferiores, cansaço, tontura, rubor facial e alterações do sono podem ser sinais de pressão elevada.

PODER: QUAIS OS RISCOS PARA OS HIPERTENSOS?

JGM: A hipertensão é responsável por cerca de 80% dos acidentes vasculares cerebrais (AVCs), por 65% dos infartos agudos, e por 40% a 50% dos problemas renais.

PODER: O ESTRESSE E AS QUESTÕES EMOCIONAIS CONTRIBUEM PARA O APARECIMENTO DA DOENÇA?

JGM: Sim, sabe-se que o estresse pode elevar a pressão arterial, seja de maneira aguda ou crônica. Isso acontece por aumentar a liberação de hormônios como adrenalina e cortisol.

Segundo a OMS, nas últimas três décadas, o número de hipertensos entre os 30 e 79 anos passou de 650 milhões para 1,28 bilhão de pessoas

PODER: MULHER OU HOMEM: QUEM TEM MAIS PREDISPOSIÇÃO PARA DESENVOLVER HIPERTENSÃO?

JGM: Nos mais jovens, a incidência é mais elevada entre homens, mas o aumento da pressão por década de vida é maior nas mulheres. A partir dos 60 anos, a pressão arterial entre elas costuma ser mais alta e a prevalência de hipertensão, maior. Em ambos os sexos, porém, a incidência aumenta com a idade.

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Juliana Gil de Moraes, cardiologista do SírioLibanês, em São Paulo

Na faixa de 65 anos ou mais, é de 61,5% entre os homens e de 68,0% entre as mulheres.

JGM: Sim. Obesidade e hipertensão têm uma relação linear por causa do aumento da retenção hídrica, da atividade do sistema nervoso simpático e elevação dos níveis de cortisol no sangue, fatores que contribuem para elevar a pressão.

PODER: EXISTE CRIANÇA HIPERTENSA?

JGM: Casos em crianças e adolescentes vêm aumentando nos últimos anos. Atualmente, a prevalência na idade pediátrica é de 3% a 5%; na faixa de 7 a 12 anos, de 1,9%, com porcentagens maiores entre crianças e adolescentes obesos. Esse crescimento se dá pelo aumento do consumo de produtos industria-

lizados, sedentarismo, obesidade e até por hábitos como passar muitas horas jogando videogame, que é um gerador de estresse.

PODER: HIPERTENSÃO E GRAVIDEZ ESTÃO RELACIONADAS?

JGM: A hipertensão relacionada à gestação se caracteriza pelo aumento da pressão arterial normalmente no terceiro trimestre, porém sem perda de proteínas pela urina ou qualquer outro sintoma sugestivo de pré-eclâmpsia , que é quando a pressão se eleva acima de 140/90 mmHg, trazendo riscos para a mãe e o feto. Geralmente, o problema desaparece espontaneamente uma ou duas semanas após o parto. O diagnóstico precoce e o tratamento são importantes para evitar consequências para a gestante e o bebê. Sabe-se que o tratamento rigoroso da doença não traz consequências ao bebê, devendo ser sempre conduzido por um especialista. Esse cuidado é fundamental porque os distúrbios hipertensivos da gestação estão entre as principais causas de mortalidade materna e perinatal em todo o mundo. A hipertensão crônica está presente em 0,9 a 1,5% das grávidas, e estima-se que a pré-eclâmpsia complica de 2% a 8% das gestações. No Brasil, é a principal causa de parto prematuro terapêutico.

PODER: MANTER UM ESTILO DE VIDA SAUDÁVEL EVITA A HIPERTENSÃO?

JGM: Sim. Tabagismo, obesidade, dieta não balanceada e atividade física insuficiente são fatores de risco estabelecidos e alvos de intervenções para o controle da hipertensão arterial. Nos últimos anos, algumas modalidades terapêuticas não convencionais têm sido sugeridas, como a adoção de

PRATO BEM-FEITO

Foi no fim da década de 1990 que o National Heart, Lung and Blood Institute (NHLBI, na sigla em inglês), que tem sede nos Estados Unidos, definiu as bases da chamada dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension). Trata-se da adoção de hábitos alimentares simples que, comprovadamente, ajudam a prevenir e a controlar a hipertensão, além de trazer outros benefícios como a redução do colesterol ruim e a prevenção de câncer colorretal, entre outros. Basicamente, para seguir a dieta DASH é preciso aumentar o consumo de frutas, hortaliças, laticínios com baixo teor de gordura e cereais integrais; e reduzir a ingestão de carnes vermelhas, gorduras, doces e bebidas com açúcar.

respiração lenta, em que a pessoa inspira e expira profundamente, sessões de musicoterapia. O interesse por questões ligadas à espiritualidade também pode ajudar.

PODER: QUE TIPO DE EXERCÍCIOS SÃO OS MAIS INDICADOS?

JGM: Os hipertensos que seguem as recomendações de prática de atividade física apresentam uma redução de 27% a 50% no risco de morte. Sabe-se que exercícios de resistência, dinâmicos e isométricos são capazes de reduzir a pressão arterial.

PODER: UMA VEZ DETECTADA A HIPERTENSÃO, É NECESSÁRIO TOMAR MEDICAMENTO PARA SEMPRE OU É POSSÍVEL ESTABILIZÁ-LA?

JGM: A partir do momento em que é feito o diagnóstico e se estabelece o tratamento medicamentoso, deve-se fazer o controle e sempre estar em acompanhamento com um médico. Ao mudar seu estilo de vida, alguns pacientes conseguem reduzir e até suspender as medicações por um período. Outros, por sua vez, sofrem alterações em determinada estação do ano. Cada caso é um caso. n

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O JARDINEIRO REAL

Épara pouquíssmos ser escolhido para comandar Kew Gardens, em Londres, um dos mais célebres jardins botânicos do mundo, que é considerado patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Foi o biólogo paulista Alexandre Antonelli, de 43 anos, quem assumiu essa missão. Desde 2019, ele é o diretor científico e está à frente da área de pesquisas de Kew Gardens, que foi fundado em 1759 e reúne nada menos do que 27 mil espé -

cies vegetais. Com uma formação robusta e um currículo que inclui experiências em alguns países europeus, Antonelli chamou a atenção dos ingleses.

Em 1996, aos 20 anos, ele trancou a faculdade de biologia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e colocou uma mochila nas costas para viajar pelo mundo. Para se manter, fazia bicos aqui e ali como intérprete, garçom e programador de computação e, em uma dessas vezes, quando trabalhava como instrutor de mergulho em Honduras, conheceu Anna, uma sueca que viria a ser sua esposa. Algum tempo depois, os dois se mudaram para a Suécia, tiveram três filhos e, em 2001, Antonelli retomou os estudos. Dessa vez, como aluno da prestigiada Universidade de Gotemburgo, da qual só saiu em 2008 com um doutorado em evolução e biodiversidade. Depois disso, tornou-se curador do Jardim Botânico de Gotemburgo, o maior da Escandinávia. Mais cinco anos e ele se tornou professor de biodiversidade na universidade

que lhe deu o título de doutor, cargo que ocupa até hoje e, em 2017, criou o Centro de Biodiversidade Global de Gotemburgo, que atualmente conta com 10 milhões de exemplares de animais e de plantas.

Entre as várias atribuições de Antonelli em Kew Gardens está a de controlar um herbário internacionalmente reconhecido por conta de suas mais de 8,5 milhões de plantas e de fungos preservados, além de outros 750 livros e 175 mil ilustrações. Sem falar que Kew Gardens é um dos pontos turísticos mais populares de Londres e, todo ano, recebe quase 1,4 milhão de visitantes.

Controlado pelo Royal Botanic Gardens, instituição sem ligação com o governo britânico patrocinada pelo Ministério do Meio Ambiente do Reino Unido e mantido como braço simbólico da coroa, o Kew Gardens, além do provenance real, tem reconhecimento técnico e dispõe de um orçamento anual 65,6 milhões de libras n

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O biólogo paulista Alexandre Antonelli comanda Kew Gardens, um dos mais importantes jardins botânicos do mundo

Casaco, camisa, conjunto e corrente Fendi, relógio Cartier

PROFISSÃO: ENGAJADO

Filho de dois atores célebres, Enzo Celulari driblou a pressão de seguir os passos dos pais e tem feito o próprio nome com o empreendedorismo no terceiro setor, tipo politicamente correto

Em 15 de abril de 1997, o Jornal Nacional noticiava para todo o Brasil o nascimento de Enzo Motta Raia Celulari, primogênito do ex-casal de atores Claudia Raia e Edson Celulari. Figura pública desde então, o menino cresceu e frustrou a expectativa externa se distanciando da profissão de seus pais ao dizer não à atuação e encontrando o seu próprio caminho, entrando de corpo e alma em sua grande paixão: o empreendedorismo voltado para o terceiro setor. “Sempre tive uma conexão muito forte com o social. Quando era criança, minha mãe me levava em creches para fazer doações de roupas e de brinquedos, e comecei a perceber que eu tinha empatia, que conseguia entender o lugar do outro. Algo ali nos conectava de uma forma muito genuína”, relembra o rapaz de 25 anos que na adolescência desistiu do sonho de ser músico após se desiludir com o mercado de música no Brasil e se formou em administração de empresas na Faap, fundando, em 2016, o Instituto Dadivar, junto ao advogado e sócio Danilo Tiisel.

Dividido em três vertentes (técnica, jurídica e uma outra empresa; a Dadivar Comunicação de Causas, uma agência de comunicação com o recorte de causas socioambientais), o Instituto Dadivar como um todo

tem como objetivo implantar no mercado uma fórmula inovadora de empreendedorismo, criando um conjunto de iniciativas que conectam marcas institucionais e pessoais às suas próprias essências sociais, explica Enzo. “Acredito que a solidariedade e o impacto, seja social ou ambiental, precisam estar em tudo: nas pessoas, na forma de viver, nos hábitos cotidianos e na forma de operar e produzir das empresas,” ressalta. “Hoje, o cliente percebe um maior valor no produto que tem um diferencial social e ambiental ou que tem uma causa por trás e um propósito bem definido. A empresa que pensar diferente não vai mais existir daqui a dez anos ou não será mais lucrativa do jeito que é hoje. Não é mais uma opção ou diferencial e, sim, o único caminho a ser seguido”, profetiza.

Destaque na Under 30 Brasil em 2020, lista anual da Forbes que destaca jovens empreendedores abaixo dos 30 anos que estão mudando o país, Enzo conquistou tal reconhecimento por sua atuação no auge da pandemia. “Reuni minha equipe e convocamos todas as empresas e artistas imagináveis para um movimento ao vivo pela vida em um grande festival de lives. Em menos de 20 dias, conseguimos arrecadar mais de R$ 2 milhões que foram revertidos tanto no combate à fome quanto para ajudar na saúde pública”, celebra o

ENSAIO
por ITAICI BRUNETTI fotos mauricio nahas styling thiago biagi

Blazer, camisa, calça, shorts, colares e broches Christian Dior. Na pág. anterior, jaqueta, camisa e calça Misci, lenço e broche Christian Dior, colar Galucci, anel Cartier

ariano, que tem como maior sonho conscientizar e mudar a cabeça das pessoas, sejam elas físicas ou líderes de empresas.

Unindo a motivação de sua mãe e a parcimônia de seu pai em “um equilíbrio que deu muito certo”, como se autodefine, o galã reconhece sua posição de influencer e, embora tenha recusado diversos convites para iniciar na carreira de ator, se sente confortável em estampar publicidades escolhendo as propostas a dedo. Em seu currículo constam trabalhos para marcas de carros, perfumes, roupas, sapatos, entre outros. “Procuro sempre me conectar a marcas que tenham campanhas com propósitos, que tenham algo de diferente a ser falado. As marcas já me procuram com esse olhar. Elas vêm com essa proposta para mim”, enfatiza o jovem empreendedor, que não vê problema em se autopromover. “Hoje, falar o que você faz é importante para estimular quem ainda não faz. Não é para inflar o ego, e sim para inspirar o outro.”

FILHO DE PEIXE...

Como costuma enfatizar, atuar não é uma prioridade para o filho de dois peixões da televisão. No entanto, isso não significa que Enzo descarte a possibilidade. “Não me vejo mudando de profissão, só que nunca vou dizer nunca porque sempre estou aberto a novas possibilidades. Se um dia acontecer de eu participar de alguma novela, filme ou série, teria que ser algo que se conectasse com os valores e os propósitos em que

acredito, que tenha essa coisa do contraste social,” opina, sobre como seria seu primeiro papel na TV. “Eu ainda teria dois grandes professores em casa”, completa, abrindo o sorriso de quem sabe a sorte que tem.

No entanto, mesmo evitando as câmeras, Enzo sempre é alvo das lentes dos paparazzi e seu nome recorrente em sites de celebridades assim que engata em um novo romance. “Estou na mídia desde que nasci, por isso lido de forma bem natural e até brinco com essas situações. Tento fazer tudo de uma forma low profile, mas também não vou me privar de viver por causa disso”, diz o atual solteiro, que já namorou Bruna Marquezine, Carol Garson, Victória Grendene, Rafaella Rique e teve um affair com Nicole Bahls. “Considero-me romântico e intenso, daqueles que se entregam a fundo. Mantenho o racional no início dos relacionamentos, mas quando tenho a certeza, minha entrega é total. Entro de cabeça.”

Agora, um dos próximos planos do empreendedor é dar continuidade a sua mais nova função: a de irmão-babão. Além de Sophia Raia, de 19 anos, o rapaz ganhou este ano mais uma irmãzinha, Chiara, do relacionamento de seu pai com a mulher Karin Roepke. E, recentemente, Claudia Raia anunciou aos 55 anos que espera Luca, o primeiro filho com o ator Jarbas Homem de Mello. n

Camisa, regata e luvas Prada, óculos Brunello Cucinelli Beleza: Danka Ceneviva (Capa MGT) Direção de arte: David Nefussi Edição de estilo e produção executiva: Ana Elisa Meyer Produção de moda: Maria Siqueira Assistentes de fotografia: Vanessa Gomes e Vitor Cohen Tratamento de imagem: Fujocka

SONHANDO ACORDADO

Global 6500, da Bombardier: 12 mil km de autonomia, capacidade para até 17 passageiros e conectividade ultraveloz

Global 6500. Esse é o nome do novo jato executivo da canadense Bombardier. Com capacidade para até 17 passageiros mais quatro tripulantes, a aeronave vem equipada com motor RollsRoyce e tem 12,2 mil km de autonomia de voo. A cabine é a maior e a mais confortável da categoria e, além de poltronas tradicionais, conta com uma tipo divã para ser usada nos momentos de descanso enquanto o voo não termina. O acabamento não fica atrás: detalhes em madeira e assentos forrados em couro bege conferem à cabine um visual clean e muito sofisticado. Conexão de alta velocidade (uma das mais rápidas a bordo) e telas de ultradefinição completam o pacote. O valor? US$ 56 milhões, segundo o Aircraft Bluebook.

Em sentido horário: o jato Global 6500, em Congonhas, que tem capacidade para até 17 passageiros, além de quatro tripulantes, e 12,2 mil km de autonomia de voo; poltrona tipo divã; os assentos tradicionais e detalhes do banheiro

PODER 57
FOTOS PAULO FREITAS

CANTO DE PODER

A POESIA DA COR

“Está vendo aquele morro?”, pergunta o fotógrafo Walter Firmo da janela do nono andar de um prédio no bairro da Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro. “É o morro da Mangueira, de Cartola, Jamelão, Clementina e outros poetas”, responde ele mesmo.

O coração suburbano de Firmo, nascido em 1937 no bairro vizinho de São Cristóvão, encontrou naquela paisagem um alento. “Aqui eu me refaço todo dia”, diz um dos mais importantes fotógrafos do país, que começou a carreira no extinto jornal Última Hora , em 1955. O olhar de Firmo – que capturou dos poetas da Mangueira a figuras negras dos subúrbios cariocas e das periferias do Brasil –, foi celebrado em exposição panorâmica pelo Instituto Moreira Salles (IMS) em São Paulo. Agora, a mostra está em

58 PODER
Em sentido horário: Walter Firmo em sua sala, com a janela para o bairro da Tijuca e o morro da Mangueira; quadros tropicais de artistas brasileiros, como um cajueiro de Vatenor de Oliveira; a sala, com um quadro de Luiz Cavalli, um altar afro-brasileiro sobre a estante e o subúrbio carioca na janela; cerâmicas nordestinas, entre elas um Divino Espírito Santo de Juazeiro do Norte

cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, onde fica até 27 de março do ano que vem.

Um exímio fotógrafo da cor, da policromia de um Brasil vibrante, Firmo mantém nas paredes de sua sala tons que reafirmam o pendor para a exuberância da luz. “A gente vive num país tropical. Se eu morasse na Islândia, fotografaria em preto e branco”, diverte-se. “O Brasil é um país que tem uma força extrema do sol batendo na gente e perpetua essa guloseima que

se chama cor, que dá prazer, gosto visual”, diz Firmo, que cita o amigo e fotógrafo americano David Zingg como um de seus professores nos caminhos da cor.

Mas é no quarto que Firmo passa a maior parte do tempo, entre a coleção de livros, o oratório de Nossa Senhora da Conceição, uma velha cadeira de balanço e uma coleção de chapéus. Foi com o pai, um “garboso negro”, que se vestia de linho branco e chapéu panamá, que ele tomou o gosto pelo acessório.

Firmo é um andarilho. Não usa estúdio. Prefere, com os pés na calçada e agora com a câmera do celular, encontrar nas ruas os personagens e as paisagens da cidade. “O celular é o meu caderno de anotações para não me deixar morrer como poeta da fotografia”, revela o menino criado nos subúrbios do Rio que, ainda criança, tomou como um pai um navio para Recife e começou a explorar um mundo que antes só imaginava. “Foi lá que eu tive contato com a liberdade, andando descalço pelas ruas. Nessa liberdade, toda a poesia se fez, na relação de um homem que está solto na vida.” n

PODER 59
Em sentido horário: a estante no quarto repleta de fotolivros; sua coleção de chapéus; oratório para Nossa Senhora da Conceição; escultura de Emanoel Araújo; foto que retrata uma “visão estética do subúrbio”, segundo Firmo; uma das icônicas fotos de Pixinguinha na cadeira de balanço, em 1967

EM TOTAL SINTONIA

Companheiros de vida e de ofício, Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes formaram um dos casais mais criativos do século 20 – cada um com sua arte de vanguarda e moderna

60 PODER
POR ANA ELISA MEYER

BELAS-ARTES

Os artistas Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes se conheceram em Paris, em 1929. Os dois estavam na cidade para se encontrarem como artistas e se firmarem como parte das novas modernidades criativas. Nascida em 1908, na capital portuguesa, em uma família de posses, Maria Helena viveu seus primeiros anos na Suíça. Filha única de um importante embaixador, foi criada em meio ao luxo e a formalidades. Seu interesse pelo mundo das artes começou cedo. Com 11 anos já mostrava habilidades no piano, no desenho e na pintura e, estimulada por sua mãe e avô, frequentou ateliês de artistas portugueses renomados na época – como os pintores Emília dos Santos Braga e Armando de Lucena, e o escultor Rogério de Andrade –, e ingressou na Academia de Belas-Artes de Lisboa. Seu amor pela arte era tanto que, aos 17, Maria Helena também passou a frequentar o curso de medicina da universidade local para se aprofundar e conhecer anatomicamente os diferentes ângulos do corpo humano e desenvolver esculturas mais complexas. Em 1928, se mudou com a mãe para Paris a fim de dar continuidade a seus estudos acadêmicos. Lá, cursou desenho, na Académie de la Grande Chaumière, e escultura, com Antoine Bourdelle e Charles Despiau. Um ano depois, mudou totalmente de rumo quando decidiu abandonar a escultura e focar na pintura e gravura, tendo estudado com o pintor cubista Fernand Léger e o fauvista Othon Friesz. Depois, em 1930, Maria Helena e Arpad se casaram.

ALMA GÊMEA

De origem húngara, Arpad nasceu em 1897, em Budapeste, em uma família burguesa, e cresceu ao lado de alguns dos mais célebres artistas de seu país. Aos 22 anos foi estudar na Academia de Belas-Artes de sua cidade natal, onde demonstrou especial interesse por desenho e pintura, e procurou se aprofundar mais nas correntes artísticas da vanguarda europeia, desde as artes plásticas até a música. Mais tarde, viajou por vários países da Europa antes de se

instalar em Paris, em 1925, onde estudou com os artistas franceses André Lhote, Fernand Léger e Roger Bissière, e frequentou a Académie de la Grande Chaumière – onde conheceu Maria Helena, que acabou se tornando sua modelo mais frequente.

O casal viveu a típica boêmia característica daquela época na capital francesa sendo muito inspirado pela cena artística que se desenvolvia na cidade. Em seus ateliês, a Villa des Camelias e o Boulevard Saint-Jacques, em Montparnasse, usufruiu desse ambiente criativo e frenético. Juntos, Maria Helena e Arpad passaram por diversos países, partindo da França para a Romênia e, na segunda metade da década de 1930, foram morar em Lisboa. Com o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, tentaram, sem sucesso, obter a nacionalidade portuguesa para Arpad, que tinha se tornado apátrida por sua ascendência judaica

No ano seguinte, refugiaram-se no Brasil. Desembarcaram no Rio de Janeiro em 1940, instalando-se, inicialmente, nos chalés pertencentes ao antigo Hotel Internacional, em Santa Teresa, onde também viviam muitos outros artistas europeus que se exilaram no Brasil. Nos sete anos em que moraram no país, conheceram e conviveram com grandes nomes do modernismo como os poetas Carlos Drum-

PODER 61
FOTOS
Abaixo, obra ‘Bibliothèque’ (1949), de Maria Helena Vieira da Silva. Na página ao lado, a artista e Arpad no ateliê do casal em Paris, na década de 50

Em sentido horário, obra ‘Maria Helena VI’, 1942, de Arpad Szenes; entrada, interior e detalhes da Fundação Arpad SzenesVieira da Silva, em Lisboa

mond de Andrade, Cecília Meireles e Murilo Mendes, e o pintor Carlos Scliar. Esse contato propiciou trocas valiosas de conhecimento e de perspectiva para todos os envolvidos. No caso de Maria Helena e Arpad, a experiência levou à fundação do Ateliê Silvestre, que se tornou ponto de encontro de artistas iniciantes e de onde saíram trabalhos como os painéis de azulejos e os retratos de cientistas da Escola Nacional de Agronomia. Com o fim da guerra, o casal retornou para a França, em 1947, e deu continuidade a seu trabalho.

A ARTE DE CADA UM

As pinturas de Maria Helena transitam entre a figuração e a abstração. Seus quadros mostram uma preocupação em expor ambiguidades do espaço e da profundidade representados sobre uma superfície plana. Podemos ver, na maioria de suas obras, o emprego de uma rede quadriculada, obtida por meio das linhas e de suas intersecções, que formam planos semelhantes a quadrados coloridos. Arpad, por sua vez, produziu uma obra serena e discreta. Em certos momentos, viu-se subjugado ao apoio incondicional que ofereceu à carreira de Maria Helena, que obteve reconhecimento e projeção internacional a partir de 1950. Foi nessa mesma época que ele produziu suas obras mais conhecidas com formas alongadas e abstratas, nas quais predominam cores suaves e quentes. O artista morreu em 1985 e, sete anos mais tarde, foi a vez de Maria Helena, que estava com 83. Mas o legado do casal foi perpetuado pela Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva. Criada em 1990 por Maria Helena, a entidade foi oficialmente inaugurada quatro anos depois em Lisboa. O acervo conta com várias obras do talentoso casal. n

62 PODER FOTOS ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL;
ARQUIVO PESSOAL

ABRE- ALAS

Marienne Coutinho é uma mulher que se deve prestar atenção. Não só porque ela é uma executiva de sucesso, mas por sua luta pela promoção da diversidade nas altas lideranças corporativas, especialmente nos conselhos de administração. Mês passado, ela recebeu o prêmio Rise and Raise Others da ONU, que é concedido a mulheres que se dedicam a empoderar outras. Atualmente, a advogada paulistana de 48 anos, é sócia-líder de Tax Transformation & Innovation da KPMG no Brasil, é membro do Comitê de Inovação & Enterprise Solutions da consultoria e cofundadora brasileira do Know, network de executivas do C-Level.

Com a mãe, Magali, que nasceu no interior de Alagoas, a executiva aprendeu a importância do empoderamento feminino. Primeira mulher a se desquitar em sua cidade, Magali mudou-se para São Paulo com a filha mais velha e trabalhou como doméstica e assistente de palco de Silvio Santos; depois, virou dona de salão de beleza. Do pai, Gerson, administrador industrial, Marienne herdou os traços orientais e valores como lealdade e disciplina.

Ao entrar na KPMG há 28 anos, Marinne notou que havia algo errado, já que 50% dos trainees eram mulheres, não existia nenhuma no alto escalão e a proporção delas diminuia drasticamente ao longo da carreira. Quando

engravidou de seu primeiro filho, aos 25, sofreu por conta da falta de iniciativas que contemplassem a maternidade. Nas primeiras viagens internacionais a trabalho, sentia-se constrangida por levar seu bebê e a mãe a tiracolo para continuar amamentando.

Por conta de seu cargo, precisou retornar ao trabalho quando sua segunda filha tinha apenas dois meses. “Ia me arrastando”, recorda. Hoje, graças a sua atuação, existem políticas como a possibilidade de sócias e gerentes levarem seus bebês de até 1 ano com um acompanhante em viagens a trabalho e com as despesas pagas, salas de apoio à amamentação, programas de mentoria e de lideranças femininas e licençamaternidade remunerada para sócias. Segundo ela, apesar dos avanços, as

demandas femininas são negligenciadas porque a quantidade de mulheres em posições de liderança ainda é insuficiente. “Sem falar que não ter alguém para servir de inspiração dá a impressão de que não poderemos chegar lá.”

A pauta racial é outra grande preocupação de Marienne. Em 2020, ela ajudou a fundar o Conselheira 101, programa de capacitação e incentivo à presença de mulheres negras nos conselhos de administração. “Não podemos mais dizer que não há mulheres negras preparadas ou que não sabemos onde elas estão”, dispara Marienne. Atualmente, 30% das mulheres do programa já fazem parte de algum conselho. Para ela, um conselho mais diversificado toma decisões melhores. n

PODER 63 FOTO DIVULGAÇÃO
Sócia de uma grande consultoria, Marienne Coutinho luta para que as empresas ganhem um olhar mais plural
ESPELHO
“A falta de executivas no topo da carreira para servir de inspiração faz muitas mulheres acreditarem que não chegarão lá”

HERANÇA DOS PAIS: Respeito com todos

MODA É: Diversão

BELEZA DA MODA NACIONAL: Criatividade

ESTILISTA GENIAL: Tem muita gente boa. Por isso, prefiro não citar ninguém

COR: Uso muito preto porque, para mim, funciona como um fundo infinito. Mas não tenho apego a apenas uma cor. Já fui do vermelho, do azul, do amarelo...

SOB MEDIDA

POR DENISE MEIRA DO AMARAL

RICARDO ALMEIDA

Com mais de 20 lojas pelo Brasil, o empresário e estilista Ricardo Almeida quer voltar às origens. O maior nome da alfaiataria nacional, que já vestiu de Lula a Rodrigo Santoro e vai assinar as roupas da seleção fora de campo, quer reposicionar sua marca e resgatar o atendimento exclusivo e o corte sob medida que o consagraram na década de 1990. O confinamento e o fechamento das lojas durante a pandemia foram os grandes responsáveis para que Ricardo Luiz Pereira de Almeida, um paulistano de 67 anos, aumentasse sua admiração pelo slow fashion. A estratégia é repaginar a marca com uma proposta ainda mais exclusiva, com tecidos e modelagens mais finos, além da retirada da logomarca de algumas peças, conferindo um ar minimalista. Algumas lojas de shopping deram lugar a sofisticados ateliês conceito, como o de Brasília e o de Belo Horizonte. A menina dos olhos, no entanto, será o ateliê de São Paulo, no complexo Cidade Matarazzo, que fica no centro da capital paulista e abriga o hotel de luxo Rosewood. “Vai ser uma área com mais de 770 m2 com bar, música, mesa de sinuca e pingue-pongue, como na antiga loja da Vila Nova Conceição, mas muito mais exclusiva. O atendimento será com hora marcada e o cliente contará com peças sob medida, além de poder optar pelo serviço de consultoria de imagem, oferecido por Kaisla Almeida, mulher de Ricardo. Para ele, o diferencial de sua marca é o vanguardismo e sua presença tanto na criação como na modelagem das roupas. “Odeio mesmice”, dispara ele, que, em 1991, quando abriu a primeira loja, causou furor ao apresentar ternos em tons de vermelho, azul-turquesa e verde-limão. Não à toa, a marca caiu no gosto de publicitários e artistas. Casado há três anos com Kaisla, Ricardo tem cinco filhos e três netos. Com os caçulas Arthur, 17, e Ricardo, 19, planeja uma parceria com pegada mais jovem, em que os filhos vão cuidar do estilo e ele, da fabricação. Já Kaisla promete dar novo gás à frente do braço feminino da marca, que vinha ficando de lado por falta de tempo do estilista. Workaholic, Ricardo sai diariamente de moto de sua casa, no Jardim Europa, antes das 7 da manhã, e só retorna da fábrica, que fica ao lado da Pinacoteca. no centro de São Paulo, depois das 20 horas.

SE NÃO FOSSE ESTILISTA: Seria arquiteto ou designer de móveis

MAIOR LUXO: Ter tempo O QUE MAIS GOSTA DE FAZER

EM CASA: Receber os amigos MÚSICA: Eletrônica

PRIMEIRA COISA AO ACORDAR: Tomar banho. Senão, não acordo. Meu despertador toca às 6h45 LIVRO DO MOMENTO: Nunca consegui ler um livro. Não sei

se é problema de quem é da área de criação. Leio e começo a fantasiar e saio da história. Não dou conta

PODCAST: Não tenho tempo VIAGEM MAIS MARCANTE: Maldivas

AMAR É: Entender o outro CASAMENTO É: Companheirismo

REDES SOCIAIS: Não tenho tempo. Até tenho Instagram, mas não opero

PATERNIDADE: Ser herói

E SER AVÔ: Estragar os netos

PROGRAMA PREFERIDO EM SÃO PAULO: Sair para jantar MOMENTO POLÍTICO: Brasil dividido. É preciso resgatar a união BRIGA POR POLÍTICA NO WHATSAPP: Não MATURIDADE TROUXE: Saber esperar. Antes era ansioso SONHO: Cuidar dos bichos PLANEJA TER MAIS FILHOS: Não. Planejo ter mais bichos

64 PODER

RESTAURANTE: Pinocchio Cucina, em São Paulo.

O QUE QUERIA SER QUANDO MENINO:

Fazendeiro e corredor de carro.

a roupa que mais me protege.

HOBBIES: Andar de moto, wake, além de jogar pingue-pongue, tênis e sinuca.

PRATO PREDILETO: Qualquer doce ou prato da culinária italiana.

CANTOR OU CANTORA:

Winehouse.

LEMBRANÇA DE INFÂNCIA: Carrinho de rolimã, bicicleta e subir nos telhados dos vizinhos.

que é muito nobre e,além de térmica, não deixa o calor de fora entrar.

FILME DA VIDA: Uma Linda . Adoro a postura do personagem do Richard Gere. Muito humano e elegante.

DESFILE

INESQUECÍVEL: Desfile dos Mascarados, em 2001. A gente estava com fama de só fazer desfile com famosos e nesse cobrimos o rosto de todos. E o último da SPFW, quando montamos um bosque na passarela, com um coral cantando “Imagine”. Muita gente chorou.

MARCA QUE ADORA: Boris Bidjan Saberi.

GETTY IMAGES; IMGBIN; DIVULGAÇÃO; JÚLIO
REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL
FOTOS
ANDERSON TAVARES;

HIGH-TECH

EM TODOS OS SENTIDOS

Uma seleção de produtos para fazer sua sessão de spa sem colocar o pé fora de casa. Tem banheira com cromoterapia, pedras quentes computadorizadas e um gadget de meditação para não deixar você perder o foco

STILLNESS, KOHLER

Tem coisa melhor do que mergulhar na banheira depois de um dia daqueles? Então, preste atenção nessa aqui, que é inspirada nos ofurôs e equipada com cromoterapia, aromaterapia e vapor. E o mais incrível? Tudo controlado por comando de voz.

R$ 32.029

+ KOHLER.COM

MUSE 2, MUSE

Sua cabeça não para na hora da meditação? A headband Muse 2 pode ajudar. O gadget monitora ondas cerebrais, movimento corporal, ritmo cardíaco e técnica respiratória enquanto você medita. Em caso de alteração em um desses parâmetros, o som ambiente emitido pelo app muda. Quanto mais agitação, mais forte o barulho da chuva, por exemplo. Ao final, um relatório completo sobre a sessão ajuda a monitorar seu progresso.

R$ 1.344

+ CHOOSEMUSE.COM

ELO PRO, ELO STONES

A experiência da termoterapia com pedras quentes oferecida em muitos spas pode ser replicada – e até melhorada em casa. Aquecidas individualmente em apenas dois minutos, as pedras high-tech da Elo chegam a temperaturas entre 37,7 e 60 graus medidas dez vezes por segundo para garantir a precisão. Seu material, inspirado na natureza, não é poroso e, assim, não absorve óleo e líquidos, evitando contaminação. Um aplicativo com várias opções de luz ambiente completa o pacote.

R$ 3.222

+ ELOSTONES.COM

THERAGUN PRO,

THERABODY

O massageador mais avançado dessa marca é uma máquina de aliviar estresse e dores musculares que costumam aparecer depois de uma sessão intensa na academia. Feito à mão e banhado a ouro, tem cinco diferentes presets, atingindo de 1.750 a 2.400 percussões por minuto. Acompanhado por um aplicativo que, além de exibir a velocidade atual e outras opções de customização de movimentos, mostra a resposta do seu corpo à força aplicada. Edição limitada, pois foram fabricadas apenas 550 peças.

PREÇO: R$ 5.294 + THERABODY.COM

UMAY REST, UMAY

Não é só o corpo que precisa de descanso – os olhos também. É possível recuperá-los depois de todo o tempo em que passamos olhando para telas. Este gadget usa calor e frio para melhorar a saúde ocular e relaxar a mente no processo. A ideia é seguir rotinas diárias e programadas via app. Ondas quentes sobre as pálpebras dez minutos antes de dormir para ajudar no sono, e ondas frias dois minutos após acordar para prevenir o ressecamento dos olhos durante o dia de trabalho.

R$ 2.179 + UMAY.REST

MOODO AIR, MOODO

Difusor de aromas em cápsulas controlado por app e compatível com assistentes virtuais domésticos como Siri, Alexa e Google Assistant. O sistema permite combinações pré-selecionadas e também misturas personalizadas. Um clima cítrico para acordar sereno ou de lavanda para relaxar antes de dormir. E o melhor: o sistema pode ser programado para ativação sempre na mesma hora, como um alarme, e interrompe o funcionamento quando não há ninguém por perto.

R$ 650

+ MOODO.CO

CALMER PRO, FLARE AUDIO

Esse protetor auricular usa uma tecnologia simples para atingir resultados poderosos. A ideia é reduzir o estresse, minimizando o ruído ambiente diretamente no canal auditivo –sem isolar o usuário do mundo. Ou seja, o protetor auricular permite que a pessoa ouça tudo, mas sem ficar incomodada com o barulho.

PREÇO R$ 312 + FLAREAUDIO.COM

PODER 67 * PREÇOS PESQUISADOS EM NOVEMBRO DE 2022, SUJEITOS A ALTERAÇÕES; FOTOS DIVULGAÇÃO

A UNIÃO FAZ A FORÇA

No fim do mês passado, Daniela Cerri e Helio Seibel abriram as portas de sua casa no Jardim América, em São Paulo, para receber um grupo seleto de amigos. O evento, organizado para comemorar o primeiro aniversário do Museu Judaico, também arrecadou fundos para a instituição.

DANIELA CERRI E HELIO SEIBEL BRUNA E LUIS STUHLBERGER MOISE POLITI ANA E RODOLFO VILLELA MARINO LEIVI ABULEAC RENATA E SERGIO SIMON
FERVE
LUCIANA TEMER E CARLOS TUCCI FOTOS PAULO FREITAS CÉLIA PARNES DANIEL ZONSHINE, RAFI ERDREICH E FELIPE ARRUDA DAVID, DANIEL E JORGE FEFFER FLÁVIA TERPINS, RENATA FEFFER E JULIE LAMAC DANIELA HIRSCH E ALEXANDRE SCHWARTSMAN MARISA E SALO SEIBEL ALEX SEIBEL

PODER VIAJA

OÁSIS

O que era bom ficou ainda melhor: o Claridge's, hotel especialíssimo em Londres, acaba de ganhar seu primeiro spa. Com mais de 200 anos de história, o icônico endereço em Mayfair abriu um espaço de 7 mil metros quadrados dedicado ao wellness que foi desenhado por André Fu. A inspiração é a filosofia zen japonesa e há destaques como a piscina aquecida e 0s tratamentos à base de CO 2 . +CLARIDGES.CO.UK

Os fãs de champanhe já podem preparar a taça: a Veuve Clicquot acaba de abrir um hotel temporário na região de Noosa, na Austrália. O projeto pé na areia, que funcionará apenas este verão, tem cinco quartos – cada um com 485 metros quadrados. Depois de um transfer privativo de Tesla, os viajantes aproveitam uma temporada repleta de mimos como champanhe all day, claro, aulas de ioga e surfe – com pranchas personalizadas –, spa e cardápio preparado por um chef. +VEUVECLICQUOT.COM/EN-INT/HOTEL-CLICQUOT-AUSTRALIA

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VINHO E MAIS

A Itália está sempre no nosso imaginário e a dica da vez é um programa imperdível na região da Umbria. Obra do escultor italiano Arnaldo Pomodoro, a Tenuta Castelbuono, também conhecida como Carapace, é um local pensado para promover o encontro da arquitetura com o vinho. Imagine um vinhedo com uma enorme cúpula coberta por cobre, que lembra a carapaça de uma tartaruga – daí o nome. Lá dentro, além de degustações deliciosas, é possível ver de perto as áreas de vinificação, envelhecimento e armazenamento dos rótulos da família Lunelli.

INSPIRE, RESPIRE

A começar pelo cenário, uma área colada ao Parque Nacional de Joshua Tree, o The Bungalows é uma novidade especial para os viajantes que gostam de sair do lugar-comum. Para completar, o novo e pequenino hotel – são apenas 14 chalés – fica dentro do Joshua Tree Retreat Center, um instituto espiritual considerado referência nos Estados Unidos quando se trata de bem-estar físico e mental. Detalhes arquitetônicos que somam: o hotel ocupa uma construção originalmente projetada pelo arquiteto modernista Harold Zook, enquanto o retreat center é obra de Lloyd Wright, filho de Frank Lloyd Wright.

SAL, SOL E SURFE

Já faz um tempo que Ericeira é adorada pelos surfistas e, como eles sempre descobrem os melhores hotspots à beira-mar, os hoteleiros de plantão decidiram olhar os encantos por trás dessa simpática vila portuguesa. Entre as novidades, estão o Immerso, no alto de um vale, e o Aethos, debruçado em um penhasco com vista para o mar. Este último, vale dizer, tem um deque perfeito para sessões de ioga e meditação, hamman e, uau, aulas de surfe com Joana Andrade, big rider respeitada mundialmente. Não perca: o pôr do sol na praia dos pescadores, o prego do restaurante Lebre Escondidinho e a feira que acontece no Mercado de São Sebastião.

PODER 71 FOTOS DIVULGAÇÃO
@CARAPACECASTELBUONO
+RETREAT.HOMESTEADMODERN.COM

TUDO AZUL

VIAGEM Sombra, água fresca e uma boa dose de escapismo: bem-vindos a Anguilla, uma das ilhas mais bonitas – e selvagens – do Caribe
TEXTO CARLA JULIEN
STAGNI*
FOTOS DIVULGAÇÃO; ARQUIVO PESSOAL

Atenção! Estudos recentes indicam que paisagens azuis fazem bem à saúde. De acordo com a Mental Health Foundation (MHF), 65% das pessoas acreditam que estar em espaços com água e céu dessa cor traz bem-estar mental. Levando isso em conta, poderia se dizer que Anguilla é um santo remédio. A ilha de apenas 95 km² e de colonização britânica é considerada uma das mais belas do Caribe... e das mais tranquilas. Para quem quer sombra, água fresca e uma boa dose de escapismo, não faltam praias de areia branquíssima, quase sempre vazias, banhadas pelo mar de diferentes tonalidades de azul, que vão do marinho ao turquesa mais vibrante. O céu também se mantém claro grande parte do ano. Ao contrário das vizinhas Saint Barth e St. Marteen, o agito passa longe dessa ilha de 15 mil habitantes. Os dias por lá seguem preguiçosos, ao sabor das ondas e da brisa que, às vezes, sopra para aliviar o calor – os termômetros variam entre 28 e 30 graus. Muito procurada por turistas americanos – especialmente na alta estação, que lá acontece entre dezembro e abril –, já que fica a três horas de Miami – atualmente existem voos diretos que facilitam o acesso à ilha. Anguilla está muito bem servida de hotéis em que o luxo convive em perfeita harmonia com a paisagem quase selvagem, entre eles, o Zemi Beach House, em Shoal Bay (eleita uma das praias mais bonitas do planeta), o Four Seasons Resort, em Barnes Bay, e o Belmond Cap Juluca, em Maundays Bay. O dolce far niente ganha contornos mais aventureiros com passeios de barco – e mergulhos impressionantes graças à água transparente –, paradas estratégicas nas paradisíacas Sandy Island ou Scilly Cay para degustar lagostas pescadas na hora, passeios a cavalo à beira-mar ou ainda um rolê pela ilha a bordo de quadriciclos, conhecendo outras belezas naturais, como o arco de pedras, um dos principais pontos turísticos do local. É fato... Anguilla faz bem à saúde. n

74 PODER
Acima, Sandy Island, pequeno pedaço de areia cercado de água transparente por todos os lados. Passeio imperdível, de tirar o fôlego. Abaixo, igrejinha local e os vários tons de azul do mar de Scilly Cay, onde se come lagostas pescadas na hora FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO; ARQUIVO PESSOAL

No sentido horário: casa de madeira típica da ilha; um dos pontos mais visitados de Anguilla, a Pedra Furada; falésias e esqueleto de barco que fazem parte da paisagem e aventureiros a bordo de quadriciclos

*A jornalista viajou a convite do Conselho de Turismo de Anguilla

PODER 75

POR LUÍS COSTA

Em seu centenário de nascimento, uma exposição virtual relembra a contribuição de um dos mais influentes e extraordinários pensadores que o Brasil já teve

Um dos mais importantes intelectuais brasileiros, Darcy Ribeiro teria completado 1oo anos em 2022. Para celebrar seu legado etnográfico, uma exposição virtual está disponível na plataforma Google Arts & Culture desde o início deste mês e traz as fotografias feitas por Darcy em pesquisas de campo com os povos kadiwéu, urubu-ka’apor e ofayé. Com curadoria de Milton

PODER É

Guran e programada pelo Museu do Índio, a mostra é uma adaptação da exposição física O Olhar Precioso de Darcy Ribeiro, realizada na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, em 2010.

Os ensaios com os três povos remontam às primeiras incursões do jovem antropólogo do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), recém-formado pela Escola de Sociologia e Política da USP, no fim dos anos 1940.

“Com os kadiwéu foi que, de fato, aprendi a ser etnólogo porque assim como eu os estudava, eles estudavam a mim e, por meu intermédio, a minha gente”, escreveu Darcy em sua autobiografia. Os registros têm grande valor histórico, principalmente no caso dos Ofayé, já que quase não há documentação e eles foram praticamente dizimados. As fotos de Darcy (morto em 1997, aos 74 anos) que integram a

ANTÓNIO ZAMBUJO

Um dos cantores portugueses mais celebrados de sua geração, António Zambujo lançou no fim de outubro o álbum Best Of, disco panorâmico que celebra 20 anos de carreira. É de Zambujo a voz que faz dueto com a conterrânea Carminho na canção “O Meu Amor”, de Chico Buarque, que integra a trilha da novela Travessia, da Rede Globo. O músico já dedicou um álbum inteiro a canções de Chico – Até Pensei que Fosse Minha, de 2016. No Brasil, o artista nascido em Beja já foi parceiro de Roberta Sá, Ivan Lins e Ney Matogrosso.

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CULTURA INC.

exposição fazem parte do acervo do SPI, órgão criado em 1910 e extinto em 1967, dando origem à Fundação Nacional do Índio (Funai). O acervo é classificado pela Unesco como Memória do Mundo por sua relevância histórica, social e antropológica. “Esse reconhecimento dá a dimensão da importância desses registros documentais únicos no seu tempo. O Museu do Índio presta um grande serviço aos povos originários e à nação brasileira na salvaguarda impecável desse patrimônio memorial”, diz Guran. A coleção completa reúne mais de 2 mil fotos do antropólogo, das quais 50 foram selecionadas para a exposição, que também exibe registros de Berta Ribeiro, antropóloga e companheira de Darcy. “O que faz das fotografias de Darcy algo tão especial é que ele, no ânimo da descoberta e na busca do conhecimento, deixou-se contaminar pela singularidade dos encontros com o outro, aquele que é portador de uma cultura totalmente diversa da sua”, avalia Guran. “É essa dupla camada de vida que faz com que seu olhar seja realmente precioso”.

São fotografias diretas, cândidas, que, embora cumpram sua função na pesquisa, expressam sobretudo a relação humana do contato, como se fossem fotos de família. Da grande família que os povos originários foram para Darcy.”

BALA DESEJO

POLÍTICA NA VEIA

Ferino, falante e com humor afiado, Darcy foi um intelectual incomum que se converteu em um político visionário. Ex-aluno de medicina, saiu de sua Montes Claros, em Minas Gerais, passou pela capital mineira e por São Paulo, embrenhou-se nas matas amazônicas, planejou a Universidade de Brasília, foi ministro da Educação, chefe da Casa Civil de João Goulart, exilado político, vice-governador e senador. Como indigenista, foi o responsável pela criação do Museu do Índio, em 1953, com a ideia de combater a visão colonialista que tratava os povos originários como selvagens ou primitivos.

A exposição virtual é uma das homenagens que Darcy recebeu pelo seu centenário, comemorado no dia 26 de outubro. Em curtíssima temporada, a Biblioteca Parque Estadual do Rio de Janeiro recebeu a mostra Darcy Ribeiro: Dos Kadiwéu ao Quadrup , parte do projeto “100 anos Darcy Ribeiro”, que divulgou um edital com distribuição de cinco prêmios de R$ 50 mil destinados a empreendedores culturais do Rio de Janeiro que apresentem propostas relacionadas à vida e à obra do antropólogo.

Depois de se apresentar no Rock in Rio e no Coala Festival, a banda Bala Desejo, novidade na cena musical brasileira em 2022, continua com a agenda cheia no fim do ano. Este mês, o grupo formado pelos músicos Lucas Nunes, Julia Mestre, Dora Morelenbaum e Zé Ibarra está em Portugal para apresentações em cidades como Porto, Coimbra e Lisboa. Amigos desde a época do colégio, os quatro começaram a chamar a atenção após participações nas lives temáticas no Instagram da cantora Teresa Cristina. Em janeiro deste ano, eles lançaram o álbum Sim Sim Sim, indicado ao Grammy Latino 2022 na categoria melhor álbum pop contemporâneo em língua portuguesa.

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FOTOS FUNDAÇÃO DARCY RIBEIRO; LUCAS VAZ/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

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PÁTRIAS BRASILEIRAS

A beleza e o terror da língua portuguesa, seus muitos encontros e sua violência estão no documentário Nossa Pátria Está Onde Somos Amados, do diretor Felipe Hirsch. Produzido pela Café Royal, o longa já passou pelo Festival do Rio, pela Mostra de São Paulo e por Curitiba. Filmado em maio deste ano no Museu da Língua Portuguesa, na capital paulista, o filme acompanha gestos e vozes como as do artista Kadu Ori (que picha no relógio da Central do Brasil a frase que nomeia o trabalho), dos pensadores indígenas Ailton Krenak e Davi Kopenawa e do escritor e advogado Silvio Almeida.

O documentário é como um desdobramento do espetáculo Língua Brasileira, montado a partir de música homônima de Tom Zé, do álbum Imprensa Cantada, de 2003. Lançado no começo deste ano, o espetáculo contava a glória e o horror da língua portuguesa, a um só tempo esplendor e sepultura, como diz o soneto “Última Flor do Lácio”, de Olavo Bilac. “Há línguas que foram apagadas e outras que resistem brava -

país

mente. Essas tragédias geram também esplendores no encontro da cultura europeia com a africana, com a nativa. Mas antes de falar sobre isso, é preciso ter consciência desse lugar fundado sobre duas tragédias que se perpetuam nos nossos dias – o extermínio dos povos nativos e a escravidão.”

A transição para o documentário viria com o convite da curadora do Museu da Língua Portuguesa, Isa Grinspum Ferraz, para ocupar os salões da instituição em maio deste ano, na comemoração do Dia Mundial da Língua Portuguesa. Na obra, o cenário é o interior do próprio museu. “Ouvindo aquela diversidade imensa de vozes, soube que tinha um material muito forte, inclusive para desenvolver algumas fixações minhas, como essa ideia de pátria, que está ali no último capítulo do Triste Fim de Policarpo Quaresma, quando ele é preso e questiona toda essa noção”, comenta Hirsch. “Essa ideia de uma língua que unificaria um país continental como o Brasil é um desvio da verdade. Temos 200 línguas sendo faladas, várias nações, várias pátrias”, afirma.

O filme agora deve cumprir uma agenda de festivais, inclusive no exterior. Hirsch revela entusiasmo com o FESTin, o Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa, em Lisboa. “O documentário vai estrear em Portugal e depois cumprir um itinerário por todos os países de língua portuguesa. Acho isso um grande caminho, um grande destino para esse filme.”

MARINA RHEINGANTZ

Obras inéditas de Marina Rheingantz estão em exposição no Galpão da Fortes D’Aloia & Gabriel, em São Paulo. A mostra Sedimentar é um marco na trajetória da artista paulista, um mergulho na abstração – das pinturas em grande formato, por vezes em escala monumental, às aquarelas, bordados e tapeçarias. “Em sua nova exposição, Marina Rheingantz não facilita. Faz pinturas densas, carregadas de tinta. Pela primeira vez, é possível relacionar o que a artista faz à abstração informal”, escreve o crítico Tiago Mesquita. Marina já participou de exposições na Holanda e na França e essa é sua primeira mostra individual este ano. Até 21 de dezembro.

FOTOGRAFIA ANALÓGICA

O 1º Festival Carioca de Fotografia Analógica vai celebrar a história e a vitalidade da fotografia em filme nos dias 3 e 4 de dezembro, na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio). Haverá exposição, oficinas, exibição de filmes, mesas-redondas e palestras, com a presença de nomes ascendentes no mundo analógico e outros já consagrados. O diretor de fotografia Walter Carvalho e a pesquisadora Ivana Bentes são alguns dos debatedores confirmados. .+ analogicodejaneiro.com.br

Documentário de Felipe Hirsch reflete sobre a multiplicidade das línguas que existem em nosso
DOC.
FOTOS ANNEMONE TAAKE; DIVULGAÇÃO; FORTES D’ALOIA & GABRIEL Felipe Hirsch

FAMÍLIA S.A.

O que está por trás do sucesso de Karina Sato, uma das agentes artísticas mais bem-sucedidas do país e a mente estratégica da família. A irmã dela, Sabrina, que o diga

De sorriso fácil e ainda com a simplicidade típica do interior paulista, onde nasceu, Karina Sato nunca se deixou levar pelo sucesso, que não é pouco. Segue convicta de seus valores e não abre mão do que considera o melhor jeito de fazer os negócios darem certo: uma gestão humanizada e colaborativa, e uma dose extra de feeling. À frente da Sato Rahal Empreendimentos Artísticos, fundada por ela e seus irmãos, Karin Sato Rahal e Sabrina Sato, ela é hoje uma das agentes de artistas mais bem-sucedidas do país. A empresária comanda ainda a SR Digital, agência de influenciadores, e tem a Sato Participações, que atua em sociedade com empresas como a One More, foodtech de bebidas gaseificadas saudáveis presentes em mais de 2 mil pontos de venda; e a BioBots, responsável pela criação da Sakito, metaverso de Sabrina. “Estou sempre olhando o mercado para empreender em outras frentes”, diz.

Pode-se dizer que Karina é a mente estratégica da família, a responsável por orquestrar as melhores oportunidades para todos – dos programas e ações para Sabrina aos negócios com dona Kika Sato,

a matriarca da família que é autora do livro Receitas & Memórias e tem a franqueadora Bendito Ponto, e com Duda Nagle e Felipe Abreu, marido de Karina, que são sócios de empresas da Sato Participações. “Isso vem desde cedo. Lembro que, antes de fazer qualquer coisa, meus pais sempre me perguntavam o que eu achava. Até hoje, quando alguém precisa de uma opinião, minha mãe costuma dizer: ‘Você já perguntou para a Karina?’.

Segundo ela, um pilar de seu sucesso profissional é fechar trabalhos alinhados com o seu propósito. “O sucesso, para mim, está muito mais ligado a estar feliz e realizada profissionalmente, trabalhando em projetos em que acredito e com pessoas em quem confio”, diz. Outro ponto é a equipe. “Sou democrática e sempre pergunto ‘o você acha?’. Sei o que quero, mas não trabalho sozinha. É uma construção.” Para Karina, ter um bom relacionamento com as pessoas é tão importante quanto os pontos citados. “Trato todos igual, da maneira que gostaria de ser tratada. Quem não faz isso e se acha melhor ou mais importante perde o valor para mim”, revela.

PONTAPÉ INICIAL

A carreira de empresária começou em 2003, com a participa-

ção de Sabrina no Big Brother. Karina, que é advogada, trabalhava no Grupo Votorantim e estava fazendo pós-graduação em Direito marcário. “Comecei a ver que tudo o que a Sá usava repercutia muito, como as meias coloridas e os brincos de pena. Na hora pensei: ‘Vou registar a marca delas’”, conta. Na mesma semana, recebeu uma ligação da Redibra, distribuidora da Disney no Brasil, dizendo que a Puket tinha interesse em licenciar uma linha de meias e calcinhas com a marca Sabrina Sato. Na época, Karina queria continuar na Votorantim, mas com as propostas de trabalho chegando e o incentivo de Sabrina, ela mudou o rumo de sua carreira. Hoje, tem em seu portfólio clientes como Deborah Secco, Nina Silva e Ceará. n

PODER 79 FOTO PAULO FREITAS
ESPELHO

A comoção nacional provocada pela morte de GAL COSTA é uma raridade, algo que pouco se viu no mundo das artes. Com sua voz cristalina, ela deu vida às criações de compositores consagrados. Além do próprio Caetano Veloso, que fez muitas letras para ela, Gal cantou músicas de Chico Buarque, Dorival Caymmi, Gilberto Gil e Tom Jobim – e também de Roberto e Erasmo Carlos, autores da inesquecível “Meu Nome É Gal”. O sucesso veio em 1968 com “Baby”, de Caetano, que entrou no álbum Tropicália. A letra era para Bethânia que, por obra do destino, não pôde participar do disco.

O resto é história e trilha sonora da vida de muita gente.

80 PODER DIVINA MARAVILHOSA FOTO ANTONIO D’ATHOUGUIA
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